A mineralogical study of industrial Portland clinker produced with non-traditional raw-materials (carbonatite) and fuels (coal, pet coke, waste tires) Estudo mineralógico de clínquer Portland industrial produzido com matéria-prima (carbonatito) e combustíveis (carvão, coque, pneus) não tradicionais Fábio Ramos Dias de Andrade, Inst. Geociências, USP Marcelo Pecchio, ABCP Yushiro Kihara, ABCP Juliana Maia C. dos Santos, Inst. Geociências, USP Objetivos • Estudar a influência da queima de pneus sobre a composição mineralógica do clínquer, comparando clínqueres produzidos em um mesmo forno e com as mesmas matériasprimas • Definir quais elementos químicos são os melhores indicadores do uso de matérias-primas e combustíveis alternativos • Definir os teores dos elementos menores nos silicáticos cálcicos do clínquer • Definir quais os sítios cristalográficos ocupados pelos elementos menores nos silicatos • Definir quais são os principais “reservatórios” dos elementos químicos menores no clínquer, pela ponderação entre teor do elemento nos silicatos e o teor dos silicatos no clínquer • Os resultados apresentados são parte de um estudo em andamento Descrição geral do caso Localização: Cajati, SP Matéria-prima carbonática rejeito da mineração de fosfato (carbonatito de Jacupiranga) = rocha ígnea, não-calcária Combustíveis coque de petróleo + carvão (80% calor) + pneus inteiros e picados (20% calor) Amostragem Diretamente na fábrica, em três etapas com composições distintas de combustíveis A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) Materiais coletados: matérias-primas farinha combustíveis clínqueres pó de eletrofiltro Em cada etapa (A, B, C) foi coletada uma parcela por hora cada amostra foi composta por 5 parcelas a amostragem foi iniciada duas horas após a mudança de combustível (estabilização do forno) neste trabalho serão abordados apenas os clínqueres Métodos analíticos FRX – espectrometria de fluorescência de raios X para elementos maiores AA – espectrometria de absorção atômica (AA) para elementos traços MO – microscopia óptica de luz refletida DRX – difratometria de raios X e método de Rietveld (análise quantitativa de fases) ME – microssonda eletrônica (análises químicas pontuais das fases cristalinas) Métodos complementares produção dos cimentos experimentais ensaios físico-mecânicos nos cimentos ensaios de solubilização Microscopia óptica de luz refletida Os três clínqueres (A, B e C) apresentam microtextura similar Dimensão média do C3S elevada (65µm) Zonas irregulares e amplas de C2S 50 µm 200 µm clínquer A (pneus inteiros e picados) clínquer C (sem pneus) Difratometria de Raios X (DRX) Similaridade mineralógica entre os três clínqueres 3500 clinquer A - pneus picados + inteiros B - pneus picados C - sem pneus intensidade (cps) 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 10 20 30 40 50 o 2-teta ( ) 60 70 Fluorescencia de raios X e Absorção Atômica Composição química A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) Indicadores químicos Pneus Fe, Zn, Sn Coque de petróleo S Carbonatito P, Sr CaO (wt%) SiO2 Al2O3 Fe2O3 SO3 MgO K2O TiO2 SrO P2O5 MnO PF total LSF SM AM Be (ppm) Cr Co Ni Cu Zn Cd Sn Te Pb As clinker A 60.66 19.76 3.40 4.14 1.24 6.74 0.24 0.38 0.79 0.68 0.20 0.80 99.02 97.68 2.62 0.82 1.09 90.3 32.2 67.4 64.1 517 0.21 5.49 5.22 4.29 1.41 clinker B 60.03 19.54 3.61 4.11 1.93 6.73 0.28 0.38 0.77 0.73 0.20 0.80 99.11 97.27 2.53 0.88 0.75 94.5 33.2 61.3 57.8 571 0.33 9.51 6.47 7.38 1.69 clinker C 60.51 19.70 3.77 3.68 1.77 6.71 0.24 0.40 0.79 0.72 0.19 0.61 99.07 97.49 2.64 1.02 1.10 88.8 27.5 66.2 41.4 74.9 0.27 2.39 4.40 6.63 1.41 Composição mineralógica (DRX-Rietveld) A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) clinker A clinker B clinker C C3S mcl 50.55 41.23 44.41 C3S tcl 2.38 4.31 4.10 C3S total 52.93 45.54 48.51 C2S mcl 29.37 31.33 31.16 C2S ort 1.52 1.26 3.26 C2S total 30.89 32.59 34.42 C3A isso 1.39 0.60 0.88 C3A ort 1.18 0.77 2.79 C3A total 2.57 1.37 3.67 C4AF 8.31 13.56 7.55 MgO 5.30 6.94 5.85 CaO 0.00 0.00 0.00 sum 100 100 100 Composição mineralógica (DRX-Rietveld) Quantidade de fase (em %) 60 50 40 30 20 10 0 Co-processamento de pneus inteiros e picados Co-processamento de pneus picados Sem co-processamento Caracterização físico-mecânica de cimentos experimentais A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) Similaridade de desempenho entre os três cimentos Etapa Tempo total de moagem (min) Retido Peneira 45µm (%) 3 dias Resistência (MPa) 7 dias 28 dias Densidade (g/cm³) Superfície Específica (cm²/g) cimento clínquer A 125 9,29 24,8 32,2 48,3 3,18 3610 cimento clínquer B 125 9,35 23,2 31,8 50,9 3,19 3680 cimento clínquer C 125 10,16 24,6 32,5 49,7 3,18 3630 Composição química dos silicatos de cálcio (microssonda eletrônica) A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) % em peso wt % CaO SiO2 MgO Al2O3 Fe2O3 SO3 ZnO SrO P2O5 TiO2 MnO K2 O total A C3S B C 71.0 23.5 1.53 1.17 0.71 0.30 0.04 0.49 0.87 0.24 0.08 0.01 100.0 71.7 23.0 1.12 1.45 0.74 0.26 0.04 0.48 0.94 0.22 0.06 0.01 100.1 71.2 22.7 1.49 1.72 0.66 0.34 0.02 0.55 0.90 0.23 0.09 0.01 99.9 A C2S B C 63.1 27.4 0.25 2.12 1.70 2.75 0.02 1.07 1.38 0.36 0.03 0.10 100.3 62.2 26.2 0.61 2.50 2.13 2.22 0.02 1.18 1.60 0.56 0.11 0.16 99.4 62.8 28.3 0.22 1.97 1.17 1.89 0.02 1.09 1.29 0.32 0.04 0.09 99.2 Microssonda eletrônica (química mineral) Dicalcium Silicatee- Gamma Estrutura cristalina proporção catiônica tetraedro Si Al octaedro Al Fe Mg Ca estrutura cristalina do γ-C2S azul: cálcio vermelho: oxigênio lilás (pequeno): silício Composição química das fases cristalinas (microssonda eletrônica) A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) Proporção catiônica C3S A B C cationic proportion to 20 atoms of oxygen tetrahedral site Si 3.57 3.51 3.46 Al 0.21 0.26 0.31 P 0.11 0.12 0.12 Fe 0.08 0.08 0.08 S 0.03 0.03 0.04 Ti 0.03 0.02 0.03 sum 4.04 4.03 4.02 octahedral site Ca Mg Zn Mn Sr K sum 11.6 0.35 0.00 0.01 0.04 0.00 12.0 11.7 0.26 0.00 0.01 0.04 0.00 12.0 11.6 0.34 0.00 0.01 0.05 0.00 12.0 A C2S B C 3.95 0.36 0.17 0.18 0.30 0.04 5.0 3.82 0.44 0.20 0.25 0.24 0.06 5.00 4.13 0.34 0.16 0.13 0.21 0.04 5.00 9.73 0.05 0.00 0.00 0.09 0.02 9.90 9.73 0.13 0.00 0.02 0.10 0.03 10.0 9.79 0.05 0.00 0.00 0.09 0.02 9.96 Fórmula estrutural dos silicatos de cálcio (microssonda eletrônica) A – (pneus inteiros e picados) + (coque + carvão) B – (pneus picados) + (coque + carvão) C – (coque + carvão) Fórmula estrutural média das fases analisadas (n = número de análises) Calculada na base de 20 oxigênios por fórmula unitária Fórmula estrutural ideal = proporção estequiométrica Ca3 Si O5 = Ca12 Si4 O20 Ca2 Si O4 = Ca10 Si5 O20 Fase Combustível C3S C2S formula n A (Ca11.57 Mg0.35 Sr0.04 Mn0.01) (Si3.57 Al0.21 P0.11 Fe0.08 S0.03 Ti0.03) O20 18 B (Ca11.72 Mg0.26 Sr0.04 Mn0.01) (Si3.51 Al0.26 P0.12 Fe0.08 S0.03 Ti0.02) O20 20 C (Ca11.64 Mg0.34 Sr0.05 Mn0.01) (Si3.46 Al0.31 P0.12 Fe0.08 S0.04 Ti0.03) O20 19 A (Ca9.73 Sr0.09 Mg0.05 K0.02) (Si3.95 Al0.36 S0.30 Fe0.18 P0.17 Ti0.04) O20 11 B (Ca9.73 Mg0.13 Sr0.10 Mn0.01 K0.03) (Si3.82 Al0.44 Fe0.25 S0.24 P0.20 Ti0.06) O20 10 C (Ca9.79 Sr0.09 Mg0.05 K0.02) (Si4.13 Al0.34 S0.21 P0.16 Fe0.13 Ti0.04) O20 17 Fórmula estrutural dos silicatos de cálcio As fórmulas obtidas neste trabalho diferem das fórmulas “reais” propostas por Taylor (1998) C3S = 3(Ca0.98 Mg0.01 Al0.067 Fe0.0033) (Si0.97 Al0.03) O5 C2S = 2(Ca0.975 K0.01 Na0.05 Mg0.01) (Si0.9 Al0.06 S0.01 Fe0.02) O4 Isto indica que a composição dos silicatos de cálcio depende do ambiente químico no interior do forno, em consequência da composição das matériasprimas e dos combustíveis Fórmula estrutural do silicato tricálcico (C3S) Ocupação dos sítios estruturais com base nos raios iônicos (clínquer A) tetraédrico (ideal Si) octaédrico (ideal Ca) principal substituinte apfu = átomos por fórmula unitária principal substituinte Fórmula estrutural do silicato bicálcico (C2S) Ocupação dos sítios estruturais com base nos raios iônicos (clínquer A) tetraédrico (ideal Si) octaédrico (ideal Ca) principal substituinte principal substituinte substituinte secundário apfu = átomos por fórmula unitária substituinte secundário Teor das fases cristalinas X teor em peso dos elementos menores Zinco (Zn) – indicador químico da presença de pneus se concentra preferencialmente nas fases não silicáticas dados anteriores indicam que o Zn é fixado no MgO (Andrade et al., 2003) Teor de ZnO contido nas fases do clínquer 0,09 0,08 0,07 0,06 0,05 A B 0,04 C 0,03 0,02 0,01 0 ZnO C3S ZnO C2S ZnO others Teor das fases cristalinas X teor em peso dos elementos menores Fósforo (P) – indicador químico da presença de carbonatito se concentra preferencialmente no sítio tetraédrico do C3S, substituindo o Si Teor de P2O5 contido nas fases do clínquer 1,6 1,4 1,2 1 A 0,8 B C 0,6 0,4 0,2 0 P2O5 C3s P2O5 C2S P2O5 others Teor das fases cristalinas X teor em peso dos elementos menores Estrôncio (Sr) – indicador químico da presença de carbonatito Sr2+ e Ca2+ têm raios iônicos similares e mesma valência Sr ocorre em todas as fases portadoras de cálcio, preferencialmente as não silicáticas Teor de SrO contido nas fases do clínquer 1,4 1,2 1 0,8 A B 0,6 C 0,4 0,2 0 SrO C3S SrO C2S SrO others Conclusões 1. Os elementos menores presentes no clínquer podem ser usados como indicadores químicos da utilização de matérias-primas ou combustíveis alternativos • Zinco (Zn) teores até 7 vezes maiores em clínqueres produzidos com queima de pneus • Fósforo (P) indica a presença de apatita na matéria-prima ou queima de carcaças animais • Estrôncio (Sr) elemento abundante em carbonatitos mas raro em calcários, indica procedência • Enxofre (S) indicador principalmente do uso do coque de petróleo 2. As análises de clínqueres produzidos com e sem a queima de pneus não apresentaram diferenças significativas em termos de microtextura e mineralogia, sugerindo a manutenção das propriedades físico-mecânicas do cimento 3. A principal diferença química dada pelo uso de pneus é o teor mais elevado de Zn (cerca de 500ppm), mas seu efeito sobre a composição mineralógica do clínquer não é perceptível Conclusões 4. A incorporação dos elementos químicos nas fases sólidas depende do ajuste entre o raio iônico e o retículo cristalino das fases • Zinco (Zn) não é incorporado nos silicatos, mas sim no MgO (periclásio) • Fósforo (P) substitui Si nos sítios tetraédricos dos silicatos, em proporções similares em C3S e C2S; o C3S é o principal reservatório de fósforo, pois seu teor é cerca de 50% superior ao teor de C2S • Estrôncio (Sr) substitui Ca em praticamente todas as fases cristalinas do clínquer, com preferência pelas fases não-silicáticas • Enxofre (S) reside preferencialmente nas fases não silicáticas (sulfatos) e substitui o Si no sítio tetraédrico do C2S em maior proporção que no sítio tetraédrico do C3S 5. O conhecimento do papel dos elementos menores na cristaloquímica das fases de clínquer pode abrir caminho para pesquisas futuras sobre a reatividade hidráulica destas fases, em função das possíveis alterações de energia livre pela deformação dos retículos cristalinos