M ATEMÁTICA As secções cônicas e suas aplicações Fábio Silva Melo Pesquisador Maria Elisa Esteves Lopes Galvão Orientador Resumo Desde a antiguidade as secções cônicas despertam o interesse dos matemáticos. Entre os geômetras gregos, na busca pela resolução do clássico problema da duplicação do cubo, destacamos Menaecmo, que exibiu um método de obtenção dessas curvas seccionando um cone por um plano perpendicular a sua geratriz. Conforme o ângulo do cone fosse agudo, reto ou obtuso, obtinham-se as curvas que hoje conhecemos por elipse, parábola e hipérbole. No decorrer dos séculos as cônicas foram objeto de estudo dos matemáticos e cientistas. O astrônomo Kepler formulou as três leis do movimento planetário, onde, pela primeira vez, é dito que os planetas têm órbitas elípticas, um belo exemplo de identificação das curvas com as formas da natureza. O estudo das cônicas se justifica não apenas pelo lado histórico, mas também pela aplicação em diversas áreas da tecnologia, construção civil e Física. O trabalho se desenvolveu através de pesquisa bibliográfica em livros, revistas especializadas e Internet, bem como construção de modelos concretos para uso didático. O estudo abriu novos horizontes para uma abordagem de melhor qualidade, mais motivadora e objetiva do que se pode fazer numa sala de aula. Palavras- chave: Cônicas. Elipse. Geometria. Parábola. Hipérbole. Secções cônicas. Abstract Since Antiquity, conic sections have caught the interest of mathematicians. Among the Greek geometers, on the search of the solution of the classic problems of the duplication of the cube, it is important to note the importance of the works of Menaecmo, who developed a method to obtain these curves by sectioning a cone by a plan perpendicular to its geratrix. According to the angle of the cone (acute, straight, or obtuse), the curves known today as ellipsis, parabola, and hyperbole were obtained. Through the centuries, conics have been the object of study of mathematicians and scientists. The astronomer Kepler formulated the three laws of the planets´ movement, where, for the first time, it was said that the planets have elliptical orbits - a nice example of identification of the curves with Nature’s shapes. The study of conics does not justify itself only by its historic side, but also by its application in various areas of technology, civil construction, and Physics. The study was developed through bibliographic research on books, specialized magazines, and on the Internet, as well as through the construction of concrete models for didactical use. The study opened new horizons to an approach with better quality, more motivating and straightforward than it may be done inside the classroom. Key- words: Conics. Conics sections. Ellipse. Geometry. Parabola. Hyperbola. Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 121 Fábio Silva Melo Primeiramente podemosnosperguntar: “Oque é uma um cone por um plano perpendicular a uma geratriz. secção cônica?” Secção cônica é uma curva que pode Conforme o ângulo do cone fosse agudo, reto ou obtuso, ser obtida seccionando um cone de revolução por um obti nha- se a el i pse, parábol a e hi pérbol e, plano, a exemplo da figura abaixo. Se o plano secante respectivamente. Entretanto, até então se trabalhava com não passa pelo vértice do cone, então temosuma família o cone de uma folha. de curvas que chamamos de cônicas não degeneradas, que são a elipse, a parábola e a hipérbole. Opovo da ilha de Delos, sudeste da Grécia, por volta do século V a.C. foi assolado por uma epidemia que dizimava sua população. Então, peloscostumesreligiosos da época, consultaram um oráculo e foram informados por Zeus que deveriam duplicar o altar de Apolo em 122 Delfos, na costa do Golfo de Corinto. O formato cúbico Ainda da Grécia antiga não podemos deixar de do altar levou muitos geômetras a uma busca pelo então mencionar Apolônio de Pérgamo (século III a.C.). Seu formado problema da duplicação do cubo, que junto trabalho foi de tal profundidade que marcou uma com o problema da trissecção do ângulo e quadratura revolução no conhecimento dascônicas. Osnomes pelos do círculo, foram os mais conhecidos problemas da quais as conhecemos hoje são de sua atribuição. Pelo antigüidade clássica. foco da curva e perpendicular ao eixo focal há o latus O primeiro passo foi dado por Hipócrates de Chios (século V a.C.) que reduziu o problema na solução da rectum, segmento particular de cada curva. Em cada ponto, se considerarmos um retângulo com essa altura, a x y . Tal proporção nos leva a x y 2a na medida onde retângulo intercepta a curva, faz-se um encontrar x 3 2a 3 x a 3 2 , tarefa difícil para ou superior à área do quadrado, temos a elleipsis, a os matemáticos gregos que dispunham apenas de régua parabole e a hyperbole, que significam “falta”, não graduada e compasso, e mostrando-se possível “igualdade” e “excesso”. proporção apenas no século XIX. A Menaecmo (por volta do século IV a.C.) coube o mérito de obter uma descrição para a solução quando fez a intersecção de duas parábolas da forma (na grafia atual) x 2 ay e y 2 2ax , onde a intersecção ocorre 3 3 no ponto a 2, a 4 . Também a ele cabe a menção de ter alcançado uma maneira de obter essas curvas na secção de um cone. Para isso, considerava a secção de Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 quadrado; conforme a área do retângulo é menor, igual As secções cônicas e suas aplicações Apolônio introduziu o cone de duas folhas gerado r0 é o raio inicial, ou seja, para pel o conj unto de retas que passam por uma circunferência e um ponto fora do ponto desta; assim, obteve a hipérbole com dois ramos da maneira que conhecemos hoje. O trabalho de Apolônio foi editado numa obra inti tul ada “As Côni cas”, composta originalmente em oito volumes, dos quais o último se perdeu. No século XVIII Edmund Halley fez uma tradução dos sete exemplares existentes. 2ª Lei ou lei das áreas: O raio vetor que une o Sol a qualquer planeta varre áreas iguais em intervalos de tempos iguais; o planeta ao passar próximo do Sol Pappus de Alexandria (século IV d.C.) foi o último geômetra da antiguidade que contribuiu efetivamente desenvolveuma velocidademaior queestando longedele. para o estudo das cônicas, demonstrando a propriedade foco-diretriz, equivalente às secçõesfeitaspor Apolônio. Sendo P um ponto da curva, r sua diretriz e a razão d P, F d P, r e podemos formular: na elipse ocorre 0 < e < 1, na parábola e = 1 e na hipérbole e > 1 . Definir as cônicas como lugares geométricos no plano com essa propriedade, equivale a obter a secção de um cone por um plano que intercepta todas as suas geratrizes, ou que seja paralelo a uma delas ou que intercepte as duas folhas do cone. No século XVII, Johannes Kepler (1571 a 1630) descobriu e enunciou as três leis do movimento planetário: 3ª Lei ou lei dos períodos: O quadrado do período de revolução de um planeta é proporcional ao semieixo maior de sua órbita, ou 3 T 2 4 3 2 3 4 T a a 3 GM GM onde T é o período (tempo para uma revolução completa ao redor do Sol), a é a medida do semi-eixo maior da elipse, G = 6,6726 . 10-11 N . m2 . kg-2 é a constante de gravitação universal e M = 1,99 . 1030 kg a massa do Sol. A princípio Kepler entristeceu-se ao descobrir que 1ª Lei ou lei das órbitas: Todos os planetas a órbita da Terra era elíptica e não circular como se descrevem órbitas elípticas em torno do Sol e este ocupa acreditou por muito tempo, e também pelo lado religioso, um dosfocos. Ao deduzir-se essa lei chegamosà equação polar da elipse: r 1 e r0 1 e cos pois na época acreditava-se que as construções de Deus eram perfeitas, tendo em vista que a elipse não era considerada uma curva perfeita. sendo que r é a r distância do planeta ao Sol em função Podemos dizer que Kepler reviveu o assunto das do ângulo , que chamamos de raio vetor; ´e` é a cônicas, e depois dele muitos outros geômetras excentricidade, em particular, da Terra é e = 0,016637, estudaram-nas, particularmente quando do surgimento ou seja, a órbita da Terra é “quase” uma circunferência, da Geometria Projetiva, com a qual é possível dar um Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 123 Fábio Silva Melo outro enfoque a essascurvas. Podemosdestacar o francês CharlesJ. Brianchon (1785 a1864), autor do célebreteorema queleva seu nome: asdiagonaisdeum hexágono (podeser estendido ao triângulo, quadrado epentágono) circunscrito a uma cônica são concorrentesnum ponto, chamado ponto deBrianchon. Não só Brianchon, maspodemoscitar muitos outros e muitas obras escritas sobre o assunto do século XVI em diante. Entreeles, BlaisePascal, Girárd Desarguese RenéDescartes. Dada uma reta r , chamada de diretriz, e um ponto F, que chamamos de foco, de modo que F r, a parábola pode ser entendida como o conjunto dos pontos do plano que eqüidistam do ponto e da reta. Colocando o ponto médio entre F e r, o vértice da parábola, sobre a origem de um sistema de eixos e abaixo do eixo dos x a diretriz, a equação reduzida da parábola fica x2 = 4py , onde 2p é a distância do foco à diretriz. 124 Asdefiniçõese os principais elementosdessascurvas podem hoje ser dadas mais facilmente, recorrendo à Geometria Analítica Plana, que foi criada por Descartes e Fermat, motivadosexatamente por problemase técnicas contidas no trabalho de Apolônio. Dados dois pontos distintos, F1 e F2, que chamamos de focos, a elipse pode ser entendida como o conjunto dos pontos do plano cuja soma das distâncias a esses focos é uma constante 2a, isto é, PF1 + PF2 = 2a. O ponto médio do segmento F1F2, o centro da elipse, é tomado como a origem de um sistema coordenado e ao longo do eixo dos x colocamos esse mesmo segmento. A equação reduzi da da el i pse f i ca 2 2 x y 2 1 , onde a é a medida do semi-eixo maior 2 a b e b é a medida do semi-eixo menor. Ovalor da constante c é dado por a2 = b2 + c2. A elipse tem duas retas diretrizes a2 de equação x . c Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 Dados dois pontos distintos F1 e F2, que obviamente serão chamadosde focos, a hipérbole pode ser entendida como o conjunto de pontos do plano cuja diferença em módulo é uma constante 2a, ou seja, PF1 - PF2 = 2a. Do mesmo modo que fizemos na elipse, colocando a hipérbole sobre o plano ordenado, coincidindo seu centro com o centro deste, sua equação reduzida fica x 2 _ y2 a 2 =1 b 2 A medida a é a do semi-eixo transverso, b é a medida do semi-eixo imaginário e c pode ser obtida por c2 = a2 + b2. Familiarizados com os principais termos As secções cônicas e suas aplicações dessas curvas, já podemos dar um tratamento mais quando trocamos a circunferência pela esfera. Sendo técnico e compreender suas múltiplas aplicações. assim, temos PF1 PV1 pois são tangentes a E1 por P; do mesmo modo PF2 PV2 pois são tangentes a E2 por P. Assim, a propriedade métrica pode ser escrita como PV1 + PV2 = PF1 + PF2 = V1V2, como o segmento V1V2 é de comprimento constante, podemos determinar que V1V2 = 2a, logo, PF1 + PF2 = 2a. Outro personagem importante foi o belga Germinal Pierre Dandelin (1794 a 1847) que, juntamente com Lambert Adolphe Jacques Quételet (belga, 1796 a 1874), demonstrou, de uma forma bastante interessante, a propriedade métrica das cônicas como a secção de um cone circular reto. O trabalho desse matemático ficou conhecido por três denominações: “teorema de 125 Dandelin”, “teoremas belgas” e “esferas de Dandelin” devido à inserção destas no cone. Demonstraremos esses resultados em linhas bem gerais. Fazendo a secção no cone de modo que o plano secante intercepte todas as geratrizes do cone, a curva de da intersecção obtida é uma elipse. Inserimos as esferas E1 e E2 n semi-planos superior e inferior determi nado pel o pl ano secante. Essas esf eras tangenciam o plano secante nos pontos F1 e F2 (focos). Sejam C1 e C2 ascircunferênciasde tangência das esferas E1 e E2, respectivamente, com o cone, conforme a figura 9. Tomamos um ponto P qualquer da curva e por ele traçamos a geratriz PV (V é o vértice). Sejam V1 = C1 PV e V2 = C2 PV. Da geometria plana sabemos que doi s segmentos tangentes a uma circunferência por um ponto fora dela são congruentes, sendo o mesmo válido para a Geometria Espacial, Tomamos um plano que contenha uma geratriz do cone. Qualquer plano paralelo e não coincidente a este tem na secção uma curva queé uma parábola. Inserimos a esfera E que tangencia o cone segundo a circunferência G e o plano secante no ponto F. Escolhemos um ponto suur P sobre a curva e traçamos a geratriz PV . S e j a M = PV G. A reta r, diretriz da curva, é dada pela intersecção do plano que contém a diretriz G e o plano de secção. Pela mesma propriedade citada acima, temos PM PF IS. Provando que PF1 PL1, onde PL1 é a Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 Fábio Silva Melo distância de P a r, provamos a propriedade métrica da sobre a curva (independe do ponto), então podemos parábola. Sejam N = s VB e S = s T .Como t // VB, est abel ecer V 1 V 2 = 2a e conseqüent ement e, a figura BNSI é um paralelogramo, logo, BN // SI. Como PF1 - PF2 = 2a. Está demonstrada a propriedade métrica MP PF BN IS PL PF, portanto, a curva é uma da hipérbole. parábola. 126 Para obtermos a hipérbole, o plano deve seccionar as duas folhas de um cone de vértice V. No cone inserimos as esferas E1 e E2, que tangenciam o cone segundo as circunferências C1 e C2, respectivamente; e também, tangenciam o plano secante em F1 e F2 (focos). Escolhemos um ponto P da curva e por ele Aplicaçõesmuito importantes dessascurvasocorrem na tecnologia. Quando nos deparamos com antenas paraból icas, telescópi os e “salões ovais” temos traçamos a geratriz PV. Sejam V1 = C1 PV e aplicações diretas da propriedade refletora das cônicas. V2 = C2 PV. Usando a mesma propriedade já Numa elipse, os raios luminosos ou sonoros que saem citada, temos PV1 PF1, pois são tangentes a E1 por P; de um dos focos, ao incidirem na superfície elíptica analogamente, PV2 PF2, tangentes a E2 por P. A interna, são refletidos para o outro foco. Numa parábola propriedade métrica da hipérbole pode ser escrita da os raios que incidem sobre um espelho ou superfície no forma PF1 - PF2 = PV1 - PV2 = V1V2, como o segmento formato parabólico, desde que paralelos ao eixo da V1V2 tem tamanho fixo para qualquer ponto tomado curva, são refletidos para o foco; do mesmo modo, os Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 As secções cônicas e suas aplicações raios enviados do foco, ao incidirem sobre a curva, são os raios que incidem (“externamente”) sobre a superfície refletidos paralelamente ao eixo. Numa hipérbole os na direção de um foco, são desviados e vão para o rai os emi tidos de um dos focos, ao i nci di rem outro foco. Para demonstração desses fatos, podemos (“internamente”) sobre a superfície hiperbólica, são usar as equações paramétricas das cônicas ou mesmo a refletidos como se tivessem partido do outro foco; ou, Geometria Plana. Temos ainda vários outros métodos de construção das cônicas. Em analogia com o papel quadriculado, podemos elaborar um “papel circulado”; ou seja, marcam-se dois pontos, F1 e F2, na folha e desenham-se mesma maneira, àquelas centralizadas em F2 chamemos de £ 2, jh para j= 2, 3, ... . Escolheremos pontos de intersecção da maneira para i , j : i j h 1 1 h circunferências concêntricas de modo que a diferença P £ 1,ih £ do raio de uma para outra seja uma constante h pois2a = 11h. Note-se que para cada intersecção teremos h¡ 2, jh dois pontos a serem marcados. Estes são pontos de uma * Com 2c = 7h, col oquemos ci rcunf erênci as elipse. centralizadas ora em F1 ora em F2, cujos raios vão se Procedendo assim, teremos os pontos de uma elipse. abrindo de h, ou seja, o raio da mais externa é maior Tal afirmação é verdadeira pois a soma das distâncias em h unidades. Nomeemos as circunferências de de P a F1 e de P a F2 é sempre constante igual a 11h, o centro em F1 de que confere com a definição métrica da elipse. circunferência tem £ 1,ih para i = 2, 3, ...; assim, a £ 1,2h centro em F1 e raio 2h. Da Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 127 Fábio Silva Melo Façamos a distância entre F1 e F2 valer 2c. Traçamos os pont os de i ntersecção de modo que P £ 1,ih £ 2, jh para i , j : i j h 2h , pois agora fazemos 2a = 2h. Da mesma maneira, para cada intersecção teremos um par de pontos. A curva obtida nesse processo é uma hipérbole pois a diferença entre as distâncias de P a F1 e de P a F2 é sempre constante igual a 2h, o que confere com a definição métrica da hipérbole. Por exemplo, um ponto dado por £ 1,3 h £ 2,5 h é de uma hipérbole pois Tracemos pontos de intersecção da manei ra PF1 PF2 5h 3h 2h . P£ Para a construção da parábola devemos proceder ih s jh para i, j : i j e, mais uma vez, percebamos que haverá sempre dois pontos a serem de uma maneira diferente na construção do papel marcadosa cada intersecção, pois, com exceção de £ circulado. Escolhemos no plano uma reta r e fora dela e s2h que são tangentes, os demais pares são secantes. 2h um ponto F, que serão, respectivamente, a diretriz e o foco da curva. Seja h ¡ 128 * , com o qual faremos o parâmetro da curva valer 2h = p. Centralizadas em F, desenhamos uma família de circunferências £ ih , onde i = 2, 3, ... indica quantas vezes h é o raio da circunferência. Restringimos o índice i para os inteiros maioresque 2 poisa primeira circunferência tangenciará a curva no vértice que dista 2h do foco. Paralelas à Pela definição métrica dessa curva, que é o conjunto diretriz, traçaremos uma família de retas sjh para de pontos do plano que eqüidistam de uma reta e de um j = 2, 3, ...; assim, a reta s3h é a reta paralela à diretriz e ponto fora dela, verificamosque a curva assim produzida que dista 3h. Restringimos os valores do índice j para é de fato uma parábola. os inteiros maiores que 2 pois a reta mais próxima da diretriz deve distar de si 2h , pois tangenciará a curva no vértice. Podemos obter uma elipse também com a seguinte construção: traçamos duas retas paralelas e marcamos pontos simetricamente, em cada uma, nos valores inteiros de -10 a 10. Em seguida, basta ligar essas retas de modo que o valor em uma delas seja o inverso na outra, isto é, ligar os valores x com 1 . x Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 As secções cônicas e suas aplicações Para a parábola podemos construí-la traçando dois segmentos de retas concorrentes e marcando sobre eles pontos a uma mesma distância. Em cada um deles numeramos os pontos de 1 a 10, sendo o primeiro o mais próximo do ponto de concorrência. Ligando um ponto de um segmento com um ponto do outro, da Ainda sobre a mesma cônica, a seguinte construção também resulta na elipse: façamos um retângulo ABCD forma 1 10, 2 10 , obtemos uma parábola envolta por suas tangentes. de altura AD = a e largura DC = 2a (a largura é o dobro da altura). Traçamos os segmentos que dividem o retângulo original em quatro retângulos menores de a a 2 , isto é, um segmento ST paralelo à base (de medida 2a) na altura (ordenada) a e um segmento VW paralelo a AD distante de a, conforme a figura 20. Dividiremos AD e BC em oito segmentos congruentes. Omesmo faremos a ST. Considerando ST como o “marco zero”, adotamos a cada um dos quatro pontos de AS e SD os valores 1’, 2’ e 3’, idem para o lado BC. Centralizamos ST sobre o eixo dos x de um sistema coordenado, de modo que ST VW = O seja a origem desse sistema. Então, aos quatro segmentos de SO e OT marquemos valores 1, 2 e 3. Teremos pontos da elipse pela intersecção de segmentos determinados da seguinte maneira: que partem de W e passam por 1 de SO e que partem de V e passam por 1’de AS, assim para os demais valores; para o lado direito, segmentos que partem de W e passam por 1 de OT e que partem de V e passam por 1’de BT. O ponto em que cada par de segmentos nessas configurações se cruza pertence à elipse de equação reduzi da : x2 y2 a2 a 2 2 1 ou x2 + 4y2 = a2. Podemos generalizar os pontos de Muitos de nós já vimos nos livros de Gramática os termoselipse, parábola e hipérbole. Segundo a Gramática são figuras de linguagem. Porém, a Matemática as considera como curvas. Será que há alguma ligação? Antes de entrarmos nesses detalhes, teremos que compreender o conceito do Latus Rectum de uma cônica. Tal segmento é perpendicular ao eixo de simetria da curva e passa pelo foco. Desenvolvendo os cálculos analiticamente, concluímos que na elipse e na hipérbole mede 2b 2 e na parábola 4p. Coloquemos esse a segmento sobre o vértice da cônica e construímos um retângulo a uma largura qualquer. O ponto em que a aresta interceptar a cônica dará o comprimento do lado do quadrado que devemos fazer, conforme a figura 22. Seja AQ a área do quadrado e AR a do retângulo. intersecção da forma P = WJ VJ’, com J = 1, 2, 3 e J’ = 1’, 2’, 3’. Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 129 Fábio Silva Melo e que é facilmente identificado” (PASCHOALIN, 1989, p. 365). Analisando a parábola, conclui-se que em AQ = A R, há igualdade das áreas; pela Gramática: “Narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação (igualdade), outras realidades de ordem superior” (FERREIRA, 1988, p. 481). Por último, na hipérbole ocorre AQ > AR, ou seja, há excesso de áreas comparando o quadrado e o retângulo; analisando a Gramática: “Figura que através do exagero (excesso) procura tornar mai s expressi va uma i déi a” (PASCHOALIN, 1989, p. 363). Muitassão asatividadesque podem ser desenvolvidas com alunos do Ensino Médio no que se refere ao assunto das secções cônicas. Certamente, maior será a satisfação de uma classe quando os alunos perceberem que o conteúdo dos livros e as “enfadonhas” aulas de Matemática podem estar presentes em suas vidas, na 130 natureza ou na tecnologia. Novas formas de abordar um conteúdo, diferente de “aulas régias”, resultam em maior participação aos alunos. Certamente, uma contribuição generosa ao futuro docente da Matemática. No que se refere à atividade de pesquisa, de iniciação É possível calcular as diferenças entre as áreas AQ e AR. Para a elipse chegaremos à conclusão de que científica precisamente, temos certeza de que foi uma at i vi dade i nt el ect ual mente grat i f i cante e profissionalmente compensadora, pela experiência AQ < AR, ou seja, há falta de área no quadrado em proporcionada. Pois pesquisar, tentar compreender os relação ao retângulo; segundo a Gramática, eis a detalhes de cada teori a, escrever os resultados definição de elipse: “Ocorre quando há o ocultamento encontradostrazem um novo conceito de aprendizagem: (falta) de um termo, que fica subentendido pelo contexto a aprendizagem independente. Revista PIBIC, v. 2, p. 121-131, 2005 As secções cônicas e suas aplicações Referências ÁVILA, Geraldo S. S. Kepler e a órbita elíptica. Revista do Professor de Matemática, Rio de Janeiro, n. 15, 1989. ____________. 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