1 INCORPORAÇÃO DE COQUE DE PETRÓLEO EM MASSA CERÂMICA ARGILOSA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ R.O.Barreto(1,a), C.M.F. Vieira(1), S.N.Monteiro(1), R.M.Pinheiro(1) [email protected](a) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF)Laboratório de Materiais Avançados (LAMAV)(1),Av. Alberto Lamego, 2000, 28015-620 Campos dos Goytacazes – RJ RESUMO Neste trabalho foi realizado um estudo sobre as propriedades físicas e mecânicas das peças sinterizadas de cerâmica vermelha contendo coque de petróleo e massa argilosa. Foram preparadas composições com até 4% em peso de coque de petróleo em mistura com a massa argilosa. Corpos-de-prova foram obtidos por prensagem uniaxial e sinterizados na temperatura de 800ºC. Nas amostras queimadas foram realizados ensaios tecnológicos para determinar absorção de água, etração linear e tensão de ruptura à flexão. A análise microestrutural das peças sinterizadas foi realizada por microscopia óptica. Os resultados mostraram que a incorporação de coque de petróleo na proporção de 1,0 % melhora as propriedades físicas e ocorre uma ligeira queda na resistência mecânica à flexão, também favorecendo e proporcionando economia energética na etapa de queima. Palavras-chaves Coque de petróleo, massa argilosa, campos dos goytacazes. : 1. INTRODUÇÃO A indústria do petróleo é um segmento que a cada ano, devido à necessidade da população mundial, aumenta a produção dos seus produtos. Dentre estes está inserido o coque de petróleo. O coque de petróleo definido como um produto resultante da etapa de craqueamento no refino do petróleo, com alto teor de 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2416 2 carbono, poucas cinzas e contendo metais pesados. O coque é utilizado como combustível em refinarias, e diversas indústrias, além de ser matéria prima para produção do coque calcinado que é utilizado na indústria de alumínio (1). A variabilidade natural das características das argilas e o emprego de técnicas de processamento relativamente simples para fabricação de cerâmicas vermelhas, tais como blocos de vedação e telhas, facilitam a incorporação de outros tipos de materiais. Alguns destes materiais, na forma de resíduos, podem até facilitar o processamento, e ainda contribuir para a redução do gasto energético como é o caso do coque de petróleo, investigado neste trabalho, e melhorar a qualidade do produto final (2). 2.MATERIAIS E MÉTODOS As matérias-primas utilizadas para desenvolvimento deste trabalho foram massa cerâmica argilosa e coque de petróleo. A massa cerâmica, composta por misturas de argilas cauliníticas, é usada na confecção de blocos de vedação e de lajotas da Cerâmica União situada no município de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. O outro material estudado é o coque de petróleo, com origem na Petrobras, durante o refinamento. A Tabela 2.1 mostra as características físico-químicas e a composição química do coque de petróleo, respectivamente (3). Tabela 2.1 – Propriedades físico-químicas (3) Propriedade Característica Estado físico Sólido Cor Escuro Temperatura de decomposição > 300 0C Densidade 0,83 Solubilidade na água Insolúvel A composição química do coque de petróleo foi realizada por fluorescência de raios-X em equipamento Philips, modelo PW 2400, na qual os elementos foram apresentados na forma de óxidos. Para a determinação do carbono orgânico, utilizou-se o método calorimétrico. A leitura da amostra foi realizada em 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2417 3 Espectrofotômetro SPEKOL UV VIS – 3.0 A determinação da composição mineralógica foi realizada por meio de análises de Difração de raios-X (DRX),. A análise morfológica do coque de petróleo foi realizada por Microscopia Ótica (MO), utilizando-se um microscópio Neophot, modelo 32, do Laboratório de Materiais Avançados (LAMAV) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF). A distribuição de tamanho de partícula das matérias-primas foi realizada pelo método combinado de peneiramento e sedimentação, de acordo com a norma ABNT NBR-7181 (ABNT, 1984). Foram preparados corpos-de-prova com misturas de 0 %, 0,5 %, 1,0 %, 1,5 %, 2,0 % e 4,0 % em peso de coque de petróleo em mistura com a massa cerâmica argilosa, como mostrado na Tabela 2.2. A mistura e homogeneização das matérias-primas foram realizadas em um moinho de bolas, sem bolas, por um período de 30 minutos. Em seguida as massas foram umedecidas com 8 % em peso em água Tabela 2.2 – Composição das massas cerâmicas (% em peso). Amostra Argila Coque de petróleo A0,0 100,0 0 A0,5 99,5 0,5 A1,0 99,0 1,0 A1,5 98,5 1,5 A2,0 98,0 2,0 A4,0 96,0 4,0 A compactação das massas foi feita por prensagem uniaxial a frio, com ação única do pistão superior. A pressão de compactação foi de aproximadamente 20 MPa. Após os corpos-de-prova foram submetidos à secagem em estufa 110 °C por um período de 24 horas. O processo de sinterização dos corpos cerâmicos foi realizado em um forno elétrico, com um ciclo de queima com taxa de aquecimento de aproximadamente 2 ºC/min da temperatura ambiente até atingir a temperatura de 800 ºC, permanecendo 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2418 4 por 180 minutos (tempo de patamar). A taxa de resfriamento também se deu a aproximadamente 2 ºC/min até a temperatura ambiente. Após queima, as amostras foram submetidas aos seguintes ensaios tecnológicos: retração linear, absorção de água e tensão de ruptura à flexão (3 pontos). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 3.1 apresenta o resultado da composição química do coque de petróleo. O coque de petróleo apresenta elevada perda ao fogo 59,66 %. Esta propriedade é um ponto bastante atrativo para a incorporação do Coque de Petróleo como matéria-prima alternativa em cerâmica vermelha, uma vez que estará proporcionando economia de energia para a indústria. O teor de SO3 é também significativo, sendo associado ao enxofre elementar. Os demais óxidos estão presentes em pequenas quantidades e atuam como impurezas. Tabela 3.1 – Composição química do Coque de Petróleo (% em peso) Al2O3 SiO2 SO3 V2O5 Fe2O3 NiO ZnO CuO PF C 0,24 0,29 35,37 0,69 0,41 0,67 1,18 1,49 59,66 92,50 A Figura 3.1 apresenta o difratograma de raios-X do coque de petróleo. Tratase de um material amorfo, pois só é possível identificar um pico que corresponde à fase cristalina SiO2 (quartzo) que esta a 100 % com 2 θ em 29,684. Q - Quartzo Q Figura 3.1 – Difratograma de raio-x do coque de petróleo. 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2419 5 A Figura 3.2 apresenta a curva de distribuição de tamanho de partícula do coque de petróleo após peneiramento em diâmetros de 840 a 44 µm. O coque de petróleo apresenta uma distribuição de tamanho de partículas que esta 88,57% 5,71 % estão acima de 840 µm. 100 2 Passante (%) 80 1 3 60 40 20 0 10 100 28 26 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1000 Retida (%) entre 840 e 44 µm, aproximadamente 2,5 % das partículas são inferiores a 44 µm e Diâmetro das partículas (µm) Figura 3.2. – Distribuição de tamanho de partícula do Coque de Petróleo Figura 3.3 aspectos morfológicos do coque de petróleo obtidos por meio de Microscopia Ótica. Partículas com formato irregular com aspecto brilhante. (b) 1 mm (c) Figura 3.3 – Micrografias óticas do Coque de Petróleo em aumentos de 5 X . A massa apresenta uma distribuição de tamanho de partículas 100 % abaixo de 257,1 µm, sendo que aproximadamente 29 % das partículas apresentam tamanho inferior a 2 µm, fração argila de acordo com escalas internacionais para classificação de solos (4) . A fração silte, entre 2 e 50 µm, com34,78 %. O restante da distribuição compreende a fração areia que apresenta 36,22 %. 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2420 6 26 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 90 80 Passante (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 1 10 100 Retida (%) 100 Diâmetro das partículas (µm) Figura 3.4. – Distribuição de tamanho de partícula da massa cerâmica. Limite de plasticidade (%) 40 MC – Massa Cerâmica 35 30 Extrusão aceitável •MC 25 Extrusão ótima 20 15 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Índice de plasticidade (%) Figura. 3.5 Prognóstico de extrusão através dos limites de Atterberg para a massa cerâmica A Figura 3.5 apresenta a localização da massa cerâmica estudada num gráfico elaborado a partir dos limites de plasticidade de Atterberg que indica regiões de extrusão ótima e aceitável (5). É possível observar na Figura 3.5 que a massa cerâmica, MC encontra-se dentro da região considerada aceitável para extrusão. Este resultado indica uma 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2421 7 elevada plasticidade da massa cerâmica argilosa, que esta em concordância com os diversos trabalhos (6,7). Isto é devido basicamente ao elevado teor da fração argila. A Figura 3.6 apresenta os resultados da densidade aparente, a seco e de queima, da massa argilosa em função do teor de coque de petróleo incorporado. Com a adição superior a 1 % do coque de petróleo ocorre uma diminuição tanto na densidade aparente a seco quanto na de queima. Embora a densidade do coque de petróleo seja inferior a da argila, 0,83 g/cm3 contra 2,69 g/cm3 a quantidade incorporada foi pequena para influenciar significativamente nos resultados da Figura 3.6. A densidade aparente a seco da cerâmica pode ter sido reduzida com incorporação acima de 1 % por influência da granulometria do coque. Já a densidade de queima menor para as cerâmicas com teores de coque acima de 1 % justificada pela própria densidade a seco e pela combustão do coque que acarreta porosidade. Essa característica pode ser considerada benéfica para a cerâmica, pois depois de sinterizada o produto ficará mais leve que o convencional. É possível observar também que a densidade aparente a seco de todas as formulações é superior à densidade aparente de queima. Este comportamento está relacionado com a perda de massa que ocorre durante a queima, acarretando porosidade. Portanto, o fechamento da porosidade em conseqüência das reações de sinterização, não compensou a porosidade originada da perda de massa. Esta perda de massa está associada à combustão do coque, eliminação de água de constituição da caulinita e desidratação de hidróxidos. 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2422 3 Densidade aparente a seco e de queima (g/cm ) 8 1,80 1,75 1,70 1,65 1,60 1,55 1,50 1,45 Densidade a seco Densidade de queima A 0,0 B 0,5 C 1,0 D 1,5 E 2,0 F 4,0 Coque de Petróleo (% em peso) Figura 3.6 Densidade aparente a seco e de queima em função adição de coque de petróleo A Figura 3.7 mostra os resultados de absorção de água das cerâmicas. Podese observar que não houve variação da composição A para a composição B. O aumento significativo da absorção de água com a elevação da quantidade de resíduo incorporado pode ser explicado tomando como base que o Coque de Petróleo é um material carbonoso e consequentemente durante a sua queima ocorre a formação de porosidade. 28 Absorção de Água (%) 27 26 25 24 23 22 21 20 A 0,0 B 0,5 C 1,0 D 1,5 E 2,0 F 4,0 C o q u e d e P e tró le o (% e m p e s o ) Figura 3.7 – Absorção de água em função da adição de Coque de Petróleo 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2423 9 A Figura 3.8 mostra a retração linear das composições em função das formulações investigadas. Ocorreu uma queda na Retração linear em formulação com até 1 %. É verificado um incremento deste parâmetro a partir de 1,5 % de incorporação, tendo um aumento de 73 % da formulação de 2 para 4 %. associado ao aumento da porosidade. 1,8 Retração Linear (%) 1,6 1,4 1,2 1,0 0,8 0,6 0,4 A00 0,0 A05 0,5 A10 1,0 A15 1,5 A20 2,0 A40 4,0 Coque de Petróleo (% em peso) Figura 3.8 – Retração linear em função da adição de Coque de Petróleo Tensão de ruptura à Flexão (MPa) 5 4 3 2 1 A15 A00 A05 A10 A20 4,0 A40 1,0 1,5 2,0 0,0 0,5 Coque de Petróleo (% em peso) Figura 3.9- Tensão de ruptura a flexão em função da adição do coque de petróleo 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2424 10 4. CONCLUSÕES O coque de petróleo trata-se de um material amorfo composto basicamente de carbono, com pico de liberação de calor em 567,79 ºC com uma granulométrica fina, apresenta-se com forma irregular e brilhante, ideal para incorporação em massa argilosa para cerâmica vermelha. A incorporação de coque de petróleo em massa argilosa proporcionou uma melhora nas propriedades físicas até a incorporação de 1 %, com ligeira queda de resistência mecânica a flexão. A partir deste valor as propriedades físicas são prejudicadas e ocorre uma melhora na resistência mecânica a flexão, esta melhora na resistência se da devido a uma melhor sinterização no interior das amostras queimadas. A utilização de coque de petróleo incorporado na massa argilosa para cerâmica vermelha em 1,0 % modifica ligeiramente as características físicas e mecânicas da peça e proporciona uma economia significativa de combustível e financeira. • 5.REFERÊNCIAS 1.DYNAMISMECANICA. Disponível em: <http:www.dynamismecanica.com.br/artigo004.php> Acesso em 10 out. 2007 2.MENEZES, R.R; NEVES, G.A; FERREIRA, H.C. -State of the art about the use of wastes as alternative to ceramic raw materials: Rev. bras. eng. agríc. Ambient, vol.6 no.2 , Campina Grande, 2002 3.LABORATÓRIO REGAP/OT/QP 4.SANTOS, P.S. Ciência e tecnologia de argilas: 2ª edição. São Paulo: Editora Edgard Blucher,v.1, 1989. 5.DONDI, M.; MARSIGLI , M.; FABBRI , B. Recycling of Industrial and Urban Waster in Brick Production- A Review: Tile & Brick Int. Vol.13, nº3, p.218-225, 1997. 6.VIEIRA, C.M.F; HOLANDA; J.N.F.; PINATTI, D.G. - Caracterização de massa cerâmica vermelha utilizada na fabricação de tijolos na região de Campos dos Goytacazes – RJ: Cerâmica, vol.45, p296, 2000. 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2425 11 I N C O R P O R A T I O N O F P E T R O L E U M C O K E I N CLAYEY MASSES O F CAMPOS DOS GOYTACAZES-RJ ABSTRACT This work presents the results of a study of the physical and mechanical properties of sintered samples of red ceramic containing petroleum coke and clayey masses. It was used, as raw materials, clayey masses from Cerâmica União at Campos dos Goytacazes, North Rio de Janeiro State and petroleum coke from petroleum refinery. Compositions were prepared with 0%, 0.5%, 1.0%, 1.5%, 2.0%, and 4% by weight of petroleum coke blended with clayey masses. Samples-ofevidence were obtained by pressing uniaxial and sintered at temperature of 800 ° C. In the firing samples were performed technological tests to determine water absorption, apparent density, linear shrinkage and flexural strength. The analysis of microstructure of sintered samples was performed, can by optical microscopy. The results showed that the incorporation of petroleum coke in the proportion of 1.0% improves the physical properties of the ceramic body with a slight decrease in the flexural strength, also encouraging and providing significant fuel savings and financial economic. Key-words : petroleum coke, clayey masses, campos dos goytacazes 18º CBECiMat - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais, 24 a 28 de Novembro de 2008, Porto de Galinhas, PE, Brasil. 2426