O processo de
Partilha da África e a
conferência de Berlim
1884/1885
O impulso da partilha: a cristianização,
o processo civilizatório e a exploração
do território
- A presença Européia intensiva e os tratados
estabelecidos com os governantes da áfrica
Norte, Saariana (Islâmicos) e Subsaarianas
(Reinos e cidades-estados não-islâmicos)
- PORTUGAL: Primeiros contatos com rotas para
Índias. Organização de forte e entrepostos
militares. Alianças econômicas e culturais.
Processo gradativo de conquista e abertura
para outros povos europeus.
Presença portuguesa:
processo de abertura da África
- 1483: Diogo cão – Encontro do Reino Kongo e
Lunda
- 1512: Expansão de conversão dos dirigentes
ao cristianismo.
- 1487: Bartolomeu dias: Cabo da boa
esperança. 1652: Colônia do Cabo (África do
Sul)
- Interesse pelo produto de negros cativos:
entrepostos no litoral para recolhida do
produto vindo do interior (cidades-estados)
- Oceano índico (presença pequena e instável):
comunicação com os monomotapas
(Moçambique): Minas de cobre, ferro e outro.
Exportação de Marfim.
- Portugueses na África: o comércio de negros
cativos. De 1645 a 1850 tem registros de 11
milhões de escravos comercializados em um
período de 4 séculos. Esta mesma quantidade
foi realizada na África do Norte durante 10
séculos.
Missionários e exploradores: processo
de ‘roedura’ africana
- Século XIX: Início da ‘cristianização protestante’
no Continente africano novos limites de
relacionamentos entre as culturas africanas que
darão posteriormente a configuração da
conferência de Berlim.
- 1830: Primeiras confissões cristãs evangélicas:
anglicanos, metodistas, batitas, presbiterianos,
luteranos e calvinistas. Abrem a “Sociedade
missionária de Londres” organizando missões de
‘cristianização’ dos povos africanos para acabar
com o ‘animismo religioso’.
- Missões: financiadas pelo sistema privado e público.
Abre caminhos para a entrada da cultura e da
reorganização econômica de países europeus no
continente.
- África meridional: Alemanha, Inglaterra, França,
Holanda, Suécia e Estados Unidos.
- QUESTÃO MAIOR: Não entrava apenas a religião, que
tinha o caráter de unificação de culturas distintas, mas
também elementos novos de produção econômicas,
denominadas ‘unidades-modelos’ que ensinavam
ofícios e cultivos de terras, vindo de modelos europeus,
para ensinar aos povos como organizar a sua realidade
territorial. Isto se intensifica com o fim do comércio do
tráfico pelo congresso de Viena em 1815.
- Com a vinda dos protestantes, intensificou-se a
presença de missionários católicos que já se
faziam presentes no continente, porém de pouca
expressão.
- Com a promulgação do fim do tráfico: Os
católicos franceses começaram a se envolver com
questões sociais de fim do tráfico e a criação de
institutos de educação e formação no continente
- 1880 – Congregação dos combonianos (Dom
Daniel Comboni): proposta “Regeneração da
África pela própria África.” Criação de escolas e
formação humana com a tentativa de diminuir a
intervenção europeia no continente.
Os três pontos comuns da
evangelização como parte do processo
de desestabilização do continente
africano.
1. Empreender à conversão dos africanos não
apenas o cristianismo, mas um conjunto de
valores próprios da cultura ocidental
europeia;
2. Ensinar a divisão das esferas espirituais e
seculares, crença absolutamente oposta à
base do variado repertório cultural africano
fundado na unidade entre a vida e religião.
3. A pregação contrária e a ‘diabolização’ de
uma série de ritos sagrados locais, que
minavam a influência e o poder dos chefes
tradicionais africanos.
- Abertura ideológica/cultural: A condenação
dos missionários aos ritos sociais e religiosos
locais e a fidelidade aos ritos europeus
(clandestinamente ou não) com o interesse da
ajuda dada aos povos pelos europeus:
marcam a contribuição da abertura do
continente.
E os exploradores?
- Expedicionários, ‘piratas’ e bandeirantes contratados
para descoberta e desbravamento de territórios no
interior do continente: alimentam o imaginário europeu
a respeito da África. Duas ideias básicas do século XIX:
a) África do Norte: Povos misteriosos e que guardavam
tesouros riquíssimos (imagem dos islâmicos e outras
civilizações antigas)
b) África subsaariana: Homens monstruosos, seres
disformes pelo calor e com poderes fantásticos dados
pela natureza e a falta do contato humano europeu,
considerados como parte de uma natureza em estágio
de não desenvolvimento (ideia de civilização)
- Séculos XVIII/XIX: Exploração do continente
africano pelo eixo interior do continente com
interesse comercial e econômico.
- Principais atores sociais: Ingleses e Franceses. (O
litoral estava nas mãos dos portugueses)
- Entrada dos ingleses no vale nilótico (Egito)
descoberta da foz do rio Nilo. Franceses
Navegação do Níger, Zaire e Zambeze. Ambos:
Busca das regiões de produção de metais e
outros produtos naturais para utilização no
processo econômico e industrial da Europa.
- Ciências Sociais: crescimento do estudo da
arqueologia e etnologia como práticas científicas.
- Expedições organizadas pelos países europeus
em parceria com universidades, aristocracia e
homens de negócios da Inglaterra, Alemanha,
Bélgica, Holanda (boeres) e França.
- Aos exploradores eram designados a
exploração do território, o estabelecimento de
postos de troca e tratados realizados entre os
povos e as nações que financiavam as
expedições.
- Expedições relevantes:
1821: Escoceses chegam ao Chade
1827: Franceses no Marrocos
1849: Os ingleses na África do Sul e Zambeze
1855: Alemães no Sudão central e Franceses no
Sudão Frances
1859: Os ingleses no Vale do Nilo e região do Egito,
Somália e Etiopia
1875: Os Belgas e holandeses chegam ao centro da
África no Congo e seus outros grupos vizinhos.
1877: Portugueses se fixam em Angola e
Moçambique. (litoral)
Consequências destas expedições:
1. Controlar os principais cursos dos rios e,
consequentemente, o fornecimento dos produtos
das suas circunvizinhanças
2. Estabelecer tratados diplomáticos de ajuda com
os principais chefes africanos, em particular nas
duas bacias hidrográficas mais movimentadas,
Congo e Níger.
3. Novos postos de comércio após o final do tráfico
negreiro e as expansão da economia industrial e
bélica existente no continente europeu.
As motivações para a realização da
conferência de Berlim
1. Bélgica: Rei Leopoldo I queria fundar um
império ultramarino como possibilidade de
expansão de territórios e a possibilidade de
uma nova participação econômica na Europa.
- “Desculpa” a partir de 1865: Fundação de uma
cadeia de entrepostos comerciais e
científicos para combater o comércio de
escravos, e a proteção das missões cristãs.
- Objetivo: fundação de um império ultramarino
forjado por uma missão filantrópica.
- África central: do Zanzibar ao Atlântico
(Congo) – patrocínio da Conferência de
Geógrafos de Bruxelas de setembro de 1876.
- Objetivo da fundação: localização de rotas a
serem abertas pelo interior do continente e a
instalação de postos hospitaleiros, científicos e
pacificadores como forma de abolir escravos,
estabelecer a paz entre os chefes tribaisi e
fornecer-lhes arbitragem justa e imparcial.
“ Abrir para a civilização a única parte do globo
ainda indefesa a ela, penetrar na escuridão que
paira sobre os povos inteiros é, eu diria, uma
cruzada digna deste século de progresso.
Pareceu-me bem a Bélgica, um país central e
neutro, seria o lugar adequado para um tal
encontro. Será que preciso dizer que, ao trazer os
senhores a Bruxelas, não fui guiado por nenhum
sentimento egoísta? Não, cavalheiros, a Bélgica
pode ser um país pequeno, mas está feliz e
satisfeita com seus rumos; e eu não tenho outra
ambição que não seja a de servi-la bem.”
Rei Leopoldo II
- Criação da Associação Internacional Africana: Leopoldo II como
presidente.
- Fundação de um comitê de Estudos do Alto Congo: empresários
ingleses e holandeses e banqueiros belgas;
- Primeira ideia: Criar a “Confederação das Repúblicas Livres do
Congo.” O presidente seria o Rei Leopoldo que da Europa
governaria as “tribos negras” do coração africano e que
manteria a paz entre elas e o livre transito comercial no coração
do continente.
- Desta forma, o Rei da Bélgica se preparava para o monopólio
sobre a Bacia do Congo quer eral rota obrigatório de passagem
de todo o comércio vindo da África Saariana para o Atlântico e o
sul do continente.
- Ponto culminante: Rei Leopoldo consegue a instituição do
Estado Livre do Congo e o seu reconhecimento pela
comunidade europeia após a Conferência (1885).
2. O anuncio da criação do mapa “cor-de-rosa” proposto por Portugal em 1883
-
-
e constantemente recusado pelos países europeus até a realização da
conferência: Neste projeto, Portugal propunha a ligação entre Angola e
Moçambique formando um grande corredor comercial e cultural que
abrangeria os territórios da Zambia e Zimbábue, ligando os oceanos
atlânticos e índico. Esta província se chamaria “Angolomoçambicana” e teria
como administradora a coroa Portuguesa.
Nova Proposta: As expedições de Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e
Serpa Pinto, integradas numa nova estratégia portuguesa para o continente
africano, que privilegiava a ocupação efetiva através da exploração e
colonização em detrimento dos simples direitos históricos.
Portugal foi o último a ser chamado para a conferência de Bruxelas, deixando
que eles ficassem com o que ‘sobrassem’ das decisões.
Eles conseguem o monopólio da região após a Conferência de Berlim em
1886. Porém não conseguiram efetivar a unificação dos dois países por
causa dos interesses ingleses e franceses sobre ao região e a construção de
uma ferrovia que cortaria o continente de Cairo até a Cidade do Cabo,
dominados pela presença inglesa.
- Portugal foi o grande derrotado da Conferência
de Berlim pois, para além de assistir à recusa
do direito histórico como critério de ocupação
de território, a 11 de Janeiro de 1890 a GrãBretanha, exige a retirada portuguesa de todas
as zonas em disputa (os territórios entre Angola
e Moçambique), sob pena de serem cortadas as
relações diplomáticas.
- Portugal protestou mas, isolado e sem
quaisquer apoios internacionais, restou-lhe
apenas ceder e recuar. Era o fim do “mapa corde-rosa”.
3. O expansionismo da Política Francesa
expresso na união França e Grã Bretanha no
controle do Egito em 1879. A Inglaterra tinha
o objetivo de conter e diminuir a expansão
mulçumana nos territórios da África do Norte
e a tomada do comércio destas cidades que
estavam nas mãos dos árabes.
- França: Expedições ao Congo com parceria da
Bélgica, Relações diplomáticas com o Gabão e
inicativa de uma ‘colônia’ na Tunísia (Norte) e
Madagascar (Índico).
4. O interesse inglês pelo interior do continente africano:
livre navegação e comércio da bacia do Níger e do
Congo (nas mãos da Bélgica), o domínio total da
cidade de Cairo (livre dos mulçumanos) e o domínio
da África Austral (ocupado pelos Boêres – holandeses
calvinistas instalados na África do Sul)
- Realização destas entradas: Assinatura de tratados
entre os povos africanos e os Europeus.
- Natureza destes tratados: comércio exclusivo com os
países, intervenção dos países europeus sobre os
problemas entre as tribos africanas, perda da
autonomia dos chefes dos reinos/cidades/tribos em
troca de proteção contra outros grupos dentro e fora
do contexto africano.
- Consequências dos tratados com os europeus:
Extração dos produtos africanos para a
industria europeia, desequilíbrio da economia
doméstica e influencia no sistema político
africano.
- A presença de vários países, seus interesses
sobre estas regiões e os inúmeros tratados
escritos vai necessitar uma presença de
negociações diplomáticas entre os Europeus
capaz de gerar um consenso entre as relações
estabelecidas no continente africano.
Conferência de Berlim
- A Conferência de Berlim realizada entre 19 de Novembro de
1884 e 26 de fevereiro de 1885 teve como objetivo organizar,
na forma de regras, a ocupação de África pelas potências
coloniais e resultou numa divisão que não respeitou, nem a
história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos
povos desse continente.
- O congresso foi proposto por Portugal e organizado pelo
Chanceler Otto von Bismarck da Alemanha assim como
participaram ainda a Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália,
Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos, Suécia, ÁustriaHungria, Império Otomano (Turquia e Arábia e seus territórios
parte do Egito e Sudão)
• O Império Alemão, país anfitrião, não possuía colônias na
África, mas, tinha esse desejo e viu-o satisfeito, passando a
administrar o “Sudoeste Africano” (atual Namíbia) e o
Tanganhica;
• Os Estados Unidos possuíam uma colônia na África, a Libéria,
só que muito tarde, mas eram uma potência em ascensão e
tinham passado recentemente por uma guerra civil (18611865) relacionada com a abolição da escravatura naquele
país;
• A Turquia também não possuía colónias na África, mas era o
centro do Império Otomano, com interesses no norte de
África e os restantes países europeus que não foram
“contemplados” na partilha de África, também eram
potências comerciais ou industriais, com interesses indiretos
naquele continente.
PRINCIPAIS DECISÕES DA
CONFERÊNCIA DE BERLIM DE 1884 /1885
Delimitação da
Bacia convencional
do Congo onde
deveria vigorar a
liberdade comercial,
durante 20 anos.
Liberdade de
Navegação nos
Rios Congo e Níger.
Os princípios da
Notificação
e da Ocupação
Efectiva
deveriam ser
respeitados pelos
Países que
ratificassem o Acto
Geral de Berlim
CONFERÊNCIA DE BERLIM DE 1884/1885
CONSEQUÊNCIAS
Criação do Estado Partilha de parte Ocupação Efectiva
Livre do Congo
da África Central
de
Presidido por
entre a França,
Novas Possessões
Leopoldo II
a A.I.C. e Portugal.
nas costas de
da Bélgica
África
PONTO DE PARTIDA PARA A PARTILHA DA ÁFRICA
ENTRE VÁRIOS PAÍSES EUROPEUS
Resultados desta conferência: a Grã-Bretanha passou a
administrar toda a África Austral, com excepção das
colónias portuguesas de Angola e Moçambique e o
Sudoeste Africano, toda a África Oriental, com
excepção do Tanganica e partilhou a costa ocidental e
o norte com a França, a Espanha e Portugal (GuinéBissau e Cabo Verde);
- O Congo – que estava no centro da disputa, o próprio
nome da Conferência em alemão é “Conferência do
Congo” – continuou como “propriedade” da
Associação Internacional do Congo, cujo principal
accionista era o rei Leopoldo II da Bélgica; este país
passou ainda a administrar os pequenos reinos das
montanhas a leste, o Ruanda e o Burundi.
E as etnias existentes?
- Submetem-se ao controle e ganham novos
nomes e organizações sob a égide do
desenvolvimento econômico e a ocidentalização
cultural e religiosa.
- Privilégio entre os grupos etnicos em detrimento
a outros;
- O não questionamento das fronteiras das
possessões e colônias que não correspondiam à
racionalidade da cultura africana por interesses
econômicos dos grupos externos e internos.
- Consequências: Migrações internas, conflitos
armados financiados pelos europeus,
perseguições políticas e religiosas;
- A questão étnica utilizada posteriormente para a
reorganização do território no século XX: fruto de
manipulação política dos interesses das elites
africanas associados as empresas europeias e
norte-americanas.
- Promoção de guerras internas: lucro bélico para as
potências internacionais, desestabilização interna
e ajuda externa e continuação do domínio
territorial através do ideológico e econômico.
Enfim,
- O Processo de partilha da África é resultado de anos
de contato de comércio e de ocupações indiretas de
Europeus no continente.
- Exploração de territórios: atende as demandas da
industrialização dos países europeus e a demanda
tanto de postos de produção de recursos materiais.
- O processo civilizatório e a religião: processos de
legitimação de cultura com o objetivo de
enfraquecer a cultura local, organização social e
política de Impérios/estados já existentes.
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