Modelo Termodinâmico de um Motor de Combustão Interna com Ignição por Centelha Natália Roberta da Silva* Santiago del Rio Oliveira Departamento de Engenharia Mecânica, FEB, UNESP 17033-750, Bauru, SP E-mail: [email protected], [email protected] RESUMO De maneira geral, estudos relacionados a motores de combustão interna com ignição por centelha têm como objetivo analisar sua eficiência energética, ou seja, a conversão da energia química do combustível em energia mecânica. Um estudo de eficiência energética pode ser realizado sob o ponto de vista dos materiais envolvidos na concepção do motor, da qualidade e tipo de combustível utilizado, das dimensões dos componentes do motor bem como das interações térmicas entre os componentes. O objetivo desse trabalho é desenvolver um modelo matemático de um motor de combustão interna com ignição por centelha baseado no ciclo de arpadrão Otto utilizando conceitos básicos de termodinâmica, transferência de calor e mecanismos. Esse modelo será dependente do ângulo de rotação da manivela e será resolvido numericamente utilizando o método de Runge-Kutta de 4a ordem. Palavras-chave: Biela-Manivela, Ciclo Otto, Runge-Kutta, Ignição por Centelha, Motor de Combustão Interna, Análise de Ar-Padrão METODOLOGIA A metodologia desse trabalho consiste basicamente em pesquisa bibliográfica em periódicos científicos e livros de interesse. Livros texto de termodinâmica, transferência de calor, motores de combustão interna e métodos numéricos serão consultados. Dados de interesse para o procedimento de solução numérica serão obtidos em periódicos científicos consultados pela internet. A simulação numérica será realizada utilizando o software Matlab. O desenvolvimento do modelo matemática consta das seguintes etapas: • Análise cinemática do mecanismo biela-manivela para o cálculo do volume e deslocamento do cilindro em função do ângulo de rotação da manivela. • Estudo do modelo termodinâmico do ciclo de ar-padrão Otto. • Aplicação da primeira lei da termodinâmica para sistemas fechados na forma diferencial para o fluido de trabalho do ciclo. • Utilização de uma função matemática para determinar a taxa de combustão do combustível em função do ângulo de rotação da manivela. • Solução numérica da equação diferencial resultante pelo método de Runge-Kutta de 4a ordem para o cálculo da pressão do fluido em função do ângulo de rotação da manivela. • Cálculo da temperatura do fluido utilizando a lei dos gases ideais em função do ângulo de rotação da manivela. • Cálculo da eficiência térmica do motor e da pressão média efetiva. RESULTADOS O estudo de caso consiste na análise de um cilindro de um motor de combustão interna de quatro tempos com ignição por centelha operando em plena carga. O ciclo do motor de combustão interna é modelado pelo ciclo Otto e os seguintes parâmetros operacionais são utilizados: b = 0,1 m; s = 0,1 m; l = 0,15 m; r = 10; N = 3000 rpm; Qentra = 1800 J; p1 = 100 kPa; T1 = 300 K; θ i = −20 o; θ d = 40 oC; k = 1,4; M = 28,97 kg/kmol; a = 5; n = 3 e − 180 o ≤ θ ≤ 180 o. 118 O modelo físico utilizado para a modelagem matemática é baseada na Fig. (1): b PMS y Pistão s PMI l Biela θ a Manivela Figura 1 – Modelo geométrico de um cilindro e um mecanismo biela-manivela. Pela Eq. (1) obtém-se m = 0,001 kg para R = 8,314 kJ/kmol.K e M ar = 28,97 kg/kmol: p1V1 (1) m= ( R M ar )T1 A variação do volume do cilindro em função do ângulo da manivela é dada pela Eq. (2), onde R = 2l s = 3 : V V V (θ ) = d + d [ R + 1 − cosθ − ( R 2 − sen 2θ )1 2 ] (2) r −1 2 No PMI, ou seja, em θ = −180 o e θ = 180 o, o volume do cilindro é máximo e igual a 8,7266 × 10−4 m3, enquanto no PMS, ou seja, em θ = 0 o, o volume do cilindro é mínimo e igual a 8,7719 × 10−5 m3. O volume de deslocamento é calculado pela Eq. (3), resultando em Vd = 7,854 ×10−4 m3: Vd = VPMI − VPMS = πb 2 s (3) 4 A taxa de variação do volume do cilindro em função do ângulo da manivela é expressa na Eq. (4): dV Vd = senθ [1 + cosθ ( R 2 − sen 2θ ) −1 2 ] (4) dθ 2 A Eq. (5) fornece a fração da liberação de calor em função do ângulo da manivela. Essa fração é nula no ângulo de início da liberação de calor, θi , atingindo 100% ao final do ângulo de duração da liberação de calor, θ d : 119 θ − θ n i xb (θ ) = 1 − exp − a (5) θ d Já a Eq. (6) fornece a quantidade de calor liberada em função do ângulo da manivela. Plotando o gráfico da Eq. (6), pode ser visto que o máxima liberação de calor é de aproximadamente 4900 J para um ângulo da manivela de 0o, ou seja, quanto o pistão está no PMI. n−1 θ − θi δQentra Q (6) = na entra (1 − xb ) dθ θd θd O perfil de pressões no cilindro em função do ângulo da manivela é obtido pela integração numérica da Eq. (7). A máxima pressão no cilindro é de aproximadamente 8726 kPa, que ocorre 10o após o PMS. dp k − 1 δQentra p dV = (7) −k dθ V dθ V dθ Através da Eq. (8), é obtido o perfil de temperaturas no cilindro em função do ângulo da manivela. A máxima temperatura no cilindro, 2957 K, ocorre, obviamente, 10o após o PMS. pV (8) T= m( R M ar ) O diagrama pressão-volume é importante na determinação do trabalho desenvolvido pelo ciclo. Dois resultados podem ser obtidos: utilizando a regra dos trapézios pode-se calcular o perfil de trabalho em função do ângulo da manivela, δW = pdV , e o trabalho líquido desenvolvido pelo ciclo pode ser calculado pela soma de todos os valores do perfil de trabalho em função do ângulo da manivela, Eq. (9). Para o caso em análise, Wciclo = 1066,9 J. θ =180 Wciclo = ∫ δW (9) θ = −180 Para a pressão média efetiva do ciclo, Eq. (10), foi obtido o valor de 13,58 bar. A potência desenvolvida pelo cilindro, Eq. (11), é de 26,67 kW. Finalmente, a eficiência térmica do motor, Eq. (12), é de 59,3%. Wciclo (10) pme = V1 (1 − 1 r ) NVd W& = pme 2 Wciclo η= Qentra (11) (12) Referências [1] C. R. FERGUSON, A. T. KIRKPATRICK. Internal combustion engines, 2a edição, John Wiley & Sons, 2001. [2] J. B. HEYWOOD. Internal Combustion Engines Fundamentals, 1a edição, Estados Unidos, McGraw-Hill, 1988. [3] R. SONNTAG, C. BORGNAKKE, G. VAN WYLEN. Fundamentals of thermodynamics, 5a edição, Nova York, John Wiley & Sons, 1998. [4] R. STONE. Introduction to Internal Combustion Engines, 3a edição, Londres, Macmillan Press LTDA, 1999. * Bolsista de Iniciação Científica FAPESP 120