Relatório
Goiânia, Maio de 2010
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Expediente
Relatório do Seminário
Centro-Oeste. Desenvolvimento Econômico-Social , Meio Ambiente e Cultura.
Comissão Organizadora
Edwiges Conceição Carvalho Correia
Fábio Tokarski,
Honório Ângelo
João Pires.
Sílvio Costa (coordenador)
Comissão de Relatoria
Flávio Vilar
Geovana Reis (UFG)
Juliana Ramalho Barros (IESA/UFG)
Lúcia Rincón (PUC-Goiás)
Virgilio Alencar (Pontão República do Cerrado)
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 2
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Índice
1. Apresentação .............................................................................................................. 04
2. Objetivos do seminário .............................................................................................. 05
3. A programação e as participações ........................................................................... 05
4. Desenvolvimento e Meio Ambiente .......................................................................... 06
5. Caracterização geral da região centro oeste brasileiro .......................................... 08
a. Território e população..................................................................................... 08
b. Outros dados da população do CO ................................................................ 09
6. O significado do centro-oeste ................................................................................... 10
7. Economia .................................................................................................................... 14
a. Outros dados da economia do CO ................................................................. 16
8. Índice de Desenvolvimento ....................................................................................... 17
a. Outros indicadores sociais do CO .................................................................. 19
9. O cerrado ..................................................................................................................... 20
10. O pantanal .................................................................................................................... 21
11. Água e Agricultura. Questões específicas ............................................................... 22
a. Água ................................................................................................................... 23
i. Você sabia ...............................................................................................25
b. Agricultura ........................................................................................................ 26
12. Plataforma de lutas em defesa do Cerrado e do Pantanal aliada ao
Desenvolvimento do CO ............................................................................................. 27
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 3
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Apresentação
A Fundação Mauricio Grabois juntamente com a Pró-reitoria de Extensão e Cultura,
o Instituto de Estudos Sócio-ambientais, ambos da Universidade Federal de Goiás, o
Sindicato dos Professores no Estado de Goiás - Sinpro, a Associação dos Professores da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás - APUC, o Sindicato dos Trabalhadores das
Instituições Federais de Ensino Superior - Sint-IFES, a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência - SBPC - Regional Centro-Oeste, o Pontão de Cultura República do
Cerrado, a Agência Municipal de Meio Ambiente de Goiânia - AMMA e a Central de
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - CTB promoveu nos dias 23 e 24 de abril, na
Faculdade de Enfermagem e Nutrição (FEN-FANUT-UFG), em Goiânia/GO, o Seminário
Centro-Oeste. Desenvolvimento Econômico-Social , Meio Ambiente e Cultura.
Além de representantes do Centro-Oeste participaram do evento membros do
Tocantins.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 4
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Objetivos do seminário
O evento teve como principais objetivos:
•
•
•
Contribuir nos diversos níveis - federal estadual e municipal - para a elaboração de
macropolíticas que tenham como eixo norteador conquistar condições de vida digna para toda
a população e um meio ambiente equilibrado e saudável. Ou seja, a construção de uma
sociedade mais sustentável, evitando a ação desordenada e o agravamento dos problemas
existentes e suas as gravíssimas conseqüências, considerando importante a realização de
pesquisas, estudos e debates sobre essa realidade, possibilitando a elaboração de propostas
viáveis.
Contribuir para prevenir, mitigar e remediar os efeitos da mudança climática, com a diminuição
de emissões de gases de efeito estufa; o desperdício de água e o favorecimento de recarga
dos lençóis freáticos e para aumentar a permeabilidade do solo; a melhoria da eficiência dos
sistemas de transportes públicos e coletivos; a superação do mau uso de energia e outros
recursos essenciais à vida e à sociedade.
Contribuir para a superação da predominância de macropolíticas através das quais os
legisladores e administradores públicos atendem apenas a micro-interesses de setores
localizados da população, que movidos por interesses mercadológicos, são responsáveis pela
ocupação do solo de forma desordenada e predatória, seja no campo, ou seja, nas cidades.
A programação e as participações
Para atingir os objetivos acima descritos, o seminário desenvolveu-se com uma
conferência inicial sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, proferida pelo Diretor de Meio
Ambiente da Fundação Maurício Grabois, Aldo Arantes e seis mesas de debates e com a
presença de estudiosos destacados dos temas colocados.
•
•
•
•
A primeira abordou o Cerrado - biodiversidade, clima, desmatamento, pesquisa, reserva
legal, áreas de proteção permanente – APP’s, unidades de conservação, desenvolvimento
– Diagnóstico e Propostas, e contou com as presenças dos professores Roberto Malheiros
(Instituto de Trópicos Subúmidos - ITS/PUC-GO), Altair Sales (PUC-GO) e Marcelo
Rodrigues Mendonça (UFG – Catalão).
A segunda versou sobre o Pantanal - biodiversidade, clima pesquisas, desenvolvimento e
conservação – Diagnóstico e Propostas e contou com a presença da pesquisadora e
professora Solange Ikeda Castrillon da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat).
Já a terceira mesa tratou dos Recursos Hídricos – importância, degradação, conflitos de
uso, comitês de bacia, políticas públicas de recuperação - Diagnostico e propostas, e
recebeu para a discussão o professor Romualdo Pessoa, do IESA-UFG e Ana Paula
Fiorenze, gerente da Superintendência de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual de
Meio Ambiente e Recursos Hídricos – Semarh/GO.
Outra mesa discutiu Agricultura, Pecuária e Meio Ambiente – modelos de desenvolvimento
agrícola, expansão das culturas de cana de açúcar, soja e algodão, agrotóxico, pecuária
extensiva, ocupação do solo, novas formas de produção agrícola (plantio direto) –
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 5
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura •
•
Diagnóstico e proposta, com as presenças do engenheiro agrônomo Lino Borges e o
estudioso sobre agricultura familiar, Robson Luis de Morais.
A penúltima mesa enfocou o Meio Ambiente Urbano – poluição, transporte, lixo, drenagem
urbana, esgoto, ocupação do solo em áreas de risco, clima, nascentes urbanas, áreas de
preservação, planejamento urbano – Diagnóstico e propostas, tendo como debatedores
Clarismino Luiz Pereira, presidente da Agência Municipal do Meio ambiente,
AMMA/Goiânia e o professor Henrique Labaig (PUC-GO).
Já a última, mas não menos importante mesa focalizou o tema Meio Ambiente e identidade
Cultural – Origem e diversidade na construção da identidade cultural da população,
exposto pelo conferencista Eguimar Felício.
O seminário contou ainda com uma saudação feita pelo Presidente Estadual do PC do
B de Goiás, o Vereador goianiense Fábio Tokarski que coordena também o Fórum em defesa
do Rio Meia Ponte.
Desenvolvimento e Meio Ambiente
A importância da questão ambiental fica evidente com a amplitude adquirida pela
Conferência de Copenhague sobre as mudanças climáticas. Dela participaram 142 chefes de
estado, 190 países presentes.
Sobre a importância da questão ambiental e, em particular, das mudanças climáticas Fidel
Castro escreveu “A crise financeira não é o único problema, há outro, pior porque tem a ver não
com o modo de produção e distribuição, mas com a própria existência. Me refiro à mudança
climática”. Por outro lado o texto da Federação Nacional de Sindicatos da China afirma que “As
mudanças climáticas constituem um dos mais sérios desafios enfrentados pela humanidade em
sua procura de subsistência e desenvolvimento, o qual está estreitamente relacionado com os
gases de efeito estufa emitidos pelos países desenvolvidos em seu processo de industrialização.
Já o Presidente Lula, em artigo publicado na grande imprensa, em decorrência da reunião
dos BRIC afirmou “Em nenhum tema o impasse negociador é tão grave quanto na questão
ambiental. Reduzir os gases de efeito estufa e manter o crescimento robusto nos países em
desenvolvimento requer que todos façam a sua parte, como vêm fazendo os BRIC com iniciativas
ambiciosas para mitigar suas emissões. Por isso os grandes poluidores históricos têm um
encargo especial”.
Há, no entanto, opiniões divergentes sobre o Aquecimento Global. Todavia a grande
maioria dos cientistas partilha da idéia de que ele existe e decorre de causas naturais e humanas
e que após a revolução industrial, com a larga emissão de CO² as causas humanas ganharam
predominância.
No Brasil o desmatamento, as queimadas e as mudanças do uso do solo foram
responsáveis por 77% das emissões de carbono em 1994. O INPE anunciou que no mês de
junho de 2009 houve uma redução do desmatamento na Amazônia de 55%.
O Brasil possui 12% dos recursos hídricos do planeta. Todavia há uma seria degradação
da água com destruição das matas ciliares, o uso de agrotóxicos, o lançamento de efluentes nos
rios.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 6
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Entre 1950 e 2000 a população urbana brasileira que era de 36% atingiu 81,25%. Tal
crescimento acelerado da população urbana acarretou graves conseqüências no meio ambiente
urbano tais como a poluição, problemas de transportes, moradias em áreas de risco, enchentes (
impermeabilização dos solos), lixo.
A identificação das causas da crise ambiental é fundamental para orientar as medidas a
serem adotadas. Falando sobre a degradação da natureza Marx afirmou em O Capital: “A
produção capitalista... não desenvolve a técnica e a combinação do processo social de produção
senão solapando, ao mesmo tempo, os mananciais de toda riqueza: a terra e o trabalhador”.
Discutindo as causas da crise ambiental o professor mexicano Guillermo Foladori, identifica no
capitalismo a responsabilidade principal afirmando “enquanto a produção pré-capitalista de
valores de uso tem o seu limite na satisfação das necessidades, a produção mercantil para
incrementar o lucro não tem limite algum. O lucro e a concorrência conduzem a um ritmo de
utilização de matérias-primas e geração de detritos nunca vistos na história da humanidade”. O
capitalismo com seu sistema de consumo e produção é o responsável pela crise ambiental. Por
isto mesmo a saída definitiva para a crise ambiental passa pela construção de uma nova forma
de produção e consumo, com a edificação de um novo modo de produção o socialismo.
Os setores mais radicais do ambientalismo defendem que o paradigma do verde substituiu
o paradigma vermelho. Todavia os marxistas reafirmam seu ponto de vista de que o centro da
luta diz respeito à luta de classes. Todavia afirmam que o socialismo do século XXI incorpora a
luta de gênero, a luta contra a discriminação racial e a luta em defesa do meio ambiente.
Os defensores do neoliberalismo defendem a concepção de que o mercado encontrará as
soluções mais adequadas para enfrentar a crise ambiental. Todavia a realidade já demonstrou
que o mercado conduz a um aprofundamento dos problemas sociais e ambientais já que seu
objetivo é o lucro máximo. O Estado Democrático tem um papel decisivo defesa do meio
ambiente.
Na concepção do PCdoB, enquanto não atingirmos a sociedade socialista, o caminho para
atingi-la passa pelo aprofundamento das conquistas democráticas, não só na política, mas
também na economia, nas questões sociais e ambientais.
Esta alternativa implica numa combinação entre o desenvolvimento e a defesa do meio
ambiente. Sobre esta questão a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do
Clima se posicionou ao afirmar “já indicava que as emissões desses países (em
desenvolvimento) eram projetadas a aumentar, e que a diminuição da pobreza e o
desenvolvimento econômico deveriam ser prioridade” (Caderno de Debate da III Conferência
Nacional do Meio Ambiente). Isto porque não há condições de combater a pobreza sem
desenvolvimento. Sendo assim não tem justificativa a idéia defendida pelos países imperialistas de “congelar
o desenvolvimento dos países emergentes”. Posição esta adotada por ingênuos setores do
movimento ambientalista.
O PCdoB se manifesta contra desenvolvimento predatório e contra a paralisação do
desenvolvimento (santuarismo), defendendo um desenvolvimento sustentável com a combinação
do desenvolvimento com medidas de mitigação dos impactos ambientais.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 7
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura O desenvolvimento que defendemos se materializa em um Novo Projeto Nacional de
Desenvolvimento com o crescimento econômico, a geração de empregos, o aprofundamento das
conquistas sociais, a defesa do nosso patrimônio nacional, do meio ambiente, da democracia e
afirmação da soberania nacional. Este tipo mais avançado, moderno e mais abrangente do
conceito de desenvolvimento implica, também, na ênfase na educação, no desenvolvimento
científico e tecnológico (inovação tecnológica) e no desenvolvimento forças produtivas.
Caracterização geral da região centro oeste brasileira
Território e população
O Centro Oeste (CO) abrange uma superfície de 1.612.077,2 km², e contava em 2007 com
uma população de 13.222.854, segundo o IBGE, assim distribuída: Mato Grosso do Sul –
2.265.274; Mato Grosso – 2.854.642; Goiás – 5.647.035; Distrito Federal – 2.455.903.
Centro-Oeste e Brasil
População recenseada – 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 1996, 2000, 2007 e 2008.
População (hab)
Ano
Centro Oeste
1940
1.258.679
1950
1.736.965
1960
2.942.992
1970
5.073.259
1980
7.545.769
1991
9.427.601
1996 (1)
10.500.579
2000
11.636.728
2007 (1)
13.222.854
Brasil
41.236.315
51.944.397
70.070.457
93.139.037
119.011.052
146.825.475
157.070.163
169.799.170
183.987.291
Fonte: IBGE.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009. (1) Contagem;
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 8
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Outros dados da população do CO
Centro-Oeste e Brasil
População por situação de domicílio – 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 1996, 2000 e 2007.
Centro Oeste
Ano
Urbana
Rural
Urbana Rural 423.497
1.313.468
18.782.891
33.161.506
1.007.228
11.935.764
31.303.034
38.767.423
2.437.379
2.635.880
52.084.984
5.114.489
2.431.280
80.437.327
7.663.122
1.764.479
110.990.990
8.864.936
1.635.643
123.076.831
10.092.976
1.543.752
137.953.959
31.845.211
11.773.800
1.789.070
158.452.558
31.367.772
1950
1960
1970
1980
1991
1996
2000
2007 (1)
Brasil 41.054.053
38.573.725
35.834.485
33.993.332
Fonte: IBGE
(1) PNAD
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
Centro-Oeste e Brasil
Eleitores por sexo. Posição: maio/2009
Especificação
Total
Feminino
%
Masculino
%
Não
informado
Centro-Oeste
9.210.580
4.720.539
51,25
4.487.811
48,72
2.230
%
0,02
0,12
Brasil
130.791.305
67.742.817
51,79
62.890.985
48,08
157.503
Fonte: Tribunal Superior Eleitoral – TSE.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 9
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura O significado do Centro-oeste
A partir da segunda metade do século XX, o Centro-Oeste ganhou destaque por passar a
abrigar Brasília, a nova capital da república, e por se transformar em celeiro nacional, devido à
maciça ação estatal que induziu o seu modelo de ocupação.
Manifestações apressadas sobre a configuração territorial da região, que do ponto de vista
histórico é recente e ocorreu de forma aligeirada, tem induzido alguns estudiosos a considerá-la
despojada de identidade e apartada do restante do país, principalmente quando considerados os
aspectos econômicos e político-administrativos.
Centro-Oeste e Brasil
Taxa média geométrica de crescimento anual (%)
Período
Centro Oeste
Brasil
1940 / 1950
1950 / 1960
1960 / 1970
1970 / 1980
1980 / 1991
1991 / 1996
1996 / 2000
1991 / 2000
1940 / 1960
1960 / 1980
1980 / 2000
1996 / 2000
1996 / 2008
2000 / 2007
2000 / 2008 3,27
5,41
5,60
4,05
2,04
2,18
2,60
2,37
4,34
4,82
2,19
2,60
2,24
1,84
2,06
2,34
3,04
2,89
2,48
1,93
1,36
1,97
1,63
2,69
2,68
1,79
1,97
1,58
1,15
1,39
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
Na atualidade é indiscutível que o CO tem crescido e sua marca registrada é o seu
dinamismo, constituindo área de forte expansão e de rápida integração ao cinturão urbanoindustrial do País. Dinamismo esse que abre, simultaneamente, fronteiras de investimento para o
setor privado e coloca grandes desafios de gestão para o setor público. Apesar de tal constatação
ainda é considerada como uma região periférica quando confrontada com o núcleo de controle do
país, instalado no Sudeste. Afinal, a economia do CO, apesar dos crescimentos recentes, é ainda
limitada, e com fortes vínculos de dependência extra-regionais, não conseguindo a retenção de
renda na mesma proporção do produto gerado principalmente nos territórios goiano e matogrossense.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 10
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura A apartação ocorreu pelas freqüentes mudanças em sua configuração políticoadministrativa. As subdivisões nos estados de Mato Grosso e Goiás, ocorridas nos anos 70 e 80
e, posteriormente a transferência dos estados de Rondônia e Tocantins para a região Norte,
foram responsáveis pelo contorno atual do CO.
Embora seja necessário considerar com destaque os vieses econômico, políticoadministrativo, eles não são exclusivos. É preciso avaliar também aspectos geográficos, sociais,
políticos e culturais. Assim, por uma lente mais abrangente, o CO pode ser considerado como
uma síntese do próprio Brasil. Vejamos.
Devido a sua posição geográfica de centralidade, o CO se tornou ponto de encontro da
diversidade nacional, tanto em termos fisiográficos, como socioeconômicos, culturais e políticos.
•
Abriga o centro de dispersão de águas – no Distrito Federal, no Parque das Águas
Emendadas – das nascentes de córregos e rios pertencentes às três grandes bacias
hidrográficas da América do Sul – Amazônica, São Francisco e a Platina.
Fonte. IBGE Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 11
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura •
Detém três grandes ecossistemas que se interligam em termos naturais:
o A floresta tropical
o O pantanal
o O cerrado
Floresta Tropical Cerrado Caatinga Pantanal Mata Atlântica Pampa Fonte. IBGE Do ponto de vista socioeconômico, cultural e político, a idéia de síntese manifesta-se a
partir de simultâneos movimentos centrípetos e centrífugos, resultantes de políticas e programas
estatais dirigidos para promover a interiorização do desenvolvimento do país por meio de um
modelo agrário de capitalismo de fronteira – que teve como base o esquema geopolítico traçado
pelo ex-ministro da ditadura Golbery do Couto e Silva nas décadas de 1950/1060, e que foi
adotado como estratégia de integração nacional.
Tal modelo baseou-se ainda na atividade agroindustrial como a indutora da integração da
economia regional, na medida em que por suas articulações ao nível da cadeia econômica, não
só alcança o setor terciário, como os de infra-estrutura de transportes, comunicações, de energia
e de telemática.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 12
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Os movimentos centrípetos ocorrem pela manifestação de um multiculturalismo derivado
da atração exercida sobre trabalhadores migrantes e capitais originários das demais
macrorregiões do país, que interruptamente têm acorrido ao CO, carregando consigo seus
valores, hábitos e costumes. Essa atração ocorre, primeiramente, sobre mão-de-obra menos
qualificada e descapitalizada, para num segundo momento, ao contrário, da lugar finalmente à
entrada de grandes empresas multinacionais.
Por outro lado, o seu centrifuguismo resulta do fato de ser uma fronteira de recursos em
expansão e um corredor de passagem e de ligação entre o Sul-Sudeste e o Norte-Nordeste do
país. Resulta ainda do fato da região abrigar Brasília, como centro do poder político e de tomada
de decisões nacionais e internacionais.
As razões expostas anteriormente indicam que geopoliticamente, o CO é de fato uma
região síntese, afinal, é o fato da sua economia e da sua sociedade estarem sendo construídas
com fortes vínculos extra-regionais que permite falar em síntese. Portanto, sua identidade não
está em ter características típicas que a diferenciam das outras regiões, mas sim em abranger
boa parte das características das demais.
GO MT DF MS Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 13
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Economia
A economia do CO reflete ao mesmo tempo um dinamismo econômico avançado, devido à
influência do Sul-Sudeste, e específico, em face da aplicação de um pacote tecnológico de
aproveitamento do ecossistema cerrado. Este dinamismo fica demonstrado, quando se verifica na
década de 1950 do século XX, que seu produto per capita estava próximo ao das regiões
Nordeste e Norte do país. Nos anos 60 e 70 do século passado, foi se distanciado destas e, a
partir de 1985, ultrapassou o produto meio per capita nacional. As projeções indicam que,
mantida essa tendência, o CO crescerá nesse mesmo ritmo nos próximos anos, ou seja, no final
desta primeira década do século XXI, poderá responder por cerca de 10% do PIB nacional.
Mas, somente a partir dos anos de 1960 é que o CO evoluiu mais rapidamente para sua
integração à economia nacional. Assim, de um produto regional que em 1960 que chegava
apenas a 2,46% do PIB nacional, o Centro-Oeste alcançou uma contribuição de 8,85% em 2004,
segundo o IBGE.
Tem apresentado desempenho positivo em todos os setores econômicos. Excetuando a
agropecuária, o seu crescimento esteve acima da média nacional. Chama particular atenção o
desempenho favorável da indústria, em quase todos os estados do CO.
Os dados disponíveis mostram que a expansão no agronegócio vem sendo feita com forte
componente industrial. No CO a face agrária vai se compondo com a indústria e integra-se às
redes nacionais.
Do ponto de vista da evolução de sua economia, estamos diante da economia regional que
apresenta maiores ganhos de participação relativa na geração do PIB do País. De uma
participação de 2,46% em 1960, evolui para 3,87% em 1970, 5,59% em 1980 e de cerca de 7%
em 2000.
Centro-Oeste
Participação no PIB do Brasil a preço de mercado corrente – 2003 - 06. (%)
Especificação
2003
2004
2005
Centro-Oeste
9,01
9,11
8,86
2006
8,71
Fonte: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Contas Regionais
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 14
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura A velocidade das transformações da economia regional do CO veio aumentando em
período recente, devido, em grande parte, à expansão da agroindústria e à conformação de toda
uma estrutura produtiva e logística de suporte à produção de alimentos e matérias-primas, com
forte componente industrial.
Deve o seu maior ritmo de expansão à consolidação de um centro de serviços de
dimensões nacionais, a partir da integração do complexo territorial de Brasília-Anápolis-Goiânia.
O Centro-Oeste constitui, de fato, um espaço em transformação, cuja dinâmica está
centrada na natureza de seu povoamento recente que se reflete, em escala menor, na própria
lógica dos deslocamentos populacionais no espaço nacional, que se expressam, de um lado, pelo
adensamento no Entorno de Brasília e nas áreas de influência das capitais estaduais da Região
- constitutivas de domínios econômicos consolidados - e, de outro, pela expansão em direção ao
norte do Estado do Mato Grosso, área que se apresenta como uma fronteira de recursos em
processo de abertura.
Na década de 1990, o Centro-Oeste expandiu consideravelmente seu comércio com o
exterior. Sua participação no total das exportações brasileiras que era de 1,79% em 1990 elevouse para 4,73% em 2002. Ainda assim, a Região se manteve colocada em quinto lugar no ranking
das cinco macrorregiões brasileiras, assim classificadas, em 1990: Sudeste (59,93%), Sul
(21,54%), Nordeste (9,65%), Norte (5,70%) e Centro-Oeste (1,79%). A posição das cinco grandes
regiões sofreu alteração em 2002, ficando assim a participação de cada uma delas: assim
classificadas, em 1990: Sudeste (54,19%), Sul (25,24%), Nordeste (7,71%), Norte (5,71%) e
Centro-Oeste (4,73%).
O valor absoluto das exportações do Centro-Oeste em 1990 era de US$ 563 milhões,
tendo se elevado para US$ 2,8 bilhões, em 2002. Nesse período, as exportações cresceram
407%.
Em 2001, o Centro-Oeste exportou US$ 2,5 bilhões, valor correspondente a 4,3% do total
das exportações brasileiras. Nesse mesmo ano, 61,4% dessas exportações destinaram-se a
países da União Européia, seguidos de países da Ásia (16,3% do total). Na Região, o estado
mais importante na pauta de exportações é o do Mato Grosso, que contribuiu em 2001 com
56,4% das exportações regionais. Goiás participou com 24,0%, Mato Grosso do Sul com 19,1% e
o Distrito Federal com 0,5%.
As exportações nos três estados destinaram-se em mais de 50% a países da União
Européia. As exportações do Distrito Federal também tiveram esse destino principal, embora com
percentual menor (44,4%). Os principais produtos exportados corresponderam à soja e seus
derivados (63% do total). A participação da carne e derivados desta, juntamente com o algodão,
totalizou cerca de 13% do total das exportações da Região.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 15
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura A exportação de minério também é importante, tendo alcançado 3,9% das exportações do
Centro-Oeste em 2001.
Centro-Oeste e Brasil
Produto interno bruto a preço de mercado corrente e per capita – 2003 – 06.
PIB a preços correntes
Especificação
PIB per capita (R$)
(R$ milhões)
Centro-Oeste
153.104
176.811
190.178
206.361
12.228
13.846
14.606
Brasil
1.699.948
1.941.498
2.147.239
2.369.797
9.498
10.692
11.658
15.551
12.688
Fonte: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Contas Regionais.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009
Outros dados da economia do CO
Centro-Oeste
Investimentos – BNDES - Desembolso de recursos - 2006 - 08.
Centro Oeste
Especificação
2006
2007
2008
Total geral
3.658.802
5.754.677
Agropecuária e Pesca
751.441
910.135
1.090.776
Comércio e Serviços
2.338.687
3.442.233
5.262.179
Indústria de Transformação
559.625
1.387.893
3.539.849
14.416
13.755
Variação (%)
2006/2008
170,76
9.906.559
45,16
125,01
532,54
9.049
Indústria Extrativa
52,01
Fonte: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
Centro-Oeste e Brasil
Índice de potencial de consumo – 2002, 2004 - 07.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 16
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Especificação
2002
R$
2004
IPC
(%)
R$
Milhões
2005
IPC
(%)
Milhões
R$
2006
IPC
(%)
R$
Milhões
2007
IPC
(%)
R$
Milhões
IPC (%)
Milhões
CentroOeste
61.873
7,93
75.590
7,79
85.654
8,08
113.354
8,08
127.394
Brasil
780.000
100
970.000
100
1.060.000
100
1.402.135
100
1.549.995
8,22
100
Fonte: Atlas do Mercado Brasileiro.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
Índice de Desenvolvimento
O Centro-Oeste se aproximou do Sul e do Sudeste em desenvolvimento social de 1995 a
2005. São principais resultados, do Índice de Desenvolvimento Social (IDS) do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O índice é formado a partir de dados de saúde,
educação e renda da série da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE.
O IDS do Centro-Oeste, que em 1995, era de 0,44, relativamente próximo do índice da
região Norte, cresceu para 0,61, sofrendo uma profunda mudança nesse período. Foi a região
onde houve maior crescimento da renda, com esse indicador específico saltando de 0,52 para
0,68. O estudo não investigou as causas disso, mas é possível a influência do agronegócio, que
cresceu muito na região no período.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 17
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Índice de Desenvolvimento Humano – Estados do Centro – 2000 e 2005.
Centro-Oeste
Unidade da
Federação
IDH
Índice de
longevidade
2005
2000
2005
2000
Brasil
0,794
0,766
0,785
0,727
Distrito Federal
0,874
0,844
0,835
0,756
Goiás
0,800
0,776
0,796
0,773
0,802
0,778
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Índice de
educação
Índice de renda
2005
2000
0,883
0,849
0,962
0,935
0,745
0,891
0,866
0,712
0,717
0,789
0,740
0,898
0,860
0,702
0,718
0,802
0,751
0,894
0,864
0,709
0,718
0,797
2005
0,713
0,824
2000
0,723
0,842
Fonte: PNUD / IPEA / FJP / IBGE.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
Classificação segundo IDH:
Elevado ( 0,800 e superior )
Médio ( 0,500 – 0,799 )
Baixo ( abaixo de 0,500 )
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 18
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Outros indicadores sociais do CO
Centro-Oeste e Brasil
Instituições de ensino da educação superior – 1995, 2000, 2005 - 07
Ano
Centro-Oeste
1995
90
2000
134
2005
234
2006
243
2007
249
Brasil
894
1.180
2.165
2.270
2.281
Fonte: Ministério da Educação / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009
Centro-Oeste e Brasil
Matrículas em cursos da educação superior – 1995, 2000, 2005 - 07.
Ano
Centro-Oeste
1995
2000
2005
2006
122.553
225.004
398.773
411.607
Brasil
1.759.703
2.694.245
4.453.156
4.676.646
4.880.381
2007
427.099
Fonte: Ministério da Educação / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 19
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Centro-Oeste e Brasil
Médicos inscritos, ativos e por habitantes
Posição: junho/2009
Médico por habitante
Especificação
Inscritos
Ativos
Centro-Oeste
41.787
25.107
Brasil
508.169
341.521
1 / 553
1 / 561
Fonte: Conselho Federal de Medicina
Reprodução: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2009.
O cerrado
O Cerrado que cobre quase toda a extensa região Centro-Oeste e possui riquezas
incalculáveis e um bioma desconhecido, mas no pese esse fato, ele vem sendo indiscriminada e
aceleradamente alterado pela destruição de seu hábitat, pelo desmatamento e introdução de
espécies exóticas invasoras.
O Cerrado é cortado por três das maiores
bacias hidrográficas da América do Sul e possui
índices pluviométricos regulares que lhe ocasionam
rica biodiversidade. Ocupa uma área superior a 2
milhões de km², cerca de 23% do território
brasileiro, abrangendo os estados de Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Piauí, o
Distrito Federal, Tocantins e parte dos estados da
Bahia, Ceará, Maranhão, São Paulo, Paraná e
Rondônia e se entende por áreas dos estados de
Roraima, Pará, Amapá e Amazonas, com
significativa diversidade em espécies.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 20
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Toda esta riqueza de ambientes, com vários recursos ecológicos, abriga comunidades de
animais, com diversas espécies e uma grande abundância de indivíduos, alguns com adaptações
especializadas para explorar recursos específicos de cada um desses hábitas. Habitam o Cerrado
e até o momento, são conhecidas, 1.575 espécies animais, formando o segundo maior conjunto
animal do planeta. Cerca de 50 das 100 espécies de mamíferos (pertencentes a cerca de 67
gêneros) estão no cerrado. Apresenta também 837 espécies de aves; 150 de anfíbios, das quais
45 são endêmicas; 120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas; apenas no Distrito Federal,
há 90 espécies de cupins, 1.000 espécies de borboletas e 500 de abelhas e vespas. Em
conseqüência da ação humana esses hábitats passam por grandes modificações, permitindo o
rápido deslocamento da fronteira agrícola, com base em desmatamentos, queimadas, uso de
fertilizantes químicos e agrotóxicos, que provocam a ocorrência sistemática de voçorocas, o
assoreamento e o envenenamento dos ecossistemas, resultando na degradação de 67% de
áreas do Cerrado, do qual resta apenas 20% de área em estado conservado.
O pantanal
O Pantanal é a maior planície de inundação contínua do mundo, formada principalmente pelas
cheias do rio Paraguai e afluentes. A região tem cerca de 250 mil km², sendo que mais de 80%
fica no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O
restante fica principalmente na Bolívia e uma
pequena parte ao Paraguai, onde recebe o nome
de Chaco.
Possui uma impressionante diversidade na fauna e
flora. Existem no Pantanal 1.132 espécies de
borboletas, 656 de aves, 122 de mamíferos, 263 de
peixes e 93 de répteis. Na época das chuvas, entre
outubro e fevereiro, o Pantanal fica praticamente
intransitável por terra.
No restante do ano, o solo forma um excelente
pasto para o gado, que a exemplo do Cerrado se vê
ameaçado pela alteração desordenada de seu
hábitat, pelo desmatamento e a introdução de
espécies exóticas a região.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 21
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Água e agricultura
Duas questões decisivas para a manutenção da vida humana no planeta mereceram
destaque no seminário, tendo em vista seus impactos na região centro oeste: a da água e a da
agricultura.
Disponibilidade Hídrica
Fonte. ANA
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 22
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura ÁGUA
No caso específico da água, preliminarmente é preciso indicar os seus usos previstos na
legislação.
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Abastecimento humano
Dessedentação de animais
Irrigação
Abastecimento industrial
Hidroeletricidade
Navegação
Abastecimento industrial
Recreação e turismo
Pesa e aqüicultura
Controle de cheias
Diluição/Transporte de efluentes
Usos dos Recursos Hídricos. Hidroeletricidade
Fonte. ANA
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 23
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura É preciso lembrar também.
•
•
Os 9 (nove) países mais ricos em água doce representam 60% do total mundial
Os 8 (oito) países mais pobres em água doce não somam sequer 1 km3/ano, ou
menos da milésima parte do total mundial.
Usos dos Recursos Hídricos
Em segundo lugar, é preciso elencar as ameaças mais destacas à preservação dos
recursos hídricos.
•
•
•
•
•
•
O lançamento de efluentes domésticos
A distribuição inadequada dos resíduos sólidos
A destruição da vegetação ciliar
O assoreamento dos mananciais
A impermeabilização progressiva do solo
A exploração crescente dos aqüíferos subterrâneos sem a realização dos estudos
necessários
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 24
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura Disponibilidade Hídrica
TIPOS DE INDÚSTRIA
Têxtil
Papel
Lavanderias
Curtumes
Fábrica de Conservas
Matadouros
Saboarias
CONSUMO DE ÁGUA (M3)
1.000 m3/ton de tecido
250 m3/ton papel
100 m3/ton roupa
55 m3/ton couro
20 m3/ton conserva
3 m3/animal abatido
2 m3/ton de sabão
Ainda sobre a água, é preciso levar em consideração nas discussões referentes ao tema
no Centro oeste brasileiro.
•
•
A questão do acesso. Atualmente, 1(um) bilhão de pessoas não têm acesso água
em quantidade suficiente.
A existência de conflitos. A ONU estima a existência de conflitos em 3.000 bacias
em todo o mundo. No Brasil eles estão situados nas atividades agrícolas e
envolvendo o setor elétrico.
VOCÊ SABIA
O Brasil é o maior "exportador" de água virtual do mundo
PRODUTO
Milho
Arroz
Carne de Frango
Carne de Porco
Carne de Ovelha
Carne de Gado
Algodão
LITROS DE ÁGUA POR QUILO
900
3.400
3.900
4.800
6.100
15.500
11.000
Fonte: (Envolverdes/IHU-OnLine)
•
•
•
Quando uma commodity é exportada de um país para outro, o país importador se torna seguro em
termos de água e alimentos contanto que tenha uma economia que seja diversificada, e as
pessoas tenham meios de vida que lhes possibilitem comprar alimentos importados.
Das 210 economias existentes no mundo, ao menos 160 são economias “importadoras” de água
virtual.
Há apenas cerca de 10 economias que têm um excedente de água significativo que pode ser
“exportado” em forma virtual. Esses países incluem os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália,
Argentina e França. O Brasil é, em potencial, o maior “exportador” de água virtual do mundo.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 25
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura AGRICULTURA
Já no tocante a questão agrícola, o destaque fica para o fato de que a terra agricultável per
capita nos países em desenvolvimento caiu de 0,32 hectares em 1961/63 para 0,21 hectares em
1997/99 e a expectativa que caia para 0,16 hectares até 2030. Ao mesmo tempo, vários
processos estão contribuindo para o declínio da qualidade dos solos. A erosão é responsável por
40% da degradação dos solos, em todo o mundo, enquanto 20 a 40% das terras irrigadas em
países em desenvolvimento têm sido comprometidas por degradação ou salinização. A fome e a
extrema pobreza empurram as populações para as terras marginais e ecossistemas mais frágeis,
caracterizados por áreas secas e de baixa fertilidade.
É interessante saber e considerar nos debates e na formulação das políticas públicas
sobre a agricultura para a região centro oeste.
•
•
•
•
•
Aproximadamente 70% da população pobre nos países em desenvolvimento
vivem em áreas rurais e dependem direta ou indiretamente da agricultura para a
sua sobrevivência
Desde 1985, mais de sete milhões de trabalhadores agrícolas morreram
vitimizados pela AIDS em 25 países mais afetados pela epidemia
A expansão agrícola tem contribuído para a perca do habitat global, incluindo
mais da metade dos parâmetros de alto valor ecológico
Aproximadamente 40% das terras agricultáveis têm sérias reduções de
produtividade devido á degradação dos solos, chegando a 75% em algumas
regiões
De 260 milhões de terras irrigadas em todo o mundo, 80 milhões estão afetados
pela salinização – a concentração de sal na superfície do solo normalmente reduz
a fertilidade
Portanto, o modelo agrícola, baseado na intensa exploração das águas e dos solos colocase como um dos responsáveis mundiais pela grise global das águas e dos solos, e em algumas
regiões do mundo já alcança níveis de tragédia.
Na relação agricultura meio ambiente, é preciso levar em consideração as escalas dos
impactos caudados pela primeira no segundo.
•
•
•
Local. Erosão, perda de solo, acúmulo de sedimentos
Regional. Desertificação, poluição em larga escala de rios e lagos
Global. Mudanças climáticas e nos ciclos biogeoquímicos
E também é preciso repensar a utilização das técnicas, afinal, as que são atualmente
aplicadas visaram exclusivamente aumentar a produção de modo irresponsável. Aradura, cultivo
morro abaixo, queimada, utilização de terras susceptíveis à erosão, irrigação incorreta, são
práticas que não podem continuar, afinal, causam mais problemas ambientais do que benefícios.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 26
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura É preciso, portanto, pensar no futuro, na sustentabilidade do cultivo dos solos como
medidas do tipo:
•
•
•
•
•
Manutenção dos recursos naturais
Minimização dos impactos
Redução da dependência de insumos
Manutenção da água no ambiente;
Produção de alimento que atenda às necessidades humanas.
Plataforma de lutas em defesa do Cerrado e do Pantanal aliada ao Desenvolvimento da
Região Centro Oeste (a ordem de apresentação não indica uma hierarquia ou ordem de
prioridades)
Gerais
•
Lutar pela votação e aprovação por parte do Congresso Nacional da PEC 115/95 que
considera o Cerrado como patrimônio nacional.
•
Lutar por uma mais justa distribuição regional da renda com maiores investimentos
públicos no Centro-Oeste.
•
Lutar por um novo modelo de desenvolvimento agrícola com o fortalecimento da pequena
produção, respeito ao meio ambiente, adoção do plantio direto e não utilização de
agrotóxicos.
•
Lutar em defesa de uma reforma agrária ambientalmente sustentável – respeitando as
particularidades de cada bioma
•
Defender a implantação de um Zoneamento Econômico e Ecológico democraticamente
estabelecido e com implementação obrigatória.
•
Cobrar o cumprimento da legislação trabalhista no meio rural.
•
Trabalhar no sentido do fortalecimento das economias locais ambientalmente sustentáveis
•
Envolvimento e comprometimento dos governos – em todos os níveis – com o
estabelecimento de modelos de desenvolvimento sustentáveis
•
Capacitação técnica para a produção e comercialização por parte dos pequenos
produtores.
•
Participação popular na elaboração e implantação das políticas públicas ambientais
•
Considerar o recorte de gênero para a elaboração de políticas públicas referentes à
relação de recursos hídricos e desenvolvimento
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 27
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura •
Defesa de um Plano Regional de Desenvolvimento para o Centro-Oeste com ênfase no
crescimento da produção, na distribuição da renda, na valorização da cultura regional e na
defesa do meio ambiente.
•
Lutar em defesa do meio ambiente urbano através de medidas como a coleta seletiva do
lixo, a preservação dos mananciais de água, a arborização, medidas contra a
impermeabilização do solo, ênfase no transporte coletivo e na utilização de combustíveis
limpos.
•
Luta em e defesa de uma reforma urbana que assegure condições de habitação dignas
para os trabalhadores.
Produção agrícola
•
Combater a pratica das monoculturas que compromete o ambiente. Adequar o plantio à
biodiversidade
•
Fortalecimento e ampliação da agricultura familiar através de políticas educacionais,
políticas para fortalecer e ampliar a comercialização dos produtos oriundas da agricultura
familiar, desenvolvimento de tecnologias apropriadas aos pequenos produtores,
camponeses e assentados, metodologias participativas que permitam o aproveitamento do
saber do homem do campo e estabelecimento de legislações específicas.
•
Reestruturação da Emater.
Cerrado
•
Defesa do cerrado contra o desmatamento e a produção de carvão.
•
Defesa do cerrado dentro de uma visão mais ampla incluindo não somente o bioma, mas o
seu povo e sua cultura.
•
Luta contra a construção da hidrovia no Rio Araguaia.
Pantanal
•
Adequação da legislação do estado do Mato Grosso no tocante ao Pantanal no sentido do
reconhecimento da diversidade de cultural e a importância dos povos do Pantanal na
manutenção da biodiversaide e na qualidade de vida.
•
Denunciar os atos de descriminação desenvolvidos contra o povo chiquitano do pantanal
mato-grossense
•
Avaliar e discutir os impactos do desenvolvimento das culturas da soja e da cana de
açúcar no pantanal
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 28
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social Meio Ambiente e Cultura •
Defesa do direito de posse de terra e de vida digna das comunidades calungas no
pantanal
•
Assegurar a integridade física dos participantes das discussões sobre as questões
ambientais do pantanal
Educação ambiental
•
Atualização dos currículos escolares sobre a questão ambiental – enfatizar a questão da
educação ambiental
Ciência, Tecnologia e Pesquisa
•
Defesa de uma concepção mais ampla de desenvolvimento incluindo não somente os
aspectos econômicos e técnicos, mas sua dimensão social e cultural.
•
Desenvolvimento de técnicas combinadas com formas de uso adequado do meio ambiente
Recursos Hídricos
•
Fortalecimento e ampliação a participação popular nos conselhos gestores da água no
país
•
Intensificar os estudos sobre a questão dos recursos hídricos no país e na região Centro–
Oeste.
•
Discutir e aperfeiçoar o papel do Estado no estabelecimento de políticas públicas
ambientais de uma geral, e da água em particular.
Relatório do Seminário Centro Oeste. Desenvolvimento Econômico-­‐Social, Meio Ambiente e Cultura 29
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