Entrevista com Beto Richa, candidato do PSDB ao governo do estado Caso o senhor venha a ganhar a eleição, dentro da atual configuração, o Paraná seria uma peça importante no jogo nacional para a oposição, como São Paulo e Minas Gerais. Como o senhor vê essa situação? O que isso pode trazer para o estado? Não tenho receio nenhum em relação a isso. Mesmo porque eu já passei por essa situação. Governei Curitiba quase cinco anos e meio sendo de oposição ao governo do estado e ao federal. Passada a campanha, eu desço do palanque e cumpro a minha parte. Tanto é que um dos meus primeiros atos, quando eu assumi a prefeitura de Curitiba, foi procurar o Requião no Palácio Iguaçu. Propus para ele um bom entendimento, uma boa relação administrativa, que eu devo admitir que até tivemos inicialmente. Só que vocês conhecem o temperamento dele. Depois que eu me manifestei na campanha de 2006 (a favor de Osmar Dias), tivemos uma relação muito truculenta. Não por opção minha. O meu partido, como todo mundo sabe, é o maior opositor ao governo federal. Nem por isso deixei de celebrar parcerias em todas as áreas. Sempre que solicitei audiências os ministros me receberam. O presidente da República também. Posso garantir que Curitiba recebeu muitos recursos federais. Lanço um desafio: se o governador anterior, que sempre se diz amigo íntimo do presidente Lula, trouxe tanto recursos federais para o Paraná quanto eu trouxe para Curitiba. Em números per capita e, se bobear, até em absolutos. Não tem essa necessidade de ser amigo do presidente. Tem que ter projeto, planejamento. O que o Paraná precisa fazer para ter um peso político maior do que tem hoje nacionalmente? O governador exerce o maior cargo político do estado e precisa liderar esse processo. De forma democrática, agregar toda sociedade em torno de projeto de interesses do Paraná, em que todos serão beneficiados. Agregar também os representantes políticos. Nos últimos oito anos, me dizem os deputados federais, apenas uma vez o governador esteve reunido com a bancada. E eles me dizem: „a gente inveja, seguidamente governadores de outros estados estão reunidos com suas bancadas‟. Isso é importante para exercer a pressão política necessária para atração de recursos, infraestrutura, incluir emendas importantes no orçamento da União. Esse trabalho de diálogo, espírito democrático, eu sempre tive. Tive um extraordinário relacionamento com toda sociedade ao longo do meu mandato aqui na capital. Foram boas parcerias na recuperação de espaços públicos. Uma relação de respeito e respeitando a independência da Câmara com os vereadores. Sem truculência, mas com diálogo e avanços importantes. Então o senhor pretende transformar essas reuniões periódicas com a bancada no Congresso em um hábito? Sim. Com transparência, com prestação de contas. As audiências públicas que eu promovi aqui em Curitiba eu quero promover em todo interior do estado. Meu pai fazia isso quando era governador e a população se sentia respeitada, atendida. Pelas pesquisas mais recentes, o PT e os aliados devem eleger a maioria dos governadores e também o presidente. No Congresso Nacional também há essa tendência. No que a oposição errou durante esses oito anos de governo Lula? Tem uma série de erros inegáveis. No mensalão, o presidente foi poupado. As pessoas mais próximas do PT e do governo foram indiciados por formação de quadrilha e ali se poupou o ataque direto a ele. Foi um erro. Outro talvez foi uma oposição mais contundente. Alguns fizeram, mas acho que não foi uma coisa coordenada, articulada pelos partidos. Na maioria das vezes o DEM foi muito mais contundente e articulado nas críticas do que o próprio PSDB. Por outro lado, é inegável o carisma do presidente da República, o alto índice de aprovação popular. Ele virou um mito, nada cola. Acho que há falta de competência da oposição, aliada a esse alto índice de aprovação do presidente. Qual deve ser o posicionamento da oposição em um eventual governo Dilma? Se o Serra não vencer a eleição – e é evidente que a gente torce e trabalha por isso – e a Dilma ganhar, a ação será muito diferente. Ela não tem o carisma do Lula, nem a mesma articulação. As coisas ficariam muito ruins para o país. Ela é muito mais vulnerável. Não tem autoridade para conter o ímpeto do Congresso Nacional, a volúpia do PMDB. Por essa fragilidade toda vai ser muito mais fácil fazer oposição ao governo Dilma. Há quem diga que o Serra aparece pouco na sua campanha. São críticas que acontecem no Brasil inteiro. Eu entreguei a condução da campanha (de televisão) para minha equipe de comunicação. É evidente que eu opino, mas eu estou a maior parte do tempo em campanha. Colocamos o Serra já várias vezes na televisão, com algumas aparições ou depoimentos mesmo. Eu assisti a apenas um programa de televisão, o resto eu não consegui. É uma estratégia. Também vi hoje no jornal que o Fernando Henrique também não aparece no programa do Serra. A maior preocupação é eu aparecer e mostrar as melhores soluções, alternativas, o que eu penso para o estado. Qual a leitura o senhor faz das últimas pesquisas? Isso está alterando algo nessa reta final de campanha? Olha, eu continuo com o mesmo ritmo de trabalho, que por sinal é muito intenso. Tenho andado todo estado do Paraná. Duvido que algum candidato a governador tenha a metade da agenda que eu tenho. Na sexta-feira, fiz 12 cidade em 16 eventos. Eu estou me baseando no que eu vejo nas ruas. Pesquisas têm metodologias diferentes, são uma montanha-russa, um dia sobe e no outro desce. Umas são mais confiáveis, outras nem tanto. Basta lembrar que nas últimas eleições para o governo do estado dois grandes institutos erraram muito acima da margem de erro. Por onde ando, é um espetáculo. Fico maravilhado da maneira tão carinhosa com que eu sou recebido, assediado nos eventos que tenho participado. Estou muito animado. Acredito piamente que podemos e vamos vencer a eleição no dia 3 de outubro. Apesar de todo o aparato do meu adversário, da campanha pesada que ele tem feito no último mês principalmente. Sempre que pode o senhor evoca o nome do seu pai. Mas José Richa foi formador da elite política paranaense atual, inclusive dos seus rivais, tanto Osmar Dias quanto Roberto Requião. O senhor se apresenta como candidato da mudança, mesmo tendo essa mesma origem. Isso não é contraditório? De forma alguma. Eu quero mudar o que está aí. Minha origem, minha formação política, não tem nada a ver com o que está aí. O meu adversário representa a continuidade. Para ele está tudo maravilhoso. De uma hora para outra, a Dilma virou a melhor candidata do mundo. Até uma semana antes da convenção ele esteve três vezes na casa do Serra, batia fortemente no governo Requião. Hoje considera o governo mais social, realizador e progressista que passou pelo Paraná. Eu represento a mudança, de conceito, estilo, de visão de se governar. Meu aprendizado não tem nada a ver com o governo que está instalado e que eu quero mudar. O senhor critica a gestão do governador Requião, mas durante a campanha tem adotado alguns programas que foram criados nela, como o Leite das Crianças e a Tarifa Social de água. O senhor reconhece méritos no governo? Alguns poucos. Inclusive meu adversário me criticou no último debate quando eu disse que iria manter, ampliar e aprimorar as coisas boas que a população aprova. Ele disse: “isso é nosso, nos pertence”. Mas que barbaridade. É uma atitude no mínimo responsável do sucessor político manter as coisas boas. Se você pegar na minha campanha de 2004 você vai ver a mesma frase: “o que tem de bom em Curitiba eu vou manter, aprimorar e melhorar”. O Armazém da Família tinha 20 mil atendimentos por mês e hoje são 200 mil. Tínhamos sete fornecedores, hoje são 400, com produtos de primeiríssima qualidade, 30% mais baratos. Outro exemplo foi o Mãe Curitibana. Ampliamos o atendimento. Construímos uma unidade especializada. Alcançamos a menor taxa de mortalidade infantil da história de Curitiba com um programa que não era meu, que herdei. E mantivemos a paternidade, não mudei o nome do programa. Não é possível que em oito anos no governo do estado ele não tenha sido feito nada de bom. Vou manter o Leite das Crianças, a Tarifa Social da água, vou ampliar limite de isenção do Luz Fraterna de 100 para 120 quilowatts, o Trator Solidário, o limite de isenção tributária para as micro e pequenas empresas, de R$ 360 mil para R$ 480 mil de faturamento anual. Tem coisas boas, que a população aprova e que eu vou manter. Mas também tem coisas muito ruins. A segurança pública é caótica, a saúde é precária, o estilo de governar, sem democracia, sem ouvir pessoas. Na campanha pelo governo de 2002, o senhor declarou “não saio por aí dizendo que vou dar leite para as crianças”, criticando o adversário Roberto Requião. O que mudou de lá para cá? Ele entrou (na época) em uma guerra sobre esse tema com o Alvaro Dias. Eles diziam “vou dar um litro de leite, vou dar um litro e meio”. Isso ocorreu em um debate na região Oeste. Aí eu disse: está um leilão enorme, daqui a pouco eles vão dar uma vaca para as crianças. Eu critiquei a maneira como estava sendo usado esse programa e a estratégia de ganhar voto em troca de um litro ou um litro e meio de leite. Mas foi um programa que foi bem aceito e eu vou manter. O senhor falou bastante sobre o governo Requião e sua posição sobre ele. No entanto, a sua opinião sobre o governo Lerner... Lerner já passou. O senhor foi deputado estadual da base do Lerner, vice-prefeito de Cassio Taniguchi, que era do mesmo grupo. Foi candidato com o apoio do Lerner em 2002. Qual é a opinião sobre o governo dele? O Lerner também apoiou o Osmar Dias nas últimas eleições. Eu quero deixar claro que a minha formação política não se deu com o Lerner. Eu aprendi dentro da minha casa, na vivência do dia-a-dia da boa prática política. Meu pai fazia política com muita intensidade. Agora, pertenci à base, meu partido apoiou o Jaime Lerner desde 1994. Mas nunca violentei a minha consciência. Tem coisas que eu não concordei e não votei a favor. O Lerner, de certa forma, também foi satanizado pelo governo que o sucedeu. Tudo o que tinha de ruim no estado era atribuído a ele. Não tenho relação nenhuma política com o Lerner. Que governo foi melhor, Lerner ou Requião? Ambos tiveram erros e acertos. O Lerner promoveu em um momento importante a industrialização do estado. Pecou na parte política, que o outro tem uma habilidade enorme no verbo. O governo (Requião) foi sustentado muito mais no discurso do que na ação. Esses programas sociais foram bons, mas em termos de infraestrutura o Paraná regrediu muito. Veja o que aconteceu, por exemplo, na saúde, na segurança pública, nas rodovias, aeroportos, ferrovias, o pecado que aconteceu no porto de Paranaguá, o pedágio. Eu quero ter um governo realizador. Nos últimos anos, houve duas denúncias contra o senhor, o caso que ficou conhecido como “Sogra Fantasma” (a sogra do chefe de gabinete de Beto na Assembleia, Ezequias Moreira, foi funcionária fantasma da Casa por 11 anos) e o do “Comitê Lealdade” (suposta compra de apoio de dissidentes do PRTB nas eleições municipais de 2008). Depois houve outro, não diretamente ligado ao senhor, que é o dos diários secretos da Assembleia Legislativa. Como o senhor vê sua ligação com esses dois casos? Como governador, como pretende trabalhar contra esse tipo de situação? Em relação ao problema da sogra, já foi esclarecido. Foi um problema de um assessor meu com a direção da Assembleia Legislativa. Eu não tive participação alguma nisso. Ele reconheceu o seu erro e pagou a sua conta com a sociedade. Acho, nesse aspecto, nobre da parte de dele. Eu cito até um ditado bíblico: “perdoo o pecador, mas não perdoo o pecado”. Tanto é que ele foi na época desligado da nossa equipe, pagou sua conta com a sociedade. Que bom seria se os mensaleiros devolvessem os milhões e milhões de reais que foram desviados dos cofres públicos. Mas o caso da “Sogra Fantasma” mudou de alguma forma a maneira como o senhor escolhe os seus assessores? Não mudou, até porque o Ezequias nunca teve problema nenhuma. Trabalhou com o Alvaro Dias, com o Waldyr Pugliesi, com uma dezenas de políticos e nunca teve um desvio de conduta. Sempre foi uma pessoa correta, uma pessoa séria. Não sei bem o que houve até hoje nesse caso, mas envolveu uma oferta de um diretor da Assembleia para um cargo. Ele colocou a sogra, mas reconheceu o seu erro e pagou a sua conta. Agora, para quem militou a vida inteira na vida pública, quem esteve no poder, trabalhou com meu pai no Palácio Iguaçu, com o Alvaro, foi da militância jovem do PMDB, foi o único pecado que ele cometeu e reconheceu. No mínimo foi digno da parte dele agir dessa forma. Qual é a sua relação hoje com o Ezequias? Ele faz parte da sua campanha? Ele me ajuda. Está ainda no PSDB. Trabalha na campanha? Trabalha da maneira dele. Ele não tem cargo na minha campanha. Mas evidente que pela amizade e consideração de uma longa data está trabalhando conosco. O senhor não acha que esse tipo de exemplo acaba contaminando toda a gestão pública? Não contamina. Foi elucidado, foi levado a termo, foi reconhecido o erro. Ao contrário, serviu de exemplo. Até pela minha atitude de afastá-lo do meu gabinete para ele explicar perante a sociedade e perante a Justiça. Em todas as suas respostas o senhor trata da apropriação do dinheiro e, de certa forma, o elogia. Para o eleitor, o senhor não acredita que seja um desestímulo? Você me entendeu mal. Falei que recrimino o que houve, o afastei do meu gabinete. Ele errou, cometeu um pecado e reconheceu. Ninguém nunca errou na vida? A Justiça acatou uma denúncia contra três deputados porque seu primo, Luiz Abi Antoun, também esteve lotado no mesmo gabinete, mesmo depois do senhor deixar a Assembleia. Como o senhor vê essa situação? É uma barbaridade. Ninguém que sai de lá tem gabinete, até porque não há espaço ocioso na Assembleia. É alguma armação para me atingir. Para que eu precisava ter dois ou três assessores na Assembleia tendo 400 cargos em comissão na prefeitura? Se você for ver lá [na prefeitura], há cargos que não foram preenchidos ao longo dos meus 5 anos de mandato. Hoje vocês veem denúncias de que existiam estruturas fantasmas ou fictícias lá [na Assembleia] para ter acesso ao recurso público em nome de outra pessoa. Isso pode ter havido também. Saí de lá e mantiveram alguns nomes para poder se beneficiar. Isso o Ministério Público está apurando. Como o senhor pretende combater esse tipo de problema? Da Assembleia? Da Assembleia e de pessoas ligadas ao governo. Como sempre fiz. Quando soube de qualquer denúncia, fui o primeiro a instaurar o inquérito administrativo. Quando teve uma moça, não me lembro o nome [Marinete Afonso de Mello, ex-xhefe de núcleo de saúde municipal, acusada de desviar mais de R$ 2 milhões do Fundo Municipal da Saúde], da saúde, fui o primeiro a pedir para abrir um inquérito administrativo, a mandar ir atrás. A moça foi punida, não sei como está o processo, devolveu os recursos para a Saúde. Ao longo de cinco anos de mandato na prefeitura tivemos pouquíssimos casos de desvio de conduta. Meu pai dizia muito isso: 'quando o líder dá o exemplo, qualquer pessoa que tiver a intenção de cometer um ilícito pensa mil vezes. Mas quando o governante não dá o exemplo, todo mundo quer se locupletar'. Sempre fui austero, rigoroso na apuração. Em relação ao Ezequias então o senhor acha que deu um bom exemplo? Eu? Ele deu um bom exemplo depois de ter pago a sua conta com a sociedade, assumindo o erro que cometeu. O exemplo que dei foi ao afastá-lo do meu gabinete enquanto estava sendo investigado. Ainda nesta questão de exemplo, no caso do Comitê Lealdade o senhor pediu para haver investigação. Porém, algum tempo depois, o prefeito Luciano Ducci (PSB), que era seu vice, pediu a paralisação das investigações. Isso não é uma contradição? Está paralisado? Qual razão? [pergunta a um assessor] O Luciano pediu [resposta do assessor] Por qual razão? [pergunta ao assessor] Não sei [resposta do assessor]. O pessoal da sabatina da Folha/Uol me perguntou, o Ivan Bonilha [ex-procurador geral do município] me falou depois, mas eu não lembro a razão. Não é contraditório, candidato? A investigação vai andar. Não sei se [a paralisação] é por causa do processo eleitoral, mas vai andar a qualquer momento. Terá um desfecho. Ali foi uma armação grosseira, tentando a ganhar a eleição, que perderam fragorosamente, no tapetão. Uma coisa premeditada. O rapaz estava em dúvida se denunciava. Foi várias vezes ao procurador da República e voltava. Até que disse que tinha provas e iria denunciar. Meu pessoal gravou esse cara. E ele confessa que ofereceram recursos para fazer uma denúncia formal contra o Beto Richa, pois, desta maneira, ele estaria mudando o rumo da política no estado do Paraná. Está exatamente assim na gravação: “o Beto fez muito voto na sua reeleição para prefeito e não pode ser governador do estado”. Fica caracterizado que houve armação. Uma campanha que custou R$ 6,9 milhões se eu não me engano, uma prestação de contas com 16 mil folhas, não iria ter um furo de R$ 40 mil. É uma briga interna de um com o outro, que teria emprestado dinheiro para o outro que, coincidência ou não, perfazem esses R$ 40 mil. O senhor acabou demitindo o secretário (Manassés Oliveira, do Trabalho) por causa disso ... [Interrompendo] Pela forma como trataram do assunto ali na mesa, durante a gravação. Com chacota, tratando de forma debochada, imoral. O senhor poderia explicar quem estaria interessado nesta armação? Meus adversários políticos. Nessa hora esses maus políticos não aparecem, batem com a mão do gato. Não lembro a quem ele se referia. Na fita ele fala alguns nomes, pessoas que ofereceram vantagens para que fizesse isso. O senhor falou que puniu exemplarmente pessoas que se envolveram com questões ilícitas durante o seu mandato na prefeitura. Porém, o Manassés Oliveira compõe sua coligação como candidato a deputado federal. Como o senhor vê isso? Eu não posso puni-lo, eliminar sua candidatura. Não tenho esse poder. Puni como podia, demitindo ele da secretaria. Agora, não posso impedi-lo de ser candidato. O senhor fica à vontade em ter de pedir votos para um ex-secretário que, de acordo com suas palavras, tratou de forma debochada um assunto importante? Há quantos candidatos a deputado? 200, 300, não sei ao certo. Não quer que eu saia catando pessoas e dizendo: “olha, peço voto para todos, mas menos para esse”. Isso não existe. Não tenho o menor receio. Fiz coligações com partidos e não com pessoas. Vieram para o meu lado aqueles que acreditam no projeto de renovação política do estado do Paraná. Tanto é que quando lancei minha candidatura, no início do ano, não tinha nenhum partido comigo, apenas o PSB do Luciano Ducci. Todos que vieram depois é porque acreditavam na minha proposta. Nunca negociei apoio individual com ninguém. Se você for procurar em todos os partidos, não irá encontrar 100% de candidatos que não tenham nenhum problema na Justiça. O senhor, como um ex-deputado estadual (1995-2000), que avaliação faz do atual momento da Assembleia, envolvida em graves denúncias de corrupção? A mesma leitura de qualquer cidadão comum. É preocupante. As denúncias são pesadas, os fatos relevantes. A Justiça está investigando e espero que todos os fatos sejam apurados. Que venham à tona todas as respostas. Se há culpados, que sejam punidos com o rigor da lei, de forma exemplar. Eu confio na Justiça, e espero que ela seja feita. A Justiça no Brasil, porém, é lenta... [Interrompendo]. Há duas possibilidade: o poder judiciário e a eleição. Teremos eleições daqui a duas semanas, o eleitor pode fazer a limpa que quiser. Ele tem parcela de culpa em tudo o que está acontecendo, tem que saber votar melhor. Diante de acusações tão graves, a direção da Assembleia não deveria ter sido afastada? É uma questão pessoal de cada um. Não posso fazer o julgamento, entrar na cabeça de cada um. Se querem continuar, se dizem inocentes... Acham que se agissem dessa forma [se afastando] poderiam estar se denunciando. Mas o senhor é contra ou a favor o afastamento da Mesa Diretora? Isso não muda nada, porque alguém vai assumir a Mesa. E quem é realmente o culpado ou o inocente lá dentro? No plano federal a candidata Dilma (PT) está liderando as pesquisas. Partindo dessa leitura, de que o eleitor é quem tem de ajudar a “fazer a limpa”, o senhor acha que as denúncias que culminaram com a demissão da ex-ministra Erenice Guerra da Casa Civil não foram levadas em consideração e que serão esquecidas após 3 de outubro? Nem sempre a Justiça é feitas nas urnas. A oposição tem o dever de cobrar. As denúncias são consistentes. E engraçado que sempre envolvem as pessoas mais próximas ao presidente da República, as pessoas mais próximas do poder e os líderes do PT. É grave. O senhor usou o exemplo do afastamento do Manassés para justificar a iniciativa para apurar as irregularidades na prefeitura. Não seria a mesma coisa neste caso com a demissão da Erenice Guerra? Acha que o governo federal agiu corretamente? Não tenho compromisso com o erro. Nunca acobertei, varri para debaixo do tapete nenhuma denúncia, coisa que no governo federal não tem acontecido. Eles continuam negando, dizendo que não sabem de nada, que é factoide da oposição, desespero do José Serra. Enquanto isso a mídia mostra, até mesmo com gravações, tudo o que de ilícito é feito por esse governo. Eleito governador, como pretende se relacionar com a Assembleia? Eleito governador, já teremos esse fato passado a limpo. Acredito também que o comportamento de alguns deputados, que agiram de forma incorreta, irá mudar. A mídia está muito mais vigilante. Detentor do maior cargo político do estado, posso dar as minhas sugestões, colocar a equipe do governo para ajudar na busca por transparência. Levando em consideração todo esse cenário, como pretende construir maioria na Assembleia? Construir maioria dentro do que é ético, transparente, lícito. Não sou um aventureiro. Tenho a minha experiência administrativa. É só ver a minha relação com a Câmara Municipal. Relação de respeito, de trabalho. Sempre reconheci a independência deste poder. Tive ali uma grande bancada de apoio. E sem benesses. O que fiz foi dar prestígio político, a oportunidade de apresentarem emendas ao orçamento do município. Vereadores de outras cidades ficam espantados com essa possibilidade, isso não acontece em outros lugares. Tudo, claro, dentro do planejamento da prefeitura. Isso significou melhoria em todos os bairros da cidade. Essa é uma boa maneira de se construir uma relação. O senhor fala em independência, mas em 2007 a prefeitura não gostou da forma com que a licitação do transporte coletivo foi aprovada. A Câmara chegou a marcar sessão em um sábado para aprovar o formato que a prefeitura desejava. Isso é independência? Não lembro exatamente com essa precisão. Lembro que o Jair César [vereador] fez algumas audiências públicas, com a participação da sociedade, para discutir alguns pontos em relação à licitação dos ônibus. O que foi incluído ou retirado dentro da proposta inicial da prefeitura eu não tenho condições de me lembrar. Talvez tenha sido algum erro jurídico, já que foi uma licitação enorme, histórica. Nunca houve ao longo de 50 anos de existência do transporte público algo do gênero. A prefeitura encontrou um erro e pediu para que fosse votada novamente? Talvez tenha sido algum erro jurídico, já que foi uma licitação enorme, histórica. Nunca houve ao longo de 50 anos de existência do transporte público algo do gênero. De repente foi uma sugestão que a prefeitura fez. A Justiça determina que assim seja, já que os empresários que fizeram investimentos no sistema, se perderam a licitação, têm de ser indenizados. Foi isso que a Justiça colocou e de última hora nós pedimos para ser corrigido. Mas sempre com transparência. A prefeitura, durante o seu mandato, levou longos períodos para conseguir concluir licitações importantes. Algumas delas, como a das funerárias e a da Caximba, ainda não terminaram. Outras, como a dos radares, demoraram tanto para acontecer que exigiram contratos emergenciais. Como evitar que isso ocorra no estado, que tem uma gestão maior e mais complexa? O Lula tem seguidamente reclamado da fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU), dizendo que tem atrasado as obras no Brasil. Sou contra a ideia de que não tem de ter fiscalização. Na prefeitura fazíamos cerca de dez licitações por dia. E você vem me dizer que tivemos problemas? Quantos? Dois, três? Há de convir que é muito pouco. Mas se tratam de licitações importantes. Exatamente por isso. Hoje a concorrência é predatória. Existe uma guerra jurídica. Se formaram grandes consórcios, com empresas poderosas, todos com equipes jurídicas poderosíssimas. Virou uma guerra de liminares. Vou citar um exemplo: a Linha Verde. A nossa procuradoria derrubou dezenas e dezenas de liminares para conseguir concluir a obra. Era uma obra que estava perdida, da administração anterior. Tive a felicidade de conseguir tirá-la do papel. Fui atrás do BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] e chegamos à conclusão que deveríamos revogar a licitação anterior, já que a construtora anterior, a Construcap, foi desclassificada no certame técnico – e depois queria que seu envelope fosse aberto com a proposta financeira. Eles ganharam na Justiça e, por coincidência, era o preço mais baixo. Criou-se um impasse. O BID não quis mais financiar a obra. Chegamos à conclusão que deveríamos revogar a licitação antiga e fazer uma nova. Resultado: depois de 2,5 anos o preço do vencedor foi menor do que o da empresa que se sentia injustiçada. É assim. Uma hora ou outra vai sair a obra da Caximba. Enquanto isso continuamos lá, com as obras para ampliar a vida útil da Caximba. Pode escrever aí: [o novo aterro] vai ser referência nacional. Ficamos dois anos estudando as melhores e mais modernas práticas de destinação de resíduos sólidos do mundo. Vamos ampliar significamente a reciclagem, a compostagem. E apenas 15% do volume total que é depositado hoje na Caximba, apenas 15%, irão para o novo aterro. Com uma diferença: processado, sem passivo ambiental, um material inerte. Mas como evitar que, no governo do estado, com mais dinheiro envolvido, as licitações parem de repente? Agilidade da procuradoria do estado, como tive no município. Conseguimos realizar a Linha Verde. A única que está parada é a do lixo. E a das funerárias também. Estava sendo concluída se eu não me engano [segue emperrada]. Como o senhor analisa a licitação do transporte público, que era para ter sido feita em 2001 e só terminou agora, em 2010? Por causa da demora, as empresas que já operavam o sistema acumularam dívidas estimadas em R$ 150 milhões no período e puderam usá-la como abatimento da outorga. Ou seja uma vantagem de R$ 150 milhões sobre qualquer concorrente. [Interrompendo] Não foi assim não. Acho que eles tiveram de abrir mão da outorga para poder participar da licitação [um assessor corrige o candidato]. Ou seja, as empresas não usaram esse crédito como vantagem contra empresas que vieram de fora? De qualquer forma foi um processo aberto, transparente, limpo, sem nenhum questionamento. Se foi feito dessa forma é porque foi o melhor entendimento. Acabou com um desfecho satisfatório para a cidade. A não participação de empresas de fora não é preocupante? Não cabe a mim dizer porque as empresas de fora não participaram. Você tem dúvida de que se elas tivessem algum questionamento já não teriam feito no edital de licitação? O Ministério Público também poderia ter questionado. Falando de infraestrutura do estado. Qual é a grande obra que o senhor pretende deixar como marca da sua administração? O Paraná precisa avançar muita nessa área. Melhoria das rodovias, ligação asfáltica entre os municípios – hoje nós temos cinco cidades que não têm ligação asfáltica. Outra coisa que pesa muito é a questão do pedágio. Acho que é possível abaixar a tarifa, ter algo mais justo, mais acessível. Isso com a retomada de investimento que era previsto no contrato original. Prioridade absoluta para a duplicação da BR-277 no trecho entre Cascavel e Medianeira, onde a cada três dias há pelo menos uma morte nessa estrada. Criar alternativas ferroviárias também – Cascavel/ Guaíra, Guaíra/ Cianorte, ligando também ao Porto de Paranaguá. Mas mais importante mesmo é o Porto de Paranaguá, que perdeu competitividade, perdeu eficiência por falta de investimento e de planejamento. Veio recurso para a dragagem e foi devolvido. Se optou em comprar uma draga, uma questão nebulosa já que até hoje a draga não veio. Faremos investimento de que forma: dragagem do canal de acesso, dos berços de atracação, ampliação com a construção do cais oeste.e a melhoria do Porto de Antonina para trabalhar de forma integrada com o de Paranaguá. Não podemos assistir de braços cruzados o crescimento nesta área do nosso estado vizinho, Santa Catarina, enquanto aqui o porto regride dia a dia. Infraestrutura será o forte da nossa administração. O Paraná sofre com uma desigualdade muito grande. Como fazer para equilibrar essa distribuição de renda? Ou, como ex-prefeito de Curitiba, pretende priorizar a região da capital? Não, não há necessidade de priorizar a capital em detrimento do interior. Vamos priorizar as regiões mais carentes. Temos hoje 1/3 dos paranaenses que vivem em áreas com IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] inferior ao IDH médio nacional. Temos o menor IDH da região Sul. Vale da Ribeira, região Central do estado... Serão as nossas prioridades. Podemos levar indústrias, a agroindústria para esses lugares, arranjos produtivos locais, as escolas em tempo integral para garantir um nível de escolaridade maior. Algo concreto para o Vale da Ribeira, por exemplo? Ensino integral, programas na área agrícola, fruticultura, desenvolver alguma outra cultura na região para dar emprego às pessoas. Além disso, incentivar a instalação de pequenas indústrias de transformação de produtos para agregar renda, possibilitar o desenvolvimento e gerar mais empregos. O senhor estabeleceu algumas metas na prefeitura. O senhor estabeleceria algumas metas de avanço de IDH, por exemplo, no estado também? Sim. Até porque eu vou usar no estado o que eu usei no meu segundo mandato: contratos de gestão. Vocês sabem que no segundo mandato as pessoas normalmente se acomodam, não têm a motivação do início da gestão. Criam-se alguns vícios. Então eu lancei mão desse contrato de gestão no segundo mandato. Os meus secretários assumiram compromisso comigo de atingir metas e objetivos que eu estabeleci baseado no plano de governo que eu apresentei no período eleitoral. O secretário que não atingir já sabe de antemão que será desligado da equipe. Isso para termos agilidade, menos burocracia, mas acima de tudo o desejado profissionalismo de uma administração pública. E olha: tem uma equipe que acompanha a evolução dessas metas em cada uma das secretarias. Faz uma avaliação quadrimestral. Ao longo do ano passado tivemos 90% de desempenho dessas metas estabelecidas. Isso eu vou fazer no estado. Isso é o que o Aécio Neves fez em Minas Gerais e deu muito certo. Foi um governo de resultados. Para mim, a minha equipe tem metas a cumprir, para dar respostas à sociedade que a gente possa, de fato, ter um governo com ações concretas e menos discurso. Curitiba tem capacidade de endividamento e consegue contrair empréstimos. A situação do governo não é exatamente essa. O último empréstimo contratado foi em meados da década de 1990 e o estado sofre com problema de cobertor curto. O senhor vem propondo diversos investimentos. Como é que o senhor vai gerenciar isso. Vai tirar de onde? O senhor pretende contratar novos empréstimos? Eu tenho dito isso em vários locais, com grupos de pessoas mais seletas, que compreendem essa situação de forma mais consistente: as propostas dos candidatos minimamente se diferenciam. Porque a gente sente da população quais são as suas prioridades. A gente anda pelo estado, vê as carências, conhece as potencialidades de cada região. Todo candidato tem pesquisa qualitativa. Então as propostas minimamente se diferenciam. Agora, a grande questão é como executar tudo isso se o governo não tem recursos disponíveis. Eu uso esse mesmo discurso. O Paraná hoje é o 18.º estado em volume de recurso para investimento. Não dá para pensar que eu peguei a prefeitura de Curitiba também um paraíso. Eu herdei a prefeitura com déficit financeiro. Reconheço que não era nada assim tão exagerado. Era algo que dava para administrar. Mas peguei com déficit. Paguei todos os precatórios. Uma das poucas cidades do Brasil que fez isso: R$ 160 milhões de precatórios foram pagos. Houve um desconto indevido no Brasil inteiro da contribuição previdenciária dos aposentados e pensionistas. Eu devolvi a eles R$ 26 milhões. Dei aumento com ganhos reais, o que não acontecia há anos em Curitiba, para todos os servidores públicos. Transformei Curitiba num canteiro de obras. E consegui superávit financeiro em todos os anos da administração. O que é isso? Nós melhoramos o gasto público. Fechei as torneiras do desperdício, eliminei gastos supérfluos, dei um choque de gestão. Fazer mais e melhor, gastando menos. É possível fazer isso no estado. Eu cito como exemplo o governo mineiro do Aécio Neves. O Aécio pegou Minas Gerais numa situação muito pior do que está o Paraná hoje. Ele saneou as finanças, colocou a casa em ordem e enfiou o pé no acelerador. Obras por todo o estado, avanços, programas sociais importantes, obras estruturais. Foi considerado em todas as últimas pesquisas o governador mais bem avaliado do país. Tem receitas de bons governos. Nós temos o know how pelo que fizemos aqui na capital. E eu tenho a vantagem de não ser especialista. Eu não me considero dono da verdade e muito menos autossuficiente. Eu vou em busca daqueles que conhecem bem o setor, o setor financeiro, de como é que se recupera as finanças. Tem aí o INDG (Instituto de Desenvolvimento Gertencial), que ajudou a Esso, acho que esteve em São Paulo também, e está a disposição para ajudar nesse início de governo. Enfim, temos uma série de possibilidades que eu vou usar para conseguir essa sobra de caixa, para conseguir essa capacidade de investimento maior do estado para todas as obras que eu quero fazer no Paraná. Pode ter certeza: eleito governador eu vou usar essas medidas para recuperar o nosso estado e para transformá-lo num grande canteiro de obras. Essa é minha meta. Então o primeiro período do seu governo vai ser um período de contenção? Sim. Não sei bem quanto tempo. O mais rápido possível. Você veja só, outra coisa, só para concluir. Outra coisa que eu fiz e que foi importante na gestão. Eu entrei na prefeitura e determinei aos secretários a redução de 10% dos gastos de custeio. Conseguimos. Agora, há dois anos, eu determinei de novo para todos os secretários, a diminuição de 15% do gasto de custeio. Foi por ocasião da crise financeira mundial, para que nós apertássemos o cinto da administração para não penalizar a população com uma redução de investimentos. E a equipe é tão competente, tão unida e comprometida, que eles superaram a minha meta. Chegaram a 18% de redução de gasto de custeio. Isso é possível também no estado. Ver os excessos, os desperdícios, material de expediente, horas extras, combustível, frota de veículos, tudo. É isso que esse grupo de executivos faz para conseguir enxugar a máquina. Eles atuam em mais de 20 cidades, em oito estados. Eles mostram números: é impressionante. Eles conseguem uma sobra até de um orçamento inteiro, só com desperdícios que acabam sendo cometidos no dia a dia de uma administração pública. Eu vou ser muito austero. A falta de controle com gastos de viagem acabou gerando uma fraude que foi revelada há pouco tempo que lesou os cofres principalmente na Secretaria da Educação. Mas pode ter ocorrido também em outras porque os funcionários em viagem não precisam especificar gastos com passagens e alimentação. Caso eleito, o senhor pretende manter essa forma de prestação de contas ou prefere mudar? Eu sou a favor da transparência, do que é melhor para garantir o bom uso do recurso público. Se essa prática adotada pelo atual governo não tem trazido transparência e a clareza que nós precisamos, pode ter a certeza que eu vou mudar para que a prestação de contas seja a mais clara e discriminada possível. Falando em possibilidade de enxugar gastos. Como deputado, o senhor foi autor da Lei 13.152, de 2001, que possibilitava a criação de um Programa de Demissões Voluntárias. O senhor estudou já a possibilidade de aplicar um PDV no governo, caso eleito, para enxugar a máquina? Eu acredito que há a necessidade de enxugar a máquina. Nós precisamos da máquina do tamanho suficiente para prestar um bom serviço para a sociedade. Serviços públicos de qualidade. Para termos aí em todos municípios, os núcleos regionais, pessoas suficientes para garantir um bom atendimento para a população. Não pensei em demissão voluntária, acho que isso ainda não é necessário. A gente pode começar enxugando os cargos em comissão. Tem alguma meta de redução? Não. Eu tenho que ver ainda primeiro qual o tamanho do estado que nós queremos para garantir todos esses avanços necessários. Mas pode ter certeza que o número de cargos vai ser do tamanho mínimo, suficiente, para garantir os avanços que eu pretendo. O senhor falou em cortar gastos de custeio. Seria essa dentro do orçamento a área de que o senhor tentaria tirar verbas para investimentos? De que outras áreas seria possível tirar recursos? E quais seriam as áreas prioritárias de seu governo? A área prioritária hoje é a saúde. É a área apontada por todos os paranaenses como a mais precária. Não tem atendimento adequado, faltam médicos, faltam medicamentos, faltam equipamentos. Alguns hospitais foram inaugurados e não funcionam de forma adequada por falta de equipamentos para atender a toda uma região. Eu estive visitando o Hospital Regional de Ponta Grossa. Parado. Se não me engano 380 pessoas contratadas. E estão em outros lugares porque o hospital não funciona por falta de equipamentos. O hospital Walter Pecoits funciona praticamente e meia carga. Não está funcionando de forma adequada. Me parece que o governo se apressou em inaugurar vários hospitais para dar uma resposta para a sociedade, mas não funciona. A conta para pagar vai sobrar para o próximo governador. É uma área prioritária, sim. Equipar os hospitais, contratar os médicos, isso vai demandar muito recurso. Mas é fundamental. E nós vamos levar boas práticas administrativas aqui da capital, como o programa Mãe Curitibana, que vai se chamar Mãe Paranaense, para reduzir a taxa de mortalidade materna e infantil, como nós fizemos aqui, onde foi a menor do Brasil. Implantar os centros regionais de atendimento especializado, porque nós temos longas filas por exames e consultas especializadas. Praticamente sete especialidades que são o gargalo do sistema em todo o Brasil. E outra área que está muito defasada, é um caos, é a área de segurança pública. Para mim é uma vergonha, é inaceitável um estado como o Paraná ter hoje um efetivo de policiais militares e civis inferior ao de 20 anos atrás. Não é sem razão que a taxa de homicídios, o crime, o tráfico de drogas cresceram tanto no nosso estado nos últimos anos. Então temos a proposta de contratação de mais 5 mil policiais, reativar os módulos policiais, fazer parcerias com os municípios, com a sociedade. Uma coisa muito importante é a parceria com o governo federal, porque senão a gente vai ficar dentro do estado enxugando gelo. Porque o Paraná é uma das principais portas de entrada para o Brasil do armamento pesado e da droga. Então eu imagino que nós precisamos chamar a Polícia Federal, as Forças Armadas e até a Interpol, numa ação integrada com as polícias do estado, num policiamento mais ostensivo nas fronteiras, para conter o ingresso da arma e da droga. E por falar em droga, nessa repressão pesada que nós vamos fazer, declarando guerra ao crack, numa política de tolerância zero, precisamos também pensar nos pais e mães que estão desesperados, com o filho na droga, que não sabem o que fazer e não têm onde internar o seu filho.. Então nós vamos investir também nos centros regionais de tratamento e recuperação de dependentes químicos. Parcerias com comunidades terapêuticas, senão me engano são 150 em todo o estado do Paraná, para tranquilizar o pai e a mãe. Eu tenho conhecidos que têm filho na droga e que mandaram para Sorocaba, onde tem um centro. Não encontra onde colocar esses jovens. É uma epidemia, tem que ser tratada com muita preocupação. O Brasil já tem 1,2 milhão de viciados nessa nova droga, que tem um efeito devastador. E nós vamos combater de frente e com energia esse grave problema. Só com a redução do choque de gestão vai haver recursos para tantos investimentos em saúde e segurança ou será necessário cortar recursos de outras áreas? Uma gestão eficiente tem planejamento. Tem que estabelecer prioridades e compromisso em fazer o melhor. Quando nós fizemos aqui, conseguimos. Nós temos que estabelecer também parcerias. Tive aqui muitas parcerias com a iniciativa privada na recuperação de espaços públicos. Olhe o que eu economizei no Paço da Liberdade: aquela obra custou R$ 8,5 milhões. O Darci Piana, a Federação do Comércio, o Sesc, nos ajudaram. Me custou o quê? Assinar um comodato de 20 anos para eles transformarem num centro cultural à disposição da cidade. Os R$ 8,5 milhões que sobraram para investir em áreas prioritárias, nas áreas sociais da periferia da cidade. O Jardim Botânico, um belíssimo espaço da cidade, é explorado pela iniciativa privada – hoje com dimensões pequenas até para explorar publicidade. Antes era uma empresa [que mantinha], agora é a outra, concorrente, que venceu a licitação. Além dessas boas parcerias, também com o governo federal. O exemplo está aí, na saúde: O Luciano (Ducci) vai inaugurar no final deste ano, começo do próximo, o Hospital do Idoso. Quando o Requião cortou, por perseguição política, os R$ 12 milhões para a construção desse hospital do idoso, a equipe competente e técnica da Saúde foi a Brasília apresentar um bom projeto. Porque me disse o Luciano que existiam recursos sobrando para a área do idoso no Brasil e faltavam projetos. Trouxe R$ 12 milhões do governo federal para o Hospital do Idoso. Cito as boas parcerias que eu fiz atendendo 50 mil famílias na área habitacional, com regularização fundiária. Foi a maior regularização fundiária da história de Curitiba. Fizemos urbanização de áreas de risco social, com recursos da Caixa, do Ministério das Cidades, com outros ministérios também. Fizemos também construção de moradias. Meus adversários fizeram pouco mais de 20 mil casas no Paraná inteiro. Em Curitiba, foram 15 mil famílias atendidas com moradia própria. É parceria com o governo federal. São as boas parcerias que digo e que nós vamos fazer. Não preciso ser amigo do presidente. Até porque, do jeito que está o presidente hoje, está cheio de amigo. Tem “neo-amigos” inclusive. Eu não preciso. Vamos ter projetos, vamos ter agilidade, cobrar o que é de direito do estado do Paraná. Não vou entrar pela cozinha de ninguém, vou entrar pela frente, de cabeça erguida, acompanhado de deputados ou da minha equipe para mostrar os projetos e trazer os recursos para o Paraná. Eu já fiz por Curitiba. É possível fazer no Paraná. O senhor custou corte de custeio, parcerias. O senhor não acha que vai ter que redirecionar recursos de uma área para outra? É possível, claro, redirecionar. Até porque o governo que está aí tem suas prioridades, seus modelos, seus métodos. Eu vou ter os meus. As minhas prioridades e os meus compromissos assumidos na campanha. Que áreas poderiam perder recursos? Eu vou ver a hora que eu sentar lá. Como é que está sendo destinado os recursos, de que fora. Agora, pode ter certeza. O meu governo vai ser muito mais austero, transparente e democrático do que o que está aí? Falando um pouco sobre saúde e segurança. Algumas propostas suas são interessantes mas vão exigir um gasto grande e não se sabe ainda o resultado que vão ter. Na saúde, por exemplo, tem o resgate aéreo, com helicópteros. O Paraná precisa ainda de investimentos em saúde básica para a população. O gasto com helicópteros ou com manutenção não será muito alto? E na área da segurança, as câmeras de segurança, segundo alguns estudos, não seriam muito eficientes. Você coloca na Rua XV e o crime migra para a Monsenhor Celso. E o senhor pretende instalar câmeras nos municípios. Em todo lugar eu tenho visto que as câmeras são muito eficientes. Ainda ontem [domingo], os telejornais mostraram criminosos que foram presos porque foram identificados nas câmeras de vigilância. Eu acredito que é eficaz. Muitas pessoas foram detidas por tráfico de drogas, prostituição no centro da cidade, assaltos. Muitos foram identificados pelas câmeras de segurança. Não me lembro do número agora. Em relação à saúde: atendimento básico é importante para quê? Para salvar vidas. O helicóptero é para salvar vidas. Então quando eu disse no início que eu vou cumprir o que determina a Constituição Federal, investindo 12% das receitas correntes líquidas do estado em saúde, eu vou trazer para dentro do sistema R$ 300 milhões. Os helicópteros custam R$ 4 milhões. Existe, não é só uma fantasia como quer fazer acreditar o meu adversário. Existe em São Paulo, existe em Minas Gerias, existe em Santa Catarina. E tem aqui em Curitiba. O município tem uma parceria e cede profissionais da área médica. A Polícia Rodoviária Federal entra com um helicóptero. E o Ministério da Saúde também participa. Já atenderam cerca de 1.250 ocorrências. São demandados a cada 40 minutos. Foi o helicóptero que salvou vidas com a invasão do Couto Pereira. Foi esse helicóptero que foi lá em Santa Catarina ajudar no período das enchentes. Foi esse helicóptero que, em uma das ocorrências, uma pessoa que foi baleada aqui em Pontal do Paraná. Para salvar a vida da pessoa que está morrendo, cada segundo vale ouro. Então imagina só nas pequenas cidades. Eu sei porque eu estou muito no interior, converso com os prefeitos, que entenderam bem a proposta e acharam maravilhosa. Os helicópteros serão usados apenas em urgências e emergências. Quantas pessoas saem do interior em ambulâncias em direção a centros maiores para ser atendidas numa situação de emergência. Quantas morrem na estrada e não têm a felicidade de chegar ao destino. Esse helicóptero vai salvar milhares e milhares de vidas de paranaenses. Pode ter certeza disso. São quatro ou cinco helicópteros sediados em pontos geográficos estratégicos para cobrir todo o estado. Já tem helicóptero dos bombeiros, aqui na capital. E olha, é importante. Você conversa com o socorrista, com pessoas que foram atendidas pelo helicóptero, agradecem a Deus pela existência do helicóptero que salvou a sua vida. O senhor falou de prioridade para segurança e saúde. E mencionou a dificuldade de marcar exames e consultas para especialidades, assim como a dificuldade de encontrar clínicas para internamento de dependentes químicos. Aqui em Curitiba, mesmo sendo suas prioridades, essas dificuldades ainda existem. O senhor mesmo mencionou que conhece gente que mandou o filho para clínicas em Sorocaba por não encontrar aqui. Sua gestão foi eficiente aqui? Nós temos convênios com várias clínicas em Curitiba. [Esse caso que eu mencionei] é de uma pessoa de um nível maior, que tem condição de uma clínica mais especializada e que pode pagar a diária que cobra uma clínica. Não encontrava aqui no nível que queria. Era um amigo meu de nível social mais elevado e que não quer colocar numa comunidade terapêutica, que existe hoje para atender de forma geral as pessoas. E temos vários convênios aqui com clínicas de recuperação através da FAS. E a demora nas consultas e exames especializados? Nós avançamos bastante. No mundo inteiro tem demora. Em algumas especialidades, senão me engano são sete, você não encontra profissionais. Não é problema do poder público não contratar. Você não encontra profissionais porque no atendimento particular eles ganham muito mais. São poucos profissionais nessas especialidades. E você não consegue contratar no serviço público em número suficiente, porque é caro, para atender a toda a demanda. Então nós vamos fazer mutirões, vamos avançar mais. Fizemos aqui em Curitiba. Diminuímos a fila, sim. Concordo, ainda existe o gargalo. Não é aqui, é no Brasil inteiro. Mas nós temos que dar um passo para pelo menos diminuir essas filas. É possível resolver o problema de vez no estado? Resolver, não. É possível diminuir: Eu falei: nós vamos diminuir as longas filas por exames e consultas especializadas. Sobre a questão da droga. O senhor criou aqui uma secretaria específica para o assunto. No entanto, quem circula à noite encontra muitos usuários na rua, principalmente do crack. Na realidade é uma mazela que está se espalhando pelo país. O que dá para fazer de efetivo? A função dessa Secretaria Municipal Antidrogas, que é a primeira do Brasil, não é de repressão. A função é de conscientização e de prevenção. Nós identificamos e tivemos o beneplácito do juizado da infância e da adolescência para poder fazer um trabalho no período noturno em locais onde foi diagnosticado, nos finais de semana, das 22 horas às 2 da manhã, um grande número de tráfico de drogas envolvendo crianças. Nós fizemos um trabalho nessas comunidades com pedagogos, com profissionais de educação, com professores de educação física, com grupos artísticos, e a conscientização desse jovem. Primeiro, usando o tempo dele para que ele não estivesse exposto ali aos traficantes de drogas. E, depois, mostrando que ele pode ter um futuro melhor com uma modalidade esportiva, com alguma atividade artística. E cuidando das crianças dessa comunidade. Esse foi o trabalho dessa secretaria. Agora, paralelamente a isso, até pela capacidade do (secretário Fernando) Francischini, ela também esteve envolvida, não sei de que forma, em algumas investigações. Tanto é que a informação que foi para a polícia da prisão do Fernandinho Beira-Mar no Paraná, que namorava aquela miss, partiu da Secretaria Antidrogas de Curitiba. O senhor já antecipou o nome do secretário Flavio Arns para a Educação. O delegado Francischini seria seu secretário na área da Segurança? Não. O único que eu anunciei foi o Flavio Arns. Eu não tenho nenhum nome escolhido ainda. E foi importante você tocar nesse assunto. Eu relutei para anunciar o Flavio Arns nesse momento. Até para não parecer presunção minha antes de vencer a eleição montar equipe. Eu não estou montando equipe nenhuma. Eu fiz para desfazer boatos disseminados em todo o estado do Paraná de forma maldosa pelo meu adversário. Estão usando a estrutura de cargos em confiança do governo de maneira desavergonhada para favorecer a candidatura de meu adversário em todo o Paraná. Já temos vários casos concretos, com decisões da Justiça, proibindo o uso da Secretaria da Educação, proibindo o uso de material de expediente, de e-mails da Sanepar. Isso está acontecendo no Paraná inteiro. E como eles disseminaram boatos dizendo que a minha secretária de Educação seria uma senhora que não foi do agrado dos professores, com o objetivo claro de me colocar contra os professores, eu conversei muito com a minha equipe e resolvemos anunciar o nome do Flavio Arns, que é uma pessoa maravilhosa. Eu já tinha tido uma conversa com ele lá atrás sobre isso e senti que ele tinha vontade de militar nessa área. Mas o senhor vê no nome do Delegado Francischini um bom nome? Considero uma pessoa capacitada, mas não está escolhido não. Candidato sobre educação ainda, na prevenção do crack o senhor falou em escola integral, qual é o percentual? O senhor tem um estudo para isso? Até onde pode chegar a escola integral no estado? O ideal seria termos em todas as escolas, só que o custo é alto. Então nós vamos priorizar. Nós temos que ter planejamento e prioridade, já que não dá para atender todo mundo. Quem nós vamos atender: as cidades mais carentes, regiões com IDH abaixo da média nacional. A ideia é atingir pelo menos 500 escolas, e nas demais, ter atividades de contraturno, que de uma certa forma suprem também a ausência de uma escola de ensino integral. Nós vamos atuar desta forma também em mais um programa de sucesso em Curitiba, que meu adversário também não entendeu. Achou que eu estava explorando os professores como voluntários. Voluntários são as pessoas da comunidade que se apresentam no Comunidade Escola para ajudar. Nós temos já 87 escolas com Comunidade Escola. É um sucesso absoluto, todas as comunidades gostam, os diretores e professores das escolas são pagos para isso nos finais de semana, adoram o Comunidade Escola, adoram! Me pedem para fazer em 100% das escolas de Curitiba. Fui avançando na medida em que podia cobrir diante dos recursos financeiros. O que se faz ali? No período em que a escola está fechada, você abre as portas da escola para o convívio das famílias. O Osmar criticou esse programa porque ele não conhece. Certamente. As famílias utilizam as quadras poliesportivas. Por sinal, nós fizemos a cobertura de oitenta e tantas, faltam trinta e poucas para cobrir 100% das escolas. Isso vai acontecer nesse segundo mandato. Usam ali as quadras poliesportivas. Tem voluntários que ensinam um instrumento musical, um violão. Tem voluntários que ensinam artes marciais. E o que mais me sensibiliza nesse programa é o grande número de voluntários que se apresentam nos finais de semana para ensinar alguma coisa para o seu próximo. A inclusão digital que acontece nos laboratórios de informática, que tem em todas as escolas de Curitiba. E é um programa muito bem aceito, e nós vamos também levar para o estado. O orçamento do estado está seriamente comprometido com o pagamento de dívidas. E a principal dívida é a da privatização do Banestado. O senhor acha que existe algum caminho para tentar renegociar essa dívida, que só vai ser saldada em 2029. Dá para tentar negociar com o governo federal? O senhor vê alguma brecha pra isso? É possível, sim. Nós temos que sanar esses gargalos críticos, esses nós que estão travando o crescimento do estado, que estão impossibilitando nós termos capacidade de investimento na infraestrutura, para tomar os empréstimos internacionais para investimento nessas áreas. É possível e nós vamos fazer. Quer ver outro exemplo de uma visão estratégica de uma administração com resultados positivos? Eu coloquei em licitação o gerenciamento da folha de pagamento dos servidores da prefeitura. Eu consegui R$ 140 milhões do Banco Santander. Foi a maior oferta proporcional do Brasil. Os R$ 140 milhões são praticamente o orçamento inteiro de investimento de um ano. Se o governo do estado fizesse isso, ele ia conseguir perto de R$ 1 bilhão. Ao contrário, o governador me criticou, disse que eu estava dando para um banco particular um serviço. Um serviço de gestão, gente! De gestão, só. E, com a portabilidade, o servidor recebe o dinheiro num minuto, no segundo seguinte ele pode mudar para outro banco. Tanto não deu certo para os bancos isso que hoje praticamente não existe mais essa briga louca por ter a gestão da folha de pagamento dos municípios ou dos estados. O governador deu para o Banco do Brasil por R$ 30 milhões e me parece que, só de taxa que ele paga lá, já foi mais do que isso. Isso é visão estratégica, isso é planejamento, é prioridade. Então as obras que ele me tirou, que eram sessenta e poucos milhões, depois que eu apoiei o seu adversário, eu fiz todas essas obras e ainda sobrou muito dinheiro para outras obras que nós fizemos. Sempre tem oportunidade de você avançar, de você modernizar o estado, de você conseguir atrair recursos para investimento. Tem uma questão coligada a essa, que é a questão das ações da Copel, dados como garantia por títulos podres que pertenciam ao Banestado. A multa foi suspensa, mas os títulos ainda existem. Se fizesse essa licitação do gerenciamento da gestão da folha de pagamento ele podia saldar todas essa dívidas... Mas isso o senhor pretende fazer? Porque esses títulos estão atrelados à Copel? São ações da Copel, que caso fosse vencida uma ação na Justiça sobre isso, poderia significar a perda do comando da Copel. Eu citei um exemplo do que é possível fazer. Agora, tem que ter diálogo, tem que ter conhecimento, tem que ter visão estratégica, tem que ter competência acima de tudo. Competência. Só para finalizar essa questão: o grosso dessa dívida do Paraná é essa questão do Banestado. O Senhor acha que foi um bom negócio, ou o senhor se arrepende de ter votado a favor privatização do Banestado? O meu adversário, de forma oportunista, está explorando esse assunto seguidamente. Ele votou pela federalização do banco mas isso volta e meia ele omite. Quer dizer, o banco não estaria mais sobre o controle do estado de qualquer forma. O Banco tinha dívidas acumuladas e já existia o comunicado de intervenção do Banco Central. Estava recorrendo diariamente a cerca de R$ 900 milhões do interbancários. E além do banco estar numa situação dificílima, estava levando também o estado para este mesmo buraco. Não tinha mais o que fazer. Tanto é que praticamente todos os bancos estaduais foram privatizados ou federalizados. E dá a impressão de que eu vendi o banco. Foram 43 deputados que votaram pela autorização de negociação do Banestado. 43. Boa parte ainda se absteve da votação. Só cinco votaram contra. E outra coisa: é só perguntar para o Reinhold Stephanes, que sabe que não tinha outro caminho pro Banestado que não esse. É lamentável. Inclusive uma das maiores dívidas do Banestado veio com o fechamento do Badep: o passivo do Badep foi jogado no Banestado. Isso o Osmar não fala. Isso foi no governo Requião, correto? Não, governo a que ele pertenceu. Governo do Alvaro [Dias]. Eu não tenho vergonha de nada que eu fiz. Eu posso até errar, mas jamais vou errar por má-fé. Era o que precisava ser feito. 43 deputados votaram por isso . Mas foi um bom negócio, analisando hoje a divida que ficou para pagar até 2029? Quanto a negócio, eu não sou especialista nisso. O que coube a mim como deputado ao lado de todos os demais deputados era autorizar a negociação ou não. E nós autorizamos. Agora, essa questão financeira, essa questão de compra de títulos e venda de títulos e alongamento para pagar até não sei quanto, o dinheiro que foi colocado para sanear o banco, que tem que ser devolvido também, nisso eu não sou especialista. Agora, que tinha que entrar em negociação o banco, como praticamente todos os bancos do Brasil entraram, disso ninguém tem dúvida. Outra coisa também, só para concluir, que é importante. Além do passivo do Badep, que era um banco de fomento do estado, muitos deputados, vocês sabem disso, se aproveitaram de um banco que estava servindo para atender interesses políticos. Muitos deputados contraíram empréstimos e não tiveram o mesmo tratamento que o cidadão comum, que contraiu empréstimo e tinha que pagar com juros e correção. Muitos deputados. E eu nunca tive empréstimo no Banestado. O senhor falou sobre as contas do estado. O senhor pretende renegociar as contas? Pretendo, se for possível. Como eu disse, os bancos já arrefeceram aquele entusiasmo que tinham, porque não estão tendo o retorno. O senhor falou que não violentou a sua consciência em nenhum momento ao participar da bancada de apoio do Lerner. Mas, além da privatização do Banestado, houve também discussão sobre a Copel. O senhor propôs a venda de 40% das ações da empresa. Eu não propus isso. Isso foi feito no governo Requião, uma abertura de capital que possibilita à Copel de ter ações na bolsa de Nova York. Foi feito no governo Requião. Mas antes disso o senhor apresentou um projeto que permitia a venda de 40 % das ações. Limitava em 40%. Justamente para preservar o controle do estado. Venda de ações eles fazem direto. O [governador Orlando] Pessutti não foi lá bater o sino em Nova York? O Requião não vai lá direto? As ações da Copel estão em negociação na bolsa. Foi o contrário, para preservar o patrimônio público que propus limitar a venda a 40%, para que o estado nunca perca o controle acionário de uma empresa importante como esta. E eu quero deixar claro: vou preservar o patrimônio público, não vou privatizar nenhuma empresa. Ao contrário, a Copel vai voltar a ser uma empresa referência na geração de energia, uma empresa no topo das companhias de energia, coisa que hoje não é mais. Vai ser importante para o desenvolvimento econômico e social, levar fibra ótica a todos os municípios do estado. Na Sanepar, a mesma coisa. Hoje tenho apoio de um grande número de funcionários da Sanepar que estão insatisfeitos com o gerenciamento da empresa, que virou um cabide de empregos. Políticos amigos do governador, sem observar a competência, o preparo para o exercício da função, viram, de uma hora para outra, diretores ou conselheiros. Porque os salários são altos. Os funcionários reclamam que, nas reuniões para planejar a estratégia da empresa, a expansão da rede de esgoto nos municípios, a coleta, o tratamento, os políticos ficam mudos. Porque são neófitos, não entendem do assunto. Para a presidência da Copel, o senhor pretende um nome técnico ou político? Um nome técnico. E da Sanepar? Pretendo um nome técnico também para a Sanepar. E para o porto também? Para o Porto também. Para as três empresas. O senhor falou antes sobre o tamanho do Estado. O senhor não definiu ainda qual deve ser o tamanho do Estado? O senhor realmente acha que este tamanho não é o ideal? É muito grande, é isso? Precisa ser cortado? Muito grande. Muita ingerência política nessas empresas, muitos cargos em comissão. E não se priorizou o lado técnico do governo, em detrimento do discurso político e da politicagem que houve em todas as secretarias, praticamente. O senhor já trabalha com alguma porcentagem de corte? Não. Não tenho um número ainda. Mas o Estado vai ter o tamanho suficiente para os avanços que nós queremos propor no nosso governo. O atual presidente da Copel acha que a empresa poderia ter entrado em alguns empreendimentos como minoritária. O que o senhor acha disso? É uma questão para ser analisada tecnicamente. Eu vou permitir que aconteça na Copel o que for melhor para o estado. O que for melhor para o fortalecimento da Copel, para a expansão da Copel, para que ela volte a gerar mais energia, para termos uma energia mais barata e para que ela volte a ser uma companhia referência nacional. Para quem não sabe, a Copel foi notificada várias vezes pela Agência Nacional de Energia Elétrica por irregularidades cometidas de forma gerencial. Qual é a política salarial que o senhor pretende adotar para o funcionalismo público. Existe algo no seu plano? Qual sua meta? Que tipo de reajustes vai haver? Vão ser lineares, por mérito? A exemplo do que fiz na capital. O importante é que, nessa campanha, o único que sentou na cadeira de chefe do executivo fui eu. Até porque, quando você senta na cadeira, a teoria e a prática são bem diferentes. Você encontra uma série de problemas, desafios o dia inteiro. Governar é administrar problemas e materializar sonhos. Então eu consegui, e eu tinha isso em mente, ter uma boa relação com os servidores. Eu colocava o seguinte: eu só vou conseguir implantar as boas propostas, inovadoras até, que eu tenho para a cidade, se eu tiver ao meu lado servidores motivados, parceiros, entusiasmados para dar seqüência e implantar essas propostas todas. O mesmo eu vou fazer no estado do Paraná. Vou tratá-los com respeito, serão valorizados. Vamos tratálos de forma democrática e transparente, mostrar a eles o orçamento do estado, o que é possível fazer, o que é possível avançar no plano de carreira. Com alguns segmentos, como o dos professores, já assumi uma série de compromissos que são justos. Por exemplo, o auxílio-transporte ser incorporado ao salário, mais 26% de aumento, para que haja equiparação com os demais servidores que têm curso superior também. Vamos tratar isso caso a caso, mas serão valorizados, sim. E vamos garantir os aumentos necessários para que tenham uma vida digna e a tranqüilidade para prestar bons serviços para toda a população. O senhor vê com bons olhos a premiação por mérito dos servidores? Em algumas situações, sim. Nós propusemos, inclusive, um estudo na área de segurança pública, de alguns méritos para atuação de policiais, prisão de traficantes, apreensão de drogas... Isso pode ser estendido para outras categorias, sim. Acho que é um estilo de administrar por resultados, por produtividade. O Aécio Neves usou muito em Minas Gerais e os resultados foram bons. É o que eu disse anteriormente de avaliar todos os bons métodos de administração pública que deram bons resultados para a gente poder aplicar aqui. Não tenho dificuldade alguma em copiar alguma coisa que já está implantada e já está dando certo, independente de qual seja a administração, seja do PT, do PSDB, de que partido seja. Porque você ganha tempo, elimina desperdício. Você perderia muito tempo experimentando uma prática se já tem uma que está dando certo, que já foi testada, que pode ser implantada aqui. E essa meritocracia foi muito adotada pelo Aécio e pode ser usada em uma ou outra área da administração. A construção do metrô em Curitiba é um assunto já antigo, que esteve presente na campanha que levou o Cassio Taniguchi à prefeitura. A promessa de começar as obras em 2010 talvez não seja realizada. Também o José Serra apareceu na propaganda eleitoral falando de um projeto de construção de 400 quilômetros de linha de metrô e citou diversas capitais, mas não citou Curitiba. Em outra ocasião, eu ouvi ele citar Curitiba. Como o senhor pretende atuar, caso eleito, para desatar esse nó do metrô? Qual o prazo previsto? Já tem uma previsão de contrapartida do governo, como é que está isso? A gente já vem atuando nisso. O ministro Paulo Bernardo é testemunha de quantas vezes nós estivemos reunidos, depois tentamos colocar esse projeto no PAC da Copa, quando todos os prefeitos do Brasil, das 12 sedes, especificamente, foram surpreendidos com o formato proposto pelo governo federal. Todo mundo louco para ser subsede da Copa do Mundo. Primeiro porque é um evento importante. O futebol é paixão nacional. Quem não quer ter jogos da Copa do Mundo na sua cidade? Mas não só por essa razão. Principalmente porque imaginávamos que receberíamos investimentos na infraestrutura das cidades a fundo perdido. Todo mundo ficou surpreso: não tem fundo perdido. É financiamento do governo federal. E financiamento, em algumas situações, com juros mais caros que os do BID. Então a gente estava colocando o metrô no PAC da Copa, mas na hora que nós descobrimos que não tinha recurso a fundo perdido. A cidade não tem condições e acho que nenhuma cidade no Brasil tem, de arcar sozinha com os custos de um projeto de transporte de massa como o metrô, que é caro. Então, já está negociado com o Paulo Bernardo, já está conversado. Em um determinado momento, acho que a Dilma mesmo tinha dado a notícia que o metrô de Curitiba não ia ocorrer. O Paulo Bernardo reabriu essa discussão. Estivemos até, durante a Copa, com o Orlando Silva, com o Márcio Fortes. Mas o Paulo Bernardo reabriu essa discussão para colocar o metrô de Curitiba no PAC 2. Isso está sendo discutido agora, enquanto está se encerrando o projeto básico, mas está em andamento, sim, está previsto. Está sendo conversado. Agora saí da prefeitura, mas sei que o Luciano Ducci tem acompanhado as discussões dessa tratativa do governo federal. O que eu pedi ao Paulo Bernardo, só para concluir, é que Curitiba tenha o mesmo tratamento das outras cidades do Brasil, em que o maior volume para investimento nas obras de implantação do metrô seja a fundo perdido, para não comprometer as finanças do município. E um percentual menor, aí sim a cidade pode contrair financiamento. Eu só pedi isso. O mesmo tratamento de outras cidades, a exemplo de Fortaleza, que recebeu 80% a fundo perdido. Falando de Copa do Mundo, o senhor pode ser governador do estado durante a Copa de 2014. E hoje, depois de uma longa novela, da qual o senhor participou, ativamente para trazer a Copa para Curitiba, foi assinado o contrato de viabilização das obras na Arena, que passam pela prefeitura e passam pelo governo do estado e pelo potencial construtivo. Qual sua visão dessa triangulação pra terminar a obra da Arena da Baixada? Bom, primeiro que não fui eu, não foi a prefeitura que indicou a Arena. Foi a Arena que se apresentou com interesse de sediar a copa do mundo. Mas a prefeitura bancou. O projeto é da cidade, do estado... Sim, o projeto é da cidade, mas foi o único estádio que se apresentou, isso que eu quero dizer. E foi um período importante onde nós fizemos todos, a prefeitura fez, todos os projetos, que por sinal foram muito elogiados na CBF e na FIFA. Trabalho executado principalmente por técnicos do IPPUC. E vencemos. Agora, o segundo passo é a organização do evento, da infraestrutura toda que foi planejada em torno do estádio, no acesso, aeroporto. E aí o impasse é compreensível. Estive várias vezes com dirigentes do Atlético, que me colocaram: “Beto, o que o Atlético ganha com isso? Ao longo da Copa não pode ter nem uma plaquinha para pelo menos explorar a publicidade. Vamos construir um grande estádio (parte da obra já estavam fazendo), e depois? Nós vamos usar pra que? Não temos interesse. Ou se acha uma fórmula que a gente possa contrair os empréstimos, ou algo que seja interessante pro estádio, ou não temos recursos. Eu não vou quebrar o clube pra ser sede da Copa do Mundo. Então aí o governo do estado e a prefeitura encontraram algumas fórmulas. A da prefeitura eu sei que é troca de potencial construtivo, pra conseguir os investimentos ali no estádio. Não envolve recurso público diretamente, porque isso a lei veda. E tem esse compromisso hoje com a CBF, embora a qualquer momento a CBF pode voltar cortar 2 cidades e voltar para o planejamento inicial de 10 subsedes. Não tenho mais acompanhado essa discussão. Só pra fazer um balanço aqui o senhor falou um pouco do ser adversário, mas criticou aqui bastante o ex- governador Requião. Quem é o principal adversário do senhor, é o atual governo? Não me entenda mal, eu não ataquei diretamente o antigo governador. Eu ataquei o governo. Eu estou dizendo para vocês que a minha candidatura representa a mudança do que está aí. Eu tenho um novo estilo, um jeito diferente de governar, uma nova visão de administração pública, com democracia. Sentar com especialistas, sentar com a sociedade, discutindo as melhores soluções, caminhos e alternativas para atender o desenvolvimento do Paraná. Por exemplo, sentar com os produtores rurais, com a agricultura familiar, com as entidades que representam, ver as melhores ações. Sentar com os especialistas do porto, ver como é que nós vamos botar o Porto de Paranaguá em seis meses de pé. Foi isso o que eu quis dizer. Eu não sou o dono da verdade, enquanto que o governo que aí estava se sentia autossuficiente, conversava muito pouco com a sociedade. Eram ideias colocadas de cima para baixo. E, na minha visão moderna de gestão pública, não existe mais espaço para decisões impostas. Eu não quis agredir o Requião. Eu estou colocando o governo. Por que eu quero ser governador? Porque eu quero fazer diferente do que está aí. Nós estamos aqui tratando dos problemas crônicos de muito tempo. De falta de segurança pública, falta de infraestrutura na saúde, enquanto a gente já podia ter avançado nessas áreas para tratar de outros assuntos: da modernidade de estado, da tecnologia de informação e de outros assuntos. Por isso é que eu falei dele. Por que seu oponente seria um bom candidato a senador e não um bom candidato ao governo? Já que todas as tratativas até a definição eram para a composição dele como candidato na sua chapa... Veja bem, é importante deixar claro... Apesar de que ele está tão mudado hoje, é impressionante. O último debate foi uma coisa de maluco. Ele nega que pediu para ser candidato ao Senado comigo. Tem dezenas de testemunhas que presenciaram ele pedindo para ser candidato ao Senado pela minha chapa, me apoiando para o governo. Ele esteve três vezes na casa do José Serra, duas delas ele pediu para acompanhar. No mês de junho! Então, de uma hora para outra, a Dilma é a melhor candidata do mundo. Apertou a mão do Serra. Se tivesse gravado tudo o que ele falou ali do PT e do Requião, ele não seria candidato hoje. Me procurou várias vezes... O senhor não quer dizer o que ele falou, que o senhor presenciou? Não, não. Mandou emissários, seus fiéis escudeiros: o presidente do partido que queria ser meu vice, o Zucchinho (deputado estadual Augustinho Zucchi, presidente do PDT estadual), não é segredo para ninguém, e o prefeito de Bandeirantes, o Celso Silva. Veja só: dois meses ele marcando as coletivas que daria para anunciar o apoio a mim. Reservamos sala no Mabu, em outro hotel, e desmarcamos em cima da hora. Sempre tinha uma desculpa de última hora. E eu, percebendo aquele jogo, falei: “Estou sendo usado”. A última vez que ele esteve no meu escritório, o Zucchinho e o prefeito de bandeirantes, eu, com educação, quase toquei os dois da minha sala. E estavam na sala o (deputado estadual Ademar) Traiano, o (deputado estadual Valdir) Rossoni, o (deputado federal) Ricardo Barros, coincidentemente naquele momento. E eu disse com essas palavras: “Avisa o Osmar que eu não sou moleque e eu não sou palhaço. Ele está me usando para negociar com o governo federal. Ele conversa comigo em um momento e de tarde eu vejo e ele está com o Requião, está com o Lula, está com a Dilma, ele fala com o Sérgio Guerra. E esse jogo para mim não presta. Tem que ter palavra, tem que ter compromisso. Eu tenho sido procurado pelo outro lado e não estou conversando. Para mim está fechado. Então não dá mais para esperar, e eu não quero mais saber”. Então, com essas palavras, eu disse: “Zucchinho, diga para ele que da minha parte vocês estão liberados. E diga mais para o Osmar: que eu renunciei a prefeitura de Curitiba foi para disputar com ele o governo do estado. Vocês é que vieram atrás de mim e não estão cumprindo tudo o que nós acordamos”. Saíram da sala, eu dei uma dura, o Rossoni saiu irritado da sala antes de terminar a conversa até: “O Beto tem razão em tudo o que ele coloca”. E aí o Zucchinho: “O que você quer que eu faça? Ele é complicado”. Ele não vai confirmar isso hoje... Isso foi quando mais ou menos? Dia 16 ou 15 de junho. Eu vou chegar nas datas porque à tarde o Osmar me ligou, sabendo que eu dei um corridão... Mas foi pouco antes do anúncio da candidatura? É a primeira vez que estou tocando nesse assunto em público. À tarde ele me ligou, o Osmar. Isso foi dia 16, esse encontro no meu escritório, porque à tarde ele me ligou. Em junho. Minha convenção era dia 19. Por isso ele apressou em falar comigo todos os dias. Aí a tarde ele me ligou: “Beto”. (O assessor Deonilson Roldo interrompe: “Antes tinha adiado a convenção por uma semana”). Já tinha adiado a convenção antes; estou dizendo os últimos episódios. Dia 12 é minha convenção e eu adiei por causa dele. Eles queriam convencer o (presidente nacional do PDT, Carlos) Lupi. Eu vou amenizar um pouco a frase que ele usava. Vou amenizar um pouco. “Eu preciso convencer o Lupi, porque o Lupi negociou um pacote com o Lula e me colocou dentro desse pacote”. E ele pedia razões para levar para o Lupi, que ele ia convencer e tal. Então, enfim, eu toquei os dois da minha sala. Mas no bom sentido... Não toquei... “Vão cuidar da vida de vocês que eu cuido da minha. Vocês estão me usando e eu estou sendo instrumento de barganha de vocês com o governo federal. Já percebi o jogo. Vocês estão há dois meses me enrolando. E avisa que eu renunciei para disputar com ele, mesmo”. À tarde ele me ligou: “Beto, veja bem, é difícil o Lupi, e essa coisa toda, e a pressão do governo. O Lupi, não sei o quê, e tal.Você me espera até o meio dia de amanhã?” Razoável, né? Até o meio dia de amanhã... Eu batendo papo com o pessoal às 11 horas no meu escritório, naquela mesa comprida que tem. Eu estava na ponta. Meio-dia. Passou. Acabou, não vem mais. Aí eu estou almoçando em um restaurante árabe em frente ao Colégio Paranaense. Estavam vários deputados, uma mesa comprida. O Rossoni tocou meu telefone: “Beto, você pode se encontrar com o Osmar agora?” “Você está louco?” Duas e meia da tarde. “Não adianta mais, Rossoni, chega. Estamos sendo usados. Você não viu, cara?” “É a última conversa, agora! Você vai na Rua Carlos de Carvalho, 855, apartamento 601, esquina com a Desembargador Motta”. Entrei no carro, peguei o Wilson: “Wilson, você me acompanha até lá?”. Cheguei nesse endereço, e ainda brinquei com meu assessor: “Olha, se eu não descer em meia hora você chama a polícia. Porque eu não sei pra onde estão me mandando”. Aí virei para o porteiro, “De quem é a casa aqui?” “Celso” “Que Celso meu senhor?” “Celso Silva”. Eu não liguei na hora o nome. “É o prefeito de bandeirantes” “Ah, já sei”. Subi. Casa vazia, os filhos dele que moram ali. Sentei frente a frente com o Osmar. Olha, eu tenho gravado na minha memória, sem errar uma letra e uma vírgula, que ele sentou na minha frente: “Beto, em primeiro lugar quero dizer que eu não estou te enganando. Eu não sou candidato a governador em hipótese alguma. Tá bom?” “Tá bom”. Aí começamos a conversar. O Lupi ligava de Genebra. Pode checar a data. Ele atendia lá dentro, não na minha frente. E aquilo já me deixava incomodado. Porque, se já estava tudo certo, por que não fala na minha frente? Ia, voltava, ia, voltava, e conversando, e falou do Alvaro, falou de tudo e tal, relações do Lupi, como é que ele ia desmarcar a reunião de segunda-feira em que estaria o Pessuti, o Requião, todo mundo lá em Brasília. E terça ele iria levar a discussão final. Terça ele ia levar a discussão para a Executiva (do PDT). Então peguem as datas que vocês vão ver. Segunda estava marcada uma reunião política para decisão das coisas, com Pessuti, com todo mundo, vários ministros lá. E terça-feira reunião da Executiva. “Tudo resolvido, já estou desmarcando a reunião de segunda, e terça-feira...” Lamento só que ele não vai confirmar nada disso. Eu não sei nem se deveria estar falando. Mas daí ele falou “Tua convenção é depois de amanhã?” “É” “Você segura a minha vaga de senador em aberto?” Eu falei: “Não posso mais, eu vou lançar o Fruet”. “Mas nem se eu te der um documento?”Aí eu virei pra ele na hora, tive a presença de espírito: “Se você assinar, é capaz de eu convencer a minha equipe. Que ninguém acredita mais, Osmar. A gente conversa entre quatro paredes, ninguém mais acredita no que a gente conversa. Se você assinar, tudo bem. Porque se o Zucchi (apontei que ele estava do outro lado), se o Zuqui assinar, ninguém mais acredita. Estão dizendo que ele está fazendo o jogo pessoal dele, que ele quer ser meu vice e tal, enquanto eu sei que ele é o teu braço direito”. Então foi isso. Daí na hora ele falou: “Ah, mas não tem impressora aqui no apartamento do Celso. Eu vou ter que ir lá no escritório, mas depois a tarde o Zucchi e o Celso Silva te levam lá no teu escritório”. Bom, de novo (pensei), com essa história de impressora mais um dia ele me ganhou. Pois cinco, cinco e meia da tarde, chegou o Zucchi, o Celso (tenho as fotografias registradas), eles chegaram lá e entregaram carta assinada pelo Osmar, tudo bonitinho, pedindo pra coligar e tudo mais. E eles pediram o que? Pra fazer o que com a carta? Divulgar no Paraná inteiro essa carta. Um absurdo. Agora, ouvir o que ele falou no debate? Candidato, só contrapondo essa questão, ele disse que o senhor em 2008 nas negociações para formalizar a aliança como candidato a prefeito se comprometeu a não ser candidato a governador. Mentira, mentira. E eu vou dar outro exemplo para você, eu vou te dar outro exemplo... E que o senhor se comprometeu que ia ficar quatro anos na prefeitura... Eu falei que o mandato era de quatro anos e pertence às pessoas que me elegeram. Se você pegar as pesquisas... Inclusive a primeira pesquisa que eu vi foi em janeiro ou fevereiro. Eu estava na praia em 2009, depois da eleição. “60% dos curitibanos querem Beto Richa no governo”. Pode pegar a capa da Gazeta de janeiro ou fevereiro. A primeira notícia em relação à eventual candidatura minha foram vocês que deram. Dentro dos meus eleitores, mais de 80% querem que eu seja candidato. Eu não estou traindo, muito menos frustrando os meus eleitores. Então em relação a isso é tranquilo. Em relação a ele, se vocês forem pegar esse período todo, uma única vez ele falou a respeito. Chamei o Zucchi na minha sala: “Zucchi, isso é uma mentira. Se você quer, vou falar a verdade”. “Não, não, foi um deslize, ele não vai falar mais”. Nunca mais falou a respeito. Ele falou um dia, vou dar a data para vocês, também é bom ser o mais preciso possível, porque isso é uma coisa polêmica, ele não vai, obviamente, do jeito que ele está mudado, ele não vai admitir nada do que eu falei, ele falou um dia na capa do O Estado do Paraná, no dia do velório do Luiz Felipe Haj Mussi. Por que que eu lembro que foi no dia do velório? Porque eu tinha uma viagem para Brasília e antes de ir para Brasília eu passei rapidamente no velório, que acontecia no Palácio das Araucárias. Encontrei no corredor Rubens Bueno. “Rubens, hoje na capa do O Estado do Paraná o Osmar está dizendo que eu tinha um compromisso de apoiá-lo para o governo do estado em 2010, firmado na sede nacional do PPS, e você estava lá, você e Marcos Isfer. Eu sequer insinuei alguma coisa, Rubens, porque eu não gosto desse tipo de coisa”. O Rubens não estava comigo até aquele momento. Ele estava conversando comigo, com o Osmar, tentando unir os dois. Quem ia ser o candidato ao governo o Rubens não sabia ainda. Não estava comigo. Na hora (ele disse): “Não é verdade. Isso nunca houve, nem insinuação você fez em relação a nomes”. Até porque ia ser eu. Então ficou dito ali que os quatro partidos juntos, PPS, PP, não sei o que, PDT, PSDB, DEM, a gente seria forte para ganhar o governo do estado em 2010. Única coisa que foi tratada. Tanto é que o Rubens, volto a dizer, nem estava comigo, ele foi para a Band News e desmentiu o Osmar Dias. De lá para cá, agora só que ele virou candidato, vocês nunca mais ouviram ele me cobrar esse compromisso, porque nunca houve. E, como falou o Zucchinho, foi um deslize dele e ele não vai falar mais. É só vocês verem aí, eu estou dando números e estou dando datas. Mas continua a pergunta: por que o seu oponente seria um bom candidato para ser senador e não para o governo? Porque ele está no senado já há 16 anos, tem feito um papel razoável. Ia fortalecer a nossa candidatura, não vamos ser hipócritas e deixar de reconhecer isso. E eu aceitei como todo o resto aceitou. E outra coisa: mais um dado só para fazer um parêntese, que a gente vai lembrando de coisas: todos os partidos que o apoiaram em 2006 estão comigo. Então, quem traiu quem? Só ele que saiu daqui e fez a opção para apoiar os seus adversários. Deve ter tido milhões de razões para fazer o que fez. O senhor se arrepende de ter pedido votos para ele em 2006? Não, não me arrependo. Não me arrependo do que eu faço. Eu hoje estou conhecendo melhor o Osmar que eu não conhecia antes. Por que o senhor falou essa frase: “Ele deve ter tido milhões de razões para fazer isso”? O senhor tem repetido sempre essa frase. Qual o significado? Muitas razões. Eu quero dizer que ele deve ter tido muitas razões para fazer o que fez. Isto posto, é um rompimento para sempre ou o senhor acha que ainda fica uma possibilidade futura de reconciliação? Não sei, não sei. A política no futuro eu não sei, mas eu defendo a minha honra. O homem que não defende a sua honra não merece respeito. Tanto é que, quando eu estava negociando com o PMDB, que tinha setores importantes que queriam me apoiar, até pelas nossas ligações, já que meu pai foi fundador nacional desse partido, ficou claro para as pessoas que eu conversava que eu não estaria do lado do Requião. O senhor não cumpriu seu mandato integralmente nessa segunda eleição. O senhor vai cumprir, caso seja eleito, o mandato de governador durante os quatro anos? O mandato é de quatro anos e pertence às pessoas que me elegeram. Eu vou dar a mesma resposta que eu dei anteriormente. Olha, gente, eu nunca tive obsessão por ocupar cargos, nunca tive. Pode ser difícil de compreender, porque eu sou diferente da maioria dos políticos, que querem de forma desesperada estar em busca de um grande cargo. Eu nunca tive. Eu disputei cinco campanhas majoritárias sem nunca ter passado pelo crivo de uma disputa numa convenção. Fui aclamado. Quero deixar claro que eu não tenho nada contra as disputas que são inerentes à democracia. Mas eu nunca impus candidatura minha, nunca impus. O Alvaro ficou chateado porque perdeu a indicação para mim dentro do PSDB, mas o que eu ia fazer? 99% do partido me queria candidato. Eu não fui atrás, eu não impus para ninguém. Então eu não tenho essa obsessão, eu nunca fiz planos lá para a frente: “bom, agora que sou candidato a vereador, ali na outra eleição sou candidato a prefeito, vou pular para o governo, vou para a Presidência da República”... Tanto é que, quando falam em eventual candidatura a presidente da República, eu nem respondo. Para mim é uma coisa praticamente impossível, distante. Eu virei candidato ao governo pelos resultados da minha gestão em Curitiba. Fui reconhecido nacionalmente e aí isso gerou uma forte expectativa no estado para uma candidatura nossa para implantar no estado o modelo de gestão que deu certo aqui, reconhecido no Brasil por dez vezes. Por isso que eu virei candidato. Eu não impus minha candidatura. Surgiu de forma natural diante do bom trabalho que eu realizei como prefeito. E volto a dizer: pegue pesquisas, inclusive na Gazeta. Aparece um cientista político, não me lembro o nome, que faz uma análise dos números. 80% quer Beto, 20% rejeita, acha que é uma traição. Ele falou: “É aceitável 20% achar que é uma traição, porque são 20% de adversários dele que têm receio dele ser candidato ao governo. Mas a grande maioria dos seus eleitores querem que ele seja candidato, e são os eleitores dele que valem nessa discussão, porque são eles que votaram para ele ser prefeito. Os que não votaram não me interessam”. Isso não tornaria o senhor um governador dos seus eleitores, e não de todos os paranaenses? Não. Eu vou ser governador de todos os paranaenses como fui prefeito de todos os curitibanos. Se eu tivesse trabalhado só nos bairros onde eu ganhei eleição, eu ia trabalhar nos bairros mais centrais, e o forte da minha administração foi na periferia da cidade. Tanto é verdade que na minha reeleição não perdi numa única urna da cidade de Curitiba. Venci em todas. Eu nunca fiz essa diferença. E por que o senhor acha que não consegue transferir essa popularidade que o senhor tem aqui para o José Serra? Curitiba foi a última capital onde ele perdeu... Não tem como, é difícil. Como o Lula também não consegue transferir toda a popularidade para outro nível de disputa. No mesmo nível sim: “Vou sair mas quem vai sentar na minha cadeira é ela”. O meu adversário tem várias dissimulações para me agredir. Além de jornais apreendidos pela polícia federal e tudo, querendo me colocar contra os curitibanos em relação à minha desincompatibilização de 2 anos e 8 meses de mandato. Ele foi candidato na última eleição. Acredito eu que era para ganhar. Ganhando, ele ia renunciar quatro anos de mandato, então veja quanta dissimulação e quanta falta de verdade naquilo que ele coloca. Nessa reta final das perguntas, o senhor falou muito sobre a ligação com o Osmar, que foi seu aliado histórico ao longo das últimas campanhas. Queria saber hoje – o senhor se separou dele há pouquíssimos meses –, qual a diferença do Beto Richa para o Osmar Dias? A diferença é em termos de comportamento, de compromisso e de palavra. Comportamento ético, que nunca me faltou isso. Clareza. Eu não me alio com adversários para ter conveniências pessoais de momento. Jamais vou fazer isso. Jamais você vai me ver querer ganhar eleição a qualquer custo, jamais. O que difere o senhor dele é a ética? A ética.