5224 EDUCAÇÃO SUPERIOR E UNIVERSIDADE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TERMINOLÓGICAS E HISTÓRICAS DE SEU SENTIDO E SUAS FINALIDADES Graziela Giusti Pachane Universidade do Triângulo RESUMO O trabalho retrata um pouco a história da origem das universidades, buscando enfatizar a necessidade de diferenciação entre “Ensino Superior” e “Universidade” e de uma delimitação do sentido dado ao segundo termo, tendo em vista a gama de significações que foi adquirindo ao longo do tempo. A partir da comparação de fatos e interpretações oferecidas por diferentes autores da história da educação (Manacorda, Ponce, Monroe, entre outros), e da universidade mais especificamente (Charle e Verger, Janotti, Ullman e Bohnen, entre outros) o texto concentra-se na análise da Idade Média e questiona a idéia amplamente divulgada de que a Universidade tenha sido o principal legado do período. Com base nos registros analisados, conclui-se que a Universidade, dentro de uma concepção bem determinada, teve seu início no que convencionou-se chamar de Idade Média, no entanto, num período que correspondia mais precisamente ao que conhecemos por “Renascimento do Século XII”. Tal dado não pode ser desconsiderado, uma vez que a criação da Universidade dependeu de fatores que não estiveram presentes na Europa durante o apogeu da Idade Média. Dadas as características do período, fica impossível, por exemplo, desatrelar-se a concepção inicial de Universidade dos interesses conflitantes do período de transição da Idade Média para a Moderna, em especial, dos interesses na burguesia emergente, que protestava para si, e buscava conquistar através da educação, o direito de governar. A Universidade apresenta-se, indubitavelmente, como fruto de uma estrutura social e política que não mais rememora as características principalmente associadas à Idade Média, em especial à assim chamada “Alta Idade Média”. Ela surge após a superação do feudalismo, na (re)florescência da vida urbana na Europa, no (re)aquecimento do comércio (a que chamamos de “primeira” onda de globalismo) e no surgimento da burguesia. Assim, dizer que a Universidade foi o principal legado da Idade Média, sem contextualizar mais detalhadamente o momento a que estamos nos referindo, pode levar a visões distorcidas dos fatores que, efetivamente, levaram à criação desta instituição. Por outro lado, o texto permite constatar que o termo Universidade não surgiu absoluto e continua a não ser absoluto, sendo que, dadas as suas diferentes significações históricas, ao utilizá-lo, necessitamos esclarecê-lo, defini-lo, ao menos, adjetivá-lo, com o intuito de esclarecer a que modelo de instituição estamos aplicando o termo Universidade. Se partimos da idéia que a instituição universitária está viva em nossa sociedade há pelo menos oito séculos, não podemos deixar de considerar que seu sentido, sua constituição, seus objetivos e ideais, enfim, o que se espera dela, tenha variado ao longo de tão extenso período. A fim de ilustrar esta concepção, basta fazermos referência aos modelos francês (napoleônico) e alemão (humboldtiano) de universidade, bem como ao modelo idealista inglês ou ao utilitarista americano. Todos quatro recebem a denominação de universidade, e embora se constituam como instituições voltadas à educação, em especial, dos jovens e à constituição dos grupos com formação superior das sociedades nas quais foram criados, todos buscam atingir finalidades bastante diferenciadas, por vezes até contraditórias, entre si. Assim, a partir das análises realizadas no presente texto, buscamos enfatizar a importância de conhecermos o sentido que vem sendo dado ao termo Universidade ao longo de oito séculos de história, realizando sua distinção de “ensino superior” e atentando aos diferentes modelos que recebem o nome de instituições universitárias, distinção que, a nosso ver, pode auxiliar a compreender muitos dos dilemas hoje vivenciados pela educação superior, inclusive sua tão destacada “crise”, bem como auxiliar na compreensão e formulação de políticas, tanto em âmbito nacional quanto em âmbito interno das instituições de ensino superior, evitando possíveis distorções, uma vez que, como o texto busca salientar, as disputas em torno do sentido de Universidade não se resumem a uma disputa meramente terminológica, mas englobam uma série de fatores históricos (contextuais) que não podem ser desconsiderados em uma análise mais informada deste nível educacional. 5225 TRABALHO COMPLETO “A Idade Média é a nossa infância, à qual temos que voltar sempre para fazer a nossa anamnese” Umberto Eco A frase de Umberto Eco, apresentada na epígrafe, é bastante pertinente, especialmente no que diz respeito à história da Universidade. A Idade Média é um marco indispensável à compreensão da gênese e desenvolvimento desta instituição. Entretanto, determinar a origem da Universidade não é tão simples assim, pois é um tema que envolve muitas controvérsias. Acreditamos que uma das principais dificuldades para a determinação da origem da instituição universitária reside na própria dificuldade de definição de “Universidade”, tendo em vista a gama de significações que o termo foi adquirindo ao longo do tempo. O problema, porém, não é apenas de ordem terminológica, mas, ao tentarmos estipular um início para o que hoje chamamos de Universidade, temos, definitivamente, que levar em conta o que esta instituição se propõe a fazer, sua organização interna, seu currículo, sua metodologia e, também, as condições históricas mais gerais nas quais esta se insere. Dessa maneira, este trabalho pretende retratar um pouco da história da origem das universidades, buscando enfatizar a necessidade de diferenciação entre “Ensino Superior” e “Universidade” e de uma delimitação do sentido do termo “Universidade”, delimitação sem a qual torna-se impossível tentarmos estipular um período, ou mesmo uma instituição, que corresponda à criação da primeira Universidade. Em trabalho de curso, Castro, Carvalho e Lima (1999) apresentam uma interessante discussão sobre a gênese da Universidade. Mostram que apesar de muitos autores serem unânimes em afirmar que o nascimento da universidade se deu no período medieval, outros apontam a Grécia antiga como berço da criação da Universidade. Freitas (1985, p.7) aponta Sócrates como o fundador da primeira Universidade da qual se tem notícia, enquanto Pereira (1990) atribui a Aristóteles, fundador do Liceu, tal título. Castro, Carvalho e Lima (1999, p. 3), por sua vez, argumentam que se tais filósofos fossem considerados como fundadores da Universidade, tendo em vista as características apresentadas por seus ‘estabelecimentos’, “uma digressão até a história do povo israelita, com sua escola de profetas, e a Platão, fundador da Academia deveria ser feita”. Prosseguem os autores, Paul Monroe, afirma que a gênese da Universidade deu-se tanto na Grécia (através da universidade de Atenas, resultante da combinação de três escolas: academia, escola peripatética e estóica) e a Universidade de Alexandria (tida como centro intelectual do mundo), quanto em Roma (através da universidade de Roma, cuja origem se deu com a biblioteca fundada por Vespasiano – 69-79 d.C), no Templo da Paz, construído após o incêndio de Nero. (p. 3) Uma possível explicação para tal confronto se dá pelo emprego da terminologia. “Universidade” é um termo de muitos significados, variando em cada época ou cada região para a qual o empregamos. Nunes (1979, p. 212) nos esclarece que: Entre os romanos o termo universitas designara um colégio, uma associação. Na Idade Média aplicou-se a um conjunto de pessoas, usou-se como fórmula de tratamento no início das cartas universitas vestra, a todos nós, que soava como a nossa fórmula ‘prezados senhores’ e também serviu para designar 5226 uma pessoa jurídica tal como universitas mercatorum, a corporação de comerciantes. No mesmo sentido, Ildeu Moreira Coelho esclarece que o termo universitas significava na Roma antiga a universalidade, a totalidade, o todo, o universo, o conjunto das coisas, o colégio, a associação ou a comunidade de pessoas. Prossegue informando que no século XII o termo era empregado para “se referir ao conjunto das pessoas que numa cidade exerciam o mesmo ofício e tinham, pois, interesses comuns, ou seja, a uma corporação de ofício” (Coelho, 2005, p. 53-54). O autor também exemplifica o uso do termo com a corporação de comerciantes, então denominada universitas mercatorum, e acrescenta que a corporação de mestres e estudantes era, no período, conhecida por universitas magistrorum et scholarium e, no caso específico de Bolonha, apenas universitas scholarium, uma vez que seus mestres compunham o colégio de doutores. Embora não faça referência ao período exato, Coelho esclarece que tais qualificativos caíram em desuso com o enfraquecimento do sistema corporativo, sendo que universitas passou a designar apenas a “corporação dos mestres e estudantes, isto é, dos trabalhadores intelectuais, e não mais a qualquer associação ou corporação de ofício” (Coelho, 2005, p. 54). Janotti (1992, p. 23-24) nos apresenta uma definição mais completa, mostrando inclusive a diferenciação entre Studium Generale e Universitas, em especial no que diz respeito às instituições da Idade Média. Segundo o autor: Na Idade Média o termo que mais tecnicamente correspondia à Universidade como instituição de cultura medieval não era universitas e sim studium generale. Universitas significava apenas um número, uma pluralidade, um conjunto de pessoas, num sentido mais técnico significava também uma corporação legal ou pessoa jurídica, encontrado equivalência no termo collegium do direito romano. No fim do século XII e começo do XIII universitas é aplicada para designar as corporações tanto de professores quanto de estudantes (mas continua, e por muito tempo, a ser aplicada a outras corporações, como, por exemplo, de comerciantes, de artífices etc.), e nesse sentido escolástico era simplesmente uma espécie particular de corporação – uma associação de pessoas exercendo uma ocupação comum para a regulamentação do seu ofício e proteção de seus direitos contra o mundo exterior.” Daí o termo, a princípio, nunca ser usado absolutamente: a expressão era sempre ‘universidade de estudantes’, ‘universidade de mestres e estudantes’, ‘universidade de estudo’ (Janotti, 1992, p. 23-24). Segundo o autor, “Studium Generale era o termo que mais proximamente correspondia à noção de Universidade como instituição distinta de uma mera escola, seminário ou estabelecimento educacional privado” (id. ibid.). A princípio, significava não o lugar “onde todos os assuntos eram ensinados” e sim o lugar onde “estudantes de todas as partes eram recebidos”. E complementa: A partir do começo do século XIII o termo studium generale vai se tornando comum e, no conjunto ele parece implicar três características: 1. escola que atraía estudantes de todas as partes e não apenas de uma região particular, 2. que era um local de educação superior: isto é, pelo menos uma das faculdades superiores (teologia, direito, medicina) ali era ensinada, 3. os assuntos eram ensinados por um número considerável de professores. Dessas três características, a primeira, era a fundamental. (Janotti, 1992, p. 24) Esclarece, ainda, que foi somente no decorrer do século XV que a distinção entre universitas e studium generale desapareceu, quando então os dois termos, a princípio distintos, tornaram-se sinônimos. Segundo o autor, o desenvolvimento e a expansão dos studia generalia ocasionavam a corporação de estudantes e/ou professores, ou seja, “uma universitas tornou-se na 5227 prática inseparável acompanhante do studium generale” (id. ibid.), processando-se, em seguida, uma simbiose entre os termos, e prevalecendo, como o passar do tempo, o termo universitas (posteriormente traduzido como Universidade). A tarefa de buscar uma definição do que seja Universidade, e consequentemente entender quando esta nasceu, torna-se mais complexa quando incorporamos o desenvolvimento da instituição ao longo dos séculos, pois o sentido do termo “Universidade” se alterou com o passar do tempo, com o desenvolvimento da sociedade e com a constante mudança nas organizações universitárias. Como nos lembra Coelho (2005), no período entre o final da Idade Média e o século XVIII, a universidade passou por um período de decadência, ressentindo-se da ausência de inquietação intelectual mais profunda, fechando-se às novas formas de saber, à filosofia e às ciências modernas que surgiam “fora da instituição e contra o saber universitário, em geral preso à preocupação com a ortodoxia, à rotina e ao tradicionalismo” (p. 54-55), distanciando-se profundamente, por exemplo, daquilo que hoje esperamos como missão primeira da universidade. Assim, concordando com Belloni (1992, p. 71), podemos dizer não existe um conceito único de Universidade, sendo este variável não apenas ao longo dos séculos, mas também das regiões nas quais as universidades se desenvolveram: A instituição denominada Universidade em épocas e regiões diversas, com modos de produção, níveis de desenvolvimento social e econômico distintos, padrões culturais profundamente diferentes é, também ela, em verdade, muito diferente: não tem correspondido a um modelo único e tem se ajustado, ao longo do tempo, à realidade contextual. (...) Assim, considera-se que, apesar de existir por vários séculos e em países profundamente distintos entre si, não há um conceito único e universalmente válido de universidade, nem suas funções são as mesmas em tempo e espaços diferentes. E, apenas para citar dois exemplos, menciona as diferenças entre o modelo napoleônico e o humboltiano de universidade. Muito brevemente, esclarecemos que a Universidade nos moldes humboltianos pode ser entendida como aquela que busca incessantemente a verdade, voltada prioritariamente à pesquisa, para a reelaboração e criação de novos conhecimentos, tomando o ensino como ‘aprendizagem da atitude científica’. Elitista, busca autonomia institucional. Ao contrário, a Universidade nos moldes napoleônicos existe para servir ao Estado, estando subjugada ao poder, assumindo a função de conservar a ordem social por meio da difusão de uma doutrina comum. Para tanto, depende de uma estrutura acadêmica e administrativa que atenue ao máximo as divergências de pontos de vista. É praticamente uma instituição sem autonomia. O ensino, voltado à formação de indivíduos imediatamente úteis ao estado, é priorizado, sendo o questionamento permanente do saber, deixado de lado. Tais modelos, correspondem a expoentes de duas vertentes: a Universidade do espírito ou liberal (composta pelos modelos inglês, alemão e americano) e a Universidade funcional ou do poder (composta pelos modelos francês e soviético) 1. Assim, ao tratarmos do tema “Universidade” torna-se necessário explicitarmos a que Universidade estamos nos referindo, em que tempo e em que país. Embora modelos “radicais” tenham se desenvolvido e hoje estejam mais próximos de um modelo intermediário, o conceito de Universidade não se tornou menos complexo, dadas as diversas funções, muitas vezes contraditórias, que é levada a assumir, como explicitado por Dias Sobrinho (1995, p. 16): Desde logo, é prudente assumir a pluralidade e não falar em uma significação petrificada, mas num feixe ou numa rede de significações, históricas, ambíguas, contraditórias (...) Ou seja, quando se trata de universidade, é mais adequado o sentido de “universidades”, o plural como sendo indicador das diferenças e da diversidade das instituições 1 Para maiores esclarecimentos a respeito dos diferentes modelos DREZE J. e DEBELLE J. (1983), Concepções da universidade. Fortaleza: Edições Universidade Federal do Ceará. 5228 universitárias, entendidas como produção social, portanto, históricas, distintas e cambiantes. A multiplicidade das ciências e a pluralidade das concepções e práticas políticas afastam a possibilidade de se pensar a Universidade como instituição unidirecional ou uma totalidade sem contradições. O cotidiano das universidades é feito de processos de diferenciação e de convergências. Tal ausência de uma definição unívoca torna complexa também a iniciativa de estabelecer um início para a atividade universitária, pois nunca temos claramente explícito a que tipo de “organização”, a qual Universidade, estamos nos referindo.2 Tais considerações podem nos levar a questionar, por que razão, então, a grande maioria dos autores atribui a origem da universidade à Idade Média? Luckesi et al. (1991) defendem o nascimento propriamente dito da Universidade entre o final da Idade Média e a Reforma (entre os séculos XI e XV), pois, para os autores, foi justamente nesse período que a Igreja Católica, no sentido de legitimar a sua ação política e religiosa, responsabilizou-se pela unificação do ensino superior em um só órgão, a Universidade. Ullmann e Bohnen (1994, p. 57-58) tratam da questão observando que convencionalmente se concebe a gênese da Universidade tomando-se como parâmetro a universitas medieval, “com seu cosmopolitismo, com o seu significado social e político, com a sua organização jurídico-estatuária, a sua homologação oficial pelos papas e/ou reis e, ainda, a concessão da licentia ubique docendi”. Na mesma linha, Ildeu M. Coelho (2005, p. 54) argumenta que as universidades, em seu início, mais do que pelo ensino de determinadas matérias e pela existência de faculdades, constituíamse pela associação corporativa e autônoma de pessoas que assumiam um certo tipo de existência, dedicada ao trabalho intelectual, ao estudo, ao ensino e à investigação, e conquistaram o privilégio de ensinar e conferir a licentia docenti. O autor complementa, ainda, que a universidade não era uma instituição propriamente nacional, uma vez que congregava mestres e estudantes de toda a Cristandade, a ela, de certo modo, pertencendo. O que movia as universidades era o saber universal e necessário, a idéia, o conceito, o raciocínio, o argumento e não as questões particulares e contingentes, as preocupações nacionais ou de grupos restritos. Assim, é possível afirmar que não existiram universidades antes do século XII ou XIII se estabelecermos como base para a delimitação do conceito de Universidade os seguintes parâmetros: 1) comunidade — mais ou menos — autônoma de mestres e alunos, com considerável número de professores, organização jurídico estatuária e homologação oficial (pelo papa ou reis, e ainda agraciada pela concessão da licentia ubique docendi); 2) cujo objetivo seja assegurar o ensino de um determinado número de disciplinas em nível superior (Medicina, Jurisprudência, e Teologia, além das Artes Liberais); e 3) que apresente características de uma instituição urbana, cosmopolita, locada em um centro de atração de estudantes de regiões diversas, cuja instituição ocasione impacto histórico, dado seu significado social e político, Entretanto, Ullmann e Bohnen (1994) não descartam a possibilidade de as universidades medievais terem se inspirado em modelos anteriores, como por exemplo, a escola ascético-terapêutica de Buda, a escola de Confúcio, a escola de Pitágoras, a Academia de Platão, o Liceu de Aristóteles, e a escolas dos Sofistas, que preferiram denominar de pré-universidades, pois quando reuniam algum requisito do padrão medieval outros estavam ausentes, distanciando-se do referencial da Idade Média. 2 Para Charle e Verger (1996, p. 8), “A procura de uma definição de universidade, impossível de ser encontrada, imobilizada entre tautologia (‘é universidade o que se autodenomina universidade’) e anacronismo, deve então ser substituída por uma abordagem diacrônica, até mesmo descontínua, mas firmemente ancorada nas grandes articulações da história geral.” 5229 Acreditamos ser prudente introduzir uma distinção não abordada pelos autores anteriormente mencionados: uma distinção entre os termos Universidade e Educação Superior. É evidente que em todos os momentos históricos mencionados (sejam relativos à Antigüidade, à Idade Média, à Modernidade ou aos dias atuais), há referências explícitas ao que podemos chamar de Educação Superior (ou estudos superiores). Assim pensando, torna-se possível compreender a quantidade de discussões acerca da “verdadeira” origem da Universidade. Acreditamos que muitas das discussões persistam por falta de uma determinação mais acurada do sentido do termo Universidade como utilizado por cada autor. Se tomarmos por base as características apontadas por Ullmann e Bohnen (1994), observamos que a Universidade, enquanto tal, não existiu antes da Idade Média. No entanto, o fato de não existir a instituição universitária, com suas características peculiares, não significa que não tenham existido formas anteriores de Educação Superior, ou mesmo medievais. Formas estas tão abrangentes e variadas, e não de menor importância ou valor, que persistem até hoje junto das assim chamadas Universidades. Tal idéia é partilhada por Charle e Verger (1996, p. 7-8), para quem: As universidades representaram apenas uma pequena parte do que poderíamos denominar, de modo amplo, Ensino Superior. A partir do invento da escrita, muitas civilizações, antigas ou exteriores à Europa ocidental, criaram, sob uma forma e outra, um ensino superior. (...) Se aceitarmos atribuir à palavra Universidade o sentido relativamente preciso de ‘comunidade (mais ou menos) autônoma de mestres e alunos reunidos para assegurar o ensino de um determinado número de disciplinas em um nível superior’, parece claro que tal instituição é uma criação específica da civilização ocidental, nascida na Itália, na França e na Inglaterra no início do século XIII. Esse modelo, pelas vicissitudes múltiplas, perdurou até hoje (apesar da persistência, não menos duradoura, de formas de ensino superior diferentes ou alternativas) e disseminou-se mesmo por toda Europa e, a partir do século XVI, sobretudo, dos séculos XIX e XX, por todos os continentes. Ele tornou-se o elemento central dos sistemas de ensino superior e mesmo as instituições não universitárias situam-se, em certa medida, em relação a ele, em situação de complementaridade ou de concorrência mais ou menos notória. Antes de prosseguirmos, consideramos importante salientar, embora muito brevemente, que o próprio conceito de ensino superior3 pode ser considerado ambíguo. Como destacado por Santos Filho (1994, p.8),: Em alguns países, como a Áustria e Itália, este termo equivale a educação universitária. Em outras partes, como no Reino Unido e Austrália, mais de um setor relativamente distinto de ensino superior pode ser incluído no termo. Por outro lado, países como os Estados Unidos e o Canadá, têm um extenso sistema de ‘colleges’ cujo lugar no ensino superior, embora questionável, não pode ser excluído. Assim, o ensino superior se refere a todas as instituições pós-secundárias que oferecem algum grau reconhecido, compreendendo desde instituições de dois anos até as escolas de pós-graduação (Santos Filho, 1994, p.8). Caso fôssemos nos ater somente ao aspecto terminológico, não seria antes do século XV que poderíamos afirmar a origem da Universidade, pois como citamos anteriormente, foi somente nesse período que o termo universitas passou a ser utilizado como sinônimo do que se chamava studium generale na Idade Média, e que correspondia ao que hoje chamamos de Universidade. 3 Para as finalidades de nosso estudo, não estamos considerando a possível distinção entre Ensino Superior, maneira pela qual era habitualmente designado o nível universitário, e Educação Superior, forma adotada, inclusive, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.394 de 1996. 5230 Acreditamos que as reflexões acerca da origem da Universidade possam se iniciar a partir de uma discussão sobre aspectos terminológicos, no entanto, um estudo pormenorizado da infraestrutura, do currículo, da metodologia e das condições de estudos oferecidas pelas universidades, assim como das condições históricas nas quais cada uma se acha inserida, far-se-ia necessário. Embora os autores se contradigam quanto ao “marco zero” da criação da Universidade, em momento algum apontam que este tenha se dado após a Idade Média. Normalmente, nos autores mais conhecidos, a Universidade é considerada como um dos legados mais preciosos (quando não o mais precioso) da Idade Média. A título de exemplo, citemos Manacorda e Janotti. Para o primeiro as artes liberais, medicina, jurisprudência e teologia “foram as quatro faculdades típicas, embora não exclusivas, das universidades (ou studia generalia) medievais, uma das criações mais originais e uma das heranças culturais mais significativas da Idade Média” (Manacorda, 1999, p. 146). Para Janotti (1992, p. 22): O poder de corporificar os seus ideais em instituições foi o gênio peculiar do pensamento medieval (...). E das instituições que a Idade Média nos legou, a Universidade foi das mais características. Ela e o imediato produto da sua atividade constituíram a grande realização da Idade Média na esfera intelectual e a sua ‘organização e as suas tradições, os seus estudos e os seus exercícios afetaram o progresso e o desenvolvimento intelectual da Europa mais poderosamente, ou (talvez se deva dizer) mais exclusivamente do que quaisquer escolas, com toda probabilidade, jamais estarão em condições de fazê-lo. Entretanto, apesar de concordemos com os autores que a Universidade enquanto tal, e como delimitada pelos parâmetros anteriormente mencionados, originou-se na Idade Média, julgamos que um esclarecimento se faça necessário. Embora a origem da universidade seja atribuída ao século XII — em especial marcada pelas universidades de Paris e Bolonha — e consequentemente dentro dos limites temporais estabelecidos pela historiografia tradicional como Idade Média (do século V ao século XV), se observarmos mais atentamente a estrutura econômica, social e política desenvolvida na Europa — especialmente França e Itália, precursores das primeiras universidades —, observaremos que nestas regiões já se encontrava em pleno desenvolvimento uma estrutura social e econômica que mais se aproxima do que será posteriormente desenvolvido na modernidade (vida urbana, burguesia e capitalismo emergentes) do que o modelo predominante na Alta Idade Média (sociedades rurais, economia fechada e feudalismo, remetendo-nos diretamente ao aposto de “Idade das Trevas”). Ou seja, embora tradicionalmente possa ser correto afirmar que a Universidade é o maior legado da Idade Média, esta posição pode ser contestada, tendo em vista o contexto político, social e econômico no qual ela se desenvolve. Janotti (1992, p. 69) nos fala um pouco do processo de mudanças ocorrido nesse período, e que, para o autor, foi fundamental ao desenvolvimento da Universidade: Deixamos uma civilização agrária, característica de um mundo fechado, voltado para dentro, economicamente dominial, mundo do feudalismo e da ‘idade beneditina’. Penetramos, com o renascimento do comércio, numa civilização urbana, marítima, aberta a todas as influências, economicamente monetária, mundo de um poderoso agente transformador da cultura, a burguesia, mundo do renasciemnto cultural do século XII. Desse novo mundo, a fim de conservar os seus permanentes resultados, surgirão as universidades. (Janotti, 1992, p. 69). Ou ainda neste outro trecho: 5231 Duas condições – além de interesses, sem dúvida, os da Igreja e do Estado – presidiram às origens das universidades européias em geral: condições sociais e condições culturais. As condições sociais estão ligadas ao renascimento urbano que a Europa conheceu, a partir do século XII: cada vez mais vai surgindo uma nova Europa, Europa urbana, em contraposição à antiga Europa, a Europa agrária. Tudo se modifica, com o renascimentos urbano: condições econômicas, sociais propriamente ditas, políticas, religiosas e culturais. E também condições pedagógicas, pois a supremacia do ensino até então detida pelas escolas monásticas, o que quer dizer, pelas escolas rurais, é transferida para as escolas episcopais, isto é, para as escolas urbanas. E a Universidade irá surgir como conseqüência, principalmente do desenvolvimento das escolas episcopais. É, portanto, a Universidade uma instituição caracteristicamente urbana. As condições culturais foram proporcionadas pelo chamado Renascimento do século XII. Conheceu com ele a Europa uma tal densidade de conhecimentos, nunca conhecida até então, principalmente, os propiciados pela ciência greco-árabe e pelo direito romano, que se fez necessário – para guardar vivos os permanentes resultados do renascimento cultural do século XII, afirma-o Rashdall – o aparecimento de uma nova instituição pedagógica, a Universidade. A Universidade surgiu assim como resultado de dois renascimentos, atuando solidariamente: o da cidade e o da cultura. (Janotti, 1992, p.16-17) Ou seja, deixa-se para trás uma economia fechada, sem mercado, eminentemente agrária, marcada pelo regime feudal e inicia-se um novo tipo de economia, uma economia monetária, que em vez de limitar a produção à capacidade de compra dos consumidores locais, pôs-se a trabalhar para uma clientela mais ampliada, começando a haver o que podemos convencionar como uma “primeira” onda de globalismo. Ildeu M. Coelho (2005, p. 53) também se refere ao fato que as universidades nasceram na Idade Média, em um contexto de florescimento das cidades e das escolas urbanas, de intenso processo de transformação na esfera da produção, da economia, da vida social e da cultura, da laicização da existência humana nas esferas coletiva e pessoal, de crescimento demográfico, do surgimento e afirmação dos intelectuais, da intensificação das traduções de textos gregos e árabes, da dessacralização do mundo natural, do crescente cultivo da filosofia, da teologia, do direito e da medicina, bem como da construção e de afirmação de catedrais góticas, cuja grandeza, em suas palavras, “expressava o desejo de abrigar todos os citadinos e sobre eles estender a palavra, o ensino e o poder da igreja” (p. 53). A “criação” da Universidade corresponde, pois, ao período de declínio da Idade Média, enquadrando-se no que comumente se conhece como o Renascimento do Século XII. Assim, não consideramos errôneo dizer que a Universidade nasceu na Idade Média, porém, acreditamos que haja necessidade de maior cuidado ao usar tal afirmação, pois a criação da Universidade dependeu de fatores que não estiveram presentes na Europa durante o apogeu da Idade Média. Como atesta Manacorda (1999, p. 161): Os séculos depois do ano 1000 são aqueles que, estudados do ponto de vista educacional, viram surgir os mestres livres e as universidades e, do ponto de vista mais geral da história econômica e social, são os séculos do nascimento das comunas e das corporações de artes e ofícios: os séculos, em suma, do primeiro desenvolvimento de uma burguesia urbana. Surgem novos modos de produção, em que a relação entre a ciência e a operação manual é mais desenvolvida e a especialização é mais avançada; para isso é necessário um processo de formação em que o simples observar e imitar começa a não ser mais suficiente.(...) surge agora o tema novo de uma aprendizagem em que ciência e trabalho se encontram e que tende a se aproximar e a se assemelhar 5232 à escola. É o tema fundamental da educação moderna que apenas começa a delinear-se. E, como conclui Janotti (1992, p. 61), “desse Renascimento do século XII as universidades medievais foram produto.” Em síntese, podemos constatar que o termo Universidade não surgiu absoluto e continua a não sê-lo. Ao falarmos de Universidade, dadas suas diferentes significações históricas e geográficas, necessitamos esclarecê-la, defini-la, ao menos, adjetivá-la. Tomando por base um conjunto de parâmetros relativos à idéia de Universidade que leva em conta suas características intrínsecas, assim como o contexto no qual está envolvida, percebemos que a Universidade teve seu início na Idade Média, no entanto, no período final da Idade Média, correspondendo mais precisamente ao que conhecemos por Renascimento do século XII. Dadas as características do período, fica impossível desatrelarmos esta concepção inicial de Universidade dos interesses conflitantes do período de transição da Idade Média para a Moderna, em especial, dos interesses na burguesia emergente, que protestava para si, e buscava conquistar através da educação, o direito de governar. A burguesia viu através da educação (em especial da Educação Superior) a possibilidade de ascensão social, já que a ascensão econômica vinha sendo obtida por meio do reavivamento das atividades de comércio. Assim, embora começasse a deter o poder econômico, o reconhecimento (ou a legitimação) de sua ascensão social, a burguesia teria de obter pela educação. Citando Dilthey, Janotti (1992 , p. 68) atesta: “o burguês soube criar para si as oportunidades de poder melhorar pela educação sua posição na vida.” A esse respeito, acreditamos ser interessante mencionar aqui a constatação de Charle e Verger (1996, p. 28), a respeito da origem social dos alunos universitários da Idade Média. Segundo os autores, os nobres nunca foram muito numerosos nas universidades medievais: “freqüentemente menos de 5% e, no máximo, 10% a 15% em casos excepcionais”. Os autores salientam, ainda, que os estudos universitários não conduziam “nem ao tipo de cultura nem ao tipo de carreira a que esse grupo social se dedicava preferencialmente”. Complementando sua análise, os autores destacam que os custos e a duração dos estudos eram suficientes para afastar a grande massa populacional. A partir daí, concluem que: É bem provável, portanto, que o maior número dos estudantes e dos graduados viesse das ‘classes médias’, sobretudo urbanas (notários, comerciantes, artesãos abastados etc.). Se se tratassem de pessoas de alguns recursos, os diplomas significavam ainda um meio de ascensão social e também uma forma de obtenção de muitos rendimentos, ou, no mínimo, serviam para galgarem posições mais seguras e mais prestigiosas, tanto no alto clero (...) como na prática privada (médicos), ou no serviço do príncipe, nos cargos superiores da administração e da justiça, muitos dos quais propiciavam a médio prazo a entrada na nobreza; a multiplicação das regências de colégios e das cadeiras ‘comuns’ permitia, por fim, a alguns fazer carreira como professores. No final da Idade Média, a prática dos estudos tornara-se uso corrente em algumas famílias de oficiais reais, de juristas ou médicos. (Charle e Verger, 1996, p. 28). A Universidade pode, assim, ser tomada como “o fruto mais saboroso” da Idade Média se considerarmos os limites e datas impostos para definirmos esse período. No entanto, a Universidade apresenta-se, indubitavelmente, como fruto de uma estrutura social e política que não mais rememora as características principalmente associadas à Idade Média, em especial à assim chamada Alta Idade Média. A Universidade surge após a superação do feudalismo, na (re)florescência da vida urbana na Europa, no (re)aquecimento do comércio (a que chamamos de primeira onda de globalismo) e no surgimento da burguesia. Assim, a partir das análises realizadas no presente texto, buscamos enfatizar a importância de conhecermos o sentido que vem sendo dado ao termo Universidade ao longo de oito 5233 séculos de história, realizando sua distinção de Ensino Superior e atentando aos diferentes modelos que recebem o nome de instituições universitárias, distinção que, a nosso ver, pode auxiliar a compreender muitos dos dilemas hoje vivenciados pela educação superior, inclusive sua tão destacada “crise”, bem como auxiliar na compreensão e formulação de políticas, tanto em âmbito nacional quanto em âmbito interno das instituições de ensino superior, evitando possíveis distorções, uma vez que, como o texto busca salientar, as disputas em torno do sentido de Universidade não se resumem a uma esfera meramente terminológica, mas englobam uma série de fatores históricos (contextuais) que não podem ser desconsiderados em uma análise mais informada deste nível educacional. Podemos, portanto, acreditar que cada tempo, cada momento, com suas revoluções trará consigo, no interior de suas mudanças, uma nova concepção e uma nova demanda a esta instituição que há pelo menos oito séculos permanece na História, lentamente metamorfoseando-se, ora na busca do estabelecimento de um ideal, ora na busca do atendimento às demandas a ela apresentadas. Talvez a crise da universidade, atualmente tão alardeada, nada mais seja do que um novo momento, com novas demandas à Universidade, num contexto que podemos (inadequadamente, temos consciência) chamar de “segunda” onda de globalismo, marcado pelos rápidos avanços da tecnologia, por novos arranjos geo-políticos e por novas relações de trabalho no interior do capitalismo. Uma instituição tradicional e visceralmente ligada à sociedade que a abriga e que, para não desvanecer, tem de renovar-se, dando origem, quem sabe, a uma nova definição, a um novo significado que lhe permita chegar com vitalidade – e ultrapassar – seu primeiro milênio de vida... independentemente de quando este seja comemorado, pois, como nos lembra Belloni (1992, p. 71): Se o modelo universitário não é universal e a-histórico, a crise presente é a do nascimento de um novo conceito, de um novo conteúdo caracterizador desta insituição denominada universidade, que não é definível ‘a priori’, mas será o resultado do embate das tendências e forças sociais, face ao desenvolvimento científico-tecnológico. BIBLIOGRAFIA BELLONI, Isaura. Função da universidade: notas para reflexão. Coletânea CBE Universidade e Educação. Campinas, SP: Papirus: CEDES, 1992 CASTRO, Franciana, CARVALHO, Maria Ap. Vivan, LIMA, Paulo Gomes. 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