CONSTRUÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS (MD) DOS GRUPOS
SANGUÍNEOS AB0: UMA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR
Elisandra Brizolla de Oliveira 1 - UFES/CEUNES
Biágio Sartori Sampaio 2 - SEDU
José Aparecido da Silva Fernandes3 - UFES/CEUNES
Geovane da Silva Paixão 4 - UFES/CEUNES
Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora- Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo
Resumo
O ensino de genética, incluindo os conteúdos relacionados ao Sistema Sanguíneo, muitas
vezes é abstrato para os estudantes e isto pode levar ao desinteresse além de dificultar a
aprendizagem. Por este motivo surge a necessidade de metodologias didáticas alternativas na
perspectiva de mediar o entendimento teórico. Neste contexto os Modelos Didáticos (MD)
podem se configurar como ferramentas fundamentais e alternativas para o processo de ensino
e aprendizagem, uma vez que possibilita relacionar os conceitos teóricos aos objetos
utilizados para a contextualização, favorecendo a construção e ressignificação de conceitos
pelos próprios alunos. Assim, a proposta desenvolvida teve por objetivo, elaborar,
confeccionar e avaliar os MD do Sistema AB0, na perspectiva de auxiliar na compreensão e
aprendizagem destes conceitos, além de possibilitar a interdisciplinaridade. Este estudo
apresenta resultados do trabalho de elaboração e confecção e avaliação de modelos didáticos
desenvolvido com estudantes do 2º ano do Ensino Médio, permeando reflexões sobre o
processo de construção e aplicação, e contribuição nas práticas pedagógicas dos professores,
além de possibilitar à contextualização e interação entre as áreas. A construção de modelos
representativos do sistema AB0 é uma proposta de fácil confecção, que complementa a
fundamentação teórica sobre o sistema sanguíneo, tornado o conteúdo mais concreto. Os
1
Mestranda em Ensino na Educação Básica pela UFES/CEUNES. Especialista em Tecnologias em Educação
pela PUC-Rio e Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Florestais pela Universidade Federal de Lavras.
Graduada em Ciências Biológicas pela UNIJUÍ . Professora de Biologia na Educação Básica da Rede Estadual
de Ensino do Espírito Santo (SEDU). E-mail:[email protected].
2
Mestre em Agricultura Tropical pela UFES/CEUNES. Especialista em Fertilidade do solo e nutrição de plantas
no agronegócio pela Universidade Federal de Lavras. Graduado Licenciatura em Ciências Plenas /Biologia pela
UNIJUÍ, Técnico em Agropecuária pela EFAV/MEPES, professor de Biologia do Ensino Médio Integrado curso
de Agropecuária da Rede Estadual do ES. E-mail: [email protected].
3
Mestrando em Ensino na Educação Básica pela UFES/CEUNES, Especialista em Matemática e estatística,
Graduado em Licenciatura Matemática/UNIJUÍ. Professor da Rede Estadual de Ensino do ES. E-mail:
[email protected]
4
Especialista em Educação Ambiental pela Faculdade de Nanuque (FANAN). Professor da Educação Básica. E mail: [email protected].
ISSN 2176-1396
9610
estudantes sinalizam positivamente diante da metodologia adotada, pois, sentiram facilidades
de compreender o tema, que é abstrato, mas que ao mesmo tempo faz parte do seu cotidiano.
Os professores avaliaram os modelos como metodologia pedagógica viável tanto na
contextualização de conceitos, quanto na forma lúdica de trabalhar os conteúdos relacionados
ao Sistema AB0
Palavras-chave: Modelos didáticos. Sistema AB0. Interdisciplinaridade.
Introdução
Tomando como base os anos de docência no ensino o e os principais questionamentos
e ideias dos alunos sobre assuntos relacionados à genética e compatibilidade dos grupos
sanguíneos AB0, bem como as dificuldades para se ministrar conteúdos de Biologia no ensino
médio, optamos por pensar em metodologias alternativas de forma a contribuir para os
processos de ensino e aprendizagem deste componente curricular e na possibilidade de
integrar as disciplinas. Surgiu, assim, a proposta de elaborarmos Modelos Didáticos (MD),
que facilitassem a compreensão do conteúdo de forma contextualizada, lúdica e que motivasse
os estudantes na ressignificação de conceitos.
Corroboramos com Kishimoto (1996), ao inferir que o professor deve rever a
utilização de propostas pedagógicas utilizando em sua prática aquelas que instiguem a
aprendizagem e a apropriação de conhecimentos por parte do aluno.
A utilização de modelos didáticos para introdução de conteúdos em sala de aula
desperta curiosidade além de motivar os estudantes a conhecer o tema a ser estudado. Essa
metodologia de representar com modelos, auxilia na desmistificação de informações,
aproximando os jovens de um a realidade ou assunto que tende a ser abstrato, tornando-se
possível estabelecer o vínculo necessário entre a intervenção e a prática na qual,
a ideia de modelo didático permite abordar (de maneira simplificada, como qualquer
modelo) a complexidade da realidade escolar, ao mesmo tempo em que ajuda a
propor procedimentos de intervenção na mesma e a fundamentar, portanto, linhas de
investigação educativa e de formação dos professores (GARCIA, 2000, p.4)
Corroboramos com Cavalcante & Silva (2008), ao propor que os modelos didáticos
permitem a experimentação, o que, por sua vez, possibilitam os estudantes a relacionar e a
praticar. Isto lhes propiciará condições para a compreensão dos conceitos, do
desenvolvimento de habilidades, competências e atitudes, contribuindo, também, para
reflexões sobre o mundo em que vivem. Justina; Barradas e Ferla (2003, p 135) define
modelo como um “sistema figurativo que reproduz de forma esquematizada e concreta a
9611
realidade”, o que torna mais compreensível ao aluno o objetivo do ensino proposto ao
representar uma estrutura que pode ser utilizada como referência, ou seja, a materialização de
uma imagem, ideia ou conceito, tornando tudo isso assimilável.
Neste sentido, a integração entre as áreas possibilita uma discussão sobre o tema que
vai desde o conhecimento prévio ou senso comum, passando pelas questões sociais culturais e
étnica, dando enfoque nas campanhas de doação de sangue e a importância destas na saúde
até a ressignificação de conceitos sobre os grupos sanguíneos. Entretanto, o senso comum,
como defendido por Fazenda (2013, p.20), quando interpenetrado do conhecimento científico,
pode ser a origem de uma nova racionalidade.
A prática serve como ponto motivador para iniciar os trabalhos e envolver os
estudantes na contextualização do tema, pois a abstração gerada pelo não conhecimento do
assunto pode levar a dificuldade de compreensão e à perda do interesse pelo conteúdo
interferindo na aprendizagem. Martinez et al., (2008, p.24) defende que métodos inovadores,
que envolvam arte, modelos e jogos mostram-se promissores e ainda permitem uma interação
entre os sujeitos se configurando como “ferramenta educacional, com possibilidade de
auxiliar o processo ensino-aprendizagem em sala de aula”.
Metodologia
A construção de modelos didáticos representativos do sistema AB0, tem se
estabelecido como prática e realizada junto as, nas turmas de 2º ano da Escola Estadual
Ensino Médio, localizada no município de Pinheiros/ES. Esta prática pedagógica se deu em
consonância com o tema proposto no Plano de Ensino do componente curricular de Biologia,
vinculada ao conteúdo de genética.
Primeiramente realizou-se um questionário diagnóstico com as turmas para verificar as
concepções prévias dos alunos sobre o sistema sanguíneo AB0, sua herança e
compatibilidade. Para a efetivação da atividade, foram necessárias 4 (quatro) aulas de 55
minutos cada, onde: 1 aula para a o diagnóstico e confecção dos modelos, 2 aulas para a
contextualização da prática e fundamentação teórica e 1 aula para a realização de atividades
de revisão, exercícios referentes ao tema, além da impressão geral dos estudantes sobre a
atividade.
Essa prática tem sido realizada desde 2011, abrangendo as turmas 2º do matutino da
referida escola, sendo no Ano de 2011 um total de 108 estudantes, representantes das nas
quatro turmas. Em 2012 foram três turmas participantes, totalizando 93 estudantes e em 2013
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participaram da atividade três turmas num total de 98 estudantes. A organização dos grupos se
deu de forma aleatória nas turmas, possibilitando a formação de grupos heterogêneos entre os
estudantes, em cada turma um quantitativo de grupos, correspondente aos grupos sanguíneos
mais conhecidos, totalizando 4 grupos em cada sala tendo uma média de 8 componentes, cada
grupo responsável pela confecção de um modelo.
Em decorrência do tempo destinado a atividade e na perspectiva de integrar as áreas
para que os conceitos fossem contextualizados, os professores de Matemática, Arte,
Sociologia e Filosofia engajaram no projeto participando da elaboração da proposta durante o
planejamento coletivo e da orientação junto às turmas, tanto na confecção dos modelos quanto
no aprofundamento teórico e debates sobre a temática.
Para a realização da prática articulou com os estudantes o seguinte material: Bola de
isopor, tinta guache vermelha (para representar a coloração sanguínea), alfinetes, miçangas de
2 cores e tamanhos diferentes, pincel, cartolina para representar contornos humanos, cola
isopor, tesoura, estilete.
Procedimentos
Cada grupo representou um tipo sanguíneo, determinado por sorteio, com suas
características específicas, conforme o exemplo do quadro 1.
Quadro 1. Exemplificação das representações dos grupos sanguíneos
Tipo sanguíneo
Sangue Tipo A
Sangue Tipo B
Sangue Tipo AB
Sangue Tipo 0
Alfinete com Miçangas Miçangas no interior da
(Antígeno)
hemácea(Anticorpo)
Preta
Verde
Verde
Preta
Preta e verde
Nenhum
Nenhum
Preta e verde
Fonte: Os autores
Os grupos tiveram a disposição 6 bolas de isopor cortadas ao meio, totalizando 12
metades, alfinetes, miçangas, cartolinas, pincel atômico e cola isopor. Cada tipo sanguíneo foi
representado pela fixação do alfinete com a respectiva miçanga (definida pelo grupo),
identificando o Antígeno (aglutinogêneo) pelos alfinetes com miçangas e o Anticorpo
(Aglutininas) com miçangas coladas sem alfinetes no interior da bola de isopor.
A avaliação da eficiencia do uso dos MD como ferramenta metodológica foi em forma
de questionário contendo questões relacionadas ao tema com envolvimento das disciplinas
que contribuiram com o projeto, no qual caracterizou como Muito bom, notas acima de 75
9613
pontos, bom notas de 60 a 75 e regular notas inferiores a 50 pontos, de um total de 100
pontos.
Entre os professores o questionário também foi adotado para investigar a
aplicabilidade dos MD como ferramenta metodológica.
Resultados e discussões
Foram construídos ao final da atividade, 4 (quatro) modelos representativos dos
grupos sanguíneos do Sistema AB0, intitulados a seguir: (Figura.1) MD do Sistema AB0;
(Figura.2) MD do grupo sanguíneo A; (Figura.3) MD do grupo sanguíneo B; (Figura.4); MD
do grupo sanguíneo AB (Figura. 5) MD do grupo sanguíneo 0
Figura 1- MD dos Grupos Sanguíneos AB0
Fonte: Os autores.
Figura 2- MD do Grupo Sanguíneo A
Fonte: Os autores.
Figura 4- MD do grupo sanguíneo AB
Fonte: Os autores.
Figura 3- MD do Grupo Sanguíneo B
Fonte: Os autores
Figura 5 - MD do grupo sanguíneo 0
Fonte: Os autores
9614
Primeiramente a distribuição dos modelos dos grupos sanguíneos foi com base no
senso comum, utilizando o modelo representativo reservado (sem colar). Em seguida, foi
realizada a fundamentação teórica, explicando que algumas hemácias (alfinetes com
miçangas) possuem receptores que combinam com determinados anticorpos miçangas coladas
sem alfinetes. Caso essas hemácias se combinem com os anticorpos ocorrerá a sua
aglutinação, provocando o entupimento de vasos sanguíneos o que entre outras situações
podem provocar, “infartos”.
Dessa maneira, uma transfusão de sangue entre uma pessoa com determinado tipo de
sangue não poderá conter anticorpos contra esse mesmo tipo de sangue, por exemplo: pessoas
com sangue do Tipo 0 podem doar para pessoas do Tipo A, porém não poderão receber deste
tipo sanguíneo por apresentarem em suas hemácias anticorpos do tipo A ou aglutinina A.
A área social contribuiu neste tema na discussão sobre a importância da doação
sanguínea como uma ação solidária e na produção de vídeos explicativos, juntamente com a
área de linguagem, sobre a Doação de Sangue. Foi estabelecido um debate, mediado pelo
professor, entre os grupos, respeitando o direito de escolha, assim com a liberdade de
expressão, sobre a proibição por algumas denominações religiosas, quanto à doação ou
recepção de sangue pelos seus frequentadores.
A utilização de materiais alternativos para a construção de modelos didáticos para os
grupos sanguíneos também foram sugeridos por Bastos; Martinelli e Tavares (2010) com o
propósito de facilitar a aprendizagem e assimilação de conceitos relacionados ao sistema
AB0.
O fechamento da atividade teve a exposição dos trabalhos na sala, uma avaliação
contendo perguntas referentes ao Sistema Sanguíneo, obtendo-se os seguintes resultados: Nas
turmas 2011, totalizando 108 alunos, 69,2% obtiveram conceito muito bom, 19,2% conceito
bom e 11,6% conceito regular. Nas turmas 2012 com um total de 93 alunos, 59,4% obtiveram
conceito muito bom, 25% conceito bom e 15,6% conceito regular. Nas turmas 2013 com um
número de 98 alunos no total 63,9% obtiveram conceito muito bom, 25,3% conceito bom e
10,8% conceito regular, além, da impressão geral dos estudantes, onde muitos expressaram a
compreensão das diferentes características genotípicas e fenotípicas do sistema AB0, as
possíveis transfusões resinificando seus conceitos.
A análise quantitativa mostrou que 64,16% obtiveram dos estudantes alcançaram um
nível satisfatório em relação à compreensão do tema, sinalizando de forma positiva para o uso
de modelos didáticos nas aulas de biologia. Os educandos com o conceito bom, com 23,36 %
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alcançaram parcialmente o objetivo, ou seja, conseguiram elaborar algumas relações entre os
modelos sanguíneos e os conceitos. Já os estudantes que não atingiram os objetivos
totalizando 12,66%, conceito regular, ou seja, não conseguiram ou deixaram de responder as
questões referentes ao tema, sem demonstrar compreensão entre a atividade prática e os
conceitos atribuídos ao sistema AB0 através da representação dos modelos didáticos.
Resultado semelhante foi encontrado por Rocha; Mello; Burity (2010), ao utilizar
modelos didáticos representando a morfologia externa de artrópodes, utilizando massa de
vidraceiro e biscuit. Esses dados são relevantes, pois sugere o uso dos modelos didáticos
como instrumentos que facilitam o entendimento de assuntos relacionados ao ensino de
biologia.
Entre os professores participantes a maioria avaliou como positiva a confecção dos
modelos, e que utilizariam em outras turmas o modelo didático para potencializar a
aprendizagem contextualizada e que acharam a experiência do trabalho integrado desafiador
mas necessário. Entretanto, alguns professores salientaram o pouco tempo de planejamento e
o número reduzido de aulas para poder elaborar, confeccionar e aplicar a metodologia de MD
nas aulas.
Entretanto, o uso dos modelos didáticos como ferramenta metodológica que possibilita
a contextualização e compreensão dos conteúdos de Biologia, sobretudo genética, “ainda não
se constituem como uma prática presente nas salas de aula de acordo com Paz et al. (2006,
p.144), portanto, “não se pode esperar que a curto prazo produzam efeitos significativos na
aprendizagem”. Na mesma linha, Setúval e Bejarano (2009) ressaltam que os modelos
didáticos são bons recursos para promover a socialização de um determinado assunto.
. Tecendo algumas considerações
A construção de modelos didáticos pelos estudantes, a partir de conteúdos de genética
permitiu a interação dos estudantes na construção do saber científico articulado com o saber
pedagógico, ambos de grande importância para a formação profissional, além de servir como
forma demonstrativa para o professor fazer a fundamentação teórica podendo ser
confrontados com a realidade e servirem de apoio e estímulo ao ensino. Assim, por aliar os
aspectos lúdicos aos cognitivos, entendemos que os MD são importante estratégia para o
ensino e a aprendizagem de conceitos abstratos e complexos, favorecendo a motivação
interna, o raciocínio, a argumentação, a interação entre alunos e professores, além de
possibilitar a integração das áreas.
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A construção de modelos representativos do sistema AB0 é uma proposta de baixo
custo e fácil confecção, que concretiza e complementa a fundamentação teórica sobre o
sistema sanguíneo, pois tornam o conteúdo mais concreto.
REFERÊNCIAS
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Paulo, 1996.
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