boletim informativo resistência em helmintos de cães e gatos as doenças causadas por helmintos se mostram realmente alarmantes, não só pela casuística e severidade dos sinais clínicos nos animais, mas também pelo seu grande potencial zoonótico, podendo acometer a população humana Gustavo Sabatini1 e Silvio Luís Pereira de Souza2 Gerente de P&D do Laboratórios Vencofarma do Brasil (Londrina/PR) 1 Professor de Parasitologia Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo/SP) 2 A atenção aos helmintos em cães e gatos não se restringe apenas por Dipylidium caninum, Trichuris vulpis e Dirofilaria immitis. a estes hospedeiros, nos quais podem causar desde sinais clíni- Diante do aumento da população de animais de companhia, e cos irrelevantes até transtornos extremos, ocasionando a morte ainda, da cada vez mais estreita relação entre o homem e estes ani- desses animais. Mas também, pelo fato de uma ampla variedade mais, as doenças causadas por helmintos se mostram realmente desses helmintos apresentarem proeminente casuística na alarmantes, não só pela casuística e severidade dos sinais clínicos população humana, sendo nos animais, mas também considerados agentes cau- pelo seu grande potencial sadores de zoonoses. zoonótico, podendo acome- Muitas zoonoses são conhe- ter a população humana. cidas, como a Larva Migrans Assim, os helmintos parasi- cutânea tas de cães e gatos neces- (popularmente conhecida como “bicho geo- sitam ser devidamente gráfico”), causada por larvas controlados, sendo utiliza- do Ancylostoma caninum e dos frequentemente pro- Ancylostoma braziliense, e a dutos químicos para este Larva Migrans visceral ou ocular, ocasionada pelas formas imatu- propósito. O controle quí- ras do Toxocara canis e do Toxocara cati. Há também a Hidatidose, mico de parasitas invariavelmente leva ao desenvolvimento de causada pela presença da forma larval do Echinococcus granulosus. resistência por parte desses. E encontra-se ainda, na literatura, casos de parasitismo humano A resistência parasitária é um fenômeno pelo qual uma droga não Ancylostoma caninum Echinococcus granulosus consegue manter a mesma eficiência contra os parasitas quando nos últimos anos. Jackson e colaboradores em 1987 relatam a utilizada nas mesmas condições, após um determinado período ocorrência de uma população de A. caninum resistente à ação do de tempo. Este processo é comprovado quando uma determi- pamoato de pirantel e à do pamoato de oxantel. Kopp e colabora- nada droga que apresentava redução da carga parasitária acima dores encontraram amostras de A. caninum resistentes ao pamo- de 95% deixa de atingir este valor. O surgimento da resistência ato de pirantel em 2009. Esse composto é encontrado na grande parasitária é inevitável e esta característica é transferida para maioria dos vermífugos de amplo espectro atualmente disponí- as próximas gerações. Historicamente tem sido assim e não há veis no mercado. Portanto, surge a divulgação de informações nenhum indício de que esta situação mude, pelo menos nos próxi- importantes como: mos cinco ou 10 anos. A resistência de helmintos é patente nos equinos e nos ruminan- O QUE É RESISTÊNCIA tes. Nos ruminantes, o uso indiscriminado de antiparasitários A resistência é fruto de uma mutação, que ocorre ao acaso na químicos ao longo dos anos proporcionou uma situação pratica- população. Apesar dos tratamentos químicos não causarem a mente desesperadora nesses segmentos, atualmente não existem mutação, eles apresentam papel fundamental no desenvolvi- mais alternativas para o controle de parasitas como Haemonchus mento da resistência, atuando como agentes selecionadores. e Cooperia (bovinos e pequenos ruminantes), e Parascaris equorum Quando um vermífugo é administrado, os helmintos resistentes (equinos). acabam sobrevivendo. Cada tratamento seguinte, com princípios No mercado de animais de companhia pouco se sabe sobre a ativos de mecanismo de ação similar, funciona como um processo ocorrência de helmintos resistentes a ação dos produtos quími- de seleção desses indivíduos resistentes. Com o tempo, os resis- cos disponíveis para o controle. Raros são os grupos de pesqui- tentes se tornam cada vez mais frequentes no animal, até que sadores no mundo que se dedicam a este tema. A carência no a quantidade deles se apresenta maior que a dos susceptíveis, diagnóstico específico das infecções parasitárias através de exa- neste momento os tratamentos se mostram ineficazes. mes coproparasitológicos, assim como a baixa frequência de tratamentos específicos para cada parasita, sub e super dosagens, POR QUE DEVEMOS NOS PREOCUPAR COM A e principalmente, a falta de informação sobre como lidar com o RESISTÊNCIA? tema podem agravar a situação. Porque não se pode esperar que a indústria farmacêutica sem- Pode se afirmar categoricamente que a resistência em helmin- pre disponibilize para o mercado um produto com mecanismo de tos de cães já existe. Este fenômeno não foi observado apenas ação diferente para controlar a resistência outrora gerada. Em Parascaris equorum Dipylidium caninum outros tempos, eram comuns novas alternativas de antiparasi- aumento do número de ovos por grama de fezes obtidos a partir tários, entretanto, os atuais altos custos para o desenvolvimento do exame coproparasitológico, quando comparado com o resul- de novos produtos e exigências governamentais cada vez mais tado aferido antes do tratamento. rígidas para o registro de produtos acabam por comprometer este processo. Além disso, sempre que um produto novo chega ao mercado, o custo deste é significativamente mais alto que os demais. Por fim, os produtos químicos utilizados no tratamento dos animais de companhia podem sofrer com as mesmas conse- “No mercado de animais de companhia pouco se sabe sobre a ocorrência de helmintos resistentes a ação dos produtos químicos disponíveis para o controle” quências observadas com as drogas disponíveis no mercado de ruminantes na atualidade, onde nenhum produto disponível se Em segundo lugar, optar por produtos específicos para cada para- mostra adequadamente eficiente para o controle de determina- sitose. Por exemplo, se um animal se mostra parasitado apenas das parasitoses. por Dipylidium caninum, por que administrar vermífugos de amplo espectro? Neste caso, cabe a indicação de antiparasitários elabo- COMO EVITÁ-LA? rados exclusivamente à base de praziquantel. Não se pode evitar o surgimento da resistência, porém podemos A resistência de helmintos de ruminantes é um problema antigo adiar o seu desenvolvimento. Em primeiro lugar, é preciso adqui- e tem sido motivo de pesquisas há algumas décadas. Apesar de rir o hábito do monitoramento, um exame de fezes antes do tra- certa polêmica em torno de protocolos de tratamento para adiar tamento e outro após uma semana, pode indicar quais produtos o desenvolvimento da resistência neste mercado, um deles refe- são realmente eficazes e quais já não funcionam mais. No caso de re-se ao rodízio de classes de princípios ativos com mecanismos pulgas e carrapatos é possível, mesmo que empiricamente, acom- de ação distintos e pode ser aplicado ao mercado de animais de panhar a evolução do tratamento e verificar se o mesmo foi efi- companhia. Atualmente, para estes animais, o mercado disponibi- caz ou não, visto que estes parasitas são facilmente observados liza produtos à base de: a olho nu. Pró-Benzimidazóis: Febantel (25 mg/kg - PO - Dose única) Vale considerar que no caso do Ancylostoma caninum, em infec- Benzimidazóis: Fenbendazol (50 mg/kg - PO - SID por três dias) ções maciças, as fêmeas apresentam capacidade de produção de Avermectinas: Ivermectina (0,2 a 0,6 mg/kg - PO, SC - Dose ovos comprometida e uma vez eliminada parte da população de única); Selamectina (6 mg/kg - Pour on - Dose única) helmintos (após o tratamento), as fêmeas aumentam significati- Milbemicinas: Milbemicina Oxima (0,5 mg/kg - PO - Dose única); vamente a oviposição, chegando, em alguns casos, a resultar em Moxidectina: (0,2 mg/kg - SC - Dose única) Substitutos Fenólicos: Nitroscanato (50 mg/kg - PO - Dose estratégias para um controle sustentável dos helmintos. Diante única) da falta de estudos em cães e gatos, cabe-nos aproveitar o conhe- Pirimidinas: Pamoato de Pirantel (5 mg/kg - PO - Dose única) cimento gerado a partir das pesquisas em bovinos, ovinos e capri- Piperazina: Piperazina (60 mg/kg - PO - Dose única) nos para amenizar as consequências deste mal inevitável. COMO ELIMINAR HELMINTOS RESISTENTES? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS É preciso utilizar produtos com mecanismos de ação diferen- Conder, G.A.; Campbell, W.C. Chemotherapy of nematode infec- tes ou com concentração de ativos superior daqueles outrora tions of veterinary importance, with special reference to drug administrados. Dessa maneira, dependendo do mecanismo de resistance. Advances in Parasitology, 35, 1-83, 1995. resistência, os helmintos resistentes serão eliminados. Assim Jackson, R.; Lance, D.; Townsend, K. Isolation of anthelmintic demonstrou Jackson et. al. (1987), para controlar uma população resistant Ancylostoma caninum. New Zealand Veterinary Jounal de Acylostoma caninum resistente ao pirantel, os pesquisadores 35, 215-216, 1987. se valeram de ivermectina. Kopp, S.T.; Coleman, G.T.; Traub, R.J.; McCarthy, J.S.; Kotze, A.C. As vantagens da utilização de vermífugos de amplo espectro são Acetylcholine receptor subunit genes from Acylostoma caninum: óbvias. Entretanto, vale frisar que uma vez desenvolvida resis- Altered transcription patterns associated with pyrantel resis- tência para todos os princípios ativos atualmente disponíveis, o tance. International Journal for Parasitology 39, 435-441, 2009. controle de helmintos será impossível. Neste sentido, é clara a Kopp, S.T.; Kotze, A.C.; McCarthy, J.S.; Coleman, G.T. High-level necessidade de mais estudos sobre a resistência de helmintos pyrantel resistance in the hookworm Ancylostoma caninum. em animais de companhia. Também é importante assegurar que Veterinary Parasitology 143, 299-304, 2007. novos produtos à base de combinações de ativos sejam formula- Molento, B.M. Resistência parasitária em helmintos de equídeos dos no intuito de proporcionar um sinergismo e que os mesmos e propostas de manejo. Ciência Rural, v.35, n.6, p. 1469-1477, sejam utilizados de modo seletivo e racional. 2005. Apesar de diversos estudos a respeito do tema em ruminantes, Ribeiro, V.M. Controle de helmintos de cães e gatos. XIII Con- ainda não foi possível estabelecer a melhor estratégia para dimi- gresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária & I Simpósio Lati- nuir a pressão de seleção e minimizar os problemas causados pelo no-Americano de Ricketisioses, Ouro Preto, MG, 2004. desenvolvimento da resistência. No que concerne aos animais de Thompson, R.C.A.; Roberts, M.G. Does pet helminth prophylaxys companhia, há uma grande lacuna, nem mesmo um diagnóstico increase the rate of selection for drug resistance? TRENDS in da situação atual sobre a resistência existe. Quem dirá possíveis Parasitology 17, No.12, 2001. www.vencofarma.com.br 0800 400 7997 facebook.com/vencofarma @vencofarma