Entrevista com Beto Richa, candidato do PSDB ao governo do estado
Caso o senhor venha a ganhar a eleição, dentro da atual configuração, o Paraná
seria uma peça importante no jogo nacional para a oposição, como São Paulo e
Minas Gerais. Como o senhor vê essa situação? O que isso pode trazer para o
estado?
Não tenho receio nenhum em relação a isso. Mesmo porque eu já passei por essa
situação. Governei Curitiba quase cinco anos e meio sendo de oposição ao governo do
estado e ao federal. Passada a campanha, eu desço do palanque e cumpro a minha parte.
Tanto é que um dos meus primeiros atos, quando eu assumi a prefeitura de Curitiba, foi
procurar o Requião no Palácio Iguaçu. Propus para ele um bom entendimento, uma boa
relação administrativa, que eu devo admitir que até tivemos inicialmente. Só que vocês
conhecem o temperamento dele. Depois que eu me manifestei na campanha de 2006 (a
favor de Osmar Dias), tivemos uma relação muito truculenta. Não por opção minha. O
meu partido, como todo mundo sabe, é o maior opositor ao governo federal. Nem por
isso deixei de celebrar parcerias em todas as áreas. Sempre que solicitei audiências os
ministros me receberam. O presidente da República também. Posso garantir que
Curitiba recebeu muitos recursos federais. Lanço um desafio: se o governador anterior,
que sempre se diz amigo íntimo do presidente Lula, trouxe tanto recursos federais para
o Paraná quanto eu trouxe para Curitiba. Em números per capita e, se bobear, até em
absolutos. Não tem essa necessidade de ser amigo do presidente. Tem que ter projeto,
planejamento.
O que o Paraná precisa fazer para ter um peso político maior do que tem hoje
nacionalmente?
O governador exerce o maior cargo político do estado e precisa liderar esse processo.
De forma democrática, agregar toda sociedade em torno de projeto de interesses do
Paraná, em que todos serão beneficiados. Agregar também os representantes políticos.
Nos últimos oito anos, me dizem os deputados federais, apenas uma vez o governador
esteve reunido com a bancada. E eles me dizem: „a gente inveja, seguidamente
governadores de outros estados estão reunidos com suas bancadas‟. Isso é importante
para exercer a pressão política necessária para atração de recursos, infraestrutura, incluir
emendas importantes no orçamento da União. Esse trabalho de diálogo, espírito
democrático, eu sempre tive. Tive um extraordinário relacionamento com toda
sociedade ao longo do meu mandato aqui na capital. Foram boas parcerias na
recuperação de espaços públicos. Uma relação de respeito e respeitando a
independência da Câmara com os vereadores. Sem truculência, mas com diálogo e
avanços importantes.
Então o senhor pretende transformar essas reuniões periódicas com a bancada no
Congresso em um hábito?
Sim. Com transparência, com prestação de contas. As audiências públicas que eu
promovi aqui em Curitiba eu quero promover em todo interior do estado. Meu pai fazia
isso quando era governador e a população se sentia respeitada, atendida.
Pelas pesquisas mais recentes, o PT e os aliados devem eleger a maioria dos
governadores e também o presidente. No Congresso Nacional também há essa
tendência. No que a oposição errou durante esses oito anos de governo Lula?
Tem uma série de erros inegáveis. No mensalão, o presidente foi poupado. As pessoas
mais próximas do PT e do governo foram indiciados por formação de quadrilha e ali se
poupou o ataque direto a ele. Foi um erro. Outro talvez foi uma oposição mais
contundente. Alguns fizeram, mas acho que não foi uma coisa coordenada, articulada
pelos partidos. Na maioria das vezes o DEM foi muito mais contundente e articulado
nas críticas do que o próprio PSDB. Por outro lado, é inegável o carisma do presidente
da República, o alto índice de aprovação popular. Ele virou um mito, nada cola. Acho
que há falta de competência da oposição, aliada a esse alto índice de aprovação do
presidente.
Qual deve ser o posicionamento da oposição em um eventual governo Dilma?
Se o Serra não vencer a eleição – e é evidente que a gente torce e trabalha por isso – e a
Dilma ganhar, a ação será muito diferente. Ela não tem o carisma do Lula, nem a
mesma articulação. As coisas ficariam muito ruins para o país. Ela é muito mais
vulnerável. Não tem autoridade para conter o ímpeto do Congresso Nacional, a volúpia
do PMDB. Por essa fragilidade toda vai ser muito mais fácil fazer oposição ao governo
Dilma.
Há quem diga que o Serra aparece pouco na sua campanha.
São críticas que acontecem no Brasil inteiro. Eu entreguei a condução da campanha (de
televisão) para minha equipe de comunicação. É evidente que eu opino, mas eu estou a
maior parte do tempo em campanha. Colocamos o Serra já várias vezes na televisão,
com algumas aparições ou depoimentos mesmo. Eu assisti a apenas um programa de
televisão, o resto eu não consegui. É uma estratégia. Também vi hoje no jornal que o
Fernando Henrique também não aparece no programa do Serra. A maior preocupação é
eu aparecer e mostrar as melhores soluções, alternativas, o que eu penso para o estado.
Qual a leitura o senhor faz das últimas pesquisas? Isso está alterando algo nessa
reta final de campanha?
Olha, eu continuo com o mesmo ritmo de trabalho, que por sinal é muito intenso. Tenho
andado todo estado do Paraná. Duvido que algum candidato a governador tenha a
metade da agenda que eu tenho. Na sexta-feira, fiz 12 cidade em 16 eventos. Eu estou
me baseando no que eu vejo nas ruas. Pesquisas têm metodologias diferentes, são uma
montanha-russa, um dia sobe e no outro desce. Umas são mais confiáveis, outras nem
tanto. Basta lembrar que nas últimas eleições para o governo do estado dois grandes
institutos erraram muito acima da margem de erro. Por onde ando, é um espetáculo.
Fico maravilhado da maneira tão carinhosa com que eu sou recebido, assediado nos
eventos que tenho participado. Estou muito animado. Acredito piamente que podemos e
vamos vencer a eleição no dia 3 de outubro. Apesar de todo o aparato do meu
adversário, da campanha pesada que ele tem feito no último mês principalmente.
Sempre que pode o senhor evoca o nome do seu pai. Mas José Richa foi formador
da elite política paranaense atual, inclusive dos seus rivais, tanto Osmar Dias
quanto Roberto Requião. O senhor se apresenta como candidato da mudança,
mesmo tendo essa mesma origem. Isso não é contraditório?
De forma alguma. Eu quero mudar o que está aí. Minha origem, minha formação
política, não tem nada a ver com o que está aí. O meu adversário representa a
continuidade. Para ele está tudo maravilhoso. De uma hora para outra, a Dilma virou a
melhor candidata do mundo. Até uma semana antes da convenção ele esteve três vezes
na casa do Serra, batia fortemente no governo Requião. Hoje considera o governo mais
social, realizador e progressista que passou pelo Paraná. Eu represento a mudança, de
conceito, estilo, de visão de se governar. Meu aprendizado não tem nada a ver com o
governo que está instalado e que eu quero mudar.
O senhor critica a gestão do governador Requião, mas durante a campanha tem
adotado alguns programas que foram criados nela, como o Leite das Crianças e a
Tarifa Social de água. O senhor reconhece méritos no governo?
Alguns poucos. Inclusive meu adversário me criticou no último debate quando eu disse
que iria manter, ampliar e aprimorar as coisas boas que a população aprova. Ele disse:
“isso é nosso, nos pertence”. Mas que barbaridade. É uma atitude no mínimo
responsável do sucessor político manter as coisas boas. Se você pegar na minha
campanha de 2004 você vai ver a mesma frase: “o que tem de bom em Curitiba eu vou
manter, aprimorar e melhorar”. O Armazém da Família tinha 20 mil atendimentos por
mês e hoje são 200 mil. Tínhamos sete fornecedores, hoje são 400, com produtos de
primeiríssima qualidade, 30% mais baratos. Outro exemplo foi o Mãe Curitibana.
Ampliamos o atendimento. Construímos uma unidade especializada. Alcançamos a
menor taxa de mortalidade infantil da história de Curitiba com um programa que não era
meu, que herdei. E mantivemos a paternidade, não mudei o nome do programa. Não é
possível que em oito anos no governo do estado ele não tenha sido feito nada de bom.
Vou manter o Leite das Crianças, a Tarifa Social da água, vou ampliar limite de isenção
do Luz Fraterna de 100 para 120 quilowatts, o Trator Solidário, o limite de isenção
tributária para as micro e pequenas empresas, de R$ 360 mil para R$ 480 mil de
faturamento anual. Tem coisas boas, que a população aprova e que eu vou manter. Mas
também tem coisas muito ruins. A segurança pública é caótica, a saúde é precária, o
estilo de governar, sem democracia, sem ouvir pessoas.
Na campanha pelo governo de 2002, o senhor declarou “não saio por aí dizendo
que vou dar leite para as crianças”, criticando o adversário Roberto Requião. O
que mudou de lá para cá?
Ele entrou (na época) em uma guerra sobre esse tema com o Alvaro Dias. Eles diziam
“vou dar um litro de leite, vou dar um litro e meio”. Isso ocorreu em um debate na
região Oeste. Aí eu disse: está um leilão enorme, daqui a pouco eles vão dar uma vaca
para as crianças. Eu critiquei a maneira como estava sendo usado esse programa e a
estratégia de ganhar voto em troca de um litro ou um litro e meio de leite. Mas foi um
programa que foi bem aceito e eu vou manter.
O senhor falou bastante sobre o governo Requião e sua posição sobre ele. No
entanto, a sua opinião sobre o governo Lerner...
Lerner já passou.
O senhor foi deputado estadual da base do Lerner, vice-prefeito de Cassio
Taniguchi, que era do mesmo grupo. Foi candidato com o apoio do Lerner em
2002. Qual é a opinião sobre o governo dele?
O Lerner também apoiou o Osmar Dias nas últimas eleições. Eu quero deixar claro que
a minha formação política não se deu com o Lerner. Eu aprendi dentro da minha casa,
na vivência do dia-a-dia da boa prática política. Meu pai fazia política com muita
intensidade. Agora, pertenci à base, meu partido apoiou o Jaime Lerner desde 1994.
Mas nunca violentei a minha consciência. Tem coisas que eu não concordei e não votei
a favor. O Lerner, de certa forma, também foi satanizado pelo governo que o sucedeu.
Tudo o que tinha de ruim no estado era atribuído a ele. Não tenho relação nenhuma
política com o Lerner.
Que governo foi melhor, Lerner ou Requião?
Ambos tiveram erros e acertos. O Lerner promoveu em um momento importante a
industrialização do estado. Pecou na parte política, que o outro tem uma habilidade
enorme no verbo. O governo (Requião) foi sustentado muito mais no discurso do que na
ação. Esses programas sociais foram bons, mas em termos de infraestrutura o Paraná
regrediu muito. Veja o que aconteceu, por exemplo, na saúde, na segurança pública, nas
rodovias, aeroportos, ferrovias, o pecado que aconteceu no porto de Paranaguá, o
pedágio. Eu quero ter um governo realizador.
Nos últimos anos, houve duas denúncias contra o senhor, o caso que ficou
conhecido como “Sogra Fantasma” (a sogra do chefe de gabinete de Beto na
Assembleia, Ezequias Moreira, foi funcionária fantasma da Casa por 11 anos) e o
do “Comitê Lealdade” (suposta compra de apoio de dissidentes do PRTB nas
eleições municipais de 2008). Depois houve outro, não diretamente ligado ao
senhor, que é o dos diários secretos da Assembleia Legislativa. Como o senhor vê
sua ligação com esses dois casos? Como governador, como pretende trabalhar
contra esse tipo de situação?
Em relação ao problema da sogra, já foi esclarecido. Foi um problema de um assessor
meu com a direção da Assembleia Legislativa. Eu não tive participação alguma nisso.
Ele reconheceu o seu erro e pagou a sua conta com a sociedade. Acho, nesse aspecto,
nobre da parte de dele. Eu cito até um ditado bíblico: “perdoo o pecador, mas não
perdoo o pecado”. Tanto é que ele foi na época desligado da nossa equipe, pagou sua
conta com a sociedade. Que bom seria se os mensaleiros devolvessem os milhões e
milhões de reais que foram desviados dos cofres públicos.
Mas o caso da “Sogra Fantasma” mudou de alguma forma a maneira como o
senhor escolhe os seus assessores?
Não mudou, até porque o Ezequias nunca teve problema nenhuma. Trabalhou com o
Alvaro Dias, com o Waldyr Pugliesi, com uma dezenas de políticos e nunca teve um
desvio de conduta. Sempre foi uma pessoa correta, uma pessoa séria. Não sei bem o que
houve até hoje nesse caso, mas envolveu uma oferta de um diretor da Assembleia para
um cargo. Ele colocou a sogra, mas reconheceu o seu erro e pagou a sua conta. Agora,
para quem militou a vida inteira na vida pública, quem esteve no poder, trabalhou com
meu pai no Palácio Iguaçu, com o Alvaro, foi da militância jovem do PMDB, foi o
único pecado que ele cometeu e reconheceu. No mínimo foi digno da parte dele agir
dessa forma.
Qual é a sua relação hoje com o Ezequias? Ele faz parte da sua campanha?
Ele me ajuda. Está ainda no PSDB.
Trabalha na campanha?
Trabalha da maneira dele. Ele não tem cargo na minha campanha. Mas evidente que
pela amizade e consideração de uma longa data está trabalhando conosco.
O senhor não acha que esse tipo de exemplo acaba contaminando toda a gestão
pública?
Não contamina. Foi elucidado, foi levado a termo, foi reconhecido o erro. Ao contrário,
serviu de exemplo. Até pela minha atitude de afastá-lo do meu gabinete para ele
explicar perante a sociedade e perante a Justiça.
Em todas as suas respostas o senhor trata da apropriação do dinheiro e, de certa
forma, o elogia. Para o eleitor, o senhor não acredita que seja um desestímulo?
Você me entendeu mal. Falei que recrimino o que houve, o afastei do meu gabinete. Ele
errou, cometeu um pecado e reconheceu. Ninguém nunca errou na vida?
A Justiça acatou uma denúncia contra três deputados porque seu primo, Luiz Abi
Antoun, também esteve lotado no mesmo gabinete, mesmo depois do senhor deixar
a Assembleia. Como o senhor vê essa situação?
É uma barbaridade. Ninguém que sai de lá tem gabinete, até porque não há espaço
ocioso na Assembleia. É alguma armação para me atingir. Para que eu precisava ter dois
ou três assessores na Assembleia tendo 400 cargos em comissão na prefeitura? Se você
for ver lá [na prefeitura], há cargos que não foram preenchidos ao longo dos meus 5
anos de mandato. Hoje vocês veem denúncias de que existiam estruturas fantasmas ou
fictícias lá [na Assembleia] para ter acesso ao recurso público em nome de outra pessoa.
Isso pode ter havido também. Saí de lá e mantiveram alguns nomes para poder se
beneficiar. Isso o Ministério Público está apurando.
Como o senhor pretende combater esse tipo de problema?
Da Assembleia?
Da Assembleia e de pessoas ligadas ao governo.
Como sempre fiz. Quando soube de qualquer denúncia, fui o primeiro a instaurar o
inquérito administrativo. Quando teve uma moça, não me lembro o nome [Marinete
Afonso de Mello, ex-xhefe de núcleo de saúde municipal, acusada de desviar mais de
R$ 2 milhões do Fundo Municipal da Saúde], da saúde, fui o primeiro a pedir para abrir
um inquérito administrativo, a mandar ir atrás. A moça foi punida, não sei como está o
processo, devolveu os recursos para a Saúde. Ao longo de cinco anos de mandato na
prefeitura tivemos pouquíssimos casos de desvio de conduta. Meu pai dizia muito isso:
'quando o líder dá o exemplo, qualquer pessoa que tiver a intenção de cometer um ilícito
pensa mil vezes. Mas quando o governante não dá o exemplo, todo mundo quer se
locupletar'. Sempre fui austero, rigoroso na apuração.
Em relação ao Ezequias então o senhor acha que deu um bom exemplo?
Eu? Ele deu um bom exemplo depois de ter pago a sua conta com a sociedade,
assumindo o erro que cometeu. O exemplo que dei foi ao afastá-lo do meu gabinete
enquanto estava sendo investigado.
Ainda nesta questão de exemplo, no caso do Comitê Lealdade o senhor pediu para
haver investigação. Porém, algum tempo depois, o prefeito Luciano Ducci (PSB),
que era seu vice, pediu a paralisação das investigações. Isso não é uma
contradição?
Está paralisado? Qual razão? [pergunta a um assessor]
O Luciano pediu [resposta do assessor]
Por qual razão? [pergunta ao assessor]
Não sei [resposta do assessor].
O pessoal da sabatina da Folha/Uol me perguntou, o Ivan Bonilha [ex-procurador geral
do município] me falou depois, mas eu não lembro a razão.
Não é contraditório, candidato?
A investigação vai andar. Não sei se [a paralisação] é por causa do processo eleitoral,
mas vai andar a qualquer momento. Terá um desfecho. Ali foi uma armação grosseira,
tentando a ganhar a eleição, que perderam fragorosamente, no tapetão. Uma coisa
premeditada. O rapaz estava em dúvida se denunciava. Foi várias vezes ao procurador
da República e voltava. Até que disse que tinha provas e iria denunciar. Meu pessoal
gravou esse cara. E ele confessa que ofereceram recursos para fazer uma denúncia
formal contra o Beto Richa, pois, desta maneira, ele estaria mudando o rumo da política
no estado do Paraná. Está exatamente assim na gravação: “o Beto fez muito voto na sua
reeleição para prefeito e não pode ser governador do estado”. Fica caracterizado que
houve armação. Uma campanha que custou R$ 6,9 milhões se eu não me engano, uma
prestação de contas com 16 mil folhas, não iria ter um furo de R$ 40 mil. É uma briga
interna de um com o outro, que teria emprestado dinheiro para o outro que, coincidência
ou não, perfazem esses R$ 40 mil.
O senhor acabou demitindo o secretário (Manassés Oliveira, do Trabalho) por
causa disso ...
[Interrompendo] Pela forma como trataram do assunto ali na mesa, durante a gravação.
Com chacota, tratando de forma debochada, imoral.
O senhor poderia explicar quem estaria interessado nesta armação?
Meus adversários políticos. Nessa hora esses maus políticos não aparecem, batem com a
mão do gato. Não lembro a quem ele se referia. Na fita ele fala alguns nomes, pessoas
que ofereceram vantagens para que fizesse isso.
O senhor falou que puniu exemplarmente pessoas que se envolveram com questões
ilícitas durante o seu mandato na prefeitura. Porém, o Manassés Oliveira compõe
sua coligação como candidato a deputado federal. Como o senhor vê isso?
Eu não posso puni-lo, eliminar sua candidatura. Não tenho esse poder. Puni como podia,
demitindo ele da secretaria. Agora, não posso impedi-lo de ser candidato.
O senhor fica à vontade em ter de pedir votos para um ex-secretário que, de
acordo com suas palavras, tratou de forma debochada um assunto importante?
Há quantos candidatos a deputado? 200, 300, não sei ao certo. Não quer que eu saia
catando pessoas e dizendo: “olha, peço voto para todos, mas menos para esse”. Isso não
existe. Não tenho o menor receio. Fiz coligações com partidos e não com pessoas.
Vieram para o meu lado aqueles que acreditam no projeto de renovação política do
estado do Paraná. Tanto é que quando lancei minha candidatura, no início do ano, não
tinha nenhum partido comigo, apenas o PSB do Luciano Ducci. Todos que vieram
depois é porque acreditavam na minha proposta. Nunca negociei apoio individual com
ninguém. Se você for procurar em todos os partidos, não irá encontrar 100% de
candidatos que não tenham nenhum problema na Justiça.
O senhor, como um ex-deputado estadual (1995-2000), que avaliação faz do atual
momento da Assembleia, envolvida em graves denúncias de corrupção?
A mesma leitura de qualquer cidadão comum. É preocupante. As denúncias são
pesadas, os fatos relevantes. A Justiça está investigando e espero que todos os fatos
sejam apurados. Que venham à tona todas as respostas. Se há culpados, que sejam
punidos com o rigor da lei, de forma exemplar. Eu confio na Justiça, e espero que ela
seja feita.
A Justiça no Brasil, porém, é lenta...
[Interrompendo]. Há duas possibilidade: o poder judiciário e a eleição. Teremos
eleições daqui a duas semanas, o eleitor pode fazer a limpa que quiser. Ele tem parcela
de culpa em tudo o que está acontecendo, tem que saber votar melhor.
Diante de acusações tão graves, a direção da Assembleia não deveria ter sido
afastada?
É uma questão pessoal de cada um. Não posso fazer o julgamento, entrar na cabeça de
cada um. Se querem continuar, se dizem inocentes... Acham que se agissem dessa forma
[se afastando] poderiam estar se denunciando.
Mas o senhor é contra ou a favor o afastamento da Mesa Diretora?
Isso não muda nada, porque alguém vai assumir a Mesa. E quem é realmente o culpado
ou o inocente lá dentro?
No plano federal a candidata Dilma (PT) está liderando as pesquisas. Partindo
dessa leitura, de que o eleitor é quem tem de ajudar a “fazer a limpa”, o senhor
acha que as denúncias que culminaram com a demissão da ex-ministra Erenice
Guerra da Casa Civil não foram levadas em consideração e que serão esquecidas
após 3 de outubro?
Nem sempre a Justiça é feitas nas urnas. A oposição tem o dever de cobrar. As
denúncias são consistentes. E engraçado que sempre envolvem as pessoas mais
próximas ao presidente da República, as pessoas mais próximas do poder e os líderes do
PT. É grave.
O senhor usou o exemplo do afastamento do Manassés para justificar a iniciativa
para apurar as irregularidades na prefeitura. Não seria a mesma coisa neste caso
com a demissão da Erenice Guerra? Acha que o governo federal agiu
corretamente?
Não tenho compromisso com o erro. Nunca acobertei, varri para debaixo do tapete
nenhuma denúncia, coisa que no governo federal não tem acontecido. Eles continuam
negando, dizendo que não sabem de nada, que é factoide da oposição, desespero do José
Serra. Enquanto isso a mídia mostra, até mesmo com gravações, tudo o que de ilícito é
feito por esse governo.
Eleito governador, como pretende se relacionar com a Assembleia?
Eleito governador, já teremos esse fato passado a limpo. Acredito também que o
comportamento de alguns deputados, que agiram de forma incorreta, irá mudar. A mídia
está muito mais vigilante. Detentor do maior cargo político do estado, posso dar as
minhas sugestões, colocar a equipe do governo para ajudar na busca por transparência.
Levando em consideração todo esse cenário, como pretende construir maioria na
Assembleia?
Construir maioria dentro do que é ético, transparente, lícito. Não sou um aventureiro.
Tenho a minha experiência administrativa. É só ver a minha relação com a Câmara
Municipal. Relação de respeito, de trabalho. Sempre reconheci a independência deste
poder. Tive ali uma grande bancada de apoio. E sem benesses. O que fiz foi dar
prestígio político, a oportunidade de apresentarem emendas ao orçamento do município.
Vereadores de outras cidades ficam espantados com essa possibilidade, isso não
acontece em outros lugares. Tudo, claro, dentro do planejamento da prefeitura. Isso
significou melhoria em todos os bairros da cidade. Essa é uma boa maneira de se
construir uma relação.
O senhor fala em independência, mas em 2007 a prefeitura não gostou da forma
com que a licitação do transporte coletivo foi aprovada. A Câmara chegou a
marcar sessão em um sábado para aprovar o formato que a prefeitura desejava.
Isso é independência?
Não lembro exatamente com essa precisão. Lembro que o Jair César [vereador] fez
algumas audiências públicas, com a participação da sociedade, para discutir alguns
pontos em relação à licitação dos ônibus. O que foi incluído ou retirado dentro da
proposta inicial da prefeitura eu não tenho condições de me lembrar. Talvez tenha sido
algum erro jurídico, já que foi uma licitação enorme, histórica. Nunca houve ao longo
de 50 anos de existência do transporte público algo do gênero.
A prefeitura encontrou um erro e pediu para que fosse votada novamente?
Talvez tenha sido algum erro jurídico, já que foi uma licitação enorme, histórica. Nunca
houve ao longo de 50 anos de existência do transporte público algo do gênero. De
repente foi uma sugestão que a prefeitura fez. A Justiça determina que assim seja, já que
os empresários que fizeram investimentos no sistema, se perderam a licitação, têm de
ser indenizados. Foi isso que a Justiça colocou e de última hora nós pedimos para ser
corrigido. Mas sempre com transparência.
A prefeitura, durante o seu mandato, levou longos períodos para conseguir
concluir licitações importantes. Algumas delas, como a das funerárias e a da
Caximba, ainda não terminaram. Outras, como a dos radares, demoraram tanto
para acontecer que exigiram contratos emergenciais. Como evitar que isso ocorra
no estado, que tem uma gestão maior e mais complexa?
O Lula tem seguidamente reclamado da fiscalização do Tribunal de Contas da União
(TCU), dizendo que tem atrasado as obras no Brasil. Sou contra a ideia de que não tem
de ter fiscalização. Na prefeitura fazíamos cerca de dez licitações por dia. E você vem
me dizer que tivemos problemas? Quantos? Dois, três? Há de convir que é muito pouco.
Mas se tratam de licitações importantes.
Exatamente por isso. Hoje a concorrência é predatória. Existe uma guerra jurídica. Se
formaram grandes consórcios, com empresas poderosas, todos com equipes jurídicas
poderosíssimas. Virou uma guerra de liminares. Vou citar um exemplo: a Linha Verde.
A nossa procuradoria derrubou dezenas e dezenas de liminares para conseguir concluir a
obra. Era uma obra que estava perdida, da administração anterior. Tive a felicidade de
conseguir tirá-la do papel. Fui atrás do BID [Banco Interamericano de
Desenvolvimento] e chegamos à conclusão que deveríamos revogar a licitação anterior,
já que a construtora anterior, a Construcap, foi desclassificada no certame técnico – e
depois queria que seu envelope fosse aberto com a proposta financeira. Eles ganharam
na Justiça e, por coincidência, era o preço mais baixo. Criou-se um impasse. O BID não
quis mais financiar a obra. Chegamos à conclusão que deveríamos revogar a licitação
antiga e fazer uma nova. Resultado: depois de 2,5 anos o preço do vencedor foi menor
do que o da empresa que se sentia injustiçada. É assim. Uma hora ou outra vai sair a
obra da Caximba. Enquanto isso continuamos lá, com as obras para ampliar a vida útil
da Caximba. Pode escrever aí: [o novo aterro] vai ser referência nacional. Ficamos dois
anos estudando as melhores e mais modernas práticas de destinação de resíduos sólidos
do mundo. Vamos ampliar significamente a reciclagem, a compostagem. E apenas 15%
do volume total que é depositado hoje na Caximba, apenas 15%, irão para o novo
aterro. Com uma diferença: processado, sem passivo ambiental, um material inerte.
Mas como evitar que, no governo do estado, com mais dinheiro envolvido, as
licitações parem de repente?
Agilidade da procuradoria do estado, como tive no município. Conseguimos realizar a
Linha Verde. A única que está parada é a do lixo.
E a das funerárias também.
Estava sendo concluída se eu não me engano [segue emperrada].
Como o senhor analisa a licitação do transporte público, que era para ter sido feita
em 2001 e só terminou agora, em 2010?
Por causa da demora, as empresas que já operavam o sistema acumularam dívidas
estimadas em R$ 150 milhões no período e puderam usá-la como abatimento da
outorga. Ou seja uma vantagem de R$ 150 milhões sobre qualquer concorrente.
[Interrompendo] Não foi assim não. Acho que eles tiveram de abrir mão da outorga para
poder participar da licitação [um assessor corrige o candidato].
Ou seja, as empresas não usaram esse crédito como vantagem contra empresas que
vieram de fora?
De qualquer forma foi um processo aberto, transparente, limpo, sem nenhum
questionamento. Se foi feito dessa forma é porque foi o melhor entendimento. Acabou
com um desfecho satisfatório para a cidade.
A não participação de empresas de fora não é preocupante?
Não cabe a mim dizer porque as empresas de fora não participaram. Você tem dúvida de
que se elas tivessem algum questionamento já não teriam feito no edital de licitação? O
Ministério Público também poderia ter questionado.
Falando de infraestrutura do estado. Qual é a grande obra que o senhor pretende
deixar como marca da sua administração?
O Paraná precisa avançar muita nessa área. Melhoria das rodovias, ligação asfáltica
entre os municípios – hoje nós temos cinco cidades que não têm ligação asfáltica. Outra
coisa que pesa muito é a questão do pedágio. Acho que é possível abaixar a tarifa, ter
algo mais justo, mais acessível. Isso com a retomada de investimento que era previsto
no contrato original. Prioridade absoluta para a duplicação da BR-277 no trecho entre
Cascavel e Medianeira, onde a cada três dias há pelo menos uma morte nessa estrada.
Criar alternativas ferroviárias também – Cascavel/ Guaíra, Guaíra/ Cianorte, ligando
também ao Porto de Paranaguá.
Mas mais importante mesmo é o Porto de Paranaguá, que perdeu competitividade,
perdeu eficiência por falta de investimento e de planejamento. Veio recurso para a
dragagem e foi devolvido. Se optou em comprar uma draga, uma questão nebulosa já
que até hoje a draga não veio. Faremos investimento de que forma: dragagem do canal
de acesso, dos berços de atracação, ampliação com a construção do cais oeste.e a
melhoria do Porto de Antonina para trabalhar de forma integrada com o de Paranaguá.
Não podemos assistir de braços cruzados o crescimento nesta área do nosso estado
vizinho, Santa Catarina, enquanto aqui o porto regride dia a dia. Infraestrutura será o
forte da nossa administração.
O Paraná sofre com uma desigualdade muito grande. Como fazer para equilibrar
essa distribuição de renda? Ou, como ex-prefeito de Curitiba, pretende priorizar a
região da capital?
Não, não há necessidade de priorizar a capital em detrimento do interior. Vamos
priorizar as regiões mais carentes. Temos hoje 1/3 dos paranaenses que vivem em áreas
com IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] inferior ao IDH médio nacional.
Temos o menor IDH da região Sul. Vale da Ribeira, região Central do estado... Serão as
nossas prioridades. Podemos levar indústrias, a agroindústria para esses lugares,
arranjos produtivos locais, as escolas em tempo integral para garantir um nível de
escolaridade maior.
Algo concreto para o Vale da Ribeira, por exemplo?
Ensino integral, programas na área agrícola, fruticultura, desenvolver alguma outra
cultura na região para dar emprego às pessoas. Além disso, incentivar a instalação de
pequenas indústrias de transformação de produtos para agregar renda, possibilitar o
desenvolvimento e gerar mais empregos.
O senhor estabeleceu algumas metas na prefeitura. O senhor estabeleceria algumas
metas de avanço de IDH, por exemplo, no estado também?
Sim. Até porque eu vou usar no estado o que eu usei no meu segundo mandato:
contratos de gestão. Vocês sabem que no segundo mandato as pessoas normalmente se
acomodam, não têm a motivação do início da gestão. Criam-se alguns vícios. Então eu
lancei mão desse contrato de gestão no segundo mandato. Os meus secretários
assumiram compromisso comigo de atingir metas e objetivos que eu estabeleci baseado
no plano de governo que eu apresentei no período eleitoral. O secretário que não atingir
já sabe de antemão que será desligado da equipe. Isso para termos agilidade, menos
burocracia, mas acima de tudo o desejado profissionalismo de uma administração
pública. E olha: tem uma equipe que acompanha a evolução dessas metas em cada uma
das secretarias. Faz uma avaliação quadrimestral. Ao longo do ano passado tivemos
90% de desempenho dessas metas estabelecidas. Isso eu vou fazer no estado. Isso é o
que o Aécio Neves fez em Minas Gerais e deu muito certo. Foi um governo de
resultados. Para mim, a minha equipe tem metas a cumprir, para dar respostas à
sociedade que a gente possa, de fato, ter um governo com ações concretas e menos
discurso.
Curitiba tem capacidade de endividamento e consegue contrair empréstimos. A
situação do governo não é exatamente essa. O último empréstimo contratado foi
em meados da década de 1990 e o estado sofre com problema de cobertor curto. O
senhor vem propondo diversos investimentos. Como é que o senhor vai gerenciar
isso. Vai tirar de onde? O senhor pretende contratar novos empréstimos?
Eu tenho dito isso em vários locais, com grupos de pessoas mais seletas, que
compreendem essa situação de forma mais consistente: as propostas dos candidatos
minimamente se diferenciam. Porque a gente sente da população quais são as suas
prioridades. A gente anda pelo estado, vê as carências, conhece as potencialidades de
cada região. Todo candidato tem pesquisa qualitativa. Então as propostas minimamente
se diferenciam. Agora, a grande questão é como executar tudo isso se o governo não
tem recursos disponíveis. Eu uso esse mesmo discurso. O Paraná hoje é o 18.º estado
em volume de recurso para investimento.
Não dá para pensar que eu peguei a prefeitura de Curitiba também um paraíso. Eu
herdei a prefeitura com déficit financeiro. Reconheço que não era nada assim tão
exagerado. Era algo que dava para administrar. Mas peguei com déficit. Paguei todos os
precatórios. Uma das poucas cidades do Brasil que fez isso: R$ 160 milhões de
precatórios foram pagos. Houve um desconto indevido no Brasil inteiro da contribuição
previdenciária dos aposentados e pensionistas. Eu devolvi a eles R$ 26 milhões. Dei
aumento com ganhos reais, o que não acontecia há anos em Curitiba, para todos os
servidores públicos. Transformei Curitiba num canteiro de obras. E consegui superávit
financeiro em todos os anos da administração.
O que é isso? Nós melhoramos o gasto público. Fechei as torneiras do desperdício,
eliminei gastos supérfluos, dei um choque de gestão. Fazer mais e melhor, gastando
menos. É possível fazer isso no estado. Eu cito como exemplo o governo mineiro do
Aécio Neves. O Aécio pegou Minas Gerais numa situação muito pior do que está o
Paraná hoje. Ele saneou as finanças, colocou a casa em ordem e enfiou o pé no
acelerador. Obras por todo o estado, avanços, programas sociais importantes, obras
estruturais. Foi considerado em todas as últimas pesquisas o governador mais bem
avaliado do país. Tem receitas de bons governos. Nós temos o know how pelo que
fizemos aqui na capital. E eu tenho a vantagem de não ser especialista. Eu não me
considero dono da verdade e muito menos autossuficiente. Eu vou em busca daqueles
que conhecem bem o setor, o setor financeiro, de como é que se recupera as finanças.
Tem aí o INDG (Instituto de Desenvolvimento Gertencial), que ajudou a Esso, acho que
esteve em São Paulo também, e está a disposição para ajudar nesse início de governo.
Enfim, temos uma série de possibilidades que eu vou usar para conseguir essa sobra de
caixa, para conseguir essa capacidade de investimento maior do estado para todas as
obras que eu quero fazer no Paraná. Pode ter certeza: eleito governador eu vou usar
essas medidas para recuperar o nosso estado e para transformá-lo num grande canteiro
de obras. Essa é minha meta.
Então o primeiro período do seu governo vai ser um período de contenção?
Sim. Não sei bem quanto tempo. O mais rápido possível. Você veja só, outra coisa, só
para concluir. Outra coisa que eu fiz e que foi importante na gestão. Eu entrei na
prefeitura e determinei aos secretários a redução de 10% dos gastos de custeio.
Conseguimos. Agora, há dois anos, eu determinei de novo para todos os secretários, a
diminuição de 15% do gasto de custeio. Foi por ocasião da crise financeira mundial,
para que nós apertássemos o cinto da administração para não penalizar a população com
uma redução de investimentos. E a equipe é tão competente, tão unida e comprometida,
que eles superaram a minha meta. Chegaram a 18% de redução de gasto de custeio. Isso
é possível também no estado. Ver os excessos, os desperdícios, material de expediente,
horas extras, combustível, frota de veículos, tudo. É isso que esse grupo de executivos
faz para conseguir enxugar a máquina. Eles atuam em mais de 20 cidades, em oito
estados. Eles mostram números: é impressionante. Eles conseguem uma sobra até de um
orçamento inteiro, só com desperdícios que acabam sendo cometidos no dia a dia de
uma administração pública. Eu vou ser muito austero.
A falta de controle com gastos de viagem acabou gerando uma fraude que foi
revelada há pouco tempo que lesou os cofres principalmente na Secretaria da
Educação. Mas pode ter ocorrido também em outras porque os funcionários em
viagem não precisam especificar gastos com passagens e alimentação. Caso eleito, o
senhor pretende manter essa forma de prestação de contas ou prefere mudar?
Eu sou a favor da transparência, do que é melhor para garantir o bom uso do recurso
público. Se essa prática adotada pelo atual governo não tem trazido transparência e a
clareza que nós precisamos, pode ter a certeza que eu vou mudar para que a prestação
de contas seja a mais clara e discriminada possível.
Falando em possibilidade de enxugar gastos. Como deputado, o senhor foi autor da
Lei 13.152, de 2001, que possibilitava a criação de um Programa de Demissões
Voluntárias. O senhor estudou já a possibilidade de aplicar um PDV no governo,
caso eleito, para enxugar a máquina?
Eu acredito que há a necessidade de enxugar a máquina. Nós precisamos da máquina do
tamanho suficiente para prestar um bom serviço para a sociedade. Serviços públicos de
qualidade. Para termos aí em todos municípios, os núcleos regionais, pessoas suficientes
para garantir um bom atendimento para a população. Não pensei em demissão
voluntária, acho que isso ainda não é necessário. A gente pode começar enxugando os
cargos em comissão.
Tem alguma meta de redução?
Não. Eu tenho que ver ainda primeiro qual o tamanho do estado que nós queremos para
garantir todos esses avanços necessários. Mas pode ter certeza que o número de cargos
vai ser do tamanho mínimo, suficiente, para garantir os avanços que eu pretendo.
O senhor falou em cortar gastos de custeio. Seria essa dentro do orçamento a área
de que o senhor tentaria tirar verbas para investimentos? De que outras áreas
seria possível tirar recursos? E quais seriam as áreas prioritárias de seu governo?
A área prioritária hoje é a saúde. É a área apontada por todos os paranaenses como a
mais precária. Não tem atendimento adequado, faltam médicos, faltam medicamentos,
faltam equipamentos. Alguns hospitais foram inaugurados e não funcionam de forma
adequada por falta de equipamentos para atender a toda uma região. Eu estive visitando
o Hospital Regional de Ponta Grossa. Parado. Se não me engano 380 pessoas
contratadas. E estão em outros lugares porque o hospital não funciona por falta de
equipamentos. O hospital Walter Pecoits funciona praticamente e meia carga. Não está
funcionando de forma adequada. Me parece que o governo se apressou em inaugurar
vários hospitais para dar uma resposta para a sociedade, mas não funciona. A conta para
pagar vai sobrar para o próximo governador.
É uma área prioritária, sim. Equipar os hospitais, contratar os médicos, isso vai
demandar muito recurso. Mas é fundamental. E nós vamos levar boas práticas
administrativas aqui da capital, como o programa Mãe Curitibana, que vai se chamar
Mãe Paranaense, para reduzir a taxa de mortalidade materna e infantil, como nós
fizemos aqui, onde foi a menor do Brasil. Implantar os centros regionais de atendimento
especializado, porque nós temos longas filas por exames e consultas especializadas.
Praticamente sete especialidades que são o gargalo do sistema em todo o Brasil.
E outra área que está muito defasada, é um caos, é a área de segurança pública. Para
mim é uma vergonha, é inaceitável um estado como o Paraná ter hoje um efetivo de
policiais militares e civis inferior ao de 20 anos atrás. Não é sem razão que a taxa de
homicídios, o crime, o tráfico de drogas cresceram tanto no nosso estado nos últimos
anos. Então temos a proposta de contratação de mais 5 mil policiais, reativar os
módulos policiais, fazer parcerias com os municípios, com a sociedade.
Uma coisa muito importante é a parceria com o governo federal, porque senão a gente
vai ficar dentro do estado enxugando gelo. Porque o Paraná é uma das principais portas
de entrada para o Brasil do armamento pesado e da droga. Então eu imagino que nós
precisamos chamar a Polícia Federal, as Forças Armadas e até a Interpol, numa ação
integrada com as polícias do estado, num policiamento mais ostensivo nas fronteiras,
para conter o ingresso da arma e da droga.
E por falar em droga, nessa repressão pesada que nós vamos fazer, declarando guerra ao
crack, numa política de tolerância zero, precisamos também pensar nos pais e mães que
estão desesperados, com o filho na droga, que não sabem o que fazer e não têm onde
internar o seu filho.. Então nós vamos investir também nos centros regionais de
tratamento e recuperação de dependentes químicos. Parcerias com comunidades
terapêuticas, senão me engano são 150 em todo o estado do Paraná, para tranquilizar o
pai e a mãe. Eu tenho conhecidos que têm filho na droga e que mandaram para
Sorocaba, onde tem um centro. Não encontra onde colocar esses jovens. É uma
epidemia, tem que ser tratada com muita preocupação. O Brasil já tem 1,2 milhão de
viciados nessa nova droga, que tem um efeito devastador. E nós vamos combater de
frente e com energia esse grave problema.
Só com a redução do choque de gestão vai haver recursos para tantos
investimentos em saúde e segurança ou será necessário cortar recursos de outras
áreas?
Uma gestão eficiente tem planejamento. Tem que estabelecer prioridades e
compromisso em fazer o melhor. Quando nós fizemos aqui, conseguimos. Nós temos
que estabelecer também parcerias. Tive aqui muitas parcerias com a iniciativa privada
na recuperação de espaços públicos. Olhe o que eu economizei no Paço da Liberdade:
aquela obra custou R$ 8,5 milhões. O Darci Piana, a Federação do Comércio, o Sesc,
nos ajudaram. Me custou o quê? Assinar um comodato de 20 anos para eles
transformarem num centro cultural à disposição da cidade. Os R$ 8,5 milhões que
sobraram para investir em áreas prioritárias, nas áreas sociais da periferia da cidade. O
Jardim Botânico, um belíssimo espaço da cidade, é explorado pela iniciativa privada –
hoje com dimensões pequenas até para explorar publicidade. Antes era uma empresa
[que mantinha], agora é a outra, concorrente, que venceu a licitação.
Além dessas boas parcerias, também com o governo federal. O exemplo está aí, na
saúde: O Luciano (Ducci) vai inaugurar no final deste ano, começo do próximo, o
Hospital do Idoso. Quando o Requião cortou, por perseguição política, os R$ 12
milhões para a construção desse hospital do idoso, a equipe competente e técnica da
Saúde foi a Brasília apresentar um bom projeto. Porque me disse o Luciano que
existiam recursos sobrando para a área do idoso no Brasil e faltavam projetos. Trouxe
R$ 12 milhões do governo federal para o Hospital do Idoso. Cito as boas parcerias que
eu fiz atendendo 50 mil famílias na área habitacional, com regularização fundiária. Foi a
maior regularização fundiária da história de Curitiba. Fizemos urbanização de áreas de
risco social, com recursos da Caixa, do Ministério das Cidades, com outros ministérios
também.
Fizemos também construção de moradias. Meus adversários fizeram pouco mais de 20
mil casas no Paraná inteiro. Em Curitiba, foram 15 mil famílias atendidas com moradia
própria. É parceria com o governo federal. São as boas parcerias que digo e que nós
vamos fazer. Não preciso ser amigo do presidente. Até porque, do jeito que está o
presidente hoje, está cheio de amigo. Tem “neo-amigos” inclusive. Eu não preciso.
Vamos ter projetos, vamos ter agilidade, cobrar o que é de direito do estado do Paraná.
Não vou entrar pela cozinha de ninguém, vou entrar pela frente, de cabeça erguida,
acompanhado de deputados ou da minha equipe para mostrar os projetos e trazer os
recursos para o Paraná. Eu já fiz por Curitiba. É possível fazer no Paraná.
O senhor custou corte de custeio, parcerias. O senhor não acha que vai ter que
redirecionar recursos de uma área para outra?
É possível, claro, redirecionar. Até porque o governo que está aí tem suas prioridades,
seus modelos, seus métodos. Eu vou ter os meus. As minhas prioridades e os meus
compromissos assumidos na campanha.
Que áreas poderiam perder recursos?
Eu vou ver a hora que eu sentar lá. Como é que está sendo destinado os recursos, de que
fora. Agora, pode ter certeza. O meu governo vai ser muito mais austero, transparente e
democrático do que o que está aí?
Falando um pouco sobre saúde e segurança. Algumas propostas suas são
interessantes mas vão exigir um gasto grande e não se sabe ainda o resultado que
vão ter. Na saúde, por exemplo, tem o resgate aéreo, com helicópteros. O Paraná
precisa ainda de investimentos em saúde básica para a população. O gasto com
helicópteros ou com manutenção não será muito alto? E na área da segurança, as
câmeras de segurança, segundo alguns estudos, não seriam muito eficientes. Você
coloca na Rua XV e o crime migra para a Monsenhor Celso. E o senhor pretende
instalar câmeras nos municípios.
Em todo lugar eu tenho visto que as câmeras são muito eficientes. Ainda ontem
[domingo], os telejornais mostraram criminosos que foram presos porque foram
identificados nas câmeras de vigilância. Eu acredito que é eficaz. Muitas pessoas foram
detidas por tráfico de drogas, prostituição no centro da cidade, assaltos. Muitos foram
identificados pelas câmeras de segurança. Não me lembro do número agora.
Em relação à saúde: atendimento básico é importante para quê? Para salvar vidas. O
helicóptero é para salvar vidas. Então quando eu disse no início que eu vou cumprir o
que determina a Constituição Federal, investindo 12% das receitas correntes líquidas do
estado em saúde, eu vou trazer para dentro do sistema R$ 300 milhões. Os helicópteros
custam R$ 4 milhões. Existe, não é só uma fantasia como quer fazer acreditar o meu
adversário. Existe em São Paulo, existe em Minas Gerias, existe em Santa Catarina.
E tem aqui em Curitiba. O município tem uma parceria e cede profissionais da área
médica. A Polícia Rodoviária Federal entra com um helicóptero. E o Ministério da
Saúde também participa. Já atenderam cerca de 1.250 ocorrências. São demandados a
cada 40 minutos. Foi o helicóptero que salvou vidas com a invasão do Couto Pereira.
Foi esse helicóptero que foi lá em Santa Catarina ajudar no período das enchentes. Foi
esse helicóptero que, em uma das ocorrências, uma pessoa que foi baleada aqui em
Pontal do Paraná. Para salvar a vida da pessoa que está morrendo, cada segundo vale
ouro. Então imagina só nas pequenas cidades. Eu sei porque eu estou muito no interior,
converso com os prefeitos, que entenderam bem a proposta e acharam maravilhosa. Os
helicópteros serão usados apenas em urgências e emergências.
Quantas pessoas saem do interior em ambulâncias em direção a centros maiores para ser
atendidas numa situação de emergência. Quantas morrem na estrada e não têm a
felicidade de chegar ao destino. Esse helicóptero vai salvar milhares e milhares de vidas
de paranaenses. Pode ter certeza disso. São quatro ou cinco helicópteros sediados em
pontos geográficos estratégicos para cobrir todo o estado. Já tem helicóptero dos
bombeiros, aqui na capital. E olha, é importante. Você conversa com o socorrista, com
pessoas que foram atendidas pelo helicóptero, agradecem a Deus pela existência do
helicóptero que salvou a sua vida.
O senhor falou de prioridade para segurança e saúde. E mencionou a dificuldade
de marcar exames e consultas para especialidades, assim como a dificuldade de
encontrar clínicas para internamento de dependentes químicos. Aqui em Curitiba,
mesmo sendo suas prioridades, essas dificuldades ainda existem. O senhor mesmo
mencionou que conhece gente que mandou o filho para clínicas em Sorocaba por
não encontrar aqui. Sua gestão foi eficiente aqui?
Nós temos convênios com várias clínicas em Curitiba. [Esse caso que eu mencionei] é
de uma pessoa de um nível maior, que tem condição de uma clínica mais especializada e
que pode pagar a diária que cobra uma clínica. Não encontrava aqui no nível que queria.
Era um amigo meu de nível social mais elevado e que não quer colocar numa
comunidade terapêutica, que existe hoje para atender de forma geral as pessoas. E temos
vários convênios aqui com clínicas de recuperação através da FAS.
E a demora nas consultas e exames especializados?
Nós avançamos bastante. No mundo inteiro tem demora. Em algumas especialidades,
senão me engano são sete, você não encontra profissionais. Não é problema do poder
público não contratar. Você não encontra profissionais porque no atendimento particular
eles ganham muito mais. São poucos profissionais nessas especialidades. E você não
consegue contratar no serviço público em número suficiente, porque é caro, para atender
a toda a demanda. Então nós vamos fazer mutirões, vamos avançar mais. Fizemos aqui
em Curitiba. Diminuímos a fila, sim. Concordo, ainda existe o gargalo. Não é aqui, é no
Brasil inteiro. Mas nós temos que dar um passo para pelo menos diminuir essas filas.
É possível resolver o problema de vez no estado?
Resolver, não. É possível diminuir: Eu falei: nós vamos diminuir as longas filas por
exames e consultas especializadas.
Sobre a questão da droga. O senhor criou aqui uma secretaria específica para o
assunto. No entanto, quem circula à noite encontra muitos usuários na rua,
principalmente do crack. Na realidade é uma mazela que está se espalhando pelo
país. O que dá para fazer de efetivo?
A função dessa Secretaria Municipal Antidrogas, que é a primeira do Brasil, não é de
repressão. A função é de conscientização e de prevenção. Nós identificamos e tivemos o
beneplácito do juizado da infância e da adolescência para poder fazer um trabalho no
período noturno em locais onde foi diagnosticado, nos finais de semana, das 22 horas às
2 da manhã, um grande número de tráfico de drogas envolvendo crianças. Nós fizemos
um trabalho nessas comunidades com pedagogos, com profissionais de educação, com
professores de educação física, com grupos artísticos, e a conscientização desse jovem.
Primeiro, usando o tempo dele para que ele não estivesse exposto ali aos traficantes de
drogas. E, depois, mostrando que ele pode ter um futuro melhor com uma modalidade
esportiva, com alguma atividade artística. E cuidando das crianças dessa comunidade.
Esse foi o trabalho dessa secretaria. Agora, paralelamente a isso, até pela capacidade do
(secretário Fernando) Francischini, ela também esteve envolvida, não sei de que forma,
em algumas investigações. Tanto é que a informação que foi para a polícia da prisão do
Fernandinho Beira-Mar no Paraná, que namorava aquela miss, partiu da Secretaria
Antidrogas de Curitiba.
O senhor já antecipou o nome do secretário Flavio Arns para a Educação. O
delegado Francischini seria seu secretário na área da Segurança?
Não. O único que eu anunciei foi o Flavio Arns. Eu não tenho nenhum nome escolhido
ainda. E foi importante você tocar nesse assunto. Eu relutei para anunciar o Flavio Arns
nesse momento. Até para não parecer presunção minha antes de vencer a eleição montar
equipe. Eu não estou montando equipe nenhuma. Eu fiz para desfazer boatos
disseminados em todo o estado do Paraná de forma maldosa pelo meu adversário. Estão
usando a estrutura de cargos em confiança do governo de maneira desavergonhada para
favorecer a candidatura de meu adversário em todo o Paraná. Já temos vários casos
concretos, com decisões da Justiça, proibindo o uso da Secretaria da Educação,
proibindo o uso de material de expediente, de e-mails da Sanepar. Isso está acontecendo
no Paraná inteiro. E como eles disseminaram boatos dizendo que a minha secretária de
Educação seria uma senhora que não foi do agrado dos professores, com o objetivo
claro de me colocar contra os professores, eu conversei muito com a minha equipe e
resolvemos anunciar o nome do Flavio Arns, que é uma pessoa maravilhosa. Eu já tinha
tido uma conversa com ele lá atrás sobre isso e senti que ele tinha vontade de militar
nessa área.
Mas o senhor vê no nome do Delegado Francischini um bom nome?
Considero uma pessoa capacitada, mas não está escolhido não.
Candidato sobre educação ainda, na prevenção do crack o senhor falou em escola
integral, qual é o percentual? O senhor tem um estudo para isso? Até onde pode
chegar a escola integral no estado?
O ideal seria termos em todas as escolas, só que o custo é alto. Então nós vamos
priorizar. Nós temos que ter planejamento e prioridade, já que não dá para atender todo
mundo. Quem nós vamos atender: as cidades mais carentes, regiões com IDH abaixo da
média nacional. A ideia é atingir pelo menos 500 escolas, e nas demais, ter atividades de
contraturno, que de uma certa forma suprem também a ausência de uma escola de
ensino integral.
Nós vamos atuar desta forma também em mais um programa de sucesso em Curitiba,
que meu adversário também não entendeu. Achou que eu estava explorando os
professores como voluntários. Voluntários são as pessoas da comunidade que se
apresentam no Comunidade Escola para ajudar.
Nós temos já 87 escolas com Comunidade Escola. É um sucesso absoluto, todas as
comunidades gostam, os diretores e professores das escolas são pagos para isso nos
finais de semana, adoram o Comunidade Escola, adoram! Me pedem para fazer em
100% das escolas de Curitiba. Fui avançando na medida em que podia cobrir diante dos
recursos financeiros.
O que se faz ali? No período em que a escola está fechada, você abre as portas da escola
para o convívio das famílias. O Osmar criticou esse programa porque ele não conhece.
Certamente.
As famílias utilizam as quadras poliesportivas. Por sinal, nós fizemos a cobertura de
oitenta e tantas, faltam trinta e poucas para cobrir 100% das escolas. Isso vai acontecer
nesse segundo mandato.
Usam ali as quadras poliesportivas. Tem voluntários que ensinam um instrumento
musical, um violão. Tem voluntários que ensinam artes marciais. E o que mais me
sensibiliza nesse programa é o grande número de voluntários que se apresentam nos
finais de semana para ensinar alguma coisa para o seu próximo. A inclusão digital que
acontece nos laboratórios de informática, que tem em todas as escolas de Curitiba. E é
um programa muito bem aceito, e nós vamos também levar para o estado.
O orçamento do estado está seriamente comprometido com o pagamento de
dívidas. E a principal dívida é a da privatização do Banestado. O senhor acha que
existe algum caminho para tentar renegociar essa dívida, que só vai ser saldada em
2029. Dá para tentar negociar com o governo federal? O senhor vê alguma brecha
pra isso?
É possível, sim. Nós temos que sanar esses gargalos críticos, esses nós que estão
travando o crescimento do estado, que estão impossibilitando nós termos capacidade de
investimento na infraestrutura, para tomar os empréstimos internacionais para
investimento nessas áreas. É possível e nós vamos fazer.
Quer ver outro exemplo de uma visão estratégica de uma administração com resultados
positivos? Eu coloquei em licitação o gerenciamento da folha de pagamento dos
servidores da prefeitura. Eu consegui R$ 140 milhões do Banco Santander. Foi a maior
oferta proporcional do Brasil. Os R$ 140 milhões são praticamente o orçamento inteiro
de investimento de um ano.
Se o governo do estado fizesse isso, ele ia conseguir perto de R$ 1 bilhão. Ao contrário,
o governador me criticou, disse que eu estava dando para um banco particular um
serviço. Um serviço de gestão, gente! De gestão, só. E, com a portabilidade, o servidor
recebe o dinheiro num minuto, no segundo seguinte ele pode mudar para outro banco.
Tanto não deu certo para os bancos isso que hoje praticamente não existe mais essa
briga louca por ter a gestão da folha de pagamento dos municípios ou dos estados.
O governador deu para o Banco do Brasil por R$ 30 milhões e me parece que, só de
taxa que ele paga lá, já foi mais do que isso. Isso é visão estratégica, isso é
planejamento, é prioridade. Então as obras que ele me tirou, que eram sessenta e poucos
milhões, depois que eu apoiei o seu adversário, eu fiz todas essas obras e ainda sobrou
muito dinheiro para outras obras que nós fizemos. Sempre tem oportunidade de você
avançar, de você modernizar o estado, de você conseguir atrair recursos para
investimento.
Tem uma questão coligada a essa, que é a questão das ações da Copel, dados como
garantia por títulos podres que pertenciam ao Banestado. A multa foi suspensa,
mas os títulos ainda existem.
Se fizesse essa licitação do gerenciamento da gestão da folha de pagamento ele podia
saldar todas essa dívidas...
Mas isso o senhor pretende fazer? Porque esses títulos estão atrelados à Copel?
São ações da Copel, que caso fosse vencida uma ação na Justiça sobre isso, poderia
significar a perda do comando da Copel.
Eu citei um exemplo do que é possível fazer. Agora, tem que ter diálogo, tem que ter
conhecimento, tem que ter visão estratégica, tem que ter competência acima de tudo.
Competência.
Só para finalizar essa questão: o grosso dessa dívida do Paraná é essa questão do
Banestado. O Senhor acha que foi um bom negócio, ou o senhor se arrepende de
ter votado a favor privatização do Banestado?
O meu adversário, de forma oportunista, está explorando esse assunto seguidamente.
Ele votou pela federalização do banco mas isso volta e meia ele omite. Quer dizer, o
banco não estaria mais sobre o controle do estado de qualquer forma. O Banco tinha
dívidas acumuladas e já existia o comunicado de intervenção do Banco Central. Estava
recorrendo diariamente a cerca de R$ 900 milhões do interbancários.
E além do banco estar numa situação dificílima, estava levando também o estado para
este mesmo buraco. Não tinha mais o que fazer. Tanto é que praticamente todos os
bancos estaduais foram privatizados ou federalizados. E dá a impressão de que eu vendi
o banco. Foram 43 deputados que votaram pela autorização de negociação do
Banestado. 43. Boa parte ainda se absteve da votação. Só cinco votaram contra.
E outra coisa: é só perguntar para o Reinhold Stephanes, que sabe que não tinha outro
caminho pro Banestado que não esse. É lamentável. Inclusive uma das maiores dívidas
do Banestado veio com o fechamento do Badep: o passivo do Badep foi jogado no
Banestado. Isso o Osmar não fala.
Isso foi no governo Requião, correto?
Não, governo a que ele pertenceu. Governo do Alvaro [Dias]. Eu não tenho vergonha
de nada que eu fiz. Eu posso até errar, mas jamais vou errar por má-fé. Era o que
precisava ser feito. 43 deputados votaram por isso .
Mas foi um bom negócio, analisando hoje a divida que ficou para pagar até 2029?
Quanto a negócio, eu não sou especialista nisso. O que coube a mim como deputado ao
lado de todos os demais deputados era autorizar a negociação ou não. E nós
autorizamos.
Agora, essa questão financeira, essa questão de compra de títulos e venda de títulos e
alongamento para pagar até não sei quanto, o dinheiro que foi colocado para sanear o
banco, que tem que ser devolvido também, nisso eu não sou especialista. Agora, que
tinha que entrar em negociação o banco, como praticamente todos os bancos do Brasil
entraram, disso ninguém tem dúvida.
Outra coisa também, só para concluir, que é importante. Além do passivo do Badep, que
era um banco de fomento do estado, muitos deputados, vocês sabem disso, se
aproveitaram de um banco que estava servindo para atender interesses políticos. Muitos
deputados contraíram empréstimos e não tiveram o mesmo tratamento que o cidadão
comum, que contraiu empréstimo e tinha que pagar com juros e correção. Muitos
deputados. E eu nunca tive empréstimo no Banestado.
O senhor falou sobre as contas do estado. O senhor pretende renegociar as contas?
Pretendo, se for possível. Como eu disse, os bancos já arrefeceram aquele entusiasmo
que tinham, porque não estão tendo o retorno.
O senhor falou que não violentou a sua consciência em nenhum momento ao
participar da bancada de apoio do Lerner. Mas, além da privatização do
Banestado, houve também discussão sobre a Copel. O senhor propôs a venda de
40% das ações da empresa.
Eu não propus isso. Isso foi feito no governo Requião, uma abertura de capital que
possibilita à Copel de ter ações na bolsa de Nova York. Foi feito no governo Requião.
Mas antes disso o senhor apresentou um projeto que permitia a venda de 40 % das
ações.
Limitava em 40%. Justamente para preservar o controle do estado. Venda de ações eles
fazem direto. O [governador Orlando] Pessutti não foi lá bater o sino em Nova York? O
Requião não vai lá direto? As ações da Copel estão em negociação na bolsa. Foi o
contrário, para preservar o patrimônio público que propus limitar a venda a 40%, para
que o estado nunca perca o controle acionário de uma empresa importante como esta. E
eu quero deixar claro: vou preservar o patrimônio público, não vou privatizar nenhuma
empresa. Ao contrário, a Copel vai voltar a ser uma empresa referência na geração de
energia, uma empresa no topo das companhias de energia, coisa que hoje não é mais.
Vai ser importante para o desenvolvimento econômico e social, levar fibra ótica a todos
os municípios do estado. Na Sanepar, a mesma coisa. Hoje tenho apoio de um grande
número de funcionários da Sanepar que estão insatisfeitos com o gerenciamento da
empresa, que virou um cabide de empregos. Políticos amigos do governador, sem
observar a competência, o preparo para o exercício da função, viram, de uma hora para
outra, diretores ou conselheiros. Porque os salários são altos. Os funcionários reclamam
que, nas reuniões para planejar a estratégia da empresa, a expansão da rede de esgoto
nos municípios, a coleta, o tratamento, os políticos ficam mudos. Porque são neófitos,
não entendem do assunto.
Para a presidência da Copel, o senhor pretende um nome técnico ou político?
Um nome técnico.
E da Sanepar?
Pretendo um nome técnico também para a Sanepar.
E para o porto também?
Para o Porto também. Para as três empresas.
O senhor falou antes sobre o tamanho do Estado. O senhor não definiu ainda qual
deve ser o tamanho do Estado? O senhor realmente acha que este tamanho não é o
ideal? É muito grande, é isso? Precisa ser cortado?
Muito grande. Muita ingerência política nessas empresas, muitos cargos em comissão. E
não se priorizou o lado técnico do governo, em detrimento do discurso político e da
politicagem que houve em todas as secretarias, praticamente.
O senhor já trabalha com alguma porcentagem de corte?
Não. Não tenho um número ainda. Mas o Estado vai ter o tamanho suficiente para os
avanços que nós queremos propor no nosso governo.
O atual presidente da Copel acha que a empresa poderia ter entrado em alguns
empreendimentos como minoritária. O que o senhor acha disso?
É uma questão para ser analisada tecnicamente. Eu vou permitir que aconteça na Copel
o que for melhor para o estado. O que for melhor para o fortalecimento da Copel, para a
expansão da Copel, para que ela volte a gerar mais energia, para termos uma energia
mais barata e para que ela volte a ser uma companhia referência nacional. Para quem
não sabe, a Copel foi notificada várias vezes pela Agência Nacional de Energia Elétrica
por irregularidades cometidas de forma gerencial.
Qual é a política salarial que o senhor pretende adotar para o funcionalismo
público. Existe algo no seu plano? Qual sua meta? Que tipo de reajustes vai haver?
Vão ser lineares, por mérito?
A exemplo do que fiz na capital. O importante é que, nessa campanha, o único que
sentou na cadeira de chefe do executivo fui eu. Até porque, quando você senta na
cadeira, a teoria e a prática são bem diferentes. Você encontra uma série de problemas,
desafios o dia inteiro. Governar é administrar problemas e materializar sonhos. Então eu
consegui, e eu tinha isso em mente, ter uma boa relação com os servidores. Eu colocava
o seguinte: eu só vou conseguir implantar as boas propostas, inovadoras até, que eu
tenho para a cidade, se eu tiver ao meu lado servidores motivados, parceiros,
entusiasmados para dar seqüência e implantar essas propostas todas. O mesmo eu vou
fazer no estado do Paraná. Vou tratá-los com respeito, serão valorizados. Vamos tratálos de forma democrática e transparente, mostrar a eles o orçamento do estado, o que é
possível fazer, o que é possível avançar no plano de carreira. Com alguns segmentos,
como o dos professores, já assumi uma série de compromissos que são justos. Por
exemplo, o auxílio-transporte ser incorporado ao salário, mais 26% de aumento, para
que haja equiparação com os demais servidores que têm curso superior também. Vamos
tratar isso caso a caso, mas serão valorizados, sim. E vamos garantir os aumentos
necessários para que tenham uma vida digna e a tranqüilidade para prestar bons serviços
para toda a população.
O senhor vê com bons olhos a premiação por mérito dos servidores?
Em algumas situações, sim. Nós propusemos, inclusive, um estudo na área de segurança
pública, de alguns méritos para atuação de policiais, prisão de traficantes, apreensão de
drogas... Isso pode ser estendido para outras categorias, sim. Acho que é um estilo de
administrar por resultados, por produtividade. O Aécio Neves usou muito em Minas
Gerais e os resultados foram bons. É o que eu disse anteriormente de avaliar todos os
bons métodos de administração pública que deram bons resultados para a gente poder
aplicar aqui. Não tenho dificuldade alguma em copiar alguma coisa que já está
implantada e já está dando certo, independente de qual seja a administração, seja do PT,
do PSDB, de que partido seja. Porque você ganha tempo, elimina desperdício. Você
perderia muito tempo experimentando uma prática se já tem uma que está dando certo,
que já foi testada, que pode ser implantada aqui. E essa meritocracia foi muito adotada
pelo Aécio e pode ser usada em uma ou outra área da administração.
A construção do metrô em Curitiba é um assunto já antigo, que esteve presente na
campanha que levou o Cassio Taniguchi à prefeitura. A promessa de começar as
obras em 2010 talvez não seja realizada. Também o José Serra apareceu na
propaganda eleitoral falando de um projeto de construção de 400 quilômetros de
linha de metrô e citou diversas capitais, mas não citou Curitiba.
Em outra ocasião, eu ouvi ele citar Curitiba.
Como o senhor pretende atuar, caso eleito, para desatar esse nó do metrô? Qual o
prazo previsto? Já tem uma previsão de contrapartida do governo, como é que está
isso?
A gente já vem atuando nisso. O ministro Paulo Bernardo é testemunha de quantas
vezes nós estivemos reunidos, depois tentamos colocar esse projeto no PAC da Copa,
quando todos os prefeitos do Brasil, das 12 sedes, especificamente, foram surpreendidos
com o formato proposto pelo governo federal. Todo mundo louco para ser subsede da
Copa do Mundo. Primeiro porque é um evento importante. O futebol é paixão nacional.
Quem não quer ter jogos da Copa do Mundo na sua cidade? Mas não só por essa razão.
Principalmente porque imaginávamos que receberíamos investimentos na infraestrutura
das cidades a fundo perdido. Todo mundo ficou surpreso: não tem fundo perdido. É
financiamento do governo federal. E financiamento, em algumas situações, com juros
mais caros que os do BID. Então a gente estava colocando o metrô no PAC da Copa,
mas na hora que nós descobrimos que não tinha recurso a fundo perdido. A cidade não
tem condições e acho que nenhuma cidade no Brasil tem, de arcar sozinha com os
custos de um projeto de transporte de massa como o metrô, que é caro.
Então, já está negociado com o Paulo Bernardo, já está conversado. Em um determinado
momento, acho que a Dilma mesmo tinha dado a notícia que o metrô de Curitiba não ia
ocorrer. O Paulo Bernardo reabriu essa discussão. Estivemos até, durante a Copa, com o
Orlando Silva, com o Márcio Fortes. Mas o Paulo Bernardo reabriu essa discussão para
colocar o metrô de Curitiba no PAC 2. Isso está sendo discutido agora, enquanto está se
encerrando o projeto básico, mas está em andamento, sim, está previsto. Está sendo
conversado. Agora saí da prefeitura, mas sei que o Luciano Ducci tem acompanhado as
discussões dessa tratativa do governo federal. O que eu pedi ao Paulo Bernardo, só para
concluir, é que Curitiba tenha o mesmo tratamento das outras cidades do Brasil, em que
o maior volume para investimento nas obras de implantação do metrô seja a fundo
perdido, para não comprometer as finanças do município. E um percentual menor, aí
sim a cidade pode contrair financiamento. Eu só pedi isso. O mesmo tratamento de
outras cidades, a exemplo de Fortaleza, que recebeu 80% a fundo perdido.
Falando de Copa do Mundo, o senhor pode ser governador do estado durante a
Copa de 2014. E hoje, depois de uma longa novela, da qual o senhor participou,
ativamente para trazer a Copa para Curitiba, foi assinado o contrato de
viabilização das obras na Arena, que passam pela prefeitura e passam pelo
governo do estado e pelo potencial construtivo. Qual sua visão dessa triangulação
pra terminar a obra da Arena da Baixada?
Bom, primeiro que não fui eu, não foi a prefeitura que indicou a Arena. Foi a Arena que
se apresentou com interesse de sediar a copa do mundo.
Mas a prefeitura bancou. O projeto é da cidade, do estado...
Sim, o projeto é da cidade, mas foi o único estádio que se apresentou, isso que eu quero
dizer. E foi um período importante onde nós fizemos todos, a prefeitura fez, todos os
projetos, que por sinal foram muito elogiados na CBF e na FIFA. Trabalho executado
principalmente por técnicos do IPPUC. E vencemos. Agora, o segundo passo é a
organização do evento, da infraestrutura toda que foi planejada em torno do estádio, no
acesso, aeroporto. E aí o impasse é compreensível. Estive várias vezes com dirigentes
do Atlético, que me colocaram: “Beto, o que o Atlético ganha com isso? Ao longo da
Copa não pode ter nem uma plaquinha para pelo menos explorar a publicidade. Vamos
construir um grande estádio (parte da obra já estavam fazendo), e depois? Nós vamos
usar pra que? Não temos interesse. Ou se acha uma fórmula que a gente possa contrair
os empréstimos, ou algo que seja interessante pro estádio, ou não temos recursos. Eu
não vou quebrar o clube pra ser sede da Copa do Mundo. Então aí o governo do estado e
a prefeitura encontraram algumas fórmulas. A da prefeitura eu sei que é troca de
potencial construtivo, pra conseguir os investimentos ali no estádio. Não envolve
recurso público diretamente, porque isso a lei veda. E tem esse compromisso hoje com a
CBF, embora a qualquer momento a CBF pode voltar cortar 2 cidades e voltar para o
planejamento inicial de 10 subsedes. Não tenho mais acompanhado essa discussão.
Só pra fazer um balanço aqui o senhor falou um pouco do ser adversário, mas
criticou aqui bastante o ex- governador Requião. Quem é o principal adversário do
senhor, é o atual governo?
Não me entenda mal, eu não ataquei diretamente o antigo governador. Eu ataquei o
governo. Eu estou dizendo para vocês que a minha candidatura representa a mudança do
que está aí. Eu tenho um novo estilo, um jeito diferente de governar, uma nova visão de
administração pública, com democracia. Sentar com especialistas, sentar com a
sociedade, discutindo as melhores soluções, caminhos e alternativas para atender o
desenvolvimento do Paraná. Por exemplo, sentar com os produtores rurais, com a
agricultura familiar, com as entidades que representam, ver as melhores ações. Sentar
com os especialistas do porto, ver como é que nós vamos botar o Porto de Paranaguá em
seis meses de pé. Foi isso o que eu quis dizer. Eu não sou o dono da verdade, enquanto
que o governo que aí estava se sentia autossuficiente, conversava muito pouco com a
sociedade. Eram ideias colocadas de cima para baixo. E, na minha visão moderna de
gestão pública, não existe mais espaço para decisões impostas. Eu não quis agredir o
Requião. Eu estou colocando o governo. Por que eu quero ser governador? Porque eu
quero fazer diferente do que está aí. Nós estamos aqui tratando dos problemas crônicos
de muito tempo. De falta de segurança pública, falta de infraestrutura na saúde,
enquanto a gente já podia ter avançado nessas áreas para tratar de outros assuntos: da
modernidade de estado, da tecnologia de informação e de outros assuntos. Por isso é
que eu falei dele.
Por que seu oponente seria um bom candidato a senador e não um bom candidato
ao governo? Já que todas as tratativas até a definição eram para a composição dele
como candidato na sua chapa...
Veja bem, é importante deixar claro... Apesar de que ele está tão mudado hoje, é
impressionante. O último debate foi uma coisa de maluco. Ele nega que pediu para ser
candidato ao Senado comigo. Tem dezenas de testemunhas que presenciaram ele
pedindo para ser candidato ao Senado pela minha chapa, me apoiando para o governo.
Ele esteve três vezes na casa do José Serra, duas delas ele pediu para acompanhar. No
mês de junho! Então, de uma hora para outra, a Dilma é a melhor candidata do mundo.
Apertou a mão do Serra. Se tivesse gravado tudo o que ele falou ali do PT e do Requião,
ele não seria candidato hoje. Me procurou várias vezes...
O senhor não quer dizer o que ele falou, que o senhor presenciou?
Não, não. Mandou emissários, seus fiéis escudeiros: o presidente do partido que queria
ser meu vice, o Zucchinho (deputado estadual Augustinho Zucchi, presidente do PDT
estadual), não é segredo para ninguém, e o prefeito de Bandeirantes, o Celso Silva. Veja
só: dois meses ele marcando as coletivas que daria para anunciar o apoio a mim.
Reservamos sala no Mabu, em outro hotel, e desmarcamos em cima da hora. Sempre
tinha uma desculpa de última hora. E eu, percebendo aquele jogo, falei: “Estou sendo
usado”. A última vez que ele esteve no meu escritório, o Zucchinho e o prefeito de
bandeirantes, eu, com educação, quase toquei os dois da minha sala. E estavam na sala o
(deputado estadual Ademar) Traiano, o (deputado estadual Valdir) Rossoni, o (deputado
federal) Ricardo Barros, coincidentemente naquele momento. E eu disse com essas
palavras: “Avisa o Osmar que eu não sou moleque e eu não sou palhaço. Ele está me
usando para negociar com o governo federal. Ele conversa comigo em um momento e
de tarde eu vejo e ele está com o Requião, está com o Lula, está com a Dilma, ele fala
com o Sérgio Guerra. E esse jogo para mim não presta. Tem que ter palavra, tem que ter
compromisso. Eu tenho sido procurado pelo outro lado e não estou conversando. Para
mim está fechado. Então não dá mais para esperar, e eu não quero mais saber”. Então,
com essas palavras, eu disse: “Zucchinho, diga para ele que da minha parte vocês estão
liberados. E diga mais para o Osmar: que eu renunciei a prefeitura de Curitiba foi para
disputar com ele o governo do estado. Vocês é que vieram atrás de mim e não estão
cumprindo tudo o que nós acordamos”. Saíram da sala, eu dei uma dura, o Rossoni saiu
irritado da sala antes de terminar a conversa até: “O Beto tem razão em tudo o que ele
coloca”. E aí o Zucchinho: “O que você quer que eu faça? Ele é complicado”. Ele não
vai confirmar isso hoje...
Isso foi quando mais ou menos?
Dia 16 ou 15 de junho. Eu vou chegar nas datas porque à tarde o Osmar me ligou,
sabendo que eu dei um corridão...
Mas foi pouco antes do anúncio da candidatura?
É a primeira vez que estou tocando nesse assunto em público. À tarde ele me ligou, o
Osmar. Isso foi dia 16, esse encontro no meu escritório, porque à tarde ele me ligou. Em
junho. Minha convenção era dia 19. Por isso ele apressou em falar comigo todos os
dias. Aí a tarde ele me ligou: “Beto”. (O assessor Deonilson Roldo interrompe: “Antes
tinha adiado a convenção por uma semana”). Já tinha adiado a convenção antes; estou
dizendo os últimos episódios. Dia 12 é minha convenção e eu adiei por causa dele. Eles
queriam convencer o (presidente nacional do PDT, Carlos) Lupi. Eu vou amenizar um
pouco a frase que ele usava. Vou amenizar um pouco. “Eu preciso convencer o Lupi,
porque o Lupi negociou um pacote com o Lula e me colocou dentro desse pacote”. E ele
pedia razões para levar para o Lupi, que ele ia convencer e tal. Então, enfim, eu toquei
os dois da minha sala. Mas no bom sentido... Não toquei... “Vão cuidar da vida de vocês
que eu cuido da minha. Vocês estão me usando e eu estou sendo instrumento de
barganha de vocês com o governo federal. Já percebi o jogo. Vocês estão há dois meses
me enrolando. E avisa que eu renunciei para disputar com ele, mesmo”. À tarde ele me
ligou: “Beto, veja bem, é difícil o Lupi, e essa coisa toda, e a pressão do governo. O
Lupi, não sei o quê, e tal.Você me espera até o meio dia de amanhã?” Razoável, né? Até
o meio dia de amanhã... Eu batendo papo com o pessoal às 11 horas no meu escritório,
naquela mesa comprida que tem. Eu estava na ponta. Meio-dia. Passou. Acabou, não
vem mais. Aí eu estou almoçando em um restaurante árabe em frente ao Colégio
Paranaense. Estavam vários deputados, uma mesa comprida. O Rossoni tocou meu
telefone: “Beto, você pode se encontrar com o Osmar agora?” “Você está louco?” Duas
e meia da tarde. “Não adianta mais, Rossoni, chega. Estamos sendo usados. Você não
viu, cara?” “É a última conversa, agora! Você vai na Rua Carlos de Carvalho, 855,
apartamento 601, esquina com a Desembargador Motta”. Entrei no carro, peguei o
Wilson: “Wilson, você me acompanha até lá?”. Cheguei nesse endereço, e ainda
brinquei com meu assessor: “Olha, se eu não descer em meia hora você chama a polícia.
Porque eu não sei pra onde estão me mandando”. Aí virei para o porteiro, “De quem é a
casa aqui?” “Celso” “Que Celso meu senhor?” “Celso Silva”. Eu não liguei na hora o
nome. “É o prefeito de bandeirantes” “Ah, já sei”. Subi. Casa vazia, os filhos dele que
moram ali. Sentei frente a frente com o Osmar. Olha, eu tenho gravado na minha
memória, sem errar uma letra e uma vírgula, que ele sentou na minha frente: “Beto, em
primeiro lugar quero dizer que eu não estou te enganando. Eu não sou candidato a
governador em hipótese alguma. Tá bom?” “Tá bom”. Aí começamos a conversar. O
Lupi ligava de Genebra. Pode checar a data. Ele atendia lá dentro, não na minha frente.
E aquilo já me deixava incomodado. Porque, se já estava tudo certo, por que não fala na
minha frente? Ia, voltava, ia, voltava, e conversando, e falou do Alvaro, falou de tudo e
tal, relações do Lupi, como é que ele ia desmarcar a reunião de segunda-feira em que
estaria o Pessuti, o Requião, todo mundo lá em Brasília. E terça ele iria levar a
discussão final. Terça ele ia levar a discussão para a Executiva (do PDT).
Então peguem as datas que vocês vão ver. Segunda estava marcada uma reunião política
para decisão das coisas, com Pessuti, com todo mundo, vários ministros lá. E terça-feira
reunião da Executiva. “Tudo resolvido, já estou desmarcando a reunião de segunda, e
terça-feira...” Lamento só que ele não vai confirmar nada disso. Eu não sei nem se
deveria estar falando. Mas daí ele falou “Tua convenção é depois de amanhã?” “É”
“Você segura a minha vaga de senador em aberto?” Eu falei: “Não posso mais, eu vou
lançar o Fruet”. “Mas nem se eu te der um documento?”Aí eu virei pra ele na hora, tive
a presença de espírito: “Se você assinar, é capaz de eu convencer a minha equipe. Que
ninguém acredita mais, Osmar. A gente conversa entre quatro paredes, ninguém mais
acredita no que a gente conversa. Se você assinar, tudo bem. Porque se o Zucchi
(apontei que ele estava do outro lado), se o Zuqui assinar, ninguém mais acredita. Estão
dizendo que ele está fazendo o jogo pessoal dele, que ele quer ser meu vice e tal,
enquanto eu sei que ele é o teu braço direito”. Então foi isso. Daí na hora ele falou: “Ah,
mas não tem impressora aqui no apartamento do Celso. Eu vou ter que ir lá no
escritório, mas depois a tarde o Zucchi e o Celso Silva te levam lá no teu escritório”.
Bom, de novo (pensei), com essa história de impressora mais um dia ele me ganhou.
Pois cinco, cinco e meia da tarde, chegou o Zucchi, o Celso (tenho as fotografias
registradas), eles chegaram lá e entregaram carta assinada pelo Osmar, tudo bonitinho,
pedindo pra coligar e tudo mais. E eles pediram o que? Pra fazer o que com a carta?
Divulgar no Paraná inteiro essa carta. Um absurdo. Agora, ouvir o que ele falou no
debate?
Candidato, só contrapondo essa questão, ele disse que o senhor em 2008 nas
negociações para formalizar a aliança como candidato a prefeito se comprometeu a
não ser candidato a governador.
Mentira, mentira. E eu vou dar outro exemplo para você, eu vou te dar outro exemplo...
E que o senhor se comprometeu que ia ficar quatro anos na prefeitura...
Eu falei que o mandato era de quatro anos e pertence às pessoas que me elegeram. Se
você pegar as pesquisas... Inclusive a primeira pesquisa que eu vi foi em janeiro ou
fevereiro. Eu estava na praia em 2009, depois da eleição. “60% dos curitibanos querem
Beto Richa no governo”. Pode pegar a capa da Gazeta de janeiro ou fevereiro. A
primeira notícia em relação à eventual candidatura minha foram vocês que deram.
Dentro dos meus eleitores, mais de 80% querem que eu seja candidato. Eu não estou
traindo, muito menos frustrando os meus eleitores. Então em relação a isso é tranquilo.
Em relação a ele, se vocês forem pegar esse período todo, uma única vez ele falou a
respeito. Chamei o Zucchi na minha sala: “Zucchi, isso é uma mentira. Se você quer,
vou falar a verdade”. “Não, não, foi um deslize, ele não vai falar mais”. Nunca mais
falou a respeito. Ele falou um dia, vou dar a data para vocês, também é bom ser o mais
preciso possível, porque isso é uma coisa polêmica, ele não vai, obviamente, do jeito
que ele está mudado, ele não vai admitir nada do que eu falei, ele falou um dia na capa
do O Estado do Paraná, no dia do velório do Luiz Felipe Haj Mussi. Por que que eu
lembro que foi no dia do velório? Porque eu tinha uma viagem para Brasília e antes de
ir para Brasília eu passei rapidamente no velório, que acontecia no Palácio das
Araucárias. Encontrei no corredor Rubens Bueno. “Rubens, hoje na capa do O Estado
do Paraná o Osmar está dizendo que eu tinha um compromisso de apoiá-lo para o
governo do estado em 2010, firmado na sede nacional do PPS, e você estava lá, você e
Marcos Isfer. Eu sequer insinuei alguma coisa, Rubens, porque eu não gosto desse tipo
de coisa”. O Rubens não estava comigo até aquele momento. Ele estava conversando
comigo, com o Osmar, tentando unir os dois. Quem ia ser o candidato ao governo o
Rubens não sabia ainda. Não estava comigo. Na hora (ele disse): “Não é verdade. Isso
nunca houve, nem insinuação você fez em relação a nomes”. Até porque ia ser eu. Então
ficou dito ali que os quatro partidos juntos, PPS, PP, não sei o que, PDT, PSDB, DEM,
a gente seria forte para ganhar o governo do estado em 2010. Única coisa que foi
tratada. Tanto é que o Rubens, volto a dizer, nem estava comigo, ele foi para a Band
News e desmentiu o Osmar Dias. De lá para cá, agora só que ele virou candidato, vocês
nunca mais ouviram ele me cobrar esse compromisso, porque nunca houve. E, como
falou o Zucchinho, foi um deslize dele e ele não vai falar mais. É só vocês verem aí, eu
estou dando números e estou dando datas.
Mas continua a pergunta: por que o seu oponente seria um bom candidato para
ser senador e não para o governo?
Porque ele está no senado já há 16 anos, tem feito um papel razoável. Ia fortalecer a
nossa candidatura, não vamos ser hipócritas e deixar de reconhecer isso. E eu aceitei
como todo o resto aceitou. E outra coisa: mais um dado só para fazer um parêntese, que
a gente vai lembrando de coisas: todos os partidos que o apoiaram em 2006 estão
comigo. Então, quem traiu quem? Só ele que saiu daqui e fez a opção para apoiar os
seus adversários. Deve ter tido milhões de razões para fazer o que fez.
O senhor se arrepende de ter pedido votos para ele em 2006?
Não, não me arrependo. Não me arrependo do que eu faço. Eu hoje estou conhecendo
melhor o Osmar que eu não conhecia antes.
Por que o senhor falou essa frase: “Ele deve ter tido milhões de razões para fazer
isso”? O senhor tem repetido sempre essa frase. Qual o significado?
Muitas razões. Eu quero dizer que ele deve ter tido muitas razões para fazer o que fez.
Isto posto, é um rompimento para sempre ou o senhor acha que ainda fica uma
possibilidade futura de reconciliação?
Não sei, não sei. A política no futuro eu não sei, mas eu defendo a minha honra. O
homem que não defende a sua honra não merece respeito. Tanto é que, quando eu
estava negociando com o PMDB, que tinha setores importantes que queriam me apoiar,
até pelas nossas ligações, já que meu pai foi fundador nacional desse partido, ficou claro
para as pessoas que eu conversava que eu não estaria do lado do Requião.
O senhor não cumpriu seu mandato integralmente nessa segunda eleição. O senhor
vai cumprir, caso seja eleito, o mandato de governador durante os quatro anos?
O mandato é de quatro anos e pertence às pessoas que me elegeram. Eu vou dar a
mesma resposta que eu dei anteriormente. Olha, gente, eu nunca tive obsessão por
ocupar cargos, nunca tive. Pode ser difícil de compreender, porque eu sou diferente da
maioria dos políticos, que querem de forma desesperada estar em busca de um grande
cargo. Eu nunca tive. Eu disputei cinco campanhas majoritárias sem nunca ter passado
pelo crivo de uma disputa numa convenção. Fui aclamado. Quero deixar claro que eu
não tenho nada contra as disputas que são inerentes à democracia. Mas eu nunca impus
candidatura minha, nunca impus. O Alvaro ficou chateado porque perdeu a indicação
para mim dentro do PSDB, mas o que eu ia fazer? 99% do partido me queria candidato.
Eu não fui atrás, eu não impus para ninguém. Então eu não tenho essa obsessão, eu
nunca fiz planos lá para a frente: “bom, agora que sou candidato a vereador, ali na outra
eleição sou candidato a prefeito, vou pular para o governo, vou para a Presidência da
República”... Tanto é que, quando falam em eventual candidatura a presidente da
República, eu nem respondo. Para mim é uma coisa praticamente impossível, distante.
Eu virei candidato ao governo pelos resultados da minha gestão em Curitiba. Fui
reconhecido nacionalmente e aí isso gerou uma forte expectativa no estado para uma
candidatura nossa para implantar no estado o modelo de gestão que deu certo aqui,
reconhecido no Brasil por dez vezes. Por isso que eu virei candidato. Eu não impus
minha candidatura. Surgiu de forma natural diante do bom trabalho que eu realizei
como prefeito. E volto a dizer: pegue pesquisas, inclusive na Gazeta. Aparece um
cientista político, não me lembro o nome, que faz uma análise dos números. 80% quer
Beto, 20% rejeita, acha que é uma traição. Ele falou: “É aceitável 20% achar que é uma
traição, porque são 20% de adversários dele que têm receio dele ser candidato ao
governo. Mas a grande maioria dos seus eleitores querem que ele seja candidato, e são
os eleitores dele que valem nessa discussão, porque são eles que votaram para ele ser
prefeito. Os que não votaram não me interessam”.
Isso não tornaria o senhor um governador dos seus eleitores, e não de todos os
paranaenses?
Não. Eu vou ser governador de todos os paranaenses como fui prefeito de todos os
curitibanos. Se eu tivesse trabalhado só nos bairros onde eu ganhei eleição, eu ia
trabalhar nos bairros mais centrais, e o forte da minha administração foi na periferia da
cidade. Tanto é verdade que na minha reeleição não perdi numa única urna da cidade de
Curitiba. Venci em todas. Eu nunca fiz essa diferença.
E por que o senhor acha que não consegue transferir essa popularidade que o
senhor tem aqui para o José Serra? Curitiba foi a última capital onde ele perdeu...
Não tem como, é difícil. Como o Lula também não consegue transferir toda a
popularidade para outro nível de disputa. No mesmo nível sim: “Vou sair mas quem vai
sentar na minha cadeira é ela”.
O meu adversário tem várias dissimulações para me agredir. Além de jornais
apreendidos pela polícia federal e tudo, querendo me colocar contra os curitibanos em
relação à minha desincompatibilização de 2 anos e 8 meses de mandato. Ele foi
candidato na última eleição. Acredito eu que era para ganhar. Ganhando, ele ia
renunciar quatro anos de mandato, então veja quanta dissimulação e quanta falta de
verdade naquilo que ele coloca.
Nessa reta final das perguntas, o senhor falou muito sobre a ligação com o Osmar,
que foi seu aliado histórico ao longo das últimas campanhas. Queria saber hoje – o
senhor se separou dele há pouquíssimos meses –, qual a diferença do Beto Richa
para o Osmar Dias?
A diferença é em termos de comportamento, de compromisso e de palavra.
Comportamento ético, que nunca me faltou isso. Clareza. Eu não me alio com
adversários para ter conveniências pessoais de momento. Jamais vou fazer isso. Jamais
você vai me ver querer ganhar eleição a qualquer custo, jamais.
O que difere o senhor dele é a ética?
A ética.
Download

Entrevista com Beto Richa, candidato do PSDB ao