PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social Isaura Mourão Generoso COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, TEORIA E PRÁXIS: um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações Belo Horizonte 2014 Isaura Mourão Generoso COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, TEORIA E PRÁXIS: um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social. Orientadora: Profa. Dra. Ivone de Lourdes Oliveira Belo Horizonte 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais M929c Mourão, Isaura Generoso Comunicação organizacional, teoria e práxis: um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações / Isaura Generoso Mourão. Belo Horizonte, 2014. 114 f.:il. Orientadora: Ivone de Lourdes Oliveira Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. 1. Comunicação organizacional. 2. Análise do discurso. 3. Comunicação interpessoal. 4. Práxis (Filosofia). 5. Foucault, Michel 1926-1984. I. Oliveira, Ivone de Lourdes. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social. III. Título. CDU: 658.012.45 Isaura Mourão Generoso COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL, TEORIA E PRÁXIS: um estudo sobre o discurso da comunicação no contexto das organizações Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social. ________________________________________________________________ Profa. Dra. Ivone de Lourdes Oliveira (Orientadora) – PUC Minas ________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Ângela Mattos – PUC Minas ________________________________________________________________ Prof. Dr. Mozahir Salomão Bruck – PUC Minas ________________________________________________________________ Prof. Dr. Rudimar Baldissera – UFRGS Belo Horizonte, 20 de fevereiro de 2014. A Deus, que sempre ilumina nossos caminhos. Aos meus queridos pais, Tereza e Altino, pelos quais tenho um forte sentimento de orgulho e admiração. Os dois, com seus ensinamentos de vida são, certamente, os grandes responsáveis por eu estar aqui hoje. AGRADECIMENTOS Em momentos como este, quando paramos para analisar nossa trajetória, percebemos a importância de estarmos cercados por pessoas amigas, parceiras, companheiras, solidárias e que sempre nos querem bem. Papai e Mamãe, os grandes protagonistas, companheiros de uma vida inteira, gente simples com um coração de um tamanho imensurável e ainda muita energia para nos amparar a todo e qualquer o momento. A vocês dois, pessoas ímpares, com as quais fui abençoada por tê-las sempre ao meu lado, ensinando-me os valores mais fundamentais para que possamos ser felizes na nossa caminhada, quero agradecer por tudo. Mamãe, guerreira; Papai, sonhador e, no meio disso; a busca pelo equilíbrio entre garra e sonho, firmeza de propósito e leveza na caminhada. Às vezes a gente consegue, outras; nem tanto... Afinal, assim somos feitos, na complexidade entre a arte de viver e sonhar. Amo vocês dois. À minha família, aos meus queridos irmãos Micheline, Altino, Chateaubrean, Everson e Eduardo, à minha amiga-irmã Andréa; cunhadas e sobrinhos – todos – mais queridos ainda. Tia Fátima, Tia Helena... Família que ampara e protege sempre que precisamos. Família, enfim; um esteio, porto no qual temos a certeza: pode-se ancorar a qualquer momento. Vocês são sempre muito importantes para a minha vida. Aos meus queridos professores do Programa de Pós-Gradução em Comunicação Social da PUC Minas, vocês são os que nos encorajam e incentivam nessa caminhada. Em especial, à minha orientadora; Ivone, sempre companheira e pronta a ajudar, compartilhando conosco seu conhecimento e, com serenidade e leveza, está sempre ao nosso lado, com toda a sua presteza, humildade e solidariedade. Ivone, você é muito especial, é humana; mestre como poucos conseguem ser. São especiais também os professores Júlio e Mozahir – vocês não fazem ideia do quanto me influenciaram nessa trajetória. Aqui, não poderia deixar de mencionar o professor Rudimar, que apesar de não ser da PUC, partilha conosco seus conhecimentos como se fosse da casa. Seus questionamentos acerca da comunicação organizacional, afinados com os pensamentos da minha querida orientadora, me inspiraram a mergulhar na pesquisa à busca de mais conhecimento. Todos vocês têm, certamente, uma participação decisiva nessa etapa da minha vida; são pessoas que cruzaram meu caminho me trazendo energia, entusiasmo e desafios. Vocês se tornaram parte da minha história e serão vivamente lembrados. Aos meus amigos de criança, aos da graduação, aos meus clientes que se tornaram amigos e aos meus amigos recentes, em especial; Bruno, Gislene e Paulo que foram mais que colegas, mas companheiros nesses dois anos de Mestrado. E, claro, não poderia deixar de 6 mencionar a Fabiane, que caiu como um anjo na minha vida e, mesmo sem me conhecer, por pura generosidade e solicitude, me deu atenção especial em um momento de muita aflição, conseguindo aquietar minhas angústias. Todos os médicos deveriam ser como você! Obrigada por tudo! No meio do meu caminho, outra amiga, nem de tão longa data, nem tão recente, mas com participação fundamental nesses últimos anos e, mais ainda nessa etapa final do Mestrado; a Tiete – ou Maria Antonieta Segall – que, gentilmente, colocou ao meu dispor seus conhecimentos da nossa Língua Portuguesa, se prontificando, numa ação de carinho e amizade, a fazer a revisão da minha dissertação. Ainda que anomimamente, tenho muito o que agradecer aos dez profissionais de Comunicação entrevistados e às quatro organizações que atenderam prontamente à minha solicitação de pesquisa, me recebendo e se colocando à disposição. Sem a participação de vocês, minha pesquisa não seria possível. Por fim, devo dizer que esse é um momento muito especial. Faz-nos rever muita coisa, afinal, marca o final de mais uma etapa – e sempre; início de outra. Quando olho minha trajetória, fica difícil citar todos que têm contribuído nessa caminhada, na qual sigo bem e feliz, com todos os altos e baixos de uma jornada. São muitas as pessoas que estão ao nosso lado, entre a família, os amigos, a Equipe da PUC... O fato é que é muito bom sentir que há quem torça por nós e que está conosco nos mais diferentes momentos. É isso que faz a nossa vida ficar ainda mais fantástica! Obrigada a todos! Sempre coloquei nos meus escritos toda a minha vida e toda a minha pessoa. (NIETZSCHE) RESUMO Esta pesquisa buscou evidenciar elementos dos construtos teóricos e das falas de profissionais da área que podem constituir enunciados do discurso da comunicação organizacional estratégica. Trata-se de uma discussão epistemológica, uma vez que busca compreender os conceitos teóricos que subsidiam a práxis da comunicação no contexto das organizações. Para isso, foi necessário fazer um estudo bibliográfico que propiciou o aprofundamento em relação ao encadeamento conceitual acerca da comunicação organizacional estratégica, contrapondo-o à fala de profissionais de comunicação que atuam em organizações, por meio da análise de discurso, inspirada em elementos da análise arqueológica do discurso fundada por Michael Foucault. Como viés condutor dessa análise, a pesquisa adotou o modelo de comunicação interacional dialógica, cuja construção considera os construtos mais recentes da comunicação organizacional estratégica, trazendo formulações do paradigma interacional que inclui o relacionamento, o diálogo e a construção de sentidos, além do viés informacional como elementos inerentes à comunicação organizacional. Acredita-se que os achados desta pesquisa levam a concluir sobre a influência de um paradigma hegemônico e consolidado – o informacional – na orientação do discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações. Palavras-chave: Discurso da Comunicação Organizacional. Comunicação estratégica. Construção de sentidos. Processos interacionais. ABSTRACT This study sought to highlight elements of the theoretical constructs and statements of professionals that may constitute the strategic communication discourse in the organizational context. It is an epistemological discussion, as it aims at understanding the theoretical concepts that support the communication práxis in the organizational context. For this purpose it was necessary to carry out a bibliographic study which enabled understanding of a better the strategic organizational communication chaining, comparing it to professionals' speech who work in organizations, through discourse analysis, inspired by elements of the archaeological discourse analysis founded by Michael Foucault. As a driver bias of this analysis, the research adopted the model of dialogic interactional communication, whose construction considers the latest concepts of strategic organizational communication, bringing forth formulations of the interactional paradigm which includes the relationship, dialogue and the construction of meaning, beyond the informational bias as inherent in organizational communication elements. It is believed that the findings of this research point to the conclusion about the influence of an hegemonic and consolidated paradigm – the informational – in guiding the strategic communication discourse in organizations context. Keywords: Organizational Communication discourse. Strategic communication. Construction of meaning. Interactional processes. LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO 1 – Perfil dos profissionais entrevistados ............................................. ....... 59 QUADRO 2 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica .................... 64 QUADRO 3 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica ........................................... 65 QUADRO 4 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Comunicação como Processo ................................................................. 68 QUADRO 5 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação como Processo ........................................................................................ 68 QUADRO 6 – Elementos que formam os enunciados relativos à Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória ........................................................ 72 QUADRO 7 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória ..................................... 72 QUADRO 8 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Interação e Informação .......................................................................... 76 QUADRO 9 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Interação e Informação .......................................................................................... 77 QUADRO 10 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Relacionamento com os Públicos ..................................................... 79 QUADRO 11 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Relacionamento com os Públicos ........................................................... 80 QUADRO 12 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Monitoramento da Comunicação ....................................................... 83 QUADRO 13 – Palvras e expressões dos profissionais que conceituam Monitoramento da Comunicação ............................................................ 83 SUMÁRIO PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS ............................................... 1 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12 2 COMUNICAÇÃO E ESTRATÉGIA: ENUNCIADOS DE UM DISCURSO .......... 15 2.1 A contextualização do encadeamento teórico do discurso da comunicação ............... 16 2.2 Do planejamento à estratégia planejada de comunicação ............................................ 24 2.3 O modelo de interação comunicacional dialógica.......................................................... 33 3 ELEMENTOS QUE INTERAGEM NA CONSTITUIÇÃO DE UM DISCURSO .. 39 3.1 A arqueologia de Foucault como inspiração .................................................................. 40 3.2 O autor que reverbera e consolida o discurso da comunicação estratégica ................ 44 3.3 A formação discursiva da comunicação estratégica e sua tessitura conceitual .......... 49 A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA ....... 54 4 4.1 Percurso metodológico ..................................................................................................... 55 4.2 Caracterização descritiva ................................................................................................ 57 4.2.1 Perfil das organizações ................................................................................................... 57 4.2.2 Os profissionais que constituíram o corpus................................................................... 58 4.3 Categorias analíticas ........................................................................................................ 59 4.3.1 Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica ......................................... 59 4.3.2 Comunicação como Processo ......................................................................................... 65 4.3.3 Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória ........................................................... 69 4.3.4 Interação e Informação .................................................................................................. 72 4.3.5 Relacionamento com os Públicos................................................................................... 77 4.3.6 Monitoramento da Comunicação .................................................................................. 80 5 CONCLUSÃO................................................................................................................. 84 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 88 APÊNDICE A – CARTA ENVIADA ÀS ORGANIZAÇÕES ........................................... 92 APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS ............................................................... 93 APÊNDICE C – MAPA DAS ENTREVISTAS POR CATEGORIA ANALÍTICA ........ 94 12 INTRODUÇÃO O mundo está em constante mudança, em velocidade acelerada, impactando os processos de comunicação e a construção de sentidos em todos os contextos, inclusive no das organizações. Mas mudanças sempre ocorreram e nisso parece não haver nada de novo. A diferença de agora pode estar na velocidade ou na noção de tempo e espaço, impactando em diferentes formas de ser, viver e ver esse mundo, no qual a existência e a ação de uma série de dispositivos sociotécnico-discursivos1 agenciam “a conformidade de novos procedimentos de comunicação, alterando substancialmente dinâmicas de interação que se apoiavam em lógicas determinísticas e lineares” (NETO, 2010, p. 87) e colocando o status de receptor da mensagem na condição de coprodutor dessa mensagem. Associa-se à velocidade dessas mudanças a fluidez dos públicos (então receptores), com identidades ambíguas e perfis também em constante transmutação. Isso traz ainda mais complexidade aos processos de comunicação, uma vez que o sujeito2 possui mais liberdade de ação e consegue abrigar grande variedade de valores, crenças e opiniões múltiplas, paradoxais e até mesmo contraditórias, adaptando-se ao contexto e ao longo do tempo (GIOIA, 1998). Nesse sentido, a partir de Morin (2011b, p. 66), “ser sujeito é ser autônomo, sendo ao mesmo tempo dependente. É alguém ser provisório, vacilante, incerto, é ser quase tudo para si e quase nada para o universo”. Tais características conferem ao sujeito, também ator social, múltiplas facetas de uma personalidade complexa que se adequa ao papel que lhe for conveniente em função de um cenário, contexto ou interesse e em consonância com um universo de crenças. Assim, em determinado grupo social, o sujeito fornece “uma parafernália de estereótipos expressivos adaptados às mais diversas situações e, paralelamente, outros tantos estereótipos de leitura à disposição dos enunciatários3”. (LANDOWSKI, 1992, p. 162, grifos do autor). Dessa forma, torna-se cada vez mais difícil identificar o perfil e os interesses dos públicos que fazem a interlocução com a organização, ampliando ainda mais a complexidade dos processos de comunicação. 1 Termo utilizado por Fausto Neto (2010) como uma das características do que ele denomina “sociedade midiatizada” (NETO, 2010, p. 87), que instaura outra lógica de enunciação, afetando e modificando os processos interacionais. 2 Gioia (1998) trata dessa perspectiva do indivíduo, mas, nesta pesquisa, esse indivíduo mais autônomo, fluido e paradoxal será tratado como sujeito – ou ator social – dada a perspectiva de complexidade da comunicação que ocorre por meio da interação e da relação. 3 Landowski (1992, p. 155) define como enunciatário “o sujeito do fazer interpretativo” ou seja, o enunciador que deve querer e poder ser acreditado. 13 Soma-se a esses fatores o avanço das tecnologias de informação e comunicação, principalmente nas duas últimas décadas, e o consequente acesso às informações gerando maior cobrança por parte da sociedade em relação às atitudes e ações, posturas e posicionamentos das organizações; especialmente naquilo que a impacta e, mais especificamente, aos públicos com os quais elas se relacionam. Os elementos aqui mencionados e associados retratam um cenário de complexidade e instabilidade no qual se percebe o crescimento do papel conferido à comunicação organizacional, principalmente a denominada estratégica. As organizações – especialmente as de médio e grande porte – buscam desenvolver a comunicação a fim de se relacionarem com os diferentes públicos, promovendo ações e o desenvolvimento de canais e alternativas que possam contribuir com a interação e a construção de sentidos em relação à organização. Isso tem sido cada vez mais importante, pois, de forma geral, uma organização precisa se distinguir das demais, sobressaindo-se em um determinado setor ou local e ter reconhecimento social. Nessa lógica, “a matéria significante é complexificada, submetida a novos regimes de produção, estruturada em torno de novas lógicas de contato, em suma, é submetida às novas condições de comunicação e segundo fundamentos dessa nova ambiência.” (NETO, 2010, p. 89). Tais questões trazem à tona a necessidade de (re)pensar a compreensão da comunicação organizacional estratégica, seu encadeamento teórico e a consequente repercussão desse desenvolvimento conceitual na prática profissional. Acredita-se, ainda, que ao fazer a associação entre a construção teórica da comunicação estratégica nas organizações e sua práxis se possa chegar a determinados conjuntos de enunciados que se apoiam em um mesmo sistema de formação e, com isso, contribuem para a construção do discurso da comunicação organizacional e estratégica, compreendida como “prática que tem suas formas próprias de encadeamento e sucessão” (FOUCAULT, 2012a, p. 206). A partir desse raciocínio e adotando como referencial o estudo arqueológico de formação do discurso desenvolvido por Foucault (2012a), esta pesquisa buscou identificar o discurso construído pelos profissionais de comunicação acerca da comunicação organizacional e estratégica, uma vez que esses sujeitos “retêm sentido enquanto atividade constituinte, recolhedora, unificadora”. (FOUCAULT citado por DELEUZE, 1988, p. 25). Para isso, se investigou a percepção desses profissionais em relação ao tema, adotando como base o modelo de interação comunicacional dialógica (OLIVEIRA, 2002). Nesse percurso, parte-se, no Capítulo 2, de um aprofundamento em relação ao encadeamento dos estudos que culminam nos construtos teóricos da comunicação e, 14 consequentemente nos aportes da comunicação organizacional; discutem-se os paradigmas clássico-informacional e interacional com seus aspectos relevantes à comunicação; aborda-se sobre o conceito de estratégia, planejamento estratégico e sua adoção pela comunicação no contexto das organizações; bem como o modelo de interação comunicacional dialógica, desenhado por Oliveira (2002), que subsidiará essa pesquisa junto aos profissionais de comunicação. No Capítulo 3, busca-se compreender elementos da análise de discurso segundo a arqueologia, inspiradora dessa reflexão. Também pretende-se evidenciar o papel dos profissionais que podem ser considerados autores do discurso da comunicação estratégica, mapeando e procurando apreender, a partir de seus enunciados, os conceitos que regem sua atuação. Procede-se, no Capítulo 4, à análise do discurso da comunicação organizacional estratégica, desenhado pelos dez profissionais de diferentes formações (Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas) e níveis hierárquicos, que atuam em quatro organizações de setores distintos, abordados por meio de entrevistas em profundidade, constituindo o corpus dessa pesquisa. Sabe-se que este é um estudo inicial, com perspectiva de continuidade e aprofundamento numa possível pesquisa de Doutorado, mas ainda assim acredita-se que seus primeiros achados já podem contribuir para que se conheçam parâmetros que podem fundamentar a atuação profissional dos comunicadores em termos de comunicação estratégica e dialógica, articulando teoria e prática profissional. E, associando teoria e práxis, expostas a partir do estudo bibliográfico, do conhecimento e da compreensão acerca da comunicação organizacional que norteia a atuação desses profissionais, espera-se chegar aos enunciados que regem o discurso da comunicação estratégica nas organizações. 15 2 COMUNICAÇÃO E ESTRATÉGIA: ENUNCIADOS DE UM DISCURSO Articular comunicação e estratégia pode parecer antagônico num primeiro momento, principalmente com o encadeamento dos estudos teóricos que mostram a insuficiência do paradigma informacional4 para explicar e abarcar os processos de comunicação, cada vez mais complexos. No entanto, a comunicação estratégica no contexto das organizações, se observada pela perspectiva arqueológica, pode ser compreendida como um saber, definido por Foucault (2012a, p. 219) como um “conjunto de elementos formado de uma maneira regular por uma prática discursiva e indispensáveis à constituição de uma ciência, apesar de não se destinarem necessariamente a lhe dar lugar”. Para Foucault (2012a), que fundamenta a base teórica desta pesquisa, um saber é aquilo de que se pode falar – ou compreender – por meio de uma prática discursiva que reúne objetos, tipos de formulação, conceitos e escolhas teóricas. Pode-se dizer que o saber da comunicação estratégica no contexto das organizações passa por essa lógica. Trata-se de um saber transdisciplinar, cujos aportes teóricos mais relevantes e a justaposição desses encontram-se no próprio campo da Comunicação, mas fortemente influenciados pelos construtos da Administração e também pelos da Semiótica, da Psicologia, da Sociologia, da Linguística e da Antropologia. Tais áreas trazem enunciados que se apoiam numa mesma formação discursiva, que não tem uma unidade retórica ou formal, mas que podem constituir um discurso. Dessa forma, o saber da comunicação organizacional “é constituído de um número limitado de enunciados para os quais podemos definir um conjunto de condições de existência” (FOUCAULT, 2012a, p. 143) e, consequentemente, uma prática discursiva. Embora a constituição desse saber tenha interface com várias áreas, a presente pesquisa enfatiza os construtos oriundos de duas delas – Comunicação e Administração – consideradas as que mais influenciam a formação do discurso da comunicação estratégica nas organizações. Para compreendê-lo, busca-se, neste capítulo, investigar o encadeamento5 teórico da comunicação, acreditando que dele se possa fazer aparecer alguns dos enunciados dessa formação discursiva. Parte-se do paradigma clássico-informacional contrapondo, nesse encadeamento, o modelo de interação comunicacional dialógica, formulado por Oliveira (2002), que tem como fundantes o paradigma interacional e o processo de construção de 4 Essa perspectiva é oriunda da teoria shannoniana que, segundo Morin (2011a, p. 26), “não é capaz de compreender nem o nascimento nem o crescimento da informação. [...] Significa dizer que a informação não é um conceito de chegada, é um conceito de partida”. 5 Para Foucault (2012a, p. 42), não existe uma mudança, mas um encadeamento que define o grupo de relações entre os enunciados de um discurso. 16 sentidos; e o construto de planejamento estratégico, fundamental para a compreensão do que se convencionou denominar comunicação estratégica, a partir da década de 1990. Dessa forma, busca-se mergulhar na construção teórica da comunicação estratégica interrogando o discurso utilizado por ela a partir do que Foucault (2012a) define como suas regras de formação, ou seja, as condições a que estão submetidos os elementos que o constituem: enunciados diferentes em sua forma e dispersos no tempo, mas referindo-se a um único discurso; as formas e o tipo de encadeamento desses enunciados; os grupos de enunciados e os sistemas de conceitos permanentes que se encontram em jogo; bem como a identidade e persistência dos temas. 2.1 A contextualização do encadeamento teórico do discurso da comunicação A atividade profissional de Relações Públicas no Brasil completa 100 anos em 2014. A profissão, no entanto, só foi regulamentada em setembro de 1968, de forma controversa, uma vez que “as Relações Públicas ainda não eram reconhecidas pela sociedade como campo acadêmico”. (OLIVEIRA, 2010, p. 183). Mas foi a partir daí que começou a ser formar a estrutura acadêmica do campo e, paralelamente, iniciaram-se as reflexões epistemológicas, com aportes significativos do campo da Administração e da própria Comunicação. Na década de 1980, “as organizações remodelam suas estruturas e um processo estratégico começa a se instalar na gestão da comunicação, que passa a adotar uma perspectiva mais integrada”. (OLIVEIRA, 2010, p. 183). No encadeamento desse processo de reflexão, tomam pulso, na década de 1990, os estudos acerca da comunicação organizacional, que trazem uma redefinição tanto teórica quanto prática desse campo de estudos, promovendo reflexões sobre as práticas de comunicação nas e das organizações. Dessa forma, para compreender o discurso relativo a esse saber, é necessário investigar a formação dos enunciados da Administração e da Comunicação que, ao longo do tempo, contribuem para a formação do discurso da comunicação organizacional estratégica. Para isso, busca-se inspiração na perspectiva arqueológica da análise de discurso, formulada por Foucault (2012a). Tal perspectiva requer a análise das formações discursivas e dos enunciados que atravessam as obras6 e são revelados por um conjunto de regras anônimas, determinadas no tempo e no espaço, constituindo a unidade de análise do discurso. Assim, a arqueologia não se limita à interpretação ou à formalização do discurso, mas procede à análise 6 Compreende-se obra, a partir de Foucault (2012a), como a materialização de um discurso nas suas mais diferentes formas. 17 das condições históricas que fizeram aparecer, num determinado momento, um e não outro enunciado. Ressalta-se, com isso, o potencial multiplicador da análise de discurso inspirada na arqueologia, segundo a qual o discurso não é definido ou compreendido como uma tradução exterior, mas como lugar de emergência dos conceitos, ou seja: não associamos as constantes do discurso às estruturas ideais do conceito, mas descrevemos a rede conceitual a partir das regularidades intrínsecas do discurso; não submetemos a multiplicidade das enunciações à coerência dos conceitos, nem esta ao recolhimento silencioso de uma idealidade meta-histórica; estabelecemos a série inversa: recolocamos as intenções livres de não contradição em um emaranhado de compatibilidade e incompatibilidade conceituais; e relacionamos esse emaranhado com as regras que caracterizam uma prática discursiva. (FOUCAULT, 2012a, p. 73, grifo nosso). Em outras palavras, conforme marca Deleuze em relação à obra de Foucault (2005, p. 71): “o hospital geral enquanto forma do conteúdo ou lugar da visibilidade da loucura não tinha absolutamente sua origem na medicina, mas na polícia; e a medicina, enquanto forma de expressão [...], desdobrava seu regime discursivo [...] para fora do hospital”. Com isso, podese dizer que ao analisar os enunciados do discurso da comunicação organizacional, é necessário identificar tanto a visibilidade exterior e as compatibilidades quanto a não relação e incompatibilidades dos enunciados com os conceitos da comunicação de forma geral e daqueles que emergem dos modelos de gestão organizacional. A partir desse raciocínio, devese ressaltar que o “o atual cenário do campo das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional é resultado de decisões e tendências que fazem parte da trajetória da atividade profissional, da produção acadêmica, evolução das teorias, metodologias e pesquisas” (OLIVEIRA, 2010, p. 182) e também dos modelos político e econômico adotados nesse período e da forma de gestão das organizações. Nesse sentido, é necessário interrogar os enunciados e as regras de formação que fazem aparecer as condições a que estão submetidos os elementos da formação – e da prática – discursiva da comunicação estratégica no contexto das organizações. Assim, pode-se compreendê-la como o “conjunto de enunciados que se apoia em um mesmo sistema de formação” (FOUCAULT, 2012a, p. 131), numa analogia ao que Foucault (2012a) denomina discurso clínico, discurso econômico, discurso da história natural e discurso psiquiátrico. Pode-se dizer ainda que “o termo Discursos refere-se a sistemas gerais e duradouros para a formação e articulação de ideias em um momento historicamente demarcado no tempo” (FAIRHURST; PUTNAM, 2010, p. 110). A partir desse raciocínio, acredita-se que o encadeamento teórico da comunicação organizacional e sua associação ao conceito de 18 estratégia podem emergir como enunciados constituintes de um discurso aceito e repercutido pela área na contemporaneidade. Deve-se ressaltar ainda que nada se apoia na determinação de influências, trocas, informações transmitidas, comunicações. Não que se trate de negá-las ou contestar que jamais possam ser objeto de uma descrição, mas sim de tomar, em relação a elas, um recuo medido, de deslocar o nível de ataque da análise, de revelar o que as tornou possíveis; de demarcar os pontos em que se pôde efetuar a projeção de um conceito sobre outro, de fixar o isomorfismo que permitiu uma transferência de métodos ou de técnicas, de mostrar as vizinhanças, as simetrias ou as analogias que permitiram as generalizações. (FOUCAULT, 2012a, p. 197). Nesse viés, a comunicação organizacional, assumida como um saber, é revelada por uma prática discursiva cujos conceitos e enunciados, oriundos dos campos da Comunicação e da Administração, são organizados e articulados dialeticamente. Por um lado, constituem-se pela complexidade decorrente do processo de interação e, por outro, pela busca constante de objetivos e metas organizacionais. Com isso, “no âmbito da práxis, a noção de comunicação tende a ser simplificada para dar conta das ideias de urgência e economia” (BALDISSERA, 2008, p. 31), sempre presentes na gestão e nos objetivos das organizações. Isso decorre, segundo Mattos (2008), da forma como a comunicação se introduziu no contexto organizacional no Brasil: insere-se no mercado como atividade profissional, tendo sua construção teórica desenvolvida inicialmente pelo campo da Administração e forte interface com a Comunicação, como atividade de Relações Públicas, somente a partir da década de 1970, quando se inicia a expansão da sua base conceitual. Também nessa mesma lógica, começam a ser desenvolvidos os estudos relacionados à comunicação organizacional estratégica, a partir da década de 1990. Pode-se dizer, ainda, que a prática discursiva da comunicação organizacional, “na forma em que se acha configurada hoje é fruto de sementes lançadas no período da Revolução Industrial” (KUNSCH, 2006, p. 169). As mudanças decorrentes do novo formato das relações de trabalho a partir de então, levaram as empresas a buscar formas de se comunicar com seus empregados e também com públicos externos. Emerge assim, de uma necessidade de mercado, uma atividade profissional que desenha um modelo de comunicação sustentado pela produção de publicações dirigidas. Para os empregados, então identificados como público interno, a ênfase estava na transmissão da informação de cunho administrativo e funcional; e para os públicos externos, as informações se concentravam nas características e diferenciais dos produtos, mais tarde dos serviços, para fazer face à concorrência, mesmo que ainda ínfima naquela época. A compreensão dessa origem histórica dos estudos da comunicação 19 organizacional é imprescindível para a percepção do discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações, uma vez que os discursos estão sempre associados a uma prática que determina os sujeitos que falam e têm papéis pré-estabelecidos. Com isso, a comunicação nas organizações se desenvolveu calcada no valor da informação – seja ela publicitária ou não – e com um formato funcional, dualista e dialético: de um lado, a comunicação da organização; de outro, os públicos alvo e receptores; intermediados pela mensagem e pelos canais. Assim, foi ganhando força como instrumento de controle e gestão, a partir de “fórmulas, textos, conjuntos ritualizados de discursos que se narram, conforme circunstâncias bem determinadas” (FOUCAULT, 2012c, p. 21). Soma-se a tais fatores o fato de que o construto teórico da comunicação organizacional teve um encadeamento histórico subsidiado pelo paradigma clássico-informacional cuja característica, segundo Oliveira e Paula (2007), é a bipolarização entre emissores e receptores, que têm papéis fixos, evidenciando a tendência passiva do receptor, considerado um receptáculo de informações. Recorrendo aos construtos do paradigma da complexidade7, de Edgar Morin (2011a), e trazendo-o para o campo da Comunicação, pode-se dizer que o paradigma clássico-informacional é reputado como mecanicista e simplificador; uma vez que restringe o processo de comunicação à transmissão da informação, reduzindo o complexo ao simples, sem considerar a construção, desconstrução e (re)construção de sentidos, bem como todo o contexto envolvido por e nesse processo (BALDISSERA, 2008; HALL, 2011). Importante compreender o papel de um paradigma que prevalece na construção de um saber. Sua institucionalização parece automatizar ações e atitudes que podem ser tomadas e realizadas até mesmo de forma inconsciente, ou seja: age-se de maneira inercial, impulsionados pela força de um hábito – ou de um fazer –, sem a consciência ou clareza do que provoca esse agir, irrigando a construção teórica – e também a práxis – desse saber. Conforme Morin (2011b, p. 25), “o paradigma instaura relações primordiais, que constituem axiomas, determina conceitos, comanda discursos e/ou teorias”. Ainda segundo Morin (2011a, p. 112), “um paradigma é um tipo de relação lógica (indução, conjunção, disjunção, exclusão) entre certo número de noções ou categorias mestras” que, por priorizar certas relações lógicas em detrimento de outras, controla a lógica do discurso relacionado. 7 O paradigma da complexidade, postulado por Morin (2011a), surge onde o pensamento simplificador falha e segundo o autor, só ele permitirá civilizar nosso conhecimento: “A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico.” (MORIN, 2011a, p. 13). 20 Sendo assim, pode-se inferir que a partir do paradigma informacional da comunicação, que orienta os estudos dessa área no contexto das organizações, “presta-se atenção à transmissão de significado, de informação, de conhecimento e aos efeitos de diferentes mensagens” (DEETZ, 2010, p. 11). Formam-se axiomas que adotam a informação ou a transmissão da mensagem como a essência da comunicação, determinando conceitos e orientando discursos e teorias. Soma-se a tais axiomas, o fato de a comunicação organizacional, amparada pelos construtos da Administração, ser considerada ferramenta, instrumento e suporte à gestão das organizações. Para elas, a comunicação se reduz à transmissão das informações de seu interesse aos públicos com os quais se relacionam. Devese ressaltar que a construção da mensagem e a transmissão da informação são elementos imprescindíveis aos processos de comunicação, mas, recorrendo a Morin (2011b), não se pode reduzir o processo da comunicação a tais elementos, dada a sua complexidade. Nesse encadeamento teórico emerge nas organizações brasileiras o termo comunicação estratégica, a partir da década de 1990 quando a atividade começa a ser considerada “fator estratégico de resultados que agrega valor à organização, aos negócios e como parte integrante de gestão das empresas”. (KUNSCH, 2006, p. 179). Deve-se ressaltar que tanto o termo quanto o conceito são amparados pelo campo da Administração, que busca nas práticas e ações da comunicação organizacional, suporte para o engajamento de públicos de interesse – também considerados os receptores das mensagens e informações da organização – e a conquista de resultados. Nesse viés, considera-se estratégica a comunicação como produção de mensagens e divulgação da informação de interesse da organização. Estudos mais recentes ampliam a compreensão da comunicação organizacional, marcando que essa já não pode mais ser reduzida à transmissão da informação, uma vez que existem “fluxos multidirecionais de significação/comunicação, de diferentes intencionalidades, somente detectáveis/observáveis no acontecer” (BALDISSERA, 2008, p. 32). Além disso, pode-se acrescentar, a partir de Braga (2012b), que a comunicação acontece na escuta, atravessada por circuitos sociais que impactam na construção de sentido em relação a essa escuta. E, a partir do acontecer e dos feixes de circuito em circulação, ocorre o processo de disputa, construção e (re)construção de sentidos, inerente à comunicação e ao ser humano, indo para além da perspectiva informacional. Isso significa que a própria “posição de fala” já se constitui como uma relação de atenção para a escuta (possível), que se torna, assim, produtiva. A própria ideia de um “contra-fluxo”, da recepção para a produção, se contrapõe ao risco de confundir comunicação com o “fluxo informacional”, pois este se põe apenas para “adiante”. 21 Entendo, pois, que é da reverberação mútua entre “falas” e “escutas”, de parte a parte, que se alimentam os processos interacionais em sua produção de sentido. O que não imaginamos é que a escuta possa ser tratada em uma chave de apenas duas posições, sim-e-não, acolhimento ou recusa. Podemos estar dispostos a “nos modificar” em presença da alteridade – mas nem sempre conseguimos efetivamente sintonizar de modo fino as proposições. Entendemos e não entendemos. Acolhemos e resistimos. Se observamos ao redor, em simples consulta às práticas sociais, é inevitável constatar que há graus de escuta, variações complexas na disponibilidade e no acolhimento. (BRAGA, 2012b, p. 6). Em consonância aos estudos que trazem à tona a questão da escuta, da construção de sentidos e a complexidade do processo de comunicação, Oliveira e Paula (2007) afirmam que o paradigma clássico-informacional, também nas organizações, é “insuficiente para administrar a abundância dos fluxos e demandas informacionais e a crescente rede de relacionamentos que se estabelece entre organização e atores sociais”. (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 23). É importante levar em conta as demandas, experiências e vivências, os interesses e as exigências dos públicos e da sociedade. Nesse sentido, conforme ressalta Kunsch (2006), torna-se muito mais complexo compreender e praticar a comunicação organizacional, já percebida enquanto processo de interação e prática social que vai além da produção, transmissão e recepção de informações. Trata-se, portanto, de um processo de interação, no qual está presente a troca de informações, mas realizada por meio de sistemas simbólicos, de forma mediada, num dado contexto onde ocorre a circulação da informação e a consequente construção, desconstrução e (re)construção de sentidos. A perspectiva que trata a comunicação como um processo complexo, decorrente da circulação, construção, desconstrução e (re)construção de sentidos evidencia um encadeamento conceitual em relação à perspectiva mecanicista do paradigma informacional – hegemônico até a década de 1980 –, para o paradigma interacional da comunicação. Se até então se enfatizava o caráter instrumental tendo como objetos os estudos das mensagens, a transmissão de informação, dos códigos, do emissor, do receptor e dos canais, as transformações ocorridas na sociedade contribuíram para ampliar a abrangência desses estudos, agora sob essa nova visada, que compreende a comunicação como processo e prática social que ocorre a partir da relação entre os interlocutores envolvidos num determinado contexto, marcado pela dimensão simbólica das práticas discursivas e pela disputa de sentidos. Portanto, como processo social multirreferencial que propicia a construção de sentidos, renovados a partir de articulações do ato enunciativo. (OLIVEIRA; PAULA, 2010, p. 41). 22 Nesse viés, os interlocutores deixam de ser vistos como receptores passivos ou receptáculos de informações para tornarem-se sujeitos que atuam na construção e na disputa de sentidos, influenciados por sua realidade, vivência e experiência. Esse sujeito passa a ser compreendido como aquele que é construtor e construção, tece e é tecido nos processos histórico-sócio-culturais, objetiva-se pela consciência de si mesmo, cria, mas também sofre sujeição, experimenta a incerteza, é egocêntrico e tem autonomia-dependência, sofre constrições e contingências, e auto-eco-organiza-se. (BALDISSERA, citado por BALDISSERA, 2008, p. 35). Os construtos teóricos sobre comunicação organizacional, que emergem no Brasil a partir da década de 1990 sustentados por uma abordagem mais complexa e interacional da comunicação8, passam a ter uma importância significativa para analisar os processos de comunicação das e nas organizações. Nessa linha, esta pesquisa subsidia-se no campo da comunicação como base do saber, especialmente em França, para quem a comunicação é uma forma de interação, na qual “um e outro estão sempre, e desde o início, diretamente implicados”. (FRANÇA, 2007). Conforme a autora, a comunicação, enquanto interação, é um processo mediado por símbolos e estímulos, que ocorre em diferentes fases que se influenciam, selecionando e modificando as respostas aos estímulos num sistema de comportamento, fundamentando o paradigma interacional. Sendo assim, a comunicação enquanto interação é uma relação de dois: um e outro estão lá desde o princípio, e não podem ser ignorados (ainda que nosso foco de análise incida mais particularmente sobre a ação de um deles). Não é possível, numa perspectiva interacional, analisar a intervenção de um emissor sem levar em conta o outro a quem ele se dirige e cujas respostas potenciais (as respostas do outro imediato e de outrem – o grupo ao qual pertence) já atuam com antecedência sobre o seu dizer. (FRANÇA, 2007). Dessa maneira, compreender a comunicação enquanto processo de interação implica em assumi-la como um dos elementos transformadores da sociedade e, consequentemente, das organizações. Afinal, é por meio da comunicação que ocorre a construção e desconstrução de sentido entre um e outro; sujeito e sujeito, sujeito e organização, organização e organização; enfim, nas relações da vida em sociedade. Importante ressaltar ainda que o processo de comunicação ocorre nas relações e, para produzir sentido, já se considera, com antecedência, a desconstrução e a construção de sentido 8 Dentre os brasileiros, devem-se destacar autores como Antonio Fausto Neto (Unisinos), Ciro Marcondes Filho (USP), José Luiz Braga (Unisinos), Maria Ângela Mattos (PUC-Minas), Muniz Sodré (UFRJ) e Vera França (UFMG), que trabalham a partir da perspectiva da interação. Aliada a essa perspectiva – ou ao paradigma relacional –, está a complexidade, presente de alguma forma nesses autores, e a importância de se analisar a circularidade, definida por Fausto Neto (2009) como o lugar de construção de sentido da comunicação. 23 que vai se suceder no outro, mesmo sem a garantia de que isso aconteça conforme idealizado quando da produção. Em alusão a França (2007), “não se trata aí de simplesmente [...] querer analisar todos os ingredientes do processo comunicativo, mas de pensá-los em articulação e mútua afetação”, uma vez que a construção de sentido se dá em todo o processo de comunicação inclusive, e principalmente, no outro, num processo de interação permanente, no qual ocorre a constituição do discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações. Na análise que aqui se propõe, as regras de formação [do discurso] têm seu lugar não na “mentalidade” ou na consciência dos indivíduos, mas no próprio discurso; elas se impõem, por conseguinte, segundo um tipo de anonimato uniforme, a todos os indivíduos que tentam falar nesse campo discursivo. (FOUCAULT, 2011a, p. 74). A partir do que foi posto até o momento, percebe-se no encadeamento histórico desse discurso, principalmente a partir deste século, visadas diferenciadas na construção teórica relacionada à comunicação organizacional, buscando-se considerar sua complexidade e importância no processo de construção de sentidos, sem perder de vista, no entanto, sua função informacional. Paralelamente a esse movimento no campo da Comunicação, Deetz (2010, p. 84) destaca que “a comunicação, cada vez mais, vem sendo reconhecida como o processo fundamental pelo qual as organizações existem e como ponto central para a análise da produção e reprodução organizacionais” e não como um instrumento ou objeto que se possa manipular. Soma-se às transformações que proporcionaram a visada do paradigma interacional, àquelas decorrentes da globalização da economia e das tecnologias de informação e comunicação9, também condicionadas, segundo Vizer (2011, p. 83), “à velocidade e à pressão social e econômica das mudanças tecnológicas”, impactando no fazer da comunicação organizacional. Percebe-se fortemente a influência dessas mudanças nos modelos de gestão organizacional e – associada a eles –, na comunicação nesse contexto. Estimuladas pelas reflexões recentes dos campos da Administração e da Comunicação, as organizações, principalmente as de médio e grande porte, têm procurado aproximar-se de seus públicos de relacionamento adotando as tecnologias de informação e comunicação como forma de interação. No entanto, ainda o fazem a partir de uma lógica informacional: a ênfase está na técnica (ou na tecnologia) e na transmissão da informação aos diferentes públicos. 9 Tais tecnologias estão relacionadas aos produtos decorrentes da WEB2.0 com destaque para a comunicação via redes sociais, internet e intranet que, em tese, proporcionam maior interação entre os públicos interlocutores. 24 Para promover a interação a partir das tecnologias digitais, entretanto, seriam necessárias “invenções sociais de direcionamento interacional” (BRAGA, 2012a, p. 36), uma vez que o avanço das tecnologias não é suficiente para promover interação: é necessário que o componente social insira-se nesse processo, fazendo acioná-la como interação (BRAGA, 2012a). Reforçando tal raciocínio deve-se ressaltar, a partir de Foucault (2012b), que a rapidez e a amplitude das mudanças que ocorrem nos dias de hoje podem estar limitadas a uma modificação nas regras de formação dos enunciados de um discurso, não significando, necessariamente, mudanças nos discursos construídos. Deve-se ressaltar como já mencionado, que os construtos teóricos da comunicação têm como fundantes a prática e, em função disso, a adoção de um paradigma interacional implica em mudanças de atitude, o que “exige uma reorientação intelectual, um rompimento com os vínculos sociais. E uma reestrutura da experiência passada. A mudança de atitude causa uma desordem nas relações sociais” (BOSI, 1997, p. 100). E essa situação pode levar ao desconforto e, antagonicamente, ao conformismo10 no desenvolvimento da comunicação no contexto das organizações, já sustentada por um discurso hegemônico – oriundo do paradigma informacional – de onde emergem os conceitos e a práxis desse saber. 2.2 Do planejamento à estratégia planejada de comunicação A visada dos estudos relacionados à comunicação no contexto das organizações, que parte da perspectiva informacional para a interacional, ocorre a partir da década de 1990 e, mais intensamente, do século XXI, muito em função dos movimentos da sociedade e das organizações. Deve-se destacar ainda que o desenvolvimento conceitual da comunicação organizacional traz aportes do campo da Administração e, dentre eles, os relativos à estratégia, também inserida nos construtos da comunicação organizacional. Sendo assim, para compreender os enunciados referentes à estratégia na formação do discurso da comunicação organizacional, deve-se demarcar o que se denomina estratégia, bem como seu encadeamento conceitual até chegar ao construto de estratégia planejada de comunicação. Para isso, recorre-se, inicialmente, à origem e apropriação do termo pela área e pelo campo da Administração. Originária do grego, etimologicamente, a palavra estratégia significa a arte dos generais no comando de suas tropas para vencer a batalha – strategos, 10 Deve-se entender conformismo segundo explica Bosi (1997, p. 100), recorrendo a Wertheimer, como “‘prisioneiros do presente’ oscilando ao sabor dos episódios, ou apegando-se a um quadro rígido de referência para se protegerem da desorientação, resistindo arbitrariamente a qualquer mudança. O medo da desagregação traz impenetrabilidade a novas significações, tornando-os ao mesmo tempo rígidos e instáveis”. 25 deriva de stratos (exército) e agos (comando). Nessa linha, segundo Foucault interpretado por Castro (2009), a estratégia está relacionada à “escolha das soluções ganhadoras” ou aos “mecanismos utilizados nas relações de poder” (CASTRO, 2009, p. 152). Tal orientação conceitual – denominada por Perez (2012a, p. 44) como paradigma militar da estratégia –, permanece ainda hoje, com algumas derivações. Conforme Maximiano (2008), com o processo de industrialização e o incremento dos negócios, no início do século XX, o conceito de estratégia começa a ser transferido e adaptado à gestão das empresas, que precisavam se planejar face à concorrência que começava a se apresentar. A estratégia nas organizações passa a ser trabalhada a partir de planejamentos elaborados de negócio. Nesse viés, O processo de planejamento estratégico compreende a tomada de decisões sobre o padrão de comportamento (ou cursos de ação) que a organização pretende seguir: produtos e serviços que pretende oferecer e mercados e clientes que pretende atingir. [...] consiste em estruturar e esclarecer a visão dos caminhos que a organização deve seguir e os objetivos que deve alcançar. (MAXIMIANO, 2008, p. 231). Deve-se acrescentar ainda que a estratégia, no campo da Administração, está relacionada aos objetivos de longo prazo e aos modos de persegui-los que afetam toda a organização (ACKOFF, 1975). De forma geral, essa perspectiva da estratégia traz a ideia de linearidade e controle a partir da elaboração e desenvolvimento de planos de ação em busca de um objetivo específico e da tentativa de se controlar o futuro, numa alusão ao paradigma militar da estratégia. Segundo Mintzberg (2004), no entanto, planejamento e estratégia aparecem mais fortemente na literatura da Administração a partir de 1965 tratados, muitas vezes, como sinônimos. Antes disso, o planejamento estratégico constituía-se como “um exercício orçamentário na América dos anos 1950; ele começou a se difundir com rapidez, tendo se instalado firmemente na maioria das corporações de grande porte em meados de 1960”. (MINTZBERG, 2004, p. 21). Ainda conforme o autor, desde a adoção do conceito de estratégia pela Administração, na primeira metade do século passado, são identificadas dez escolas do pensamento na formação da estratégia: três delas prescritivas, que buscam explicar as maneiras “corretas” de se ocupar com a elaboração da estratégia e as outras sete, escolas mais descritivas ou conceituais. A primeira dessas escolas, a do Design, considerada prescritiva, acaba por subsidiar as demais e define estratégias “como caminhos seguros – planejados e controlados – de condução ao desejável pela alta administração” (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 171). 26 Mintzberg (2004) ressalta, porém, que estratégia e planejamento são conceitos distintos, embora complementares. Segundo ele, estratégia tanto pode ser um plano, como um padrão, uma posição ou uma perspectiva e o planejamento pode ser compreendido como o processo de elaboração da estratégia, mas “planejamento estratégico” não pode ser sinônimo de formação de estratégia, que abrange tudo isso, e certamente não é eficaz nesse processo. A implicação disso é que o planejamento pode ter menos a ver com formação de estratégia do que geralmente se alega. (MINTZBERG, 2004, p. 39). Ainda a partir de Mintzberg (2004), o planejamento estratégico pode ser definido e analisado sob várias perspectivas: a) é pensar no futuro; b) é controlar o futuro; c) é tomada de decisão; d) é tomada de decisão integrada; e e) é um procedimento formal para produzir um resultado articulado, na forma de um sistema integrado de decisões. Dessa forma, segundo o autor, o planejamento deve ser visto “como o esforço de formalizar partes [dessas coisas] – por meio da decomposição, articulação e racionalização” (MINTZBERG, 2004, p. 28). Podese concluir então que o planejamento é a formulação11 da estratégia que considera a tomada de decisão, o pensar e a busca por controlar o futuro, numa articulação de todo esse processo. Entretanto, o autor chama a atenção para as armadilhas do planejamento estratégico e coloca o seu uso artificial como “relações públicas”, ou “planejamento para apresentação”, em benefício da imagem da organização, de maneira superficial, como uma dessas armadilhas. Nesse caso, ressalta, “somente os planejadores aparecem no topo de maneira perversa, beneficiando menos a organização do que a si mesmos” (MINTZBERG, 2004, p. 181). Conforme explica o autor, o planejamento pode se tornar um jogo para impressionar tanto interna como externamente, embora sem consistência enquanto planejamento efetivo. O planejamento decorativo (isto é, relações públicas) pode facilmente tornar-se político, opondo as pessoas de fora em busca de controle às de dentro, que procuram proteção. O mesmo pode acontecer internamente quando o planejamento passa a ser um mecanismo para impressionar a gerência sênior. (MINTZBERG, 2004, p. 181). Assim, pode-se dizer, recorrendo a Landowski (1992) que, por trás da fachada da expressão planejamento estratégico, há uma noção ampliada de práticas significantes e de relações de força – e de poder. E, nesse caso, não é propriamente o planejamento ou a estratégia que estão em causa, mas o planejamento “manipulatório de um meta-sujeito” 11 Formulação aqui deve ser compreendida enquanto articulação dos elementos ou fatores que constituem a estratégia. 27 (LANDOWSKI, 1992, p. 150), em condições de interação e representação num determinado grupo social. Por outro lado, a prática da comunicação nas organizações tornou-se uma ferramenta dos planejamentos que passaram a ser vistos, além de programação para as ações organizacionais, como “meios de comunicação e instrumentos de controle” (MINTZBERG, 2004, p. 278). Desenvolve-se um planejamento que deve ser conhecido e compreendido interna e externamente, conforme os interesses, objetivos e metas organizacionais. Com isso, acredita-se no engajamento de pessoas e profissionais envolvidos contribuindo para o alcance dos objetivos traçados pela organização e expostos por meio do planejamento. Nessa perspectiva, a comunicação torna-se um dos papéis ou capacidades mais importantes do planejamento para que todos na organização – e aqueles públicos externos que a interessam – conheçam sua estratégia e posicionamento. Internamente, a comunicação, enquanto um dos papéis do planejamento, também é imprescindível: por meio dela, os empregados sabem o que precisam fazer para que a estratégia seja concretizada. Nesse caso, a comunicação, por meio do planejamento, proporciona “um meio pelo qual a administração, como um todo, normalmente, [pode] falar em estratégia”. (MARKS, citado por MINTZBERG, 2004, p. 279). No entanto, a comunicação pode ser externa, assim como interna, com os planos sendo usados para buscar o apoio tangível, e também moral, dos influenciadores [...]. Não estamos nos referindo ao que antes chamamos de planejamento como exercício de relações públicas – “planejamento para apresentação” porque parece bom, em vez de porque é bom. Ao contrário, pretendemos informar o público interno sobre a substância dos planos para que ele possa ajudar a organização a realizá-los. (MINTZBERG, 2004, p. 280). Pode-se dizer que foi essa a linha assumida tanto pela prática profissional quanto pelos estudos da comunicação organizacional, a partir da década de 1990, quando o conceito de estratégia passou a ser incorporado por esse saber. É nesse contexto que a comunicação estratégica ganha corpo na Comunicação, sendo associada à intenção no desenvolvimento de projetos, planos e ações de comunicação impulsionada por e com vistas aos resultados organizacionais. Por seu encadeamento, pode-se dizer que o conceito de comunicação estratégica reforça o paradigma informacional da comunicação no contexto das organizações, bem como seu discurso, uma vez que a perspectiva adotada traz também a ideia de linearidade da estratégia, vista como divulgação da informação e não como interação. Conclui-se, recorrendo a Mattos (2008, p. 21), que “[...] o forte viés ‘administrativo’ adotado pelos estudos de Comunicação Organizacional no Brasil reside justamente nessa 28 dupla origem – mercado e ensino de Administração”, ou seja: a atividade profissional nasce como necessidade de mercado e seu desenvolvimento conceitual se dá fortemente influenciado pelos aportes da Administração, campo no qual a comunicação, compreendida como divulgação da informação ou do planejamento estratégico conforme aqui mencionado, é considerada instrumento e ferramenta de gestão. No entanto, a partir do campo da Comunicação, a concepção estratégica da comunicação trabalha no sentido de convergir esses diferentes interesses [dos públicos de relacionamento da organização] manifestados para um ponto comum, com a ajuda da argumentação e da postura dialógica, dando vitalidade ao ponto comum [constituído pelos interesses comuns dos diferentes interlocutores]. (OLIVEIRA, 2002, p. 94). Ainda em contraponto à ideia de comunicação como ferramenta de gestão, estudos mais recentes desse campo a colocam como estruturadora do novo cenário organizacional, uma vez que as organizações “substituem várias estruturas institucionais tradicionais, tais como a família, a igreja, os grupos sociais de relacionamento e o governo” (DEETZ, citado por REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 171). Hoje, são as organizações que definem o tempo disponível para o trabalho, o lazer e até mesmo para as atividades sociais, além de definirem também as condições de desenvolvimento pessoal e influenciarem valores morais e éticos dos sujeitos. Nesse sentido, percebe-se cada vez mais que as organizações não se limitam à ordem da racionalidade: “há consenso de que os três elementos centrais e estruturadores deste novo cenário são: 1) as organizações formais, 2) a comunicação e 3) o declínio do paradigma da racionalidade”. (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 170). Ou seja, hoje, a comunicação exerce grande influência na sociedade e nas relações sociais assumindo uma presença e uma função também estruturadoras da sociedade. Nesse cenário fortemente influenciado pela comunicação e no qual as organizações têm uma forte interferência na vida do sujeito, “a racionalidade perde poder enquanto força organizadora e determinante da vida social contemporânea”. (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 170). Sendo assim, no cenário hodierno, no qual imperam a instabilidade e a complexidade dos processos de comunicação e das relações, as estratégias passam a ser compreendidas como perspectivas de longo alcance que, apesar de propostas pela alta administração, são, segundo Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), efetivamente construídas por meio da contribuição de vários agentes (internos, externos, hierarquicamente 29 diferenciados). Tais contribuições, como elementos constituintes de processos de produção de sentido realizados pelas (e nas) interações e interpretações de um coletivo, dão à estratégia uma dimensão diferente daquela apresentada no contexto da modernidade: a estratégia deixa de ser compreendida como escolha unicamente racional e sempre antecipada de um caminho seguro a ser seguido. Sob a ótica contemporânea, vislumbra-se a estratégia como processo de produção de sentido sobre o presente, que nos diz e nos faz refletir sobre qual é o futuro que estamos construindo com nossas escolhas. (REIS; MARCHIORI; CASALI, 2010, p. 172). Conclui-se, com isso, que as estratégias também ocorrem na interação e não dependem exclusivamente da vontade ou dos interesses da organização. Constituem-se como práticas sociais que se desenham e interagem sem controle, mas, paradoxalmente, são acopladas pela organização até como forma de sobrevivência, num movimento de autopoiese12 e acoplamento, conforme definiram Maturana e Varela (1995) ao explicarem o comportamento das células: numa atuação estratégica e de sobrevivência, elas se abrem para incorporar – ou acoplar – uma determinada molécula a seus processos. Os mesmos autores trazem seu raciocínio de autopoiese e acoplamento para a interação social, também determinada em função da sobrevivência: “todos os indivíduos de um formigueiro estão estreitamente acoplados em sua dinâmica estrutural fisiológica” (MATURANA; VARELA, 1995, p. 211). Pode-se, a partir daí, trazer o comportamento biológico desses insetos sociais, delineado estrategicamente para sua sobrevivência, para as interações nos “sistemas sociais humanos”. No entanto, quando se trata de sistemas sociais humanos, o delinear das estratégias ganha mais complexidade: os sujeitos estão sempre em relação e em relação de forças, constituída por componentes conjunturais, econômicos, sociais e políticos que influenciam, alteram ou mantêm o modo particular de desenvolvimento de um sistema. Conforme Maturana e Varela (1995, p. 224), “assim como a existência do organismo requer a estabilidade operacional de seus componentes, a existência de um sistema social humano requer a plasticidade operacional (comportamental) de seus componentes”, o que ocorre por meio de ações e atitudes estratégicas, por vezes até instintivas. Consonante ao raciocínio de Maturana e Varela, Pérez (2012a) afirma que a comunicação é uma das estratégias inerentes à vida e, portanto, comunicação e estratégia são conceitos associados e complementares. Nesse viés, a estratégia é vista como prática social que pode ou não ser planejada. Quando planejada, pode ser compreendida como a capacidade do homem para aproveitar melhor as oportunidades, por meio da interação, dentro de um 12 O conceito de autopoiese foi apropriado por Curvello (2009) para a comunicação no contexto das organizações, para buscar explicar a necessidade, até de sobrevivência dessas, em relação à abertura – necessária – que proporciona a interação e o relacionamento da organização com o ambiente. 30 sistema social atravessado pelas relações de forças, em direção a um futuro e não a outro, eleito por ele, interpretando e conferindo sentido ao mundo. Dessa forma, pode-se dizer que os homens fazem coisas e atuam muitas vezes “condicionados” pelos seus sistemas biológicos, pela natureza ou pelo poder econômico ou pelo medo, mas diferentemente da sociedade das formigas se comunicam por meio da linguagem, acham e imaginam alternativas, observam e interpretam o mundo e desenvolvem estratégias de ação. (VIZER, 2011, p. 69, grifo nosso). Ainda segundo Perez (2012a) a estratégia de comunicação planejada, nunca pode ser pensada numa perspectiva linear e de controle, mas como prática social. Recorrendo a Braga (2012), deve-se ressaltar que na prática social encontram-se circuitos13 que “envolvem momentos dialógicos, momentos “especializados”; momentos solitários – o mundo circula em nosso self – e momentos tecno-distanciados, difusos” (BRAGA, 2012, p. 44), sugerindo a complexidade da estratégia planejada de comunicação. Pode-se inferir que essa forma de compreender a estratégia de comunicação – que pode ou não ser planejada – está em consonância com o mundo dinâmico no qual nos inserimos, onde o novo é a velocidade, a descontinuidade e a turbulência da mudança que vivemos desde os fins da década de 1980. Um tipo de mudança que não permite uma gestão incremental, mas que exige respostas cada vez mais rápidas em função da pressão dos mercados e da sociedade. (PÉREZ, 2012, p. 35, tradução nossa14). Conforme ressalta Pérez (2012b), a partir dessa perspectiva, estratégia passa a ser concebida como a necessidade de transformar a realidade, tomando decisões e assumindo riscos, modificando essa realidade para fazer melhor as coisas e cumprir metas estabelecidas pelos sujeitos ou pelas organizações. Embora não se tenha controle ou garantia do alcance dessas metas, uma vez que se está num contexto social e relacional no qual os elementos não são controláveis, ao assumir os riscos na tomada de decisão, os sujeitos interlocutores tornamse construtores parciais de um futuro desejado. Tal perspectiva conceitual, adotada num coletivo, torna-se a base para se desenvolver uma estratégia planejada de comunicação na organização, adotando-a como prática social e complexa, não a reduzindo ao controle sobre e da informação. 13 Braga (2012, p. 44) institui o conceito de circuitos para mostrar que a comunicação, hoje, ocorre a partir de “fatos comunicacionais da sociedade” que envolvem a tecnologia e a cultura, e “cada setor ou processo de sociedade participa de circuitos múltiplos” sendo também a sociedade ou os “campos sociais” atravessados por circuitos diversos. 14 “[...] lo nuevo es la velocidad, discontinuidad y turbulencia del cambio que vivimos desde finales de la década de 1980. Un tipo de cambio que no permite uma gestión incremental, sino que exige respuestas cada vez más rápidas ante la presión de los mercados y la sociedad.” (PÉREZ, 2012, p. 35). 31 Sendo assim, para compreender as estratégias de comunicação nas organizações, a partir da construção conceitual aqui referenciada, devem-se considerar, fundamentado em Pérez (2012a, 2012b), quatro premissas: a) o pensamento complexo de Morin e os novos paradigmas científicos dos séculos XX e XXI; b) a necessidade de recuperar o ser humano só ou em grupo, mas sempre em relação; como o verdadeiro protagonista de sua vida e de sua ação; c) as diferenças humanas como causa e como efeito: todos somos diferentes e as estratégias humanas estão ligadas a essa questão; e d) entender a comunicação e a estratégia como fenômenos próprios da vida. Assim, estratégia passa a ser assumida como prática social e não uma formulação ou método estático e linear. Tal raciocínio vai ao encontro da perspectiva aqui colocada para os estudos da estratégia, proposta por Pérez (2012a): a estratejar15, que se sustenta na premissa de que o homem é um animal simbólico; vivendo num mundo de visões múltiplas, formadas por cada indivíduo, num jogo de relações, percepções e ambiguidades semânticas. Sua proposta consiste em compreender esse ser humano relacional como base da estratégia. Conforme o autor, é necessário abandonar as velhas metáforas e começar a pensar em um conjunto de fluxos e de elementos que se autoproduzem e reconfiguram. Pensar em uma rede de públicos dos quais dependemos e em uma rede de conversações da qual nasce a inovação e que nos ajuda a integrar-nos a nossos ambientes. (PÉREZ, 2012, p. 175, tradução nossa16). Nessa perspectiva, gerir ou gerenciar a mudança – e os processos de comunicação no contexto organizacional – é gerenciar o futuro, embora esse gerenciar não esteja associado ao sentido de controle, mas de atuação na direção estabelecida pelo sujeito individual ou coletivo. Afinal, estratégia é a interface, concepção que também altera a perspectiva conceitual advinda inicialmente do campo da Administração, uma vez que nenhuma estratégia pode nos garantir o sucesso – ou o resultado – porque toda a ação humana se move em incerteza. Portanto, não se deve esperar nenhuma estratégia infalível que nos leve passo a passo em direção a um objetivo. 15 Tradução nossa para la estrategar, nomenclatura utilizada por Rafael Alberto Pérez para denominar o processo estratégico e para sintetizar a Nova Teoria da Estratégia, que começou a ser estudada em 2001 e deve estar concluída em 2016, cujas argumentações encontram-se no livro do autor, Pensar la estratégia: outra perspectiva (PÉREZ, 2012a). 16 “[...] hay que abandonar las viejas metáforas y comenzar a pensar en un conjunto de flujos y de elementos que se autoproducen e reconfiguran. Pensar en una red de públicos de lós que dependemos y en uma red de conversaciones de las que nace la innovación y que nos ayudan a engancharnos en nuestros entornos.” (PÉREZ, 2012, p. 175). 32 Por outro lado, no contexto das organizações, é importante que se tenha uma estratégia planejada de comunicação que aponte em uma direção, considerando a sua falibilidade e todo o processo de interação e construção, desconstrução e (re)construção de sentido que a abarca. Nesse viés, exige-se novo discurso e nova postura, [...] uma vez que se fundamenta na dimensão dialógica com todos os setores da organização e grupos de relacionamento. A circulação de informações pela organização e a respeitabilidade pelas posições divergentes consolidam a produção de sentido da organização, ao mesmo tempo que estimula um processo estratégico de comunicação. (OLIVEIRA, 2002, p. 96). Dessa maneira, para compreender comunicação e estratégia, parte-se do princípio de que a comunicação é um dos constituintes das organizações, “tome ela a forma dos processos espontâneos e informais presentes no cotidiano organizacional ou dos processos planejados” (OLIVEIRA, 2008, p. 97). Sendo assim, para se pensar em estratégia planejada de comunicação, os processos de comunicação precisam ser orientados por estratégias que são elaboradas com base em diferentes metodologias, entre as quais, o planejamento estratégico. Precisam também levar em consideração a realidade de comunicação e os diferentes interesses e perspectivas dos sujeitos na dinâmica interativa. (OLIVEIRA, PAULA, 2012, p. 71). No entanto, pensar a comunicação de maneira estratégica não significa definir um planejamento rígido ou de controle, uma vez que a comunicação é um processo dinâmico, moldado pelas interações e pelas relações – e relações de força – entre os diferentes interlocutores, em determinados momentos, cenários e contextos. A partir do que aqui se coloca, a associação entre os conceitos de comunicação e estratégia à gestão das organizações pode ter duas perspectivas antagônicas e, ao mesmo tempo, complementares: a partir do campo da Administração significa estabelecer ações e planos para esperar e buscar resultados por meio e/ou a partir da comunicação, numa tentativa de manter o poder institucionalizado. Já a partir do campo da Comunicação, as estratégias de comunicação se constituiriam na busca pela compreensão das interações e do (re)conhecimento do outro como um interlocutor e não um receptáculo, sujeito na produção e construção de sentidos, também em constante relação de forças. Portanto, tem-se, de um lado, uma linha de pensamento na qual a comunicação é desenvolvida de forma linear e objetiva e, de outro, assumida em sua complexidade e, em função disso, a não garantia da compreensão da mensagem tal qual foi divulgada. 33 2.3 O modelo de interação comunicacional dialógica No encadeamento dos estudos teóricos da comunicação organizacional, fundamentados pelo paradigma interacional e pela noção de estratégia como prática social, pode-se destacar a construção do modelo de interação comunicacional dialógica, desenvolvido por Oliveira (2002) em sua tese de doutorado, alicerçado em reflexões teóricas e pesquisa empírica. A base teórica do modelo funda-se na complexidade da comunicação e no paradigma relacional, conforme declarado por Oliveira e Paula (2007), um processo plural e multifacetado, de interação entre atores sociais. [...] Para sua construção [do modelo], buscam-se, inicialmente, referências teóricas em autores que estudam a interlocução e a recepção, como Queré (1991) e Fausto Neto (1998), Habermas (1989), com a teoria da ação comunicativa, e Grunig (1992), com a comunicação simétrica de mão dupla. Posteriormente, a concepção do modelo foi ampliada com os estudos de interface de Braga (2001, 2004). (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 24-26). Na formulação do modelo, considera-se ainda a transversalidade do saber da comunicação organizacional, sua interface com outras áreas de conhecimento e a necessidade de compreender os diversos fenômenos comunicacionais e sociais, conferindo maior abrangência ao modelo que não se restringe ao recorte de uma disciplina ou a um campo utilitário. “Sabe-se [...] que nenhuma visão é absoluta, visto que as relações não passam somente pelo campo utilitário” (OLIVEIRA, 2002, p. 92) e, em função disso, tal recorte impossibilitaria a compreensão da comunicação como um campo complexo, no qual, fazendo alusão a Morin (2011b), tudo está tecido junto: as conjunturas econômica e social, a cultura, a produção da informação, a circulação, a recepção, a construção e desconstrução de sentidos, a ordem e a desordem. O modelo de interação comunicacional dialógica traz a ideia do espaço comum da comunicação, no qual pode ocorrer a construção da interlocução entre a organização e os diferentes públicos com os quais ela se relaciona direta ou indiretamente. A partir dessa visada, a organização deixa o lugar exclusivo de emissora ou produtora da comunicação, para tornar-se um dos interlocutores que tanto atua na construção como na recepção da informação, construindo e desconstruindo sentidos a todo o momento. Dessa forma, o modelo “busca contemplar possíveis interações entre a organização e os grupos ligados a ela e demonstra a complexidade dos processos comunicacionais no contexto organizacional”. (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 26). 34 Retomando Deetz (2008) – para quem as mudanças da contemporaneidade desafiam e, ao mesmo tempo, fornecem potenciais para (re)pensar a comunicação no contexto das organizações –, pode-se dizer que esse espaço comum, contemplado pelo modelo, vai ao encontro da realidade contemporânea, caracterizada pela fluidez dos públicos e pela complexidade dos processos de comunicação. Além disso, o modelo desenvolvido por Oliveira (2002) articula os construtos de comunicação, a partir de uma perspectiva relacional, e de estratégia enquanto prática social. Tal perspectiva sugere uma nova forma de as organizações falarem de si mesmas e de estabelecerem suas relações sociais com os diferentes interlocutores. Afinal, traz a necessidade de se considerar a realização de negociações e diálogos abertos, em espaços de interação constante. Postula ainda a interação dialógica, que insere a ideia do outro – então receptor – e da circularidade da informação, dos signos e significantes como elementos definidores do sentido. Conforme Braga (2012), quando se enfatizava os meios nos estudos da comunicação, a circulação restringia-se à passagem de algo do emissor para o receptor, buscando verificar a consistência entre os pontos de partida e de chegada. “Com a percepção de que os receptores são ativos, a circulação passa a ser vista como o espaço do reconhecimento e dos desvios produzidos pela apropriação”. (BRAGA, 2012, p. 38). Tais questões nos levam a entender que o modelo de interação comunicacional dialógica propicia a “interlocução coerente e permanente com os atores sociais; [...] a construção de sentidos sobre estratégias, políticas e conduta da organização; e a [...] validação pública da organização” (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 27), numa atuação circular, estratégica e em consonância com os objetivos da organização, bem como dos públicos com os quais ela se relaciona, mas também como uma nova forma de compreender a comunicação nesse contexto. A partir desse modelo, segundo Oliveira e Lima (2012), os processos planejados da comunicação seriam compreendidos como estratégicos e conduzidos de forma intencional pelas organizações. Para tanto, É importante que a organização compreenda que os grupos interlocutores presentes no processo também têm suas estratégias comunicacionais. [...] a comunicação é um processo dinâmico, em movimento, que pressupõe atualização e renovação constantes, com base nas próprias interações da organização, com os grupos envolvidos em determinada situação. (OLIVEIRA; LIMA, 2012, p. 71). Dessa maneira, o modelo de interação comunicacional dialógica propõe a revisão do paradigma informacional, cuja ênfase está na transmissão eficaz da informação – muitas vezes considerada sinônimo de sentido para as organizações. Ele “amplia essa postura da 35 organização frente aos atores internos e sociais, na medida em que repensa o processo comunicacional a partir de uma nova visão, considerando todos os grupos como interlocutores que vão estabelecer uma interação através do diálogo”. (OLIVEIRA, 2002, p. 87). Busca-se, então, situar o modelo de interação comunicacional dialógica à luz do contexto das organizações, que tem suas especificidades, mas que recebe e exerce influência de fatores internos e externos. Aqui, pode-se recorrer à Morin (2010), transpondo a ideia da sociedade como ecossistema para o campo empírico das organizações, para dizer que a organização precisa se reconhecer enquanto parte de um ecossistema, abrindo-se para a comunicação e para a relação com o ambiente, possibilitando trocas e construção de sentidos, uma vez que um sistema que funciona precisa de uma energia nova para sobreviver e, portanto, deve captar essa energia no meio ambiente. Consequentemente, a autonomia se fundamenta na dependência do meio ambiente e o conceito de autonomia passa a ser um conceito complementar ao da dependência, embora lhe seja, também, antagônico. Aliás, um sistema autônomo aberto deve ser ao mesmo tempo fechado, para preservar sua individualidade e sua originalidade. Ainda aqui, temos um problema conceitual de complexidade. No universo das coisas simples, é preciso “que a porta esteja aberta ou fechada”, mas, no universo complexo, é preciso que um sistema autônomo esteja aberto e fechado, a um só tempo. É preciso ser dependente para ser autônomo. (MORIN, 2010, p. 184). A partir desses construtos, acredita-se que as organizações, até para se preservarem, abram-se, num processo constante e simultâneo de acoplamento, organização e desorganização, o que impacta também nos processos de comunicação. Nesse viés e segundo o modelo proposto por Oliveira (2002), a bipolaridade emissor/receptor é redimensionada para um processo que percebe a ambos – organização e públicos – como interlocutores, ou seja: as organizações, antes desempenhando o papel fixo de emissores ou protagonistas do processo de comunicação, tornam-se interlocutores, ora assumindo o papel de emissor, ora o de receptor, sempre em movimento e de maneira dialógica. Conforme ressaltam Oliveira e Paula (2012), espera-se que as organizações já percebam que não é mais possível controlar os processos comunicacionais nem deixar de reconhecer que cada interlocutor do processo interativo constrói significações para os discursos e as ações organizacionais. [...] A comunicação é um processo social que tem movimento próprio e, por isso mesmo, os processos interativos das organizações emergem de processos complexos, multidimensionais e multidirecionais, envolvendo cenários, pessoas, interesses e negociações. (OLIVEIRA; PAULA, 2012, p. 75). A partir dos estudos de Oliveira (2002), pode-se concluir que as organizações precisam reconhecer a importância do campo da comunicação, associando-o à construção do 36 conceito organizacional – ou ao sentido da organização – “considerando o envolvimento de todos os grupos que estão ligados às estratégias organizacionais” (OLIVEIRA, 2002, p. 158), e atuando como interlocutora nos relacionamentos. Para o desenvolvimento do modelo, de forma estratégica, Oliveira (2002) postula a necessidade de se considerar cinco dimensões: a) tratamento processual da comunicação; b) inserção da comunicação na cadeia de decisões da organização; c) gestão de relacionamentos; d) processo planejado de comunicação; e e) processo monitorado de comunicação. Pode-se dizer que, na práxis, o desafio está na compreensão e adoção dessas cinco dimensões, imprescindíveis ao modelo de interação comunicacional dialógica. Compreender o que significa cada uma dessas dimensões conceituais é o primeiro desafio para a comunicação organizacional. A expressão tratamento processual da comunicação, por exemplo, pode assumir diferentes interpretações dentro da organização. Ela pode remeter à ideia de processo constituído por etapas ou procedimentos de produção, desde o início até a entrega de um produto de comunicação, uma vez que a comunicação é percebida como ferramenta e instrumento de gestão, com ênfase na construção de mensagens e divulgação de informação, por meio de canais de comunicação. Já no modelo proposto, considerar o tratamento processual da comunicação implica em compreendê-la como “um conjunto dinâmico de atividades ou atos interdependentes, que se realizam em uma sequência contínua e apresentam unidade” (OLIVEIRA; PAULA, 2012, p. 67). No entanto, conforme ressaltam as autoras, não se trata de linearidade e não é possível estabelecer uma conclusão, mas momentos ou etapas que possam ser considerados parcialmente concluídos. Outra questão relevante, que também pode se configurar como desafio para a práxis da interação comunicacional dialógica, é a necessidade de inserir a comunicação no sistema de gestão da organização, o que sugere um papel estratégico – e não apenas instrumental da comunicação. Mesmo que não tenha um papel decisório, uma vez que é necessário considerar uma série de fatores na tomada de decisão, a comunicação, quando estratégica, pode influenciar na tomada de decisões, principalmente quando essas afetam o relacionamento com os públicos. Hoje, muitas organizações colocam os profissionais de comunicação nesses fóruns decisórios, reconhecendo a importância e a análise desses profissionais na tomada de decisões. Há casos, no entanto, nos quais as organizações buscam o aconselhamento da área apenas em momentos de crise, ainda a partir da perspectiva de controle e da estratégia como divulgação das informações de interesse da organização. Deve-se observar que, no contexto organizacional, a comunicação é sempre referenciada como área de apoio, mas que deve fundamentar a tomada de decisões, 37 principalmente quando essas afetam ou são afetadas pelos públicos – ou interlocutores – com os quais a organização estabelece relacionamentos. Dessa forma, inserir a comunicação na cadeia de decisões organizacionais significa reconhecer a importância de seu papel estratégico, no sentido de compreender essa comunicação como prática social e balizadora, tanto no ambiente interno, como no externo, na medida em que permite sinalizar cenários e considerar a perspectiva dos atores sociais nas decisões, indagando-se sobre o sentido daí decorrente para eles. [...] O envolvimento da comunicação no processo decisório decorre do entendimento da alta administração sobre a função estratégica do processo na gestão organizacional. (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 46). Esse pré-requisito para a comunicação estratégica, a partir do modelo de interação comunicacional dialógica parece começar a ocorrer, mas não de maneira sistemática. Algumas organizações assumem tal perspectiva, mas não se pode dizer que tenha se tornado um procedimento ou uma prática comum: “é incontestável que a direção da organização tenta guardar um espaço não partilhado para garantir seu poder”. (OLIVEIRA, 2002, p. 94). Embora se esteja tratando de comunicação, são processos que ocorrem num contexto específico que detém regras, normas e condutas próprias. Além disso, conforme Oliveira (2002), a inserção da comunicação na cadeia de decisões está relacionada à noção de poder, compreendido como uma relação de forças, que nunca está no singular, pois tem como característica estar em relação com outras forças, ou seja: “toda relação de forças é uma relação de poder”. (DELEUZE, 2005, p. 79). Nesse sentido, a dimensão da gestão do relacionamento é também afetada pela relação de poder, uma vez que cada público possui interesses específicos que são afetados ou que afetam a organização. Além disso, essa dimensão acaba sendo impactada pela forma como são consideradas as dimensões já comentadas – da comunicação como processo e de sua inserção na cadeia de decisões. A gestão do relacionamento, segundo Oliveira e Paula (2007, p. 47), “enfatiza oportunidades de interação e diálogo da organização com os atores sociais”, que ainda são vistos e tratados, em grande parte das situações, como receptáculos de informações, mensagens, iniciativas e produtos comunicacionais. Para se pensar nessa dimensão, devem-se considerar as características da gestão organizacional, oriundas de uma perspectiva funcionalista na qual impera a busca pelos resultados e pouco se considera a inserção e a interação da organização em um ecossistema. Tais fatores dificultam o desenvolvimento da comunicação a partir de uma perspectiva interacional, que prioriza o diálogo, no qual todos se tornam interlocutores. 38 As outras duas dimensões do modelo de interação comunicacional dialógica – processo planejado e processo monitorado – podem ser percebidas com mais clareza, embora ainda a partir do paradigma informacional e da ideia de estratégia de comunicação oriunda da Administração: a ênfase está nos canais e veículos e na transmissão das mensagens, ainda a partir de uma ideia funcionalista. Nesse caso, o monitoramento efetiva-se por meio do feedback ou controle de como uma determinada mensagem ou iniciativa foi recebida/percebida. Pode-se inferir ainda que o monitoramento das ações nem sempre é utilizado para compreender o processo de interlocução e construção de sentido, mas sim a recepção da informação, uma vez que o foco está na transmissão da mensagem e não na interação com os interlocutores. Trata-se, enfim, de mensurar resultados. No entanto, segundo Marchiori (2006, p. 32), “as organizações que desejam garantir sua efetividade devem ir além de um sistema altamente tecnificado e produtivo, dirigindo seus esforços para o conhecimento das pessoas, seus comportamentos, suas formas de ser e agir”. Nesse sentido, para transpor da perspectiva informacional para a interacional, precisamos reconstruir a maneira como as pessoas se relacionam umas com as outras, evidenciando a natureza homogênea fluida das sociedades contemporâneas. [...] nossa situação requer que nós tomemos mais decisões conjuntas, ao mesmo tempo em que é mais difícil fazer isso. (DEETZ, 2008). Pode-se concluir, a partir do que aqui foi colocado, que o modelo de interação comunicacional dialógica propõe uma nova forma de se compreender e trabalhar a comunicação no contexto das organizações, considerando fundamentos e elementos da perspectiva interacional e dialógica. Ele postula uma nova abordagem da comunicação estratégica nas organizações, levando-se em conta os componentes da dimensão estratégica, e marcando a formação discursiva da comunicação no contexto organizacional, uma vez que as organizações são unidades de análise do campo de produção/reprodução social, enquanto contextos significativos de ação social. [...] Os sistemas relacionais nas organizações são produtores de significado e de sentido. E, neste quadro, as comunicações só podem ser apreendidas e compreendidas nos contextos da sua produção e a sua interpretação contextualizada. (LALANDA-GONÇALVES, 2008). Tal raciocínio pode ser reforçado por França (2007) que, em sua análise (numa alusão a G. H. Mead), entende a comunicação “como momento de costura, de construção, de transição. A comunicação, portanto, é da ordem do movimento. O desafio é desenvolver os instrumentos adequados para captar esse movimento” (FRANÇA, 2007). Em relação à comunicação no contexto das organizações, esse desafio não é diferente. 39 3 ELEMENTOS QUE INTERAGEM NA CONSTITUIÇÃO DE UM DISCURSO Pode-se inferir, pelo que foi até agora colocado, que construtos relativos à comunicação organizacional – desde o paradigma informacional ao interacional, atravessados pelos conceitos de estratégia e planejamento estratégico – trazem elementos que podem constituir enunciados do discurso da comunicação no contexto das organizações. Além desse encadeamento conceitual, deve-se considerar também o jogo de interações e de relações entre um e outro, sujeito e sujeito, sujeito e organização, organização e organização, e da sociedade enfim na formação desse discurso, constituindo conceitos ao longo do tempo e em função dos momentos pelos quais passa a sociedade. Nesse viés, o saber da comunicação organizacional estratégica vai se evidenciando como aquilo de que se pode falar – ou compreender – por meio de uma prática discursiva que reúne objetos, tipos de formulação, conceitos e escolhas teóricas (FOUCAULT, 2012a). Em outras palavras, “o saber é um agenciamento prático, um “dispositivo” de enunciados e de visibilidades”. (DELEUZE, 2005, p. 60). Esse jogo de interações – e, portanto, jogo de forças – é afetado por alterações nas relações de trabalho, disparadas pela Revolução Industrial e encadeadas pelo processo de desenvolvimento da economia e aumento da competitividade; pela globalização e pelo avanço da tecnologia, abarcando um conjunto de objetos enredados e complexos, num feixe de relações que demarcam especificidades e caracterizam a formação de enunciados de uma prática discursiva. Pode-se dizer ainda que mudanças, como as que vêm ocorrendo nas últimas décadas, demandariam também novas atitudes e formas de trabalhar a comunicação ou trabalhar em comunicação, especialmente no contexto das organizações. Nesse sentido, considerando-se a comunicação organizacional como um saber, percebe-se, a partir de seu encadeamento conceitual, forte influência do paradigma informacional na construção dos enunciados e da formação de sua prática discursiva. Apesar de os estudos mais recentes, que introduzem a questão da interação no campo da Comunicação, e da formulação do modelo de interação comunicacional dialógica (OLIVEIRA, 2002), associados ao encadeamento dos construtos conceituais de estratégia, percebem-se elementos constituintes do paradigma informacional – e cartesiano – alicerçando o discurso da comunicação no contexto das organizações. Pode-se dizer que isso decorre do fato de que o paradigma, como já mencionado anteriormente, exerce grande influência na conformação dos conceitos, consolidando-os como prática rotineira e até instintiva, incorporada pelos sujeitos. Conclui-se, com isso, que na construção do discurso da comunicação organizacional estratégica, o paradigma informacional “efetua a seleção e a 40 determinação da conceptualização e das operações lógicas. [...] Assim, os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo paradigmas inscritos culturalmente neles”. (MORIN, 2011b, p.24). A partir desse raciocínio e para fundamentar a análise do discurso da comunicação organizacional estratégica, busca-se compreender, neste capítulo, os elementos da análise de discurso a partir da arqueologia. Apesar de não se propor a fazer uma análise arqueológica na presente pesquisa, a teoria será utilizada como referencial e iluminará a análise do corpus. Ainda no presente capítulo, será abordado o papel do profissional de comunicação na construção desse discurso, dada a sua importância, uma vez que esse pode ser visto como autor do discurso da comunicação organizacional estratégica, já que é sujeito em relação com os enunciados (DEELUZE, 2005). Por fim, procura-se, a partir do encadeamento teórico relativo a esse saber, identificar os primeiros enunciados que podem constituir o discurso da comunicação estratégica, mapeando e buscando apreender os conceitos teóricos que regem a atuação dos profissionais de comunicação que atuam em organizações. 3.1 A arqueologia de Foucault como inspiração Deve-se compreender a arqueologia como modalidade de análise do discurso que considera a diversidade discursiva, não se restringindo à interpretação da obra ou da teoria, mas definindo e identificando práticas discursivas que atravessam a teoria e fazem com que determinados enunciados – e não outros – tenham sido possíveis (FOUCAULT, 2012a). A análise arqueológica faz com que apareçam as relações entre formações discursivas17 (objeto da descrição arqueológica) e domínios não discursivos, tais como as instituições, os acontecimentos políticos, as práticas e os processos econômicos. Conforme interpretação de Foucault por Castro (2009, p. 40), “a arqueologia é uma história das condições históricas de possibilidade do saber”, que considera a existência de uma ordem anterior às palavras e às percepções, fixando as condições históricas de possibilidade dos saberes. Entre a análise interpretativa do discurso e a arqueológica, Foucault (2012a) demarca quatro grandes diferenças: a questão da novidade, a análise das contradições, as descrições comparativas e o estabelecimento das transformações. No entanto, conforme explica o autor, o estudo arqueológico não busca identificar a novidade ou o que foi dito pela primeira vez e sim a regularidade – compreendida não como uma média, mas uma curva (DELEUZE, 2005) 17 Formações e práticas discursivas são usadas por Foucault (2012a) como sinônimos e se constituem no tempo e no espaço, a partir dos enunciados e de um conjunto de regras anônimas, como veremos à frente. 41 – dos enunciados, ou seja: “o conjunto das condições nas quais se exerce a função enunciativa que assegura e define sua existência [do enunciado]”. (FOUCAULT, 2012a, p. 176). Além disso, na análise arqueológica não se deve opor uma regularidade de um enunciado à irregularidade de outro, mas sim identificar as regularidades presentes em diferentes enunciados. Busca-se revelar a regularidade de uma prática discursiva que é exercida, do mesmo modo, por todos os seus sucessores menos originais, ou por alguns de seus predecessores; prática que dá conta, na própria obra, não apenas das afirmações mais originais (e com as quais ninguém sonhara antes deles), mas das que eles retomaram, até recopiaram de seus predecessores. (FOUCAULT, 2012a, p. 177). Além disso, na arqueologia, as formações discursivas são descontínuas, diversas e, por vezes contraditórias, embora possam se estabelecer relações e dependências entre elas. Aqui, pode se fazer alusão aos construtos teóricos da comunicação e da estratégia, inicialmente vistos como antagônicos, mas cuja reflexão aponta para o desenvolvimento de construtos associados e até imbricados, especialmente quando se coloca a comunicação como uma das estratégias da vida (Perez, 2011a), inerente às relações sociais e, nessas, incluídas as relações de força – ou de poder. Sobre as descrições comparativas, a análise arqueológica busca mostrar como a história geral – que envolve as instituições, os processos econômicos e políticos e as relações sociais – pode dar lugar a determinados tipos de discurso, não os reduzindo a uma expressão ou a uma análise causal. No caso do discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações, percebe-se a influência dos processos econômicos e de desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação determinando seus enunciados. Ressalte-se ainda que “a arqueologia não remete necessariamente ao passado. Há uma arqueologia do presente. Presente ou passado, o visível é como o enunciável: eles são objeto não de uma fenomenologia, mas de uma epistemologia”. (DELEUZE, 2005, p. 60). Pela arqueologia não se busca identificar o que é permanente em um discurso, mas as regularidades que estão nos enunciados, até de diferentes grupos de discursos. Ressalte-se aqui que os enunciados são compreendidos como acontecimentos em “relações discursivas com os meios não discursivos [...] que constituem o limite [...], o horizonte determinado sem o qual tais objetos de enunciados não poderiam aparecer, nem tal lugar ser reservado dentro do próprio enunciado”. (DELEUZE, 2005, p. 21). Conforme interpretação de Foucault por Deleuze (2005), o cerne da discussão acerca da análise de discurso arqueológica encontra-se 42 no lugar e estatuto que cabem ao sujeito dentro de dimensões que se supõe não estarem inteiramente estruturadas. Assim, enquanto se opõe diretamente a história à estrutura, pode-se pensar que o sujeito retém sentido enquanto atividade constituinte, recolhedora, unificadora. Mas isso já não vale quando passamos a considerar as “épocas” ou formações históricas enquanto multiplicadores. A estrutura é proposicional, tem um caráter axiomático assinalável num nível bem determinado, forma um sistema homogêneo – enquanto o enunciado é uma multiplicidade que atravessa os níveis, que “cruza um domínio de estruturas e de enunciados possíveis e que as faz aparecer, com conteúdos concretos, no tempo e no espaço”18. O sujeito é frásico ou dialético, tem o caráter de uma primeira pessoa com a qual começa o discurso –, enquanto o enunciado é uma função primitiva anônima, que só permite subsistir o sujeito da terceira pessoa e como função derivada. (DELEUZE, 2005, p. 24-25). Ainda à luz da arqueologia, a análise do discurso não pode se reduzir à análise de uma unidade, uma obra ou uma teoria. Deve-se adotar a noção de série já que uma mesma obra literária, por exemplo, pode dar origem a diferentes discursos, uma vez que “a relação entre um enunciado e um sujeito variável constitui ela mesma uma variável intrínseca do enunciado” (DELEUZE, 2005, p. 18), o que leva um mesmo enunciado a ter posições e lugares diversos. Trazendo tal raciocínio ao estudo do discurso da comunicação organizacional, os conceitos de estratégia e de comunicação são considerados distintos se pensados a partir do campo da Comunicação ou do campo da Administração. No entanto, inspirados pela arqueologia, ambos podem constituir enunciados de um mesmo discurso, o da comunicação estratégica no contexto das organizações. Na sua metodologia de análise, Foucault (2012c) apresenta o que denomina procedimentos de controle e delimitação externos e internos do discurso, que se organizam em torno de contingências históricas, em permanente deslocamento e sustentadas por sistemas de instituições. Internamente, os procedimentos de controle identificados são os princípios de classificação, ordenação e distribuição do discurso. Externamente, a interdição, a separação entre o verdadeiro e o falso e a vontade de saber são os principais procedimentos de controle e delimitação do discurso. Fazendo alusão a Morin (2008), também o discurso e sua construção ocorrem a partir das interações com o mundo exterior e são permanentemente por elas afetados. Ressalte-se ainda que as relações de poder e conhecimento são estabelecidas em Discursos culturalmente padronizados, formados pelos conjuntos de padrões de fala, ideias, lógica e pressupostos que constituem objetos e sujeitos. Esses Discursos não apenas ordenam e naturalizam o mundo de maneira particular, mas informam as práticas sociais. (FAIRHURST; PUTNAN, 2010, p. 110). 18 Deleuze (2005, p. 25) recorre à Arqueologia do Saber, em Foucault (1972). 43 Foucault (2012c) considera ainda a questão da rarefação, que se apoia sobre um suporte institucional e consiste na existência de regras que não permitem que todos tenham acesso ao discurso, como grande grupo de exclusão em relação ao discurso. Conforme explica, a rarefação está associada aos sujeitos que falam e aos rituais que envolvem essa fala, determinando propriedades singulares e papéis preestabelecidos: “ninguém entrará na ordem do discurso se não satisfizer a certas exigências ou se não for, de início, qualificado para fazêlo”. (FOUCAULT, 2012c, p. 35). A rarefação é também reconduzida, mais profundamente, sem dúvida, pelo modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído. Recordemos aqui, e apenas a título simbólico, o velho princípio grego: que a aritmética pode bem ser o assunto das cidades democráticas, pois ela ensina as relações de igualdade, mas que só a geometria deve ser ensinada nas oligarquias pois demonstra as proporções na desigualdade. (FOUCAULT, 2012c, p. 16-17). Embora a rarefação seja um dos procedimentos de exclusão do discurso, também é um dos princípios da análise do discurso. Além disso, não se deve buscar o não dito e sim “as práticas descontínuas que se cruzam por vezes, mas também se ignoram ou se excluem” (FOUCAULT, 2012c, p. 50). O discurso deve ser concebido enquanto uma prática imposta na qual os acontecimentos que o constituem encontram a regularidade. Pode-se dizer que, no caso do discurso da comunicação estratégica, o profissional de comunicação, atuando como autor, é levado a entrar na ordem desse discurso e a adotar suas regras, uma vez que passa a fazer parte da instituição, assumindo uma identidade organizacional e adotando “um discurso definidor de suas singularidades”. (BARROS FILHO, 2007, p. 116). Deve-se destacar ainda que os enunciados, na análise arqueológica, não podem ser confundidos com frases ou proposições, embora possam também sê-lo, se considerados a partir de sua existência. Conforme ressalta Foucault (2012a, p. 103), “se não houvesse enunciados, a língua não existiria; mas nenhum enunciado é indispensável à existência da língua”. Para compreendê-los, deve-se entender a modalidade de existência de um conjunto de signos – ou de uma formulação – que permite ao enunciado ser algo mais que um simples conjunto de signos, mas referir-se a objetos e a sujeitos, entrar em relação com outras formulações e ser repetível. O enunciado articula-se sobre a frase ou sobre a proposição, mas não deriva deles. Em primeiro lugar, o enunciado não se reduz à proposição por duas razões: 1) não é necessário, para falar de enunciado, que exista uma estrutura proposicional; 2) duas 44 expressões equivalentes desde o ponto de vista lógico não são necessariamente equivalentes desde o ponto de vista enunciativo. Em segundo lugar, quanto à correspondência entre o enunciado e a frase, Foucault aponta que nem todos os enunciados possuem a estrutura linguística da frase. Não só porque o enunciado compreende os sintagmas nominais [...], mas porque, por exemplo, as palavras dispostas em coluna em uma gramática latina como “amo, amas, amat...” constituem também um enunciado. (CASTRO, 2009, p. 137). Pode-se concluir com isso que a descrição dos enunciados situa-se em um nível específico de descrição que não corresponde à análise lógica ou à análise gramatical. Sua existência deve ser analisada como um jogo de posições possíveis para um sujeito, em um campo de coexistência que lhe permite relacionar-se com outros enunciados – de um mesmo grupo ou de grupos distintos de discursos – e de uma materialidade que pode ser repetida. E são os enunciados que constituem as formações discursivas – cuja descrição coincide com a da função enunciativa – que, por sua vez, determinam as práticas discursivas definidas por Foucault como um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa. (FOUCAULT, 2012a, p. 144). Pode-se dizer ainda que as noções de enunciado e de formação discursiva remetem uma à outra e suas análises devem ser estabelecidas correlativamente. Conforme Foucault (2012a, p. 142), “um enunciado pertence a uma formação discursiva como uma frase pertence a um texto” e, conforme explica, a regularidade do enunciado – ou de um conjunto de enunciados – é o que caracteriza a formação discursiva. Ambos – enunciado e formação discursiva – tornam-se unidade e objeto de análise da arqueologia. 3.2 O autor que reverbera e consolida o discurso da comunicação estratégica Inspirados pela arqueologia acredita-se que o discurso da comunicação organizacional é construído a partir dos conceitos teóricos da área e de sua práxis ao longo do tempo. Devese ressaltar que o conceito de práxis está relacionado às ações dos homens (VIZER, 2011) e, no caso da presente pesquisa, refere-se especificamente às ações dos profissionais de comunicação no contexto organizacional, que serão observadas a partir de sua orientação conceitual, revelada por meio de seus discursos. Nesse sentido, deve-se trazer novamente à tona a influência das mudanças sociais que vêm ocorrendo no mundo contemporâneo e impactam no comportamento do sujeito e da própria sociedade: “embora a diversidade total e 45 a heterogeneidade social do planeta provavelmente tenham sido reduzidas nos últimos séculos, a experiência da heterogeneidade por grande parte dos indivíduos aumentou” (DEETZ, 2008), uma vez que se passou a conviver com identidades fluidas num cenário no qual a mudança e a instabilidade tornaram-se a constante. No entanto, se a lógica ainda é informacional, fundamentada num modelo racional instrumental e linear, tais implicações podem dificultar a compreensão e assimilação desse momento por parte dos profissionais de comunicação e do que o cenário de hoje pede no contexto das organizações: uma comunicação que considere o interacional; o relacionamento, a interlocução, a transmissão da informação e a construção de sentidos desenvolvidos sempre de forma dialógica. Associado a tais fatores, deve-se ressaltar a força do discurso da comunicação organizacional fundamentado no paradigma informacional, a partir do qual a comunicação é tratada como ferramenta ou instrumento, com ênfase na transmissão da informação, no conteúdo das mensagens, na diversidade e na qualidade dos canais de comunicação. Assim, pode-se inferir que só o encadeamento do paradigma interacional já sinaliza um grande desafio: a (re)orientação intelectual da comunicação no contexto das organizações que implica no rompimento com um fazer consolidado e praticamente hegemônico da realidade cotidiana, que aparece objetivada, isto é, “constituída por uma ordem de objetos que foram designados como objetos antes de minha entrada na cena” (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 38, grifo dos autores). Ou seja, a comunicação sempre adotou como prioritários os elementos oriundos do paradigma informacional. Dessa forma, a realidade cotidiana da comunicação organizacional pode apresentar-se como a realidade por excelência dentre as múltiplas realidades que constituem o mundo, uma vez que As ações tornadas habituais, está claro, conservam seu caráter plenamente significativo para o indivíduo [...] Embora em teoria haja uma centena de maneiras de realizar o projeto de construir uma canoa de paus ajustados, o hábito reduz estas maneiras a uma única. Isto liberta o indivíduo da carga de “todas estas decisões”, dando-lhe um alívio psicológico que tem por base a estrutura instintiva não dirigida do homem. (BERGER ; LUCKMANN, 2012, p. 76). Embora a visada do paradigma interacional, que insere a importância de se considerar a subjetividade nas relações e a (re)construção e desconstrução de sentidos, bem como as discussões acerca de tais construtos, já estejam presentes na produção teórica do saber da comunicação organizacional nos dias de hoje, pode ser que os conceitos oriundos do modelo de comunicação clássico-informacional, institucionalizado nas organizações e fortalecido pela teoria da Administração ainda imperem. Transpondo o que foi colocado por Berger e 46 Luckmann (2012) sobre a realidade social para esse saber, tais conceitos e premissas da comunicação organizacional podem ter institucionalizado hábitos, uma vez que a atividade humana está sujeita a eles e esses hábitos podem se postar como obstáculos a novos pensamentos e construtos conceituais. Além disso, o discurso da comunicação estratégica é construído em uma estrutura social, na qual o indivíduo pode envolver profundamente o seu eu em sua identificação com um determinado papel, instituição ou grupo, e em seu conceito de si mesmo como alguém que não rompe a interação social ou desaponta as unidades sociais que dependem dessa interação. (GOFFMAN, 2011, p. 221). Tal raciocínio pode ser trazido para a análise arqueológica do discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações, segundo a qual o profissional que exerce a atividade de comunicador torna-se o “princípio de agrupamento do discurso, como unidade e origem de suas significações, como foco de sua coerência”. (FOUCAULT, 2012c, p. 25). Nesse sentido, pode-se dizer que, embora o encadeamento conceitual da comunicação esteja hoje fundado no paradigma interacional, o paradigma informacional ainda pode reger sua práxis como um hábito, cuja força da rotinização impede o profissional de enxergar as outras maneiras de perceber e trabalhar a comunicação. Isso pode decorrer, especialmente, em função de dois fatores: o primeiro deles é a realidade, estrutura e sistemática do contexto organizacional, de orientação funcionalista focada em resultados; o segundo, é o papel desempenhado pelos profissionais de comunicação nesse contexto, cuja atuação é delineada historicamente pela prática. O que define a profissão do comunicador organizacional “é seu fazer profissional, suas estratégias de comunicação e organização. Um fazer que se objetiva em discurso, discurso sobre si, cuja origem é social”. (BARROS FILHO, 2007, p. 117). Nesse sentido, também na atuação profissional estão presentes as relações de força e de poder e o jogo de interesses que podem estar em conflito, assim como os discursos em interação. Quando esse profissional coloca-se diante de uma prática de comunicação amparada pelo paradigma interacional e dialógico, sugere-se que deixe a prática rotinizada da comunicação. Isso gera incerteza e incômodo – ou desconforto –, uma vez que pode colocar a organização – ou os profissionais de comunicação organizacional – em situações geralmente percebidas como problemáticas, já que são diferentes das habituais. Ou seja: estabelecer uma relação dialógica com os interlocutores pode afetar a ideia ou sensação de controle, fazendo 47 tanto a organização como os profissionais saírem do lugar de emissor para assumirem o de interlocutor. Nesse sentido, pode-se dizer que o profissional torna-se um autor do discurso da comunicação organizacional estratégica, repercutindo os conceitos e o status quo de uma estrutura racional da organização, que assume posição fixa de emissora no processo de comunicação. No entanto, além dos construtos mais recentes que reforçam a importância da interação no processo de comunicação, a posição biunívoca emissor/receptor tem se mostrado cada vez mais insuficiente, principalmente a partir da ascensão das tecnologias de informação e comunicação e do que se convencionou denominar sociedade 2.0. A sociedade 2.0, que se refere ao conceito de sociedade em rede, de Castells (2005), aponta desafios para a compreensão e o fazer da comunicação organizacional sob o paradigma interacional. Segundo Castells (2005), a sociedade hodierna, constituída por indivíduos, empresas e Estado, opera local, nacional e internacionalmente, suportada pela tecnologia 2.0 o que, consequentemente, proporciona o acesso e discussões instantâneas, por meio da internet, sobre todo e qualquer assunto, em qualquer lugar do mundo; interligando, dessa forma, diferentes lugares e espaços. Numa alusão a Mcluhan, quando apontava como o grande drama do século XX o fato de que “as nossas sociedades altamente letradas se desconcertam quando se defrontam com novas estruturas de opinião e sentimento resultantes da informação instantânea e global” (MCLUHAN, 2006, p.384); o drama do século XXI pode estar na instantaneidade e no acesso quase irrestrito à informação, na falta de controle da informação e na lógica hodierna dos processos de comunicação, cada vez mais instáveis e complexos. Nesse viés, pode-se dizer que um dos principais desafios para se trabalhar a comunicação, a partir do paradigma interacional, está relacionado ao discurso da comunicação no contexto das organizações, visto que os problemas colocados pelas formações discursivas são bem mais difíceis do que o discurso inscrito no livro, na obra ou na teoria (FOUCAULT, 2012a). Além disso: Sabemos – e talvez desde que os homens falam – que as coisas, muitas vezes são ditas uma pelas outras; que uma mesma frase pode ter, simultaneamente, duas significações diferentes; que um sentido manifesto, aceito sem dificuldade por todos, pode encobrir um segundo, esotérico ou profético, que uma decifração mais sutil ou apenas a erosão do tempo acabarão por descobrir; que sob uma formulação visível pode reinar uma outra que a comande, desordene, perturbe, lhe imponha uma articulação que só a ela pertence; enfim, que, de um modo ou de outro, as coisas ditas dizem bem mais que elas mesmas. (FOUCAULT, 2012a, p. 134). Nesse processo, no qual as coisas são ditas e geram enunciados, é que se constitui o discurso da comunicação organizacional estratégica, reverberado e consolidado pelos 48 profissionais de comunicação que atuam nas organizações. Eles têm seu lugar de fala e um papel de autoria nesse discurso, cuja construção é influenciada por interesses em conflito e por relações de força e de poder como já mencionado. Além disso, atuando num contexto específico, o da organização, os profissionais adotam um quadro de referência que está “em conformidade com questões dinâmicas, criadas pela necessidade de sustentar uma definição da situação que foi projetada diante de outras pessoas”. (GOFFMAN, 2011, p. 218). Dessa maneira, a construção do discurso está para além do espaço da interação e do momento em que ele foi falado, uma vez que traz elementos como valores, vivências, cultura e experiência na sua constituição. O sujeito, profissional de comunicação, também traz para seu discurso elementos inerentes ao papel assumido e à sua identificação com o grupo, instituição ou organização da qual faz parte ou está em interação, e no qual assume responsabilidades – e promessas – a partir do papel desempenhado (GOFFMAN, 2011). Deve-se ressaltar ainda que somos indivíduos dotados da capacidade de escolha e de construção de sentidos e que “a comunicação é igualmente importante na organização e transformação da sociedade [...] A sociedade existe enquanto realização permanente de atos e trocas possibilitadas pela comunicação” (FRANÇA, 2007). Sendo assim, pode-se dizer, a partir de Goffman (2011), que os profissionais ancoramse em valores culturais consolidados para determinar sua atuação e a forma como se sentem e se posicionam em relação ao discurso da comunicação no contexto das organizações, estabelecendo um quadro de referência de aparências. Afinal, “quando um indivíduo se apresenta diante de outros, consciente ou inconscientemente projeta uma definição da situação, da qual uma parte importante é o conceito de si mesmo”, num jogo de interações. (GOFFMAN, 2011, p. 220 ). Nessa perspectiva, a definição do discurso não se restringe a uma mudança de conteúdo (refutação de erros antigos, nascimento de novas verdades), nem tampouco uma alteração da forma teórica (renovação do paradigma, modificação dos conjuntos sistemáticos). O que está em questão é o que rege os enunciados e a forma como eles se regem entre si. (FOUCAULT, 2012b, p. 39). Essas reflexões podem contribuir para os estudos da comunicação no contexto das organizações, uma vez que trazem à tona a importância de se identificar o que rege os enunciados19 e seu sistema de formação, buscando compreender o discurso da comunicação organizacional estratégica e os elementos que circulam entre seus enunciados: os aportes do 19 Os enunciados são os formadores dos discursos, segundo Foucault (2012a). 49 paradigma clássico-informacional, a ideia de estratégia assumida pela comunicação, bem como os contributos da perspectiva que coloca a comunicação como interação, considerando o relacional, o informacional e a produção de sentidos. 3.3 A formação discursiva da comunicação estratégica e sua tessitura conceitual Conforme mencionado inicialmente, o paradigma informacional, nascido um século atrás partir de uma formulação matemática, conceituava a comunicação como um processo com definições claras do que seriam emissão e recepção de mensagens e/ou informações. Com a Revolução Industrial, nasce a necessidade prática de se levar essa comunicação para o contexto das organizações, uma vez que uma nova ordem de relações foi imposta e, junto dela, demandas de transmissão de informações aos públicos que se relacionavam com as organizações. A tônica da comunicação, nesse contexto, girou em torno do engajamento dessas com os públicos de interesse, por meio de ações e canais de comunicação, indispensáveis para a transmissão das mensagens que tinham interesse em publicizar. Dessa forma, as raízes da comunicação organizacional estão na informação pública e na publicidade e assim se consolidaram, conforme assinala Kunsch (2009a, p. 22): “por muitas décadas, profissionais e acadêmicos se concentraram, sobretudo, em “o que fazer” e “como fazer” a atividade, sem maiores preocupações com a formulação de um arcabouço teórico que a fundamentasse”. Na década de 1980, quando o acesso à informação era restrito e limitado aos interesses das organizações, fossem elas públicas ou privadas, a comunicação organizacional permanecia calcada na produção e distribuição da informação. Segundo Kunsch (2009b, p. 22), os profissionais que atuavam nessa área “aprenderam a preparar press releases, programar a cobertura da mídia, redigir discursos, elaborar folhetos, atuar como lobistas ou elaborar um relatório anual de atividades”. [...] as relações públicas, o jornalismo empresarial e a assessoria de imprensa ainda cumpriam suas tarefas de forma estanque, sem uma preocupação maior quanto a uma sinergia de esforços entre os setores de comunicação institucional, comunicação mercadológica, comunicação interna e comunicação administrativa. (KUNSCH, 2009a, p. 187). Era necessário, conforme Kunsch (2009a), o desenvolvimento de uma comunicação integrada com a maior interface entre as diferentes áreas de comunicação nas organizações, principalmente a partir da segunda metade da década de 1980, quando ocorreu o que ficou conhecido como globalização da economia, acirrando a concorrência e a demanda por 50 transparência por parte da sociedade. A transmissão das informações, por parte das organizações, passa a ser ainda mais valorizada, uma vez que a atuação das empresas não mais se restringia a questões de produção e economia, elas tornaram-se “personagens extremamente importantes nos cenários político, econômico, cultural e social” (NASSAR, 1995, p. 8). A partir dessa época, a sociedade passa a querer saber cada vez mais sobre as organizações: como elas tratam o meio ambiente, de onde retiram as matérias-primas necessárias à sua produção, as condições de trabalho e segurança dos seus empregados e como contribuem para o desenvolvimento social (NASSAR, 1995). Nesse contexto e já no final da década de 1980, proliferavam os cursos de Relações Públicas no Brasil e os departamentos da área nas empresas. Visando a caracterizar a maior abrangência das atividades, tais departamentos começavam a se configurar enquanto comunicação empresarial, embora o foco das ações ainda se mantivesse na lógica de mercado e na comunicação informacional: A comunicação empresarial se utiliza de muitas linguagens, que não têm necessariamente como objetivo imediato o processo de vendas. Mas que não deixam, por isso, de ser ferramentas fundamentais no marketing da empresa. Dentre essas linguagens estão a das relações públicas, a de imprensa e a de atendimento direto ao consumidor. As ações dessas áreas de comunicação empresarial, se não são diretamente mensuráveis num balanço contábil, podem significar, no mínimo, a simpatia da sociedade, a fidelidade dos consumidores, um bom relacionamento com trabalhadores, governos e sindicatos. (NASSAR; FIGUEIREDO, 1995, p. 12). A partir dessa tessitura, percebe-se que a comunicação começa a ganhar importância nas organizações, sob a perspectiva da divulgação da informação: enquanto ferramenta de marketing, de controle e de gestão, fragmentada de certa forma e posicionando-se como produtora de mensagens e informações organizacionais na busca pela simpatia da sociedade e fidelização de clientes; além de um bom relacionamento com empregados e públicos de grande interesse naquela época, dentre eles governos e sindicatos. Na década de 1990, em função das mudanças que ocorrem na sociedade e da necessidade de mais transparência por parte das organizações, houve maior valorização da comunicação organizacional, bem como dos estudos relativos à área, que se tornaram mais abrangentes. Naquela época, a comunicação empresarial, como passa a ser denominada a área em grande parte das organizações, era sinal de modernidade para as organizações que se colocavam como engajadas naquela nova realidade, na tentativa de mostrar transparência com a sociedade. A comunicação já não estava mais diretamente relacionada à ideia de uma aparente estabilidade biunívoca emissor-receptor, uma vez que a partir daquela época, começa 51 a ocorrer o que foi nomeado por Bauman (2001, p. 15) como liquefação da sociedade: “os padrões e configurações não são mais “dados”, e menos ainda “autoevidentes”; eles são muitos, chocando-se entre si e contradizendo-se em seus comandos conflitantes”. Com essa nova tessitura e sistematização da sociedade, pode-se concluir, de fato, a insuficiência do paradigma informacional para o que pede essa nova sociedade, líquida, e consequentemente, fluida e complexa. Nesse encadeamento conceitual e mais precisamente a partir do século XXI, emergem os construtos amparados pelo paradigma da complexidade, que levam à ideia de construção e desconstrução de sentidos e remetem à própria complexidade do processo de comunicação. Torna-se cada vez mais claro que esse processo se concretiza no outro que tem toda uma bagagem cultural, experiência e apreensão de vida particulares, num dado contexto e cenário. Paralelamente, também ganha corpo a ideia de estratégia enquanto prática social. Embora isso ocorra, a comunicação organizacional e os profissionais dessa área já desenvolveram sua representação, alicerçados por um quadro de referência fundamentado no paradigma informacional e consolidaram sua imagem em consonância com a expectativa das organizações. Assumindo a arqueologia como inspiradora dessa análise, pode-se dizer que na tessitura na qual se desenvolvem os aportes teóricos que fundamentam o saber da comunicação organizacional, alguns enunciados que constituem a formação do discurso da comunicação estratégica, nesse contexto, já podem ser revelados. Percebe-se a influência do encadeamento histórico nesse discurso, afetado pelas relações de poder e pelas transformações econômicas, sociais e culturais que atravessam a sociedade neste último século, mais fortemente nas duas últimas décadas. Afinal, compreende-se a comunicação enquanto prática social, resultado de interações que obedecem a regras, atravessando a opacidade importuna para encontrar a profundidade do essencial. No entanto, “os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais do que utilizar esses signos para designar as coisas. É esse mais que os tornam irredutíveis à língua e ao ato de fala. É esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever”. (FOUCAULT, 2011a, p. 60). Pode-se dizer que, no encadeamento histórico que fundamenta o discurso da comunicação organizacional estratégica, são reveladas especificidades e a irredutibilidade do jogo das regras desse discurso a qualquer outro; definindo tipos e regras de práticas discursivas que atravessam o saber da comunicação organizacional e fazendo, enfim, o que Foucault (2012a, p. 171) define como “a descrição sistemática de um discurso-objeto”. Dessa forma, pode-se dizer que é possível revelar um conjunto bem determinado de formações 52 discursivas que têm relações descritíveis entre si e vão conformando o discurso da comunicação estratégica em função da série de elementos que o abarcam. Pelo que já foi aqui colocado, pode-se identificar claramente sete formulações ou conceitos que subsidiam enunciados conceituais que, por sua vez, constituem formações discursivas da comunicação estratégica no contexto das organizações, dispersos no tempo, às vezes contraditórios, mas inter e intrarrelacionados, configurando-se de forma interdiscursiva, a saber: a) a relação biunívoca – e fixa – emissor/receptor; b) a necessidade da transmissão de informações por parte das organizações; c) a adoção do conceito de comunicação estratégica – com aportes teóricos trazidos do campo da Administração – como viés do planejamento estratégico organizacional; d) o surgimento de modelos que focam o aspecto interacional como uma nova forma de se compreender os processos de comunicação; e) a perspectiva de complexidade – da sociedade e da comunicação – em contraposição à da simplicidade; f) o processo de construção de sentidos como inerente à comunicação; e, talvez menos conhecida, g) a concepção da estratégia planejada de comunicação. Essas sete formulações, detectadas a partir do encadeamento teórico e histórico da comunicação organizacional, já fazem aparecer os acontecimentos discursivos20 que podem constituir a formação discursiva da comunicação estratégica no contexto das organizações. Na série de acontecimentos decorrentes dos campos da Comunicação e da Administração, até aqui mencionados, formam-se determinados enunciados que reconstituem o discurso específico da comunicação estratégica no contexto das organizações. Tais formulações foram atravessadas por uma série de fatores exteriores decorrentes das transformações na sociedade. Parte-se de uma sociedade concebida sob um sistema fechado e autoritário, com definição clara dos papéis e das relações de poder, para uma sociedade globalizada, em rede, na qual os sujeitos, atores sociais, não têm identidades ou papéis fixos ou predeterminados. Dessa forma, fazendo referência a Foucault (2012b, p. 38), “o ritmo das transformações não obedecia aos esquemas suaves e continuístas de desenvolvimento que normalmente se admite”. Pelo contrário, atropelaram um status quo e um modus operandi de práticas sociais consolidadas e enraizadas em paradigmas aceitos como verdadeiros. Paradoxalmente a esse ritmo, parece encontrar-se uma sociedade 20 Acontecimentos discursivos, segundo Foucault (2012c, p. 55), devem ser tratados como séries homogêneas, mas descontínuas umas em relação a outras [...] trata-se de cesuras que rompem o instante e dispersam o sujeito em uma pluralidade de posições e de funções possíveis. Na interpretação de Foucault por Castro (2009, p. 25), acontecimento é a modalidade de análise histórica da arqueologia: “Foucault opõe a análise discursiva em termos de acontecimento às análises que descrevem o discurso desde o ponto de vista da língua ou do sentido, da estrutura ou do sujeito. A descrição em termos de acontecimento, em lugar das condições gramaticais ou das condições de significação, leva em consideração as condições de existência que determinam a materialidade própria do enunciado”. 53 congelada nesse status quo em função de hábitos cristalizados, o que dificulta a adesão a novos paradigmas. A partir das formulações aqui colocadas que serão confrontadas, no próximo capítulo, aos conceitos que orientam a prática profissional, apreendidos por meio das entrevistas em profundidade com profissionais de comunicação, parte-se para compreender como apareceu um enunciado e não outro nessa formação discursiva, restituindo a ele sua singularidade de acontecimento. Nessa perspectiva, o enunciado não está restrito à palavra ou ao sentido e sua existência; ele pode estar no campo de uma memória, na história vivida ou na materialidade de um registro, uma política ou uma orientação da gestão. Trata-se assim de compreender o enunciado na estreiteza e singularidade de sua situação; de determinar as condições de sua existência, de fixar seus limites da forma mais justa, de estabelecer suas correlações com os outros enunciados a que pode estar ligado, de mostrar que outras formas de enunciação exclui. (FOUCAULT, 2012a, p. 34). Deve-se ressaltar, ainda, à luz de Foucault (2012a), que os enunciados do discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações estão ligados àqueles que o precedem e àqueles que o seguem. E, ao mesmo tempo em que é único – assim como o é todo acontecimento –, o enunciado também pode ser repetido, transformado e reativado. Recorrendo novamente a Foucault (2012a), pode-se dizer que as formulações até aqui descritas constituem uma sequência de enunciados aos quais se pode atribuir modalidades particulares de existência, dispersos ao longo do tempo, em contextos distintos – e talvez até contraditórios –, relacionados ao objeto específico da comunicação organizacional e a seu discurso. Desenvolve-se neste trabalho uma primeira aproximação que permitiu fazer com que apareçam as relações que sustentam o discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações. Encontramos enunciados dispersos e heterogêneos, mas que coexistem num sistema de formação discursiva, apoiando-se uns nos outros, transformando-se num jogo de revezamento, substituição e transformação, sustentando o que estamos denominando discurso da comunicação estratégica no contexto das organizações. 54 4 A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO DA COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa, estabeleceu-se uma metodologia que contemplou o aprofundamento em relação ao encadeamento teórico acerca da comunicação organizacional, por meio de pesquisa bibliográfica e a investigação empírica que consistiu na realização de entrevistas em profundidade com dez21 profissionais de comunicação que atuam em organizações de diferentes setores, em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. Em relação à construção teórica, buscou-se apreender os elementos conceituais desse saber que podem constituir as regras de formação e, consequentemente, os enunciados do discurso da comunicação organizacional estratégica. Em contraponto, a partir das entrevistas em profundidade, buscou-se evidenciar os reflexos desses construtos na prática profissional, investigando o que orienta conceitualmente a práxis para, com isso, se chegar ao discurso. Deve-se ressaltar ainda que O discurso se constitui em seu sentido porque aquilo que o sujeito diz se inscreve em uma formação discursiva e não outra para ter um sentido e não outro. Por aí podemos perceber que as palavras não têm um sentido nelas mesmas, elas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem. As formações discursivas, por sua vez, representam no discurso as formações ideológicas. [...] O estudo do discurso explicita a maneira como linguagem e ideologia se articulam, se afetam em sua relação recíproca. (ORLANDI, 2003, p. 43). Sendo assim, as entrevistas – que somaram mais de 80 horas de gravaçãoconstituíram o corpus desta pesquisa. Para a definição do objeto empírico, estabeleceram-se como critérios a necessidade de contemplar: a) organizações públicas, da iniciativa privada e não governamentais; b) organizações nas quais a área ou setor de Comunicação tivesse status mínimo de gerência; c) profissionais das diferentes formações (Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas); e d) profissionais com níveis hierárquicos diversos – júnior, pleno e sênior. Deve-se ressaltar ainda que, visando à preservação da identidade, tanto dos profissionais quanto das organizações, ficou acordado a não menção de seus nomes, referenciando apenas o perfil de cada um: tipo de organização e porte, formação dos entrevistados e tempo de trabalho na área de Comunicação Organizacional. 21 Inicialmente, estavam previstos 12 profissionais. No entanto, em uma das organizações, em função de disponibilidade e compatibilidade de agendas, não foi possível a realização de duas entrevistas, o que não comprometeu os resultados em função do nível de saturação alcançado que se perceberá ao longo da análise. 55 4.1 Percurso metodológico A definição das organizações a serem acionadas se deu no primeiro semestre de 2013 e, buscando contemplar universos distintos, optou-se por pesquisar uma organização da iniciativa privada, um órgão federal, uma organização filantrópica e outra de capital misto. Naquela ocasião, foi redigida uma carta (apêndice A) para formalização dos contatos e autorização da organização para a realização das entrevistas, que ocorreram nas dependências de cada uma delas, entre os meses de setembro e novembro de 2013. Para a realização das entrevistas semiestruturadas com os profissionais de comunicação, foi desenvolvido um roteiro (apêndice B), inspirado nas dimensões estratégicas da comunicação organizacional, elencadas pelo modelo de interação comunicacional dialógica (OLIVEIRA, 2002), definido, desde o início da pesquisa, como o referencial que guia a linha de análise. Para o que se propõe na pesquisa, a técnica de entrevistas em profundidade foi imprescindível, pois permitiu observar as regularidades e a dispersão contidas no discurso da comunicação estratégica a partir do que orienta a fala dos profissionais, uma vez que “toda palavra é sempre parte de um discurso. E todo discurso se delineia na relação com outros: dizeres presentes que se alojam na memória” (ORLANDI, 2003, p. 43), em linha com a metodologia arqueológica de Foucault (2012a). Nesse sentido, as entrevistas em profundidade, que constituíram o corpus da presente pesquisa, forneceram “os dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação”. (GASKELL, 2007, p. 65). As entrevistas revelaram o espectro de opiniões e as representações que os profissionais de comunicação, que atuam nas organizações, têm em relação aos construtos teóricos que fundamentam o exercício da comunicação organizacional estratégica. Percebeuse que os profissionais investigados não têm, necessariamente, o mesmo ponto de vista sobre o tema, mas, por outro lado, confirmou-se que “existe um número relativamente limitado de pontos de vista, ou posições, sobre um tópico dentro de um meio social específico” (GASKELL, 2007, p. 68), mostrando o nível de saturação do tema, o que pode ser percebido no mapa construído a partir das falas que conferem uma visão geral dos discursos dos profissionais (apêndice C). Afinal, há um número limitado de interpelações, ou versões, da realidade. Embora as experiências possam parecer únicas ao indivíduo, as representações de tais experiências não surgem das mentes individuais; em alguma medida, elas são o 56 resultado de processos sociais. Neste ponto, representações de um tema de interesse comum, ou de pessoas de um meio social específico são, em parte, compartilhadas. (GASKELL, 2007, p. 71). Com o corpus em mãos, foi necessário definir os procedimentos para sua análise. Optou-se por fazer a análise desse discurso, à luz da arqueologia, mas se restringindo a elementos fornecidos pelo encadeamento teórico desse saber e seu confronto com a fala dos profissionais de comunicação organizacional, entendendo-a como orientadora para o desenvolvimento de suas atividades, a práxis. Para isso, delimitaram-se alguns elementos da análise arqueológica como inspiradores: a) as regularidades – ou curvas – manifestadas nos enunciados, independentemente da época ou se são originais, retomadas ou recopiadas, tanto pelos construtos teóricos como pela fala dos profissionais; b) as relações entre as formações discursivas (observadas a partir do encadeamento conceitual e das entrevistas) e os domínios não discursivos (aqui considerados as mudanças relacionadas à globalização e o advento das tecnologias de informação e comunicação); e c) os procedimentos de controle, interno e externo, presentes nas formações discursivas. Retomam-se, para esta análise, as sete formulações evidenciadas a partir do encadeamento histórico dos construtos acerca da comunicação organizacional estratégica, que podem subsidiar os enunciados desse discurso: a) a relação biunívoca – e fixa – emissor/receptor; b) a necessidade da transmissão de informações por parte das organizações; c) a adoção do conceito de comunicação estratégica como viés do planejamento estratégico oriundo do campo da Administração; d) o surgimento de modelos que focam o aspecto interacional como uma nova forma de se compreender os processos de comunicação; e) a perspectiva de complexidade em contraposição à da simplicidade; f) o processo de construção de sentidos como inerente à comunicação; e g) a concepção da estratégia planejada de comunicação. Esses primeiros achados foram contrapostos ao corpus, que foi categorizado a partir das dimensões estratégicas do modelo de interação comunicacional dialógica (OLIVEIRA, 2002), que assumem os construtos relacionados à perspectiva interacional, constituída pelos aspectos informacionais, relacionais e pela construção de sentidos, inerentes ao processo de comunicação; e num contexto específico, o das organizações. Sendo assim, o corpus foi analisado a partir de elementos da arqueologia, mas buscando o retorno em relação aos aportes conceituais, contidos na fala dos profissionais de Comunicação entrevistados, com base nas seguintes categorias de análise: Comunicação Organizacional (que tratará também da 57 abordagem relativa à Comunicação Estratégica); Comunicação como Processo; Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória; Interação e Informação; Relacionamento com Públicos; e Monitoramento da Comunicação. 4.2 Caracterização descritiva Ao abordar as organizações e profissionais que contribuíram, constituindo o corpus para a realização da presente pesquisa, buscou-se contemplar um universo que pudesse ser representativo para o estudo. No entanto, deve-se destacar que não se faz a análise da atuação de cada uma delas em relação à comunicação, mas sim dos construtos teóricos que podem orientar sua atuação, bem como os enunciados que constroem o discurso da comunicação organizacional estratégica. 4.2.1 Perfil das organizações A organização privada na qual atuam três entrevistados22 (Violeta Montes, Lélia e Gravatá) possui atuação global, mais de 130 mil empregados no Brasil e cerca de 35 mil no Estado de Minas Gerais, com orientações corporativas para o desenvolvimento das ações de comunicação, mas com atuação local. No Brasil, a organização possui 140 profissionais atuando na área de comunicação e, no Estado, 40. Já a organização filantrópica, com atuação regional, possui cerca de 1.300 colaboradores e seis profissionais atuando na Comunicação, implementada há dez anos. Até três anos atrás, conforme as entrevistadas (Imbuia, Bromélia e Catléia), a atuação do setor limitava-se ao atendimento a demandas da diretoria e ao desenvolvimento de peças informativas. A organização de capital misto possui cerca de oito mil empregados próprios e tem sua atuação concentrada no Estado de Minas Gerais, além de operações em outros estados brasileiros e em parte da América Latina. A área de Comunicação conta com 42 profissionais (dentre eles, os três entrevistados: Jacarandá, Jaborandi e Jequitibá) entre efetivos e contratados como prestadores de serviços. 22 Os dez profissionais entrevistados para a pesquisa tiveram seus nomes substituídos por nomes de espécies da flora da Mata Atlântica Brasileira. Tal associação deve-se à necessidade de definir nomes fictícios para não expor os entrevistados conforme já mencionado. 58 A quarta organização, um órgão público, possui cerca de 20 mil servidores em Minas Gerais. Para a atuação da Comunicação, adota diretrizes nacionais, mas também imprime ênfase em demandas locais, e conta com cerca de 40 profissionais na área (uma entrevistada, Braúna), lotados em seis diferentes unidades no município de Belo Horizonte. 4.2.2 Os profissionais que constituíram o corpus Para constituição do corpus, não foi possível encontrar a mesma representatividade das três habilitações que se desejava. Dessa forma, foram entrevistados quatro profissionais com formação em Jornalismo (Bromélia, que atua na organização filantrópica; Braúna, na pública; Lélia, na organização privada; e Jacarandá, na de capital misto); quatro formados em Relações Públicas (Imbuia e Catléia – que também fez uma segunda habilitação em Jornalismo –, ambas atuando na organização filantrópica; Gravatá, na iniciativa privada; e Jaborandi, na empresa de capital misto); e dois com formação em Publicidade (Violeta Montes, da iniciativa privada; e Jequitibá, da organização de capital misto). O tempo de atuação profissional da maioria dos profissionais oscila entre seis e 17 anos. A exceção vai para Catléia e Jequitibá, que estão trabalhando há três anos na área, e Jaborandi, há 35 anos. Bromélia, Lélia e Gravatá têm entre seis e dez anos de atuação na comunicação organizacional; e Imbuia, Braúna, Violeta Montes e Jacarandá, entre 12 e 17 anos. O tempo de conclusão do curso de graduação em Comunicação Social é o mesmo de atuação na área para quase todos os profissionais entrevistados; exceto Jequitibá, que trabalhou oito anos em outra área, e Lélia, dois anos em área diferente da Comunicação depois de formados. Vale ressaltar que, exceto Jequitibá, os demais cursaram uma ou duas especializações. Abaixo, um quadro resumo com o perfil dos profissionais entrevistados. Quadro 1 – Perfil dos profissionais de comunicação entrevistados Nome fictício do Tipo de Formação Tempo (anos) Nível profissional organização profissional atuação C.O. hierárquico Imbuia Filantrópica Rel.Públicas 17 Gerente Bromélia Filantrópica Jornalismo 8 Coordenadora Catléia Filantrópica R.P/Jorn. 3 Analista Braúna Pública Jornalismo 11 Coordenadora Violeta Montes Privada Publicidade 12 Analista 59 Lélia Privada Jornalismo 6 Coordenadora Gravatá Privada Rel.Públicas 10 Gestor Jacarandá Capital misto Jornalismo 16 Gerente Jaborandi Capital misto Rel. Públicas 35 Coordenador Jequitibá Capital misto Publicidade 3 Analista Fonte: Dados da pesquisa 4.3 Categorias analíticas As falas dos profissionais entrevistados, analisadas como elementos constituintes dos enunciados da formação discursiva da comunicação organizacional estratégica, foram agrupadas em seis categorias: a) Comunicação Organizacional (incluindo Comunicação Estratégica); b) Comunicação como Processo; c) Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória; d) Interação e Informação; e) Relacionamento com Públicos; e f) Monitoramento da Comunicação. Tal categorização foi necessária para que se pudesse proceder à análise sistemática do corpus. 4.3.1 Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica Esta categoria é, intencionalmente, a primeira a ser analisada. Por meio dela, busca-se compreender o que os profissionais conceituam como Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica, levando-se em conta os elementos do paradigma clássicoinformacional e os construtos teóricos das duas últimas décadas que enfatizam a necessidade de se pensar a comunicação fundamentada pelo paradigma interacional. A partir dele, a comunicação no contexto das organizações adquire maior complexidade e abrangência, considerando-se a perspectiva do relacionamento, do diálogo e da construção de sentidos, além da informação, elementos inerentes ao processo de comunicação. Tal encadeamento teórico torna a comunicação nesse contexto menos instrumental e mais dialógica e estratégica, ou seja; ela deixa a concepção reducionista da transmissão da informação e passa a ser percebida como a interação entre os interlocutores, atores sociais, na qual ocorre a circulação e a produção de sentidos estratégicos no relacionamento entre a organização e os demais interlocutores. Percebeu-se, durante a realização das entrevistas em profundidade, que os profissionais utilizam comunicação organizacional e estratégica como sinônimos, sem que se 60 estabelecesse um limite conceitual. Visto isso, definiu-se por analisar as categorias Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica em conjunto. Nas falas dos profissionais, Comunicação Organizacional e Estratégica têm os seguintes construtos: é a forma que a empresa utiliza pra dizer pro mercado, pra dizer pro público interno, pra dizer pros stakeholders o que ela quer dizer, divulgar. [...] Então existe uma preocupação muito grande, ainda mais hoje, em fazer com que a comunicação, com que a informação chegue de forma uniforme para todos os stakeholders. [...] Então cada público tem uma visão diferente da instituição. É lógico que eles vão ter porque eles interagem conosco de forma diferenciada. Mas o quê que a gente quer que eles entendam? (Imbuia, 17 anos na área)23. É a comunicação da empresa com seus diversos públicos de interesse, [...] como a empresa leva suas mensagens tanto pra fora quanto pra dentro. [...] A gente desenha as formas, a gente desenha as mensagens, utiliza as ferramentas mais apropriadas pra conseguir levar aquela informação até o receptor. [...] é a área que formata as mensagens de acordo com cada público, você pode falar de um jeito com um público, de outro com outro público, de acordo com o público-alvo escolhe o meio mais adequado pra falar com aquele público-alvo e recebe o feedback daquela mensagem. (Violeta Montes, 12 anos na área)24. Ela [a comunicação] é o instrumento para se atingir vários objetivos dentro de uma organização e aí ela [a organização] pode se (sic) usar desses instrumentos, de ferramentas mesmo para comunicar, para se antever, para se prevenir, as vezes até para [...] reverter uma situação, então são várias questões que compõem uma comunicação organizacional. (Catléia, três anos na área)25. é informar o que se passa aqui dentro, informar as ações e os programas que são desenvolvidos pro público que precisa da organização, então envolve tanto as pessoas que trabalham aqui quanto as pessoas de fora. [...] eu acho que é passar a informação relevante pra sociedade. (Braúna, 11 anos)26. É um meio pelo qual a empresa se relaciona com os seus subordinados, com as suas equipes, pra difundir a sua estratégia. [...] é uma forma de trabalhar e disseminar as informações de maneira que todos tenham conhecimento daquilo que deve ser feito da forma mais adequada. (Jacarandá, 16 anos)27. A comunicação é uma área de facilitação para poder [...] agregar mais participação do empregado, uma área extremamente estratégica dentro desse processo na corporação [...]. Comunicação organizacional é a gestão da comunicação estratégica. (Jaborandi, 35 anos)28. 23 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 24 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 25 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas e Jornalismo que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 26 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização pública, em setembro. 2013. 27 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 28 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 61 comunicar pra mim é o ato de você tornar uma mensagem comum... quando a gente traz pra dentro da questão da empresa, do ambiente organizacional. (Lélia, seis anos na área)29. Pode-se perceber que, para os entrevistados, a ideia de comunicação organizacional está fortemente associada à divulgação da informação e à necessidade de se “levar” ou “dizer” aos públicos de interesse da organização, o que eles precisam conhecer e saber em relação a ela, a partir de sua ótica e de seus objetivos. Ou seja: comunicação organizacional é conceituada como informar, transmitir, falar para o “público-alvo” as mensagens que a organização deseja. Trata-se de uma relação biunívoca, na qual a organização assume, a partir dos enunciados presentes nas entrevistas, o papel fixo de emissora no processo de comunicação. Em contraponto, uma entrevistada, Lélia, traz, mesmo que de maneira incipiente, a ideia de construção de sentidos. Ela discorre sobre a diferença entre concordância e entendimento, deixando implícito que há, na interpretação, um processo de construção e desconstrução de sentido e que somente a transmissão da informação não se mostra suficiente para que a comunicação ocorra: eu acho que a comunicação é você tornar comum a mensagem da empresa com seus públicos, mas aí eu acho que existe o segundo passo que além de tornar comum, de levar essa informação, que ela seja devidamente compreendida. Um passo além [...] que (os públicos) entendam, não significa concordância, por exemplo. Significa entendimento. (Lélia, seis anos de atuação na área)30. Percebe-se ainda, em algumas falas (“cada público tem uma ideia diferente da instituição”, “interagem conosco de forma diferenciada”, “utiliza ferramentas mais apropriadas”, “formata as mensagens de acordo com cada público”), a presença da ideia de interação; no entanto, a partir de uma lógica informacional e não dialógica, sob a qual a organização, firme no seu papel de emissora, deve divulgar sua informação de maneira uniforme, buscando o feedback, elemento constituinte do paradigma informacional. Pode-se dizer que os dez profissionais entrevistados repercutem e reverberam a relação biunívoca e dualista da comunicação organizacional e, dessa forma, em seu lugar de fala, fortalecem enunciados constituindo regularidades de um discurso – independentemente 29 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 30 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 62 das influências que levam à causalidade entre esses sujeitos e os construtos teóricos –, demonstrando a força de um paradigma consolidado e seus axiomas na construção de um determinado discurso. Deve-se ressaltar que a perspectiva da comunicação organizacional presente no encadeamento teórico desse saber, introduzindo os elementos da interação, do diálogo e da construção de sentidos, não foi percebida na fala da maioria dos entrevistados. Por outro lado, percebe-se, de maneira implícita nas entrevistas, a necessidade de legitimar a própria área de comunicação. Ainda nessa linha, outros enunciados presentes nas falas dos profissionais, quando conceituam comunicação estratégica, reforçam a ideia da comunicação como instrumento e ferramenta de suporte à gestão: Quando você busca comunicação estratégica, acho que o profissional busca que a gestão da empresa use a comunicação de forma estratégica para haver os ganhos. [...] É trabalhar para que a empresa, independentemente do que faça, possa utilizar a comunicação para atingir seus objetivos. (Gravatá, dez anos na área)31. o que a gente quer [...] é fortalecer a cultura organizacional, fortalecer a nossa imagem, fortalecer a nossa marca. [...] hoje o foco da comunicação está muito ligado em divulgar estrategicamente, seja através dos veículos de comunicação, seja através da assessoria de imprensa. Então o que a gente quer é fortalecer a comunicação e não ser só o setor que faz o jornal mural, faz o jornal interno, sair um pouco do setor operacional pra que a instituição entenda que nós somos o setor estratégico que tem que estar aliado à diretoria, munido de informações pra que a gente consiga divulgar pro mercado e fazer com que através disso a instituição cresça. [...] criar estratégias de divulgação que possam ser rentáveis em algum momento pra instituição, através da divulgação bem feita. (Imbuia, 17 anos na área)32. precisa ter um vínculo muito estreito com os objetivos de negócio da empresa, [...] acho que a comunicação, se ela está dentro da organização, tem que estar alinhada com os objetivos maiores, não pode ser comunicação pra si mesmo (sic). [...] pra comunicação ser estratégica, precisa de um amadurecimento de objetivos. (Lélia, seis anos na área)33. Alinhamento é uma forma de trabalhar e disseminar as informações de maneira que todos tenham conhecimento daquilo que deve ser feito da forma mais adequada. [os públicos] devem estar alinhados ao que foi estabelecido. A empresa deve se comunicar com o [público] externo da maneira mais adequada para que eles percebam a empresa como ela deseja ser percebida, então as ações de comunicação têm que ser planejadas, pensadas de maneira estratégica para atingir seu objetivo. (Jacarandá, 16 anos na área)34. 31 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 32 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 33 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 34 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 63 Os enunciados presentes nas falas acima trazem claramente os aportes teóricos do campo da Administração, segundo o qual a comunicação é utilizada como ferramenta e instrumento de controle do planejamento estratégico conforme mencionado por Mintzberg (2004). Segundo essa perspectiva, a comunicação é fundamental para o sucesso do planejamento estratégico da organização que deve ser conhecido e compreendido interna e externamente, conforme os interesses, objetivos e metas organizacionais. Nesse sentido, retomando Mintzberg (2004, p. 280), a comunicação é fundamental “para buscar o apoio tangível, e também moral, dos influenciadores” nos planos definidos, ideia que pode ser percebida nas falas dos profissionais. Em consonância com tais construtos, os profissionais associam a comunicação com a ideia de alinhamento e da busca por engajamento dos públicos à organização. As palavras alinhar, alinhada, alinhamento estão presentes nas falas de todos os entrevistados. Estas palavras reforçam a ideia de comunicação como instrumento e ferramenta vinculada aos objetivos da empresa, refletindo, mais uma vez, a lógica informacional. Evidentemente que a comunicação precisa estar atenta aos objetivos organizacionais, mas isto não impede que perceba o público como interlocutor da relação a ser estabelecida. Conforme já mencionado, a comunicação organizacional é usada como sinônimo de comunicação estratégica. Deve-se ressaltar ainda que, nas menções feitas à comunicação organizacional, a maioria dos profissionais entrevistados a coloca como estratégica quando passa pela gestão da empresa, conhece os objetivos organizacionais e, assim, pode trabalhar a divulgação e a transmissão das informações em consonância – ou em linha – com tais objetivos. Por vezes, o conceito de estratégia é também associado à definição das ações, canais, formato e linguagem em função dos públicos que se quer atingir. Deve-se ressaltar ainda que a perspectiva de estratégia planejada de comunicação no contexto das organizações, orientada a partir do paradigma interacional e do conceito proposto por Pérez (2012a), também não se mostrou presente na fala dos profissionais de comunicação entrevistados. Em termos conceituais, predominou a definição mais clássica e ligada ao paradigma militar, segundo a qual a estratégia é pensada para atingir o alvo; nesse caso, o público de interesse da organização, com as informações que essa deseja tornar públicas. Importante mencionar que dois entrevistados relataram que os construtos conceituais que fundamentam a práxis da comunicação nesse contexto, têm relação com a formação dos profissionais, ainda sedimentada por uma base funcionalista e reducionista do processo de comunicação: 64 Eu me formei por uma grade de comunicação mais antiga e eu acho que os profissionais, principalmente de jornalismo e de publicidade, não saem da faculdade muito prontos para a comunicação organizacional. Hoje a grade de comunicação foi um pouco mais diversificada, foi ampliado o conteúdo que diz respeito à comunicação organizacional, mas eu acho que ele não é bem trabalhado pelas universidades. A gente sabe, eu tenho essa impressão e pelo que converso com algumas pessoas que estão no mercado há menos tempo, dois, três anos, elas têm a mesma sensação e saíram um pouco órfãos pra trabalhar com comunicação organizacional. [...] Então, acaba que o profissional atua muito de forma experimental e não encontra forma de fazer aquilo de uma forma melhor, tendo em vista o que ele aprendeu de conceitos. (Bromélia, oito anos na área)35. “na teoria ela [a comunicação] é muito bonita, o papel dela é muito bonito e eu acho que além de ser bonito é muito importante [...]. Eu acho que é muito bacana se ela acontecesse assim. Mas infelizmente não acontece”. (Catléia, três anos na área)36 Pode-se dizer, a partir do relato de Bromélia e Catléia, que a presente pesquisa aponta outro ponto importante na construção do discurso da comunicação organizacional estratégica: o distanciamento entre teoria e prática para se pensar a comunicação organizacional. Tais depoimentos nos levantam outra questão que leva a articular a formação acadêmica e os conceitos que subsidiam a práxis: é perceptível, na fala dos profissionais, o distanciamento desses em relação aos construtos mais recentes acerca da comunicação e da comunicação no contexto das organizações, trabalhados nesta pesquisa. O que fundamenta os enunciados de seus discursos são os construtos conceituais amparados pelo paradigma clássicoinformacional, que se tornou hegemônico, criando axiomas e influenciando fortemente a prática da comunicação nesse contexto, conforme já mencionado. Quadro 2 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL / COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA Curvas/regularidades Relação entre formações Procedimentos de manifestadas nos discursivas (encadeamento controle enunciados conceitual e práxis) Comunicação Posição fixa emissor/receptor Comunicação como organizacional e Necessidade de transmissão da instrumento e estratégica como divulgação de informação 35 informação Comunicação estratégica como ferramenta de controle no processo de gestão Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 36 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 65 para públicos de interesse viés do planejamento estratégico, a da organização partir do campo da Administração organizacional Fonte: Elaborado pela autora Quadro 3 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação Organizacional e Comunicação Estratégica PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL/ COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA Dizer/divulgar/comunicar/informar/informar as ações/levar suas mensagens/divulgar estrategicamente Receptor/público de interesse Objetivos/atingir objetivos estratégicos/atrelar às atividades da empresa/ comunicação para atingir os objetivos da empresa/usar a comunicação para atingir seus objetivos/estar ligada à estratégia da empresa/ações para atingir um objetivo Comunicação da empresa com seus públicos/especificidades de cada público/definir a forma, a mensagem chave que vamos passar de acordo com cada público Ferramenta/instrumento/meio Alinhamento/alinhar/alinhando/entendimento de todos Fonte: Elaborado pela autora 4.3.2 Comunicação como Processo Buscou-se identificar, na fala dos profissionais entrevistados, a ideia de comunicação como processo, postulada por Oliveira e Paula (2012), segundo a qual a comunicação é compreendida como um processo dinâmico de atividades ou atos interdependentes, realizados em uma sequência. Tais atividades ou atos apresentam uma unidade, numa visão ampla e integrada, combinando e articulando os fluxos informacionais e relacionais, que podem ter etapas parcialmente concluídas, mas não são apresentados como produtos. Acho que seria pensar e planejar as atividades desenvolvidas pra poder executar, conseguir executar essas tarefas, todas essas funções e atividades de forma a difundir as informações. (Braúna, 11 anos na área)37. Tem o processo de comunicação externa que é a visibilidade da nossa marca, da nossa empresa pra sociedade, pro público externo, processo de comunicação interna 37 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização pública, em setembro. 2013. 66 é o desdobramento das mensagens pro público interno; tem essa divisão. (Violeta Montes, 12 anos na área)38. são processos da área de comunicação, mas que envolvem a empresa como um todo. [...] são processos divididos em comunicação interna, comunicação externa e abriria a externa em publicidade. [...] é perceptível nos planos, nas formas de atuação que você consegue mapear o que é de cada processo; eles vão fazer uma entrega grande para os clientes deles que envolva todos esses processos, mas você consegue percebê-los de forma separada. (Gravatá, dez anos)39. os processos de comunicação, são os planos de comunicação, é o trabalho que a gente realiza com as áreas para tornar viável todas as necessidades, não só das áreas como da própria área nossa, da área de comunicação e da diretoria. (Jaborandi, 35 anos)40. são frentes de trabalho distintas com início, meios e fins diferentes. Então você consegue distinguir ali [...] o ponto de partida; pode vir da comunicação interna, pode ser uma demanda do gerente. [...] é processo exatamente por essa questão do início, meio e fim quase como particularizado. (Jequitibá, três anos na área)41. pensar e planejar as atividades desenvolvidas para poder executar [...] as tarefas, todas essas funções e atividades, de forma a difundir as informações. (Braúna, 11 anos na área)42. seguir um processo para que ela [a informação] possa ser divulgada ou através de um veículo ou através da própria diretoria, de uma palavra, da formalização de um evento, de um seminário, de um encontro com público interno, então trazer a informação pra cá e fazer com que ela se torne realidade. Então hoje a comunicação não é um processo aqui porque as demandas vêm muito picadas pra comunicação e vêm já formatadas como devem ser feitas. (Imbuia, 17 anos na área)43. [a equipe de qualidade] trouxe esse conceito de se trabalhar como processo e a comunicação se inseriu nisso [...], trabalhando como um processo com metodologias, com procedimentos padrão para atividades que são corriqueiras, que são cotidianas. [...] A gente tem o procedimento operacional padrão para redigir o jornal, para apuração, definição de pauta, isso tudo é feito sempre da mesma forma, com prazos específicos para cada atividade [...], existe esse processo até chegar no produto final. (Bromélia, oito anos na área)44. 38 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 39 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 40 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 41 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 42 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em órgão público, em setembro. 2013. 43 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em instituição filantrópica, em outubro. 2013. 44 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 67 Quando falo de um processo de comunicação eu entendo que existe uma cadeia: não são áreas isoladas, e aí eu estou falando de publicidade trabalhando na sua caixinha, eventos trabalhando na sua caixinha; mas o entendimento da comunicação como algo transversal a todas essas caixinhas. E se for nesse sentido eu entendo que aqui a gente trabalha comunicação como um processo. (Lélia, seis anos na área)45. As falas dos entrevistados indicam que não há clareza quando se conceitua comunicação como processo. De maneira geral, a percepção desse conceito está relacionada à organização de determinadas atividades ou dos passos para a produção da mensagem/informação, remetendo à ideia de gestão das atividades de comunicação ou de organização das tarefas e “entregas” que precisam ser feitas, de maneira linear. Deve-se ressaltar que o termo “entregas” é comum no ambiente organizacional, usado também de maneira corriqueira pelos profissionais entrevistados para se referir a atendimento a demandas ou a desenvolvimento de ações e atividades de comunicação. Uma entrevistada associou a ideia de comunicação como processo às certificações de qualidade que são almejadas pelas organizações, em especial, a certificação ISO 900046. Importante destacar que, ao fazerem a reflexão sobre o conceito de comunicação como processo e o atendimento a demandas, os profissionais levantam a questão do cumprimento de tarefas em contraponto ao desenvolvimento da comunicação de maneira estratégica. Definemse como tarefeiros em função das demandas e exigências de mercado: aqui na instituição eu não vejo ela [a comunicação] como um processo não. A gente é tarefeiro às vezes com um fim específico e não como uma evolução de alguma coisa que diz o processo. [...] pela dinâmica do mercado, das empresas estarem tendo que apresentar resultados, da concorrência que é muito grande; então eu acho que tudo isso faz com que a comunicação seja mais deixada como tarefeira mesmo. [...] as demandas são tão grandes eu acho, essa parte de tarefa ela exige tanto do profissional que eu acho que sobra pouco tempo. (Catléia, três anos)47. [o profissional de comunicação] vai entregando, é uma área de muito serviço, que vai entregando serviço para outras áreas. [...] é aquele que tira atendimento da padaria: quer pão, tome pão, quer uma empada, tome uma empada (sic). (Gravatá, dez anos na área)48. 45 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 46 A ISO ou International Organization for Standardization, é uma organização não governamental, fundada em Genebra em 1947, que designa uma série de normas técnicas internacionais que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para as organizações, independentemente de porte, área ou localização. Nas organizações, a certificação ISO já é aplicada às áreas de comunicação, certificando produtos e processos de comunicação. 47 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas e Jornalismo que atua em instituição filantrópica, em outubro. 2013. 48 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 68 O profissional tarefeiro, conforme definiu Gravatá (acima), é o que se preocupa com as “entregas” que precisam ser feitas em detrimento do pensar estratégico. Segundo ele, esse profissional não pensa sobre a comunicação ou o processo de comunicação no contexto das organizações, mas nas entregas e cumprimento das demandas que aparecem no dia a dia. A partir da fala dos entrevistados, nota-se que não há clareza em relação ao conceito de comunicação como processo, no sentido proposto pelo modelo de interação comunicacional dialógica, postulado por Oliveira (2002), como uma das dimensões estratégicas da comunicação. A partir da análise dos enunciados presentes nas falas dos profissionais, apenas uma definição da comunicação como processo foi apresentada aproximando-se do conceito aqui trabalhado. Conforme essa fala, comunicação como processo implica a existência de uma cadeia que integra os diferentes campos de atuação da comunicação, compreendida como algo transversal dentro da organização, numa aproximação também com os construtos de comunicação integrada. A organização das atividades de comunicação equivalendo à comunicação como processo pode estar relacionada à implantação dos modelos de gestão nas organizações, que adotam uma perspectiva linear da comunicação, pensada como ferramenta de controle e gestão e, portanto, enunciados que estão relacionados ao paradigma informacional, constituindo o discurso da comunicação organizacional estratégica. Quadro 4 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Comunicação como Processo COMUNICAÇÃO COMO PROCESSO Curvas/regularidades Relação entre formações Procedimentos de manifestadas nos discursivas (encadeamento controle enunciados conceitual e práxis) Desenvolvimento das atividades de comunicação para uma Necessidade de transmissão da informação Planos de comunicação alinhados como ferramenta estratégica entrega alinhada aos objetivos organizacionais Fonte: Elaborado pela autora Quadro 5 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Comunicação como Processo PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM 69 COMUNICAÇÃO COMO PROCESSO Seguir um processo para que ela [a informação] possa ser divulgada A gente estabeleceu uma política de qualidade [...], e aí [...] esse conceito de trabalhar como processo/Existe esse processo até chegar no produto final Tarefeiros com um fim específico/As demandas grandes/tarefa exige do profissional/É um profissional muito de entrega A gente tem diversos processos [comunicação interna, externa], mas a gente trabalha muito integrado/Existe uma cadeia [de atividades], não são áreas isoladas/São processos de comunicação que envolvem a empresa como um todo Alinhados à missão e à visão da empresa São planos de comunicação/São ferramentas estratégicas/Frentes de trabalho distintas com início, meio e fim/Nos planos você consegue mapear o que é de cada processo/fazer uma entrega grande para os clientes [internos, áreas da organização] Fonte: Elaborado pela autora 4.3.3 Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória A inserção da comunicação na cadeia de decisões é outro componente da dimensão estratégica da comunicação organizacional. Conforme postulam Oliveira e Paula (2007, p. 45), ela “é um requisito para orientar a análise de situações e cenários que afetam os atores sociais e a adoção, pela organização, de mecanismos que considerem expectativas e demandas desses atores”. Sendo assim, quando inserida na cadeia decisória, a área de comunicação e seus profissionais são convocados a participar da tomada de decisões importantes para a organização, buscando contribuir com a análise de impactos dessas em relação aos interlocutores que estão em relacionamento com a organização, o que já se mostra presente na práxis, a partir dos enunciados que constituem as falas dos entrevistados: ela [a comunicação] pauta algumas ações operacionais. [...] Sempre, quando tem um assunto de relevância estratégica para a empresa, a comunicação é chamada à mesa pra discutir junto. [...] A decisão da empresa a gente não consegue influenciar; a gente faz análise do cenário, apresenta para o gestor, mas a decisão é dele. Mas eu acho que é uma forma de ajudá-lo a tomar decisão. (Violeta Montes, 12 anos na área)49. 49 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 70 O grupo gestor foi criado há quatro anos e meio e, na segunda modificação a comunicação já foi inserida. [...] Ele é consultado, ele é chamado para as decisões mais importantes. [...] A diretora atual faz questão de participar então, nessa gestão, [a comunicação] já teve um papel maior. Antes disso não, a comunicação era um setor muito alheio às decisões da instituição. (Bromélia, oito anos na área)50. A gente tem essa clareza que nós somos uma área de apoio e que trabalhamos para o negócio da organização. [...] Eu vejo que a comunicação é uma área, aqui hoje, dentro da empresa, que é consolidada. Ela é chamada para mesas da alta diretoria, para conversar sobre temas que são estratégicos, em momentos de crise, ela é uma área que realmente é consultada. Eu sinto que ela é ouvida dentro da empresa, em momentos de decisões importantes. (Lélia, seis anos na área) 51. hoje, os profissionais de comunicação têm assento na mesa de decisões, seja de novos negócios, seja de Comitê quando tem crises. [...] Então eu acho que evoluiu muito [a área de comunicação] e alcançou um respeito. O próprio gestor, a gestão da empresa sabe a importância de ter a comunicação, de usar a comunicação para que as ideias e soluções possam ser mais assertivas e benéficas pra organização. (Gravatá, dez anos na área)52. a criação de uma diretoria de comunicação [...] reforça a presença e o peso da comunicação nas decisões da empresa, então isso aconteceu há três anos e a gente percebe internamente como as áreas da empresa, de uma certa forma, elas respeitam, estão atentas às questões que podem impactar a marca, a reputação, a imagem da empresa e não se posicionam, principalmente externamente, sem que a comunicação seja envolvida. (Jacarandá, 16 anos na área)53. Percebe-se grande avanço quando se busca identificar a inserção da comunicação na cadeia de decisão. De forma geral, segundo os profissionais entrevistados, a comunicação, nas organizações nas quais atuam, já faz parte da cadeia decisória. Em duas das organizações, a área possui posição hierárquica de diretoria e, em outra, assento no grupo gestor, que reúne representantes das diferentes áreas de toda a organização, convocados em momentos de tomada de decisões importantes. A atuação da área como suporte na tomada de decisões e em processos de gestão revela enunciados que indicam um novo olhar para o processo de comunicação nas organizações, que passa a ser considerado em momentos importantes, fornecendo informações que podem subsidiar a tomada de decisão. Dois entrevistados, no entanto, mencionam a dificuldade de uma atuação decisória da comunicação, pelo fato de que “todos entendem de comunicação” e da visão da comunicação como tarefeira, sendo procurada para consulta, sem, contudo, ter poder de decisão: 50 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização filantrópica, em outubro. 2013. 51 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada, em novembro. 2013. 52 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em novembro. 2013. 53 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 71 os empresários têm muita visão de que eles também têm que interferir na comunicação, de que eles também entendem de comunicação, mas a gente sofre, acaba sofrendo vários tipos de interferências que ou eles tornam o processo mais moroso ou isso faz com que a gente tenha vários ajustes de produção de material, de produção de veículos ao longo do caminho. [...] hoje, a área está virando um pouco a chave [...], era uma área completamente reativa. Era aquela área assim: diretoria pedia, a gente fazia. (Imbuia, 17 anos na área)54. quando você trabalha o seu planejamento sem estratégia você vai ser o tarefeiro, aquele que tira atendimento da padaria (sic). Quer pão tome pão, quer uma empada toma empada. Se você trabalha sem planejamento, sem estratégia, não fizer parte da gestão, você vai ser só um tarefeiro. (Gravatá, dez anos na área)55. Alguns profissionais mencionam ainda que o posicionamento da comunicação no processo decisório, além de estar relacionado ao perfil da organização, depende diretamente do perfil e da postura do gestor da área de comunicação. Na opinião de alguns entrevistados, mesmo que a comunicação não faça parte da cadeia decisória, o gestor precisa conhecer a abrangência da área para que possa argumentar a respeito dos processos e ações de comunicação: é preciso estar no lugar [fora do escritório] pra conhecer os seus públicos. [...] Não é a gestão da empresa, eu acho que é a gestão da comunicação, [...] você ter essa visão integrada, de comunicação integrada, de ir a campo, é equipe, não é empresa, é gestão da comunicação. [...] Não tem verba pra viajar, isso pode acontecer, mas, sei lá se você tem uma boa gestão você consegue argumentar. (Violeta Montes, 12 anos na área) 56. [o gestor] enquanto profissional de comunicação, também deve se impor, questionar. (Jequitibá, três anos na área)57. Observa-se, a partir das entrevistas, que a dimensão da inserção da comunicação na cadeia decisória das organizações já se mostra presente nos enunciados do discurso da comunicação organizacional estratégica, como suporte e orientação à gestão. A presença da área na cadeia decisória é, certamente, um avanço no discurso e na práxis. No entanto, de maneira geral, sustentados pelas falas dos profissionais, pode-se perceber que a área tem sua importância percebida pela cadeia decisória no suporte à tomada de decisões e no desenvolvimento dos veículos e canais de comunicação; não necessariamente na tomada 54 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica, em setembro. 2013. 55 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 56 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada, em outubro. 2013. 57 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização de capital misto, em novembro. 2013. 72 conjunta de decisões organizacionais, mas na definição estratégica do destino ou da produção da informação, ainda com foco na tratativa da informação. Quadro 6 – Elementos que formam os enunciados relativos à Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória INSERÇÃO DA COMUNICAÇÃO NA CADEIA DECISÓRIA Curvas/regularidades Relação entre formações Procedimentos de manifestadas nos discursivas (encadeamento controle enunciados conceitual e práxis) Posição fixa emissor/receptor Comunicação como Comunicação executora e suporte, usada Necessidade da transmissão da controlada pela gestão, em função das demandas como parte do controle informação da organização organizacional Fonte: Elaborado pela autora Quadro 7 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Inserção da Comunicação na Cadeia Decisória PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM INSERÇÃO NA CADEIA DECISÓRIA [a comunicação] Faz parte do grupo gestor [...]/É chamado para as decisões mais importantes/É consultada É muito de suporte/Somos uma área de apoio/Ela não é de decisão, mas de suporte Varia muito de gestão/A gestão usa a comunicação, com alguns objetivos/comunicação é embasadora da gestão/A gestão da empresa sabe a importância de ter a comunicação, de usar a comunicação As áreas da empresa [...] respeitam a comunicação É um setor de execução/Aqui a gente cumpre ordem/Está alinhada aos processos/Em algumas situações [a área de comunicação] é demandada sem pudor Fonte: Elaborado pela autora 4.3.4 Interação e Informação Esta categoria busca enfatizar a compreensão e a relação entre interação e informação no processo de comunicação. Se a perspectiva da informação enfatiza a divulgação e transmissão da informação, a da interação “pressupõe a circularidade de discurso entre os 73 envolvidos, o que reforça a importância da interlocução” (OLIVEIRA; PAULA, 2007, p. 23). Segundo o modelo de interação comunicacional dialógica, essa interação ocorre no espaço comum no qual os diferentes interlocutores, dentre eles a organização, estão em diálogo constante; em contraponto ao modelo clássico-informacional que investe na unilateralidade e na fixação de papéis emissor/receptor. Deve-se ressaltar a importância da informação também nos processos e atos interacionais, mas que essa não deve ocupar a sua centralidade, o que parece mais comum, a partir dos enunciados presentes nas falas dos profissionais: eu acho que há uma necessidade cada vez mais premente de não se parar no ato de transmitir somente a mensagem, mas de buscar canais de diálogo, de retorno. [...] abrir canais de diálogo eu acho que é um grande desafio hoje para qualquer instituição. Hoje, acredito que façamos bem essa transmissão. Sabemos da importância do diálogo, mas ainda não chegamos lá. [...] A comunicação aqui é informacional; acho que [trabalhar o interacional] é uma questão de amadurecimento da organização e do profissional. (Lélia, seis anos na área)58. A gente tem um jornal bimensal, também impresso que vai para cada colaborador, chega na casa dele, a gente tem urnas internas na instituição e a gente tem alguns eventos internos de integração. Por exemplo, dia do trabalhador; a gente sempre faz um teatro motivacional e todos os colaboradores são contemplados. A gente tem os eventos aniversariantes do mês, dia dos profissionais, tem esses eventos comemorativos... (Bromélia, oito anos na área)59. Informacional é mão única. Você informa, pronto acabou. Interacional você passa aquela mensagem, espera o retorno e vai construindo o significado. Vai e volta. Você faz o ciclo da comunicação completa: emissor, meio, receptor, meio, mensagem e feedback. (Violeta Montes, 12 anos na área)60. A gente tem inclusive o Comitê de Comunicação [...] onde a gente tem um representante de cada uma das diretorias para poder trazer as pautas para serem discutidas, serem analisadas e a gente fazer uma seleção daquelas que a gente julga ser mais oportunas ou mais estratégicas para poder divulgar nos nossos meios de comunicação interna ou externa. (Jaborandi, 35 anos na área)61. Eu acho que informacional é uma comunicação voltada só pra informar, não é uma via de mão dupla, é uma via de mão única, e a interacional é onde tem uma interação, uma via de mão dupla, tem um diálogo, consegue ter um retorno daquela informação se tornando um diálogo. (Gravatá, dez anos na área)62. 58 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 59 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional Jornalismo que atua em organização filantrópica em setembro. 2013. 60 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 61 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização de capital misto em novembro. 2013. 62 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 74 eu chamo de comunicação relacional quando a gente quer divulgar alguma coisa, mas pra um público aberto. [...] quando eu vou fazer uma campanha de prevenção à saúde e [...] eu quero atingir qual público? Eu quero atingir todo mundo que está acima do peso, que pode chegar à obesidade, então eu vou fazer uma campanha pro meu público interno. [...] uma campanha de interação que aquelas pessoas que estão fora do peso se conscientizem, comecem a se preparar para participar de uma campanha, façam inscrição. (Imbuia, 17 anos na área)63. Interessante notar que os profissionais entrevistados, de maneira geral, levantam a necessidade de se estabelecer maior interação nos relacionamentos com os públicos, o que sugere uma predisposição para incorporar o paradigma interacional ao discurso e à práxis da comunicação organizacional estratégica. Exemplificam ainda a realização de atos interativos (reuniões de comitês e conselhos editoriais, nas quais o empregado tem a oportunidade de sugerir pautas para serem avaliadas pela área de comunicação; reuniões de pré-testes para o desenvolvimento de alguma ação de comunicação, teatros motivacionais, aniversariantes do mês ou grandes campanhas) como evidência da comunicação interacional e/ou relacional no seu dia a dia, no entanto, presos à lógica informacional. Também a partir da análise das falas, parece ter mais peso a ideia de que a interação esteja associada – ou reduzida – a ações que buscam o feedback, ou seja: o retorno ou opinião dos interlocutores em relação à comunicação já divulgada ou ao desenvolvimento de eventos, e não a construção conjunta dessa comunicação. Deve-se ressaltar, como já mencionado anteriormente, que a interação também ocorre por meio da informação compreendida como um processo de troca, mas não se restringe à opinião de um determinado público, em função dos objetivos organizacionais. Apesar dessa predisposição pela perspectiva interacional, os profissionais reconhecem e ressaltam o fato de trabalharem mais a perspectiva informacional e que na práxis, ou no dia a dia, as ações e atividades de comunicação são de cunho informacional, com foco nos veículos e no atendimento a demandas. Evidenciam, assim, essa característica como uma regularidade presente nos enunciados e na formação discursiva da comunicação organizacional estratégica. Nesse sentido, pode-se dizer que os profissionais conhecem e reconhecem a necessidade de se trabalhar o interacional, mas estão presos a um discurso e uma práxis informacional. Tal questão traz novamente à tona a força de um paradigma cujos axiomas já estão consolidados, proporcionando certa comodidade e conforto à práxis. Retomando Berger e Luckmann (2012), essa comodidade e o conforto gerados pela força do hábito, eximem o sujeito da carga de se tomar decisões, conferindo-lhe “um alívio psicológico que tem por base 63 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica em setembro. 2013. 75 a estrutura instintiva não dirigida do homem” (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 76), o que pode ser percebido a partir dos enunciados dos profissionais: a gente vem historicamente de modelos que não conversavam nada, que não comunicavam nada. A organização existia e ponto. Independentemente de quem ela impactava ou enfim, o empregado ele ia lá cumpria seu horário de trabalho, ia embora. Então, isso é muito recente, eu acho que a gente tem caminhado, tem avançado e acho que essa comunicação interacional ela é um passo a ser dado, e acredito que na maioria das organizações. (Lélia, seis anos na área)64. Ela é mais informacional. Deveria ser mais interacional, a gente vem discutindo algumas formas de fazer com que ela seja mais interacional, mas, hoje ela está mais informacional. Talvez pela cultura, pelo tipo de produto que ela [a organização] oferece, pela forma como ela está inserida no mercado, talvez até um certo comodismo, vamos dizer assim. (Jacarandá, 16 anos)65. é mais fácil fazer informacional. É mais fácil, é mais cômodo. Não é muito cômodo? Eu preciso passar uma informação; pá, jornal mural, não é muito mais fácil? [risos]. Fácil não é não. Mas muitas vezes a gente faz é isso mesmo”. (Violeta Montes, 17 anos na área)66. Por outro lado, mas ainda nesse viés, dois entrevistados colocam que a hegemonia do paradigma clássico-informacional é decorrente do que a organização busca em relação à sua comunicação: De forma geral, acho que as empresas buscam só passar informação. Acho que é mesmo só informar, as empresas hoje estão no momento de só informar. Acho que o caminho, o próximo passo, seria ter uma interação maior, melhor e ser mais estratégico e está muito ligado ao fato de você ser uma comunicação que só informa com o de tirar pedido da padaria e ser pouco estratégico (sic). [...] evoluindo nessa pirâmide, aí você consegue se tornar mais próximo, estratégico e deixar de ser simplesmente comunicação informacional. (Gravatá, dez anos na área)67. há ainda a postura da empresa e pela natureza mesmo quando você vê a atuação da organização [...], você vê que ela é muito reativa, ela é muito estática, muito de informação, ela é muito de caráter de informação. [...]de prestar contas aos públicos, mas sem abrir muita margem para retorno, pra poder alterar diante do que eles enxergam. (Jequitibá, três anos na área)68. 64 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 65 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de capital misto em novembro. 2013. 66 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 67 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 68 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização de capital misto em novembro. 2013. 76 A partir do que aqui foi colocado, pode-se perceber a hegemonia do paradigma clássico-informacional na formação do discurso da comunicação organizacional estratégica. Retomando Morin (2012b), conclui-se que esse paradigma orienta a construção dos conceitos e dos discursos, gerando enunciados diferentes, mas ainda fundamentados nesse, o que faz com que os profissionais conheçam, pensem e ajam segundo conceitos e operações lógicas cirstalizados e inscritos culturalmente neles, simplificando a complexidade do real, ou do processo de comunicação organizacional estratégica. Pode-se dizer, analisando as falas dos profissionais, que isso decorre tanto em função da postura das organizações como dos profissionais em relação ao processo de comunicação. Nesse sentido, em alusão a Berger e Luckmann (2012), conclui-se, subsidiados por tais relatos, que o paradigma informacional, que ainda fundamenta o conhecimento e o discurso da comunicação organizacional estratégica, é suposto como certo ou adequado, pois já se tornou parte da vida cotidiana profissional. Em contraponto, a análise das entrevistas mostra que os profissionais reconhecem que a comunicação não pode mais se restringir aos fluxos informacionais, hoje insuficientes, devido à complexidade dos processos comunicacionais, conforme já colocado por Oliveira e Paula (2007). Pode-se dizer que a percepção e o reconhecimento dos profissionais da necessidade de se considerar o interacional na práxis mostra-se iminente já com o desenvolvimento de atos interativos e a busca de se considerar mais as necessidades e expectativas dos interlocutores, ainda que numa lógica informacional. Quadro 8 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Interação e Informação INTERAÇÃO E INFORMAÇÃO Curvas/regularidades Relação entre formações Procedimentos de manifestadas nos discursivas (encadeamento controle enunciados conceitual e práxis) Feedback ou retorno da Posição fixa emissor/receptor Comunicação informação divulgada Necessidade de transmissão da permanece com foco na Necessidade premente de se buscar a interação informação A perspectiva da complexidade em transmissão, com a organização ocupando o Consolidação de uma contraponto à da simplicidade lugar de emissor e com práxis, cujos construtos (busca, incipiente, pela interação) a ideia de controle teóricos encontram-se no Atos interativos 77 paradigma clássicoinformacional Fonte: Elaborado pela autora Quadro 9 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Interação e Informação PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM INTERAÇÃO E INFORMAÇÃO Tem duas formas de ferramentas, mas acho que as que sobrepõem são as informacionais Interação, via de mão dupla/retorno daquela informação, se tornando um diálogo Quando o público colabora com aquele mural, quando leva informação pra lá A gente deveria ouvir mais, mas a tônica é mais da empresa para o empregado que do empregado para a empresa A gente fica tão imerso nas atividades rotineiras, que às vezes esquece um pouco de ouvir o outro lado. Fonte: Elaborado pela autora 4.3.5 Relacionamento com os Públicos Em função da organização da sociedade atual em rede e dos múltiplos papéis desempenhados pelos sujeitos que dela fazem parte, é imprescindível que a organização busque compreender os públicos com os quais se relaciona, suas demandas e expectativas, fazendo a gestão desses relacionamentos. Essa gestão propicia a identificação dos interesses dos públicos e, com isso, oportunidades de interação e diálogo. Deve-se ressaltar que, nessa perspectiva, os públicos passam a ser reconhecidos como interlocutores, atores sociais, em contraponto à ideia de público-alvo, ou seja: aquele que se busca atingir por determinada ação de comunicação, perspectiva mais presente nas falas dos profissionais: a gente precisa tratar públicos diferenciados de forma diferenciada: eu não vou divulgar pra um jornal do público externo uma mudança de gestão interna da instituição, isso pra eles não é interessante. Eles querem saber os projetos que vão poder contribuir, eles querem saber os congressos, os eventos. [...] Então, é importante que eu entenda do público interno, do formador de opinião, o que ele quer ler no jornal, o que ele quer ver no veículo que ele recebe. [...] É importante que eu saiba de cada stakeholder o que é do interesse dele pra, em cima disso, a gente fazer um trabalho de divulgação prévia. (Imbuia, 17 anos na área)69. 69 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização filantrópica em setembro. 2013. 78 [a comunicação age como] mediadora entre a empresa e esses públicos [os de relacionamento] mostrando exatamente aquilo que a empresa pretende fazer, pretende entregar. Então, se tem por exemplo determinada situação que deve ser levada para esses públicos, a comunicação vai fazer da maneira mais adequada considerando as particularidades de cada um deles de maneira [...] alinhada. É a mesma mensagem para públicos distintos e ela precisa ser adequada para esses públicos e é papel da comunicação fazer isso. (Jacarandá, 16 anos na área)70. a gente tem que considerar o público na hora de falar com ele; tenho o meu público operacional que é meu chão de fábrica, meu público não tem e-mail, [...] tem um nível de escolaridade menor que o restante dos empregados. Então, a forma pra eu falar pro público operacional que trabalha em regime de turno é diferente da forma de eu falar pro público administrativo por exemplo. E os meios são diferentes também. (Violeta Montes, 12 anos na área)71. a partir do momento que [a organização] busca a participação do empregado para poder trazer as experiências que ele tem no mercado de trabalho dele, para relatar isso nos seus meios de comunicação [da organização] e buscar o envolvimento de outros empregados. Às vezes você gera um interesse, uma busca por conhecimento, uma participação. (Jaborandi, 35 anos na área)72. A gente tem um Comitê de Comunicação por localidade, então são pessoas das áreas operacionais que estão nas pontas e que além de cederem informações para nos ajudar com essa replicação, são também fontes pra gente, elas nos contam dentro desse Comitê se uma campanha foi bem recebida; se não foi, porquê que não foi; o que estão achando daquela mensagem, a gente faz pré-testes com eles, mas ainda é um grupo. Esse grupo tem papel consultivo também, ele é um grupo que nos ajuda replicar, é um grupo de realiza pré-testes, é um grupo que nos ajuda com questão de leitura de cenário nas áreas e é um grupo consultivo onde a gente pergunta: vocês acham que isso vai dar certo? (Lélia, seis anos)73. Ao tratar sobre o relacionamento com os públicos, os enunciados presentes nas falas dos profissionais retornam, novamente, ao paradigma informacional. A ênfase na gestão dos relacionamentos a partir dos discursos dos entrevistados está no conhecimento do perfil dos públicos para que a comunicação estabeleça a melhor forma de se transmitir a informação: o canal adequado, a mensagem, a linguagem e o formato. Nesse sentido, pode-se dizer que os públicos são vistos pela organização como receptores, cujo feedback (ou retorno em relação à mensagem divulgada) é considerado, mas sem que haja, necessariamente, interação ou diálogo, mantendo a organização na posição fixa de emissora da comunicação. 70 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada em novembro. 2013. 71 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 72 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização de capital misto em novembro. 2013. 73 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada em novembro. 2013. 79 Nota-se, no entanto, mudanças incipientes nesse discurso, quando os empregados são convidados a participar de comitês ou a sugerir pautas para os veículos de comunicação. No entanto, deve-se ressaltar que a gestão de relacionamentos desenvolvida de forma a propiciar a identificação dos interesses dos públicos interlocutores e, consequentemente, oportunidades de interação e diálogo, não se mostra presente no discurso. Deve-se ressaltar que tais oportunidades, em três das organizações contempladas nessa pesquisa, não estão sob a responsabilidade da comunicação, mas de outras áreas da organização – recursos humanos, no caso de público interno; relacionamento com investidores, com comunidades e relacionamento institucional para públicos específicos tais como investidores, patrocinadores, apoiadores e comunidades: tem uma área que é só pra isso [tratar das ações relacionais], por exemplo, com o público externo, que é a área de relacionamento com comunidades”. (Gravatá, dez anos na área)74. Considerando os discursos analisados, pode-se dizer que a ênfase no caráter informacional da comunicação mediada pelos canais e veículos, desobriga a organização – e os profissionais – da interação e, consequentemente, de enfrentar a expressividade dos públicos com os quais se relacionam, normalmente com interesses distintos e, por vezes, contraditórios. Percebe-se novamente, nas falas dos entrevistados, a ideia de conformismo com a prática institucionalizada da perspectiva informacional da comunicação organizacional estratégica. Quadro 10 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Relacionamento com os Públicos RELACIONAMENTO COM OS PÚBLICOS Curvas/regularidades Relação entre formações Procedimentos de manifestadas nos discursivas (encadeamento controle enunciados conceitual e práxis) Informação como central Posição fixa emissor/receptor Comunicação/ no relacionamento entre a Necessidade de transmissão da informação produzida organização e os públicos Necessidade de adequar informação pela organização, segundo seus interesses linguagem e formato em 74 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 80 função dos perfis dos diferentes públicos Público receptor Participação dos públicos como ideia incipiente Fonte: Elaborado pela autora Quadro 11 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Relacionamento com os Públicos PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM RELACIONAMENTO COM OS PÚBLICOS Tratar públicos diferenciados de forma diferenciada/O público tem que estar totalmente ciente do objetivo da comunicação [...] pra que ela consiga passar de forma clara e objetiva, e a estratégia [de passar a informação] seja bem sucedida/a gente tem que considerar o público na hora de falar com ele/busco novas formas, novos meios de falar com esse pessoal [...], eu preciso usar uma linguagem mais simples/tanto os públicos como os meios que você vai utilizar para atingi-los Levo [a informação] pro público/a gente mantém uma comunicação mais formal do ponto de vista de envio de jornais/mantém um contato direto, envia jornal/a gente busca informar o cidadão Preciso construir uma imagem positiva [da organização] no coletivo A gente tem o Fale Conosco, a gente tem um e-mail Parece muito piloto automático [o relacionamento com os públicos] Fonte: Elaborado pela autora 4.3.6 Monitoramento da Comunicação A categoria de análise monitoramento da comunicação busca identificar os enunciados presentes nos discursos dos profissionais relativos ao tema e está relacionada à comunicação como processo, não se limitando à análise dos resultados de uma determinada ação de comunicação nas organizações. Prevê a identificação e avaliação sistemática e periódica em relação às expectativas e demandas dos interlocutores que estão em relacionamento com a organização, bem como a influência desses atores sociais na atuação da organização. Esse monitoramento é que vai possibilitar o acompanhamento do processo de construção de sentidos, tanto na perspectiva da organização como na dos interlocutores com os quais ela se 81 relaciona. Associado a essa perspectiva, o monitoramento ainda permite o gerenciamento da qualidade da comunicação desenvolvida pela organização, bem como seus impactos em relação a uma situação inicial detectada, viés que se mostra mais presente nos discursos dos entrevistados: O profissional, muitas vezes agente está sempre correndo pra poder fazer entregas e às vezes a gente não pára para poder mensurar aquilo que a gente está fazendo... Lógico que a gente tem aquelas pesquisas normais, antes de lançamento de campanha e tem pra avaliar qual a percepção do público pra determinado jornal, pesquisa de publicidade... Mas pesquisas que dão retorno, que subsidiem a estratégia macro da empresa, eu te diria que a principal pesquisa que a gente faz é uma de imagem, que vai subsidiar o nosso trabalho no Brasil como um todo. (Gravatá, dez anos)75. acho que todo profissional de comunicação tem dificuldade em trabalhar com indicadores, definir indicadores e mensurar indicadores que não sejam operacionais. (Bromélia, oito anos na área)76. Medição em comunicação é um gargalo. Eu quero agregar valor pra minha marca ali, eu quero mostrar que sou eu que tô patrocinando e transformar aquilo na imagem positiva. Dar significado pra aquela ação minha naquela comunidade. Como é que se mensura seu resultado? [...] como eu sei que aquele projeto, que aquele planejamento especificamente contribuiu para aquilo. Pode ter sido um tanto de coisa, eu faço um tanto de coisa lá... (Violeta Montes, 12 anos na área)77. Então, quando a gente fala em apresentar resultados, a gente faz relatórios sobre as nossas ações, a gente tem um esforço muito grande hoje em procurar formas de mensurar, ainda é o ponto mais sensível no nosso planejamento, mas a gente tem tentado. É incipiente, mas a gente mostra planejado e realizado, quando tem algum outro tipo de mensuração, a gente leva isso também e aí vou te dar exemplos: programa de visitas, a gente consegue mostrar que a visita que chegou aqui com imagem X da empresa, na hora que ela foi embora ela teve uma imagem Y. [...] Então, o que está na nossa rotina, quando eu falo que é pra mostrar os nossos serviços, resultados na verdade, é o report das ações que a gente entregou, a gente tenta enriquecer isso com alguns depoimentos. (Lélia, seis anos na área)78. Bom, busca-se monitorar para ver se efetivamente os esforços que estão sendo feitos [pela comunicação] estão realmente atingindo seus objetivos e contribuindo para os resultados da empresa e aí é uma forma de avaliar se precisa haver um redirecionamento ou alguma mudança estratégica de maneira a mensurar se o que está sendo feito, está sendo conduzido pela comunicação, está de fato contribuindo para alcançar os resultados esperados. (Jacarandá, 16 anos)79. 75 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Relações Públicas que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 76 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização filantrópica em setembro. 2013. 77 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Publicidade que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 78 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização da iniciativa privada em outubro. 2013. 79 Dados da entrevista. Pesquisa de campo realizada com profissional de Jornalismo que atua em organização de capital misto em novembro. 2013. 82 A primeira dificuldade para monitorar a comunicação, relatada por quase todos os profissionais entrevistados, está na complexidade de se estabelecer indicadores para medir os resultados da comunicação. Percebe-se aí que a ideia está sempre associada à gestão dos resultados e não ao monitoramento dos processos de comunicação, que têm uma perspectiva mais abrangente. Quando se busca acompanhar a qualidade – ou os resultados – dos produtos de comunicação, ocorre parte do que prescreve o monitoramento do processo, reduzindo a sua abrangência e, com isso, a compreensão dos processos de interação e interlocução o que, certamente, impacta na construção de sentidos. Além da dificuldade de se mensurar a comunicação, o custo na contratação de pesquisas específicas foi outra questão colocada. Os profissionais – das quatro organizações – mencionaram o desenvolvimento de ações de sondagem feitas pela própria equipe por meio de reuniões com públicos que consideram prioritários, ou ainda do aproveitamento de outras pesquisas como as de imagem e reputação, cujos dados são utilizados também para nortear as ações de comunicação. Mas, de maneira geral, trabalham com indicadores mais relacionados ao processo de gestão, demonstrando o que foi planejado e realizado pela área; além de pesquisas de satisfação em relação a eventos realizados, à entrega de produtos, pesquisas pré e pós-lançamento de campanhas de comunicação. Mencionam ainda a realização de pesquisas e monitoramentos de produtos de comunicação – jornais, revistas, eventos –, a partir da lógica de certificação do processo em função das normas de qualidade ISO80, que têm um padrão internacional de certificação de qualidade, a partir de uma linearidade de processos. Sendo assim, pode-se associar o monitoramento relatado pelos profissionais de comunicação à perspectiva do modelo de gestão das organizações e ao planejamento estratégico no que diz respeito a ações planejadas e ações realizadas, conforme mencionado por alguns entrevistados. Essa perspectiva reduz a complexidade dos processos comunicativos. Percebe-se, assim, que os profissionais não demonstram, por meio de suas falas, ações de monitoramento no sentido de identificar expectativas e demandas dos interlocutores no seu relacionamento com a organização, o que também consta na concepção de processo monitorado do modelo de comunicação interacional dialógica (OLIVEIRA, 2002). A ênfase do monitoramento está na apresentação de resultados da comunicação, restringindo a ideia de monitoramento à perspectiva linear e informacional da comunicação, na qual a ênfase está na 80 A ISO ou International Organization for Standardization, é uma organização não governamental, que designa uma série de normas técnicas internacionais que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para as organizações, independentemente de porte, área ou localização. 83 verificação da qualidade dos produtos, na “entrega dos produtos de comunicação” e nos resultados que esses trazem para a organização. Quadro 12 – Elementos que formam os enunciados relativos aos conceitos de Monitoramento da Comunicação MONITORAMENTO DA COMUNICAÇÃO Curvas/regularidades Relação entre formações Procedimentos de manifestadas nos discursivas (encadeamento controle enunciados conceitual e práxis) Monitoramento como Posição fixa emissor/receptor Comunicação como feedback em relação a Necessidade de transmissão da entrega de produtos e produtos e ações de informação comunicação produzidas e Comunicação estratégica como realizadas serviços Públicos receptores viés do planejamento estratégico, a partir do campo da Administração Fonte: Elaborado pela autora Quadro 13 – Palavras e expressões dos profissionais que conceituam Monitoramento da Comunicação PALAVRAS E EXPRESSÕES DOS PROFISSIONAIS QUE CONCEITUAM MONITORAMENTO DA COMUNICAÇÃO Pesquisa para fazer acompanhamento da efetividade da comunicação/A gente não tem um retorno mais efetivo dessa comunicação A gente não tem estrutura para contratar uma consultoria para nos ajudar nessa pesquisa de comunicação/você não tem muito tempo pra fazer essa mensuração/a gente tem que fazer entregas [...], a gente não para para mensurar aquilo que a gente tá fazendo O resultado da comunicação não é prático/o grande diferencial dela [da comunicação] é qualitativo/ eles [a organização] querem números e muitas vezes a gente não tem A gente mostra planejado e realizado/resultado, na verdade, é o report das ações [de comunicação]/busca-se monitorar para ver se efetivamente os esforços [...] feitos estão realmente atingindo seus objetivos e contribuindo para os resultados da empresa Tem vários indicadores. Tem indicadores de processo, tem indicadores de produto. Fonte: Elaborado pela autora 84 5 CONCLUSÃO A pesquisa desenvolvida possibilitou refletir sobre a relação entre o encadeamento histórico da comunicação organizacional e seu discurso, especialmente reverberado pelos profissionais de comunicação. Tanto na tessitura histórica desse encadeamento como na práxis da comunicação organizacional estratégica, que fornecem elementos constituintes desse saber e seu discurso, pode-se dizer que a transmissão da informação é a regularidade, ou a curva, que atravessa a construção dos enunciados dessa formação discursiva, uma vez que: a) na relação entre diferentes enunciados, ao longo do tempo, permanece a ideia de se trabalhar a transmissão das informações no contexto das organizações; b) na relação entre os grupos de enunciados dos dois campos – Comunicação e Administração –, mais uma vez encontra-se o discurso da transmissão da informação nas organizações, fortemente associado à ideia de estratégia, seja a comunicação vista como ferramenta ou construção de sentido; e, finalmente, c) nas relações entre os enunciados ou grupos de enunciados dos diferentes campos, os acontecimentos fazem emergir, mais uma vez, a concepção da transmissão da informação como perspectiva indispensável no contexto das organizações. Deve-se ressaltar a permanência dessa regularidade ainda que os construtos teóricos da comunicação organizacional do século XX não sejam os mesmos do século XXI: percebe-se o encadeamento da perspectiva informacional para a interacional. No entanto, essa não suplanta a primeira, mas incorpora a questão da informação e da transmissão da mensagem trazida para a interação; amplificando sua abrangência. A partir desse encadeamento conceitual, chegou-se a sete formulações, compreendidas como enunciados e elementos na formação desse discurso. Duas delas – a relação biunívoca emissor/receptor e a necessidade da transmissão das informações, encontram-se ancoradas no paradigma clássico-informacional –, uma terceira, a adoção do conceito de comunicação estratégica, é oriunda do campo da Administração; e as demais – modelos que incorporam o aspecto interacional, a perspectiva da complexidade, a ideia de construção de sentidos e a concepção da estratégia planejada de comunicação – são fundamentadas pelo paradigma interacional. Acreditava-se, a princípio, que tais formulações subsidiassem os enunciados do discurso da comunicação organizacional estratégica. No entanto, quando se buscou contrapor essas formulações aos enunciados presentes nos discursos dos profissionais entrevistados, percebeu-se certo distanciamento entre o encadeamento dos construtos teóricos e os enunciados presentes nas falas. Essas repercutem formulações do modelo clássicoinformacional e do campo da Administração, com enunciados incipientes que levam à ideia 85 de interação e de construção de sentidos. Percebeu-se que, embora o encadeamento histórico conceitual da comunicação caminhe em direção ao paradigma interacional, o clássicoinformacional mantém-se hegemônico e reforçado pelos profissionais, parecendo conduzir grande parte das ações e iniciativas da comunicação no contexto das organizações. Chega-se a tal inferência em função da presença constante de regularidades encontradas nos enunciados que levam aos elementos desse paradigma: a necessidade de transmissão da informação por parte das organizações conforme já mencionado, e a relação biunívoca e fixa entre emissor e receptor. Ainda a partir do que disseram os profissionais, percebe-se a presença da comunicação estratégica como sinônimo de planejamento, no sentido colocado pelo campo da Administração; como o desenvolvimento de planos para se chegar a um resultado determinado, sem, contudo, considerar a não linearidade e a complexidade dos processos. Por outro lado, isso leva a pensar na forte interface que existe entre o campo da Administração e os estudos da comunicação organizacional estratégica. Por meio dos discursos, acredita-se que tal influência ocorra em função de se estar num contexto específico, no qual os modelos de gestão têm forte predominância no desenvolvimento das atividades, inclusive as de comunicação. Nesse sentido, parece se manifestar o que Foucault (2012a) definiu como o jogo de posições possíveis para um sujeito, em um campo de coexistência que lhe permite relacionar-se com outros enunciados. Infere-se ainda, recorrendo a Goffman (2011), que os discursos dos profissionais refletem valores consolidados, fundamentados num determinado paradigma, que determinam sua atuação e a forma como se posicionam em relação à comunicação organizacional estratégica, estabelecendo um quadro de referência de aparências que rege os enunciados desse discurso. Acreditava-se que, por estar em consonância com os estudos de comunicação organizacional das últimas décadas, o modelo de interação comunicacional dialógica – formulado por Oliveira em sua tese de doutorado, apresentada em 2002 e, cinco anos depois, condensada na publicação de um livro –, já seria de conhecimento e estaria subsidiando o discurso e a práxis da comunicação organizacional estratégica. No entanto, quando se busca associar o encadeamento teórico, a práxis e o discurso da comunicação organizacional estratégica, percebe-se o conhecimento superficial ou pouco aprofundado em relação a conceitos como interação, relacionamento com públicos, comunicação como processo ou até monitoramento, cujos enunciados ainda se mostram influenciados e fundamentados por uma lógica informacional. Nesse sentido, deve-se ainda ressaltar a existência de organizações como a Associação Brasileira de Pesquisa em Comunicação Organizacional e Relações 86 Públicas (Abrapcorp) e publicações como a Organicom que buscam articular esses construtos, ainda não assimilados no discurso desse saber, conforme revelou esta pesquisa. Tais questões podem suscitar novas pesquisas e estudos buscando identificar o que tem levado à manutenção do paradigma clássico-informacional e seus axiomas nessa posição hegemônica, mesmo já sendo conhecidas as suas limitações. Pode-se inferir que os resultados dessa pesquisa nos levam a um paradoxo: ainda se está preso – na práxis – a um paradigma de comunicação simplificador, o clássicoinformacional, que não se sustenta na contemporaneidade devido às grandes mudanças como a globalização e as tecnologias de informação e comunicação, paralelamente à construção teórica de um paradigma interacional – que não se repercute na práxis. Ressalte-se que, ao mesmo tempo em que é necessário considerar o contexto no qual se pensa a comunicação: o da organização, que possui suas regras, normas e objetivos definindo e direcionando também a práxis desse saber nesse contexto específico; é também preciso incorporar os construtos recentes acerca da comunicação organizacional dada a complexidade desse processo, a fluidez e as demandas da sociedade atual. Em contraponto, já se faz presente, entre os profissionais, a ideia de insuficiência do paradigma informacional; entretanto, parece não haver clareza em relação ao que seria o paradigma interacional, bem como os elementos que o caracterizam, dada a força e a hegemonia do clássico-informacional. Percebe-se, ainda, a reprodução da ideia de centralidade das organizações, na sua posição fixa de emissora que considera o público como receptor e não interlocutor que escuta, dialoga e possui suas estratégias de comunicação. Ressalte-se que as palavras interlocução ou interlocutor não foram mencionadas, espontaneamente, por nenhum dos entrevistados. Nesse sentido, pode-se concluir que a organização – e os profissionais de comunicação que nela atuam – parecem não considerar o processo de interlocução e a circularidade da comunicação. Em muitos momentos, os profissionais parecem ser orientados por construtos mais recentes em relação à sua atividade, mas que não permanecem na construção de suas falas. Recorrendo a Foucault (2012c), talvez isso decorra do fato de que o novo – compreendido, na presente pesquisa – como o encadeamento conceitual da perspectiva informacional para a interacional – não está no que é dito, mas no que acontece à sua volta e na reverberação dos axiomas de um paradigma. Ressalte-se ainda que o discurso, à luz da arqueologia, nunca é linear ou fundado no ato da fala, nem preso ao modelo de fluxo de consciência no qual o presente escapa em função das amarras do passado ou do futuro que está por vir; mas conforme ressalta Foucault 87 (2012a, p. 206), “é uma prática que tem suas formas próprias de encadeamento e sucessão”, constituindo enunciados a partir de coisas que se transmitem e se conservam, que têm um valor, e das quais procuramos nos apropriar; que repetimos, reproduzimos e transformamos; para as quais preparamos circuitos preestabelecidos e às quais damos uma posição dentro da instituição; coisas que são desdobradas não apenas pela cópia ou pela tradução, mas pela exegese, pelo comentário e pela proliferação interna do sentido. (FOUCAULT, 2011a, p. 147). Nesse sentido, pode-se inferir que, do ponto de vista teórico da comunicação organizacional, os acontecimentos foram se modificando ao longo do tempo, embora tais mudanças não tenham sido capazes de alterar o discurso consolidado e hegemônico da comunicação nas organizações, que permaneceu ao longo do tempo sendo apropriado pelo campo e pelos profissionais que nele atuam. Com isso, conclui-se que não foi a escolha teórica que regulou a formação dos conceitos que constituem os enunciados, mas o jogo de relações e de forças que se deu entre eles. Deve-se ressaltar ainda que esta pesquisa traz os primeiros achados relativos ao discurso da comunicação organizacional estratégica e que, para se revelar, de fato, o discurso desse saber, deve-se aprofundar os estudos, mergulhando nos arquivos e enunciados da comunicação organizacional estratégica e buscando evidenciar os componentes que revelam a apropriação e/ou negação dos princípios de uma comunicação dialógica e interacional. 88 REFERÊNCIAS ACKOFF, Russel L. Planejamento empresarial. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1975. BALDISSERA, Rudimar. Por uma compreensão da comunicação organizacional. In: SCROFERNEKER, Cleusa M. A. (Org.). O diálogo possível: comunicação organizacional e paradigma da complexidade. Porto Alegre: Edipurs, 2008. BALDISSERA, Rudimar. Comunicação Organizacional na perspectiva da complexidade. In: Organicom. São Paulo: V. 10-11, 2009. BARROS FILHO, Clóvis de; MEUCCI, Arthur. 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Ivone de Lourdes Oliveira, investigando as interfaces entre o conceito e a práxis da comunicação organizacional nos dias de hoje. E, para isso, gostaria de contar com seu apoio. No meu processo de investigação do tema, precisarei entrevistar profissionais de comunicação das diferentes habilitações (Jornalismo, Publicidade e Relações Públicas) e com níveis hierárquicos distintos (Júnior, Pleno e Sênior), em organizações cuja área de Comunicação tenha status mínimo de gerência. Além dessas entrevistas, precisaria ter acesso a políticas de Comunicação da sua organização e às diretrizes de planejamento estratégico da área, bem como outros documentos e/ou manuais que direcionem o processo de comunicação na sua organização. Gostaria de ressaltar que, em nenhum momento, mencionarei nomes de empresas ou de profissionais entrevistados. Será necessário, no entanto, mencionar o setor em que a organização atua, habilitações dos profissionais entrevistados e tempo de trabalho na área de Comunicação Organizacional. Desde já, agradeço seu apoio e colaboração. Atenciosamente; Isaura Mourão. 93 APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS Questões para as entrevistas: Perfil: o Formação: o Tempo de formação: o Tempo em que trabalha na comunicação organizacional: o Último curso feito na área: O que você considera comunicação organizacional? E comunicação estratégica no contexto das organizações? De onde vem esse conceito? Como ocorre, na prática, a concretização da estratégia de comunicação na sua organização? No caso dessa organização, você diria que a comunicação se insere na gestão da empresa? De que forma? A comunicação, nessa organização, é trabalhada como processo? O que significa isso? Como a sua organização se posiciona diante dos públicos com os quais ela se relaciona? (Buscar identificar se há priorização na transmissão de informações ou no desenvolvimento do diálogo e como isso ocorre) A comunicação influencia no posicionamento da empresa com os diferentes públicos? De que forma? De que forma vocês fazem o monitoramento do processo de comunicação? O que vocês buscam monitorar? Como você conceituaria a comunicação desenvolvida na sua organização: mais informacional ou interacional? Porquê? (buscar identificar os conceitos de interacional e relacional) Você participa de fóruns para discussões conceituais acerca da comunicação no contexto das organizações? (buscar identificar quais e frequência) 94 APÊNDICE C – MAPA DAS ENTREVISTAS POR CATEGORIA ANALÍTICA Perfil Ano Formação/ formação Comunicação Organização Cargo / Tempo Organizacional C.Org. é a forma que a empresa utiliza pra dizer pro mercado, pra dizer pro público interno, pra dizer pros stakeholders o que ela quer dizer, divulgar... ... Então existe uma preocupação muito grande ainda mais hoje Imbuia em fazer com Relações que a Públicas/ comunicação, Gerente com que a Instituição (duas 1996 / 17 informação Filantrópica especializaanos chegue de forma ções: uniforme para Marketing e todos os Responsabilistakeholders... dade Social) Então cada público tem uma visão diferente da instituição. É lógico que eles vão ter porque eles interagem conosco de forma diferenciada. Mas o quê que a gente quer que eles entendam? ... É isso que a Compreensões/percepções conceituais acerca de: Comunicação Estratégica Comunicação como Processo Inserção na Cadeia Decisória Informação/Interação Relacionamento Monitoramento com os Públicos A gente precisa de uma comunicação estratégica, definir qual que é o objetivo que a gente vai trabalhar e cascatear as estratégias em cima desse objetivo... Eu entendo como um norte que permeia a gente para as ações que vão ser realizadas ao longo do próximo ano. Então definir uma estratégia, um objetivo que vai nos guiar e trabalhar ações ao longo deste ano que vão estar alinhadas dentro dessa estratégia, que vão possibilitar fortalecer o que a gente quer, que é fortalecer a cultura organizacional, fortalecer a nossa imagem, Você receber uma informação, tratar aquela informação se ela é importante ou não pra você. Se ela é importante que tipo de atitude você vai tomar com ela, se ela não é importante descartar a informação. Isso é um processo pra mim... seguir um processo para que ela possa ser divulgada ou através de um veículo ou através da própria diretoria, de uma palavra, da formalização de um evento, de um seminário, de um encontro com público interno, então trazer a informação pra cá e fazer com que ela se torne realidade. Então hoje a comunicação não é um processo aqui porque as ... os empresários têm muita visão de que eles também têm que interferir na comunicação, de que eles também entendem de comunicação, mas a gente sofre, acaba sofrendo vários tipos de interferências que ou eles tornam o processo mais moroso ou isso faz com que a gente tenha vários ajustes de produção de material, de produção de veículos ao longo do caminho. Então hoje a gente tá muito em negociação com a gestão pra que eles construam uma relação de confiança conosco pra que eles consigam fazer com que a área de comunicação ... a gente acaba se envolvendo muito no operacional do dia a dia... ... Se você não ver a comunicação como parceiro e só como setor operacional que ah ela vai só divulgar, então a comunicação só é envolvida no último passo... a gente só consegue perceber isso daí quando a comunicação é envolvida ao longo do processo lá no início quando aconteceu o problema, como que a gente vai resolver isso, de que forma, quais veículos nós vamos usar, pra qual público... ... eu chamo de comunicação relacional quando a gente quer divulgar alguma coisa mas pra um público aberto, nesse caso a gente tinha pessoas que tinham direito a um benefício e eram pessoas que a gente precisava fazer um contato mais pessoal. Então assim quando eu a gente precisa tratar públicos diferenciados de forma diferenciada... eu não vou divulgar pra um jornal do público externo uma mudança de gestão interna da instituição, isso pra eles não é interessante. Eles querem saber os projetos que eles vão poder contribuir, eles querem saber os congressos, os eventos... Então até essa classificação do que urgente, do que não é, do que tem, porque as notícias ficam velhas, elas caducam muito rápido... ... Então assim é importante pra mim que eu entenda do público interno, do formador de opinião que ele quer ler o jornal, que ele quer ver falei do interesse da gente implantar a pesquisa pra fazer um acompanhamento da efetividade da comunicação, mas pra isso a gente precisa implantar um outro projeto que é ter uma comunicação mais ativa, mais proativa, isso envolve muito não só recursos humanos mas mudança da percepção das pessoas, da importância disso, de que a gente tem que ser mais proativo do que reativo, de que a gente tem que levar mais, buscar mais do que só esperar as coisas acontecerem, então acaba sendo uma mudança de cultura também. Papel da Comunicação Pela parte operacional da divulgação da informação. Era esse o papel da comunicação. Ah diretoria decidiu X, comunicação divulga... qual que é o papel da comunicação? É justamente apoiar a direção na tomada de decisões e criar estratégias de divulgação que possam ser rentáveis em algum momento pra instituição. Através da divulgação bem feita a gente pode captar um parceiro que pode ser um patrocinador pra um determinado projeto. Então é dessa forma que a gente vê o papel da comunicação, futuramente apoiando a direção na Comentários adicionais 95 demandas vem realmente realize fortalecer a gente quer unificar hoje pro nossa marca... muito picadas pra o que é da área comunicação e de mercado, para os hoje o foco da vem já comunicação... comunicação demais públicos, formatadas como Então hoje a área está muito que ele nos veja devem ser tá virando um ligado em como essa feitas... pouco a chave divulgar instituição... ... porque quando estrategicamente Reforçar a eu cheguei era seja através dos imagem, a uma área veículos de reputação, a completamente comunicação, marca. reativa. Era seja através da aquela área assim assessoria de diretoria pedia a imprensa. Então gente fazia. o que a gente quer é fortalecer a comunicação e não ser só o setor que faz o jornal mural, faz o jornal interno, sair um pouco do setor operacional pra que a instituição entenda que nós somos o setor estratégico que tem que estar alinhado à diretoria, munido de informações pra que a gente consiga divulgar pro mercado e fazer com que através disso a instituição cresça, ganhe mais em conhecimento... ... durante os dez últimos anos nós somos um setor reativo que vou fazer uma campanha de prevenção a saúde e vamos falar e eu quero atingir qual público? Eu quero atingir todo mundo que está acima do peso, que pode chegar a obesidade então eu vou fazer uma campanha pro meu público interno. Isso uma companha de interação que aquelas pessoas que estão fora do peso se conscientizem, comecem a se preparar para participar de uma campanha, façam inscrição, entendo um pouco assim. no veículo que ele recebe. Porque a partir daí eu posso trazê-lo como captador. É importante saber do público interno o que ele quer saber, quais são as informações importantes pra ele, pra que isso chegue nele no momento certo. Então é importante que eu saiba de cada stakeholder o que é do interesse dele pra em cima disso a gente fazer um trabalho de divulgação prévia... nem sempre o que eu levo pro público é o que a gente quer saber e às vezes se a gente ouvir o que o público realmente quer, com ações simples, pequenas, com ações até do dia a dia a gente pode sanar grandes problemas futuros... Então é este relacionamento, tomada de decisão... trazer algumas coisas de mercado e mostrar pra diretoria que a comunicação consegue ser um braço estratégico para conquista de oportunidades, novos parceiros e que a comunicação é um braço de apoio efetivamente que ela ta aqui para suportar todas as necessidades da instituição, para construção de reputação, divulgação de mercado... Altamente importante porque a comunicação é uma fonte pra relacionamento com todos os públicos. Que é ela junto com a diretoria que define quais são as estratégias que nós vamos usar, quais são os objetivos desse ano, baseado nesse objetivo quais estratégias eu 96 sempre levou o que foi pedido. Instituição Filantrópica Bromélia Jornalista / Coordenadora (duas especializações: Gestão Estratégica e Marketing essa em curso) 2005 / 8 anos comunicação organizacional é aplicar alguns conceitos da comunicação pra alcançar alguns objetivos estratégicos nas organizações. Seria estabelecer relacionamentos, políticas, estratégias e diretrizes alinhando a comunicação aos objetivos daquela organização, tanto financeiros, quanto de posicionamento de marca, de mercado, enfim os objetivos gerais da organização. ela é trabalhada é alinhar as como um ações de comunicação às processo porque a gente tem na estratégias verdade... há um mesmo da ano a gente organização pra estabeleceu uma alcançar política de objetivos tanto em termos de qualidade aqui na instituição muito clima, clima em função de interno, clima buscar uma externo, certificação posicionamento específica e aí a perante o mercado, gestão qualidade trouxe de crise também esse conceito de trabalhar como que é uma ação processo e a estratégica tanto comunicação se a preventiva inseriu nisso. Na quanto a verdade há um corretiva, é isso ano ela vem que eu trabalhando consideraria... como um ... Hoje na processo com instituição a metodologias, gente conseguiu com consolidar uma procedimentos divisão de padrões para setores e ações atividades que peculiares de Uma das primeiras cadeiras desse grupo gestor... ele começou com 7 pessoas quando ele tinha esse formato de 7 pessoas a gente não tinha a gerência de comunicação inserida nele. Quando ele foi ampliado pra 12, segunda transformação desse grupo gestor a comunicação já foi inserida; isso tem quatro anos mais ou menos. O grupo gestor foi criado há quatro anos e meio na segunda modificação a comunicação já foi inserida... Ele Eu acho mais informacional. A gente tenta trabalhar pra ser mais interacional mas... ... A comunicação interna aqui ela acontece muito através dos veículos de comunicação mesmo; do jornal mural... A gente tem um jornal bimensal também impresso que vai para cada colaborador, chega na casa dele e a gente tem urnas internas na instituição e a gente tem alguns eventos internos de integração. Por exemplo, dia do trabalhador a gente sempre faz um teatro motivacional e todos os colaboradores são contemplados. A gente tem os eventos aniversariantes do mês, dia dos profissionais, entender que tudo faz parte de um ciclo e que em determinado momento os públicos interagem entre si e interagem com a empresa também. vou desencadear para cada tipo de público, como que eu vou me relacionar com eles, como eu vou divulgar marca, como vou divulgar produto, como vou divulgar responsabilidade social. A gente mantêm encontros, reuniões, a gente promove eventos internamente para trazer essas pessoas até aqui, a gente vai até elas, esse processo hoje eu ainda acho um pouco distante do que seria ideal, do que eu considero conceito porque a gente faz essa comunicação ativa muito mais próximo do que a gente necessita (público específico, para captação de recursos)... ... (com os demais públicos) a gente mantêm uma comunicação Eu me formei A gente não tem por uma grade um retorno mais de comunicação efetivo dessa mais antiga e eu comunicação acho que os porque a gente profissionais, não consegue principalmente fazer essa de jornalismo e pesquisa de de publicidade, comunicação eles não saem da devido a faculdade muito sempre que abrangência que prontos para a existe uma seria necessária, comunicação demanda ela é a gente não tem organizacional. tratada em estrutura para Hoje a grade de grupo contratar uma consultoria pra (referindo-se às comunicação foi um pouco mais equipes de nos ajudar nessa Comunicação, diversificada, foi pesquisa de ampliado o em setores comunicação conteúdo que distintos). então a gente faz diz respeito à por amostragem comunicação mas a gente organizaciona,l considera que ela mas eu acho que não é efetiva do ele não é bem ponto de vista de trabalhado pelas mensurar o universidade. A resultado já que gente sabe, eu o público é muito tenho essa diversificado... impressão e pelo ... a nossa última 97 cada um desses coordenadores de forma que cada núcleo cuide de uma relação estratégica da instituição... ... É uma integração muito forte... ... Aquilo que a instituição considerou como prioridade ela trouxe para mais próximo da diretoria que é a área de captação de recursos e a comunicação estratégica permanece no mesmo formato anterior cortando a diretoria, a superintendência mas com o intermediário da gerência... ... a gente acaba virando tarefeiro mesmo muitas vezes. Aqui na instituição, depois que eu sai da comunicação (está hoje em Relações Institucionais), eu me senti mais estratégica, uma percepção pessoal. tem esses eventos são corriqueiras, é consultado, ele é chamado pras comemorativos... Não, que são a gente não tem uma decisões mais cotidianas... A ouvidoria interna por importantes gente tem o exemplo, é uma das sim... A diretora procedimento demandas que a gente (atual) faz operacional tem de comunicação questão de padrão para de relacionamento participar então redigir o jornal, institucional. A gente, nessa gestão já pra apuração, na verdade a gente tem teve um papel definição de o setor de recursos maior. Antes pauta, isso tudo é humanos que acaba disso não, a feito sempre na absorvendo essas comunicação era mesma forma, um setor muito demandas, esse espaço com prazos de diálogo com o alheio às específicos para colaborador... a gente decisões da cada atividade, tem a comunicação instituição. óbvio nem mais informacional... sempre a gente os nossos cumpre, na colaboradores são maioria das vezes muito órfãos desse a gente não espaço de diálogo... consegue acho que é muito por cumprir, existe a uma dificuldade de definição do que gerir a crítica. seria ideal, é dessa e dessa forma, passando por essa e essa superintendência, aprovando com essa e essa pessoas existe esse processo até se chegar no produto final... efetiva com eles. Todos recebem o jornal da instituição impresso, os voluntários presenciais recebem o eletrônico. Os que doam recursos pra instituição via telemarketing, projetos incentivados por lei de incentivo enfim qualquer pessoa que aporta o recurso ela recebe o jornal impresso em casa todos os meses não falha, isso é bem regulado, e a gente promove esses eventos, sempre que há uma inauguração a gente convida eles aqui a gente mantêm uma comunicação mais efetiva com eles... ... Com empresas a gente mantêm também uma comunicação mais formal do ponto de vista de envio de jornais, correspondências que são um público estratégico pra pesquisa de satisfação ela é de 2011, a gente não conseguiu fazer o ano passado... ... a gente já fez algumas (pesquisas) específicas de comunicação então a gente tem uma mensuração, a mais recente é de 2011 que aí foi específica dos veículos, o quê que os colaboradores gostariam de ver, internamente e por amostragem... Não só aqui acho que todo profissional de comunicação tem dificuldade em trabalhar com indicadores, definir indicadores e mensurar indicadores que não sejam operacionais, porque o indicador operacional é fácil, mas o estratégico a gente ainda tem muita dificuldade. que converso com algumas pessoas que estão no mercado há menos tempo, dois, três anos elas têm a mesma sensação e saíram um pouco órfãos pra trabalhar com comunicação organizacional... Então, acaba que o profissional atua muito de forma experimental e não encontra forma de fazer aquilo de uma forma melhor tendo em vista o que ele aprendeu de conceitos... Mas eu acho que poderia investir um pouco mais até porque a comunicação ganhou muito espaço e eu acho que a gente poderia preparar melhor os acadêmicos e os profissionais que estão se formando porque a gente vê gente muito cru tanto em conceito e prática, mas em conceito pelo 98 gente também. Instituição Filantrópica Catléia Relações Públicas e Jornalista / Analista (especialização em Marketing, em curso) a comunicação ela é um conjunto de elementos assim que são combinados para a gente atingir um objetivo estratégico... eu acho que além de ser o setor assim ela é o instrumento para se atingir vários objetivos dentro de uma organização e aí ela pode se usar desses 2010 / três anos instrumentos, de ferramentas mesmo para comunicar, para se antever, para se prevenir, as vezes até para evitar crises... uma vez ocorrida alguma coisa, reverter uma situação então são várias questões que compõe uma comunicação organizacional, na minha opinião. Eu acho que ela é estratégica porque a gestão da organização os próprios colaboradores eles precisam dessas ferramentas e das ações de comunicação para entender, alinhar e chegar a objetivos específicos... E o que você denominaria como comunicação estratégica eu acho que vai mais pelo lado de atingir um objetivo. Quando a comunicação ela passa por uma série de processos e enfim e ações pra atingir um objetivo específico. Uma estratégia mesmo. aqui na instituição eu não vejo ela como um processo não. (atuamos como) Tarefeiro às vezes com um fim específico e não como uma evolução de alguma coisa que diz o processo por exemplo. (Para funcionar como processo) Eu acho que principalmente a percepção da importância da comunicação por parte das lideranças, acho que isso ainda não é muito claro não. O papel dela (da comunicação) não é tão considerável ainda... pela dinâmica do mercado, das empresas estarem tendo que apresentar resultados, da concorrência que é muito grande, então eu acho que tudo isso faz com que a eu acho que a gestão... ela usa a comunicação em determinados momentos com alguns objetivos, mas eu não acho que a comunicação ela é o tempo todo embasadora da gestão, por exemplo. Eu acho que quando é necessário se utiliza a comunicação... as decisões institucionais eu acho que a comunicação; ela não tem uma opinião muito forte. Eu acho que não interfere... Eu acho que hoje o mercado impõe isso para as organizações, o nosso atual mercado financeiro impõe isso para as organizações que elas se adaptem à realidade financeira, por exemplo. E aí isso deixa a comunicação um Tem das duas formas de ferramentas, mas eu acho que a que sobrepõe são as informacionais. Como é que você definiria uma e outra? É, as informacionais são aquelas que apenas comunica, né? Passa uma mensagem a fim de atingir um objetivo de comunicar mesmo. E as interacionais eu acho que são aquelas ferramentas que trazem os públicos para serem parceiros daquela ferramenta. Parceiros no sentido de colocar aquela ferramenta pra funcionar... ... Quando o público colabora com aquele mural, quando ele leva informação pra lá, os diversos públicos da instituição levam informações pra lá, alimentam ou alimentar aquele mural ele se torna um mural interativo e não apenas informacional... O público, ele tem que estar totalmente ciente do objetivo da comunicação pra que a comunicação consiga passar por todos esses públicos, na verdade, de forma que ela seja clara, objetiva e a estratégia seja bem sucedida... ... A gente faz a parte de aproximação com esses públicos mesmo pra que esse público não fique distante da instituição, então a gente mantêm ele sempre próximo, mantêm sempre um contato direto, envia jornal... envia jornal, faz um evento aqui anual para trazer esses parceiros pra instituição. Eles vêm conhecer coisas novas, novas... menos eu acho que as pessoas têm muita confusão ainda. o resultado da comunicação ele não é prático... a comunicação ela pode ser demonstrada através de números também mas eu acho que o grande diferencial dela é uma questão mais qualitativa. O resultado de um processo de comunicação você vai mensurar ele, por exemplo, num impacto de relacionamento dos colaboradores... ... Olha, assim, do setor de comunicação específico como eu não trabalho desconheço. Mas no marketing a gente tem algumas formas de mensurar e ai a gente tem relatórios por exemplo de relacionamento, que a gente mensura relacionamento com os parceiros, eu acho que a comunicação ainda, pelo menos pelos locais que eu passei, ela não tem esse papel tão forte como, por exemplo, um setor financeiro que tem uma opinião importante no processo... (Papel dos profissionais) ... Porque se a gestão daquela instituição ou daquela organização não consegue visualizar isso acho que os colaboradores da comunicação, assim os comunicadores, os comunicólogos e tal é evidenciar isso, mostrar essa importância, salientar mesmo... Eu acho que a comunicação na teoria ela é muito bonita assim o papel Desvio da comunicação: A dinâmica do mercado, a percepção das diretorias, dos gestores sobre o quê é de fato o papel da comunicação tudo isso contribuiu para o desvio. Eu acho que também a desvalorização de um setor de comunicação no sentido de ah não precisa de tantos profissionais então ela é sempre muito enxuta e o profissional fica sempre sobrecarregado e não sobra muito tempo para ele pensar um pouco na comunicação estratégica e vai mais na parte tarefeira porque precisa apresentar alguma coisa no prazo x. Então eu acho que uma 99 comunicação seja mais deixada como tarefeira mesmo... ... as demandas são tão grandes eu acho, essa parte de tarefa ela exige tanto do profissional que eu acho que sobra pouco tempo. pouco aquém do processo de tomada de decisão. Isso exclui um pouco a comunicação. Todos sabem da importância, mas na hora da decisão ela é um pouco deixada de lado. que a gente mensura contatos, algumas coisas assim mais subjetivas mesmo... dela é muito bonito e eu acho que além de ser bonito é muito importante mesmo quando de fato é realizada pensando sua base teórica assim. Eu acho que é muito bacana se ela acontecesse assim. Mas infelizmente não acontece... série de questões contribuem para que a comunicação desvie da parte teórica... ... Mas talvez eu acho que seja predominante mesmo o uso de outras áreas do conhecimento pra embasar comunicação... Da administração por exemplo. Com resultados mais palpáveis assim. E aí ela recorre sim dessas outras literaturas para se fortalecer assim. 100 é informar o que se passa aqui dentro, informar as ações e os programas que são desenvolvidos Braúna pro público que Jornalista / precisa da Coordenadora organização, (especializaentão envolve Organização ção em 2002 / 11 tanto as pessoas Pública Comunicação anos que trabalham Interna para aqui quanto as relacionamenpessoas de fora e tos que precisam e estratégicos) quase todo mundo precisa... Então eu acho que é passar a informação relevante pra sociedade. Nunca parei pra pensar (sobre o conceito de comunicação estratégica). Mas eu acho que são conceitos (organizacional e estratégica) associados, mas a estratégica eu acho que é um pouco mais relacionado com o tempo assim o aumento que vai, por exemplo, ser divulgado pra determinada coisa ou pra quem especificamente, pra que grupo de pessoas pra que isso possa ser melhor difundido... tem essa ideia com esse foco de divulgar o que é feito, mas uma outra forma de atingir... ... Eu acho que é um pouco, não sei, talvez intuitivo de querer mostrar o trabalho da melhor forma. Como que a gente vai conseguir isso? Acho que pensando Acho que seria pensar e planejar as atividades desenvolvidas pra poder executar, conseguir executar essas tarefas, todas essas funções e atividades de forma a difundir as informações... ... É porque tem todas as etapas assim a gente tem que saber o público, as informações, que tipo de informação que interessa, o quê que não interessa, tem que conhecer, tem que planejar, tem que conseguir. Mas aí você planeja tem que conseguir executar, planejar é uma coisa que você tem que conseguir alcançar. ... ainda é muito de suporte, ela não é ainda, já mudou, as pessoas consultam mais, têm consultado mais a área, mas é muito como um setor de execução, tanto que ainda tem muito na cabeça das pessoas essa velha história de falar que comunicação é atividade meio não é atividade fim... essa mentalidade que a comunicação é atividade meio, que as vezes ela é importante, as vezes ela não é tão importante... (a comunicação é vista), mas como uma área que divulga informações... Por fim, a pessoa na época que era assessor do presidente, falou olha aqui a gente cumpre ordem, é pra você publicar, nem eu sei o quê que é... a gente é ligada a presidência né, mas acaba que quem tem contato com o Mais informacional. (uma comunicação mais interacional seria...) Que as pessoas pudessem participar mesmo. O máximo de interação é na verdade, como é que eu posso falar? A interação é mais no sentido assim pessoa pode dar sugestão, mas a sugestão é pra gente mesmo, é mais interessante pra gente do que pra quem ta sugerindo... ... (em relação às redes sociais) A gente não responde muito, é mais da gente postar... É mais no sentido da gente postar e receber essas solicitações que aparecem eventualmente... ... Relacionamento o que tem por parte do cerimonial tem o Conhecendo o Judiciário que é com os estudantes, com faculdades então sempre vem estudantes pra conhecer aqui, saber o que é, mas você fala assim com a sociedade, com o interno ai? Na maioria das vezes sim, a não ser quando tem alguma campanha... que a gente busca mais o cidadão mesmo de informar as pessoas, mas no dia a dia a maior parte são esses dois (público interno e cidadãos). vamos fazer mais decisão porque a gente consegue mais visibilidade se a gente fizer mais decisão, em A gente faz no que está no nosso relação a jornal e tudo... alcance e o que ... Então precisa eu já tinha te convencer o falado antes que pessoal aqui a gente quer até dentro que chamar uma precisa de empresa de fora informar quem pra poder fazer uma análise junto ta aqui para que eles possam com a gente. repassar isso, acho que é um trabalho que vai ser muito mais difícil da gente fazer. Assim cada um faz o seu e aí se reúne e aí vai ver. Mas acontece na organização as vezes de setor pedir determinada coisa ou determinada área está sabendo de alguma atividade e aí não repassar. Ás vezes a gente tem um pouco de dificuldade de comunicação entre a gente, entre os comunicadores... ...eu fico pensando se a gente tivesse todo mundo no mesmo local, porque acaba que você escuta uma coisa, você pesca, nossa gente isso aqui dá pra gente fazer isso, então acaba comentando e acho que flui melhor sim. Acontece, se a gente pensar como um todo assim. É difícil cada um no seu quadrado. 101 mesmo o público, quem que vai atingir, de que forma então é organizar, é separar mesmo a informação para ela possa ter maior destaque... Eu acho que essa questão estratégia, não sei se porque eu sempre gostei, fiz e acho importante, a organização ta longe disso, de valorizar esse capital humano que tem aqui porque pessoal daqui que vai fazer também, que vai multiplicar o que é feito aqui dentro. Organização Privada presidente é a gerente, que tem que ir lá olhar com ele alguma coisa, a gente tem mais algum evento. E varia muito de gestão. ... processo de Posicionamento... Porque eu acho que a Primeiro eu Comunicação gente deveria ouvir não diria tanto comunicação preciso estar organizacional... mais a comunidade, posicionamento. externa que é a ligada a hoje ela Violeta ouvir mais os Mas que ela visibilidade da estratégia da compreende a Montes empregados, mas a pauta algumas nossa marca, da empresa, tem Publicidade / comunicação da tônica é mais da ações nossa empresa que ta muito Analista empresa com empresa pro operacionais, ela pra sociedade, ligada muito a (especializa2002 / seus diversos empregado que do pauta... Sempre pro público estratégia, a alta ção em doze anos públicos de empregado pra externo, processo quando tem um diretoria da Gestão e interesse, como empresa... acho que a assunto de Comunciação que a empresa se empresa pra eu de comunicação tendência é mudar essa relevância interna é o Empresarial; comunica, como saber quais são visão muito estratégica pra desdobramento as mensagens MBA FGV) que a empresa unilateral... Eu não empresa a das mensagens que são leva suas comunicação é acho que a organização pro público mensagens tanto importantes eu ... medição em ... eu acho que a comunicação é gente tem que um gargalo... Eu considerar a quero agregar estratégia do valor pra minha público, não marca ali, eu chama a quero mostrar estratégia do público como que sou eu que to patrocinando e relacionamento, transformar mas a gente tem aquilo na que considerar o público na hora imagem positiva. de falar com ele. Dar significado pra aquela ação ...tenho o meu Não, não é necessário que ela (a comunicação) esteja na gestão da organização, mas o gestor da comunicação precisa ter essa consciência de que é importante que o analista que atende aquela... preciso 102 pra fora quanto pra dentro, de empregados, com os públicos de interesse mesmo. ...eu já ouvi diversas perguntas do tipo: 'ah você que é a menina da comunicação? Sou eu. Tudo bem? Tudo bem. Aqui meu mouse não tá funcionando você podia me ajudar?' Então as pessoas confundem muito a função do comunicador. Já escutei em reunião assim: 'ah mas porque a área de comunicação não funciona aqui na empresa, área da comunicação deveria providenciar blackberry pra todo mundo', então eles entendem muito a comunicação como ferramenta, como meio. E comunicação organizacional não é isso. A gente desenha as levar para o público. A partir dessa orientação estratégica a gente desenvolve as mensagens. Acho que é isso. É difícil explicar isso conceitualmente, a gente mexe com isso todo dia de uma forma tão natural e tão fluida que parar pra pensar nisso é engraçado, faz a gente pensar... É aquela comunicação que está intimamente ligada à estratégia da empresa, às diretrizes estratégicas da empresa, à visão da empresa e a comunicação caminha junto com essa estratégia que a empresa quer, então se a estratégia da empresa é crescer a comunicação está junto pra ajudar a empresa nisso. Se a estratégia da empresa é chamada pra interno; tem essa divisão. Mas na mesa pra discutir junto... Eu acho minha cabeça tem essa divisão, que a decisão da mas ... até pouco empresa a gente não consegue tempo atrás a influenciar... a gente fazia tudo muito integrado. gente faz análise do cenário, Eu nunca fiz um apresenta pro planejamento só gestor mas a pro público decisão é dele. interno, sempre Mas eu acho que que eu tinha alguma demanda é uma forma de ajudar ele a eu podia até escrever sozinha, tomar decisão. mas eu sempre chamava o profissional da Comunciação Externa pra compartilhar com ele... a gente tem diversos processos mas a meu ver a gente trabalha muito integrado. não deixa ouvir não... a gente fica tão imerso nas atividades do dia a dia, rotineiras, que às vezes esquece um pouco de ouvir o outro lado... tô falando uma vontade íntima que a gente deveria ouvir um pouco mais... ... A gente ouvia na área: poxa a informação não chega aqui. Então foi um exercício de ouvir. A partir dessa audição, a gente desenhou estratégias pra chegar a esse público... Então a gente leva informação pra ele e foi uma forma que a gente achou de levar informação pra ele porque a gente escutou (falando de um novo canal)... Informacional é mão única. Você informa, pronto acabou. Interacional você passa aquela mensagem, espera o retorno e vai construindo o significado. Vai e volta. Você faz o ciclo da comunicação completa, emissor, meio, receptor, meio, mensagem e feedback...É mais fácil fazer informacional. É mais fácil, é mais cômodo. Não é muito cômodo? Eu preciso passar uma informação... pá, jornal público operacional que é meu chão de fábrica, meu público não tem e-mail, o meu público tem um nível de escolaridade menor que o restante dos empregados. Então a forma pra eu falar pro público operacional que trabalha em regime de turno é diferente da forma de eu falar pro público administrativo por exemplo. E os meios são diferentes também. Público administrativo eu consigo usar mais ao meu favor o e-mail, uma newsletter, eu consigo fazer informação chegar mais fácil, público operacional não, eu busco novas formas de falar com esse pessoal, novos meios que cheguem a eles e a linguagem é um pouco diferente também, eu minha naquela comunidade. Como é que se mensura seu resultado? ... como que eu sei que aquele projeto, que aquele planejamento especificamente contribuiu para aquilo. Pode ter sido um tanto de coisa, eu faço um tanto de coisa lá... se eu fiz uma ação pra público interno a gente tem aqui um Comitê de Comunicação formado por pessoas de várias áreas, não só formadas em comunicação, que são os nossos radares. Então sempre que eu faço uma ação de planejamento mensalmente eu me reúno com essas pessoas, que são os meus radares e ou eu aplico uma pesquisa para esse Comitê me responder ou eu pego percepções... ... E trabalhando numa empresa viajar, é preciso estar no lugar pra conhecer os seus públicos e o gestor de comunicação como não tinha essa visão não possibilitava essa visão frequentemente, entendeu? não é a gestão da empresa, eu acho que é a gestão da comunicação, diferente daqui... você ter essa visão integrada, de comunicação integrada, de ir a campo, é equipe, não é empresa, é gestão da comunicação. Ela podia ter algumas coisas ah não tem verba pra viajar, isso pode acontecer, mas... sei lá, se você tem uma boa gestão você consegue argumentar. 103 formas, a gente desenha as mensagens, utiliza as ferramentas mais apropriadas pra gente conseguir levar aquela informação até o receptor... ... é a área que formata as mensagens de acordo com cada público, você pode falar de um jeito com um público, de outro com outro público, de acordo com o público alvo, escolhe o meio mais adequado pra falar com aquele público alvo e recebe o feedback daquela mensagem. Lélia Jornalista / Organização Coordenadora Privada (especializações em Gestão Estratégica de ... comunicar pra mim é o ato de você tornar uma mensagem 2005 / comum... seis anos quando a gente traz pra dentro da questão da empresa, do vender mais, colocar mais produtos no mercado, que seja, qual for a estratégia da empresa, a comunicação está junta. Qualquer outro tipo de coisa a comunicação fica descolada... se a empresa investe nisso eu vou junto, tem que estar sempre ligado senão não é comunicação estratégia, senão eu afundo a empresa... definir a forma, a mensagem chave que nós vamos passar de acordo com cada público... quando a gente constrói junto a estratégia não chega aquela bola quadrada pra gente poder comunicar. mural, não é muito mais fácil? (risos). Fácil não é não. Mas muitas vezes a gente faz é isso mesmo. preciso usar uma com engenheiros é mais difícil linguagem mais ainda, porque simples... Então eles querem só aí eu já te números e muitas falei que eu vezes a gente não considero a forma diferente e tem. Eu tenho a percepção. a estratégia, os interesses eu considero os interesses mas eu também falo o que a empresa quer que aquele público saiba, não só o que o público quer saber, entende? ...Porque eu preciso construir uma imagem positiva no coletivo desses empregados porque eles são formadores de opinião. Eu vejo grandes Quando falo um A primeira coisa Eu acho que às vezes a ... A gente tem um Comitê de avanços nesse processo de que fica muito gente tem um pouco a sentido, de uma comunicação eu claro é a questão ilusão de que à medida Comunicação comunicação entendo que da gente que a gente dispara por localidade, que hoje a gente existe uma cadeia trabalhar pro uma comunicação então são trabalha bastante não são áreas negócio. A gente organizacional, por pessoas das áreas exemplo, sobre um operacionais que vinculados com isoladas, e aí eu tem essa clareza determinado assunto estão nas pontas os objetivos de to falando de que nós somos de que os nossos e que além de negócio por publicidade uma área de A gente tem a pesquisa Imagem e Reputação, que ela é anual, feita em todas as áreas de atuação da instituição, então cada um de seus municípios tem o ... hoje, mesmo que você não queira conversar, as redes sociais estão ai pra isso, os canais estão muito mais acessíveis e a 104 Comunicação e em Responsabilidade Social) ambiente organizacional, eu acho que a comunicação é você tornar comum a mensagem da empresa com seus públicos, mas aí eu acho que existe o segundo passo que além de tornar comum, de levar essa informação, que ela seja devidamente compreendida. Um passo além... que (os públicos) entendam, não significa concordância, por exemplo. Significa entendimento. trabalhando na exemplo. Então sua caixinha, eu vejo que hoje eventos quando a gente trabalhando na fala de sua caixinha; comunicação eventos estratégica aqui trabalhando na dentro da organização, a sua caixinha, mas o entendimento gente não está falando nem só da comunicação como algo de um transversal a planejamento todos essas estratégico que caixinhas. E se se encerra dentro da nossa for nesse sentido eu entendo que própria área, aqui a gente mas inclusive de trabalha um vínculo comunicação muito estreito como um com os objetivos processo. de negócio da empresa... ... acho que a comunicação, se ela ta dentro da organização, tem que tá alinhada com os objetivos maiores, não pode ser comunicação pra si mesmo. Mas eu tive algumas experiências pontuais, em outras empresas que trabalhei ... que era um processo meio autofágico: as pessoas faziam comunicação para si mesmas, então a chefe ficou super legal apoio e que trabalhamos para o negócio da organização e tal... ... Eu vejo a comunicação é uma área aqui hoje dentro da empresa que é consolidada, ela é chamada para mesas da alta diretoria, para conversar sobre temas que são estratégicos, em momentos de crise, ela é uma área que realmente é consultada. Eu sinto que ela é ouvida dentro da empresa, em momentos de decisões importantes... ela tem assento nessas reuniões como ela é chamada a participar ativamente mostrando seus resultados. receptores vão pegar aquilo passivamente... hoje além de não concordar as pessoas têm canais muito acessíveis de inclusive manifestar essa não concordância com a mensagem seja ela qual for... eu acho que há uma necessidade cada vez mais premente de não se parar no ato de transmitir somente a mensagem, mas de buscar canais de diálogo, de retorno... abrir canais de diálogo eu acho que é um grande desafio hoje para qualquer instituição... Hoje, acredito que façamos bem essa transmissão. Sabemos da importância do diálogo, mas ainda não chegamos lá... A comunicação aqui é informacional... acho que é uma questão de amadurecimento (trabalhar o interacional)... da organização e do profissional... a gente vem historicamente de modelos que não conversavam nada, que não comunicavam nada. Que a organização, ela existia e ponto. Independente de quem ela impactava ou enfim, o empregado cederem informações para nos ajudar com essa replicação são também fontes pra gente, elas nos contam dentro desse Comitê se uma campanha foi bem recebida, se não foi porquê que não foi, o quê que estão achando daquela mensagem, a gente faz prétestes com eles mas ainda é um grupo... Esse grupo tem papel consultivo também, ele é um grupo que nos ajuda replicar, é um grupo de realiza pré-testes, é um grupo que nos ajuda com questão de leitura de cenário nas áreas e é um grupo consultivo onde a gente pergunta, vocês acham que isso vai dar certo? (Sobre canais de diálogo com os públicos) Na verdade isso é informalmente a gente... assim tem alguns canais mas que seu retrato nesse momento e os empregados a gente tem uma pesquisa também voltada para empregado, não necessariamente pra falar única e exclusivamente com comunicação mas a gente consegue tirar uma série de comunicação, uma série de coisas... Então, quando a gente fala em apresentar resultados, a gente faz relatórios sobre as nossas ações, a gente tem um esforço muito grande hoje em procurar formas de mensurar, ainda é o ponto mais sensível no nosso planejamento, mas a gente tem tentado. É incipiente, mas a gente mostra planejado e realizado, quando tem algum outro tipo de mensuração a gente leva isso também e ai vou te dar exemplos: nossa equipe é uma equipe de pessoas jovens que estão super ligadas nesses movimentos. Então eu acho que o dia a dia acaba não deixando pensar nisso. Nós somos obrigados a pensar nisso hoje, mas ainda existem uma parcela que acho que acho não tem isso tanto no drive. 105 esse mote, essa abordagem, mas e o público? Será que o público vai compreender? ... ... pra comunicação ser estratégica precisa de um amadurecimento de objetivos principalmente. Então, mais do que produto que você vá gerar é a solução; de onde você partiu, quais são seus objetivos, o seu problema pra uma solução e não necessariamente a entrega de um produto... Hoje a gente trabalha com um planejamento de comunicação todo desenhado com equipe... Além desse planejamento anual, a gente faz uma releitura de cenário, com as estratégias, as principais entregas, faz toda uma análise de imagem. ele ia lá cumpria seu horário de trabalho, ia embora. Então, isso é muito recente, eu acho que a gente tem caminhado, tem avançado e acho que essa comunicação interacional ela é um passo a ser dado, e acredito que na maioria das organizações. eu não entendo que sirvam nesse sentido que você está dizendo. A gente tem o Fale Conosco, a gente tem um e-mail que as pessoas podem mandar, a gente tem enfim... mas eu não acho que seja nesse sentido não... o relações com a comunidade (que não é da comunicação) faz uma reunião e tem todo apoio da comunicação principalmente com a parte de conteúdo, mensagem, posicionamento. programa de visitas, a gente consegue mostrar que a visita que chegou aqui com imagem X da empresa, na hora que ela foi embora ela teve uma imagem Y... Então, o que está na nossa rotina, quando eu falo que é pra mostrar os nossos serviços, resultados na verdade é o report das ações que a gente entregou, a gente tenta enriquecer isso com alguns depoimentos e sempre que a gente aplica pesquisa mostrando esses resultados, também. 106 Comunicação organizacional pra mim é toda forma de comunicação, processo de comunicação na empresa que envolve a sub área de comunicação interna, comunicação externa, publicidade, de maneira geral isso. Formas de comunicação da Gravatá empresa com Relações seus públicos. E Públicas / aí tem as sub Gestor de divisões, Processo definição de 2003 / Organização (especialipúblico, tudo Dez anos Privada zações em aqui que Marketing e envolve em Gestão comunicação Estratégica da dentro de uma Comunicação) empresa com seus públicos... acho que comunicação organizacional ainda precisa ser melhor entendida pelos gestores, precisa ser mais valorizada de forma geral pelas empresas, o profissional precisa entender o seu papel dentro desse cenário das Comunicação estratégica pra mim é uma comunicação que passa pela gestão da empresa. É uma comunicação, um processo de comunicação que faz parte da gestão da empresa como um todo. Não só da área de comunicação... É ser considerada uma área estratégica pra tomada de decisão, uma área que é muito consultada para tomada decisões não só que envolvam a comunicação, mas de uma maneira geral... Eu acho que o conceito de comunicação estratégica perpassa por isso eu acho que nós profissionais de comunicação buscamos mais isso, entendemos mais comunicação dessa forma, buscamos mais a comunicação estratégica dessa (Comunicação Organizacional) Acho que são processos da área de comunicação, mas que envolvem a empresa como um todo... Acho, por exemplo, que comunicação interna é um público da empresa que é feito através de processo de comunicação e muitas vezes ou na sua maioria das vezes com gestores da empresa... a externa também, são processos de comunicação que são puxados pela área de comunicação, mas que têm como mediador um porta voz, uma pessoa da empresa, um gestor da empresa... são processos divididos em comunicação interna, comunicação externa e abriria a externa em publicidade e todas elas, e talvez em publicidade e ... a gestão não vê comunicação em sua forma tão estratégica como deveria... a gente é só uma dentre outras e vejo um anseio dos profissionais de comunicação pra que isso seja realmente estratégico ou que comunicação estratégica seja entendida dessa forma pelas organizações... hoje, os profissionais de comunicação têm assento na mesa de decisões, seja de novos negócios, seja de Comitê quando tem crises... Então eu acho que evoluiu muito e alcançou um respeito. O próprio gestor, a gestão da empresa sabe a importância de ter a comunicação, de usar a comunicação pra que as ideias e soluções possam ser mais assertivas e benéficas pra organização. Desde novas Eu acho que informacional; é uma comunicação voltada só pra informar, não é uma via de mão dupla é uma via de mão única, e a interacional é onde tem uma interação, uma via de mão dupla, tem um diálogo, consegue ter um retorno daquela informação se tornando um diálogo. Informacional é o que o veículo de comunicação faz simplesmente te informa de determinada... te passa uma informação, mas não te escuta... Ela caminha pra ser bem interacional... No planejamento, você escuta público interno pra fazer o planejamento de comunicação, primeiro você faz uma consultoria com eles, faz um levantamento de cenário com ele para traçar as soluções de comunicação. Você faz uma pesquisa ao final do ano pra ver como que foi o atendimento de comunicação de forma geral. Como comunicação atuou nesse cenário que ele opera de forma geral. Então, acho que a gente consegue chegar ... tanto os públicos quanto os meios que você vai utilizar para atingi-los, o formato acho que tudo isso faz parte dessa estratégia, tanto que essa subdivisão de processos ajuda muito... Eu acho que ela (a organização) procura ter uma comunicação muito aberta com os seus públicos. ... É criar um canal, um diálogo com eles seja através da comunicação direta, seja através de veículos de comunicação pra que haja uma troca de informações que você possa suprir a necessidade que eles têm de informação... (sobre ações de diálogo) Tem uma área que é só pra isso, por exemplo, com o público externo que é área de relacionamento com comunidades. ... a gente tem vários tipos de pesquisa, desde um evento, você ter pessoas fazendo questionários, até pesquisas maiores de opinião pública, de como é que os temas estão sendo absorvidos por aqueles públicos... Eu acho que de uma maneira geral pra comunicação muito poucas empresas vão fazer grandes pesquisas ou na quantidade que a gente faz. Todo evento vai ter uma pesquisa que nos supre de informações... a pesquisa grande de imagem externa, ela nos balizou ela sempre foi o balizador para nossa estratégia, mas ter uma área que faz pesquisas ou a gente analisar pesquisas ta hoje nos nossos planos de comunicação como item que não pode faltar, o item que tem que E você não perguntou, mas eu acho que é uma coisa interessante, é claro que o nosso papel é trabalhar a imagem da empresa, visibilidade, e fica a cargo do relacionamento trabalhar realmente o relacionamento, isso não impede que nós comunicação... não quero dizer que trabalhar com comunidade não tenha que ter proximidade, você tem que ter todos os inputs pra trabalhar proximidade, fica muito claro o objetivo do profissional com essa separação. Com isso, prioriza a informação, a transmissão da informação... ... Tem que entender eu acho que é uma coisa cíclica. A partir do momento que você tira pedido você deixa de Eu acho que o profissional de comunicação ele é muito de fazer, ele faz entrega e já vem outro job e vai pra outra entrega ele não tem muito tempo pra pesquisar, pra ver se deu certo ou não... É um profissional muito de entrega né? Um profissional que vai entregando, é uma área muito de serviço, que vai entregando serviço para as outras áreas e acho que é visto por isso, por uma demanda rápida, seja por uma demanda interna e você não tem muito tempo pra poder fazer essa mensuração, que hoje é vital para comunicação da empresa. Então a gente evoluiu nesse quesito (pesquisas), deve ter uns dois, três anos mas que é uma grande evolução... quando você 107 num nível bem estruturas até institucional... é empresas, dentro forma. E da estratégico com esses passar uma desse cenário da forma de gestão perceptível nos gestores locais pra mensagem planos, nas gestão para que não havia essa propor soluções e a estratégica de formas de possa oferecer e contrapartida atuação que você alguma mudança gente acaba sendo uma ser visto forte, mas via mais de mão dupla hoje a gente realmente de profissional de consegue mapear com ele, desde o participa dessa o que é de cada forma comunicação decisão... (é uma planejamento até esse processo, eles estratégica para acho importante retorno. Acho que você participação) vão fazer uma os objetivos da ter, ter fecha esse ciclo... Consultiva. Se o empresa. trabalhado essas entrega grande Também a gente disciplinas dessa para os clientes profissional falar trabalha com deles que envolva não e o gestor forma... achar que sim ele informações passadas todos esses Estratégico, eu vai fazer... Então pelos gestores locais, acho que é o que processos mas pelos relações com ela não é de pensa junto com você consegue decisão, mas de comunidade, rc’s, pra percebê-los de o gestor nas poder trabalhar a um suporte da soluções. Propõe forma separada. mensagem, os temas área pra ver oh soluções para que a gente vai eu tenho que aquele trabalhar. entrar nessa área problema... o quê eu faço, ... Quando você com quem eu busca devo conversar, comunicação quais os estratégica, acho melhores que o caminhos, mas eu profissional estou entrando, busca que a nesse sentido... gestão da acho que 90% empresa use a dos casos nós comunicação de somos escutados. forma estratégica para haver os ganhos e não seja só um plus, que faz só quando tiver dinheiro... Comunicação estratégica busca um pouco disso, trabalhar pra empresa pra que ela, independente do que faça, ela possa utilizar a ser avaliado então ta sendo importante pra gente poder lembrar isso, por isso no nosso farol. Profissional muitas vezes a gente tá sempre correndo pra poder fazer entregas e as vezes a gente não para para poder mensurar aquilo que a gente ta fazendo... Lógico que a gente tem aquelas outras pesquisas normais, antes de lançamento de campanha e tem pra avaliar qual a percepção do público pra determinado jornal, pesquisa de publicidade. Mas pesquisas que dão retorno, que subsidiem a estratégia macro da empresa , eu te diria que a principal pesquisa que a gente faz é uma de imagem, que vai subsidiar o nosso trabalho no Brasil como um todo. ser estratégico pra empresa, você deixa de ser estratégico, você deixa de ser valorizado. É uma coisa em ciclos. Eu acho que a gente tem que pensar o que nos diferencia o profissional de comunicação de uma gráfica que é só produzir um informativo. Na comunicação organizacional você tem que ser uma área pensante que vai propor soluções que vai subsidiar comunicação daquela empresa, não fazer comunicação como um todo, mas subsidiar para que os gestores possam tomar decisões. Se você simplesmente for uma pessoa que imprime o jornalzinho você não é nada estratégico, não faz diferença pra estratégia da empresa e da organização de trabalha o seu planejamento sem estratégia você vai ser o tarefeiro, aquele que tira atendimento da padaria. Quer pão tome pão, quer uma empada toma empada. Se você trabalha sem planejamento, sem estratégia, não fizer parte da gestão, você vai ser só um tarefeiro... .... De forma geral, acho que as empresas buscam só passar informação. Acho que é mesmo só informar, as empresas hoje estão no momento de só informar. Acho que o caminho, o próximo passo ... seria ter uma interação maior, melhor e ser mais estratégico e ta muito ligado o fato de você ser uma comunicação que só informa com o de tirar pedido da padaria e ser 108 comunicação ou usa comunicação pra atingir seus objetivos... uma maneira geral. pouco estratégico... evoluindo nessa pirâmide, ai você consegue se tornar mais próximo, estratégico e deixar de ser simplesmente comunicação informacional. 109 Organização de capital misto É um meio pelo qual a empresa se relaciona com os seus subordinados, com as suas equipes, pra difundir a sua estratégia, fazer um alinhamento com os seus públicos de relacionamento interno e externo... Alinhamento é uma forma de trabalhar e disseminar as Jacarandá informações de Jornalista / maneira que Gerente todos tenham (especializa1996 / 16 conhecimento ções em daquilo que anos Marketing e deve ser feito da em forma mais Comunicação adequada... (os Corporativa) públicos) devem estar alinhadas ao que foi estabelecido... (em relação a alinhamento externo) A empresa deve se comunicar com o externo da maneira mais adequada para que eles percebam a empresa, como ela quer ser definida, como ela deseja ser percebida, então Comunicação estratégica é o que deve ser feito, deve ser trabalhado pelas empresas, pelas corporações de forma geral de maneira que haja um entendimento de todos que estão envolvidos para que a empresa consiga alcançar os resultados esperados... a comunicação organizacional ela tem que ser feita e deve ser feita de maneira estratégica... se não for assim acaba que você corre o risco de não alcançar os objetivos esperados... pra mim, a comunicação organizacional, ela necessariamente, ela deve ser de forma estratégica... as ações as atividades que estão sendo feitas pela comunicação que são de responsabilidade da comunicação eles estão seria... a contribuição da comunicação para que os objetivos estratégicos sejam alcançados. Alinhados à missão e à visão da empresa. a criação de uma diretoria de comunicação, então isso reforça a presença e o peso vamos dizer assim, da comunicação nas decisões da empresa, então isso aconteceu há três anos e a gente percebe internamente como que as áreas da empresa de uma certa forma elas respeitam, estão atentas às questões que podem impactar a marca, a reputação, a imagem da empresa e não se posicionam principalmente externamente sem que a comunicação seja envolvida. Ela é mais informacional, deveria ser mais interacional, a gente vem discutindo algumas formas de fazer com que ela seja mais interacional, mas, hoje ela ta mais informacional. Talvez pela cultura, pelo tipo de produto que ela oferece, pela forma como ela está inserida no mercado, talvez até um certo comodismo vamos dizer assim, uma certa... não seria comodismo, como ela tem os clientes cativos acaba que ela não faz uma interação muito grande. Faz com alguns desses públicos, tem uma interação, mas a grande maioria não há uma interação, há um atendimento, então a gente precisa caminhar pra isso... Preocupação que as corporações têm tido e a gente aqui também com as redes sociais, que é uma forma que as pessoas estão encontrando para se manifestar e é importante que as empresas estejam atentas a isso, porque elas podem ser atingidas direta ou indiretamente, positiva ou negativamente, então é um ponto de atenção que é preciso ... ela busca é um equilíbrio para atender os desejos, os anseios desses três (prioritários, clientes, investidores e empregados)... Então ela procura relacionar principalmente com esses três públicos de maneira equilibrada buscando atender os interesses dos três. ... nem sempre dá pra mensurar aquilo que é resultado da empresa, mas que foi impactado positivamente pela comunicação, na medida em que você conduz ações, você realiza campanhas, faz alguma publicidade e aquilo contribui para que você atinja melhores resultados, seja através da publicidade, da participação em eventos, de ações sociais, patrocínios culturais enfim, são várias formas de mostrar que aquela empresa é uma empresa socialmente responsável, empresa que preocupa com as questões culturais onde ta inserida, contribui para o desenvolvimento da sociedade, qualidade de vida das pessoas... Bom, busca-se monitorar para ... (a comunicação é a) mediadora entre a empresa e esses públicos (os de relacionamento) mostrando exatamente aquilo que a empresa pretende fazer, pretende entregar. Então, se tem por exemplo determinada situação que deve ser levada para esses públicos, a comunicação vai fazer da maneira mais adequada considerando as particularidades de cada um deles de maneira como a gente tinha falado no início, de maneira alinhada. É a mesma mensagem para públicos distintos e ela precisa ser adequada para esses públicos e é papel da comunicação fazer isso... Então comunicação ... apesar do posicionamento de outras áreas, que sempre envolve a comunicação numa empresa que não é uma empresa de comunicação, acaba que é vista como uma empresa de engenharia e a comunicação ela é vamos dizer assim um apoio... (sobre a participação de discussões mais conceituais) ... Acaba que a gente fica muito envolvido na rotina, no dia a dia, é um pouco atribulado e acaba ficando em segundo plano. É importante também a gente tá tentando trabalhar e buscando essa mudança que eu considero que é fundamental para que aprimore as nossas entregas e acaba que essa discussão conceitual hoje ela não é uma prática nossa 110 as ações de comunicação elas têm que ser planejadas, pensadas de maneira estratégica para atingir seu objetivo. Como eu quero ser visto, como eu quero ser percebido pelos meus diversos stakeholders sejam eles clientes, sociedade de uma forma geral dependendo do tipo de serviço da empresa no nosso caso aqui por exemplo que é uma empresa que presta serviço e relaciona com diversos públicos, o alinhamento é uma ação de comunicação considerando as especificidades de cada público. contribuindo direta ou indiretamente para o alcance do resultado como um todo da empresa... ... (concretização da estratégia) Na medida em que você conduz as atividades, o trabalho, as ações mostrando para empresa ou para os empregados que a sua atividade, que a sua atribuição, sua atividade está relacionada aos objetivos estratégicos da corporação... seja ela uma comunicação face a face ou uma comunicação por meio dos diversos veículos que a empresa tem. ter... Acho que é importante estar atento ás mídias sociais e o que é postado. Fazer o monitoramento da forma geral e ter um cuidado especial com as mídias sociais. tem esse papel e ver se tem como efetivamente os contribuir nesse esforços que sentido pra estão sendo preservar a feitos estão imagem, realmente reputação, a atingindo seus marca enfim... objetivos e ... é papel da contribuindo comunicação para os fazer esse resultados da trabalho de empresa e aí é envolvimento, uma forma de avaliar se precisa de engajamento pros haver um redirecionamento empregados... ou alguma mudança estratégica de maneira a mensurar se o que está sendo feito está sendo conduzido pela comunicação está de fato contribuindo para alcançar os resultados esperados. embora muito importante até para gente saber o que está acontecendo na academia, o que pode ser aplicado no dia a dia nosso aqui importante que seja feito isso mas não é um hábito, não é uma prática usual no nosso dia a dia... ... isso é que faz com a gente aprimore as nossas atividades, embora muita coisa que seja discutido, que seja apresentado na academia na hora de aplicar há um certo distanciamento mas é importante a gente acompanhar isso. Teoria da prática as vezes há um distanciamento mas importante que haja uma discussão e aplicar aquilo que é avaliado, que é adequado para a empresa. 111 Organização de capital misto Jaborandi Relações Públicas / Coordenador (especialização em Gestão Estratégica) Bom, eu vejo mais com relação à gestão da comunicação, é o alinhamento que a área da comunicação tem que ter com as áreas da empresa pra poder focar nos objetivos estratégicos e tornar mais viável a obtenção dos resultados que são traçados pela área específica que faz esse trabalho, esse vamos dizer 1981 / 35 assim anos direcionamento estratégico corporativo macro. A comunicação é uma área de facilitação para poder tornar, agregar mais participação do empregado, uma área extremamente estratégica dentro desse processo na corporação... comunicação organizacional é a gestão da comunicação estratégica. ... eu vejo a comunicação muito mais estratégica do que ela era anteriormente há 15 anos atrás a percepção era outra, talvez 20 anos atrás a comunicação era mais voltada para área também obviamente de levar informações para os empregados mas ela não tinha esse foco estratégico, ela não tinha essa busca do envolvimento dos empregados nas questões administrativas da empresa. Aí que eu vejo a grande mudança que houve nos 20, 15 anos pra cá. ... (como a comunicação estratégica se materializa) Por meio dos meios de comunicação interna que a gente tem aqui. A gente vê a transmissão das informações pela área responsável por ... os processos de comunicação, são os planos de comunicação, é o trabalho que a gente realiza com as áreas para tornar viável todas as necessidades não só das áreas como da própria área nossa, da área de comunicação e da diretoria. A gente é demandado pelo diretor que tem um alinhamento obviamente com as outras diretorias... o processo como um meio extremamente importante e que vem sendo valorizado nos últimos anos, cada vez mais como uma ferramenta estratégica que anteriormente não tinha essa conotação e o processo de comunicação das grandes empresas, hoje ele é levado com muito mais importância... Hoje a comunicação é ... Ela está alinhada aos processos de comunicação, principalmente de recursos humanos, porque a demanda a área de comunicação eu colocaria aqui pelo menos 60% da demanda que a gente tem aqui é com relação a área de recursos humanos... ... (se a área influencia na tomada de decisões) eu não tenho acesso a esse tipo de informação mas eu acredito que sim, eu não sei até que ponto... Eu ousaria até dizer que algumas situações ela (a área de comunicação) é demanda sem pudor... simplesmente me dá isso aqui eu vou escrever e publique-se, pronto. O foco é mais na troca de informações entre o corpo gerencial com a base da empresa, é levar informação de uma forma eficiente, clara, onde possa haver um questionamento empregado e esse questionamento pode ser respondido na hora de forma a buscar cada vez mais trazer o empregado pra perto da administração... ... A gente tem inclusive o Comitê de Comunicação que você conhece onde a gente um representante de cada uma das diretorias pra poder trazer as pautas para serem discutidas, serem analisadas e a gente fazer uma seleção daquelas que a gente julga ser mais oportunas ou mais estratégicas para poder divulgar nos nossos meios de comunicação interna ou externa... ... no jornal interno você tem uma série de editorias que você vai relatar experiências, sejam elas técnicas ou pessoais de empregados. Isso é interação, você dar oportunidade para o empregado relatar uma história dentro do cotidiano dele no dia a dia, como no jornal ... Eu acho que a organização tem interatividade a partir do momento que busca participação do empregado para poder trazer as experiências que ele tem no mercado de trabalho dele para relatar isso nos seus meios de comunicação e buscar o envolvimento de outros empregados... Às vezes você gera um interesse, uma busca por conhecimento, uma participação... Tem vários indicadores. Tem indicadores de processo, tem indicadores de produto. No caso da nossa área de comunicação interna a gente tem alguns indicadores que a gente monitora como, por exemplo, no caso do Comitê, a gente monitora o número de inserção das matérias que são sugeridas, no caso do atendimento online, a gente monitora também o índice de satisfação dos meios de comunicação que a gente faz com todos os empregados pra gente monitorar também. Pra buscar o envolvimento, pra buscar a participação, pra buscar o empregado vestir a camisa e realmente dar o retorno esperado, então quer dizer a comunicação ela tem esse papel extremamente significativo dentro desse processo... ... a área de comunicação vai facilitar a comunicação e o envolvimento, levar informação estratégica para os empregados para buscar esse retorno e no final vai ser canalizado obviamente para área financeira e pros investidores e pro retorno... tem a mídia também voltada para o público externo para poder levar essas informações e buscar e agregar valor a marca, percepção da marca, O retorno esperado são os resultados financeiros. Eu vejo isso de uma forma muito preto no branco, quer dizer, o investidor no caso específico da nossa empresa ele espera o resultado financeiro no final... ... Tem discurso mas não tem resultado... Então assim, eu não vejo empenho e engajamento que deveria ter nos gerentes... Isso (o não falar, ou a não transparência em alguns momentos) é uma estratégia a gente tem que respeitar essa estratégia da empresa e a gente tem que fazer de acordo com o que é determinado. ... A área de comunicação, ela sempre foi muito aberta ao diálogo, à transparência, ao trabalho que a 112 vista como área isso, a criação estratégica da de um empresa, uma informativo que área importante é voltado estrategicamente que vai facilitar o trabalho em para várias frentes, eu comunicação vejo dessa forma. estratégica e Processo de voltado para o comunicação face a face que é hoje é um um dos maiores processo entraves que a significativo e é gente tem nas dado a empresas que é importância e o o comunicação valor pra ela, face a face, pelo menos é o infelizmente. que ocorre aqui na organização. mural por exemplo, de ter uma série de matérias que a gente divulga a empresa com a participação do empregado, seja ela por meio de experiências ou por meio de histórias, e tem a comunicação informativa que são as informações que a gente julga importantes transmitir para todos os empregados... percepção da reputação da empresa que vai gerar mais valor obviamente a empresa. gente faz de divulgação dos assuntos que as diferentes áreas da empresa julgam ser importantes. A gente sempre faz o possível para poder atender as reivindicações, as necessidades das diferentes áreas e dos diferentes assuntos que são apresentados aqui pra gente... ... Eu vejo chegando os estagiários, os novos profissionais, mas não vejo uma visão assim dessa importância da comunicação dentro da área estratégica por exemplo, com a visão que a pessoa tem que ter com relação a esse posicionamento. 113 Organização de capital misto Jequitibá Publicidade / Analista 2002 / três anos Olha, quando vem esse nome, comunicação organizacional, a gente imagina realmente uma associação, uma comunicação com um peso maior na organização e você atrelar as atividades dela realmente à estratégia da empresa. Ela ter esse peso maior. E ela ser mais atuante no sentido de também influenciar na estratégia... ... Eu acredito que na hora que mudou o conceito que às vezes o pessoal tem uma ideia meio frívola de imaginar que comunicação é só fazer uma propaganda na TV e tudo mais, ou não se dar a devida importância ao atendimento à imprensa ou à organização de um evento, ou verificar que isso deu um peso pra imagem da ... é atrelar (a comunicação) cada vez mais as atividades da organização. Não ser algo dissociado. Porque acredito que antigamente as empresas muitas vezes contratavam fora profissionais de comunicação ou achavam que só contratando um agente de publicidade dava conta das demandas que surgiam da natureza da comunicação e hoje em dia a gente vê que não é isso... ... Entrave de mentalidade. Tem hora que a impressão que dá é que as coisas não foram bem planejadas ou que assim eu sempre associo muito a questão da estratégia com uma certa medida de planejamento e de você conseguir atender e aquele planejamento aconteça. Não quer dizer que ... são frentes de trabalho distintas com início, meios e fins diferentes. Então você consegue distinguir ali as vezes o ponto de partida pode vir da comunicação interna, pode ser uma demanda do gerente... processo exatamente por essa questão do início, meio e fim quase como particularizado... por mais que fale de comunicação integrada, eu acho que tem hora que fica muito feudo então acho que... eu não sei, quando falam em trabalho de processos, você lê alguma coisa a respeito parece que formam mini equipes mesmo multidisciplinares para trabalhar aquela questão ou aquele processo, aquele evento, aquele projeto. É as vezes as coisas são muito dissociadas, não a minha área, eu só vou mexer com as coisas da ... se você for pensar a nível de diretoria, você tem um diretor, acredito que ele realmente deve participar mas eu não sei qual é o nível não consigo enxergar isso tão claro. Não sei até que ponto que ele...é aquele negócio que eu falei de impor, se ele ta lá também decidindo tudo, se ele entra na pauta pras decisões, eu acredito que sim mas eu não consigo enxergar tão claramente. Em termos de interação com os públicos porque na verdade interação sempre pressupõe também um retorno deles, e você também alterar diante dessa demanda. Olha eu acho que há ainda a postura da empresa e pela natureza mesmo quando você vê a atuação da organização em rede social você vê que ela é muito reativa, ela é muito estática, ela muito de informação, ela é muito de caráter de informação e muitas vezes que há reclamações de clientes não vejo uma preocupação grande da empresa de ficar respondendo não. Então assim acho que no geral a empresa é muito do caráter de informação, caráter de prestar contas aos públicos mas sem abrir muita margem para retorno, pra poder alterar diante do que eles enxergam... às vezes o pessoal tem informação por outros meios que não a imprensa e porque no primeiro momento o pessoal fica muito fechado e poder de tomar decisão é meio lento... Eu acho que é ... eu não vejo com tanta clareza quais que são os posicionamentos da organização para os diversos públicos... e esse é um problema até mesmo pra poder trabalhar a imagem da empresa, eu não sei, não é muito claro para mim não qual que é o foco dela quando trata a comunidade, quando trata o consumidor final, dentro dos consumidores finais há uma divisão então tem o consumidor que você faz um contrato específico com ele, tem o residencial, tem o rural então assim eu não sei e eu também não consigo enxergar como que comunicação aqui pesa diante desses posicionamentos, não sei isso ta muito claro, não sei se isso parte da nossa comunicação. ... nós somos os empregados encarregados de tratar, de cuidar da comunicação da empresa e acho que há uma falsa impressão que é muito fácil tratar de comunicação, todo mundo acha que é um pouco profissional de comunicação. Então isso tira a credibilidade da área e acaba a gente sofrendo essa pressão externa. Então por pressão acabamos atendendo essas demandas de paraquedas... ... eu não vou na engenharia e falar: ah não você tem que fazer essa obra desse jeito, mais ou menos nesse sentido. E às vezes, na área de humanas, parece que as pessoas enxergam com pouco importância as áreas de humanas... ... muita coisa baseada em pesquisa, então 114 minha área e a num empresa, pra as pessoa parece planejamento atividades de que fecha não você não vai peso estratégico quer nem antigamente não cumprir 100% enxergar o que você vai tinha essa percepção e hoje cumprir, você veio antes e o que veio depois. Tipo tenta cumprir em dia tem. assim, fiz minha mas quase Então eu parte agora... sempre você não acredito que essa mudança de consegue mas tem hora que percepção dos parece que as diretores é que coisas surgem deu o devido muito de valor e acabou paraquedas. formando a área Soltas. de comunicação organizacional. Ao que me da mentalidade da empresa, eu acho que a parece, parece muito piloto empresa ela tem um automático. Ah a caráter ela é muito gente tá fazendo tradicional, muito assim então... tradicionalista e essa questão de ser do governo também e então... eu acho que muita coisa já fica velada meio que automaticamente. assim quanto mais a gente se impor nesse valor técnico que a gente, ter o suporte da gestão pra que a gente se imponha acredito que mais a gente vai ganhar em termos de estratégia de poder estabelecer realmente a estratégia nossa... às vezes também o profissional atua nesse sentido (da estratégia) e ele é tolhido e não recebe o devido suporte dos gestores... O gestor enquanto profissional de comunicação também se impor, questionar, nesse sentido.