Estudo clínico Periodontia Avaliação clínica de um dentifrício à base de dióxido de cloro na redução dos compostos sulfurados voláteis Roberto Luiz Guaitolini* Léo Guimarães Soares* Sérgio de Carvalho Weyne** Eduardo Muniz Barretto Tinoco*** Márcio Eduardo Vieira Falabella**** Denise Gomes da Silva***** Clinical assessment of a toothpaste based chlorine dioxide in the reduction of volatile sulfur compounds RESUMO A halitose é, na grande maioria das vezes, um problema originado na cavidade oral e tem como principal contribuinte os compostos sulfurados voláteis (CSV), que são formados a partir da quebra de aminoácidos por bactérias orais. O objetivo desse estudo foi avaliar a capacidade de um novo dentifrício contendo dióxido de cloro em reduzir os níveis de CSV. Esse estudo consistiu de uma avaliação duplo-cega, randomizada, placebo-controlada e cruzada, de dez voluntários saudáveis, onde a halitose foi induzida através do bochecho de cisteína e três dentifrícios foram utilizados na forma de solução para bochecho, um teste à base de dióxido de cloro, placebo e digluconato de clorexidina a 0,12%. Para a aferição dos níveis de CSV foi utilizado um halímetro. No período pós-bochecho, a taxa de redução do dentifrício teste foi superior ao placebo e inferior à clorexidina. Já nos períodos após uma, duas e três horas, a taxa de redução do dentifrício teste foi similar à clorexidina, sendo ambas superiores estatisticamente ao placebo, concluindo-se que o dentifrício teste foi capaz de reduzir os níveis de CSV quando comparado ao placebo, se comportando de forma similar à solução de clorexidina a 0,12% após uma, duas e três horas ao bochecho. Unitermos – Halitose; Mau hálito; Dentifrício; Compostos Sulfurados Voláteis (CSV); Dióxido de cloro. ABSTRACT Halitosis is, in most cases, a problem that originates in the oral cavity and is the main contributor to volatile sulfur compounds (VSC), which are formed from the breakdown of amino acids by oral bacteria. The aim of this study was to evaluate the ability of a new dentifrice containing chlorine dioxide in reducing VSC. This study consisted of an evaluation double-blind, randomized, placebocontrolled, crossover of 10 healthy volunteers, where the halitosis was induced by cysteine rinses and three dentifrices were used of mouthrinse: a test based Chlorine dioxide, placebo and chlorhexidine digluconate 0.12%. To measure the levels of VSCs was used Halimeter. In the post-rinse, the reduction rate of test toothpaste was superior to placebo and inferior to chlorhexidine. In the post-1 hour, after two hours and three hours after the reduction rate of the dentifrices test was similar to chlorhexidine, both being statistically superior to placebo and concluded that the test dentifrice was able to reduce levels of volatile sulfur compounds compared to placebo, behaving similarly to the solution of chlorhexidine at 0.12% after 1, 2 and 3 hours to rinse. Key Words – Halitosis; Bad breath; Tooth paste; Volatile Sulfur Compounds (VSC); Chlorine dioxide. *Mestre em Periodontia – Unigranrio. **Professor adjunto – Unesa. ***Professor adjunto – Unigranrio e Uerj. ****Professor adjunto – Unigranrio e UFJF. *****Professora adjunto – Unigranrio. Recebido em jul/2011 Aprovado em ago/2011 Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 647 Guaitolini RL • Soares LG • Weyne SC • Tinoco EMB • Falabella MEV • da Silva DG INTRODUÇÃO ção os aminoácidos cisteína e metionina, precursores dos CSV responsáveis pelo mau hálito10. Além do consumo oxidativo dos A palavra halitose deriva do latim halitus, que significa ar CSVs, também demonstrou elevação da tensão de O2 na saliva e expirado (hálito), e do sufixo grego osis, que significa alteração na placa, remoção de compostos orgânicos solúveis e supressão patológica, sendo essa palavra utilizada, portanto, para definir da atividade de enzimas proteolíticas bacterianas11. uma condição ou alteração do hálito, fisiológica ou patológica, Para o correto tratamento de qualquer processo patoló- caracterizada por odor ofensivo, desagradável, exalado na ex- gico, inclusive da halitose, o diagnóstico preciso se torna ponto piração . Somente nos Estados Unidos estima-se que no ano primordial. Os primeiros métodos para diagnóstico (osmoscó- 2000 foram gastos mais de U$700 milhões em enxaguatórios pio e teste organoléptico) da halitose utilizavam meios sub- bucais e U$625 milhões em pastilhas de menta e outros refres- jetivos para obtenção dos resultados. Nesses testes, o hálito cantes bucais2. do paciente é avaliado pelo olfato de um ou mais examina- 1 A halitose é um problema desagradável que causa em- dores. Apesar da simplicidade do teste e da sensibilidade do baraço, podendo afetar negativamente as relações sociais e olfato humano, há dificuldade na padronização dos resultados interpessoais. Estima-se que 90% dos casos de halitose sejam obtidos por estes testes devido a sua subjetividade12. Com provenientes da cavidade oral1,3, sendo a saburra lingual jun- o objetivo de padronizar os resultados foram produzidos os tamente com a doença periodontal os seus principais fatores monitores de sulfetos (halímetro)13, aparelhos portáteis que causais3. A halitose originada da cavidade oral tem sido atribuída medem a concentração dos CSV em partes por bilhão (PPB) principalmente à produção de compostos sulfurados voláteis e mais recentemente o OralChroma, aparelho também portá- (CSV), como o sulfeto de hidrogênio (H2S), metil-mercaptana til que mede cada composto sulfurado volátil separadamente (CH3SH) e dimetil-sulfeto (CH3)2S . Esses gases são provenientes através de software específico14. Para análise do hálito também da quebra de aminoácidos como a cisteína, cistina, metionina é utilizada a cromatografia gasosa (CG), teste que analisa cada ou peptídeos por bactérias da cavidade oral5-6, principalmente composto separadamente. É raramente utilizado em pesquisas no dorso da língua . devido ao seu alto custo e necessidade de técnicos treinados15. 4 1 Na maioria dos pacientes, o tratamento é primariamente Diversos produtos com diferentes formulações e diferen- dirigido para a redução do acúmulo de restos alimentares e do tes mecanismos de ação já foram propostos com o objetivo mau odor produzido por bactérias orais, o que é conseguido de auxiliar no combate à halitose, entre eles podemos citar: através do tratamento de doenças orais, melhorando a higiene cloreto de cetilpiridínio, triclosan, digluconato de clorexidina oral e reduzindo a saburra lingual . Os pacientes deveriam utili- (CHX), ClO2, fluoreto estanoso, óleos essenciais, lactato, citrato zar procedimentos regulares de higiene oral, incluindo limpeza de zinco, entre outros7,16-20. Apesar de existir um grande nú- dentária regular (escovação e fio dental) e o uso de dentifrícios mero de trabalhos avaliando a ação desses produtos sobre a antimicrobianos e/ou enxaguatórios bucal . halitose, ainda há muita divergência entre os resultados desses 7 8 Uma grande variedade de produtos farmacêuticos está trabalhos em relação a sua real eficácia21. disponível para esse fim, o que demonstra a extensão do pro- Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar clinica- blema da halitose. No entanto, a efetividade dos ingredientes mente a eficácia in vivo de um novo dentifrício contendo 0,44 ativos contidos nos produtos destinados ao cuidado com a % de ClO2, 0,3% de cloreto de cetilpiridínio (CCP) e 0,33% de saúde oral dependerá de sua concentração, sendo que, se es- fluoreto de sódio (NaF), na redução dos níveis de CSV. tiverem acima de certa concentração, esses ingredientes poderão causar algum efeito adverso9. MATERIAL E MÉTODOS O dióxido de cloro (ClO2) é utilizado em dentifrícios, soluções para bochechos e preparações antissépticas. Soluções para bochechos contendo ClO2 são utilizadas na prática odontológica Foram selecionados aleatoriamente para esse estudo dez há mais de 30 anos . Investigações anteriores mostraram que o participantes voluntários (idades entre 25 e 48 anos; média: ClO2 é capaz de oxidar uma variedade de biomoléculas, incluindo 38,89), periodontalmente saudáveis, sem comprometimento produtos derivados do metabolismo bacteriano. Em modelos sistêmico ou histórico de halitose, que não fizeram uso de an- experimentais, que um enxaguatório bucal contendo uma mis- tibióticos nos últimos dois meses, oriundos da Escola de Odon- tura de ClO2 com ânion cloreto foi capaz de consumir por oxida- tologia da Unigranrio. 10 648 Seleção dos pacientes Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 Periodontia Desenho do estudo Esse estudo consistiu de uma avaliação duplo-cega, randomizada, placebo-controlada e cruzada, com voluntários divididos em três grupos (1, 2 e 3). Houve um período de washout de uma semana entre cada período de teste. Produtos teste e controle Três dentifrícios, diluídos na forma de solução para bochecho, foram fornecidos pelo Laboratório Daudt Oliveira Ltda. em três frascos identificados apenas por letras (A, B e C – Figuras 1). Optou-se pela utilização de dentifrício diluído para bochecho porque o objetivo era avaliar apenas a ação química do produto sobre os níveis de CSV, Figura 1 – Material utilizado no estudo: canudos descartáveis e embalagens contendo a solução de cisteína e as soluções testadas. As soluções são identificadas apenas por letra, caracterizando o estudo duplo-cego. o que poderia ficar comprometido caso os participantes realizassem escovação, visto que a remoção mecânica da placa poderia interferir nos níveis de CSV, além de haver a possibilidade dos participantes escovarem de maneira diferente em dias diferentes, criando um viés no trabalho. Após coleta e tratamento estatístico dos dados, a empre- Fase experimental Os participantes foram orientados a não executarem qualquer forma de higiene oral, a evitarem alimentos com cheiro forte (alho, cebola) ou ingerirem bebidas alcoólicas e não usa- sa revelou o real conteúdo dos frascos, que consistia de: rem cosméticos com cheiro forte, como perfumes, por um • Frasco A (teste) – dentifrício diluído contendo 0,44 % de ClO2, período de 12 horas antes e durante as aferições. 0,3% de CCP e 0,33% de NaF. As aferições dos níveis de CSV foram feitas utilizando-se • Frasco B (placebo) – sem CCP, ClO2 e NaF. um Halímetro (Halimeter, Interscan Corp., USA), previamente • Frasco C (contole positivo) – solução de gluconato de clore- calibrado em ar ambiente e zerado antes de cada aferição, se- xidina (CHX) a 0,12%. guindo técnica preconizada na literatura13 (Figuras 2 e 3). Os valores foram obtidos através da média simples de três aferições, como recomendado pelo fabricante do Halímetro. Os examinadores foram calibrados anteriormente ao início da pesquisa. Figura 3 – Os participantes colocam o canudo no interior da cavidade oral, mantêm a boca entreaberta e respiram normalmente pelo nariz, até que o halímetro atinja o pico de CSV em ppb. Figura 2 – Halímetro marcando 15 ppb antes do bochecho com cisteína (valor inicial) e 1315 ppb, após bochecho com cisteína, demonstrando a indução da halitose. Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 649 Guaitolini RL • Soares LG • Weyne SC • Tinoco EMB • Falabella MEV • da Silva DG Para indução da halitose, os participantes bochecharam por um minuto 10 ml de uma solução de L-cisteína a 6 mM (pH 7,2), com objetivo de induzir a formação de CSV, conforme protocolo adaptado4,6,22-24. Em seguida, cada participante fez um bochecho por um minuto com 10 ml da solução alocada. Foram obtidos seis valores em cada participante, para cada uma das soluções, da seguinte forma: a. Antes do bochecho com cisteína (inicial). b. Imediatamente após o bochecho com cisteína (pós-cisteína). c. Imediatamente após o bochecho com a solução referente ao seu grupo (pós-bochecho). d. Uma hora após o bochecho com a solução referente ao seu grupo (após uma hora). e. Duas horas após o bochecho com a solução referente ao seu grupo (após duas horas). f. Três horas após o bochecho com a solução referente ao seu Gráfico 1 – Comparação entre as médias das taxas de redução de CSV obtidas pelas soluções testadas nos diferentes intervalos de tempo. As linhas verticais no ápice das barras mostram o erro padrão. *Diferente estatisticamente. grupo (após três horas). Após uma semana de período de washout, os tratamen- apresentando a solução teste uma taxa de redução superior tos foram cruzados e os participantes receberam novo tipo de à solução placebo. A solução de CHX, no entanto, obteve de- solução referente a outro grupo. Este procedimento foi repe- sempenho superior a ambas. No período após uma hora não tido em uma terceira semana, de forma que cada participante houve diferença estatística entre as taxas de redução da solu- utilizasse todos os tipos de tratamento. ção teste e CHX, sendo ambas superiores à solução placebo. O comportamento das taxas de redução de CSV no período após Tratamento dos dados duas horas foi similar ao período após uma hora, apresentando Após a obtenção dos valores absolutos dos níveis CSV foi as soluções teste e CHX resultados semelhantes. Estes resul- calculada a taxa de redução destes níveis pelas soluções testa- tados foram estatisticamente superiores aos alcançados pela das. Posteriormente, cada diferença foi dividida pelo valor pós- solução placebo (Gráfico 1). cisteína respectivo, para diminuir a interferência deste sobre o resultado final, ou seja, foi feita a normalização dos dados. No período após três horas, a solução de CHX obteve resultado ligeiramente superior a solução teste, porém, não As diferenças estatísticas entre os dados coletados dos apresentou diferença estatística no teste SNK. A solução place- diferentes grupos foram analisadas utilizando o teste Kruskal bo novamente mostrou resultado inferior estatisticamente às Wallis, devido aos dados não serem paramétricos. Quando o soluções teste e CHX (Gráfico 1). valor de “P” no teste Kruskal-Wallis foi menor que 0,05, indicando que havia diferença estatística entre alguma das subs- DISCUSSÃO tâncias, foi realizado o Teste Student-Newman-Keuls (SNK) para verificar entre quais substâncias houve diferença. Para todas as Os resultados do presente estudo mostraram a capacida- análises foi utilizado um nível de significância de 95%. Os dados de da solução teste à base de ClO2 em reduzir os níveis dos CSV. foram analisados estatisticamente através do programa Primer A eficiência de um enxaguatório à base de ClO2 já havia sido of Biostatistics v 4.0. identificada em um trabalho25 que comparou através de avaliação organoléptica, um enxaguatório teste (ClO2) e um controle RESULTADOS (água destilada), demonstrando melhora do hálito após cinco horas do bochecho com a solução teste, o que persistiu por 650 As análises estatísticas das taxas de redução dos CSV quatro horas, porém, foi encontrada diferença estatística em normalizadas revelaram que no período imediatamente pós- comparação com o enxaguatório controle apenas nos perío- bochecho houve diferença estatística entre as três soluções, dos após duas horas e quatro horas ao bochecho. Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 Periodontia Os enxaguatórios de óleos Outro estudo26 avaliou 1. Que o resultado obtido no presente estudo tenha de essenciais, dióxido de sido devido à ação do CCP, indo ao encontro a um tra- um enxaguatório de ClO2 cloro, zinco e placebo, balho27; 2. Que o ClO2 tenha desempenhado o papel novamente a eficácia na redução da halitose, em principal na redução dos CSV, se concordamos com comparação com um con- até quatro semanas, não outro trabalho19, admitindo a baixa eficiência do CCP; trole (água destilada), porém, reduziram o mau hálito 3. Que ambos os princípios ativos desempenharam um nesse estudo, os autores utilizaram um halímetro para medir objetivamente os níveis de CSV. Os resultados mostraram melhora no háli- em comparação com as medidas iniciais. Somente o enxaguatório de cloreto papel sinérgico na ação anti-CSV. Como visto no Gráfico 1, a solução teste se comportou de forma semelhante à solução de CHX, não havendo diferença estatística entre as taxas de redução de CSV dessas duas soluções no período após uma, to (quando medido por teste de cetilpirídínio foi capaz duas e três horas, resultado que demonstra uma ação organoléptico) e redução de de reduzir os valores positiva da solução teste, confirme visto em trabalhos CSV (medido pelo halímetro) sobre a CHX. Um estudo13 mostrou uma redução de estatisticamente significante iniciais após duas e quatro 43% no pico dos níveis de CSV através do uso de uma nos períodos de duas, qua- semanas de uso diário. solução de CHX a 0,2%. Outro estudo24 confirmou a tro e oito horas pós-boche- CHX como um agente eficaz no combate aos CSV, cho. Esses resultados foram onde uma solução a 0,2% mostrou um efeito anti-CSV semelhantes aos obtidos no satisfatório após uma hora e, principalmente, uma presente estudo, onde as taxas de redução de CSV da solução tendência a melhorar os resultados após duas e três horas, teste foram maiores nos períodos após uma hora, comparan- devido provavelmente a sua substantividade. Já no presente do-se à solução de CHX. estudo, o menor nível absoluto de CSV em partes por bilhão, Quanto aos valores absolutos, somente após uma hora, alcançado pela CHX ocorreu no período após uma hora, man- a solução teste foi capaz de reduzir os níveis de CSV a valo- tendo-se praticamente estável até o período após três horas. res considerados normais (até 80 ppb) . Contudo, uma pes- Um produto contendo CHX a 0,12%, similar ao utilizado como quisa27 que comparou a eficiência de quatro enxaguatórios controle no presente estudo também tem sido demonstrado (1. Óleos essenciais; 2. Cloreto de cetilpiridinio; 3. Placebo; 4. como um efetivo anti-CSV, tendo efeito similar a uma solução Dióxido de cloro e zinco) na redução da halitose obteve resul- de CHX a 0,2%, utilizadas no trabalho anteriomente citado28. 13 tado divergente ao apresentado anteriormente. Neste estudo, Alguns questionamentos têm sido levantados a respeito 99 voluntários divididos randomicamente em quatro grupos, da eficiência do ClO2, devido ao escasso número de trabalhos bochecharam as soluções duas vezes ao dia, durante quatro realizados e aos desenhos dos estudos, muitas vezes não apro- semanas. Os enxaguatórios de óleos essenciais, dióxido de priados, utilizados para testarem substâncias supostamente cloro, zinco e placebo, até quatro semanas, não reduziram o criadas para combater a halitose29. Estes autores não acreditam mau hálito em comparação com as medidas iniciais. Somente na evidência científica produzida por trabalhos que objetivam o enxaguatório de cloreto de cetilpirídínio foi capaz de reduzir testar produtos que combatam a halitose que não sejam re- os valores iniciais após duas e quatro semanas de uso diário. alizados em pessoas que não apresentem uma halitose real. Já em outro estudo19, que testou cinco soluções para Porém, a eficiência da cisteína, utilizada no presente estudo, bochecho (CHX 0,2%, CHX 0,12%, triclosan 0,03%, óleos es- no protocolo de indução da halitose tem sido demonstrada e senciais, CCP 0,05% e placebo) na redução da halitose matinal, também utilizada em vários estudos22-24,28, onde o objetivo foi houve diminuição nos níveis de CSV com o uso de todos os aumentar os níveis de CSV em pacientes saudáveis e saber se bochechos, com exceção do placebo, seguindo a seguinte or- as substâncias testadas são capazes de reduzi-los ou contro- dem de eficiência: CHX 0,2%, CHX 0,12%, triclosan 0,03%, óleos lá-los. É claro que temos de ter em mente que ao longo do essenciais, CCP 0,05%, entretanto, neste trabalho o CCP ob- tempo há uma diminuição natural dos níveis de CSV devido à teve o pior resultado. Como no presente trabalho a solução degradação da cisteína e considerarmos esse processo natural teste continha dois princípios ativos, tanto ClO2 quanto CCP, e quando avaliarmos os resultados. a comparação entre esses trabalhos abre três possibilidades: Para a medição dos níveis dos CSV optamos pelo halíme- Revista PerioNews 2011;5(5):527-33 651 Guaitolini RL • Soares LG • Weyne SC • Tinoco EMB • Falabella MEV • da Silva DG CONCLUSÃO tro, por ser um teste objetivo, que além de demonstrar supe- B rior reprodutibilidade e sensibilidade sobre o teste organoléptico, apresentou outras vantagens como: não ser necessário O presente estudo demonstrou que um dentifrício diluí- pessoal qualificado, não invasivo, baixa possibilidade de infec- do contendo 0,44 % de ClO2, 0,3% de CCP e 0,33% de NaF foi ção cruzada, portabilidade, custo relativamente baixo, pouco capaz de reduzir os níveis de CSV em todos os períodos testa- tempo gasto entre as medidas13. dos quando comparado a uma solução placebo. Em um estudo recente , foi demonstrada a ação de Nos períodos após uma, duas e três horas, as taxas de um enxaguatório com ClO2 sobre a halitose e bactérias saliva- redução de CSV da solução teste foram similares estatistica- res. Eles avaliaram os efeitos inibitórios de um enxaguatório mente a solução de CHX a 0,12%. 30 bucal contendo ClO2 utilizado durante sete dias na halitose matinal e bactérias salivares periodontais em um estudo randomizado, duplo cego, cruzado, placebo controlado em 15 voluntários orientados a utilizar o enxaguatório experimental contendo ClO2 ou placebo, semelhante a este estudo. Depois da lavagem com o enxaguatório bucal contendo ClO2 por sete dias, a halitose matinal diminuiu pela medição organoléptica e reduziram as concentrações de H2S, CH3SH e (CH3)2S medidas Nota de esclarecimento Nós, os autores deste trabalho, não recebemos apoio financeiro para pesquisa dado por organizações que possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Nós, ou os membros de nossas famílias, não recebemos honorários de consultoria ou fomos pagos como avaliadores por organizações que possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não possuímos ações ou investimentos em organizações que também possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Não recebemos honorários de apresentações vindos de organizações que com fins lucrativos possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não estamos empregados pela entidade comercial que patrocinou o estudo e também não possuímos patentes ou royalties, nem trabalhamos como testemunha especializada, ou realizamos atividades para uma entidade com interesse financeiro nesta área. por cromatografia gasosa. Além disso, durante um período de sete dias houve eficaz redução de placa bacteriana, acúmulo de saburra lingual e as contagens de Fusobacterium nuclea- tum na saliva. Eles concluíram que a pontuação organoléptica Endereço para correspondência: Léo Guimarães Soares Praça Garcia, 99 – Centro 25850-000 – Paraíba do Sul – RJ [email protected] foi melhorada e as concentrações de CSV foram significativamente reduzidas com a utilização do enxaguatório. REFERÊNCIAS 1. Tonzetich J, Johnson PW. Chemical analysis of thiol, disulphide and total sulphur content of human saliva. Arch Oral Biol 1977;22(2):125-31. 2. Rosenberg M. The Science of bad breath. Sci Am 2002;286(4):72-9. 3. Delanghe G, Bollen C, Desloovere C. Halitosis-foetor ex ore. Laryngorhinootologie 1999;78(9):521-4. 4. Kleinberg I, Westbay G. Salivary and metabolic factors involved in oral malodor formation. J Periodontol 1992;63(9):768-75. 5. Persson S, Edlund MB, Claesson R, Carlsson J. The formation of hydrogen sulfide and methyl mercaptan by oral bacteria. Oral Microbiol Immunol 1990;5(4):195-201. 6. Waler SM. 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