g1 globoesporte gshow famosos & etc vídeos ASSINE JÁ CENTRAL E-MAIL ENTRAR › Assine Época Tempo Ideias Vida Colunas Canais Busca Submit IDEIAS Alexis Korybut: “Há um desconhecimento sobre como funciona a maconha medicinal” O presidente da CBDRx, empresa americana que desenvolve produtos medicinais a partir da "Cannabis", fala a ÉPOCA sobre a economia da maconha GABRIEL LELLIS (EDIÇÃO: LIUCA YONAHA) 19/08/2015 - 08h00 - Atualizado 19/08/2015 10h19 Compartilhar (151) Pinar Comp. Comp. Tuítar Assine já! Em uma área de aproximadamente 500 mil m² próximo às margens do Rio Arkansas Arkansas, no Estado americano do Colorado Colorado, há uma fazenda onde se cultiva dentro de estufas uma planta herbácea de cheiro forte. A qualidade da produção é controlada de forma rigorosa, e, em diversos momentos do dia, os funcionários da fazenda medem a temperatura do local, a quantidade de gás carbônico liberado pelas folhas e a composição química do solo. Poderia ser apenas mais uma plantação de hortaliças em meio aos recursos tecnológicos do agronegócio. Mas estamos falando de uma criação de Cannabis sativa – a popular maconha maconha, legalizada no Colorado. >> Drogas: reprimir não funciona Quem controla a fazenda é a empresa CBDRx CBDRx, que desenvolve produtos medicinais com base no caule da Cannabis. Alexis Korybut Korybut, presidente da CBDRx, gastou cerca de US$ 5 milhões no negócio, e faz parte de um grupo crescente de empreendedores que se arriscaram como “empresários da maconha”. A legalização, tanto da maconha medicinal quanto da recreativa, criou uma espécie de boom econômico em algumas partes dos Estados Unidos. No Colorado, por exemplo, aproximadamente US$ 50 milhões foram arrecadados em impostos sobre a maconha em 2014. A euforia deu origem a centenas de startups com negócios focados na Cannabis, e os investimentos nessas novas empresas muitas vezes passam da casa dos US$ 10 milhões. Em entrevista a ÉPOCA, Alexis Korybut fala um pouco sobre suas opiniões como um “empresário da maconha”, e defende que a legalização precisa ser pensada não apenas em termos regulatórios, mas também de forma econômica. Alexis Korybut, presidente da CBDRx, diante da plantação de maconha de sua empresa (Foto: Divulgação) ÉPOCA – Como as pessoas reagem quando descobrem que você trabalha diariamente com a maconha? Alexis Korybut – Ainda me deparo muito com reações inquisitivas, e só após muito diálogo que consigo extrair uma simpatia dos outros pelo meu trabalho. Ainda há um desconhecimento generalizado da população sobre como funciona a maconha medicinal e como ela pode ser obtida. As pessoas se perguntam: “eu compro maconha medicinal do governo? Ou compro de uma loja?”. Dado o histórico negativo da imagem da planta dentro das culturas, não é de se surpreender essa falta de informação. ÉPOCA – Muito se discute sobre a legalização, mas pouco ainda se sabe sobre como inserir a maconha dentro da sociedade. Quais passos devem ser tomados pelo governo e pela sociedade logo após a legalização? Korybut – Primeiramente, devem-se pensar formas de construir estruturas financeiras, regulatórias e comerciais em torno das empresas. Esses são os pilares necessários para estruturar a sobrevivência de qualquer tipo de atividade comercial, permitindo que ela venha a prosperar no futuro. Além disso, não basta legalizar e acabar com a discussão. Para não regredirmos novamente, a lei deve continuar avançando com o passar dos anos, em âmbitos regional, nacional ou internacional. Quando a maconha for liberada em todo o mundo, sem dúvidas teremos um desenvolvimento econômico inédito através do intercâmbio de relações comerciais. ÉPOCA – A legalização acabou com o tabu existente com a maconha nos Estados Unidos? Korybut – O estigma da planta ainda existe, principalmente se tratando de maconha recreativa. A aceitação está mudando rapidamente conforme os Estados legalizam e as empresas demonstram estar operando com algo legítimo, capaz de trazer potenciais benefícios para a sociedade. Mas será possível que um dia esse preconceito não exista mais? Acho difícil apostar em uma afirmação como essa. ÉPOCA – Alguns especialistas calculam que nos Estados Unidos o mercado da maconha possa chegar a valer até US$ 10,8 bilhões em 2019. A economia da maconha legalizada poderia salvar as finanças do mundo, como dizem alguns? Korybut – A maconha legalizada pode trazer um retorno significante de recursos para os governos por meio de impostos, mas seria exagerado afirmar que ela pode acabar com os problemas financeiros do mundo. Pensando na economia, temos algumas vantagens muito claras com a legalização: o número de empresas que trabalham com maconha aumenta, movimentando a economia local. Além disso, outros tipos de empresa se beneficiam indiretamente, como transportadoras, por exemplo. É um fenômeno que pode ser claramente visto no Colorado. Quanto ao poder público, a legalização tira lucros dos cartéis de traficantes, e com isso os gastos com a guerra às drogas tendem a se reduzir com o tempo. ÉPOCA – Qual o principal desafio enfrentado pelos empreendedores da maconha? Korybut – Nos Estados Unidos, e principalmente no Colorado, existem barreiras que dificultam a construção de uma empresa de maconha economicamente sustentável e de sucesso. Estamos falando de um tipo de negócio novo no mundo. A maioria dos empreendedores que se arriscam nesse setor não tem nenhum conhecimento prévio de como criar um plano de negócio, estratégias de venda ou de marketing para lidar especificamente com a maconha. Somada a essa questão administrativa, há uma série de impostos muito altos sobre os produtos. Quem vê de fora pode ser tomado por uma euforia, achando num primeiro momento que estamos milionários, e que o empreendedorismo da maconha é uma forma fácil de ter uma empresa rentável e de sucesso. Mas isso ainda não é tão verdade assim. ÉPOCA – Em que nível as pesquisas com a maconha estão sofrendo atrasos por conta das proibições mundiais? Korybut – Sim, a proibição está atrasando, e muito, o avanço científico e o estudo da maconha. E isso é vergonhoso, visto que estamos falando de algo voltado para a cura de pessoas doentes, e não para a recreação pura e simples. O atraso não é segredo para ninguém. O estudo da maconha já não é algo tão simples, e muito tempo se perde com a demora na aprovação das pesquisas. Mas a proibição não impediu que uma quantidade significativa de cientistas fizessem progressos nas suas pesquisas. ÉPOCA – A bandeira da legalização tem ganhado apoio de diversas figuras de influência na opinião pública. Os avanços dependem de posições públicas favoráveis de políticos e artistas, por exemplo? Korybut – Seria incrível se pessoas e governos participassem ativamente da defesa da legalização, mas creio que essa decisão, principalmente quanto a produtos recreativos, está mais baseada em relações de dinheiro e política. A legalização envolve taxas, impostos e questões culturais. Hoje, o movimento se fortalece mais por meio da influência entre países do que pela influência de pessoas. O Uruguai, por exemplo, deu um passo muito importante ao legalizar em âmbito nacional. E essa política de legalização do país foi a responsável por inflamar o debate em outros lugares. Debates & Provocações