Agropecuária Técnica, ISSN 0100-7467 - v. 25, n.1, 2004 Areia, PB, CCA/UFPB IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL COM CAFÉ NA QUALIDADE DO SOLO 1 ALDRIN MARTIN MARIN PEREZ , IVO JUCKSCH , EDUARDO DE SÁ MENDONÇA , LIOVANDO 2 MARCIANO DA COSTA 1 3 3 4 Trabalho extraído da dissertação de mestrado do primeiro autor, em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa, MG 2 Doutorando em Tecnologias Energéticas e Nucleares, Grupo de Radioagronomia/Fertilidade de Solo, Departamento de Energia Nuclear, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Av. Prof. Luis Freire, 1000, CEP 50740-540, Recife (PE), Bolsista CNPq, e-mail: [email protected] 3 4 Professor Adjunto do Departamento de Solos, UFV Professor Titular do Departamento de Solos, UFV RESUMO Este estudo teve o objetivo de avaliar a potencialidade do manejo de um sistema agroflorestal com a cultura do café, na melhoria da qualidade do solo principalmente por meio de indicadores associados à matéria orgânica. Duas propriedades da Zona da Mata de Minas Gerais, uma sob manejo agroflorestal (SA) e outra sob manejo convencional (SC), tiveram os solos amostrados e analisados. As amostras de solo foram coletadas em três profundidades, 0-5, 5-15 e 15-30 cm. Coletas da manta orgânica foram também realizadas em cada um dos sistemas, usando um gabarito de madeira de 0,16 m , lançado ao acaso em 10 pontos de cada parcela de 2 ± 0,5 ha. Foram realizadas avaliações das propriedades químicas do solo, matéria orgânica leve-livre, leve oclusa, frações de carbono orgânico extraídas em um gradiente de oxidação decrescente e substâncias húmicas. Os resultados indicaram que o SA, quando comparado com o SC, promoveu maior recuperação dos solos pobres em nutrientes e erodidos, incrementou os teores de COT, matéria orgânica leve-livre, substâncias húmicas e frações de carbono orgânico extraído em um gradiente de oxidação, resultando, portanto, em uma melhoria da qualidade do solo em relação às propriedades químicas e à matéria orgânica. Palavras-chave: sistema agroflorestal, recuperação do solo, matéria orgânica IMPACT ON SOIL QUALITY OF AGROFORESTAL SYSTEM WITH COFFEE PLANTS ABSTRACT This study had the objective of evaluating the working potentiality of an agroforestal system from an agroecological point of view, improving soil quality, by using indicators attributes associated with soil organic matter. Two farms in the Zona da Mata in Minas Gerais State, had the soil sampled and analysed. The samples were obtained at three depths, 0-5; 5-15 and 15-30 cm, the sampling of the covering organic matter was also carried out at random, in ten places for each plot of ± 0,5 ha. An evaluation was carried out on the chemical properties of light free organic matter and light intra-aggregated organic matter. Fractions of organic carbon extracted at a decreasing gradient of oxidation, humic substances and the nutrient content of organic covering. The results indicate that the agroforestal system under agroecological management (SA), when compared with a conventional management system (SC), can recuperate eroded soils with low levels of nutrients. The agroecological system increased the contents of Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 26 A. M. M. PEREZ et al. organic soil matter, FL-Free, C in humic substances, fractions of organic carbon extrated from a gradient of oxidation and nutrient contents of the organic covering were also analysed. The agroforesty management system, in general, presented a better quality of soil in relation to its chemical properties and its organic matter contents. Key words: agroforestry systems, soil recuperation, organic matter INTRODUÇÃO A região sudeste de Minas Gerais está inserida na Zona da Mata mineira, no domínio da floresta atlântica, que é caracterizada por uma paisagem acidentada, com declividades que variam de 20-45% (Golfari, 1975); os solos são bem drenados, porosos, profundos, porém, ácidos e pobres em nutrientes (Ker, 1995). Muitos agricultores descapitalizados vivem nestas áreas e, de uma maneira geral, praticam a pecuária de subsistência e o cultivo de sequeiro de milho, feijão e cana-de-açúcar, que substituem as lavouras de café antigas e degradadas (Dean, 1996). A forma de uso da terra que predomina é exploratória e degradante, afetando negativamente a qualidade de vida da população. Uma vez que novas alternativas de uso dos recursos não são desenvolvidas ou não são do conhecimento destes agricultores, estes são obrigados a usar a terra além de sua capacidade limite. Estas atividades impactantes, dentro dos sistemas de manejo, levam, conseqüentemente, a perdas de solo e nutrientes por erosão e lixiviação e também perdas de água por escoamento superficial e evaporação (Franco, como alternativas de uso do solo, que recuperem e melhorem as condições dos sistemas agrícolas como um todo, por meio da fixação de N, retirada de nutrientes e água das camadas mais profundas pelas raízes das árvores, levando a um aumento da produtividade de biomassa e a manutenção da fertilidade e qualidade do solo (Franco, 1995; Franco, 2000). Estes sistemas constituem uma combinação de árvores, arbustos, cultivos agrícolas, ou, animais (Montagnini, 1992; Sanches, 1995). As espécies arbóreas vêm sendo cultivadas pelos agricultores na forma de cercas vivas (árvores ao longo dos perímetros das propriedades) e associação com culturas anuais ou perenes como café, para ser usada como adubo verde ou forragem (Franco, 2000). Entretanto, a quantidade de informações a respeito destas propostas agroflorestais na região ainda é bastante reduzida e diante desta realidade, este estudo, tem como objetivo avaliar a potencialidade do manejo de um sistema agroflorestal na melhoria da qualidade do solo, representada aqui por fatores associados a matéria orgânica. 2000). Esses processos degradativos favorecem perdas MATERIAL E MÉTODOS de C, N, P e dos reservatórios de nutrientes associados a matéria orgânica e do solo, levando, assim, a um uso ineficiente dos poucos recursos existentes nestas áreas, o que, por sua vez, reflete-se em uma queda acentuada Localização e caracterização das áreas O presente estudo foi localizado dentro da região na produção vegetal (Recursos Mundiales - Glossad, conhecida como Serra do Brigadeiro no município de 2000). Uma vez que o uso de fertilizantes químicos para Araponga, MG (20º40 S e 42º26 W) e foi realizado no reposição dos nutrientes não é viável para a grande período de setembro de 2001 a março de 2002. As maioria dos agricultores, devido à falta de infra-estrutura, propriedades estão localizadas a aproximadamente 870 à baixa rentabilidade agrícola e ao baixo nível de m de altitude, na latitude 20º3959 S e na longitude capitalização, torna-se necessário o manejo integrado de nutrientes e água nestas áreas, centrado no manejo da matéria orgânica e no cultivo de espécies vegetais capazes de utilizar recursos locais da forma mais eficiente possível. Em contraposição às formas predominantes de uso da terra, alguns agricultores organizados, juntamente com o Centro de Agricultura Alternativa da Zona da Mata (CTA-ZM) e pesquisadores da UFV, estão buscando a implantação de propostas agroflorestais Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 42º3115 W. O relevo varia de ondulado a montanhoso, com médias anuais de temperatura e precipitações de 19ºC e 1.600 mm, respectivamente. O solo nos sistemas estudados é predominantemente, um Latossolo Vermelho-Amarelo, textura argilosa (Mendonça et al., 2001). Para a realização do estudo, dois sistemas agrícolas foram selecionados: um sob manejo agroflorestal (SA) com árvores e cafeeiro, e outro sob manejo convencional, com cafeeiro (SC) (Tabela 1). A área sob manejo agroflorestal (SA) possui uma extensão 27 IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL COM CAFÉ ... Tabela 1. Caracterização dos sistemas agrícolas estudados Sistema Área de manejo (ha) SA 2 Pedo-forma Espaçamento e Espaçamento Número de densidade do café arbóreo árvores Encosta 3,0 x 1,5 m Irregular convexa (2.000 plantas/ha) (6 e 8 m entre 76 Objetivo Pragas e Doenças Recuperação Não tem Conservação plantas) Produção Subsistência SC 2 Encosta 3,5 x 1,5 m Não tem convexa (2.500 plantas/ha) árvores 0 Produção Formigas Broca de aproximadamente 2 ha. Quando o agricultor adquiriu dois primeiros anos foram realizadas as primeiras a propriedade, esta era uma área degradada com adubações de N e K, na superfície do solo, entre o caule pastagem de capim-gordura. Após a pastagem, o e a projeção das extremidades dos ramos. As aplicações agricultor, pensando em opções de uso da terra, no final de 1994, decidiu implantar o café consorciado com arroz, visando alguma produção para a subsistência. Naquele ano, plantou 2.000 mudas de café, das quais apenas sobreviveram 630. A partir de 11/10/95 foi iniciada a implantação do sistema agroflorestal. Inicialmente, a área foi regenerada com a utilização de adubos verdes, como lab-lab, feijão guandu e mucuna, deixando inclusive o capim gordura. Paralelamente, permitiu-se a regeneração natural de plantas pioneiras. No ano seguinte (1996) plantou-se milho, feijão, de árvores. Em 1999, grande parte dessas foi cortada, dando lugar a 1.400 plantas de café. Todos os resíduos orgânicos provenientes das árvores e adubos verdes foram deixados sobre o solo. Atualmente, estão implantados na área 4 espécies de árvores, sendo as seguintes: Ipê Roxo (Tabebuia avellanedae Lor), (Eritrina sp), Jequitibá quantidades de 10 e 20 g/cova no primeiro e segundo ano, respectivamente. No café adulto, foi aplicado o formulado 00-25-20 (P O5: K O) na linha de cultivo na 2 2 dose de 100 kg ha , enquanto o N foi adicionado através -1 de aplicações foliares de uréia, na dose de 250 kg ha . -1 O agricultor também informou que fez uma aplicação de 100 g por cova de Sulfato de Potássio (K SO ). As 2 4 aplicações normalmente foram feitas no período de outubro a março. abacaxi, guandu, capim-elefante e cerca de 73 espécies Mulungu foram feitas no período chuvoso, sendo aplicadas as (Cariniana estrellensis Raddi) e Palmeira sp e 2.000 plantas de café por ha. A área sob manejo convencional, de aproximadamente 2 ha, no ano de 1993, foi submetida a capinas e queimadas para a eliminação da vegetação secundária, e, subseqüentemente, foi cultivada com a associação milho e feijão por três anos, realizando-se adubações Coleta de amostras de solo e manta orgânica Para a coleta de amostras de solo, cada sistema ± 0,5 ha), selecionado foi dividido em quatro quadrantes ( sob condições e paisagem geograficamente similares (topografia, vegetação, solo). As coletas dos solos foram feitas na linha e na rua dos plantios nas profundidades de 0-5, 5-15 e 15-30 cm, no período de setembro de 2001. As amostras foram misturadas, formando uma amostra composta para cada 10 amostras simples. Estas foram levadas ao laboratório, secas ao ar, passadas em peneiras de 2 mm, para obtenção de TFSA e analisadas quanto às suas características químicas, conforme o manual da EMBRAPA (1997). Para a coleta da manta orgânica, foi estabelecido sucessivas com o formulado 04-14-08, sendo feitas as um total de oito parcelas para cada sistema. As amostras aplicações no sulco de cultivo ( foram coletadas usando um gabarito de madeira de ± 44 g/sulco) e no início de desenvolvimento das culturas. Posteriormente, o 0,16 m , lançado ao acaso sobre 10 pontos, dentro de agricultor implantou 2.500 plantas de café. Durante a cada parcela, tanto na linha como na rua, formando-se implantação deste novo sistema de cultivo não foi uma aplicado nenhum fertilizante químico. No decorrer dos Posteriormente, as amostras foram levadas à estufa de 2 amostra composta para cada parcela. Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 A. M. M. PEREZ et al. 28 circulação forçada, a 65ºC, por 72 horas, com a e titulação com Fe(NH ) (SO ) .6H O 0,5 mol L . A 4 2 4 2 -1 2 finalidade de obter o peso da matéria seca. determinação foi realizada usando 5 mL; 10 mL e 20 Análises químicas do solo K Cr O mL de H SO , mantendo constante a concentração de 2 Foram determinados o pH em água e os teores de P, K, Ca , Mg 2+ , (H+Al) e Al 2+ 3+ e realizados os cálculos de SB, CTC e V%, conforme as metodologias descritas por EMBRAPA (1997). e leve oclusa (FL-Oclusa) proporções FL-Oclusa, utilizou-se o método densimétrico. A flotação em líquido, com alta gravidade específica (NaI 1,8 g cm ), -3 permitiu a separação da matéria orgânica do solo (MOS) em frações, que foram denominadas, matéria orgânica leve-livre (FL-Livre) e matéria orgânica leve oclusa (FLOclusa) (Sohi et al., 2001). A FL-livre correspondeu à matéria orgânica não-complexada, separada antes da dispersão dos complexos organo-minerais secundários, em complexos organominerais primários e FL-Oclusa correspondeu à matéria orgânica dispersada após a separação da FL-Livre. A seqüência de fracionamento densimétrico foi: 1) Extração da FL-Livre, onde pesouse 15 g de solo (TFSA) em tubos para centrífuga de 100 mL, em cada tubo foi adicionado 90 mL de NaI com uma densidade de 1,80 g cm . Em seguida, se fez -3 durante 30 minutos. Posteriormente, centrifugação a 8.000 G/30 minutos, seguido de filtragem da suspensão em cadinhos de golch (de 100 mL). O material retido foi levado para estufa a ± 70ºC, por 48 horas, para a posterior quantificação da FL-livre; 2) Para isolar a FL-Oclusa da fração intraagregados, foi utilizado o material precipitado na fase anterior no fundo do tubo de centrífuga. Para tanto, completou-se novamente com 90 mL de NaI e aplicouse ultrassom na mistura contendo NaI, e solo dentro de cada frasco na intensidade de 1.500 Jg -1 por 15 minutos, centrifugadas por 30 minutos a 8000 G. Após a centrifugação, o material flotante foi filtrado em papel de filtro previamente tarado e seco em estufa a 40ºC. O material retido (FL-Oclusa) foi lavado com água destilada e levado à estufa a sua posterior quantificação. ± 70ºC, por 48 horas, para Determinação de carbono orgânico A oxidação da matéria orgânica foi feita pela via úmida, com K Cr O 2 2 7 ácido-aquoso de 0,5:1; correspondendo a: 6; 9 e 12 mol L 1:1 e 2:1; , respectivamente. -1 A quantidade de carbono orgânico determinado, usando 5; 10 e 20 mL de ácido sulfúrico concentrado, foi frações extraídas sob gradiente decrescente de oxidação (Chan et al., 2001). As frações foram: Fração 1 (6 mol L -1 2 manual 4 a 0,167 mol/L (10 mL); resultando três H SO ): carbono orgânico oxidado dentro de 6 mol/L; Para extração e fracionamento físico da FL-Livre e leve 2 7 comparada com o carbono orgânico total dentro das três Extração de matéria orgânica leve-livre (FL-Livre) agitação 2 0,167 mol L , em meio sulfúrico -1 Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 4 Fração 2 (9 mol L -1 6 mol L -1 H SO ): diferença do 2 4 carbono orgânico oxidável extraído entre 9 mol L e 6 mol L -1 -1 H SO 2 4 -1 e Fração 3 (12 mol L -1 9 mol L H SO ): diferença do carbono oxidável extraído entre 2 4 12 mol L -1 9 mol L -1 H SO . 2 4 Substâncias húmicas A separação e o fracionamento quantitativo das substâncias húmicas foram realizados em função da diferença de solubilidade, em meio ácido ou alcalino, das frações correspondentes a humina (FH), ácidos húmicos (FAH) e ácidos fúlvicos (FAF), segundo a técnica de fracionamento quantitativo de substâncias húmicas de acordo com a Sociedade Internacional de Substâncias Húmicas (IHSS), descritas por Hayes et al., (1989). A determinação quantitativa de carbono orgânico nos extratos das frações ácidos húmicos, fúlvicos e humina foi realizada segundo método de Yoemans e Bremner (1988). Manta orgânica e nutrientes O teor total dos nutrientes analisados foi determinado a partir de uma amostra composta de cada parcela do material seco e moído. Amostras de 0,5 g de material vegetal foram mineralizadas pela mistura nítricoperclórica (3 mL ácido nítrico: 1mL ácido perclórico). Nos extratos foram determinados os teores totais de Ca, Mg, Zn, Cu, Fe, S e Mn por espectrofotometria de absorção atômica; o K por fotometria de emissão de chama; e o P, por colorimetria. O teor de N foi determinado pelo método Kjeldahl. Análises estatísticas O delineamento experimental em campo foi em um fatorial (2x2x3) disposto em blocos casualizados, com IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL COM CAFÉ ... 29 quatro repetições. Os fatores foram: dois sistemas de manejo, principalmente nos primeiros 0-5 cm de manejo SA e SC; duas situações de coleta de solo, Rua profundidade e quando as amostras foram obtidas na e Linha; três profundidades, 0-5; 5-15 cm e 15-30 cm. rua do sistema. Os dados foram submetidos à análise de variância (P = 5%), utilizando o programa SAEG. Tabela 3. Fração Leve-Livre e Fração Leve-Oclusa da RESULTADOS E DISCUSSÃO matéria orgânica do solo sob dois sistemas de manejo, Carbono orgânico total (COT), FL-Livre, FLOclusa O sistema sob Manejo Agroflorestal (SA) apresentou os maiores teores de carbono orgânico, quando em duas posições e em três profundidades de amostragem Posições da amostra Sistema de manejo Linha Tabela 2. Carbono orgânico total do solo, sob dois sistemas de manejo, em duas posições e em três profundidades de amostragem Posição da Sistemas de amostra Manejo Profundidade do solo (cm) 0-5 Rua Linha 5-15 15-30 g kg -1 SA 30,24a 24,89a 24,69a SC 23,66b 20,75b 18,68b SA 25,79a 23,99a 23,08a SC 21,85b 18,75b 17,65b 5-15 15-30 -1 Rua 2). 0-5 FL-Livre (dag kg ) comparado com o solo sob Manejo Convencional (SC) (Tabela Profundidade do solo (cm) SA 1,28a 0,37a SC 0,77b 0,44a 0,33a 0,22a SA 0,40a 0,36a 0,36a SC 0,41a 0,23a 0,23a FL-Oclusa (dag kg ) -1 Rua Linha SA 0,034a 0,030a 0,048a SC 0,021a 0,033a 0,025a SA 0,026a 0,031a 0,030a SC 0,027a 0,044a 0,025a Médias seguidas pela mesma letra numa mesma coluna entre os sistemas de manejo na rua ou na linha para uma mesma profundidade não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo t e s t e F. S A = S i s t e m a A g r o f l o r e s t a l e S C = S i s t e m a Convencional. Médias seguidas pela mesma letra numa mesma coluna entre os sistemas de manejo para Rua vs Rua e Linha vs Linha não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste F. SA = Sistema Agroflorestal e SC = Sistema Convencional. Nas outras duas profundidades 5-15 cm e 15-30 cm, tanto na rua como na linha de cultivo, não foi possível observar efeitos significativos entre os sistemas de manejo para ambas as variáveis analisadas. Os maiores No SA, os teores de carbono orgânico na rua, para as profundidades 0-5; 5-15 e 15-30 cm foram de 28,4%; 19,9% e 32,2% superiores ao SC. Comportamento semelhante foi verificado na linha de cultivo, onde os teores de COT no SA foram 18%; 28% e 31% superior ao SC, para as mesmas profundidades, evidenciando que a adoção do SA está induzindo a aumentos nos níveis de carbono orgânico do solo, devido ao maior aporte de resíduos orgânicos que este sistema vem recebendo ao teores de FL-livre podem estar contribuindo para um aumento do compartimento da matéria macro orgânica (BIO-LAB), considerado um dos compartimentos mais importantes (Duxbury et al., 1989), já que favorece a entrada de frações mais ativadas da MOS, aumentando assim a ciclagem de nutrientes e formação de macro e micro agregados. Estes incrementos no compartimento macro-orgânico, podem ser explicados pelos teores de FL-Livre e COT e suas proporções (Tabela 4). Podese observar que no SA a fração FL-Livre representou longo destes anos. Na Tabela 3 observa-se também que, 42% do COT nos primeiros 0-5 cm, enquanto que no a adoção do SA acarretou em teores mais elevados das SC representou, nesta mesma profundidade, 32%. Nas frações FL-Livre e FL-Oclusa, em comparação ao SC, outras duas profundidades (5-15 e 15-30 cm), observou- porém somente a FL-Livre discriminou os sistemas de se uma redução das relações FL-Livre/COT e aumento Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 30 A. M. M. PEREZ et al. Tabela 4. Teores de C-FL-Livre, C-FL-Oclusa, COT e suas relações de C-FL-Livre/COT, FL-Oclusa/COT, COT/FL-Livre e COT/FL-Oclusa sob dois sistemas de manejo, em duas posições e em três profundidades de amostragem Prof (cm) FL-L FL-O g kg -1 COT FL-L/COT COT/FL-L FL-O/COT COT/FL-O Sistema Agroflorestal na Rua 0 - 5 12,8 0,34 30,24 0,42 2,4 0,011 88,9 5 - 15 3,7 0,30 24,89 0,15 6,7 0,012 83 15 - 30 3,3 0,48 24,69 0,13 7,5 0,019 51,4 Sistema Convencional na Rua 5 7,7 0,21 23,66 0,32 3,1 0,008 112,6 5 - 15 0 - 4,4 0,33 20,75 0,21 4,7 0,015 62,9 15 - 30 2,2 0,25 18,65 0,12 8,5 0,013 74,72 Sistema Agroflorestal na Linha 4 0,26 25,79 0,15 6,4 0,010 99,2 5 - 15 0 - 5 3,6 0,31 23,99 0,15 6,6 0,013 77,4 15 - 30 3,6 0,30 23,08 0,15 6,4 0,013 76,9 0,012 80,9 Sistema Convencional na Linha 0 - 5 4 0,27 21,85 0,19 5,3 5 - 15 2,3 0,44 18,75 0,12 8,2 0,023 43 15 - 30 2,3 0,25 17,65 0,13 7,7 0,014 73,6 C-FL-L= Fração leve-livre; C-FL-O= Fração leve-oclusa, COT=Carbono orgânico total. das relações COT/FL-Livre, evidenciando no SA, um fragmentação das partículas mais grossas da FL-Livre aumento na proteção intra-agregados, o que deve estar intra-agregados, sugerindo uma maior participação desta favorecendo o aumento no tempo de ciclagem da FL- fração na estabilidade e formação de micro-agregados Livre nestas profundidades. Já no SC pode-se observar dentro dos macro-agregados (Six et al., 1998; Six et al., que, embora as reduções das relações FL-Livre/COT 2000). Os valores mais elevados destas proporções tenham sido próximas ao SA, as relações COT/FL-Livre foram maiores, sugerindo uma diminuição destas frações mais ativas e presença de uma matéria orgânica mais estabilizada quimicamente, produto da maior exposição da MOS à degradação, originadas das atividades de revolvimento do solo (Gregorich et al., 1993). Entretanto, são necessários outros estudos para testar estas hipóteses. (COT/FL-Oclusa, rua e linha) no SA devem estar sendo favorecidos pelo deslocamento e mistura de partículas finas mediante a participação da fauna do solo, as quais podem ser transportadas ao longo do perfil, formando estes sítios de matéria orgânica. Substâncias húmicas O fracionamento de substâncias húmicas mostrou Quanto a FL-Oclusa, para ambos os sistemas, teores mais altos no SA em comparação ao SC (Tabela observou-se também uma redução das relações FL- 5). Houve um predomínio acentuado da fração FH > Oclusa/COT em profundidade, porém, relações COT/ FAH > e FAF em ambos os sistemas. Os maiores FL-Oclusa mais elevadas na profundidade de 0-5 cm, conteúdos da fração humina devem estar relacionados indicando uma pequena participação desta fração na à sua insolubilidade e sua resistência à biodegradação, superfície, mas um aumento em profundidade, e que favorecida pela formação de complexos estáveis e, ou, pode ser explicado pela decomposição e subsequente complexos argilo-húmicos (Pinheiro et al., 2001). Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL COM CAFÉ ... 31 Tabela 5. Teores do C-Substâncias húmicas sob dois sistemas de manejo, em duas posições e em três profundidades de amostragem Prof (cm) FAF FAH g kg -1 FH FAH/FAF EA/H S S/COT (3) g kg -1 Sistema Agroflorestal 5 4,37a 5,35a 8,31a 1,22 1,17 18,03 0,64 5 - 15 0 - 4,31a 5,26a 7,10a 1,22 1,35 16,67 0,68 15 - 30 4,26a 3,84a 6,58a 0,90 1,23 14,68 0,61 Sistema Convencional 5 3,55b 4,02b 8,26b 1,13 0,92 15,83 0,70 5 - 15 0 - 3,43b 3,05b 5,46b 0,89 1,19 11,94 0,60 15 - 30 3,25b 2,66b 4,90b 0,82 1,21 10,81 0,60 FAF: Fração ácidos fúlvicos; FAH: Fração ácidos húmicos; FH: Fração humina; EA: Extrato alcalino =FAH+FAF; S (3) : Soma das frações = FAF+FAH+FH. Médias seguidas por uma mesma letra em cada coluna, para sistemas de manejo entre uma mesma profundidade não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste F. As frações FAF, FAH e FH apresentaram um encontrada na fração mais facilmente oxidável (F1 = 6 incremento de 26,3%; 56,4% e 18,2%, respectivamente, mol/L), que se correlacionou positivamente com a FL- no SA, em relação ao SC. O incremento do C - Livre (r=0,998). substâncias húmicas parece estar ocorrendo de forma crescente no sistema SA, como conseqüência do maior aporte de resíduos orgânicos neste sistema. Em ambos os sistemas, houve redução da relação FAH:FAF com o aumento da profundidade (Tabela 5), evidenciando a maior mobilidade da FAF e a concentração da FAH na A maior quantidade de carbono orgânico estava presente na fração mais facilmente oxidável para ambos os sistemas (F1) (Tabela 7). Foi verificada uma redução decrescente, no entanto, com um ligeiro aumento na F3, em relação a F2, seguindo a ordem F1>F2<F3, sugerindo superfície (Benites et al., 2001). Contudo, esta redução foi mais evidente no SC, sugerindo perdas de carbono por percolação nesse sistema (Mendonça et al., 2001). A relação entre fração extraível pela solução alcalina e o resíduo (EA/H) forneceu informação quanto ao acúmulo de carbono. Esta relação em ambos os sistemas cresceu continuamente em profundidade, acompanhando o aumento no teor de argila, indicando efeitos de complexação de compostos orgânicos pela matriz Tabela 6. Frações de carbono orgânico extraídas em um gradiente de oxidação decrescente com ácido sulfúrico sob dois sistemas de manejo, em duas posições e em três profundidades de amostragem Posições da Sistemas de amostra manejo gradiente de oxidação As frações de carbono orgânico foram influenciadas pelo sistema de manejo, pela posição da amostra e pelo gradiente de oxidação, identificando a presença de frações de carbono mais ativo e mais estável em ambos os sistemas (Tabela 6). A maioria das diferenças foi F3 g kg Rua profundidades de solo estudadas. Frações de carbono orgânico extraídas em um F2 -1 mineral. O índice EA/H, mostrou que o SA apresentou maiores reservas das substancias húmicas nas diferentes Frações de Carbono Orgânico F1 F1 = 6 mol L mol L -1 SA 13,90Aa 5,9Ac 6,8Ab 26,6 11,26Ba 3,4Bc 6,3Ab 21,0 SA 13,30Aa 3,7Ac 6,9Ab 24,0 SC 10,90Ba 2,8Bc 5,7Ab 19,6 H SO ; F2 = 9 mol L -1 2 9 mol L SC Linha -1 COT -1 4 6 mol L -1 H SO ; F3 = 12 2 4 H SO ; SA = Sistema Agroflorestal e SC = 2 4 Sistema Convencional. Médias seguidas pela mesma letra maiúscula numa mesma coluna não diferem entre si a 5% de probabilidade; e médias seguidas.pela mesma letra minúscula numa mesma linha, não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 32 A. M. M. PEREZ et al. Tabela 7. Relações das frações de carbono orgânico obtidas sob um gradiente de oxidação decrescente de ácido sulfúrico sob dois sistemas de manejo, duas posições e em três profundidades de amostragem Posição da Sistema de amostra manejo Rua Linha F1/COT F2/COT F3/COT COT/F2 COT/F3 SA 0,52 0,22 0,25 1,9 4,5 3,9 SC 0,53 0,16 0,30 1,9 6,1 3,3 SA 0,55 0,15 0,29 1,8 6,5 3,4 SC 0,55 0,14 0,29 1,8 7,0 3,4 COT = Carbono orgânico total; F1 = 6 mol L -1 H SO ; F2 = 9 mol - 6 mol L 2 -1 4 H SO ; SA = Sistema Agroflorestal e SC = Sistema Convencional. 2 COT/F1 H SO 2 4 e F3 = 12 mol L -1 - 9 mol L -1 de 4 que a maior concentração de H SO da F3, provavelmente, SC (Tabela 8). Isto levou a maiores conteúdos de removeu formas de carbono mais estáveis. nutrientes na rua e na linha do SA, em comparação ao 2 4 As relações de carbono orgânico total com cada uma das frações foi menor na fração mais facilmente oxidável (F1) para ambos os sistemas, do que as frações F2 e F3, evidenciando que esta fração foi mais sensível SC; na rua, isto representou incrementos na ordem de 82% de N; 119% de P; 175% de K; 6% de Ca; 34% de Mg e 75% de S. Resultados semelhantes foram observados na linha de cultivo desse sistema. em quantificar o carbono mais ativo presente em ambos os sistemas. Os conteúdos de manta orgânica e nutrientes imobilizados em sua biomassa evidenciaram um reflexo Os resultados indicaram que a implementação do SA está incrementando os níveis de carbono orgânico mais ativo e mais estável em comparação ao SC (Tabela 6), produto das menores perdas de matéria orgânica do Tabela 8. Conteúdo de nutrientes estocados na manta orgânica presente sob dois sistemas de manejo e duas sistema e das maiores entradas de C provenientes dos posições de amostragem estratos arbóreos. Este carbono ativo está relacionado aos compostos rapidamente mineralizáveis (Duxbury et al., 1989). Portanto, ele desempenha um papel importante na manutenção da fertilidade do solo, atuando como fonte de nutrientes por sua rápida ciclagem e Rua SA mesma metodologia, obtiveram resultados semelhantes, encontrando mais da metade do carbono nas frações F1 e F2 (78-92%) em solos sob diferentes sistemas de manejo. Nesse estudo, foram verificadas correlações significativas com os aumentos da mineralização do N (F1 + F2 = 0,952*) e estabilidade de agregados (F1 + F2 = 0,982*). Estes autores sugerem monitorar estas frações como indicadores de sustentabilidade em sistemas agrícolas. Manta orgânica e nutriente acumulados A quantidade de manta orgânica obtida na rua como na linha foi maior no SA, em relação ao SC. Na rua, o incremento foi de 95% e na linha de 70% em relação ao Linha SC maior biodisponibilidade. Chan et al. (2001), usando esta Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 Variável Analisada MS SA kg ha -1 SC 9.402,0A 4.826,0B 9.859,0A 5.807,0B 120,3A 66,2B 135,1A 88,8B 8,5A 3,9B 7,9A 4,6B K 38,5A 14,0B 28,6A 19,7B Ca 83,7A 79,1B 79,9A 77,8B Mg 26,3A 19,8B 28,6A 20,9B S 8,5A 4,8B 8,9A 6,4B B 0,4A 0,2B 0,2A 0,3B Mn 1,1A 0,7B 1,2A 0,7B Zn 0,3A 0,1B 0,3A 0,1B Cu 0,2A 0,1B 0,3A 0,1B 105,7A 49,8B 140,3A 69,1B N P Fe Médias seguidas pela mesma letra maiúscula numa mesma linha entre os sistemas de manejo não diferem entre si a 5% de probabilidade pelo teste F. MS = matéria seca da manta orgânica. SA = Sistema Agroflorestal e SC = Sistema Convencional. IMPACTOS DA IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL COM CAFÉ ... 33 dos sistemas de manejo. Segundo Ker (1995), o solo Tabela 9. Valores médios das variáveis químicas do solo das áreas em estudo são Latossolos, que de maneira obtidos na rua e na linha de cultivo, sob dois sistemas de geral são profundos, ácidos, sendo normalmente manejo distróficos e intemperizados, existindo, nestas condições, aumento da adsorção aniônica, diminuição da saturação por bases e baixa contribuição de minerais pelo intemperismo. Nestas condições de solo, a formação de manta orgânica dentro de sistemas manejados sob o enfoque agroflorestal imobilizará grandes quantidades de nutrientes sendo estes de grande importância para manter o equilíbrio entre os nutrientes ciclados e a planta e para a diminuição das perdas com a exportação das produções, tornando o sistema mais sustentável. Isto é particularmente importante em sistemas com baixo uso de insumos externos, onde as reposições de nutrientes via fertilizações são baixas, devido a descapitalização dos agricultores assentados nestas áreas. Atributos do solo Linha SA pH SC SA SC 5,3Aa 5,5Aa 5,7Ab 5,2Aa Ca (cmol dm ) 3,1Aa 3,4Aa 4,1Aa 2,4b Mg (cmol dm ) 0,99Aa 0,99Aa 1,1Aa 0,7Aa -3 c -3 c K (mg dm ) -3 P (mg dm ) -3 Al (cmol dm ) -3 c H+Al (cmol dm ) c -3 SB (cmol dm ) CTC c efetiva CTC V% Efeitos dos sistemas nas variáveis de fertilidade Rua do solo pH 7 -3 (cmol dm ) -3 c (cmol dm ) -3 c 77,2Aa 69,0Aa 87,1Aa 62,1Aa 4,4Aa 3,6Aa 5,2Ab 4,4Ba 0,5Aa 0,3Bb 0,3Bb 0,6Aa 9,7Aa 7,4Bb 8Ab 8,5Aa 4,28Ab 4,56Aa 5,42Aa 3,25Bb 4,78Aa 4,86Aa 5,72Aa 3,85Aa 13,99Aa 11,96Aa 30,6Ab 13,42Aa 11,75Aa 38,1Aa 40,3Aa 27,6Ab CTC: capacidade de troca de cátions efetiva; CTC: capacidade de troca de cátions em pH 7; SB = soma de bases; (H + Al) = acidez potencial e V% = saturação por bases. Médias seguidas pela mesma Não foram observados efeitos significativos nos teores de nutrientes disponíveis do solo entre os sistemas SA e SC, o que, provavelmente, se deve ao curto tempo de estabelecimento do SA (Tabela 9). No entanto, de uma maneira geral, observou-se que a implantação do SA acarretou em mudanças nos valores de pH, Al letra maiúscula numa mesma linha, para sistemas de manejo SA vs SC dentro da rua ou da linha e, médias seguidas pela mesma letra minúscula, para rua vs linha dentro de um mesmo sistema de manejo não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste Tukey. Sistema Agroflorestal (SA) e Sistema Convencional (SC). , 3+ Ca , Mg 2+ , K , P, SB, CTC 2+ + valores observados no SC. efetiva e %V, em relação aos Em geral, quanto ao pH, foi observado que no SA (média de rua+linha ) este foi de 5,50, em relação a um 5 pH de 5,36 (média de rua + linha) no SC, acarretando um incremento para o pH do SA, sugerindo indícios de melhores condições de solo neste último sistema. No SA, observou-se ainda uma diminuição nos teores de Al 3+ em relação ao SC, sendo este de 0,43 cmol dm , enquanto no SC foi de 0,48 cmol dm c -3 c . -3 trocável na CTC efetiva do SA foi menor, sendo 6,7%, enquanto no SC, foi de 9,6%. A constante adição de resíduos orgânicos, depositados ou incorporados na superfície do solo no SA, pode estar contribuindo para diminuição da acidez e favorecendo a neutralização do 3+ , devido a atuação dos processos químicos de complexação desse elemento pela matéria orgânica (Mendonça, 1995). Valores mais elevados de Ca 2+ no SA foi de 3,6 cmol dm na ordem de 2,9 cmol c dm -3 c -3 e no SC foi , o que representou um incremento de 22,6% para o SA. O teor de Mg foi na ordem de 1 cmol dm c 2+ no SA , enquanto no SC foi de -3 0,87 cmol dm , havendo um incremento de 19,5% para c -3 o SA. O teor de K + no SA foi de 82,2 mg dm , enquanto -3 no SC foi de 65,5 mg dm -3 havendo um incremento de 20,2%. As percentagens de saturação de cálcio, magnésio e potássio na CTC em pH 7 para o SA foram de 24,1% de Ca Foi possível observar que a participação de Al Al O teor de Ca , 6,9% de Mg 2+ 2+ e 1,4% de K . Já no + SC, as percentagens de saturação foram de 23,4% de Ca , 6,9% de Mg e 1,3% de K. Estes maiores valores 2+ de percentagem de saturação de cálcio, magnésio e potássio no SA sugerem melhorias na fertilidade do solo. Os valores de SB, CTC efetiva , CTC em pH 7 e V no SA foram 32,3%, 28,6%, 19,3% e 11%, respectivamente superiores ao SC. Em ambos os sistemas, valores mais elevados de pH, cátions trocáveis, CTC efetiva, CTC em pH 7, P e 2+ , Mg 2+ e K + foram observados no SA, refletindo, portanto, maiores valores de soma de bases, CTC efetiva e saturação por bases. K encontram-se, principalmente, na superfície, provavelmente associados aos seus maiores conteúdos de matéria orgânica (Tabela 10). Agropecuária Técnica, v.25, n.1, p.25-36, 2004 34 A. M. M. PEREZ et al. Tabela 10. Características químicas do solo no Sistema sob Manejo Agroflorestal e Manejo Convencional em três profundidades de amostragem Prof. pH Ca cm 2+ Mg 2+ Al H+Al 3+ cmol dm c SB -3 CTC1 CTC2 V % P K mg dm -3 Sistema Agroflorestal 5 6,14 5,38 1,62 0,22 7,09 7,3 7,6 14,4 50,9 4,96 132,37 5 - 15 0 - 5,15 2,64 0,85 0,60 10,23 3,6 4,2 13,9 26,1 3,67 56,00 15 - 30 5,24 2,69 0,88 0,47 9,32 3,7 4,2 13 28,5 2,92 58,00 111,90 Sistema Convencional 5 6,20 4,90 1,54 0,12 6,06 6,7 6,8 12,8 52,6 5,03 5 - 15 0 - 5,10 2,20 0,66 0,60 8,79 3,0 3,6 11,8 25,3 3,94 48,12 15 - 30 4,90 1,70 0,49 0,70 8,99 2,3 3,0 11,3 20,3 3,15 36,62 SB = soma de bases; V% = saturação por bases; CTC1 = capacidade de troca de cátions efetiva; CTC2 = capacidade de troca de cátions em pH 7; e H + Al = acidez potencial. Diferenças nas variáveis de fertilidade do solo têm sido observadas em experimentos de longa duração, pelos efeitos de espécies leguminosas, atributos químicos de solo analisados, tanto na rua e linha, quanto nas profundidades estudadas. quando comparadas com aquelas não leguminosas. Estas AGRADECIMENTOS diferenças têm sido no pH, alumínio trocável, saturação por alumínio e adsorção de ânion (Fernandes et al., 1997; Kaur et al., 2000). Vários trabalhos relatam resultados similares (Murage et al., 2000; Esquivel et al., 2000; Etchevers et al., 2000; Mendonça et al., 2001), mostrando que mudanças em variáveis do solo, principalmente químicas, sob sistemas de manejo agroflorestal, não ocorrem em curto espaço de tempo. O tempo sugerido para encontrar diferenças pode variar de 10 a 35 anos de manejo do sistema agrícola. À Organização dos Estados Americanos, pela concessão da bolsa de estudo, ao Centro de Agricultura Alternativa da Zona da Mata, aos agricultores João dos Santos e José Edson Lopes pela concessão das propriedades e a Beno Wendling pelo auxílio nas atividades de campo e laboratório. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENITES, V.M.; SCHAEFER, C.E.G.R.; MENDONÇA, E.S.; MARTIN NETO, L. Caracterização da matéria CONCLUSÕES orgânica e micromorfologia de solos sob campos de O sistema de manejo agroflorestal, em comparação ao sistema de manejo convencional, aumentou o carbono orgânico total e o C das substâncias húmicas na rua e na linha de cultivo nas profundidades 0-5, 5-15 e 15-30 cm; Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.25, p.661674, 2001. CHAN, K.Y.; BOWMAN, A.; OATES, A. 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