CADERNO 2 CORREIO DA PARAÍBA Paraíba Sexta-feira, 31 de julho de 2015 DULCE HELFER/ DIVULGAÇÃO C1 Macalé recebe no palco, em Porto Alegre, Luiz Melodia, Thais Gulin e Zeca Baleiro Ao vivo, pela primeira vez Jards Macalé nunca havia lançado um CD e DVD com um show; o registro celebra seus 50 anos de carreira KUBITSCHEK PINHEIRO Jards Adnet da Silva, o Macau, ou Jards Macalé, está celebrando 50 anos de carreira e lança um inédito (para ele) CD e DVD ao vivo. O registro foi feito em 30 de abril de 2014 em Porto Alegre, no Teatro São Pedro. O repertório de Jards Macalé ao Vivo o é antigo, mas ele e os músicos fazem uma releitura totalmente diferente das canções, com a participação de Luiz Melodia, Zeca Baleiro e Thais Gulin. “Foi insistência da minha mulher (a cineasta Rejane Zilles). s Eu não gosto de disco ao vivo nem de DVD, mas terminei aceitando”, conta ele pelo telefone ao CORREIO. Toda irreverência do cantor e compositor vem à tona nesse show. Macalé entra em cena vestido de preto e blazer azul cor de anjo, uma penca de bananas na mão e começa a cantar “Let’s play that”. As 18 faixas seguintes eviden- ciam a musicalidade de um artista e seus clássicos – três deles gravados por Gal Costa: “Vapor barato”, “Hotel das estrelas” e “Mal secreto”. Macalé convida a bela Thais Gulin que canta sozinha “Hotel das estrelas” e faz uma performance sensual com um vestido curto - Macalé e banda a acompanham apenas no coro. A artista segue cantando “Revendo amigos”, de Macalé e Waly Salomão. “Essa moça é muito talentosa, quando chegou no Rio, logo nos conhecemos. Ela já gravou duas canções minhas: ‘78 rotações’ e ‘Revendo amigos’, que canta nesse show”, diz Macalé. Antes de chamar o segundo convidado da noite para cantar com ele, Zeca Baleiro, Macalé faz um discurso: “Então, em 1969, estávamos em pleno vapor da ditadura militar. Eu e Capinam fizemos umas musicas estranhíssimas e uma delas, não ficou tão estranha ‘Gotham City’, a cidade do Batman, que era uma parodia”. Essa canção foi defendida por ele no IV Festival Internacional da Canção em 1969, acompanhado da banda Os Brazões. “No final da apresentação levamos uma vaia muito grande, até a polícia vaiava a gente. Uma coisa boa e engraçada”, arremata Macalé. havia levado para o palco e, aí vieram os aplausos. Muitos. A bandeira do Brasil surge no formato geométrico do Congresso Nacional, como cenário só para essa canção. “Pedi e gostei de ser vaiado. Nelson Rodrigues já dizia: so as vaias consagram”, diz. C o m Zeca Baleiro, Macalé canta “Flor da pele” (de Zeca), “VaBananas por barato”, Para ele “Mal secreto” a vaia foi tão e na “Subida fundamental do Morro” (de JARDS MACALÉ AO VIVO, de na época que Moreira da Jards Macalé. Som Livre. CD: ele pede, ao Silva e RibeiR$ 19,90. DVD: R$ 32. final dessa ro Cunha), canção (que Com o ele grava pela primeira vez), terceiro convidado, Luiz que a platéia de Porto Ale- Melodia, Macalé para cangre, repita o gesto de 1969. tar “Decisão”, dele e SérNão deu outra: a vaia foi gio Mello, seguida de “Neimensa, até ele começar gra melodia”, de Macalé, a jogar as bananas que e “Farrapo humano”, de Melodia. Ao final do show Thais Gulin e Baleiro voltam para o placo e cantam com Macalé “Coração do Brasil” cuja letra só tem uma estrofe: “Coração, ah, coração!” . Macalé está acompanhado de uma banda formada por seis jovens músicos, batizada de Let´s Play That: Leandro Joaquim (trompete), Thiago Queiroz (sax e flautas), Victor Gottardi (guitarra), Ricardo Rito (teclados), Thomas Harres (bateria e percussão) e Pedro Dantas (contrabaixo). Cinema O cantor e compositor foi tema do documentário Macalé, dirigido por Érik Rocha (filho do cineasta Glauber Rocha). e lançado em 2014. E agora volta como ator no filme Big Jato, de Cláudio Assis, baseado em livro de Xico Sá e concorre no Festival de Brasília este ano. “Nesse filme eu sou o Príncipe Ribamar da Beira Fresca, o poeta das ruas de Juazeiro do Norte, no Ceará, que existiu mesmo”. Banquete A Discoberta colocou este ano no mercado uma raridade em se tratando de Macalé. Pela primeira vez em CD, em um precioso documento, o show Direitos Humanos no Banquete dos Mendigos, produzido por Jards Macalé e Xico Chaves em 1973. São registros integrais dos tapes gravados clandestinamente e guardados pelo próprio Macalé há mais de 40 anos. São três CDs, com Paulinho da Viola, Edu Lobo, Jorge Mautner, Johnny Alf , Gonzaguinha, Luiz Melodia, Raul Seixas, Chico Buarque, Milton Nascimento, Macalé, Dominguinhos, Gal Costa. “Eu tinha esse material guardado num cofre em casa, porque nesse país tudo desaparece ou roubam”, diz. “Ganhamos nós, os artistas e os fãs, com essa redescoberta”.