I Congresso Internacional de Pesquisa em Letras no Contexto Latino-Americano e
X Seminário Nacional de Literatura, História e Memória
21 a 23 de Setembro de 2011
UNIOESTE – Cascavel/PR
O ensino de gramática tendo o texto como objeto de ensino no município de Engenheiro
Beltrão
GULHOTTI, Katie Emanoele de Lima (PIC). (Faculdade Estadual de Ciências e Letras de
Campo Mourão – FECILCAM)
ALEIXO, Antonio Carlos (OR). (Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão
– FECILCAM)
RESUMO: Neste artigo apresentamos os resultados finais de nossa pesquisa desenvolvida no
projeto de iniciação cientifica (PIC) da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo
Mourão, cujo objetivo foi investigar como se deu o início da prática de ensino de gramática a
partir de textos na Rede Estadual no Município de Engenheiro Beltrão. Tomando por
orientação o método dialético, primeiramente, analisamos as propostas para o ensino de
gramática apresentados nos documentos oficiais PCN e DCE, seguida da revisão bibliográfica
dos autores que tratam o tema ensino de gramática e texto. Na sequência, realizamos
entrevistas com 10 professores em serviço neste Município, a fim de investigar, a partir de
seus discursos, quando se deu para eles o início deste processo. As análises dos dados
levantados na revisão bibliográfica mostraram são tidas como causa para a mudança de
prática pedagógica a emergência das pesquisas cientificas nas universidades brasileiras e o
fim da ditadura militar no Brasil. Quanto à análise dos dados obtidos por meio das entrevistas,
verificamos que há, por parte dos professores entrevistados, apesar das dificuldades apontadas
e da postura eclética com o ensino tradicional, em alguns momentos, uma postura voltada
para o reconhecimento da necessidade do ensino a partir de textos.
PALAVRAS-CHAVE: Formação de professores; Gramática; Ensino;
ABSTRACT: In this article we present the final results of our research developed in the
scientific initiation program (SIP) from the Faculdade Estadual de Ciências e Letras de
Campo Mourão, which objective was to investigate how the beginning of the teaching
grammar practice happened from texts of the State Network in the Municipality of
Engenheiro Beltrão. Choosing as guidance the dialectic method, originally, we analyzed the
proposals for the grammar teaching presented in the official documents PCN and DCE
followed by the bibliographic reform of the authors who discuss the grammar and text
teaching theme. Then, we interviewed 10 teachers in service in that municipality in order to
investigate, from their speeches, when the beginning of that process happened. The analyze of
information obtained in the bibliographic review showed that the emergency of the scientific
researches in Brazilian universities and the end of military dictatorship in Brazil are
considered the cause of changing in pedagogical practice. As for the analyze of information
obtained from interviews, we verified that there is, for some teachers who were interviewed,
despite of the difficulties showed and the eclectic stance with the traditional teaching, in some
moments, a stance toward the recognition of the necessity of teaching from texts.
KEY-WORDS: Teachers Formation; Grammar; Teaching;
INTRODUÇÃO
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O ensino de gramática, nos últimos 30 anos, tem produzido polêmicas entre
pesquisadores e professores de Língua Portuguesa. O ponto de divergência é se a gramática
normativa deve ou não ser ensinada em sala de aula e qual deveria ser a metodologia para
isso. A revisão bibliográfica na literatura sobre a historia recente da educação no Brasil
apontou que foi a partir de 1980 que as pesquisas sobre a formação de professores tiveram
maior aceitação entre os educadores e pesquisadores e as práticas tradicionais e tecnicistas
passaram a ser atacadas pelas chamadas “Teorias críticas”, não apenas no conteúdo que
propagavam, mas também na nova perspectiva que estas teorias possibilitaram para a
formação dos professores de língua portuguesa, seus trabalhos e práticas pedagógicas.
No que se refere ao ensino de línguas, ou de Língua Portuguesa, mais precisamente,
os anos de 1990 e os primeiros anos no século XXI já encontraram os trabalhos com os
estudos da linguagem voltados para a valorização do discurso, das condições de produção e
da rejeição à gramática tradicional pelo menos nas manifestações dos professores. Não é
incomum, por exemplo, dados os diversos cursos de formação continuada a que são
submetidos, pelos diferentes governos, que professores informem sobre a mudança na prática
pedagógica, tanto no que se refere ao conteúdo ensinado como à metodologia, ou
metodologias, de ensino.
Esta pesquisa buscou investigar, tanto na bibliografia produzida nos últimos anos, e
que são referidas nos documentos oficiais, das escolas públicas, quanto nas manifestações dos
professores, as condições de aparecimento do ensino de gramática com textos. No que se
refere às declarações dos professores, buscou, através de entrevistas semi-estruturadas,
respostas para o aparecimento, ou a descoberta, desta proposta para alguns professores de
Língua Portuguesa no município de Engenheiro Beltrão.
Embasados, principalmente, pelo método histórico dialético, compreendendo-o como
meio de entender a estruturação, o desenvolvimento e a transformação dos fenômenos sociais,
dos objetos investigados, ou em outras palavras, a essência dos fenômenos as perguntas que
nos motivaram foram: A que se deve a entrada do ensino a partir de textos nas escolas
públicas? Quais os motivos para a mudança de prática dos professores de língua portuguesa?
Como se deram essas transformações e o que elas representam?
A busca se deu a partir da revisão teórica da literatura científica que trata do tema,
produzida a partir de 1980. Os objetivos desta primeira ação investigativa foram os
de identificar, situar historicamente e revelar as causas aparentes, atribuídas pelos autores,
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para a entrada do texto na sala de aula. Seguida da análise de entrevista semi-estruturada
realizada com alguns professores atuantes, servidores das escolas estaduais do município.
Com base nos depoimentos dos professores entrevistados, foi levantada parte da história
concreta da emergência do ensino com textos nas escolas públicas.
Assim, no presente artigo, focalizamos mais especificamente os resultados da análise
das entrevistas feitas com os professores referidos. Inicialmente discutiremos os processos de
mudança nas escolas públicas e no ensino de Língua Portuguesa no Brasil. Faremos também,
uma breve discussão acerca do papel da escola no que se refere ao ensino de gramática.
Finalizaremos o artigo com a discussão dos resultados obtidos e considerações finais.
DESENVOLVIMENTO
Em meados do século XX, deu-se início a uma nova realidade nas escolas públicas do
Brasil. As camadas populares passaram a ocupar parte do espaço que antes era guardado
apenas para as elites, o que levou à revisão da postura dos professores, que até então, estavam
habituados a um diferente grupo social de estudantes, os da classe média alta. As razões para
a entrada de outro grupo social nas escolas públicas estão vinculadas à mudança econômica e
política pela qual passou o Brasil, no final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980. Com
as diversas vitórias do PMDB – partido de oposição que abrigava diversas tendências
ideológicas, inclusive as que fizeram, durante os anos de 1970, oposição armada à Ditadura
Militar, no Brasil – para governos estaduais, intelectuais ligados ao PCB, à teologia da
libertação e aos movimentos sociais, assumiram postos importantes em tais governos e a
plataforma vencedora os obrigava a incluir uma ampla parcela da sociedade que ficava
ausente das políticas públicas. Tudo isso, certamente, sem alterar a estrutura do modo de
produção capitalista. As reformas aconteceram a partir de modelo de estado gestor da nova
ordem econômica, que, já nos anos de 1980 apresentava os primeiros traços, no Brasil, da
globalização capitalista.
Tanto a globalização da economia, que provocou abertura dos mercados e das regras
internas dos países, quanto a transformação na base material de produção, incluindo novas
tecnologias e novas máquinas, modificaram as estruturas e ações dos governos durante os
anos de 1990.
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Facci (2004, p. 5) afirma que “A sociedade passa por um processo de globalização, de
internalização do capital, com ´abertura´ comercial, econômica, financeira e cultural, criando
um ´novo cenário´”.
Para diversos autores, neste novo contexto, o mercado exige pessoas polivalentes,
flexíveis, ágeis, com visão do todo, conhecimentos técnicos, que falem, leiam e escrevam em
diferentes idiomas, possuam múltiplas habilidades, etc. Quem não estiver capacitado de
acordo com essas exigências está fora do mercado. Nesta sociedade marcada pela revolução
tecnológica-científica, o centro do processo produtivo está no conhecimento e, portanto
também na educação, agora mercantilizada.
Produtos desta nova realidade no campo da Educação podem ser sentidos na
elaboração da nova LDB, em 1996, e na produção dos Parâmetros Curriculares Nacionais,
logo em seguida. Análises de tais documentos já apontaram que os mesmos são a expressão
de um modelo econômico que necessita de um novo sujeito, adequado mais aos padrões da
situação emergente de produção, incluindo as novas maquinarias na base material, que ao
modelo anterior, de produção repetitiva e em série.
Essa nova realidade na reconfiguração da Educação em geral produziu, no interior das
escolas, outro tratamento ao ensino de Língua Materna. O ensino de Língua Portuguesa,
fortemente embasado no método tradicional, não apenas não reconhecia as variedades da
Língua, trazidas pelo grupo social que passava a freqüentar as escolas públicas, como também
discriminava qualquer variedade linguística que desviasse do que era aceito como Língua
Padrão. Foram as diferenças entre a realidade dos professores e alunos que fizeram despertar a
consciência de que o ensino, da maneira como vinha sendo feito, não atingia o público alvo.
Iniciou-se então um momento de tentativas de renovação no ensino de Língua Portuguesa e
Gramática:
A democratização da escola, ainda que falsa, trouxe em seu bojo outra
clientela e com ela diferenças dialetais bastante acentuadas. De repente não
damos mais aulas só para aqueles que pertencem a nosso grupo social.
Representantes de outros grupos estão sentados nos bancos escolares. E eles
falam diferente (GERALDI, 1984 p. 43).
A preocupação com o papel da gramática no ensino de Língua Portuguesa vem, desde
então, se mostrando cada vez mais presente entre pesquisadores no campo dos estudos
Linguísticos. E apesar de haver autores que defendam o ensino da gramática normativa, são
predominantes os questionamentos a respeito da consistência deste conteúdo de ensino.
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De fato, esta discussão não foi apenas uma consequência da necessidade de se atender
aos novos alunos da escola pública. Questionava-se também a inconsistência do ensino
normativo, que priorizava apenas regras e, obviamente, não dava conta de todas as
possibilidades de uso da Língua, ou seja, conceber o ensino de gramática apenas como um
conjunto de regras a serem seguidas ficava à margem do real uso da Língua.
Possenti (1997, p. 17) faz uma discussão acerca do ensino de gramática. O autor
afirma que o papel da escola é sim o de ensinar a língua padrão, uma vez que as crianças
adquirem e usam a língua de forma natural, ou seja, possuem uma gramática internalizada: “O
objetivo da escola é ensinar o português padrão, ou, talvez mais exatamente, o de criar
condições para que ele seja aprendido”.
O mesmo autor discute de maneira detalhada os diferentes conceitos de gramática,
cuidando para não valorizar um modelo de gramática acima do outro, ressalta a necessidade
de preparar o aluno para que reconheça e utilize cada uma delas nos diferentes contextos em
que estiver inserido: “O papel da escola não é ensinar uma variedade no lugar da outra, mas
de criar condições para que os alunos aprendam também a variedade que não conhecem, ou
com as quais não têm familiaridade” (POSSENTI, 1997, p. 83). Afirma ainda, que aprender a
língua padrão não significa conhecer as regras ou os nomes técnicos com os quais a língua é
analisada, mas saber utilizá-las, efetivamente.
Considerando as publicações mais citadas nos documentos institucionais, ocupamonos de investigar a bibliografia que trata do tema “ensino de gramática com de textos”
publicada a partir de 1980. Para tanto, tomamos por base os seguintes autores: Cardoso
(1999); Rojo e Cordeiro (2004); Geraldi (1997); Geraldi (1885); PCN (1997); Diretrizes
Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa (2008); Koch (1984); Koch (1989); Koch e
Travaglia (1989); Possenti (1997); Bagno (2002). Os objetivos desta ação investigativa eram
o de identificar, situar historicamente e revelar as causas aparentes, atribuídas pelos autores
para a entrada do texto na sala de aula. Buscamos relações entre a entrada do texto na sala de
aula e as causas apresentadas pelos trabalhos acadêmicos.
Verificamos que, para os autores, são tidas como causas para a mudança da prática
pedagógica o movimento de redemocratização do Brasil, após os anos de 1980, as pesquisas
cientificas no campo da linguística e dos estudos da linguagem, especialmente oriundos das
universidades européias bem como a disseminação de pesquisas a partir da pós-graduação nas
universidades brasileiras, sobre a temática do ensino de gramática e texto.
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Com isso, identificamos que, invariavelmente, dois aspectos são considerados como
causa para a mudança de prática pedagógica, em relação ao tema proposto neste trabalho: a
superação do regime de exceção, ou seja, a ditadura militar no Brasil e a emergência das
pesquisas científicas nas universidades brasileiras.
No que diz respeito ao ensino de língua portuguesa, a literatura cientifica tem
apontado que todo trabalho do seu entorno leva em consideração aquilo que se concebe como
linguagem, como língua e como gramática. Geraldi (1985), Possenti (1997), Koch (2002,)
apontam três concepções de linguagem: A linguagem como expressão do pensamento, como
instrumento de comunicação e como forma de interação. Consideremos o que afirma Geraldi
a respeito das concepções de linguagem:
Fundamentalmente, três concepções podem ser apontadas: A linguagem é a
expressão do pensamento: essa concepção ilumina, basicamente, os estudos
tradicionais. Se concebemos a linguagem como tal, somos levados a
firmações-correntes-de que pessoas que não conseguem se expressar não
pensam. A linguagem é instrumento de comunicação: essa concepção está
ligada à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de
signos que se combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor
certa mensagem. Em livros didáticos, é a concepção confessada nas
instruções ao professor, nas introduções, nos títulos, embora em geral seja
abandonada nos exercícios gramaticais. A linguagem é uma forma de
interação: mais do que possibilitar uma transmissão de informações de um
emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação
humana. Por meio dela, o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria
levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age sobre o ouvinte,
constituindo compromissos e vínculos que não preexistiam à fala. Grosso
modo, essas três concepções correspondem às três grandes correntes dos
estudos lingüísticos: a gramática tradicional; o estruturalismo e o
transformacionalismo; a linguística da enunciação; (GERALDI, 1985, p. 41).
O autor situa a discussão proposta na terceira concepção de linguagem. Para ele, esta
implicará uma postura educacional diferenciada, visto que a linguagem está situada como o
lugar onde se constituem as relações sociais, onde os falantes se tornam sujeitos. Para a
linguagem como forma de interação, mais do que tornar possível a transmissão de uma
mensagem emissor/receptor, ela é vista como uma forma de interagir. Através dela, o sujeito
pratica ações que seriam impossíveis. Com ela, o falante age sobre o ouvinte, cria vínculos e
compromissos que não existiam antes da fala.
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) é a lei 5692/71
que denomina os conteúdos de Língua Portuguesa de Comunicação e Expressão (nas quatro
primeiras séries) e Comunicação em Língua Portuguesa (nas quatro últimas séries), baseados
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em estudos posteriores a Saussure, especialmente, nos estudos de Jakobson, referentes à teoria
da comunicação. Ou seja, tal lei institui, nas escolas brasileiras, a formalização do
estruturalismo linguístico.
Ainda de acordo com o mesmo documento, na década de 1970 outras teorias a respeito
da Linguagem passaram a ser debatidas, entre elas a Sociolinguística, a Análise do Discurso,
a Semântica e a Linguística Textual. Do estudo e da adoção dessas teorias, resultou o
questionamento sobre a eficácia das aulas de gramática no ensino. Com a introdução dos
estudos Saussureanos e, principalmente com as discussões sobre as funções de linguagem,
esta deixou, então, de ser entendida apenas como a expressão do pensamento e passou a ser
vista também como um instrumento de comunicação. Essa concepção envolve um interlocutor
e uma mensagem a ser compreendida.
A partir daí, todos os gêneros passaram a ser vistos como importantes instrumentos de
transmissão de mensagens e passou a ser importante que os alunos aprendessem as
características de cada um deles para serem capazes de reproduzi-los na escrita e identificá-los
nos textos lidos. Ainda era relevante seguir um padrão preestabelecido, a língua ainda era tida
como um código e escrever era apenas um exercício de combinar palavras e frases a fim de
formar um texto. Assim, o ensino era focado prioritariamente nas estruturas, os substantivos,
os verbos, os pronomes, etc. que compõe a língua e seus usos corretos.
No entanto, em pouco tempo, as correntes acadêmicas para o discurso e texto se
ampliaram e os textos de Mikhail Bakhtin passaram a figurar nas discussões e nas produções
científicas na área da linguagem. A partir daí, a relação interpessoal, o contexto de produção,
as diferentes situações de comunicação, os gêneros, a interpretação e a intenção de quem o
produz passaram a ter total importância:
As novas concepções sobre a aquisição da Língua Materna chegaram ao
Brasil no final da década de 1970 e início de 1980, quando as primeiras
obras do Círculo de Bakhtin passam a ser lidas nos meios acadêmicos. Essas
primeiras leituras contribuíram para fazer frente à pedagogia tecnicista. A
dimensão tradicional de ensino de língua cedeu espaço a novos paradigmas,
envolvendo questões de uso, contextuais, valorizando o texto como unidade
fundamental de análise (DCE-LP, 2008, p. 46).
Nesta concepção, a comunicação não é mais tida como uma representação da
realidade, mas considera-se o resultado das intenções de quem a produziu e o impacto que
terá sobre o receptor. Na sala de aula, portanto, o aluno passa a ser visto como sujeito ativo e
atuante, não apenas um reprodutor de modelos. Não se tem como objetivo fundamental a
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substituição de padrões que o aluno já adquiriu e sim a ampliação dos recursos que ele já
possui. Assim, busca-se colocá-lo em situações efetivas do uso da língua. Através da escola,
para esta orientação ideológica, o sujeito tem a oportunidade de aprender diferentes
variedades linguísticas, tendo em vista sempre as diferentes situações em que se colocam.
Uma vez que ele já domina determinado padrão linguístico é papel da escola auxiliá-lo a fim
de que não só conheça outros padrões, mas que também os utilize quando a situação exigir. O
texto e o discurso tornam-se protagonistas nesta modalidade de ensino.
No Paraná, O livro O texto na sala de aula (1985), organizado por João Wanderley
Geraldi, em 1984, marcou as discussões sobre o ensino de Língua Portuguesa. O uso de textos
como objeto de ensino passa a ser proposto pelos documentos oficiais, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) em 1990 e, posteriormente, as DCE a partir de 2004.
Tais documentos sugerem que seja levado em consideração o real uso da língua/linguagem,
que seja abandonado o trabalho tradicional com exercícios normativos ou descritivos,
possibilitando
assim,
que
o
aluno
torne-se
sujeito
ativo
no processo
ensino-
aprendizagem. Conforme expresso nas atuais Diretrizes Curriculares Estaduais (DCE):
A prática de análise linguística constitui um trabalho de reflexão sobre a
organização do texto escrito e/ou falado, um trabalho no qual o aluno
percebe o texto como resultado de opções temáticas e estruturais feitas pelo
autor, tendo em vista o seu interlocutor. Sob essa ótica, o texto deixa de ser
pretexto para se estudar a nomenclatura gramatical e a sua construção passa
a ser o objeto de ensino. Assim, o trabalho com a gramática deixa de ser
visto a partir de exercícios tradicionais, e passa a implicar que o aluno
compreenda o que seja um bom texto, como é organizado, como os
elementos gramaticais ligam palavras, frases, parágrafos, retomando ou
avançando ideias defendidas pelo autor, além disso, o aluno refletirá e
analisará a adequação do discurso considerando o destinatário, o contexto de
produção e os efeitos de sentidos provocados pelos recursos linguísticos
utilizados no texto (DCE-LP, 2008, p. 61).
Ainda de acordo com este documento, faz-se mais importante que seja proporcionado
ao aluno uma interação com o mundo a fim de que nasça no mesmo uma consciência do lugar
que ocupa e também que se extrapole o domínio linguístico e só depois que ele tenha essas
capacidades, seja mediado pelo professor o ensino da gramática normativa:
Quando se assume a língua como interação, em sua dimensão linguísticodiscursiva, o mais importante é criar oportunidades para o aluno refletir,
construir, considerar hipóteses a partir da leitura e da escrita de diferentes
textos, instância em que pode chegar à compreensão de como a língua
funciona e à decorrente competência textual. O ensino da nomenclatura
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gramatical, de definições ou regras a serem construídas, com a mediação do
professor, deve ocorrer somente após o aluno ter realizado a experiência de
interação com o texto (DCE-LP, 2008, p. 61).
Os PCN sugerem que o trabalho com textos seja feito na base dos gêneros discursivos
orais ou escritos, pois, segundo eles, a perspectiva dos estudos gramaticais na escola, até hoje,
centra-se, em grande parte no entendimento da nomenclatura gramatical como eixo principal:
descrição e norma confundem-se na análise da frase, deslocada do uso, da função e do texto.
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Este trabalho teve como informantes 10 professores de Língua Portuguesa da rede
pública, aos quais pediu-se que respondessem a um questionário, contendo algumas questões
gerais com dados objetivos e questões subjetivas a respeito de suas práticas e concepções
acerca do ensino de gramática. A intenção com a pesquisa não estava em fazer qualquer tipo
de avaliação de suas práticas, mas apenas procurar observar a visão que possuíam do papel da
gramática no contexto de ensino de Língua Portuguesa. As entrevistas serviram como
instrumento complementar aos questionários, visando assim, garantir maior validade aos
dados coletados. Todos os 10 professores responderam ao questionário. Já a entrevista, nem
todos se dispuseram a responder. De um total de 10 professores, 6 foram entrevistados.
A partir de informações preliminares, obtidas com a representante do Núcleo Regional
de educação no Município, levantamos que há 23 professores, todos do sexo feminino, com
idade entre 28 e 64 anos. Destes, 17 são Quadro Próprio do Magistério (QPM) e 6 Processo
Seletivo Simplificado (PSS). 17 estão em sala de aula, 3 na direção e 3 readaptados.
A origem familiar desses profissionais, de acordo com o Critério de Classificação
Econômica Brasil ou Critério Brasil, que define as classes sociais em função do poder de
compra e consumo de determinados itens, varia de classe baixa a classe média alta,
predominando a classe média.
A partir das informações obtidas pelas entrevistas/questionários, caracterizamos as
informantes como sendo com idade entre 25 e 54 anos, originais da região sul do país,
formados em Letras nos últimos 23 anos (1986-2009) nas faculdades de Ciências e Letras de
Campo Mourão (FECILCAM) e Faculdade de Filosofia de Jandaia do Sul (FAFIJAN). Na
época em que analisamos os dados, o tempo de experiência dos professores em sala de aula
variava entre 1 e 20 anos.
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Pelos dados obtidos foi possível constatar que as professoras frequentaram cursos de
formação continuada após a licenciatura, programas de pós-graduação, cursos oferecidos
pelas escolas nas quais trabalham e grupos de estudos. Tiveram acesso às novas orientações
para o ensino de Língua Portuguesa por meio desses cursos frequentados ou pela leitura dos
textos oficiais PCN e DCE, ou ainda, no caso dos formados há menos tempo, 4 tiveram
contato com a nova prática ainda no curso de graduação e/ou estágio obrigatório.
Observou-se que 62,5% dessas professoras já eram formadas há mais de 10 anos. No
entanto, pode-se supor que esses profissionais não estejam completamente desatualizados
teoricamente, pois a maioria dos professores afirma frequentar cursos de atualização com
alguma regularidade. Além disso, 87,5% desses professores têm algum tipo de pós-graduação.
Quanto às 3 professoras formadas pela FECILCAM, entre os anos de 2003 e 2009, as mesmas
afirmaram que tiveram contado com as orientações para o trabalho com textos durante o curso
de graduação e, que já no estágio obrigatório eram orientadas a colocá-las em prática. No
entanto, uma delas, formada pela mesma faculdade no ano de 1993 afirma ter tido os
primeiros contatos com a metodologia de ensino nos cursos de pós-graduação, cursos
ofertados pela FECILCAM e nos cursos de capacitação ofertados pela SEED. Pode-se
concluir, então, que o Curso de Letras da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo
Mourão, tem, por volta dos últimos 8 anos, orientado os professores de Língua Portuguesa,
em pré-serviço, para o ensino de gramática com textos. Assim como, tem oferecido cursos de
especialização com a mesma perspectiva de ensino.
As professoras participantes afirmam reconhecer a necessidade de uma nova postura
no ensino de gramática, apesar das limitações do ensino público. Demonstram também ter
dificuldades com o ensino a partir de textos. Evidencia-se que, ainda hoje, apesar de todo
conhecimento a respeito do ensino com textos, das orientações nos documentos oficiais e da
ineficácia comprovada do ensino tradicional, em vários momentos, os mesmos optam pelo
ensino tradicional.
A análise permitiu-nos verificar, também, que já em 1986, conforme levantado na
pesquisa bibliográfica, havia uma nova postura no ensino de Língua Portuguesa e gramática.
No entanto, isso se deu apenas nos discursos e nos meios acadêmicos, pois, de acordo com os
depoimentos coletados, apenas há mais ou menos 10 anos passou-se a utilizar um novo
método de ensino em sala de aula.
Quanto às linhas teóricas, com as quais as professoras têm contato, os termos
discursivo, Interacionismo Sócio Discursivo (ISD), variedade de gêneros, sócio construtivista
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e as DCE apareceram nas respostas dos informantes. O que atenta ao fato de que não há uma
linha específica, única, para as professoras, e, ainda assim, elas afirmam conhecer e colocar na
prática em sala de aula as teorias que valorizam o texto e o discurso.
Embora tenham respondido às perguntas anonimamente, nota-se uma preocupação
com o aquilo que autoriza suas posições, pois preocuparam-se em citar sempre as orientações
das DCE e PCN, enfatizando que tiveram contato com as novas perspectivas de ensino, seja
na graduação, seja nos cursos de pós ou aperfeiçoamento. Acreditamos que o fato de estarem
sendo entrevistados por alguém ainda no espaço acadêmico pode tê-las influenciado no
sentido de citarem as concepções que ouviram e/ou leram no decorrer de suas formações, mas
que nem sempre fazem parte das suas práticas diárias.
Invariavelmente, a justificativa para o “não uso” desta nova prática foram: alunos
carentes com déficit de aprendizagem, com dificuldade de leitura e compreensão de textos,
falta de material didático, escolas “pobres”, falta de interesse dos alunos pela leitura, falta de
atenção nas aulas, falta de suporte teórico para os professores, falta de tempo para preparação
das aulas, para pesquisa dos professores e falta de material.
É evidente que não podemos generalizar, afirmando que o ensino tradicional ainda é
unânime entre os professores de Língua Portuguesa. No entanto, fica claro no discurso deles
que por algum motivo esta ainda não é uma prática presente em todas as aulas. “Creio que em
alguns momentos todos, ou quase todos os professores acabam fazendo isso”, responde em
relação à mistura de gramática tradicional e o ensino com textos.
Fica clara também, a atribuição, do fracasso do ensino, aos alunos. Na maioria das
vezes, nota-se que o “desinteresse” deles em relação às aulas de gramática é um fator que
incomoda a todas as professoras entrevistadas. “Se tivéssemos outra realidade em sala de
aula, conseguiríamos fazer um excelente trabalho”. Notamos que as professoras se sentem
inseguras e que, apesar de todos os cursos oferecidos, ainda sentem necessidade de mais
embasamento teórico. “Penso também, que mesmo com tantos cursos de aperfeiçoamento que
os educadores têm participado, ainda falta um pouco de suporte teórico”.
São hipóteses para uma tentativa de explicação do fracasso no ensino de Língua
Portuguesa, a falta de preparo dos professores em relação ao domínio da prática daquilo que
veem na teoria, combinados com a realidade das escolas públicas, que tem altos índices de
indisciplina, desinteresse, provavelmente originados, na maioria das vezes, em famílias
carentes cujos pais têm baixo grau de instrução, quando não, nenhuma instrução escolar,
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21 a 23 de Setembro de 2011
UNIOESTE – Cascavel/PR
pouco ou nada incentivam a leitura e o acesso à cultura, tornando assim, os textos trazidos
pelos professores desinteressantes para esses alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa aqui apresentada trazem evidências de que está em
andamento um processo de mudanças no contexto de ensino de Língua Portuguesa. Deixa
evidente também, que nem todas as concepções estão bem compreendidas e que os
profissionais entrevistados ainda encontram dificuldades para colocar em prática na sala de
aula o que veem na teoria.
Observa-se que de maneira geral, as práticas em sala de aula ainda tendem para o
ensino tradicional e que na maioria das vezes, atribui-se aos alunos as dificuldades
encontradas para o ensino com textos, assim como a falta de condições adequadas para o
trabalho e a falta de suporte teórico-metodológico aos professores da rede.
Evidencia-se ainda, por parte dessas professoras, a busca por mudanças em um método
de ensino considerado ineficiente e acima de tudo, um reconhecimento da necessidade de uma
nova postura acerca do ensino de gramática.
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ISSN 2175-943X
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Gêneros Orais e Escritos na Escola. Trad. e Org. ROJO, R. & CORDEIRO, G. S. , Campinas:
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ISSN 2175-943X
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o ensino de gramática tendo o texto como objeto de ensino no