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Identificação dos custos ocultos na produção de sementes
de soja na Região de Rondonópolis – MT1
Rodrigo Becher2, Celso Correia de Souza3, Adriana Paula D’Agostini Contreiras Rodrigues3,
Ivo Martins Cezar3
RESUMO: O agronegócio brasileiro é responsável por um terço do produto interno bruto do país,
emprega 37% da mão de obra e responde por 42% das exportações. É o setor da economia mais
competitivo, mas convive com o problema dos altos custos, que nem sempre podem ser registrados
pela contabilidade. Eles se fazem presentes em todas as decisões sobre o negócio, porque os ganhos
possíveis e não realizados, também, são considerados custos que as empresas do setor do agronegócio
não deveriam tê-los, sob pena de dilapidar os seus lucros. Os custos nas empresas, que nem sempre a
contabilidade percebe, são chamados de “custos ocultos”, e é um fenômeno de estudo da sociedade
moderna. Devido à evolução da gestão empresarial no campo, os custos são, sem dúvida, um dos
aspectos mais relevantes. Desta forma, o estudo dos custos ocultos é requisito de sobrevivência nesse
ambiente de elevada competitividade. O presente trabalho trata de identificar os custos ocultos na
produção de sementes de soja no município de Rondonópolis, MT. Informações primárias sobre custos
ocultos das empresas produtoras de sementes de soja foram obtidas através da aplicação de questionário
semi-estruturado. Os resultados apontaram que os custos ocultos representam altas perdas financeiras
para as empresas produtoras de sementes de soja que, apesar de percebidas, nem sempre são eliminadas,
pela dificuldade de identificação. Isto indica que a redução dos custos ocultos dará possibilidades aos
empresários de investirem mais e obterem melhores resultados financeiros e, consequentemente,
aumentar a eficiência operacional.
Termos para indexação: Glycine max, contabilidade de custos, exportação de soja, tomada de decisão.
Introdução
É inegável que as empresas buscam meios de reduzir
custos no sentido de maximizar lucros. O Brasil, país
extremamente competitivo em produtividade na agricultura,
tem dificuldades para se consolidar como grande exportador
de produtos agroindustriais pois, com a abertura econômica
do país e o permanente desenvolvimento tecnológico mundial,
tem criado um cenário muito complexo e competitivo
nessa consolidação. Em relação à soja, o Brasil, um dos
principais produtores mundiais, possui os maiores índices
de produtividade, com menores custos de produção e altos
rendimentos, favorecendo a exportação in natura dessa
commodity, pois na agregação de valores à mesma, o país
perde em competitividade.
Os altos índices de produtividade da soja no Brasil
Submetido em 19/09/2012. Aceito para publicação em 24/10/2012. Parte
da Dissertação de Mestrado do primeiro autor em Produção e Gestão
Agroindustrial apresentado na Universidade Anhanguera-Uniderp.
1
Aluno do Programa de Mestrado em Produção e Gestão Agroindustrial da
Universidade Anhanguera – Uniderp.
2
Informativo
ABRATES
estão relacionados, além de outros fatores, à alta tecnologia
brasileira na produção de sementes, com destaque para
o município de Rondonópolis, MT, que possui várias
empresas que abastecem de sementes de qualidade não só o
Centro Oeste brasileiro, mas também, outras regiões do País
(Cassiano e Oliveira, 2006).
Nesse cenário, as empresas do setor de sementes têm
procurado se modernizar, reduzindo custos, no sentido de
tornarem-se mais competitivas, visando a conquista de novos
mercados, inclusive, a exportação desse produto que possui
um alto valor agregado. A atual preocupação está voltada em
identificar, mensurar e contabilizar os custos da produção de
sementes de soja, buscando fornecer informações eficientes
às tomadas de decisão, análises dos estoques e obtenção de
resultados econômicos, criando condições para aumentar a
competitividade e o desempenho empresarial.
Professor do Programa de Mestrado em Produção e Gestão Agroindustrial
da Universidade Anhanguera – Uniderp. Rua Alexandre Herculano, 1400
– Bairro Jardim Veraneio, CEP 79037-280, Campo Grande, MS, e-mail:
[email protected].
3
vol.22, nº.3, 2012
67
Uma descrição da relação dos custos ocultos com a
produtividade econômica das empresas pressupõe uma
exploração apriorística da existência destes custos em
entidades para, na seqüência, se estabelecerem inferências de
seu comportamento, relações de causa-efeito.
Deste modo, o entendimento sobre a relevância e valor
dos custos ocultos vem aumentando em conseqüência da
importância do desempenho administrativo e operacional,
tais como os diretamente relacionados com as funções de
planejamento, orçamento e controle.
Os custos ocultos originam-se de uma relação complexa
entre dois grupos de variáveis, isto é, há uma interação fixa entre
as estruturas da organização e os comportamentos humanos,
fundados a partir do ortofuncionamento, ”funcionamento
adequado” e dos disfuncionamentos, ”funcionamento
inadequado” (Savall e Zardet, 1991).
As disfunções originam os custos, normalmente
ocultos, que são computados por meio de mensuração do
impacto econômico. Alguns autores definem o resultado
dessa disfunção em elementos, categorias ou componentes.
De acordo com Lima (1991), Savall e Zardet (1991) e
Zaffani (2005), os custos ocultos podem ser subdivididos
em dez elementos em função de sua relevância no cenário
empresarial, como:
1. Custo de estocagem - resulta do armazenamento do
produto sem necessidade, encadeando, assim, gastos com
manutenção, acondicionamento, etc;
2. Custo de espera - é encadeado por procedimentos e
métodos não relacionados aos já dimensionados dentro do
processo;
3. Custo do inadequado controle - é consequência do
excesso de informações e de dados desnecessários que
não abrangem valor algum, levando, assim, ao excesso de
burocracia. O inadequado controle representa uma série de
gastos para a organização. Podem abranger gastos gerados
pela desconfiança e criação de controle interno em excesso,
falta de organização e inexistência ou falta de controles;
4. Custo de inadequada gestão - trata-se da ausência ou
falta de planejamento das atividades empresariais. O mesmo
gera diminuição de oportunidade ou sacrifício ao se abandonar
uma ação. Pode-se considerar como custos os gastos
decorrentes de decisões baseadas em análises superficiais,
utilização de sistemas e processos obsoletos e existência de
liderança omissa ou ausente;
5. Custo da falta de qualidade - é fruto do refazer,
do corrigir e dos desperdícios dos itens criados. Podem
abranger os gastos comerciais da devolução e da troca do
lote defeituoso, gastos com os retoques, as reciclagens e de
Informativo
ABRATES
armazenamento dos refugos;
6. Custo de obsolescência - é resultado do uso de máquinas
e equipamentos que tiveram o tempo de vida expirado;
7. Custo de rotatividade de pessoas – originam-se da falta
de um direcionamento adequado para os talentos internos
e um clima empresarial ruim, produzido por sistemas de
comunicações ineficientes, inviabilizando a harmonia interna.
Podem compreender os gastos da formação em recursos
humanos na formação de pessoas substitutas;
8. Custo de set-up - está relacionado às falhas e ao mau
uso do tempo de preparação do processo produtivo;
9. Custo de ociosidade - compreende o não funcionamento,
no tempo certo, de determinado processo produtivo;
10. Custo de acidente de trabalho - é consequência da falta
do uso de equipamentos e procedimentos adequados para a
realização da atividade por parte do colaborador.Conforme
o traçado metodológico usado na pesquisa, são definidos em
três os elementos de custos ocultos analisados neste estudo:
“set-up, ociosidade e estoques de produtos acabados”.
Segundo a Embrapa (2010), na safra 2008/2009, quase
50% da colheita nacional de soja esteve centralizada nos
estados do Mato Grosso e Paraná, que produziram 17,963 e
9,510 milhões de toneladas, respectivamente. O desempenho
dos sojicultores brasileiros durante os últimos trinta anos
caracterizou-se pelo espírito empreendedor, pela coragem
em assumir riscos e por notável dedicação ao trabalho
(França-Neto e Krzyzanowski, 2000).
Ainda, segundo França-Neto e Krzyzanowski (2000), tal
importância do setor resultou dos incansáveis esforços dos
produtores agrícolas e da adoção das tecnologias de ponta
desenvolvidas pelos cientistas brasileiros, principalmente, no
que se refere às novas cultivares, mais produtivas e adaptadas
às diferentes condições agroclimáticas brasileiras, tanto nas
regiões de clima temperado e subtropical do Sul e Sudeste,
como nas regiões tropicais dos cerrados brasileiros.
O Estado de Mato Grosso, a partir de 1990, passou a
ser considerado o quarto produtor de soja do Brasil. Os
Estados de Minas Gerais e Bahia, também, expandiram sua
produção, principalmente, em áreas de cerrado. Os números
levantados no ano 2000, sobre o desenvolvimento da soja,
em que a área cultivada com essa fabacea no Brasil, num
total de um pouco mais de sete milhões de hectares, sendo
que 51,5% localizavam-se nos cerrados. Nesse período,
Mato Grosso já era o segundo estado produtor, com 2,9
milhões de hectares, logo acima do Paraná, com 2,85
milhões de hectares (Unb, 2009).
O Estado de Mato Grosso, na safra 2008/2009, teve uma
área cultivada de 5,8 milhões de hectares, com produção de
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68
17,963 milhões de toneladas e produtividade de 3.082 kg.ha-1,
uma das maiores do mundo (Embrapa, 2010).
Segundo Zorato e Astafeif (2000) e Zorato (2001),
a produção de sementes de soja em Mato Grosso, até
o início da década de mil novecentos e oitenta, foi
considerada inviável em função das condições climáticas
desfavoráveis na época de colheita, problemas para
conservação das sementes, solo com baixa fertilidade,
entre outras dificuldades. Esses desafios fizeram com que
os produtores se organizassem de forma diferenciada e
buscassem encontrar soluções para os problemas, sempre
fundamentados nas pesquisas de diversas entidades do
Brasil. Com tais procedimentos, colocaram o Estado como
grande produtor de sementes de alta qualidade.
Em 2010, a produção de sementes de soja em Mato Grosso
representava 31% do total de sementes do país, destes, 80%
são produzidos na região Sul do Estado, destaque o fato de
os campos serem concentrados na planície denominada Serra
da Petrovina, dos quais, grande parte eram de produtores da
região de Rondonópolis (Embrapa, 2010).
Esse sucesso foi resultado de pesquisas feitas pelo
Governo de Mato Grosso, Embrapa, UNISOJA, APROSMAT,
Fundação Mato Grosso e outras entidades que, entre outros
benefícios alcançados, destaca-se a produção de novos tipos
de sementes, mais resistentes a doenças e bem mais adaptadas
ao clima do cerrado mato-grossense (Zancanaro et al., 2000).
Diante do exposto, objetivou-se identificar os custos
ocultos na produção de sementes de soja no município de
Rondonópolis, Estado de Mato Grosso. Para isso, foi preciso
verificar se as empresas têm percepção dos custos ocultos
envolvidos no processo de produção de sementes de soja, além
de identificar a relação entre a tomada de decisão e a apuração
de custos na produção de sementes de soja. Ainda, buscou
saber se essas organizações avaliavam as perdas financeiras
com custos ocultos neste processo produtivo.
Desenvolvimento
A pesquisa foi realizada na região de Rondonópolis,
MT, situado à 212 km da capital Cuiabá, na região Sul do
Estado de Mato Grosso. A razão pela escolha deste setor
centra-se na importância do setor produtivo de soja no Brasil,
principalmente, na região Centro-Oeste, em específico na
cidade de Rondonópolis, MT, com destaque na produção de
sementes de soja.
Segundo dados do Instituto Matogrossense de Economia
Agropecuária (Imea), Rondonópolis conta com uma área
cultivada de soja de 69 mil hectares e produção total estimada
Informativo
ABRATES
em 480 mil toneladas (Imea, 2009).
De acordo com Nascimento (2009), as operações de
vendas de soja realizadas por Rondonópolis ultrapassaram os
US$ 752,7 milhões, valor que deixou o município no topo da
lista daqueles que mais arrecadaram em Mato Grosso, no ano
de 2010, seguida pelas cidades de Sorriso e Sapezal.
A pesquisa realizada foi de natureza exploratória –
descritiva, em função do problema que se pretendia estudar,
com a finalidade de desenvolver hipóteses e aumentar a
familiaridade com o fenômeno, para orientar a realização de
futuras pesquisas de campo, pois tinha o objetivo de obter
informações sobre o problema, via coleta e análise de dados.
A essência da pesquisa está no processo de elaboração
do questionário. Inicialmente, para determinar as questões
relevantes, informações preliminares foram obtidas junto aos
produtores de sementes de soja da região de Rondonópolis,
MT (Gil, 2002; Rea e Parker, 2002).
Na pesquisa optou-se pela elaboração de um questionário
com questões abertas, fechadas únicas, múltiplas e em
escalas, dividido em quatro grupos: perfil do entrevistado
- contendo questões abertas sobre razão social, nome do
informante, cargo; informações sobre a empresa – tempo
de mercado, número de funcionários na produção e na
administração; área de abrangência - tipos de lavouras, área
cultivada, produtividade, etc.; informações sobre o objeto
da pesquisa – conhecimento sobre custos ocultos, custos de
matérias primas e mão-de-obra, custos de produção, tipos de
apuração, dificuldades na apuração, importância da apuração
dos custos ocultos, etc.
Utilizaram-se, também, questões em escala de Likert de 1 a
5 (1 = discordo completamente, 2 = discordo, 3 = nem concordo
nem discordo, 4 = concordo e 5 = concordo plenamente),
com questionamentos a respeito da importância da apuração
de custos para a empresa. A escala de Likert proporciona
capturar variáveis qualitativas, com possibilidades de calcular
médias, desvios-padrão e coeficientes de variação, além de
outros parâmetros (Hair et al., 2005).
Havendo apenas 12 empresas de sementes registradas na
região de Rondonópolis, optou-se por fazer um censo, com
a aplicação do questionário realizada na forma tradicional
impressa, com agendamento junto à empresa para a sua
aplicação. As 12 empresas investigadas na pesquisa foram
as seguintes: Amaggi Exportação e Importação Ltda., Grupo
Bom Futuro, Sementes Adriana, Sementes Bom Jesus,
Sementes Carolina, Sementes Luciani, Sementes Mônica,
Sementes Petrovina, Sementes Seriema, Sementes Girassol,
Sementes Tropical e Sementes Guarita.
A tabulação e análise estatística dos dados foram
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69
realizadas com o auxílio do software Sphinx 5.0, aplicandose as análises univariadas, bivariadas e multivariadas.
A relação entre os custos ocultos e a produtividade
econômica somente pode ser mensurada se forem
estabelecidas variáveis matemáticas entre as variáveis, e
para isto seria necessário não só analisar e sim investigar,
além do conhecimento dos custos ocultos, os controles
gerenciais utilizados para estabelecer parâmetros e
mensurar cada um deles. Por isso, neste trabalho apenas
foi investigada a existência ou não de tais custos ligados à
produção de sementes de soja e que são demonstrados em
dois momentos: no estabelecimento do perfil das empresas
e na definição do comportamento das empresas sobre as
tomadas de decisão.
Perfil das empresas
Da primeira parte do questionário, por meio de perguntas
que identificavam o perfil do produtor de sementes de soja,
constatou-se que 100% das empresas têm mais de 10 anos
de atuação no segmento sementes, indicando empresas
já consolidadas neste setor econômico. Dessas, 25% dos
gestores não têm a percepção dos custos ocultos envolvidos
na produção de sementes de soja. Apesar de o número ser
pequeno e parecer não representativo, para estas empresas, em
um futuro próximo. a falta desta percepção, pode ser causador
de problemas tanto econômicos quanto competitivos.
Quanto à classificação dos custos, 100% responderam
que fazem tal classificação, destacando que essa tarefa
nem sempre é realizada por pessoa especializada na área
de custos, pois algumas empresas utilizam profissionais
de outras áreas para auxiliar o detalhamento das
classificações junto à contabilidade, o que pode gerar
equívocos nesta clasificação, com consequentes prejuízos
para as empresas agropecuárias.
Sobre a classificação dos custos de matéria-prima, 9%
utilizam matriz de apuração, desenvolvida para atender às suas
necessidades, enquanto 91% adotam critérios de classificação
de custos variáveis, custos diretos ou indiretos e custeio por
absorção. Com isso, fica evidenciado que o empresário do
setor agropecuário também se preocupa em otimizar a sua
produção, tentando identificar e classificar os custos em seus
empreendimentos.
Para diagnosticar os custos ocultos no processo de
produção de sementes de soja, havia no questionário
perguntas de três aspectos: na primeira fase pretendiase conhecer os tipos de análises feitas pelas empresas em
relação aos custos; na segunda, sintomas e reflexos e; na
terceira, o tipo de tomada de decisão. Quanto à importância
Informativo
ABRATES
da apuração dos custos em suas empresas, observou-se que
as respostas concentraram-se nos níveis de importância 4 e
5, ou seja, concordaram ou concordaram plenamente que a
apuração dos custos é importante. Com esse índice constatase que o empresário rural tem se preocupado com os custos
ocultos em sua empresa, motivando-o a usar de conceitos
modernos na apuração dos seus custos de produção,
aumentando, com isso, os seu rendimento.
Tratar de custos e seus reflexos não é tarefa fácil. Neste
sentido, ao serem perguntados, 36,4% responderam que
enfrentavam dificuldades na apuração de custos. Importante
destacar que esta situação não está ligada ao conhecimento
dos custos de produção, mas há dificuldade e particularidade
de cada empresa em relação aos modelos utilizados para
apuração de custos e seus detalhamentos.
Empregando, ainda, a escala de Likert de 1 a 5,
os produtores foram questionados se concordavam ou
discordavam que a apuração de custos deveria levar em conta
outras características, tais como: ociosidade de máquinas
e funcionários, estoques de produtos acabados, perdas de
negócios ou clientes insatisfeitos, custos com absenteísmo,
redução de produtividade em virtude de trabalhadores
ausentes, horas extras trabalhadas em substituição a
funcionários ausentes, diminuição da produtividade total dos
empregados e pagamento de horas extras na apuração dos
custos de absenteísmo, custos para garantir ajuda temporária,
excessos de inventário, tempo gasto com erro de produção ou
ainda consumido no atendimento de reclamações.
Com relação ao parágrafo anterior, sobre as outras
caracteísticas de custos que deveriam ser levadas em conta,
na Tabela 1 estão apresentadas as médias aritméticas e os
desvios padrão e coeficientes de variação das respostas das
questões, em escala de Likert, das empresas produtoras de
sementes de soja na região de Rondonópolis/ MT, no ano de
2010. Como pode-se observar, as empresa concentram suas
respostas entre os niveis de importância 4 e 5, indicando
que estão, realmente, preocupadas com os custos. Destaque
para a pergunta, que tratava dos custos ligados às horas
extras, e nesse aspecto percebe-se que a média ficou em
4,82, ou seja, as empresas tem o pensamento similar sobre
esse tipo de custos. Já, com relação à pergunta que tratava
dos custos devido ao excesso de inventários, tem-se que a
média ficou em 3,55 e coeficiente de variação em 38,6%,
a média mais baixa entre todas e o maior coeficiente
de variação, indicando que as empresas tem opiniões
diferentes sobre esses custos. Os demais coeficientes
de variação ficaram abaixo de 30%, mostrando uma boa
confiabilidade de respostas.
vol.22, nº.3, 2012
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Tabela 1. Resumo dos parâmetros média aritmética, desvio padrão e coeficiente de variação das respostas das questões em
escala de Likert de 1 a 5 (1 = discordo completamente a 5 = concordo plenamente) para verificação da percepção
das empresas na apuração de custos das empresas produtoras de sementes de soja em Rondonópolis - MT, em 2010.
Nº.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
1
Questão
Vantagem para a empresa com método de custeio utilizado
Importância da apuração dos custos
Apuração de custos e tomadas de decisão
Levar em conta a ociosidade de máquinas e funcionários
Os estoques de produtos acabados
A possível perda de negócios ou clientes insatisfeitos
A perda de produtividade do trabalhador ausente
Pagamento de horas extraordinárias
Desperdício de horas extras
A diminuição da produtividade total dos empregados
O custo incorrido para garantir ajuda temporária
Os problemas com o moral dos funcionários
Os excessos de inventários
Os custos de oportunidade: vendas perdidas ou reputação da empresa
Os tempos não produtivos por erros de programação da produção
O tempo destinado a analisar as causas e conseqüências das falhas
O tempo consumido no tratamento das reclamações
Os custos ligados à produtividade direta
MA1
4,64
4,82
4,73
4,36
4,30
4,09
4,00
4,09
4,82
4,73
4,36
4,09
3,55
4,36
4,36
4,27
4,09
4,33
DP2
0,50
0,40
0,47
0,81
0,82
0,94
0,89
0,83
0,40
0,65
0,81
0,83
1,37
1,29
0,67
0,65
1,22
0,78
CV3 (%)
10,8
8,3
9,9
18,6
19,1
23,0
22,3
20,3
8,3
13,7
18,6
20,3
38,6
29,6
15,4
15,2
29,8
18,0
Média aritmética; 2Desvio-padrão e 3Coeficiente de variação.
Comportamento das empresas quanto às tomadas de decisão
Nesta seção foram realizadas análises para testar o
comportamento das empresas frente aos custos ocultos e às
tomadas de decisão pois, das empresas investigadas, 27,3%
concordaram que a tomada de decisão deve ser baseada na
apuração de custos, enquanto 72,7% concordaram plenamente.
Das empresas pesquisadas, encontraram dificuldades na
apuração dos custos 36,4% e 63,6% não encontraram tais
dificuldades. Assim, realizou-se uma série de cruzamentos de
informações com a finalidade de obter parâmetros que devem
ser levados em conta na apuração dos custos.
Cruzando as informações “dificuldades na apuração de
custos” e “quantidade de funcionários na produção”, 14,3%
das empresas que possuem entre 10 e 20 funcionários,
42,9% entre 50 e 100 funcionários e 42,9% com mais de 100
funcionários responderam não terem dificuldades na apuração
de custos. A dependência não foi significativa (p = 16,6%),
ou seja, a dificuldade na apuração dos custos não depende do
número de funcionários ligados à produção. Ficou evidente
que empresas com maior número de funcionários têm menos
dificuldades na apuração dos custos.
Entre as empresas sem dificuldades na apuração dos
custos, 71,4% utilizavam na apuração dos custos, o custeio
Informativo
ABRATES
por absorção e 28,6% o método do custo variável direto
ou indireto. Nesse cruzamento, a dependência não foi
significativa (p = 23,5%). Das empresas com dificuldades na
apuração dos custos, 75% utilizavam o custeio por absorção
para a apuração dos seus custos, e o restante utilizava outros
métodos, como sistema de custos por rateio, custo direto ou
indireto ou, ainda, matriz de apuração própria. O problema do
custeio por absorção, que envolve custos diretos, indiretos,
fixos e variáveis, nem sempre é útil como ferramenta de gestão
de custos, por possibilitar distorções ao distribuir custos
entre diversos produtos e serviços, possibilitando mascarar
desperdícios e outras ineficiências produtivas. Os resultados
apresentados sofrem influência direta do volume de produção.
Nas próximas análises utilizou-se como variável
dependente “a dificuldade na apuração dos custos” com uma
série de outras variáveis cujas opções de resposta eram em
escala de Likert de 1 a 5, já mencionada, com o cálculo do
parâmetro p, que trata da dependência entre as informações
cruzadas. Quanto ao cruzamento da informação “dificuldades
na apuração dos custos” com a informação “importância da
apuração dos custos em uma empresa”, constatou-se, que
das empresas com dificuldades na apuração dos custos, 25%
concordaram que apuração de custos em uma empresa é muito
importante, enquanto 75% concordaram plenamente. Das
vol.22, nº.3, 2012
71
empresas sem dificuldades na apuração dos custos, 14,3%
concordaram com a importância, e 85,7% concordaram
plenamente. Também nesse ponto a dependência não foi
significativa (p = 65,8%), ou seja, ter ou não dificuldade
na apuração dos custos não é fator decisivo em relação à
importância dada ao apurar custos. Questionadas sobre
a importância de levar em conta os custos nas tomadas de
decisão, 25% das empresas com dificuldades na apuração
dos custos concordaram com a importância nas tomadas de
decisão, e 75% concordaram plenamente. Das empresas sem
dificuldades na apuração dos custos, 28,6% concordaram
com a importância nas tomadas de decisão, enquanto 71,4%
concordaram plenamente. A dependência não foi significativa
(p= 23,5%), ou seja, ter ou não dificuldades na apuração
dos custos não constitui fator decisivo para sua utilização
ou não nas tomadas de decisão. Quanto à ociosidade de
máquinas e funcionários, se esta deveria ser considerada na
apuração dos custos, 25% das empresas com dificuldades na
apuração dos custos nem concordaram nem descordaram;
25% concordaram, e 50% concordaram plenamente. Entre
as empresas sem dificuldades na apuração dos custos, 14,3%
nem concordaram nem descordaram, 28,6% concordaram,
e 57,1% concordaram plenamente. A dependência não se
mostrou significativa (p = 90,7%).
Sobre os estoques de produtos acabados, se estes deveriam
ser levados em conta na apuração dos custos, 50% das empresas
com dificuldades na apuração dos custos concordaram, e
50% concordaram plenamente. Quanto as empresas sem
dificuldades na apuração dos custos, 33% nem concordaram
nem descordaram, 16,7% concordaram, e 50% concordaram
plenamente. A dependência não foi significativa (p = 32,9%).
Sobre as informações “dificuldades na apuração dos
custos” versus “levar em conta as horas extraordinárias para
outros empregados em substituição ao trabalhador ausente”,
das empresas com dificuldades na apuração dos custos 50%
nem concordaram nem descordaram, 25% concordaram, e
25% concordaram plenamente. Empresas sem dificuldades
na apuração dos custos, 14,2% nem concordaram nem
descordaram, 42,9% concordaram, e 42,9% concordaram
plenamente. A dependência entre essas duas variáveis não foi
significativa (p = 44,1%).
Questionadas se deveriam considerar os custos de
oportunidade de vendas perdidas devido a experiências
negativas dos clientes ou devido à reputação da empresa, 25%
das empresas com dificuldades na apuração dos custos nem
concordaram nem discordaram, enquanto 75% concordaram
plenamente. Entre as empresas sem dificuldades na
apuração dos custos, 14,3% discordaram planamente, 14,3%
Informativo
ABRATES
discordaram, 28,6% nem concordaram nem discordaram e
42,9% concordaram plenamente. A dependência existente
entre essas duas variáveis não foi significativa (p = 40,8%).
Ao serem questionadas se deveriam considerar os tempos
não produtivos por erros de programação da produção,
25% das empresas com dificuldades na apuração dos custos
concordaram, 75% concordaram plenamente. Já entre as
empresas sem dificuldades na apuração dos custos, 14,3% nem
concordaram nem discordaram, 57,1% concordaram, e 28,6%
concordaram plenamente. A dependência não foi significativa
no cruzamento dessas duas variáveis (p = 30,8%).
Em relação à possibilidade de considerar o tempo
destinado a analisar as causas e consequências das falhas,
25% das empresas com dificuldades na apuração dos custos
concordaram com essa possibilidade, 75% concordaram
plenamente. Quanto às empresas sem dificuldades na apuração
dos custos, 9,1% nem concordaram nem discordaram e 54,5%
concordaram plenamente. A dependência entre essas duas
variáveis não foi significativa (p = 12,5%).
Sobre o tempo consumido no tratamento das queixas na
apuração dos custos, 25% das empresas com dificuldades na
apuração dos custos nem concordaram nem discordaram, 25%
concordaram, e 50% concordaram plenamente. Das empresas
sem dificuldades na apuração dos custos, 14,3% discordaram
plenamente, 42,9% concordaram, e 42,9% concordaram
plenamente. A dependência entre essas duas variáveis não foi
significativa, com p = 46,3%.
Quanto aos custos ligados à produtividade direta, 25%
das empresas com dificuldades na apuração dos custos
nem concordaram nem discordaram e 75% concordaram
plenamente. Por outro lado, com relação às empresas sem
dificuldades na apuração dos custos, 14,3% nem concordaram
nem discordaram, 57,1% concordaram e 28,6% concordaram
plenamente. A dependência não foi significativa (p = 16,1%).
Percebe-se que a contabilidade de custos e os sistemas
existentes como sistemas de controladoria estão longe de
atenderem aos procedimentos de identificação, operação e
medição dos custos ocultos.
Este fato aponta para a necessidade de uma aceleração
da pesquisa no campo da contabilidade de custos, para que
haja incremento de esforços voltados ao seu aperfeiçoamento
e avanço. Este incremento diz respeito à possibilidade de
identificação, apuração e mensuração dos custos ocultos, pois
tais funções podem ser alcançadas através do aperfeiçoamento
e avanço dos estudos ligados aos sistemas de custeio, bem
como às conseqüências que esses custos trazem para a aferição
de desempenho e o desenvolvimento da empresa como um
todo, tendo em vista que os custos ocultos estão ligados não
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somente ao processo, mas também às pessoas envolvidas
nele e à capacidade da empresa ser competitiva e atender aos
anseios de seus sócios e diretores.
Conclusões
Este estudo possibilitou determinar considerações que
apontam circunstâncias comportamentais nas quais foram
identificados os custos ocultos.
Pelo menos 50% dos custos, em grau e relevância nas
empresas, foram identificados, indicando a necessidade de
ampliação deste estudo, com vistas a um mapeamento mais
completo dos custos ocultos envolvidos na produção de sementes
de soja, bem como seus indicadores de grau e relevância.
Os custos ocultos identificados estão relacionados
com disfuncionamentos organizacionais e dificuldades em
mensuração e distribuição inerentes à estrutura de custos
utilizada pelas empresas, o que sugere uma revisão dos
modelos adotados, na perspectiva de poder identificar, apurar,
mensurar e tratar, além de possível análise para redução e/ou
eliminação destes custos.
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Informativo
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vol.22, nº.3, 2012
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Identificação dos custos ocultos na produção de sementes