CAPA Consultoria de áudio: por que contratar um profissional Quem e como são os consultores de áudio? Como podem ajudar? Qual a melhor forma de trabalho? Saiba como funciona um serviço de consultoria e conheça o dia-a-dia e o ponto de vista desses profissionais. Miguel Sá / Karyne Lins [email protected] / [email protected] Consultoria de áudio 62 www.backstage.com.br Quando a consultoria é necessária Integrante da Comissão de Construção da Igreja Presbiteriana de Macaé, Carlos Eduardo Pereira resolveu procurar por profissionais na área de Acústica e Eletroacústica que complementassem o projeto arquitetônico do templo que estava sendo construído, porque tinha receio de ficar desnorteado com a enorme quantidade de informações que se tem hoje em dia. “A quantidade de informações e opções disponíveis hoje torna importante a participação de consultores com a necessária especialização, capazes de ter uma visão diferenciada, mais aprofundada em cada fase de um projeto”, disse. Segundo Carlos Eduardo, uma das maiores vantagens de ele ter contratado uma consultoria técnica foi acrescentar credibilidade ao projeto do novo templo. “Isso trouxe, no caso específico do projeto e consultoria do Cysne (Luiz Fernando), uma curiosidade sobre o tema Acústica, que perdura até hoje entre os membros da igreja, independentemente da faixa etária”, completa. Com a missão de reformular a acústica do Teatro Popular do Sesi e implantar um projeto de atualização tecnológica dos equipamentos de áudio, o Coordenador de Atividades Artísticas e Culturais do SESI-SP, Silvio Anaz, também logo de início buscou identificar no mercado as emFoto: Divulgação E igrejas, em estúdios, teatros ou estádios, é cada vez mais comum requisitar os serviços de um consultor de áudio para elaborar um projeto que se encaixe em cada ambiente. Mas se por um lado o cliente busca excelência e perfeição, por outro, o consultor se esforça para não fazer da consultoria um bicho-de-sete-cabeças, evitando traumas e transtornos. A ordem é transmitir as necessidades do projeto para o cliente, quase sempre leigo no assunto, de forma compreensível. Observar questões como o custo-benefício e administrar a relação cliente e fornecedor para assegurar uma qualidade final dos trabalhos são outras ações que vêm tornando o trabalho de consultoria tão importante nesse mercado. Para desvendar os segredos da profissão, a Revista Backstage entrevistou os consultores Joel Brito, Renato Cipriano, Luiz Moreira, David Distler, Sólon do Valle, Lineu Passeri, Framklim Garrido e Luiz Fernando Cysne, além de técnicos e vendedores de diversas lojas que prestam serviço de consultoria ao cliente. Entre um projeto e outro, eles contam como exercem a profissão e falam das experiências do dia-adia, das diferenças entre consultor, projetista e vendedor, ética, formação profissional e administração de interesses durante a implantação de um projeto. Francisco Ferreira e o rack EFX D Fotos: Divulgação CAPA Framklim Garrido Luiz Moreira Cipriano presas e os profissionais mais bem capacitados para uma consultoria em engenharia de áudio. Segundo ele, apenas os serviços de consultoria poderiam fundamentar algumas decisões, principalmente quando estas envolvessem aspectos técnicos sofisticados. “Como o nome diz, ele é um consultor e será fundamental para abastecer quem decide com as informações. Normalmente, ao contrário dos profissionais que estão vinculados como empregados em uma empresa, o consultor tem mais possibilidades de conhecer diferentes projetos, atualizar-se na teoria e na prática constantemente e desenvolver com maior independência as propostas”. Mas não são apenas grandes empresas que recorrem a esses profissionais. Cláudio Roberto Bellanga, engenheiro eletrônico, gerente na área de informática e vice-presidente na Primeira Igreja Batista da Lapa, em São Paulo, conta que a necessidade de um consultor veio com a expansão da igreja. Devido ao desconhecimento do processo, decidiram buscar ajuda com um trabalho de consultoria. “Tivemos várias experiências ruins num primeiro instante com vários curiosos tentando ‘ajudar’. O trabalho de um consultor, se bem direcionado, funciona muito bem. É muito diferente de você mesmo tentar resolver alguns problemas. O custo deste trabalho se paga muito rapidamente”, afirmou. consultor ou um projetista. As duas funções podem até ser exercidas pela mesma pessoa, mas são coisas diferentes. Luiz Moreira Junior, com ampla experiência na área de consultoria para igrejas evangélicas e tendo também trabalhado no Teatro Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro, explica que “o consultor tem a função de sugerir e dirimir as dúvidas do cliente. O projetista, de posse dessas informações, faz cálculos, desenhos e toda sorte de informações para o instalador executar a obra”. necessidades do cliente e fazer uma avaliação do local para que o projeto de áudio seja compatível com os objetivos da sonorização. Quando o consultor participa desde o início, primeiro há os estágios de definição do partido arquitetônico, que é a localização do empreendimento e dos cômodos do local. Depois, há a concepção do projeto acústico. Segundo Passeri, é deste ponto de partida que o profissional vai orientar o cliente em relação aos projetos. No estágio seguinte, o consultor orienta o cliente dizendo as áreas onde um projeto específico é necessário e apresenta as características gerais que devem constar nele. “Primeiramente ele deve absorver o maior número de informações do cliente para começar com a visão macro do assunto até chegar ao desmembramento de todas as atividades envolvidas, uma a uma, permitindo uma visão detalhada dos processos e recursos”, avalia Renato Cipriano, engenheiro projetista da WSDG que já fez obras como a do Estúdio Reuel, no Rio de Janeiro. Pode acontecer também de o consultor ter a palavra decisiva sobre a condução das obras quando é ele que aceita a execução deles em nome do cliente. Quando o consultor acompanha a obra, ele se torna o que Lineu Passeri chama de “o olho técnico do cliente”. O trabalho e a relação com os profissionais envolvidos são organizados a partir de reuniões, conversas e discussões. Há ainda uma outra função que o consultor pode Consultor ou projetista? Na hora de buscar o profissional, muitos ficam na dúvida de quem chamar: o “Tivemos várias experiências ruins num primeiro instante com vários curiosos tentando ‘ajudar’. O trabalho de um consultor funciona muito bem” (Bellanga) Segundo o engenheiro e consultor Framklim Garrido, as atribuições de um consultor são definir o objetivo do cliente e o investimento a ser feito no serviço, apresentar opções técnicas para a solução do problema e estabelecer o plano de metas. O profissional de consultoria também pode tanto participar de um trabalho do início como rever os rumos de um projeto já iniciado. Nas duas situações, o profissional deve, antes de tudo, saber as reais www.backstage.com.br 63 Consultoria de áudio Fotos: Divulgação CAPA Luiz Fernando Cysne Sólon do Valle exercer, quando solicitado, que é a de auditoria da obra. Em uma consultoria para igreja, por exemplo, cabe ao consultor ouvir o maior número possível de pessoas envolvidas na atividade do empreendimento, averiguar todas as dificuldades do local e em seguida verificar se existe um projeto arquitetônico para o local em andamento ou no futuro. Sentar com o arquiteto e todos os demais profissionais envolvidos no projeto arquitetônico, buscar o consenso e chegar a uma pré-solução para o local. Após todas essas etapas iniciais e a aprovação do cliente, o passo seguinte é fazer a indicação do material com todo o descritivo técnico de cada equipamento e fornecer ao cliente as opções (marca e modelo) para cada caso. Também é preciso apresentar todas as plantas detalhadas com informações que possam ser compreendidas e executadas por uma empresa ou por um outro profissional. Cabe ao consultor acompanhar todas as etapas de instalação, ajustes e operações iniciais do sistema por ele sugerido. Fabrício Neiva, consultor técnico da Serenata em Belo Horizonte (MG), acha que o mais importante em uma igreja é a compreensão dos fiéis. “Não adianta gastar uma fortuna em uma obra maravilhosa e depois faltar inteligibilidade dentro do templo. É imprescindível procurar um especialista. É preciso saber qual é a denominação e o tipo de louvor para pensar no projeto, saber como é a acústica e direcionar o equipamento necessário. Se a igreja tem poucas condições financeiras concilio e faço os ajustes. Às vezes indico outras marcas de baixo custo e explico que vai atender, mas sempre lembro que para o sistema ideal tem que haver investimento”. 64 www.backstage.com.br Consultoria e vendas: relação perigosa Mas e as lojas que oferecem serviço de consultoria e até mesmo instalação do sistema para os seus clientes? Como isso funciona? No caso das lojas que possuem um consultor técnico especializado, geral- “Não adianta gastar uma fortuna em uma obra maravilhosa e depois faltar inteligibilidade. É imprescindível procurar um especialista” (Neiva) mente este profissional faz uma sondagem do local que o cliente possui, assim como também da necessidade, e oferece um suporte pós-venda, acompanhado e dando treinamento para os operadores. Segundo os consultores que trabalham nas lojas, a relação de consultoria e venda vem dando certo e trazendo confiabilidade e segurança para vendedores e clientes. Algumas vezes, não é nem necessário indicar novos equipamentos; apenas direcionar os que já se possui. Para muitos técnicos que trabalham em lojas, o consultor deve apresentar soluções e não necessariamente o que há na loja. Segundo Paulo Moura, os clientes devem ficar de olho e escolher apenas as lojas que estiverem capacitadas para isso e possuírem em seus quadros profissionais competentes, formados e registrados. Caso contrário será sempre um risco. “Não vejo nenhum problema, desde que o mesmo tenha ética para realizar as duas etapas”, fala, alertando para o caso de o consultor não ser profissional e o cliente ter que gastar outra vez para uma nova consultoria. O técnico em áudio da Ponto Musical, Francisco Ferreira, acredita que o serviço de consultoria ao cliente é uma forma de a loja oferecer algo mais a ele. “Tenho certeza que estamos inovando no atendimento com a implantação de um departamento que faz esta triagem e assessora o cliente para saber o que está comprando”. Mas, segundo ele mesmo observa, ainda acontecem coisas absurdas que acontecem pela falta de treinamento técnico e pela falta de conhecimento de quem compra e às vezes de quem vende. Com o objetivo de conscientizar o cliente de como tudo isso vai funcionar e sobre a importância de se ter um profissional com experiência e conhecimento, Magayver, consultor técnico da Disconildo desde 1997, ressalta que a loja, no Rio de Janeiro, realiza palestras para pastores e técnicos a fim de mostrar as especificações e funções dos produtos. “A proposta é conscientizar o pastor na teoria como tudo isso vai funcionar”, diz. “Vender é muito fácil. O correto e ético é realizar um serviço de consultoria e projeto que no final o pastor fique satisfeito e tenha confiança na loja para um futuro serviço ou suporte de vendas”, completa. Um dos fatores que pode prejudicar a relação entre o consultor e o cliente são os interesses que extrapolam as atribuições da consultoria, incluindo aí possíveis interesses comerciais. “A relação mercantil quebra o elo de confiança”, afirma Passeri. O consultor de acústica enfatiza que a relação entre o consultor e o cliente é de confiança pessoal, mas, às vezes, realmente acontece esta confusão, trazendo à tona a discussão de consultoria contra interesses comerciais. Para o engenheiro David Distler, a confusão é comum “por que essa função ainda não está bem definida no mercado de áudio no Brasil. Salvo raras exceções, para que um cliente seja bem atendido, sem conflitos de interesse, o consultor deve vender apenas o seu tempo e conhecimento na forma de um projeto”, define. Por outro lado, Luiz Moreira afirma que quando a loja tem profissionais experientes e registrados em entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA) ou a Associação Brasileira de Profissionais de Áudio (ABPAudio), somados à experiência profissional, isto pode ser interessante, desde que a compra do material não es- Foto: Divulgação CAPA Joel Brito teja vinculada ao serviço e seja cobrada à parte da consultoria. Framklim Garrido concorda com essa visão. “Não vejo nada de errado com esse procedimento, mas desde que haja mesmo uma consultoria. Senão tudo pode ser confundido com uma simples lista de compras”. Para que seja feita a distinção entre um serviço de consultoria efetivo e um de vendas, Framklim diz que precisa haver garantia para o cliente na previsibilidade de desempenho e um projeto. “Muitos fornecedores de insumos (equipamentos) possuem departamentos de engenharia. É mais uma forma de ser ampliada a margem de negócios daquela empresa”, ressalta. Consultoria de áudio Quanto pagar? Em geral, o consultor cobra por hora de trabalho, de forma proporcional ao tamanho do projeto. Um bom exemplo é a forma como trabalha Lineu. Ele tem três formas diferentes de cobrança: para uma consultoria simples, sem a necessidade de relatório, em que o pagamento é feito por hora, funcionando mesmo como uma consulta médica. Com relatório, já é um outro preço. Neste caso tem de haver a produção de um texto e há uma relação mais intensa do profissional com o trabalho; quando há a necessidade da criação de um produto gráfico (um projeto), Lineu já cobra o preço de um projeto. Neste momento, começa a distinção entre as funções de consultor e projetista. Ou seja, quando há a criação de um produto gráfico, o profissional passa a exercer a função de projetista, e é outro preço. 66 www.backstage.com.br Geralmente, o consultor visita o cliente, faz a verificação do ambiente e analisa as condições dos equipamentos que este possui dando um laudo técnico de uma forma geral. Já que se trata de consultoria ou projeto, é um trabalho e deve ser remunerado. “Isso independe de ser igreja ou qualquer outro cliente, é justo ser cobrado”, opinou Paulo Moura. Já na loja Disconildo, a cobrança é simbólica. “Cobramos um valor simbólico, porque algumas igrejas recebiam a nossa visita e depois tentavam fazer por conta própria. O consultor se especializa e é profissional para que esta atitude não venha a prejudicar ainda mais a situação da igreja. Este valor inclui o serviço dos montadores com equipamento de segurança, cabos de aço, brocas e a nossa responsabilidade do sistema funcionar de forma correta”, explicou Magayver. Para Sólon do Valle há funções bem claras entre a venda e a consultoria. “Existem vendedores e vendedores técnicos. Nenhum deles pode fazer um projeto. Porém um vendedor técnico é importante na orientação do cliente”, ressalta. Na dúvida sobre quem chamar ou consultar, o engenheiro Joel Brito lembra que há uma boa forma de resolver isso: por meio de licitação. “Licitação não é só uma coisa que o governo faz”, afirma. Segundo ele, as empresas também podem fazer um levantamento dos serviços dos fornecedores, e colocar as condições e ver quem está disponível para cumpri-las. Paulo Moura, que atua há mais de trinta anos na área de áudio profissional, disse que o próprio CREA prevê a venda técnica, ou seja, o vendedor é um técnico qualificado e registrado, portanto nada impede que isso possa ocorrer. Desde que ele domine a área, seja formado e devidamente registrado estando apto a fazer um projeto e a se responsabilizar por ele. “Se é técnica a consultoria, deve ser realizada por técnicos e engenheiros com formação acadêmica em Elétrica e Eletrônica, atuantes no mercado de áudio profissional e com os profissionais devidamente registrados no CREA, caso contrário estaremos praticando o exercício ilegal da profissão”, salientou. “O que muitos clientes não sabem é que a partir do momento que um projeto tenha a assinatura de um profissional qualificado e registrado e até mesmo que a empresa que estiver realizando o seu projeto (venda e instalação), também seja registrada no CREA, qualquer problema que ocorra o mesmo poderá realizar uma denuncia ao CREA”, completou Moura. Os resultados e as responsabilidades É visando esta segurança, que o cliente deve se cercar de cuidados quando contrata uma consultoria. O resultado fi- Consultoria de áudio nal da obra é uma mistura de vários fatores, como a equipe que trabalha com o consultor e o gabarito dos profissionais envolvidos. É importante que o consultor saiba assumir as suas responsabilidades no resultado final, com os diversos outros profissionais envolvidos. Sólon do Valle lembra que “o áudio posta exigências que podem entrar em conflito com outras áreas, especialmente a decoração. Nesses casos, ambas as partes devem estar abertas e dispostas à cooperação. Quando encontro resistência à implantação das normas corretas de áudio/ acústica, previno o contratante de que ele está em risco. Se ele assume esse risco e me pede que ceda, prefiro abandonar o projeto a fazer algo que considero incorreto”, diz. Luiz Moreira lembra que na consultoria que prestou ao Sesc no teatro Ginástico, a entidade contava com um departamento de engenharia que coordenava as etapas da reforma. “Isso proporcionou um conforto muito grande neste trabalho, com um resultado compensador”, comemora. “Sempre surgem dificuldades e dúvidas e a boa relação é que garante um bom clima de trabalho com espírito de equipe”. Lineu Passeri recorda que durante a execução do projeto da Igreja Presbiteriana de Limeira havia um escritório só para centralizar os diversos projetos. Joel Brito, consultor que participou do projeto da igreja da Assembléia de Deus de Volta Redonda é bem claro nas definições das responsabilidades. “Se o projeto foi seguido, o equipamento foi comprado, a instalação foi feita e foi bem comunicada, é claro que o consultor é o responsável por aquilo que ele determinou. Da mesma forma que se o instalador recebe a planta, as instruções e não segue, ele é responsável por aquilo. Se o cliente passa algo completamente errado, o problema é dele também. E por aí vai”, define. De qualquer forma, como lembra 68 www.backstage.com.br Foto: Divulgação CAPA Lineu Passari Cysne, a palavra final é sempre do cliente “Às vezes o cliente até pede para o consultor resolver, mas ele não pode”, fala. Não se deve esquecer que a qualidade do profissional a ser chamado é um dos fatores mais importantes. Framklim Garrido acha que, visto isso, o cliente pode se beneficiar bastante dos serviços de consultoria. “Um dos mais importantes bene- “Exija sempre uma garantia real do profissional contratado. Se ele não for capaz de te oferecer isso, pense bem antes de fazer seu investimento” (Renato) fícios seria a redução do tempo para alcançar a solução correta do problema. Quantas vezes o cliente terá que comprar errado, na tentativa e erro, para chegar à solução correta? Para a maioria das pessoas, tempo é dinheiro e esse pode ser um dos benefícios mais importantes”, diz. Renato Cipriano dá uma dica preciosa para as pessoas que precisam contratar um profissional para trabalhos de projeto ou consultoria: “exija sempre uma garantia real do profissional contratado e, se ele não for capaz de te oferecer isso, pense bem antes de fazer seu investimento”. “Se um projeto não funciona bem, eu quero entender que a culpa é das duas partes. Creio que esta situação é muito comum com os ‘curiosos’ e nós tivemos algumas experiências deste tipo. Este tipo de consultor está preso a algum fabricante e o que ele procura é dar um jeito para vender o equipamento do parceiro dele, e não de procurar a solução adequada para o problema do seu cliente. Este tipo de consultor nem sempre está disponível para as dúvidas”, opinou Bellanga. Relacionamento com o cliente Em uma coisa os consultores concordam: a comunicação entre consultor e cliente deve ser clara e franca, e de preferência em um contato pessoal. Para que haja um mínimo de ruído nesta conversa, o cliente deve procurar ser objetivo no que espera como resultado, e, por outro lado, cabe ao consultor analisar a situação e elaborar as propostas. Quando o consultor não tem acesso direto ao cliente, a troca de informações entre um e outro pode ficar distorcida, o que aumenta a possibilidade de ocorrer sérios problemas. “Sempre quem conta um conto acrescenta, ou subtrai, um ponto. Você não consegue receber dele (cliente) a informação correta, nem passar para ele a solução correta”, ressalta Joel. Mas a clareza não deve ser apenas de quem contrata. O consultor também deve ter em mente que precisa expor suas idéias de forma bem explícita para o cliente. Linguagem simples e coloquial é um bom caminho que pode demonstrar o grau de conhecimento do consultor. Linguajar estritamente técnico apenas para impressionar pode deixar o cliente perdido. “A conversa com o cliente deve passar noções fundamentais sobre o assunto. Isso deve ser feito sem esnobar ou constranger o cliente”, assegura Sólon. CAPA Luiz Fernando Cysne e a consultoria no Brasil Com livros publicados e um respeitável currículo como consultor, Luiz Fernando Cysne, em entrevista exclusiva à Revista Backstage, fala sobre a qualidade do serviço de consultoria no Brasil. Miguel Sá [email protected] C Consultoria de áudio om 35 anos de carreira, formação nos campos do áudio, vídeo e telecomunicações, mestrado em acústica arquitetônica e doutorado em física, Luiz Fernando Cysne é um dos profissionais mais respeitados do país. Ele já produziu mais de 500 artigos em revistas especializadas desde a década de 1960, além de escrever livros relacionados ao universo do áudio, como Áudio e Engenharia de Sistemas, A Bíblia do Som, Controle de Ruídos em Sistemas de Áudio e Treinamento para Músicos e Operadores de Som de Igrejas, além do Programa de Treinamento Auditivo, um conjunto formado por cinco CDs e um manual com 230 páginas. Revista Backstage - Quem procura a consultoria de áudio? Luiz Fernando Cysne - Quem precisa e sabe que este serviço está disponível. Isso em praticamente todas as áreas. Falo de corporações grandes, como Bradesco, Itaipu, Vale do Rio Doce, ou pequenas, como escritórios de profissionais liberais. Eles procuram (os serviços) para salas corporativas que vão de pequenas salas de reunião a grandes auditórios. Agora, há sistemas para praças esportivas, teatros, cinemas, alguns prédios, parques temáticos e igrejas, principal- 70 www.backstage.com.br mente as igrejas. Nos últimos dez anos as igrejas evoluíram pra sistemas que parecem mais de concert halls (salas de concerto). Evidentemente há então expectativa muito grande. Não adianta ser um bom consultor, tem de ser um bom consultor com experiência em igreja para resolver esse O consultor que não é experiente em estúdio, tanto na parte acústica como na eletroacústica, acaba sugerindo caminhos que não seriam os melhores tipo de problema, e de preferência um consultor que tenha orientação musical, porque as solicitações de pessoal de palco, às vezes, soam do lado de estrela para o consultor que não está habituado, mas não é. As necessidades são realmente muito complexas. De um modo geral, eu diria que quase todos procuram os consultores. Agora, algumas igrejas e empresas procuraram consultores e acabaram com um resultado muito ruim. Por que isso acontece? Cysne - Por algumas razões. Quando você quer ser delegado da polícia federal você tem que se habilitar a isso, se candidatar e fazer alguns exames e, provavelmente, vai ter a sua vida anterior totalmente verificada. Mas o consultor pode ser um técnico que trabalha em uma loja de som, adquire “20 gramas” de conhecimento, se declara para o mundo consultor e sai fazendo consultoria. Ninguém pode impedir isso. Mas que credenciais ele tem? Nenhuma. Mas também ninguém exige. Então essa é uma das razões. Outra das razões é que, às vezes, mesmo um consultor experiente envereda por um caminho que não é o da grande especialidade dele. Talvez valha a pena mencionar o caso dos estúdios. Os estúdios de música, desde os de garagem até grandes estúdios, como no Rio tem o AR e outros tantos, provavelmente se beneficiaram, e muito, com o serviço de consultoria em algumas áreas. Agora, o consultor que não é experiente em estúdio, tanto na parte acústica como na eletroacústica, acaba sugerindo caminhos que não seriam os melhores. Isso acontece também em teatros e igrejas? Cysne - Teatro, eu vejo como um pouco mais fácil, porque você geralmente trabalha com uma equipe. CAPA Você tem um arquiteto que vai dar o tom do acabamento e do visual, você tem técnicos altamente experientes na parte cenográfica, então tudo isso acaba tendo um resultado acústico do qual, geralmente, você se beneficia. Em um teatro, é relativamente fácil estabelecer os parâmetros acústicos e eletroacústicos. Na igreja é um caso bastante difícil, até porque para a maioria pesa muito o lado orçamentário. Esse é um dos parâmetros que você tem de se fixar. Não adianta você querer o ideal do ideal quando a igreja não pode ter isso. Então você tem de ter o mais próximo do ideal. Às vezes é a própria orientação do cliente que faz com que o resultado não saia exatamente como seria o ideal, mas eu resumiria (as causas de um trabalho ruim) nesses quatro pontos para você: consultor inexperiente, consultor experiente, mas sem conhecimento específico para lidar com o assunto, cliente que determina padrões e o aspecto orçamentário. Não adianta querer o ideal quando a igreja não pode ter isso. Às vezes é a própria orientação do cliente que faz com que o resultado não saia ideal Qual a fronteira entre a venda e a consultoria? Cysne – Este é um assunto como mulher e futebol, cada um tem a sua opinião. A minha opinião é que o consultor tem de ser independente, ele não pode ter “rabo preso” com nenhum produto. Eu, por exemplo, como consultor, semanalmente tenho ofertas para representar o equipamento A, B, C ou D. Eu tenho rejeitado isso há décadas, porque eu não quero nem pensar em amanhã executar um serviço, colocar aquele produto e alguém me dizer: olha, você colocou porque tem interesse comercial. Eu acho que o lojista tem um pouco esse problema. Agora, mais do que isso, o lojista, de um modo geral, tem um desafio muito grande, que é vender o produto dele. Eu acho que se ele se especializar na venda já está fazendo um negócio excelente. Conhecer cada produto de uma loja no seu todo e poder orientar o cliente é uma coisa maluca de tão difícil, mas isso não tem nada a ver com consultoria. O trabalho de consultoria é muito diferente do trabalho do lojista e, na minha opinião, eles são complementares. Assim como o lojista não deve fazer consultoria, o consultor não deve vender. É cada macaco no seu galho. O consultor especifica o amplificador modelo tal, tipo tal ou com tais características e aí o vendedor indica. Aí, ele vai vender o peixe dele. O mercado confunde um e outro? Cysne - Eu acho que os dois confundem, tanto o vendedor como o consultor. Acho que o lojista vendedor vê na consultoria um caminho para efetuar uma venda e o consultor vê na venda um caminho para ganhar um dinheirinho a mais, e eu acho que os dois erram quando partem por estes caminhos. O vendedor tem de ficar exclusivamente com a venda. Quer dizer, se ele foi um lojista, o consumidor final vai ter realmente o apoio dele, mas do ponto de vista do equipamento, não do ponto de vista do sistema. Talvez fosse uma coisa muito importante que o lojista indicasse consultores para o consumidor final assim como o próprio consultor indicasse vendedores daquele equipamento na região do cliente. Acho que os dois fariam melhor o trabalho dessa maneira. Quer dizer que pode existir essa parceria, que isso não vai prejudicar o trabalho nem de um nem de outro? Cysne - Eu nem diria que é uma parceria, eu acho que um lojista pode indicar meia dúzia de consultores, como um O trabalho de consultoria é muito diferente do trabalho do lojista e, assim como o lojista não deve fazer consultoria, o consultor não deve vender consultor pode indicar meia dúzia de lojas. Eu diria que mais do que uma parceria é um modus operandi. Quando se pode saber se o trabalho do consultor foi mal feito? Cysne - Acho que o trabalho de consultoria você afere pelo resultado. Se o resultado é ruim, o trabalho não foi bom. Agora, ele pode ou não ser responsabilidade do consultor, mas é aquilo que eu disse. Se, por exemplo, você (consultor) diz que, no ginásio, é melhor colocar um cluster central olhando para toda a platéia, mas o forro não agüenta o peso adicional, você vai ter de colocar as caixas no chão ou em postes. Pode fazer isso, mas vai ter um problema de interação de fase. Um consultor experiente sabe que vai ficar excelente em alguns pontos e muito ruim em outros, e a hora que isto acontecer de quem será a responsabilidade? De quem pediu para fazer assim. www.backstage.com.br 71