VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Elas e nós1 A representação de mulheres em situação de rua nas notícias jornalísticas Suzana Rozendo Bortoli2 Resumo Este artigo é orientado por dois objetivos principais: analisar diferentes perfis de mulheres em situação de rua que circulam pelas grandes cidades do Brasil e refletir sobre o tratamento jornalístico dispensado a elas em matérias divulgadas no portal de notícias da Rede Globo (G1.globo.com) de janeiro a junho 2013. Como estratégias metodológicas para realizar esse trabalho, optou-se pela análise de conteúdo e pela entrevista aberta com Maria Lucia Santos Pereira, coordenadora do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). Entre os principais autores do quadro teórico de referência, agrupados aqui em torno de ideias nucleares, destacam-se DaMatta (1997), Tiene (2004), Franco (2008), Cunha (2008), Arrunátegui Gadf (2008), Frazão (2010) e Ijuim (2013). Palavras-chave Mulheres em situação de rua; Mídia; Jornalismo; Estigmatização; Violência. Quem são elas? No esforço de introduzir de forma poética um assunto pouco discutido na sociedade brasileira, vem-nos à memória, antes de qualquer conceito, a música “Eu não sou da sua Rua”, de autoria de Arnaldo Antunes (2007) e regravação de Marisa Monte. A letra diz o seguinte: “Eu não sou da sua rua/ Não sou o seu vizinho/ Eu moro muito longe, sozinho/ Estou aqui de passagem/ Eu não sou da sua rua/ Eu não falo a sua língua/ Minha vida é diferente da sua/ Estou aqui de passagem/ Esse mundo não é meu/ E esse mundo não é seu”. Tal canção, se bem refletida, serve como pontapé para a explanação de algumas características deste grupo social. 1 Trabalho apresentado no GT4 - Representação Social e Mediações socioculturais - do VI Congresso de Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação, na categoria pós-graduação. UERJ, Rio de Janeiro, outubro de 2013. 2 Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (2012) e doutoranda do PPGCOM/ECA/USP. www.conecorio.org 1 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. A estrofe “Estou aqui de passagem” nos dá amparo para defender, ao longo do texto, a utilização da expressão “em situação de” a fim de mostrar que a vida nas ruas pode ser efêmera. “Eu não falo a sua língua” pode ser compreendido como uma metáfora ao que Tiene (2004) chama de “clandestinidade”. Ao apresentar um estudo sobre mulheres em situação de rua, desenvolvido em Campinas, no interior de São Paulo, a autora explica que esse público é considerado um estrangeiro ou um clandestino dentro do próprio país. Outro atributo que enxergamos em “Eu não sou da sua rua” é a ideia de estigmatização, que se aproxima da noção de “desvio social”: do lado “ruim” da vida estão os grupos rotulados como “desviantes” e, do lado bom, os grupos admitidos como “normais” (GOLDWASSER, 1985). Nessa mesma linha de pensamento, segundo Velho (1985), no nível do senso comum, o desviante é sempre remetido a uma perspectiva de patologia. Nas grandes cidades, além de “estrangeiras”, essas mulheres são vistas como uma patologia social e causam mal-estar em quem passa por elas, pois dormem em camas de pedra, não se vestem combinando, calçam sapatos maiores que seus pés, seus cabelos não ficam sedosos, nem sempre comem de garfo, não possuem todos os dentes da boca, deixam suas úlceras à mostra e não praticam hábitos de higiene regularmente. Roberto DaMatta, um dos mais importantes antropólogos do Brasil, explica os contrastes que existem entre a casa e a rua e que distingue-as dos “outros”: Casas são habitadas por famílias cujo núcleo é constituído de pessoas que possuem a mesma substância. A mesma carne e o mesmo sangue que legitimam um nome comum e sugerem interesses, tendências, bem como um destino compartilhado, respeitado e preservado. (...) De tal modo que, quando falamos da “casa” no Brasil, não estamos nos referindo simplesmente a uma residência, mas a um espaço dotado de emoção, sentimento, história e personalidade. (...) Nosso cachorro é o mais manso; o nosso gato tem o pelo mais luzidio; o nosso passarinho canta mais alto, e nossas plantas são as mais perfumadas e viçosas. Tudo que está no espaço da nossa casa é bom, belo e decente (DAMATTA, 2003, p. 11-12). Em contrapartida, quem habita a rua, vive o oposto de tudo isso. Nas palavras do autor: www.conecorio.org 2 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Aqui eu estou em “plena luta” e a vida é um combate entre estranhos. Estou também sujeito às leis impessoais do mercado e da cidadania que frequentemente dizem que eu “não sou ninguém”. Fico, então, à mercê de quem quer que esteja manipulando a ordem social naquele momento. (...) No mundo da rua sou um subcidadão, já que as regras universais da cidadania sempre me definem por minhas determinações negativas: pelos meus deveres e obrigações, pela lógica do “não pode” e do “não deve” (DAMATTA, 1997, p. 92). Diante disso, conceituamos mulheres em situação de rua como aquelas despossuídas de um imóvel próprio, alugado ou emprestado; que utilizam o espaço público como abrigo eventualmente ou constantemente; mulheres sem ou com frágeis vínculos familiares (de modo que nenhum parente aceite conviver com elas na mesma residência); que necessitam de assistência social ou ajuda de caridade para se alimentar, dormir e higienizar; que pernoitam em albergues, abrigos, hotéis, pensões, repúblicas ou casas de convivência; mulheres descomprometidas com os deveres do cidadão e desamparadas quanto aos seus direitos (FRAZÃO, 2010); que, na rua, convivem com a indiferença, a discriminação e o desprezo; que conseguem passar despercebidas, mesmo estando bem visíveis (TIENE, 2004). Os motivos pelos quais algumas mulheres passam a viver nas ruas são diversos. Englobam desde drogadição, adoecimento, dívidas, desastres ambientais, perda de emprego a brigas familiares. Em alguns casos, a violência doméstica é maior que nas ruas e a única “opção” é o abandono do lar. Como atentou Tiene (2004, p. 21): “Abrigar-se na rua pode ser um exílio, pode ser uma defesa de agressão, porque a rua é o lugar de todos”. Na cidade do Rio de Janeiro, somam-se outros fatores contemporâneos comuns a grandes metrópoles. A especulação imobiliária é um deles. Pesquisas indicam que o aluguel residencial na cidade é o mais caro do Brasil e é o terceiro mais caro do mundo. Outro fator são os problemas da mobilidade urbana e a distância do local de trabalho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é no Estado do Rio de Janeiro onde as pessoas perdem mais tempo se deslocando de casa para o trabalho, podendo chegar esse tempo a quatro horas de viagem em transportes públicos superlotados. Assim, muitas vezes, é preferível www.conecorio.org 3 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. dormir nas ruas próximas ao emprego durante a semana e ir para casa apenas nos sábados e domingos a chegar à residência tarde da noite, ter de limpar, lavar, passar, cozinhar para, após um breve repouso, acordar de madrugada para trabalhar. As mulheres estão em menor quantidade nas ruas em relação aos homens. Elas são a minoria de uma minoria. Uma pesquisa realizada na capital e na região metropolitana pelo Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro3, em 32 instituições públicas e privadas de acolhimento, apontou que das 1.247 pessoas entrevistadas, 423 eram do sexo feminino4. Muitas delas disseram que não ficam nos abrigos municipais devido às más condições dos estabelecimentos. Entretanto, nas vésperas de grandes eventos – sobretudo as que ficam no centro e nas zonas sul e norte, as três regiões que compõem os eixos econômico e urbanístico do município – elas não possuem o direito de escolha. São recolhidas compulsoriamente nas operações de ordenamento urbano, conhecidas como “Choque de Ordem” 5, e levadas a esses locais. Nas ruas, desenvolvem estratégias de sobrevivência, conseguem obter pequenos ganhos através da venda de lixo reciclável ou pedindo esmolas. MaríaÁngeles Durán (2008) relata que as mulheres despertam mais compaixão que os homens, estão sempre rodeadas com sacolas, e às vezes, levam todos os seus pertences dentro de carrinhos de supermercado. Para Tiene (2004), as mulheres com crianças despertam ainda mais o sentimento caritativo das pessoas quando pedem ajuda. Além disso, elas são vistas como menos ameaçadoras que os homens, que, em geral, são tratados como desocupados e preguiçosos. Ainda, segundo a autora, as mulheres mais jovens na rua costumam viver em grupo. Quando engravidam, perdem a tutela do filho pela falta de condições de criá-lo 3 Disponível em:< http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=1582255 >. Acesso em: 9 jul. 2013. 4 Esse número não revela a quantidade total de cidadãos vivendo nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Segundo o Ministério Público do Estado, estima-se que seis mil pessoas estejam em situação de rua na capital. 5 Disponível em:< http://m.g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/04/mp-rj-entra-com-acao-contrapaes-por-violencia-contra-moradores-de-rua.html>. Acesso em: 9 jul. 2013. www.conecorio.org 4 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. e esse processo pode-se repetir várias vezes, com filhos de pais diferentes. Em geral, envolvem-se com entorpecentes, roubos ou homicídios. Por outro lado, as mais maduras, que são a maioria, indicam uma certa intencionalmente em estar nas ruas e, ao mesmo tempo em que reclamam da violência, do desconforto, e da saudade dos filhos, a maior parte delas não tenta mudar de situação. Estas não vivem sozinhas, normalmente possuem um “marido” para relações de afeto, de amor e de entrega sexual ou apenas como forma de troca pela proteção. Não existe a etapa do namoro na rua, o que justifica as aspas na palavra marido. Com o objetivo de compreender a experiência de a mulher morar na rua pelo olhar das mesmas, assim como pelos olhares do Outro Próximo - homens em situação de rua - e do Outro Distante - constituído por um grupo diversificado de não moradores de rua, Gisele Arrunátegui Gadf (2008), em seu estudo de doutorado, verificou que o mundo da rua apresenta-se como um espaço de regras predominantemente masculinas, em que relações de poder se instauram em diferentes níveis nas relações sociais entre homens e mulheres, dentre elas as de gênero, que conservam, de maneira acentuada, resquícios da ordem patriarcal ainda presentes na realidade brasileira. A pesquisadora constatou que a mulher que vive na rua é discriminada pelos dois últimos grupos. Os homens (Outro Próximo) acreditam que elas estão nesta condição por opção, por acomodação, por facilidades devido à suposta fragilidade feminina, sendo mais vulneráveis à “degeneração”, pela prostituição e uso de drogas . Já os entrevistados do Outro Distante percebem a rua como espaço da degradação da mulher. Por meio da observação participante, do mesmo modo que Gisele Arrunátegui Gadf, Tiene (2004) descobriu que, assim como na casa, a mulher tem tratamento desigual nas relações de trabalho que se estabelecem no espaço público. Se na vivência do espaço privado são elas que cuidam da casa, marido, filhos, dos parentes enfermos; no grupo participam igualmente da correria diária para conseguir água, dinheiro e alimentos, além de estarem à frente “das coisas miúdas”: zelo e limpeza do espaço onde todos dormem, apoio, atenção e busca de recursos em casos de etilismo, doença e prisão. Por outro lado, precisam pagar pela própria proteção, sendo o sexo www.conecorio.org 5 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. uma moeda recorrente nesse “comércio”: “Há, nesse caso, a perda da autonomia individual, do direito de escolha pelo ganho de permanecer viva e ‘protegida’. O que, de nenhuma maneira garante proteção contra violência do próprio parceiro” (ARRUNÁTEGUI GADF, 2008, p.145). Mulheres distintas, destinos iguais A diversidade de perfis femininos que vivem em situação de rua foi retratada no livro “No olho da rua”. Nesta obra, Marcelo Antonio da Cunha conta como foi dirigir a Fazenda Modelo, uma instituição criada em 1947 e transformada em abrigo em 1984, que chegou a acolher 2.500 pessoas na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O médico registra que o local deveria funcionar como um centro de ressocialização para gente excluída da sociedade formal, que ali disporia de lugar onde morar, hortas comunitárias e oficinas de capacitação profissional que viabilizassem seu reingresso no mercado de trabalho. Porém, segundo o autor, o local havia se tornado um “depósito de gente naufragada”. Nesse “barco” estavam Flávia, Tânia, Ana, Norma, Maria e Otacília. Flávia era uma senhora que recolhia cães e gatos na rua e os tratava como se fossem sua família. Havia morado em Laranjeiras, bairro nobre do Rio de Janeiro, e ficou desamparada depois que sua mãe falecera e lhe deixara muitas dívidas. Impossibilitada de trabalhar devido a uma fratura no fêmur, foi despejada por não pagar o condomínio e internada numa clínica. Apesar de ter uma filha e um irmão, sentiu vergonha de pedir-lhes ajuda e foi morar na rua. Tânia havia trabalhado como aeromoça. Vítima de um acidente aéreo nos Estados Unidos, passou alguns meses em coma e ficou com muitas sequelas. De volta ao Brasil, não tinha casa para morar e hospedou-se em um hotel com a filha de dez anos. Quando as reservas financeiras acabaram, não conseguiu mais pagar as diárias e foi despejada. Sem nenhum outro vínculo familiar, deixou a menina aos cuidados dos donos da pousada e foi mendigar nas ruas, até ser levada à Fazenda Modelo. Secretamente, esperava por uma indenização de quinhentos mil reais da www.conecorio.org 6 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. empresa aérea onde trabalhava. Quando o processo judicial resultou favorável, “saiu à francesa” do abrigo, comprou uma casa e pegou a filha de volta. Segundo o médico, casos com finais felizes assim eram raridade por lá. Ana era uma senhora diabética e deficiente visual, que havia cercado seu leito com lençóis brancos para manter uma fronteira de seu espaço naquele alojamento compartilhado por pessoas de todas as ordens (idosos, crianças, adolescentes, viciados, doentes psíquicos, ex-presidiários, foragidos da justiça, estupradores). Passava a maior parte do tempo quieta, reservada em seu dossel. Certa vez, explicou Marcelo Antonio da Cunha, criaram uma regra no abrigo que impedia que qualquer morador ficasse rodeado por lençóis na cama. Por causa disso, dona Ana chorava sem parar e ficava em posição fetal. “Pediu-me, pelo amor de Deus, a reinstalação de sua barraca. Não suportava a sensação de estar ali tão exposta”, contou o médico. Mesmo depois da reinstalação de suas cobertas, a idosa foi acometida por uma grande tristeza, parou de se alimentar, foi internada e morreu pouco tempo depois. “Pus-me a refletir em quanto os regulamentos do abrigo desrespeitavam as peculiaridades de cada morador” (CUNHA, 2008, p.46). Norma tinha uma história diferente. Apesar de estar “acostumada” a apanhar do marido, as coisas fugiram do controle depois de uma habitual embriaguez. Ele queria forçá-la a uma relação sexual, e, enfurecida, a esposa cravou-lhe uma faca no abdômen. Antes que fosse pega pela polícia, correu para as ruas do Rio de Janeiro com o filho pequeno. Precisou se prostituir para conseguir alguma renda. Grávida, foi para o abrigo e envolveu-se com um ex-presidiário, também alcoólatra, que fazia as mesmas coisas que o marido. Para evitar outro esfaqueamento, fugiu com os filhos para as ruas novamente. Maria acabou sem-teto por ter sido vítima de agiotagem. Quando começou a faltar alimento para o neto que criava, teve a ideia de abrir um armazém de beira de estrada e, para isso, pegou duzentos reais emprestado de um agiota. Os negócios não deram certo, os juros da dívida cresceram exponencialmente e as ameaças começaram a surgir. Teve de entregar sua casa na favela como pagamento e a família toda precisou descer o morro para mendigar no “asfalto”. www.conecorio.org 7 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Otacília, moça bela, de traços indígenas, vinha de uma família paupérrima do interior da Paraíba. Foi vendida aos 13 anos pelo pai para trabalhar em uma fazenda debulhando vagem de feijão. Lá, era escravizada e abusada sexualmente. Quando acabou a safra, foi levada a um prostíbulo. Depois de um tempo, fugiu na boleia de um caminhão e foi acolhida por uma desconhecida, que a cuidou e a matriculou numa escola. Otacília viveu tranquilamente por alguns anos, até que essa caridosa adoeceu e mandou-a para a casa de um irmão, no Morro da Providência. Dele, sofreu tentativa de estupro. Arrumou um namorado, casou, teve três filhos e montou uma mercearia no Morro Dona Marta. Durante uma partida de futebol, seu filho mais velho se desentendeu com o filho de um traficante. Por vingança, o pai do menino ateou fogo no comércio da família e jurou que mataria a criança. O marido de Otacília ficou revoltado com o prejuízo da mercearia e culpou a mulher por não ter resolvido a situação. Eles brigaram e, diante daquele caos, a moça acabou indo viver com os filhos na rua. Parte da história de Otacília se assemelha com a de Maria Lucia Santos Pereira, que não foi personagem do livro de Marcelo Antonio da Cunha, mas também viveu durante 16 anos nas ruas de Salvador/BA. Aos dois anos, após a morte dos pais, a avó não tinha condições de criá-la, seus irmãos foram “distribuídos” e ela foi acolhida por duas senhoras descendentes de italianos. “Dos três aos 15 anos, eu tive uma vida de cinderela, estudei nos melhores colégios, mas com 15 anos essas senhoras faleceram6” (informação verbal). Depois de um ano aos cuidados do Juizado de Menores, foi viver nas ruas e se viciou em crack e em álcool. Tal trajetória vai ao encontro do que comprovou Izalene Tiene (2004): as mulheres mais jovens na rua passaram por vários processos de ruptura desde a infância (adoção, institucionalização ou, ainda, família incapaz de garantir seu desenvolvimento afetivo e social). Por determinação própria, depois de 12 anos entregue ao vício, Maria Lucia procurou uma clínica de reabilitação, conseguiu se livrar da dependência química e se tornou coordenadora do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR). Embora 6 Entrevista concedida à autora na cidade do Rio de Janeiro em 21 jun. 2013. www.conecorio.org 8 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. vulnerável à violência sexual, ela explica que, desde o início, sempre foi protegida nas ruas, nunca foi abusada e, por essa gratidão, resolveu lutar para dar uma vida mais justa a seus ex-companheiros de calçada: “Eles foram meus pais, minhas mães, meus irmãos”, conta. Atualmente casada, morando em casa própria, labutando por políticas públicas e palestrando no Brasil inteiro, ela relembra as dificuldades de ser mulher na rua: A mulher é um sexo mais frágil. E ela precisa, muitas vezes, estar do lado de algum companheiro, até sem querer, pra poder evitar violências. Parece que as instituições não conseguem perceber a diferença das mulheres. Por exemplo, com coisas muito simples: medicamento para cólica, absorvente, um pré-natal, uma alimentação mais digna pra elas, a própria violência que existe nas ruas por parte de algumas pessoas que nem estão em situação de rua. O homem quando sai de dentro de casa, ele não leva nada. Mas a mulher quando sai de dentro de casa, ela leva toda a sua história, toda a sua família, a sensação de que não deu certo, de que não cuidou da sua família, então ela se destrói muito mais internamente. E o processo de reconstrução interna das mulheres é muito mais difícil que o dos homens porque ela tem toda a carga feminina. A mulher é muito mais sensível e aí ela se destrói muito mais rapidamente (informação verbal). Elas e a mídia online Depois de conhecer os motivos pelos quais as mulheres habitam as ruas, saber que existem perfis diferenciados, descobrir algumas peculiaridades e dificuldades desse modo de vida, interessa-nos agora analisar algumas matérias sobre pessoas em situação de rua do sexo feminino, divulgadas no portal de notícias da Rede Globo (G1.globo.com) de janeiro a junho 2013, que partiram de diversas partes do Brasil: Moradora de rua é morta a pauladas em João Pessoa, acredita polícia 7 (11/01/2013) O relato fala de uma vítima de 15 anos que fora encontrada morta em um estacionamento da capital e, que, de acordo com um cabo da Polícia Militar, havia sido assassinada a pauladas. O trecho complementar da notícia fala apenas que: “No local onde estava o corpo da adolescente, a polícia encontrou lençóis usados para dormir e um gatinho, que ela provavelmente criava. Até as 6h45 a polícia não tinha a 7 Disponível em:<http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2013/01/moradora-de-rua-e-morta-pauladasem-joao-pessoa-acredita-policia.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. www.conecorio.org 9 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. autoria de quem praticou o assassinato”. Fim da história. Nenhum contexto, nenhuma investigação sobre o caso. Não explicaram nem como descobriram que a garota tinha 15 anos. Após ser morta a pauladas moradora de rua é abusada sexualmente 8 (25/01/2013) Sem muitos detalhes, a matéria fala que Lucimar Rodrigues dos Santos, 45 anos, foi morta a pauladas e, após morrer, foi abusada sexualmente pelo autor do crime, Renato Lemos de Souza, de 26 anos, preso em flagrante. Moradora de rua de 14 anos sofre tentativa e estupro em Sumaré, SP 9 (21/02/2013) Uma adolescente sofreu tentativa de estupro e pediu ajuda à Guarda Municipal. Ela foi encaminhada aos cuidados do Conselho Tutelar por não ter onde ficar e o suspeito foi preso. Segundo a matéria, “A guarda não soube informar se ela sofreu lesões corporais”, tampouco a equipe de reportagem preocupou-se em aprofundar o caso, em procurar a família da jovem, em verificar se essa prática é recorrente na cidade, em ouvir a adolescente para que ela pudesse dar sua versão do fato, em deixar um serviço de denúncia caso os leitores se deparassem com uma situação parecida. Moradora de rua mata companheiro a facadas na zona Leste de Natal 10 (29/03/2013) Uma adolescente de 18 anos esfaqueou o marido após uma discussão e, por isso, foi presa. “Ainda de acordo com informações da PM, testemunhas disseram que o casal discutia com frequência”. Os motivos da discussões, porém, não foi revelado. A matéria é composta por oito linhas de texto corrido. A pergunta que nos surge neste momento é: se no mesmo caso estivesse envolvida uma jovem de 18 anos classe média, será que haveria mais investigação do crime? A resposta mais provável é que sim. Corpo de moradora de rua é achado no leito do Ribeirão Arrudas, em BH 11(16/04/2013) 8 Disponível em:<http://g1.globo.com/mg/vales-mg/noticia/2013/01/apos-ser-morta-pauladasmoradora-de-rua-e-abusada-sexualmente.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. 9 Disponível em:<http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2013/02/menor-moradora-de-ruasofre-tentativa-de-estupro-em-sumare-sp.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. 10 Disponível em:<http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2013/03/moradora-de-rua-matacompanheiro-facadas-na-zona-leste-de-natal.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. 11 Disponível em:<http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2013/04/corpo-de-moradora-de-rua-eachado-no-leito-do-ribeirao-arrudas-em-bh.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. www.conecorio.org 10 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Nesta matéria, nem o nome da falecida foi citado. A única fonte ouvida foi o namorado dela, que disse não saber como ela caiu. E um detalhe importante, o subtítulo: “Namorado disse que ela era usuária de crack e que se prostituía para manter o vício”, apresentou duas outras informações que serviram, apenas, para desqualificar ainda mais a mulher. Moradora de rua é assassinada a facadas, em Trindade 12 (05/05/2013) A notícia fala de um casal de namorados usuários de drogas que foi esfaqueado. A mulher, de 29 anos, cujo nome não foi citado, morreu. A fonte ouvida foi apenas um tenente da Polícia Militar, embora o namorado da vítima estivesse em condições de conversar. A informação de uma testemunha foi acrescentada e deu uma carga a mais de violência ao relato: “Essa pessoa contou aos policias que o casal teve um desentendimento com o suspeito de cometer o crime há uma semana, quando os namorados esfaquearam o suposto assassino”. Moradora de rua tem 60% do corpo queimado após incêndio em SP 13 (23/05/2013) O texto fala de uma mulher que sofreu graves queimaduras após um incêndio em uma casa abandonada na Zona Leste de São Paulo. “A mulher é uma moradora de rua, que havia invadido uma casa abandonada na Rua Cláudia. A vítima acendeu uma fogueira para se proteger do frio e acabou provocando o incêndio”. O nome da mulher não foi citado, ela não foi ouvida na matéria e as informações foram passadas pelo Corpo de Bombeiros. Destacamos o uso do verbo “invadir”, que nos remete a um vandalismo, em detrimento de outros mais amenos, como “ocupar”, por exemplo. Moradora de rua morre atropelada no Buraco do Tatu, em Brasília14 (01/05/2013) O texto relata apenas a morte por atropelamento de uma mulher de aproximadamente 30 anos na área central de Brasília. O motorista que a atropelou possuía habilitação e não tinha sinais de embriaguez. Como a mulher estava sem 12 Disponível em:<http://g1.globo.com/goias/noticia/2013/05/moradora-de-rua-e-assassinada-facadasem-trindade.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. 13 Disponível em:<http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/05/moradora-de-rua-tem-60-do-corpoqueimado-apos-incendio-em-sp.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. 14 Disponível em:<http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2013/05/moradora-de-rua-morreatropelada-no-buraco-do-tatu-em-brasilia.html>. Acesso em: 10 jul. 2013. www.conecorio.org 11 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. documentos, provavelmente, como acontece com quase todas na mesma situação, ela foi enterrada como indigente ou enviada para servir como cadáver de estudos em algum curso ligado à saúde. Porém, o destino do corpo dela não foi mencionado na matéria. Diante dessas análises, comprovamos a tese de Frazão (2010): os fatos narrados pela imprensa sobre as pessoas que vivem nas ruas, em situação de precariedade e penúria, estão restritos quase somente às páginas policiais, onde elas perdem a essência ontológica e são apresentadas com uma imagem negativa. “Recebem destaque somente se apresentam algo esdrúxulo ou comportamento atípico” (FRAZÃO, 2010, p.5). Podemos inferir também que todos os fatos revelam mal-estares sociais, que foram relatados de forma rasteira, enfatizando a questão do desvio social. Sob a ótica de Champagne (1997) isso é comum; nem todos os mal-estares são midiatizados da mesma forma. A classe econômica a que se pertence, possuir uma casa ou ter vínculos familiares são fatores que pesam na preparação da pauta, no trabalho de campo do repórter, na edição do material, na investigação jornalística em geral. Além disso, “a mídia age sobre o momento e fabrica coletivamente uma representação social (...), ela nada mais faz, na maioria das vezes, que reforçar as interpretações espontâneas e mobiliza, portanto, os prejulgamentos” (CHAMPAGNE, 1997, p.64). Porém, o mesmo autor pondera dizendo que essa estigmatização é involuntária e “resulta do próprio funcionamento do campo jornalístico” (CHAMPAGNE, 1997, p.74). Embora tratadas como vítimas em todas as notícias coletadas, a impressão que se tem é que as personagens cavaram a própria morte/agressão. Seja por “vandalismo”, seja pelo uso de drogas, muitos leitores que consumiram essas notícias devem ter pensando que elas, por estarem fora da ordem estabelecida (de mulher vaidosa, filha, mãe, esposa, cuidadora do lar) foram merecedoras daquele destino fatídico. Sobre a relação entre mídia e população de rua, a opinião de Maria Lucia Santos Pereira, Coordenadora do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), é clara: www.conecorio.org 12 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. A imprensa é uma desgraça! A nossa mídia é muito vendida. Ela não apresenta o que realmente é fato, o que tá acontecendo. Ela diz que a população de rua é isso, é aquilo, é aquilo outro. Que é um bocado de marginal. (...) Sabe, eu fico muito p. da vida com isso porque isso me irrita muito. Eles não procuram ouvir os dois lados da história. Eles só olham um lado. E a sociedade termina sendo manipulada pela mídia. A mídia é manipulada e manipula e a sociedade vai na onda. Então se a mídia diz que na população de rua tudo não presta e merece morrer, a sociedade toda vai dizer isso também. E quem é que compra a mídia? São os ricos empresários, que não querem ver a pobreza nas ruas. Então isso me preocupa. Essa preocupação é fundamentada no artigo “Imprensa e preconceito: o pensamento abissal nos meios de comunicação e a deslegitimação de grupos sociais”, de Jorge Ijuim (2013). O professor de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina condena este tipo de conduta que, além de esbarrar em códigos éticos da profissão, reforça a criação de estereótipos e a discriminação. Tal prática, segundo ele, não propicia a inclusão social. Pelo contrário, reforça a linha imaginária que separa “o empresário que quer produzir riquezas e o indígena vadio e cachaceiro; os adeptos da tradição, da família e dos bons costumes da prostituta imoral; as pessoas de bem das pessoas em situação de rua; brasileiros de paraguaios” (IJUIM, 2013, p.9), enfim, que separa a nossa rua da rua delas. Considerações finais As mulheres em situação de rua e as que vivem numa residência são tratadas de forma desigual. A presença delas causa repugnância e mal-estar naqueles que só conseguem enxergar a “casca” de fora. E elas sentem esse desdém. Como disse Maria Lúcia, coordenadora do MNPR: “Somos aquilo que a sociedade não quer perceber. Somos aquilo que não deu certo. Somos um exército de reserva” (informação verbal). Porém, mesmo não estando numa casa ocupando o cargo de mãe, filha, esposa, trabalhadora, são feitas da nossa mesma “carne”. São indivíduos biologicamente constituídos, que, pelos mais diversos e inesperados motivos, entraram em um “barco naufragado”. Ainda nas palavras de Maria Lúcia: “ninguém brotou da rua, todos nasceram de um ventre materno”. www.conecorio.org 13 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. Quando representadas pela mídia, protagonizam tragédias. Paulada, facada, incêndio, assassinato e estupro, nada além de notas e notícias factuais sem contexto e reflexão. Os relatos são dos finais de um processo, servem apenas para suprir a curiosidade dos consumidores de notícias que gostam de fatos bizarros. Mas, na verdade, a realidade cotidiana é bem mais complexa que um texto de oito linhas. Elas, Flávia, Tânia, Ana, Norma, Maria e Otacília e tantas outras, nem sempre são as culpadas por entrarem em um “barco naufragado” e quase a totalidade quer sair das ruas, mas precisa de auxílio. As notícias deveriam contar isso também e ajudá-las a transcender. Para além das desgraças de uma minoria, onde estão as pautas do início de do meio dessa problemática? Diante de tantas possibilidades de abordagem, por que não vemos nada (ou quase nada) a respeito das políticas de reinserção social; da qualidade dos serviços oferecidos pelo poder público; das denúncias de abusos; das alternativas para alterar a trajetória dessas mulheres; da proteção de vítimas de violência sexual; das necessidades e anseios delas? Afinal, o que a mídia faz para acabar com tanta tragédia? O que vimos é que a própria mídia se converte em tragédia ao assumir a postura de contar as histórias a partir da ótica do “nós”, os estigamatizadores. Sua função primordial de mediar a realidade social não está sendo cumprida. Como adverte Moretzsohn (2013, texto digital) o jornalismo, entre várias coisas, é: “O exercício do senso crítico no calor da hora. Por isso é tão difícil. Por isso é tão necessário. E por isso, também, é tão necessária a crítica ao jornalismo que descumpre seu papel”. Referências ARRUNÁTEGUI GADF, Gisele Aparecida Dias Franco. Olhares entrecruzados: mulheres em situação de rua na cidade de São Paulo. (Tese de Doutorado). Faculdade de Saúde Pública da USP. São Paulo, 2008. CHAMPAGNE, Patrick. A visão mediática. In: BOURDIEU, Pierre et al. A Miséria do mundo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. p. 63-80. www.conecorio.org 14 VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. CUNHA, Marcelo Antonio da. No olho da rua. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. DAMATTA, Roberto. A casa e a rua. 5. Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. ______. O que é o Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 2003. DURÁN, María-Ángeles. La ciudad compartida: conocimiento, afecto y uso. Santiago de Chile: Ediciones SUR, 2008. Eu não sou da sua rua. Arnaldo Antunes. Ao vivo no estúdio. Faixa 11. CD-ROM. Brasil: 2007. 3min24s. FRAZÃO, Theresa Christina Jardim. O morador de rua e a invisibilidade do sujeito no discurso jornalístico. 2010. (Tese Doutorado) Programa de Pós-Graduação em Linguística. Universidade de Brasília. Brasília, 2010. GOLDWASSER, Maria Julia. “Cria Fama e Deita-te na Cama”: um Estudo de Estigmatização numa Instituição Total. In: VELHO, Gilberto (org.). Desvio e divergência: uma crítica da patologia social. 5 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p.30-54. IJUIM, Jorge Kanehide. Imprensa e preconceito: O pensamento abissal nos meios de comunicação e a deslegitimação de grupos sociais. In: XIII CONGRESSO INTERNACIONAL IBERCOM, Santiago de Compostela, 29-31, maio 2013. 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