ANAIS ELETRÔNICOS III ENILL
Encontro Interdisciplinar de Língua e Literatura.
29 a 31 de agosto de 2012, Itabaiana/SE: Vol.03, ISSN: 2237-9908
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O USO DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS (HQs) COMO FERRAMENTA
PARA O ENSINO REFLEXIVO DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO
FUNDAMENTAL II
* Suely da Silva Cândido1
INTRODUÇÃO
O referido artigo tem a pretensão de compreender a importância de utilizar
o gênero textual história em quadrinhos (HQs) como uma ferramenta eficaz no
processo de ensino, aprendizagem e interpretação de Língua Portuguesa no Ensino
Fundamental II.
As histórias em quadrinhos abrangem aspectos riquíssimos da linguagem,
como por exemplo, o coloquialismo, as imagens, o texto escrito, o texto visual que
demonstra os comportamentos através dos gestos, as mensagens que ficam
subentendidas nos diálogos e os aspectos do qual o autor da HQ se apropria para
instigar a imaginação do leitor.
É premente perceber que o convívio com crianças no Ensino Fundamental II
faz com que os professores de alunos dessa faixa etária tenham o discernimento do
gosto desse público, e isso contribui para eventuais acertos na escolha dos temas e
assuntos que devem ser trabalhados em sala de aula. Por isso, o diálogo deve estar
presente em todo o momento, principalmente na priorização das leituras que devem
ser utilizadas durante o ano escolar, pois estas não devem ser obras apenas clássicas e
impostas pelo professor ou pela escola, mas a diversidade de gêneros deve se fazer
presente na vida dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, incluindo-se aqui
as histórias em quadrinho (HQs).
Olhando pelo lado bom que esse gênero textual pode oferecer, dá para
trabalhar diversos aspectos com as crianças, conscientizando-os de que as HQs não
são textos apenas para passar o tempo ou dar um descanso ao professor, mas que
estes abordam os mais variados assuntos e que merecem ser trabalhados com a mesma
*
1 Graduada em Letras Português-Inglês (FJAV); Especialista em Letras Português e Linguística (FAMA); Pós-graduada em
Psicopedagogia Inclusiva (UGF).
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importância e seriedade com que se trabalha uma obra literária, porque o importante
no momento do estudo é conseguir adequar conteúdo e obra, relacionando-os ao
conhecimento e à realidade dos alunos.
Interpretar algo que se lê é fundamental para o entendimento e
compreensão, pois, por meio da interpretação e do argumento é que os indivíduos
chegam a uma conclusão mais elaborada e coerente sobre determinado assunto.
O ensino reflexivo traz uma abordagem muito clara e objetiva à respeito do
aprendizado de Língua Portuguesa e explicita o verdadeiro foco do processo de ensinar
tendo como resultado a apreensão significativa das características dialógicas próprias
da comunicação humana.
Apesar de muitos educadores pautarem-se em práticas educativas não tão
consistentes como o ensino reflexivo, é premente perceber que essa maneira de ensinar
e aprender precisa, mesmo que aos poucos, sendo introduzida na vida escolar. É fazer
com que alunos e professores projetem suas ideias e perspectivas condizentes com o
papel educacional da atualidade: trabalhar a criticidade em todos os seus aspectos.
No Ensino Fundamental II, os discentes já têm muito conhecimento prévio
adquirido em anos anteriores e na vida social e familiar. Partindo desse ponto, os
educadores devem explorar cada vez mais essa capacidade, questionando-os e
desafiando-os continuamente nas mais diversas situações de interpretação e formação
de conceitos próprios.
Considerando nesse artigo o uso de história em quadrinhos sob a
perspectiva de uma gramática reflexiva e eficiente, é possível fazer novas
interpretações sobre as maneiras de se construir conhecimento.
É sabido que os sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem
devem valer-se dos mais variados recursos para que o aprendizado se efetue de
maneira coerente e significativa.
O artigo terá o suporte de vários teóricos e pesquisadores especializados no
assunto, como por exemplo, Perini (1997), Silva (2010), Pietroforte (2007), Travaglia
(1996), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (1998), Mendonça (2007), Revista
Nova Escola (2009), Ramos (2006), dentre outros que tratam o tema de maneira séria e
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consciente para que os alunos aprendam a língua materna das várias maneiras em que
esta se apresenta e de acordo com os contextos nos quais encontra-se inserida,
estabelecendo seu papel social, que é seu efetivo processo de comunicação.
Questões como: por que o uso de história em quadrinhos ainda é tão
diminuído nas escolas? Por que o ensino reflexivo não privilegia mais esse gênero
textual, que é tão aceito por crianças e adolescentes? Será que as histórias em
quadrinhos denotam apenas diversão e passatempo para a maioria dos professores?
Estes e outros questionamentos serão explicitados dentro do corpus do trabalho.
Tendo em vista a necessidade de mostrar a dificuldade em trabalhar e
aceitar as histórias em quadrinhos na escola e pelos professores, a execução desse
artigo torna-se premente, visto que o tema permeia o moderno espaço educacional e
as discussões acerca da utilização dos gêneros textuais nos ambientes educativos
fazendo parte do contexto dos alunos.
A
metodologia
utilizada
será em caráter
qualitativo
de pesquisa
bibliográfica e abordará um estudo pautado na descrição, análise e explicação sobre o
uso de histórias em quadrinhos como uma ferramenta eficaz para o ensino reflexivo de
língua materna no Ensino Fundamental II.
Para tanto, foram feitas leituras e consultas de fontes secundárias, como por
exemplo, artigos, periódicos, trabalhos monográficos, revistas e jornais, bem como
referenciais teóricos específicos.
2. HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQs)
De acordo com Mendonça (2007) as histórias em quadrinhos surgiram nos
jornais e com o passar do tempo foram ganhando espaço e público, percorrendo um
longo caminho até tornarem-se gibis. Atualmente, esse gênero está presente tanto no
jornal quanto no próprio gibi, mas também ocupa outras posições e roupagens,
podendo citar aqui, as tirinhas, as charges e os cartuns que são veiculados em jornais e
revistas.
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Para Batista (2010, p. 11) “as histórias em quadrinhos são repletas de vozes”.
Aqui essas vozes se apresentam de maneira consistente e que se efetivam no dia a dia
de seu leitor através de um discurso dialógico que possibilita tanto o desenvolvimento
da narrativa quanto da imaginação do seu apreciador.
Sendo pouco exploradas nas escolas, as histórias em quadrinhos constituem
um material riquíssimo e que deve ser consumido com frequência por crianças e
adolescentes, pois esse gênero se utiliza de vozes, imagens, gestos e situações
cotidianas que contribuem significativamente para desenvolver a compreensão e o
entendimento na elaboração de uma melhor produção textual.
Moço (2009) diz que é muito bom ter a escola invadida pelos gêneros
textuais, mas é importante que o professor e a escola não trabalhem apenas suas
características nem tampouco somente a leitura. É importante trabalhar sua
efetividade, pois é preciso adequar e relacionar conteúdo e texto com a realidade dos
alunos, objetivando formar leitores e escritores e verdade, que possam se expressar
através da escrita ou de outra produção, e que estes sejam entendidos por seus leitores.
O diálogo, elemento muito presente nas histórias em quadrinhos, pode
proporcionar diversas aprendizagens à criança, pois através dele, este sujeito em
formação percebe que deve esperar o outro terminar a fala para poder colocar a sua
opinião ou resposta; precisa entender o que o outro diz para que a comunicação seja
efetivada; pode relacionar o contexto da história com o seu cotidiano; precisa também,
entender as expressões corporais que o outro envia durante a conversa, o que pode
significar concordar ou não com o que é dito pelos personagens.
Existem também as histórias em quadrinhos em que a linguagem verbal não
aparece, apenas atitudes e gestos, possibilitando ao seu leitor a criação das falas na
construção de uma história através de sua percepção ou somente do entendimento
desta. Nessa situação, a leitura da linguagem corporal é bastante explorada e pede
uma adequação de sentido às imagens exibidas na historinha.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (20 07) citam as histórias em
quadrinhos como um texto adequado para se trabalhar a linguagem escrita, mas não
instiga o professor – sujeito facilitador no processo de ensino-aprendizagem – a
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preocupar-se mais com esse gênero e nem fornece caminhos concretos para serem
trabalhados por eles.
O fato de não apontar estratégias de ensino deixa alguns professores meio
“perdidos” sem saber como pensar ou planejar uma atividade, e muito pior se ele tiver
o comodismo de querer e de adotar as atividades que se apresent am prontas nos livros
didáticos, sem adequação à turma. Trabalhar histórias em quadrinhos em sala se aula
requer um esforço maior por parte do professor para que a aula não se torne um
momento apenas recreativo, por isso é muito importante escolher a história ou o
fragmento e planejar com antecedência o que deve ser feito para que as atividades
propostas priorizem a aprendizagem e a compreensão de determinado conteúdo, seja
este didático ou social.
Mendonça (2007) afirma que apesar de serem muito relevantes, as histórias
em quadrinhos ainda são negligenciadas na escola, e também não alcançaram o gosto
dos acadêmicos para a realização de pesquisas sobre esse gênero textual. Por
possuírem os elementos humor e entretenimento muito presentes em sua estrutura e
maneira de expressão verbal, as HQs foram “rebaixadas” aos adultos com “baixo grau
de letramento” e “às crianças em fase de aquisição da linguagem” (p. 202) os quais
podem apropriar-se dos desenhos para dar sentido ao enunciado ou às suas
interpretações. As HQs também estas aparecem nos livros didáticos em seções que
objetivam muito mais a diversão do que o conteúdo em si.
São exatamente esses elementos – humor e entretenimento – que
contribuem para a diminuição da qualidade textual desse gênero, mas felizmente, com
a linguística trabalhando com o objetivo fundamentado para minimizar o preconceito
da e na língua, é possível perceber que a discriminação contra esse tipo de texto vem
diminuindo, e prova disso, são as adaptações dos clássicos para esse gênero.
Essas adaptações oportunizam que os leitores sem muita paciência para ler
livros mais extensos se interessem em conhecer um pouco da obra principal, e a partir
da adaptação, sejam instigados a ler a obra inteira porque a HQ, muitas vezes, não
comporta todas as informações do livro original.
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Silva (2010) esclarece que as adaptações que são feitas das grandes obras
literárias para HQs correm um grande risco de tornarem-se melhores do que a obra
primária ou sofrer um empobrecimento, tendo em vista que a riquez a de detalhes de
um clássico da literatura, por exemplo, não pode ser traduzido em poucas páginas. É
premente justificar que a história em quadrinhos não vai substituir a leitura de um
clássico, mas ela pode somar a esta obra o prazer da leitura.
Corroborando ainda com as ideias de Silva
Há uma grande diferença: quando se lê o texto clássico, a imaginação voa
livremente. Quando se lê a adaptação em história em quadrinhos, o leitor
pode ficar preso à linguagem, à imagem, ao formato que o quadrinista deu.
Muita gente critica esse fato, mas eu não vejo problema nenhum nas
adaptações. São uma outra forma de expressão. O texto adaptado pode
também conduzir ao texto original. (2010, p. 21)
As histórias em quadrinhos utilizam a linguagem de maneira que perpassa
os mais variados campos da atividade humana, empregando enunciados e
acontecimentos que se assemelham aos contextos de cada época e modelando
situações sociais aos diferentes discursos com estrutura comunicativa.
Conforme
enfatiza
Batista
(2010,
p.
13)
as
HQs
possuem
um
“entrecruzamento de linguagens diferentes”, mas acabam se complementando,
coexistindo assim, a linguagem verbal e a linguagem não-verbal, que se desenvolvem a
partir da criatividade dos autores e, com grande relevância, da atribuição de sentidos
que é dada pelos leitores deste gênero textual.
O uso do ensino reflexivo da gramática atrelado às histórias em quadrinhos
estabelece uma maior proporção para que o leitor elabore seu ponto de vista.
Pietroforte (2007, p. 67) explicita que esse gênero textual gera uma “rede de relações
semânticas por meio da qual o mundo faz sentido”. O ponto de vista citado pelo autor
é, além do modo de significação, o modo de olhar.
Essa percepção que se dá através do modo de olhar possibilita que o leitor
diversifique suas interpretações de acordo com as cenas da história, manipulando a
leitura por meio de imagens, conteúdos e movimentos que são percebidos nos
quadrinhos. Pietroforte (2007) chama esse fenômeno de efeito de sentido visual, pois o
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mesmo pode ser examinado nas histórias em quadrinhos que estabelecem as relações
de sentido entre cena, acontecimento e fato social.
3. ENSINO REFLEXIVO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Terra (2008) fala acerca do conceito de gramática estabelecendo que
qualquer pessoa a que seja perguntado sobre ‘o que é gramática?’ dirá
automaticamente que é um conjunto de regras que devem ser seguidas pelos seus
falantes, pois esta forma de comunicação é a mais aceita e a mais difundida na
sociedade atual.
Diante da afirmação do teórico acima, percebe-se que a escola tem uma
parcela significativa, ou mesmo total, na difusão deste conceito, tendo em vista que
esta instituição de ensino acaba privilegiando muito mais as regras do que a
efetividade da comunicação. Esse conceito de gramática está internaliz ado nas
pessoas, que mesmo diante de alguns tipos de ensino de língua que circulam e são
utilizados atualmente, torna-se difícil dissociar ou mesmo explicar o que são regras e o
que é comunicação efetiva.
Partindo desse pressuposto, Perini afirma que
Há duas línguas no Brasil: uma que se escreve (e que recebe o nome de
português); e outra que se fala (e que é tão desprezada que nem tem nome). E
é esta ultima que é a língua materna dos brasileiros: a outra (o ‘português’)
tem de ser aprendida na escola, e a maior parte da população nunca chega a
dominá-la adequadamente. (1997, p. 36)
A citação acima explicita mais uma vez a linguagem utilizada nas histórias
em quadrinhos e enfatiza diretamente por que o leitor se identifica com elas. As HQs
trazem a língua que é falada pela maioria dos brasileiros, sem se preocupar muito com
a estrutura, mas carregada de significados.
Contudo, o uso reflexivo da Língua Portuguesa, de acordo com Soares
(1979) é uma gramática que aparece de maneira explícita por meio da reflexão e que
tem embasamento no processo informal do uso da língua, sendo utilizada
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conscientemente, a partir de uma linguagem internalizada que o indivíduo domina,
mas que ele não tem consciência disso.
Para tanto, Travaglia (1996) não concorda que a gramática reflexiva seja
apenas reprodução do que o sujeito domina, mas sim um processo de elaboração dos
recursos linguísticos que ainda não são percebidos por ele, para que este adquira novas
habilidades na linguagem, produzindo assim, mais conhecimento e aprendizado.
Cereja e Magalhães (2006) trazem propostas relevantes para o ensino e
língua, procurando alterar, mas não excluir o enfoque tradicional que é atribuído à
gramática, redimensionando e incluindo novas atividades que visem à aquisição de
melhores rendimentos na aprendizagem dos alunos e dos professores, oportunizando
o trabalho com enunciados, textos e discursos, bem como as variações linguísticas que
também devem ser trabalhadas e respeitadas.
A partir dessa abordagem sugerida por Cereja e Magalhães (2006) em seu
livro didático e que ocupa grande parte do Manual do Professor, o papel situacional de
produção de texto precisa permear os espaços educativos e sociais de maneira
singular, pois a apreciação que se dá a esse enfoque transmite confiança aos que fazem
uso da gramática reflexiva, porque esta explora os aspectos que estão ligados à
semântica e ao discurso dos enunciados.
Por meio do estudo reflexivo da gramática, o aluno consegue relacionar
conteúdos, desenvolvendo habilidades que irão proporcionar maior criatividade,
criticidade e compreensão da própria linguagem. A capacidade que os alunos têm de se
expressar e de argumentar tanto oralmente quanto através de textos escritos é um
grande desafio que o professor de Língua Portuguesa tem em relação ao que estes
sujeitos – público-alvo do processo educativo – precisam aprender e praticar.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) trazem como um dos objetivos
gerais do Ensino Fundamental
Utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e
corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias,
interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e
privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação; (1997,
p. 8)
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Sabe-se que para formar leitores competentes é necessário que estes sejam
capazes de interpretar e compreender o que é lido, identificando ainda os elementos
que encontram-se nas entrelinhas, seja dos textos, seja de imagens (PCNs, 1997). A
leitura, portanto, deve ser uma prática constante e que deve acontecer dentro e fora da
sala de aula, ou melhor, em todo espaço que caiba ler e atribuir um significado ao
texto.
Cereja e Magalhães (2006) enfatizam em seu livro didático que a língua não
é vista nem trabalhada por eles como um sistema fechado e imutável de palavras, mas
é proposta como um segmento dinâmico de interação entre o indivíduo e o meio para
que se realizem ações com e sobre o outro. Acrescentam ainda, que trabalham com a
frase, mas esta não é a limitação do enfo que linguístico, considerando, principalmente,
o domínio do texto, e de maneira mais abrangente, o discurso, através de situações nas
quais se tem a preocupação com a finalidade do que se fala. Desta maneira, os autores
contemplam a gramática normativa, com seus aspectos prescritivos e descritivos
através dos padrões e de sua variedade; a gramática de uso, que é ampliada aos alunos
através de exercícios estruturais; e a gramática reflexiva, com toda sua importância e
qualidade relacionadas ao discurso e à semântica, o que denota a relevância de seu uso.
Contudo, é importante frisar as prioridades que são dadas ao português
atualmente com a inclusão dos novos conceitos de língua e de sua efetividade, e tudo
isso atrelado a uma mudança também na postura do professor – sujeito facilitador no
processo ensino-aprendizagem – que precisa buscar com mais afinco diferentes
maneiras de se trabalhar e compreender a língua, não em micro-estruturas
sistemáticas, mas em sua macro-significação no cotidiano, englobando o prazer de
entender e de se fazer entendido.
3. ENSINO FUNDAMENTAL II
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) trazem acerca dos conteúdos
de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental que
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O estabelecimento de eixos organizadores dos conteúdos de Língua
Portuguesa no Ensino Fundamental parte do pressuposto que a língua se
realiza no uso, nas práticas sociais, que os indivíduos se apropriam dos
conteúdos, transformando-os em conhecimento próprio, por meio da ação
sobre eles; que é importante que o indivíduo possa expandir sua capacidade
de uso da língua e adquirir outras que não possui em situações
linguisticamente significativas, situações de uso de fato. (1997, p. 43)
Estudantes do Ensino Fundamental II carregam uma bagagem enorme de
conhecimentos, tanto dos anos anteriores na escola quanto do convívio social e
familiar. Faz-se importante nesse momento, resgatar esses conhecimentos prévios,
tirando proveito do que as crianças e adolescentes podem oferecer aos colegas e à
escola, contextualizando a realidade deles com a proposta do livro didático e dos
paradidáticos. Nesse momento, a linguagem deve ser trabalhada sem maiores
cobranças de padrões nem regras perfeitas, mas a partir do sentido que se constrói
através do que é reproduzido na fala.
No Ensino Fundamental II o uso da língua oral e da língua escrita visa
abranger suas funções comunicativas. Assim sendo, de acordo com os PCNs (1997, p.
51) “o trabalho com linguagem oral deve acontecer no interior de atividades
significativas”. Essas atividades proporcionam sentido e função objetiva, nas quais são
observadas as entonações no momento da fala e dos gestos, o que confere maior
sentido aos textos.
Nessa etapa da vida escolar, o uso de histórias em quadrinhos possibilita
aos alunos não somente a diversão, mas uma ferramenta de ensino valiosa para eleger
o que há de mais importante em um texto, questionando todos os aspectos
encontrados nos enunciados. Para que um leitor competente se forme, a decodificação
precisa ser um pouco esquecida nesse momento para dar lugar à compreensão do texto
através dos argumentos que o próprio gênero oferece dentro da leitura.
Guedes (2006) fala a respeito da dificuldade que o professor de português
tem para conseguir formar leitores na escola. Essa prática de leitura parte do prin cípio
de que esta atividade não decorre da imposição do mestre, mas da liberdade de
escolher algo que além de trazer conhecimento e aprendizado, proporcione prazer ao
leitor. Por isso, o autor explicita sobre o tema, dizendo
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E a chave para a melhor leitura é conseguir relacioná-lo a todos os outros
textos significativos para cada um, o que implica não só um repertório de
textos com que estabelecer tal relação, repertório que só pode ser constituído
pelo exercício daquela leitura primeira, mas também um conjunto de critérios
que distinga os significativos dos demais textos. Tais critérios não são apenas
construções espontâneas de cada leitor; são, principalmente, produtos do
exercício da leitura reflexiva, aquela leitura transformada na escola numa
atividade coletiva quase que exclusivamente pelo professor de português. Isto
quer dizer que cada leitor produz, para o texto que lê, o sentido que pode, em
função da quantidade e da qualidade de sua leitura, isto é, em função de tudo
o que já leu e do trabalho que estiver disposto a dedicar ao estabelecimento
das relações que ficou conhecendo como significativas de serem estabelecidas
entre os textos lidos e o texto que lê. Ler em profundidade, ler reflexivamente,
a ponto de deliberar se chegou a reconhecer o tipo de leitura que seu autor
pretendia e de decidir ou entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela,
propondo outra não prevista, portanto, só é dado a quem se qualifica como
leitor, individualmente, dono da própria vontade. (2006, p. 70)
Assim, tem-se a efetivação do que realmente deve ser o ensino no Nível
Fundamental II, o qual qualifica seus alunos como sujeitos livres para fazer escolhas de
leitura, e livres também para atribuir significado ao que se lê.
Apesar da pouca idade, as crianças do Ensino Fundamental, quando bem
trabalhadas e instigadas, transformam-se em sujeitos reflexivos, de acordo com o que
lhes é permitido. São sujeitos do processo ensino-aprendizagem que adquirem
propriedade na linguagem, de forma a refletir e analisar sobre seus processos de
funcionalidade. E os textos, como as histórias em quadrinhos, desenvolvem o pensar
reflexivo por meio de acontecimentos rotineiros e que se assemelham à vida real.
4. CONCLUSÃO
Existe um número ainda não muito grande de trabalhos e literatura s que
abordam a questão das histórias em quadrinhos a partir do uso reflexivo da gramática.
O artigo apresentou conceitos de diferentes autores que tentam disseminar
de maneira bem mais positiva e incentivadora o uso da gramática reflexiva a partir de
textos que fazem parte do cotidiano e do gosto das crianças e adolescentes do Ensino
Fundamental II, mostrando que estes sujeitos que encontram-se envolvidos no
processo educacional vivenciam e utilizam o mesmo tipo de linguagem utilizada nas
HQs.
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Abordou o quanto torna-se importante conhecer o uso desse gênero textual
e trabalhá-lo em sala de aula como uma ferramenta eficaz no processo de ensino,
aprendizagem e interpretação de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II.
Demonstrou ainda, que por meio da leitura e da interpretação que as
histórias em quadrinhos (HQs) são veiculadas, estas oferecem conteúdo significativo
para facilitar no processo de ensino-aprendizagem, denotando que a linguagem verbal
é tida como uma característica inerente ao ser humano, e que a linguagem corporal
abrange os vários comportamentos apresentados pelos indivíduos.
Analisou a influência que as histórias em quadrinhos (HQs) exercem sobre o
público infanto-juvenil, mostrando especialmente, que a identidade adquirida através
de um gênero textual pode ajudar na convivência e no respeito ao próximo, refletindo
atitudes no próprio comportamento.
O trabalho também deixou claro que a escola precisa ser encorajada a
utilizar com mais frequência as histórias em quadrinho como um recurso didático e de
aprendizagem, evidenciando a riqueza de recursos linguísticos presentes nesse gênero
textual.
Evidenciou que as HQs são negligenciadas por uma parte dos professores e
também por um número significativo de escolas, que acabam diminuindo a eficácia do
ensino.
Interessante esclarecer que os professores é que devem procurar um melhor
planejamento para trabalhar esse ou qualquer outro tipo de texto com os alunos, para
que os mesmos não caiam no erro de tornar as aulas apenas um pouco mais divertida s.
Assim, o uso do gênero textual história em quadrinhos (HQs) nos espaços
educativos precisa ser encarado pelas escolas e pelos professores como um recurso a
mais, quer dizer, mais um requisito que permitirá ao outro a descoberta e o prazer de
conhecer as diversas formas de diálogo, bem como de saber interpretá-los. Para isso, é
importante continuar inserindo as HQs nas escolas, aportando-se de outros estudos
que aprofundarão ainda mais esses questionamentos, visto que o tema faz parte do
nosso meio e nos faz compreender melhor os aspectos funcionais da língua.
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TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Ensino de gramática numa perspectiva textual interativa.
Disponível
em:
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www.mel.ileel.ufu.br/.../artigo_ensino_gramatica_numa_perspectiva...>. Acesso em:
15/10/2011.
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