Degradação das pastagens: Como evitar e potencializar a produtividade? No Brasil, de acordo com dados da ANUALPEC de 2013, as pastagens ocupam aproximadamente 22% do território. Somam 190 milhões de hectares, sendo que 80% dessas áreas têm sinais de degradação e mais da metade precisa de intervenção urgente. A recuperação e a renovação de pastagens degradadas têm reflexos econômicos, técnicos, sociais e ambientais. “As consequências negativas da degradação afetam toda a sociedade, por isso, todos os agentes que atuam direta ou indiretamente na produção animal em pastagens precisam conhecer a fundo o problema”, ressalta o consultor Técnico de Corte da Alta, Rafael Mazão. Um dos principais motivos da degradação das pastagens é o plantio de forrageiras não adaptadas ao clima e ao solo da propriedade. “O manejo incorreto, tanto no plantio quanto na formação e na produção, é outro motivo relevante. Em todos os casos de degradação no norte do Brasil, a segunda maior causa de degradação foi o superpastejo, ou seja, a taxa de lotação acima da capacidade suporte do pasto. Áreas muito grandes e pastoreio contínuo foram apontados como a terceira causa de degradação em 25% dos casos”, pontua Rafael. Para se ter uma ideia, as queimadas frequentes geram perda de 100% do carbono, 98% do nitrogênio e 95% do enxofre da biomassa vegetal. “Causa também mudança na composição botânica da pastagem com eliminação gradativa da forrageira e das invasoras herbáceas, de mais fácil controle, onde serão substituídas por plantas de maior porte, com maior custo para controle”, alerta o consultor. As pastagens geralmente são monoculturas, com grandes áreas sem diversidade vegetal. Isso facilita o desenvolvimento rápido de pragas como a cigarrinha-das-pastagens e a da cana. Esta última, há anos somente atingia canaviais e o capim-elefante. Hoje vem causando danos severos em pastagens de Braquiária Brizantha (Braquiarão), efeito da monocultura que gera adaptação das pragas para atingir novas forragens. De acordo com Mazão, as plantas invasoras são outra causa de degradação dos pastos. “Elas competem com a forrageira por espaço e por fatores de crescimento (água, luz e nutrientes). As de folha larga protegem menos o solo do impacto das chuvas, do sol e do pisoteio dos animais e máquinas”. Solos de baixa fertilidade natural ou os que foram férteis, mas estão esgotados, também facilitam a degradação do pasto. O declínio de fertilidade, por ausência de adubação, foi apontado em 50% dos casos como a principal causa de degradação nas regiões centro-oeste e norte do Brasil. A adubação das pastagens é pouco frequente no país. Em torno de 2% (menos até) dos fertilizantes comercializados são destinados à pecuária, e menos de 1,6% das fazendas brasileiras adubam os pastos. “O reflexo é a diferença no bolso. Mas nem todos os pecuaristas associam que a queda do rendimento da atividade é consequência da degradação de suas pastagens. Diversos outros fatores são atribuídos à redução do faturamento em projetos com boa gestão, desde a variação dos preços da arroba até a redução da taxa de prenhez das matrizes”, explica. Confira algumas consequências da degradação: Menor produção de forragem, em razão da competição entre forrageira e invasora, dos erros de manejo e da queda de fertilidade do solo; Menor capacidade suporte (unidade animal por hectare – UA/ha), causada pela queda na produção de forragem. A redução varia de 20% a 40% entre o primeiro e o segundo ano depois do plantio. O avanço do processo de degradação reduz em mais de 50% a capacidade de suporte a partir do quinto ano; Queda no desempenho dos animais em razão da menor qualidade da forragem. Ocorre um empobrecimento da composição química, digestibilidade de capim. O ganho de peso diário cai de 0,5 a 0,7 kg/dia para 0,3 a 0,4 kg/dia; Perda da produtividade da área com consequente redução da receita; Aumento do custo de produção, com tentativas frustradas de recuperar ou renovar as pastagens degradadas. A falta de orientação técnica e de métodos adequados leva ao insucesso; Ferimentos nos animais, sobretudo nos olhos, boca, pele e úbere, causados por plantas invasoras com espinhos; Intoxicação e morte de animais que consomem plantas invasoras tóxicas. Em 2012, houve morte de 1,4 milhão de reses; Maior incidência de ectoparasitas (bernes, carrapatos e moscas), que se abrigam nas folhas das plantas invasoras; Degradação do solo e da água. A falta da palha deixa o solo desprotegido, aumentando a compactação superficial e reduzindo a infiltração da água, o que causa erosão; Perda de competitividade da pecuária em relação aos outros usos da área. A redução da área de pastagens, nos últimos levantamentos realizados no país (1995 a 2006), foi de 5,35 milhões de ha, enquanto as de florestas e lavouras cresceram, respectivamente, 5,59 milhões e 34,9 milhões de ha. Até 2018, a área de pastagem no Brasil deve perder mais de 17 milhões de ha, pois a agricultura tem utilizado tecnologias modernas para intensificar o uso do solo, podendo operar com mais lucro e maior retorno sobre o capital investido. De acordo com esclarecimentos de Mazão, não é fácil caracterizar os indicadores da degradação, pois não há metodologia uniforme para isso. “Uma pastagem tida como degradada em certa localidade pode ser considerada produtiva em outra região”, afirma. Algumas características mais frequentes, independentes das características regionais, que ocorrem nas áreas de pastagens degradadas em todo país: No estágio inicial de degradação, a área é insuficiente para mantença da capacidade suporte normal da forragem funcional, ou seja, uma área com acentuada redução de produtividade, e ainda, com ausência ou pouca presença de plantas invasoras. Num estágio intermediário, as forragens estão mais escassas e as plantas invasoras são mais presentes, tornando-a ainda mais ineficiente quanto à produção de forragens. O vigor das pastagens está baixo, estão perdendo a capacidade de se recuperar naturalmente e de superar os efeitos nocivos das pragas, doenças e plantas invasoras. A degradação no seu estágio avançado é mais notória, o solo está descoberto e compactado em grande parte da área, pode haver erosão e as plantas invasoras já dominaram as forragens. “A falta de critério nas avaliações faz com que muitos pecuaristas confundam pastagens degradadas com solo degradado. Por isso que vários produtores consideram seus pastos em boas condições, enquanto já estão em estágio inicial ou intermediário, perdendo produtividade e rendimento em @/ha/ano”, ressalta. Para recuperar uma pastagem é preciso restabelecer a produção de forragem, mantendo a mesma espécie ou cultivar. A recuperação e a renovação indiretas envolvem cultivos agrícolas em diversas modalidades: integração lavoura-pastagem; integração lavoura-pecuária; integração lavoura-pecuária-floresta e integração pecuária-floresta. Estes sistemas possuem muitas características favoráveis, com destaque para as seguintes: Melhora a biologia do solo; Reduz a incidência de pragas, doenças e plantas invasoras; Aumento da reciclagem de nutrientes no solo e eficiência de seu e extração pelas plantas; Maior estabilidade dos agregados do solo; Melhor infiltração da água das chuvas; Facilidade de conservação do solo (disponibilidade de maquinário); Facilidade de substituição da espécie forrageira em razão do uso intensivo de máquinas e de herbicidas seletivos na agricultura; Diversificação da produção da fazenda; Possibilidade de otimizar o uso de máquinas e implementos ao longo do ano; Redução dos custos de renovação ou recuperação da pastagem. Há também benefícios ambientais, como a possibilidade de diminuir a velocidade do avanço da fronteira agrícola, a menor emissão de carbono e a queda da emissão de metano pelos animais, em consequência da melhor qualidade dos pastos. Para Mazão, a relação benefício sobre custo no controle de plantas invasoras pode chegar a 4,4:1 dependendo do nível de infestação e do estande da forrageira. “Para cada real aplicado no controle das invasoras, há um retorno de R$4,40. O gasto com a limpeza de pastagens é muito pequeno, corresponde a 1,7% do total num rebanho de 500 UA, nas três fases da pecuária (cria, recria e engorda), assim não há razão econômica que justifique abandono dessa prática”, justifica. Considerando a resposta apenas em termos de capacidade suporte, significa um retorno de até R$2,49 para cada real aplicado. Mas há outros ganhos, como o aumento do desempenho dos animais (ganho de peso, fertilidade, etc.) e da área (kg/ha), além da redução dos custos com controle de plantas invasoras. A comparação dos índices zootécnicos de uma pastagem degradada com os de outra que recebe tais cuidados, mostra o expressivo retorno do investimento: O desempenho por animal sobe de 0,3 para 0,6 kg/dia em média; A capacidade suporte pode aumentar de 2 até 10 vezes (de 0,5UA/ha para 1 a 5 UA/ha); A produtividade da área pode aumentar de 3 a 20 vezes, de 82 para 1.600 kg de peso corporal por hectare por ano (ANUALPEC, 2013). Existem algumas instituições financeiras em parceria com projetos do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para liberação de crédito destinado à pecuária, com taxas de juros muito interessantes, facilitando o investimento nas áreas de pastagens degradadas, a fim de promover o produtor rural, seja ele pequeno, médio ou grande. Todas as vantagens sejam para benefício biológico do solo e ambiental da propriedade, ou seja, quanto à redução de custos e maior produtividade da atividade, torna evidente que a recuperação deveria ser adotada pela maioria dos pecuaristas. “A realidade é diferente. Muitos produtores avaliam somente os custos para recuperação ou renovação, e não ponderam os benefícios e retorno sobre o investimento que sempre é válido para intensificar a atividade, aumentar a produtividade e os rendimentos da fazenda, que deve ser vista como uma empresa rural”, finaliza.