A MUSICALIZAÇÃO COMO OBJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: UMA QUESTÃO DE DOCÊNCIA Viviane Cristina Princival (Pedagogia-UNICENTRO) [email protected] , Daiane Solange Stoeberl da Cunha (Arte-Educação-UNICENTRO) (Orientadora) [email protected] . Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Humanas Palavras-chave: Educação musical, Artes, Práticas Pedagógicas, Formação Docente. Resumo Este trabalho versa sobre algumas questões relativas a inserção da musicalização como objeto de intervenção pedagógica, bem como o posicionamento do docente diante desta prática, e as contribuições da mesma no processo de transmissão do conhecimento e desenvolvimento integral dos educandos. Observações estas diagnosticadas a partir de oficinas e cursos de formação continuada, por mim ministrados aos professores da rede municipal de ensino de Santa Maria do Oeste-PR ao decorrer do ano de 2007 e 2008. Introdução Entendendo a musicalização como um processo de sensibilização do indivíduo ao mundo sonoro, e a urgências de novas práticas necessárias ao professor polivalente que atua em sala de aula nos dias de hoje, as atividades musicais são uma instigante ferramenta no processo de transmissão do conhecimento, pois além de tornar a sala de aula um ambiente mais agradável e favorável ao aprendizado, auxilia no desenvolvimento integral dos educandos, e consequentemente no bem estar dos círculos sociais nos quais estão inseridos. Diante deste contexto, muitos professores demonstram sinais de insegurança ao inserir as atividades musicais em sala de aula, afirmando seu despreparo. Faz-se necessário ressaltar que o docente não precisa ser um músico profissional para desenvolver esse tipo de atividade, mas sim possuir os conhecimnetos básicos da linguagem musical, informações estas que podem ser adquiridas com o auxílio de outros profissionais, como por exemplo músicos locais, musicoterapeutas, e até mesmo em instituições de ensino musical ou conservatórios. Com o intuito de colaborar no esclarecimento desta pedagogia musicalizadora aos educadores, e acima de tudo apresentá-los à essa iniciação musical, é que se desenvolveram as oficinas e cursos de formação continuada, por mim ministradas aos professores da rede municipal de ensino da cidade de Santa Maria do Oeste – PR, no decorrer do ano de 2007 e 2008. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 Materiais e Métodos Uma análise acerca do trabalho com os docentes Numa ótica alienante, muitos professores recusam a prática musical em sala de aula. Embora seja nítida a diferença entre “ensinar musicalmente” e o ensino de teoria musical, surgem controvérsias que acabam excluindo as atividades musicais do contexto pedagógico da educação básica, principalmente da educação infantil e dos anos iniciais, fases importantíssimas do desenvolvimento cognitivo das crianças, àrea mais influenciada pela musicalização, além das contribuições no desenvolvimento da manifestação artística e expressiva da criança, do sentido estético e ético, da consciência social e coletiva (ética), da aptidão inventiva e criadora, do reconhecimento dos valores afetivos e da busca do equilíbrio emocional. O trabalho efetuado nas oficinas na perspectiva de conduzir os docentes à musicalização como objeto de intervenção pedagógica, foi realizado a partir do reconhecimento dos sons que cercam os indivíduos desde o instante em que acordam (de acordo com suas características básicas: altura, intensidade e duração), e acima de tudo; o reconhecimento do próprio corpo como instrumento musical. Deste modo torna-se mais fácil para ambos; professor e aluno entenderem o mundo sonoro no qual estão inseridos. Por meio de trabalhos construtivos, utilizando-se de materiais recicláveis foram confeccionados vários instrumentos musicais podendo ser utilizados nesta prática com as crianças, e até mesmo serem confeccionados pelas mesmas. Os sons à serem explorados por meio desses instrumentos apresentam inúmeras possibilidades, dependendo severamente da criatividade do docente em direcionar a sua aula. A musicalização pretende desenvolver uma atitude positiva na criança, contribuindo no processo de aquisição do conhecimento. Muitas vezes deixado de lado, o caráter folclórico das cantigas de roda e canções de ninar, pode ir além da ação de resgate cultural, favorecendo a expressão musical nas crianças, em torno de seus eixos principais: o ouvir, o cantar, o dançar e o criar. A interpretação das canções, as diferenças regionais que provocam os dialetos e com isso as alterações nas letras das músicas, enfim um leque de ações para o docente interessado na musica como recurso de ensino. Visível se torna a “familiarização” com a terminologia utilizada, bem como o manuseio das sugestões – músicas, instrumentos alternativos, histórias cantadas onde é explorado o máximo de possibilidades sonoras,- de acordo com o envolvimento do educador que, por sua vez, acaba eliminando o paradigma da recusa que gera alienação. Resultados e Discussão No desenvolver deste processo de instrução musical aos professores da educação básica, comumente surgiam frases do tipo “não sei cantar, então não adianta tentar fazer esse tipo de atividade com as crianças”, ou “se eu soubesse tocar teclado ou violão, eu poderia fazer música na escola com os alunos”, e são essas afirmações que conduzem esta pesquisa à necessidade de preparar e educar musicalmente o educador. De acordo Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009 com FREIRE (1996), a Educação é um forma de intervenção no mundo” e consequentemente é transformação no mundo. Educar musicalmente é o início de uma transformação na prática pedagógica cotidiana. É preciso repensar as contribuições acadêmicas na formação do profissional da educação neste contexto, bem como o grau de interesse e envolvimento do docente diante da musicalização como recurso de ensino, pois o ser humano é um ser musical, está em contato com a música desde o ventre materno ao sentir os batimentos cardíacos daquela que a gerou, vale pena utilizar-se dos benefícios musicais no processo de transmissão do conhecimento e formação integral dos educandos. Conclusões ADORNO (1999) ao discorrer sobre o fetichismo na música e a regressão na audição, afirma que “ouve-se tal música (...) como se consome uma mercadoria adquirida do mercado”. Tendo com um dos principais objetivos da musicalização, contribuir no desenvolvimento do senso crítico dos educandos para que estes se tornem capazes de refutar e transformar a sua realidade, deve-se partir do princípio de reeducar e lapidar a criticidade dos próprios educadores. Agradecimentos À Secretaria Municipal de Educação de Santa Maria do Oeste, onde desenvolvi os trabalhos na formação continuada dos docentes da rede municipal de ensino no decorrer do ano de 2007 e 2008. À querida Ms. Daiane Solange Stoeberl da Cunha, por lapidar minha pesquisa e inspirar confiança. Aos professores: Paulo Guilhermeti e Chritstine Vargas Lima pelos “insights”. À professora Eliana Fialho e Tiago Oliveira por suas contribuições em minha formação musical. À Leandro Küster, por me proporcionar aprendizado constante e amizade incondicional. À Izabel Cristina Tomen Machado, pela doação. À minha mãe, Nessy Princival (in memorian) por minha formação integral. Referências ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão na audição. Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Anais da SIEPE – Semana de Integração Ensino, Pesquisa e Extensão 26 a 30 de outubro de 2009