01_capa.qxp 24-01-2007 16:11 Page 1 N.º 179 - Fevereiro 2007 - 2,00 euros FUNDAÇÃO GULBENKIAN 50 anos de cultura, ciência, educação e solidariedade ENTREVISTA Rui Vilar TERRA NOSSA Costa Nova VIAGENS Montevideu MACBETH no Trindade TURISMO ASSOCIATIVO#2.qxp 26-01-2007 16:35 Page 1 Turismo Associativo Programa para grupos vocacionado para as áreas de acção social, desportiva e cultural CONTACTE OS NOSSOS CENTROS DE FÉRIAS Turismo Associativo todo o ano l [email protected] l www.inatel.pt 03.qxp 26-01-2007 16:36 Page 3 Sumário 4 26 EDITORIAL TERRA NOSSA 6 COSTA NOVA A VILA MULTICOLORIDA N.º 179 - Fevereiro 2007 - 2,00 euros FUNDAÇÃO GULBENKIAN 50 anos de cultura, ciência, educação e solidariedade MACBETH no Trindade ENTREVISTA Rui Vilar CARTAS E COLUNA TERRA NOSSA Costa Nova VIAGENS DO PROVEDOR Montevideu 7 NA CAPA NOTÍCIAS Foto: José Frade 12 MACBETH NO TRINDADE CONCURSO DE FOTOGRAFIA No âmbito de uma extensa e diversificada programação comemorativa dos 140 anos do Teatro, a sala principal do Trindade será palco, até 15 de Março, de “Macbeth”, uma das mais notáveis e representadas peças de William Shakespeare. 60 14 AS GRANDES FUNDAÇÕES PORTUGUESAS (1) A REVOLUÇÃO GULBENKIAN Criada por um culto e benemérito milionário arménio, apaixonado pelo nosso país, a mais conhecida e influente Fundação portuguesa, e uma das mais importantes a nível europeu, prossegue as comemorações do seu 50º aniversário com um vasto e ambicioso programa de acções para o próximo meio século. 19 ENTREVISTA Rui Vilar, presidente da Fundação Gulbenkian A escassas dezenas de quilómetros de Aveiro e de Ílhavo, duas cidades com forte tradição marítima, a Costa Nova é um caso exemplar de património arquitectónico popular, bem recuperado e preservado. diversidade a sua maior riqueza. 42 OLHO VIVO 44 A CASA NA ÁRVORE 46 PORTUGAL E A LUSOFONIA 48 O TEMPO E O MUNDO 32 50 PAIXÕES VIAGENS 34 NA HISTÓRIA COMUNIDADES 51 PORTUGUESAS BOA VIDA Maria Mendes, luso – francesa é mestre em ballet indiano 70 36 79 VIAGENS A CHEFE SUGERE MONTEVIDEU Cataplana de Lombos de tamboril com amêijoas da Lagoa de Óbidos Mergulhar no passado e descobrir alguns dos encantos da América do Sul não é complicado se decidir “perder-se” em Montevideu, uma cidade onde se destaca o “calor” humano e o dinamismo crescente de uma sociedade que encontra na CLUBE TEMPO LIVRE 81 O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião 82 Crónica Joaquim Letria Revista Mensal: e-mail: [email protected] - Propriedade do INATEL (Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores) Presidente: José Alarcão Troni VicePresidentes: Luís Ressano Garcia Lamas e Vítor Ventura Sede do INATEL: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Fax 210027061, Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: José Alarcão Troni Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: Ana Santos, André Letria, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Eduardo Raposo, Francisca Rigaud, Gil Montalverne, Helena Aleixo, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Durão, José Jorge Letria, Lourdes Féria, Maria Augusta Drago, Marta Martins, Paula Silva, Pedro Barrocas, Pedro Soares, Rodrigues Vaz, Sérgio Barrocas, Tharuga Lattas, Vítor Ribeiro.Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Maria Alice Vila Fabião, Fernando Dacosta, João Aguiar, Luís Miguel Pereira, Rogério Vidigal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA Telef. 210027000 Fax: 210027061 E-Mail [email protected] Publicidade: Tel. 210027187 Pré-impressão e impressão – Lisgráfica, Impressão e Artes Gráficas, SA. Casal Stª Leopoldina, 2730-052 Queluz de Baixo. Telef. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 179.044 exemplares 04e05_edit_179.qxp 26-01-2007 17:28 Page 4 Editorial JOSÉ ALARCÃO TRONI 2007 Ano de todos os desafios Por despacho de Sua Exa. o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, de 28 de Dezembro de 2006, foi homologado o Plano e Orçamento do INATEL para 2007, aprovado, por unanimidade, pelo Conselho Geral, na sessão de 7 do mesmo mês. Estão, também, assinados os despachos conjuntos que aprovam, respectivamente, os Programas Turismo Sénior e Saúde e Termalismo Sénior para o ano em curso. PLANO E ORÇAMENTO ntrou, pois, em vigor o Plano e Orçamento para 2007. É com realismo e preocupação que anoto a redução administrativa de 2.8 milhões de euros, na receita e na despesa, decorrente da situação conjuntural das finanças públicas do país. Como cidadão, não posso deixar de concordar com o corte; como gestor, este exige-me, e à Direcção a que tenho a honra de presidir, redobrada atenção no acompanhamento da execução orçamental da despesa – mas, também, na necessidade do correspondente aumento da receita – com vista à concretização do quinto equilíbrio financeiro e orçamental consecutivo. O equilíbrio orçamental em 2007 constitui, assim, o primeiro desafio do ano em curso. E DESAFIOS 2007 omo referi, no editorial anterior, o ano de 2007 representará para o INATEL o ano de todos os desafios. A criação da Fundação INATEL.. A Gestão da Mudança, com a implementação dos novos Sistemas e Tecnologias de Organização e Informação. O PDE – Plano de Desenvolvimento Estratégico (2007/13), coincidindo com o recém-aprovado QREN – Quadro de Referência Estratégica Nacional – o quarto Quadro Comunitário de Apoio a Portugal – que será submetido à aprovação do Ministério da Tutela e do Conselho Geral, no âmbito do processo orçamental para 2008. O encerramento do “dossier” relativo ao Polis Albufeira, com a aprovação definiti- C 4 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 6 va do plano director de reabilitação da mata e das obras do Centro de Férias , cuja facturação – nunca o poderemos esquecer – representa 60% da receita do Turismo Social. O aprofundamento da abertura do INATEL à sociedade civil e ao país real, através da celebração de um “pipe-line” de protocolos de parceria estratégica, com prioridade para as duas Confederações Sindicais – CGTP e UGT. O movimento associativo, em Portugal e na Diáspora. O movimento cooperativo e da economia social, com destaque para o Montepio Geral, as fundações e associações de utilidade pública. A ANMP – Associação Nacional dos Municípios Portugueses. A ANAFRE - Associação Nacional das Freguesias. A Misericórdia de Lisboa e a União das Misericórdias Portuguesas, a Confederação das IPSS. As Universidades e Politécnicos. As Regiões de Turismo e a sua Associação. O ACIME – Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas. A CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. A SHIP – Sociedade História da Independência de Portugal. As principais associações representativas dos jovens, reformados e deficientes, bem como as empresas mais actuantes nos planos da ética e da responsabilidade social. FUNDAÇÕES Tempo Livre inicia, no presente número, a ronda das principais fundações portuguesas e da sua obra. À Fundação Calouste Gulbenkian, a quem Portugal tanto deve nos domínios das Ciências, Letras, Artes, Beneficência, Cooperação e A 04e05_edit_179.qxp 26-01-2007 17:28 Page 5 reabilitação do Património Monumental Português no Mundo - endereçamos sinceros parabéns pelo ano cinquentenário que está comemorando. SHAKESPEARE NO TRINDADE a época teatral de 2007 – ano do seu centésimo quadragésimo aniversário – o Teatro da Trindade apresentará duas obras clássicas de William Shakespeare – Macbeth e Hamleth. O Macbeth, peça recentemente estreada, revela excelentes cenários, guarda-roupa e interpretação, pelo que recomendo, vivamente, aos nossos 250 mil associados e suas famílias, assim como ao sistema educativo – universitário, politécnico e secundário – que não percam o espectáculo, o qual honra o INATEL e os encenadores e actores pelos qualidade e ineditismo da versão portuguesa. N BTL – BOLSA DE TURISMO DE LISBOA INATEL esteve representado na BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa – com um pavilhão, muito digno e de grande visibilidade, inspirado no Arco do Triunfo da Defense, cumprindo a sua responsabilidade de primeira organização de Turismo Social do país no âmbito do Turismo e do destino Portugal. No último trimestre do ano, no quadro da Presidência Portuguesa da União Europeia, realizarse-ão, em Portugal, o Seminário Europeu de Turismo (26/27 de Outubro) e o Congresso Ibérico de Termalismo (data a fixar), nos quais o Turismo Social e o INATEL esperam protagonizar a respectiva importância crescente nos sectores turístico e termal do nosso país. Também o BITS – Bureau International du Tourisme Social contactou o INATEL quanto à possibilidade da realização, em Portugal - Fátima - no mês de Novembro, durante a Presidência Portuguesa, de um Seminário Internacional, integrado na agenda dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora, reunindo as principais sete cidades europeias com santuários e os respectivos municípios, de entre os quais Ourém, no qual seria discutida a problemáti- O ca do Turismo Social, Cultural e Religioso na Europa e no Mundo. Conquanto sensível à importância do desafio, o INATEL contactará as suas autoridades tutelares, na medida em que o projectado fórum internacional, a realizar-se em Portugal, ocorrerá na recta final do processo de reforma estatutária e institucional, o que pode acarretar alguma dificuldade logística e organizativa. CAPARICA ast but not least, o Atlântico continua o seu ataque, de séculos se não de milénios, à Duna da Caparica. As autoridades do Ambiente e da Protecção Civil – apesar de certo alarmismo da opinião pública – continuam a tranquilizar o INATEL e os associados campistas, no sentido de que nem as actuais marés vivas nem as previstas para o equinócio da primavera porão em risco a Mata de Santo António e o Parque de Campismo da Caparica. Os meus Vice-Presidentes e eu próprio visitámos, por diversas vezes, o local e estamos convencidos da razoabilidade da desdramatização do problema, pelo menos em 2007, pressupondo, obviamente, a realização das anunciadas obras de engenharia de fundo para sustentação da Duna. No entanto, o Atlântico é o Atlântico. E toda a Costa da Caparica, até à Falésia, está abaixo do nível do mar. Parece-me, assim, ganhar nova urgência – apesar da simultânea, complexa e vultuosíssima, questão do Polis de Albufeira – a reavaliação do plano director do INATEL - Caparica, equacionando-se a eventual transferência do Parque de Campismo para localização mais distante da frente de mar, com a reutilização do espaço actual para área de lazer, desporto e passeios pedonal e ciclável. Também, quanto ao cine-teatro – cujas obras estão paradas há bastantes anos, na sequência de contenciosos antigos com projectistas e empreiteiros – se deverá, no âmbito da revisão do plano director, decidir, em definitivo, pela conclusão do edifício ou pelo abandono do projecto e implosão da estrutura inacabada existente. I L Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 5 07a11:cronica.qxd 29-01-2007 10:52 Page 7 Notícias Concerto de Ano Novo Com a sala principal do Teatro da Trindade empenho da presidente da associação, repleta, o tradicional Concerto de Ano Margarida Lancastre, na realização do Novo do Inatel juntou as vozes de dezenas concerto-espectáculo e pelo trabalho de jovens intérpretes dos Pequenos que desenvolve junto das crianças. O Cantores de Belém, do Estoril, do Instituto Presidente do Instituto assinalou ainda o Gregoriano de Lisboa, da Classe de Coro do facto deste concerto de abertura da Conservatório Metropolitano de Música, do agenda cultural do Inatel para 2007 ter Coro Gospel e do Coro da Câmara de decorrido num dos espaços mais em- Cascais, num magnífico espectáculo de blemáticos do Instituto, que comemora, luz e cor, com canções de Natal e do este ano, 140 anos de actividade. Mundo e uma representação cénica, da Alarcão Troni sublinhou, na circunstân- autoria da associação “Acordar a História cia, a importante intervenção cultural Adormecida – Museu das Crianças”. prevista para o Trindade, no 2º semestre José Alarcão Troni, Presidente do Inatel, de 2007, no âmbito da presidência por- usou da palavra, no início, para elogiar o tuguesa da União Europeia. A Direcção do Inatel conviveu, no “foyer” do Trindade, com algumas das individualidades presentes no concerto Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 7 07a11:cronica.qxd 29-01-2007 10:52 Page 8 Notícias Passeio a Almoster Rectificação: No primeiro domingo de Janeiro teve paisagens naturais, como a nascente lugar, por iniciativa da Delegação de do Rio Tordo, afluente do Nabão, e do Leiria do INATEL e da Junta de contacto, orientado por um historiador, Viagem “Trás-os-Montes e Alto Douro” Freguesia de Almoster, mais um com lugares e edifícios do património O preço da viagem Inatel “Trás Passeio caminhada, local, como o: Cruzeiro Fiéis de Deus, -os-Montes e Alto Douro”, pre- assente numa vertente turístico-cultu- de 1560, a Igreja de S. Salvador do vista para o mês de Maio, e ral, envolveu meia centena de partici- Mundo, do séc. XVI, Carvalhal, Lagoa indicado na reportagem sobre pantes que desfrutaram de magnificas Nova e o Lagar do Duque de Cadaval. Rio de Onor, página 19 da Pedestre. A edição TL nº 178, de Janeiro de 2007, não está correcto. Com as nossas desculpas pelo lapso, informamos que na próxima edição da revista, Março 2007, será divulgado o custo definitivo desta viagem à belíssima região do Nordeste português. Programas para seniores na Fundação Cupertino de Miranda Associação Termas de Portugal aposta na imagem e comunicação Adequar a oferta dos produtos à diversidade da procura do turismo termal e traçar Consciente da importância do papel edu- nando a cada um deles vivências e exper- estratégias de abordagem ao mercado são cacional que lhe cabe, dos constantes iências enriquecedoras. O público Sénior alguns dos objectivos da Comissão de processos de transformação social e da é relevante para a Fundação, pois além Comunicação e Marketing da Associação consequente formação de novos públi- deste segmento da população estar a das Termas de Portugal, presidida por José cos, a Fundação Cupertino de Miranda aumentar de ano para ano, as visitas de Alarcão Troni, presidente do Inatel, que anuncia grandes novidades para a pro- seniores ao Museu também têm cresci- conta com uma qualificada equipa de oito gramação deste ano. do bastante. “Quem conta um conto”... é profissionais com competências em O Museu – que hoje se apresenta como uma actividade dirigida para este público gestão, marketing ou comunicação. Casos empreendedor social, local de entreteni- para quem o dinheiro é memória de tem- de Luís Mexias Alves, Termas de Monte mento e agente de mudança - para além pos passados, de dificuldades, de formas Real, Cristina Araújo, Empresa Águas do de programas específicos para crianças, de estar no mundo muito diferentes. Vimeiro, Diogo Barbosa, Empresa das escolas e famílias, aposta agora em dois A pensar nas famílias, o Museu do Papel Águas de MM de Caldelas, Ana Ladeiras, novos segmentos da sociedade : os Moeda criou aos fins-de-semana dois Município de Chaves, António Pinheiro, seniores e as pessoas com deficiência. programas divertidos, onde pais e filhos Sociedade das Termas de Monchique, Com o objectivo de promover a podem em conjunto participar. «Bancos Nuno Ferreira, Sociedade Águas do Luso, sociedade de conhecimento, a edu- Familiares do Porto» e «Trilhas e Tricas» Carla Vaz, VMPS Águas e Turismo e Teresa cação, a cultura e a ocupação de tempos permitem que os agregados familiares se Vieira, Sociedade de Turismo de Santa livres de forma lúdica e didáctica, a juntem no Museu para se divertirem, e Maria da Feira. A equipa, que terá em linha Fundação desenvolveu para este ano para desenvolverem a criatividade, o tra- de conta a saúde, bem-estar, natureza, uma série de programas direccionados balho em equipa e ainda a importante beleza e estilos de vida dos portugueses, já para cada um destes públicos proporcio- interacção entre pais e filhos. se encontra em funções 8 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 07a11:cronica.qxd 29-01-2007 10:52 Page 9 “Inscrever a Europa nas paredes das cidades” “Portugal, Defesa e Afirmação” O Instituto Franco-Português corde” em Paris em 1989, (IFP) apresenta na sua sede e Bruxelas em 1992, Haïfa em na Galeria Ratton, em Lisboa, 1994, Estocolmo em 1998, “Portugal, Defesa e até 18 do corrente mês, duas Berlim em 2000), utilizando Afirmação” é o tema do exposições, uma documental como suporte o azulejo, Fran- seminário marcado para o e uma fotográfica, da artista çoise Schein realiza, desde próximo dia 14 no auditório francesa Françoise Schein, 1999, no Rio de Janeiro, um da Universidade Católica sob o tema “O Caminho dos conjunto de obras de arte Portuguesa, no Porto, com urbana com a população des- a participação do Prof. Direitos - Os azulejos como material de difusão dos direitos humanos”. favorecida das favelas da cidade. Adriano Moreira. Inserido Conhecida pelo seu trabalho de arte urbana Desde 2003 este trabalho foi retomado por mu- no ciclo Conferências do em cerâmica sobre os direitos do homem nos lheres das comunidades criando a Azulejaria Castelo, promovidas pelo metropolitanos das cidades do mundo com a qual elas desenvolvem as suas próprias Instituto de Defesa (Estação Parque em Lisboa em 1994, “Con- obras, de forma independente. Nacional Universidade Católica (pólo do Porto) e Globalização é tema do IX PortoCartoon-World Festival da Delegação do Norte da Associação dos Auditores dos Cursos de Defesa O Museu Nacional da Imprensa lança a cingir-se ao tema principal há a categoria de Tema Nacional, com o apoio da “Globalização” como mote para o IX Porto- Livre que pode incluir a política internacional, os Delegação Inatel do Porto, Cartoon-World Festival, a realizar em Junho costumes, a vida social, a comunicação, etc… o seminário conta ainda próximo. Com a escolha deste tema, o organi- Os vencedores do PortoCartoon receberão um com a presença do zador do festival- que tem o patrocínio da CGD prémio monetário, o troféu do festival, desenhado Embaixador Martins da - pretende que cartunistas em todo o mundo pelo Arqto. Siza Vieira e garrafas especiais de Cruz, do General Loureiro reflictam com humor sobre o impacto que a Vinho do Porto. Os trabalhos concorrentes ao IX dos Santos, do Eng. Globalização vem tendo nos mais diversos sec- PortoCartoon devem ser remetidos para a sede Marques dos Santos e do tores da sociedade, à escala mundial. do Museu Nacional da Imprensa (E. N. 108 nº prof. Doutor David Justino. Para os cartunistas concorrentes que não queiram 206, 4300-316 Porto) até 31 de Março. A entrada é gratuita. Cantar as Janeiras “Conheça a Nossa Terra” O Encontro de Grupos de Cantadores de Janeiras e de Reis, que teve lugar no Inatel Santa Maria da Feira, em Janeiro passado, teve uma forte e animada participação de associados do Instituto. Dezenas de associados viajaram até ao Algarve, em Dezembro último, no âmbito do programa “Conheça a Nossa Terra”, uma iniciativa do Inatel Viseu. Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 9 07a11:cronica.qxd 29-01-2007 10:52 Page 10 Notícias Noite de Gala no Trindade Numerosas individualidades e figuras da cena artística portuguesa marcaram presença na estreia de “Macbeth”, uma das mais notáveis peças de Shakespeare que assinala a programação comemorativa dos 140 anos do Teatro da Trindade. Maria Barroso, o ministro dos Assuntos Parlamentares Augusto Santos Silva, Roberto Carneiro, Bagão Félix, Vítor de Sousa, Cucha Carvalheiro e Sandra Celas foram, entre outras, presenças em destaque na abertura da temporada 2007 do Trindade. José Alarcão Troni e Luís Lamas, presidente e vice-presidente da Direcção BTL 2007 do Inatel, foram os anfitriões em mais uma estreia memorável no histórico palco da capital. Em cena, no Os programas seniores e férias 2007 estiveram em Trindade, até 15 de Março, “Macbeth” estará, destaque no stand do Inatel na Bolsa de Turismo de Lisboa. posteriormente, noutros palcos nacionais, a saber: Barreiro, Milhares de visitantes, incluindo profissionais do sector, Ponta Delgada, Guimarães, Aveiro, Famalicão, Montijo, estiverem presentes, na última semana de Janeiro, no mais Torres Novas, Braga, Beja, Guarda, Leiria, Portalegre, importante certame nacional de turismo. Com 18 anos de Coimbra, Évora, Vila Real e Sintra. existência, a BTL é um marco na actividade dos profissionais de turismo, que participam e visitam a feira com o intuito de dinamizar o seu negócio, confraternizar com os colegas do sector e anunciar as respectivas novidades. Para muitos dos visitantes não profissionais, cujo número aumenta, ano após ano, a BTL, é a oportunidade de escolha do seu próximo destino de fim-de-semana ou de férias. Rectificação > Maria Belém Pinto Soares, associada residente no Porto e vencedora do 1º prémio de fotografia do Turismo Sénior 2006, recebe o prémio respectivo. Por lapso, na edição de Novembro da TL, foi publicada uma foto que, erradamente, ilustrava a entrega do referido galardão àquela nossa associada. As nossas desculpas. 10 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 07a11:cronica.qxd 29-01-2007 10:52 Page 11 GRANDES PROMOÇÕES Portugal Património Oito anos levaram Duarte Belo, arquitecto e fotógrafo, e Álvaro Duarte de Almeida, 2007 pintor e professor, a concretizar – com o apoio de seis dezenas de colaboradores e o acompanhamento científico dos catedráticos. José Mattoso (História), Paulo Pereira (História de Arte) e Teresa Belo (Linguística), os 10 volumes de Portugal Património, um monumental documento que nos dá a conhecer, de forma exaustiva, o imenso e riquíssimo património, natural e construído, do nosso País. Editado pelo Círculo de Leitores (“a obra de maior investimento feita até agora pelo Círculo”, garante o seu presidente, João Alvim), “Portugal Património” custou na sua preparação cerca de um milhão de euros. Para as oito mil fotos publicadas, Duarte Belo recolheu 600 mil, numa maratona de 300 mil quilómetros por todo o território nacional. “Não conheço obra tão completa e detalhada”, sublinha José SERRA DA ESTRELA O PARAíSO DE BELEZA BRANCA Preços a partir de 18,85 Euros p/pessoa em quarto duplo. Aproveite as nossas promoções de Fim-de-semana em época baixa a preços convidativos. Mattoso acerca deste monumental trabalho de 10 volumes, com 9000 entrada e mais de 60 mil referências, onde o tratamento das unidades de património é feito em forma de ficheiro, com texto e imagem (fotografia e cartografia) a conviverem de forma harmoniosa. Para mais informações e/ou reservas contactar directamente os Centros de Férias aderentes: Piódão (telef. 235 730 100/1), Serra da Estrela (275 980 300) e Fornos de Algodres (271 776 016) 12e13.qxp 24-01-2007 16:30 Page 12 Fotos Premiadas [1] [ 1 ] Fernando Panão, Lisboa – Sócio n.º 40983 [ 2 ] Maria Valente, Porto Alto – Sócio n.º 52982 [ 3 ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril – Sócio n.º 204212 Menções Honrosas [ a ] Carlos Pereira, Lisboa – Sócio n.º 343578 [ b ] Armando Isaac, Massamá – Sócio n.º 246319 [ c ] Vítor Félix, S. M. Infesta – [a] [b] Sócio n.º 446942 [c] 12e13.qxp 24-01-2007 16:30 Page 13 REGULAMENTO 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os sócios do Inatel, excluindo os seus funcionários e os elementos da redacção e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco, sem qualquer suporte. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos sócios do Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, direcção, telefone e número de associado do Inatel. [2] 7. A Tempo Livre publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio um fim de semana (duas noites) para duas pessoas num dos Centros de Férias do Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL» [3] 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na revista Tempo Livre de Setembro de 2007, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista Tempo Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio. 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 14 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [1] MEIO SÉCULO DE CULTURA, CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E SOLIDARIEDADE A revolução Gulbenkian Criada por um culto e benemérito milionário arménio, apaixonado pelo nosso país, a mais conhecida e influente Fundação portuguesa, e uma das mais importantes a nível europeu, prossegue as comemorações do seu 50º aniversário com um vasto e ambicioso programa de acções para o próximo meio século. E leita pela Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal (AIEP) a “Personalidade do Ano 2006”, como reconhecimento do seu papel, durante 50 anos, no panorama cultural, artístico e educativo português, a FCG – considerada como um verdadeiro ministério da Cultura e Ciência do nosso país até aos anos 80 - foi bem mais longe na acção benemérita, nomeadamente no domínio da saúde e da protecção social. A sua contribuição para a modernização da medicina em Porugal, sobretudo a preventiva, nomeadamente por meio de subsídios ou doação de equipamentos aos hospitais teve impacto decisivo na evolução dos cuidados de saúde entre nós, proporcionando a introdução de novas técnicas, métodos e tecnologias medicinais. A face mais visível da Fundação respeita, entretanto, a uma longa e intensa acção cultural, nos campos da museologia, museografia, artes plásticas, história de arte, arqueologia, estética, música, dança, teatro, cinema e actividades editoriais. O Museu Gulbenkian, inaugurado em 1965, que alberga o espólio legado pelo fundador, é considerado, como 14 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 Biombo francês século XVIII colecção de uma só pessoa, um dos mais notáveis a nível europeu. Peças do antigo Egipto (3000 anos A.C.); moedas e medalhas da Grécia clássica; medalhões romanos do século III; peças e objectos de arte da Mesopotâmia, Pérsia, Arménia, Turquia, Síria, Índia, China e Japão; tapeçarias, mobiliário e ourivesaria da Europa da Renascença e do século XVII; uma impressionante colecção de quadros do século XV ao século XX, com telas de, entre outros, Roger Van der Weyden, Rubens, Van Dyck, Rembrandt, William Turner, Corot, Fragonard, Manet, Degas, Renoir e Monet; e, finalmente, uma colecção rara, a nível mundial, de peças de um dos grandes nomes da Arte Nova, René Lalique, de quem Gulbenkian foi dedicado amigo. Marcantes, ainda, na modernização da cultura portuguesa, foram a divulgação de artistas nacionais e estrangeiros, no âmbito do Centro de Arte Moderna e do Acarte, as bolsas de estudo ou subsídios, o incremento do teatro contemporâneo e infantil e os ciclos de cinema, nos anos 60/70. A Orquestra, o Coro Gulbenkian e Ballet, criados na década de 60, foram, por sua vez, em conjunto com os Festivais de Música, iniciados em 1957, essenciais no plano do desenvolvimento da música e da dança em Portugal, bem como na expansão internacional da nossa cultura. MILHARES DE BOLSAS Mais de 3000 cientistas, professores e investigadores beneficiaram, nestes 50 anos, de 5806 bolsas de pós-graduação para estudos e pesquisas científicas em 38 países. Registe-se o facto de tão impressionantes números não incluírem as bolsas concedidas pela fundação no âmbito artístico, às comunidades arménias ou no programa de ajuda ao desenvolvimento. E, apesar dos fundos comunitários recebidos pelo Estado português após a integração europeia, a Fundação é, ainda, desde os anos 80, a segunda instituição nacional em esforço financeiro para atribuição de bolsas de estudo de pós-graduação no estrangeiro. Mais recentemente, e dada a existência de 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 15 José Frade Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 15 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 16 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [1] CALOUSTE GULBENKIAN Pormenor do jardim da Fundação e, em baixo, rosto feminino, um pendente de René Lalique que integra o acervo da Fundação outras entidades que investem no mesmo sentido, o esforço da FCG aponta para a atribuição de bolsas a candidatos de excelência e à cooperação com universidades portuguesas e estrangeiras. No plano editorial destacaram-se as revistas Colóquio/Ciências, Colóquio/Artes e a, ainda sobrevivente, Colóquio/Letras, criada em 1971 e considerada a mais importante revista dedicada ao estudo da literatura portuguesa. Inestimáveis foram, ainda, a acção desenvolvida com as bibliotecas itinerantes e, na área da investigação científica, a criação do prestigiado Instituto Gulbenkian Ciência, de Oeiras. A FCG apoia também programas e projectos de natureza científica, educacional e artística; desenvolve uma intensa actividade editorial, sobretudo através do seu plano de edições de manuais universitários; promove e estimula projectos de ajuda ao desenvolvimento com os países 16 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 africanos de língua portuguesa e Timor-Leste; promove a cultura portuguesa no estrangeiro; e desenvolve um programa de preservação dos testemunhos da presença portuguesa no mundo (na Europa, África, Ásia e América Latina). INFLUÊNCIA, EXPOSIÇÕES, PRÉMIOS A avaliação do impacte da FCG na vida portuguesa no último meio século está a ser feita por uma equipa coordenada pelo sociólogo António Barreto. Da equipa de investigadores fazem ainda parte António Correia de Campos, José Medeiros Ferreira e Kenneth Maxwell. No âmbito, ainda, das comemorações do 50º aniversário, e a par de inesquecíveis concertos com orquestras e solistas de renome, destacou-se a concorridíssima exposição da obra de Amadeo de Souza-Cardoso, um dos grandes acontecimentos culturais de 2006, e a anunciada exposição “50 Anos de Arte Portuguesa”, que promete ser um marco cultural em 2007. O cinquentenário da Fundação permitiu, também, a criação de cinco importantes Prémios Calouste Gulbenkian, com a duração de cinco anos, nas áreas das Artes, Beneficência, Ciência, Educação e Internacional. O Prémio Artes (artes visuais, artes performativas, música, cinema, arquitectura e design), no valor de 50.000 Euros, vigorará por cinco anos e pretende ser um estímulo a contribuições originais e inovadoras no campo da arte contemporânea, nos seus vários modos de expressão, e ainda encontrar outras formas de enriquecimento do património artístico e da sua 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 17 Calouste Sarkis Gulbenkian (1869 -1955) Culto, rico e benemérito C alouste Gulbenkian oriundos do Médio Oriente, uma nasceu em Scutari, escultura egípcia do período actualmente Üsküdar (Istambul) a ptolomaico, um torso grego do 29 de Março de 1869, numa século V a.C., bem como um família de abastados comerciantes notável conjunto de arte europeia arménios. Educado na escola local com obras de Lucas Cranach, o até aos treze anos, estudou em Velho, Van Dyck, Largillière, Marselha e posteriormente no Hubert Robert, Reynolds, King’s College em Londres, Hoppner, Dupré, Courbet e Rodin. diplomando-se com distinção no É de destacar igualmente a Department of Engineering and doação de uma pintura de Joos Applied Sciences (1887). Em 1902 van Cleve, de grande significado adquiriu a cidadania britânica. A simbólico, o retrato de Leonor de sua vida profissional foi Áustria, terceira mulher de D. vocacionada para a indústria do Manuel I de Portugal (c. 1469- petróleo, desempenhando um 1521). papel primordial no seu C desenvolvimento no Médio Oriente. ulminando a sua gratidão ao País, Calouste Gulbenkian, deixou expresso no No âmbito desta indústria, seu testamento a vontade de criar participou em importantes uma personalidade ecléctica, mas uma fundação com o seu nome. A negociações a nível mundial, criteriosa, a colecção reflecte a Fundação Calouste Gulbenkian, nomeadamente na criação da sua vivência. As suas origens constituída em 1956 pelo Turkish Oil Company, cujas acções estão patentes na quantidade de empenho de José Azeredo foram dispersas pela Anglo- obras islâmicas e a sua educação Perdigão, o seu advogado Persian Oil Company, Royal europeia reflecte-se no interesse português, inaugurou em 1969, as Dutch-Shell e Deutsche Bank. pelos grandes mestres da Pintura, suas instalações definitivas que Destas acções, 5% reverteram Escultura e Artes Decorativas. incluíam o Museu onde se reúne para o negociador - Calouste Gul- Em busca de tranquilidade, "sob o mesmo tecto" a totalidade benkian. Em 1928, quando as chegou a Lisboa em Abril de 1942, da colecção de arte. acções foram redistribuídas, foi- tendo passado os últimos treze Cumprindo os objectivos lhe garantida, mais uma vez, a anos da sua vida no Hotel Aviz, artísticos, educativos, sua percentagem habitual, onde viria a morrer a 20 de Julho filantrópicos e científicos de- passando a ser conhecido como o de 1955. finidos pelo seu patrono, a FCG “Senhor 5 por cento”. Detentor de uma fortuna colossal, R econhecido pela boa influenciou poderosamente a hospitalidade “que nunca sociedade portuguesa e, graças à o bem sucedido homem de havia sentido em mais lado acção desenvolvida noutros negócios tornara-se num dos mais nenhum”, presenteou, entre 1949 países, adquiriu um raro prestígio notáveis coleccionadores de arte e 1952, o Museu Nacional de Arte internacional. É, meio século do século XX. Antiga de Lisboa com um passado, uma das dez grandes Definindo-se a si mesmo como importante núcleo de azulejos fundações europeias. I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 17 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 18 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [1] CALOUSTE GULBENKIAN Hall de entrada do CAM; porcelanas chinesas em exposição no Museu Calouste Gulbenkian; em baixo, a orquestra e o coro da Gulbenkian no auditório principal [Fotos: José Manuel Costa Alves] compreensão. Será atribuído, em cerimónia a realizar em Julho próximo. As candidaturas deste e dos restantes prémios, realizam-se de 2 de Janeiro a 15 de Março de cada ano O Prémio Beneficência, também no valor de 50 mil euros e inscrito nas quatro finalidades estatutárias da Fundação, visa contribuir para a divulgação de actuações inovadoras e com real impacto ao nível da saúde e do desenvolvimento social e humano. Será atribuído na mesma data do Prémio Artes. O Prémio Gulbenkian de Ciência, atribuído regularmente desde 1976, conquistou um lugar de grande prestígio no seio dos cientistas portugueses, é renovado por ocasião do 50 º aniversário da Fundação, 18 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 também no valor de 50.000 Euros , tem como objectivo distinguir a actividade criativa da comunidade científica portuguesa, em termos do seu contributo relevante para a ciência em particular no âmbito das Ciências Básicas (Matemática e Ciências da Computação; Ciências Físicas; Ciências da Vida) e das Ciências Sociais e Humanas. Em 2007, o Prémio será atribuído na área das Ciências Básicas. Prémio Gulbenkian Educação tem com o objectivo de distinguir uma pessoa ou uma instituição que, com grande mérito e qualidade assinalável, promova o desenvolvimento de actividades educativas e formativas. Valor 50.000 Euros e entregue também em cerimónia a realizar em Julho próximo. Finalmente, o Prémio Internacional Calouste Gulbenkian, no valor de 100.000 Euros, tem como objectivo distinguir uma individualidade ou uma instituição que, pelo seu pensamento ou acção, tenha contribuído de forma decisiva e com particular impacto para a compreensão, defesa ou promoção dos valores universais da condição humana, em particular nos seguintes âmbitos: A respeito pela diferença e diálogo inter-cultural, inter-étnico ou interreligioso; B - respeito pela biodiversidade e defesa do ambiente, na relação dos homens com a natureza. Em 2007, o prémio será atribuído aos trabalhos sobre o respeito pelo diálogo inter-cultural e inter-étnico ou inter-religioso. I 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 19 Rui Vilar «A Fundação Gulbenkian tem um novo dinamismo» Gestor de reconhecidos méritos, mas atento e empenhado, desde muito jovem, na vida cultural e no trabalho cívico, o sucessor de Azeredo Perdigão, Ferrer Correia e Vítor Sá Machado na liderança da mais influente e prestigiada fundação portuguesa, apostou numa celebração memorável dos 50 anos da instituição, apostada, agora – sublinha- numa acção mais dinâmica, para “atrair novos públicos”. Tempo Livre - O êxito da exposição de Amadeo Souza Cardoso, quer pela qualidade quer pelo número de visitantes, foi uma bela prenda dos 50 anos da FCG. Haverá outras exposições deste nível? Rui Vilar – As comemorações do cinquentenário só terminam em Julho. Haverá ainda grandes exposições, como a relativa aos “50 Anos de Arte Portuguesa”, com obras de artistas nacionais que a Fundação de algum modo apoiou. E está prevista, de Fevereiro a Abril, uma grande exposição de fotografia e engenharia que se chama “INGenuidades”, utilizando o étimo da palavra engenho, com mais de 300 imagens de grandes fotógrafos internacionais e acompanhando o progresso técnico e o percurso da arte fotográfica até aos nossos dias. É comissariada por Jorge Calado e será também apresentada, no Outono, no Palais des Beaux-Arts, em Bruxelas, por ocasião da presidência portuguesa da União Europeia. TL – E há a célebre colecção Cartier… RV – Abre também em Fevereiro e estará até final de Abril. É uma notável exposição de jóias Cartier, algumas delas adquiridas por Calouste Gulbenkian. É um con- junto de 230 peças - jóias, relógios e outros objectos pertencentes, na sua grande maioria, à Colecção Cartier. Esta exposição é uma recriação da que esteve nos principais museus do mundo: no Ermitage, em São Petersburgo, no British Museum, de Londres, no Metropolitan Museum of Art, de Nova Iorque e no Museu de Xangai. Será outro grande momento do nosso 50º aniversário. A fechar o fórum cultural “O Estado do Mundo”, teremos uma grande exposição internacional, dirigida por duas comissárias, uma turca e outra norte-americana, que também irá cobrir a contemporaneidade internacional, sobretudo os artistas daqueles países que não fazem parte dos roteiros habituais: os países emergentes, os países asiáticos, a Austrália. É uma proposta de reaprendizagem do mundo através do encontro com outras sociedades e com uma nova dimensão intelectual e artística. TL – Será, portanto, como em 2006, um ano Gulbenkian em grande estilo. RV - …E em 2008. Não quero ser juiz em causa própria, mas penso que a Fundação tem um novo Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 19 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 20 FUNDAÇÕES PORTUGUESAS [1] CALOUSTE GULBENKIAN quando cheguei à Fundação, tinha 950. Hoje somos 530. dinamismo que começa a atrair novos públicos. A aposFoi, portanto, um processo de que o dr. Azeredo ta que fizemos nos programas educativos, quer do Perdigão teve clara consciência, que o Prof. Ferrer Museu quer do Centro de Arte Moderna, e agora o proCorreia assumiu, que o dr. Sá Machado impulsiograma educativo da música, que se chama nou e que, naturalmente, eu tive de consoli“Descobrir a Música na Gulbenkian”, tem um dar. Hoje, a palavra reestruturação saiu efeito multiplicador e de atracção da gente «Tudo do nosso léxico. A nossa preocupação, nova. O mesmo acontece com os prose conjuga para agora, é aproveitarmos todo o capital gramas de divulgação da Ciência. Tudo que a Fundação de recursos humanos, de equipamenisso se conjuga para que a Fundação tenha um público tos, de bens culturais e científicos que tenha um público novo a beneficiar de novo a beneficiar temos e, portanto, não estamos pretudo aquilo que nós podemos proporde tudo aquilo ocupados em reduzir, mas em tirar o cionar. que nós podemos máximo partido do que a Fundação proporcionar» tem. TL – Isso parece desmentir a ideia de que, com a evolução ocorrida nos últimos 20 anos na sociedade portuguesa e com o aparecimento de outras importantes fundações, como a FLAD, Serralves, a Fundação Oriente, o CCB e a Fundação Champalimaud, a Gulbenkian tivesse perdido aquela dinâmica e imagem que fez com que fosse considerada, durante décadas, como o verdadeiro ministério da Cultura e da Ciência do nosso país… RV – Na vida da Fundação há, realmente, dois períodos. O do antigo regime, em que a Fundação teve um papel de modernização, em muitas áreas supletivo do Estado, não apenas na cultura, mas, por exemplo, na saúde e na ciência. Hoje, vejo a Fundação com uma função que não é tanto de suprir as falhas ou carências da acção do Estado, mas de ir mais além e ter um papel inovador e, na medida do possível, abrir caminhos. Penso que a oferta cultural ou científica de novas fundações, como é o caso da Fundação Champalimaud, só pode ser bem vinda porque dá aos portugueses novas oportunidades. Não estamos em competição com ninguém. A nossa competição é com a qualidade que queremos conferir às nossas iniciativas. TL - No processo de reestruturação iniciado pelo dr. Vítor Sá Machado, a FCG reduziu para cerca de metade o número dos seus quadros. Isso não terá afectado os grandes objectivos do seu mandato, nomeadamente o ambicioso programa de acções, inscritos igualmente nas comemorações dos 50 anos da instituição? RV – O dr. Sá Machado assumiu claramente a palavra reestruturação, mas esse processo começou antes. O próprio dr. Azeredo Perdigão, nos últimos anos do seu mandato, compreendeu que a Fundação não podia manter o número de pessoal e o nível de despesa na área administrativa. Em meados dos anos 80, a Fundação chegou a ter 1250 pessoas. Há dez anos, 20 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TL - As quatro grandes áreas de trabalho para o futuro definidas pela Fundação - beneficência, arte, ciência e educação – serão apoiadas de modo semelhante, ou haverá áreas merecedoras de uma atenção privilegiada? RV – Dessas quatro grandes áreas que estão definidas, quer no testamento quer nos estatutos, tradicionalmente a Arte teve sempre um peso maior pelo facto de aí existirem actividades directas da Fundação, como é o caso do Museu, da Orquestra e do Coro, do Centro de Arte Moderna. Mas tem havido, ao longo do tempo oscilações na distribuição relativa e, nos últimos anos, uma das áreas que tem tido crescimento tem sido a área da Ciência, não apenas pelo reforço dos meios para o Instituto Gulbenkian de Ciência, como pelas acções promovidas de divulgação científica e de apoio à investigação. Quanto à área da Beneficência, inicialmente houve um grande investimento na saúde pública e no equipamento dos hospitais. Hoje, estamos muito mais no software e em áreas sociais novas como é o caso da imigração. É um dever da própria Fundação estar atenta às mudanças que ocorrem na nossa sociedade e no mundo e, portanto, responder a outras expectativas. TL - Falou, há meses, numa entrevista, de um vasto leque de parcerias existentes e possíveis com as universidades e com organizações da sociedade civil. Pode destacar algumas? RV – Muitas vezes, há iniciativas que têm melhores resultados se nós chamarmos quem as pode realizar melhor e, por isso, a Fundação tem procurado encontrar parceiros em muitos domínios. Praticamente todas as universidades são parceiras neste ou naquele projecto da Fundação. Posso referir também as parcerias com instituições científicas: o nosso Instituto de Ciência é um laboratório associado com o ITQB e o IBET. E temos, 14a21.qxp 26-01-2007 17:02 Page 21 nessa área, não só no Médio Oriente – onde tradipor exemplo, parcerias internacionais no movimento cionalmente a Fundação estava – mas também nos europeu de fundações, quer no campo da saúde públinovos países onde diversificamos a nossa presença, ca quer no campo das migrações e vamos, provavelcomo é o caso do Cazaquistão, da Argélia, do Brasil e mente, integrar-nos num projecto muito interessante de Angola. lançado pelo NEF (Network of European Foundations) no domínio da democracia participativa. TL - Sempre teve posições de destaque na Não estamos em competição com sociedade portuguesa. Foi governante, preTL - Com os preços actuais do petróleo, a sidiu ao maior banco do país, dirige, agora, ninguém. A nossa situação financeira da Fundação deve ser a uma das mais importantes fundações competição é com bem mais folgada… europeias…Em qual destes cargos teve a qualidade que RV – É evidente que, a curto prazo, maior prazer ou se sentiu mais realizado? queremos conferir os preços altos do petróleo favorecem RV – Sempre gostei de tudo aquilo às nossas a Fundação, mas esta fase de preços que fiz. Posso dizer que, nesse aspecto, iniciativas muito elevados do petróleo tem gerado sou um homem de sorte e penso que a também, do lado da produção, um esforço muito acrescido de investimento. E nós não podemos deixar de acompanhar esse investimento. Em termos de receitas é assim. Em termos de investimento, temos sido chamados a participações muito vultuosas Fundação Gulbenkian é um privilégio porque me permite combinar a minha profissão de gestor com o gosto que tenho pelas coisas da cultura e do trabalho cívico.I Eugénio Alves [texto] José Frade [fotos] Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 21 22a24.qxp 24-01-2007 16:39 Page 22 TEATRO DA TRINDADE >140 ANOS Vivo e activo Inaugurado a 30 de Setembro de 1867 com o drama em cinco actos “A Mãe dos Pobres” de Ernesto Biester, o Teatro da Trindade tem tido, até aos dias de hoje, administrações privadas e públicas, através da FNAT – Fundação Nacional para Alegria no Trabalho e do INATEL – Instituto Nacional Para o Aproveitamento de Tempos Livres dos Trabalhadores, que lhe sucedeu. IMPLANTADO NUMA DAS ZONAS MAIS ANTIGAS de Lisboa, entre o Chiado e o Bairro Alto, no local onde, antes do grande Terramoto de 1755, existira o Palácio dos Condes de Alva, o Teatro da Trindade deveu a sua existência à iniciativa do empresário, homem de letras e director teatral Francisco Palha (1824 – 1890). Em 1866, Francisco Palha constituiu uma sociedade destinada à construção do novo teatro, que viria a ser desenhado pelo arquitecto Miguel Evaristo de Lima Pinto. Desde então, o Trindade tem estado associado a alguns dos mais importantes e marcantes acontecimentos culturais na cidade de Lisboa. Entre 1921 e 1924, após a aquisição do edifício pela Anglo Portuguese Telephone Company, o Teatro viveu um período complicado, até a intervenção do empresário José Loureiro que negociou a sua aquisição com a companhia inglesa, reabrindo a 5 de Fevereiro de 1924. O Trindade voltou, então, a receber os grandes nomes do Teatro Português, que marcaram as várias épocas até aos dias de hoje. Sempre ligado ao teatro musicado, fi22 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 zeram história o grupo de Bailados Portugueses “Verde Gaio”, na década de 40, e os espectáculos da “Companhia Portuguesa de Ópera”, de que foi sede entre 1963 e 1975. Sempre sob gestão privada, foi sede também de algumas importantes Companhias de Teatro em Portugal: “ Os Comediantes de Lisboa”, “ Teatro d’Arte de Lisboa” e “Teatro Nacional Popular”. A difícil situação económica dos teatros e companhias teatrais nos anos 60 foi ultrapassada no Trindade com a sua aquisição, em 1962, pela FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho). Em 1975, e na sequência das transformações ocorridas após o 25 de Abril de 1974, o INATEL herdeiro do património da FNAT, tem assegurado a direcção e actividade do Teatro até aos nossos dias. A partir de 1996, e com a organização do Festival de Música INATEL 96, a programação do Trindade avançou para o aumento e diversificação da oferta cultural a todo país. A criação de um conjunto de parcerias com os espaços 22a24.qxp 24-01-2007 [1] [2] 16:40 Page 23 1 - «Mergulho quântico no mar da deusa do gelo» | 2 - «Terramoto 1755» | 3 - «As bodas de Fígaro» | 4 - «Othello» [3] [4] Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 23 22a24.qxp 24-01-2007 16:40 Page 24 TEATRO DA TRINDADE >140 ANOS 2007 Programação 1º semestre Sala Principal MACBETH, 23 Jan. a 15 Mar. HAMLET, 22 Mar.a 29 Abr. RAQUEL TAVARES, 5 Mai. VITORINO, 9 a 13 Mai. NAMANHA MAKBUNHE, 24 Mai. a 24 Jun. MISS DAISY, 5 a 29 Jul. Sala Estúdio PROVAVELMENTE UMA PESSOA, 24 Jan. a 18 Fev. ANIÑANDO, 1 Mar. a 1 Abr. MEMÓRIAS ALGODÃO DOCE, 18 Abr. 13 Mai. FIMFA LX, 24 Mai.a 10 Jun. Teatro Bar MONSIEUR PIPON, 1 a 24 Fev. ZEN OU O SEXO EM PAX, 8 a 31 Mar. culturais existentes, que permitisse, em condições mínimas, receber e apresentar condignamente e com regularidade espectáculos, levou o Teatro a enveredar por uma politica de produção artística, nomeadamente a criação de eventos que sejam ao mesmo tempo experimentais e populares, capazes de chegar ao grande público. Em 1997, estreia “Cyrano” a partir de Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand. Espectáculo que percorreu o país, com 30 representações em 25 localidades diferentes. Querendo ligar a tradição à inovação, na perspectiva também de chegar ao grande público, produziu-se, em 1998, a ópera “O Homem que confundiu a sua Mulher com um Chapéu “, com música de Michael Nyman e libretto de Christopher Rawlence, a partir de um relato clínico de Oliver Sacks. A abertura do Trindade aos actores jovens alcança um rumo decisivo com “Romeu e Julieta”, espectáculo de referência na forma como uma nova energia irrompeu pelo teatro, na abordagem de um clássico de Shakespeare. Recuperar ou fazer renascer a tradição lírica do Teatro da Trindade, nomeadamente da Companhia Portuguesa de Ópera com a produção de “AS Bodas de Fígaro” (2000 e 2006), “A Casinha de Chocolate” (2003) e a ópera contemporânea “Os Fugitivos”, uma ópera de José Eduardo Rocha, com libreto de Rui Zink, foram outros momentos altos na programação dos últimos anos. E, numa época dominada pelos inovação tecnológica e pelos avanços científicos, o Trindade mostrou, com espectáculos como “Proof ”, “O Último Tango de Fermat”, “Esse Espermatozóide é meu”, “Picasso e Einstein”, estar, em termos de programação teatral, atento e conectado com as novas realidades, Os musicais, as homenagens (Germana Tânger, Fernando Amado, Rui Mendes, Cármen Dolores), as efemérides (1755 – o grande Terramoto) e o teatro politico (“da Bósnia “, Kerosene, “O Magnifico Reitor”) são, ainda, exemplos significativos de um trabalho envolvendo, muitos mais espectáculos e dezenas de actores e criadores que fizeram, e fazem, do Teatro da Trindade, um marco cultural do nosso País. Teatro da Trindade, 140 anos, vivo e activo. I Rui Sérgio* MIND FX,12 a 28 Abr. HISTÓRIA DE PORTUGAL EM 60 MINUTOS, 14 Jun. a 14 Jul. 24 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 * Elementos de consulta: “ O Teatro da Trindade – 125 anos de vida “, de Tomás Ribas; Flyer “Teatro da Trindade – O Teatro da Lisboa” – 130 anos Project1 24-01-2007 19:13 Page 1 26a30.qxp 24-01-2007 16:43 TERRA NOSSA 26 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 Page 26 26a30.qxp 24-01-2007 16:43 Page 27 COSTA NOVA A vila multicolorida O extremo oriental da Costa Nova, uma linha recta com cerca de três centenas de metros, é um regalo para a vista: ao lado umas das outras, sucedem-se as casinhas às riscas com as mais variadas cores e os mais surpreendentes contrastes, num misto colorido único em Portugal. Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 27 26a30.qxp 24-01-2007 16:43 Page 28 TERRA NOSSA s listas vermelhas e verdes e azuis e amarelas, pinceladas na vertical ou na horizontal, combinam na perfeição com as listas brancas intercalares, em igual formato e disposição. O cenário é quase irrealista e parece retirado de um filme de animação para crianças, tamanha é a alegria transmitida por aquelas cores garridas das fachadas das casas. A escassas dezenas de quilómetros de Aveiro e de Ílhavo, duas cidades com forte tradição marítima, a Costa Nova é um caso exemplar de como o património arquitectónico popular, quando bem recuperado e preservado, pode transformar uma pequena e aparentemente insignificante terra de pescadores numa das mais originais, surpreendentes e raras montras da beleza da arquitectura tradicional portuguesa. Ao olhar de qualquer transeunte, as fachadas coloridas destas casinhas estreitas transbordam uma inesperada imagem de autenticidade, como se tivessem sido sempre assim arranjadas e bonitas. Os antigos palheiros de madeira dos pescadores, modestas construções que serviam de armazém à actividade piscatória, são hoje, depois de adaptados às necessidades da vida moderna, preciosas jóias da arte da construção civil em Portugal. A 28 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 A Costa Nova não é mais do que um pequeno aglomerado populacional de pescadores edificado sobre uma estreita faixa de areias encravada entre o mar encrespado do Atlântico e as águas serenas da laguna da Ria de Aveiro. Com menos de um quilómetro de largura e sob a permanente ameaça do avanço do mar no Inverno, esta estreita faixa de areia concentrou desde o início as construções na zona mais interior do sistema dunar, onde o terreno é mais alto, e na margem da ria, onde é menor a probabilidade de haver inundações. E hoje, apesar da proliferação das moradias em cimento, é ainda possível vislumbrar os sinais dos condicionalismos impostos pelas condições naturais adversas à acção humana. Mesmo ocupando a zona mais alta do sistema dunar, a malha urbana é marcada por ruas e escadarias estreitas e edifícios estreitos, de piso térreo e andar superior, apertados uns contra os outros. Ao primeiro olhar, tudo parece pequenino e limitado pela falta de espaço. E, de facto, olhando em direcção a Ocidente, percebe-se rapidamente a razão de ser de tamanha pequenez: o mar encrespado está logo ali, depois das dunas, a menos de quinhentos metros. A Costa Nova foi fundada no início do século XIX por 26a30.qxp 24-01-2007 16:43 Page 29 GUIA A Costa Nova é uma André é um antigo arrastão caixinha de surpresas não só bacalhoeiro. Nascido para a no que diz respeito à beleza pesca em 1948, o Santo da arquitectura e à dimensão André é hoje um museu das dunas de areia, como à que pretende mostrar como qualidade e diversidade da se vivia e trabalhava a gastronomia local. Apertada bordo dos barcos que iam à entre a Ria de Aveiro e o pesca do bacalhau nos oceano Atlântico, a cozinha mares gelados do Atlântico local, como não podia deixar Norte. de ser, prima pela riqueza e Jardim Oudinot, Forte da frescura do pescado. Os Barra, Gafanha da Nazaré. anos de história e Hotel de Ílhavo sofrem uma influência Museu Marítimo de Ílhavo experiência na arte da Av. Mário Sacramento, 113 marítima predominante: Av. Dr. Rocha Madahil porcelana. Uma visita pela Tel.: 234 329 860 marisco, peixes para a grelha Tel.: 234 329 608 Quinta da Vista Alegre Ílhavo (rodovalho, robalo, linguado), Este museu é um lugar de permite visitar o museu, a Hotel da Barra caldeiradas e cataplanas de memória da população de fábrica, o bairro social do Av. Fernandes Lavrador, 18 peixe, onde as enguias Ílhavo. Criado em 1937, século XIX, as lojas, a Praia da Barra marcam presença, feijoada acolhe três exposições capela, o palácio e o teatro. Tele.: 234 369 156 de e arroz de marisco, arroz permanentes: Sala Capitão de polvo com gambas, Francisco Marques, Posto de Turismo de Ílhavo [email protected] fritadas de peixe, bacalhau. dedicada à pesa do Av. 25 de Abril Residencial Farol da Barra Apesar da influência bacalhau à linha; Sala da Tel.: 234 325 911 Praia da Barra marítima, as carnes também Ria, Sala dos Mares, onde é estão presentes, com bifes e exibido um rico conjunto de medalhões de vitela. Os ovos embarcações antigas em moles são um ícone miniatura, instrumentos de Inatel Santa Maria COMER gastronómico da região. pesca e outros artefactos. da Feira Clube de Vela sabores da cozinha local E-mail: Tel.: 234 390 600 DORMIR Tem ainda um conjunto de Nos seus 80 quartos, da Costa Nova A NÃO PERDER milhares de conchas com casa de banho Av. José Estevão Palheiro José Estevão recolhidas por todo o privativa, Te.: 234 360 250 Av. José Estêvão (junto ao mundo testemunho das aquecimento central, Costa Nova Ancoradouro de Recreio fainas agro-marítimas na telef. e Tv via satélite, Restaurante Marisqueira O palheiro de José Estevão, laguna de Aveiro. um casal Costa Nova paga 29 euros na época Av. Marginal José Estevão, destacado político do século XIX, é uma antiga Centro de Visitas da Vista baixa (até Abril). Em 75 casa típica onde se Alegre automóvel, Tel.: 234 369 816 reuniam políticos e Vista Alegre gastam-se cerca de 20 Costa Nova intelectuais da época. Eça Tel.: 234 320 600 / 628 minutos para chegar à Restaurante A Praia do de Queiroz era um Criado com o objectivo de Costa Nova. Tubarão frequentador habitual. dar a conhecer a história da Telef. 256 372 048/9; e- Av. Marginal José Estevão, Vista Alegre, este centro mail: 136 Navio Museu Santo André proporciona uma [email protected] Tel.: 234 369 602 O Navio-Museu Santo descoberta dos quase 200 Costa Nova Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 29 26a30.qxp 24-01-2007 16:43 Page 30 TERRA NOSSA habitantes de Ílhavo, na sequência da abertura da barra da Ria de Aveiro, em 1808. Com esta obra marítima, os pescadores ilhavenses, que tinham “companhas” de arte xávega em S. Jacinto, foram forçados a deslocar-se mais para sul. Escolheram para centro da sua actividade piscatória um local que ficava na direcção de Ílhavo, frente à Gafanha da Encarnação (antiga Gafanha da Gramata), onde existia um enorme prado verdejante. E chamaram a esse lugar Costa Nova do Prado: Costa Nova, em alternativa à “costa velha” de S. Jacinto; do Prado, por haver ali um grande prado verdejante. No início, a Costa Nova não era mais do que um aglomerado de palheiros, construções em tábuas de madeira sobrepostas e cobertas com caniço (daí a designação “palheiro”), para armazenar as alfaias da apanha das algas e da faina marítima. Mais tarde, os pescadores de Ílhavo e de terras vizinhas, em conjunto com as suas famílias, e os comerciantes de pescado transferiram-se para ali e converteram os palheiros em habitações. Com a divulgação de que os banhos de mar eram uma terapia para os males do corpo humano, uma moda proveniente da Europa do Norte, a Costa Nova do Prado começou a ser frequentada como praia de banhos a partir de 1822. E, em 1840, a povoação estava 30 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 no auge da sua fama como destino de veraneio, com famílias de Aveiro, Ílhavo, Vagos e Beira entre o grupo de banhistas já habituais. Quase dois séculos após a fundação como centro de actividade piscatória, a Costa Nova, por força da decadência da pesca, recuperou a antiga fama de destino de férias: o mar bravo, cuja fúria invernal exige cuidados redobrados na protecção desta zona costeira, e a beleza da Ria de Aveiro atraem cada vez mais turistas. O comércio local dinamizou-se, com a instalação de novos restaurantes. E, para acolher o número crescente de turistas, edificaram-se complexos de apartamentos turísticos. A aparência da vila ficou mais requintada com a restauração dos antigos palheiros dos pescadores. E são justamente estas casinhas de cores garridas, sinais que evocam a policromia dos barcos moliceiros, símbolos emblemáticos das águas da ria, a maior surpresa e a principal atracção turística da Costa Nova do Prado. Nem o mar encrespado, nem a enorme linha recta da praia, nem as dunas altas desta zona costeira impressionam tanto como o contraste das cores vivas das fachadas dos antigos palheiros dos pescadores. I António Sérgio Azenha [texto e fotos] 32e33.qxp 24-01-2007 18:38 Page 32 PAIXÕES RUI OLIVEIRA Viajar na História com soldadinhos de chumbo Do pó de tijolo do Estoril Open em ténis, passando pelo asfalto da Volta a Portugal em bicicleta, até à recente poeira do Rali Lisboa-Dakar, Rui Oliveira – responsável pelos Gabinetes de Imprensa dos eventos da João Lagos Sports – encontra refúgio no coleccionismo de soldados de chumbo. Um passatempo que foi cultivando ao longo dos anos, procurando enriquecer uma colecção que sem ser muito vasta, tem peças de qualidade encontradas pelos cinco cantos do mundo e ao sabor de viagens realizadas por motivos profissionais ou de lazer. “Como qualquer coleccionador – sublinha - fui adquirindo conhecimentos e apercebi-me que o mercado português tem um vazio muito grande nesta área específica e que muitas das marcas mais reputadas não estavam representadas em Portugal, obrigando os aficionados a procurarem os seus modelos no estrangeiro”. Foi assim que surgiu a possibilidade de trazer para o nosso país duas marcas que embora muito diferentes acabam por ser complementares: a CBG Mignot, com o romantismo dos seus moldes de 1900, preciosamente conservados pela manufactura francesa, e a King and Country, especialista na reprodução de modelos de alta qualidade, com uma excelente pintura manual. Em finais do século XIX, em Paris – assinala o apaixonado coleccionador e divulgador - surgiram os 32 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 primeiros moldes dos soldadinhos de chumbo que marcaram a infância de gerações. “Brinquedos que exerceram o fascínio de muitos meninos nas suas “batalhas” caseiras e que contribuíram para a compreensão da história universal.” “Os grandes momentos que marcaram a humanidade e as suas tendências, de Napoleão, passando pelas duas Grandes Guerras e pelo colonialismo europeu em terras africanas ou no extremo oriente, tudo está soberbamente reproduzido à escala e pintado com inegável perícia”, acrescenta Rui Oliveira. O seu coleccionismo militante (www.collectmini.pt) não se esgota, porém, em peças alusivas a antigas batalhas e a sucessivas gerações de militares. A vida para além da guerra, com temas civis tão eloquentes como o circo, a praia em 1900 ou a reprodução das profissões na longínqua China, da Cidade Proibida à velha Hong-Kong, estão patentes em colecções invulgares que, para além da sua beleza figurativa em termos de decoração, nos permitem viajar no tempo. SB 32e33.qxp 24-01-2007 18:38 Page 33 Dos faraós aos astros do cinema… As descobertas da arqueologia provam a milenar existência de miniaturas de soldados, brinquedos muito apreciados, bem antes da era cristã, por faraós do antigo Egipto e imperadores chineses. Gregos e romanos coleccionaram, por sua vez, miniaturas de soldados de bronze, tendência mantida por reis na Idade Média, com modelos em madeira e barro. No século XIX, as colecções reais tinham o brilho do ouro e da prata, e é na viragem para o século XX que empresas, como a CBG Mignot e a King and Country, contribuem para a sua “democratização” com o fabrico em série dos celebrados soldadinhos de chumbo. Tornaram-se célebres as colecções de figures como H.G. Wells, Winston Churchill, Douglas Fairbanks, James Mason and Peter Cushing. A colecção, já vendida, do já falecido multimilionário Malcolm Forbes, esteve durante uma dezena de anos num castelo próximo de Tânger (Marrocos). Ultrapassava as 100 mil peças e recriava algumas das mais célebres batalhas, de Waterloo a Dien Bien Phu. Actualmente, são cerca de 200 as empresas em todo o mundo – com destaque para a produção chinesa, mais barata e abundante - dedicadas ao fabrico destas peças em metal e plástico, tanto para coleccionadores como para crianças e brinquedos infantis. Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 33 34e35.qxp 24-01-2007 18:54 Page 34 COMUNIDADES PORTUGUESAS LUSO – FRANCESA MESTRE EM BALLET INDIANO Emoção, melodia e ritmo na dança de Maria Mendes Nascida em França, com raízes portuguesas e uma experiência de 10 anos a viver no continente indiano, Maria Mendes de Oliveira ou Tarikavalli, uma bailarina apaixonada pela Bharata Natyam, uma dança tradicional do sul da Índia, considera-se uma “filha do mundo” que sonha estabelecer-se e ensinar a sua arte em Portugal, onde em Novembro e Janeiro realizou vários espectáculos e workshops de dança. MARIA MENDES DE OLIVEIRA nasceu em 1965, filha de pai e mãe portugueses emigrados em França, iniciou os seus estudos pela dança clássica, interessou-se pela contemporânea e pelo Athata-Yoga e, depois de uma formação na Faculdade de Dança da Sorbonne, em Paris, e de uma passagem pelo continente indiano dedicou-se ao estudo da Bharata Natyam, uma dança clássica do sul da Índia, que mistura emoção, melodia e ritmo. Foi na Sorbonne que conheceu Amala Devi, professora de dança indiana e sua primeira mestre, que lhe reorientou o percurso profissional e de vida. “Na Sorbonne havia uma turma de dança que tinha mesmo a disciplina de Bahrata Natyam leccionada por Amala Devi. Por pura curiosidade, entrei nessa aula, comecei a praticar e quanto mais praticava mais gostava. Matriculei-me também da sua escola privada para aprender mais. Fui também ver um espectáculo de uma das alunas dela, que era francesa, e que actuou como uma profissional. Naquele dia percebi que mesmo uma ocidental poderia ser bailarina clássica do sul da Índia. E se uma francesa o poderia fazer, uma portuguesa como eu ainda mais, dadas as ligações culturais tão fortes de mais de 500 anos entre Portugal e a Índia”, conta. É também à professora que deve o seu nome artístico - Tarikavalli. “‘Tarika’ é pequena estrela, ‘Valli’ quer dizer grinalda ou também pode significar planta trepadeira. Portanto, o meu nome artístico significa ‘trepadeira de estrelas’ ou ‘grinalda de estrelas’”, explica, adiantando que a mudança de nome é consequência de uma transformação profunda. 34 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 “Quando trabalhamos na área do Bharata Natyam pode haver uma profunda transformação interior do indivíduo, o que nem sempre acontece. Mas quando ocorre e o mestre a sente, dá outro nome à bailarina. A minha mestre, Amala Devi, deu-me então o nome de Tarikavalli”. Foi também Amala Devi que aos 20 anos a confiou à célebre dupla de bailarinos/coreógrafos Krishna Rao e Chandrabhaga Devi, na cidade indiana de Bangalore, onde viveu mais de uma década pontuada por inúmeras viagens à França. “Fui muito a medo (para a Índia), era uma menina de 20 anos e nunca tinha saído de ao pé dos meus pais, mas quando parti já tinha uma base muito sólida. Quando cheguei, foi só aprender os repertórios coreográficos e começar logo a trabalhar. Tinha sido formada por uma mestre que tinha vivido na Índia vários anos e que não me formou só no aspecto da técnica, mas também no plano cultural. E para alguém poder receber os ensinamentos lá, é necessário algo mais do que dominar as técnicas. Tem que se ter alguns conhecimentos sobre a cultura, sobre os costumes e os hábitos das pessoas, porque há coisas que podemos fazer e outras não. E se erramos neste aspecto, nunca seremos muito bem aceites”, recorda. À medida que a experiência indiana lhe permitia construir um vasto repertório, começou em 1993 a apresentar as suas primeiras criações em Paris. No ano seguinte, começa a redigir as traduções literais dos textos das suas coreografias, com Vasundhara Filliozat. Em 1996, recebe uma bolsa de estudo do Governo indiano e, em 2000, conhece Sri Dayalasingam 34e35.qxp 24-01-2007 18:54 Page 35 (discípulo de Adyar K. Lakshman), mestre de dança, em Paris. Prossegue a formação com o seu acompanhamento e participa nos espectáculos da sua companhia, “Narthanalayam”. Paralelamente, desenvolve a carreira a solo, o que a leva, em 2001, a fundar a escola de dança “Amrita”, em Bobigny. Para além de realizar regularmente cursos e workshops em Lyon e Lisboa, dá inúmeros recitais por toda a Europa e pela Índia, e é frequentemente convidada para actuar em diversos teatros, centros culturais, festivais e estágios internacionais. Tarikavalli actuou pela primeira vez em Portugal em 2002, no Teatro da Trindade, ficando surpreendida com o interesse e entusiasmo do público nacional pela sua arte. A bailarina regressou em Novembro e Janeiro para uma série de espectáculos nos distritos de Setúbal e Santarém e ainda um no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, enquadrado por workshops de aproximação à dança tradicional do sul da Índia para um público-alvo a partir dos 5 anos. Em “Viagem no dorso de um elefante”, Tarikavalli propõe às crianças «uma viagem que parte ao encontro da cultura indiana, através das suas artes tradicionais: o conto, a dança e a música». Para a bailarina apresentar-se no país dos seus pais é “sempre muito bom”. “Os meus pais saíram de Portugal por razões eco- nómicas, como vários portugueses o fizeram naquela época dos anos sessenta, por isso para mim vir a Portugal com outro tipo de “bagagem” é um grande prazer”, diz Tarikavalli. Para já é a única portuguesa a dançar profissionalmente este tipo de dança, mas a luso-decendente acredita que em breve terá concorrência porque os workshops que tem realizado começam a dar os seus frutos. “Até agora sou a única, mas talvez não por muito tempo porque tenho várias pessoas que estão a trabalhar comigo em workshops. Uma aluna minha foi para a Índia para estudar, o que quer dizer que há vocações que estão a nascer. Isto para mim, como professora, é muito bom. Diz-se, na Índia, que todos os conhecimentos que recebemos têm que ser retransmitidos em ensinamentos”. Actualmente, continua a trabalhar na sua escola em França, uma vez por mês, mas desenvolve mais o seu trabalho em Portugal, onde deseja vir morar definitivamente em breve. “É muito complicado. Com as constantes viagens, o facto de ensinar dança clássica indiana, ter vivido tantos anos em França e agora ter regressado a Portugal, parece mais que sou uma filha do Mundo. Já nem sei bem de onde sou. São muitas culturas juntas, mas realmente sinto as minhas raízes cá”. I Cristina Fernandes Ferreira Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 35 36a40.qxp 24-01-2007 16:46 Page 36 VIAGENS MONTEVIDEU Encantos sul-americanos Mergulhar no passado e descobrir alguns dos encantos da América do Sul não é complicado se decidir “perder-se” em Montevideu, uma cidade onde se destaca o “calor” humano e o dinamismo crescente de uma sociedade que encontra na diversidade a sua maior riqueza. capital do Uruguai é fértil em espaços verdes e conserva inúmeros vestígios de arquitectura colonial, facto a que não é alheia a presença de muitos descendentes de europeus. Do ponto turístico oferece uma ampla gama de possibilidades, desde uma variada actividade cultural, a centros para compras, passeios ou diversão: Montevideu tem vida, está em permanente transformação, é segura e as questões ambientais ganham espaço. A cidade moderniza-se enquanto revela uma abertura e acolhedora solidariedade que os visitantes sentem e apreciam: é cosmopolita, mas mantém uma atmosfera calma que lhe da um encanto peculiar. A zona urbana é geralmente plana e convida a passeios a pé ou de bicicleta, mas não faltam transportes públicos – algo antiquados – ou táxis, que não cobram muito mais. No Verão usufrua de 22 km de “ramblas” (16 km dos quais são praias) encostadas ao Rio da Prata, num espaço privilegiado para as caminhadas e prática de desporto, a pesca ou banhos. De resto, encontra A 36 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 avenidas povoadas de árvores, calmas ruas de bairro, praças e parques… A vida cultural também é intensa, com teatros, cinemas e museus para apreciar os mais diversos estilos de arte. Carnaval e tango também são imagem de marca da cultura dos uruguaios. A “ORIGEM” PORTUGUESA Montevideu é o centro político, comercial e financeiro do país, sede administrativa da Mercosul, e está localizada em frente ao Rio de la Plata, que também banha Buenos Aires, capital da Argentina. Alberga milhão e meio de pessoas, metade da população do país. O nascimento da cidade remonta a 1726 quando a coroa espanhola ordenou a Bruno Maurício de Zabala que fortificasse os portos de Montevideu e Maldonado, para afastar as tropas portuguesas do Rio da Prata, onde fundaram Colónia de Sacramento, a uns 180 km. As obras de fortificação de Montevideu terminaram em 1741 e as primeiras famílias chegaram de Buenos Aires e depois das Ilhas Canárias. Conquistada por Portugal em 1817, a cidade pertenceu ao Brasil (1821) no reinado de D. Pedro I e, com o apoio da Argentina, tornou-se indepen- 36a40.qxp 24-01-2007 16:47 Page 37 Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 37 36a40.qxp 24-01-2007 16:47 Page 38 VIAGENS dente volvidos sete anos, assumindo-se como capital do Uruguai. A cidade cresceu em torno do seu porto, encravado na baia, em cujo extremo se situa o “cerro” (monte) que, segundo a lenda, deu o nome à cidade. “CIUDAD VIEJA”: O CORAÇÃO BATE FORTE A cidade velha é o coração da cidade, onde passado e presente convivem entre edifícios históricos (estilo colonial) e uma sucessão de novos espaços de comércio, restauração, galerias de arte e vida nocturna. Para os descobrir, basta seguir a sua curiosidade… Próxima do porto, da estação ferroviária e dos bancos, esta zona sempre foi habitacional, mas a tendência está a mudar nos últimos anos, pois as casas vão sendo recuperadas para fins diversos. A descoberta e o encanto podem começar pela pedestre Rua Sarandí, onde encontra um pouco de tudo o que a cidade velha significa. 38 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 O mercado do porto é um dos ex-libris: a antiga estrutura de vidro e ferro (estava para ser estação ferroviária em Santiago do Chile) ficou “ancorada” em Montevideu e foi transformada em mercado há mais de um século, tornando-se local de encontro de culturas. Diariamente ressoam os acordes do tango, os tambores e violão, mas é ao sábado que a festa atinge maior esplendor. A tradição de beber “medio y medio”, uma mistura de espumante e vinho branco, mantém-se viva em vários locais desde há dois séculos. Vá ainda à zona da Praça Zabala, uma verdadeira evocação arquitectónica à Paris do século XVIII. Num dos lados encontra o Palácio Taranco que actualmente alberga o Museu de Artes Decorativas. Na Praça da Independência fica o Mausoléu de Artigas, com uma enorme estátua do herói nacional, e o edifício de 26 andares Palácio Salvo, um símbolo de Montevideu, o edifício mais alto da América Latina, 36a40.qxp 24-01-2007 16:47 Page 39 GUIA País: Uruguai 2006) é o principal do país e Cidade: Montevideu. o mais antigo em actividade População: 1.269.648 (em de toda a América Latina. 2004, pouco menos de Se aprecia boa gastronomia, metade da população do experimente as carnes país). assadas de primeira quali- Fronteiras: 579 km com a dade de animais criados nos Argentina, 985 km com o vastos e férteis campos: Brasil e 660 km de costa. prove “asado” ou “parrilla- Superfície: 176,215 Km2. da”, bem como um “chivito Idioma: castelhano al plato” ou um simples Clima: No Inverno a temper- “pancho. atura mínima não costuma baixar dos 13º e no Verão Dormir ronda os 30º. Radisson Montevideu *****, Como ir: Pode voar a partir Plaza Independência, 759, Ur de Lisboa ou Porto através 11100, telef. +598 2 9020111, da Ibéria e Lufthansa, com [email protected]. escalas em Espanha e No coração da zona comer- Alemanha, respectivamente. cial e financeira. Todos os luxos e a cidade velha a aquando da sua construção em 1927 e, ainda hoje, o mais alto da cidade. Perto, a Praça Matriz tem dois edifícios do tempo da fundação de Montevideu: a catedral Metropolitana (com restos mortais de importantes figuras do país) e o mítico Cabildo, onde já funcionou a sede de governo, prisão, tribunal superior de justiça, polícia e até o parlamento - hoje em dia é o Museu e Arquivo Histórico. É nesta Praça Matriz que aos sábados se realiza o Passeio Cultural da Cidade Velha que reúne artistas de rua, espectáculos musicais, visitas guiadas, leituras, desfiles, ateliers, etc…Ao cair da noite, a vida acelera em torno de restaurantes, discotecas, pubs e bares, alguns dos quais parte de um roteiro histórico de estabelecimentos com mais de 200 anos. VERÃO ANIMADO E CARNAVAL LONGO Obrigatório seus pés. Há várias coisas “obri- Crystal Palace Hotel ****, gatórias” em Montevideu, Av. 18 de Júlio, nº 1.210, como uma ida domingueira à telef. +598 2 9004645, crys- feira de Tristão Narvaja, [email protected]. local privilegiado para sentir Situado na principal avenida o Uruguai actual. de Montevideu, uma das Vá também à Plaza zonas ideais para compras. Independência onde se Íbis Montevideo Hotel ***, encontra a porta da La Cumparsita, nº 1.473, telf. Cidadela e visite a fortaleza, +598 2 4137000, agora transformada em www.ibishotel.com. Ideal se museu militar, e onde é pos- optar por fazer alguns dias sível ter uma vista privilegia- de praia. da sobre a cidade. De táxi ou autocarro vá ao Comer Estádio Centenário e dê um El Tiburón, Mercado del saltinho aos jardins zoológi- Puerto, 62 co, botânico e japonês. Bar, Miguel Barreiro, nº 3.301 A Av. 18 de Julho, a maior El Brasero, San José, nº da cidade, é linda e merece 1.065 ser feita a pé, para poder Bares com história: contemplar todos os seus Fun Fun, Ciudadela, nº 1.229 encantos. Roldós, Mercado del Puerto, O Centro Cultural de Local 09 Espanha apresenta espec- Almacén El Hacha, Buenos táculos ao nível das grandes Aires, nº202-206 capitais mundiais. O Teatro Café Brasilero, Ituzaingó, nº Solís (cumpriu 150 anos em 1.447 De Dezembro a Março é Verão no hemisfério Sul e é Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 39 36a40.qxp 24-01-2007 16:47 Page 40 VIAGENS nesta altura que as longas praias de Montevideu ganham vida adicional, com milhares de pessoas a usufruir das areias finas e brancas na margem das águas tépidas do Rio da Prata. São 16 km de praias vigiadas onde as preocupações ambientais são uma questão de honra, como se pode comprovar nas “certificadas” Ramírez, Pocitos, Buceo e Malvin. Durante a época estival, actividades recreativas e desportos ganham protagonismo, principalmente o surf, futebol, voleibol andebol e râguebi de praia. Em Montevideu celebra-se um Carnaval com estilo muito próprio e que tem a fama de ser o mais longo do mundo, de Janeiro até Março, com ensaios, desfiles, actuações e os 40 dias consecutivos do concurso oficial de agrupamentos. Mais do que uma festa, parece um modo de viver Montevideu: o segredo está na diferença dos ingredientes e nas proporções da mistura. São dezenas de milhar de pessoas que se envolvem num espectáculo único de ritmo, cor e som. Com a termos do chá-mate (um vício nacional) debaixo do braço, famílias completas assistem aos ensaios, passando dessa forma as cálidas noites de Verão. As “murgas” (bandas) evoluem com cantos que vão desde o candombe (musica típica da cidade, com raízes africanas) à milonga. Ao todo são 14 cantores e três percussionistas (bombo, redoblante e pratos). Bem mais teatrais, parodistas e humoristas completam a festa: os primeiros actuam parodiando obras conhecidas, enquanto os segundos inventam situações disparatadas, relacionadas com a sociedade local. No espectáculo há ainda quem cante e dance o tango, salsa, funcky, hip hop e outros ritmos. O “desfile de Llamadas” é o principal atractivo de origem africana. É uma experiência inesquecível sentir a vibração de mais de meia centena de tambores pelas ruas. Diz-se por aqui que ninguém conhece o Carnaval até que não sinta na profundeza da sua alma a sensação provocada pelo troar dos tambores e candombe, nem tenha ouvido o canto nasal das murgas sob a noite estrelada do céu de Montevideu. O BERÇO DO TANGO? Os uruguaios reclamam a origem do tango, popularizando internacionalmente pela Argentina. Tudo começou com os milhares de imigrantes (de origem diversa) que passaram a retratar os enigmas sobre amor, mote e o passar do tempo com uma nova musica e dança, muito sensuais. Cada par, por um momento único, irrepetível, tenta fundir-se em apenas uma alma. A música africana está nos seus alicerces, tal como ritmos e instrumentos europeus e criolos, numa mistura tumultuosa. Bajo Fundo Tango Club é um conhecido grupo que explora a vertente electrónica deste estilo, numa harmoniosa colaboração entre executantes uruguaios e argentinos. I Rui Barbosa Batista [texto e fotos] 40 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 42e43.qxp 24-01-2007 16:49 Page 42 OlhoVivo Ano novo, vida nova? Uma curiosa pesquisa realizada através da Internet pelo Professor Richard Wiseman, da Universidade de Hertfordshire (Reino Unido), mostrou que as resoluções de ano novo estão a tomar um caminho diferente do tradicional. Das 1.600 pessoas que participaram, revelando as suas decisões para o ano de 2007, menos de 1% declarou que pretendia ser ecologicamente mais responsável; a mesma percentagem decidiu que iria investir na melhoria da sua relação ou encontrar outro parceiro. Por outro lado, as decisões mais populares para este ano são a perda de peso (34%), a melhoria da condição física (17%) e o abandono dos cigarros (8%). Segundo o investigador, uma percentagem surpreendente de pessoas afirmou ainda que iria tentar melhorar a sua performance no trabalho e aproveitar mais a vida. Depilação suave e duradoura Uma conhecida marca de electrodomésticos patenteou recentemente uma máquina de depilação que se aproxima muito convenientemente da definitiva, mas de uma forma bem mais suave. Trata-se de uma espécie de lâmina que actua com luzes quase infravermelhas que, ao passarem por cima dos pêlos, põem os folículos num estado dormente, parando o crescimento. Segundo a marca, três sessões em duas semanas reduzem em 90% os crescimento dos pêlos durante várias semanas. Veremos se e quando chegará ao mercado! 42 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ Marta Martins [ textos ] André Letria [ ilustrações ] Animais de estimação Ao contrário da imagem popular, um estudo finlandês, divulgado na publicação PloS ONE, revelou que a maior parte dos donos de animais de estimação não são jovens activos que praticam muito exercício físico. Na realidade, quem tem mais animais de companhia são pessoas com mais de 40 anos, estabelecidas na vida, com uma ligeira predominância das classes economicamente mais baixas; o estudo também revelou que os donos de animais apresentam um maior índice de massa corporal, fumam mais e praticam menos exercício do que a restante população, o que permite antever mais problemas de saúde no futuro. Humor saudável… Da Noruega chega a prova de que o bom humor prolonga a vida. O estudo foi realizado no St. Olav’s Hospital e publicado no The International Journal of Psychiatry in Medicine, e refere-se a um grupo de pessoas com doenças crónicas dos rins, obrigadas a fazer hemodiálise pelo menos uma vez por semana, sob pena de morte. Quando pesadas todas as suas características pessoais (idade, sexo, educação, qualidade de vida) e o seu grau de sentido de humor, este último factor foi o único que se revelou decisivo no prolongamento da vida dos pacientes. Ou seja, os doentes com mais elevado sentido de humor reduziam em 30% a sua probabilidade de morrer nos dois anos seguintes. Riso contagioso De duas universidades britânicas chega-nos a prova de que o riso é contagioso. Investigadores da University College London e da Imperial College London realizaram um estudo onde demonstraram que sons positivos, tais como um riso ou um grito de satisfação, provocam uma resposta no cérebro do ouvinte. Esta resposta ocorre precisamente na região do cérebro que é activada quando nos rimos, como que a preparar a cara para rir também. Era já conhecida a reacção de naturalmente imitar os gestos dos interlocutores, mas agora ficou provada a reacção cerebral específica ao riso. Os cientistas acreditam que o mecanismo procura ajudar a integração social, já que este tipo de sons ocorre normalmente em situações de grupo. 42e43.qxp 24-01-2007 16:49 Page 43 Compra, não compra Um estudo realizado na Stanford University /EUA) e publicado na revista Neuron revelou (literalmente!) o mecanismo físico que ocorre quando alguém decide se compra ou não determinado bem. Os voluntários tiveram os seus cérebros analisados enquanto lhes eram mostradas imagens de bens de maior ou menor valor e, posteriormente, o respectivo preço. Através das imagens do cérebro em actividade, os investigadores conseguiram detectar o que acontece quando alguém quer algo e tem de decidir se vai ou não pagar por isso: quando o preço atribuído era alto, a região do cérebro que era activada fazia ‘desligar’ as restantes, permitindo prever que a pessoa decidiria não comprar. Ou seja, segundo a pesquisa, a compra é mesmo um processo mental de avaliação entre o prazer da aquisição e a dor do pagamento. No futuro, os investigadores esperam poder perceber melhor os compradores e jogadores compulsivos, verificando se os seus cérebros funcionam da mesma forma ou apresentam alguma espécie de ‘anomalia’ durante este processo. Forma e conteúdo Segundo um estudo realizado pelo Dr. Robert Heath, da University of Bath (Reino Unido), a mensagem publicitária é quase irrelevante – muito mais importante é o conteúdo emocional do anúncio, a forma como apela e se relaciona com os espectadores. Segundo o seu artigo no Journal of Advertising Research, desde que o formato do anúncio seja criativo e toque as emoções das pessoas (principalmente de forma positiva), a reacção destas à marca é muito mais positiva, mesmo quando a mensagem é nula, do que quando os anúncios são meramente informativos e racionais. Ou seja, a forma é muito mais importante do que o conteúdo. s osto p s o efensore dos r mais d a h o n a g ã a de cç m acab se atrae Atra s to s o p e os o de qu ience, máxima a lh e v ychological Sc A o na revista Ps ad nt se re ap do tas. Num estu entre os cientis a psicóloga Christine Garver-Apgar, da Universidade de New México (EUA) e os seus colegas analisaram a relação entre as semelhanças genéticas entre um casal e a sua fidelidade ao parceiro. Este tipo de estudo já havia demonstrado a atracção instantânea provocada por genes diferentes, nunca tinha sido medida a sua influência numa relação estável e duradoura. O que os pesquisadores encontraram foi uma relação total entre os dois factores – mas apenas nas mulheres: quanto mais diferenças havia entre o casal, mais provável era que elas fossem fiéis e se sentissem atraídas pelo parceiro, e o inverso também – quanto mais semelhantes os genes, mais elevadas as hipótese de as mulheres procurarem outros parceiros sexuais. Nos homens, o factor genético não mostrou qualquer influência na fidelidade. Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 43 44e45.qxp 24-01-2007 16:50 Page 44 A CASA NA ÁRVORE | SUSANA NEVES Jacarandá: a árvore da boa fortuna Na Argentina há um grande Jacarandá que assobia tangos na Plaza de Flores. Quem o descreve é o jornalista e escritor Alejandro Dolina no livro “As crónicas de um anjo cinzento”. Para os franceses, esta espécie tropical é a “árvore das ostras” porque os seus frutos, lenhosos, semelhantes a castanholas andaluzes, libertam sementes aladas. as é graças à cor da floração, o azul-lilás das pequenas flores, que o Jacaranda Mimosaefolia D. Don (da família das Bignoniaceae), é reconhecido como uma das mais belas árvores ornamentais urbanas. A sua origem localiza-se, no entanto, na Argentina, e nas longínquas e ameaçadas florestas do Brasil. Caso excepcional no mundo da botânica a designação Jacarandá é utilizada em quase todos os países, mas deriva de “y-acá-ratá”, vocábulo pertencente à língua dos índios tupi-guarani – assim o confirma o historiador e filólogo algarvio José Pedro Machado (1914-2005). No “Pequeno Dicionário Tupi-Guarani de um Manezinho”, consultável online esclarece-se o sentido de “y-acá-ratá”: quer dizer “o que tem o centro duro” (www.ufsc.br). Demasiado sucinta, esta explicação não se aplica ao Jacaranda Mimosaefolia D. Don, do qual ainda é possível encontrar belíssimos exemplares, sobretudo, no Brasil (São Paulo e Minas Gerais), Portugal (no Porto, a árvore do Largo do Viriato está classificada), África do Sul (Pretória é a “cidade dos Jacarandá”), Estados Unidos da América e Austrália. A madeira da árvore, que em Portugal floresce em Maio e Junho, e por vezes, ainda de Setembro a Outubro, é bastante diferente de outras espécies também genericamente chamadas Jacarandá, essas sim, úteis à fabricação de móveis e instrumentos musicais (entre eles, o xilofone). No site brasileiro “Carpintaria Progresso” apontam-se as diferenças e a razão do equívoco: “O facto de receber o nome de Jacarandá - refere-se ao Jacaranda Mimosaefolia D. Don -, tem trazido confusões, porque esse nome define perfeitamente, no comércio nacional e internacional, um tipo de madeira pesada, dura, parda ou escura, de aspecto agradável, que a torna muito apreciada. As espécies responsáveis por esse tipo de madeira são, principalmente, o Jacarandá-Pardo ou Paulista (Machaerium Villostpn), Caviúna ou Pau-ferro (Machaeriun scieroxyion) e Jacarandá da Baía (Daibergia nigra)”. Em oposição, a madeira do Jacaranda Mimosaefolia D. Don por ser M 44 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 “leve, macia e branca” é mais indicada para a “construção de brinquedos, embalagens leves, peças curvadas, como saltos para calçados e tamancos, cabos de vassoura, etc”(http://www.nwm.com.br/progresso/madeiras/jacara ndamimoso.htm). Feita esta distinção, é possível inferir que algumas peças de mobiliário da colecção do Palácio Nacional de Queluz ou outras do Palácio da Pena, em Sintra, identificadas como sendo de Jacarandá não são certamente da espécie Mimosaefolia. Parece igualmente remota, a hipótese de, durante o período das Descobertas, o Jacaranda Mimosaefolia D. Don ter sido usado como lastro dos navios garantindo-lhes maior peso e estabilidade. A floração anual desta árvore (cujas raízes são benéficas ao tratamento da sífilis), pelo contrário, continua a suscitar surpresa, alegria e tranquilidade, encontrandose entre as mais referidas na internet mas também em crónicas, poemas e canções. “A Este a Oeste/ chove e choverá/ uma e mais outra flor celeste/ do Jacarandá”, são os primeiros versos da canção que a escritora argentina María Elena Walsh lhe dedica. á quem admire tanto o Jacarandá em flor que faça mapas da sua localização na cidade. É o caso de Suda Yoshio, guia turístico japonês, a viver em Portugal há 27 anos. Sem aparentar o mínimo de esforço, em duas horas, desenha de memória as árvores que gosta de contemplar durante a floração em Lisboa, mas também, na Covilhã, Porto, no Castelo de Silves, Évora, Faro e na Ilha da Madeira. “Não podendo estar no Japão para ver as cerejeiras em flor (sakura), observo a beleza dos Jacarandás”. Quem sabe se é a beleza exótica desta árvore, o perfume tropical que emana das suas flores que favorecem a inteligência dos estudantes universitários de Pretória? Diz-se que se uma simples flor lhes cair na cabeça é seguro passarem em todos os exames. Numa cidade onde foram plantados 70 mil Jacarandás a probabilidade de ser bem sucedido só pode ser tão grande como a de conseguir respirar. I H 44e45.qxp 24-01-2007 16:50 Page 45 Jacarandá no parque Eduardo VII [ Foto de Nuno Serrano ] Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 45 46e47.qxp 24-01-2007 16:52 Page 46 PORTUGAL E A LUSOFONIA | PEDRO CID A qualidade da democracia Em 25 de Abril de 1974 foi derrubado, pela força das armas, o m poucas horas esfarelou-se, caiu de podre e sem resistências o regime político que ficou conhecido pelo “Estado Novo”, que governou o País desde um outro anterior golpe de Estado, o 28 de Maio de 1926 e cuja figura principal foi Oliveira Salazar. Nos primeiros dias que seguiram ao 25 de Abril, entre a euforia popular e a nova classe política, incluindo os militares, percebeu-se que não se tratava de um simples golpe militar – como alguns desejariam – mas de uma verdadeira revolução política, como desmantelamento das instituições do regime anterior e a construção de um novo sistema político, assente numa hierarquia de Estado e no bom funcionamento dos partidos políticos, até então proibidos. Uma revolução tem sempre aspectos controversos, eventualmente negativos. O nosso País não fugiu à regra, mas, pode dizer-se que hoje, à distância de quase 33 anos, o saldo é francamente positivo. Com todos os acidentes de percurso, temos consolidado em Portugal um verdadeiro regime democrático, com instituições que funcionam, com respeito pela liberdade de todos e de cada um. Passámos por algumas dificuldades, mesmo no período de euforia que seguiu ao 25 de Abril, a mais delicada das quais se centrou no fim da guerra, na independência dos territórios africanos que implicou a descolonização e no regresso ao país de cerca de meio milhão de cidadãos oriundos, sobretudo de Angola e de Moçambique, mas também de S. Tomé, de Cabo Verde ou da Guiné Bissau. A descolonização deixou marcas de sofrimento em muitos milhares de pessoas, só agora começam a surgir testemunhos do modo e da forma como ela se processou, nas difíceis condições político militares da altura - os dois recentes livros de Almeida Santos são de leitura obrigatória para se conhecerem e avaliarem a novas luzes, alguns factos relevantes desse tempo – mas a verdade é a integração na sociedade portuguesa dos “retornados” como então E 46 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 O general Ramalho Eanes foi foi, ao longo destes quase 33 anos de democracia, o dirigente português que maior poder concentrou nas suas mãos: foi Presidente da República, Presidente do Conselho da Revolução e Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. Empossou seis governos e cinco primeiros ministros 46e47.qxp 24-01-2007 16:52 Page 47 , o Governo a que então presidia o prof. Marcello Caetano. se chamaram (depreciativa e injustamente) foi absolutamente exemplar. São muito raros, os portugueses, hoje mais envelhecidos, que pensam o contrário. A própria tutela político militar decorrente de dois pactos celebrados entre as forças partidárias, conhecidos hoje por Pactos MFA/Partidos, sendo condicionante em muitos aspectos, foi um travão oportuno para alguns radicalismos que chegaram a desenhar-se entre nós. As Forças Armadas, através dos seus chefes militares e dos principais operacionais do 25 de Abril assumiram um poder fiscalizador sobre as instituições políticas civis, através do Conselho da Revolução. É certo que atrasaram alguns ímpetos reformadores de alguns governos, nomeadamente quando Francisco Sá Carneiro chegou ao poder, como primeiro ministro. Todavia, os militares nunca permitiram quaisquer desvios à linha democrática que presidiu ao 25 de Abril. É certo também que houve circunstâncias felizes no desenrolar dos acontecimentos, entre os quais e destaca a eleição, por sufrágio directo e universal do Presidente da República, logo a seguir à aprovação da Constituição de 1976. Por uma margem esmagadora foi, então eleito, o general António dos Santos Ramalho Eanes, ao tempo general graduado e com uma acção político - militar de relevo entre 1974 e a sua eleição, pouco mais de dois anos depois. Neste período avulta a acção que teve no 25 de Novembro. general Eanes foi, ao longo destes quase 33 anos de democracia, o dirigente português que maior poder concentrou nas suas mãos. Foi, ao mesmo tempo e durante vários anos, Presidente da República e Presidente do Conselho da Revolução e Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas. Empossou seis governos e cinco primeiros ministros, fez discursos controversos, conhecidos por “tomba governos”, mas manteve sempre isenção e O coerência e é hoje considerado a justo título uma trave mestra estruturante do actual regime democrático português. epois de ter cumprido dois mandatos, Ramalho Eanes mantém a dignidade de Conselheiro de Estado e doutorou-se recentemente, já depois de ter ultrapassado os 70 anos, na Universidade de Navarra, com uma tese intitulada “Sociedade Civil e poder Político em Portugal”. Um dos arguentes nas provas de doutoramento foi o professor Jorge Miranda, catedrático da faculdade de Direito de Lisboa e um dos principais constitucionalistas portugueses. Na intervenção que fez, Jorge Miranda disse que Ramalho Eanes tinha as características dos “heróis de Portugal”. A tese espraia-se por cerca de duas mil páginas e relata o factos históricos determinantes da revolução do 25 de Abril e os que marcaram o acidentado caminho de transição, instauração e institucionalização da Democracia em Portugal. Eanes sublinha que a sua intenção ao escrever o seu trabalho foi proceder a uma reflexão sobre a interacção entre o poder político e a sociedade civil nesse período, tão rico e diversificado de acontecimentos. Duas conclusões principais resultam da tese do antigo Presidente: Quando o Estado se esquece que é uma instituição da sociedade civil, contribui para o divórcio com os cidadãos. Por outro lado, a democratização tardia de Portugal resultou da inexistência de uma sociedade civil sólida, com conhecimentos, com vontade e sentido de responsabilidade, capaz de apoiar, de fiscalizar e de julgar a actuação do poder político, eleito livremente para conduzir os destinos do País. Estas conclusões são o ponto de partida para futuras reflexões, sobre a qualidade da nossa democracia e as exigências que sobre ela devem ter todos os cidadãos. I D Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 47 48e49.qxp 24-01-2007 16:53 Page 48 O TEMPO E O MUNDO | DUARTE IVO CRUZ Um ano europeu Quatro factores conferem ao ano que se iniciou uma relevância no ponto de vista europeu, que singularizam de certo modo, mas tornam extremamente exigente o exercício politico-diplomático respectivo.São eles, por ordem de importância para Portugal, a Presidência da UE, a adesão da Roménia e da Bulgária, a entrada da Eslovénia no euro e, até, os 50 anos do Tratado de Roma. A PRESIDÊNCIA DA UE Como bem sabemos, Portugal assume a Presidência da UE no segundo semestre de 2007. Participei a nível de cúpula na primeira, quando os países membros eram 12 e bem mais homogéneos. E acompanhei a segunda como responsável internacional de um grande serviço público. Posso avaliar o que representa o exercício de uma Presidência. m primeiro lugar, o controlo, calendarização e execução de uma multiplicidade de tarefas que correspondem ao próprio âmbito global da política europeia, com a complexidade, dispersão e heterogeneidade dos assuntos em agenda. Imaginase a carga política, económica, técnica e até protocolar e de segurança, os conflitos nacionais em presença, a pressão dos dossiers e a “obrigatoriedade” de se alcançarem resultados concretos: assim se julga um país, um Governo e uma administração. Em segundo lugar, a necessidade de coordenar a Comissão e o proprio Conselho europeu, sendo certo que a primeira envolve centenas de técnicos, além dos Comissários, e o segundo envolve, hoje, 27 Primeiros-Ministros e o Presidente da França, que não sabemos, ainda, quem será. Em terceiro lugar, a organização e presidência de dezenas de Conselhos de Ministros sectoriais, com a complexidade técnica dos assuntos em agenda e as susceptibilidades politicas dos participantes. E nem se diga que são todos conhecidos dos homólogos portugueses, pois a taxa de substituição de membros do Governo é alta por essa Europa fora. Mas mais complicado é o inesperado. A Presidência, juntamente com a Comissão, tem de E 48 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 tomar a iniciativa da reacção da UE a toda e qualquer ocorrência internacional relevante que surja por esse vasto mundo, e concertar-se com os 26 Governos membros antes de assumir e divulgar a respectiva posição comum. Isto vai desde golpes de Estado e tsunamis e tem de ser feito imediatamente! A ADESÃO DA ROMÉNIA E DA BULGÁRIA Os comentadores internacionais gostam de mostrar que conhecem o terreno. Aqui estou à vontade, pois conheço razoavelmente os dois novos Estados membros e não foi como turista que, repetidamente, os visitei: quatro vezes a Roménia, duas vezes a Bulgária. Em ambos por desempenho de funções, falei com Presidentes de República, Primeiros-Ministros, membros dos Governos e empresários. Com a particularidade de ter acompanhado, lá e cá, os processos de mudança... Lá e cá, porque, depois da queda do muro de Berlim e da libertação dos regimes comunistas, os Bucareste 48e49.qxp 24-01-2007 16:53 Page 49 novos Governos viram em Portugal um bom modelo de adesão à então CEE. E mais: nas primeiras visitas que fiz aos dois países, tive oportunidade de sentir o vento da História em situações opostas. Na Roménia, perguntaram-me se já tinha visto “a varanda”, de onde Ceausescu escapou de helicóptero para a execução, três dias depois. Mas na Bulgária ainda assisti a uma reunião presidida pelo velho Jikov, um estalinista vindo dos confins da História, com ar bem disposto! Governou ainda uns dois anos e sobreviveu, aliás com dignidade de tratamento (residência fixa) mais uns dois ou três. ra bem: que efeitos terá, na estrutura global da dinâmica europeia, a adesão destes dois países? Diremos que, em primeiro lugar, 27 membros constituem uma amálgama heterogénea difícil de gerir. Goste-se ou não, a chamada Constituição europeia começa a ser um imperativo, não como Constituição mas como Acordo renovado de adaptação ao gigantismo crescente da UE. O que envolve opções extremamente delicadas, como bem sabemos. E a mais complexa é a garantia da direcção colectiva, em igualdade de circunstâncias e direitos dos 27 países, naquilo que é essencial para a salvaguarda das soberanias nacionais, de que ninguém abre mão e com toda a razão: o contrário é impensável. É também da representatividade dos Estados no ratio das populações e outros indicadores, que cobrem desde Malta à Polónia. E com isto me escuso de alinhar números e dados que mostram as fragilidades das economias recém chegadas e ainda menos, opiniões acerca do ambiente e das sociedades respectivas. Em 1986 também tínhamos problemas e correu O Pormenor de Sófia, capital da Bulgária muitíssimo bem o nosso processo de adesão. Mas com um alerta: estes novos membros, necessariamente colidem com os antigos no acesso a Fundos. Portugal negociou muito bem as verbas que, no mercado interno servem de suporte ao QREN. Vamos ver como correm as coisas até 31 de Dezembro de 2012... A ADESÃO DA ESLOVÉNIA AO EURO A Eslovénia é um dos países mais agradáveis do Leste, ou pelo menos Liubliana, única cidade onde estive. A adesão ao Euro mostra a vitalidade e equilíbrio desta pequena economia saudável. Mas a nossa negociação foi excelente: e agora a Comissão toma-nos como exemplo do que se não deve fazer! Lições da vida comunitária. O CINQUENTENÁRIO E finalmente: a UE, ou se quisermos, o Tratado de Roma faz 50 anos. Passou de seis membros para 27, de três acordos para uma União. No mapa, cobre quase a Europa do Atlântico aos Urais de que falava, nos anos 80, o Presidente Gorbachov (por incrível que pareça também falei com ele, já demitido, aqui em Lisboa). Tem fronteiras na Rússia e cobre a antiga zona de segurança do Pacto de Varsóvia /Comecom. A Europa mudou. I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 49 50.qxp 24-01-2007 16:56 Page 50 VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR O que faltava dizer Não é a primeira vez que, nestas crónicas, abordo a revolução de 1383 – 1385. Aliás, a crónica do mês passado focava um assunto que lhe está muito próximo, isto é, a batalha dos Atoleiros. meiro mérito é o seu êxito, nasce uma nova dinastia ra, se volto à mesma época e a um que levará Portugal ao firmamento dos países tema já referido anteriormente, é descobridores. Estes acontecimentos revolupor duas razões; primeira, nunca é cionários mereciam ser conhecidos e reconhecidos». demais recordar um facto tão Conhecidos e reconhecidos: é isso o que faz falta. importante e que tende a cair no esquecimento; Tanto a nível internacional como (em primeiro 1383 deveria ser recordado, pelo menos, com o lugar) a nível nacional. Na Europa, o século XIV, destaque dado ao 25 de Abril de 1974. Segunda tempo de transição, foi fértil em levantamenrazão: faltava ainda dizer-vos qualquer tos populares, motins e revoltas. De coisa — o significado europeu, e todos esses tumultos, os mais conhecimesmo mundial, do que ocorreu dos foram as «jacqueries», em durante aqueles dois anos dos França. As classes populares querifinais do século XIV. am libertar-se do jugo da nobreza, Às vezes, temos uma visão os burgueses queriam um lugar mais nítida do nosso país ao Sol. Mas, nesse século XIV, tais quando o olhamos com os movimentos acabaram por ser olhos de um estrangeiro. É o todos esmagados; serviram de que se passa neste caso em prelúdio à futura transformação e relação a um autor francês nada mais. Excepto em Portugal. Aí — pouco conhecido, o francês D. João I ou melhor, aqui — a revolução venceu; e Dominique Lelièvre, autor de um venceu (o que é muito importante) de um livro que passou quase desapercebido: modo «operacional», isto é: foi possível encontrar «Mer et Révolution». A maior parte desta obra um novo equilíbrio. não nos traz propriamente novidades, mesmo De modo revolucionário, contra toda a tradição, porque, na sua maioria, as fontes são portugueelegeu-se um novo rei para que iniciasse uma nova sas (a começar pelo incomparável Fernão dinastia. O povo reclamou ao Mestre de Avis que os Lopes). Porém, ao introduzir o assunto do seu ricos pagassem taxas, fintas e talhas, tal como os livro perante os leitores, o autor faz algumas pobres pagavam. Os mesteirais passaram a estar considerações que, regra geral, os meus comparepresentados no governo municipal de Lisboa e triotas (aqueles, bem poucos, que conhecem o outras cidades. O conselho régio deixou de ser assunto) nunca fazem, nem lhes entra sequer na somente formado por nobres e membros do alto cabeça. clero: os letrados falavam agora mais alto. É assim que Dominique Lelièvre faz notar que os portugueses «foram os únicos na Europa a conseguir com êxito, à escala de uma nação, uma ão tenho espaço, evidentemente, para “revolução burguesa” (1383 – 85)». E, mais adienumerar as mudanças trazidas pela ante, acrescenta: «Se o caso de Portugal é único, revolução. O que importa, repito, é não é por isso menos exemplar, tanto pela vitória que, na ideia de um escritor não porconseguida pelas armas com uma táctica tipicatuguês, esta revolução é um caso único e exemplar. mente “burguesa” já experimentada na Flandres O que é inteiramente correcto. Mas nós, os descenperante os orgulhosos senhores franceses, como dentes de toda aquela gente que fez a revolução de pelos avanços sociais, mesmo que estes hajam 83 – 85, teremos acaso uma opinião sobre o assunto? sido minimizados ao longo dos decénios seSaberemos, sequer, de que é que se trata? guintes. Desta “revolução burguesa”, cujo priÉ uma dúvida, no mínimo, angustiante.I O N 50 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 51.qxp 24-01-2007 17:00 Page 51 BOAVIDA CONSUMO LIVRO ABERTO ARTES São inúmeros os casos de consumidores que se queixam da má assistência que lhes é prestada quando têm problemas informáticos. “Quase Memórias”, de António de Almeida Santos, constituiu um dos grandes acontecimentos editoriais recentes. O grande acontecimento do início do ano foi a apresentação do tríptico de Paula Rego “Vanitas”, no Centro de Arte Moderna. Página 52 Página 54 MÚSICAS NO PALCO Quatro anos após uma surpreendente estreia discográfica, a franco - italiana Carla Bruni acaba de lançar o CD “No Promises”. A sala principal do Trindade apresenta, até 15 de Março, MacBeth, uma das mais conhecidas e representadas obras de Shakespeare. Página 58 Página 56 CINEMA EM CASA “Volver”, de Pedro Almodôvar, um dos grandes acontecimentos cinematográficos de 2006, já está disponível em DVD. Página 62 Página 60 FILMES MEMÓRIA À MESA SAÚDE Fernando Dacosta viu e adorou “Babel”, e não entende as apreciações destruidoras da maioria dos críticos portugueses. É possível, com alguns conhecimentos e imaginação, compor, diariamente, refeições saborosas e saudáveis. A banalização e o uso incorrecto dos antibióticos é uma das principais causas para estes deixarem de ser eficazes. Página 63 Página 64 Página 65 INFORMÁTICA AO VOLANTE PALAVRAS DA LEI Quem os não tem hoje, entre os mais jovens, leitores de MP3? Apresentamos dois dispositivos que vão atrair as atenções. Campeão do Mundo de Ralis de Carros de Produção, Armindo Araújo quer bisar em 2007, e competir, em 2008, no Mundial principal. Há maneira de, no caso de um elemento do casal falecer, o cônjuge sobrevivente salvaguardar-se de um dos outros herdeiros. Página 66 Página 67 Página 68 Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 51 52e53.qxp 24-01-2007 17:02 Page 52 BOAVIDA C O N S U M O NOVAS TECNOLOGIAS TÊM VELHAS PRÁTICAS Eficiência na assistência técnica e simpatia no atendimento são predicados frequentemente ausentes no mercado das novas tecnologias. Em termos de defesa do consumidor, é caso para dizer que o sector vive na Idade da Pedra. Carlos Barbosa de Oliveira N ão inúmeros e variados os casos de consumidores que se queixam da má assistência que lhes é prestada, quando têm um problema com o seu computador ou impressora. A história que se relata é apenas um dos muitos casos que, com inusitada frequência, ocorrem no mundo das novas tecnologias. Sem aviso prévio, o computador recusou-se naquele dia a trabalhar. Anunciando repetidamente a ocorrência de “erro”, acabou por bloquear e permanecer inerte, deixando o consumidor à beira de um ataque de nervos. Telefonou para o estabelecimento onde adquirira o aparelho, mas não obteve resposta. Resolveu deslocar-se ao local e... surpresa! A loja encerrara. Valeu-lhe o facto de, na factura da compra, constar um endereço electrónico. Ligou para o número de telefone que lá vinha indicado, esclareceu o que se passava, e pediu a deslocação de um técnico a casa. Logo o desenganaram. Se o aparelho estava avariado, teria que o levar ele mesmo 52 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 a uma morada que lhe indicaram. O local não era de fácil acesso, sendo obrigado a “deslindar” um novelo de ruas estreitas de sentido proibido. Para além da dificuldade de estacionamento, o consumidor ainda foi obrigado a carregar aquele “trambolho” por umas escadas André Letria I esconsas, onde ao mínimo deslize se escorrega na pedra polida ou num “cocó” de cão. Escorrendo suor por todos os poros entrou por fim, triunfante, no estabelecimento. Foi logo atendido, mas levou algum tempo a refazer-se da surpresa quando a funcionária lhe disse que as reparações não eram efectuadas ali... Argumentou que lhe tinham dado a informação do endereço pelo telefone, mas como resposta obteve um encolher de ombros e a indicação do local onde devia dirigir-se. Ainda perguntou, timidamente, se não podiam receber o aparelho e fazerem eles a trasladação, uma vez que a empresa era a mesma, mas a resposta foi peremptória: “Se o informaram mal, o problema não é nosso”! (Ai não, então de quem será? – perguntou aos seus botões). A pé, e sem direito a contestação, porque “são apenas umas centenas de metros”, o nosso consumidor lá chegou ao novo porto de abrigo. Esperava-o uma porta, de fraco porte, onde computador e corpo humano (ainda que magro e sem barriga) não passavam simultaneamente. Lá pediu ajuda a uma funcionária que permanecia sentada -olhando de soslaio para as vãs tentativas que fazia em entrar através da fenda de uma porta que apenas podia ser aberta do interior - depositou o moribundo em cima do balcão, enquanto reclamava pela desinformação de que se considerava vítima. Nem uma resposta obteve, quanto mais um pedido de desculpas! Depois de alguns minutos de 52e53.qxp 24-01-2007 17:02 Page 53 meditação, a funcionária lá lhe disse, por entre dentes e uma pastilha elástica que de quando em vez fogueteava em balão por entre os lábios carnudos, que ia fazer um orçamento da reparação. Quando? Dali a uma semana! O protagonista desta história abriu a boca de espanto. Uma semana para fazer um orçamento? Teria ouvido bem? Para que não restassem dúvidas a dama da pastilha elástica sugeriu que, no caso de ter pressa, se dirigisse a outro local. Abrevie-se a história apenas para dizer que, passadas três semanas, nada de orçamento. “Ainda não tivemos tempo de pegar no seu computador”- respondem de cada vez que tenta obter informações por telefone. O consumidor desesperou e já adquiriu outro aparelho, não sem que antes se informasse detalhadamente acerca das condições de assistência. As promessas foram muitas, mas o seu maior anseio é não ter nenhuma avaria... Desta história, ficou uma lição: no mundo das novas tecnologias (seja na informática, nos telemóveis, na televisão por cabo, ou na Internet), sobra arrogância e falta profissionalismo e respeito pelos consumidores. É cada vez mais difícil separar “o trigo do joio”, e os consumidores deixam-se aliciar por preços aparentemente convidativos, mas que acabam por se revelar bastante elevados, face à fraca (ou mesmo inexistente...) assistência pós – venda. O “choque tecnológico” tem que passar por maior respeito pelos direitos dos consumidores, pelo cumprimento dos prazos de garantia e por uma assistência rápida e eficaz. Sejam “empresas de vão de escada” ou grandes lojas de marcas brancas, só pode haver lugar para quem respeite os consumidores.I Consultório DECO Hotel de qualidade inferior RECLAMAÇÃO > Este ano, decidimos fazer uma "viagem de sonho" que consiste na realização de um cruzeiro pelas Caraíbas. Devido ao elevado preço da viagem, foi-nos proposto pela agência o seu pagamento a prestações. Será tal opção a mais correcta? ENQUADRAMENTO JURÍDICO > Atendendo ao actual fenómeno de sobreendividamento das famílias, o recurso ao crédito, independentemente da sua modalidade, deverá ser sempre devidamente ponderado. O recurso ao crédito para a realização de uma viagem e porque não se reveste de um carácter de essencialidade requer uma ponderação ainda maior. Se o orçamento familiar ainda possuir capacidade de endividamento e, ponderadas as circunstâncias, se decidir pela realização da viagem, deverá obter-se o máximo de informação possível sobre o financiamento. Assim, é primordial obter informação sobre a modalidade de crédito que irá financiar a realização da viagem. A figura contratual mais utilizada para este tipo de financiamentos é o contrato de crédito ao consumo e, neste tipo contratual, os juros e encargos (reflectidos na chamada TAEG - Taxa Anual Efectiva de Encargos Global) podem assumir valores bastante elevados ou seja, é uma forma de crédito que pode ser muito dispendiosa. Devido a esse facto, aconselha-se uma prévia pesquisa no mercado a fim de encontrar TAEGs de valor mais baixo (atendendo a que os valores daquela podem variar entre os 12% e os 40%). A leitura e compreensão de todo o clausulado do contrato de crédito é, igualmente, importante para que não restem dúvidas sobre o teor do mesmo. I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 53 54e55.qxp 26-01-2007 17:04 Page 54 BOAVIDA L I V R O A B E R T O DA MEMÓRIA DA DESCOLONIZAÇÃO AO RETRATO DE FIDEL Do ponto de vista da preservação da memória colectiva, num país que sistematicamente a desvaloriza, a edição dos dois volumes de “Quase Memórias”, de António de Almeida Santos, constituiu um dos grandes acontecimentos editoriais de 2006. I José Jorge Letria C om a chancela da Casa das Letras, esta obra extensa, profunda e polémica percorre o período que vai do colonialismo à descolonização, detendo-se, depois, no complexo processo de descolonização de cada um dos territórios. Trata-se de uma viagem pela memória feita por um dos mais destacados protagonistas da política portuguesa das últimas três décadas. Ao arrumar e organizar a sua memória pessoal, António de Almeida Santos dá também um contributo precioso para o trabalho dos especialistas da História Contemporânea. Pelas mais de mil páginas destes dois volumes passam as figuras, as datas e os factos, sendo este trabalho de evocação e reconstituição servido por um estilo límpido e rigoroso. “Quase Memória”, exactamente porque opera com a matéria viva da memória, é uma daquelas obras que contrariam a tendência consumista e ligeira para o “ler e deitar fora”. Estamos perante dois volumes que vieram para ficar, sobretudo porque convidam à reabertura e revisitação de outras memórias e porque podem despoletar um saudável debate que permanece por fazer. É DE UMA OUTRA memória que falamos, também contemporânea, 54 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 quando referimos a publicação recente, coma chancela da Campo das Letras, de “Fidel Castro-Biografia a Duas Vozes”, do ensaísta e professor Ignacio Ramonet. Estamos na presença de um extenso e intenso diálogo que se estende por mais de 600 páginas profusamente ilustradas. Embora resistindo à tentação do proselitismo, Ramonet não esconde nem nega a simpatia e admiração que nutre pelo líder da Revolução Cubana, o que não o impede de o confrontar com questões de difícil resposta. Entretanto, ao aceitar a realização desta exaustiva entrevista, deixando muito outros pedidos sem resposta, também Fidel revelou a confiança que deposita em Ignacio Ramonet. Já no final de um longa vida e a braços com graves problemas de saúde, Fidel surge neste livro como uma figura mítica e quase ascética, admirador de Cervantes e do seu imortal D. Quixote, com o qual tem cada vez mais parecenças físicas, ficando por demonstrar se a sua utopia da construção de um “Homem Novo” esteve alguma vez à beira de realizar na grande ilha das Caraíbas. Da mesma editora é o livro “Pensar a Música, Mudar o Mundo: Fernando Lopes-Graça”, conjunto de ensaios de Mário Vieira de Carvalho, actual secretário de Estado da Cultura sobre o grande compositor e ensaísta cujo centenário do nascimento se comemorou em Dezembro de 2006 e ao longo de todo esse ano. Um livro importante para se conhecer melhor o pensamento e a obra de uma das grandes figuras da cultura portuguesa contemporânea. Também da Campo das Letras e para quem se interessa pela defesa dos direitos dos consumidores é o livro “Este Consumo que nos Consome”, de Beja Santos, um dos grandes especialistas portugueses sobre o assunto, cuja voz 54e55.qxp 26-01-2007 17:04 Page 55 gostaríamos de voltar a ouvir na rádio e na televisão, alertando-nos para o modo como os nossos direitos são frequentemente violados quando nos assumimos apenas como consumidores esquecendo os cidadãos que também somos. A TEOREMA acaba de lançar a quin- ta edição de “Seis Propostas para o Próximo Milénio”, do italiano Italo Calvino, com tradução de José Colaço Barreiros, que reúne as seis conferências realizadas pelo escritor e ensaísta em Harvard em 1986-86. Uma obra fundamental, que é sempre preciso revisitar quando pensamos no futuro que a cada passo se faz presente. Da mesma editora é, na colecção Mitos, “O Mel do Leão”, do escritor isarealita David Grossaman, traduzido em 25 línguas, que narra, no estilo forte e inventivo do autor, o mito de Salomão. Ainda da Teorema, destaque para “As Férias do Menino Nicolau”, da dupla Sempé-Goscinny, e mais um álbum da Mafalda, do argentino Quino, sempre certeiro e irreverente. “COISAS DE MULHERES!” é o título de um volume integrado na Biblioteca-Arquivo Teatral Francisco Pillado Mayor e que reúne quatro peças da professora universitária, destacada investigadora pessoana, poetisa e dramaturga Teresa Rita Lopes. O texto que apresenta a obra é do professor e ensaísta espanhol Perfecto E. Cuadrado, da Universidade das Baleares, conhecido estudioso do movimento surrealista em Portugal. “MAPA MÚNDI”, da Oficina do Livro, é a mais recente incursão de Clara Pinto Correia no domínio da ficção narrativa. Com o subtítulo “As Viagens Imaginárias na História da Europa” é um dos livros mais interessantes da autora, revelando um aturado trabalho de investigação histórica e uma invulgar capacidade de efabulação. Partindo de factos e documentos autênticos, a escritora constrói uma obra de difícil catalogação onde realidade e ficção se misturam, abrindo as portas para uma fascinante geografia imaginária que nos faz pensar em nomes como Jorge Luís Borges ou Alberto Manguel. AS APOSTAS da Ambar, neste começo de ano, vão, para além da edição de uma notável colectânea de crónicas de Gonzalo Torrente Ballester publicadas durante anos num jornal de Vigo e que constituem um olhar poderoso e crítico sobre a realidade espanhola do pós-guerra, para a reedição em Portugal de “Incidente em Antares”, de Erico Veríssimo, “Os Olhos dos Massais”, do espanhol Javier Salinas, para “Espiral de Artilharia”, do mexicano Ignacio Padilla, e “À Meia-Luz”, da portuguesa Cristina Silva, um dos nomes a ter em conta na ficção narrativa nacional dos anos mais recentes. “O ESPELHO DE SALOMÃO”, de León Arsenal, é uma das apostas de Publicações Dom Quixote, estando no centro da trama narrativa um documento escrito numa língua esquecida que indica um caminho que pode conduzir ao tesouro oculto dos visigodos. Um bom enredo para quem gosta do género.I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 55 56e57.qxp 24-01-2007 17:06 Page 56 BOAVIDA A R T E S De Paula Rego a Adriana Molder: SINAIS DE MODERNIDADE Além da ARCO, em Madrid, que ali se vai realizar de 15 a 19 deste mês, cada vez mais também um acontecimento cultural português, não só pela ampla participação das nossas galerias e artistas mas, sobretudo, pelo grande número de interessados que todos os anos se deslocam fielmente à linda capital espanhola, o grande acontecimento do início do ano foi a apresentação do tríptico de Paula Rego “Vanitas”, que faz agora parte da colecção permanente do Centro de Arte Moderna, em Lisboa. I Rodrigues Vaz E xecutado a partir do conto de Almeida Faria, “Vanitas, 51 Avenue d’Iena”, segundo Eduardo Lourenço, «No centro do tríptico, de braços cruzados, entre retrato em majestade e realístico auto-retrato, Paula Rego preside à cerimónia da vida entre sono onde a morte se esquece e vida que de olhos bem abertos parece disposta a “matar a morte”, como Shakespeare ousou escrever». Por isso é que «Não é uma Vanitas, máscara de Deus ou da sua ausência, por isso sumptuosa. É a nossa, contemporâneo56 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 ascética, quase infantil. Talvez só agora nossa verdadeira morte. Quer dizer, vida sem transcendência». TERESA MAGALHÃES NA VALBOM A apresentação dos últimos trabalhos de Teresa Magalhães, na Galeria Valbom, também em Lisboa, depois de “Painéis para o Terceiro Milénio”, que mostrou nos finais de 2005 na Sociedade Nacional de Belas Artes, confirma, de novo, o que dizia em 1990 o crítico Fernando de Azevedo: deles «irrompe necessário e a tempo exacto uma pintura lindíssima», que é o que acontece, «sempre, que avançou por dentro de si própria», o que a leva a esboçar «uma outra inten- sidade da sua percepção do real ou quase adivinhação que tem do quotidiano, do dia-a-dia simples, da sensibilidade à vida. E deslumbra. Não há outra palavra.” Como ela própria declara, «Pintura é imagem. Pintura é um conceito, um raciocínio, uma ideia. Pintura é uma linguagem. Pintura é um sentimento, um desejo. Pintura é um indivíduo. Pintura é um país, uma época, um universo. Pintura é uma aposta.» É por isso que a sua pintura nasce estritamente da manipulação da cor, concebendo-se em superfície, determinando-se pelo gesto. Porque, como acentuou há alguns anos o professor Rocha de Sousa, «na base 56e57.qxp 24-01-2007 17:06 Page 57 Desenho de André Trindade Tinta-da-china sobre papel esquisso de Adriana Molder de todo o processo desta obra existe uma forte consciência do suporte e dos seus limites – que o mesmo é dizer das linhas de estruturado rectângulo inicial e de certas divisões orgânicas que ele permite.» E é ainda a cor que Eduardo Serra exalta, quando fala sobre a pintura de Teresa Magalhães: «Cor riscada, raspada, matéria ferida que se agarra à tela. Cor que conquista o espaço da tela sem o ocupar. Cor que não deixa espaço para o negro, para a noite.» ANDRÉ TRINDADE E ADRIANA MOLDER Da manipulação da cor, se bem que noutro sentido – para acentuar a O tríptico “Vanitas”, de Paula Rego e, à direita, pintura de Teresa Magalhães agressividade dos tempos e ambiências actuais – parte igualmente o jovem artista plástico André Trindade, que apresenta na Galeria Municipal de Torres Vedras “Welcome Home”, pintura e instalação vídeo onde colecciona sinais para compreender a modernidade. Segundo Rui Matoso, «um sopro indomável de ironia trágica atravessa a obra de André Trindade, despoletando um processo que ele próprio nomeia de Evil Twist. Deste vórtice infernal não escapam as representações da História nem os ícones contemporâneos da ética e da estética.» E sinais de modernidade são dados igualmente por Adriana Molder que, no Espaço Arte Contemporânea da Fundação Carmona e Costa, apresenta “A Madrugada de Wilhelm e Leopoldine”, uma espécie de diário das viagens da artista, de Nova York a Budapeste, contadas em tinta-dachina a partir de um suporte aparentemente frágil – papel esquisso que acentua um certo ar impressionista, o qual é valorizado por uma montagem eficiente e dinâmica, onde o retrato tem um papel fundamental. I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 57 58.qxp 24-01-2007 17:07 Page 58 BOAVIDA M Ú S I C A S anglo-saxónica: William Butler Yeats, Wystan Hugh Auden, Christiana Rosseti, Walter de la Maré, Emily Dickinson e Dorothy Parker. Surge, assim, “No Promises”, com onze temas singularmente interpretados pela voz sussurrada de Carla e com arranjos musicais e produção do “histórico” guitarrista e compositor Louis Bertignac, ex“Téléphone”, grupo rock fundado em 1977. O resultado final traduz-se num trabalho discográfico amável e ao qual se adere sobretudo com grande simpatia. É extremamente agradável ouvir “No Promises”. A ESTREIA DOS “OIOAI” BOAS “PROMESSAS” DE CARLA BRUNI Quatro anos após uma surpreendente estreia discográfica, a franco - italiana Carla Bruni acaba de lançar o CD “No Promises”, trabalho escorreito e de bom gosto, porém cantado em inglês, conforme as imposições da “globalização” que também na indústria musical se faz sentir. I Victor Ribeiro H á quatro anos, com CD “Quelqu`un m´a dit”, Carla Bruni prenunciava uma espécie de ressurgimento da chamada “cantiga de autor”, devidamente revista e adaptada à realidade dos nossos dias. Em poucas semanas, a cantora vendeu mais de 1,2 milhões de cópias em França e mais de 800 mil no estrangeiro, fenómeno algo excêntrico à lenta dissolução musical francesa ocorrida desde o final década de 60 do Século XX, até aos nossos dias. 58 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 Salvaguardadíssimas as devidas diferenças, Carla Bruni terá actuado subliminarmente na memória colectiva de uma França que, com compreensível orgulho, recorda Ferrat, Reggiani, Brassens ou Ferré, entre outros, embora, no plano interpretativo, a cantora esteja muito mais próxima de antigas glórias como Françoise Hardy ou Jane Birkin. Admiradora confessa de Bob Dylan, Rolling Stones e Marianne Faithfull, Carla Bruni resolveu pôr de parte (definitivamente?) a língua francesa e seleccionou uns quantos poetas de referência de expressão O “Oioai” é um novo grupo de rock português, que acaba de surgir no mercado discográfico nacional com um CD com aquele mesmo título. Ouve-se sem constrangimento e, aparentemente, conseguirá singrar num mundo onde tudo parece estar inventado. Para já e compreensivelmente, são patentes as influências acolhidas pelos “Oioai” junto de outros grupos, designadamente dos “Toranja”. Sempre assim foi e será, quando se trata de tentar criar algo de novo. Apesar disso, os “Oioai” têm já uma sonoridade própria e revelam capacidades criadoras muito acima da mediania. No que se refere aos textos, o grupo mostra ainda alguma incapacidade para “formatar ”, com equilíbrio, as palavras à música, ou vice-versa. Nesta arte, são mestres autores como Jorge Palma, Sérgio Godinho, Chico Buarque… Ouçamos, então, com merecida atenção os “Oioai”: Pedro Puppe (voz e guitarra), João Neto (guitarra, “lap steel” e voz), Fred Ferreira (bateria, voz e piano) e Nuno Espírito Santo (baixo e coros). I DESPORTO_BTT e VELA.qxp 24-01-2007 19:19 Page 1 A ROTA DECORRERÁ NA SERRA DA ESTRELA NOS DIAS 24 (TODO O DIA) E 25 ATÉ ÀS 13h00. PREÇO INSCRIÇÃO: €100. Os participantes ficarão alojados no “Centro de Férias Serra da Estrela” em Manteigas. Maiores de 16 anos com experiência em BTT, serão considerados por ordem de pagamento. Informações: INATEL – Depart. Desporto l Calçada de Sant’Ana, 180 . 1169-062 LISBOA Vela l Tel. 210 027 130 /1 l Fax. 210 027 139 l D E S P O R TO SERRA DA ESTRELA . Manteigas Rota da Neve BTT 23, 24 e 25 de Fevereiro [email protected] Cursos na Foz do Arelho 24 e 25 de Março 21 e 22 de Abril 19 e 20 de Maio 16 e 17 de Junho 07 e 08 de Julho Inicie-se na Vela E VENHA DESFRUTAR DE NOVAS SENSAÇÕES! PREÇO: €49 INCLUI MATERIAL, ACOMPANHAMENTO TÉCNICO, SEGURO E INSTALAÇÕES DE APOIO. Tel.: 210 027 130 /1 . [email protected] SE PRETENDER ALOJAMENTO, pode contactar o “Centro de Férias Foz do Arelho”. 60e61.qxp 24-01-2007 17:10 Page 60 BOAVIDA N O PA L C O MACBETH NO TRINDADE No âmbito de uma extensa e diversificada programação comemorativa dos 140 anos do Teatro, a sala principal do Trindade será palco, até 15 de Março, de uma das mais conhecidas e representadas obras de Shakespeare. I Maria Mesquita A história de Macbeth é intemporal, e tão relevante hoje, em que cada dia há massacres de inocentes, como no dia em que Shakespeare a apresentou ao rei Jaime I, por ocasião da visita do rei da Dinamarca, em 1606. A tragédia de Macbeth é uma análise política de um golpe de estado e das suas consequências: os efeitos psicológicos e desintegração da personalidade quando entregue às forças malignas, sem esperança de redenção. Mas Macbeth também é um thril- 60 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 ler com um desenrolar rápido, intenso, cheio de humor e vulnerabilidade no meio da brutalidade e forças do sobrenatural. Pela sua força e complexidade, ‘Macbeth’ é comparável a outras grandes obras de Shakespear, como ‘Hamlet’ e ‘Romeu e Julieta’. As paixões que estão em cena tornam-nos a todos cúmplices e críticos dos Macbeth, o casal de nobres capazes de matar o seu rei. Sentimo-nos, simultaneamente, repelidos e atraídos por eles. O que pretendiam com tão terrível crime? Que impulsos, interiores ou exteriores, os conduziram a tal desenlace? Uns vêem na peça um retrato da ambição política na sua forma mais primitiva; outros, uma fábula sobre a irracionalidade do mal, ou sobre o encontro com os limites quase visíveis da vida e da morte, e sobre os poderes negativos e positivos da nossa ânsia de sobrevivência; outros ainda um braço de ferro entre as forças do feminino e do masculino, que transcende os motivos mais aparentes da fábula histórica. Tal como Macbeth, todos temos a angústia de saber mais sobre a nossa vontade. Queremos saber quem governa. Se temos nós a primazia, ou os outros, que nos fazem 60e61.qxp 24-01-2007 17:11 Page 61 frente, pela força ou pelos afectos. Ou outras forças ainda, que desconhecemos em nós, ou nos cercam. Vivemos por nós, ou somos vividos por forças que nos empurram a cada escolha? E esse saber, de que nos serviria, na hora de julgarmos os nossos actos? Ficha Técnica: NO TEATRO ABERTO Texto: William Shakespeare; Encenação: Bruno Bravo; Tradução e adaptação: Fernando Villas-Boas; Cenário: Stephane Alberto; Figurinos: Paulo Mosqueteiro; Música: Sérgio Delgado; Desenho de Luz: José Manuel Rodrigues; Interpretação: Anabela Brígida, António Rama, Bruno Simões, Cristina Carvalhal, Diogo Dória, João Lagarto, Sérgio Praia e Valerie Braddell Co-Produção: INATEL /Teatro da Trindade e Produções Teatrais Próspero Preços: 10 a 15 Euros; Descontos: 20% Jovens c/ – 25 anos, +65 anos, Pin Cultura, Profissionais do Espectáculo e Cartão FNAC; 30% - Grupos + 10 pax e Sócios INATEL Sessões para Escolas (sob marcação) datas: 25 Janeiro, 8 e 22 Fevereiro e 8 Março às 14h30. Preço único: 5 Euros « O Rapaz dos Desenhos» No âmbito do seu programa de novas criações, o Teatro Aberto apresenta a peça “O Rapaz dos Desenhos”, do canadiano Michael Healey. Na tranquilidade de uma quinta, dois agricultores acolhem um jovem actor oriundo da cidade, cujo interesse é recolher o máximo de informações sobre o trabalho do campo e histórias regionais, com o intuito de as poder representar em espectáculos com o seu grupo de teatro. A presença de uma alma jovem vem quebrar a rotina dos dois amigos assim como, desvendar segredos há muito tempo escondidos. A amizade e a magia do teatro conjugam-se de forma a explorar um percurso inesperado pelos labirintos da memória, mostrando como o passado também faz parte do futuro. são peças de um puzzle na procura da verdade por detrás de uma misteriosa prova matemática. Catherine tenta superar a dura provação da morte do seu pai, um matemático famoso que ao tempo da sua morte já sofre de alguns distúrbios mentais. Precisamente quando a jovem começa a manifestar o medo profundo de se vir a tornar como o pai, a irmã mais velha, Claire, regressa a casa para assistir ao funeral do pai. Hal, um antigo aluno do pai, começa a aparecer lá por casa e descobre um velho caderno de notas que traz à luz do dia, um segredo bem guardado por Catherine. Esta descoberta vai pôr à prova a relação entre as duas irmãs e os sentimentos românticos em crescimento entre Catherine e Hal. Ficha Técnica: Ficha Técnica: Autor: Michael Healey; Versão: João Lourenço e Vera San Payo de Lemos; Dramaturgia: Vera San Payo de Lemos; Figurinos: Maria Gonzaga; Cenário e encenação: João Lourenço; Interpretação: Luís Alberto, Rui Mendes e Pedro Granger. “AMOR À PROVA” Escrita por David Auburn, e em cena no Teatro Mundial até Abril próximo, em versão cénica de Rui Sérgio, “Amor à Prova” é a história de uma enigmática jovem, Catherine, da sua irmã, de um pai genial e de um jovem professor. Todos eles Intérpretes: Hugo Sequeira, Dina Félix da Costa, João Maria Pinto e Paula Neves. De quarta a sábado às 21.30h | Domingos às 16h; Preço dos Bilhetes: 15 Euros (descontos para grupos); Bilhetes à venda em www.ticketline.pt | Fnac | Agências Abreu | Alvalade | Plateia | Teatro Mundial; Informações e Reservas: telef. 21 357 40 89 (Mundial) e 21 412 17 97 (Produção). Teatro Mundial | Rua Martens Ferrão | 12 A (a Picoas) OUTRAS PEÇAS EM CENA: “A Ronda das Fadas”, na Quinta da Regaleira, em Sintra, pela companhia Tapafuros. I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 61 62e63.qxp 24-01-2007 17:12 Page 62 BOAVIDA CINEMA EM CASA DE ALMODÔVAR A OLIVER STONE Sérgio Barrocas N o mês mais curto do ano, sugerimos quatro filmes dignos de revisitação. Têm, dois deles, a marca de Pedro Almodôvar – ‘Volver’ foi um dos grandes acontecimentos cinematográficos de 2006 – e de VOLVER A LULA E A BALEIA A história de três gerações de mulheres: Raimunda (Penélope Cruz) casada com um operário a viver do subsídio de desemprego e uma filha adolescente (Yohana Cobo), Sole (Lola Dueñas), a sua irmã, que ganha a vida como cabeleireira, e a mãe de ambas (Carmen Maura), morta num incêndio, juntamente com o marido que sobrevivem ao vento quente, ao fogo, à loucura, à superstição, e até mesmo à morte, com amizade, algumas mentiras e uma vitalidade sem limites. Uma comédia dramática onde predomina o universo feminino, a importância da cor e a vida em todas as suas facetas. Nova Iorque, anos 1980, uma família em crise com uma situação de divórcio, os filhos e a melhor forma de lidar com o problema. Uma história comovente, com Jeff Daniels (o Pai) e Laura Linney (a Mãe) em grande forma, vestindo a pele de um casal de escritores em vias de separação que com dois filhos de idades diferentes vão aprender a redefinir um novo rumo para as suas vidas. Vencedor de dois prémios no festival de cinema independente de Sundance é um filme equilibrado, subtil na forma como retrata as relações e com uma banda sonora inesquecível. Volver; REALIZAÇÃO: Pedro Almodôvar; Com: Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Dueñas, Blanca Portillo, Yohana Cobo; Espanha, 121m, cor, 2006; EDIÇÃO: Prisvideo TÍTULO ORIGINAL: 62 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 The Squid and the Whale; REALIZAÇÃO: Noah Baumbach; Com Jeff Daniels, Laura Linney, Jesse Eisenberg, Owen Kline, Anna Paquin, Halley Feiffer; EUA, 81m, cor, 2005; EDIÇÃO: Lusomundo TÍTULO ORIGINAL: WORLD TRADE CENTER O polémico Oliver Stone volta a surpreender com Oliver Stone, no seu forte e surpreendente regresso à realização, inspirado no trágico 11 de Setembro novaiorquino. ‘A Lula e a Baleia’ (de Noah Baumbach) e ‘O Mundo’, um retrato da China contemporânea de Jia Zhang-Ke, são, igualmente, duas boas surpresas do ano que findou. Marcos, o Big Ben e as Pirâmides do Egipto- sem ter de deixar os subúrbios de Pequim. Todos os dias, a bela e jovem Tao e os demais funcionários deste parque encantam os visitantes com fascinantes espectáculos e temas. Este filme é um mosaico delicado dos momentos da vida de cada um dos que trabalham no parque, onde haverá casamentos e separações, lealdades e infidelidades, alegrias e tragédias. esta história de luta pela sobrevivência de dois polícias de Nova Iorque presos nos escombros das torres gémeas no trágico 11 de Setembro de 2001. Baseada em factos ocorridos nesse dia, esta é a história de John McLoughlin (Nicolas Cage) e Will Jimeno (Michael Peña), o drama vivido pelas suas famílias e a alegria luminosa do seu salvamento. Este é um filme sobre a América, feito para ajudar a unir um povo e um país num momento delicado da sua história. TÍTULO ORIGINAL: TÍTULO ORIGINAL: World REALIZAÇÃO: O MUNDO OUTROS TÍTULOS O LEOPARDO (Costa do Castelo) Luchino Visconti Trade Center; REALIZAÇÃO: Oliver Stone; Com Nicolas Cage, Michael Peña, Maggie Gyllenhaal, Maria Bello, Jay Hernandez,; EUA, 129m, cor, 2006; EDIÇÃO: Lusomundo O World Park é um lugar onde os visitantes podem ver réplicas em tamanho reduzido de monumentos famosos -como a Torre Eiffel, a Praça de São Shijie; Jia Zhang-Ke; Com Zhao Tao, Chen Taisheng, Jiang Zhongwel, Wang Yiqun; China, 140m, cor, 2006; EDIÇÃO: Atalanta Filmes ROMA CIDADE ABERTA (Costa do Castelo) Roberto Rosselini A MINHA VIAGEM A ITÁLIA (Midas) Martin Scorsese 62e63.qxp 24-01-2007 17:12 Page 63 BOAVIDA FILMES COM MEMÓRIA O FASCÍNIO DE BABEL Não há nesta ficção uma história dorsal, mas uma série de situações com personagens e lugares colocados num intrigante tabuleiro de xadrez – o mundo de hoje Fernando Dacosta A Babel, mítica Torre onde se albergaram, para unirse (o que não lograram), povos de todos os lugares e de todas as línguas, ou seja de todas as diferenças, foi o realizador Alejandro González Iñárritu buscar o nome e a simbologia para a sua última película. Horizontal na arquitectura, esta desenrola-se em cadeia de elos ligados ora por semelhanças ora por contrastes, ora por rupturas ora por justaposições, através de espirais onduladas de insólito e implacabilidade, inocência e vertigem, sonho e abjecção, amor e morte. Fabulosa, a obra em causa (interpretada por um Brad Pitt, uma Cate Blanchett e um Gael Garcia Bernal despidos de vedetismos e de «glamours») gira como uma esfera progressivamente desocultada/ocultada pela alma dos que a habitam e pela claridade que a nimba. A luz torna-se-lhe, o que é invulgar no actual cinema, uma respiração encantatória, inesquecível: forte e ávida em Marrocos, azul e esvaída no Japão, gordurosa e densa no México, baça e morna nos Estados Unidos. Paisagens, seres, sentimentos, objectos, sons, silêncios, desmesuras, desistências, dores, demências são-nos transfigurados por ela, num trabalho de recriação (plástica e psicológica) inigualável. Sob esse caleidoscópio mutante cruzam-se, em vários conti- nentes, pessoas de identidade (linguística, rácica, cultural, económica, erótica) angular. A maior parte não se conhece. A sua comunicação não chega, em alguns casos, a emergir sequer; noutros (como nos jovens árabes a brincar com a espingarda acidental, como na patética cena de amor da japonesa muda) ela torna-se comunhão de perturbador envolvimento. Todo o filme o é, aliás, com uma genialidade que, de tão subtil, muitos (mesmo críticos) não a detectam. Felizmente que os júris dos grandes festivais e galardões estão, ao contrário do que sucedeu em Portugal, a referenciá-lo, premiando-o, excepcionalizando-o, dilatando-o, cumpliciando-o. A natureza humana faz-se, nele, um rio subterrâneo a correr nas entrelinhas das imagens, das elip- ses, das ligações secretas, dos desencontros/encontros. Há uma espécie de sublime (outro?) por trás deste filme que empolga, que desconcerta – porque sugerido e não mostrado, intuído e não revelado. O mundo que capta, com os seus habitantes desnivelados socialmente, geograficamente, geracionalmente, afectivamente, é uno apesar de diverso (há fios entre o Magrebe e o Japão, e o México, e a América), de violento (atente-se na tomada dos adolescentes marroquinos por terroristas, após o tiro acidental contra o autocarro de turistas), de desesperante (repelente o egoísmo dos excursionistas ao abandonarem na aldeia a jovem ferida e o seu companheiro em desespero), de patético (o libidinoso bailado das ninfas nipónicas rejeitadas pelos homens), de atroz (a inconcebível ilegalidade da ama mexicana há décadas radicada nos EUA) A globalização que Alejandro González Iñárritu metaforiza não é, sabe-se, fácil. A Torre de Babel, adverte-nos ele , foi exemplar disso. A sua sombra milenar persiste, afinal, incólume. Desafiá-la é um ritual que poucos ousam fazer – e muitos condenam que se faça. Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 63 64e65.qxp 24-01-2007 17:13 Page 64 BOAVIDA À M E S A UM DIA A COMER BEM E BARATO É possível, com alguns conhecimentos e imaginação, compor refeições saborosas e saudáveis. Aliás, toda a arte culinária mediterrânica é baseada na gestão cuidadosa das matérias-primas escassas. I Pedro Soares P ara compor um dia alimentar relativamente económico e nutricionalmente equilibrado pode come- çar por: Engrossar a sua sopa com leguminosas secas. Feijão, grão ou lentilhas são alimentos extraordinariamente baratos em função da sua qualidade nutricional. São uma boa fonte de aminoácidos, de energia que se liberta lentamente para a corrente sanguínea, de fibra que é fundamental para a luta contra a doença oncológica e para o bom funcionamento intestinal. Para além disto, fornecem vitaminas e minerais em quantidade abundantes. Acompanhar as merendas da manhã, tarde e ceia com pão variado e sempre que possível de mistura. Pães de centeio, milho, integral, ou mistura de vários cereais são bem vindos. O pão de qualidade, mais escuro e pouco salgado, é uma extraordinária fonte de vitaminas do complexo B, de energia e de minerais. Certas estruturas como o sistema nervoso (20 000 milhões de células) e os glóbulos vermelhos do sangue só consomem glicose como fonte de energia, a qual se obtém naturalmente da digestão do pão, entre outras fontes. Beber dois copos de leite por dia (simples, em batidos, misturado com fruta, etc.) significa consumir 64 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 muitos dos nutrientes necessários para levar uma vida saudável. Senão, vejamos o que contém um copo (250 ml) de leite meio-gordo: aminoácidos, vitamina D, vitamina B12, cálcio, riboflavina, fósforo, vitamina A, magnésio, niacina, vitamina B6, tiamina, zinco e ácido fólico. Todos estes nutrientes encontram-se em quantidade elevadas no leite ou nos seus derivados como o iogurte natural e… a muito baixo custo. Para além disto, quem bebe leite ou seus derivados diariamente pode fazer apenas uma pequena refeição de peixe ou carne por dia. Substituir os cereais de pequenoalmoço, caros, açucarados e salgados por flocos de aveia ou centeio, bastante mais baratos, sem adição de sal ou açúcar. Do ponto de vista da saúde o ganho é enorme. Sempre que possível consumir fruta da época ao longo do dia. Apesar da fruta ter subido bastante nos últimos tempos, ainda a po- demos incluir neste “cabaz” de bom e barato. A fruta fresca, consumida de preferência ao natural, possui centenas de compostos químicos, alguns ainda pouco estudados, mas que são decisivos para a manutenção de uma vida saudável até tarde. Assim o comprova a imensa documentação científica que se acumulou nas últimas décadas. Substituir a carne ou o peixe por um ovo, duas vezes por semana, não faz qualquer mal a um adulto saudável que tenha uma alimentação saudável. A proteína do ovo é de extraordinária qualidade, semelhante ou até melhor do que aquela obtida a partir da carne ou peixe e o preço bastante mais reduzido. Sempre que possível incluir hortícolas nas refeições principais. Couves variadas, cenouras, cebolas, tomate, alfaces, brócolos e demais companhia reforçam o sistema imunitário e activam funções celulares ajudando a reparar tecidos e lutando contra a oxidação excessiva das células. Beba água, bastante água ao longo do dia, a acompanhar refeições e fora dela. Sem água em abundância o sistema renal funciona mal, o cansaço pode instalar-se nos mais idosos e as lesões musculares podem aparecer com mais frequência. Ainda por cima a água é barata. Agora faça as contas e comece 2007 a poupar, comendo de forma muito mais saudável. I Ilustrações: André Letria 64e65.qxp 24-01-2007 17:13 Page 65 BOAVIDA S A Ú D E Antibióticos PARA QUE VOS QUERO? A banalização e o uso incorrecto dos antibióticos é uma das principais causas para estes deixarem de ser eficazes. I M. Augusta Drago O ma das maneiras incorrectas de empregar os antibióticos é usá-los para tratar gripes e constipações. Muitas pessoas desconhecem que os antibióticos só servem para tratar doenças provocadas por bactérias e as gripes e constipações são de causa viral. Outra maneira incorrecta é quando o doente não cumpre a prescrição médica, alterando o número de tomas ou não respeitando o intervalo entre elas. Quando o doente volta à consulta, porque não se sente curado, e não informa o médico sobre a forma irregular como tomou o medicamento, este pode pensar que o diagnóstico não estava correcto ou que o antibiótico não fez efeito. O doente sujeita-se a fazer novos exames e pode ter que tomar outro antibióti- co, com todas as desvantagens que estes procedimentos acarretam. O uso incorrecto dos antibióticos tem contribuído para o aumento das resistências a este tipo de medicamentos. Na linguagem médica, a resistência de uma bactéria a um antibiótico significa que determinado antibiótico, que em princípio era eficaz para tratar uma doença, deixa de o ser quando a bactéria que está na sua origem passa a ser resistente, isto é, já não morre com a esse antibiótico. As bactérias em contacto com os antibióticos modificam-se, tornamse resistentes à acção destes e passam a conviver pacificamente com o medicamento que a princípio as destruía. Desde a descoberta da penicilina, nos anos 40 do século passado, que os antibióticos se tornaram na melhor arma terapêutica para combater as doenças provocadas por bactérias. Desde então, os médicos debatem-se com o problema das resistências e já existem bactérias que são resistentes a vários antibióticos e outras, as mais temidas, que são resistentes a qualquer antibiótico, pelo que as doenças por elas provocadas são intratáveis. A melhor maneira de prevenirmos o aparecimento de bactérias resistentes é limitarmos o uso de antibióticos às situações que deles precisam efectivamente. A maior parte das infecções respiratórias e dos ouvidos são causadas por vírus. Informe-se com o seu médico e não o pressione para lhe receitar antibiótico. Se tiver uma infecção grave e tiver de tomar antibiótico, cumpra com rigor a prescrição. Faça o tratamento até ao fim, mesmo que se sinta melhor ou completamente bem antes de o terminar.I [email protected] Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 65 66e67.qxp 24-01-2007 17:14 Page 66 BOAVIDA TEMPO INFORMÁTICO para pertencer ao nosso quotidiano. (Netbit: 213616310) XMOD MUDANÇAS NO QUOTIDIANO Há alguns anos, fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que numa cidade da Europa onde me encontrava andavam com um telemóvel nas ruas. Hoje existem em Portugal mais telemóveis registados do que o número de habitantes. I Gil Montalverne E u próprio me sinto quase em pânico se saio de casa sem ele. O mesmo acontece agora com os leitores de MP3. Quem os não tem entre os mais jovens e mesmo no nível etário intermédio? Apresentamos dois dispositivos para os quais se adivinha o mesmo fenómeno. NOVO GPS MICHELIN Serão poucos os que não anseiam ter um GPS para os ajudar nas viagens de carro. Quando apareceram eram caros. Estão a tornar-se cada vez mais baratos e com mais informação. Dentro de pouco tempo serão tão naturais como ter um telemóvel. O novo GPS X950 da Via Michelin, com 66 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 todos os seus Guias, ajuda-o a encontrar toda a informação que pretende quando conduz. Tudo em tempo real. 218 Euros para Portugal/Espanha e 328 para a Europa. Itinerários alternativos se as condições de tráfico não forem as melhores, graças a um receptor FM, detalhe na estrada ou nas cidades mesmo a numeração dos prédios, guia de voz com mudança de idioma, o Guia Verde para a informação turística e o Vermelho para encontrar um hotel ou restaurante por categoria ou preço, etc. Fácil, eficaz e completo tem outra qualidade que vai apreciar. Para além de se poder fixar na viatura, torna-se portátil e transporta-se no bolso ou na mão (137grs.) Vire à direita a 100 metros. Não falta muito Um pequeno dispositivo de tamanho de um telemóvel converte de forma instantânea qualquer arquivo MP3 numa qualidade superior mesmo à dos CDs originais, apenas comparável ao obtido num estúdio de gravação. Com uma entrada directa de áudio para qualquer tipo de reprodutor MP3, melhora de forma automática o som. A Creative utiliza no Xmod a sua tecnologia X-Fi Xtreme Fidelity com importantes funções, tais como X-Fi Crystalizer que analisa a música MP3, identifica que partes do som foram transferidas ou danificadas durante a compressão e de imediato restaura selectivamente os altos e baixos deteriorados durante a compressão. Uma outra função estabelece um som envolvente virtual através de colunas ou auscultadores. Custa à crer que nuns simples auscultadores seja possível sentir o som como se estivesse num estúdio de gravação ou no centro da acção de um filme. Mais de cem milhões de pessoas ouvem música no formato Mp3, WMA ou AAC em PC ou Mac e em reprodutores MP3. Quer sentir-se como se o seu cantor preferido estivesse a tocar para si num concerto privado? Esta é a experiência que o Xmod proporciona. Em breve fará parte dos dispositivos que nos acompanham diariamente (PVP:79,90 E). I [email protected] 66e67.qxp 24-01-2007 17:14 Page 67 BOAVIDA A O V O L A N T E ARMINDO ARAÚJO A caminho da consagração mundial Armindo Araújo, 29 anos, Assessor de Gestão Empresarial, solteiro,vem do Minho e quer dominar o mundo dos ralis. Nos últimos sete anos tem acumulado um palmarés único em termos nacionais. Todos os desafios que se propôs enfrentar saldaram-se por um título. I Carlos Blanco O próximo leva-o a cruzar as fronteiras de Portugal: quer ser Campeão do Mundo de Ralis de Carros de Produção em 2007, repetindo o feito de Rui Madeira na década anterior (1995), e espera competir, em 2008, no Mundial principal e também na marca nipónica. Sabe que este mundial 2007 não é “favas contadas”, pois nunca participou em qualquer dos seis ralis previstos. A tarefa mais difícil será nas estradas com neve e gelo da Suécia (9 a 11 de Fevereiro). Os restantes ralis já têm mais a ver com aquilo a que está habituado nas provas nacionais. Grécia (Junho), Nova Zelândia (Agosto/Setembro), Japão (Outubro), Irlanda (Novembro) e Gales/Grã-Bretanha (Novembro/Dezembro), este com regresso ao frio e, talvez o gelo, são os desafios a vencer por Armindo Araújo para atingir o topo mundial. ADVERSÁRIOS DE RESPEITO Os ralis são complicados, como difíceis são também os principais adversários de Armindo Araújo. Caso os consiga derrotar, o triunfo no Mundial de Produção terá ainda mais valor. O piloto residente em Santo Tirso vai defrontar o actual campeão, Nasser Al-Attyiah (Qatar) que conduz um Subaru Impreza, carro também de Toshihro Arai, com um título no Mundial de Produção (2005). Ainda na Subaru, atenção para o jovem Anton Alen (filho de Markku Alen), vencedor da classe nos dois ralis do Mundial em que participou em 2006, e ao seu compatriota Kristian Sohlberg, vice-campeão de Produção em 2002. Da Suécia, vem outro adversário de respeito: Patrick Flodin, batido por Armindo Araújo na última edição do Rali de Portugal. Outros rivais fortes serão o vicecampeão de 2006, o japonês Fumio Nutahara, com uma máquina idêntica à do português e o finlandês Juho Hanninen, vencedor nos ralis da Suécia e da Sardenha/Itália em 2006. PALMARÉS Por muito bons que sejam os adversários, Armindo Araújo parte para esta aventura determinado a vencer, como tem feito sempre, desde os tempos em que antes das quatro rodas foi um dos melhores pilotos português de Enduro em motos. Considerado já o piloto do Século XXI em Portugal, foi, precisamente em 2000, que iniciou a carreira nos automóveis, dominando o Campeonato Nacional de Promoção com um Citroen Saxo. Sem queimar etapas, optou, em 2001, pelo troféu Citroen Saxo de que foi vencedor. O próximo passo foi a integração numa equipa oficial. No final do ano de 2002, premiou a aposta da Automóveis Citroen com o título na classe F3 e o terceiro lugar no Campeonato Nacional Absoluto. De um dia para o outro, Portugal inteiro percebeu que tinha um ‘diamante’. Cada vez melhor “lapidado”, esse diamante brilhou ainda mais nos anos seguintes, garantindo quatro títulos nacionais, os dois primeiros com a Citroen e os últimos integrando a equipa oficial da Mitsubishi Portugal. No asfalto ou na terra, tipo de ralis que prefere, com carros de duas (Saxo) ou quatro rodas motrizes (Lancer Evo), Armindo Araújo só conhece um mote: sempre ao ataque… mas com um discernimento invulgar. Trunfos que poderão dar a Portugal mais um título Mundial, na companhia do seu inseparável navegador Miguel Ramalho. I Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 67 68.qxp 24-01-2007 17:15 Page 68 BOAVIDA PA L AV RA S D A L E I QUOTA DE BENS PERTENCENTES À ESPOSA Há maneira de, no caso de um elemento do casal falecer, o cônjuge sobrevivente salvaguardar-se de um dos outros herdeiros. Sem querer de modo algum deserdar quem quer que seja, gostaria de saber se a casa que pretendemos comprar pode ficar para o cônjuge sobrevivo. Francisca Gonçalves ? – Sócia n.º 123431 I Pedro Baptista-Bastos A nossa lei sucessória determina que, no caso do marido falecer, há uma parte dos bens que é imperativamente atribuída à mulher. Esta ideia vem do antigo direito muçulmano, e tinha o nome de “Terça”, isto é, havia uma terça parte dos bens do marido que ficavam para a sua esposa – ou à primeira das esposas … - por lei. Nos dias de hoje, a nossa lei sucessória salvaguardou esse direito da viúva, no seu artigo 2139º, n.º 1 do Código Civil, ao determinar que, quando se divide a herança pelos herdeiros, a viúva tem sempre que receber uma quota nunca inferior a um quarto do valor da herança Se alguém morre sem fazer um testamento, a lei sucessória chama os seus herdeiros legítimos, e que são a sua viúva, os seus parentes e, se estes não existirem, o Estado. 68 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 Ao caso, há uma viúva e um descendente. São, portanto, estes dois chamados a herdar. A partilha da herança, na parte que cabe à esposa, é sempre superior a um quarto da herança, por determinação legal e como protecção da esposa relativamente aos bens que herdar. Terá ela direito a mais alguma coisa? Sim. A resposta a esta questão encontra-se no artigo 2159º, n.º 1 do Código Civil. Havendo uma esposa e um filho herdeiros, a lei diz-nos que dois terços da herança cabem-lhes obrigatoriamente; assim, um terço do valor fica para uma, e outro terço para outro. A terça parte final é também dividida por metade entre ambos. Este raciocínio é assim feito, porque a lei obriga a encarar a partilha da herança, numa primeira fase, de acordo com o valor dos bens que têm que ficar sempre para os herdeiros legitimários – cônjuge, ascendentes e descendentes – , e que nunca podem ser afectados por quaisquer doações em vida, ou possíveis testamentos; grosso modo, é a quota que fica sempre para a família; daí os dois terços. A terça parte final consiste no valor dos bens que já podem ser livremente atribuídos a alguém, que pode ser um estranho, seja por doações ou testamentos. Como tal não aconteceu, essa terça parte final é dividida também pela esposa e filho. Assim, tudo fica dependente do valor da casa integrar-se dentro do valor da quota legítima da esposa, determinada de acordo com o acima explicado. Se, porventura, a exceder, a esposa continua com a casa, mas terá que pagar tornas aos outros herdeiros. Por prudência, aconselho-a a que ambos os esposos outorguem um testamento, no qual atribuam a casa ao esposo sobrevivo. I Toda a correspondência deve ser dirigida à Redacção da «Tempo Livre» 24-01-2007 17:16 Page 70 CLUBE TEMPO LIVRE PASSATEMPOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES 1-OFERECIMENTOS. 2-OCO; OMITIRA; VIL. 3-LURA; ACENA; BODA. 4-ALADO; IMO; RASOS. 5-0; IRIA; SAUL; N. 6-P; DANO; N; OMAR; O. 7-ALI; A; TOA; 0; UNS. 8-NOVA; ARENA; TAÍS. 9-0; OPACA; ODRES; A. 10-0; AROMÁTICO; O. 11-ALOR; SAPOR; NADA. 12-ROLAS; SOU; PIRES. 13-ARARAS; S; TRAÍRA. Palavras Cruzadas > por Tharuga Lattas Horizontais:1-Dádivas.2-Escavado; Olvidara; Insignificante. 3-Esconderijo de coelhos ...; Mostra de longe; Festa de baptizado... 4-Leve; O âmago; Rentes. 5-Nome pessoal feminino; Primeiro rei dos Israelitas, que morreu pelo ano de 1115 a.C. 6-Condeno; Sucessor de Abu Becre e segundo Califa, de 634 a 644. 7-Paxá de Jánina que se apoderou de Albânia, onde praticou as maiores crueldades; Corda de rebocar; Certos. 8-... (João da), navegador ao serviço de Portugal, que descobriu a Ilha de Ascensão e de Santa Helena, no Atlântico; Liça; Celebre cortesã grega do séc. IV, amante de Alexandre e depois de Ptolemeu II. 9-Obscura; Pessoa muito gorda e baixa (pl.). 10-Bem cheiroso. 11-Maneira de andar ou de proceder; Rei da Pérsia, dinastia sassânida (241-272), que venceu e aprisionou o imperador Valeriano; Porto abrigado por terras mais ou menos altas. 12-Rebolas; Estou; ... (Pedro), politico e militar cabo-verdiano... 13-Cachoeira do Rio Madeira (Brasil); Falseara. Verticais: 1-Remoinho de água; Tecido; Pedra de altar. 2-Instrumento para ver ao longe; Lado do navio voltado para o vento; Cheiro. 3-Em terra estranha; Cantor notável; Folha de certa palmeira que servia para se escrever. 4-Transfere para outro dia; Aguçar. 5-Nome da decima sétima letra do alfabeto grego; Enfeita; Aspecto; ... (João de), navegador português companheiro de Vasco da Gama na primeira viagem à Índia. 6-Ave corredora australiana; Filha de Inaco, amada de Zeus, metamorfoseada em novilha por Hera; Suf. nom., de origem latina, que tem geralmente, sentido “pejorativo” (pl). 7Sibila; Enredos. 8-0 mesmo; Patriarca bíblico; Depois de. 9-Rei de Creta, filho de Europa e de Zeus; Tomou nota de. 10-Pertencia; Cont. de prep. e art.; Juntar. 11-”Sódio”(s.q.) Direcção; Rádio Clube (iniciais); “Praseodímio” (s.q.). 12-Projéctil; Conjectura. 13-Germes;Correntezas; Nome pessoal masculino. 14-Cidade da Fenícia, hoje Saída, Líbano, porto do Mediterrâneo; Níquel (s.q.); Rio da Polónia. 15-Além (pl.); Serra de Portugal (Alentejo); Ala. Xadrez > por Joaquim Durão O conde belga, de origem irlandesa, Alberic O’Kelly de Galway (1911-1980), foi uma figura frequente nos principais torneios de meados do século transacto. Único xadrezista profissional belga do seu tempo, ombreou com a mais alta roda da modalidade. Frequente visitante de Espanha foi amigo dos melhores portugueses que também “vaguearam” pelas terras vizinhas nesses tempos. Dominava excelentemente a técnica posicional, e não deixava escapar posições de desfecho combinativo rápido. É o caso do diagrama, em que, com pretas, “liquida” o romeno Dyner fulminantemente. De uma partida de 1938. AS PRETAS JOGAM E GANHAM Uma partida incaracterística do estilo de O’Kelly é a miniatura que segue, na qual abre com PR, raríssimo nele, sobretudo na sua fase madura. Com pretas, a lenda do xadrez norteamericano Arnold Denker. Abertura Espanhola, ou Ruy Lopez. Mar del Plata, 1948. 1 e 4 e 5 2.Cf3 Cc6 3. Bb5 f5 (a variante Janisch ou Schliemann, que hoje se vê raramente) 4. Cc3 fxe4 5. Cxe4 d5 6. Cxe5 dxe4 7. Cxc6 bxc6 (Mais tarde melhorou-se a defesa com 7…. Dd5! 8.c4 Dd6 9. Cxa7+ Bd7 etc) 8. Bxc6 Bd7 9. Dh5+ Re7 10.De5+ Be6 11.d4 exd3n.p. 12.Bg5+ Cf6 13. 0-0-0 Rf7 14. The1 Bxa2? 15. Da5 Be6 16. Bxf6 Dxf6 (Também insuficiente é 16…. Gxf6 17. Txe6 seguido de 18. Bxa8) 17. Txe6!! Dxf2 (Se 17…,Rxe6 18. Dd5+ Re7 19.Dd7 mate) 18. Txd3 Rxe6 19. Dd5+ Re7 20. De5+ as pretas abandonam. Além de perderem a dama 20… Rf7 21. Tf3+ Dxf3 22. Bxf3 as pretas não têm forma de salvarem a qualidade – T a 8 atacada pelo Bf3. 70 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 SOLUÇÕES 1…. Tf1+, abandona. Se 2, Cxf1 De4+ 3. Rg1 Ch3 ++ ; se 2.Rg2 Dg3++ e se 2. Txf1 Dxd6. As pretas jogam 1…., e3-e2 e depois de, efectivamente, 2.Dc7 foram surpreendidas por Dg3+!!, e após 3.Rxg3 e1=D+ xeques sucessivos levam ao mate. 70.qxp 71e72_segunda_via.qxp 26-01-2007 17:10 Page 71 Viagens Contribuímos para uma melhor qualidade de vida. Percorra Portugal e o Mundo connosco! PORTUGAL PÁSCOAS A força da tradição PROCISSÃO DAS ENDOENÇAS Páscoa em Entre-os Rios Uma tradição secular cheia de devoção PARTIDAS: LISBOA/SANTARÉM/LEIRIA/COIMBRA 05 a 09 de Abril PÁSCOA TRADICIONAL TRANSMONTANA NOVIDADE Preço por pessoa em quarto duplo: € 280,00 SEMANA SANTA EM BRAGA FÉRIAS DA PÁSCOA NA ILHA DOURADA - PORTO SANTO PARTIDAS: LISBOA 06 a 10 Abril Preço por pessoa em quarto duplo: €475,00 VIAGENS TEMÁTICAS Lazer e cultura (MOURILHE BOTICAS/CHAVES/VILAR DE PERDIZES/MONTALEGRE/PITÕES DAS JÚNIAS) Uma Semana Santa recheada de tradições, que dá a conhecer um pouco mais dos costumes culturais, religiosos e gastronómicos desta bela e misteriosa região. PARTIDAS: LISBOA/LEIRIA 05 a 09 de Abril Preço por pessoa em quarto duplo: € 450,00 PARTIDAS: SETÚBAL/LISBOA /SANTARÉM/LEIRIA/ - 05 a 09 Abril Preço por pessoa em quarto duplo: € 385,00 PÁSCOA EM CASTELO DE VIDE PARTIDAS: BRAGA/PORTO/AVEIRO 05 a 09 Abril PEQUENA ROTA DOS SOLARES E DO VINHO VERDE - Minho (ARCOS DE VALDEVEZ MELGAÇO/ PONTE DE LIMA/PÓVOA DO LANHOSO) O vinho verde é para dar de beber à alma PARTIDAS: BEJA/ÉVORA/LISBOA 13 a 15 de Abril de 2007 Preço por pessoa em quarto duplo: € 245,00 PÁSCOA EM ALBUFEIRA PARTIDAS: PORTO/COIMBRA/SANTARÉM/LISBOA NOVIDADE CIRCUITO DA OLARIA Arte e tradição no Alentejo VIANA DO ALENTEJO - ALCÁÇOVAS) Inclui almoço regional com actuação de grupo de cante alentejano PARTIDAS: COIMBRA/LEIRIA/LISBOA 05 a 09 Abril 20 a 22 de Abril de 2007 Preço p/pessoa em quarto duplo: € 320,00 Preço p/pessoa em quarto duplo: € 240,00 Preço p/pessoa em quarto duplo: € 275,00 71e72_segunda_via.qxp 26-01-2007 17:10 Page 72 Viagens ROTA DOS ESCRITORES DO DOURO E TRÁS-OS-MONTES (PORTO/ AREGOS-TORMES / AMARANTE/VILA REAL/SANTA MARTA DE PENAGUIÃO/ SABROSA/ PINHÃO) Eça de Queirós Teixeira de Pascoais - Camilo Castelo Branco - João de Araújo Correia Miguel Torga PARTIDAS: PORTALEGRE/COVILHÃ/GUARDA/VISEU PROGRAMA ESPECIAL O MELHOR DO BRASIL SÓ COM O INATEL IX ENCONTRO LUSO BRASILEIRO/TURISMO SÉNIOR 27 a 29 de Abril 2007 Preço por pessoa em quarto duplo: € 215,00 INATEL INTERNACIONAL ESPANHA CIDADES PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE - SANTIAGO DE COMPOSTELA 25 a 28 Abril 2007 PARTIDAS: LEIRIA/COIMBRA/AVEIRO/PORTO Preço por pessoa em quarto duplo: €259,00 Convidamo-lo a atravessar o Atlântico e a estar presente em mais um ENCONTRO LUSOBRASILEIRO. Reviva a história, as descobertas e deixe-se envolver pela beleza tropical. FESTAS FALLAS DE VALENCIA 2007 (Autocarro) 15 a 21 Março de 2007 PARTIDAS: COIMBRA/LEIRIA/SANTARÉM/LISBOA Preço por pessoa em quarto duplo: €715,00 MUSEUS DE ESPANHA MADRID 30 Março a 03 Abril 2007 PARTIDAS: LISBOA/SANTARÉM/COVILHÃ/GUARDA Preço por pessoa em quarto duplo: €479,00 FRANÇA FÉRIAS DA PÁSCOA EM PARIS PARTIDAS: LISBOA/PORTO/FARO 02 a 07 Abril Preço por pessoa em quarto duplo: €755,00 (O preço não inclui taxas de aeroporto, segurança e combustível) ITÁLIA SEMANA SANTA EM ROMA PARTIDAS: LISBOA 04 a 08 Abril A realizar em Vitória, capital do Estado de Espírito Santo, na 2ª quinzena de Maio ROTEIROS PREVISTOS: Rio de Janeiro/Vitória/Belo Horizonte/Ouro Preto/Mariana/ Congonhas/Petrópolis Rio de Janeiro/Vitória /Prado/ Porto Seguro/Ilhéus/Salvador São Paulo /Vitória /Rio Preços e programas a divulgar oportunamente FAÇA JÁ A SUA RESERVA Preço a divulgar oportunamente Informações e reservas nos balcões de venda da Sede e Delegações Sede/Loja do Turismo: Calçada de Sant’Ana 180, 1169-062 Lisboa Telf. 210027160/61/62 fax: 210027170 e-mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt 73_cup.qxp 24-01-2007 17:22 Page 73 CUPÕES CLUBE TEMPO LIVRE NOTA: os cupões para aquisição de Livros são válidos até ao final do ano de 2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 DESCONTO Este cupão só é válido na compra de 1 livro constante da nossa secção “ Novos livros ”, onde está incluído o preço de venda ao público (PVP) e respectiva Editora Clube TempoLivre 2,74 Euros VALIDADE 31de Dezembro/2007 Remeter para Clube Tempo Livre – LIVROS, Calçada de Sant’Ana nº 180 – 1169-062 Lisboa, o seguinte: G Pedido, referenciando a editora e o título da obra pretendida; G Cheque ou Vale dos Correios, correspondente ao valor (PVP) do livro, deduzindo 2,74 euros de desconto do cupão. G Portes dos Correios referente ao envio da encomenda, com excepção do estrangeiro, serão suportados pelo Clube Tempo Livre. Em caso de devolução da encomenda, os custos de reenvio deverão ser suportados pelo associado. 74e75.qxp 24-01-2007 17:23 Page 74 CLUBE TEMPO LIVRE NOVOS LIVROS CAMPO DAS LETRAS ENIGMA DE QAF Alberto Mussa 224 pg. | 14,70 (PVP) O enigma é o próprio árabe: a sua origem, suas tradições, seu nomadismo, seus haréns, seus algarismos, sua escrita e as múltiplas versões de uma história que por vezes soam improváveis, o que as torna ainda mais encantadoras. Uma obra de ficção onde o autor peregrina por congressos de arabistas e pelos labirintos das bibliotecas, confrontando o que há de autêntico e de falso em textos milenares. PENSAR A MÚSICA, MUDAR O MUNDO: FERNANDO LOPESGRAÇA Mário Vieira de Carvalho 268 pg. | 14.70 (PVP) Lopes-Graça jamais buscou o êxito fácil perante um qualquer público e também nunca se preocupou com a moda. Manteve a sua linha, defendeu o seu percurso próprio, interior, de construção ou descoberta da individualidade artística, como parte integrante de afirmação da sua própria diferença ou singularidade como pessoa. 74 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 CONTO DE INVERNO William Shakespeare 180 pg. | 14,70 IMPERIUM Robert Harris 320 pg. | 17,50 (PVP) Seguindo os modelos híbridos da tragicomédia renascentista, esta é uma história de amor que atravessa as coordenadas dos tempos e das idades, pondo à prova homens e mulheres na teia complexa dos seus relacionamentos, em tudo o que estes têm de mais digno ou ignóbil. Uma história de ciúme incontido e obtuso, de crime e castigo, de paixão, de dor e de morte; mas, como convém ao género, uma história de final feliz, em que, pelo eterno ciclo das estações do ano, a Primavera se segue ao Inverno trazendo consigo a reconciliação e o júbilo. Primeiro volume de uma trilogia que nos transporta até aos últimos quarenta anos da Roma republicana, Imperium segue as carreiras e as vidas dos homens que lutaram por a governar, sobretudo de Cícero. Através dos olhos de Tirão, seu secretário pessoal, materializa-se diante de nós um retrato vivo e repleto de suspense do mundo violento, traiçoeiro, corrupto e labiríntico da cena política romana, e em especial deste prometedor advogado e orador brilhante. EDITORIAL PRESENÇA CRIANÇA QUE NÃO QUERIA FALAR Torey Hayden 240 pg. | 15 (PVP) Uma história verídica e comovente da relação entre uma professora que ensina crianças com dificuldades mentais e emocionais e a sua aluna, Sheila, de seis anos, abandonada por uma mãe adolescente e que até então apenas conheceu um mundo onde foi severamente maltratada e abusada. Uma história inspiradora, relatada pela própria professora, que nos mostra que só uma fé inabalável e um amor sem condições são capazes de chegar ao coração de uma criança aparentemente inacessível. EUROPA-AMÉRICA CRISE Robin Cook 412 pg. | 25,50 (PVP) Quando o Dr. Craig Bowman soube que ia ser processado por negligência médica, sentiu-se chocado, furioso e humilhado. Um médico devotado, que suportara duros anos de formação e trabalhara continuamente ao serviço dos outros, tornara-se sócio de uma selecta clínica privada, onde podia finalmente oferecer atenção personalizada aos seus pacientes. Mas esta vida idílica era subitamente interrompida e tudo podia tornar-se pior, muito pior. A RÃ QUE NÃO SABIA QUE TINHA SIDO COZIDA E OUTRAS LIÇÕES DE VIDA Olivier Clerc 164 pg. | 11,91 (PVP) Uma rã que está a ser cozida sem se aperceber, um bambu que nasce tardiamente, uma lagarta que teima em romper o casulo, uma víbora que se aquece… As sete histórias apresentadas servem de ponto de partida para tirar sete lições de vida fundamentais, no caminho da felicidade. O OUTRO LADO DE MIM Sidney Sheldon 308 pg. | 19,90 (PVP) Num relato apaixonado, o grande mestre da narrativa partilha com o leitor a história da sua vida e não se poupa aos golpes que a vida lhe reservou. Fala com candura dos seus altos e baixos, dos sucessos e das críticas, revelando, pela primeira vez, a sua intimidade: as suas profundas perdas pessoais e a sua busca pela felicidade. A CIDADE DO PECADO Harold Robbins 368 pg. | 22,50 (PVP) Zack Riordan, filho ilegítimo de Howard Hughes, e a sua mãe são expulsos de Las Vegas por influência do pai. Porém, Zack volta anos mais tarde decidido a fazer fortuna. As suas aptidões permitemlhe subir na vida e tornar-se segurança de um casino onde observa a corrupção, o dinheiro fácil, a forma 74e75.qxp 24-01-2007 17:23 como amigos se atraiçoam pelas costas e o charme das mulheres que farão tudo pela sua grande oportunidade. Mas a vida em Las Vegas tem um preço… e Zack está prestes a descobri-lo. GRADIVA CONTINUEM A MOERLHES O JUÍZO A LIDERANÇA DE GUERRA DE CHURCHILL Sir Martin Gilbert 120 pg. | 12 (PVP) Só Sir Martin Gilbert, a maior autoridade sobre a obra e a figura de Winston Churchill, seria capaz de captar e transmitir, num pequeno livro, a personalidade sensível e frequentemente atormentada, e a acção decisiva do homem que lançou e conduziu a resistência ao nazismo durante a II Guerra Mundial. Continuem a Moer-lhes o Juízo é um verdadeiro prazer intelectual, incontornável e marcante. AS ORIGENS DA VIDA DO NASCIMENTO DA VIDA ÀS ORIGENS DA LINGUAGEM John Maynard Smith e Eörs Szathmáry 288 pg. | 17 (PVP) Uma perspectiva original acerca da evolução. Através de uma escrita claríssima, os autores explicam as transições fundamentais ocorridas na forma como a informação é transmitida de geração para geração, desde o aparecimento das Page 75 primeiras moléculas replicadoras até à capacidade linguística única dos seres humanos. PERGAMINHO O QUE PODE MUDAR UM GUIA COMPLETO PARA O AUTOAPERFEIÇOAMENTO Dr. Martin Seligman 400 pg. | 24 (PVP) Uma meticulosa investigação, que aborda os problemas como dependências, comportamentos compulsivos, depressão e ansiedade. Inclui técnicas terapêuticas mais indicadas para mudar aquilo que podemos - e queremos mudar, no sentido de nos tornarmos pessoas mais equilibradas e felizes. O SEGREDO DE D.AFONSO HENRIQUES Jorge Laiginhas 144 pg. | 11 (PVP) O autor desvenda, num romance histórico único, toda a verdade sobre aquele que, apesar de ter nascido “grande demais desde o baixo-ventre até à cabeça e demasiado curto desde os pés até ao dito baixo-ventre”, é o incontestável fundador de Portugal. É num registo muito particular, com uma escrita mordaz, surpreendente e inovadora baseada em documentação histórica, que nos é aqui apresentado um “capítulo” da história de Portugal pouco abordado nos manuais escolares. ROMA EDITORA EMERG NCIAS ESTÉTICAS Annabela Rita 240 pg. | 15 (PVP) A imagem literária resulta aqui da confluência de uma vasta e diversificada memória cultural e, particularmente, estética (literária, pictórica, musical, etc.). Revisitando textos de Almeida Garrett, Cesário Verde, Sophia de Mello Breyner e Teolinda Gersão, Annabela Rita perscrutalhes essa “museologia íntima”, surpreendendo-se e surpreendendo-nos na descoberta do que neles há de comum e os caracteriza. NO SÓTÃO DA MEMÓRIA Alexandre Marta 156 pg. | 10 (PVP) Esta obra, que, no início, se apresenta num estilo muito simples e encantadoramente infantil, evolui, depois, para uma escrita mais elaborada, em que o leitor se sente a viajar por espaços de intimidade, imaginários ou não, verdadeiramente aliciantes. Memórias supostamente adormecidas, são acordadas em cada conto de uma forma inesperada, e vão ganhando vida com a concretização de um sonho que o autor persegue desde criança. CONVERSAS COM O MEU PAI Lauro Portugal 168 pg. | 12 (PVP) Volume dedicado aos pais de todas as idades, nas conversas de cujos filhos se relatam confidências, elogios, reparos e desabafos, que vão da infância à idade adulta, passando, naturalmente, pela fase mais marcante da vida – a adolescência. SINAIS DE FOGO A CONQUISTA DA FELICIDADE Jonathan Haidt 436 pg. | 22 (PVP) Que podemos fazer para ter uma vida feliz, preenchida e com sentido? A resposta à questão do sentido no interior da própria vida só pode ser encontrada na compreensão do tipo de criaturas que somos, divididas em muitos sentidos diferentes. Com base na sabedoria antiga e na ciência moderna podemos encontrar importantes respostas a essa questão. A hipótese da felicidade resulta de realidades intermédias e não é algo que se possa encontrar, adquirir ou alcançar directamente. Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 75 76e77.qxp 24-01-2007 17:24 Page 76 CLUBE TEMPO LIVRE ROTEIRO Roteiro Inatel de actividades culturais e desportivas AÇORES BRAGA COIMBRA GUARDA Ilha do Faial Cultura Cultura Desporto ESPECTÁCULOS: dia 10 às 20h30 – Gr. Musical Água Viva de Braga, em Airão S. João. ESCOLAS DE LAZER: cursos de Danças de Salão e Latino Americanas, Tapeçarias de Arraiolos, Bordados Regionais e Confecção, Artes Decorativas, Pintura, Curso de Educação Musical e Piano, Guitarra Clássica, CONCERTO: dias 28 às 21h30 – Gr. de Instr. de Sopro de Coimbra, na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra. Visita: Viagem com Arte à ARCO - Feira Intern. de Arte Contemporânea em Madrid, informações na Delegação. Escola de Lazer: Cursos de “Feitura de Azulejo” e de “Iniciação à Pintura”. ATLETISMO: dia 11 às 10h30 - 18º Rampa Cidade da Guarda e GP Juvenis da Guarda Gare. BTT: dia 11 às 9h - passeio “ Os Beirões” em Maçaínhas; dia 25 às 9h - passeio da Vela em Guarda. DAMAS: dia 10 às 14h torneio em Nabais em Gouveia. PEDESTRIANISMO: dia 11 às 10h30 - passeio “Estação – Sé Catedral” na Guarda. MONTANHISMO: dias 17 a 20 - acampamento, marcha e escalada “Nevestrela 2007”, no Covão da Ametade na Serra da Estrela. TÉNIS DE MESA: dia 24 às 14h - torneio de TM de “Os Beirões” em Maçaínhas TIRO AO ALVO: dia 3 às 14h30 - Torneio “ Cidade de Pinhel”, em Pinhel; dia 14h30 - torneio de Carragosela. TEATRO: dia 3 às 20h - peça de teatro pelo Gr. “ As Bicas “”, na Casa do Povo dos Flamengos. MÚSICA: dia 3 às 21h - Gr. Folcl. dos Flamengos e Filarm. “ Nova Artista Flamenguense”, na Casa do Povo dos Flamengos; dia 10 às 20h30 - Noite Cult. com artista locais, no Salão Paroquial da Praia do Norte; dia 23 às 21h - Quinteto da S.F. “ Unânime Praiense” e Tuna da S.F. “ Unânime Praiense “ na Soc. Filarm. “ Unânime Praiense, Praia do Almoxarife; dia 24 às 22h – Gr. “ Clave Sol” na Praia do Almoxarife. EXPOSIÇÃO: dia 23 às 19h – mostra de Artesanato, Música e Fotografia na Soc. Filarm. Unânime Praiense na Praia do Almoxarife. GASTRONOMIA: dia 23 às 19h30 - Feira Gastronómica com Pratos regionais e trad. na Soc. Filarmónica “ Unânime Praiense “, Praia do Almoxarife. FUTSAL: dias 3, 4, 9, 10, 24, 25 – váriso jogos 76 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 Desporto Cavaquinho e Canto, informações na Delegação. Desporto FUTEBOL: dias 3,4, 10,11, 17 e 18 – jornadas de Futebol ATLETISMO: dia 4 – prova de Estrada; dia 18 – prova de Rampa, em Braga DAMAS: dia 14 às 21h – torneio de Carnaval na Delegação XADREZ: dia 14 às 21h – torneio de Carnaval na Delegação TÉNIS DE MESA: dia 17 torneio de Inverno em Guimarães ORIENTAÇÃO: dias 17 e 18 – torneios para todos GINÁSTICA: Classes de Manutenção na Delegação e Pavilhão de Guimarães. JUDO: Classes na Delegação ATLETISMO: dia 4 – Prova de Estrada, Meia Maratona M/F e IV Estafeta Granja, Dulmeiro e Soure; dia 17 às 14h30 – torneio de Pista, no Estádio Univer. de Coimbra. Damas: dia 3 – início do Cam. Distrital Futebol: dias 7, 14, 21, 28 decorrem jornadas do Camp. VOLEIBOL: dia 2, 9, 16 e 23 às 21h30 – jornada do Camp. Distrital. XADREZ: dia 10 – Camp. Distrital de Equipas. Actividades Básicas: Classes de Ginástica, Judo e Natação em vários CCD´s, informações na Delegação. COVILHÃ Desporto PEDESTRIANISMO: dia 25 Passeio à Serra da Estrela, “Natureza Deslumbrante”. ESCOLA DE PARAPENTE: voos em Linhares da Beira (tel. 271 776 590 ou 271 212730). 76e77.qxp 24-01-2007 17:24 LISBOA T E AT R O DA TRINDADE Page 77 PORTO VIANA DO CASTELO VISEU Cultura Cultura Cultura EXPOSIÇÃO: A partir do dia TEATRO: dia 3 - Revista “Elas e Eles em Brasa” pelo Gr. de Teatro da Centro de Instrução e Recreio de Carreço no Centro Cult. de Paredes de Coura; dia 10 – Revista “Elas e Eles em Brasa” no Teatro Diogo Bernardes, em Ponte de Lima; dia 24 às 21h30 ”Oficial e Carpinteiro” pelo Gr. de Teatro da Assoc. Cult. do Neiva – A Mó, na Casa do Povo de Freixo. JANEIRAS: dia 3 - Encontro de Janeiras em Perre. ESCOLAS DE LAZER: cursos de Bordados e Meias Rendadas, Folclore, Cavaquinho e Concertina, informações na Delegação. ENTRUDO: dia 18 às 15h - 9 - Pintura de Nuno Rodrigues, intitulada “Figurações2004/2007”, na Galeria da Delegação VISITA: dia 24 - Passeio com Historia(s) a Valença CURSOS: Chi Chuan, Tango Argentino, Restauro, Antropologia, Escrita criativa, Língua Gestual Portuguesa, Literatura Portuguesa e Socorrismo, informações na Delegação. Desporto Sala Principal Até ao dia 15 de Março MACBETH ATLETISMO: dia 25 às 10h Camp. Nacional de Estrada e Marcha Atlética na zona do Parque Desportivo de Ramalde Desporto: Sala Estúdio Até ao dia 18 PROVAVELMENTE UMA PESSOA SANTARÉM Teatro Bar Até ao dia 24 - Desporto MONSIEUR PIPON FUTEBOL: provas do Camp. PEDESTRIANISMO: dia 24 às 9h - Percurso Pedestre “Caminhos da Rusticidade” em Paredes Coura. FUTEBOL: dias 4,11,18 e 25 – Camp. Distrital de Futebol 11 Desfile de Máscaras e Caretos, em Lamego, Desfile da Dança Grande ou Dança dos Cus em Cabanas de Viriato e Desfile de carros Alegóricos em Lazarim e às 21h30 - Leitura de testamento frente ao Município e queima do Entrudo em Repeses, Viseu. AMENTAR DAS ALMAS: dia 24 - Ciclo do Canto do Amentar das Almas, em Abraveses, Alcofra, Pindelo dos Milagres, Queira e Travassós de Orgens. Desporto FUTEBOL 11: dias 4, 11, 18 e 25 às 15h – jornadas do Camp. Distrital. XADREZ: dia 3 às 14h – Camp. Distrital no Pavilhão Gim. em Viseu Distrital de Futebol 11. ACTIVIDADES BÁSICAS: Desporto GINÁSTICA: Classes de Manutenção no Inatel Mouraria (tel. 218861315) Classes de Hidroginástica, Ginástica de Manutenção e Aérobica. DESPORTO AR LIVRE: dia 25 - Caminhada Vale do Porto d´Oliveira em Rio Maior. DAMAS: dia 3 às 14h – Camp. Distrital no Pavilhão Gim. em Viseu GINÁSTICA: Classes de Manutenção no Pavilhão Gim. em Viseu Fe v e r e i r o 2 0 0 7 6 TempoLivre 77 Project2 24-01-2007 19:27 Page 1 79.qxp 24-01-2007 18:12 Page 79 A CHEFE SUGERE |MARIA TERESINA GONÇALVES | INATEL FOZ DO ARELHO Cataplana de Lombos de tamboril com amêijoas da Lagoa de Óbidos A Foz do Arelho tem uma localização privilegiada por se encontrar perto da costa, naquela que é considerada a zona turística do Oeste. A riqueza que a costa apresenta e a sua proximidade a uma zona de viveiros de marisco são sem dúvida uma das características que mais marcam a gastronomia INGREDIENTES PARA 4 PESSOAS: 8 Pedaços de lombos de tamboril com cerca 50 g cada (cerca de 400g), 1 Kg de batatas, ½ Kg de cebolas, ½ Kg de tomate, 1 pimento verde, 1 dl de azeite, 100 g de miolo de mexilhão, 100 g de miolo de berbigão, 150 g de camarão, 600 g de amêijoa com concha da Lagoa de Óbidos, 80 g de presunto, 40 g de linguiça, 4 dentes de alho, 1 copo de vinho branco, salsa, coentros, sal q.b., piripiri q.b. PREPARA-SE ASSIM: deste local. A zona da Foz do Arelho e da Lagoa de Óbidos compreendem uma extensa “toalha de água”, com fama pelas pescas nesta zona de características muito próprias e seus arredores. Neste local, é típica a captura de marisco, peixes e outros animais aquáticos, com destaque para enguias, amêijoas e berbigão, robalo, tainhas, caranguejos, chocos e mexilhão. A Cataplana que se confecciona na zona Oeste é especial pelo sabor e aroma do seu pescado fresco e variado, constituindo assim uma das iguarias gastronómicas da Foz do Arelho e Lagoa de Óbidos. Tempere os lombos de tamboril com sal. Descasque as batatas e as cebolas e corte-as às rodelas. Lave, descasque e elimine as sementes do tomate e do pimento. Corte o tomate e o pimento em pedaços, o presunto em fatias muito finas e a linguiça em rodelas. Deite um pouco de azeite na cataplana para cobrir o fundo e disponha em camadas metade das cebolas, batatas pimentos e tomate. Junte o mexilhão, o berbigão, o camarão e o tamboril. Cubra com as restantes cebolas, batatas, pimentos e tomate. Por fim, coloque as amêijoas, o presunto em tiras e a linguiça em rodelas. Tempere com os alhos picados, vinho branco, sal, piripiri, salsa e coentros picados e o restante azeite. Feche a cataplana e cozinhe durante 20 minutos. Vire a cataplana e deixe cozinhar durante mais 10 minutos. COMPOSIÇÃO POR PESSOA: • 55,5 g de proteínas; • 9,3 g de gordura; • 65 g de hidratos de carbono; • 9,3 g de fibra; • 540,5 kcal INFORMAÇÕES E RESERVAS: INATEL FOZ DO ARELHO Rua Francisco de Almeida Grandela, 2500-487 Foz do Arelho Tel: 262 975100 - Fax: 262 975140 Email: [email protected] Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 79 80.qxp 24-01-2007 18:13 Page 80 moradas Sede Calçada de Sant’Ana, 180 1169-062 LISBOA Telf: 210 027 000 Fax: 210 027 027 e.mail: [email protected] endereço: www.inatel.pt Delegações e Subdelegações ANGRA DO HEROISMO Beco do Pereira, 4 9701-868 ANGRA DO HEROISMO Tel. 295 213 407 /215 038 Fax. 295 212 233 [email protected] AVEIRO Av. Dr. Lourenço Peixinho,144/146 Edificio Oita - 4º E 3800-160 AVEIRO Tel. 234 405 200 / 207 Fax.234 405 208 [email protected] BEJA Rua do Vale, 14, 7800 - 490 BEJA Tel. 284 318 070 Fax. 284 323 163 [email protected] BRAGA Av. Central, 77, 4710-228 BRAGA Tel. 253 613 320 Fax.253 214 202 [email protected] BRAGANÇA R. Alexandre Herculano, 111 - 1º, 5300-075 BRAGANÇA Tel. 273 331 653 Fax. 273 326 947 [email protected] COIMBRA R. Dr. António Granjo, 6 3000 - 034 COIMBRA Tel. 239 853 380 Fax.239 853 384 [email protected] COVILHÃ “Casa de Agostinho Roseta” Av. Frei Heitor Pinto, 16-B 6200-113 COVILHÃ Tel. 275 335 893 Fax.275 327 276 [email protected] ÉVORA “Palácio Barrocal” Rua Serpa Pinto, 6 7000-537 ÉVORA Tel. 266 730 520 Fax. 266 730 521 [email protected] FARO “Casa Emílio Campos Coroa” Rua do Bocage, 54 8004 - 020 FARO Tel. 289 898 940 Fax. 289 823 521 [email protected] FUNCHAL Rua Alferes Veiga Pestana, 1 L, sala 25 9050-079 FUNCHAL Tel. 291 221 614 Fax.291 228 147 [email protected] GUARDA R. Mouzinho da Silveira, 1 6300-735 GUARDA Tel. 271 212 730 Fax.271 215 779 [email protected] HORTA R. Comendador Ernesto Rebelo, 10 9900 - 112 HORTA Tel. 292 292 812 Fax.292 293 147 [email protected] LEIRIA “Casa Miguel Franco” R. João XXI, 3-A r/c - Loja D 2410-114 LEIRIA Tel. 244 832 319/834 017 Fax. 244 834 735 [email protected] PONTA DELGADA Rua do Contador, 73-A 9500 - 050 PONTA DELGADA Tel. 296 284 684 Fax. 296 283 166 [email protected] PORTALEGRE Praça do Outeiro nº 17 7300-010 PORTALEGRE Tel. 245 203 675/207 593 Fax. 245 207 569 [email protected] PORTO Casa “Jorge de Sena” Rua do Bonjardim, 495 4000-126 Porto Tel. 220 007 950 Fax. 220 007 999 [email protected] Tel. 265 543 800 Fax. 265 543 819 [email protected] Tel. 231 930 358 Fax. 231 930 038 [email protected] VIANA DO CASTELO Rua de Stº António, 117 4900 - 492 VIANA DO CASTELO Tel. 258 823 357 Fax. 258 811 644 [email protected] INATEL MADEIRA Madeira - Santo da Serra 9100-267 SANTA CRUZ Tel. 291 550 150 Fax. 291 552 227 [email protected] VILA REAL Av. 1º de Maio, 70-1º D 5000-651 VILA REAL Tel. 259 324 117 Fax. 259 372 592 [email protected] INATEL SERRA DA ESTRELA Manteigas, 6260-012 MANTEIGAS Tel. 275 980 300 Fax. 275 980 340 [email protected] VISEU Rua do Inatel Urb. Quinta do Bosque 3510 - 018 VISEU Tel. 232 423 762/428 727 Fax. 232 423 781 [email protected] INATEL OEIRAS Alto da Barra - Estrada Marginal, 2780-267 OEIRAS Tel. 210 029 800 Fax. 210 029 840 [email protected] Centros de Férias INATEL ALBUFEIRA Av Infante D. Henrique, 8200-862 ALBUFEIRA Tel. 289 599 300 Fax. 289 599 340 [email protected] INATEL CASTELO DE VIDE Rua Sequeira Sameiro, 6 7320 - 138 CASTELO DE VIDE Tel. 245 900 200 Fax. 245 900 240 [email protected] INATEL “UM LUGAR AO SOL” Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 918 420 Fax. 212 900 051 [email protected] INATEL ENTRE-OS-RIOS Torre 4575-416 PORTELA PNF Tel. 255 616 059 Fax. 255 615 170 [email protected] SANTARÉM Prta. Pedro Escuro, 10-2º D 2000-183 SANTARÉM Tel. 243 309 010 Fax. 243 309 014 [email protected] INATEL FOZ DO ARELHO R Francisco Almeida Grandela, 17 2500-487 FOZ DO ARELHO Tel. 262 975 100 Fax. 262 975 140 [email protected] SETÚBAL Praça da República 2900-587 SETÚBAL INATEL LUSO Rua Dr. Costa Simões 3050 - 226 LUSO INATEL SANTA MARIA DA FEIRA Santa Maria da Feira 4520-306 SANTA MARIA DA FEIRA Tel. 256 372 048 Fax. 256 372 583 [email protected] INATEL PALACE Termas - São Pedro do Sul 3660-692 VÁRZEA SPS Tel. 232 720 200 Fax. 232 720 240 [email protected] INATEL CERVEIRA Lovelhe 4920-236 VILA NOVA DE CERVEIRA Tel. 251 708 360 a 62 Fax. 251 795 050 [email protected] INATEL PORTO SANTO Cabeço da Ponta 9400 PORTO SANTO Tel. 291 980 300 Fax. 291 980 340 [email protected] INATEL PIODÃO 6285-018 PIODÃO Tel. 235 730 100/1 Fax. 235 730 104 [email protected] INATEL FORNOS DE ALGODRES 6370-401 VILA RUIVA Tel. 271 776 016 Fax. 271 776 034 [email protected] INATEL MONTALEGRE Lugar de Penedones 5470-069 CHÃ/PENEDONES Reservas: 255 616 059 (Inatel Entre-os-Rios) [email protected] INATEL GAVIÃO 6040-999 GAVIÃO Reservas: 245 900 243 (Inatel Castelo de Vide) [email protected] Parques de Campismo INATEL CABEDELO Av. dos Trabalhadores Cabedelo 4900-056 VIANA DO CASTELO Tel. 258 322 042 Fax. 258 331 502 [email protected] INATEL CAPARICA Av. Afonso Albuquerque - S. João de Caparica 2825-450 COSTA DE CAPARICA Tel. 212 900 306 Fax. 212 911 553 [email protected] INATEL SÃO PEDRO DE MOEL Av. do Farol, 2430-502 MARINHA GRANDE Tel. 244 599 289 Fax. 244 599 550 [email protected] Teatro da Trindade R. Nova da Trindade 1200-301 LISBOA Tel. 213 423 200 Fax. 213 432 955 [email protected] Parque de Jogos 1º de Maio Av. Rio de Janeiro 1700-330 LISBOA Tel. 218 453 470 Fax. 218 473 193 [email protected] Parque de Jogos de Ramalde Rua Dr. Aarão de Lacerda 4100-015 PORTO Tel. 226 184 684 Fax. 226 109 721 Escola de Parapente Linhares da Beira Tel. 271 776 590 81.qxp 24-01-2007 18:14 Page 81 O TEMPO E AS PALAVRAS | MARIA ALICE VILA FABIÃO Num desvio do olhar... Há uma noite, / um tempo vazio, sem testemunhas, / uma noite de unhas e silêncio, / páramo sem margens, / ilha de gelo entre os dias; / uma noite sem ninguém / senão a sua solidão multiplicada.[…] Octávio Paz, Espejo, in: Puerta Condenada, 1938-1946. Trad: MAVF tempestade chega em imagens on-line, através do monitor. Uma vez mais, os modernos tantãs da comunicação espalham a notícia aos quatro ventos: finalmente, os crimes hediondos foram punidos – ainda que com outro crime que, vestido de legalidade, sempre fica impune. Na análise das culpas, a memória torna-se particularmente selectiva – e as conivências são esquecidas. De mãos dadas com o horror, o júbilo faz-se frenesim, faz-se delírio, mergulha na hipocrisia, na irracionalidade, dança uma frenética dança macabra ao som de incandescentes palavras de circunstância. E fala-se de (in)dignidade, de vingança, palavras de antiga cepa clássica; fala-se de assassinato, palavra herdada, por via indirecta, do árabe ashoshin, com o primitivo significado de “bebedor de haxixe”. Terrível é que, consumidores de haxixe ou não, os assassinos se encontrem, neste caso, entre os “civilizados” subscritores da Declaração Universal dos Direitos do Homem (Artigo 3º: Todo o indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal; Artigo 5º: Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante; Artigo 10º: Toda a pessoa tem o direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial, que decida dos seus direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja deduzida.) Os homens não tiveram direito à vida. (Como direito à vida não tiveram aqueles a quem tinham mandado matar). Os homens não tiveram direito a um tribunal independente e imparcial. (Como direito a um tribunal imparcial e independente não tiveram aqueles a quem tinham condenado à morte). Os homens eram assassinos legais – e como tal foram legalmente assassinados. Em nome da Justiça! Todavia, a pena de morte, praticada ou defendida pelos próprios países que se instituem juízes da moral mundial, constitui, em qualquer circunstância, um castigo cruel, desumano e degradante – e mais degradante ainda quando transformada num espectáculo público, em que executantes encartados admitem um que outro “erro” A na execução, tratam uma cabeça que cai com o mesmo desrespeito com que o malabarista desastrado trata a bola que fugiu ao seu controlo. A imagem impõe-se. Em silêncio, os olhos fecham-se sobre ela. Não lavo as mãos. Sou testemunha, não por ofício, mas não sou juiz, nem executor. Num desvio do olhar, as ideias dispersam-se, refugiam-se em distâncias e tempos longínquos. Diziam-nos primitivos, selvagens. Jamais assinaram qualquer declaração dos direitos de quem quer que fosse e do que quer que fosse; jamais caminharam por ruas asfaltadas; jamais souberam o que era um tribunal. As suas leis foram sempre as leis da selva - da selva remota da Nova Guiné ou das pradarias da América do Norte, num tempo prévio à chegada do homem civilizado com o seu poder de destruição. ão obstante, um homem que tivesse morto alguém, inclusive na prática da guerra, era considerado “impuro”, até se ter submetido a cerimónias de propiciação do espírito daqueles a quem, pela força das circunstâncias, tinha tirado a vida, sem lhes negar o seu respeito. Em primeiro lugar, lavava-se da sua culpa – matar não era considerado, como nos “países civilizados”, um asséptico acto institucionalizável, profissão com obrigação de colarinho branco e direito a reforma. Purificado, física e espiritualmente, mediante o cumprimento de dias (ou meses!) de isolamento e abstinência, regressava ao convívio dos seus, com quem, num cântico de homenagem e pacificação, se dirigia à sua vítima, dizendo: “Não estejas zangado por estar connosco a tua cabeça. Tivéssemos menos sorte, seriam as nossas que estariam na tua aldeia. Realizámos sacrifícios para apaziguarmos o teu espírito, que agora pode repousar. Por que foste nosso inimigo? Não teria sido melhor sermos amigos? O teu sangue não teria, então, sido derramado, e a tua cabeça estaria contigo.” Sobre a resposta do inimigo, tudo é silêncio. Lá fora, o dia é límpido e inocente. Devia ter escrito sobre ele…I N Fe v e r e i r o 2 0 0 7 TempoLivre 81 82.qxp 24-01-2007 18:15 Page 82 CRÓNICA |JOAQUIM LETRIA As nossas vaquinhas, tlim, tlão Sempre que vou aos Açores, perco-me de amores. É assim desde a infância, mas agora acentua-se, e noto-o mais porque hoje em dia só nos Açores encontro vacas malhadas, pretas e brancas. E é pelas vacas leiteiras que eu me perco. o Alentejo, e mesmo na Holanda, as vacas estão a ficar maioritariamente castanhas e já não são o que eram , uma coisa que noto sempre que vou a um sítio, ou a outro. Em Espanha, onde os touros estão cada vez piores e chegam às praças muito estropiados, também as vacas estão diferentes. Tão modificadas estão as vacas em Espanha que lá é difícil distinguir uma vaca duma choca. Uma choca é um macho com quem os touros se dão bem, apesar de lhes votarem, naturalmente, o maior desprezo. Alguém disse que o olhar vazio duma vaca é consequência da tristeza eterna do animal. Mexemlhe nas tetas mas nunca a beijam. Contam-me que quando aqui há tempos houve uns patuscos que quiseram fazer do Alentejo um jardim zoológico, ou uma reserva de caça grossa, uma vaca apaixonou-se por um búfalo, o que, para os dois animais, viria a ser um caso dramático, que deu azo à maldade humana, pois um tratador menos sensível, que não suportava ver a vaca e o búfalo de cabeças encostadas, tratou de separar os animais, o que redundou numa tragédia. O búfalo acabou por esquecer a vaca e esta morreu de desgosto sem uma palavra amiga, sequer, dos amantes e protectores dos animais, dispersos por outras frentes : elas nuas, a desfilarem pelas ruas de Pamplona, ou à porta do El Corte Inglês, contra os touros de morte e os casacos de pele, eles distraídos por copinhos de vinho tinto nas tabernas de Barrancos ou junto à tenda dum circo com animais amestrados. A vaca portou-se com a maior dignidade. Morreu sozinha, como uma vaca louca. Louca de amor por um búfalo arrancado ao Serengueti. Graças a Deus que esta história de amores contrariados não chegou a Bruxelas nem aos N 82 TempoLivre Fe v e r e i r o 2 0 0 7 ouvidos do Barroso, o que permite que os Açores continuem a dispor de vacas leiteiras, malhadas, pretas e brancas, mantendo intacta a paisagem verde, de fumos sulfurosos, com vacas sentadas e deitadas, sem necessidade de se moverem para encontrarem que comer, de olhos vazios e com expressões de fêmeas mal agradecidas. Bruxelas é um perigo para as vacas. Multa-as, se dão leite a mais, ou manda abatê-las, se suspeita que estão loucas. Os ingleses, por exemplo, abateram onze milhões de vacas com medo que elas enlouquecessem. A mim, tudo isto se afigura um exagero, ao contrário do que pensam médicos, veterinários e biólogos, cientificamente mais preparados para pensarem como pensam, ou seja, julgarem o contrário do que eu, convencido, como estou, que nos encontramos nas mãos de gente mais louca e perigosa do que as vacas, e que estas, a enlouquecerem-nos, já o fazem há muito tempo, não é de agora. ntre a gente louca que de nós dispõe, há quem seja pior do que as simples vacas loucas, porque se há quem não tenha juízo, também há quem não tenha vergonha, o que faz ainda mais falta. Penso que o mais importante é sabê-lo, para não se vir a sofrer desgostos inúteis. O início deste ano não poderia ser mais desconsolado e humilhante para a maioria de nós. E o ano ainda agora começou, pelo que o seu desfecho é, justamente, uma incógnita. Ainda não temos que reconhecer que nos deixámos levar. Mas dá-me ideia que, para já, estamos desconcentrados. Como as nossas vaquinhas, quando enlouquecem…mas que vacas tão chaladas, não dão leite, não dão nada…tlim-tlão! E TURISMO_FAMILIAR.qxp 26-01-2007 17:12 Page 1 férias em família Turismo Familiar Contacte directamente os Centros de Férias . [email protected] . www.inatel.pt Project3.qxp 26-01-2007 17:11 Page 1