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Bacharelado em Linguística e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande
Mestrado em Letras • UEMS / Campo Grande
IS SN : 2 17 8 -1 4 86 • V ol u m e 1 • Nú m er o 6 • f e v er ei ro 20 12
Homenagem ao Prof. Dr. Ataliba Tei xeira de Castilho
METAPLASMOS: A DIFERENÇA ENTRE A FALA E A ESCRITA1
Selma Aparecida dos Santos Silva (UEMS/NA)
[email protected]
Marlon Leal Rodrigues (CEAPD/NEAD/UEMS)
[email protected]
Resumo: no presente trabalho, verificaremos como a norma padrão, que é ensinada especialmente nas unidades de ensino
escolar, pode influenciar na fala de informantes de diferentes níveis de ensino. Tendo em vista a variação que ocorre na fala
pela sua própria especificidade e que é interpretada como “errônea”, deve-se destacar que todo o indivíduo se utiliza da
língua e da linguagem para expressar suas idéias e seus pensamentos como forma de estar no mundo, ou seja, a língua
organiza o mundo de forma diversa para o indivíduo. Os falares de uma comunidade é resultado do meio ao qual está
inserido – cultural, econômico, social, grupos diversos etc. - sendo que a diferença (que obedece a uma certa sistematicidade)
na fala surge de forma espontânea e se adequada ao momento. O estilo da fala constitui como um desafio no estudo da
variação sociolingüística. O principio básico é o de que nenhum falante utiliza a língua da mesma forma em todas as
ocasiões, o que implica a escolha entre várias possibilidades de expressão. É importante destacar que, numa expressão
lingüística, uma variação pode ser utilizada tanto na fala como na escrita. Podemos verificar tal afirmação vendo os
exemplos seguir: (4) “torneira, tornera” / (6) “cadeado, cadiado”. A variação ocorrida através da escrita dos alunos é uma
característica que nos faz perceber o quando a linguagem popular muitas vezes é vista de forma errônea, contudo entre a
escrita e a oral ocorre de forma espontânea deixando, como o reflexo da oralidade transparecer no momento expresso
graficamente.
Palavras-Chave: variação; escrita; língua; alunos.
Introdução
Existem muitas discussões quando se trata da forma como se escreve e se fala seja na modalidade oral ou
escrita, prevalece à posição social do sujeito a partir da variedade utilizada. O que acontece é que em toda língua
do mundo existe um fenômeno chamado variação, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os
lugares, assim como nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico.
Há uma tendência muito forte no ensino da língua de querer obrigar, ou impor o aluno a pronunciar “do
jeito que se escreve”, como se essa fosse a única maneira “certa” de falar o português. Essa supervalorização da
língua escrita combinada com o desprezo da língua falada é um preconceito que data de antes de Cristo.
É claro que é preciso ensinar a escrever de acordo com a ortografia oficial, mas não se pode fazer isso
tentando criar uma língua falada “artificial” e reprovando como “erradas” as pronúncias que são os resultados
naturais das forças internas e externas que governam o idioma.
Afinal, a língua falada é a língua tal como foi aprendida pelo falante em seu contato com a família e com
a comunidade, logo nos primeiros anos de vida. É o instrumento básico de sobrevivência e que marca uma
diferença entre o homem e os demais animais. Um grito de socorro tem muito mais eficácia do que essa
mensagem escrita.
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Trabalho orientado pelo Prof. Dr. Marlon Leal Rodrigues, Letras de Nova Andradina, 2009.
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Por outro lado, a língua escrita, chamada norma padrão, é totalmente artificial, exige treinamento,
memorização, exercício, e obedecem as regras fixas, de tendência conservadora, além de ser uma representação
não exaustiva da língua falada. A importância da língua falada para o estudo cientifico está, principalmente, no
fato de ser nessa língua falada que ocorrem as mudanças e as variações que incessantemente vão transformando a
língua.
Do ponto de vista da história de cada indivíduo, o aprendizado da língua falada sempre precede o
aprendizado da língua escrita, quando ele acontece. Basta citar os bilhões de pessoas que nascem, crescem, vivem
e morrem sem jamais aprender a ler e a escrever e, no entanto, ninguém pode negar que são falantes
perfeitamente competentes de suas línguas.
O ensino tradicional da língua, no entanto, quer que as pessoas falem sempre do mesmo modo como os
grandes escritores escreveram suas obras. A gramática tradicional despreza totalmente os fenômenos da língua
oral, e quer impor a ferro e a fogo a língua literária como a única forma legitima de falar e escrever, como a única
manifestação lingüística que merece ser estudada (Bagno, 2005, p. 55-57).
O objeto da pesquisa é um conjunto de palavras do cotidiano que apresenta “oscilação” entre o oral e o
escrito; pertencente ao vocabulário de alunos do sexto ano do ensino fundamental da Escola Dr. Martinho
Marques na sua forma escrita.
O objetivo principal desta pesquisa consiste em analisar os tipos de metaplasmos que ocorre entre o oral e
escrito a partir dos processos de metaplamos, ou seja, que formam a diferença entre o registro padrão de um
conjunto de palavras e outros registros na forma escrita em seus alunos do ensino fundamental considerando a
faixa etária e gênero.
Assim, a pesquisa tem como objetivo geral verificar até que ponto a escola, tendo seu papel de propagar a
norma padrão, consegue influenciar a linguagem real utilizada pelo falante. Dessa forma, investigar o limite entre
norma padrão (escolar) e norma coloquial (fala efetiva do indivíduo).
Na busca de constatar o referido objetivo, o trabalho foi centrado no critério específico de identificar as
variações que ocorrem na língua.
Uma das hipóteses prováveis é que as variações ocorridas entre a fala e a escrita, sendo que como a
língua se desenvolve de alguma forma alguns vão sobrepondo a norma e deixarão de ser incorreta para tornar-se
norma padrão.
Utilizei como procedimentos metodológicos para realização desta pesquisa a análise dos metaplamos na
relação ente o oral e o escrito. Foi necessário elaborar um questionário, no qual foram entrevistados mediante um
questionário com 30 questões, os alunos do 6º. ano da Escola Estadual Dr. Martinho Marques – Taquarussu–MS,
considerando o respondido por cada educando e ao mesmo tempo observando qual a mudança que ocorreu na
escrita. O roteiro de perguntas foi baseado em questões simples para os alunos responderem.
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No decorrer da aplicação do questionário, houve um interesse pelo informante, falando da importância
deste questionário buscando aplicar questões simples, os informantes responderam todas as questões com muito
entusiasmo e alguns diziam se fosse uma avaliação iriam tirar dez.
Foi necessário a elaboração de um questionário sociolingüístico (gênero, idade, grau de escolaridade)
com questões direcionadas. O questionário foi aplicado nos alunos e depois feita a tabulação das respostas
somente para que a partir daí fosse selecionada um conjunto de respostas para análise.
Breve História do Objeto de Pesquisa
A linguagem vem sendo estudada, desde os primórdios, por estudiosos que queriam descobrir uma
linguagem universal, mas sabemos que a linguagem é muito complexa. Sendo ela, um dos fatores decisivos no
desenvolvimento intelectual, social e cultural do indivíduo, seja ela falada ou escrita.
O século XVI reservou à Portugal um papel saliente na história dos descobrimentos marítimos e das
conquistas territoriais. A língua portuguesa, que servia, nessa época, de instrumento a uma culta e rica literatura,
espalhou-se rapidamente pelas novas terras recém-descobertas, avassalando continentes e ilhas.
A diferença entre a oralidade e a escrita é que na oralidade dificilmente percebe a mudança no ato da fala,
enquanto que na escrita a mudança se dá no momento em que o aluno faz uma associação com a fala e
consequentemente a transfere para a escrita ocasionando a diferença ortográfica.
Segundo Vygotsky (1985), a linguagem além de ser o principal instrumento de intermediação do
conhecimento entre os seres humanos, ela tem relação direta com o próprio desenvolvimento psicológico.
1. Pressupostos Teóricos
A língua é um conjunto de palavras e expressões, faladas e escritas usadas por um povo, por uma nação e
o conjunto de regras da sua gramática. As línguas são estruturas, sim, mas não apenas isso. Pois, as estruturas não
surgiram do nada; ao contrário, brotaram das virtualidades psicofísicas do ser humano, histórica e
geograficamente condicionado e inserido em determinado contexto social.
A comunicação humana é realizada de várias maneiras, por meio de apelos visuais, auditivos, linguagem
corporal e, principalmente, pela linguagem verbal. A linguagem verbal utilizada por toda uma comunidade é
chamada de língua. A língua é um sistema de símbolos vocais pelo qual um grupo social se comunica. É,
portanto, uma variante da linguagem. A língua é uma convenção social, estabelecida pela sociedade que a utiliza,
sendo que cada língua possui seu próprio sistema de regras de convenções. Uma língua é realmente rica, fecunda
e boa quando possui uma quantidade suficiente de sinais para que seus usuários possam expressar o maior
número de idéias com relativa facilidade. O povo utiliza a língua na medida de suas possibilidades educacionais e
de seu meio de aquisição; a literatura expõe-lhe toda a riqueza em potencial. O homem é um ser social,
comunicativo.
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A língua é um elemento social da linguagem. Cada língua nasce de uma convenção dos membros de uma
sociedade. Esses membros têm de conhecer os sinais convencionais para se comunicarem.
A Linguagem, segundo definição de Benveniste (2006), é um sistema de signos Socializado.
“Socializado” remete claramente à função de comunicação da linguagem. A expressão “sistemas de signos” é
empregada para definir a linguagem como um conjunto cujos elementos se determinam em suas inter-relações, ou
seja, um conjunto no qual nada significa por si, mas tudo significa em função dos outros elementos. Em outras
palavras, o sentido de um termo, bem como o de um enunciado, é função do contexto em que ele ocorre
(VANOYE, Francis, 2003, p. 21).
A língua portuguesa comporta duas modalidades: o português escrito e o português falado. Num mesmo
nível, as duas não têm as mesmas formas, nem a mesma gramática, nem os mesmos recursos “expressivos”. Para
a compreensão dos problemas da expressão e da comunicação verbais, é fundamental pôr em evidência esta
distinção, ou seja, na língua falada, o significante é formado por fonemas*. Na língua escrita, por signos gráficos
ou grafemas (no caso do português escrito, as letras do alfabeto). (VANOYE, 2003, p 35).
Contudo, a língua como objeto de estudo, sobretudo a fala, é um conceito muito abrangente, no qual, o
campo de estudo deve ser limitado para melhor desenvolvimento e eficácia dos resultados.
1.1 Metaplasmos
São modificações fonéticas que sofrem as palavras na sua evolução. Os fonemas constituem o material
sonoro da língua e este material está, como tudo o mais, sujeito a lei fatal das transformações.
É que cada região altera inconscientemente, segundo as suas tendências, as palavras da língua, alterações
essas que se tornam perfeitamente sensíveis, só depois de decorrido tempo.
De quatro espécies podem ser tais modificações. Com efeito, verificamos que elas são motivadas pela
troca, pelo acréscimo, pela supressão de fonema e ainda pela transposição de fonema ou de acento tônico.
Eles se dividem em:
a) metaplasmos por permuta;
b) metaplasmos por aumento;
c) metaplasmos por subtração;
d) metaplasmos por transposição.
Os metaplasmos por permuta são os que consistem na substituição ou troca de fonema por outro.
Pertencem a esta classe:
1) Sonorização que é troca de um fonema surdo por um sonoro com mesmo ponto de
articulação. Ex: os fonemas latísios p,t, c, f, quando mediais, sonorizam-se em português b, d, g, vlupu>lobo, cito>cedo, acutu>agudo.
2) Vocalização é a conversão de uma consoante que se transforma em vogal. Ex: vocalizase em i ou u a primeira consoante ct, lt, lc – factu>feito, alteru>outro, falce>fouce.
3) Consonantização, vogal que se transforma em consoante, casos com as semivogais i e u
que passam a ser j e v. Ex: iam>já, ieiunu>jejum, uiuere>viver.
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4) Assimilação é a aproximação ou dois fonemas idênticos resultante da influência que
ambos exercem, ao outro.Ela pode ser vocálica ou consonantal, total e parcial, progressiva e regressiva:
- É vocálica quando o fonema que se aproxima é uma vogal, ex: paomba (arc) (<palumba) >poomba (arc.)
(>pomba).
- É consonantal quando o fonema aproximado é uma consoante, ex: Persona>pessoa (arc.) (>pessoa).
- Diz-se total quando se identifica o fonema assimilado com o assimilador, ex: per+lo>pello (>pelo),
persicu>pessicu (>pêssego).
-É parcial quando há semelhança entre o fonema assimilado e o assimilador, não são idênticos, ex: lim(i)te
>linde, com (i)te > conde, auru>ouro.
- A progressiva é quando o fonema aproximador está em primeiro lugar, ex: amaramlo>maram-no, salnitre
(prov.)> sallitre (>salitre).
- A regressiva é quando o fonema assimilador está depois, ex: pedir (<*petire por petere) > pidir, capseu > *
casseu (>queixo).
- Também há assimilação por influência de uma consoante sobre a vogal, ex: fame >fome, cognatu>cunhado,
resicare>rasgar.
5)
Dissimilação é a diversificação ou queda de um fonema por já existir outro igual ou semelhante
na palavra, ex: calamellu>caramelo, formosu.
- Dissimulação é a diversificação ou queda de um fonema por já existir fonema igual ou semelhante na palavra,
exs.: calamellu>caramelo, formosu>fermoso (arc.) etc.
- A dissimilação pode também ser: vocálica., quando o fonema que se dissimila é uma vogal, * poçonha (< *
polinea) > peçonha, valoroso>valeroso(arc.).etc.
- Consonantal, quando o fonema que se dissimila é uma consoante, exs.: mem(o)rare nembrar (arc.) > lembrar
etc.
6. Nasalização ou nasalização é a conversão de um fonema oral em nasal, exs.: mi (arc.) (<mi por
mihi)mim, muito (arc.) (<multu)> muito. Em todos estes casos, a nasalação se explica pela nasal anterior. Em sim
< si(c) decorre de non (arc.). Em outras palavras, como ensaio(<exagiu), exame (<examen) etc., a nasalação tem
sido diversamente explicada.
- Desnasalação ou desnasalização é o contrário da nasalação. O fonema antes nasal perde a nasalidade, tornandose oral, exs.: coroa (arc.) (<corona) > coroa, boa (arc.) (<bona) > boa etc.
7. Apofonia, ou deflexão é a modificação que sofre a vogal da silaba inicial de uma palavra, quando se
lhe ajunta um prefixo, exs.: *in+barba>imberbe (>imberbe), *ad-cãntu> accentu (>acento) etc.
8. Metafonia, é a modificação de som, ou mais propriamente do timbre de uma vogal, resultante da
influência que sobre ela exerce a vogal ou semivogal seguintes, exs.: debita>dívida, décima >dízimo,
dormio>durmo etc.
Metaplasmos por aumento são os que adicionam fonemas à palavra. São desta classe:
1)
2)
3)
4)
a prótese ou próstese
a epêntese
a anaplixe ou suarabácit
a paragoge ou epítese
1) A prótese ou próstese é o aumento de som no começo do vocábulo exs.: stare>estar, *scribére
por scribere>escrever, scutu>escudo etc.
A prótese no português provém muitas vezes da aglutinação do artigo, exs.: phantasma>abantesma,
minacia>ameaça, laesione>aleijão, mora>amora.
2) Epêntese é o acréscimo de fonema no interior da palavra, exs.: pign(o)ra >pendra (arc.) (prenda)
um(e)ru >ombro etc.
3) Anaptixe ou suarabácti é a epêntese especial que consiste em desfazer um grupo de consoantes
pela intercalação de uma vogal, exs.: *grupo (<kruppa, germ.)>garupa, * bratta (<blatta)> barata, *fevrairo
(<febrariu por februariu)>fevereiro. Pertencem ao português de além-mar: caronica (arc.), carapinteiro (pop).
No Brasil, ouve-se no dialeto caipira Silivério, Silivana, pronuncia ocorrente também em Portugal, na
linguagem do povo.
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4) A paragoge ou epílese é a adição de fonema no fim do vocábulo exs.: ante>antes. Estes se
explica por analogia com o de depois. Do mesmo modo se explica a sua existência nos advérbios anvidos
(arc.), prestes, enlonces (arc.) (arc.) etc. São formas dialetais portuguesas maré, alguidare, sole, animale. Nos
empréstimos modernos, acrescenta-se –e quando terminados em consoante que não se use como final de
palavra portuguesa: chique (chic), clube (club).
Metaplasmos por subtração são os que tiram ou diminuem fonemas à palavra. São desta classe:
1)
2)
3)
4)
5)
6)
a aférese;
a sincope;
a haplologia;
a apócope;
a crase;
a sinalefa ou elisão
1) A aférese é a queda de fonema no início da palavra, exs.: attonitu>tonto, espiscopu>bispo,
acumen>gume etc.
No antigo português, eram muito comuns os casos de aférese: geriza (ojeriza), lambique (alambique),
laúde (alaúde), licate (alicate) etc.
Segundo Leite de Vasconcellos deglutinação à queda da vogal inicial, resultante da confusão com o
artigo. Estão neste caso: Degebe (Odegebe), Deleite (Odeleite). Por deglutinação explica-se a queda do a ou o em
(h)abitacuba>bitácula, (h)orologiu>relógio. Também se costuma chamar deglutinação a queda do d- que ocorre
em silaba inicial, por se confundir com a preposição: dalmática>almática .
2). Sincope é a subtração de fonema no interior do vocábulo, exs.: malu>mau, mediu>meio,
lepore>lebre, veritate>verdade etc.
3) Haplologia é a sincope especial que consiste na queda de uma silaba medial, por haver outra idêntica
ou quase idêntica na mesma palavra exs.: *rodador (<rotatore) >rodor (arc.) (>redor), *perdeda (<perdida)>perda.
São ainda exemplos de haplologia: bondoso, idoso, piedoso, maldoso, saudoso, formicida, candura.
4) Apocope é a queda de fonema no fim do vocábulo, exs.: amat> ama, amare>amar, atroce>atroz etc.
5) Crase é a fusão de dois sons vocálicos contíguos, exs.: pee (arc.) (<pede) > pé, see (arc.) (<sede) >sé
etc. Só há modernamente crase, em português, quando concorrem a preposição a e os demonstrativos aquele,
aquela, aquilo, aqueles, aquelas, ou a mencionada preposição e o artigo feminino a. É um recurso da língua para a
eliminação do hiato.
6) Sinalefa ou elisão é a queda da vogal final de uma palavra, quando a seguinte começa por vogal,
exs.: de+intro > dentro, de+ex+de> desde, de+um>dum, de+este> deste, de+aquele > daquele.
Metaplasmos por transposição são os que consistem na deslocação de fonema ou de acento tônico da
palavra. A transposição de um fonema toma o nome de metátese.
Metátese é a tranposição de fonema, que se pode verificar na mesma silaba ou entre silabas:
semper>*sempre (>sempre), inter>*intre (>entre). Houve metatese em fresta, trevas, joelho, esfaimado, prego,
quebrar, silvar, resmungar, alento, esmola, livreiro, bradar, enjoar, melro, grinalda, palrar, cabresto, caramanchão,
andorinha, tanchar.
A transposição de acento tônico toma o nome especial de hiperbibasmo.
1) Sistole é a transposição de acento tônico de uma silaba para a anterior, exs.: amassémus por
amavissémus >amássemos, éramus> éramos etc. Pântano é empréstimo do it., onde é paroxítono.
2) Diástole é a deslocação de acento tônico de uma sílaba para a posterior, exs.: océanu>oceano,
júdice>juiz, gémitu>gemido etc.
Houve deslocação de acento tônico em português em fígado, nível, míope, regime, amido, farmácia,
democracia, aristocracia, ídolo, acônito, ermo, orgia, opala, erisipela, Helena, Heitor, etc. explica-se essa
deslocação de acento por analogia ou com prosódia grega ou com finais de palavras portuguesas.
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1.2 A analogia
É o princípio pelo qual a linguagem tende a uniformizar-se, reduzindo as formas irregulares e menos
freqüentes a outras regulares e freqüentes.
Segundo Mário Barreto, a analogia procede, sobretudo por generalização modificando os fenômenos
vizinhos segundo o modelo dos fenômenos que tem mais extensão, e é raro que o faça por extensão de um caso
particular (¹).
“O resultado da analogia, assevera ainda Mário Barreto, é, como se vê, essencialmente unificador e
nivelador. Ela tende a restabelecer a harmonia e o paralelismo das formas”.
Foram os neogramáticos que chamaram a atenção para ela e lhe assinalaram os efeitos decisivos nas
transformações da linguagem.
Os casos decorrentes de analogia podem ser considerados verdadeiras criações. A forma analógica não
motiva logo o desaparecimento da originária. Vive uma a par da outra durante algum tempo, e nem sempre é a
analógica que consegue triunfar.
Em apoio de Dauzat, vem os fatos que diariamente observamos. São as pessoas que se encontram em
condições menos favoráveis para usarem da razão, como os ignorantes e as crianças, as que mais se servem da
analogia.
Resulta a analogia da influência de um vocábulo sobre o outro, determinando igualdade ou aproximação.
Segundo Bréal (apud Coutinho, 1974), todo fato analógico envolve um ato da razão, uma razão obscura, mas é
contestado pela maioria dos lingüistas. O que eles observam diariamente são pessoas que se encontram em
condições menos favoráveis para usarem da razão, como os ignorantes e as crianças, as que mais se servem da
analogia.
A criança, por exemplo, adquiridos os conhecimentos mais rudimentares e necessários a vida, começa
nas suas tentativas para ser compreendida, a aplicar inconscientemente as noções obtidas a casos que, embora não
constituindo propriamente exceções, são, todavia, particulares.
É importante ressaltar que, a ação da analogia se exerce em diferentes domínios da língua. Daí as
conseqüências se fazem sentir na fonética, na morfologia, na sintaxe e na semântica:
-Na fonética a palavra, tomada isoladamente, é um conjunto material de fonemas ou silabas, a que se atribui
determinado sentido. Mas ela também pode fazer parte de um grupo, pertencer a um sistema (flexão, derivação,
etc.). Quando esses fonemas ou silabas são atingidos pela ação da analogia, sem que sejam afetadas as formas do
sistema, é óbvio que se trata de analogia na fonética, ou melhor, de analogia fonética.
A fonética estuda a substância do plano da expressão das línguas naturais; A fonologia (ou fonêmica)
estuda a forma do plano da expressão. O termo “fonética” é aplicado desde o século XIX para designar o estudo
dos sons da voz humana, examinando as suas propriedades físicas independentemente do “seu papel lingüístico
de construir as formas da língua” (Borba, 1970, 163). Já os fundamentos da Fonologia (ou Fonêmica, como
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preferem dizer os anglo-saxões) se estabeleceram a partir do segundo decênio do século XX, na Europa e nos
Estados Unidos da América do Norte. Na Europa, a partir do Circulo Lingüístico de Praga (31) e nos Estados
Unidos, a partir da obra de Leonard Bloomfield e Edward Sapir, que trabalharam separadamente. “Em contraste
com a Fonética, que é uma ciência da natureza e diz respeito aos sons da voz humana diz Trubetzkoj a Fonologia
tem por objetivo os fonemas... das línguas humanas.” Por isso, Dinneen (1970, 43) afirma que há três modos
principais de descrever os sons lingüísticos; um som pode ser descrito sob o ponto de vista:
a) da sua composição;
b) da sua distribuição;
c) da sua função.
A fonética trata do primeiro ponto de vista (a), ao passo que a Fonologia trata dos dois outros, (b) e (c).
Segundo Martinet (1968 b,42) a fonologia poderia ser apresentada como um modo de considerar-se a
Fonética: ela seria a Fonética tratada dos pontos de vista funcional e estrutural”.
- Na morfologia, pode se dizer de um modo geral, que a analogia é a base de toda a morfologia: no substantivo –
como gênero masculino e feminino, no número
como plural dos nomes e grau, nos verbos é que melhor
podemos apreciar a ação da analogia, por causa da riqueza que caracteriza esta classe de palavras. Desde o latim
se nos deparam frequentemente criações analógicas nas formas verbais. Assim, os verbos da 3ª conjugação
passaram todos para a 2ª, por analogia, no latim vulgar na Península Ibérica. No antigo português, os verbos
mentir, sentir e arder oriundos, respectivamente, do latim mentire por mentir, sentire, ardere, tinham, na 1ª pessoa
do indicativo e em todas as pessoas do subjuntivo, um ç, resultante da evolução natural do latim ti e de + vogal:
menço<mentio, mença <mentiam, menças <mentias, mença <mentiat, etc. A metafonia do – e – minto, sinto, etc.,
explica-se pela influência da semivogal. Somente o verbo medir <metire conservou em tais pessoas o ç: meço<
metio, meça<metiam, meças <metias, meça <metiat, etc. Por analogia com o indicativo é que também se explica
a conservação velar surda sonora nos verbos terminados em car e gar.
- Na sintaxe, embora neste domínio da língua não se faça sentir tanto a ação da analogia, a verdade é que há fatos
sintáticos que não se pode justificar sem o recurso a ela.
-Entende-se por semântica, a ciência das “significações das línguas naturais”. Essa definição assinala a diferença
existente entre uma semântica lingüística propriamente dita, que objetiva estudar a forma do plano de conteúdo
das “línguas naturais”, e uma semântica semiótica que estuda a significação dos sistemas sígnicos secundários,
ainda os que deixam a margens para dúvidas no que tange à participação, neles, da dupla articulação.
O emprego de um vocábulo, em sentido figurado, é um recurso natural, de que serve geralmente o povo
para exprimir, com mais energia e rapidez, as suas idéias.(Coutinho, p. 162).
Segundo Hjlmslev, uma semântica estrutural só se tornaria possível na medida em que o número
ilimitado de conteúdos do signo fosse reduzido a número limitado de figurae traços mínimos dos planos do
conteúdo. Tais figuraes, que seriam, no plano de conteúdo, o correlato dos femas no plano da expressão,
poderiam ser identificados pelo processo de comutação (mutação entre os membros de um paradgma).
Mediante essas definições de gramática, é importante que fique claro que o ensino de Português deve
deixar de ser visto como a transmissão de conteúdos prontos, mas que acima de tudo seja uma atividade de
construção do conhecimento, numa tarefa que envolva o aluno e o professor numa esfera de aprendizagem e
doação mútua.
Por analogia se dá, as vezes, o nome de uma coisa a outra, que com aquela tenha alguma afinidade ou
semelhança. Os nomes dos órgãos do corpo humano são para nós mais familiares, são os de que mais nos
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utilizamos para isso. Por exemplo: pé de mesa, etc. A analogia, em semântica, constitui o sentido figurado
conhecido por metáfora.
A lingüística, nos dias de hoje, conta com uma vasta bibliografia de estudos no campo, desde textos mais
introdutórios até textos de grande especificidade e aprofundamento.
Todas as línguas do mundo são sempre continuações históricas. Em outras palavras, as gerações
sucessivas de indivíduos legam, a seus descendentes o domínio de uma língua particular.
No entanto, linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso,
podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser humano.
Efetivamente, a relação entre linguagem e sociedade não é posta em dúvida por ninguém, e não deveria
estar ausente, portanto, das reflexões sobre o fenômeno lingüístico. Por que se fala, então em sociolingüística? Ou
melhor, por que existe uma área, dentro da lingüística, para tratar, especificamente, das relações entre linguagem
e sociedade a Sociolingüística? A linguagem não seria, essencialmente, um fenômeno de natureza social? As
respostas a questões como essas não são tão óbvias. Para responde-las, é preciso considerar razões de natureza
histórica, mais precisamente, o contexto social mais amplo em que se situam aqueles que se dedicam a pensar o
fenômeno lingüístico.
Segundo Alkmim, os trabalhos do lingüista alemão Augusto Schleicher, tiveram forte impacto século
XIX.
Scheleicher não era apenas um lingüista mas também um estudioso as ciências naturais
dedicando-se a botânica Este fato dera-lhe uma orientação a favor das ciências da natureza ora,
Scheleicher, como todos os lingüistas anteriores a ele, tinha a ambição de elevar o estudo da
linguagem ao status de uma ciência rigorosa com rigorosas leis de desenvolvimento. (pg 22)
Para o referido lingüista alemão, o desenvolvimento da linguagem era comparável ao de uma planta que
nasce, cresce e morre segundo leis físicas. Contudo, a linguagem é vista como um organismo natural ao qual se
aplica, portanto, o conceito de evolução, desenvolvido por Darwin.
Na concepção de a Lingüística é uma ciência interdisciplinar ela toma emprestada a sua instrumentação
metalingüística dos dados elaborados pela Estatística, pela Teoria de informação, pela Lógica matemática etc., e,
por outro lado, na sua qualidade de ciência piloto, ela empresta os métodos e conceitos que elaborou à
Psicanálise, à Musicologia, à Antropologia, à Teoria e Critica Literária, etc.; enfim, ela se dá, como Lingüística
Aplicada, ao Ensino das Línguas e a Tradução Mecânica.
Estabelecer os limites entre ciências tão afins quanto a Lingüística, a Filologia e a Gramática. Sob um
certo prisma é possível dizer que a Filologia constitui uma modalidade e uma etapa histórica da Lingüística
(lingüística Diacrônica). Mas, se ambas as disciplinas se interessam pelo mesmo “objeto material”, a linguagem,
cada uma delas se distingue da outra pela especificidade do seu “objeto formal”, isto é, pelo seu particular ângulo
de enfoque.
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A noção de “estrutura” aparece estreitamente ligada à noção de relação no interior de um sistema
(Benveniste 1966, p. 94) Hjelmslev, que deu uma das melhores definições do conceito advertia, contudo, que a
estrutura é um modelo, ou seja uma construção mental que serve de hipótese de trabalho. “Compreende-se por
Lingüística Estrutural um conjunto de pesquisas que repousa sobre a hipótese de que é cientificamente legitimo
descrever a linguagem como sendo essencialmente uma entidade autônoma de dependências internas, em uma
palavra, uma estrutura.
A análise lingüística não leva em conta a identidade já de si eventual da substância fônica ou semântica;
ela incide sempre sobre o valor, a forma que realiza os últimos fins da língua.
Por exemplo, no caso de little e small do inglês, com suas distribuições características e sua mutuas
exclusões dentro dos enunciados traduzidos aproximativamente, em português, pelo mesmo tempo “pequeno”.
A comunicação lingüística beneficia-se do concurso de gestos, dos movimentos corporais e das
produções fônicas que não são fonológicas.
Segundo Darwin já havia notado que há um relacionamento estreito entre os movimentos da boca e os
das mãos, e R. L. Birdwhistell, o pioneiro dos estudos da cinésia (Kinesics) uso estruturado dos movimentos do
corpo e das mãos na comunicação, assim se expressa: “A comunicação não é um processo formado de um
conjunto de expressões individuais em uma seqüência ação-reação.
Um ser humano não inventa seu sistema de comunicação ele já existe há gerações. O homem deve
aprendê-lo a fim de tornar-se membro de sua sociedade” (Lee Smith, 1972, p. 95)
Também as produções sonoras que não se deixam analisar no quadro da dupla articulação (cf. 1.10),
concorrem, eventualmente, para a boa compreensão de um dialogo.
Os gestos servem para distinguir sentidos gerais, mas também classes sociais, idades, profissões e até
sexos, a mímica de uma moça, no Brasil, não é a mesma de um moço:
“O que popularmente chamamos de “gestos” escreveu Birdwhistell, tenham ou não a forma de levar o
polegar ao nariz, de um aceno de cabeça ou punho fechado, revela-se, pela análise, serem cinemorfos
especialmente presos que não podem aparecer isolados como uma ação completa.
Esse é o campo de estudo da Paralinguistica, abarcando, tal como faz a Cinésia em relação aos gestos, as
emissões sonoras supra-segmentais que são peculiares a cada comunidade: “em algumas sociedades, por
exemplo, no Magreb, os arrotos durante a refeição constituem um signo de beneplácito da parte dos convidados,
sendo muito apreciado pelos anfitriões.
A linguagem escrita é, como se sabe um dos mais comuns meios visíveis de expressão. Há ocasiões em
que o linguista se vê obrigado a lançar mão desse meio para levar a cabo sua tarefa, por exemplo, quando ele
investiga uma “língua morta”, através de documentos antigos pense-se no caso do latim e do grego clássico. No
entanto, para sermos justos, devemos colocar cada uma dessas modalidades da expressão lingüística, a falada e a
escrita, no posto que realmente lhe corresponda.
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Ninguém nega a importância que a escrita teve e que ainda tem, relativamente à expressão e conservação
das conquistas das ciências e das artes.
Por outro lado, a fala possui maiores possibilidades de sobrevivência do que a escrita.
Além disso, a fala é universal, independentemente do grau de desenvolvimento alcançado por um povo.
A escrita não o é. Não há um só exemplo de algum povo que não fale, mas há muitos povos a maioria, aliás, que
desconhecem qualquer sistema de escrita. E mais: todos os sistemas de transcrição escrita estão fundados na fala,
em relação à qual são secundários; o contrário não se dá.
Por isso Saussure advertia (1972, p. 45) que a única razão de ser da escrita é o seu caráter de
representante da fala.
1.3 Preconceito lingüístico
Existe uma regra de ouro da lingüística que diz “Só existe língua se houver seres humanos que a falem”.
Segundo Aristóteles, o ser humano é um animal político. Com base nessas duas afirmações como os termos de
um silogismo, chegamos a uma conclusão de que tratar da língua é tratar de seres humanos concluiu (Bagno, ano
p. 9).
É importante ressaltar, que o preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi
criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa
confusão. Como podemos perceber, por exemplo, uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido, um
mapa-múndi não é o mundo e também a gramática não é a língua.
“A língua portuguesa da falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”. Conforme Bagno, este é
o maior e o mais sério dos mitos que compõe a mitologia do preconceito lingüístico no Brasil. É o caso, por
exemplo, de Darcy Ribeiro, que em seu último grande estudo sobre o povo brasileiro escreveu:
É de assinalar que, apesar de feitos pela fusão de matrizes tão diferenciadas, os brasileiros são,
hoje, um dos povos mais homogêneos lingüística e culturamente e também um dos mais
integrados socialmente da terra. Falam uma mesma língua, sem dialeto
(grifo meu, folha de São Paulo, 5/2/95).
Esse mito é muito prejudicial à educação porque, ao não reconhecer a verdadeira diversidade do
português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma lingüística como se ela se ela fosse, de fato, a língua
comum a todos os 160 milhões de brasileiros, independentemente de sua idade, de sua origem geográfica, de sua
situação socieconômica, de seu grau de escolarização.etc.b (pg . 15)
Embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um
alto grau de diversidade e de variabilidade, não só pela extensão territorial do país que gera as diferenças
regionais, mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo pais com a pior
distribuição de renda em todo mundo. São essas graves diferenças de status social que explicam a existência, em
nosso país, de um abismo lingüístico entre os falantes das variedades não-padrão do português brasileiro que são
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a maioria de nossa população e os falantes da (suposta) variedade culta, em geral mal definida, que é a língua
ensinada na escola.
Como diz Maurizzio Gnerre (2000) em seu livro de linguagem, escrita e poder, a Constituição afirma que
todos os indivíduos são iguais perante a lei, mas essa mesma lei é redigida numa língua que só uma parcela
pequena de brasileiros consegue entender. É claro que Gnerre não está querendo dizer que a Constituição deveria
ser escrita em língua não padrão, mas sim que todos os brasileiros a que ela se refere deveriam ter acesso mais
amplo e democrático a essa espécie de língua oficial que, restringindo seu caráter veicular a uma parte da
população, exclui necessariamente uma outra, talvez a maior.(p. 17).
È preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituições voltadas para a educação e a cultura
abandonem esse mito da “unidade” do português no Brasil e passem a reconhecer a verdadeira diversidade
lingüística de nosso país para melhor planejarem suas políticas de ação junto à população amplamente
marginalizada dos falantes das variedades não-padrão (p. 18)
O preconceito lingüístico se baseia na crença de que só existe, como vimos no mito 1, uma única língua
portuguesa digna deste nome e que seria a língua ensinada nas escolas, explicada nas gramáticas e catalogada nos
dicionários. Qualquer manifestação lingüística que escape desse triangulo escola-gramática dicionário é
considerada, sob a óptica do preconceito lingüístico, “errada, feia, estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é
raro a gente ouvir que “isso não é português”.
Na visão preconceituosa dos fenômenos da língua, a transformação de L em R nos encontros
consonantais como em Cráudia, chicrete, praca ,broco, pranta é tremendamente estigmatizada e as vezes é
considerada até como um sinal do “atraso mental” das pessoas que falam assim.
Segundo Bagno, no livro Emilia no País da Gramática, publicado em 1934, por Monteiro Lobato já
chamava a atenção para esse tipo de preconceito, que no entanto continua firme e forte no Brasil de hoje.Numa
conversa com as crianças do sitio do Pica-Pau Amarelo, a velha Dona etmologia lhes diz (pp.100-101):
[...] Uma língua não para nunca. Evolui sempre, isto é, muda sempre. Há certos gramáticos que
querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro dizermos de modo diferente do
que diziam os clássicos.
- Quem ver a ser clássicos? - perguntou a menina [Narizinho].
- Os entendidos chamam clássicos aos escritores antigos, como o padre Antônio Vieira, Frei
Luís de Souza, o padre Manuel Bernardes e outros. Para os carranças, quem não escreve como
eles está errado. Mas isso é curteza de vistas. Esses homens foram bons escritores no seu tempo.
Se aparecessem agora seriam os primeiros a mudar, ou a adotar a língua de hoje, para serem
entendidos. (p. 32 e 33).
Outro modo interessante de romper com o circulo vicioso do preconceito lingüístico é reavaliar a noção
de erro. O vigor desse mito se depreende, por exemplo, num exercício de pesquisa sugerido por um livro didático
de publicação recente (Carvalho & Ribeiro, 1998:125). Após apresentar o poema “Erro de Português”, de Oswald
Andrade, os autores pedem ao aluno:
1. Procure localizar erros de português em cartazes, placas, ou até mesmo na fala de pessoas que você
conheceTranscreva-os em seu caderno.
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Ora, em cartazes e placas não aparecem “erros de português” e, sim, “erros” de ortografia. Escrever,
digamos Loginha De Artezanato onde a lei obriga a escrever Lojinha de Artesanato em nada vai prejudicar a
intenção do autor da placa: informar que ali se vende objetos de artesanato.
Neste caso, nem mesmo a realização fonética da placa “certa” e da placa “errada” vai apresentar
diferença. O fato também de haver “erro” na placa não significa de forma nenhuma que os objetos ali vendidos
sejam de qualidade inferior, “errados” ou “feios”.(pg. 122 -123).
Algumas pessoas me dizem que a eliminação da noção de erro dará a entender que, em termos de língua,
vale tudo. Não é bem assim. Na verdade, em termos de língua, tudo vale alguma coisa, mas esse valor vai
depender de uma série de fatores. Falar gíria vale? Claro que vale: no lugar certo, no contexto adequado, com as
pessoas certas. E usar palavrão? A mesma coisa.Usar a língua, tanto na modalidade oral como escrita, é encontrar
o ponto de equilíbrio entre dois eixos: o da adequabilidade e o da aceitabilidade. (p. 129 -130).
Quando falamos, ou escrevemos, tendemos a nos adequar à situação de uso da língua em que nos
encontramos: se é uma situação formal, tentaremos usar uma língua formal; se é uma situação descontraída, uma
linguagem descontraída, e assim por adiante. (pg. 130)
Conforme Bagno, a atitude tradicional do professor de português, ao receber um texto produzido por um
aluno, é procurar imediatamente os “erros”, direcionar toda a sua atenção para a localização e erradicação do que
está “incorreto”. É uma preocupação quase exclusiva com a forma, pouco importando o que haja ali de conteúdo.
È sobretudo aquilo que chamamos de paranóia ortográfica: uma obsessão neurótica. Aliás, uma porcentagem
enorme do que todo mundo chama de “erro de português” diz respeito a meras incorreções ortográficas (Bagno,
p. 131)
É importante ressaltar que, saber ortografia não tem nada a ver com saber a língua. São dois tipos
diferentes de conhecimento, portanto não faz parte da gramática da língua, ou seja, das regras de funcionamento
da língua.
Várias são as tentativas de classificação de fatores que possam influir na maneira de falar.
As formas em variação adquirem valores em função do poder e da autoridade que os falantes detém nas
relações econômicas e culturais. Assim, uma variante como presença de marca de plural no sintagma nominal, é
conhecida como detentora de prestigio social entre os membros da comunidade, sendo por isso chamada variante
padrão ou de prestigio. Já sua alternativa, a ausência de marca de plural, é conhecida como variante não-padrão.
È importante ressaltar que, fatores como idade, sexo e ocupação motivam a distinção entre a linguagem
comum e as linguagens especiais. Sendo a primeira o inventário lexical e sintático referente aos conceitos
comuns a todos os membros de uma comunidade lingüística relativamente homogênea. Já as linguagens especiais
contrastam com a comum por consistirem em variedades dialetais próprias das diversas subcomunidades
lingüísticas.
A variável como objeto de estudo representou uma inovação na teoria da linguagem com o surgimento da
sociolingüística, porque até então, todas as unidades lingüísticas fone, fonemas, morfemas, sintagmas e orações
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eram unidades de natureza invariante, discreta e qualitativa. A unidade de análise criada pela sociolinguística tem
natureza, por definição, variável, continua e quantitativa (cf. Labov, 1966).
Como podemos perceber, a necessidade de mostrar a regularidade do processo de variação impeliu-nos,
depois, a uma definição mais precisa do conceito de variação, estendendo-o às circunstâncias sociais que
motivam seu surgimento, o que desaguou numa pequena tipologia, que inclui a variação geográfica, a social e a
estilística.
A gramática tradicional distinguia a Morfologia da Sintaxe, de acordo com critério das dimensões
relativas dos significantes. Assim, caberia a sintaxe estudar construções superiores à palavra (locuções, frases
etc., nas quais a palavra fosse a unidade constituinte mínima), e caberia a morfologia efetuar o estudo das
construções cujos constituintes mínimos fossem palavras, ou partes de palavras (sufixos, raízes, etc.)
Desde os antigos gramáticos se nota a preocupação de distribuí-las em oito classes, chamadas partes do
discurso, que são: o nome, o artigo, o pronome, o advérbio, a preposição, a conjunção e a interjeição. No nome,
estão compreendidos o substantivo o adjetivo e os numerais¹.
A concepção de erro é que: só seria erro a ocorrência de formas ou construções que não fazem parte, de
maneira sistemática, de nenhuma das variantes de uma língua. (p. 79).
Nessa concepção, Marcos Bagno (2004) considera a variação da concordância nominal (concordância de
número), fenômeno que é analisado nesta pesquisa, como marcas de plural redundantes que acabam sendo
desnecessárias e por isso podem ser eliminadas (cf. BAGNO 2004 . P 48-55).
Destas classes de palavras, as quatros primeiras são variáveis, isto é, flexionam-se para indicar várias
relações; as quatro últimas são invariáveis, ou não se modificam.
As coisas que nos cercam podem ser encaradas objetivamente, em seu ser ou substância, e a palavra com
que as designamos é o substantivo; ou subjetivamente, em sua forma exterior ou qualidade, e temos o adjetivo; ou
ainda em sua multiplicidade, e surgem os numerais (Coutinho, p. 221).
Os lingüistas da atualidade, e já desde Saussure, tanto os estruturalistas, como Hjelmslev e Pottier, quanto
os gerativo-transformacionalistas, que não levam em conta a teoria dos níveis de descrição, apontam as
sobreposições freqüentes entre os dois setores e recusam-se a distingui-los; sintaxe, para eles; “começa a partir do
encontro de dois morfemas.” (parecer de Pottier), e seria mais apropriado falar-se, nesse caso, em Morfossintaxe.
1. Quadro Geral Das Variações Por Gênero E Idade
Neste tópico, falaremos dos critérios utilizados para a referida pesquisa os quadros que seguem foram
enumerados em relação às questões e as variações que selecionei para fazer a análise. Segue por gênero
masculino e feminino, pois o recorte foi necessário porque as variações selecionadas propiciam melhor responder
as questões da pesquisa. Além disso, apresentarei os desafios em todo o percurso do processo de pesquisa que
possibilitará a passagem para o estágio seguinte, que é analise dos dados, na qual poderão ser discutidos os
resultados que foram obtidos.
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Este quadro é uma parte da amostragem do total de variações que houve por cada gênero e idade, procuro
demonstrar a relação entre as variações não escolhe sexo, idade e muito menos escolaridade. Portanto é fato que
observamos através desta pesquisa, a mudança existe independentemente de um nível maior ou menor de
alfabetização.
Masculino
Idade
10 anos
11 anos
12 anos
13 anos
14 anos
Feminino
total
Idade
7
3
0
1
1
12
10 anos
11 anos
12 anos
13 anos
x-x-
total
3
2
1
1
7
2.1 Análise
Este tópico tem como ênfase principal analisar a variação e mudança da oralidade para a escrita. A
proposta de análise é demonstrar que os falantes (no caso aqui os alunos) geralmente escrevem do “jeito” que
falam, ou seja, tentam reproduzir no sistema da escrita o sistema da fala, independentemente de sexo, idade e
escolaridade. Embora obtive respostas para as 30 questões, utilizamos para análise as que mais destacaram,
porém aquelas que houve mais variações ou mudança na escrita, ou seja, aquelas variações que nos propiciam
uma melhor análise para as nossa questões.
2.2 Quadro: a tabela a seguir é de alunos do sexo masculino com idade de 10 a 14 anos
Neste quadro está o número de cada questão que foi selecionada por haver mais variações na língua
escrita dos alunos do sexo masculino com idade de 10 a 14 anos.
Questões
1.tesoura
2. queijo
3. domingo
4.torneira
5.vassoura
6.cadeado
7. leite
8.açougue
9. manteiga
10. geladeira
11. voam
12.frio
13.caixa
14. porteiro
15. roupa/roupas
Variações
Tesoura/ tezoura/tessura/maquina de costurar/tessora
Queijo/quejo
Domingo/doming/danigo
Torneira/tronera/toneire/troneira
Vassoura/vasoura/vazoura/viassora/vasolra
Cadeado/cadiado
Leite/ açúcar
Açougue/assolgue/asogue/açogue/asoge/assogue/ açoge
Manteiga/margarina/narina/mantega/mantiga/mateiga
Geladeira/geladera/gladeira/geladeiras
Voar/voo/voou/voa/vaouo/vair/voão/voua/voo
Frio/friu/vio/vrio/fril/fio
Caixa/não houve variação
Porteiro/poteiro
Roupa/roupas/camisetas/ropas/roipas
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16. batedeira
17. cadeira/cadeiras
18.enfermeira/enfermeiro
19.queixo
20.lixeira
21.travesseiro
22. emagrecer
23.dinheiro
24.carteira
25.relógio
26.colher
27.touca
28.pulseira
29.pentear
30. dez
Batedeira/baledeira/liquidificador/batedera
Cadera
Enfermeira/enfermeiro/emfermera/enfermero/infermeira/
infermeiro/erfermera/funcionarios
Queixo/quicho/quejo/quexo
Lixeira/lixira/lixero/lixeiro
Travesseiro/traviseiro/traveseiro/trabisero/touca/toca/tragiseiro
Emagrecer/imagrecer/inagice/imagriser/fica
magro/
esmagreser/emagreser/esmagrecer
Dinheiro/diheiro/denheiro/reais
Carteira/pasta/catera
Relógio/reloso
Colher/culher/coler/colhe
Touca/toca/boné/bome
Pulseira/pucuro/pulceira/pulcera/pulsera/pusera/puseira/pucera/ puseiro
Pentear/para calela/pentiar o cabelo/penentea o cabelo/para pentear o
cabelo
Dez/10(dez) 10/dez(10)
2.3. A tabela a seguir é de alunos do sexo feminino com idade de 10 a 13 anos
Neste quadro está o número de cada questão que foi selecionada por haver mais variações na escrita dos
alunos do sexo feminino com idade de 10 a 13 anos e seguido das questões e as variações obtidas pela alunas que
na seqüência serão analisadas dadas as especificidades das variações.
Questões
01 tesoura
02 queijo
03 domingo
04. torneira
05. vassoura
06.cadeado
07. leite
08.açougue
09. manteiga
10.geladeira
11. voam
12.frio
13. caixa
14. porteiro
15. roupa/roupas
16.batedeira
17.cadeiras/cadeira
18.enfermeira/enfermeiro
19. queixo.
20. lixeira
21.travesseiro
22. emagrecer
Variações
Tesoura /Tezoura
Não ocorreu variação
Domingo /domigo - doningo
Não houve variação
Vassoura/ vasoura
Cadeado /Cadiado
Queijo uma resposta não esperada
Açougue Asougui/ acoque/ asoque/ assoque/
asougue
Manteiga /Margarina/
Geladeira /gelaira
Vou/ voo /voa/ voão
Frio
Caixa /coixa
Porteiro não houve variação
Roupa /roupas/ ropa
Batedeira/ badeira/bateteira
Cadeira/ cadeiras
Enfermeira/enfermeiro/
infermeira/
ifermeiro/emfemeira/ifermeiro
Queixo/dente/queijo
Lixeira/licheira/latão/lixairo
Travesseiro/toca/ trabiseiro
Emagrecer/ inmagreser/ enagrese/ emagreser/
imagreser
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23. dinheiro
24. carteira
25. relógio
26. colher
27. touca
28. pulseira
29.Pentear
30. dez
Dinheiro/dinhero/ dimheiro
Carteira/ cardeira/ carteiro
Relógio (não houve variação)
Colher (não houve variação)
Touca/ lenço/ toca/ lenço
Pulseira/
pucera/porseira/pusera/pulsera/
porceira
Pentear/cabelo/escovar
Dez/10 dez/10
a)
Na questão (1): foi perguntado o que a costureira utiliza para cortar o tecido? A resposta esperada
era? /tesoura/
Os informantes do sexo masculino como do sexo feminino registraram ortograficamente variadas
respostas que seguem logo abaixo:
- tezoura/ os dois informantes do sexo oposto responderam, houve uma assimilação consonantal aproximou uma
consoante que pronunciada não é percebida, metaplasmo por permuta do /s/ pelo /z/. Ocorrência: masc 02; fem:
01
-/tessoura/- modificação pelos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por aumento, acréscimo do
fonema /s/ no meio da palavra, processo chamado de êpentese.
Ocorrência: masc:01.
-/tessura/- resposta obtida apenas por informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por aumento,
acréscimo do fonema /s/ no meio da palavra, processo chamado de êpentese, houve metaplasmo por subtração na
queda do fonema /o/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc: 01 , fem: 0
-/tessora/ - resposta obtida apenas por informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por aumento,
acréscimo do fonema /s/ no meio da palavra, processo chamado de êpentese, houve metaplasmo por subtração de
um fonema /u/ no interior da palavra ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc: 01, fem: 0
b) Na questão (4): foi perguntado onde é encaixada a mangueira para sair água? A resposta esperada era?
Torneira/
os informantes do sexo feminino responderam corretamente a questão.Mas os informantes do sexo masculino
registraram várias respostas ex: /tronera/toneire/troneira.
c)
Na questão (5): foi perguntado o que é usado para varrer a casa?A resposta esperada era?vassoura/. Os
dois informantes do sexo oposto responderam ortograficamente muitas variações para esta resposta
-/vasoura/ - modificação por ambos os sexos, houve metaplasmo por subtração na queda do fonema /s/ no
vocábulo ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc:06; fem:04.
-/vazoura/ - obtida por informantes do sexo masculino, ocorreu metaplasmo por permuta do /ss/ por /z/
ocasionando uma dissimulação consonantal. Ocorrência: masc:01, fem:0
-/vasolra/ - apenas os informantes do sexo masculino apresentaram esta resposta, houve metaplasmo por
subtração do fonema /s/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope, também metaplasmo por permuta troca
do /u/ /l/ ocorrendo uma assimilação. Ocorrência:Masc: 01; Fem:0.
-/viassora/- apenas os informantes do sexo masculino apresentaram esta resposta, houve metaplasmo por
subtração de um fonema /u/ no interior da palavra ocorrendo uma síncope, também metaplasmo acréscimo do i
-/vassora/ - apenas os informantes do sexo masculino, queda de um fonema por outro já existente; também
metaplasmo por subtração no interior do vocábulo com a queda do /u/ ocorrendo uma síncope. Ocorrência:masc:
01; fem:0
A partir das análises, podemos considerar o seguinte: das variações totais, 12 realizadas pelo gênero
masculino enquanto que 07 do gênero feminino. A maior variação para os dois gêneros diz respeito aos
metaplasmos por subtração, caso de síncope para o fonema /s/ e o segundo também por subtração, mesmo caso,
mas com o fonema /u/.
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d)
Na questão (8): foi perguntado sem ser no mercado, onde mais se vende carne? A resposta esperada era?
Açougue/ .houve respostas ambos os sexos.
-/asougue/ obtida por sexo feminino; houve metaplasmo por permuta com assimilação consonantal do /ç/ por /s/.
ocorrência:masc:0; fem:01.
-/asogue/ resposta obtida pelos informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal do /ç/ por /s/, também houve metaplasmo por subtração com a queda do /u/ no interior do vocábulo
ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc:01;fem 0.
-/açouge/- respostas dos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por subtração com a queda do /u/ no
final do vocábulo. Ocorrência: masc:01; fem:0
-/asougui/- resposta apenas de informantes masculino, houve metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal do /ç/ por /s/, houve metaplasmo por subtração com a queda do e no final do vocábulo.Ocorrência:
masc: 01; fem:0
- /açogue/ - resposta obtida pelos informantes do sexo masculino, metaplasmo por subtração na queda do /u/,
ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc: 01; fem:0.
-/asoge/ - resposta dos informantes sexo masculino, houve metaplasmo por permuta com a assimilação
consonantal do /ç/ por /s/ e também metaplasmo por subtração que consiste na queda de uma silaba medial por
haver outra idêntica ou quase idêntica na mesma palavra neste caso ocorreu haplogia com a queda de dois /u/
mediais. Ocorrência: masc:01; fem: 0
-/açoge/-respostas dos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por subtração com a queda do /u/ no
interior da palavra e no final. Ocorrência: masc:01; fem:0.
As análises demonstram que há um índice considerável de variação, para o gênero masculino 11, e para o
gênero feminino 6. A maior variação ocorreu por metaplasmos de subtração, caso de síncope do fonema /u/ para
o gênero feminino. A maior variação para o masculino foi a ocorrência de metaplasmos por permuta do /ç/ pelo
/ss/. Outra ocorrência significativa foi a de assimilação e subtração do /ç/ por /s/.
g) na questão (18): foi perguntado qual é o nome de quem cuida dos pacientes que ficam no hospital sem ser os
médicos e os parentes? A resposta esperada era? Enfermeira/enfermeiro
-/emfermera/- resposta dos informantes; houve metaplasmo por permuta ocorrendo assimilação consonantal na
troca do /n/ por /m/, metaplasmo por subtração na queda do fonema /i/ no interior do vocábulo.
Ocorrência:mas:01; fem:0
-/emfemeira/- resposta modificada por informantes do sexo feminino, houve metaplasmo por assimilação
consonantal na troca do /n/ por /m/. houve metaplasmo por subtração na queda do fonema /r/, no interior do
vocábulo. Ocorrência: masc:0; fem:01.
-/enfermero/- resposta dos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /a/
por /o/, e também houve metaplasmo por subtração na queda do fonema /i/ no interior da palavra ocorrendo uma
síncope. Ocorrência:masc:01; fem:0.
-/infermeira/ - resposta obtida pelos informantes do sexo oposto, houve metaplasmo por permuta na troca da
vogal /e/ por vogal /i/. Ocorrência:masc:01 ; fem:01
-/ifermero/ - houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /e/ por /i/, metaplasmo por subtração na queda do
fonema /r/ surgindo uma síncope, houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /a/ por /o/.Ocorrência:
masc:0; fem:01
- Infermeiro/ - houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /e/ por /i/ e também na troca da vogal /a/ por /o/.
Ocorrência: masc: 01;fem:0
-/erfermera/ - resposta obtida pelos informantes do sexo, houve metaplasmo por subtração na queda do fonema
/i/, houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /n/ por /r/. Ocorrência: masc: ;fem:
-/ifermeiro/- houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /e/ por /i/ e também na troca da vogal /a/ por /o/,
houve metaplasmo por subtração na queda do fonema /r/ e do /n/ surgindo uma síncope. Ocorrência:masc: ;
fem:
h) Na questão (21) O que as pessoas usam para por na cabeça ao dormir? A resposta esperada era? travesseiro
a pergunta citada poderia ser feita da seguinte forma: o que as pessoas usam para apoiar a cabeça ao dormir?
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-/Trabiseiro/ - houve metaplasmo por permuta na troca de um fonema sonoro /v/ por outro /b/ ocorrendo
sonorização. Ocorrência: masc:0 ; fem:01.
-/traveseiro/- resposta modificada pelos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por subtração com a
queda de fonema /s/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc:02; fem:0.
-/traviseiro/- resposta variada apenas por informantes do sexo feminino, houve metaplasmo por permuta na troca
da vogal /e/ por /i/, houve metaplasmo por subtração com a queda do interior do vocábulo ocorrendo uma
síncope. Ocorrência: masc:01; fem:0.
-/trabisero/- resposta variada apenas por informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por permuta na troca
de um fonema sonoro /v/ por outro /b/, também houve metaplasmo por subtração com a queda do fonema /s/ e do
fonema /i/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc: 01; fem:0.
-/tragiseiro/- houve metaplasmo por permuta na troca de um fonema sonoro /v/ por outro /g/. Ocorrência:
masc:01; fem: 0
Podemos notar que houve mais variação pelo gênero, 05, contra 01 do feminino. Ocorrência significativa
de metaplasmos por permuta na troca do fonema /v/ para /b/ e de subtração do fonema /e/ por /i/.
i) Na questão (22) O que as pessoas obesas pretendem quando fazem regime? A resposta esperada era?
Emagrecer.
-inmagreser/- houve metaplasmo por aumento com acréscimo do fonema /n/ no interior do vocábulo surgindo
uma epêntese.Ocorrência: masc:0; fem:01.
-/enagrese/ - resposta obtida por informantes do sexo feminino; houve metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal na do fonema /c/ por /s/ e do fonema /m/ por /n/. Houve metaplasmo por subtração com a queda do
fonema /r/ no fim do vocábulo ocorrendo uma apócope. Ocorrência: masc:0;fem:01.
-/emagreser/- resposta variada por informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por permuta com
assimilação consonantal na do fonema /c/ por /s/. Ocorrência: masc: 01; fem:0.
-/esmagrecer/-resposta obtida pelos informantes do sexo masculino, houve apenas metaplasmo por aumento com
acréscimo também do fonema /s/ no interior da palavra ocorrendo uma epêntese. Ocorrência: masc:01; fem:0.
-/esmagreser/-resposta obtida pelos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por aumento com
acréscimo do fonema /s/ no interior da palavra ocorrendo uma epêntese , tanmbém metaplasmo por permuta na
assimilação consonantal troca do /c/ por /s/. Ocorrência: masc; ; fem: 0.
-/imagreser/- resposta variada pelos dois informantes do sexo oposto; houve metaplasmo por permuta tanto na
troca da vogal /e/ por /i/ ainda metaplasmo por permuta na assimilação consonantal troca do /c/ por /s/ .
Ocorrência: masc:01; fem:01.
-/imagracer/- resposta variada apenas por informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por permuta na
troca da vogal /e/ por /i/ e /e/ por /a/.Ocorrência: masc:1; fem:0.
-/imagrecer/- resposta obtida pelos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por permuta na troca da
vogal /e/ por /i/. Ocorrência: masc: 01; fem:0
-/imagriser/-resposta obtida pelo sexo feminino; houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /e/ por/i/ e
ainda metaplasmo por permuta na assimilação consonantal troca do /c/ por /s/. Ocorrência:masc:0; fem:01.
Nesta análise podemos considerar que a maior variação está no gênero masculino. Uma das ocorrências
bem significativas é de metaplasmos por acréscimo do fonema /s/ e metaplasmos por permuta com assimilação na
troca do fonema /c/ por/s/ e /ss/. Tanto pelo gênero masculino como feminino
Na questão (28): foi perguntado O que a mulher usa no pulso sem ser relógio? A resposta esperada era
pulseira\
-/pulcera/ - resposta variada pelos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por subtração com a queda
do fonema /i/ no interior da palavra ocorrendo uma síncope, e metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal com a troca do fonema /s/ por /c/. Ocorrência: masc:01; fem:0.
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-/porceira/ - resposta obtida pelos informantes do sexo feminino; houve metaplasmo por permuta da vogal /u/ por
/o/ e também dissimilação com a queda do fonema /l/ por /r/ por ser semelhante na palavra existente. Ocorrência:
masc:0; fem:01.
-/porseira/ - resposta variada por informantes do sexo feminino; houve metaplasmo por permuta na troca da
vogal /u/ por /o/ e também dissimilação com a queda do fonema /l/ por /r/ por ser semelhante na palavra
existente. Ocorrência: masc:0; fem:01.
-/pusera/ - resposta variada por informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por subtração com a queda
dos fonemas /l/ e /i/ ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc:01; fem:0.
-/pulsera/: houve metaplasmo por subtração com a queda do fonema /i/ no interior da palavra ocorrendo assim
uma síncope. Variação desta palavra em ambos os sexos. Ocorrência: masc:01; fem:01.
-/pulceira/: - resposta variada pelos informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por permuta com
assimilação consonantal na troca do fonema /s/ por /c/. Ocorrência: masc: 01; fem:0.
-/puseira/: - resposta variada por apenas por informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por subtração
com a queda do fonema /l/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope, metaplasmo por permuta com
assimilação consonantal na troca do fonema /s/ por /c/. Ocorrência: masc:01; fem:0.
-/pucera/: -resposta variada por informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal na troca do fonema /s/ por /c/ e também houve metaplasmo por subtração com a queda do fonema /l/
e /i/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope. Ocorrência: masc:01; fem: 0.
-/puseiro/: -resposta obtida apenas pelos informantes do sexo masculino; houve metaplasmo por subtração com a
queda do fonema /l/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope, metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal na troca do fonema /s/ por /c/ e também houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /a/ por /o/.
Ocorrência: masc:01; fem:0.
-/poseira/: - resposta variada pelos informantes do sexo masculino, houve metaplasmo por subtração com a
queda do fonema /l/ no interior do vocábulo ocorrendo uma síncope, metaplasmo por permuta com assimilação
consonantal na troca do fonema /s/ por /c/ e também houve metaplasmo por permuta na troca da vogal /a/ por /o/.
Ocorrência: masc:01; fem:0
Podemos notar que houve mais variação pelo gênero masculino, oito, contra quatro do feminino.
Considerações Finais
A primeira parte deste trabalho corresponde às pesquisas bibliográficas, com seleção e leitura de teorias
referentes ao tema pesquisado. Após obter a base teórica partimos na busca aplicando um questionário com trinta
questões para os alunos do 6º ano da Escola Estadual Dr. Martinho Marques para a realização do corpus da
pesquisa.
Para melhor visualização e análise de dados obtidos, os resultados foram dispostos em tabelas conforme
anexos.
Com base nas questões respondidas constatamos que os informantes, da maneira que eles falam eles
escrevem ocorrendo variação.
A língua é um elemento social da linguagem. Cada língua nasce de uma convenção dos membros de uma
sociedade. Esses membros têm de conhecer os sinais convencionais para se comunicarem. Quando falamos, ou
escrevemos, tendemos a nos adequar à situação de uso da língua em que nos encontramos: se é uma situação
formal, tentaremos usar uma língua formal; se é uma situação descontraída, uma linguagem descontraída, e assim
por diante. (pg. 130).
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O referido trabalho teve como objeto principal fazer uma análise das respostas dos alunos referente ao
questionário aplicado, e assim destacar a variação ou estilo diferente de cada aluno na escrita baseando-se em
pressupostos teóricos estudados sobre os metaplasmos que foi o foco da pesquisa.
Embora esta pesquisa não seja de grande porte, trata-se da amostragem que comprovou que mesmo
estando em constante aprendizado sobre as regras gramaticais, a variação ocorre seja na oralidade ou na escrita
independente de sexo, idade e principalmente escolaridade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, Marcos. Preconceito Lingüístico – o que é e como se faz 23ª ed. São Paulo-SP: Edições Loiola, 2003
COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. Linguística e Filologia. 6ª ed. Rio de JaneiroRJ: Livraria Acadêmica, 1974.
LOPES, Edward. Fundamentos da Lingüística Contemporânea. Editora Cultrix , 23ª ed. São Paulo-SP, 1997
MUSSALIM, Fernanda & BENTES, Anna Christina (orgs) Introdução à Lingüística: domínios e fronteiras.
Ed. 4ª São Paulo Cortez, 2004.
SANTANA, Maria Pastoura Benedita de. Metaplasmo: Entre o oral e o escrito, 2009.
VANOYE, Francis. Usos da Linguagem Problemas e Técnicas na Produção Oral e Escrita. Editora Martins
Fontes ,12ª ed. São Paulo, 2003.
Recebido Para Publicação em 30 de dezembro de 2011.
Aprovado Para Publicação em 23 de janeiro de 2012.
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metaplasmos: a diferença entre a fala e a escrita