JC&Cia Seu Negócio Editor // Vinicius Medeiros B-8 • Jornal do Commercio • Quinta-feira, 30 de abril de 2015 AUDIOVISUAL Produtores contam com modelos de contratos Iniciativa disponibiliza documentos referenciais validados pela Ancine; objetivo é agilizar e formalizar negociações durante o processo de produção de obras Responsabilidade SOCIAL E ÉTICA por Lucila Cano [email protected] Quase “imexível” DA AGÊNCIA SEBRAE A Agência Nacional do Cinema (Ancine) validou oito modelos referenciais de contratos desenvolvidos pela Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para orientar e ajudar os produtores de conteúdo audiovisual em suas relações de contratação profissional e comercial, reduzindo os riscos jurídicos e financeiros em seus projetos e negócios. Os formulários foram lançados ontem, no escritório da agência, em São Paulo, e estarão disponíveis para download gratuito no site do Objetiva – Empreendedorismo em Foco, programa desenvolvido pelas duas entidades para capacitar os profissionais do mercado audiovisual, que reúne cerca de oito mil empresas em todo o País. Os documentos também serão publicados no site da Ancine. Os contratos com a análise e validação da Superintendência de Fomento da Ancine são ferramentas facilitadoras para promover agilidade no desenvolvimento dos projetos” Odete Cruz Gerente executiva da Apro Benefícios A iniciativa visa a oferecer aos profissionais base jurídica referencial para agilizar e formalizar negociações durante o processo de produção de obras audiovisuais. Os contratos, criados de acordo com a legislação específica do setor, dão respaldo jurídico consistente para a realização das produções e esclarecem dúvidas referentes a toda a cadeia produtiva do desenvolvimento de obras audiovisuais, do início ao fim de cada projeto. “Os contratos com a análise e validação da Superintendência de Fomento da Ancine são ferramentas facilitadoras para promover agilidade no desenvolvimento dos projetos, pois pretendem diminuir as diligências nos processos e, consequentemente, favorecer o crescimento do setor audiovisual como um todo”, explica Odete Cruz, gerente executiva de capacitação da Apro. Registrados em cartório e idealizados pela diretora executiva da APRO, Sonia Piassa, e pela presidente da entidade, Leyla Fernandes, os modelos foram desenvolvidos pelos advogados João Paulo Morello, Gabriela Pires Pastore e Thiago Macedo Clayton, do escritório Coelho e Morello Advogados Associados. O processo contou com a relevante parceria dos representantes jurídicos das seguintes entidades: Debora Ivanov, diretora executiva do SIAESP; Rodrigo Salinas e Gilberto Toscano, advogados representantes da ABPITV, membros do escritório Cesnik Quintino e Salinas Advogados; Claudia Toledo Mesquita, advogada da produtora Gullane Entretenimento S/A. A APRO, baseado no seu pioneirismo na organização do segmento publicitário norteado por contratos padrões de Capacitação Empresários recebem treinamento Lançado em outubro de 2013, o Programa Objetiva – Empreendedorismo em Foco busca oferecer capacitação a empresários do setor audiovisual com cursos sobre gestão empresarial, distribuição, formatação de projetos para leis de incentivo e editais, roteiro, desenvolvimento de projetos transmídia, aspectos jurídicos para direitos autorais, modelos de contratos referenciais, entre outros conteúdos. O programa é aberto para todo o mercado de produção audiovisual nacional. A capacitação, dividida em quatro módulos produção, contratação de equipe e atores e compra de material de stock shot, teve o firme propósito de iniciar o Programa de Capacitação Objetiva voltado para o setor audiovisual. Entraves De acordo com Débora Mazzei, coordenadora de projetos de Economia Criativa do Sebrae, a ausência desses contratos ou sua redação equivocada dificulta o acesso aos recursos disponíveis. “Os que foram validados pela Ancine são os mais exigidos pela própria agência na apresentação de projetos de captação de recursos. A apresentação dele facilita o acesso a recursos para a produção do conteúdo”, afirma. Além disso, disponibilizar os contratos referenciais também reduz os custos dos empresários que, muitas vezes, precisam contratar escritórios de advocacia para elaborar os documentos. num total de 96 horas, já foi oferecida em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Porto Alegre, com a participação de 120 empresários. O curso está sendo ministrado em Brasília até 10 de julho e, em Recife, a partir de 15 de julho. A meta do programa é capacitar 300 empresários do setor, que reúne cerca de oito mil empresas no Brasil. Durante as aulas, os empresários ampliam seus conhecimentos sobre qualificação técnica, formatação de projetos para leis de incentivo, roteiro, desenvolvimento de projetos multimídia e gestão empresarial. Para João Paulo Morello, advogado do escritório Coelho e Morello que trabalhou no desenvolvimento dos contratos, essas informações serão de vital relevância para a indústria do audiovisual, pois há uma carência do setor por modelos padronizados. “Com os modelos referenciais de contratos apresentados, o operacional será mais fácil, possibilitando maior agilidade e eficiência na construção dos acordos da cadeia produtiva do audiovisual. Foram esclarecidas questões fundamentais com relação à gestão nos aspectos societário, trabalhista e tributário, direitos autorais, entre outros”, afirma. Com esses contratos, os empreendedores do audiovisual terão suas relações profissionais de produção de conteúdo formalizadas, reduzindo os riscos jurídicos e financeiros. Além dos modelos validados pela Ancine, o Programa Objetiva ainda vai disponibilizar ao merca- do outras 24 minutas que tratam de temas gerais relacionados ao audiovisual. Cultura A prestação de contas é a mais complexa das três fases de elaboração de projetos incentivados com dinheiro público ou privado. A dificuldade é tanta que, entre os anos 2000 e 2014, o Programa Nacional de Apoio à Cultura rejeitou a comprovação de gastos de 983 iniciativas. No mesmo período, 913 proponentes foram considerados inaptos a novos patrocínios devido a irregularidades detectadas nas contas apresentadas. Até o ano passado, o Ministério da Cultura estava analisando as comprovações de pelo menos 15 mil projetos. Para preencher essa lacuna, o Sebrae e o Instituto Alvorada Brasil lançaram esta semana uma cartilha que vai ajudar produtores culturais a elaborar melhor a prestação de contas para continuarem aptos a obter mecenato, forma de incentivo que se utiliza de mecanismos de renúncia fiscal para estimular empresas a patrocinar projetos em troca da dedução de impostos. Denominada Projetos Culturais: como elaborar, executar e prestar contas, a publicação mostra como criar propostas mais eficientes com uma linguagem didática e simplificada, dicas e exemplos práticos. Os três produtos podem ser consultados e baixados por meio do endereço http://www.mapafinanciamentocultural.org.br/. O leitor mais jovem pode desconhecer uma passagem curiosa da política brasileira. Ela se refere ao sindicalista Antônio Rogério Magri, que ocupou o cargo de ministro do Trabalho no governo de Fernando Collor de Mello entre 1990 e 1992. Envolvido por acusações de malfeitos (como se diz atualmente), Magri deixou o sindicalismo e a política e não mais se falou dele, a não ser pela lembrança de um neologismo de sua autoria. “Imexível” foi o que ele declarou em alto e bom som para defender o plano econômico do governo Collor. Lembrei do termo assim que li as informações do Instituto Trata Brasil a respeito do novo Ranking do Saneamento Básico no país. Esta não é a primeira vez que falo do Instituto que, em parceria com a consultoria GO Associados, desde 2009 faz um retrato da situação do saneamento nas 100 maiores cidades brasileiras. Situação essa que, ano após ano, muda muito pouco. É quase “imexível”. Um pouco pior O novo ranking tomou por base informações do SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2013, diante da proposta de o país atingir a universalização dos serviços de água tratada, coleta e tratamento de esgotos em 20 anos. Tal prazo foi estipulado pelo Plano Nacional de Saneamento Básico em 2014. A comparação entre o que temos e o que pretendemos mostrou que das 20 cidades melhor avaliadas, oito já atingiram a universalização e as outras 12 devem cumprir a meta nos próximos anos. Por exemplo, as populações de Belo Horizonte, em Minas, Franca e Limeira, no interior de São Paulo, são atendidas em 100% das necessidades de coleta de esgotos. Mas, para capitais como Manaus, Teresina, Macapá, Belém e Porto Velho, incluídas nas 20 últimas posições do ranking, a universalização de serviços até 2033 parece impossível. Ananindeua, no Pará, tem cerca de 500 mil habitantes. É a última colocada do ranking. Ocupa o centésimo lugar, o que significa que apenas 26,91% da sua população recebem água tratada e, pior, 0% tem coleta de esgoto. Em abrangência nacional, o levantamento do Trata Brasil informa que “Em relação à coleta dos esgotos, 48,6% da população recebiam esse serviço, totalizando quase 100 milhões de brasileiros fora da conta. A situação se agravou em relação aos esgotos tratados que, segundo os dados oficiais são apenas 39% dos esgotos”. O resto, então, que não é tratado, pode ser representado por “mais de 5 mil piscinas olímpicas de esgotos que foram jogadas por dia na natureza em 2013”. O percentual anterior de esgotos tratados no país (com base em números de 2012) era de 38,70%, um pouco pior. A realidade das capitais Em tratamento de esgotos, a região Centro-Oeste é a de melhor desempenho. Suas quatro capitais deixaram de tratar 30% do esgoto gerado. A região Sudeste vem em seguida, com cerca de 39% de esgotos não tratados pelas quatro capitais. As nove capitais do Nordeste deixaram de tratar 46% dos esgotos gerados em 2013, enquanto as três capitais da região Sul despejaram 60% de esgotos não tratados na natureza. No outro extremo, na região Norte, cerca de 82% dos esgotos não foram tratados e, portanto, foram indevidamente lançados no meio ambiente. Em trecho do informativo à Imprensa, Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil, comenta: “Com raras exceções, mesmo as capitais do país vêm avançando pouco em coleta e tratamento dos esgotos, o que é muito preocupante, pois são serviços essenciais para a saúde das pessoas nesses grandes aglomerados humanos. Muitas capitais continuam em posições ruins no Ranking há anos, especialmente Manaus, Belém, Macapá, Teresina, São Luís, Porto Velho, Aracaju, entre outras que quase não avançaram nos dois serviços. Isso mostra que os anos passam e nada acontece. É uma enorme falta de sensibilidade de governantes que se sucedem, dando prioridade apenas às obras mais visíveis eleitoralmente do que às obras mais importantes para o bem-estar da população”. * Homenagem a Engel Paschoal (7/11/1945 a 31/3/2010), jornalista e escritor, criador desta coluna. Lucila Cano é formada em Comunicação Social pela Fundação Armando Álvares Penteado - FAAP (SP). Trabalhou como redatora publicitária em várias agências e também como assessora de imprensa.