UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E STATUS MINERAL DE CAPRINOS
MOXOTÓ EM PASTEJO NO SEMI-ÁRIDO
MARCOS JÁCOME DE ARAÚJO
Zootecnista
AREIA - PB
AGOSTO - 2008
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
PROGRAMA DE DOUTORADO INTEGRADO EM ZOOTECNIA
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E STATUS MINERAL DE CAPRINOS
MOXOTÓ EM PASTEJO NO SEMI-ÁRIDO
MARCOS JÁCOME DE ARAÚJO
AREIA - PB
AGOSTO - 2008
iii
MARCOS JÁCOME DE ARAÚJO
EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E STATUS MINERAL DE CAPRINOS
MOXOTÓ EM PASTEJO NO SEMI-ÁRIDO
Tese apresentada ao Programa de Doutorado Integrado em
Zootecnia, da Universidade Federal da Paraíba, do qual
participa a Universidade Federal Rural de Pernambuco e a
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial
para obtenção do título de Doutor em Zootecnia.
Área de concentração: Nutrição Animal
Comitê de orientação
Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros – Orientador Principal
Profa. Dra. Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira
Prof. Dr. Roberto Germano Costa
AREIA – PB
AGOSTO – 2008
iv
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da
Biblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB.
Bibliotecário: Jadson Videres Pamplona CRB 15/366
A663e
Araújo, Marcos Jácome de
Exigências nutricionais e status mineral de caprinos Moxotó em pastejo
no semi-árido./ Marcos Jácome de Araújo – Areia- PB: UFPB/CCA, 2008.
131f.
Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2008.
Bibliografia
Orientador: Ariosvaldo Nunes de Medeiros
Co-Orientadores: Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira;
Roberto Germano Costa.
1. Caprinos nativos - densitometria óssea 2. Caprinos nativos - abate 3.
Caprinos nativos - composição corporal 4. Caprinos nativos - nutrição I.
Medeiros, Ariosvaldo Nunes de II. Teixeira, Izabelle Auxiliadora Molina de
Almeida (Co- orientador) III. Costa, Roberto Germano (Co-orientador) IV.
Título.
636.39
v
vi
Aos meus pais,
Geraldo Jácome e Maria Cristina, pelo direito a educação,
pelo amor, sorrisos, abraços, lágrimas, despedidas e chegadas.
Aos meus irmãos,
Marcelo, Marcílio, Mychelle e Francisca Maria, pelo
carinho incondicional e apoio.
Dedico.
A todas as pessoas que ajudaram, ajudam e vibram, pelas minhas conquistas.
Ofereço
vii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e pelas oportunidades.
A Universidade Federal da Paraíba, por toda a minha formação acadêmica.
Ao Prof. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, pela orientação, confiança e oportunidades.
A Profa. Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida Teixeira, pela orientação e atenção
dispensada a mim e ao nosso trabalho e pelos ensinamentos.
Ao prof. Kleber Tomás de Resende por aceitar nos receber na FCAV/Unesp.
Ao CNPq, CAPES (PROCAD) e BNB, pelo suporte financeiro durante minha
formação.
A Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (UNESP-Jaboticabal), pela
oportunidade da realização de parte do meu Doutorado.
Aos professores Ângela Maria Vieira Batista, José Humberto Vilar, Silvana Artoni e
Paulo Sergio de Azevedo, pelas sugestões dadas no exame de qualificação.
Aos membros da banca examinadora: Izabelle Molina, Ângela Maria Vieira Batista
Francisco Fernando Ramos de Carvalho e Aderbal Marcos de Azevedo Silva pelas
prestimosas considerações para melhoria deste trabalho.
A Gabriel Maurício P. de Melo, ao prof. Wanderley de Melo e a Suely (Técnica do
laboratório de Biogeoquímica – Departamento de Tecnologia (UNESP/Jaboticabal), pelas
análises dos minerais.
A profa. Jane Maria Bertoco Ezequiel, pelos ensinamentos durante a realização do
estágio de docência e pelos momentos de descontração.
Aos amigos do projeto Moxotó, Carlo Aldrovandi e Araken Gonzaga, pela
colaboração e convivência durante a condução do experimento.
A
Ana
Paula
Sader,
química
do
Laboratório
de
Nutrição
Animal
(UNESP/Jaboticabal), pela incansável busca pelos minerais e pela amizade.
A todos os professores do Programa de Pós-graduação em Zootecnia, pelo
compartilhar de conhecimentos.
Aos funcionários do PPGZ: Maria das Graças, Dona Carmem e Damião, pelos
serviços prestados.
Ao funcionário da Bacia Escola, Hugo Morais, pelos dados meteorológicos e pelo
compromisso com o seu trabalho.
Aos funcionários da Estação Experimental de São João do Cariri e do Laboratório de
viii
Nutrição Animal (CCA/UFPB), pelo engrandecimento pessoal.
A Darklê Luiza, pelo carinho e paciência dispensados por todo esse tempo.
Aos amigos de hoje e de sempre, Petrônio Jacques, Daerson Barroso, Davi Alves,
Iracema Pereira, Jaime Miguel e Tatiana Gouveia, pela cumplicidade e amizade durante
todos os anos que passamos juntos e distantes.
Aos companheiros do Cariri – Missão II: Alexandre Braga, Alexandre Cortês,
Araken Gonzaga, Carlo Aldrovandi, Cicília Maria, Expedito Danúsio, Jacira Torreão,
Jackson Rômulo, Lígia Barreto, Marcelo Ferreira, Regina Celly, Severino do Ramo,
Tobyas Mariz e Wllissis Gonçalves, pela amizade, companheirismo, picuinhas,
engrandecimento pessoal e por tornarem menos árduos os momentos vividos durante o
experimento.
Aos colegas e amigos da minha turma de doutorado de 2005: Ana Sancha, Edivaldo
Beltrão, Jordão Filho, Jose Fábio, Maria Verônica e Neube Michel, pelo convívio durante a
pós-graduação.
Aos amigos da pós-graduação: Henrique Parente, Valdi Lima, Francisco Helton,
Carolyny Batista, Ana Cristina, Tiago Araújo, Leilson Bezerra, Julycely Barbosa, Luciana
Porangaba, Josimar Torres, Emerson, Rinaldo Jr., pela amizade e companheirismo.
Aos amigos Leilane Rocha e Leonardo Pascoal, pela amizade desde o Mestrado e por
terem sido as primeiras pessoas a nos acolher em Jaboticabal.
A Samuel Figueiredo, pela amizade e companheirismo durante a “saga” chamada
Jaboticabal.
A Aderbal Cavalcante, Davi Nogueira, Christiano Arraes e Ronaldo Viana, pela
amizade e convivência compartilhadas na República “Quebra tudo” em Jaboticabal.
Aos grandes amigos da “Catrevagem”: Juliana Ferraz (Ju Carioca), Giovani
Fiorentini (Gaúcho), Josemir Gonçalves, Greicy Moreno, Viviane Correia (Vivi Lixão),
Aluska Daniele (Moluska), Lisiane de Lima (Lisi), Marcela Magalhães (Cabeça) e Roberta
Canesin, pela amizade firmada em tão pouco tempo e pelos momentos agradabilíssimos
que passamos juntos. Valeu mesmo. Até um dia, quem sabe!
Aos demais amigos conquistados durante a temporada em Jaboticabal, que de certa
forma, colaboraram para a concretização deste sonho.
Aos colegas e amigos da Cabritolândia: Herymá, Rodrigo Vidal, Matheus, Daiana
(Farofa), Ana Elisa (Bodega), Helenara, Bruno (Faiado) e Andréa (Paçoka), pela amizade e
esforços conjuntos.
Enfim, a todos meu MUITO OBRIGADO.
ix
BIOGRAFIA DO AUTOR
MARCOS JÁCOME DE ARAÚJO – Filho de Geraldo Jácome de Araújo e Maria
Cristina de Araújo, nasceu em Sousa, Paraíba, em 28 de julho de 1980, transferindo-se para
a cidade de Lastro - PB, onde concluiu o ensino fundamental em 1994. Em 1995, ingressou
na Escola Agrotécnica Federal de Sousa-PB, onde recebeu o título de Técnico Agrícola em
1997. Em abril de 2003, formou-se em Zootecnia, pelo Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Quando acadêmico do Curso de Zootecnia,
desenvolveu pesquisa na área de nutrição de monogástricos e forragicultura, sendo bolsista
do Programa de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (PIBIC∕CNPq). Concluiu o mestrado em fevereiro de 2005, pelo
CCA/UFPB, no qual foi bolsista do CNPq, desenvolvendo sua pesquisa na área de
Nutrição de Ruminantes, sob a orientação do Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros. Em
março deste mesmo ano ingressou no curso de Doutorado Integrado em Zootecnia
(UFPB∕UFRPE∕UFC), sob a orientação do Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros.
Realizou parte do seu Doutorado na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias,
FCAV/Unesp Campus de Jaboticabal-SP, pelo programa de Cooperação Acadêmica
(PROCAD) da CAPES, sob a orientação da Dra. Izabelle Auxiliadora Molina de Almeida
Teixeira.
x
SUMÁRIO
Página
XI
Lista de Tabelas..................................................................................................
Lista de Figuras................................................................................................... XIII
Resumo Geral..................................................................................................... XIV
Abstract............................................................................................................... XVI
Considerações Iniciais........................................................................................
Referencias Bibliográficas..................................................................................
1
4
Capítulo 1 - Referencial Teórico.................................................................
Referências Bibliográficas..................................................................................
6
34
Capítulo 2 - Exigências Líquidas de Macrominerais para Ganho em Peso de
Caprinos Moxotó em Pastejo no Semi-Árido Brasileiro................
Resumo...............................................................................................................
Abstract...............................................................................................................
Introdução...........................................................................................................
Material e Métodos.............................................................................................
Resultados e Discussão.......................................................................................
Conclusões..........................................................................................................
Referências Bibliográficas..................................................................................
42
43
44
45
46
55
69
69
Capítulo 3 - Exigências Líquidas de Microminerais para Ganho em Peso de
Caprinos Moxotó em Pastejo no Semi-Árido Brasileiro................
73
Resumo................................................................................................................ 74
Abstract...............................................................................................................
75
Introdução...........................................................................................................
76
Material e Métodos.............................................................................................
78
Resultados e Discussão.......................................................................................
86
Conclusões..........................................................................................................
99
Referências Bibliográficas.................................................................................. 100
Capítulo 4 - Avaliação Biométrica, Química e Densitométrica do Fêmur de
Caprinos Moxotó Suplementados com Concentrado no SemiÁrido Brasileiro..............................................................................
Resumo...............................................................................................................
Abstract...............................................................................................................
Introdução...........................................................................................................
Material e Métodos.............................................................................................
Resultados e Discussão.......................................................................................
Conclusões..........................................................................................................
Referências Bibliográficas.................................................................................
103
104
105
106
107
114
126
127
Considerações Finais e Implicações...................................................................
130
xi
LISTA DE TABELAS
Capítulo II - Exigências Líquidas de Macrominerais para Ganho em Peso de Caprinos
Moxotó em Pastejo no Semi-Árido Brasileiro
Página
Tabela 1.
Valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínima e
média e umidade relativa do ar durante o período experimental............
47
Tabela 2.
Composição química dos ingredientes do concentrado experimental.....
48
Tabela 3.
Proporção dos ingredientes e composição química do concentrado
experimental (g/kg matéria seca)............................................................
49
Resumo dos dados utilizados para a predição das exigências em
minerais a partir da relação entre o consumo dos minerais e o ganho
de peso.....................................................................................................
54
Desempenho e composição corporal de cabritos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro submetidos a níveis de suplementação..................
55
Composição corporal em macrominerias de cabritos Moxotó em
pastejo no semi-árido brasileiro submetidos a níveis de suplementação
57
Equações de regressão para estimar a composição corporal de caprinos
Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro...........................................
59
Composição corporal (g/kg PCV) de caprinos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro estimada pelas equações da Tabela 7....................
59
Composição
tecidual
e
relações
músculo:osso
(M:O),
músculo:gordura (M:G) e osso:gordura (O:G) da perna de cabritos
Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro submetidos a níveis de
suplementação.........................................................................................
61
Equações para predição da exigência líquida de minerais para ganho
em peso de corpo vazio (GPCV) de caprinos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro................................................................................
64
Exigência líquida de macrominerais (mg/dia) para ganho em peso vivo
de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro........................
66
Estimativa do consumo de macrominerais por caprinos Moxotó em
pastejo no semi-árido brasileiro..............................................................
67
Relação entre o consumo de minerais (g/dia) e o ganho em peso diário
(GPD; g/dia) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro..
68
Tabela 4.
Tabela 5.
Tabela 6.
Tabela 7.
Tabela 8.
Tabela 9.
Tabela 10.
Tabela 11.
Tabela 12.
Tabela 13.
xii
LISTA DE TABELAS
Capítulo III - Exigências Líquidas de Microminerais para Ganho em Peso de Caprinos
Moxotó em Pastejo no Semi-Árido Brasileiro
Página
Tabela 1.
Valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínima e
média e umidade relativa do ar durante o período experimental............
78
Tabela 2.
Composição química dos ingredientes do concentrado experimental.....
79
Tabela 3.
Proporção dos ingredientes e composição química do concentrado
experimental (g/kg matéria seca)............................................................
80
Resumo dos dados utilizados para a predição das exigências em
minerais a partir da relação entre o consumo dos minerais e o ganho
de peso.....................................................................................................
85
Desempenho e composição corporal de cabritos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro submetidos a níveis de suplementação..................
86
Composição corporal em microminerias de cabritos Moxotó em
pastejo no semi-árido brasileiro submetidos a níveis de suplementação
88
Efeito da suplementação sobre o peso dos órgãos, sangue e pele de
cabritos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro.............................
89
Equações de regressão para estimar a composição corporal de caprinos
Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro...........................................
90
Composição corporal (mg/kg PCV) de caprinos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro estimada pelas equações da Tabela 8....................
91
Equações para predição da exigência líquida de microminerais para
ganho em peso de corpo vazio (GPCV) de caprinos Moxotó em
pastejo no semi-árido brasileiro..............................................................
92
Exigência líquida de microminerais (mg/dia) para ganho em peso vivo
de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro........................
93
Consumo de matéria seca e de microminerais por caprinos Moxotó em
pastejo no semi-árido brasileiro..............................................................
94
Relação entre o consumo de minerais (mg/dia) e o ganho em peso
diário (GPD; g/dia) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido
brasileiro..................................................................................................
98
Tabela 4.
Tabela 5.
Tabela 6.
Tabela 7.
Tabela 8.
Tabela 9.
Tabela 10.
Tabela 11.
Tabela 12.
Tabela 13.
xiii
LISTA DE TABELAS
Capítulo IV - Avaliação Biométrica, Química e Densitométrica do Fêmur de Caprinos
Moxotó Suplementados com Concentrado no Semi-árido Brasileiro
Página
Tabela 1.
Tabela 2.
Tabela 3.
Tabela 4.
Tabela 5.
Tabela 6.
Tabela 7.
Tabela 8.
Valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínima e
média e umidade relativa do ar durante o período experimental...........
108
Composição
química
dos
ingredientes
do
concentrado
experimental...........................................................................................
109
Proporção dos ingredientes e composição química do concentrado
experimental (g/kg matéria seca)...........................................................
110
Efeito do nível de suplementação sobre o desempenho e do peso do
fêmur de caprinos Moxotó no semi-árido..............................................
114
Efeito do nível de suplementação sobre a composição química do
fêmur de caprinos Moxotó no semi-árido..............................................
116
Efeito do nível de suplementação sobre as características biométricas
e densitométricas do fêmur de caprinos Moxotó no semi-árido............
119
Correlação de Pearson entre a densidade mineral óssea (mm Al) nas
diferentes regiões analisadas com o peso vivo, quantidade de matéria
mineral (g), cálcio (g), fósforo (g), magnésio (g), sódio (g) e potássio
(g) do fêmur “in natura” de caprinos Moxotó suplementados na
Caatinga.................................................................................................
Correlação de Pearson entre a densidade mineral óssea (mm Al) nas
diferentes regiões analisadas com a avaliação biométrica do fêmur de
caprinos Moxotó suplementados na Caatinga........................................
124
125
LISTA DE FIGURAS
Capítulo IV
Página
Figura 1.
Relação entre o peso vivo (kg) e a densidade mineral óssea (mm Al)
nas regiões da epífise proximal (DMO EP) (A), epífise distal (DMO
ED) (B) e diáfise (DMO) (C) do fêmur de caprinos Moxotó
suplementados na Caatinga....................................................................
123
xiv
Exigências Nutricionais e Status Mineral de Caprinos Moxotó em Pastejo no SemiÁrido
RESUMO GERAL
Com o objetivo de estimar as exigências líquidas de Ca, P, Mg, Na, K, Zn, Fe, Mn,
Co e Cu para ganho em peso e o status mineral de caprinos em crescimento, conduziu-se
um experimento com 36 cabritos da raça Moxotó, castrados, com peso vivo inicial (PVi)
de 15,69 ± 0,78 kg, em condição de pastejo no semi-árido brasileiro. Para a avaliação do
status mineral, avaliaram-se a composição química do fêmur (matéria seca, MS; matéria
mineral, MM; extrato etéreo, EE; proteína bruta, PB; Ca, P, Mg, Na e K), avaliação
biométrica (peso fresco, peso relativo, comprimento, diâmetro da diáfise e das epífises
proximal e distal, espessura da camada esponjosa das epífises proximal e distal e espessura
da camada compacta na diáfise) e densidade mineral óssea. Para a determinação das
exigências nutricionais, quatro animais foram abatidos no início do experimento (Animais
referência) com PV de 15,37 ± 0,30 kg e o restante (n=32) foi distribuído aleatoriamente
para um dos quatro níveis de suplementação (grupos de tratamentos: 0, 0,5, 1,0 e 1,5%
PV), de modo a se obter oito animais por tratamento. Quando os animais do tratamento
1,5% PV alcançaram 25 kg PV, os animais dos outros grupos de tratamentos também
foram abatidos. Todo corpo do animal foi pesado, moído, misturado e amostrado para
posteriores analises químicas. A composição corporal de macrominerais variou de: 10,80 a
11,50 g Ca; 7,86 a 8,74 g P; 0,37 a 0,42 g Mg; 1,57 a 1,61 g Na e 1,58 a 1,74 g K/kg PCV;
para microminerais a variação foi de: 23,68 a 27,81 mg Zn; 35,70 a 47,29 mg Fe; 0,86 a
1,09 mg Mn; 1,45 a 1,75 mg Cu e 0,83 a 0,87 mg Co/kg PCV para cabritos Moxotó de 15 e
25 kg PV, respectivamente. As exigências líquidas para ganho em PCV foram estimadas
pela técnica do abate comparativo as quais variaram de 9,53 a 10,65 g Ca; 7,41 a 8,65 g P;
0,36 a 0,43 g Mg; 1,31 a 1,41 g Na e 1,47 a 1,70 g K/kg PCV ganho; 30,43 a 35,74 mg Zn;
53,48 a 70,84 mg Fe; 1,22 a 1,54 mg Mn; 1,93 a 2,32 mg Cu e 0,91 a 0,95 mg Co/kg PCV
ganho para os animais com PV de 15 a 25 kg, respectivamente. O teor de MS do fêmur
aumentou linearmente, enquanto que, as percentagens de MM, EE, Ca, P, Mg, Na e K não
foram
influenciados
pelos
tratamentos
(P>0,05).
As
variáveis
biométricas
e
densitométricas do fêmur aumentaram linearmente (P<0,01) com aumento dos níveis de
suplementação, exceto para a espessura da camada esponjosa da epífise proximal. A DMO
foi correlacionada positivamente com o PV, com as quantidades (g) de MM, Ca, P, Mg, Na
xv
e K, bem como, com as variáveis biométricas. As exigências nutricionais de macro e
microminerais estimadas nessa pesquisa foram diferentes das recomendações feitas pelos
comitês internacionais para a formulação de rações de pequenos ruminantes. A densidade
mineral óssea DMO, associada à análise química e biométrica do fêmur auxiliam na
avaliação do status em macrominerais, bem como, no monitoramento da qualidade da
alimentação de animais nativos em pastejo no semi-árido brasileiro.
Palavras-chave: Abate comparativo, caatinga, caprinos nativos, composição corporal,
densitometria óssea, suplementação
xvi
Nutritional requirements and mineral status for growth of Moxoto goats grazing in
the semi-arid region of Brazil
ABSTRACT
The objective of this study was to determinate net requirements of Ca, P, Mg, Na, K, Zn,
Fe, Mn, Co e Cu for growth and mineral status of Moxoto goat kids (15.69 ± 0.78 kg initial
BW), grazing in the semi-arid region of Brazil. In this trial, thirty six kids, no intact males
were used. The chemical composition of femur (dry matter, DM; ether extract, EE; crude
protein, CP; Ca, P, Mg, Na and K), the femur biometry (wet, dry and relative weight,
length, diameter of diaphysis, diameter of proximal and distal epiphysis, thickness of the
sponge layer of the proximal and distal epiphysis and thickness of the cortical layer of the
diaphysis) and bone mineral density (BMD) were used to evaluate the mineral status of
animals. To determine the net requirements, four kids were slaughtered at the beginning of
the experiment (baseline group, 15.37 ± 0.30 kg BW) and the remainders (n = 32) were
allocated randomly to one of the four levels of supplementation (treatments groups: 0, 0.5,
1.0 and 1.5% BW), and therefore there were eight kids per treatment. When the animals in
the 1.5% BW treatment group reached 25 kg BW, the animals in the others treatments
groups were also slaughtered. The individual whole empty body was weighted, ground,
mixed and sampled for chemical analyses. The body composition (g/kg empty body
weight; EBW) ranged from 10.80 to 11.50 g Ca; 7.86 to 8.74 g P; 0.37 to 0.42 g Mg; 1.57
to 1.61 g Na and 1.58 to 1.74 g K; and from 23.68 to 27.81 mg Zn; 35.70 to 47.29 mg Fe;
0.86 to 1.09 mg Mn; 1.45 to 1.75 mg Cu e 0.83 to 0.87 mg Co/kg EBW for Moxoto kids at
15 and 25 kg BW. The net mineral requirements (g/kg empty weight gain; EWG) were
determinate by comparative slaughter technique which ranged from 9.53 to 10.65 g Ca;
7.41 to 8.65 g P; 0.36 to 0.43 g Mg; 1.31 to 1.41 g Na and 1.47 to 1.70 g K; and from 30.43
to 35.74 mg Zn; 53.48 to 70.84 mg Fe; 1.22 to 1.54 mg Mn; 1.93 to 2.32 mg Cu e 0.91 to
0.95 mg Co/kg EWG. The DM content of femur increased linearly, however, the MM, EE,
CP, Ca, P, Mg, Na and K were not affected by treatments (P>0.05). The biometric and
densitometric
variables
increased
linearly
(P<0.01)
with
increasing
levels
of
supplementation, except for the thickness of the sponge layer of the proximal epiphysis.
The BMD was positively correlated with BW and with amount (g) of MM, Ca, P, Mg, Na
and K, as well as, with biometric variables. In conclusion, our study indicated that
indigenous goats grazing in the semi-arid region of Brazil have different mineral
xvii
requirements from those values recommended by international committees for dairy and
meat goats. In addition, it was concluded that the BMD, associated with the biometry and
chemical composition of the femur, helps in the evaluation of mineral status, as well as, in
monitoring the quality of feed for indigenous goat grazing in the semi-arid region of
Brazil.
Keywords: body composition, bone densitometry, caatinga, comparative slaughter,
indigenous goats, supplementation
1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A produção de caprinos na região semi-árida do Brasil é caracterizada,
principalmente, por animais nativos criados em regime extensivo na caatinga. Esta, com
aproximadamente 800.000 km2, cerca de 70% da região Nordeste e 11% do território
nacional (Drumond et al., 2000), constitui-se na mais importante fonte de alimentação para
os rebanhos, participando em até 90% da dieta, representando, portanto, a principal e mais
econômica fonte de nutrientes para os caprinos desta região. Ainda que apresente baixa
capacidade de suporte, o desafio da exploração neste ambiente é a adoção de sistemas de
produção que sejam sustentáveis no tempo, e que apresentem também competitividade.
O manejo nutricional do rebanho caprino tem papel essencial nos sistemas de
produção do semi-árido. É ainda o fator que mais onera o custo de produção, representando
grande parcela dos gastos, dependendo do tipo do animal e do sistema de produção
adotado para a produção de carne, leite ou pele. Sob tais circunstâncias, é necessário o
estabelecimento de estratégias de utilização, produção e estocagem de alimentos que
atendam as exigências nutricionais dos animais ao longo do ano.
Para adoção de um programa nutricional racional, depois de estabelecidas as
características do animal a ser alimentado, é necessário o conhecimento das exigências
nutricionais dos animais. Entre as fontes bibliográficas disponíveis para o levantamento de
dados sobre exigências nutricionais para caprinos, destaca-se a publicação norte-americana
intitulada “Nutrient Requirements of Small Ruminants” do National Research Council, que
foi publicada recentemente (NRC, 2007), atualizando a versão anterior do NRC (1981).
Outros sistemas de exigências nutricionais disponíveis são o Inglês “Agricultural and Food
Research Council (AFRC, 1998) e o Francês “Institute National de la Recherche
Agronomique” (INRA, 1978). Todos os sistemas citados são baseados em dados obtidos
em condições distintas aos dos sistemas brasileiros de produção de caprinos.
2
Não existe ainda um sistema de exigências nutricionais brasileiro para caprinos. E
por essa razão, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos, para obter informações que
permitam fazer estimativas de exigências nutricionais nas condições brasileiras. Embora já
se tenha alguns dados na literatura nacional sobre as exigências nutricionais de caprinos, as
dietas ainda são formuladas com base nas normas norte-americanas (NRC). Entretanto,
nem sempre as rações e/ou suplementos baseadas nas recomendações destes comitês
estimam com acuidade o desempenho dos caprinos. Muitas são as causas para esta baixa
predição, entre elas podemos citar diferenças entre raças, sexo, idade, condições
ambientais estágio fisiológico entre outros (Luo et al., 2004a,b,c; Sahlu et al., 2004). Além
dos fatores supracitados, um importante aspecto a ser destacado é o fato destes comitês
terem baseado muitas das suas recomendações em dados provenientes de ovinos e bovinos.
Apesar da similaridade no processo digestivo dessas espécies, há diferenças significativas
entre elas, no tocante aos seus hábitos alimentares, atividades físicas, requerimento de
água, seletividade alimentar, composição do leite e carcaça (NRC, 1981).
Apesar dos esforços dos pesquisadores em estudar exigências nutricionais de
caprinos no Brasil, os estudos têm sido conduzidos com animais em regime de
confinamento e geneticamente diferentes dos animais da realidade da região semi-árida do
Brasil. Portanto, se faz necessário estimar as exigências em condições idênticas àquelas em
que o animal é explorado tradicionalmente na região em que se encontra. Aliado a isso,
faz-se necessário estudar os animais nativos ou naturalizados, os quais caracterizam-se
como animais rústicos e adaptados às condições de origem, devido ao processo de seleção
natural a que foram submetidos ao longo dos anos, além de serem considerados,
atualmente, valioso material genético (Rocha et al., 2007).
Os trabalhos sobre exigências nutricionais de pequenos ruminantes no semi-árido
brasileiro ainda são incipientes. Porém, é louvável destacar que os primeiros passos foram
3
dados (Alves et al., 2008a,b; Marques, 2007) e que outros trabalhos dessa natureza estão
em andamento, na busca da confecção de tabelas de exigências para condições brasileiras,
como já aconteceu com bovinos de corte (Valadares Filho et. al., 2006).
Diante do exposto, pretende-se apresentar um referencial teórico com uma
abordagem geral do assunto em questão (Capítulo 1). Em seguida, serão apresentados mais
três capítulos: o capítulo II trata das exigências líquidas de macrominerais (Ca, P, Mg, Na e
K) para ganho em peso de caprinos Moxotó criados em regime de pasto no semi-árido. Na
seqüência, o capítulo III é referente às exigências líquidas de microminerais (Cu, Zn, Co,
Fe e Mn) para ganho em peso dos mesmos animais do capítulo II. No capítulo IV foi feita
uma avaliação do status mineral através da composição química, macroscópica e
densitométrica do fêmur destes animais. Por fim, são realizadas as considerações finais e
algumas implicações sobre o assunto abordado.
4
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6
CAPÍTULO I
______________________________________________________
Referencial Teórico
Exigências Nutricionais e Status Mineral de Caprinos Moxotó em Pastejo
no Semi-Árido
7
REFERENCIAL TEÓRICO
A raça Moxotó
A raça Moxotó tem essa denominação no Brasil por ter sido encontrada no Vale do
rio Moxotó, em Pernambuco, mas a sua verdadeira origem ainda é um assunto controverso.
Alguns estudiosos afirmam que é oriunda do cruzamento entre a raça Alpina Francesa com
cabras brancas nativas; para outros, a raça Moxotó é a mesma raça criada em Portugal com
o nome de Serpentina. Ainda segundo outros autores, a raça Moxotó pode ser descendente
dos caprinos Charnequeiros de Portugal, que vieram para o Brasil na época da colonização
(Domingues, 1955).
Em estudo realizado por Menezes (2005) com o objetivo de verificar a variabilidade
e as relações genéticas entre as raças caprinas nativas brasileiras, ibéricas e canárias, o
autor verificou que, apesar da semelhança das cores da pelagem das raças Moxotó e
Serpentina, são duas raças geneticamente diferentes, possivelmente pelo efeito de deriva
genética. Ainda de acordo com esse autor, as raças caprinas Ibéricas e Canárias são as
possíveis progenitoras das raças brasileiras, mas estas últimas apresentam uma identidade
genética distinta das demais.
A raça Moxotó é considerada rústica e adaptada à zona semi-árida da região
Nordeste. É, também, a mais antiga das raças nativas, oficializada em 1993 pela
Associação Brasileira de Criadores de Caprinos – ABCC (2000). Na atualidade, esta raça é
criada, principalmente, nos estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Piauí (Ribeiro,
2006).
Dentre as raças de caprinos nativas da região semi-árida do nordeste brasileiro, a raça
Moxotó é a que possui hoje maior população, apesar de se encontrar dispersa em pequenos
núcleos de criação mantidos por empresas públicas e criadores particulares (Ribeiro &
Pimenta Filho, 2003). Em particular no estado da Paraíba, a raça Moxotó é a de maior
8
efetivo, correspondendo a 62,6% do total das raças nativas do estado. É uma raça bem
conceituada pelos criadores que a destacam pelo grande potencial para a produção de carne
(Lima, 2005).
Conforme descrito por Santos (2003), os animais da raça Moxotó são de estatura
mediana, perfil côncavo, orelhas médias, dirigidas lateralmente e um pouco acima da
horizontal, chifres leves, de comprimento médio, saindo para trás para fora e para cima, em
curvatura regular. Os machos comumente possuem barbas e excepcionalmente são
mochos. A pelagem é baia ou mais clara, com uma listra preta que se estende do bordo
superior do pescoço à base da cauda. Apresenta aureola preta em torno dos olhos e duas
listas descem até a ponta do focinho, geralmente pretas. As orelhas, a face ventral do corpo
e as extremidades são pretas, assim como as mucosas, as unhas e o úbere, com pêlos
curtos, lisos e brilhantes. O tronco é amplo, linha dorso-lombar reta, garupa caída,
membros fortes e úbere pouco desenvolvido.
A crescente demanda por produtos de origem animal nos país em desenvolvimento
tem causado rápida substituição das raças "nativas ou locais", principalmente a Moxotó,
pelas raças de caprinos mais produtivas (exóticas), objetivando produzir animais mestiços
de produção superior às nativas, nas mesmas condições de manejo e alimentação. No
entanto, esses animais não dispõem da mesma capacidade dos ecotipos nativos de utilizar
eficientemente a vegetação da caatinga nos períodos mais secos, com isso esses animais
tendem a apresentar, muitas vezes e sob as mesmas condições, índices de produtividade
inferiores, demandando custos adicionais de alimentação suplementar para sua
sobrevivência (Guimarães Filho et al., 2000).
Mediante o exposto, os caprinos Moxotó, por serem animais nativos, são
considerados bem adaptados às condições de semi-árido devido ao processo de seleção
natural a que foram submetidos ao longo de cinco séculos, sendo considerado atualmente
9
valioso material genético (Rocha et al., 2007). Estes animais são criados em regime
extensivo, em pastagens nativas da região nordeste, produzem peles de boa qualidade, boa
produção de carne e leite, compatíveis com o sistema de produção adotado, podendo ser
animais considerados de múltipla função (Wanderley et al., 2003).
Composição corporal
O termo composição corporal diz respeito à composição química de todo corpo
animal, mas este termo também é utilizado com respeito à composição química de uma
parte do corpo animal (por exemplo, a carcaça) ou ainda pode ser relacionado com a
composição física do corpo dos animais (Greenhalgh, 1986). Desta maneira, a composição
química corporal refere-se às concentrações ou quantidade de água, gordura, proteína,
energia e minerais depositadas no corpo vazio do animal.
A determinação da composição corporal dos animais é essencial em estudos de
nutrição para avaliar alimentos, crescimento animal e exigências nutricionais. Pela
composição corporal é possível identificar alterações na composição do crescimento, em
função diversos fatores como raça, peso, sexo, composição da dieta, e, ainda, determinar a
eficiência e as exigências nutricionais de diferentes categorias de animais.
Na determinação das exigências nutricionais, pelo método fatorial, o primeiro passo
consiste em mensurar a composição corporal dos animais. Vários métodos têm sido
propostos para essa determinação, no entanto, o método direto é considerado a forma mais
acurada e precisa. A composição corporal é determinada a partir da análise química de
todos os constituintes do corpo, inclusive a carcaça do animal. Todavia, a moagem de todo
animal é uma prática difícil como rotina experimental, pois, além de ser oneroso, permite
apenas uma avaliação por animal (Resende, 1989; Resende et al., 2005).
No decorrer dos anos, muito tem sido estudado sobre o crescimento dos tecidos e a
composição corporal. Estes estudos começaram no decorrer da década de 1945 com Brody,
10
com seu trabalho clássico intitulado “Bioenergetics and growth”. Já no campo da
composição corporal, diferentes métodos para sua determinação foram propostos e
revisados extensivamente por Blaxter em 1989. Enfim, em anos de pesquisa, verificaram
que os tecidos não crescem uniformemente e que a composição corporal varia com o peso,
de modo que, o animal cresce até seu peso adulto, seguindo uma curva sigmóide para
crescimento acumulativo (Lawrence & Fowler, 2002). Na tentativa de se modelar essas
variáveis, vários estudos foram realizados, tendo-se determinado que o modelo que melhor
descreveu o crescimento pós-natal foi o modelo alométrico (y = aXb). A partir deste, é
possível uma descrição quantitativa da relação parte/todo e é importante, pois reduz a toda
informação um só valor (Berg & Butterfield, 1976).
A partir de 1980, o ARC propôs que as equações de predição do conteúdo dos
nutrientes por kg de corpo vazio fossem obtidas por meio de equações alométricas
logaritmizadas da quantidade do nutriente presente no corpo vazio, em função de corpo
vazio (PCV): logo y = a + b log x, onde: log y= logaritmo da quantidade total do nutriente
no corpo (g); a= intercepto; b=coeficiente de regressão da quantidade do nutriente em
função de PCV; log x=logaritmo do peso de corpo vazio (kg).
Na determinação das exigências para ganho em peso, considera-se a variação da
composição corporal, em função do aumento de peso dos animais. Para isso, é necessário,
também, estimar a composição corporal inicial dos animais, para que, de posse
posteriormente da composição corporal final, seja determinada a retenção dos nutrientes no
corpo vazio. O que tem sido feito nos experimentos desenvolvidos com caprinos no Brasil
de forma mais freqüente é o abate de um grupo de animais ao início do experimento, dito
grupo referência, e, a partir da composição corporal desses animais, extrapola-se para
todos os animais que permanecem em alimentação (Lofgreen & Garret, 1968).
11
Derivando-se as equações de predição do conteúdo corporal de cada nutriente, em
função do logaritmo do peso de corpo vazio, é obtida a composição corporal de ganho em
peso, que constituem as exigências nutricionais líquidas para o referido ganho. A derivação
é feita segundo modelo: y’= b.10ª. PCV(b-1), onde: y=exigência líquida de cada nutriente;
a= intercepto; b=coeficiente de regressão.
A composição química do corpo vazio de um animal é o resultado das influências
hereditárias (genética) e do ambiente. Avaliações que envolvem raças ou grupos genéticos
quanto à composição corporal e às exigências nutricionais são condições essenciais para a
melhoria do desempenho produtivo econômico do rebanho, e devem ser conduzidas dentro
das condições do ambiente (manejo) em que os animais são explorados (Reid et al., 1955).
Deste modo, a determinação da composição corporal de animais nativos da região semiárida do Nordeste do Brasil, criados em regime de pasto, é justificada, uma vez que os
trabalhos que foram realizados para estimar as exigências nutricionais desta espécie foram
conduzidos com animais em confinamento.
As informações sobre composição de minerais no corpo de caprinos são escassas, o
que deixa implícito a necessidade de mais pesquisas para que se possa formar um banco de
dados mais consistente. Em 1981, o NRC, em virtude dessa escassez, extrapolou valores
pertencentes a ovinos e bovinos para os caprinos. Em 1998, com a publicação do AFRC,
ficou constatado a insuficiência de dados sobre composição corporal em minerais. Já no
ano de 2000, Meschy, na tentativa de propor recomendações mais adequadas para a
espécie caprina, publicou uma revisão sobre o assunto, no entanto, estas recomendações
foram baseadas em ensaio de alimentação. Com a publicação do NRC (2007) esperava-se
que este cenário mudasse, todavia, as recomendações feitas por este comitê foram àquelas
usadas e/ou adaptadas das relatadas por Meschy (2000).
12
Um dos primeiros trabalhos realizados no Brasil para estimar composição corporal e
as exigências nutricionais de caprinos, foi o desenvolvido por Resende (1989) utilizando
cabritos SPRD x Alpina ou Toggenburg, com peso vivo entre 5 e 25 kg. Este autor
encontrou a seguinte composição corporal: 71,5 e 64,5% de água; 17,8 e 20,7% de
proteína; 5,1 e 9,1 de gordura; 1,5 e 2,4 Mcal de energia/kg de peso do corpo vazio (PCV);
9,5 e 11,1 g Ca/kg PCV; 7,4 e 7,1 g P/kg PCV; 0,39 e 0,41 g Mg/kg PCV; 1,25 e 1,17 g
Na/kg PCV e 1,16 e 1,38 g K/kg PCV, respectivamente.
Utilizando o mesmo banco de dados de Resende (1989), embora numa faixa de peso
de 5 a 15 kg PV, Ribeiro (1995) obteve composição corporal: água, 73,4 e 61,2%; 3,6 e
13,1% de gordura; 16,6 e 17,1% de proteína; 1,4 e 2,3 Mcal de energia/kg PCV; cálcio, 0,1
a 1,0%; e fósforo, 0,66 a 0,70% e para composição do ganho em peso vivo foi: 8,4 e 9,4 g
de Ca e 5,5 e 5,2 g de P/ kg de ganho de PCV.
Para animas da raça Alpina, machos não castrados e em crescimento com peso vivo
entre 18 e 26 kg, Sousa et al. (1998b) reportou valores médios para composição corporal
de: 64,88% de água; 15,22% de proteína; 16,11% de gordura; 7,91 a 7,67 g Ca/kg PCV e
5,22 a 5,68 g P/kg PCV, respectivamente.
Em trabalho com cabritos Saanen, não castrados, com peso vivo entre 5 e 20 kg,
Medeiros (2001) observou a seguinte composição corporal: 76,8 a 73,4% de água; 14,9 a
15,2% de proteína; 4,0 a 7,5% de gordura e 1,2 a 1,5 Mcal de Energia/kg de PV,
respectivamente. Já, Oliveira (2007), com os mesmos animais estudados por Medeiros
(2001), encontrou valores (g/kg PCV) de: 9,91 e 10,85 Ca; 8,75 e 8,99 P; 0,78 e 0,65 Mg;
2,02 e 1,09 Na e 2,71 e 1,62 K, respectivamente. Ferreira (2003), em continuação aos
estudos anteriores, com cabritos Saanen, castrados, com peso vivo variando de 20 a 35 kg,
encontraram os valores de: 58,5 e 64,6% de água; 8,92 e 18,15% de gordura; 17,6 e 18,5%
de proteína; 1,8 e 2,7 Mcal de energia/kg PV; 14,99 e 9,19 g Ca/kg PCV; 10,44 e 7,35 g
13
P/kg PCV; 0,94 e 0,77 Mg g/kg PCV; 2,12 e 1,37 g K/kg PCV; 1,24 e 0,82 Na g/kg PCV,
respectivamente.
Para animais provenientes de cruzamentos com raças especializadas para corte,
foram desenvolvidos trabalhos por Teixeira (2004) e Fernandes et al. (2007). O primeiro
autor avaliou a composição corporal de animais F1 Boer x Saanen, não castrados, na fase
inicial de crescimento (5 a 25 kg PV) e relatou variação de: 68 e 73% de água; 18 e 20% de
proteína; 3 e 11% de gordura; 1,2 e 2,1 Mcal de energia/kg de PV; 11,65 e 10,06 g Ca/kg
PCV; 7,9 e 6,66 g P/kg PCV; 0,38 e 0,41 g Mg/kg PCV; 1,24 e 0,87 g Na/kg PCV; 2,53 e
1,88 g K/kg PCV, respectivamente. Dando continuidade ao trabalho de Teixeira (2004),
Fernandes (2006), com animais ¾ Bôer x ¼ Saanen, não castrados, com peso vivo
variando de 20 a 35 kg PV relatou a seguinte composição corporal: 65,8 a 64,1% de água;
18,2 a 17,5% de proteína; 12,5 a 15% de gordura; 5,87 a 6,32 g Ca/kg PCV; 5,24 a 5,32 g
P/kg PCV; 0,27 a 0,29 g Mg/kg PCV; 0,76 a 0,70 g Na/kg PCV e 1,42 a 1,26 g K/kg PCV,
respectivamente.
Bellof & Pallauf (2007) examinaram o efeito do gênero, peso vivo e da intensidade
de alimentação sobre a deposição de ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu) e manganês (Mn)
no corpo vazio de cordeiros da raça Merino. Os autores verificaram que com o aumento da
intensidade de alimentação (baixa, média e alta) a deposição diária destes elementos
aumentou (4,4; 5,2 e 6,6 mg/dia para Fe; 4,9; 5,5 e 6,9 mg/dia para Zn; 0,20; 0,36 e 0,44
mg/dia para Cu; 0,14, 0,16 e 0,21 mg/dia para Mn. Os animais mais pesados apresentaram
aumentada retenção diária de Zn e Mn. Os machos tiveram maior retenção diária de Zn em
relação as fêmeas. A composição corporal de ganho foi de 26,1 mg Fe, 30 mg Zn, 1,41 mg
Cu e 1,04 mg Mn/kg PCV ganho para animais com o PV variando de 18 a 55 kg.
14
Exigências nutricionais em minerais
Os minerais são exigidos para importantes funções no corpo animal (Underwood &
Suttle, 1999). Muitos dos minerais são encontrados em quantidades suficientes em dietas
tipicamente consumidas por pequenos ruminantes. Outros elementos são frequentemente
deficientes nas dietas consumidas e, quando possível, devem ser suplementados para
otimizar o desempenho e a saúde dos animais. A toxidade é um problema potencial com
alguns minerais. Portanto, identificar as exigências em minerais, bem como, o nível
máximo de tolerância (nível na dieta que, quando consumido por um determinado período
de tempo, não prejudique o desempenho do animal) faz-se necessário (NRC, 2005).
Estudos visando determinar as exigências nutricionais de caprinos no Brasil vêm
sendo realizados há mais de 15 anos, sendo os primeiros trabalhos datados do final da
década de 80 (Resende, 1989; Silva Sobrinho, 1989). Na década seguinte, o número de
trabalhos envolvendo exigências nutricionais de caprinos no Brasil aumentou de forma
expressiva (Costa, 1996; Ribeiro, 1995; Sousa, 1998; Carvalho, 1998; Gouveia, 1998;
Ferreira, 1999). Na década atual alguns trabalhos continuaram sendo realizados (Dorigan,
2000; Medeiros, 2001; Ferreira, 2003; Teixeira, 2004; Fernandes, 2006; Oliveira, 2007),
no entanto, nenhum destes trabalhos foi realizado com animais nativos, sobretudo em
regime de pasto.
No Brasil, a exigência nutricional de caprinos em pastejo não tem sido estudada, com
isso, para cálculos de rações e/ou suplementos, têm sido tradicionalmente utilizadas as
normas internacionais de alimentação, como NRC (1981), AFRC (1998) e mais
recentemente o NRC (2007). Entretanto, a eficiência na produção animal somente será
alcançada se houver conhecimento adequado das exigências nutricionais dos animais, bem
como da composição dos alimentos utilizados, propiciando, dessa forma, predições mais
precisas do desempenho dos animais. Nesse sentido, as exigências dos animais e a
15
composição química dos alimentos são informações fundamentais para se atingirem os
objetivos acima.
As exigências totais de cada mineral correspondem à soma das exigências para
mantença e para produção, sendo o método fatorial o mais utilizado para fins de predição
dos requisitos dos minerais para caprinos (ARC, 1980). Dividindo-se a exigência líquida
pelo coeficiente de absorção do elemento inorgânico no trato digestivo do animal, chega-se
à exigência dietética desse elemento mineral. As exigências de manutenção são relativas às
necessidades do mineral para atender as perdas inevitáveis do corpo, também chamadas de
“secreções” endógenas. Já as exigências para produção correspondem à quantidade de cada
mineral depositada no corpo animal. Essa retenção de minerais no corpo depende,
obviamente, da composição do ganho, sendo que maiores deposições de gordura estão
associadas a menores deposições de minerais, visto que o conteúdo de minerais no tecido
adiposo é inferior ao conteúdo nos demais tecidos. Portanto, os mesmos fatores que afetam
a deposição de gordura no ganho também afetarão o depósito de minerais, destacando-se
sexo, grupo genético, idade e peso (ARC, 1980). Dessa maneira, animais castrados
apresentam menores exigências de minerais que animais inteiros.
Fatores inerentes aos alimentos ou às dietas, como as frações orgânicas ou
inorgânicas do mineral em certo alimento, a disponibilidade e a forma química desse
elemento nos ingredientes da dieta, e ao animal, como nível de produção e nutrição prévia,
juntamente com aspectos relacionados às inter-relações (antagonismos e agonismos) entre
os minerais também influenciam os requerimentos de minerais (Underwood & Suttle,
1999). Em adição, podem ser citados ainda, fatores como, a idade, raça, grupo genético,
sexo, manejo alimentar e condições climáticas as quais o animal encontra-se submetido.
As informações sobre exigências de macrominerais para caprinos contidas no NRC
(2007) foram oriundas de uma revisão feita por Meschy (2000). Este apresentou uma
16
revisão sobre os avanços na avaliação das exigências de caprinos, com a intenção de
propor recomendações mais adequadas para a espécie em questão. Entretanto, as
recomendações apresentadas por esse autor são baseadas em ensaio de alimentação,
desenvolvidos no decorrer de vários anos. Normalmente, essas relações têm utilização
limitada, pois à medida que os animais, alimentos e quaisquer outras condições são
alterados, as relações passam a ser inválidas.
As determinações das exigências de minerais são condicionadas por fatores
interatuantes, sendo difícil sua determinação exata, por serem influenciadas por vários
fatores, como espécie, raça, nível de produção, idade, forma química na qual se encontra o
elemento e as inter-relações entre eles (Resende, 1989).
Os poucos dados existentes na literatura nacional sobre os requerimentos em
minerais para caprinos são determinados em animais em condição de confinamento. É
sabido que sistemas pastoris são muito mais complexos e dinâmicos do que sistema de
produção em confinamento e envolvem uma gama importante de relações entre o solo, a
planta e o animal, sendo essas relações afetadas por fatores controláveis (manejo adotado)
e não controláveis (clima, por exemplo). Desta forma, qualquer experimentação com
animais em pastejo representa um grande desafio, já que nem todas as variáveis envolvidas
são passíveis de controle por parte do experimentador (Valadares Filho et al., 2005).
Minerais são elementos inorgânicos classificados em dois grupos, macrominerais
(g/dia) ou microminerais (mg/dia ou g/dia) baseada na quantidade requerida diariamente.
Macrominerais
Os macroelementos minerais, embora estejam presentes em menor proporção no
corpo animal, desempenham funções vitais no organismo e suas deficiências acarretam
alterações nutricionais graves, levando o animal a apresentar desempenho produtivo e
17
reprodutivo aquém de seu potencial. Os macrominerais mais importantes quantitativamente
são cálcio, fósforo, magnésio, sódio e potássio.
Cálcio
O cálcio (Ca) é o mineral mais abundante no corpo, sendo 99% encontrado nos ossos
e dentes. O restante é distribuído nos fluidos extracelulares e tecidos moles, estando
ausente na gordura. A função básica do Ca é fornecer uma estrutura forte para suportar e
proteger os órgãos. O Ca extracelular ocorre como íons livres, ligados a proteínas séricas e
complexados a ácidos orgânicos e inorgânicos. O Ca ionizado (40-60% do total do Ca
plasmático) é essencial para funções fisiológicas como condução de estímulos nervosos,
manutenção da capacidade de contração muscular, ritmo e tonicidade do músculo cardíaco,
bem como para a coagulação normal do sangue e para a irritabilidade normal dos músculos
(McDowell, 1992; Underwood & Sutlle, 1999).
Em geral, as exigências nutricionais de minerais em caprinos sempre foram
extrapoladas de valores encontrados com bovinos e ovinos (NRC, 1981; AFRC, 1998).
Com o lançamento do NRC (2007), a partir dos últimos dados disponíveis na literatura
(Haenlein, 1992; AFRC, 1998; Meschy, 2000), recomendações mais especificas foram
possíveis. No entanto, em virtude da escassez de pesquisa, dados do AFRC (1998)
continuaram sendo usados, principalmente no que diz respeito aos dados de mantença
(NRC, 2007).
A quantidade de cálcio exigida por caprinos para ganho em peso foi estimada para
ser 9,4 g/kg PV ganho (Meschy, 2000; NRC, 2007), após considerar o limite de 8,2 a 12,9
g/kg de PV ganho para ovinos. O AFRC (1991, 1998), por sua vez, usou valores variando
de 10,9 a 16,2 g/kg de PV ganho para bovinos e 8,2 a 12,9 g/kg de PV ganho para ovinos.
O ARC (1980) considerou que a composição corporal em minerais fosse constante e
independente do peso do animal, sendo utilizado o valor de 14 g/kg de PCV ganho. O NRC
18
(2007), baseados nos novos achados, concordou que a proporção de massa esquelética
diminui com a idade, e que os caprinos, geralmente, têm maior proporção de osso no corpo
em relação aos ovinos, e que a deposição de Ca seja ligeiramente menor em caprinos do
que em ovinos (11 g/kg PV ganho). Os requerimentos para crescimento diminuem com
idade, mas aumenta com a taxa de crescimento (AFRC, 1991).
Nos experimentos realizados no Brasil, as exigências líquidas em Ca (g/kg PV
ganho) têm variado de 10,38 a 12,15 (5 a 25 kg PV; Resende, 1989) e 8,4 a 9,4 (15 a 25 kg
PV; Ribeiro, 1995) para animais mestiços; 6,99 a 6,76 para animais da raça Alpina (18 a
26 kg PV; Sousa, 1998c); 2,93 a 1,80 para Saanen (20 a 35 kg PV; Ferreira, 2003); 9,1 a
7,9 para F1 Boer x Saanen (5 a 25 kg PV; Teixeira, 2004); 5,61 a 6,03 para ¾ Boer x ¼
Saanen (20 a 35 kg PV; Fernandes, 2006) e 9,03 a 9,88 para Saanen (5 a 20 kg PV;
Oliveira, 2007).
Fósforo
O fósforo (P) é o segundo mineral mais abundante no corpo animal e cerca de 80% é
encontrado nos ossos e dentes na forma de cristais de hidroxiapatita. A percentagem do
fósforo que não está presente no esqueleto está amplamente distribuída nos fluidos e
tecidos moles do corpo. O P é requerido para a formação da matriz orgânica do osso bem
como mineralização desta matriz. O P também atua no crescimento e diferenciação celular,
como componente do DNA e RNA, assim como na utilização e transformação de energia
na forma de ATP, ADP e AMP, sendo requerido pelos microorganismos ruminais
(Underwood & Sutlle, 1999).
Deficiência de P, se suficientemente severa ou prolongada, conduz para
anormalidade dos ossos e dentes, crescimento, produção de leite prejudicada e fertilidade
prejudicados, depressão no apetite, baixa eficiência de alimentar, apetite depravado, dentre
outros (McDowell, 1992).
19
Assim como foi para os valores de Ca, dados oriundos de ovinos e bovinos foram
utilizados para ajustes nas exigências de caprinos em P (NRC, 2007).
A quantidade de P exigida por caprinos em crescimento foi considerada constante e
igual à de ovino e bovino, sendo sugerido o valor de 6 g de P/kg de PCV ganho (ARC,
1980; NRC, 1981). No entanto, o valor preconizado pelo NRC (2007) para caprinos foi de
6,5 g/kg PV ganho. Diferentes dos valores preconizados para ovinos (5,1 a 7,3 g/kg de PV
ganho) e dos de bovinos (6,3 a 8,8 g/kg PV ganho; AFRC, 1991, 1998).
Embora os caprinos apresentem maior proporção de osso no corpo, em relação aos
ovinos, provavelmente, em função da maior concentração de P na saliva e melhor
reciclagem de P pela mesma (Kessler, 1991), necessitem de menor quantidade de P para o
ganho em peso (NRC, 2007).
Nos experimentos realizados no Brasil, as exigências líquidas em P (g/kg PV ganho)
têm variado de 7,18 a 6,89 (5 a 25 kg PV; Resende, 1989) e 5,20 a 5,50 (15 a 25 kg PV;
Ribeiro, 1995) para animais mestiços; 5,86 a 6,43 para animais da raça Alpina (18 a 26 kg
PV; Sousa, 1998c); 4,93 a 3,47 para Saanen (20 a 35 kg PV; Ferreira, 2003); 6,03 a 4,98
para F1 Boer x Saanen (5 a 25 kg PV; Teixeira, 2005); 4,61 a 4,68 para ¾ Boer x ¼
Saanen (20 a 35 kg PV; Fernandes, 2006) e 7,59 a 7,79 para Saanen (5 a 20 kg PV;
Oliveira, 2007).
O cálcio e o fósforo são estudados em conjunto, pois estão intimamente associados
no metabolismo e ocorrem combinados no organismo na maioria das vezes, e o excesso de
um ou de outro na ração é limitante na disponibilidade de ambos. Além do envolvimento
em muitos sistemas enzimáticos, são também essenciais para a formação do tecido ósseo,
daí a relação Ca:P ser de grande importância. A relação Ca:P da dieta tem fundamental
importância na manifestação de urolitíase em caprinos (Ortolani, 1994). Este mesmo autor
20
afirmou que a relação mínima entre Ca e P da dieta para caprinos em crescimento deve ser
2:1 e a relação ideal, 3:1, para e evitar problemas de urolitíase.
Magnésio
O magnésio (Mg) é um elemento abundante no corpo do animal, estando cerca de
70% localizado nos ossos, 29% dentro das células e 1% no fluido extracelular. O Mg é o
segundo cátion mais abundante (depois do potássio) no fluido extracelular (sangue e fluido
intestinal). Os ossos contêm cerca de 2 g de Mg por kg de material fresco e a relação
Ca:Mg é 55:1, em quanto que os músculos contêm 190 mg de Mg/kg (McDowell, 1992).
O Mg está associado com funções de produção de energia (fosforilação oxidativa,
formação de ATP), síntese de moléculas essenciais (carboidratos, lipídios, ácidos nucléicos
e proteínas), é componente estrutural de membranas celulares, cromossomos e ossos,
transporte de íons e sinalização celular (Underwood & Sutlle, 1999; NRC, 2007).
A deficiência de Mg é manifestada clinicamente por retardo no crescimento,
hiperirritabilidade e tetania, vasodilatação periférica, anorexia, falta de coordenação
muscular e convulsões (Underwood & Sutlle, 1999).
As exigências em Mg variam de acordo com a espécie e raça do animais, bem como
a idade, taxa de crescimento ou produção. O valor de 0,45 g/kg PCV ganho foi
primeiramente sugerido pelo ARC (1980) utilizado durante anos. O NRC (2007), com
estimativas baseadas no método fatorial, sugeriu o valor de 0,40 g/kg PV ganho,
semelhante aos de ovinos que foi de 0,41 g/kg PV ganho.
Os dados disponíveis no Brasil, para as exigências líquidas em Mg (g/kg PV ganho)
tem sido de 0,4 a 0,42 (5 a 25 kg PV; Resende, 1989) 0,3 (15 a 25 kg PV; Ribeiro, 1995)
para animais mestiços; 0,72 a 0,58 para Saanen (20 a 35 kg PV; Ferreira, 2003); 0,34 a
0,37 para F1 Boer x Saanen (5 a 25 kg PV; Teixeira, 2005); 0,25 a 0,27 para ¾ Boer x ¼
21
Saanen (20 a 35 kg PV; Fernandes, 2006) e 0,56 a 0,47 para Saanen (5 a 20 kg PV;
Oliveira, 2007).
Sódio
O corpo animal contém em média 0,2% de sódio (Na). Este está presente
principalmente nos tecidos moles e fluidos corporais, envolvido na manutenção da pressão
osmótica, regulando o equilíbrio ácido-básico, controlando o metabolismo da água no
corpo, absorção de nutrientes e na transmissão de impulsos nervosos. O Na é o principal
cátion no fluido extracelaluar (McDowell, 1992). Em adição, o Na é importante para a
absorção do cloro.
O sódio é excretado principalmente na urina na forma de sal, nas fezes em pequena
quantidade e na transpiração. Esta representa a maior via de perda deste mineral, para a
maioria das espécies. Desta forma, sob condições tropicais ou semi-áridas, as quais
permitem grandes perdas de água e sais através do suor, o requerimento para Na é maior.
No entanto, o grau de variação das exigências em Na, depende da capacidade de sudação
das várias espécies e o nível de atividade de cada animal (McDowell, 1992).
A exigência nutricional de caprinos em crescimento, preconizada pelo NRC (2007)
foi de 1,6 g Na/kg PV ganho, valor semelhante ao recomendado para ovino (1,1 g Na/kg
PV ganho).
Os dados disponíveis no Brasil, para as exigências líquidas em Na (g/kg PV ganho)
tem variado de 1,20 a 1,12 (5 a 25 kg PV; Resende, 1989) 0,9 (15 a 25 kg PV; Ribeiro,
1995) para animais mestiços; 0,44 a 0,29 para Saanen (20 a 35 kg PV; Ferreira, 2003); 0,9
a 0,45 para F1 Boer x Saanen (5 a 25 kg PV; Teixeira, 2005) 0,57 a 0,53 para ¾ Boer x ¼
Saanen (20 a 35 kg PV; Fernandes, 2006) e 0,84 a 0,46 para Saanen (5 a 20 kg PV;
Oliveira, 2007).
22
Potássio
O potássio (K) é o terceiro mineral mais abundante no corpo animal. Ele representa
aproximadamente 0,3% da matéria seca do corpo, os quais 2/3 está localizado na pele e
músculo. Está diretamente envolvido na excitabilidade dos nervos e músculos e no balanço
ácido básico do corpo (McDowell, 1992). Os tecidos moles são mais ricos em K do que
Na, sendo os músculos com maior quantidade (Underwood & Sutlle, 1999).
Nos ruminantes, o K é o maior cátion presente no suor, devido a alta relação K:Na
em sua dieta natural (forragem); a perdas aumentam com o aumento da temperatura
ambiental (Underwood & Sutlle, 1999).
Em virtude de não haver estoque de K no corpo, o mesmo deve ser fornecido
diariamente na dieta, mas sob condições naturais, as dietas contêm quantidades adequadas
de K (NRC, 2007).
Em 1980 o ARC, usou um valor constante de 2 g de K por kg ganho em PCV,
independente do animal. A recomendação feita pelo NRC (2007) para caprinos em
crescimento foi de 2,4 g K/kg PV ganho. Valor superior ao preconizado para ovinos em
crescimento (1,8 g K/kg PV ganho).
Os dados disponíveis no Brasil, para as exigências líquidas em K (g/kg PV ganho)
são inferiores aos relatados pelo NRC (2007), variando entre 1,47 a 1,22 (5 a 25 kg PV;
Resende, 1989) 0,70 a 1,0 (15 a 25 kg PV; Ribeiro, 1995) para animais mestiços; 0,63 a
0,42 para Saanen (20 a 35 kg PV; Ferreira, 2003); 2,02 a 0,99 para F1 Boer x Saanen (5 a
25 kg PV; Teixeira, 2005) 1,01 a 0,9 para ¾ Boer x ¼ Saanen (20 a 35 kg PV; Fernandes,
2006) e 1,32 a 0,79 para Saanen (5 a 20 kg PV; Oliveira, 2007).
23
Microminerais ou elementos traços
Os microminerais ou elementos traços, como também são conhecidos, são
distribuídos em todo corpo animal, no entanto, em pequenas quantidades, correspondendo
a menos de 0,3% do total dos minerais depositados no corpo (McDowell, 1992).
Zinco
O zinco (Zn) desempenha importante papel no crescimento e saúde de todos os
animais. Está envolvido em numerosas metaloenzimas, na síntese de vitamina A,
transporte de CO2, metabolismo de proteínas, de carboidratos e de ácidos graxos
essenciais, degradação das fibrilas de colágeno, destruição de radicais livres e estabilidade
das membranas dos eritrócitos (Underwood & Suttle, 1999).
Os animais têm limitada capacidade de estocar Zn no corpo de forma que possa ser
mobilizado rapidamente em caso de deficiência. Estudos com Zn65 indicaram que as
maiores concentrações deste mineral encontram-se em tecidos moles como pâncreas,
fígado (na forma de metaloenzimas), baço, rins, testículos, glândulas acessórias e secreções
do trato digestório (McDowell, 1992). Outras fontes como pele, lã (100 a 200 mg Zn/kg
MS) e eritrócitos (80% do Zn) são ricas em Zn (Underwood & Suttle, 1999).
Bellof et al. (2007) em estudo conduzido com ovinos da raça Merino, verificaram
que 42% do Zn no corpo vazio foi encontrado no tecido muscular, 29% nos ossos, 13% no
“resíduo” (trato digestivo vazio, bexiga, órgãos internos, pele, cabeça e patas) e 13% na lã.
Schwarz et al (1994) estudando a distribuição de microminerais no corpo vazio de bovinos
Simental, constataram que 58% do Zn corporal foi encontrado no tecido muscular.
As recomendações feitas pelo ARC (1980) foi da ordem de 24 a 51 mg de Zn/kg MS
para ovinos em crescimento. Estes valores foram sumarizados em 10 mg Zn/kg MS pelo
NRC (1981). Mais tarde, o AFRC (1998) e Meschy (2000) adotaram o valor de 50 mg de
Zn/kg MS. As recomendações apresentadas pelo NRC (2007) foram calculadas usando o
24
método fatorial, baseadas em outras estimativas (bovinos de leite; NRC, 2001), sendo que
ajustes foram feitos com base em dados disponíveis para caprinos. Perdas endógenas fecais
foram determinadas para serem 0,033 mg Zn/kg PV e a perda urinária de Zn foi de 0,012
mg Zn/kg PV; um total de 0,045 mg Zn/kg PV, correspondendo a exigência de mantença.
A exigência em Zn para animais em crescimento adotada por este comitê foi de 25 mg/kg
PV ganho, valor semelhante ao recomendado para ovinos (24 mg/kg PV ganho).
Exceto o trabalho desenvolvido por Costa et al. (2003), nenhum outro trabalho em
nível de Brasil foi realizado com o intuito de estimar as exigências nutricionais de caprinos
em microminerais. Estes autores verificaram retenção de minerais no útero grávido mais
úbere de cabras em diferentes estágios de gestação. Durante as gestações de um e dois
fetos a retenção total (100 a 140 dias) de Zn foram de 981,0 mg e 164,7 mg,
respectivamente. Para animais com 50 dias de gestação as concentrações Zn foi de 15,36 e
4,20 mg para um e dois fetos, respectivamente.
Ferro
O ferro é um componente essencial de um número de proteínas envolvidas no
transporte ou utilização de oxigênio. Estas proteínas incluem a hemoglobina, mioglobina e
um número de citocromos envolvidos na cadeia de transporte de elétrons. Cerca de 60% do
Fe corporal está na forma de hemoglobina (McDowell, 1992).
O Fe no corpo vazio de cordeiros foi encontrado principalmente no tecido ósseo
(40% do Fe total, relacionado ao PCV (Bellof et al., 2007)). Além disso, quantidades
significativas de Fe puderam ser determinadas no “resíduo” (trato digestivo vazio, bexiga,
órgãos internos, pele, cabeça e patas) (19%), bem como, no tecido muscular se sangue
(15%, respectivamente). Por outro lado, Schwarz et al. (1994) verificaram que 16% de Fe
corporal estava no tecido muscular de bovinos.
25
Deficiências de Fe manifestam-se como perda de peso, crescimento retardado,
aumento na taxa de respiração e, quando severa, alta mortalidade. Os estoques de Fe no
fígado, rins e baço são diminuídos em caso de deficiência deste mineral (Underwood &
Suttle, 1999). Deficiências de Fe não tem sido demonstradas em animais em condição de
pasto devido a alta concentração de Fe nas forrageiras (NRC, 2007).
As exigências nutricionais de Fe para caprinos têm sido pouco estudadas, o que pode
ser comprovado pela escassez de dados na literatura. As recomendações feitas pelo ARC
(1980) foi da ordem de 30 mg de Fe/kg MS. O NRC (1981) devido a falta de dados com
caprinos não apresentou nenhum resultado. O AFRC (1998) considerou a exigência de Fe
para caprinos igual a de ovinos (30 a 40 mg Fe/kg MS), embora Haenlein (1987) tenha
mencionado que os caprinos sejam mais exigentes neste mineral (30 a 100 mg Fe/kg MS),
em virtude da maior suscetibilidade a parasitas internos.
As exigências de ferro para os caprinos citadas pelo NRC (2007) foram baseadas
em ensaios de alimentação e o valor recomendado foi de 95 e 35 mg Fe/kg de MS para
animais jovens e adultos, respectivamente. Para ovinos em crescimento, o valor adotado
por esse comitê foi de 55 mg de Fe/kg PV ganho e 0,014 mg Fe/kg PV referente a
exigência de mantença.
Manganês
O Manganês (Mn) está envolvido em funções de várias metaloenzimas, incluindo
glicosil transferase, a qual está envolvida na síntese de mucopolissacarídeos (componente
estrutural das cartilagens), formação de protrombina necessária para a coagulação do
sangue. A piruvato carboxilase, uma enzima dependente de Mn, está envolvida no
metabolismo da glicose e lipídios em ruminantes e não ruminantes. Estudos sugerem que o
Mn esteja envolvido no funcionamento do corpo lúteo. A falta de Mn pode inibir a síntese
de colesterol e seus precursores, podendo limitar a síntese de hormônios sexuais e
26
possivelmente outros esteróides, com conseqüente infertilidade (Underwood & Suttle,
1999).
Em estudo com cordeiros da raça Merino, o Mn foi encontrado principalmente na lã
(41%) e no “resíduo” (trato digestivo vazio, bexiga, órgãos internos, pele, cabeça e patas;
40%), enquanto a proporção nos ossos foi comparativamente baixa (18%) (Bellof et al.,
2007).
A concentração de manganês no corpo é baixa, variando de 0,5 a 3,9 mg/kg MS na
carcaça de ovinos e bovinos. Em ovinos adultos, a concentração de Mn foi mais alta no
fígado (4,2 mg/kg MS), seguido pelo pâncreas (1,7 mg/kg MS) e rins (1,2 mg/kg MS) nos
demais tecidos o valor foi <0,3 mg/kg MS (Grace, 1983). O Mn acumula-se no fígado ou
em outros tecidos em proporção direta a ingestão (Underwood & Suttle, 1999).
O ARC (1980) sugeriu que o valor de 20 a 25 mg Mn/kg MS foi adequado para o
desenvolvimento esquelético de ovinos, baseados em dados obtidos com bovinos. Estes
mesmos valores (20 a 25 mg Mn/kg MS; ARC, 1980) foram adotados para caprinos. O
AFRC (1998) sugeriu o valor de 60 a 120 mg Mn/kg MS, enquanto que Meschy (2000)
recomendou valores de 40 a 50 mg Mn/kg MS.
As exigências em Mn contidas no NRC (2007) foram estimadas pelo método fatorial.
Perdas endógenas de 2 μg/kg PV foram usadas para estimar as exigências de mantença. O
Mn depositado no ganho em peso foi de 0,7 mg/kg PV. As recomendações feitas para
ovinos em crescimento foram inferiores as de caprinos, sendo o valor de 0,47 mg/kg PV
(NRC, 2007).
Deficiências de Mn em animais em condição de pasto, não tem sido verificadas
devido as pastagens apresentaram elevado nível de Mn (86 mg/kg MS) (NRC, 2007).
27
Cobre
O cobre (Cu) é um elemento muito importante devido sua ação em muitos sistemas
enzimáticos como: citocromo oxidase, necessária para o transporte de elétrons durante a
respiração aeróbica; lisil oxidase, a qual catalisa a formação de ligações cruzadas de
desmosina no colágeno e elastina, necessários a resistências de ossos e tecidos conectivos;
ceroplasmina, a qual é essencial para a síntese de hemoglobina; tirosinase, necessária para
a produção da melanina a partir da tirosina; Dopamina β monoxigenase, a qual converte
dopamina em norepinefrina, dentre outras (NRC, 2001).
O fígado é principal órgão de armazenamento de Cu (200 a 300 mg/kg MS). No
entanto, deferentes concentrações de Cu são mantidas em diferentes órgãos como coração
e rins, apresentando 3,1 e 3,6 mg/kg peso fresco, respectivamente. A concentração de Cu
na carcaça, excluindo o fígado, é relativamente baixa, sendo 1,2 mg/kg peso fresco em
ovinos e 0,8 mg/kg peso fresco em bovinos (Grace, 1983). O músculo fornece o maior pool
extra-hepático de Cu, e, relativamente grande quantidade de Cu é depositada na lã.
Bellof et al. (2007) verificaram que, mais de 55% do Cu corporal foi encontrado no
fígado, 17% no músculo, 16% na lã e 11% nos ossos de ovinos Merino. Já Schwarz et al.
(1994) constataram que 12% do Cu se encontravam no tecido muscular de bovinos.
O ARC (1980) estimou a exigência de Cu de 1 a 8,6 mg/kg MS da dieta, dependendo
do estágio fisiológico dos ovinos. No ano seguinte, o NRC (1981) não apresentou nenhum
dado sobre exigência de Cu para caprinos. Posteriormente, o AFRC (1998) propôs os
valores de 10 a 20 mg/kg de MS da dieta para atender as necessidades dos caprinos. Esta
faixa de variação está acima da recomendada por Meschy (2000), que adotou os valores de
8 a 10 mg Cu/kg de MS.
Os dados disponíveis na literatura sobre as exigências neste mineral não foram
suficiente para justificar o uso do método fatorial pelo NRC (2007) para caprinos. Deste
28
modo, este comitê recomendou o valor de 25 mg Cu/kg MS da dieta. A recomendação para
ovinos em crescimento feita pelo NRC (2007) foi estimada por um equação (Cu, mg/dia=
0,004*PV + 0,0137*produção de lã, kg/ano + 0,00106*PV ganho, g/dia) desenvolvida a
partir de informações do ARC (1980) e de Grace & Clark (1991).
Os caprinos são mais tolerantes ao Cu do que os ovinos. Uma explicação plausível
para esse fato é que os caprinos retêm menos Cu no fígado do que os ovinos quando
expostos a excesso de Cu (Zervas et al., 1990). Os ovinos toleram no máximo 15 mg/kg
MS na sua dieta, quando as concentrações de molibdênio (1-2 mg/kg MS) e enxofre (0,150,25%) da dieta estiver em normais.
Em pesquisa conduzida por Solaiman et al. (2004, 2006) indicaram que maiores
níveis de Cu, aumentou o ganho em peso e a eficiência de ganho e melhorou a resposta
imune de caprinos comparados aos alimentados apenas com uma dieta basal.
Grace (1994) indicou que a ingestão de solo por animais (bovinos e ovinos) em
pastejo, diminuiu a absorção de Cu, provavelmente, devido ao alto conteúdo de Fe nas
forragens e no solo.
Cobalto
O Co exigido pelos ruminantes é de fato, aquele necessário para atender as
necessidades dos microrganismos ruminais para sintetizar vitamina B12. No entanto, apenas
3 - 13% do Co ingerido é incorporado na vitamina B12. A importância do Co, também,
reside no fato deste mineral ser componente de enzimas que participam do metabolismo do
propionato (Underwood & Suttle, 1999). Cerca de 43% do Co corporal está estocado nos
músculos, e aproximadamente 14% está no osso, e o restante em outros tecidos; os rins,
fígado, pâncreas, baço e coração contêm em média 0,25; 0,15; 0,11; 0,09 e 0.06 ppm,
respectivamente (McDowell, 1992).
29
Os valores apresentados pelo ARC (1980) referentes às exigências nutricionais em
Co para ovinos, variaram de 0,08 a 0,11 mg/kg MS da dieta. Esses valores foram
semelhantes aos relatados por Haenlein (1992) que foram de 0,10 a 0,15 mg/kg MS da
dieta para caprinos. Posteriormente, Meschy (2000) sugeriu o valor de 0,10 mg/kg MS,
devido os caprinos serem menos sensíveis a deficiência de Co. O NRC (2007), face as
informações disponíveis, sugeriu o valor de 0,11 mg Co/kg MS, e manteve o valor de 0,10
a 0,20 mg Co/kg MS para ovinos.
Deficiência de Co é, portanto, deficiência de vitamina B12. Com isso, os
microrganismos do rúmen ficam incapacitados de sintetizar esta vitamina (Underwood &
Suttle, 1999).
Status mineral
Durante décadas, várias pesquisas foram conduzidas para descobrir e/ou desenvolver
medidas bioquímicas simples e acuradas para avaliar o status mineral dos animais, as quais
envolveram as análises de solo, água, planta e tecido animal (McDowell, 1992, 1997;
Underwood & Suttle, 1999). Todavia, a concentração de minerais nos tecidos ou fluídos
corporais, frequentemente são melhores indicadores do status mineral do rebanho do que
as análises realizadas nas plantas e no solo (McDowell, 1992, 1997).
Deficiência ou excesso de minerais na dieta, é mais cedo ou mais tarde, refletida em
concentrações anormais do mineral em certos tecidos e fluidos do animal. Em adição, tanto
as deficiências como a toxidez são usualmente acompanhadas por mudanças significativas
nas concentrações de enzimas, metabólitos ou compostos orgânicos com aos quais os
minerais em questão estão funcionalmente associados. Muitas destas mudanças podem ser
detectadas antes do aparecimento dos sinais clínicos de deficiência ou excesso
(Underwood & Suttle, 1999).
30
Análise do osso
Dos tecidos corporais, o osso é de fundamental importância na detecção de
irregularidades na nutrição mineral, principalmente para cálcio e fósforo, por ser um tecido
de reserva destes minerais e por permitir amostragem em animais vivos por técnicas como
biopsia (Underwood & Suttle, 1999). Estas informações têm importantes implicações
práticas, pois 99% do Ca e 80% do P presente no corpo animal estão nos ossos, de modo
que, o conteúdo de Ca e P no corpo será praticamente aquele dos ossos.
O osso é um tecido dinâmico que está em constante remodelagem e que, além de
minerais (matriz inorgânica), é composto de uma matriz orgânica, representada pela água,
colágeno, glicoproteínas e proteínas não colagenosas, lipídios, elementos vasculares e
células (Goft, 2006). Em caso de deficiência o animal tem que mobilizar suas reservas
ósseas e essa reposição depende não somente da adequação de minerais como Ca e P na
dieta, como também, da disponibilidade de proteína (Sykes & Field, 1972) e energia
(Mcmeniman & Little, 1974).
Em 1980, o ARC á luz dos dados disponíveis na época, relatou que o osso de ovinos
em crescimento apresentou em torno de 110 a 200 g de Ca; 50 a 100 g de P; 2 g de Mg; 4
g de Na e <0,05 g de K por kg de osso “in natura”. Bellof et al. (2006) encontraram valores
de 97,0 g Ca; 46,6 g P; 2,0 g Mg; 3,4 g Na e 1,0 g K por kg de osso para ovinos em
crescimento (18 - 55 kg).
O conteúdo de minerais depositados nos ossos depende de vários fatores, dentre eles
o estado nutricional do animal, a idade e a taxa de crescimento (AFRC, 1991). Ovinos da
mesma idade com crescimento mais acelerado apresentaram taxas significativamente
menores de mineralização óssea, quando comparados aos animais com crescimento mais
lento. Bellof et al. (2006) verificaram uma relação Ca:P de 2,31:1 para os animais de
31
menor ganho, enquanto que, a relação encontrada para os animais de maior ganho foi de
2,20:1.
A determinação da proteína nos ossos é de fundamental importância na identificação
de restrição alimentar. Neste caso, a reabsorção óssea, mediante degradação osteoclástica
do colágeno, reduz a matriz protéica óssea que é formada por diversas proteínas,
principalmente, colágeno (Ndiaye et al., 1992).
Vários hormônios afetam a taxa de crescimento de ossos longos, mas o hormônio do
crescimento e os hormônios sexuais (andrógenos e estrógenos) são importantes
reguladores. Em geral, o hormônio do crescimento promove alongamento dos ossos
longos, enquanto que os hormônios sexuais promovem crescimento e fechamento
epifisário (Frandson et al., 2005).
A acuidade da nutrição mineral, especialmente no caso do Ca e P, pode ser avaliada
não só com base na composição do osso, mas também através da avaliação da dimensão,
histologia e cinzas dos ossos, fornecendo estimativas mais sensíveis das necessidades dos
animais (Qian et al., 1996).
A literatura cita que há uma relação direta entre o diâmetro da diáfise e a espessura
da camada comparta (cortical) de ossos longos (Frandson et al., 2005). De modo que,
durante o crescimento, a diáfise de um osso longo aumenta seu diâmetro em resposta à
atividade da camada osteogênica do periósteo. A camada osteoblástica de células situadas
sob o periósteo continua a depositar novo osso e, com isso, há aumento na espessura da
camada cortical do osso desde que ocorra formação óssea sob o periósteo a uma velocidade
um tanto mais rápida do que a reabsorção sob o endósteo (Frandson et al., 2005).
Redução na espessura da cortical (camada compacta) tem sido verificada em bovinos
na deficiência de fósforo (Nicodemo et al., 2000). Para demonstrar o efeito de dietas
deficientes em proteína e energia sobre o crescimento e desenvolvimento dos ossos,
32
pesquisas desenvolvidas com ratos têm demonstrado prejuízos na formação óssea destes
animais. Este fato está associado à depressão na produção e ação do fator de crescimento
semelhante à insulina (IGF-I; agente anabólico ósseo), induzindo o balanço negativo ósseo
por diminuir a formação e aumentar a reabsorção (Bourrin et al., 2000a; Bonjour et al.,
2001).
Geralmente, é aceito que deficiência protéica durante o crescimento cessa a
elongação longitudinal do osso, alterando as reservas, as zonas proliferativas e
hipertróficas das placas epifisárias do osso, e reduz a massa e a densidade óssea em
amimais jovens (Le Roith et al., 1973; Leutenneger et al., 1973) citados por Bourrin et al.
(2000b).
Densitometria óssea em imagem radiográfica
A densidade mineral óssea (DMO) é uma parâmetro biofísico de grande importância
experimental e clínica, usada para a quantificação da matéria mineral óssea em
equivalência à milímetros de alumínio (mmAl), auxiliando na compreensão do processo de
mineralização óssea (Louzada et al., 1997).
A técnica de densitometria óptica em imagem radiográfica apresenta vantagens em
relação às outras técnicas por não haver necessidade de submeter o animal a um protocolo
anestésico o que a torna perfeitamente factível in vivo e de fácil execução. Em adição, é
possível a análise seqüencial de variações de massa óssea, com custo significativamente
menor que as demais metodologias, que incluem a absorção de fótons de uma energia ou
duas energias, tomografia computadorizada quantitativa, técnicas de custos elevados,
inacessíveis à maioria da população (Louzada, 1994; Prado Filho et al., 2004).
Muitos estudos têm sido conduzidos usando a técnica da densitometria óssea para
determinação de valores normais de densidade mineral óssea em cães (Robson et al.,
2006), cavalos (Vulcano et al., 2003; Prado Filho et al., 2004; Godoy et al., 2005; Vulcano
33
et al., 2006), em gatos (Vulcano et al., 2008), etc., com o intuito de avaliar de forma
eficiente a estrutura óssea e diagnosticar e prevenir possíveis lesões ósseas.
Prado Filho et al. (2004) encontraram valores médios de densidade óssea (mm Al)
para o osso acessório do carpo em potros da raça puro sangue inglês de 5,4431, 5,2872 e
5,3600 para machos, fêmeas e macho+fêmeas, respectivamente. Vulcano et al. (2003)
observaram uma relação linear entre os valores de DMO e a idade dos animais
(DMO=3,109+0,056 x idade em meses) não verificando diferença entre sexo. No entanto,
dentro do mesmo sexo, os animais jovens apresentaram DMO, em média, menor do que a
dos adultos.
Nafei et al. (2000) observaram que a idade tem correlação positiva com elasticidade,
força, densidade tecidual, densidade aparente, densidade aparente das cinzas e conteúdo
mineral ósseo, afirmando que a densidade aparente do tecido ósseo trabecular destacou-se
como o maior indicativo de suas propriedades mecânicas compressivas.
Valores médios de DMO para ovinos machos da raça Santa Inês e mestiços da raça
Santa Inês de cinco grupos etários encontrados por Zanini (2005) foram: G1 (até 1 ano) =
4,719; G2 (acima de 1 ano ) = 6,407; G3 (acima de 2 anos) = 6,222; G4 (3 anos) = 5,980;
G5 (acima de 4 anos) = 5,797 mm Al).
Com a determinação da DMO pode-se estudar variações que o osso apresente em
animais em desenvolvimento e até identificar pacientes que apresentem alterações
decorrentes de osteopenia (Oden et al., 1998).
34
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42
CAPÍTULO II
______________________________________________________
Exigências Líquidas de Macrominerais para Ganho em Peso de Caprinos Moxotó em
Pastejo no Semi-Árido Brasileiro
43
Exigências Líquidas de Macrominerais para Ganho em Peso de Caprinos Moxotó em
Pastejo no Semi-Árido Brasileiro
RESUMO
Com o objetivo de estimar as exigências líquidas de Ca, P, Mg, Na e K para ganho em
peso de caprinos em crescimento, conduziu-se um experimento com 36 cabritos da raça
Moxotó, castrados, peso vivo inicial (PVi) de 15,69 ± 0,78 kg, em condição de pastejo no
semi-árido brasileiro. Quatro animais foram abatidos no início do experimento (Animais
referência) com 15,37 ± 0,30 kg PV e o restante (n = 32) foi distribuído aleatoriamente em
quatro níveis de suplementação (grupos de tratamentos: 0, 0,5, 1,0 e 1,5% PV), de modo
que ficaram oito animais por tratamento. Quando os animais do tratamento 1,5% PV
alcançaram 25 kg PV, os animais dos outros grupos de tratamentos também foram
abatidos. Todo corpo do animal foi pesado, moído, homogeneizado e amostrado para
posteriores analises químicas. A composição corporal (g/kg peso corpo vazio, PCV) variou
de 10,80 a 11,50 g Ca; 7,86 a 8,74 g P; 0,37 a 0,42 g Mg; 1,57 a 1,61 g Na e 1,58 a 1,74 g
K, para cabritos Moxotó de15 e 25 kg PV, respectivamente. As exigências líquidas para
ganho em PCV (g/kg PV ganho) foram estimadas pela técnica do abate comparativo, as
quais variaram de 9,53 a 10,65 g Ca; 7,41 a 8,65 g P; 0,36 a 0,43 g Mg; 1,31 a 1,41 g Na e
1,47 a 1,70 g K para animais com PV variando de 15 a 25 kg, respectivamente. Em
conclusão, este estudo indicou que caprinos nativos em regime de pasto do semi-árido do
Brasil têm diferentes exigências em minerais em relação aqueles valores recomendados
pelos comitês internacionais para caprinos destinados para carne e leite.
Palavras-chave: caatinga, caprinos nativos, composição corporal, suplementação
44
Minerals requirements for growth of Moxoto goats grazing in the semi-arid region of
Brazil
ABSTRACT
The objective of this study was to determinate net requirements of Ca, P, Mg, Na and K for
growth of thirty six male Moxoto goat kids (15.69 ± 0.78 kg initial BW), grazing in the
semi-arid region of Brazil. Four kids were slaughtered at the beginning of the experiment
(baseline group, 15.37 ± 0.30 kg BW) and the remainders (n = 32) were allocated
randomly to one of the four levels of supplementation (treatments groups: 0, 0.5, 1.0 and
1.5% BW), and therefore there were eight kids per treatment. When the animals in the
1.5% BW treatment group reached 25 kg BW, the animals in the others treatments groups
were also slaughtered. The individual whole empty body was weighted, ground, mixed and
sampled for chemical analyses. The body composition (g/kg empty body weight; EBW)
ranged from 10.80 to 11.50 g Ca; 7.86 to 8.74 g P; 0.37 to 0.42 g Mg; 1.57 to 1.61 g Na
and 1.58 to 1.74 g K, for Moxoto kids at 15 and 25 kg BW. The net mineral requirements
(g/kg empty weight gain; EWG) were determinate by comparative slaughter technique
which ranged from 9.53 to 10.65 g Ca; 7.41 to 8.65 g P; 0.36 to 0.43 g Mg; 1.31 to 1.41 g
Na and 1.47 to 1.70 g K for animals with BW ranging from 15 to 25 kg. In conclusion, our
study indicated that indigenous goats grazing in the semi-arid region of Brazil have
different mineral requirements from those values recommended by international
committees for dairy and meat goats.
Keywords: body composition, caatinga, indigenous goats, supplementation
45
INTRODUÇÃO
Os minerais são imprescindíveis para os animais por participarem como
componentes estruturais dos tecidos, por atuarem nos fluidos corporais como eletrólitos
para manutenção do equilíbrio ácido-básico, da pressão osmótica e da permeabilidade das
membranas celulares (Underwood & Suttle, 1999). Deficiências de minerais são relatadas
na literatura como responsáveis por baixa produção, bem como, distúrbios reprodutivos
amplamente observados entre os ruminantes.
É notório que não é dada a devida importância a nutrição mineral dos animais,
principalmente em caprinos. Esta afirmativa é justificada pela escassez de informações
acerca deste assunto. As exigências em minerais de caprinos em todo mundo tem sido
estimadas, empiricamente, pela extrapolação dos requerimentos de bovinos e ovinos
(ARC, 1980; NRC, 1981; AFRC, 1998). Apesar das similaridades com ovinos e bovinos,
os caprinos exibem diferenças quanto ao hábito de pastejo, atividades físicas, consumo de
água, seleção de alimentos, composição do leite, composição da carcaça, desordens
metabólicas e parasitas (NRC, 1980).
As informações sobre exigências de macrominerais contidas no NRC (2007) para
caprinos foram oriundas de uma revisão feita por Meschy (2000). Este apresentou uma
revisão sobre os recentes avanços na avaliação das exigências em minerais para caprinos,
com a intenção de propor recomendações mais adequadas para a espécie em questão.
Entretanto, as recomendações apresentadas por esse autor são baseadas em ensaio de
alimentação, desenvolvidos no decorrer de vários anos. Normalmente, essas relações têm
utilização limitada, pois à medida que os animais, alimentos e quaisquer outras condições
são alterados, as relações passam a ser questionáveis.
Os estudos sobre exigências nutricionais no Brasil têm sido conduzidos em regime
de confinamento. Entretanto, seria desejável estimar as exigências em condições idênticas
46
àquelas em que o animal é explorado tradicionalmente na região em que se encontra.
Aliado a isso, faz-se necessário estudar os animais nativos ou naturalizados, os quais
caracterizam-se como animais rústicos e adaptados às condições de origem, devido ao
processo de seleção natural a que foram submetidos ao longo dos anos, além de serem
considerados, atualmente, valioso material genético (Rocha et al., 2007).
Na literatura, verifica-se que existe grande variação nos valores de composição
corporal e, consequentemente, nas exigências em minerais para caprinos em função de
diferenças entre os sistemas de produção, raças, alimentos, condições climáticas, além das
diferentes metodologias empregadas na determinação destes parâmetros. A essas
informações podem ser acrescentadas as diferenças entre espécies. Os caprinos possuem
uma maior relação óssea no corpo (AFRC, 1998) e acréscimo de cálcio corporal é mais
lento do que nos ovinos (Pfeffer & Keunecke, 1986; Pfeffer, 1989; Kessler, 1991; Pfeffer
et al., 1995). Em comparação aos ovinos e bovinos, os caprinos apresentam melhor
reciclagem de fósforo através da saliva, consequentemente, maior concentração deste
mineral na saliva (Kessler, 1991) e absorvem mais o fósforo da dieta (70-75%; Meschy,
2000).
Dentro do exposto, o presente estudo foi conduzido com o objetivo de estimar as
exigências líquidas de Ca, P, Mg, Na e K para ganho em peso de caprinos Moxotó, em
crescimento, criados em pastejo no semi-árido brasileiro.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido entre maio de 2005 e março de 2006, na Estação
Experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba,
CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB, entre as coordenadas 7o
29' 34" de latitude sul e 36o 41' 53" de longitude oeste. O clima da região é do tipo Bsh -
47
semi-árido quente, de acordo com classificação de Koopen e vegetação de caatinga (Bacia
Escola - CTRN/UFCG). Os valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínina
e média e umidade relativa do ar durante o período experimental são apresentados na
Tabela 1.
Tabela 1. Valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínima e média e
umidade relativa do ar durante o período experimental1
Precipitação
(mm)
Máxima
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
98,0
119,1
6,2
48,5
1,0
0,0
2,7
97,4
29,9
27,6
28,2
28,6
31,3
32,6
33,7
32,7
Janeiro
Fevereiro
Março
0,0
64,4
49,6
33,7
34,4
33,3
Mês
Temperatura (oC)
Mínima
2005
21,0
19,7
17,6
18,1
18,7
20,0
21,1
20,7
2006
20,8
21,9
21,6
Média
Umidade
Relativa (%)
25,4
23,7
22,9
23,4
25,0
26,3
27,4
26,7
79,7
86,5
83,0
82,4
73,7
72,3
73,2
75,8
27,3
28,2
27,5
71,7
76,5
78,4
1
Dados cedidos pela Bacia Escola do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de
Campina Grande.
Foram utilizados 36 cabritos da raça Moxotó, castrados, com peso vivo inicial médio
(PV) de 15,69 ± 0,78 kg. Quatro animais foram abatidos no início da fase experimental,
com 15,37 ± 0,30 kg PV, representando a composição corporal inicial (animais referência).
O restante dos animais (n=32) foi distribuído aleatoriamente para um dos quatro níveis de
suplementação (grupos de tratamentos: 0; 0,5; 1,0 e 1,5% PV), ficando oito animais em
cada grupo de tratamento. Quando os animais do grupo 1,5% PV alcançaram 25 kg PV, os
animais dos outros grupos foram também abatidos.
Os animais tiveram acesso à pastagem nativa das 7 ás 16 h, momento em que eram
recolhidos para um aprisco provido de baias individuais de 2,0 x 1,0 m, desprovidas de
cobertura, com piso de chão batido, para receberem a suplementação. Os animais tiveram
48
livre acesso à água e os bebedouros coletivos eram localizados no centro de manejo e o
concentrado experimental foi único para todos os tratamentos, variando apenas a
quantidade ofertada aos animais e foi fornecido uma vez ao dia, às 16 h. As sobras
existentes eram pesadas, registradas e amostradas na manhã do dia seguinte.
Na Tabela 2 está apresentada a composição química dos ingredientes do concentrado
experimental. Este foi calculado conforme recomendações do NRC (1981) para permitir
ganho de 150 g/dia para os animais de maior nível de suplementação. As quantidades dos
ingredientes e dos nutrientes do concentrado experimental estão apresentadas na Tabela 3.
Tabela 2. Composição química dos ingredientes do concentrado e da extrusa experimental
Minerais
Farelo
de milho
Farelo
de soja
Farelo
de trigo
MS
PB
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Sódio
Potássio
870,6
939,0
0,22
7,81
3,31
0,49
0,21
863,4
458,3
2,24
3,84
3,02
0,54
0,43
888,8
150,8
1,07
5,54
4,26
0,48
0,25
Farelo de Extrusa1
algodão
g/kg MS
866,8
231,0
336,0
118,7
1,18
23,45
2,89
7,42
3,71
4,58
0,42
15,27
0,24
11,30
Calcário
Suplemento
Mineral
234,85
0,74
1,64
0,40
0,08
123,74
62,55
4,63
64,39
0,15
MS=material seca; PB= proteína bruta.
1
Colheita, amostragem e análise em MS e PB foram realizada conforme Gonzaga (2007).
Para o controle do desenvolvimento ponderal e ajuste do fornecimento do
concentrado, os animais foram pesados semanalmente, antes da alimentação, em balança
com precisão de 0,1 kg. Todos os animais foram everminados antes e durante o período
experimental em intervalos de três meses.
A área experimental foi constituída de dois piquetes de aproximadamente 8 ha cada
um, com uma taxa lotação média de seis animais por hectare. A mudança de piquete foi
feita mediante observação das condições do pasto de cada piquete. O percentual de
ocorrência e a disponibilidade dos componentes botânicos analisados na área experimental,
49
durante o período de experimento, foram estimados por Gonzaga (2007), demonstrando a
predominância do capim panasco (Aristida setifolia. H.B.K.) com 45,04%, seguida pelo
marmeleiro (Croton Sonderianus Muell.Arg.) com 12,79% e outas gramíneas com 8,68%.
Os percentuais apresentado dos outros componentes foi de 4,59% pinhão roxo (Jatropha
gossypiifolia L.); 6,19% malva branca (Sida cordifolia L.); 5,16% catingueira (Caesalpina
pyramidalis Tull.); 6,88% pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart); 5,83 cactáceas; 1,46%
outras arbustivas e 3,39% outras herbáceas. A disponibilidade média foi estimada em 1350
kg de massa verde/ha.
Tabela 3. Proporção dos ingredientes e composição química do concentrado experimental
(g/kg matéria seca)
Ingrediente
Farelo de milho
Farelo de soja
Farelo de trigo
Farelo de algodão
Calcário
Suplemento mineral
Composição
Matéria seca
Proteína bruta
Energia bruta (Mcal/kg MS)
Energia digestível (Mcal/kg MS)2
Energia metabolizável (Mcal/kg MS)3
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
2
3
g/kg MS
580
270
50
50
10
40
875,85
202,55
4,30
3,83
3,14
8,14
8,50
3,34
0,27
3,05
Obtida a partir do coeficiente de digestibilidade da energia bruta
Estimada considerando 82% da energia digestível (NRC 1989)
Paralelamente ao experimento de exigências nutricionais foi conduzido um
experimento para a estimativa do consumo de matéria seca (CMS) dos animais a pasto.
Para tanto, foram utilizados oito animais canulados no esôfago com PV médio de 25,83 ±
50
4,48 kg, em delineamento quadrado latino, recebendo os mesmos níveis de suplementação
dos animais do ensaio de exigência.
A colheita da extrusa foi realizada durante oito dias consecutivos, em turnos
alternados, formando, para cada animal, quatro dias completos de colheita (4 manhãs e 4
tardes). Pela manhã, as cânulas foram retiradas e acopladas as bolsas coletoras de extrusa,
confeccionadas em couro sintético “napa” com fundo de malha de náilon para diminuir o
excesso de saliva. O período de pastejo foi de aproximadamente 40 minutos. Decorrido
esse tempo, os animais eram conduzidos novamente ao centro de manejo, para a retirada
das bolsas e colocação das cânulas, sendo então soltos nos respectivos piquetes.
Para a colheita da tarde, os animais eram retirados da pastagem 4 h antes da
amostragem, para evitar regurgitação e contaminação das amostras experimentais; em
seguida, eram feitos os mesmos procedimentos da manhã. Amostras compostas da extrusa
foram feitas levando em consideração o período e o animal.
O CMS oriundo do pasto foi estimado através da excreção total de fezes e a
digestibilidade da matéria seca dieta: CMS= [(100*Excreção fecal, kg MS/dia)/(100 –
Digestibilidade da MS da extrusa)]. A colheita total de fezes foi feita utilizando-se bolsas
coletoras acopladas aos animais, sendo as colheitas realizadas no início da manhã (7 h) e
no final da tarde (17 h). Após a homogeneização do material de cada bolsa foram retiradas
alíquotas de 20% do total excretado durante 24 h, para formação de amostras compostas
por animal e por período, as quais foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente
identificados e armazenadas a -10oC.
Após o período experimental, as amostras foram descongeladas, pesadas e secas em
estufa de ventilação forçada a 55ºC, por 72 h, e então moídas em moinho de facas com
peneiras de 1 mm. A determinação da digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi
51
realizada em rúmen artificial (DAYSE II; ANKON Technology Coorp., Fairport, NY)
baseada na metodologia descrita por Tilley & Terry et al. (1963).
Os valores de CMS (PV, kg0,75) dos animais fistulados foram então regredidos com
os níveis de suplementação (x=0; 0,5; 1,0 e 1,5%) e, a partir da equação de regressão (y=
0,0677 + 0,0086x – 0,0141x2), encontraram-se valores médio de 67,7; 68,5; 62,2 e 48,9
g/kg0,75 de PV por dia para os níveis 0; 0,5; 1,0 e 1,5%, respectivamente. Estes valores
foram então utilizados para estimar o CMS dos animais do experimento de exigências
nutricionais.
O CMS total foi igual a soma do consumo de pasto mais o consumo de concentrado e
o consumo de minerais foi estimado através da determinação da sua concentração na
extrusa e no concentrado (Tabela 2), multiplicando-os pelo CMS.
Para determinar o peso em jejum (PJ), os animais foram submetidos a jejum de
sólidos e líquidos por 16 horas. Os animais foram insensibilizados por meio de concussão
cerebral, imediatamente antes de serem abatidos através da secção das veias jugulares e das
artérias carótidas. O sangue foi colhido e pesado; o trato gastrintestinal (TGI) foi retirado e
pesado antes e após a retirada do seu conteúdo, este peso foi utilizado para determinar o
peso do corpo vazio (PCV), o qual foi obtido subtraindo-se do PJ o peso do conteúdo do
TGI (PCV= PJ – conteúdo do TGI). Todo corpo do animal foi pesado, acondicionado em
sacos plásticos e congelado, depois cortado em serra de fita, triturado em moinho tipo
Cutter (30 HP; 1775 rpm), homogeneizado e retiradas amostras representativas de
aproximadamente 800 g, as quais foram novamente congeladas para posteriores análises.
Os ingredientes da ração foram analisados para MS (AOAC, 1990; método no.
930.15), matéria mineral (AOAC, 1990; método no. 924.05) e proteína bruta (AOAC,
1990; método no. 984.13). A energia bruta (EB) foi determinada em bomba calorimétrica
adiabática de Parr; a energia digestível (ED) foi determinada a partir da EB do alimento
52
consumido (extrusa e concentrado) e das fezes; a energia metabolizável foi estimada
considerando como sendo 82% da ED (NRC, 1989).
As amostras obtidas de cada animal foram descongeladas, pré-secas em estufa com
circulação de ar, a 55oC, posteriormente, trituradas em liquidificador. Após esse
procedimento, as amostras foram desengorduradas através da extração em éter em aparelho
tipo Soxhlet (AOAC, 1990; método no. 920.39). Após a extração com éter, as amostras
foram trituradas em moinho de bola e armazenadas em recipientes fechados. Os teores de
matéria seca (engordurada) foram determinados em estufa a 105oC até peso constante; os
teores de cinzas e proteína bruta, foram determinados conforme mencionado para os
ingredientes do concentrado experimental, em amostras livre de gordura.
As análises para a determinação dos minerais nas amostras dos ingredientes do
concentrado, extrusa e para as amostras desengordurada do corpo do animal foram
efetuadas por meio da digestão ácida (Mahanti & Barnes, 1983). Para a decomposição das
amostras foi utilizado a mistura de ácido nítrico (HNO3) com ácido clorídrico (HCl) e
peróxido de hidrogênio (H2O2), obtendo-se dessa forma, a solução mineral. Desse extrato,
foram feitas diluições para a determinação dos diferentes minerais em estudo. O cálcio e o
magnésio foram determinados adicionando-se lantânio e as leituras tomadas em
espectrofotômetro de absorção atômica. Para o sódio e potássio as leituras foram realizadas
em espectrofotômetro de chama (emissão atômica). Os teores de fósforo foram
determinados por redução do complexo vanadato-molibidato em espectrofotômetro
colorimétrico.
O peso de corpo vazio inicial (PCVi) dos animais abatidos no final do experimento,
foi estimado a partir da equação de regressão desenvolvida a partir dos “animais
referência” (Equação 1). Subtraindo do PCV final o PCVi calculou-se o ganho em peso de
corpo vazio (GPCV).
53
PCVi (kg) = 0,5098 ± 25,95 + 0,5757 ± 1,68 PVi (kg)
[1]
A estimativa da composição corporal foi obtida por meio de equação alométrica
logaritimizada (Equação 2), que tem como variável dependente a quantidade do
componente (Ca, P, Mg, Na e K) presente no corpo vazio e variável independente o PCV
(Equação 2), segundo método descrito pelo ARC (1980).
Log10 (peso do componente, g) = a + b x log10 (PCV, kg)
[2]
Para a composição corporal do ganho em peso, adotou-se a técnica do abate
comparativo descrita por ARC (1980). Todos os animais, exceto aqueles do tratamento
sem suplementação que perderam peso, foram utilizados para a estimativa da composição
corporal de ganho.
Para a estimativa das exigências líquidas em macrominerais para ganho em peso de
corpo vazio, derivou-se a equação de regressão do logaritmo da quantidade do componente
presente no corpo vazio (Equação 2), em função do logaritmo do PCV (Equação 3).
y’ = b x 10a x PCV(b - 1)
[3]
Onde, y= a quantidade do macromineral por unidade de ganho de PCV (g/kg ganho);
PCV= peso corpo vazio (kg); a=intercepto da equação alométrica logaritimizada da
composição corporal; b= coeficiente de regressão da equação alométrica logaritimizada da
composição corporal.
As exigências líquidas de macrominerais para o ganho em PV foram obtidas pela
conversão do PCV em PV. Os valores de composição de ganho em peso foram divididos
pelo fator de correção gerado a partir da relação entre o PV e o PCV.
Em adição, as exigências foram calculadas, não apenas pelo método fatorial, mas
pela regressão da ingestão dos minerais contra o ganho em peso. Na Tabela 4, está
apresentado o resumo dos dados utilizados para a elaboração das equações.
54
O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos, seguindo o modelo matemático Yij= μ + ti + eij, onde: Yij = valor observado
na parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; μ= média geral da população; ti =
efeito do tratamento i; eij = erro aleatório. As análises estatísticas foram realizadas usando
o pacote estatístico SAS (1999). Os dados foram testados quanto à homogeneidade das
variâncias pelo teste de Bartlett (PROC GLM); a normalidade dos erros pelo teste de
Shapiro-Wilk (PROC UNIVARIATE), pré-requisitos necessários para a análise de
variância. O PROC MEANS foi utilizado para a obtenção das médias e desvio-padrão.
Para as análises de regressão linear, usando o modelo y= a + bX, o qual mostra o
comportamento da variável dependente y em função da variável independente x, utilizouse o PROC REG. O PROC GLM foi utilizado para a análise de desempenho e para avaliar
o efeito de tratamentos foi usado o teste de Tukey a 5% de significância.
Tabela 4 – Resumo dos dados utilizados para a predição das exigências em minerais a
partir da relação entre o consumo dos minerais e o ganho de peso
Variável
n
Média
Desvio-Padrão
Mínimo
Máximo
PV médio
31
22,14
3,67
15,35
27,20
GPD (g/dia)
31
43,21
25,27
-0,29
93,41
GPD (g/kg PV0,75)
31
4,62
2,56
-0,04
9,54
Cálcio
31
14,33
1,03
12,57
16,14
Fósforo
31
5,46
0,81
4,01
6,51
Magnésio
31
3,07
0,34
2,44
3,61
Sódio
31
8,80
0,49
7,63
9,78
Potássio
31
6,35
0,72
5,11
7,44
Ingestão (g/dia)
55
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A suplementação alimentar influenciou positivamente (P<0,0001) o desempenho dos
animais, proporcionando maior aporte nutricional e, por conseguinte, maior ganho em peso
(Tabela 5). Embora, no decorrer do experimento tenha sido constatada a morte de um dos
animais que não recebia suplementação, os demais animais que não foram suplementados
apresentaram um aumento de 14,35% no peso vivo final (Tabela 5).
Tabela 5. Desempenho e composição corporal de cabritos Moxotó em pastejo no semiárido brasileiro submetidos a níveis de suplementação
Variável
AR
n
PE (dias)
PVi (kg)
PVf (kg)
PJ (kg)
PCV (kg)
GPV (g/dia)
GPCV (g/dia)
CMS (g/d)
CMS (%PV)
CMS (g/kg0,75)
4
15,38
15,38
13,91
11,15
-
Gordura
Proteína
Água
MM
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
6,81
15,44
70,96
4,53
1,06
0,77
0,034
0,16
0,16
Nível de suplementação (% PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
7
8
8
8
150
150
150
150
15,76
15,73
15,71
15,73
18,40
21,04
22,94
25,69
16,82
19,44
21,25
23,42
13,09
15,58
17,69
19,72
15,74
34,29
49,56
69,83
10,49
27,09
43,16
58,57
569,67 703,73 772,34 789,80
3,33
3,79
3,97
3,79
67,91
79,53
84,13
81,80
%PCV
7,50
9,62
10,74
14,53
15,47
16,25
16,52
16,96
70,53
67,42
65,56
63,19
4,54
4,50
4,60
4,45
1,11
1,10
1,13
1,17
0,78
0,82
0,87
0,87
0,038
0,039
0,043
0,041
0,15
0,16
0,17
0,18
0,16
0,16
0,16
0,16
SEM
0,68
0,59
0,56
4,54
3,88
16,83
0,04
1,11
Efeito
L
Q
<0,0001
0,95
<0,0001
0,79
<0,0001
0,76
<0,0001
0,88
<0,0001
0,89
<0,0001
0,0004
<0,0001 <0,0001
<0,0001 <0,0001
0,67
0,22
0,75
0,08
0,02
0,01
0,001
0,001
0,002
<0,0001
0,02
0,0002
0,85
0,36
0,03
0,16
0,002
0,52
0,42
0,68
0,76
0,77
0,63
0,65
0,09
0,95
0,98
AR= animais referência; N= número de animais; PE= período experimental; PVi= peso vivo inicial;
PVf=peso vivo final; PJ= peso em jejum; PCV= peso de corpo vazio; MM= matéria mineral; GPV=ganho de
peso vivo; GPCV=ganho de peso de corpo vazio; d=dias; SEM= erro padrão médio; L=linear; Q=quadrático
Os diferentes níveis de suplementação influenciaram a composição corporal dos
animais (Tabela 5). Observou-se, portanto, efeito linear positivo para as proporções
(%PCV) de gordura, proteína, fósforo (P) e potássio (K), enquanto que as proporções de
água no corpo vazio diminuíram linearmente, em resposta aos níveis crescentes de
56
suplementação (Tabela 5). Todavia, as proporções de matéria mineral (MM), cálcio (Ca),
magnésio (Mg) e sódio (Na) não foram influenciados pela suplementação alimentar
(P>0,05; Tabela 5).
A gordura é um constituinte corporal que está diretamente relacionado com a idade e
com o peso do animal, de modo que à medida que aumenta o peso de corpo vazio e a
maturidade fisiológica se aproxima, diminui a deposição de tecido muscular e aumenta a
de gordura (Sanz Sampelayo et al., 1990; Mahgoub & Lu, 1998; Sanz Sampelayo et al.,
2003). No presente estudo, a idade não foi um fator discriminante para a composição
corporal entre os animais, pois os mesmos estavam aproximadamente com a mesma idade
quando foram abatidos (12 a 13 meses), diferindo apenas no peso vivo de abate. Com isso,
acredita-se que a suplementação alimentar forneceu maior quantidade de nutrientes
disponíveis para a deposição de gordura e proteína.
Embora a proporção de proteína (%PCV; Tabela 5) tenha aumentado linearmente
com o nível de suplementação, baseando-se na idade em que os animais se encontravam
nesta pesquisa, na baixa variação nas proporções de proteína e no aumento na proporção de
gordura no corpo vazio, pressupõe que esses animais tenham ultrapassado a fase de
ascensão da curva de crescimento, o que pode ser reforçado pela constância nos valores de
MM, Ca, Mg e Na, mesmo que os teores de P e K tenham aumentado com o aumento do
peso dos animais (Tabela 5).
Em virtude do aumento linear da proporção de gordura corporal, houve um
decréscimo no teor de água no corpo dos animais (Tabela 5), confirmando existir uma
relação inversamente proporcional entre esses dois constituintes corporais (McCraken,
1986; Walker, 1986).
As concentrações de MM, Ca, Mg e Na não foram influenciadas pela suplementação
alimentar (Tabela 5). Este fato deve ser considerado com cautela, pois o aumento do nível
57
de suplementação acarretou em aumento do peso corporal, o qual tem sido apontado como
um dos principais fatores discriminantes na composição corporal (Mahgoub & Lu, 1998;
Ferreira, 2003; Teixeira, 2004; Fernandes et al., 2007). Dessa forma, com o objetivo de
verificar o efeito do nível de suplementação sobre a composição corporal, tentando isolar o
efeito do peso corporal, foi feita uma análise da composição corporal em minerais com
base no peso metabólico (g/kg0,75 PCV; Tabela 6). Observou-se, então, efeito linear positivo
para os teores de Ca, P, Mg, Na e K em resposta ao aumento do nível de suplementação
alimentar. Esse comportamento, talvez tenha sido reflexo do maior ganho em peso, o que
acarretou em maior desenvolvimento corporal dos animais alimentados com os níveis
crescentes de suplementação.
Tabela 6. Composição corporal em macrominerias de cabritos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro submetidos a níveis de suplementação
Variável
AR
PCV (kg)
11,15
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
19,36
14,11
0,63
2,94
2,87
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
1,16
0,85
0,038
0,18
0,17
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
23,67
17,27
0,78
3,60
3,52
Nível de suplementação (%PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
13,09
15,58
17,69
19,72
g/kg0,75 PCV
22,23
24,36
26,98
29,71
15,74
18,06
20,77
22,19
0,75
0,86
1,03
1,04
3,15
3,65
3,98
4,47
3,18
3,53
3,73
4,16
%PCV desengordurado
1,23
1,25
1,30
1,38
0,87
0,93
1,01
1,03
0,042
0,044
0,050
0,047
0,17
0,19
0,19
0,21
0,17
0,18
0,18
0,19
%Matéria Mineral
24,62
24,73
24,70
26,23
17,46
18,29
19,03
19,57
0,84
0,87
0,94
0,92
3,49
3,70
3,67
3,97
3,53
3,58
3,45
3,68
SEM
0,56
Efeito
L
Q
<0,0001
0,76
0,83
0,64
0,03
0,12
0,10
0,0005
<0,0001
<0,0001
0,0003
<0,0001
0,83
0,65
0,31
0,81
0,98
0,03
0,02
0,001
0,003
0,003
0,06
0,003
0,004
0,0002
0,02
0,67
0,63
0,24
0,88
0,45
0,50
0,34
0,02
0,09
0,08
0,31
0,03
0,04
0,09
0,67
0,49
0,83
0,37
0,80
0,56
AR=animais referência; PV=peso vivo; PCV=peso de corpo vazio; SEM= erro padrão médio; L=linear;
Q=quadrático
58
Um dos fatores que interfere a composição corporal em minerais é a proporção de
gordura no corpo. A gordura contém quantidades negligenciáveis de minerais, de modo
que, à medida que aumenta a sua deposição ocorre um efeito de diluição. Sendo assim, em
valores absolutos, a proporção dos minerais no corpo desengordurado é maior e aumentou
linearmente com o aumento da suplementação alimentar (Tabela 5).
A distribuição dos minerais no corpo não é uniforme. Alguns tecidos e órgãos
apresentam especificidade na deposição dos minerais, de acordo com a função que eles
exercem no organismo. A porcentagem de matéria mineral (%PCV; Tabela 5) e a
quantidade dos macrominerais como porcentagem da MM (%MM; Tabela 6) não foram
influenciadas pelo nível de suplementação (P>0,05), exceto os teores de P e Mg. Portanto,
a MM representou em média 4,5% do PCV, sendo a maior fração representada pelo Ca
(24,79% da MM), seguida do P (18,32% da MM), Mg (0,87% da MM), Na (3,55% da
MM) e K (3,68% da MM). Esses achados estão de acordo com a literatura (McDowell,
1992; Underwood & Suttle, 1999).
McDowell (1992) relatou que os principais ânions e cátions (Ca, P, Mg, Na, K, Cl e
S) representam 3,5% do peso corporal dos animais, 1,0% inferior ao verificado nesse
trabalho, sem contar com o Cl e S. Resultados semelhantes foram verificados por Medeiros
(2001) trabalhando com animais Saanen de 5 a 20 kg de PV (4,8% de MM). Por outro
lado, Fernandes et al. (2007), em estudo com animais ¾ Boer x ¼ Saanen (20 a 35 kg PV)
não castrados, encontraram em média 3,42% de MM. Em estudo com animais confinados
da raça Moxotó, não castrados, com PV variando de 15 a 25 kg, Alves et al. (2008a)
encontraram em média 4,5% de MM no corpo destes animais. Esses resultados evidenciam
diferenças na composição corporal em minerais em virtude de diversos fatores, a citar os
diferentes genótipos utilizados nas distintas pesquisas, a idade dos animais, manejo
alimentar, condições climáticas e metodológicas em que foram desenvolvidas as pesquisas.
59
Na Tabela 7, estão apresentadas as equações de regressão para a estimativa do PCV
em função do peso em jejum (PJ) e do logaritmo dos conteúdos de Ca, P, Mg, K e Na no
corpo vazio, em função do logaritmo do PCV. As equações foram obtidas a partir dos
dados de composição corporal. Observa-se que as equações foram altamente significativas
(P<0,0001), com coeficientes de determinação (R2) elevados, indicando bom ajuste das
equações com baixa dispersão dos dados em torno da linha de regressão.
Tabela 7. Equações de regressão para estimar a composição corporal de caprinos Moxotó
em pastejo no semi-árido brasileiro
Variável
PCV (kg)
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
Equação Alométrica
PCV = -1,6334 ± 0,53 + 0,9017 ± 0,02 x PJ
g/kg PCV
Log Ca = 0,9132 ± 0,11 + 1,1117 ± 0,09 x log PCV
Log P = 0,6944 ± 0,10 + 1,1871 ± 0,08 x log PCV
Log Mg = -0,6717 ± 0,12 + 1,2245 ± 0,09 x log PCV
Log K = 0,0161 ± 0,06 + 1,1709 ± 0,05 x log PCV
Log Na = 0,1382 ± 0,08 + 1,0525 ± 0,07 x log PCV
R2
0,97
RMSE
0,50
P
<0,0001
0,82
0,87
0,85
0,94
0,89
0,04
0,04
0,05
0,02
0,03
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
PCV= peso de corpo vazio; PJ=peso em jejum; MM= matéria mineral; RMSE= raiz quadrada do quadrado
médio do erro; P=probabilidade.
A partir das equações listadas na Tabela 7, estimou-se a composição em Ca, P, Mg,
K e Na (g/kg PCV) no corpo vazio de cabritos Moxotó em função do PCV (Tabela 8).
Tabela 8. Composição corporal (g/kg PCV) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido
brasileiro estimada pelas equações da Tabela 7
Variável
PCV (kg)
15
11,89
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
10,80
7,86
0,37
1,58
1,57
PV (kg)
20
16,40
g/kg PCV
11,19
8,35
0,40
1,67
1,59
25
20,91
11,50
8,74
0,42
1,74
1,61
Os resultados indicam que o conteúdo corporal de todos os macrominerais estudados
(g/kg de PCV; Tabela 8), aumentou com o aumento do peso corporal. Estes resultados são
60
suportados pela análise da densidade mineral óssea (DMO) realizada no fêmur destes
animais (Figura 1; Capitulo 4), verificando, portanto, aumento linear dos valores de DMO
com o aumento do peso corporal dos animais em resposta aos níveis de suplementação. Em
adição, foi verificada correlação positiva e significativa entre o PV e os valores de DMO
(Tabela 7; Capitulo 4).
O comportamento verificado na Tabela 8 difere do que é frequentemente encontrado
na literatura (Sousa et al., 1998b; Ferreira, 2003; Teixeira, 2004). Normalmente, observase que à medida que o animal aumenta de peso corporal, há um decréscimo da participação
do tecido ósseo no corpo vazio, seguido de concomitante acréscimo do tecido adiposo.
Como o tecido ósseo é o que apresenta maiores teores de minerais, principalmente Ca, P e
Mg e a gordura não apresenta quantidades significativas destes minerais, é esperado
decréscimo dos minerais com o aumento do peso corporal e da idade.
Os estudos conduzidos para a determinação das exigências nutricionais de caprinos
utilizam de metodologias que possibilitam avaliar o padrão de crescimento animal, para
isso, são abatidos animais em diferentes idades e pesos. Nesta pesquisa, os animais
apresentavam aproximadamente a mesma idade (12 a 13 meses), variando apenas o peso
de abate. Portanto, em virtude da escassez de pesquisa em condições semelhantes às do
presente trabalho, as comparações dos resultados são dificultadas.
Os animais apresentaram elevada quantidade de mineral depositada no corpo vazio
(4,5% MM; Tabela 5), quando comparados com os resultados de outros trabalhos
realizados com caprinos (Teixeira, 2004; Fernandes et al., 2007). Esse comportamento,
possivelmente, esteja associado ao fato dos animais Moxotó apresentarem em sua
constituição corporal, elevada proporção de ossos em relação a proporção de tecido
muscular quando comparado a animais de outros genótipos. Estes resultados são
61
suportados mediante avaliação tecidual da perna dos animais utilizados nesta pesquisa
(Tabela 9).
Efeito quadrático foi verificado para a proporção de músculo, aumento linear para a
proporção de gordura e decréscimo linear para a proporção de osso, à medida que
aumentou o peso da perna, em resposta ao aumento do nível de suplementação (Tabela 9).
Os resultados mostram aumento linear da massa muscular em relação ao tecido ósseo
(M:O) à medida que aumentou o peso da perna, enquanto para as relações músculo:gordura
(M:G) e osso:gordura (O:G) o efeito foi linear decrescente (Tabela 9).
De maneira geral, os cabritos Moxotó apresentaram menor proporção de músculo na
perna, maior proporção de osso, similar proporção de gordura e menor relação
músculo:osso (M:O) em comparação aos cabritos F1 Boer x Saanen estudados por Pereira
Filho et al. (2008), considerando semelhantes pesos da perna entre os genótipos.
Tabela 9. Composição tecidual e relações músculo:osso (M:O), músculo:gordura (M:G) e
osso:gordura (O:G) da perna de cabritos Moxotó em pastejo no semi-árido
brasileiro submetidos a níveis de suplementação
Variável
PCV (kg)
Peso da perna (g)1
Músculo (g/100g)
Osso (g/100g)
Gordura (g/100g)
Relação (g/g)
M:O
M:G
O:G
AR
11,15
860
64,57
19,96
3,77
Nível de suplementação (% PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
13,09
15,58
17,69
19,72
1004
1300
1394
1645
62,07
65,12
63,26
61,58
23,40
21,57
19,59
18,70
3,84
4,25
6,35
8,15
0,56
57,36
0,46
0,54
0,52
3,36
21,06
6,09
2,69
15,27
5,48
0,08
1,21
0,60
3,08
17,34
7,02
3,25
10,68
3,31
3,31
8,31
2,56
SEM
Efeito
L
Q
<0,0001 0,76
<0,0001 0,78
0,37
0,007
0,0005
0,43
0,0006
0,61
0,004
0,009
0,02
0,28
0,30
0,29
1
Peso da perna obtido pela reconstituição dos tecidos dissecados; AR=animais referência; PV=peso vivo;
PCV=peso de corpo vazio; SEM= erro padrão médio; L=linear; Q=quadrático
Durante a dissecação da perna, os tecidos não identificados como músculo, osso ou
gordura foram classificados como outros tecidos e incluídos na recomposição do peso da
perna, no entanto, não foram avaliados, razão pela qual a totalização dos percentuais de
músculo, osso e gordura não atingiu 100% (Tabela 9).
62
Assim como os animais Moxotó, os animais de origem leiteira são descarnados,
possuindo elevada proporção de ossos no corpo, consequentemente, maior quantidade de
minerais, principalmente Ca, P e Mg depositada no corpo. Essas observações encontram
respaldo nos achados de Oliveira (2007) que verificou variações de 9,91 e 10,85 g Ca, 8,75
e 8,99 g P e 0,78 e 0,65 g Mg/kg PCV, com animais Saanen com PV variando de 5 a 20 kg,
respectivamente. Ferreira (2003) com cabritos Saanen, castrados, com peso vivo variando
de 20 a 35 kg, encontraram os valores de 14,99 e 9,19 g Ca, 10,44 e 7,35 g P e 0,94 e 0,77
g Mg/kg PCV, respectivamente. Todavia, para animais F1 Boer x Saanen, não castrados,
com peso vivo variando de 15 a 25 kg, Teixeira (2004) relatou decréscimo de 10,47 a
10,06 g Ca, 7,08 a 6,66 g P e 0,38 a 0,41 g Mg/kg PCV, respectivamente. Essas
comparações, embora necessárias, devem ser consideradas com cautela. Muito das
divergências verificadas entre os resultados mencionados acima e os visto neste estudo,
podem ser atribuídas a diferentes genótipos, diferentes idade entre os animais, sobretudo, a
diferentes metodologias experimentais utilizadas.
O Ca e o P são estudados em conjunto, pois estão intimamente associados no
metabolismo e ocorrem combinados no organismo na maioria das vezes, e o excesso de um
ou de outro na ração é limitante na disponibilidade de ambos. Além do envolvimento em
muitos sistemas enzimáticos, são também essenciais para a formação do tecido ósseo, daí a
relação Ca:P ser de grande importância. Dessa forma, o AFRC (1991) relatou que a relação
Ca:P é de 2,1 e 1,2 nos ossos e tecidos moles, respectivamente. A relação Ca:P média
encontrada nesse trabalho foi de 1,34, estando abaixo do valor relatado por aquele comitê,
bem como, da relação Ca:P de 1,5 encontrada por Resende (1989) e Teixeira (2004). As
concentrações de Ca e P, verificada nesta pesquisa, foram elevadas e aumentaram na
mesma proporção que o peso corporal, por isso, a baixa relação Ca:P.
63
O Mg é um elemento abundante no corpo do animal, estando cerca de 70%
localizado nos ossos, 29% dentro das células e 1% no fluido extracelular. As concentrações
de Mg variaram de 0,37 a 0,42 g/kg PCV para os animais com 15 e 25 kg PV,
respectivamente (Tabela 8). Resultados semelhantes aos preconizados para ovinos pelo
ARC (1980) e adotado pelo AFRC (1998) para caprinos (0,41 g Mg/kg PCV). Nas
pesquisas conduzidas com caprinos no Brasil, as concentrações de Mg (g/kg PCV) tem
apresentado variação de 0,39 a 0,41 (Resende 1989); 0,94 a 0,77 (Ferreira, 2003); 0,38 a
0,41 (Teixeira, 2004); 0,27 a 0,29 (Fernandes, 2006) e 0,78 a 0,65 (Oliveira, 2007). Sendo
as maiores concentrações verificadas para animais Saanen (Ferreira, 2003; Oliveira, 2007),
por serem animais que apresentam elevada proporção de ossos no corpo (Yáñez, 2002;
Pereira Filho et al., 2008).
As concentrações de K e Na aumentaram em 9,19 e 2,5%, respectivamente, quando
peso corporal aumentou de 15 para 25 kg. O K é o terceiro mineral mais abundante no
corpo animal, estando ⅔ localizado na pele e músculos (McDowell, 1992), sendo estes
últimos responsáveis pela maior fração (Underwood & Sutlle, 1999). Isso sugere que
animais com maior proporção de tecido muscular apresentem maior quantidade de K
depositado no corpo. Estas informações encontram respaldo nos dados obtidos por Teixeira
(2004) que observaram variação de 2,27 e 1,88 g K/kg PCV, respectivamente, para animais
F1 Boer x Saanen, com 15 e 25 kg PV. Como os animas deste estudo são animais que
apresentam elevada proporção de ossos no corpo, os resultados foram inferiores ao
reportado por aquele autor.
Assim como o K, o Na está presente principalmente nos tecidos moles e fluidos
corporais, inclusive, esses minerais são estudados juntos por apresentar papel vital na
manutenção da pressão osmótica e balanço ácido-basico (McDowell, 1992; Underwood &
Sutlle, 1999). As concentrações de Na verificadas neste estudo (Tabela 8) foram superiores
64
as encontradas por outros autores trabalhando com caprinos no Brasil (Resende, 1989;
Ferreira, 2003; Teixeira, 2004; Fernandes, 2006; Oliveira, 2007).
A transpiração representa a maior via de perda de Na e K, para a maioria das
espécies. Desta forma, sob condições tropicais ou semi-áridas, as quais permitem grandes
perdas de água e sais através do suor, as exigências em Na e K podem ser aumentadas. No
entanto, o grau de variação dessas exigências depende da capacidade de sudorese das
várias espécies e do nível de atividade de cada animal (McDowell, 1992). Com a
transpiração, a água se evapora, mas ocorre acúmulo destes minerais sob a pele (Morris,
1980). Como a pele é moída com os demais componentes do corpo, as concentrações de
Na e K podem ser aumentadas. Estas informações suportam os achados neste estudo,
principalmente para Na (Tabela 8).
Ao derivar as equações de regressão do logaritmo do conteúdo corporal para Ca, P,
Mg, K e Na, em função do logaritmo do PCV, obteve-se as equações de predição desses
nutrientes por kg de ganho em peso de corpo vazio (GPCV; Tabela 10). Em seguida,
determinou-se a quantidade dos nutrientes depositada (g/kg GPCV) nas diferentes faixas
de peso (Tabela 10).
Tabela 10. Equações para predição da exigência líquida de minerais para ganho em peso
de corpo vazio (GPCV) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido
brasileiro
Variável
PCV (kg)
15
11,89
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
12,00
9,34
0,45
1,86
1,65
PV (kg)
20
16,40
g/kg GPCV
12,44
9,91
0,49
1,96
1,68
Equação
25
20,91
12,78
10,38
0,52
2,04
1,70
Ca= 9,1025 x PCV0,1117
P= 5,8737 x PCV0,1871
Mg= 0,2607 x PCV0,2245
K= 1,2151 x PCV0,1709
Na= 1,4468 x PCV0,0524
A deposição dos minerais no ganho (g/kg GPCV; Tabela 10) seguiu o mesmo
comportamento da concentração no corpo vazio (g/kg PCV; Tabela 8). Aumentos na
65
ordem de 6,1, 10,0, 13,5, 9,0 e 3,0%, respectivamente, para Ca, P, Mg, K e Na foram
verificados quando o peso vivo aumentou de 15 para 25 kg (Tabela 10).
A composição corporal não é constante. Os tecidos ósseo, muscular e adiposo, não
aumentam na mesma proporção (Yáñez, 2002; Lawrence & Fowler, 2002; Pereira Filho et
al., 2008). Desta forma, as exigências líquidas de minerais não poderiam ser constantes
uma vez que estão altamente relacionados com a composição corporal. Com isso,
evidencia-se que o conhecimento das modificações que ocorrem durante o período de
crescimento tem importantes implicações práticas, nos estudos de nutrição para avaliar
alimentos, crescimento animal e exigências nutricionais.
Os conteúdos de macrominerais por ganho de PCV (Tabela 10) correspondem as
respectivas exigências liquidas para ganho de 1 kg de PCV. Os dados de composição de
ganho em peso foram divididos pelo fator de correção gerado a partir da relação entre o PV
e o PCV para a obtenção das exigências liquidas por quilograma de ganho de PV. Na
tentativa de isolar a influência da diferença de tamanho entre os TGI dos animais dos
diferentes pesos, utilizou um fator de correção para cada peso, sendo 1,26, 1,22 e 1,20,
respectivamente para 15, 20 e 25 kg PV (Tabela 11).
A exigência liquida para ganho em peso dos animais deste estudo variou de 9,53 a
10,65 g de Ca; 7,41 a 8,65 g de P; 0,36 a 0,43 g de Mg; 1,31 a 1,41 g de Na e 1,47 a 1,70 g
de K/kg PV ganho. As recomendações feitas pelo NRC (2007) foram de 9,4 g Ca; 6,5 g P;
0,40 g Mg; 1,6 g Na e de 2,4 g K/kg PV ganho. Exceto para os valores de Na e K, os
valores neste estudo encontram-se superiores aos preconizados pelo NRC (2007). Estas
diferenças,
possivelmente,
possam
ser
justificadas
experimentais pelas quais esses dados foram gerados.
pelas
diferentes
condições
66
Tabela 11. Exigência líquida de macrominerais (mg/dia) para ganho em peso vivo de
caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro
Peso Vivo
(kg)
15
GPD
(g)
50
100
Cálcio
476
953
Exigências líquidas (mg/dia)
Fósforo
Magnésio
Sódio
370
18
65
741
36
131
20
50
100
510
1020
406
813
20
40
69
137
80
161
25
50
100
533
1065
432
865
22
43
71
141
85
170
Potássio
74
147
Ao avaliar os trabalhos realizados no Brasil, verifica-se que, embora já disponha de
alguns resultados sobre exigências nutricionais de minerais para caprinos, os resultados são
com animais de diferentes genótipos, em diferentes fases de crescimento e em condições
experimentais distintas. Essas condições fazem com que seja verificada elevada
variabilidade entre os resultados, sendo as maiores diferenças vistas em animais pesando
acima de 25 kg PV (Sousa et al., 1998b; Ferreira, 2003; Fernandes, 2006).
As exigências variam de acordo com o PV e com a taxa de ganho em PV. Os animais
submetidos ao maior nível de suplementação (1,5%; abatidos com 25 kg PV) apresentaram
durante o período experimental um ganho em peso médio de 70 g/dia (Tabela 5). Portanto,
conforme dados obtidos neste estudo para esses animais as exigências liquidas seriam de
746; 605; 30; 99 e 119 mg/animal/dia para Ca, P, Mg, Na e K, respectivamente.
Considerando a mesma faixa de peso vivo (15 a 25 kg PV) e um ganho em peso de
100 g/dia, os valores encontrados neste estudo foram superiores aos verificados com
animais F1 Boer x Saanen (Teixeira, 2004). Os possíveis fatores responsáveis por estas
diferenças são as modificações que ocorrem na composição corporal de ganho de acordo
com a raça, condições ambientais, período experimental e ganho em peso, dentre outros
fatores, já mencionados anteriormente.
67
Mudanças na quantidade de mineral retida no corpo em função da variação do peso e
da dieta é uma técnica necessária para se estimar as exigências liquidas dos animais. No
entanto, a composição corporal não é frequentemente mensurada, em parte, devido aos
altos custos e trabalho associados com o abate e a determinação da composição química do
corpo (Sahlu et al., 2004). Com base nisso, alguns autores tem calculado as exigências
nutricionais, principalmente para proteína e energia, não pelo método fatorial, mas pela
regressão da ingestão de proteína e/ou energia contra o ganho em peso (Luo et al., 2004c,d;
Fernandes et al., 2007).
O consumo de minerais (g/dia) pelos cabritos seguiu o mesmo comportamento visto
para o consumo de MS (Tabela 5), enquanto que, a quantidade de mineral ingerida por
quilograma de MS da dieta é reduzida com o aumento do nível de suplementação, exceto
para o consumo de P (Tabela 12).
Tabela 12. Estimativa do consumo de macrominerais por caprinos Moxotó em pastejo no
semi-árido brasileiro
Variável
Cálcio (g/dia)
Cálcio (g/kg MS)
Fósforo (g/dia)
Fósforo (g/kg MS)
Magnésio (g/dia)
Magnésio (g/kg MS)
Sódio (g/dia)
Sódio (g/kg MS)
Potássio (g/dia)
Potássio (g/kg MS)
Nível de suplementação (% PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
13,21
14,88
15,08
14,02
23,20
21,15
19,48
17,64
4,22
5,37
5,87
6,24
7,40
7,63
7,60
7,89
2,56
3,12
3,36
3,19
4,50
4,43
4,35
4,04
9,06
9,02
8,49
8,66
15,90
12,83
11,00
10,91
6,26
6,81
6,96
5,36
11,0
9,68
8,98
6,71
SEM
0,18
0,38
0,14
0,03
0,06
0,03
0,09
0,36
0,13
0,28
Efeito
L
0,04
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
0,03
<0,0001
<0,0001
<0,0001
Q
<0,0001
0,001
0,002
<0,0001
<0,0001
<0,0001
0,54
<0,0001
<0,0001
<0,0001
As equações de regressão geradas a partir da relação entre o consumo de minerais e
o ganho peso dos animais deste experimento, apresentaram baixos ajustes, no entanto,
foram altamente significativas, exceto para os valores de Na e K (Tabela 13). Nesse caso, o
modelo quadrático também foi testado para Na e K, no entanto, não foi significativo.
68
Tabela 13. Relação entre o consumo de minerais (g/dia) e o ganho em peso diário (GPD;
g/dia) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro
Equação
R2
RMSE
P
Ca (g/dia) = 13,4087 ± 0,32 + 0,0214 ± 0,006 x GPD
0,27
0,89
0,002
P (g/dia) = 4,2345 ± 0,14 + 0,0284 ± 0,003 x GPD
0,79
0,38
<0,0001
Mg (g/dia) = 2,6348 ± 0,08 + 0,0102 ± 0,001 x GPD
0,58
0,22
<0,0001
Na (g/dia) = 8,7021 ± 0,17 + 0,0023 ± 0,003 x GPD
0,01
0,49
0,53
K (g/dia) = 6,5493 ± 0,26 - 0,0045 ± 0,005 x GPD
0,025
0,72
0,39
De acordo com as equações de regressão as exigências dietéticas para mantença
(g/dia) e ganho em peso (mg/g GPD) foram de 13,41 e 21,4; 4,23 e 28,4; 2,63 e 10,2 e 8,70 e
2,3 para Ca, P, Mg e Na, respectivamente. O comportamento da regressão para os valores de K
(g/dia) foi decrescente, sendo a exigência dietética de mantença de 6,55 g/dia, enquanto que, para
cada grama de peso vivo ganho, um decréscimo de 4,5 mg de K (Tabela 13). Comportamento
contrário ao observado para a exigência liquida apresentadas na Tabela 10.
Esse tipo de abordagem é uma inovação, considerada atualmente, apenas para as
exigências de proteína e energia (Luo et al., 2004c,d; Fernandes et al., 2007), sobretudo
para animais em confinamento. É importante considerar a influência da ingestão de MS na
ingestão de minerais. Métodos acurados de estimativas de consumo por animais em
condição de pastejo no semi-árido, ainda são incipientes. Em se tratando de consumo de
minerais, a contaminação da extrusa com saliva, ainda é um problema. Portanto,
imprecisões na estimativa de consumo, talvez possam explicar o baixo ajuste das equações
e a falta de significância para algumas das equações neste estudo. Em adição, as exigências
dietéticas devem ser vistas com cautela, uma vez que estas são específicas para as condições
alimentares a que foram determinadas.
A presente pesquisa foi a primeira a mostrar informações sobre composição corporal
e exigências nutricionais de minerais de caprinos nativos, criados em sistema tradicional de
manejo no Nordeste do Brasil, tornando-se difícil a comparação destes resultados, com
69
animais criados nas mesmas condições. Diante da escassez de resultados, os valores aqui
recomendados devem ser considerados como uma sugestão para a formulação de rações
e/ou suplementos para cabritos da raça Moxotó criados em regime de pasto no semi-árido
brasileiro.
CONCLUSÕES
As exigências líquidas de macrominerais por quilograma de peso vivo ganho
variaram de 9,53 a 10,65 g de Ca; 7,41 a 8,65 g de P; 0,36 a 0,43 g de Mg; 1,31 a 1,41 g de
Na e 1,47 a 1,70 g de K para Caprinos Moxotó dos 15 aos 25 kg de peso vivo, criados em
pastejo no semi-árido brasileiro.
Este estudo indicou que caprinos nativos em regime de pasto do semi-árido do
Brasil têm diferentes exigências em minerais em relação aqueles valores recomendados
pelos comitês internacionais para caprinos destinados para carne e leite.
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73
CAPÍTULO III
______________________________________________________
Exigências Líquidas de Microminerais para Ganho em Peso de Caprinos Moxotó em
Pastejo no Semi-Árido Brasileiro
74
Exigências Líquidas de Microminerais para Ganho em Peso de Caprinos Moxotó em
Pastejo no Semi-Árido Brasileiro
RESUMO
Com o objetivo de estimar as exigências líquidas de Cu, Zn, Mn, Fe e Co para ganho em
peso de caprinos em crescimento, conduziu-se um experimento com 36 cabritos da raça
Moxotó, castrados, com peso vivo inicial (PVi), de 15,69 ± 0,78 kg, em condição de
pastejo no semi-árido brasileiro. Quatro animais foram abatidos no início do experimento
(animais referência; 15,37 ± 0,30 kg PV) e o restante (n=32) foi distribuído aleatoriamente
para um dos quatro níveis de suplementação (grupos de tratamentos: 0; 0,5; 1,0 e 1,5%
PV), com oito animais por tratamento. Quando os animais do grupo de tratamento 1,5%
PV de suplementação alcançaram 25 kg PV, os animais dos outros grupos de tratamentos
também foram abatidos. Todo corpo do animal foi pesado, moído, misturado e amostrado
para posteriores analises químicas. A composição corporal (mg/kg PCV) variou de 23,68 a
27,81 mg Zn; 35,70 a 47,29 mg Fe; 0,86 a 1,09 mg Mn; 1,45 a 1,75 mg Cu e 0,83 a 0,87
mg Co, para cabritos Moxotó de 15 e 25 kg PV, respectivamente. As exigências líquidas
para ganho em PCV (mg/kg PCV ganho) foram estimadas pelo método do abate
comparativo as quais variam de 30,43 a 35,74 mg Zn; 53,48 a 70,84 mg Fe; 1,22 a 1,54
mg Mn; 1,93 a 2,32 mg Cu e 0,91 a 0,95 mg Co para os animais com PV variando de 15 a
25 kg, respectivamente. As exigências líquidas em microminerais estimadas nessa pesquisa
foram diferentes das recomendações feitas pelos comitês internacionais.
Palavras-chave: Caatinga, caprinos nativos, composição corporal, elementos traços
75
Mineral trace requirements for growth of Moxoto goats grazing in the semi-arid
region of Brazil
ABSTRACT
The objective of this study was to determinate net requirements of Cu, Zn, Mn, Fe and Co
for growth of thirty six male Moxoto goat kids (15.69 ± 0.78 kg initial BW), grazing in the
semi-arid region of Brazil. Four kids were slaughtered at the beginning of the experiment
(baseline group, 15.37 ± 0.30 kg BW) and the remainders (n = 32) were allocated
randomly to one of the four levels of supplementation (treatments groups: 0, 0.5, 1.0 and
1.5% BW), and therefore there were eight kids per treatment. When the animals in the
1.5% BW treatment group reached 25 kg BW, the animals in the others treatments groups
were also slaughtered. The individual whole empty body was weighted, ground, mixed and
sampled for chemical analyses. The body composition (mg/kg empty body weight; EBW)
ranged from 23.68 to 27.81 mg Zn; 35.70 to 47.29 mg Fe; 0.86 to 1.09 mg Mn; 1.45 to
1.75 mg Cu e 0.83 to 0.87 mg Co for Moxoto kids at 15 and 25 kg BW. The net mineral
trace requirements (mg/kg empty weight gain; EWG) were determinate by comparative
slaughter technique which ranged from 30.43 to 35.74 mg Zn; 53.48 to 70.84 mg Fe; 1.22
to 1.54 mg Mn; 1.93 to 2.32 mg Cu e 0.91 to 0.95 mg Co for animals with BW ranging
from 15 to 25 kg. In conclusion, the net mineral trace requirements estimated in this
research were different of the recommendations made by international cometees.
Keywords: body composition, caatinga, indigenous goats, supplementation
76
INTRODUÇÃO
Os microminerais ou elementos traços, como também são definidos, são distribuídos
em todo corpo animal em pequenas quantidades, correspondendo a menos de 0,3% do total
dos minerais depositados no corpo (McDowell, 1992), no entanto, são de grande
importância para manter o metabolismo celular normal nos animais (Lee et al., 2002).
A partir do conhecimento das exigências nutricionais, é que o produtor ou o
nutricionista pode melhorar a produtividade animal, através do desenvolvimento de
estratégias de suplementação apropriada para cada espécie animal. De modo que,
deficiências clinicamente reconhecidas podem ser corrigidas através da suplementação
(Grace, 1983a; SCA, 1990; Grace & Clark, 1991; Masters & White, 1996; Underwood &
Suttle, 1999).
O fornecimento inadequado para qualquer um dos elementos traço pode prejudicar a
saúde e a produtividade do animal. Patologias como a anemia pode ser característica de
deficiência de ferro, cobre, cobalto, mas é também, uma manifestação da toxidade de
molibdênio, selênio e zinco; resistência a infecções é influenciada por cobre, ferro, selênio
e zinco; deformidades no esqueleto ocorrem como conseqüência de deficiências de cobre,
manganês e zinco, bem como de cálcio e fósforo; deficiência de fósforo, cobre, manganês,
zinco, iodo e selênio prejudicam a reprodução (Underwood & Suttle, 1999).
Em virtude do desuso de metodologias mais específicas que proporcionem resultados
mais acurados, vários comitês científicos e autores estabeleceram as recomendações para
as necessidades dos animais em microminerais, incluindo uma margem de segurança nos
seus valores para garantir que as necessidades dos animais fossem atendidas
adequadamente e que sinais de deficiência fossem evitados (ARC, 1980; Kessler, 1991;
Haenlein, 1992; AFRC, 1998; Meschy, 2000).
77
Diante da escassez de informações, o NRC (2007) apresentou as exigências de
caprinos em alguns microminerais, baseadas em resultados oriundos de ensaios de
alimentação e/ou adaptados de valores obtidos com bovinos de leite (NRC, 2001), embora,
ajustes tenham sido feito com base em outras estimativas e dados disponíveis para
caprinos. Normalmente, recomendações baseadas em ensaios de alimentação têm
utilização limitada, pois, à medida que os animais, alimentos e quaisquer outras condições
são alteradas, as relações passam a ser inválidas.
Outro agravante, é que as recomendações são feitas para animais em confinamento,
alegando-se que animais em pastejo teriam suas necessidades em minerais atendidas,
devido as forragens possuírem elevadas concentrações de microminerias, além de outras
fontes como o solo e a água (ARC, 1980; Kessler, 1991; Haenlein, 1992; AFRC, 1998;
NRC, 2007). No entanto, a concentração dos microminerais nas forragens muda de acordo
com o tipo de solo, práticas de fertilização, espécie forrageira, idade da planta, composição
botânica da pastagem, condições climáticas, época do ano, dentre outros fatores
(Underwood, 1981; Georgievskii et al., 1982; Ramírez-Perez et al., 2000). Em adição, as
recomendações são geradas em função de diferentes condições experimentais, a exemplo
de espécie animal, estádio fisiológico e raças, alimentos, sistemas de produção, condições
climáticas e metodológicas. De modo que, nada garante que animais nativos, criados em
pastejo no semi-árido brasileiro apresentem o mesmo comportamento que os animais de
onde foram geradas tais informações.
Diante do exposto, o presente estudo foi conduzido com o objetivo de estimar as
exigências líquidas em Zn, Fe, Cu, Mn e Co para ganho em peso de caprinos Moxotó em
crescimento, criados em pastejo no semi-árido brasileiro.
78
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido entre maio de 2005 e março de 2006, na Estação
Experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba,
CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB, entre as coordenadas 7o
29' 34" de latitude sul e 36o 41' 53" de longitude oeste. O clima da região é do tipo Bsh semi-árido quente, de acordo com classificação de Koopen e vegetação de caatinga (Bacia
Escola - CTRN/UFCG). Os valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínina
e média e umidade relativa do ar durante o período experimental são apresentados na
Tabela 1.
Tabela 1. Valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínima e média e
umidade relativa média do ar durante o período experimental1
Precipitação
(mm)
Máxima
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
98,0
119,1
6,2
48,5
1,0
0,0
2,7
97,4
29,9
27,6
28,2
28,6
31,3
32,6
33,7
32,7
Janeiro
Fevereiro
Março
0,0
64,4
49,6
33,7
34,4
33,3
Mês
Temperatura (oC)
Mínima
2005
21,0
19,7
17,6
18,1
18,7
20,0
21,1
20,7
2006
20,8
21,9
21,6
Média
Umidade
Relativa (%)
25,4
23,7
22,9
23,4
25,0
26,3
27,4
26,7
79,7
86,5
83,0
82,4
73,7
72,3
73,2
75,8
27,3
28,2
27,5
71,7
76,5
78,4
1
Dados cedidos pela Bacia Escola do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de
Campina Grande.
Foram utilizados 36 cabritos da raça Moxotó, castrados, com peso vivo inicial médio
(PV) de 15,69 ± 0,78 kg. Quatro animais foram abatidos no início da fase experimental,
com 15,37 ± 0,30 kg PV, representando a composição corporal inicial (animais referência).
O restante dos animais (n=32) foi distribuído aleatoriamente para um dos quatro níveis de
suplementação (grupos de tratamentos: 0; 0,5; 1,0 e 1,5% PV), ficando oito animais em
79
cada grupo de tratamento. Quando os animais do grupo 1,5% PV alcançaram 25 kg PV, os
animais dos outros grupos foram também abatidos.
Os animais tiveram acesso à pastagem nativa das 7 ás 16 h, momento em que eram
recolhidos para um aprisco provido de baias individuais de 2,0 x 1,0 m, desprovidas de
cobertura, com piso de chão batido, para receberem a suplementação. Os animais tiveram
livre acesso à água e os bebedouros coletivos eram localizados no centro de manejo e o
concentrado experimental foi único para todos os tratamentos, variando apenas a
quantidade ofertada aos animais e foi fornecido uma vez ao dia, às 16 h. As sobras
existentes eram pesadas, registradas e amostradas na manhã do dia seguinte.
Na Tabela 2 está apresentada a composição química dos ingredientes do concentrado
experimental. Este foi calculado conforme recomendações do NRC (1981) para permitir
ganho de 150 g/dia para os animais de maior nível de suplementação. As quantidades dos
ingredientes e dos nutrientes do concentrado experimental estão apresentadas na Tabela 3.
Tabela 2. Composição química dos ingredientes do concentrado e da extrusa experimental
Item
Farelo
de milho
Farelo
de soja
Farelo
de trigo
MS
PB
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Sódio
Potássio
870,6
939,0
0,22
7,81
3,31
0,49
0,21
863,4
458,3
2,24
3,84
3,02
0,54
0,43
888,8
150,8
1,07
5,54
4,26
0,48
0,25
Cobre
Zinco
Ferro
Manganês
Cobalto
0,33
61,22
28,03
14,63
1,37
0,67
54,21
44,96
24,97
1,70
1,16
93,72
57,36
107,92
1,52
Farelo de Extrusa1
algodão
g/kg MS
866,8
231,0
336,0
118,7
1,18
23,45
2,89
7,42
3,71
4,58
0,42
15,27
0,24
11,30
mg/kg MS
0,61
8,28
36,15
51,56
6,57
172,36
8,88
81,84
1,85
3,94
Calcário
Suplemento
Mineral
234,85
0,74
1,64
0,40
0,08
123,74
62,55
4,63
64,39
0,15
0,82
16,05
1218,69
44,04
17,68
86,30
1429,55
3078,79
809,85
64,75
MS=material seca; PB= proteína bruta.
1
Colheita, amostragem e análise em MS e PB foram realizada conforme Gonzaga (2007).
80
Tabela 3. Proporção dos ingredientes e composição química do concentrado experimental
(g/kg matéria seca)
Ingrediente (g/kg MS)
Farelo de milho
Farelo de soja
Farelo de trigo
Farelo de algodão
Calcário
Suplemento mineral
Composição (g/kg MS)
Matéria seca
Proteína bruta
Energia bruta (Mcal/kg)
Energia digestível (Mcal/kg)2
Energia metabolizável (Mcal/kg)3
Cobre (mg/kg MS)
Zinco (mg/kg MS)
Ferro (mg/kg MS)
Manganês (mg/kg MS)
Cobalto (mg/kg MS)
2
3
580
270
50
50
10
40
875,85
202,55
4,30
3,83
3,14
3,92
113,98
166,93
53,90
4,19
Obtida a partir do coeficiente de digestibilidade aparente do concentrado
Estimada considerando 82% da energia digestível (NRC 1989)
Para o controle do desenvolvimento ponderal e ajuste do fornecimento do
concentrado, os animais foram pesados semanalmente, antes da alimentação, em balança
com precisão de 0,1 kg. Todos os animais foram everminados antes e durante o período
experimental em intervalos de três meses.
A área experimental foi constituída de dois piquetes de aproximadamente 8 ha cada
um, com uma taxa lotação média de seis animais por hectare. A mudança de piquete foi
feita mediante observação das condições do pasto de cada piquete. O percentual de
ocorrência e a disponibilidade dos componentes botânicos analisados na área experimental,
durante o período de experimento, foram estimados por Gonzaga (2007), demonstrando a
predominância do capim panasco (Aristida setifolia. H.B.K.) com 45,04%, seguida pelo
marmeleiro (Croton Sonderianus Muell.Arg.) com 12,79% e outas gramíneas com 8,68%.
81
Os percentuais apresentado dos outros componentes foi de 4,59% pinhão roxo (Jatropha
gossypiifolia L.); 6,19% malva branca (Sida cordifolia L.); 5,16% catingueira (Caesalpina
pyramidalis Tull.); 6,88% pereiro (Aspidosperma pyrifolium Mart); 5,83 cactáceas; 1,46%
outras arbustivas e 3,39% outras herbáceas. A disponibilidade média foi estimada em 1350
kg de massa verde/ha.
Paralelamente ao experimento de exigências nutricionais foi conduzido um
experimento para a estimativa do consumo de matéria seca (CMS) dos animais a pasto.
Para tanto, foram utilizados oito animais canulados no esôfago com PV médio de 25,83 ±
4,48 kg, em delineamento quadrado latino, recebendo os mesmos níveis de suplementação
dos animais do ensaio de exigência.
A colheita da extrusa foi realizada durante oito dias consecutivos, em turnos
alternados, formando, para cada animal, quatro dias completos de colheita (4 manhãs e 4
tardes). Pela manhã, as cânulas foram retiradas e acopladas as bolsas coletoras de extrusa,
confeccionadas em couro sintético “napa” com fundo de malha de náilon para diminuir o
excesso de saliva. O período de pastejo foi de aproximadamente 40 minutos. Decorrido
esse tempo, os animais eram conduzidos novamente ao centro de manejo, para a retirada
das bolsas e colocação das cânulas, sendo então soltos nos respectivos piquetes.
Para a colheita da tarde, os animais eram retirados da pastagem 4 h antes da
amostragem, para evitar regurgitação e contaminação das amostras experimentais; em
seguida, eram feitos os mesmos procedimentos da manhã. Amostras compostas da extrusa
foram feitas levando em consideração o período e o animal.
O CMS oriundo do pasto foi estimado através da excreção total de fezes e a
digestibilidade da matéria seca dieta: CMS= [(100*Excreção fecal, kg MS/dia)/(100 –
Digestibilidade da MS da extrusa)]. A colheita total de fezes foi feita utilizando-se bolsas
coletoras acopladas aos animais, sendo as colheitas realizadas no início da manhã (7 h) e
82
no final da tarde (17 h). Após a homogeneização do material de cada bolsa foram retiradas
alíquotas de 20% do total excretado durante 24 h, para formação de amostras compostas
por animal e por período, as quais foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente
identificados e armazenadas a -10oC.
Após o período experimental, as amostras foram descongeladas, pesadas e secas em
estufa de ventilação forçada a 55ºC, por 72 h, e então moídas em moinho de facas com
peneiras de 1 mm. A determinação da digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi
realizada em rúmen artificial (DAYSE II; ANKON Technology Coorp., Fairport, NY)
baseada na metodologia descrita por Tilley & Terry et al. (1963).
Os valores de CMS (PV, kg0,75) dos animais fistulados foram então regredidos com
os níveis de suplementação (x=0; 0,5; 1,0 e 1,5%) e, a partir da equação de regressão (y=
0,0677 + 0,0086x – 0,0141x2), encontraram-se valores médio de 67,7; 68,5; 62,2 e 48,9
g/kg0,75 de PV por dia para os níveis 0; 0,5; 1,0 e 1,5%, respectivamente. Estes valores
foram então utilizados para estimar o CMS dos animais do experimento de exigências
nutricionais.
O CMS total foi igual a soma do consumo de pasto mais o consumo de concentrado e
o consumo de minerais foi estimado através da determinação da sua concentração na
extrusa e no concentrado (Tabela 2), multiplicando-os pelo CMS.
Para determinar o peso em jejum (PJ), os animais foram submetidos a jejum de
sólidos e líquidos por 16 horas. Os animais foram insensibilizados por meio de concussão
cerebral, imediatamente antes de serem abatidos através da secção das veias jugulares e das
artérias carótidas. O sangue foi colhido e pesado; o trato gastrintestinal (TGI) foi retirado e
pesado antes e após a retirada do seu conteúdo, este peso foi utilizado para determinar o
peso do corpo vazio (PCV), o qual foi obtido subtraindo-se do PJ o peso do conteúdo do
TGI (PCV= PJ – conteúdo do TGI). Todo corpo do animal foi pesado, acondicionado em
83
sacos plásticos e congelado, depois cortado em serra de fita, triturado em moinho tipo
Cutter (30 HP; 1775 rpm), homogeneizado e retiradas amostras representativas de
aproximadamente 800 g, as quais foram novamente congeladas para posteriores análises.
Os ingredientes da ração foram analisados para MS (AOAC, 1990; método no.
930.15), matéria mineral (AOAC, 1990; método no. 924.05) e proteína bruta (AOAC,
1990; método no. 984.13). A energia bruta (EB) foi determinada em bomba calorimétrica
adiabática de Parr; a energia digestível (ED) foi determinada a partir da EB do alimento
consumido (extrusa e concentrado) e das fezes; a energia metabolizável foi estimada
considerando como sendo 82% da ED (NRC, 1989).
As amostras obtidas de cada animal foram descongeladas, pré-secas em estufa com
circulação de ar, a 55oC, posteriormente, trituradas em liquidificador. Após esse
procedimento, as amostras foram desengorduradas através da extração em éter em aparelho
tipo Soxhlet (AOAC, 1990; método no. 920.39). Após a extração com éter, as amostras
foram trituradas em moinho de bola e armazenadas em recipientes fechados. Os teores de
matéria seca (engordurada) foram determinados em estufa a 105oC até peso constante; os
teores de cinzas e proteína bruta, foram determinados conforme mencionado para os
ingredientes do concentrado experimental, em amostras livre de gordura.
As análises para a determinação dos minerais nas amostras dos ingredientes do
concentrado, extrusa e para as amostras desengordurada do corpo do animal foram
efetuadas por meio da digestão ácida (Mahanti & Barnes, 1983). Para a decomposição das
amostras foi utilizado a mistura de ácido nítrico (HNO3) com ácido clorídrico (HCl) e
peróxido de hidrogênio (H2O2), obtendo-se dessa forma, a solução mineral. Desse extrato,
foram feitas diluições para a determinação dos diferentes minerais em estudo. Desse
extrato foram determinados os diferentes microminerais em estudo (cobre, manganês,
zinco, ferro e cobalto) e as leituras efetuadas em espectrofotômetro de absorção atômica.
84
O peso de corpo vazio inicial (PCVi) dos animais abatidos no final do experimento,
foi estimado a partir da equação de regressão desenvolvida a partir dos “animais
referência” (Equação 1). Subtraindo do PCV final o PCVi calculou-se o ganho em peso de
corpo vazio (GPCV).
PCVi (kg) = 0,5098 ± 25,95 + 0,5757 ± 1,68 PVi (kg)
[1]
A estimativa da composição corporal foi obtida por meio de equação alométrica
logaritimizada (Equação 2), que tem como variável dependente a quantidade do
componente (Cu, Mn, Zn, Fe e Co) presente no corpo vazio e variável independente o PCV
(Equação 2) segundo método descrito pelo ARC (1980).
Log10 (peso do componente, g) = a + b x log10 (PCV, kg)
[2]
Para a composição corporal do ganho em peso, adotou-se a técnica do abate
comparativo descrita por ARC (1980). Todos os animais, exceto aqueles do tratamento
sem suplementação que perderam peso, foram utilizados para a estimativa da composição
corporal de ganho.
Para a estimativa das exigências líquidas em microminerais para ganho em peso de
corpo vazio, derivou-se a equação de regressão do logaritmo da quantidade do componente
presente no corpo vazio (Equação 2), em função do logaritmo do PCV (Equação 3).
y’ = b x 10a x PCV(b - 1)
[3]
Onde, y= a quantidade do micromineral por unidade de ganho de PCV (g/kg ganho);
PCV= peso corpo vazio (kg); a=intercepto da equação alométrica logaritimizada da
composição corporal; b= coeficiente de regressão da equação alométrica logaritimizada da
composição corporal.
As exigências líquidas de microminerais para o ganho em PV foram obtidas pela
conversão do PCV em PV. Os valores de composição de ganho em peso foram divididos
pelo fator de correção gerado a partir da relação entre o PV e o PCV.
85
Em adição, as exigências foram calculadas, não apenas pelo método fatorial, mas
pela regressão da ingestão dos minerais contra o ganho em peso. Na Tabela 4, está
apresentado o resumo dos dados utilizados para a elaboração das equações.
O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos, seguindo o modelo matemático Yij= μ + ti + eij, onde: Yij = valor observado
na parcela que recebeu o tratamento i na repetição j; μ= média geral da população; ti =
efeito do tratamento i; eij = erro aleatório. As análises estatísticas foram realizadas usando
o pacote estatístico SAS (1999). Os dados foram testados quanto à homogeneidade das
variâncias pelo teste de Bartlett (PROC GLM); a normalidade dos erros pelo teste de
Shapiro-Wilk (PROC UNIVARIATE), pré-requisitos necessários para a análise de
variância. O PROC MEANS foi utilizado para a obtenção das médias e desvio-padrão.
Para as análises de regressão linear, usando o modelo y= a + bX, o qual mostra o
comportamento da variável dependente y em função da variável independente x, utilizouse o PROC REG.
Tabela 4 – Resumo dos dados utilizados para a predição das exigências em minerais a
partir da relação entre o consumo dos minerais e o ganho de peso
Variável
n
Média
Desvio-Padrão
Mínimo
Máximo
PV médio
31
22,14
3,67
15,35
27,20
Zinco (mg/dia)
31
46,31
12,52
29,31
64,41
Ferro (mg/dia)
31
122,31
12,31
102,08
146,26
Manganês (mg/dia)
31
54,16
4,38
46,43
62,28
Cobalto (mg/dia)
31
2,82
0,29
2,33
3,30
Cobre (mg/dia)
31
5,24
0,34
4,66
5,97
GPD (g/dia)
31
43,21
25,27
-0,29
93,41
GPD (g/kg PV0,75)
31
4,62
2,56
-0,04
9,54
86
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A suplementação alimentar influenciou positivamente (P<0,0001) o desempenho dos
animais, proporcionando maior aporte nutricional e, por conseguinte, maior ganho em peso
(Tabela 5). Embora, no decorrer do experimento tenha sido constatada a morte de um dos
animais que não recebia suplementação, os demais animais que não foram suplementados
apresentaram um aumento de 14,35% no peso vivo final (Tabela 5).
Tabela 5. Desempenho e composição corporal de cabritos Moxotó em pastejo no semiárido brasileiro submetidos a níveis de suplementação
Variável
AR
n
PE (dias)
PVi (kg)
PVf (kg)
PJ (kg)
PCV (kg)
GPV (g/dia)
GPCV (g/dia)
4
15,38
15,38
13,91
11,15
-
Gordura
Proteína
Água
Mat. mineral
6,81
15,44
70,96
4,53
Zinco
Ferro
Manganês
Cobalto
Cobre
22,95
30,79
0,69
0,81
1,40
Nível de suplementação (% PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
7
8
8
8
150
150
150
150
15,76
15,73
15,71
15,73
18,40
21,04
22,94
25,69
16,82
19,44
21,25
23,42
13,09
15,58
17,69
19,72
15,74
34,29
49,56
69,83
10,49
27,09
43,16
58,57
%PCV
7,50
9,62
10,74
14,53
15,47
16,25
16,52
16,96
70,53
67,42
65,56
63,19
4,54
4,50
4,60
4,45
% PCV x 10-4
24,48
25,09
26,05
27,32
46,85
39,57
44,82
49,00
1,11
1,05
1,21
1,02
0,87
0,85
0,81
0,93
1,47
1,88
1,77
1,71
SEM
0,68
0,59
0,56
4,54
3,88
Efeito
L
Q
<0,0001
0,95
<0,0001
0,79
<0,0001
0,76
<0,0001
0,88
<0,0001
0,89
0,67
0,22
0,75
0,08
<0,0001
0,02
0,0002
0,85
0,42
0,68
0,76
0,77
0,54
1,77
0,06
0,02
0,08
0,05
0,46
0,86
0,36
0,42
0,75
0,11
0,61
0,05
0,15
AR= animais referência; n= número de animais; PE= período experimental; PVi= peso vivo inicial;
PVf=peso vivo final; PJ= peso em jejum; PCV= peso de corpo vazio; GPV=ganho de peso vivo;
GPCV=ganho de peso de corpo vazio; d=dias; L=linear; Q=quadrático; SEM=erro padrão médio.
As proporções de gordura, proteína e Zn, aumentaram linearmente, as de água
diminuíram e as proporções de matéria mineral (MM), Fe, Mn e Cu não foram
influenciadas pelos níveis crescentes de suplementação (Tabela 5). Os valores de Co
apresentaram efeito quadrático à medida que se aumentou o nível de suplementação
(Tabela 5).
87
A gordura é um constituinte corporal que está diretamente relacionado com a idade e
com o peso do animal, de modo que, à medida que aumenta o peso de corpo vazio e a
maturidade fisiológica se aproxima, diminui a deposição de tecido muscular e aumenta a
de gordura (Sanz Sampelayo et al., 1990; Mahgoub & Lu, 1998; Sanz Sampelayo et al.,
2003). No presente estudo, a idade não foi um fator discriminante para a composição
corporal entre os animais, pois os mesmos estavam aproximadamente com a mesma idade
quando foram abatidos (12 a 13 meses), diferindo apenas no peso vivo de abate. Acreditase que a suplementação alimentar fornecera maior quantidade de nutrientes disponíveis
para a deposição corporal de gordura e proteína.
Embora a proporção de proteína (%PCV; Tabela 5) tenha aumentado linearmente
com o nível de suplementação, baseando-se na idade em que os animais se encontravam,
na baixa variação nas proporções de proteína e no aumento na proporção de gordura no
corpo vazio, pressupõe que esses animais tenham ultrapassado a fase de ascensão da curva
de crescimento.
Em virtude do aumento linear da proporção de gordura corporal, houve um
decréscimo no teor de água no corpo dos animais (Tabela 5), confirmando existir uma
relação inversamente proporcional entre esses dois constituintes corporais (McCraken,
1986; Walker, 1986).
Quando as concentrações de Zn, Fe, Cu e Co foram expressas com base no peso
metabólico (mg/kg0,75; Tabela 6), verificou-se aumento linear em resposta ao aumento do
nível de suplementação. Possivelmente, esse comportamento, tenha sido reflexo do maior
ganho em peso, o que acarretou em maior desenvolvimento corporal dos animais, pois o
aumento do peso corporal tem sido apontado como um dos principais fatores
discriminantes na composição corporal (Mahgoub & Lu, 1998; Ferreira, 2003; Teixeira,
2004; Bellof et al., 2007; Fernandes et al., 2007). Mesmo para os percentuais de Mn que
88
foram indiferentes aos níveis de suplementação, percebe-se um aumento nas concentrações
desses minerais em função da suplementação (Tabela 6).
O tecido adiposo contém quantidades negligenciáveis de minerais (AFRC, 1991).
Bellof et al. (2007) analisando a concentração de microminerais no tecido adiposo de
cordeiros, verificaram que as concentrações de Fe e Zn variam de 40,7 a 12,4 e 29,1 a 10,8
mg/kg MS, respectivamente, para animais de 18 e 55 kg PV. As concentrações de Cu e Mn
estavam abaixo do limite de detecção que foi de 0,025 mg/kg MS. Como esperado, as
concentrações dos microminerais quando expressos como %PCV desengordurado (Tabela
6), independente do tratamento, foram maiores do que as apresentadas antes da retirada da
gordura (Tabela 5).
Tabela 6. Composição corporal em microminerais de cabritos Moxotó em pastejo no semiárido brasileiro submetidos a níveis de suplementação
Variável
AR
PCV, kg
11,15
Zinco
Ferro
Manganês
Cobalto
Cobre
41,95
56,34
1,27
1,47
2,58
Zinco
Ferro
Manganês
Cobalto
Cobre
25,26
33,92
0,77
0,89
1,55
Zinco
Ferro
Manganês
Cobalto
Cobre
5,13
6,96
0,16
0,17
0,32
Nível de suplementação (%PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
13,09
15,58
17,69
19,72
mg/kg0.75 PCV
49,22
56,02
62,34
69,39
93,52
89,37
106,73
124,61
2,21
2,29
2,89
2,59
1,74
1,87
1,93
2,37
2,92
4,12
4,23
4,34
-4
% PCV desengordurado x 10
27,10
28,54
30,10
32,27
51,76
44,89
51,58
58,26
1,22
1,18
1,40
1,20
0,96
0,96
0,94
1,10
1,63
2,14
2,04
2,03
-2
% Matéria Mineral x 10
5,43
5,66
5,72
6,14
10,36
8,86
9,81
11,14
0,24
0,23
0,27
0,23
0,19
0,19
0,18
0,21
0,32
0,42
0,39
0,39
SEM
Efeito
0,56
L
<0,0001
Q
0,76
2,17
5,11
0,16
0,06
0,20
0,0003
0,01
0,24
0,0002
0,01
0,97
0,21
0,56
0,12
0,14
0,71
2,15
0,07
0,02
0,09
0,007
0,17
0,83
0,05
0,19
0,78
0,11
0,61
0,07
0,17
0,15
0,42
0,01
0,005
0,02
0,11
0,38
0,93
0,35
0,34
0,76
0,09
0,61
0,07
0,24
AR= animais referência; PV=peso vivo; PCV= peso de corpo vazio; SEM=erro-padrão médio; L=linear;
Q=quadrático
89
Os microminerias estão amplamente distribuídos no corpo do animal, no entanto,
estão depositados em órgãos e/ou fluidos corporais específicos em pequenas quantidades.
Estudos indicam que a maioria dos elementos traços está depositada em órgãos a exemplo
do fígado, pâncreas, baço, rins e coração. O sangue também representa elevada fonte de
micromineral, a exemplo do Fe, estando cerca de 60% deste mineral na forma de
hemoglobina (Grace, 1983a; McDowell, 1992; Underwood & Suttle, 1999).
Analisando a quantidade de sangue, o peso da pele e dos órgãos dos animais desta
pesquisa, observou-se aumento linear, mediante aumento do nível de suplementação para
as variáveis expressas em grama, no entanto, quando expressas como %PCV, apenas os
rins (%PCV) foram influenciados negativamente (Tabela 7). Em virtude da especificidade
de deposição destes minerais, da mudança de peso dos órgãos com o aumento do peso
corporal, esperava-se que maiores quantidades destes microminerais fossem observadas
nos animais de maior peso. No entanto, esse comportamento não foi regra geral para todos
os minerais, embora tenha sido verificada uma tendência para tal comportamento.
Tabela 7. Efeito da suplementação sobre o peso dos órgãos, sangue e pele de cabritos
Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro
Variável
Fígado (g)
Sangue (g)
Baço (g)
Coração (g)
Pulmão (g)
Rins (g)
Pele (g)
Fígado (%PCV)
Sangue (%PCV)
Baço (%PCV)
Coração (%PCV)
Pulmão (%PCV)
Rins (%PCV)
Pele (%PCV)
Nível de suplementação (%PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
271,43 326,25
386,25
407,50
558,14 747,50
861, 37
887,50
24,28
26,25
33,75
35,62
67,14
87,50
100,0
113,75
162,86 197,50
243,75
262,50
62,86
63,75
75,0
80,0
910,00 1117,50 1188,75 1355,0
2,06
2,11
2,19
2,07
4,27
4,76
4,83
4,50
0,18
0,16
0,19
0,18
0,52
0,57
0,56
0,57
1,25
1,29
1,36
1,33
0,48
0,41
0,43
0,40
6,95
7,21
6,69
6,87
SEM
14,17
40,53
1,58
4,13
12,38
2,02
43,99
0,05
0,17
0,007
0,01
0,05
0,01
0,14
Efeito
L
<0,0001
0,002
0,003
<0,0001
0,001
0,002
0,0002
0,86
0,63
0,84
0,24
0,50
0,02
0,59
Q
0,45
0,26
0,98
0,57
0,71
0,53
0,77
0,44
0,25
0,70
0,49
0,74
0,31
0,91
90
Além dos órgãos, os músculos, a pele, a lã e os ossos também representam depósitos
de microminerais. Maiores concentrações de microminerais no corpo de ovinos foram
encontradas nos ossos (40% Fe; 29% Zn; 11% Cu; 18% Mn), nos músculos (42% Zn; 17%
Cu; 15% Fe), nos órgãos, principalmente fígado (mais de 55% do Cu; 40% Mn) e na lã
(41% Mn; 13% Zn; 16% Cu) (Bellof et al., 2007). E maiores quantidade de microminerais
foram encontradas na carcaça de animais de maior peso (Bellof et al., 2007; Schwarz et al.,
1994). Suportando os resultados encontrados na presente pesquisa.
Na Tabela 8, são apresentadas as equações de regressão para a estimativa do PCV em
função do peso em jejum (PJ) e do logaritmo dos conteúdos de Zn, Fe, Mn, Cu e Co no
corpo vazio, em função do logaritmo do PCV. As equações foram obtidas a partir dos
dados de composição corporal. Em virtude da baixa concentração dos microminerais no
corpo e, com isso, maior susceptibilidade de dispersão dos dados, verificou-se que os
ajustes das equações para alguns microminerais não foram tão elevados, mas as equações
foram altamente significativas (P<0,0001; Tabela 8).
Tabela 8. Equações de regressão para estimar a composição corporal em microminerais de
caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro
Variável
PCV (kg)
Zinco
Ferro
Manganês
Cobre
Cobalto
Equação alométrica
PCV = -1,6334 ± 0,53 + 0,9017 ± 0,02 x PJ
mg/kg PCV
Log Zn = 1,0678 ± 0,09 + 1,2852 ± 0,07 x log PCV
Log Fe = 1,0171 ± 0,23 + 1,4981 ± 0,19 x log PCV
Log Mn = -0,5166 ± 0,34 + 1,4189 ± 0,28 x log PCV
Log Cu = -0,1894 ± 0,29 + 1,3269 ± 0,24 x log PCV
Log Co = -0,1754 ± 0,13 + 1,0885 ± 0,10 x log PCV
R2
0,97
RMSE
0,50
P
<0,0001
0,92
0,69
0,46
0,50
0,79
0,03
0,09
0,14
0,12
0,05
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
PCV= peso de corpo vazio; PJ=peso em jejum; RMSE= raiz quadrada do quadrado médio do erro;
P=probabilidade; R2=coeficiente de determinação
A partir das equações listadas na Tabela 8, estimou-se a composição corporal em Zn,
Fe, Mn, Cu e Co no corpo vazio de cabritos Moxotó em função do PCV (mg/kg PCV;
Tabela 9). Foram verificados aumentos nas concentrações dos microminerais na ordem de
91
14,85; 24,5; 21,1; 17,14 e 4,65%, respectivamente, para Zn, Fe, Mn, Cu e Co quando o
peso dos animais variou de 15 para 25 kg PV.
Tabela 9. Composição corporal em microminerais (mg/kg PCV) de caprinos Moxotó em
pastejo no semi-árido brasileiro estimada pelas equações da Tabela 8
Variável
PCV (kg)
15
11,89
Zinco
Ferro
Manganês
Cobre
Cobalto
23,68
35,70
0,86
1,45
0,83
PV (kg)
20
16,40
mg/kg PCV
25,95
41,90
0,98
1,61
0,86
25
20,91
27,81
47,29
1,09
1,75
0,87
Comportamento semelhante ao verificado nesta pesquisa foi observado por Bellof &
Pallauf (2007), para Zn e Mn e contrário para Fe e Cu. Este autores detectaram que as
concentrações de Fe e Cu no corpo vazio de ovinos diminuíram de 32,9 para 28,0 e 2,1
para 1,6 mg/kg PCV, respectivamente, quando o PCV variou de 15 para 50 kg. Nesta
mesma faixa de peso, para os conteúdos de Zn e Mn, foram observados aumentos de 25,3 a
28,8 e 0,51 a 0,79 mg/kg PCV, respectivamente.
Dados sobre composição corporal em microminerais são escassos. Grace (1983a)
relatou que a concentração de Mn varia de 0,5 a 3,9 mg/kg MS na carcaça de ovinos e
bovinos. Em ovinos adultos, a concentração de Mn foi mais alta no fígado (4,2 mg/kg MS),
seguido pelo pâncreas (1,7 mg/kg MS), rins (1,2 mg/kg MS) e nos demais tecidos o valor
foi <0,3 mg/kg MS. Neste estudo, as concentrações de Mn no corpo vazio, variaram de
0,25 a 0,40 mg/kg MS, quando o PV dos animais foi de 15 para 25 kg, respectivamente.
O fígado é o principal órgão de armazenamento de Cu (200 a 300 mg/kg MS). No
entanto, diferentes concentrações de Cu são mantidas em diferentes órgãos como coração e
rins, apresentando 3,1 e 3,6 mg/kg peso fresco, respectivamente. A concentração de Cu na
carcaça, é relativamente baixa, sendo 1,2 mg/kg peso fresco em ovinos e 0,8 mg/kg peso
fresco em bovinos (Grace, 1983a). O músculo fornece o maior “pool” extra-hepático de
92
Cu, e, relativamente grande quantidade de Cu é depositada na lã. Os valores de 1,45 e 1,75
mg/kg PCV, para os animais de 15 e 25 kg PV, respectivamente, encontrados nessa
pesquisa estão acima dos relatados para ovinos e bovinos. Esses resultados, possivelmente,
sejam um indicativo de diferenças nas exigências nutricionais entre essas espécies.
Ao derivar as equações de regressão do logaritmo do conteúdo corporal para Zn, Fe,
Mn, Cu e Co, em função do logaritmo do PCV, foram obtidas as equações de predição
desses nutrientes por kg de ganho em peso de corpo vazio (GPCV; Tabela 10). Em
seguida, determinou-se a quantidade dos nutrientes depositada em g/kg GPCV, nas
diferentes faixas de peso (Tabela 10).
Tabela 10. Equações para predição da exigência líquida de microminerais para ganho em
peso de corpo vazio (GPCV) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido
brasileiro
Variável
PCV (kg)
15
11,89
Zinco
Ferro
Manganês
Cobre
Cobalto
30,43
53,48
1,22
1,93
0,91
PV (kg)
20
16,40
mg/kg GPCV
33,35
62,77
1,39
2,14
0,93
Equação
25
20,91
35,74
70,84
1,54
2,32
0,95
Zn=15,0224 x PCV0,2851
Fe=15,5816 x PCV0,4981
Mn=0,4318 x PCV0,4189
Cu=0,8580 x PCV0,3269
Co=0,7268 x PCV0,0886
PV=peso vivo; PCV= peso de corpo vazio; GPCV=ganho de peso de corpo vazio
A deposição dos microminerais no ganho em peso (mg/kg GPCV; Tabela 10) seguiu
o mesmo comportamento da concentração no corpo vazio (mg/kg PCV; Tabela 9).
Aumentos da ordem de 14,86; 24,51; 20,78; 16,81 e 4,21%, respectivamente, para Zn, Fe,
Mn, Cu e Co foram verificados nesta pesquisa quando o peso vivo aumentou de 15 para 25
kg (Tabela 10).
Os conteúdos de microminerais por ganho de PCV correspondem às respectivas
exigências líquidas para ganho de 1 kg de PCV. Estas variaram de 30,43 a 35,74 mg Zn;
53,48 a 70,84 mg Fe; 1,22 a 1,54 mg Mn; 1,93 a 2,32 mg Cu e 0,91 a 0,95 mg Co/kg PCV ganho,
93
respectivamente, para animais de 15 e 25 kg PV (Tabela 10). A retenção de microminerais (mg/kg
PCV ganho) sofreu influência do plano nutricional, do sexo e do peso vivo final (Bellof &
Pallauf, 2007). Em ensaio conduzido por estes autores, os cordeiros (18-55 kg PV)
acumularam em média 26,1 mg Fe, 30,0 mg Zn, 1,41 mg Cu e 1,04 mg/kg PCV ganho. Em
bovinos, as concentrações de microminerais (Fe 48 mg, Zn 40 mg, Cu 2,2 mg e Mn 1,3
mg/kg PCV ganho) observadas por Schwarz et al. (1994), foram semelhantes as da
presente pesquisa.
Os dados de composição de ganho em peso (Tabela 10) foram divididos pelos fatores
de correção gerado a partir da relação entre o PV e o PCV para a obtenção das exigências
líquidas por quilograma de ganho de PV. Na tentativa de isolar a influência da diferença de
tamanho do conteúdo dos TGI dos animais dos diferentes pesos, utilizou-se um fator de
correção para cada peso, sendo 1,26, 1,22 e 1,20, respectivamente para 5, 15 e 25 kg PV
(Tabela 11).
Tabela 11. Exigência líquida de microminerais (mg/dia) para ganho em peso vivo (GPD)
de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro
Peso Vivo
(kg)
15
GPD
(g)
50
100
Zinco
1,208
2,415
Exigência líquida (mg/dia)
Ferro
Manganês
Cobre
2,122
0,048
0,077
4,245
0,097
0,153
20
50
100
1,367
2,734
2,573
5,145
0,057
0,114
0,088
0,176
0,038
0,076
25
50
100
1,489
2,979
2,952
5,903
0,064
0,129
0,097
0,193
0,040
0,079
Cobalto
0,036
0,072
A exigência líquida para ganho em peso dos animais deste estudo variou de 24,15 a
29,78 mg Zn; 42,45 a 59,03 mg Fe; 0,97 a 1,29 mg Mn; 1,53 a 1,93 mg Cu e 0,72 a 0,79
mg Co/kg PV ganho. Diante da falta de informações sobre as exigências em microminerais
com base no método fatorial, o NRC (2007) apresentou as recomendações baseadas em
resultados oriundos de ensaios de alimentação e/ou adaptados de outras espécies. Para
94
efeito de comparação com as exigências nutricionais preconizadas pelo NRC (2007),
resolveu-se apresentar os dados de consumo do microminerais (mg/dia e mg/kg MSI;
Tabela 12).
Tabela 12. Consumo de matéria seca e de microminerais por caprinos Moxotó em pastejo
no semi-árido brasileiro
Variável
CMS (g/d)
CMS (%PV)
CMS (g/kg0,75)
Zinco (mg/dia)
Zinco (mg/kg MSI)
Ferro (mg/dia)
Ferro (mg/kg MSI)
Manganês (mg/dia)
Manganês (mg/kg MSI)
Cobre (mg/dia)
Cobre (mg/kg MSI)
Cobalto (mg/dia)
Cobalto (mg/kg MSI)
Nível de suplementação (% PV)
0%
0,5%
1,0%
1,5%
569,67 703,73 772,35 789,80
3,33
3,79
3,97
3,79
67,91
79,53
84,13
81,80
30,83
37,82
53,09
61,58
54,12
53,72
68,78
77,94
107,37 118,93 136,28 124,78
188,48 169,0 176,45 157,97
48,83
57,47
56,40
53,25
85,72
81,68
73,03
67,43
4,90
5,51
5,32
5,18
8,61
7,82
6,88
6,56
2,45
2,70
3,08
3,08
4,30
3,83
3,98
3,82
Efeito
SEM
16,83
1,11
0,04
2,25
1,87
2,21
1,99
0,78
1,29
0,06
0,14
0,05
0,03
L
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
0,02
<0,0001
0,17
<0,0001
<0,0001
<0,0001
Q
0,0004
<0,0001
<0,0001
0,47
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
<0,0001
0,001
<0,0001
0,01
<0,0001
PV=peso vivo; CMS= consumo de matéria seca; MSI= matéria seca ingerida; SEM= erro padrão médio;
L=linear; Q=quadrático.
As recomendações para o Zn pelo NRC (2007) foram de 25 mg de Zn/kg PV ganho.
Valor semelhante ao encontrado nesta pesquisa (24,15 a 29,79 mg Zn/kg PV ganho). A
recomendação dietética feita por Meschy (2000) para caprinos foi de 50 mg Zn/kg MSI.
Observando as estimativas de consumo de Zn (Tabela 12), verifica-se que o consumo deste
mineral aumentou com o aumento do nível de suplementação e, mesmo aqueles animais
sem suplementação (54,12 mg Zn/kg MSI) teriam suas necessidades atendidas.
As exigências de Fe para caprinos foram de 95 e 35 mg Fe/kg MS ingerida (MSI),
para animais jovens e adultos, respectivamente (NRC, 2007). A exigência liquida
encontrada neste estudo variou de 42,45 a 59,03 mg Fe/kg PV ganho, para animais de 15 e
25 kg PV, respectivamente. Para efeito de comparação, este valor foi semelhante ao
95
preconizado para ovinos em crescimento por aquele comitê (55 mg de Fe/kg PV ganho).
Na ausência de um referencial para caprinos, e mesmo sabendo da diferença existente entre
espécies, os valores observados nesse estudo apresentam certa coerência quando
comparados com os de ovinos.
Observou-se que a quantidade ingerida de Fe, por quilograma de MSI, diminuiu à
medida que se aumentou o nível de suplementação (Tabela 12). Este fato pode ser
atribuído ao elevado conteúdo de Fe presente na extrusa dos animais (172,36 mg/kg MS;
Tabela 2). A recomendação de 95 mg Fe/kg de MSI, estabelecida pelo NRC (2007), estaria
sendo atendida nas condições em que foi realizada esta pesquisa.
De maneira geral, as plantas forrageiras apresentam elevado conteúdo de Fe e o solo
representa grande fonte deste mineral, de modo que, deficiências não têm sido verificadas
para animais em pastejo (McDowell, 1992; NRC, 2007). Todavia, essas afirmativas devem
ser vistas com cautela, pois a disponibilidade do Fe é tão importante quanto a quantidade
na dieta. Compostos como fitato (seqüestra a molécula de Fe e a torna indisponível;
quelação), fosfatos inorgânicos, oxalatos, carbonatos, taninos e parasitismo deprimem a
utilização do Fe (Haenlein, 1992).
As
forrageiras
da
caatinga
possuem
elevadas
concentrações
de
fatores
antinutricionais como é o caso do tanino (Beelen et al., 2006), e que animais em clima
tropical são frequentemente mais acometidos por parasitas em relação aos animais de
sistemas temperados com boas condições de manejo, devido as condições de temperatura e
umidade favorecer o desenvolvimento de ovos e larvas no ambiente (Valcarcel et al.,
1999). Portanto, as recomendações feitas por comitês internacionais devem ser reavaliadas
antes de serem adotadas para as condições semi-árida do Brasil.
A quantidade de Mn depositado no ganho em peso foi estimada para ser de 0,70 e
0,47 mg/kg PV ganho, para caprinos e ovinos, respectivamente (NRC, 2007). Os dados
96
gerados nessa pesquisa (0,97 a 1,29 mg/kg PV ganho) sugerem exigências mais elevadas
quando comparadas às daquele comitê.
Underwood & Suttle (1999) relataram que o Mn acumula-se no fígado ou em outros
tecidos em proporção direta a ingestão; no entanto, este comportamento não foi verificado
neste estudo. A maior concentração de Mn tendeu a ser nos animais mais pesados, ao
mesmo tempo em que apresentaram os menores consumos do mineral em questão.
De modo geral, os animais que não eram suplementados ou os que recebiam o menor
nível de suplementação apresentaram os maiores consumos de Mn (Tabela 12). Este fato
foi justificado graças a elevada concentração de Mn na extrusa dos animais (81,84 mg/kg
MS; Tabela 2). Essa hipótese é apoiada nos relatos do NRC (2007), onde deficiências de
Mn em animais em condição de pasto não têm sido verificadas devido às pastagens
apresentaram elevado nível de Mn (86 mg/kg MS; NRC, 2007).
As exigências dietéticas de Mn têm variado no decorrer dos anos de acordo com os
diferentes comitês. O ARC (1980) sugeriu os valores de 20 a 25 mg Mn/kg MSI. Anos
depois, os valores de 60 a 120 mg Mn/kg MS foram adotados pelo AFRC (1998). Meschy
(2000), por sua vez, recomendou valores que variaram de 40 a 50 mg Mn/kg MS.
Baseando-se nos últimos dados e levando-se em consideração a ingestão de Mn (Tabela
12), verifica-se que cabritos Moxotó pastejando na caatinga não apresentariam deficiência
de Mn.
A exigência liquida de Cu encontrada neste estudo variou de 1,53 a 1,93 mg Cu/kg
PV ganho, para animais de 15 e 25 kg PV, respectivamente. Na literatura, não foi
encontrado relatos de exigências liquidas de Cu para caprinos, desse modo,
impossibilitando comparações com os valores supracitados. Por outro lado, para ovinos em
crescimento, aquele comitê sugeriu a equação: Cu (mg/dia)= 0,004*PV(kg) +
97
0,0137*Produção de lã (kg/ano) + 0,00106*PV ganho (g/dia), desenvolvida a partir de
informações do ARC (1980) e Grace & Clark (1991).
Contudo, na tentativa de verificar a coerência da exigência liquida de Cu,
encontrados nesta pesquisa, utilizou-se a equação preconizada para ovinos pelo NRC,
(2007). Considerando um animal de 25 kg PV, com um ganho em peso de 100 g/dia e a
produção de lã igual a zero, encontrou-se o valor de 0,206 mg/dia, um pouco superior ao
0,193 mg/dia verificado neste trabalho (Tabela 11). De modo geral, mesmo em se tratando
de espécies diferentes, os resultados apresentam certa coerência.
O NRC (2007) recomendou 25 mg Cu/kg MSI para caprinos em crescimento.
Baseando-se nas estimativas de ingestão de Cu desta pesquisa (6,56 a 8,61 mg/kg MSI;
Tabela 12), verificou-se que os valores estão abaixo dos preconizados por àquele comitê.
As exigências liquidas de Co para cabritos Moxotó em pastejo no semi-árido, com
PV variando de 15 a 25 kg foram de 0,72 a 0,79 mg/kg PV ganho, respectivamente. Dentre
os microminerais estudados nessa pesquisa, o Co foi o que apresentou menor retenção no
ganho em peso vivo (Tabela 11), provavelmente devido à baixa exigência deste mineral
pelos tecidos corporais. O Co exigido pelos ruminantes é de fato aquele necessário para
atender as necessidades dos microrganismos ruminais para sintetizar vitamina B12.
Meschy (2000) sugeriu o valor de 0,10 mg Co/kg MS, como sendo a quantidade
adequada para caprinos em crescimento. O NRC (2007), face as informações disponíveis,
sugeriu o valor de 0,11 mg Co/kg MS para caprinos, e manteve o valor de 0,10 a 0,20 mg
Co/kg MS para ovinos. Os caprinos são menos sensíveis a deficiência de Co do que os
ovinos (Meschy, 2000). Considerando os dados de consumo de Co (Tabela 12), as
necessidades dos animais conseguiram ser atendidas pela pastagem (3,8 a 4,3 mg Co/kg
MSI).
98
Para animais em pastejo, a ingestão de solo afeta a absorção e o armazenamento dos
microminerais em ruminantes. Ovinos a pasto inevitavelmente ingerem solo e a quantidade
varia de 2 a 25% do consumo de MS. O solo pode contribuir com acima de 20% da
ingestão dietética total para alguns microminerais, notavelmente Co, Fe, Mn e I, os quais
são mais concentrados no solo do que na forragem (Grace et al., 1996).
Mudanças na quantidade de mineral retida no corpo em função da variação do peso e
da dieta é uma técnica necessária para se estimar as exigências liquidas dos animais. No
entanto, a composição corporal não é frequentemente mensurada, em parte, devido aos
altos custos e trabalho associados com o abate e a determinação da composição química do
corpo (Sahlu et al., 2004). Com base nisso, alguns autores tem calculado as exigências
nutricionais, principalmente para proteína e energia, não pelo método fatorial, mas pela
regressão da ingestão de proteína e/ou energia contra o ganho em peso (Luo et al., 2004c,d;
Fernandes et al., 2007).
As equações de regressão geradas a partir da relação entre o consumo de minerais
(mg/dia) e o ganho peso diário (g/dia) dos animais deste experimento, apresentaram baixos
ajustes, no entanto, foram altamente significativas (Tabela 13).
Tabela 13. Relação entre o consumo de minerais (mg/dia) e o ganho em peso diário (GPD;
g/dia) de caprinos Moxotó em pastejo no semi-árido brasileiro
Equação
R2
RMSE
P
Zn (mg/dia) = 27,7985 ± 2,30 + 0,4284 ± 0,05 x GPD
0,74
6,41
<0,0001
Fe (mg/dia) = 106,89 ± 3,07 + 0,3568 ± 0,06 x GPD
0,53
8,53
<0,0001
Mn (mg/dia) = 50,1514 ± 1,35 + 0,0926 ± 0,02 x GPD
0,29
3,76
0,0002
Cu (mg/dia) = 4,9327 ± 0,11 + 0,0071 ± 0,002 x GPD
0,27
0,29
0,003
Co (mg/dia) = 2,3894 ± 0,05 + 0,010 ± 0,001 x GPD
0,74
0,15
<0,0001
De acordo com as equações de regressão as exigências dietéticas para mantença
(mg/dia) e ganho em peso (mg/g GPD) foram de 27,8 e 0,43; 106,89 e 0,36; 50,15 e 0,09;
99
4,93 e 0,007 e 2,39 e 0,01 para Zn, Fe, Mn, Cu e Co, respectivamente. O comportamento
crescente das exigências dietéticas, obtidas a partir das equações mostradas acima, seguiu o
mesmo comportamento observado para as exigências líquidas apresentadas na Tabela 11.
Esse tipo de abordagem é uma inovação, considerada atualmente, apenas para as
exigências de proteína e energia (Luo et al., 2004c,d; Fernandes et al., 2007), sobretudo
para animais em confinamento. É importante considerar a influência da ingestão de MS na
ingestão de minerais. Métodos acurados de estimativas de consumo por animais em
condição de pastejo no semi-árido, ainda são incipientes. Portanto, imprecisões na
estimativa de consumo, talvez possam explicar o baixo ajuste das equações. Em adição, as
exigências dietéticas devem ser vistas com cautela, uma vez que estas são específicas para
as condições alimentares a que foram determinadas.
Esse estudo foi o primeiro a levantar informações sobre composição corporal e
exigências nutricionais de microminerais de caprinos nativos, criados em sistema
tradicional de manejo no Nordeste do Brasil. Desse modo, torna-se difícil a comparação
destes resultados, com animais criados nas mesmas condições com as quais foram os
animais desta pesquisa.
CONCLUSÕES
As exigências líquidas para ganho (mg/kg PCV ganho) variam de 30,43 a 35,74
mg Zn; 53,48 a 70,84 mg Fe; 1,22 a 1,54 mg Mn; 1,93 a 2,32 mg Cu e 0,91 a 0,95 mg Co
para os animais com PV variando de 15 a 25 kg, respectivamente.
As exigências líquidas em microminerais estimadas nessa pesquisa foram maiores
que as recomendações feitas pelo NRC (2007).
100
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103
CAPÍTULO IV
______________________________________________________
Avaliação biométrica, química e densitométrica do fêmur de caprinos Moxotó
suplementados com concentrado no semi-árido brasileiro
104
Avaliação biométrica, química e densitométrica do fêmur de caprinos Moxotó
suplementados com concentrado no semi-árido brasileiro
RESUMO
Objetivou avaliar a composição química, a biometria e a densidade mineral óssea (DMO)
do fêmur de caprinos Moxotó suplementados com concentrado no semi-árido brasileiro,
bem como, correlacionar os valores de DMO (mm Al) com o peso vivo (PV) e com a
quantidade (g) de matéria mineral (MM), cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), sódio
(Na) e potássio (K) presentes no fêmur. Para tanto, foram utilizados 32 cabritos da raça
Moxotó, castrados, com PV inicial médio de 15,69 ± 0,78 kg. Os animais foram
distribuídos aleatoriamente para um dos quatro níveis de suplementação (grupos de
tratamentos: 0; 0,5; 1,0 e 1,5% PV), de modo a se obter oito animais por tratamento.
Quando os animais do grupo de tratamento 1,5% PV alcançaram 25 kg PV, os animais dos
outros grupos tratamentos também foram abatidos. O teor de MS aumentou linearmente,
no entanto, as percentagens de MM, extrato etéreo, Ca, P, Mg, Na e K não foram
influenciados pelos tratamentos (P>0,05). As variáveis biométricas e densitométricas do
fêmur aumentaram linearmente (P<0,01) com aumento dos níveis de suplementação,
exceto para a espessura da camada esponjosa da epífise proximal. A DMO foi
correlacionada positivamente com o PV e com as quantidades (g) de MM, Ca, P, Mg, Na e
K, bem como, com as variáveis biométricas. Concluiu-se que a DMO, associada com a
composição química e estrutural do fêmur auxilia na avaliação do status mineral, bem
como, no monitoramento da qualidade da alimentação de animais nativos em pastejo no
semi-árido brasileiro.
Palavras-chave: caprinos nativos, densitometria, minerais, suplementação
105
Evaluation biometric, chemistry and densitometric of the femur of Moxoto goat kids
supplemented with concentrated in the semi-arid region of Brazil
ABSTRACT
The objective this research was evaluate the chemical composition, biometry and bone
mineral density (BMD) of the femur of Moxoto goat kids supplemented with concentrated
in the semi-arid region of Brazil and to correlate the values of BMD (mm Al) with body
weight (BW) and the amount (g) of mineral matter (MM), calcium (Ca), phosphorus (P),
magnesium (Mg), sodium (Na) and potassium (K) in the femur. For that, 32 castrated goat
kids Moxoto breed were used, with average initial BW of 15.69 ± 0.78 kg. The animals
were allocated randomly to one of the four levels of supplementation (treatments groups:
0; 0.5; 1.0 and 1.5% BW), and therefore there were eight kids per treatment. When the
animals in the 1.5% BW treatment group reached 25 kg BW, the animals in the others
treatments groups were also slaughtered. The content of dry matter of femur increased
linearly, however, the percentages of MM, ether extract, Ca, P, Mg, Na and K were not
affected by treatments (P>0.05). The biometric and densitometric variables increased
linearly (P<0.01) with increasing levels of supplementation, except for the thickness of the
sponge layer of the proximal and distal epiphysis and BMD measured in the distal
epiphysis. The BMD was positively correlated with BW and with amount (g) of MM, Ca,
P, Mg, Na and K. It was concluded that the BMD, associated with the biometry and
chemical composition of the femur, helps in the evaluation of mineral status, as well as, in
monitoring the quality of feed for indigenous goat grazing in the semi-arid region of
Brazil.
Key words: bone mineral density, indigenous goat, mineral, supplementation
106
INTRODUÇÃO
Das raças nativas do Nordeste do Brasil, a que se destaca devido apresentar maior
efetivo é a Moxotó. Esta raça se desenvolveu na região do sertão de Pernambuco e se
espalhou por todo o Nordeste devido a sua grande capacidade adaptativa. Os animais
pertencentes a essa raça são de pequeno porte, medindo em torno de 62 cm de altura,
alcançando peso à maturidade de 50 kg e são classificados pela ABCC (2000), como raça
de aptidão múltipla para carne, pele e leite. A pelagem é baia ou mais clara, com uma listra
negra que se estende do bordo superior do pescoço à base da cauda.
Em grande parte da região semi-árida do Nordeste brasileiro, a produção de caprinos
depende quase que exclusivamente do pasto nativo (caatinga) para fornecer todos os
nutrientes requeridos. Embora, as forragens representem uma importante fonte de minerais
para ruminantes, auxiliando na prevenção de doenças, bem como, inibindo ou estimulando
a atividade microbiana (Underwood, 1981), a produtividade animal sob estas
circunstâncias, é frequentemente limitada devido a deficiências ou desequilíbrios de
nutrientes essenciais (McDowell, 1992).
Em caso de deficiências marginais existem perdas produtivas (baixo ganho em peso,
consumo reduzido, falhas reprodutivas etc.) sem sinais clínicos definidos, e estes sinais
podem levar tempo para se estabelecerem (Underwood, 1981). Portanto, para se estimar as
necessidades dos animais, identificar e auxiliar no diagnóstico dessas deficiências e
monitorar a qualidade da dieta, a avaliação do status mineral é de fundamental importância
(Khan et al., 2007).
Durante décadas, várias pesquisas foram conduzidas para descobrir e/ou desenvolver
medidas bioquímicas simples e acuradas para avaliar o status mineral dos animais, as quais
envolveram as análises de solo, água, planta e tecido animal (McDowell, 1992, 1997;
Underwood & Suttle, 1999). Todavia, a concentração de minerais nos tecidos ou fluídos
107
corporais, frequentemente são melhores indicadores do status mineral do rebanho do que
as análises realizadas nas plantas e no solo (McDowell, 1992, 1997).
A densidade mineral óssea (DMO) é uma ferramenta usada para avaliar a quantidade
de minerais por volume de osso, e é de grande importância, por auxiliar na compreensão
do processo de mineralização óssea. Deste modo, muitos estudos têm sido conduzidos
usando a técnica da densitometria óssea para determinação de valores normais de
densidade mineral óssea em cães (Robson et al., 2006), cavalos (Vulcano et al., 2003;
Prado Filho et al., 2004; Godoy et al., 2005; Vulcano et al., 2006), em gatos (Vulcano et
al., 2008), etc., com o intuito de avaliar de forma eficiente a estrutura óssea e diagnosticar
e prevenir possíveis lesões ósseas.
Observa-se, portanto, que a DMO não tem sido usada com fins de avaliar possíveis
deficiências nutricionais. Portanto, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de
investigar os aspectos químicos, biométricos e densitométricos do fêmur de caprinos
Moxotó suplementados com concentrado no semi-árido brasileiro, bem como,
correlacionar a DMO com o peso vivo, a composição em minerais e com as variáveis
biométricas do fêmur, destes animais para avaliar o status mineral dos mesmos.
MATERIAL E MÉTODOS
A fase experimental de campo foi conduzido entre maio de 2005 e março de 2006, na
Estação Experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba,
CCA/UFPB, localizada no município de São João do Cariri – PB, entre as coordenadas 7o
29' 34" de latitude sul e 36o 41' 53" de longitude oeste. O clima da região é do tipo Bsh semi-árido quente, de acordo com classificação de Koopen e vegetação de caatinga (Bacia
Escola - CTRN/UFCG). Os valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínina
108
e média e umidade relativa do ar durante o período experimental são apresentados na
Tabela 1.
Tabela 1. Valores médios de precipitação, temperaturas máxima, mínima e média e
umidade relativa do ar durante o período experimental1
Mês
Precipitação
(mm)
Máxima
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
98,0
119,1
6,2
48,5
1,0
0,0
2,7
97,4
29,9
27,6
28,2
28,6
31,3
32,6
33,7
32,7
Janeiro
Fevereiro
Março
0,0
64,4
49,6
33,7
34,4
33,3
Temperatura (oC)
Mínima
2005
21,0
19,7
17,6
18,1
18,7
20,0
21,1
20,7
2006
20,8
21,9
21,6
Média
Umidade
Relativa (%)
25,4
23,7
22,9
23,4
25,0
26,3
27,4
26,7
79,7
86,5
83,0
82,4
73,7
72,3
73,2
75,8
27,3
28,2
27,5
71,7
76,5
78,4
1
Dados cedidos pela Bacia Escola do Centro de Tecnologia e Recursos Naturais da Universidade Federal de
Campina Grande.
Foram utilizados 32 cabritos da raça Moxotó, castrados, com peso vivo médio (PV)
inicial de 15,69 ± 0,78 kg. Os tratamentos foram formados em função dos níveis de
suplementação alimentar, tendo como base o peso vivo dos animais. Os animais foram
distribuídos para um dos quatro níveis de suplementação (grupos de tratamentos: 0; 0,5;
1,0 e 1,5% PV), de modo que, cada grupo de tratamento continha oito animais. Quando os
animais do grupo 1,5% PV alcançaram 25 kg PV, os animais dos outros grupos foram
também abatidos.
Os animais tiveram acesso à pastagem nativa das 7 ás 16 h, momento em que eram
recolhidos para um aprisco provido de baias individuais de 2,0 x 1,0 m, desprovidas de
cobertura, com piso de chão batido, para receberem a suplementação. Os animais tiveram
livre acesso a água e os bebedouros coletivos eram localizados no centro de manejo. O
109
concentrado experimental foi único para todos os tratamentos e mantinha a mesma relação
entre os nutrientes, variando apenas a quantidade ofertada aos animais. O mesmo foi
fornecido uma vez ao dia, às 16 h e as sobras existentes eram pesadas, registradas e
amostradas na manhã do dia seguinte.
Na Tabela 2 é apresentada a composição química dos ingredientes do concentrado
experimental. Este foi calculado conforme recomendações do NRC (1981), de modo que
permitisse ganho de 150 g/dia para os animais de maior nível de suplementação. A
participação dos ingredientes e a composição química do concentrado estão apresentadas
na Tabela 3.
Tabela 2. Composição química da extrusa e dos ingredientes da ração, com base na
matéria seca
Minerais
Farelo
de milho
Farelo
de soja
Farelo
de trigo
MS
PB
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Sódio
Potássio
870,6
939,0
0,22
7,81
3,31
0,49
0,21
863,4
458,3
2,24
3,84
3,02
0,54
0,43
888,8
150,8
1,07
5,54
4,26
0,48
0,25
Farelo de Extrusa1
algodão
g/kg MS
866,8
231,0
336,0
118,7
1,18
23,45
2,89
7,42
3,71
4,58
0,42
15,27
0,24
11,30
Calcário
Suplemento
Mineral
234,85
0,74
1,64
0,40
0,08
123,74
62,55
4,63
64,39
0,15
MS=material seca; PB= proteína bruta;
1
Colheita, amostragem e análise em MS e PB foram realizada conforme Gonzaga (2007).
Para o controle do desenvolvimento ponderal e o ajuste do fornecimento do
concentrado, os animais foram pesados semanalmente, antes de serem liberados para os
piquetes, em balança com precisão de 0,1 kg. Os animais foram identificados
individualmente através de brincos numerados. Todos os animais foram everminados antes
e durante o período experimental em intervalos de três meses.
110
Tabela 3. Proporção dos ingredientes e composição química do concentrado experimental
(g/kg matéria seca)
Ingrediente
Farelo de milho
Farelo de soja
Farelo de trigo
Farelo de algodão
Calcário
Suplemento mineral
Composição
Matéria seca
Proteína bruta
Energia bruta (Mcal/kg MS)
Energia digestível (Mcal/kg MS)2
Energia metabolizável (Mcal/kg MS)3
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Potássio
Sódio
1
2
g/kg MS
580
270
50
50
10
40
875,85
202,55
4,30
3,83
3,14
8,14
8,50
3,34
0,27
3,05
Obtida a partir do coeficiente de digestibilidade aparente do concentrado
Estimada considerando 82% da energia digestível (NRC 1989)
A área experimental foi constituída de dois piquetes de 8,0 ha em média cada um, de
modo que, a taxa lotação média foi de seis animais por hectare. A mudança de piquete foi
feita mediante observação das condições do pasto de cada piquete.
Para determinar o peso em jejum (PJ) os animais foram submetidos a jejum de
sólidos e líquidos por 16 horas. Os animais foram insensibilizados por meio de concussão
cerebral, imediatamente antes de serem abatidos através da secção das veias jugulares e das
artérias carótidas. Após a abertura da cavidade abdominal, o trato gastrintestinal (TGI) foi
retirado e pesado antes e após a retirada do seu conteúdo, este peso foi utilizado para
determinar o peso do corpo vazio (PCV), o qual foi encontrado subtraindo do PJ o peso do
conteúdo do TGI (PCV= PJ – conteúdo do TGI).
Terminada a evisceração, as carcaças foram pesadas e resfriadas a 4 oC por 24 horas.
Ao final desse período, as carcaças foram pesadas e seccionadas em cinco regiões do corpo
111
(pescoço, paleta, costelas, lombo e perna). Após dissecação da perna esquerda, o fêmur de
cada animal foi retirado para posteriores análises (química, biométrica e densitométrica).
Os ingredientes do concentrado e extrusa foram analisados para matéria seca
(método no. 930.15), extrato etéreo (método no. 920.39), matéria mineral (método no.
924.05) e proteína bruta (método no. 984.13) de acordo com os procedimentos da AOAC
(1990). A energia bruta foi determinada em bomba calorimétrica adiabática de Parr; a
energia digestível (ED) foi determinada partir da EB do alimento oferecido e das fezes; a
energia metabolizável foi estimada considerando como sendo 82% da ED (NRC, 1989).
As análises para a determinação dos minerais nas amostras dos ingredientes do
concentrado, extrusa e osso foram efetuadas por meio da digestão ácida (Mahanti &
Barnes, 1983). Para a digestão das amostras foi utilizado a mistura de ácido nítrico (HNO3)
com ácido clorídrico (HCl) e peróxido de hidrogênio (H2O2), considerada como “solução
de água régia”, obtendo-se dessa forma, a solução mineral. Desse extrato, foram feitas
diluições para a determinação dos diferentes minerais em estudo. O cálcio e o magnésio
foram determinados adicionando-se lantânio e as leituras tomadas em espectrofotômetro de
absorção atômica. As leituras de sódio e potássio foram efetuadas em espectrofotômetro de
chama (emissão atômica). Os teores de fósforo foram determinados por redução do
complexo vanadato-molibidato em espectrofotômetro colorimétrico.
No fêmur intacto, foram efetuadas mensurações como: peso do fêmur fresco (obtido
em balança analítica com precisão de 0,01 g); comprimento (distância entre a cabeça do
fêmur e os côndilos da epífise distal); diâmetro da diáfise e das epífises proximal e distal
(medidas obtidas com o auxilio de uma fita métrica); densidade mineral óssea (mm Al) e o
peso relativo do fêmur (relação entre o peso do fêmur e o peso de corpo vazio dos
animais).
112
A avaliação da densidade mineral óssea foi realizada a partir de imagens
radiografadas do fêmur na posição craniocaudal. Para a realização das radiografias
utilizou-se um aparelho de raios-X, marca Siemens, modelo Tridoro 812 E, com distância
foco-filme de 1 m para todas as chapas radiografadas. A kilovoltagem (kV) utilizada foi 38
kV, a miliamperagem (mA) foi de 200 mA e a miliamperagem/segundo (mAs) foi de 4
mAs para todos os fêmures. Utilizaram-se filmes radiológicos no tamanho 30 x 40 cm, PMATG/RA Kodak (Kodak Bras. Com. Ltda) e chassis do mesmo tamanho. O chassi
metálico foi montado com écrans intensificadores Kodak Lanex Regular Screens (Kodak
Eastman Company). Para os processos de revelação e fixação utilizou-se processadora
automática da marca Kodak X-OMAT 200 (Kodak Eastman Company).
Como referencial densitométrico nas amostras radiografadas, utilizou-se uma escada
de alumínio ou também chamada de penetrômetro (liga de alumino 6063, ABNT) de 12
degraus (0,5 mm de espessura para o primeiro degrau), variando de 0,5 em 0,5 mm até o
décimo; o décimo primeiro com 6,0 mm de espessura; o décimo segundo com 8,0 mm de
espessura; cada degrau com 5 x 25 mm² de área. O penetômetro foi colocado
paralelamente ao fêmur, de forma que os degraus mais altos ficassem no alto do chassi e
foi radiografado concomitantemente com o fêmur.
Após a realização das radiografias dos fêmures, procedeu-se a digitalização das
imagens radiográficas e do penetrômetro, realizada por meio de um Scanner de mesa A3
Scaníon. As imagens digitalizadas foram armazenadas no disco rígido de um
microcomputador para posteriores leituras.
Utilizou-se o programa computacional Image-Pro Plus, Media Cybernetics, versão
4.1, que permite a medida da densidade mineral óssea através da comparação entre a
densidade média dos degraus da escala de alumínio e a equivalência em milímetros de
alumínio da densidade da região selecionada. As áreas avaliadas foram as epífises
113
proximal e distal e a diáfise dos fêmures. Foram realizadas 03 (três) medidas em cada
região com a finalidade minimizar as variações produzidas pelo operador, e tomada a
média aritmética como resultado. Os valores são correspondentes aos milímetros de
alumínio (mm Al) da escala utilizada (penetrômetro).
Para avaliação morfológica do fêmur, este foi serrado longitudinalmente com serra
de fita, da cabeça do fêmur até os côndilos do respectivo osso. Com auxilio de um
paquímetro avaliou-se a largura da camada esponjosa das epífises proximal e distal, a
espessura da camada compacta na diáfise do osso.
Após a avaliação morfológica, o fêmur de cada animal foi serrado em serra de fita,
liofilizado até que fosse totalmente seco e, posteriormente, moído em moinho de bola.
Após esses procedimentos os fêmures foram analisados para matéria seca, extrato etéreo,
matéria mineral e proteína bruta de acordo com os procedimentos da AOAC (1990). Os
teores de Ca, P, Mg, Na e K foram efetuadas após desengorduramento das amostras,
conforme metodologia descrita anteriormente.
O delineamento estatístico utilizado foi o inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos, seguindo o modelo y= a + bx, o qual mostra o comportamento da variável
dependente y (variável resposta) em função da variável independente x (níveis de
suplementação). As análises foram realizadas usando o pacote estatístico SAS (1999). Os
dados foram testados quanto à homogeneidade das variâncias pelo teste de Bartlett (PROC
GLM); a normalidade dos erros pelo teste de Shapiro-Wilk (PROC UNIVARIATE), prérequisitos necessários para a análise de variância. O PROC REG foi utilizado para a
análise de regressão. Para a análise da correlação entre a densidade mineral óssea nas
regiões ósseas analisadas com o peso de corpo vazio, matéria mineral e os minerais
utilizou-se o Teste de Pearson (PROC CORR). O PROC MEANS foi utilizado para a
114
obtenção das médias e erro-padrão. Para as análises de regressão linear utilizou-se o PROC
REG e a significância adotada foi de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O aumento do nível de suplementação resultou em acréscimo linear (P<0,01; Tabela
4) desempenho dos animais (ganho em peso vivo e de corpo vazio) e, consequentemente,
no peso fresco e seco do fêmur (g). Embora as equações para a maioria das variáveis
tenham apresentado baixos ajustes, os efeitos foram altamente significativos (P<0,01;
Tabela 4).
Tabela 4. Efeito do nível de suplementação sobre o desempenho e do peso do fêmur de
caprinos Moxotó no semi-árido
Item
Nível de suplementação (%PV)
SEM
Efeito
0%
0,5%
1,0%
1,5%
L
Q
7
8
8
8
-
-
Peso vivo inicial (kg)
15,76
15,73
15,71
15,73
0,14
-
-
Peso vivo final (kg)
18,40
21,04
22,94
25,69
0,68
<0,0001
0,90
Peso em jejum (kg)
16,82
19,44
21,25
23,42
0,60
<0,0001
0,83
Peso de corpo vazio (kg)
13,09
15,58
17,69
19,71
0,58
<0,0001
0,83
Ganho em peso diário (g/dia)
15,74
34,29
49,56
69,83
4,65
<0,0001
0,79
Peso do fêmur fresco (g)
71,43
80,78
86,03
91,77
2,24
0,0005
0,63
Peso do fêmur seco (g)
47,49
56,02
61,77
67,94
2,13
0,0002
0,61
Peso relativo do fêmur (g/kg PCV)
5,49
5,22
4,92
4,65
0,10
0,001
0,99
Número de animais
PV=peso vivo; SEM=erro padrão médio; L= linear; Q=quadrático
Os resultados verificados neste estudo sugerem que mesmo os animais que não
foram submetidos a suplementação alimentar permaneceram acima das exigências de
mantença, uma vez que eles conseguiram ganhar peso.
115
Verificou-se decréscimo linear para o PRF com o aumento do PCV em resposta aos
níveis de suplementação (P<0,01; Tabela 4). Explicações possíveis para esses resultados
podem ser devido a mudança que ocorre na relação músculo:osso à medida que o animal
aumentam de peso. A idade, nesse caso, poderia ser um fator a contribuir para essas
diferenças, no entanto, os animais da presente pesquisa se encontravam na mesma faixa
etária (12 a 13 meses).
O osso é um tecido dinâmico que está em constante remodelagem e, que em caso de
deficiência o animal tem que mobilizar suas reservas ósseas e essa reposição depende não
somente da adequação de minerais como Ca e P na dieta, como também, da
disponibilidade de proteína (Sykes & Field, 1972) e energia (McMeniman & Little, 1974).
Baseado nessas informações foi aventada a hipótese que a composição do fêmur pode ser
influenciada pelos diferentes aportes de nutrientes fornecidos pelos diferentes níveis de
suplementação.
Esperava-se que com o aumento do PV e do peso do fêmur em resposta aos níveis
crescentes de suplementação, a composição química do mesmo também fosse afetada,
assim como foi verificado por Bellof et al. (2006). Verificou-se, portanto, que exceto os
teores de matéria seca que aumentaram linearmente (%MS), a matéria mineral (%MM),
proteína bruta (%PB), extrato etéreo (%EE) e os minerais (Ca, P, Mg, Na e K) não foram
influenciados pelos tratamentos (P>0,05; Tabela 5).
Os resultados para extrato etéreo podem não ter sofrido efeito dos tratamentos,
devido à variabilidade individual verificada para os animais nesta pesquisa, confirmada
pelo elevado coeficiente de variação (29,33%). Devido essa variabilidade, e sabendo que o
tecido adiposo contém quantidades negligenciáveis de minerais (AFRC, 1991), resolveu-se
analisar o fêmur na ausência de gordura no intuito de isolar o seu efeito sobre essas
variáveis, pois há relatos de maior sensibilidade quando os valores são expressos como
116
osso seco e desengordurado (Little & McMeniman, 1975). Estes autores ressaltam, ainda,
que essa sensibilidade é devido ao fato da redução da mineralização do osteóide estar
acompanhada pelo aumento no teor de água e lipídios.
Tabela 5. Efeito do nível de suplementação sobre a composição química do fêmur de
caprinos Moxotó no semi-árido
Item
Nível de suplementação (%PV)
0%
Matéria seca
Cinzas
Extrato etéreo
Proteína bruta
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Sódio
Potássio
Ca:P
66,08
42,12
28,64
27,18
20,53
7,34
0,26
0,43
0,22
2,80
Efeito
1,0%
1,5%
SEM
% na matéria seca
70,17
71,64
41,19
45,56
31,30
24,96
27,14
28,12
20,60
20,93
7,62
7,75
0,25
0,27
0,44
0,41
0,21
0,20
2,70
2,70
74,08
43,47
27,44
27,02
21,04
7,60
0,26
0,43
0,22
2,78
1,33
0,85
1,47
0,52
0,22
0,09
0,005
0,007
0,008
0,01
0,03
0,26
0,45
0,92
0,38
0,28
0,26
0,45
0,75
0,73
0,75
0,73
0,97
0,63
0,96
0,25
0,84
0,80
0,61
0,003
0,38
0,14
0,01
0,009
0,007
0,48
0,67
0,54
0,007
0,35
0,99
0,24
0,47
0,86
0,36
0,5%
L
Q
% peso do osso seco e desengordurado
Cálcio
Fósforo
Magnésio
Sódio
Potássio
29,14
10,41
0,36
0,61
0,31
30,12
11,15
0,39
0,65
0,31
28,05
10,38
0,37
0,54
0,27
29,04
10,42
0,35
0,58
0,30
PV=peso vivo; SEM= erro padrão médio; L=linear; Q=quadrático
Mesmo após o desengorduramento, os teores dos minerais não foram afetados pelos
tratamentos, exceto para o Na que diminui com o aumento do nível de suplementação
(Tabela 5). Mediante este fato, acredita-se que a idade foi decisiva para este
comportamento. Esta afirmativa é apoiada pelo fato de que o tecido ósseo apresenta
crescimento precoce, de modo que a deposição de minerais, especialmente Ca, P e Mg
diminui com a idade. No entanto, os animais desta pesquisa apresentavam-se na mesma
faixa etária (12 a 13 meses), variando apenas o peso ao abate.
117
Bellof et al. (2006), em pesquisa realizada com ovinos, constataram que as
concentrações dos macrominerais no tecido ósseo foram sujeitas a influência do peso vivo,
de modo que o aumento no peso vivo refletiu aumento na concentração dos macrominerais.
Em 1980, o ARC á luz dos dados disponíveis na época, relatou que o osso de ovinos
em crescimento apresentou em torno de 110 a 200 g de Ca; 50 a 100 g de P; 2 g de Mg; 4
g de Na e <0,05 g de K por kg de osso “in natura”. Os valores encontrados nesta pesquisa
variaram de 134,84 a 155,90 g Ca; 48,14 a 55,95 g P; 1,69 a 1,87 g Mg; 2,87 a 3,24 g Na e
1,42 a 1,61 g K/kg de osso na mesma base, para os animais com menor e maior peso ao
abate, respectivamente. Para ovinos em crescimento (18 - 55 kg; Bellof et al., 2006), foram
encontrados 97,0 g Ca; 46,6 g P; 2,0 g Mg; 3,4 g Na e 1,0 g K por kg de osso. Verifica-se,
portanto, que a quantidade de minerais variou de acordo com o tamanho do osso, sendo
diretamente relacionado com PV do animal. Observa-se ainda, que os valores relatados
pelo ARC (1980), referentes ao potássio devem ser reavaliados.
Em virtude da não influência dos tratamentos sobre a relação Ca:P (P>0,05; Tabela
5), o valor médio apresentado foi de 2,74:1. O AFRC (1991) informou que a relação ideal
Ca:P nos ossos para que houvesse uma boa mineralização seria de 2,1:1. Estes resultados
têm importantes implicações práticas, pois considerando que 99% do Ca e 80% do P
presente no corpo vazio estão nos ossos, o conteúdo de Ca e P no corpo será praticamente
aquele dos ossos. Com base nestas informações, a elevada relação Ca:P, verificada no
fêmur dos animais desta pesquisa, refletiu as exigências nutricionais em Ca e P para os
animais estudados nesta pesquisa (Capitulo 2; Tabela 8).
O conteúdo de minerais depositados nos ossos depende de vários fatores, dentre eles
o estado nutricional do animal, a idade e a taxa de crescimento (AFRC, 1991). Ovinos da
mesma idade com crescimento mais acelerado apresentaram taxas significativamente
menores de mineralização óssea, quando comparados aos animais com crescimento mais
118
lento. Bellof et al. (2006) verificaram uma relação Ca:P de 2,31:1 para os animais de
menor ganho, enquanto que, a relação encontrada para os animais de maior ganho foi de
2,20:1. Este comportamento não foi verificado na presente pesquisa.
A determinação da proteína nos ossos é de fundamental importância na identificação
de restrição alimentar. Neste caso, a reabsorção óssea, mediante degradação osteoclástica
do colágeno, reduz a matriz protéica óssea que é formada por diversas proteínas,
principalmente, colágeno (Ndiaye et al., 1992). Baseado neste parâmetro, a atividade
osteoclática foi mínima, e/ou a determinação da proteína bruta em si, não foi tão sensível
ao ponto de identificá-la. Portanto, não houve efeito de tratamento (P>0,05; Tabela 5),
sobre a concentração de proteína bruta do osso apresentando um valor médio de 27,26%
com base na matéria seca do osso.
Ao avaliar a biometria do fêmur, mediante avaliação macroscópica, e a densidade
mineral óssea, através de imagens radiográficas, observa-se que os tratamentos afetaram
positivamente estas variáveis, exceto a espessura da camada esponjosa da epífise proximal
(ECE-EP) que não foi influenciada e a espessura da camada esponjosa da epífise distal
(ECE-ED) que diminui lineamente (Tabela 6). De modo geral, os animais suplementados
com níveis crescentes de concentrado apresentaram fêmures mais pesados (Tabela 4),
maiores, de maior diâmetro, mais espessos e mais densos comparados aos animais não
suplementados (Tabela 6).
Existe uma relação direta entre o diâmetro da diáfise e a espessura da camada
compacta (cortical) de ossos longos (Frandson et al., 2005). Durante o crescimento, a
diáfise de um osso longo aumenta seu diâmetro em resposta à atividade da camada
osteogênica do periósteo. A camada osteoblástica de células situadas sob o periósteo
continua a depositar novo osso e, com isso, há aumento na espessura da camada cortical do
osso, desde que ocorra formação óssea sob o periósteo a uma velocidade um tanto mais
119
rápida do que a reabsorção sob o endósteo (Frandson et al., 2005). Estas informações
suportam os resultados encontrados nessa pesquisa para esta variável. Este comportamento
é confirmado com o aumento crescente da densidade mineral óssea nesta região óssea
(Tabela 6).
Tabela 6. Efeito do nível de suplementação sobre as características biométricas e
densitométricas do fêmur de caprinos Moxotó no semi-árido
Item
Comprimento do fêmur (cm)
Diâmetro da epífise proximal (cm)
Diâmetro da epífise distal (cm)
Diâmetro da diáfise (cm)
Espessura da camada esponjosa na
epífise proximal (mm)
Espessura da camada esponjosa na
epífise distal (mm)
Espessura da camada compacta da
diáfise – medida maior - (mm)
Espessura da camada compacta da
diáfise – medida menor - (mm)
DMO na epífise proximal (mm Al)
DMO na epífise distal (mm Al)
DMO na diáfise (mm Al)
Nível de suplementação (%PV)
0%
0,5
1,0% 1,5%
16,50 16,94 17,28 17,92
11,0
11,34 11,51 11,84
13,50 13,72 14,10 14,54
4,67
4,79
5,06
5,11
9,63
11,39 12,23 11,23
SEM
21,66
20,79
19,87
19,94
0,32
0,04
0,46
2,15
2,59
3,13
3,41
0,11
<0,0001
0,62
1,72
2,10
2,46
2,75
0,10
<0,0001
0,75
4,174
4,645
4,003
4,518
4,983
4,611
4,681
5,219
4,916
4,953
5,017
5,236
0,07
0,07
0,11
<0,0001
0,04
<0,0001
0,70
0,06
0,38
0,14
0,10
0,13
0,06
0,50
Efeito
L
Q
<0,0001 0,64
0,004
0,97
0,002
0,65
0,003
0,93
0,22
0,18
PV= peso vivo; SEM=erro-padrão médio; DMO= densidade mineral óssea (mm Al)
Redução na espessura da cortical (camada compacta) tem sido verificada em bovinos
na deficiência de fósforo (Nicodemo et al., 2000). Para demonstrar o efeito de dietas
deficientes em proteína e energia sobre o crescimento e desenvolvimento dos ossos,
pesquisas desenvolvidas com ratos têm demonstrado prejuízos na formação óssea destes
animais. Este fato está associado à depressão na produção e ação do fator de crescimento
semelhante à insulina (IGF-1; agente anabólico ósseo), induzindo o balanço negativo ósseo
por diminuir a formação e aumentar a reabsorção (Bourrin et al., 2000a; Bonjour et al.,
2001).
Geralmente, é aceito que deficiência protéica durante o crescimento cessa o
crescimento longitudinal do osso, alterando as reservas, as zonas proliferativas e
120
hipertróficas das placas epifisárias do osso, e reduz a massa e a densidade óssea em
animais jovens (Le Roith et al., 1973; Leutenneger et al., 1973) citados por Bourrin et al.
(2000b). Portanto, os animais submetidos a suplementação alimentar, devido ao maior
aporte de nutrientes, apresentaram efeitos crescente para a maioria das variáveis estudadas
com o aumento dos níveis de suplementação.
Embora, o diâmetro das epífises proximal (Diam. EP) tenha aumentado, a espessura
da camada esponjosa nessa região permaneceu inalterada com o aumento dos níveis de
suplementação (Tabela 6).
O osso esponjoso está localizado principalmente nas extremidades dos ossos longos e
fornece uma maior área superficial para as trocas metabólicas que o osso compacto. Este,
por sua vez, está localizado nas hastes dos ossos longos (Goodman, 2003). Possivelmente
esta informação explique o comportamento verificado nesta pesquisa para a variável em
questão.
Os resultados desta pesquisa sugerem que há uma possível diferente cinética do
crescimento do osso em suas diferentes regiões em resposta aos níveis de suplementação
alimentar. A comparação destes resultados com outros trabalhos fica impossibilitada
devido à escassez de trabalhos semelhantes a esse.
A densidade mineral óssea (DMO) representa a concentração de mineral por unidade
de volume de osso, correlacionando-se com as propriedades materiais do osso e com suas
características histológicas. Os valores de DMO nas regiões epifisárias e diafisária do
fêmur estão apresentados na Tabela 6, e são expressos em milímetros de alumínio (mm
Al).
As diferenças apresentadas nos valores DMO entre as regiões estudadas,
possivelmente estejam associadas ao diferente grau de maturidade, mineralização e
atividade metabólica dos tipos de osso (trabecular e/ou compacto) neste período etário
121
(Junqueira et al., 1990). Em adição, Robson et al. (2006), estudando a DMO em cães
jovens verificaram diferenças nos valores de DMO em imagens radiográficas nas
diferentes porções ósseas e atribuíram essas diferenças a radiopacidade das diferentes
regiões do osso.
Muitos estudos têm sido conduzidos usando a técnica da densitometria óssea em
imagens radiográficas com outros objetivos, principalmente para desenvolver e padronizar
esta técnica para a determinação de valores normais de DMO. Portanto, vários são os
estudos com cães (Robson et al., 2006), cavalos (Vulcano et al., 2003; Prado Filho et al.,
2004; Godoy et al., 2005; Vulcano et al., 2006), gatos (Vulcano et al., 2008) etc, com o
intuito de avaliar de forma eficiente a estrutura óssea para diagnosticar e prevenir possíveis
lesões ósseas. No entanto, essa técnica não tem sido usada na avaliação do status mineral
com fins de avaliar possíveis deficiências nutricionais decorrentes de dietas
desbalanceadas.
Prado Filho et al. (2004) encontraram valores médios de densidade óssea (mm Al)
para o osso acessório do carpo em potros da raça puro sangue inglês de 5,4431, 5,2872 e
5,3600 para machos, fêmeas e macho+fêmeas, respectivamente. Vulcano et al. (2003)
observaram uma relação linear entre os valores de DMO e a idade dos animais
(DMO=3,109+0,056 x idade em meses) não verificando diferença entre sexo. No entanto,
dentro do mesmo sexo, os animais jovens apresentaram DMO, em média, menor do que a
dos adultos. Nesta pesquisa, o efeito da idade sobre os valores de DMO não é avaliado
devido os animais estarem todos na mesma faixa etária.
Nafei et al. (2000) observaram que a idade tem correlação positiva com elasticidade,
força, densidade tecidual, densidade aparente, densidade aparente das cinzas e conteúdo
mineral ósseo, afirmando que a densidade do tecido ósseo trabecular destacou-se como o
maior indicativo de suas propriedades mecânicas compressivas.
122
Os valores médios de DMO para ovinos machos da raça Santa Inês e mestiços da
raça Santa Inês de cinco grupos etários encontrados por Zanini (2005) foram: G1 (até 1
ano) = 4,719; G2 (acima de 1 ano ) = 6,407; G3 (acima de 2 anos) = 6,222; G4 (3 anos) =
5,980; G5 (acima de 4 anos) = 5,797 mm Al).
Analisando os dados dos diferentes autores supracitados, verifica-se que os valores
de DMO variam com a espécie, idade, peso vivo e também com o tipo de osso analisado. O
valor médio encontrado por Zanini (2005) para os animas de até um ano de idade (4,719
mm Al) foi o que mais se aproximou dos encontrados para os animais desta pesquisa que
se encontravam mais ou menos nessa faixa etária, ao final da pesquisa.
A densidade mineral óssea aumentou de forma linear com o aumento do peso vivo
dos animais em resposta aos níveis de suplementação (Figura 1). A relação que apresentou
o menor ajuste foi a DMO na epífise distal (R2=0,25), em detrimento a variabilidade
individual verificada pela dispersão dos valores em torno da reta (Figura 1B), no entanto, a
equação foi altamente significativa (P<0,005). Os melhores ajustes das equações para a
DMO na epífise proximal e na diáfise foram de 0,67 e 0,74, respectivamente (Figura 1A,
C). Estes resultados são confirmados quando a análise de correlação foi efetuada (Tabela
7).
(A)
ŷ = 2,78 + 0,08PV R2=0,67 (P<0,0001)
DMO
epífise proximal (mm Al)
5,500
5,000
4,500
4,000
3,500
3,000
14,0
16,0
18,0
20,0
22,0
Peso Vivo (kg)
24,0
26,0
28,0
123
(B)
ŷ = 3,73 + 0,05 PV R2=0,25 (P<0,005)
DMO
epífise distal (mm Al)
6,500
6,000
5,500
5,000
4,500
4,000
3,500
14,0
16,0
18,0
20,0
22,0
24,0
26,0
28,0
Peso vivo (kg)
(C)
ŷ = 1,53 + 0,14 PV R2=0,74 (P<0,0001)
DMO diáfise (mm Al)
6,000
5,500
5,000
4,500
4,000
3,500
3,000
14,0
16,0
18,0
20,0
22,0
24,0
26,0
28,0
Peso vivo (kg)
Figura 1 – Relação entre o peso vivo (kg) e a densidade mineral óssea (mm Al) nas regiões
da epífise proximal (DMO EP) (A), epífise distal (DMO ED) (B) e diáfise
(DMO) (C) do fêmur de caprinos Moxotó suplementados na Caatinga
Por meio destes dados, observou-se que o peso vivo possui forte relação com os
valores de DMO, em concordância outros autores em pesquisa com outras espécies
(Robson et al., 2006; Vulcano et al., 2008). Observou-se, também, correlação positiva e
altamente significativa entre a DMO e as quantidades de matéria mineral (g), de cálcio (g),
fósforo (g), magnésio (g), sódio (g) e potássio (g) do fêmur “in natura” (Tabela 7),
indicando que essa esta variável realmente reflete a concentração de minerais por volume
de osso. Os menores coeficientes de correlação foram verificados para a DMO avaliada na
região da epífise distal.
124
Mediante os resultados obtidos nesse trabalho e em outros aqui citados, observou-se
que á medida que os animais avançam no PV a DMO se modifica. Analisando do ponto de
vista nutricional, a determinação da DMO tem importantes implicações práticas. Levando
em consideração que cerca de 90% do cálcio, 80% do fósforo e 70% do Mg corporal estão
presentes nos ossos (AFRC, 1991), e que a DMO reflete a quantidade de minerais por
volume de osso, esta variável representa uma boa ferramenta para avaliação da deposição
destes minerais nos ossos em condições fisiológicas e alimentares específicas.
Tabela 7. Correlação de Pearson entre a densidade mineral óssea (mm Al) nas diferentes
regiões analisadas com o peso vivo, quantidade de matéria mineral (g), cálcio
(g), fósforo (g), magnésio (g), sódio (g) e potássio (g) do fêmur “in natura” de
caprinos Moxotó suplementados na Caatinga
Item
(mm Al)
DMO - EP
DMO - ED
DMO -D
PV
(kg)
0,82
(<0,0001)
0,50
(0,005)
0,86
(<0,0001)
MM
(g)
0,87
(<0,0001)
0,68
(<0,0001)
0,86
(<0,0001)
Ca
(g)
0,84
(<0,0001)
0,66
(<0,0001)
0,89
(<0,0001)
Variável
P
(g)
0,83
(<0,0001)
0,66
(<0,0001)
0,89
(<0,0001)
Mg
(g)
0,67
(<0,0001)
0,51
(<0,005)
0,70
(<0,0001)
Na
(g)
0,75
(<0,0001)
0,59
(<0,001)
0,81
(<0,0001)
K
(g)
0,72
(<0,0001)
0,54
(<0,005)
0,56
(<0,001)
PV=peso vivo; MM=matéria mineral; Ca=Cálcio; P=fósforo; Mg=magnésio; Na=sódio; K=potássio; DMO=
densidade mineral óssea (mm Al); EP= Epífise proximal; ED=epífise distal; D=diáfise;
Verificou-se que animais Moxotó apresentam uma grande quantidade de minerais
depositada nos ossos, principalmente Ca e P em relação a outras espécies, como visto
anteriormente (Tabela 5). E que essa deposição está em função do PV como mostra os
resultados do estudo da DMO (Figura 1). Estes achados reiteram os resultados observados
para composição corporal de ganho (Tabela 8; Capítulo 2) no qual foram evidenciados
aumentos na deposição na ordem de 6,1, 10,0, 13,5, 9,0 e 3,0%, respectivamente, para Ca,
P, Mg, Na e K.
125
A DMO também apresentou correlação positiva e altamente significativa com as
características biométricas do fêmur, exceto para a espessura da camada esponjosa
mensurada nas epífises proximal e distal (Tabela 8). De forma análoga a verificada na
Tabela 7, os menores coeficientes de correlação foram verificados para a DMO avaliada na
região da epífise distal.
Tabela 8. Correlação de Pearson entre a densidade mineral óssea (mm Al) nas diferentes
regiões analisadas com a avaliação biométrica do fêmur de caprinos Moxotó
suplementados na Caatinga
Item
DMOEP
DMOED
DMOD
Características biométricas do fêmur
Fêmur
DEP
DED
DD
(cm)
(cm)
(cm)
(cm)
0,69
0,68
0,73
0,64
(<0,0001) (<0,0001) (<0,0001) (0,0001)
0,38
0,57
0,48
0,57
(0,0380)
(0,0009)
(0,007)
(0,0009)
0,66
0,61
0,74
0,76
(<0,0001) (<0,0001) (<0,0001) (0,0004)
ECE-EP
(mm)
0,30
(0,1012)
0,37
(0,0465)
0,41
(0,0245)
ECE-ED
(mm)
-0,12
(0,5295)
0,12
(0,5229)
-0,06
(0,7380)
ECC- D1
(mm)
0,74
(<0,0001)
0,45
(0,0112)
0,79
(<0,0001)
ECC –D2
(mm)
0,68
(<0,0001)
0,40
(0,0281)
0,73
(<0,0001)
DMO= densidade mineral óssea; EP= epífise proximal; ED= epífise distal; D=diáfise; DEP= diâmetro da EP;
DED= diâmetro da ED; DD= diâmetro da D; ECE-EP=espessura da camada eponjosa na EP; ECE-ED=
espessura da camada esponjosa na ED; ECC – D1 =espessura da camada compacta medida maior da diáfise;
ECC –D2 = espessura da camada compacta medida menor da diáfise.
No estudo das exigências nutricionais o método fatorial considera as exigências para
ganho em peso a quantidade total de mineral retida no corpo do animal em determinado
ganho em peso. Em adição, para as estimativas das exigências liquidas para crescimento,
há necessidade de avaliar a deposição do nutriente no corpo do animal quando esse
apresenta certo incremento em seu peso, implicando em avaliar o conteúdo corporal em
diferentes idades e pesos (ARC, 1980). Esta avaliação é feita com o abate do animal e
análise química nos tecidos corporais.
Neste estudo a avaliação da DMO foi realizada no fêmur de caprinos após o abate,
mas a alta correlação entre as variáveis estudadas indicam que este método tem
potencialidade para ser usado "in vivo" na avaliação da mineralização óssea em resposta a
126
alimentação fornecida. Portanto, de certa forma, a DMO fornece um indicativo se as
exigências nutricionais dos animais estão sendo ou não atendidas.
Na análise da DMO não se tem a quantidade exata de minerais específicos, mas
como o osso é formado quase que exclusivamente por Ca, P e Mg, tem-se uma ferramenta
a mais para compreender e avaliar melhor o processo de mineralização óssea (Vulcano et
al., 2003; 2006).
A determinação da DMO é um fator fundamental para a definição do quadro de
desmineralização, servindo também para o estabelecimento de um protocolo terapêutico e
o monitoramento dos pacientes acometidos, podendo desta forma prevenir a ocorrência de
fraturas patológicas (Costa et al., 2006).
Baseados nessas informações consideram-se a utilização da DMO, associada com a
análise química e macroscópica do osso como aliados nos estudos nutricionais por
auxiliarem na avaliação do crescimento ósseos de animais jovens, bem como, no
monitoramento da qualidade da alimentação.
CONCLUSÕES
A suplementação alimentar não afetou a composição química do fêmur, embora
tenha influenciado positivamente as estrutura e a densidade mineral óssea, por afetar o
peso vivo dos animais. Conclui-se, portanto, que a DMO, associada à análise química e
biométrica do fêmur auxiliam na avaliação do status em macrominerais, bem como, no
monitoramento da qualidade da alimentação de animais nativos em pastejo no semi-árido
brasileiro.
Acredita-se que pesquisas complementares avaliando um maior número de
indicadores sejam necessárias, para uma melhor caracterização do status mineral de
animais nativos criados em regime de pasto no semi-árido do Nordeste do Brasil.
127
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130
CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES
Trabalhos que visam a determinação das exigências nutricionais de caprinos são de
grande importância para a melhoria do desempenho produtivo econômico do rebanho, e
devem ser conduzidas dentro das condições de ambiente em que os animais são
explorados. Dessa forma, dada à diversidade das condições que se verifica no Brasil, em
comparação com as de outros países, e até dentro do próprio país (espécie, raça, idade dos
animais, disponibilidade e qualidade dos alimentos, além das peculiaridades edafoclimáticas), o estudo das exigências nutricionais de caprinos nativos, é necessário para
geração de informações que possam melhorar o desempenho dos animais, através da
implantação de um melhor manejo alimentar.
Os animais da raça Moxotó criados em regime de pasto no semi-árido, apresentam
baixas taxas de ganho em peso quando comparados com os animais de raças especializadas
para produção de carne e/ou leite, criados em condição de confinamento. São animais que
demoram mais tempo para atingir o peso de abate, estabelecido pela maioria das
explorações comerciais que é de 25 kg. Essa situação proporcionou diferentes exigências
nutricionais, principalmente por afetar a proporção de ossos e a concentração de gordura na
carcaça. Portanto, sugere-se o estudo das exigências nutricionais desta raça em outras
faixas de peso, assim como o conhecimento das modificações relativas dos componentes
corporais, em diferentes pesos e/ou idade para avaliar o destino dos nutrientes nas
diferentes condições.
As equações geradas nesta pesquisa apresentaram bons ajustes para a estimativa da
composição corporal e exigências de macro e microminerais para caprinos Moxotó criados
em condição de pasto no semi-árido. Assim sendo, essas informações poderão auxiliar em
estudos futuros sobre exigências nutricionais de caprinos e podem ser consideradas como
uma sugestão inicial para a formulação de dietas e/ou suplementos para animais nativos
131
semelhantes aos utilizados nessa pesquisa. Contudo, faz-se necessário mais trabalhos para
melhor caracterização das exigências nutricionais de macro e microminerais de animais
criados em regime de pasto no semi-árido brasileiro.
Sugerem-se a utilização de técnicas de estimativas de consumo dos nutrientes de
animais a pasto, mais acuradas, para posteriores estimativas das necessidades de mantença,
tendo em vista, que essas variáveis em condição de pasto são bem mais difíceis, devido os
sistemas pastoris serem muito mais complexos e dinâmicos do que sistema de produção em
confinamento.
Quanto a análise do status mineral, acredita-se que pesquisas complementares
avaliando um maior número de indicadores (fosfatase alcalina e ácida, osteocalcinina,
hidroxiprolina, piridinolina etc.) sejam necessários, para uma melhor caracterização do
status mineral de animais nativos criados em regime de pasto no semi-árido.
Sugere-se uma avaliação da composição em minerais dos principais órgãos de
deposição de macro e microminerais em caprinos e das plantas da caatinga de maior
participação na dieta dos animais, bem como, uma análise da disponibilidade desses
minerais nessas plantas para possíveis estimativas das necessidades dietéticas em minerais.
Acreditamos que os resultados aqui obtidos, juntamente com os de futuras pesquisas
nessa área, contribuirão para a confecção de uma tabela brasileira, com informações
voltadas para os nossos caprinos, em condições tropicais.
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