Universidade Federal da Paraíba Centro de Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica - Mestrado - Doutorado CONTROLE DE VIBRAÇÃO DE UM SISTEMA SOB DESBALANCEAMENTO ROTATIVO UTILIZANDO ATUADOR DE LIGA COM MEMÓRIA DE FORMA por Alberdan Santiago de Aquino Tese de Doutorado apresentada à Universidade Federal da Paraíba para obtenção do grau de Doutor João Pessoa - Paraíba abril, 2011 ALBERDAN SANTIAGO DE AQUINO CONTROLE DE VIBRAÇÃO DE UM SISTEMA SOB DESBALANCEAMENTO ROTATIVO UTILIZANDO ATUADOR DE LIGA COM MEMÓRIA DE FORMA Tese apresentada ao curso de PósGraduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências para obtenção do Grau de Doutor. Orientador : Professor Dr. Antonio Almeida Silva Orientador : Professor Dr. José Antônio Riul João Pessoa – Paraíba 2011 A657c Aquino, Alberdan Santiago de. Controle de vibração de um sistema sob desbalanceamento rotativo utilizando atuador de liga com memória de forma / Alberdan Santiago de Aquino.- João Pessoa, 2011. 134f. : il. Orientadores: Antonio Almeida Silva, José Antônio Riul Tese (Doutorado) – UFPB/CT 1. Engenharia Mecânica. 2. Controle de vibrações. 3. Controle de sistemas. 4. Ligas com Memória de Forma. 5. Variação de temperatura. UFPB/BC CDU: 621(043) iii iv DEDICATÓRIA A Algérico Santiago e Raimunda Marinho v AGRADECIMENTOS A minha filha Alícia, que mesmo na ausência do pai, sabia que algo de bom estava acontecendo em nossas vidas. A minha esposa Eudna Maria (Baby) e minha irmã Artemis pelo incentivo que me deram durante esse período. Ao meu orientador professor Antonio Almeida Silva, pela dedicação, competência, e pela incansável vontade de ver o progresso do trabalho. Aos meus amigos Jader, Everaldo, James, Magno, Francisco França, pelo apoio, amizade, pelas sugestões, e principalmente pelos momentos de descontração, imprescindíveis no decorrer do trabalho. Ao professor José Antônio Riul, pela orientação, e pelas sugestões sempre, sempre oportunas. Ao professor Carlos José de Araújo pela contribuição direta no desenvolvimento da pesquisa. Ao professor Cícero da Rocha Souto, pela ajuda sempre que solicitada. Ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFPB, pela oportunidade que me concedeu na realização desse trabalho. vi CONTROLE DE VIBRAÇÃO DE UM SISTEMA SOB DESBALANCEAMENTO ROTATIVO UTILIZANDO ATUADOR DE LIGA COM MEMÓRIA DE FORMA RESUMO O controle de vibrações é um campo de estudo bastante relevante dentro da Engenharia Mecânica cujo principal objetivo reside na atenuação e controle das vibrações de um sistema. Existem técnicas e métodos variados que permitem o controle de vibrações, e dentre estas existem aquelas que utilizam os absorvedores dinâmicos de vibração. Neste contexto, as Ligas com Memória de Forma (LMF) podem ser usadas na forma de atuadores que auxiliam no controle ativo de estruturas devido à sua capacidade de variação da rigidez e amortecimento. As LMF fazem parte de um grupo de materiais metálicos que apresentam a propriedade de retornar à sua forma original após uma deformação mecânica, através de uma transformação de fase obtida por meio de um procedimento térmico. Ligas metálicas constituídas por Níquel e Titânio (NiTi), podem gerar forças consideráveis após a mudança de forma, rigidez e amortecimento, através da variação da temperatura. Nesta tese, é implementado um controlador Fuzzy para reduzir os níveis de vibração de um sistema massa-mola simulando um rotor desbalanceado utilizando-se um atuador de liga com memória de forma. Resultados teóricos e experimentais do sistema sendo controlado em regiões críticas são apresentados, onde se observaram reduções nos níveis da ordem de até 85% na região de ressonância. Palavras chave: controle de sistemas, memória de forma, temperatura vii VIBRATION CONTROL OF A SYSTEM UNDER UNBALANCED ROTATING USING SHAPE MEMORY ALLOY ACTUATOR ABSTRACT The vibration control is an important field of study within mechanical engineering, whose main objective is to reduce and control the vibration of a system. There are various techniques and methods for vibration control, and among them are those using dynamic vibration absorbers In this context, Shape Memory Alloys (SMA) can be used as actuators that help the active control of structures due to their ability to change the stiffness and damping. The SMA is part of a group of metallic materials which have the property returned to its original shape after mechanical deformation through a phase transition obtained by a thermal process. Metal alloys consisting of nickel and titanium (NiTi) can generate significant forces behind the change of shape, stiffness and damping temperature variation. In this thesis, we implement a fuzzy controller to reduce vibration of unbalanced rotating system using shape memory alloy actuator. Theoretical and experimental results of the system, controlled in critical regions, are presented, where level reductions of about 85% in the resonance region were observed. Keywords: control systems, shape memory alloy, temperature viii SUMÁRIO Lista de Figuras ...................................................................................................... xi Lista de Tabelas ...................................................................................................... xv Lista de Símbolos ................................................................................................... xvi 1 INTRODUÇÃO 1.1 JUSTIFICATIVA........................................................................................ 2 1.2 OBJETIVO GERAL................................................................................... 3 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS...................................................................... 3 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO................................................................ 4 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 5 2.2 ÁREAS DE APLICAÇÃO E SUAS LIMITAÇÕES.................................. 5 2.3 ABSORVEDORES DE VIBRAÇÃO COM RIGIDEZ VARIÁVEL......... 10 2.4 FUNDAMENTOS DAS LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA............. 20 2.4.1 Transformação de fases nas ligas com memória de forma............................... 21 2.4.2 Efeito memória de forma............................................................................. 24 2.4.3 Comportamento das LMF sob ciclagem termomecânica............................ 25 2.4.4 Métodos de determinação das temperaturas de transformação em ligas com 2.5 3 memória de forma................................................................................................... 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 31 PROJETO, FABRICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MOLAS HELICOIDAIS COM MEMÓRIA DE FORMA 3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 32 3.2 PROJETO E FABRICAÇÃO DE MOLAS HELICOIDAIS EM LIGAS 33 ix COM MEMÓRIA DE FORMA.................................................................. 3.3 FAIXAS DE TEMPERATURAS DE TRANSFORMAÇÃO.................... 35 3.4 MODELO PARA CÁLCULO DE RIGIDEZ VARIÁVEL........................ 37 3.5 CARACTERISTICAS DE AMORTECIMENTO EM LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA............................................................................ 42 3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 43 4 MODELO TEÓRICO 4.1 MODELAGEM TEÓRICA......................................................................... 45 4.2 RESULTADOS SIMULADOS................................................................... 48 4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 51 5 BANCADA EXPERIMENTAL 5.1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 52 5.2 DADOS DO SISTEMA.............................................................................. 53 5.2.1 Massa do sistema........................................................................................ 53 5.2.2 Rigidez do sistema....................................................................................... 54 5.2.3 Amortecimento do sistema.......................................................................... 55 5.3 SISTEMA DE AQUECIMENTO DA MOLA DE LMF............................ 58 5.4 SISTEMA DE RESFRIAMENTO DA MOLA DE LMF........................... 60 5.5 SENSOR DE TEMPERATURA................................................................. 61 5.6 MOTOR EXCITADOR ............................................................................. 64 5.7 RESULTADOS EXPERIMENTAIS.......................................................... 65 5.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 67 6 CONTROLE DO SISTEMA 6.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 68 6.2 CONTROLADOR ...................................................................................... 71 6.2.1 Fuzzyficação................................................................................................ 73 6.2.2 Inferência fuzzy........................................................................................... 77 6.2.3 Defuzzyficação............................................................................................ 79 6.3 84 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... x 7 RESULTADOS 7.1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 85 7.2.1 Caso 1 – Sistema excitado com 14 Hz ........................................................ 86 7.2.2 Caso 2 – Sistema excitado com 17 Hz ........................................................ 87 7.2.3 Caso 3 – Sistema sem controle de temperatura e excitado com 14 Hz e 17 Hz intercalados ........................................................................................... 88 7.2.4 Caso 4 – Sistema com controle de temperatura e excitado com 14 Hz e 17 Hz intercalados...................................................................................... 90 7.2.5 Caso 5 – Sistema sem controle de temperatura e freqüência de excitação variando entre 0 e 23 Hz ............................................................................. 92 7.2.6 Caso 6 – Sistema com controle de temperatura e freqüência de excitação variando entre 0 e 23 Hz ............................................................................ 94 8 CONCLUSÕES E SUGESTÕES 8.1 CONCLUSÕES........................................................................................... 97 8.2 SUGESTÕES............................................................................................... 99 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 100 ANEXOS .................................................................................................... 107 xi LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 Diagrama de densidade energética indicando a faixa de atuação em termos de tensão x deformação de diferentes materiais ativos............ Figura 2.2 6 Diagrama de densidade energética em função da freqüência de atuação para diferentes materiais ativos.............................................. 7 Figura 2.3 Endoscopia utilizando LMF como atuador.......................................... 8 Figura 2.4 Aerofólio com LMF............................................................................. 8 Figura 2.5 Avião da Boeing com turbina de geometria variável do elemento de descarga de gases................................................................................. 9 Figura 2.6 Atuador com mola LMF...................................................................... 9 Figura 2.7 Absorvedor de vibrações sintonizado (TVA) e sua resposta em freqüência........................................................................................... 10 Figura 2.8 Absorvedor de vibrações sintonizado adaptativo................................ 11 Figura 2.9 Resposta do sistema primário excitado na primeira freqüência.......... 12 Figura 2.10 Absorvedor de estado comutado.......................................................... 13 Figura 2.11 Aceleração da base para excitação forçada de 4,5 e 5,5 Hz................ 13 Figura 2.12 ATVA LMF com sistema primário montado sobre o shaker.............. 14 Figura 2.13 Aceleração do sistema primário para mudanças de freqüência de excitação em degrau............................................................................ 14 Figura 2.14 Composição experimental para obtenção da resposta dinâmica da viga SMAHC...................................................................................... 15 Figura 2.15 Resposta dinâmica da viga SMAHC................................................... 16 Figura 2.16 Controle da deflexão transversal em tubos de aço............................... 16 Figura 2.17 Sistema de isolação massa-mola de LMF............................................ 17 Figura 2.18 Esquema de sistema dinâmico eixo-rotor para controle de vibrações em mancal LMF.................................................................................. 18 Figura 2.19 Curvas típicas de deformação versus temperatura de ligas NiTi......... 19 Figura 2.20 Estruturas cristalinas da LMF.............................................................. 22 xii Figura 2.21 Transformação da estrutura cristalina sob variação de temperatura.... Figura 2.22 Transformação da estrutura martensitica sob 23 carregamento mecânico............................................................................................ Figura 2.23 Diagrama tensão-deformação-temperatura para LMF......................... 23 25 Figura 2.24 Carregamento térmico cíclico (50 ciclos) de um fio de NíquelTitânio sob tensão constante de 150MPa............................................. 26 Figura 2.25 Resposta pseudo-elástica de um fio de NiTi com AF=65ºC, ciclado na temperatura de 70ºC........................................................................ Figura 2.26 Representação esquemática de um DSC.............................................. 27 28 Figura 2.27 Curva esquemática de um DSC para uma LMF mostrando as curvas de transformação e o calor latente associado durante o aquecimento e resfriamento...................................................................................... 29 Figura 2.28 Curva DSC para liga rica em Níquel mostrando dois estágios de transformação................................................................................... 29 Figura 2.29 Esquema do teste de RE...................................................................... 30 Figura 2.30 Resistência elétrica normalizada vs. Temperatura para liga NiTi......... 31 Figura 3.1 Mola helicoidal de compressão........................................................... 34 Figura 3.2 Mola de LMF Ni-Ti............................................................................. 35 Figura 3.3 Amostra da Liga de NiTi submetida ao ensaio de DSC...................... 36 Figura 3.4 Amostra no DSC................................................................................. 36 Figura 3.5 Temperaturas de transformação obtidas pelo DSC............................. 37 Figura 3.6 Mola de LMF montada para ensaio de compressão............................ 39 Figura 3.7 Rigidez da mola de LMF em função da temperatura.......................... 41 Figura 3.8 Mudança no amortecimento para LMF............................................... 43 Figura 3.9 Relação entre fator de amortecimento e temperatura para liga TiNi... 43 Figura 4.1 Sistema rotativo desbalanceado com 1gdl .......................................... 45 Figura 4.2 Energia dissipada por ciclo.................................................................. 47 Figura 4.3 Resposta em freqüência teórica do sistema para a mola a 35°C e 65°C....................................................................................................... 50 Figura 4.4 Resposta em freqüência teórica em função da temperatura da mola 51 Figura 5.1 Esquema da bancada experimental...................................................... 53 Figura 5.2 Sistema rotativo desbalanceado........................................................... 54 Figura 5.3 Resposta impulsional a 35ºC............................................................... 56 xiii Figura 5.4 Resposta impulsional a 65ºC............................................................... Figura 5.5 Variação do coeficiente de amortecimento em função 56 da temperatura.......................................................................................... 58 Figura 5.6 Sinal PWM com largura de pulso de 40%........................................... 59 Figura 5.7 Circuito amplificador para aquecimento da mola de LMF.................. 59 Figura 5.8 Curvas de aquecimento da mola de LMF com diversas larguras de Figura 5.9 pulso do sinal....................................................................................... 60 Direcionador do fluxo de ar sobre a mola........................................... 60 Figura 5.10 Circuito amplificador de tensão de alimentação do motor do direcionador de ar................................................................................ 61 Figura 5.11 Circuito divisor de tensão................................................................... 62 Figura 5.12 Curva de calibração do NTC .............................................................. 63 Figura 5.13 Diagrama de blocos para obtenção da temperatura da LMF............... 64 Figura 5.14 Relação entre tensão aplicada e frequencia de excitação do motor..... 64 Figura 5.15 Resposta em freqüência do sistema para mola a 35°C e a 65°C .......... 66 Figura 5.16 Resposta em freqüência experimental em função da temperatura da mola..................................................................................................... 67 Figura 6.1 Diagrama de blocos do controle de temperatura da mola LMF ......... 69 Figura 6.2 Resposta em freqüência teórica do sistema......................................... 69 Figura 6.3 Resposta em freqüência do sistema com controle de temperatura da mola de LMF....................................................................................... 70 Figura 6.4 Variável ERRO e seus termos lingüísticos para o aquecimento.......... 74 Figura 6.5 Variável ERRO e seus termos lingüísticos para o resfriamento.......... 75 Figura 6.6 Variável VERRO e seus termos lingüísticos....................................... 75 Figura 6.7 Variável saída de resfriamento e seus termos lingüísticos.................. 76 Figura 6.8 Variável saída de aquecimento e seus termos lingüísticos.................. 76 Figura 6.9 Exemplo de regra de estratégia de controle ........................................ 79 Figura 6.10 Fuzzificação para Erro= - 7,5°C ......................................................... 80 Figura 6.11 Fuzzificação para Verro= 0,5°C ......................................................... 81 Figura 6.12 Defuzzificação de acordo com o centro de máximo ........................... 82 Figura 6.13 Superfície de controle para variável de saída “aquecimento” ............ 83 Figura 6.14 Superfície de controle para variável de saída “resfriamento” ............ 84 xiv Figura 7.1 Vibração do sistema sem e com a ação de controle para um degrau de aquecimento.................................................................................... Figura 7.2 86 Vibração do sistema sem e com a ação de controle para um degrau de resfriamento.................................................................................... 87 Figura 7.3 Sinal de excitação nas freqüências 14 Hz e 17 Hz.............................. 89 Figura 7.4 Vibração do sistema sem controle nas freqüências 14 Hz e 17 Hz..... 90 Figura 7.5 Temperatura da mola para as situações do caso 3............................... 90 Figura 7.6 Vibração do sistema sob ação de controle, com freqüências de excitação de 14Hz e 17Hz................................................................... Figura 7.7 Sinal de referência de temperatura e temperatura da mola, na ação de controle........................................................................................... Figura 7.8 92 Sinal de excitação variando linearmente de 0 a 23 Hz e viceversa..................................................................................................... Figura 7.9 91 93 Vibração do sistema sem ação de controle quando submetido a uma freqüência de excitação de 0 Hz a 23 Hz............................................. 94 Figura 7.10 Vibração do sistema com ação de controle quando submetido a uma freqüência de excitação de 0 Hz a 23 Hz............................................. 95 Figura 7.11 Sinal de referência de temperatura e temperatura da mola, na ação de controle para o sistema excitado com frequências de 0 a 23 Hz........... 96 xv LISTA DE TABELAS Tabela 3.1 Rigidez da mola LMF para o aquecimento e resfriamento................... 40 Tabela 4.1 Parâmetros de amortecimento em função da temperatura.................... 48 Tabela 4.2 Dados da simulação............................................................................... 49 Tabela 5.1 Dados da mola utilizada no experimento.............................................. 54 Tabela 5.2 Amortecimento do sistema em função da temperatura......................... 57 Tabela 5.3 Resultados experimentais da calibração do NTC ................................ 63 Tabela 5.4 Dados do experimento........................................................................... 65 Tabela 6.1 Termos lingüísticos para o ERRO......................................................... 73 Tabela 6.2 Termos lingüísticos para a VERRO...................................................... 74 Tabela 6.3 Base de regras lingüísticas para o aquecimento.................................... 77 Tabela 6.4 Base de regras lingüísticas para o resfriamento.................................... 78 xvi LISTA DE SÍMBOLOS A Identificação da fase austenítica AS Temperatura inicial da fase austenitica AF Temperatura final da fase austenitica A1 Amplitude do primeiro pico An Amplitude do pico do período n c Amortecimento cLMF Amortecimento da liga com memória de forma cmax Amortecimento máximo cmin Amortecimento mínimo D Diâmetro da mola d Diâmetro do arame da mola dx Desbalanceamento F Força da mola F0 Força de excitação G Módulo de elasticidade transversal i Indicador de número complexo kLMF-A Rigidez da mola durante a fase de aquecimento kLMF-R Rigidez da mola durante a fase de resfriamento k Rigidez da mola kmax Rigidez máxima da mola LMF kmin Rigidez mínima da mola LMF M Identificação da fase martensítica MF Temperatura final da fase martensitica MS Temperatura inicial da fase martensitica m Massa do sistema md Massa desbalanceada N Número de espiras xvii n número de períodos P Período R Resistência elétrica R Identificação da fase R RF Temperatura final da fase rhombohedral RS Temperatura inicial da fase rhombohedral R0 Resistência elétrica na temperatura ambiente T Temperatura da mola Tamb Temperatura ambiente t Tempo Vi Tensão do circuito divisor X Módulo da amplitude de deslocamento x Deslocamentos da massa do sistema y Deflexão da mola ∆k Diferença entre rigidez máxima e rigidez mínima β Constante térmica do NTC µ Fator de perda ω Velocidade angular, Frequencia de excitação ωd Frequencia natural amortecida ωn Frequencia natural ξA Fração de austenita da liga ξM Fração de martensita da liga ξR Fração de martensita da liga na fase Rhombohedral ζ Coeficiente de amortecimento 1 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO A presença de vibrações em máquinas e equipamentos é normalmente caracterizada como um problema sério em diversas aplicações. Nestas situações, um sistema de controle de vibração é aplicado com o intuito de reduzir os danos provenientes de níveis de vibração mais altos. Basicamente sistemas de controle de vibração podem ser divididos como passivos e ativos (AHL’EN et al, 1994; AHMAD et al, 2000; CHEN et al, 2004; FLEMING et al, 2005). Os métodos de controle passivo de vibrações lidam diretamente com as propriedades físicas da máquina, como a rigidez, massa e amortecimento. O controle passivo de vibrações deve agir com uma mudança estrutural básica, o uso de outros materiais, ou a adição de um elemento passivo, que é um elemento cuja função não depende de uma fonte de energia externa. Técnicas passivas apresentam, no entanto, dificuldades de implementação em regiões de baixa freqüência (FULLER et al, 1990). Além disso, em muitas aplicações é desejável que o sistema tenha baixos valores da massa, fazendo com que sistemas de controle de vibração passivos não sejam atrativos (BRENNAM et al, 1992), isto devido a uma tendência crescente na fabricação de engenharia de sistemas para reduzir o peso de estruturas mecânicas, principalmente em sistemas utilizados para locomoção como navios e aeronaves, podendo reduzir substancialmente os custos usando materiais mais leves (MOHEIMANI et al, 2003). Por outro lado, a redução de massa em máquinas e equipamentos pode resultar em estruturas mais flexíveis que o desejado, gerando uma limitação da performance desta estrutura. Os métodos de controle ativo de vibrações dependem do uso de uma fonte de energia externa. O controle ativo de vibrações tradicionalmente pertence ao campo da engenharia 2 de controle. É baseado no uso de sensores, eletrônica de tratamento de sinais e eletrônica de controle diretamente ligada aos atuadores, fazendo com que todos os erros possíveis que possam ocorrer numa máquina sejam antecipados e compensados. O atuador utilizado no controle de vibrações é um elemento que produz uma força capaz de reduzir os níveis de vibração. A variedade de atuadores utilizados em sistemas de controle de vibração é muito grande, e o emprego do atuador depende principalmente do equipamento ou maquinário (variável de projeto) e das características do ambiente de instalação (umidade, atmosfera explosiva). Podem ser encontrados atuadores de movimento induzido por cilindros pneumático ou cilindros hidráulicos, motores elétricos, atuadores piezoeléticos, e mais recentemente atuadores de ligas com memória de forma. As ligas com memória de forma têm grande potencial de aplicação em situações que envolvem grandes forças, grandes deformações e baixas freqüências. Como atuadores, as ligas com memória de forma podem ser aplicadas para controle de forma (SANDERS et al, 2004; CHANDRA, 2001) e para controle de vibração em máquinas e estruturas (ZAK et al, 2003; OH et al, 2001; SAADAT et al, 2001). 1.1 JUSTIFICATIVA Um sistema com um grau de liberdade pode ser entendido como um dispositivo que tem apenas uma massa representativa e que esta massa possui apenas um movimento possível, sendo este movimento de translação ou rotação. Quando forças externas atuam sobre este sistema, o mesmo fica submetido à vibrações mecânicas que são aceitáveis até determinadas amplitudes, e devem se manter assim para um bom funcionamento e vida útil do equipamento. No entanto, as excitações podem provocar um aumento dos níveis de vibração até níveis indesejáveis, principalmente quando o sistema entra em ressonância com a freqüência natural do equipamento (ωn). O valor da freqüência natural depende da massa e da rigidez do sistema. Sendo assim, se um equipamento está montado sobre elementos de rigidez variável, é possível reduzir os níveis de vibração deste sistema. 3 O controle da variação de rigidez pode ser aplicado utilizando alguns dispositivos, sejam eles pneumáticos, eletromagnéticos, ou ainda utilizando materiais inteligentes, as Ligas com Memória de Forma (LMF). Diante deste contexto, se faz necessária uma investigação mais aprofundada com o objetivo de reduzir e controlar vibrações mecânicas utilizando Ligas com Memória de Forma (LMF) por meio da mudança da freqüência natural do sistema. 1.2 OBJETIVO GERAL Desenvolver um sistema com um grau de liberdade apoiado sobre uma mola com propriedades de memória de forma, que será utilizada como atuador, objetivando o controle dos níveis de vibração em determinadas faixas de freqüências consideradas críticas. 1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Para atingir o objetivo geral, será necessário desenvolver e implementar os seguintes objetivos específicos: • Projetar e confeccionar uma mola helicoidal com memória de forma a partir de fios de Níquel-Titânio (Ni-Ti); • Realizar treinamento na mola para que a mesma tenha memória de forma reversível; • Caracterizar as temperaturas de transformação da mola de Ni-Ti; • Caracterizar a rigidez da mola de Ni-Ti em função da temperatura; • Confeccionar o sistema com um grau de liberdade, excitado harmonicamente por um motor desbalanceado; • Desenvolver um sistema de controle de temperatura, incluindo a montagem de circuitos e placas de aquisição; • Testar experimentalmente o sistema de controle para diferentes condições de excitação; • Avaliar o desempenho do sistema controlado e concluir sobre a sua possível recomendação em aplicações típicas. 4 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho é dividido em oito capítulos, distribuídos da seguinte forma: No capítulo 2 é apresentada uma introdução geral a respeito das técnicas de controle de vibrações bem como informações a respeito das ligas com memória de forma e suas propriedades termomecânicas. No capítulo 3, é apresentado um estudo acerca de molas helicoidais, fabricadas com liga de Níquel-Titânio, mostrando algumas características das mesmas. O capítulo 4 aborda os aspectos teóricos de sistemas dinâmicos com desbalanceamento rotativo, onde são mostrados simulações deste sistema com variação da rigidez e amortecimento. No capítulo 5 é apresentado o desenvolvimento da bancada de teste com as especificações de todos os componentes utilizados no experimento. O capítulo 6 é reservado ao projeto do sistema de controle de vibração, onde é desenvolvido um controlador baseado em lógica fuzzy. O capítulo 7 apresenta resultados e discussões dos testes experimentais onde é analisado o desempenho do sistema atuando com o algoritmo de controle desenvolvido. Finalmente, no capítulo 8, apresentam-se as conclusões a partir da análise e comparação dos resultados obtidos e sugestões para futuros trabalhos. 5 CAPÍTULO II REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 INTRODUÇÃO As manutenções preventiva e preditiva de equipamentos podem ser feitas através de um sistema supervisório computadorizado ou de monitoramento onde todas as variáveis que interferem no funcionamento de uma máquina são monitoradas em tempo real. Variáveis como pressão, temperatura e vibração são controlados de tal forma que a vida útil dos equipamentos seja bastante estendida visando a redução de custos com paradas e serviços desnecessários. O monitoramento e controle de vibrações neste caso podem ser feitos de diversas maneiras, sejam elas de forma passiva com o uso de iso-amortecedores e absorvedores dinâmicos, ou de forma ativa, onde são usadas plantas eletrônicas de controle que comandam atuadores que podem ser magnéticos, piezo-elétricos, hidráulicos e mais recentemente aqueles baseados em materiais inteligentes como os fluidos magnetoreológicos e as ligas com memória de forma ou internacionalmente denominadas de Shape Memory Alloys (SMA). 2.2 ÁREAS DE APLICAÇÃO PARA LMF E SUAS LIMITAÇÕES Atuadores convencionais tais como motores hidráulicos e pneumáticos promovem grandes perdas de energia, têm um grande volume e pesadas massas para o sistema de atuação. Novas tecnologias e materiais estão atraindo atenção para que se desenvolvam sistemas mais leves e com grande poder de atuação (MAVROIDIS, 2007). 6 Segundo LAGOUDAS (2008), dois parâmetros são importantes quando da escolha do material do atuador: a densidade energética (capacidade de produção de trabalho por unidade de volume) e a faixa de freqüência do material. O ideal seria ter um material ativo com uma elevada densidade energética e de uma alta resposta em freqüência. As Figuras 2.1 e 2.2 apresentam, respectivamente, dois diagramas representativos das faixas de atuação da densidade energética e das freqüências de alguns materiais ativos. É possível verificar pelas figuras que os atuadores de LMF são considerados os de maior capacidade de produção de trabalho mecânico por volume de material em comparação com outros materiais utilizados como atuadores. Além disso, os atuadores de LMF têm a capacidade de recuperação de sua forma quando a temperatura é aumentada, mesmo sob altas cargas aplicadas, bem como absorver e dissipar energia mecânica quando das mudanças reversíveis de forma, sendo assim considerados como bons atuadores quando se trata de amortecer vibrações e absorver impactos. No entanto, as LMF têm baixas freqüências de resposta em relação à maioria dos outros materiais ativos, reduzindo assim seu uso às situações onde as faixas de freqüência em análise são baixas. Para freqüências acima de 10 Hz (10Hz – 1000HZ), é mais viável o uso de LMF magnéticas. (LAGOUDAS, 2008). Figura 2.1 – Diagrama de densidade energética indicando a faixa de atuação em termos de tensão x deformação de diferentes materiais ativos. (LAGOUDAS, 2008) 7 Figura 2.2 – Diagrama de densidade energética em função da freqüência de atuação para diferentes materiais ativos. (LAGOUDAS, 2008) As Ligas com Memória de Forma são úteis em diversas situações quando trabalham como atuadores, alterando a forma, rigidez, posição, freqüência natural, e outras características mecânicas, em resposta a temperatura ou campos eletromagnéticos. O potencial dessas ligas na condição de atuadores vem sendo ampliado em diversas áreas científicas, como por exemplo, em sistemas eletromecânicos, controle de vibrações, indústria civil, aeronáutica e também na medicina. Na área médica, existem vários exemplos de atuadores com memória de forma, tais como o tubo intestinal longo (LIT) apresentado na Fig. 2.3, desenvolvido para utilização no tratamento não operativo de obstrução intestinal. O atuador desenvolvido por (HAGA et al, 2005) é composto por um tubo de silicone, polímeros de ligação e uma mola helicoidal com memória de forma, onde o médico pode controlar a direção de flexão do eixo de rotação. Esse controle acontece com a passagem de uma corrente elétrica na mola de LMF. 8 Figura 2.3 – Endoscopia utilizando LMF como atuador. (HAGA et al, 2005) A indústria aeronáutica também tem utilizado protótipos de estruturas flexíveis inteligentes atuadas por LMF. A empresa Lockheed Martin desenvolveu um protótipo de aerofólio flexível atuado por fios de LMF, com o objetivo de substituir os flaps atualmente utilizados em aviões. Os fios atuadores são aquecidos pela passagem de corrente elétrica externa. Primeiramente, o aerofólio encontra-se numa posição neutra, sem atuação. Depois, o atuador é aquecido, encurtando o seu tamanho e puxando para baixo a parte traseira do aerofólio. Neste caso, quando o atuador esfria, a parte traseira volta para a posição de neutralidade. Figura 2.4 – Aerofólio com LMF. (LOCKHEED MARTIN, 2006) Os níveis de ruído gerado por turbinas durante a decolagem e a aterrissagem são regulamentados em todo o mundo. Para reduzir este tipo de ruido, projetistas estão modificando a borda de saida da turbina dos aviões para uma forma em “V” ou triangular, com o intuito de misturar os gases de exaustão (Fig 2.5). Mais recentemente, componentes de LMF estão sendo utilizados para reduzir ainda mais os níveis de ruido em aviões 9 (MABE et al, 2006), conforme indica a Fig. 2.5. Nesta aplicação as vigas de LMF dobram as bordas em “V” durante o vôo a baixa altitude e baixa velocidade de vôo, aumentando assim a mistura de gases e reduzindo o ruído gerado. Durante velocidades e altitudes de cruzeiro, os componentes de LMF esfriam, alinhado a forma de “V” que resulta no aumento do desempenho do motor. Figura 2.5 – Avião da Boeing com turbina de geometria variável do elemento de descarga de gases (MABE et al, 2006) Um tipo comum de atuador com memória de forma, consiste em colocar uma mola de LMF balanceada contra uma mola de material convencional de modo que quando o dispositivo é aquecido, a mola de LMF vence a resistência da mola convencional, empurrando um pistão em uma determinada direção. Por outro lado, quando o dispositivo é resfriado, a mola com memória de forma sofre uma transformação de fase, sendo comprimida pela ação da mola convencional, o que empurra o pistão na direção oposta. Este tipo de atuador é apresentado esquematicamente na Fig. 2.6 e tem inspirado um grande número de aplicações. Mola LMF Mola comum (a) esfriando (b) aquecendo Figura 2.6 – Atuador com mola LMF. (Adaptado de HODGSON & BROWN, 2000) 10 2.3 ABSORVEDORES DE VIBRAÇÃO COM RIGIDEZ VARIÁVEL Os absorvedores dinâmicos e amortecedores de massa sintonizados são os principais dispositivos para aplicações de controle de vibrações estruturais. O TVA (Tuned Vibration Absorber) ou absorvedor de vibrações sintonizado é um sistema clássico de controle passivo de vibrações, conforme ilustrado na Fig. 2.7-a (INMAN, 2001). Este sistema atenua bastante as vibrações do sistema primário. Um absorvedor dinâmico passivo trabalha eficientemente em freqüências de projeto prédeterminadas, como mostrado na Fig. 2.7-b, onde os níveis de vibração numa região de ressonância podem ser atenuados para valores próximos a zero, onde a relação entre a freqüência de excitação e freqüência natural é próxima da unidade. 3 c M Massa base k Massa m absorvedora Amplitude normalizada 2.5 K 2 1.5 1 0.5 0 0 0.5 1 1.5 Relação de frequencias 2 (a) Absorvedor de Vibrações (b) Magnitude dos deslocamentos da massa Sintonizado (TVA) primária versus a relação de freqüências Figura 2.7 – Absorvedor de vibrações sintonizado (TVA) e sua resposta em freqüência. (Adaptado de INMAN, 2001) No entanto esta solução para redução nos níveis de vibração não pode ser usada em casos de freqüências de excitação desconhecidas ou variáveis. Esta dificuldade pode ser resolvida se o sistema se adaptar às freqüências de excitação. Esta adaptação pode ser realizada com a incorporação de elementos atuadores, transformando desta forma o sistema em um ATVA (Adaptive Tuned Vibration Absorber) ou absorvedor de vibrações sintonizado adaptativo (Fig. 2.8). 11 Figura 2.8 – Absorvedor de vibrações sintonizado adaptativo. (NWOKAH e HURMUZLU, 2001) Neste tipo de sistema, além dos componentes comuns dos absorvedores de vibração, existe um atuador que interfere nas amplitudes de vibração. Este atuador deve estar aliado com um sistema de controle com o intuito de melhorar a resposta em relação aos absorvedores convencionais. NWOKAH e HURMUZLU (2001) mostraram numericamente a redução significativa dos níveis de vibração na região em torno da freqüência natural da massa principal, quando da aplicação de um controle realimentado. PAULA e SAVI (2008) apresentaram uma discussão sobre a utilização de um elemento com LMF para dissipar energia em sistemas vibratórios. Neste trabalho foram simulados e comparados os sistemas de controle de vibração TVA e ATVA, onde este último apresentava um elemento de LMF. A Fig. 2.9 exibe um dos resultados da simulação que compara os sistemas TVA e ATVA com LMF. Os resultados apresentados indicam que as ligas com memória de forma possuem um grande potencial no controle de vibrações através da variação da temperatura de um elemento do tipo resultando em menores amplitudes de vibração. 12 (a) TVA (b) ATVA-LMF Figura 2.9 – Resposta do sistema primário excitado na primeira freqüência (PAULA e SAVI, 2008) DIAS e CUNHA Jr. (2008) conceberam e simularam numericamente um ATVA usando LMF. As simulações foram realizadas para um sistema com dois graus de liberdade. Neste caso, variou-se a freqüência natural do sistema secundário com o intuito de sintonizar com a freqüência natural do sistema primário para reduzir os níveis vibrações deste último. O elemento rígido de ligação entre os sistemas primário e secundário foi uma mola de LMF. Através da variação da temperatura foi possível a variação da freqüência natural da massa secundária, resultando numa diminuição das amplitudes de vibração. HOLDHUSEN (2008) fez uso do SSA (State-Switched Absorber) para controle de vibrações, onde o SSA é uma variação do ATVA. Segundo o autor, o SSA é um sistema capaz de mudar rapidamente entre as freqüências de ressonância quando comparado com os clássicos TVA´s. O experimento elaborado considerou uma massa base apoiada sobre quatro molas helicoidais, e uma massa absorvedora apoiada sobre molas em cima da massa principal, conforme esquematizado na Fig. 2.10. O estudo considera que a performance do SSA para reduzir vibrações está baseada em um sistema onde a rigidez varia assumindo dois valores, que são comutados nas situações de ligado e desligado. Na situação em que o comutador da mola está desligado, a mola com rigidez adicional (kb), trabalha livremente no orifício do comutador. Na situação que o comutador esta ligado, a extremidade superior da mola kb é fixada ao comutador, conferindo uma nova freqüência. 13 Comutador da mola Rigidez adicional kb Massa absorvedora m Massa base ka M k k Figura 2.10 – Absorvedor de estado comutado. (Adaptado de HOLDHUSEN, 2008) A Fig. 2.11 mostra que quando o estado de comutação é habilitado no sistema, a vibração em termos de amplitudes da base é reduzida em torno de 55% na freqüência crítica. Esta mesma analogia pode ser utilizada com os materiais com memória de forma, onde a mola possua a capacidade de rigidez variável. Cada evento de comutação é representado por “+” na figura. Figura 2.11 – Aceleração da base para excitação forçada de 4,5 e 5,5 Hz (HOLDHUSEN, 2008) 14 WILLIAMS et al (2005), coletaram dados experimentais de um sistema ATVA com dois graus de liberdade. O sistema era formado por duas vigas, sendo uma de aço (sistema primário) e outra viga composta por três pares de barras circulares de LMF (sistema absorvedor), com massas na extremidade de cada viga, conforme mostrado na Fig. 2.12. Figura 2.12 – ATVA LMF com sistema primário montado sobre o shaker. (WILLIAMS et al, 2005) O sistema mostrado na Fig. 2.12 foi excitado com o ATVA e sem o mesmo, apenas para fins de comparação entre as duas situações. A viga de LMF foi aquecida por meio de corrente elétrica e o resfriamento se deu por convecção natural. Um dos resultados experimentais, ilustrado na Fig. 2.13, mostra que as amplitudes do sistema primário reduziram em 70% a amplitude de aceleração quando aplicada uma corrente elétrica para aquecimento da viga de LMF. Figura 2.13 – Aceleração do sistema primário para mudanças de freqüência de excitação em degrau : sem absorvedor, controlado com LMF (WILLIAMS et al, 2005) 15 LIU et al (2005), fizeram um estudo teórico de um controle on-off de amortecimento tomando como base um sistema massa-mola-amortecedor com um grau de liberdade. Foram utilizados dois elementos Voigt em série representando a rigidez e amortecimento do sistema. A simulação comparou o sistema proposto com os sistemas convencionais de isolação de vibrações. Os resultados apresentados no artigo mostraram que o sistema de controle on-off de variação do amortecimento tiveram melhores resultados que o sistema convencional. REIS et al (2010) realizaram experimentos com uma viga em balanço constituída de resina epóxi e 5 fios de LMF, denominada de SMAHC (Shape Memory Alloys Hybrid Composite). Os fios foram ativados progressivamente através de corrente elétrica para atenuar os níveis de vibração. Uma representação esquemática do aparato experimental é mostrado na Fig. 2.14. Figura 2.14 – Composição experimental para obtenção da resposta dinâmica da viga SMAHC. (REIS et al, 2010) A atrativa funcionalidade das LMF foi demonstrada como mecanismo de enrijecimento adaptativo para uma viga compósita nas diversas combinações de ativação dos fios de LMF. A Fig. 2.15 mostra resultado com redução das amplitudes de 60% quando da ativação dos fios, nos modos de vibração verificados no experimento. 16 Figura 2.15 – Resposta dinâmica da viga SMAHC. (REIS et al, 2010) HEINONEN et al (2008) fizeram uso de tubos de aço como parte do elemento de rigidez, onde a relação diâmetro/comprimento foi de 8 para 1. Diametralmente no tubo foi instalado um fio de LMF, onde este controlava as deformações transversais através da mudança das condições de contorno resultando na mudança de rigidez do tubo (Fig. 2.16). Nesta configuração foi observado nos testes dinâmicos que a rigidez transversal do tubo aumentou em até 4,5 vezes com a ativação do fio de LMF de 23ºC a 70ºC. Figura 2.16 – Controle da deflexão transversal em tubos de aço. (HEINONEN et al ,2008) LAGOUDAS et al (2004), montaram um sistema passivo de controle de vibrações com dois graus de liberdade, mostrado na Fig. 2.17. O experimento teve por objetivo mostrar como se apresentam os níveis de vibração em estruturas quando elementos de LMF são utilizados para amortecimento. Neste caso os elementos de LMF foram utilizados na forma de tubos conforme o arranjo esquematizado na Fig. 2.17-b. No experimento os 17 tubos foram submetidos a cargas de compressão e analisada a variação do amortecimento e a resposta da massa principal com deslocamentos na direção y. Os resultados obtidos mostram que a transmissibilidade foi reduzida em até 25% a depender da configuração ou número de tubos de LMF utilizados. x Massa y x Tubos de LMF y Tubos de LMF shaker (a) (b) Figura 2.17 – Sistema de isolação massa-mola de LMF. (Adaptado de LAGOUDAS, 2004) No que se refere ao controle de vibrações em máquinas rotativas, as LMF também se fazem presente, como mostrado no estudo de HE et al (2007). O estudo consiste no controle de vibrações de um rotor desbalanceado montado sobre mancais de rolamento, visando a redução das amplitudes de vibração na passagem pelas freqüências de ressonância do sistema, onde o elemento de rigidez de um dos mancais é constituído de molas helicoidais de LMF, como representado na Fig. 2.18. O mancal de rigidez variável é composto por 12 molas de LMF distribuídas em grupo de 3 a cada 90º em torno do suporte do rolamento. No interior de cada mola existe uma barra que é aquecida por meio de corrente elétrica. Este aquecimento provoca uma mudança nos níveis de vibração do eixo quando o sistema passa pelas freqüências críticas. Os autores concluíram que é possível controlar vibrações em máquinas rotativas usando este conceito. 18 Ya Xa L ca Y L1 X ka m e Disco Figura 2.18 – Esquema de sistema dinâmico eixo-rotor para controle de vibrações com mancal LMF. (Adaptado de HE et al, 2007) SILVA e MESQUITA (2009) mostraram resultados de simulação numérica de um controle ativo de vibrações em máquinas rotativas ou rotores. Um eixo em rotação considerado no trabalho está montado sobre dois mancais cuja rigidez apresenta o comportamento das ligas com memória de forma. Com este comportamento, foi simulado um eixo com dois rotores desbalanceados e verificadas as amplitudes de vibração em alguns modos de vibração. Observou-se que o controle ativo reduziu os níveis de vibração em algumas situações estudadas; 99% para o primeiro rotor e 62% para o segundo rotor quando comparados com um sistema idêntico, mas sem controle de rigidez nos mancais. Mesmo diante destes exemplos de bons resultados, as ligas com memória de forma apresentam uma limitação devido à histerese de temperatura que ocorre exatamente nos ciclos de aquecimento e resfriamento do material, onde esta diferença de temperatura geralmente varia de 10 a 50ºC. Enquanto que a histerese de temperatura nas LMF é uma característica positiva em algumas situações, como, por exemplo, em aplicações odontológicas, é indesejável no controle de vibrações. As curvas mostradas nas Figuras 2.19-a e 2.19-b representam o comportamento geral da deformação em função da temperatura das ligas com memória de forma. A histerese de temperatura destas ligas está representada por ∆T. Ligas ortodônticas apresentam uma histerese grande, pois devem deformar pouco diante de grandes variações de temperatura, como mostra a Fig. 2.19-a. A deformação é pequena durante o resfriamento partindo da temperatura de austenita final (AF) para martensita inicial (MS). Esta situação não é interessante para o controle de vibrações, 19 porque este controle está associado ao controle de temperatura. Quanto mais próximas as temperaturas de transformação (∆t pequeno), mais eficiente será o controle de vibrações. Portanto, uma histerese pequena (Fig. 2.19-b) é mais adequada no controle de vibrações. Deformação Deformação Aquecimento Resfriamento Fase R ∆t ∆t MF AS AF MS Temperatura Temperatura (a) (b) Figura 2.19 – Curvas típicas de deformação versus temperatura de ligas NiTi. MF AS MS AF Uma das características das ligas com memória de forma é a presença de uma terceira fase, além das fases martensita e austenita como mostrado na Fig. 2.19. A fase R, ou fase Romboedral, pode ocorrer em ligas de Níquel-Titânio dependendo do tratamento térmico recebido, como observaram UCHIL et al. (1998) e LEI e WU (2008). O efeito memória de forma na fase R é pequeno, no entanto há uma significativa variação do módulo de elasticidade do material também documentado por LEI e WU (2008). Outro ponto bastante interessante se deve ao fato que a fase R acontece com pequena ou nenhuma histerese de temperatura. LEI e WU (2008) demonstraram ainda que a histerese de temperatura é da ordem de 2ºC em contraste com uma histerese de 20ºC em uma amostra idêntica, porém com tratamento térmico diferente. PELOSIN e RIVIERE (1998) apresentaram amostras sem ocorrência de histerese na fase R. A baixa histerese da fase R é uma característica atrativa do uso de ligas de Níquel-Titânio para aplicações de controle de vibrações, utilizando-se neste caso a variação do módulo de elasticidade do material. 20 2.4 FUNDAMENTOS DAS LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA A descoberta de martensita em aços em torno de 1890 por Adolf Martens foi um passo importante para a eventual descoberta de ligas de memória de forma. A transformação martensita foi talvez o fenômeno metalúrgico mais estudado nos anos 1900. A transformação martensita, como observado no sistema Fe-C, foi estabelecido como um processo irreversível. O conceito de transformação martensítica termo elástica, que explica a reversibilidade martensítica, foi introduzida em 1949 por KURDJMOV e KHANDROS (1949), baseado nas observações experimentais da estrutura martensítica reversivelmente termo elástica nas ligas CuZn e CuAl. Em 1953, a ocorrência da transformação martensítica termo elástica foi demonstrada também em outras ligas como InTi. A transformação martensítica reversível e as ligas que apresentam esta característica ficaram sem uso até 1963. O avanço para aplicações de engenharia ocorreu com a descoberta do Níquel-Titânio por BUEHLER (1963) juntamente com a equipe de trabalho, ao estudar materiais que seriam úteis para a proteção do calor. Percebeu-se que, além de suas boas propriedades mecânicas, comparável com alguns metais comuns da engenharia, o material também possuía uma capacidade de recuperação de forma. Seguindo esta observação, o termo "Nitinol" foi denominado para este material (NiTi) em homenagem a sua descoberta no Naval Ordnance Laboratory (NOL). O termo Efeito Memória de Forma (Shape Memory Effect – SME) foi dado devido ao comportamento de recuperação da forma. A descoberta do Nitinol reascendeu as pesquisas em torno das LMF. Os efeitos do tratamento térmico, a composição e a microestrutura foram amplamente investigados, começando a ser entendida neste período (JACKSON, 1972). Em 1965, estudos mostraram que a adição de um terceiro elemento de liga como Co ou Fe no sistema NiTi causa uma grande diminuição nas temperaturas de transformação (WANG, et al., 1965). As novas ligas inspiradas na primeira aplicação comercial, conhecida como Cryofit, foram utilizadas em acoplamento de tubos de aviões F14 (SCHETKY, 1979, WAYMAN, et al, 1989). As temperaturas de transformação para o Cryofit são tão baixas que, para impedir que a atuação ocorra antes da montagem, os acoplamentos eram transportados em nitrogênio líquido. A continuação da pesquisa para resolver o problema da atuação da liga antes da montagem levou ao desenvolvimento do 21 sistema NiTiNb em 1989, que era mais fácil de manusear, devido à sua maior histerese de temperatura. Ligas com Memória de Forma com transformações em alta temperatura, como TiPd, TiPt e TiAu (temperaturas acima de 100ºC), foram desenvolvidas (DOONKERSLOOT, 1970). MELTON e MERCIER, enquanto estudavam as propriedades de fadiga em 1978, mostraram que adicionando Cobre ao material não há mudanças consideráveis nas temperaturas de transformação. Depois em 1999, (MIYAZAKY, et al, 1999) mostrou que ligas de NiTiCu apresentam maior tempo de vida sujeito a fadiga. A associação entre a resistência à fadiga e o baixo custo do material torna esta liga adequada para uma variedade de aplicações na engenharia. Desde a descoberta inicial do Nitinol em 1963, muitas aplicações comerciais tem sido desenvolvidas. Durante os anos 70, muitas aplicações biomédicas surgiram, mas foi na década de 90 que os stents foram feitos com o intuito comercial. Neste período, LMF tem encontrado outras aplicações como em ventilação, ar condicionado, cabos conectores eletrônicos, válvulas e uma variedade de outros produtos. Além disso, na última década, a demanda para controle e atuação nas condições de temperatura elevada, impulsionada pelas indústrias aeroespacial e de petróleo, reascendeu o interesse no desenvolvimento de HTSMAs (High Temperature Shape Memory Alloys). Finalmente, ligas que apresentam características de mudança de forma como as LMF, mas que atuam sob influencia de um campo magnético, vem sendo pesquisadas recentemente (ULLAKKO, et al, 1996 e KARACA, et al, 2006). As ligas com memória de forma magnética vêm se tornando fortes candidatas para utilização em equipamentos de atuação em altas freqüências de vibração mecânicas. 2.4.1. Transformação de fases nas ligas com memória de forma Dentro de uma faixa de operação típica, uma LMF tem duas fases, cada uma com uma estrutura cristalina diferente e, portanto, diferentes propriedades. Uma fase acontece a alta temperatura, chamada de Austenita (A) e outra a baixa temperatura, chamada de Martensita (M). A austenita apresenta uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado (Fig. 2.20-a), diferentemente da estrutura martensitica (ortorrômbica ou monoclínica). A transformação de uma fase para outra não ocorre por difusão de átomos, mas através de distorção por cisalhamento. Tal transformação é conhecida como transformação martensitica. Cada cristal de Martensita formado pode ter diferentes direções de 22 orientação, chamadas de variantes. Um conjunto de variantes martensíticas pode existir em duas formas: martensita maclada (MT), a qual é formada através de uma combinação de variantes de martensita “auto-acomodadas” (Fig. 2.20-b), e martensita demaclada ou reorientada em que há uma variante martensitica especifica dominante (MD) mostrada na Fig. 2.20-c (após carregamento mecânico). A reversibilidade de transformações da fase Austenita para Martensita e vice versa forma a base para o comportamento único das LMF. (a) Austenita final (b) Martensita inicial (c) Martensita final Figura 2.20 – Estruturas cristalinas da LMF As temperaturas que implicam nas transformações de fase das ligas com memória de forma, são estreitamente ligadas à composição da liga. Existem quatro temperaturas características e determinantes no fenômeno de mudança de fase. Considere uma liga com memória de forma sem carregamento mecânico e no estado completamente austenitico, onde a temperatura é indicada por AF, ou temperatura de austenita final (Fig. 2.21-a). Nestas condições a liga é submetida a um resfriamento, onde as primeiras variantes de martensita começam a surgir quando a temperatura atinge o estado de martensita inicial indicada por MS (Fig. 2.21-b). Com a continuação do resfriamento, as variantes de martensita aumentam em número, chegando à totalidade na liga na temperatura de martensita final ou MF (Fig. 2.21-c). Neste estágio, a transformação é completa e o material está completamente na fase de martensita maclada. Similarmente, durante o aquecimento, a transformação reversa inicia na temperatura de austenita inicial AS (Fig. 2.21-d) e a transformação é completada na temperatura de autenita final AF (Fig. 2.21-e). 23 AF MS (a) MF (b) AS (c) AF (d) (e) Figura 2.21 – Transformação da estrutura cristalina sob variação de temperatura Se um carregamento mecânico é aplicado no material quando o mesmo se encontra na fase de martensita maclada ou na temperatura MF (Fig. 2.22-b), é possível demaclar (reorientar) a martensita através da reorientação de certo número de variantes. O processo de demaclagem resulta em uma mudança de forma macroscópica, onde a deformação Região pseudo-elástica permanece quando o carregamento é retirado (Fig. 2.22-c). MF MF (a) MF (b) AF AS (c) (d) (e) Figura 2.22 – Transformação da estrutura martensítica sob carregamento mecânico 24 Um aquecimento subseqüente na LMF para uma temperatura acima de AF irá resultar na transformação de fase reversa, ou seja, de martensita maclada para austenita (Fig. 2.22-e) e levará o material para forma original (Fig. 2.21-a). Resfriando de volta até uma temperatura abaixo de MF levará o material para formação de martensita maclada novamente sem mudança de forma observada. O processo descrito acima é denominado Efeito Memória de Forma Simples(Shape Memory Effect). 2.4.2. Efeito memória de forma Uma Liga com Memória de Forma apresenta Efeito de Memória de Forma (EMF) quando a mesma é deformada na fase martensita e depois retirada a força de deformação, em uma temperatura abaixo de MS. Quando é aplicado um aquecimento subseqüente acima de AF a LMF irá retornar a forma original. A natureza do EMF pode ser melhor entendida através de um diagrama tri-axial de Tensão-Deformação-Temperatura, como mostrado na Fig. 2.23. Esta figura representa os dados experimentais para uma amostra de Ni-Ti testada sob um carregamento axial. A tensão σ é a tensão axial aplicada na LMF. A deformação correspondente a esta tensão é representada pela sigla ε. Partindo da fase em que o corpo se encontra em baixa temperatura, ou na fase martensita maclada, (ponto B), é aplicada uma tensão para deformação a temperatura constante. Essa tensão chega ao nível de tensão inicial (σs), que inicia o processo de reorientação, resultando no aparecimento de variantes martensíticas favoravelmente orientadas e outras variantes menos orientadas. O nível de tensão para reorientação é muito inferior a tensão de deformação plástica verdadeira da martensita. O processo de surgimento de martensita demaclada é completado quando o nível de tensão chega a σf, que é caracterizado pelo final do platô no diagrama σ-ε . O material é então descarregado elasticamente de C para D, mantendo o estado de martensita demaclada. 25 σ(MPa )800 600 400 C σS 200 σf B As 2% 50 4% D Af A T(ºC) 100 F E 6% ε Figura 2.23 – Diagrama tensão-deformação-temperatura típico de uma LMF Sob aquecimento e na ausência de tensão, a transformação reversa se inicia quando a temperatura atinge AS (ponto E) e é completada na temperatura AF (ponto F), onde acima deste o material está completamente austenítico. Na ausência de uma deformação plástica permanente gerada durante a demaclagem, a forma original da peça é obtida (ponto A). A deformação recuperada devido à transformação de fase da martensita para a austenita é denominada de deformação de transformação (εt). Um resfriamento subseqüente irá resultar na formação de variantes de martensita maclada de auto-acomodação sem mudança de forma associada, e o ciclo completo pode ser repetido. O fenômeno descrito acima é chamado de efeito memória de forma simples, ou simplesmente EMF, porque a recuperação da forma é realizada somente durante o aquecimento, após o material ter sido deformado por uma carga mecânica aplicada. 2.4.3 Comportamento das LMF sob ciclagem termomecânica Até o momento foi comentado que a recuperação da forma ocorre apenas por um caminho: aquecimento. Algumas vezes uma Liga com Memória de Forma pode exibir mudança de forma sem carregamento mecânico, mas sujeito a um carregamento cíclico térmico. Este comportamento é chamado de duplo efeito memória de forma (TWSME). O TWSME pode ser observado em uma LMF que foi submetida a repetidos ciclos termomecânicos, processo este também conhecido como “treinamento”. Um número 26 grande destes ciclos termomecânicos pode induzir mudanças na microestrutura, o qual causa mudanças macroscópicas permanentes no comportamento do material. Vamos considerar o caso de um material que foi submetido a diversos ciclos térmicos idênticos (aquecimento e resfriamento), bem como a um carregamento constante de tensão (Fig. 2.24). Durante o primeiro ciclo térmico, só uma parte da deformação gerada no resfriamento é recuperada no aquecimento, restando assim alguma deformação plástica sob carga gerada no ciclo. Uma pequena deformação permanente aparece depois que cada ciclo térmico é completado. A adição de uma deformação permanente associada a cada ciclo consecutivo começa a diminuir gradualmente até que esse acúmulo se estabiliza, representado na Fig. 2.24 como ciclo final. Figura 2.24 – Carregamento térmico cíclico (50 ciclos) de um fio de LMF Ní-Ti sob tensão constante de 150MPa (MILLER e LAGOUDAS, 2000) Um comportamento semelhante pode ser observado no caso de uma ciclagem mecânica repetitiva no regime pseudoeleástico, até que a saturação ocorra (Fig. 2.25). O comportamento TWSME também pode ser obtido através da adoção de diversas seqüências de treinamento (CONTARDO, et al, 1990 e MILLER e LAGOUDAS, 2000). O efeito duplo de memória de forma é resultado de defeitos introduzidos durante o treinamento. Estes defeitos criam um estado permanente de tensão residual interna, facilitando a formação de variantes de martensita quando a LMF é resfriada na ausência de um carregamento externo. Se o estado de tensão interna é modificado por qualquer motivo 27 (por exemplo, trabalho em altas temperaturas ou sobrecarga mecânica), o TWSME será alterado (RODRIGUEZ e GUENIN, 1990). Figura 2.25 – Resposta pseudo-elástica de um fio de NiTi com AF=65ºC, ciclado na temperatura de 70ºC (MILLER e LAGOUDAS, 2000) 2.4.4 Métodos de determinação das temperaturas de transformação em ligas com memória de forma Calorimetria exploratória diferencial (DSC) A transformação da martensita para a austenita e vice-versa é associada com a liberação e absorção de calor latente. O calor de transformação e as temperaturas de transformação associadas podem ser determinados usando um Calorímetro Diferencial de Varredura (Differential Scanning Calorimeter - DSC). O DSC é uma técnica de análise térmica que pode ser usada para medir as temperaturas de transformação de fase, o calor latente devido à transformação, e a capacidade térmica das diferentes fases do material. Esta técnica é amplamente usada para determinar as temperaturas de transformação das 28 LMF com a vantagem de utilizar uma pequena quantidade do material. O princípio de operação do DSC é a medição da taxa na qual a energia térmica fornecida para a amostra para manter um taxa constante de aquecimento ou resfriamento. O dispositivo é chamado de diferencial, porque tem a capacidade de monitorar a resposta de duas amostras e subtrair os resultados. No caso, as amostras se referem a dois recipientes, um vazio (referência) e outro com o material a ser analisado (Fig. 2.26). O material da amostra pode ser encapsulado em um ambiente inerte para evitar oxidação. Recipientes LMF T (ºC) T (ºC) Aquecedores Figura 2.26 – Representação esquemática de um DSC A Fig. 2.27 mostra uma resposta típica de DSC, que corresponde a potência (mW) requerida para manter constante a taxa de aquecimento ou resfriamento da amostra da LMF em função da temperatura. Quando a amostra é aquecida a partir do estado martensitico, a transformação austenítica se inicia em AS. A reação endotérmica durante a transfromação reversa requer uma potencia térmica adicional fornecida a amostra para manter a taxa de aquecimento constante. Esta mudança na potência fornecida como um aumento na temperatura é registrado com um pico durante o aquecimento. Um pico similar também é verificado no processo de resfriamento no qual a amostra sofre uma transformação exotérmica da fase austenitica para fase martensítica. As temperaturas de transformação são obtidas através de linhas traçadas tangencialmente sobre as curvas do DSC. 29 Figura 2.27 – Curva esquemática de um DSC para uma LMF mostrando as curvas de transformação e o calor latente associado durante o aquecimento e resfriamento (LAGOUDAS, 2008) As temperaturas de transformação podem ser deslocadas e/ou aumentadas devido a energias mecânicas armazenadas no material (i.e. deformações introduzidas durante o processo de corte), ou até mesmo causar o surgimento de uma fase intermediária. Uma curva de DSC de uma LMF Ni-Ti rica em Níquel é mostrada na Fig. 2.28. Observa-se uma fase intermediária chamada de fase R na curva de resfriamento. Figura 2.28 – Curva DSC para uma liga Ni-Ti rica em Níquel mostrando dois estágios de transformação (LAGOUDAS, 2008) Teste de variação de resistência elétrica A medição da resistência elétrica (RE) pelo método dos quatro terminais é um procedimento experimental que também permite obter as temperaturas de transformação das LMF. Para aplicação deste método uma amostra de LMF é fixada em quatro fios eqüidistantes por meio de solda a ponto. Nos dois fios das extremidades é aplicada uma 30 corrente contínua estabilizada e fios internos são utilizados para captar a queda de tensão durante a ciclagem térmica. O conjunto é mergulhado em um banho térmico contendo óleo de silicone, onde a amostra é aquecida até temperaturas da ordem de 150ºC. Na Fig. 2.29 é mostrado um esquema do teste de variação de RE em função da temperatura. Figura 2.29 – Esquema do teste de RE. Durante o aquecimento da amostra, a fase martensítica se transforma para a fase austenítica, gerando variações importantes na diferença de potencial na LMF. Os dados da temperatura e da diferença de potencial são coletados por um sistema de aquisição de dados que permite traçar uma resposta gráfica da RE em função da temperatura. Com o auxílio do método das tangentes são determinadas as temperaturas de transformação. Um resultado típico de um teste de RE de uma liga LMF NiTi (AIROLDI et al, 1997), é mostrado na Fig. 2.30. Observa-se que as temperaturas nas fases rombohedral inicial e final são respectivamente, RS=60ºC e RF=40ºC. E a temperatura de austenita final igual a AF=80ºC, respectivamente. 31 Figura 2.30 – Resistência elétrica normalizada vs. Temperatura para liga NiTi 2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Fica claro diante do exposto que as ligas com memória de forma oferecem uma grande variedade de aplicações em diversas áreas especialmente quando estas são inseridas em estruturas leves, e atuam de forma a controlar deformações e aplicar forças adicionais no sistema primário. Na área de controle de vibrações utilizando estes materiais também segue uma linha de pesquisa bastante atrativa, seja na simulação de dispositivos absorvedores sintonizados com as freqüências de excitação, seja em novos experimentos que possam gerar patentes com desenvolvimento tecnológico. Sendo assim, o objetivo deste trabalho vai ao encontro dos pesquisadores desta área, conseguindo aliar o estudo de controle de vibrações com as aplicações das ligas com memória de forma. 32 CAPÍTULO III PROJETO, FABRICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE MOLAS HELICOIDAIS COM MEMÓRIA DE FORMA 3.1 INTRODUÇÃO Em um projeto estrutural que está sujeito a carregamentos dinâmicos, o valor da freqüência natural, definida como ωn = k m , depende da rigidez do elemento sobre o qual o equipamento está suportado, como também da massa principal do equipamento. Sendo assim, se um equipamento está montado sobre elementos de rigidez controlável, é possível reduzir os níveis de vibração deste equipamento, através de ajustes deste parâmetro. Por outro lado, a alteração da massa nem sempre é uma boa opção de projeto, especialmente quando a solução resulta num aumento de peso da estrutura. Conforme mencionado anteriormente, o controle de rigidez pode ser aplicado utilizando alguns dispositivos, sejam eles pneumáticos, eletromagnéticos, ou ainda utilizando atuadores de materiais com memória de forma. Dentre os principais tipos de elementos em LMF disponíveis para fins de controle de vibrações, uma boa alternativa é a utilização de molas helicoidais confeccionadas em material com memória de forma que apresenta variação de rigidez, quando há variação de temperatura. A relação entre a rigidez máxima e mínima nas molas de LMF pode chegar a 2,8 vezes (SRINIVASSAN, 2001). Diante deste quadro, uma possível alternativa de controle de vibrações é a utilização de dispositivos contendo molas helicoidais em LMF com o objetivo de mudar a freqüência natural do sistema por meio de aquecimento/resfriamento das molas quando a freqüência de excitação do equipamento estiver próxima da freqüência natural. 33 Dentre as diversas aplicações dos materiais com memória de forma, o controle de vibrações em estruturas é um dos mais estudados (LAGOUDAS, 2008). Conforme comentado, este controle de vibrações se baseia principalmente na alteração da rigidez estrutural do sistema vibratório (CHOI e HWANG, 2000; HOLDHUSEN e CUNEFARE, 2000; TAO e FRAMPTON, 2006). 3.2. PROJETO E FABRICAÇÃO DE MOLAS HELICOIDAIS COM MEMÓRIA DE FORMA A rigidez de uma mola helicoidal depende de parâmetros como geometria e do módulo de elasticidade do material envolvido na fabricação. No caso de molas feitas de LMF, o módulo de elasticidade pode variar com o aumento da temperatura. KHAJEPOUR et al(1998) mostraram que o modulo de elasticidade da LMF depende das frações de martensita e austenita, e que no caso de molas helicoidais o módulo de elasticidade aumenta em aproximadamente três vezes com o aumento da temperatura (SRINIVASSAN, 2001). Na área de projetos mecânicos, molas são elementos mecânicos usados para exercer forças, absorver impactos e para armazenar energia elástica. As molas podem ser classificadas tanto quanto à sua forma como também pelo tipo de esforços a que são solicitadas. Desta forma, temos molas helicoidais, molas de disco, molas de lâminas, entre outras. Neste trabalho, os estudos foram desenvolvidos utilizando molas helicoidais submetidas à tração e compressão, situação bastante comum em sistemas vibratórios. Consideremos uma mola helicoidal com diâmetro efetivo D, fabricada em fio circular de diâmetro d, submetida à ação de uma força de compressão F, conforme ilustrado na Fig. (3.1). O efeito da força cisalhante F também impõe um momento de torção Mt, definido como o produto entre F e o raio do enrolamento representado por D/2. 34 Figura 3.1 – Mola helicoidal de compressão Independente do tipo de mola ou do material de fabricação, todas elas possuem uma constante elástica comumente representada pela letra k. No caso de molas helicoidais cilíndricas e sob compressão, o valor da rigidez k é definido como a razão entre a força aplicada pelo deslocamento resultante da aplicação desta força: F y (3.1) d 4 .G k= 8.D 3 .N (3.2) k= Ou ainda: onde: G é o módulo de elasticidade transversal do material N é o número de espiras ativas As molas podem apresentar rigidez linear ou não-linear, sendo mais comum aplicações para molas lineares. No entanto, para o caso de molas em LMF, certamente as respostas são não-lineares, uma vez que o módulo G varia com a temperatura. Para o caso de molas feitas com LMF de Níquel-Titânio, existem faixas de temperaturas específicas nas quais o fenômeno é evidenciado. Desta forma, para melhor entendimento do assunto, foi fabricada uma mola com estas propriedades, onde houve uma 35 caracterização termomecânica da LMF e em seguida a mola foi montada em um sistema dinâmico vibratório. A escolha das dimensões da mola foi baseada na faixa de freqüência que o motor excitador atua (0 a 60 Hz) e na massa principal do sistema (≈ 0,5 Kg). Como o sistema deve entrar em ressonância para se verificar os efeitos do atuador de LMF na redução dos níveis de vibração, foi escolhida uma faixa de freqüências naturais de 12 Hz a 20 Hz. Isto resultou em uma mola com um diâmetro efetivo de 12 mm e 9 espiras ativas. O fio da liga Ni-Ti (50%), identificada pelo fabricante como sendo liga M (Memory-Metalle GmbH©), tem 2,59 mm de diâmetro. A mola confeccionada é mostrada na Fig. (3.2). Figura 3.2 – Mola de LMF Ni-Ti 3.3. FAIXAS DE TEMPERATURAS DE TRANSFORMAÇÃO Para se obter as temperaturas de transformação das ligas com memória de forma o método utilizado foi o de calorimetria diferencial de varredura. Uma amostra de 0,05g (Fig. 3.3) foi retirada da mola de LMF confeccionada. 36 Amostra Figura 3.3 – Amostra da Liga de NiTi submetida ao ensaio de DSC. Essa amostra foi submetida a um ciclo térmico de aquecimento e resfriamento, onde foram medidas as quantidades de calor absorvida e liberada. A diferença entre as quantidades de calor em cada recipiente do equipamento (Fig. 3.4), revela o calor absorvido ou gerado da amostra. Durante este processo de medição são verificados picos exotérmicos (durante o ciclo de arrefecimento) e endotérmicos (para a transformação inversa, durante o aquecimento) que permitiram determinar o início e o final das transformações responsáveis, respectivamente, pela absorção ou pela liberação de calor. Recipientes Figura 3.4 – Amostra no DSC. A Figura 3.5 mostra o gráfico de DSC em função da temperatura. Por este gráfico verifica-se que as temperaturas de transformação direta são MS =22°C (temperatura de início da transformação martensítica), MP =12°C (temperatura de pico da transformação 37 martensítica) e MF=2°C (temperatura de fim da transformação martensítica) e as temperaturas de transformação reversa são AS=48°C (temperatura de início da transformação reversa), AP=57°C (temperatura de pico da transformação reversa) e AF=63°C (temperatura de fim da transformação reversa). As temperaturas de início e fim da transformação foram interpoladas, podendo apresentar pequenas variações para fora do intervalo tomado. Atualmente, é usual utilizar-se de temperaturas de pico da transformação que não apresentam erros de interpretação e, por esses pontos, pode-se observar que a histerese da transformação martensítica AP-MP é de 45°C. 4 Mf=2ºC Rf=34ºC HeatFloow [mW] 2 Ms=22ºC 0 Resfriamento Aquecimento Rs=51ºC -2 As=48ºC Af=63ºC -4 -6 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Temperatura [ºC] Figura 3.5 – Temperaturas de transformação obtidas pelo DSC. 3.4. MODELO PARA CÁLCULO DE RIGIDEZ VARIÁVEL De acordo com a Eq. (3.2), a rigidez de uma mola helicoidal depende de sua geometria e do material constituído, representado pelo módulo de elasticidade transversal. Um modelo matemático que descreve o comportamento da mudança de estado martensítico para austenitico (IKUTA et al, 1991) é apresentado na Eq. (3.3). É possível então fazer uma relação entre a rigidez e a temperatura em que se encontra uma mola de LMF: ξA = 1 6,2 A + AS 1 + exp . T − F 2 AF − AS (3.3) 38 Onde : ξA : é a fração de austenita da liga; AF: é a temperatura final da fase austenítica; AS: é a temperatura de início da fase austenítica; T: Temperatura da LMF. Como as LMF, durante o resfriamento, apresentam uma histerese de temperatura após um aquecimento até o estado completamente austenítico, de modo análogo, as frações de martensita na fase Rhombohedral podem ser determinadas durante o resfriamento conforme Eq. (3.4): ξR = 1 6,2 R + RS 1 + exp . T − F 2 RS − RF (3.4) Onde : ξR : é a fração de martensita da liga na fase Rhombohedral; RF: é a temperatura final da fase Rhombohedral; RS: é a temperatura de início da fase Rhombohedral; T: Temperatura da mola. No estado em que a fase R está completa (ξR =1 ou ξA=0), a rigidez da mola apresenta um valor mínimo, que será denotado por kmin. Esta fase ocorre em temperaturas inferiores a AS, tendo em vista que a estrutura interna do material nesta faixa de temperatura fornece um módulo de elasticidade mínimo. Para o estado completamente austenítico (ξR=0 ou ξA=1), a rigidez da mola apresenta um valor máximo, que será denotado por kmax. Esta fase ocorre em temperaturas acima de AF, o que resulta em um módulo de elasticidade máximo. Percebe-se então que a variação da rigidez do material se comporta de maneira distinta entre aquecimento e resfriamento, levando à Eq. (3.5) para a fase de aquecimento e à Eq. (3.6) para a fase de resfriamento da liga: 39 k LMF − A ( kmax − kmin ) = kmin + ( kmax − kmin ) − 6, 2 A +A . T − F S A −A 2 1 + e F S k LMF − R = k min (k max − k min ) + (k max − k min ) − 6,2 R + R . T − F S 2 RS − RF 1+ e (3.5) (3.6) Para verificar a validade do modelo, a mola de Ni-Ti foi submetida a um ensaio para determinação da rigidez em função da temperatura. Para isso foi usada uma máquina universal de ensaios da marca Instron®, onde na Fig. (3.6) é mostrada a mola montada no equipamento para o ensaio de compressão. Figura 3.6 – Mola de LMF montada para ensaio de compressão. No teste de rigidez, a mola foi submetida a 10 ciclos de compressão em cada temperatura de medição. A faixa de temperatura do teste variou entre 2°C e 71ºC, durante o aquecimento. O teste também foi aplicado para o resfriamento, começando em 71ºC e finalizando em 2ºC. Os resultados obtidos neste teste estão apresentados na Tab. (3.1) 40 Tabela 3.1 – Rigidez da mola LMF para o aquecimento e resfriamento Temperatura (ºC) 2 5 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44 47 50 53 56 59 62 65 68 71 Rigidez (N/m) Aquecimento Resfriamento 4766,8 4688,3 4580,9 4626,9 4661,4 4689,5 4611,6 4525,0 4446,7 4520,9 4520,3 4828,8 4311,3 4758,4 4414,8 4582,0 4295,9 4359,6 4400,4 4305,4 4370,1 4149,6 4164,1 4164,2 4208,0 4310,7 4149,8 4626,9 4222,4 5081,8 4092,1 5574,9 4120,8 5795,7 4828,2 5985,9 5659,5 6003,3 5916,7 5968,4 5847,9 6020,9 6004,2 6004,2 6102,0 6102,0 6103,5 6103,5 De posse dos dados da Tabela (3.1) do teste de rigidez, e dos valores das temperaturas de transformação de fase encontradas no teste de DSC da Fig. (3.5), e aplicando nas Equações (3.5) e (3.6), é obtido o resultado gráfico mostrado na Fig. (3.7). Os valores de rigidez máxima e mínima, observadas na Fig. 3.7, foram respectivamente iguais a kmax=6103 N/m (71ºC) e kmin=4092 N/m (47ºC) durante a fase de aquecimento. Já durante o resfriamento os valores de rigidez máxima e mínima, foram respectivamente iguais a kmax=6103 N/m (71ºC) e kmin=4149 N/m (32ºC). Observa-se ainda que durante o resfriamento, a rigidez da mola apresentou uma variação pequena entre as temperaturas de 71°C e 53°C, onde só a partir desta última, os valores de rigidez começaram a cair. Se for comparada a rigidez na temperatura de 47°C no aquecimento e no resfriamento, observa-se dois valores distintos, 4092 N/m para o aquecimento e 5574 N/m para o resfriamento. Esta diferença se refere ao comportamento de histerese que a liga possui. O valor da histerese 41 foi verificado no ponto médio entre a rigidez máxima e mínima (kmed= 5100 N/m), obtendo-se dois valores de temperatura, 58°C para o aquecimento e 44°C para o resfriamento, resultando em um ∆T=14°C. 6000 aquecimento exp. aquecimento teor. resfriamento exp. resfriamento teor. Rigidez [N/m] 5500 5000 4500 4000 0 10 20 30 40 50 Temperatura [ºC] 60 70 80 Figura 3.7 – Rigidez da mola de LMF em função da temperatura. Vale salientar que os resultados experimentais obtidos e mostrados nas Figuras 3.5 e 3.7 são válidos para a amostra de NiTi utilizada na confecção da mola. A utilização de outra amostra NiTi com porcentagens diferentes dos componentes da liga, pode resultar em valores diferentes dos mostrados, como temperaturas de transformação e módulo de elasticidade. O modelo teórico proposto por (IKUTA et al, 1991) enfatiza apenas a alteração das frações de martensita e austenita entre as temperaturas de austenita inicial e final, e entre as temperaturas de martensita inicial e final. Neste mesmo modelo, não é feito nenhum comentário do comportamento das frações de martensita ou austenita entre as temperaturas de martensita final e austenita inicial, ou entre austenita final e martensita inicial, onde em ambas as faixas de temperaturas as frações permanecem constantes. 42 3.5 CARACTERISTICAS DE AMORTECIMENTO EM LIGAS COM MEMÓRIA DE FORMA As características de amortecimento das ligas de Niquel-Titânio vem sendo sistematicamente estudadas através de várias técnicas. Também há uma variedade de métodos experimentais disponíveis para medir as propriedades de amortecimento de um material. Cada técnica tem suas próprias vantagens, mas todos métodos apresentam valores equivalentes de amortecimento (RITCHIE e PAN, 1991). Resultados experimentais mostram que tanto a fase martensitica como a fase R possuem amortecimento alto devido ao movimento entre os planos ou placas martensiticas. A fase austenitica apresenta amortecimento baixo devido ao processo de ordenamento dinâmico dos defeitos da estrutura. Nas regiões de transformação de austenita para martensita, de austenita para fase R, e da fase R para a martensita, apresentam-se as máximas capacidades de amortecimento o qual são atribuídos duas contribuições. Uma decorrente de uma deformação plástica, e o movimento da interface entre as placas martensíticas durante a transformação térmica, a qual obedece uma variação linear entre o fator de fricção interna e a taxa de aquecimento sendo esta maior ou igual a 1ºC/min. A outra origina-se da transformação por estresse induzido formado pela aplicação de uma carga de tensão externa com uma taxa de aquecimento menor que 1ºC/min. As regiões que ocorrem alteração no amortecimento em uma liga com memória de forma são mostradas na Fig. (3.8). Na figura se observa que na região II a absorção de energia é maior que o amortecimento verificado na condição martensitica da região I. O fato da faixa de temperatura para esta região ser relativamente restrito limitará a aplicação da liga. Na região austenítica de alta temperatura (região III), é mostrado o baixo nível de amortecimento da liga. 43 Figura 3.8 – Mudança no amortecimento para LMF (LIN et al, 1993) Na Figura 3.9 é mostrado o resultado da razão de amortecimento em função da temperatura de uma liga de Níquel-Titânio (50,2% - 49,8%), onde é observado o baixo amortecimento nas fases martensita e na fase austenita (B2). O pico de amortecimento foi verificado na fase R na temperatura de 25°C e fator de 0,051. Figura 3.9 –Relação entre fator de amortecimento e temperatura para liga Ti49,8 Ni50,2 (LIN et al, 1993) 3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo das ligas com memória de forma, e mais particularmente a liga de NíquelTitânio, mostrou que estes materiais possuem um comportamento macroscópico bastante atípico na mudança de suas fases cristalinas quando comparado com materiais comumente utilizados na engenharia. 44 Outra característica bastante importante verificada neste estudo se refere à mudança de rigidez e amortecimento quando da aplicação de uma carga térmica. A rigidez da mola LMF variou em função da temperatura em até 49%, enquanto que em relação ao amortecimento, é possível obter valores do fator de amortecimento de até cinco vezes entre a fase R e a fase austenita. Se for considerado um sistema com um grau de liberdade onde o elemento de rigidez é constituído de uma LMF, estas mudanças de rigidez e amortecimento influenciam diretamente nas amplitudes de vibração com o sistema excitado harmonicamente. Desta forma, fica claro que o controle de temperatura poderá resultar numa forma de controle de vibrações. A faixa ideal de temperaturas que o controle deve atuar durante o aquecimento varia de 49°C para 63°C, enquanto que para o resfriamento as maiores variações de rigidez ocorrem entre 55°C e 31°C. Diante disso, a escolha de temperaturas máximas e mínimas de operação se faz necessária, onde os valores de rigidez nesta situação sejam muito próximos. 45 CAPÍTULO IV MODELO TEÓRICO 4.1 MODELAGEM TEÓRICA Os atuadores confeccionados em ligas com memória de forma apresentam mudança de suas características, sejam elas geométricas ou metalúrgicas, em função da variação de temperatura. Para o caso de uma mola helicoidal confeccionada neste material, foi observado que características como rigidez e amortecimento também variam em função da temperatura. Diante disto, considere um sistema rotativo desbalanceado, sendo md a massa de desbalanceamento, apoiado sobre uma mola helicoidal de LMF conforme mostrado na Fig. 4.1. x(t) m dx ω kLMF md cLMF Figura 4.1 – Sistema rotativo desbalanceado com 1 gdl A Equação (4.1) define o modelo matemático do sistema mostrado na Fig. 4.1 m.&x& + cLMF .x& + kLMF .x = Fo(t ).sen(ω.t ) (4.1) 46 Onde: kLMF é a rigidez da mola de LMF cLMF é o amortecimento do sistema Valores para a rigidez da mola com memória de forma foram obtidos experimentalmente e mostrados nas tabelas (3.1) e (3.2) do capítulo anterior. Para o sistema rotativo desbalanceado, girando com uma velocidade angular ω e com uma excentricidade dx, a força imposta ao sistema é dada por: F(t) = md.dx.ω2.sen (ω.t) (4.2) Desta forma, a Eq. (4.1) pode ser reescrita na forma: m.&x& + cLMF .x& + k LMF .x = md .d x .ω 2 .sen (ω.t ) (4.3) Fisicamente, a solução em regime permanente segue a excitação senoidal com uma amplitude X e fase ϕ dada por: (4.4) x( t ) = X .sen (ω.t − ϕ ) Derivando a Eq. (4.4) e substituindo na Eq. (4.3) chega-se a amplitude de resposta X do sistema: X= md .d x .ω 2 (k 2 LMF − m.ω ) + (c 2 2 2 LMF (4.5) .ω ) Durante as transformações de fase na LMF a reorientação martensítica provoca um arranjo molecular resultando em um atrito interno, que é responsável por uma parte da dissipação da energia vibratória. Isto implica então, em uma diminuição da amplitude da vibração livre. Este tipo de amortecimento, também chamado de amortecimento histerético, pode ser determinado verificando-se a energia dissipada durante o movimento. 47 A Figura 4.2 mostra a energia dissipada pelo amortecimento em um ciclo de movimento. A energia dissipada em cada ciclo é dada pela área da elipse inclinada, onde esta energia é representada pela Eq. (4.6). F(t cLMF .ω. X 2 − x 2 cLMF. ω.X kLMF.x -X x X x(t) -cLMF. ω.X Figura 4.2 – Energia dissipada por ciclo ∆W = ∫ F .dx = π .ω .c. X 2 (4.6) A Equação (4.7) define o sistema excitado harmonicamente com amortecimento histerético: m.&x& + k LMF .(1 + i.µ ). x = md .d x .ω 2 .sen (ω.t ) (4.7) Onde µ é a medida adimensional do amortecimento também conhecido como fator de perda, e definido como (INMAN, 2001): µ= ω.cLMF k LMF (4.8) A solução em regime permanente da Eq.(4.7) é da forma: x (t ) = md .d x .ω 2 .sen(ω.t ) ω 2 k LMF 1 − + i.µ ωn (4.9) 48 4.2 RESULTADOS SIMULADOS Para verificar como o sistema se comporta e definir parâmetros de projeto, é necessário a realização de uma simulação através da resposta em freqüência. Parte dos dados escolhidos, para a simulação, foi obtido experimentalmente, como a rigidez da mola e as temperaturas de transformação da liga. Os valores do fator de amortecimento que a liga pode proporcionar depende de informações como massa, rigidez e do coeficiente de amortecimento, conforme mostrado na Eq. 4.10. c = 2.m.ω n .ζ (4.10) Onde: m é a massa do sistema ωn é a freqüência natural ζ é o coeficiente de amortecimento da LMF Os valores do coeficiente de amortecimento, ζ, foram baseados na Fig. 3.9., onde se observa que na fase R, o coeficiente de amortecimento apresenta o valor máximo. Os valores do coeficiente de amortecimento em função da temperatura são mostrados na Tab. 4.1. O fator de amortecimento mostrado na Tab. 4.1 foi obtido a partir da Eq. 4.10, onde a massa m considerada é de 514 gramas. Tabela 4.1 – Parâmetros de amortecimento em função da temperatura Coef. de amortecimento Temperatura ωn cLMF (ζ) (°C) (rad/s) (N.s/m) 0,051 35 91,0 4,77 0,03 39 90,7 2,79 0,01 49 89,2 0.91 0,0095 53 92,0 0,89 0,009 57 98,0 0,90 0,009 65 108,5 0,99 49 Os parâmetros utilizados na simulação são mostrados na Tab. 4.2. Tabela 4.2 – Dados da simulação Propriedade Valor numérico Unidade Massa principal (m) 0,514 Kg Massa desbalanceada (md) 0,0047 Kg Desbalanceamento (dx) 0,025 m Rigidez da mola LMF a 35°C(kmin) 4260 N/m Rigidez da mola LMF a 63°C (kmax) 6103 N/m Amortecimento a 35°C (cmax) 4,77 N.s/m Amortecimento a 65°C (cmin) 0,99 N.s/m Temperatura de martensita inicial (RS) 51 ºC Temperatura de martensita final (RF) 35 ºC Temperatura de austenita inicial (AS) 48 ºC Temperatura de austenita final (AF) 63 ºC A Figura 4.3 mostra a resposta em freqüência do sistema quando a mola está a 35°C e a 65°C. Na temperatura de 35°C se observa que a freqüência natural nesta situação é de aproximadamente 14 Hz. O amortecimento do sistema quando a mola se encontra nesta temperatura apresenta os maiores valores, o que resulta em baixas amplitudes, mesmo no estado de ressonância. Se for considerado a mola com uma temperatura de 65°C, o sistema passará a ter freqüência natural de aproximadamente 17 Hz tendo em vista a mudança de rigidez da mola. O amortecimento do sistema quando a mola de LMF está a 65°C é pequeno, resultando em altas amplitudes no estado de ressonância. 50 0.014 Teorico a 35ºC Teorico a 63ºC 0.012 Amplitude [m] 0.01 0.008 0.006 0.004 0.002 0 0 10 20 30 40 Frequencia [Hz] 50 60 Figura 4.3 – Resposta em freqüência teórica do sistema para mola a 35°C e 65°C A Figura 4.3 mostrou apenas duas situações onde foi verificado que a resposta em freqüência depende da temperatura da mola de LMF. Diante desta informação é necessária uma simulação do sistema para uma faixa de temperatura da mola de LMF. O resultado desta simulação está mostrado na Fig. 4.4, onde a faixa de temperatura escolhida varia de 25°C até 85°C. Observa-se que as freqüências de ressonância variam de 14 a 17 Hz, a depender da temperatura da mola. Na faixa de temperatura compreendida entre 25°C e 35°C as amplitudes de ressonância apresentam valores semelhantes. O mesmo fato ocorre para temperaturas acima de 65°C, que apesar das amplitudes na ressonância serem maiores, mas os valores da amplitude permanecem praticamente os mesmos até os 85°C. As maiores mudanças de amortecimento e rigidez do sistema ocorrem na faixa de temperatura da mola compreendida entre 35°C e 65°C. 51 -3 x 10 12 Temperatura [C] 80 10 60 8 6 40 4 20 2 10 12 14 16 Frequencia [Hz] 18 20 Amplitude [m] 0.015 0.01 0.005 80 60 0 5 40 10 15 Frequencia [Hz] 20 20 Temperatura [C] 25 Figura 4.4 – Resposta em freqüência teórica em função da temperatura da mola 4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo foram realizadas simulações que direcionam o projeto de um controle de vibrações utilizando ligas com memória de forma. Verificou-se que tanto a mudança de rigidez como variações de amortecimento influenciam nos níveis de vibração de um sistema com um grau de liberdade apoiado sobre atuador de LMF. Também foram verificadas que as mudanças de rigidez e amortecimento dependem da temperatura do atuador, e estas mudanças ocorrem em uma determinada faixa de temperatura. Podemos aqui denominar esta faixa de temperatura como zona RA, pois ocorre entre as fases Rombohedral e Austenita. A determinação da zona RA é importante para se trabalhar com controle de vibrações utilizando mudanças de rigidez e amortecimento nas ligas com memória de forma. 52 CAPÍTULO V BANCADA EXPERIMENTAL 5.1 INTRODUÇÃO O dispositivo físico proposto e adotado no experimento consiste de um sistema massa-mola com acionamento rotativo desbalanceado, fixo em uma travessa apoiada sobre uma mola de LMF Ni-Ti. O sistema é guiado através de duas colunas onde o contato entre estas e a massa acontece com dois rolamentos lineares de esferas. Estes rolamentos lineares adicionam ao experimento parte do amortecimento do sistema. O experimento contém elementos sensores que coletam os dados de temperatura e vibração, usados no processo de controle. O sensor de temperatura adotado é o NTC, e o sensor de vibração é o acelerômetro PCB 352B10, da Piezoeletronics. Estes sensores e atuadores se comunicam com o sistema de controle através de uma placa USB6008 da National Instruments. Uma ilustração esquemática da bancada de testes e seus componentes principais é mostrada na Fig. 5.1. 53 5 4 10 7 6 9 1 3 2 8 Figura 5.1 – Esquema da bancada experimental. 1 – Computador; 6 – Mola de LMF; 2 – Placa USB 6008; 7 – Massa do sistema; 3 – Cooler de resfriamento; 8 – Circuitos eletrônicos; 4 – Fonte de corrente; 9 – Sensor de temperatura; 5 – Motor excitador; 10 – Sensor de aceleração; 5.2 DADOS DO SISTEMA 5.2.1 Massa do sistema O valor da massa do sistema foi obtido através de uma balança digital que apresentava uma capacidade máxima de 1200g com resolução de 0,1g. A massa total do sistema é constituída por: • Barra prismática de alumínio; • Parafusos; • Motor elétrico; • Rolamentos lineares; • Fixador do motor; • Fixadores das molas. 54 Uma fotografia do sistema massa-mola do experimento esta mostrada na Fig. 5.2. O valor total da massa principal do sistema foi de 0,5139 Kg. Figura 5.2 – Sistema rotativo desbalanceado. 5.2.2 Rigidez do sistema A rigidez do sistema é constituída por uma mola helicoidal de LMF (Alloy M (Memory-Metalle GmbH©) montada conforme Fig. 5.2. A rigidez da mola varia de acordo com a variação de temperatura, contexto este comentado na Fig. 3.7. Os dados referentes à mola de LMF Ni-Ti são apresentados na Tab. 5.1. Tabela 5.1 – Dados da mola utilizada no experimento Dados Material Mola Níquel-Titanio Diâmetro do arame 2,59 mm Diâmetro da mola 12 mm Passo Espiras ativas 4,61 mm 10 Módulo de elasticidade (35°C) 11,75 GPa Módulo de elasticidade (65°C) 16,75 GPa Os valores do módulo de elasticidade apresentados na Tabela 5.1 foram calculados utilizando a Eq. 3.2 e dados da Tabela 3.1. 55 5.2.3 Amortecimento do sistema Conforme comentado no capítulo anterior, a LMF apresenta também uma variação de amortecimento devido ao movimento das placas martensíticas nos processos de aquecimento ou resfriamento da liga. Diante disto, é de se esperar que o sistema massa mola em estudo também apresente um comportamento semelhante, sendo necessária uma investigação acerca da contribuição desse amortecimento. O procedimento para encontrar o valor do amortecimento consistiu em submeter o sistema a uma entrada impulsional através de martelo de impacto, e coletar os deslocamentos ao longo de uma escala temporal. De posse destes dados é possível encontrar o coeficiente de amortecimento ζ, que é descrito através da Eq. 5.1: ζ =− A . ln n 2.π .n A1 1 (5.1) Onde: n: é o número de períodos; A1: é a amplitude do primeiro pico de medição; An: é a amplitude do pico do período n. O amortecimento equivalente é obtido por meio da expressão: c = 2.m.ω n .ζ (5.2) Para efeito de comparação, os resultados das respostas vibratórias (teóricas e experimentais) são mostradas nas Figs. (5.3) e (5.4), onde as curvas teóricas da entrada impulsional e da envoltória são dadas pelas Eqs. (5.3) e (5.4), que foram baseadas na Eq. (a.36) apresentada no anexo A.4. I (t ) = e −ς ωn t sen(ω d t ) mω d Env(t ) = X e−ς ω n t Onde ωd é a freqüência natural amortecida definida como ω d = ω n . 1 − ς 2 (5.3) (5.4) 56 0.025 Experimental Teórica Envoltória 0.02 0.015 Amplitude 0.01 0.005 0 -0.005 -0.01 -0.015 -0.02 -0.025 0 0.2 0.4 0.6 0.8 Tempo [s] 1 1.2 1.4 Figura 5.3 – Resposta impulsional a 35ºC 0.025 Experimental Teórica Envoltória 0.02 0.015 Amplitude 0.01 0.005 0 -0.005 -0.01 -0.015 -0.02 -0.025 0 0.2 0.4 0.6 0.8 Tempo [s] 1 1.2 1.4 Figura 5.4 – Resposta impulsional a 65ºC Observa-se que o amortecimento que a mola de LMF incide no sistema varia de acordo com a temperatura. Para a mola a 35 ºC o amortecimento é de 10,350 N.s/m e para a mola a 62 ºC o amortecimento é reduzido para 3,675 N.s/m. 57 Observando as figuras 5.3 e 5.4, percebe-se que a mola estando a 35°C, o decaimento é mais rápido do que na situação em que a mola está a 65°C. Isto significa que o amortecimento da mola a 35°C é maior que a 65°C. Após diversas aquisições de entradas impulsionais, coletadas na mesma escala de temperatura adotada para a rigidez, o resultados do fator de amortecimento são apresentados na Tab. 5.2 e na Fig. 5.5. Tabela 5.2 – Amortecimento do sistema em função da temperatura Temperatura (ºC) 2 5 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35 38 41 44 47 50 53 56 59 62 65 68 71 Amortecimento (N.s/m) Aquecimento Resfriamento 5,800 5,922 6,325 6,211 6,750 6,750 6,625 7,200 5,650 7,650 5,550 7,850 5,875 7,750 5,225 7,625 5,425 8,100 5,325 9,200 5,475 10,125 5,050 10,350 5,800 8,200 6,375 5,500 6,650 4,900 6,833 4,600 6,550 4,050 4,575 3,775 4,100 4,050 4,225 4,225 3,675 3,675 3,875 3,875 3,795 3,795 3,810 3,810 58 Coeficiente de amortecimento [N.s/m] 11 Aquecimento Resfriamento 10 9 8 7 6 5 4 3 10 20 30 40 50 Temperatura [C] 60 70 Figura 5.5 – Variação do coeficiente de amortecimento em função da temperatura 5.3 SISTEMA DE AQUECIMENTO DA MOLA DE LMF O aquecimento da mola de LMF é obtido por meio de efeito Joule, ou seja, com a passagem de uma corrente elétrica utilizando uma fonte de energia. Esta fonte de energia fornece uma corrente com amplitude de 18 amperes. O aumento de temperatura está diretamente relacionado à quantidade de energia fornecida à mola. Essa quantidade de energia é definida por meio de uma modulação do sinal pulsante de corrente, técnica esta conhecida como PWM (Pulse Width Modulation). A Fig. 5.6 mostra um exemplo de sinal modulado onde a largura do pulso corresponde a 40% da largura do período. Este exemplo de sinal modulado é equivalente a um fornecimento de corrente de 40% da amplitude, ou seja, é o mesmo que aplicar uma corrente constante de 7,6 amperes, conforme ilustrado. 59 corrente 18,0 7,6 tempo P 0,4xP Figura 5.6 – Sinal PWM com largura de pulso de 40% O sinal PWM fornecido pela placa USB 6008 da National Instruments® possui um período de 10 segundos, e uma amplitude de 5 volts. Este sinal é amplificado para 12 volts para alimentar um relé, por meio de um circuito eletrônico mostrado na Fig. 5.7. Figura 5.7 – Circuito amplificador para aquecimento da mola de LMF A Fig. 5.8 mostra as curvas de aquecimento da mola quando aplicado sinais PWM com diversas larguras de pulso. O sinal PWM é iniciado em 10 segundos e finalizado aos 50 segundos. 60 110 5% 10% 20% 40% 60% 80% 100% 100 Temperatura [ºC] 90 80 70 60 50 40 30 20 0 10 20 30 40 50 60 Tempo [s] 70 80 90 100 Figura 5.8 – Curvas de aquecimento da mola LMF com diversas larguras de pulso do sinal 5.4 SISTEMA DE RESFRIAMENTO DA MOLA DE LMF O resfriamento da mola de LMF é feito por meio de convecção forçada, onde o sistema é composto de um mini ventilador que fornece até 3,76 m3/min e uma estrutura que direciona o fluxo de ar para ser aplicado na mola de LMF. Para um melhor rendimento do sistema de resfriamento, é necessário que o ambiente do experimento esteja com uma temperatura abaixo dos 26ºC. Um esquema do direcionador do fluxo de ar está mostrado na Fig.5.9. Figura 5.9 – Direcionador do fluxo de ar sobre a mola (cooler) 61 O controle do fluxo de ar frio é realizado através da variação da tensão do motor do ventilador. A tensão que a placa de comunicação de dados fornece é de 5 volts, tensão esta insuficiente para realizar esta tarefa, sendo necessária uma amplificação para 12 volts que é a tensão máxima de alimentação dos motores dos ventiladores. Um esquema do circuito amplificador para esta atividade é mostrado na Fig. (5.10), onde a entrada deve ser alimentada pela tensão da placa USB-6008 da National®. Figura 5.10 – Circuito amplificador de tensão de alimentação do motor para o direcionador de ar 5.5 SENSOR DE TEMPERATURA O sensor de temperatura utilizado é o termistor NTC (Negative Temperature Coeficiente), cujo funcionamento se baseia na variação da resistência elétrica em função da mudança de temperatura. Esta variação não é linear, e a temperatura pode ser expressa conforme Eq. (5.5): T= Tamb .β R β + Tamb . ln R0 (5.5) 62 Onde: R é a resistência do termistor na temperatura T (Ω); R0 é a resistência do termistor na temperatura ambiente (Ω); Tamb é a temperatura ambiente (K); β é a constante do material. Para se obter a temperatura da mola de LMF, é necessário um conjunto formado por uma placa de aquisição de dados USB-6008, um circuito divisor de tensão mostrado na Fig. (5.11) e o ambiente do software LabView®. XMM1 Vi R1 11200 Ω V1 15 V R Figura 5.11 – Circuito divisor de tensão A tensão Vi do circuito divisor é coletada através da placa USB-6008, e esta informação é inserida na Eq. (5.6) que define a resistência do termistor. R= Vi.11200 15 − Vi (5.6) Para determinação dos parâmetros R0 e β da Equação (5.5), foi necessário um processo de calibração do sensor para que o mesmo apresente as medidas exatas de temperatura. O procedimento de calibração consiste inicialmente em instalar o sensor NTC em contato com a mola de LMF. Em seguida a mola é submetida a um aquecimento partindo de 2°C, onde para cada valor de temperatura coletado da mola, existe um valor de resistência elétrica coletado do NTC. O passo seguinte é um ajuste da curva teórica 63 (Equação 5.5) com os valores experimentais. Os resultados deste procedimento são mostrados na Fig. 5.12 e na Tabela (5.3). Tabela 5.3 – Resultados experimentais da calibração do NTC Parâmetro Tamb Valor 297 K ou 24°C R0 2330 Ω β 1200 3500 teórico experimental Resistencia [ohm] 3000 2500 2000 1500 1000 0 20 40 60 Temperatura [ºC] 80 100 Figura 5.12 – Curva de calibração do NTC O diagrama de blocos do software LabView® mostrado na Fig. (5.13), mostra a implementação das Equações (5.5) e (5.6), onde os valores obtidos na saída, representada na Fig. 5.13 pelo ícone “Temperatura”, são os valores de temperatura da mola de LMF em ºC. 64 Figura 5.13 – Diagrama de blocos para obtenção da temperatura da LMF 5.6 MOTOR EXCITADOR O motor utilizado para excitar o sistema pode ser alimentado com tensões que variam de zero a 24 volts DC. Foi realizada uma caracterização que relaciona tensão de alimentação com a freqüência de rotação do motor. O resultado desta caracterização está mostrado na Fig. (5.14). 70 60 Frequencia [Hz] 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 Tensão [Volts] 20 25 . Figura 5.14 – Relação entre tensão aplicada e frequencia de excitação do motor 65 5.7 RESULTADOS EXPERIMENTAIS Para verificar como o sistema se comporta, foram realizadas várias simulações e observada a resposta em freqüência quando a mola se encontrava a 35 ºC e a 65ºC. Os resultados teóricos são comparados com a resposta em freqüência dos resultados experimentais mostrados nas Figuras 5.3 e 5.4. Os parâmetros utilizados na simulação são baseados nos dados da bancada, mostrados na Tab. 5.4. Tabela 5.4 – Dados do experimento Propriedade Valor numérico Unidade Massa principal (m) 0,514 Kg Massa desbalanceada (md) 0,0047 Kg Desbalanceamento (dx) 0,025 m Rigidez mínima da mola LMF (kmin) 4097 N/m Rigidez máxima da mola LMF (kmin) 6103 N/m Amortecimento mínimo (cmin) 3,67 N.s/m Amortecimento máximo (cmas) 10,35 N.s/m Temperatura de martensita inicial (RS) 51 ºC Temperatura de martensita final (RF) 35 ºC Temperatura de austenita inicial (AS) 48 ºC Temperatura de austenita final (AF) 63 ºC A Figura 5.15 mostra a resposta em freqüência do sistema quando a mola está a 35°C e a 63°C. A mola estando a 35°C é verificado que a freqüência natural do sistema é de aproximadamente 14 Hz. O amortecimento do sistema quando a mola se encontra nesta temperatura apresenta os maiores valores, o que resulta em baixas amplitudes de vibração, mesmo no estado de ressonância. Se for considerado a mola com uma temperatura de 63°C, o sistema passará a ter outro valor para a freqüência natural, ou seja, com o aquecimento a mola mudou de fase aumentado a rigidez do material, resultando em uma freqüência natural é de aproximadamente 17 Hz. O amortecimento do sistema a 63°C é pequeno, o que implica em amplitudes de vibração maiores que as verificadas quando a mola se encontrava a 35°C. 66 8 x 10 -3 X: 17.26 Y: 0.00645 7 Experimental a 35ºC Experimental a 63ºC Amplitude [m] 6 5 4 3 X: 14.29 Y: 0.002172 2 1 0 0 10 20 30 Frequencia [Hz] 40 50 Figura 5.15 – Resposta em freqüência do sistema para mola a 35°C e a 65°C Foram verificadas também as respostas em freqüência temperaturas compreendidas entre 2°C e 71°C. O resultado experimental das respostas em freqüência para diversas temperaturas da mola de LMF está mostrado na Fig. 5.16. Observa-se que as freqüências de ressonância variam de 14 a 17 Hz, a depender da temperatura da mola. Na faixa de temperatura compreendida entre 2°C e 35°C as amplitudes de ressonância apresentam valores semelhantes. O mesmo fato ocorre para temperaturas acima de 65°C, que apesar das amplitudes na ressonância serem maiores, mas os valores da amplitude permanecem praticamente os mesmos acima da temperatura de 65°C. As maiores mudanças de amortecimento e rigidez do sistema ocorrem na faixa de temperatura da mola compreendida entre 35°C e 65°C 67 x 10 8 X: 17.26 Y: 65 Z: 0.00645 -3 7 Amplitude [m] 6 0.01 5 0.008 4 X: 14.29 Y: 35 Z: 0.001284 0.006 0.004 3 X: 14.88 Y: 5 Z: 0.00116 0.002 0 5 10 15 20 Frequencia [Hz] 25 30 0 71 2 70 60 1 50 40 0 30 20 10 Temperatura [C] Figura 5.16 – Resposta em freqüência experimental em função da temperatura da mola 5.8 CONSIDERAÇÕES FINAIS De posse das informações colhidas na bancada experimental, fica evidenciada a mudança de rigidez e amortecimento que a mola com memória de forma proporciona. Essas características podem ser utilizadas para controlar vibrações. Neste caso, é possível relacionar controle de temperatura com controle de vibrações em sistemas que utilizam atuadores com memória de forma, e a implementação de um controlador que comande e que faça interagir os sistemas de aquecimento e resfriamento da mola se faz necessário, para fins de projeto. Outra informação importante coletada neste momento se refere à faixa de temperatura que é mais viável trabalhar, a região denominada no capítulo anterior como zona RA. Neste caso, a zona RA está compreendida entre as temperaturas de 35°C e 64°C. Percebeu-se que aquecimentos acima de 64°C e resfriamentos da mola abaixo de 35°C são desnecessários, pois não alteram as amplitudes de vibração. Em outras palavras, a mola estando a 64°C ou a 85°C, por exemplo, o sistema apresenta praticamente os mesmo níveis de vibração na ressonância. 68 CAPÍTULO VI CONTROLE DO SISTEMA 6.1 INTRODUÇÃO O controle de vibrações de um equipamento, que está sujeito a excitações numa faixa de freqüências, pode ser realizado de diversas formas. Para o caso de sistemas onde a rigidez varia em função da temperatura, é obvio que o controle de vibrações está diretamente ligado ao controle de temperatura do elemento que confere rigidez. Para o modelo experimental adotado neste trabalho, o aumento de temperatura acontece aplicando corrente elétrica na mola de LMF, enquanto que o resfriamento se dá através de convecção forçada por meio de um ventilador. A idéia principal em um controle de vibrações é evitar que o sistema entre no estado de ressonância, e isso pode ser feito de diversas formas, cada uma com suas limitações, conforme comentado no capítulo 1. Uma estratégia que pode ser adotada para o controle em sistemas de rigidez variável, é evitar a aproximação da freqüência de excitação com a freqüência natural do sistema, ou seja, quanto maior a diferença entre elas, menor será a amplitude de vibração. Para o sistema em estudo, que utiliza molas de LMF, a temperatura que a mola se encontra pode ser associada à freqüência natural. Sendo assim, o controle da temperatura da mola de LMF tem como conseqüência o controle da freqüência natural do sistema. Este controle da freqüência natural resulta em baixas amplitudes de vibração do sistema. Resumindo, é preciso controlar a temperatura da mola LMF para reduzir os níveis de vibração do sistema rotativo desbalanceado. O diagrama de controle de temperatura da mola de LMF é mostrado na Fig. (6.1). 69 Temperatura de referência Temperatura da mola Aquecedor erro Controlador Z-1 Mola Resfriador Sensor Figura 6.1 – Diagrama de blocos do controle de temperatura da mola LMF A freqüência natural do sistema massa-mola em estudo varia de 14,2 Hz (mola a 35ºC) a 17,3 Hz (mola a 63ºC) conforme apresentado no capítulo anterior. Esta freqüência natural deve se manter o mais distante possível das freqüências de excitação. A Figura 6.2 mostra as respostas em freqüência teóricas do sistema quando a mola se encontra nas temperaturas de 35°C e 63°C. Observa-se que na freqüência de 15,2 Hz, as amplitudes são teoricamente iguais a 1,8 milímetros. 8 x 10 -3 63ºC 35ºC 7 Amplitude [m] 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 Frequencia [Hz] 25 30 Figura 6.2 – Resposta em freqüência teórica do sistema 70 Esta freqüência excitação de 15,2 Hz é uma base para determinar se a mola deve ser aquecida ou resfriada. Diante deste contexto, a temperatura de referência da mola de LMF deverá estar em 35ºC (ωn=14,2 Hz) quando a freqüência de excitação do sistema apresentar valores acima de 15,2 Hz, fazendo com que o sistema tenha uma amplitude máxima de vibração de 1,8 milímetros. Caso a freqüência de excitação apresente valores abaixo de 15,2 Hz, a mola deve estar a uma temperatura de 63ºC (ωn=17,3 Hz), que resulta também em uma amplitude máxima de vibração de 1,8 milímetros. A resposta em freqüência para o que foi descrito está mostrado na Fig. 6.3 8 x 10 -3 63ºC 35ºC 7 Amplitude [m] 6 5 4 3 2 1 0 0 5 10 15 20 Frequencia [Hz] 25 30 Figura 6.3 – Resposta em freqüência do sistema com controle de temperatura da mola de LMF O resultado mostrado na Fig. 6.3 é teórico, e difere do resultado experimental devido às taxas de aquecimento e resfriamento da mola de LMF. Desta forma, na prática o sistema ainda entra na região de ressonância, mas por períodos de tempo muito curtos, pois sempre há uma diferença entre a freqüência natural e a freqüência de excitação do momento. Em suma, essa estratégia de controle pode ser descrita conforme a seguinte regra: 35 0 C , ω > 15,2Hz Tref = 0 63 C , ω ≤ 15,2Hz 71 6.2 CONTROLADOR Dentro do diagrama de controle mostrado na Fig. 6.1, o elemento controlador tem por objetivo enviar informações que comandarão um ou mais atuadores, informações essas sustentadas por um algoritmo de controle. O algoritmo existente no controlador realiza operações matemáticas baseadas no sinal de erro com o intuito de produzir uma ação corretiva que, ao ser inserida no processo, faz com que valores os desejados na entrada (valores de referência) do sistema sejam conseguidos na saída com um bom desempenho. O cálculo realizado no algoritmo, para se ter os valores do sinal de controle, pode ser realizado de diversas formas a depender do tipo de controlador. Os métodos de controle que mais se destacam são o controle on-off, controle PID, controle adaptativo, controle via redes neurais, e controle fuzzy, onde este último possui um algoritmo de controle chamado lógica fuzzy. A lógica fuzzy é uma técnica que reproduz a maneira como o ser humano pensa em um sistema de controle. Um controlador fuzzy típico pode ser projetado para comportar-se conforme o raciocínio dedutivo, isto é, o processo que as pessoas utilizam para se chegar à conclusões baseadas em informações que elas já conhecem (SHAW e SIMÕES, 2004). Um termo lingüístico pode ser definido quantitativamente por um tipo de conjunto fuzzy conhecido como uma função de pertinência. A função de pertinência, especificamente, define graus de possibilidades baseados em propriedades como deslocamento, posição, tensão entre outras. Com funções de pertinências definidas para entradas e saídas de sistemas especialistas e de controle, formula-se uma base de regra IFTHEN (se – então) que são regras condicionais. Desta maneira, uma base de regra e uma função de pertinência correspondente são empregadas para analisar as entradas e determinar as saídas de controle pelo processo de inferência da lógica fuzzy. A estratégia de controle do sistema idealizado consiste em manter a maior diferença modular possível entre a freqüência natural do sistema e a freqüência de excitação através do controle de temperatura da mola de LMF. A temperatura de referência da mola será determinada de acordo com a freqüência de excitação. O sinal que será adotado na entrada do controlador fuzzy será a diferença entre a temperatura de referência e a temperatura que a mola se encontra. O bloco de construção primária de sistemas de lógica fuzzy é a variável lingüística. Uma variável linguística é usada para combinar múltiplas categorias subjetivas que 72 descrevem o mesmo contexto. Estas condições são chamadas condições linguísticas e representam os possíveis valores das variáveis linguísticas de entrada, que para o estudo em questão são o erro de temperatura (ERRO) e a variação do erro (VERRO), normalmente gerada a partir da diferença entre o erro atual e o erro anterior. A variável de saída do controlador é a variação no controle. Como o sistema possui dois atuadores, as variáveis linguísticas de saída são: a tensão aplicada ao motor do resfriamento e a largura de pulso do sinal de corrente que aquece a mola. O ambiente computacional no qual o controlador fuzzy estará inserido é o LabVIEW, que apresenta uma limitação de utilizar apenas uma saída por cada bloco fuzzy inserido. Sendo assim, serão necessários dois blocos fuzzy, onde no primeiro bloco a variável de saída irá controlar o aquecimento, e no segundo bloco, a saída ira controlar o resfriamento. Cada variável linguística é composta de várias condições linguísticas ou termos que descrevem as diferentes interpretações linguísticas da quantidade característica que é modelada. Cada termo linguístico é definido por uma função de pertinência apropriada (conjunto fuzzy). Um controlador fuzzy é composto de três partes: Fuzzificação, Inferência Fuzzy e Defuzzificação. Essa seqüência de controle transforma valores numéricos reais para o ambiente fuzzy, onde os números são convertidos em uma base numérica nebulosa. Nessa transformação um conjunto de inferência fuzzy é usado para as tomadas de decisões, e por fim há uma transformação inversa do ambiente fuzzy para valores numéricos reais, para que ocorra acoplamento entre a saída do algoritmo fuzzy e as variáveis de atuação (SHAW e SIMÕES, 2004). A estratégia de controle, baseada no conhecimento do sistema com respeito ao controle em malha fechada, é implementada por regras linguísticas integradas na base de regra do controlador. Todos os valores das variáveis de entrada, erro e variação do erro, são traduzidos em valores de variáveis linguísticas correspondentes. Em seguida o passo de inferência fuzzy é executado para derivar uma conclusão da base de regra que representa a estratégia de controle. O resultado deste passo é o valor linguístico para a variável de saída. O passo de defuzzificação traduz o resultado linguístico anterior em um valor real que representa o valor atual da variável de controle. 73 6.2.1 Fuzzificação A freqüência do sinal de excitação pode ser obtida pelo acelerômetro instalado na massa principal do sistema, ou pela relação existente entre tensão do motor de excitação e freqüência de rotação. Esta informação da frequência de excitação instantânea é convertida em uma das duas temperaturas de referencia, 63ºC (Estado austenítico) ou 35ºC (Estado martensítico). A diferença entre esta temperatura e a temperatura da mola, forma a variável lingüística de entrada, assim como as variações de erro deste sinal. Para o ERRO são identificadas cinco posições ou termos linguísticos para cada bloco fuzzy, onde os erros são definidos como mostrado na Tabela (6.1): Tabela 6.1 – Termos lingüísticos para o ERRO Bloco 1 - Resfriamento Bloco 2 – Aquecimento EN6: (abaixo de -20ºC) EP6: (acima de 20ºC) 100% EN5: (-20ºC a -9ºC) EP5: (9,0ºC a 20,0ºC) 80 % EN4: (-9ºC a -7ºC) EP4: (7ºC a 9ºC) 60% EN3: (-7,0ºC a -5ºC) EP3: (5ºC a 7ºC) 40% EN2: (-5ºC a -3ºC) EP2: (3ºC a 5ºC) 20 % EN1: (-3ºC a -1ºC) EP1: (1ºC a 3ºC) 10% EN0: (-1ºC a 0ºC) EP0: (0ºC a 1ºC) 5% A cada termo é associado um ERRO correspondente, por exemplo, o maior erro positivo foi traduzido para o valor linguístico EP6, que corresponde a um erro acima de 20ºC. Para a variação do erro da temperatura (VERRO) os procedimentos adotados são os mesmos conforme mostrado na Tabela (6.2). 74 Tabela 6.2 – Termos lingüísticos para a VERRO Bloco 1 / Bloco 2 VEN3: (-5,0ºC a -4,0ºC) VEN2: (-4,0ºC a -2,5ºC) VEN1: (-2,5ºC a -1,0ºC) VE0: (-1,0ºC a 1,0ºC) VEP1: (1,0ºC a 2,5ºC) VEP2: (2,5ºC a 4,0ºC) VEP3: (4,0ºC a 5,0ºC) As Figuras (6.4), (6.5) e (6.6) mostram as funções de pertinências das variáveis linguísticas de entrada (ERRO e VERRO) com seus respectivos termos linguísticos. As funções de pertinência das variáveis de entrada são do tipo triangular, enquanto EP5 EP6 EP4 EP0 EP1 EP2 EP3 que a função de pertinência da variável de saída possui elementos do tipo triangular. 15.0 20,0 Grau de pertinência 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,0 5,0 10,0 25,0 30,0 35,0 40,0 45,0 50,0 Erro de temperatura (ºC) Figura 6.4 - Variável ERRO e seus termos lingüísticos para o aquecimento -15,0 EN3 EN2 EN1 EN0 EN5 -20,0 EN4 EN6 75 1,0 Grau de pertinência 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 -50,0 -45,0 -40,0 -35.0 -30,0 -25,0 -10,0 -5,0 0,0 Erro de temperatura (ºC) VEP3 VEP2 VEP1 VE0 VEN1 VEN2 VEN3 Figura 6.5 - Variável ERRO e seus termos lingüísticos para o resfriamento Grau de pertinência 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 -5,0 -4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 Variação do erro de temperatura (ºC) Figura 6.6 - Variável VERRO e seus termos lingüísticos Para a variável de saída foram utilizados outros termos e a faixa de tensão de 1,2 Volts a 5 Volts para o resfriamento, e de 0 (largura de pulso 0%) a 1 (largura de pulso 100%) para o aquecimento. Estes passos são chamados Fuzzificação porque usa conjuntos fuzzy para traduzir variáveis reais em variáveis linguísticas. Na Figura (6.7) temos o universo de discurso da variável de saída do resfriamento. A placa de comunicação USB 6008 fornece tensões analógicas que variam de zero a 5 76 volts, e isto explica a tensão máxima de alimentação da placa do motor de ventilação. A R6 R5 R4 R3 R2 R1 R0 tensão mínima de 1,2 volts corresponde à rotação zero do motor de ventilação. Grau de pertinência 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 Tensão de alimentação da placa do motor de ventilação (Volts) Figura 6.7 - Variável saída de resfriamento e seus termos lingüísticos Na Figura (6.8) temos o universo de discurso da variável de saída de aquecimento. Estes valores determinam a largura de pulso da corrente que aquece a mola de LMF. O valor 0,4 por exemplo, corresponde a um sinal quadrado onde 40% do período possui A6 A5 A4 A3 A2 A0 A1 tensão de 5 volts, e os outros 60% possui tensão zero. Grau de pertinência 1,0 0,8 0,6 0,4 0,2 0,0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 Largura de pulso Figura 6.8 - Variável saída de aquecimento e seus termos lingüísticos 77 6.2.2 Inferência fuzzy Nesta parte foram definidos os conectivos lógicos usados para estabelecer a relação fuzzy que modela a base de regras. O método de inferência usado para controladores fuzzy foi o máximo-mínimo, ou seja, em cada uma das regras da base de regras fuzzy, adotou-se o operador matemático mínimo para o conectivo lógico “e” e o operador máximo para o conectivo lógico “ou”. As sentenças “se...e...então...” são modeladas pela aplicação mínimo, e o relacionamento entre as regras são modelados pela aplicação máximo. Foram utilizados sete termos para as variáveis linguísticas de entrada o que resulta, no máximo, em 49 regras disponíveis para formar uma base de regra consistente, que foi obtida após vários ajustes. A base de regra completa é descrita em forma de matriz, como mostram as Tabelas (6.3) e (6.4). Tabela 6.3 - Base de regras lingüísticas para o aquecimento Variação do erro de temperatura Erro de temperatura EP0 EP1 EP2 EP3 EP4 EP5 EP6 VEN3 A0 A0 A0 A0 A1 A2 A4 VEN2 A0 A0 A0 A1 A2 A3 A5 VEN1 A0 A0 A1 A2 A3 A4 A6 VE0 A0 A1 A2 A3 A4 A5 A6 VEP1 A1 A2 A3 A4 A5 A6 A6 VEP2 A2 A3 A4 A5 A6 A6 A6 VEP3 A3 A4 A5 A6 A6 A6 A6 A formação da base de regra, seja ela para o resfriamento ou para o aquecimento, se inicia com a condição básica que se o erro entre a temperatura de referência e a temperatura atual for zero, então se deve enviar um sinal nulo para os atuadores. Para o 78 aquecimento isto corresponde a condição (IF Erro=EP0 AND Verro=VE0 THEN A0), na Tabela (6.3). Esta mesma situação para o resfriamento corresponde à condição (IF Erro=EN0 AND Verro=VE0 THEN A0) na Tabela (6.4). Vale salientar que a base de regras lingüísticas para o aquecimento só pode ser utilizada quando o Erro de temperatura for maior ou igual a zero, ou seja, a temperatura de referência é maior em que a temperatura que a mola se encontra. Para o caso do resfriamento, a situação é oposta, ou seja, o atuador que promove a queda de temperatura é acionado quando o Erro é menor ou igual a zero. Tabela 6.4 - Base de regras lingüísticas para o resfriamento Erro de temperatura Variação do erro de temperatura EN0 EN1 EN2 EN3 EN4 EN5 EN6 VEN3 R3 R4 R5 R6 R6 R6 R6 VEN2 R2 R3 R4 R5 R6 R6 R6 VEN1 R1 R2 R3 R4 R5 R6 R6 VE0 R0 R1 R2 R3 R4 R5 R6 VEP1 R0 R0 R1 R2 R3 R4 R6 VEP2 R0 R0 R0 R1 R2 R3 R5 VEP3 R0 R0 R0 R0 R1 R2 R4 A Figura (6.9) ilustra um exemplo do comportamento do controlador quando o erro de temperatura é de -7,5°C e variação do erro de 0,5°C. 79 Figura 6.9 – Exemplo de regra de estratégia de controle 6.2.3 Defuzzificação Na defuzzificação, o valor da variável linguística de saída, inferida pelas regras fuzzy, será traduzido num valor de tensão para o resfriamento e em um valor de largura de pulso para o aquecimento. Este valor é o que melhor representa os valores fuzzy inferidos da variável linguística de saída, a distribuição de possibilidades. Assim, a defuzzificação é uma operação contrária, que traduz a saída do domínio fuzzy para o domínio discreto. Para selecionar o método apropriado de defuzzificação, pode-se utilizar um enfoque baseado no centróide ou nos valores máximos que ocorrem da função de pertinência resultante. Os seguintes métodos são utilizados: Centro-de-Área (C-o-A), Centro-do-Máximo (C-o-M) e Média-do-Máximo (M-o-M) (SHAW e SIMÕES, 2004). O método de defuzzificação deriva um valor de saída preciso, que melhor representa o resultado linguístico obtido do processo de inferência fuzzy. O método de defuzzificação usado foi o método Centro-do-Máximo (C-o-M), onde as áreas das funções de pertinência não desempenham nenhum papel e apenas os máximos (pertinências singleton) são usados. A saída discreta é calculada como uma média ponderada dos máximos, cujos pesos são os resultados da inferência. O cálculo do valor defuzzificado é realizado através da Eq. (6.1), onde µ0,k(ui) indica os pontos em que ocorrem os máximos (alturas) das funções de pertinência de saída. 80 N n ∑u ∑µ i u= i =1 N ∑ ∑µ i =1 o, k k =1 n (u i ) (6.1) 0, k (u i ) k =1 Tomemos como base o exemplo mostrado na Fig. 6.9 para explicar o processo de defuzzificação onde se tem um Erro de -7,5ºC e uma Variação do Erro de 0,5ºC. 1 0.9 Grau de pertinência 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 -50 -40 -30 -20 -10 0 Erro [ºC] Figura 6.10 - Fuzzificação para Erro=-7,5ºC O Erro de temperatura da mola faz parte dos seguintes termos lingüísticos: EN6=0; EN5=0; EN4=0,25; EN3=0,75; EN2=0; EN1=0; EN0=0. Neste caso o Erro de temperatura da mola é traduzido no valor lingüístico {0,0; 0,0; 0,25; 0,75; 0,0; 0,0; 0,0).. 81 1 0.9 Grau de pertinência 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 -5 0 Verro [ºC] 5 Figura 6.11 - Fuzzificação para Verro=0,5ºC A variação do erro de temperatura da mola faz parte dos seguintes termos lingüísticos: VEN3=0; VEN3=0; VEN3=0,71; VE0=0,29; VEP1=0; VEP2=0; VEP3=0. O passo seguinte consiste da inferência fuzzy que pode ter dois componentes: a agregação que é a evolução da parte condicional (IF) de cada regra; e a composição que se trata da evolução da parte conclusiva (THEN) de cada regra O operador mínimo (min) representa a palavra AND, que no exemplo que está sendo analisado, quatro regras são descrições como válidas da situação atual. Estas regras normalmente são chamadas regras ativas. Todas as outras regras são chamadas inativas. (18) IF ERRO = EN4 (0,25) AND VERRO=VE0 (0,71) THEN tensao=R4. (19) IF ERRO = EN4 (0,25) AND VERRO=VEP1 (0,29) THEN tensao=R3. (25) IF ERRO = EN3 (0,75) AND VERRO=VE0 (0,71) THEN tensao=R3. (26) IF ERRO = EN (0,75) AND VERRO=VEP1 (0,29) THEN tensao=R2. O resultado final da inferência fuzzy para a variável lingüística “tensão” é mostrado abaixo: R0 com grau de pertinência de 0,00 R1 com grau de pertinência de 0,00 82 R2 com grau de pertinência de 0,29 R3 com grau de pertinência de 0,25 R4 com grau de pertinência de 0,25 R5 com grau de pertinência de 0,00 R6 com grau de pertinência de 0,00 No processo de defuzzificação o método utilizado foi o Centro-de-máximo (CoM). Neste método é calculada a média ponderada onde os valores são retirados da Fig. 6.12 (cooler). R0 com tensão de 1,2 R1 com tensão de 1,79 R2 com tensão de 2,47 R3 com tensão de 3,10 R4 com tensão de 3,73 R5 com tensão de 4,37 R6 com tensão de 5,00 1 0.9 Grau de pertinência 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 1 1.5 2 2.5 3 3.5 Tensão [volts] 4 4.5 5 Figura 6.12 - Defuzzificação de acordo com o centro de máximo (CoM) A média ponderada fica então: 83 R= 0 .1,2 + 0 .1,79 + 0,29 . 2,47 + 0,25 . 3,10 + 0,25 . 3,73 + 0 . 4,37 + 0 . 5,00 = 3,068 0,29 + 0,25 + 0,25 O resultado encontrado (3,07 volts) corresponde ao valor de tensão que será usado para alimentar o motor de resfriamento e que para este exemplo escolhido, pode ser verificado na Fig. 6.9. Uma forma de visualizar a gama de valores de tensão é através do mapa de regras. O mapa de regras faz uma associação dos valores de entrada do controlador com a respectiva saída, ou variável de controle, baseada nas regras implementadas no controlador. Este conjunto de entradas e saída pode ser representada de acordo com uma superfície tridimensional, observada na Fig. (6.13). O eixo vertical é a variável de controle enquanto que em cada eixo horizontal estão as entradas do controlador, ou seja, erro e a variação do erro. Figura 6.13 - Superfície para variável de controle do aquecimento A superfície de controle tridimensional para o resfriamento é mostrada na Fig. (6.14). No eixo vertical identificado como a variável de saída, são mostrados os valores de tensão que o motor de resfriamento pode receber. Nos eixos horizontais são apresentados o erro de temperatura e a variação do erro. 84 Figura 6.14 - Superfície para variável de controle do resfriamento 6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo apresentou-se a lógica do sistema de controle que foi desenvolvida diretamente para controlar temperatura e indiretamente para controlar as amplitudes das vibrações mecânicas. A implementação do controle foi baseada no conhecimento experimental do sistema obtido no Capítulo 5 bem como das informações do atuador. A estratégia de controle para determinar a temperatura de referência da mola foi baseada em uma relação entre freqüência de excitação e freqüência natural do sistema, onde o controlador utilizado foi do tipo fuzzy devido a simplicidade de implementação. 85 CAPÍTULO VII RESULTADOS 7.1 INTRODUÇÃO Para validação do comportamento do sistema rotativo com atuador com Liga com Memória de Forma, foi feita uma comparação de estudos de casos do sistema controlado e do sistema sem ação de controle com temperaturas constantes, de 35°C e 63°C, para a mola. O sistema em estudo (1 gdl) apresenta variações simultâneas de amortecimento e rigidez que implica nos valores da freqüência natural de ωr= 14,2 Hz e cr=10,350 N.s/m para a temperatura de 35°C e ωa= 17,3 Hz e ca=3,741 N.s/m para a temperatura de 63°C. Nos experimentos, foram consideradas seis situações, quatro com variação e duas sem variação da freqüência: Na primeira situação o sistema está em ressonância com uma freqüência de 14,2 Hz. Na segunda situação o sistema está em ressonância com uma freqüência de 17,3 Hz. Estas duas freqüências foram escolhidas por serem pontos críticos para o sistema em estudo. Na terceira situação, o sistema não apresenta controle de temperatura da mola de LMF e a freqüência do sinal de excitação varia diversas vezes de 14,2Hz para 17,3Hz e vice versa. A quarta situação é semelhante ao caso 3, no entanto, é aplicado um controle de temperatura na mola de LMF. No caso 5 o sistema foi excitado com um sinal onde a freqüência de excitação varia linearmente de 0 a 23 Hz, em um intervalo de 150 seg, para em seguida começar a diminuir a freqüência até chegar a 0 Hz quando o tempo está em 300 segundos. Neste quinto caso não é aplicado um controle de temperatura da mola de LMF. O sinal de excitação aplicado ao sistema caso 6 é semelhante à situação anterior, no entanto, no sexto caso a mola de LMF tem sua temperatura controlada. 86 7.2.1 Caso 1 – Sistema excitado com 14 Hz Na primeira situação observada, a mola se encontrava inicialmente com uma temperatura de 35ºC, que resultava na freqüência natural de 14,2Hz. O motor foi alimentado para se obter esta freqüência durante todo experimento. Após 150 segundos, a mola foi submetida a um aquecimento para que o sistema saísse da ressonância, tendo como resultado a redução das amplitudes de vibração (Fig. 7.1). 0.01 70 Vibrações do sistema 0.0075 65 Temperatura da mola 60 X: 165.5 Y: 53.54 0.0025 A X: 160.5 Y: 47.87 0 55 50 -0.0025 B 45 -0.005 40 -0.0075 35 -0.01 0 50 100 150 Tempo [s] 200 250 Temperatura [°C] Amplitude [m] 0.005 30 300 Figura 7.1 – Vibração do sistema sem e com a ação de controle para um degrau de aquecimento Observa-se na Fig. 7.1 que as linhas A e B informam as amplitudes de vibração de 1,8 milímetros e -1,8 milímetros respectivamente. No período de 0 a 150 segundos não há ação de controle, estando o sistema no estado de ressonância com amortecimento elevado, tendo em vista que a mola de LMF a 35°C está na fase R. A partir de 150 segundos a mola passa a ser aquecida onde se verifica um pequeno aumento das amplitudes de vibração, e estas amplitudes atingem o ponto máximo em 160,5 segundos quando a temperatura da mola já está em 47,87°C. Isto acontece devido à pequena variação da freqüência natural do sistema aliado com a forte diminuição do fator de amortecimento. A partir deste ponto o amortecimento permanece quase que constante, porém há uma variação significativa da rigidez da mola em função da continuidade do 87 aquecimento, resultando em amplitudes de vibração abaixo de 1,8 milímetros, quanto a temperatura da mola está a 53,54°C, conforme mostrado na Fig. 7.1. De modo geral, as amplitudes de vibração caíram de 2 milímetros para 0,5 milímetros, se compararmos os 150 primeiros segundos com a outra metade do experimento. Isto significa uma redução de 75%. Durante o aquecimento acontece uma mudança da estrutura cristalina da mola com memória de forma, saindo da fase R para fase austenita. Esta mudança de fase provoca um aumento na rigidez a partir da temperatura de austenita inicial (48°C) e consequentemente uma mudança na freqüência natural do sistema. 7.2.2 Caso 2 – Sistema excitado com 17 Hz Na segunda situação observada, a mola se encontrava inicialmente com uma temperatura de 63ºC, que resultava na freqüência natural de 17,3Hz. O motor foi alimentado para se obter esta freqüência durante todo experimento. Após 150 segundos, a mola foi submetida a um resfriamento para que o sistema deixasse o estado de ressonância, tendo como resultado a redução das amplitudes de vibração (Fig.7.2). 0.01 70 Temperatura da mola Vibrações do sistema 0.0075 65 60 X: 160.1 Y: 54.4 0.0025 55 0 50 X: 171.1 Y: 43.18 -0.0025 45 -0.005 40 -0.0075 35 -0.01 0 50 100 150 Tempo [s] 200 250 Temperatura [°C] Amplitude [m] 0.005 30 300 Figura 7.2 – Vibração do sistema sem e com a ação de controle para um degrau de resfriamento 88 Verifica-se mais uma vez na Fig. 7.2 que as amplitudes de vibração do sistema apresentam valores em torno de 7 milímetros no período de tempo de zero a 150 segundos. Novamente este nível de vibração ocorre devido ao sistema se encontrar em estado de ressonância na freqüência de 17,3 Hz. Neste mesmo período de tempo, a temperatura da mola está em torno dos 63ºC e o sistema não está sendo controlado. Nesta temperatura a mola se encontra na fase austenitica, onde a mola apresenta alta rigidez e baixo amortecimento, situação contrária em relação à verificada na Fig. 7.1. Na Figura A partir do tempo de 150 segundos, a mola é resfriada para sair da região de ressonância. Porém, o que se observa no período de 150 a 160 segundos é uma manutenção dos mesmos níveis de vibração, e isto acontece devido a pouca variação de rigidez mesmo com uma redução de temperatura da mola de 64C para 54C. A partir da temperatura de 54C as amplitudes caem com a continuação do resfriamento, pois a partir desta temperatura são observadas variações significativas de rigidez e amortecimento durante o resfriamento. As amplitudes de vibração ficam abaixo de 1,8 milimetros a partir da temperatura de 43C. De forma geral foi verificado que as amplitudes de vibração do sistema caíram de 7 milímetros para 1 milímetro, ou seja, uma redução de 85%. 7.2.3 Caso 3 – Sistema sem controle de temperatura e excitado com 14 Hz e 17 Hz intercalados Para o caso 3 foi considerado a situação sem controle, onde o sistema é excitado e a mola apresenta um valor fixo de temperatura. Foram consideradas duas temperaturas fixas: 35ºC e 63ºC. O sinal de excitação apresenta freqüências de ω1=14,2 Hz e ω2=17,3 Hz. Essa mudança da freqüência de excitação intercalada ocorre a cada 150 segundos, com tempo total do sinal de 750 segundos. Optou-se por mostrar o sinal de excitação utilizando um espectrograma, que apresenta uma imagem bidimensional na qual a ordenada corresponde à freqüência e a abscissa corresponde ao tempo; a intensidade do sinal é identificada associando uma barra de cores com as amplitudes relacionadas no gráfico. A Fig. 7.3 mostra o espectrograma do sinal aplicado. Frequencia [Hz] 89 30 30 1.2 25 25 1 20 20 0.8 15 15 0.6 10 10 0.4 5 5 0.2 0 0 0 1 2 Amplitude [N] 0 100 200 300 400 0 100 200 300 400 Tempo [s] 500 600 700 500 600 700 0 2 0 -2 Figura 7.3 – Sinal de excitação nas freqüências 14 Hz e 17 Hz. Observa-se que o sinal inicia com uma freqüência de 17 Hz e permanece assim nos 150 segundos seguintes. Em seguida o sinal muda para a freqüência para 14 Hz, e também dura 150 segundos. Este processo de alteração na freqüência do sinal ocorre mais três vezes. A amplitude do sinal de excitação depende da massa desbalanceada, da excentricidade em relação ao eixo do motor e da freqüência de rotação. Desta forma, observa-se que a força de excitação é maior nos momentos em que a freqüência é de 17 Hz. Inicialmente o sistema foi excitado com o sinal descrito anteriormente quando a mola se encontrava com temperatura em torno dos 35°C. Na Fig. 7.4-a as amplitudes de vibração são maiores quando o sinal de excitação é de 14 Hz, nos intervalos de 150seg. a 300seg. e 450seg. a 600seg., isto porque o sistema está em ressonância nestes intervalos. Já na Fig. 7.4-b são mostradas as amplitudes de vibração do sistema quando a mola está a 63ºC. Verifica-se que o sistema entra em ressonância nos intervalos de 0 a 150s, de 300 a 450s, e de 600 a 750s. No entanto as amplitudes são maiores que a situação anterior, devido ao coeficiente de amortecimento ser mais baixo a esta temperatura. 0.01 0.01 0.008 0.008 0.006 0.006 0.004 0.004 Amplitude [m] Amplitude [m] 90 0.002 0 -0.002 0.002 0 -0.002 -0.004 -0.004 -0.006 -0.006 -0.008 -0.008 -0.01 0 150 300 450 Tempo [s] 600 750 -0.01 0 150 300 450 Tempo [s] 600 750 (a) mola a 35°C (b) mola a 63°C Figura 7.4 – Vibração do sistema sem controle nas freqüências 14 Hz e 17 Hz. A Fig. 7.5, mostra o comportamento da temperatura da mola de LMF ao longo da coleta de dados das Figuras 7.4-a e 7.4-b. 70 65 Temperatura [ºC] 60 55 50 45 40 35 30 25 20 0 100 200 300 400 Tempo [s] 500 600 700 Figura 7.5 – Temperatura da mola para as situações do caso 3 7.2.4 Caso 4 – Sistema com controle de temperatura e excitado com 14 Hz e 17 Hz intercalados O sistema foi novamente excitado com o sinal descrito no caso 3. No entanto a situação agora mostra o resultado quando é aplicado o controle de temperatura com o objetivo de reduzir os níveis de vibração. A Fig. 7.6 ilustra a vibração do sistema ao longo 91 do tempo. Quando comparamos a Fig. 7.6 (com controle de temperatura) com os resultados da Fig. 7.4 (sem controle de temperatura), observa-se uma nítida redução nas amplitudes de vibração para o mesmo sinal de excitação, devido ao deslocamento da freqüência natural. Verifica-se que o sistema de controle reduziu as amplitudes de vibração sempre que o mesmo entrou no estado de ressonância. Nesta figura ainda é possível verificar a influência da mudança do amortecimento com baixas amplitudes de vibração mesmo no estado de ressonância nos tempos de 150s. e 450s. Nestes tempos houve reduções de 2 mm para o,5 milímetros (75%) nas amplitudes de vibração. Se for observado os tempos de 300s e 600s onde a mola apresenta rigidez alta e baixo amortecimento, as amplitudes de vibração da ressonância são as mais as altas, devido à característica de baixo amortecimento. Neste caso, o controle mudou a temperatura tendo como resultado a redução das amplitudes de vibração de 7 mm para 1 mm, ou seja, uma queda de 85%. 0.01 0.008 0.006 Amplitude [m] 0.004 0.002 0 -0.002 -0.004 -0.006 -0.008 -0.01 0 150 300 450 Tempo [s] 600 750 Figura 7.6 – Vibração do sistema sob ação de controle, com freqüências de excitação de 14Hz e 17Hz. A Fig. 7.7 mostra o comportamento da variação da temperatura da mola e da temperatura de referência ao longo do tempo. Quando o sinal de excitação mudou de 17 Hz para 14 Hz nos tempos de 150 e 450 segundos, a temperatura de referencia passou de 35°C para 63°C, e a temperatura da mola aumentou devido à ação de controle, resultando na 92 mudança da freqüência natural do sistema, reduzindo assim os níveis de vibração. É importante ressaltar que a temperatura de referencia é de 35°C de zero a 150s, e o controle aumenta a temperatura da mola que estava em 25°C (temperatura ambiente) para a referência. Nos momentos em que o sinal de excitação mudou de 14Hz para 17Hz, o sistema novamente entrou em ressonância, o que obrigou a alteração da temperatura de referência de 63ºC para 35ºC, nos intervalos de tempo de 300s e 600s. O tempo necessário para atingir a temperatura de referência foi de 23 segundos, tanto para o aquecimento como para o resfriamento. Conforme verificação experimental, o percentual de ultrapassagem durante o aquecimento foi de 10%, considerando a aplicação de uma entrada em degrau de 30ºC. Durante o resfriamento, o percentual de ultrapassagem foi de 3%, também considerando um degrau de -30ºC. 70 65 60 Temperaura [m] 55 50 45 40 35 30 Temperatura de referência Temperatura da mola 25 20 0 150 300 450 Tempo [s] 600 750 Figura 7.7 – Sinal de referência de temperatura e temperatura da mola, na ação de controle 7.2.5 Caso 5 – Sistema sem controle de temperatura e freqüência de excitação variando entre 0 e 23 Hz Na quinta situação, o sistema foi excitado com um sinal onde a freqüência de excitação varia linearmente de 0 Hz a 23 Hz, em um intervalo de 150 seg, e em seguida, 93 diminui a freqüência de 23 Hz a 0 Hertz. O tempo de duração do experimento foi de 300 segundos. A Fig. 7.8 mostra o espectrograma deste sinal. 50 50 40 40 30 30 20 20 10 10 0 0 Frequencia [Hz] 0 -50 0 1 2 3 Amplitude [N] -100 -150 -200 50 100 150 200 250 50 100 150 Tempo [s] 200 250 2 0 -2 0 300 Figura 7.8 – Sinal de excitação variando linearmente de 0 a 23 Hz e vice-versa. O sinal de excitação inicia na freqüência de 0 Hz e vai aumentando a uma taxa constante de 0,15 Hz/s até o tempo de 150 segundos. A partir deste tempo, a freqüência começa a cair na mesma taxa, chegando a 0 Hz em 300s. A força de excitação oferecida pelo motor com massa desbalanceada também segue o mesmo padrão da freqüência, onde a taxa de aumento ou diminuição é de 0,016N/s. Desta forma, observa-se que a força de excitação é de 2,45 N quando a freqüência atinge 23 Hz. Novamente foram coletados dados para o sistema sem ação de controle, ou seja, com temperatura fixa da mola de LMF. Nesta situação o sistema apresentou as curvas de vibração conforme Figuras 7.9-a e 7.9-b. Observa-se novamente que o fato da mola se encontrar a 35ºC, implica em menores amplitudes de vibração na ressonância quando comparados com a mola a 63ºC, isto devido principalmente à diferença de amortecimento que a mola oferece entre estas duas temperaturas. 0.01 0.01 0.008 0.008 0.006 0.006 0.004 0.004 Amplitude [m] Amplitude [m] 94 0.002 0 -0.002 0.002 0 -0.002 -0.004 -0.004 -0.006 -0.006 -0.008 -0.008 -0.01 0 50 100 150 Tempo [s] 200 250 300 -0.01 0 50 100 150 Tempo [s] 200 250 300 (a) mola a 35ºC (b) mola a 63ºC Figura 7.9 – Vibração do sistema sem ação de controle quando submetido a uma freqüência de excitação de 0 Hz a 23 Hz. Para fazer uma comparação mais criteriosa entre os sistemas sem controle e com controle de temperatura da mola, foi coletado o tempo em que o sistema fica no estado de ressonância, estado este com amplitudes de vibração acima de 1 mm. Na Figura 7.9-a aconteceram duas faixas de ressonância. A primeira faixa de ressonância aconteceu entre 87,6 s. e 105,6 s., ou seja, um tempo de 18 segundos na região de ressonância. E a segunda região de ressonância iniciou em 195s e finalizou em 213,8s, com duração de 18,8s em estado de ressonância. Já na Figura 7.9-b, quando a mola esta a 63°C, a primeira região de ressonância iniciou em 98,5s e finalizou em 124,5s resultando em uma duração de 26s em regime de ressonância. Já a segunda região de ressonância, quando a freqüência de excitação diminuía de 23Hz para 0Hz, teve inicio em 171,5s e finalizou em 201s, resultando num tempo de 29,5s em estado de ressonância. 7.2.6 Caso 6 – Sistema com controle de temperatura e freqüência de excitação variando entre 0 e 23 Hz A Fig. 7.10 mostra a vibração do sistema, sob ação de controle de temperatura da mola de LMF, quando aplicado um sinal de excitação como apresentado na Fig. 7.8. Observa-se na Fig. 7.10 que o sistema passou por duas regiões de ressonância. A primeira região de ressonância iniciou em 100s e finalizou em 116s tendo uma duração de 16s em situação de ressonância. Já a segunda região de ressonância iniciou em 198s e terminou em 95 205s, te um tempo de duração de 7 segundos. Se for comparado os períodos na região de ressonância entre as Figuras 7.9 e 7.10, observamos que o sistema com controle reduziu o tempo em pelo menos 2 segundos na região crítica. Na melhor situação, o sistema com controle de temperatura reduziu o tempo de ressonância em 22 segundos. O sistema com controle também apresentou uma redução nas amplitudes de vibração quando comparados com os resultados da Fig. 7.9-b, em torno dos 200seg., momento este em que o sistema passava por uma situação de ressonância. No entanto, em torno dos 90seg., quando o sistema passava pela primeira vez na ressonância, as amplitudes se mostraram maiores quando comparados com a situação da Fig. 7.9-a. Isto também se deve à diferença de amortecimento em que a mola oferece nas duas situações comparadas. 0.01 0.008 0.006 Amplitude [m] 0.004 0.002 0 -0.002 -0.004 -0.006 -0.008 -0.01 0 50 100 150 Tempo [s] 200 250 300 Figura 7.10 – Vibração do sistema com ação de controle quando submetido a uma freqüência de excitação de 0 Hz a 23 Hz. A Fig. 7.11 mostra a evolução da temperatura da mola no tempo, em relação a uma variação prevista da temperatura de referência. Observa-se que o sistema não acompanhou bem a referência, devido à carga térmica aplicada à mola ser menor que a necessária. Para que o sistema de aquecimento acompanhe um aumento na temperatura referência é necessária a aplicação de uma corrente maior que a utilizada, que foi de 18 amperes para a mola em questão. 96 70 65 60 Temperatura [C] 55 50 45 40 35 Temperatura de referência Temperatura da mola 30 25 20 0 50 100 150 Tempo [s] 200 250 300 Figura 7.11 – Sinal de referência de temperatura e temperatura da mola, na ação de controle para o sistema excitado com frequências de 0 a 23 Hz. 97 CAPÍTULO VIII CONCLUSÕES E SUGESTÕES 8.1 CONCLUSÕES a) Apesar do trabalho se tratar de controle dos níveis de vibração de um sistema com 1 grau de liberdade, e a estratégia adotada para o controle tenha como base utilizar a propriedade de rigidez variável da mola SMA, e com isso evitar a aproximação da freqüência de excitação com a freqüência natural do sistema, o parâmetro controlado foi a temperatura de uma mola helicoidal de Níquel-Titânio que possui características das ligas com memória de forma. Resultados deste controle de temperatura da mola mostraram que foi possível uma redução em até 85% das amplitudes de vibração; b) Para a caracterização das temperaturas de transformação da liga, foi utilizado um calorímetro de varredura diferencial, e verificou-se que a 35°C a mola se encontra na fase rombohedral, ou fase R e na temperatura de 63°C a mola se encontra na fase austenítica. Enquanto que na fase R o amortecimento é alto e rigidez é baixa, na fase austenítica estas características se invertem. Estas mudanças simultâneas de rigidez e amortecimento ocorrem em grau menor acima de 63°C e abaixo de 35°C. Conclui-se então que a faixa de temperatura entre 35ºC e 63ºC foi a ideal para controlar os níveis de vibração do sistema em estudo; c) Ainda com relação à faixa de temperatura que foi trabalhada, após uma análise do comportamento da rigidez em função da temperatura, percebeu-se que a rigidez da mola apresentava o mesmo valor na temperatura de 35°C, seja durante o aquecimento 98 ou no resfriamento da liga. Este comportamento também ocorreu à 63°C, no entanto com uma rigidez 1,47 vezes maior que na temperatura de 35°. Conclui-se também que a análise da rigidez em função da temperatura pode indicar temperaturas de referência para o sistema de controle. Por outro lado, quanto ao efeito da variação do fator de amortecimento (cerca de 3x do valor de referência), também se obteve resultados interessantes do ponto de vista da escolha da LMF, que apresentou um comportamento viscoelástico semelhante aos materiais típicos usados como absorvedores de vibração. d) Quanto ao controlador utilizado para controlar a temperatura da mola foi adotado um modelo do tipo fuzzy, onde existiram duas temperaturas de referência, 35°C e 63°, conforme concluído anteriormente. O controlador fuzzy apresentou resultados positivos na redução dos níveis de vibração nas condições analisadas, usando a estratégia de escolher uma freqüência de referência de 15,2 Hz, onde se tem um ponto de mínimo local em termos de amplitude nas curvas simuladas; e) Com relação ao efeito da mudança da rigidez, a redução dos níveis de vibração ocorre devido a mudança da freqüência natural quando o sistema entra em ressonância. Já com relação à contribuição do amortecimento na redução das amplitudes de vibração do sistema, verifica-se que apesar de existir uma faixa de ocorrência de ressonância entre as fases austenítica e rombohedral, as menores amplitudes de ressonância ocorrem na fase R, devido ao alto amortecimento desta fase. Resultados mostraram que nos momentos em que a mola se encontrava na fase rombohedral, as amplitudes de vibração do sistema apresentavam valores máximos de pico de 2,5 milímetros durante a ressonância. Já na fase austenítica, as amplitudes de vibração chegariam a 7 milímetros de pico durante a ressonância. Conclui-se a mudança de amortecimento e rigidez que estas ligas possuem influenciam de maneira distinta na redução dos níveis de vibração; f) O controle de temperatura conseguiu aquecer e resfriar no momento em que esta ação foi solicitada numa taxa da ordem de 1,3 ºC/s que é considerada baixa para esta situação. Dependendo da composição de liga, as temperaturas de transformação mudam e a faixa utilizada neste trabalho (entre 35ºC e 63ºC) pode ser reduzida dependendo do tipo de aplicação; 99 g) A LMF apresentou uma histerese da ordem de 14°C, entre os picos da fase austenítica e da fase rombohedral. Esta é a diferença de temperatura que o sistema tem que superar para reduzir os níveis de vibração, seja esta diferença no aquecimento ou resfriamento. A passagem de corrente elétrica através da mola de LMF foi o método adotado no aquecimento e a convecção forçada para o resfriamento. Ficou claro que a eficiência do controle está na taxa de energia térmica aplicada ou retirada na mola de LMF. Ou seja, quanto maior esta taxa, mais rapidamente a histerese é superada e consequentemente mais eficiente é o controle de vibrações; 8.2 SUGESTÕES a) O estudo realizado foi desenvolvido utilizando um sistema clássico massa-mola com 1 grau de liberdade. É interessante que a pesquisa tenha continuidade com a aplicação em equipamentos do tipo mesa vibratória onde os modos de vibração sejam mais complexos ou noutros que necessitem um controle de vibração. b) A eficiência da resposta de um atuador de LMF está diretamente ligada à quantidade de calor que estes materiais devem receber ou ceder. Neste trabalho foi utilizada uma mola de LMF que requeria quantidades de calor consideráveis devido à massa que deveria ser aquecida ou resfriada. Desta forma, faz-se necessária uma investigação mais aprofundada acerca do tempo de resposta de atuadores com memória de forma onde seja desenvolvida uma relação entre massa do atuador e a carga térmica requerida para a ação. c) O resfriamento da mola de LMF deste trabalho foi feito através de convecção forçada onde a temperatura do ar estava em torno dos 25ºC. Uma pesquisa utilizando células de peltier pode ser desenvolvida para que a taxa de calor retirada da mola possa ser melhorada, e com isso pode ser melhorado o tempo de resposta para o resfriamento. 100 REFERÊNCIAS AHL´EN, A; STERNAD, M., 1994. Derivation and design of Wiener filters using polynomial equations. Control and Dynamic Systems, Vol. 64, pp 353–418. AHMAD, S.S; LEW, J. S; KEEL, L. H., 2000. Robust control of flexible structures against structural damage. IEEE Transactions on Control Systems Technology, Vol.8(1), pp 170–182. AIROLDI, G.; LODI, D. A.; POZZI, M., 1997. The electric resistance of shape memory alloys in the pseudoelastic regime. Journal de Physique IV 7 (1997), pp 508. BRENNAN, M. J.; ELLIOTT, S. J; PINNINGTON, R. J., 1992. Active control of vibrations transmitted through struts. International Conference on Motion and Vibration Control, Yokohama, Japan. BUCHLER, W.J. et al, 1963. 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VIBRAÇÃO FORÇADA CAUSADA POR EXCITAÇÃO HARMÔNICA Considere a equação do movimento de um sistema massa-mola-amortecedor com 1 grau de liberdade com uma força de excitação F(t) agindo sobre ele, conforme mostrado na Fig. A.1. x(t) m dx ω k md c Figura A.1 – Sistema rotativo desbalanceado com 1 gdl A Equação (a.1) define o sistema mostrado na Fig. A.1 m.&x& + c.x& + kx = F (t ) (a.1) A Equação (a.1) é uma equação diferencial ordinária linear e não-homogênea com uma força de excitação F(t) do tipo harmônica e descrita como: F ( t ) = Fo.sen (ω .t ) Onde: Fo é a amplitude de excitação; ω é a freqüência de excitação. (a.2) 108 Um caso especial de vibrações excitadas por forças harmônicas ocorre em máquinas rotativas com massa desbalanceada. Nestes casos o sistema é excitado por uma massa desbalanceada com uma velocidade angular ω e com uma excentricidade dx. Esta força de desbalanceamento é dada por: Fo(t) = md.dx.ω2.sen (ω.t) (a.3) Desta forma, a Eq. (a.1) é escrita: m.&x& + c.x& + kx = m d .d x .ω 2 .sen (ω.t ) (a.4) A solução para determinar os deslocamentos da massa m no tempo pode ser encontrada através do método dos coeficientes indeterminados. Um método que pode ser usado envolve aplicar o método dos coeficientes indeterminados (BOYCE e DIPRIMA, 1986). Assim a solução da equação do movimento (a.4) envolve a soma da solução homogênea xh(t) e da solução particular xp(t): x( t ) = xh ( t ) + x p ( t ) (a.5) A solução homogênea xh(t) corresponde a solução do sistema quando F(t)=0 e representa um termo transitório provocado pela resposta livre. A solução permanente xp(t) depende da freqüência de excitação e é uma resposta em regime permanente. Fisicamente, a solução em regime permanente xp(t) segue a excitação F(t) com uma amplitude Xp e fase ϕ em relação a excitação do tipo senoidal, assim a solução da parte permanente é do tipo: xp(t ) = X p sen(ω t − ϕ ) (a.6) Derivando a Eq. (a.6) e substituindo na Eq. (a.4) chega-se a amplitude de resposta Xp do sistema: 109 Xp = F (k 2 − m.ω (a.7) ) + (c.ω ) 2 2 2 Se for considerado a razão de freqüências r= ω/ ωn , onde ω n = k / m , o fator de multiplicação da força de excitação é: M (r , ς ) = Xp.k = F 1 (a.8) (1 − r 2 ) 2 + (2.ς .r ) 2 Onde ζ é o fator de amortecimento Já a fase ϕ pode ser escrita como: 2.ς .r 2 1 − r ϕ = tan −1 (a.9) A solução final da equação do movimento para um sistema sub-amortecido, 0<ζ<1, pode ser escrita como: x(t ) = Xh. exp( −ς .ω n .t ).sen(ω d .t + φ ) + F /k 2 2 (1 − r ) + (2.ς .r ) 2 .sen (ω .t − ϕ ) (a.10) sendo Xh a amplitude máxima do deslocamento e φ a fase, definidas por: Xh = (v0 + ς .ω n .x 0 ) 2 + ( x 0 .ω d ) 2 ωd x0 .ω d v 0 + ς .ω n .x0 φ = tan −1 Examinando a Eq. (a.10), é possível mostrar duas observações: (a.11) (a.12) 110 • Quando o tempo t é grande (t→ ∞) o termo transiente xh(t) se torna muito pequeno e consequentemente a resposta de regime permanente xp(t) fica predominante na resposta final x(t). • Caso a freqüência de excitação ω seja igual ou próxima da freqüência natural ωn, a razão r tende a 1. Este fenômeno resulta no aumentyo considerável das amplitudes de vibração ou do fator de ampliação M (r,ζ) , dependendo do valor do ζ do sistema. A Fig. (A.2) ilustra como o valor da razão de freqüência r e do fator de Amortecimento ζ afetam as amplitudes na condição de ressonância, quando r=1. Esta figura ilustra o fator de ampliação M (r,ζ) para vários valores de ζ. É possível perceber uma faixa próxima a r=1 onde existe uma ampliação nas amplitudes de vibração, esta região é conhecida como faixa de ressonância. É interessante também observar pela Eq. (a.7) que quando ζ=0 e r=1 o valor de Xp→∞. Figura A.2 - Curvas de ampliação de amplitudes de vibração para um sistema com 1 gdl. Pode-se definir também a largura de banda (Bandwidth) BW como sendo o valor da freqüência em que a magnitude de vibração Xp.k=F fica abaixo de 70,7%, que corresponde 111 a um decaimento de -3dB. A largura da banda BW pode ser relacionada ao fator de amortecimento ζ através da expressão: BW = ω n . (1 − 2.ς 2 ) + 4.ς 4 − 4.ς 2 + 2 (a.13) A.2. VIBRAÇÃO LIVRE COM AMORTECIMENTO POR HISTERESE O amortecimento estrutural ou histerético presente em sistemas com vibração livre, resulta do atrito entre as moléculas de um corpo quando o mesmo é submetido à deformações. Considerando um sistema com um grau de liberdade conforme mostrado na Fig. A.1, a força F(t) necessária para causar um deslocamento x(t) é dada por: F (t ) = k .x + c.x& (a.14) Considerando um movimento harmônico de freqüência ω e amplitude X, os deslocamentos passam a ser dados: x( t ) = X .sen (ω.t ) (a.15) A equação (a.15) e sua derivada substituídas na Eq. (a.14), resulta em: F ( t ) = k . X .sen (ω.t ) + cω. X . cos(ω .t ) (a.16) Ou ainda: F ( t ) = k . X .sen (ω .t ) ± cω. X . 1 − sen 2 (ω.t ) (a.17) A Figura A.3 mostra a energia dissipada pelo amortecimento em um ciclo de movimento. A energia dissipada em cada ciclo é dada pela área da elipse inclinada, onde esta energia é representada pela Eq. (a.18). 112 6 c .ω . X 2 − x2 4 Força 2 0 k.x -2 -4 -6 -4 -X -3 -2 -1 0 1 x2 3 X4 Deslocamento Figura A.3 – Energia dissipada pelo amortecimento em 1 ciclo ∆W = ∫ F .dx = π .ω .c. X 2 (a.18) Como a mola e o amortecedor estão ligados em paralelo, e considerando um movimento harmônico do tipo x(t)=X.ei.ω.t, a Eq. (a.14) passa a ser da forma: F ( t ) = k . X .e i.ω .t + i.cω. X .e i.ω . t (a.19) Ou ainda: ω.c F ( t ) = k .1 + i. .x ( t ) k (a.20) A Equação (a.20) pode ser reescrita da forma: F ( t ) = k *. x ( t ) (a.21) Onde o termo k* é a rigidez complexa do sistema. O parâmetro µ=ωn.c/k, é definida como a medida adimensional do amortecimento também conhecido como fator de perda. 113 A Equação (a.26) define o sistema excitado harmonicamente com amortecimento histerético: m.&x& + k (1 + i.µ ).x = Fo.e i .ω .t (a.22) A solução em regime permanente da Eq.(a.22) é da forma: x (t ) = Fo.e i.ω .t ω k 1 − ω n 2 (a.23) + i.µ A.3. DECREMENTO LOGARÍTMICO Em termos de µ, a perda de energia por ciclo vale: ∆W = π .µ .k .X 2 (a.24) Sob amortecimento por histerese (estrutural), o decréscimo da amplitude por ciclo pode ser determinado usando um balanço de energia. Tomando a diferença de energia entre dois pontos que determinam um período de meio ciclo da resposta amortecida, temos que: k . X 2j 2 − k . X 2j +0, 5 2 = π .k .µ. X 2j 4 + π .k . X 2j +0,5 4 (a.25) Ou ainda, Xj X j + 0, 5 = 2 + π .µ 2 − π .µ Da mesma forma, a diferença de energia para o meio ciclo seguinte produz: (a.26) 114 X j +0 , 5 X j +1 = 2 + π .µ 2 − π .µ (a.27) Multiplicando (a.26) por (a.27), temos: Xj X j + 0 ,5 X j + 0, 5 Xj 2 + π .µ . = = X J +1 X j +1 2 − π .µ (a.28) O fator de amortecimento viscoso equivalente pode ser encontrado igualando-se as relações para o decremento logarítmico: δ= 2.π .ς 1−ς 2 Xj = ln 2 + π .µ = ln 2 − π .µ X j +1 (a.29) Onde: ς equiv. = µ 2 = ω n .c 2.k (a.30) Assim, a constante de amortecimento equivalente (cequiv) é dada por: c= µ.k ωn (a.31) A.4. FUNÇÃO DE RESPOSTA AO IMPULSO (IRF) Uma situação muito comum em análise de vibrações e em problemas de dinâmica estrutural é focar na análise transiente da resposta. Nestes casos uma entrada do tipo impulso ocupa um lugar de destaque. A resposta ao impulso basicamente tem a forma da resposta as condições iniciais do caso homogêneo. Muitos sistemas mecânicos são excitados por carregamentos que são aplicados por um tempo breve. Matematicamente, 115 estas situações são modeladas usando uma representação matemática chamada de impulso unitário ou função delta de Dirac δ(t – a). Esta representação matemática é definida como: 0, t ≠ 0 ∞, t = a δ ( t − a) = (a.32) Onde ∫ ∞ −∞ δ (t − a).dt = 1 (a.33) Assim a equação do movimento para um sistema massa-mola-amortecedor com um grau de liberdade é descrita por: m.&x& + c. x& + kx = δ ( t − a ) (a.34) A resposta da Eq. (a.16) para o caso subamortecido é escrita como: e-ς ωn t sen( ωd t ) ,t > a x( t ) = mωd 0 ,t < a (a.35) onde ω d = ω n . 1 − ς 2 é a freqüência natural amortecida. A resposta do sistema quando a excitação aplicada é uma função impulso unitário é tão importante que nestes casos x(t) é chamada de função de resposta ao impulso (IRF) e escrita como sendo h(t). Quando a = 0 a IRF de um sistema de um grau de liberdade é escrita como: h( t ) = e −ς .ωn .t sen (ω d .t ) m.ω n (a.36) 116 ANEXO B DIAGRAMAS DE BLOCOS DO LABVIEW Figura B1 - Diagrama de blocos do controle de temperatura para o “caso 4” 117 Figura B2 - Diagrama de blocos do controle de temperatura para o “caso 6”