Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 O AMOR-TRÁGICO: DIÁLOGUISMO ENTRE LA CELESTINA E ROMEU E JULIETA Maria da Conceição Rodrigues Palanca (mestranda/UFS) CONSIDERAÇÕES INICIAIS Comparar é algo inerente à natureza humana e é na comparação onde encontramos o eixo norteador que nos impulsiona, fazendo-nos, passo a passo, escolha por escolha, seguir construindo uma narrativa, particular ou coletiva. Nesse sentido, é a comparação entre elementos e as escolhas finais, amparadas por contextos, que vão constituindo a história, tanto pessoal quanto da própria humanidade. Desse modo, aproximando-se do processo da escritura, podendo então, a vida humana, ser lida como um infindável texto no qual várias histórias se intercruzam tecendo um interminável livro. Entretanto, é nos estudos literários onde o comparatismo apresenta maior complexidade devido à divergência entre variantes metodológicas e a diversidade de campos de atuação. (CARVALHAL, 2006, p. 06). Nosso objetivo é, amparados pelos conceitos de ambivalência e diálogo, desenvolvidos por Bakhtin, e de recepção, aportados por Iser e Jauss, promover uma leitura comparada da tragicidade do amor em “La Celestina” e “Romeu e Julieta”. A INTERTEXTUALIDADE E A RECEPÇÃO: PANORAMA TÓRICO Três tendências, a francesa, a americana e a dos países do Leste europeu influenciaram nos estudos da Literatura Comparada, promovendo diferentes concepções embasadas, respectivamente, na tradição teórica, na fenomenologia e na dialética entre sociedade e literatura, porém, estando presente como eixo norteador, nas três escolas anteriormente citadas, o conceito de influencia, ora sendo substituído por outro conceito, o da intertextualidade, ora tomando novo fôlego, dentro do conceito da teoria da recepção. (NITRINI, 1997, p. 125). “A intertextualidade fundamenta-se numa teoria totalizante do texto, englobando suas relações com o sujeito, o inconsciente e a ideologia, numa perspectiva semiótica.” (NITRINI, 1997, p. 158) Para Julia Kristeva todo texto é construído a partir de outro [s] texto [s], estabelecendo-se entre eles uma relação de afinidade; entretanto, considerando a inserção em diferentes contextos, promovendo 1 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 também uma rede de infinitos significados. A intertextualidade de Kristeva apoiou-se nos pensamentos de Bakhtin, sobre o dialogismo no discurso literário, sendo importante também ressaltar outros estudiosos pelo conjunto de reflexões que motivaram novos conceitos, dentre eles, Iuri Tynianov sobre a evolução literária, Jan Mukarovsky sobre a função estética e sobre a arte como fato semiológico. Estes estudiosos reconhecidos como os Formalistas Russos ampararam suas pesquisas sobre a teoria linguística de Ferdinand de Saussure (CARVALHAL, 2006, p. 29) Para chegar à elaboração do conceito de intertextualidade articulado por Kristeva, pautando-nos em Sandra Nitrini (1997), abordando as reflexões e proposições de Bakhtin ao analisar a poética de Dostoïevisk, onde o estudioso não priorizou compreender “como é feita a obra”, mas situá-la "no interior de uma tipologia dos sistemas significantes na historia". (CARVALHAL, 2006, p. 30) De acordo com Sandra Nitrini: Bakhtin foi um dos primeiros formalistas que procuraram substituir a segmentação estática dos textos por um modelo segundo o qual a estrutura literária se elabora a partir de uma relação dialógica com outra. Isso só tornou-se possível graças à sua concepção de “palavra literária”, entendendo-se por “palavra” a ideia de enunciado, no âmbito de uma ciência da linguagem, por ele chamada de translingüística. Esse conceito, ao lado de dois outros, “diálogo” e “ambivalência”, abriu caminho para erigir a teoria da intertextualidade. (NITRINI, 1997, p. 158) Como observa a autora, as ideias de Bakhtin contrapõem-se ao pensamento logocêntrico, de uma voz única e autoritária no discurso, o monolinguíssimo estático dá lugar ao dialogismo, caracterizado pelo entrecruzamento do sujeito enunciador com a palavra do discurso, estabelecendo um diálogo entre diferentes registros, o escritor, o leitor, o personagem e o contexto histórico. Dessa forma, trazendo ao texto uma relação com a história e a sociedade. A essa inserção do texto à história e da história ao texto, Bakhtin adotou o termo “ambivalência” (NITRINI, 1997, p. 159) Para esclarecer esse conceito, Nitrini propõe retomar o termo “palavra”. De acordo com Bakhtin, há três significados de palavra: “A palavra direta, relacionada ao sujeito, é o discurso do autor expresso de modo unívoco e denotativo. A palavra objetal, relacionase ao discurso direto da personagem também unívoca e denotativa, é um enunciado subordinado ao ato narrativo. A palavra ambivalente possui caráter múltiplo e ocorre quando o autor se vale do discurso de outrem “para injetar um sentido novo”, 2 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 conservando o sentido que o enunciado já tinha” (NITRINI, 1997, p. 161) Desse modo, Bakhtin relaciona o livro a uma rede de discursos que se intercruzam, formada por elementos internos (sujeito-destinatário) e externos (texto-contexto), constituída por diferentes vozes internas (polifonia) que se relacionam a contextos histórico-sociais. Dessa forma, “a palavra (o texto) é um cruzamento de palavras (textos) onde se lê: pelo menos, uma outra palavra (texto).” (NITRINI, 1997, p. 161) A partir dessa noção de ambivalência da palavra, Kristeva postula o conceito de intertextualidade e a linguagem poética se define como dupla: “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”. De acordo com Tânia Carvalhal, uma vez definida a palavra como dupla e ambivalente, não é mais possível utilizar a dicotomia saussuriana de significante/significado, posto que a linguagem poética é sempre dupla e atua como vértice multideterminado. Dessa forma, Kristeva postula uma visão paragramática da linguagem poética, que encerra algumas acepções importantes, tais como: a linguagem poética é a única infinidade do código; o texto literário é um duplo: escritura-leitura; o texto literário é uma rede de conexões. (CARVALHAL, 2006, p. 29) Dessa forma, “o livro remete a outros livros e, pelo processo de somação, confere a outros livros um novo modo de ser, elaborando assim a sua própria significação.” (NITRINI, 1997, p. 163) E prossegue a mesma autora: Há, portanto, três elementos em jogo: o intertexto (o novo texto), o enunciado estranho que foi incorporado e o texto de onde esse último foi extraído. E há dois tipos de relações a considerar na problemática intertextual: as relações que ligam o texto de origem ao elemento que foi retirado, mas já agora modificado no novo contexto, e as relações que unem este elemento transformado ao novo texto, ao texto que o assimilou. Assim, a análise de uma obra literária buscará inicialmente avaliar as semelhanças que persistem entre o enunciado transformador e o seu lugar de origem e, em segundo lugar, ver de que modo o intertexto absorveu o material do qual se apropriou. (NITRINI, 1997, p. 164) Enquanto o conceito de influência atém-se à existência de um modelo ou fonte, para a intertextualidade a literatura é essencialmente uma relação de troca ou empréstimos entre as obras. Desse modo, Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser, com o intuito de renovar os estudos literários, voltaram-se para os estudos da estética da recepção, conceito que “se preocupa, sobretudo, com as operações receptivas, ou 3 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 seja, com os procedimentos efetuados pelo leitor no contato com a obra e suas consequências na conformação do publico (a receptividade da obra em sentido amplo)”. (CARVALHAL, 2006, p. 44) “Os estudos de recepção procuraram destacar a atividade daquele que recebe mais do que a atividade potencial do objeto recebido, de modo que a relação obraleitor passa a constituir um caráter fundamental do fato literário.” (NITRINI, 1997, p. 167) Na estética da recepção o leitor passa a ocupar uma posição destacada no processo de leitura, preenchendo lacunas, construindo espaços, agregando sentidos aportados pelo conhecimento prévio trazido de outras leituras. Nesse sentido, renovando o pensamento sobre influencia atrelado a origens e [autor] idade, possibilitando entende-la como processo de recepção e o autor, também, como um leitor, mantendo uma relação dialética com a história das interpretações. Da recepção por leitores diferente de um texto literário por leitores contemporâneos historicamente sucessivos depreende o “potencial de sentido” da obra. Com isso, Jauss se previne de uma concepção extremamente subjetivista e relativista na medida em que cada tipo de interpretação do texto legitima por disposições históricas, sociais, literárias, estéticas e pessoais de recepção. (NITRINI, 1997, p. 171) A reconstrução desses horizontes de expectativas pode dar respostas, segundo Jauss, à pergunta sobre como foi recebida pelo público uma obra literária, por que ela foi entendida numa determinada época de tal modo e, em outra, de outro. DE MELIBEA A JULIETA, HISTÓRIAS DE AMOR TRÁGICO. Desde a Grécia antiga a literatura brinda-nos com emoções intensas suscitadas pela inquietude dos desencontros amorosos. Histórias com infelizes finais que desconstroem a expectativa dos finais felizes dos contos principescos e, por vezes, parecem escapar desse universo em preto e branco das letras e invadir o mundo real através de personagens apresentados pelos noticiários policiais. Arte e realidade se intercruzam, como se uma oxigenasse a outra, como se a Arte fosse uma realidade no superlativo, ou a realidade um universo de prováveis possibilidades ansiando por realizar-se. Sem nenhuma poesia, a tragédia amorosa na vida humana, parece ser recontada sempre, sempre e sempre recordando-nos a Píramo e Tisbe, 4 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 Édipo e Jocasta, Eco e Narciso, Orfeu e Eurídice, Inês de Castro e Pedro, o final insano e solitário de Bentinho e Capitu e tantos outros que não concluíram suas histórias com o ansiado: “...e viveram felizes para sempre.” De todos romances com finais trágicos “Romeu e Julieta” é o mais recordado da literatura ocidental. Escrito em cinco atos pelo inglês Willian Shakespeare, entre 1591 e 1597, foi traduzido em diferentes idiomas, tornando-se reconhecido no mundo inteiro como um ícone do amor arrebatador e inconsequente, sendo, seus personagens, revisitados até os dias de hoje através do cinema, teatro, música e televisão, em um incessante e infinito diálogo. Que fatores influenciaram em sua fortuna? O reinado da rainha Elizabeth I (1558-1603), corresponde ao auge do Renascimento. Nesse período, considerado a Era de Ouro da Inglaterra com grande destaque para a literatura e a poesia, esse país alcança a posição de potencia mundial, assumindo o lugar da Espanha que estava em decadência. Grandes transformações sociais ocorrem nessa época, enquanto o comercio inglês influencia e se expande pelo mundo. Nesse panorama, cresceu o Teatro Elisabetano e autores como Shakespeare escreveram peças que renovaram o estilo tradicional inglês. Cabe destacar também que ao longo do século XIX o imperialismo inglês expandiu-se, tornando-se necessário um veículo que difundisse os valores culturais burgueses para as classes operárias e para os povos colonizados. Diante do caos instaurado durante a expansão inglesa, a literatura assume o papel da religião visando a promover princípios éticos e morais. Em Romeu e Julieta, os Montéquios e os Capuletos, famílias cuja antiga rivalidade promovera vários derramamentos de sangue, tornam-se uma só família diante da dor compartilhada perante os cadáveres dos filhos, jovens apaixonados e vitimados pelo desamor de suas famílias. A catarse, nesse contexto, é provocada não por um destino afortunado dos dois amantes, mas pela redenção provocada pela reconciliação das duas comunidades constituídas pelos personagens que compõem as famílias dos Montéquios e dos Capuletos. Desse modo, podemos perceber que a paz ou concórdia do coletivo torna-se mais importante que a do individual, representado pelo casal de enamorados. Já em “La Celestina”, publicada na Espanha em 1499, inicialmente sob o título de “La trágica comédia de Calixto y Melibea”, um século antes do romance shakespereano, dois jovens também se encontram e são acometidos por uma intensa 5 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 paixão, entretanto sua história de amor é assinalada pelo mal que conduzirá à tragicidade os dois amantes e a maioria de seus personagens. Por ser essa obra menos conhecida pelo público brasileiro, tentaremos iluminá-la com mais informações, iniciando pelo contexto histórico a que está inserido. Em “La Celestina” tudo é dubio ou intersticial, a autoria de Fernando de Rojasobjeto de infindáveis estudos acadêmicos - os aspectos religiosos entre o católico e o judeu - como a identidade do próprio autor, cristão-novo- assim como o período de sua publicação, entre Medieval e o Renascimento. Situando-se então no entre-lugar, do mesmo modo que as primeiras páginas supostamente encontradas por Rojas em um espaço entre pedras de uma parede. “La Celestina” es una obra de alcance universal, pero al mismo tiempo profundamente española. En este sentido hay que considerar la acusada dualidade que se observa en muchos de sus aspectos. Hay por ejemplo, una serie de elementos que responden a un doble punto de vista medieval-renacentista. Medieval sería el propósito moral que el autor declara persiguir con su obra (“compuesta en reprehensión de los locos enamorados”), yel presentar la muerte de protagonistas y criados como un castigo divino, ya que todo esto coincide con el critério religioso tradicional. En cambio, el suicidio por amor de Melibea, la audácia de algunas expresiones de Calisto y la sensualidade de muchas escenas responden plenamente a la ideologia y al ambiente paganos del Renacimento. Esta fusión de elementos renacentistas y medievales habrá de ser uno de los rasgos más típicos del siglo XVI español. (LOPEZ, 1972, p.134) Desse modo, qual a importância da obra dentro do compêndio da literatura espanhola e que tendências históricas, sociais e políticas podem ter aportado elementos à estrutura da obra? Segundo Menéndez Pelayo (1856-1912, filólogo, crítico literário, filósofo, historiador poeta e membro da Real Academia Espanhola em 1880), se não existisse Don Quixote, A Tragicomédia de Calixto e Melibea, como também é conhecida, seria a primeira entre as grandes obras da Espanha. A personagem Celestina, que dá nome a obra, figura ao lado das grandes criações humanas de todos os tempos e países, junto com Don Quijote, Sancho e Don Juan1 (ROJAS, 1994, p. 10). “Em 1473 (Zaragoza) e 1474 (Valencia) apareceram, segundo a tradição, os primeiros livros impressos.” (CASTRO, 1994, p. 8). Fator de extrema importância ao observarmos como “La 1 In: Estudio preliminar de Francesc-Lluís Cardona Castro, parte integrante da edição de La Celestina, constante na bibliografia. 6 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 Celestina” atingiu grande número de leitores e reconhecimento logo a partir da primeira aparição. Devemos considerar que em 1439 o alemão Johannes Gutenberg cria a impressão por tipos móveis, o que possibilitou a impressão em massa, até então os livros eram escritos manualmente, sua invenção espalhou-se em pouco tempo por toda a Europa, facilitando a produção, o registro e a difusão do conhecimento e a fortuna de “La Celestina”. Entretanto, o texto de Rojas não encontra o mesmo momento de apogeu em que vivencia Shakespeare na Inglaterra. O fim da Idade Média é marcado por profundas crises sociais decorrentes da recessão econômica, fome, déficit populacional e pestes - somente a Peste Negra foi responsável por reduzir a população da Europa Ocidental a um terço - o que levou os sobreviventes a um desespero generalizado e à paranoia, culminando com a perseguição dos judeus, acusados de serem os causadores de todas as adversidades por que passavam os cristãos. Fernando de Rojas, assim como o mito grego Melibea, que empresta seu nome a sua personagem, sobreviveu ao massacre de seus irmãos, no caso de Rojas, dos irmãos judeus, que até 1488 seriam mais de setecentos convertidos queimados e outros quinhentos presos, dentre eles seu pai. CONCLUSÃO Entre Calixto e Melibea não há o anseio por um casamento, também não há a intervenção de um religioso que interceda pelo casal visando à paz e à união entre grupos rivais, atrevemo-nos a considerar que nem mesmo há amor como em Romeu e Julieta. Tudo que há é cobiça e um desejo sem medida que transtorna Calixto após o rechaço da recém-conhecida Melibea, “¿Yo? Melibeo soy y a Melibea adoro y en Melibea creo y a Melibea amo” (ROJAS, p.57). Diante da recusa de Melibea, Calixto recorre aos serviços de uma feiticeira e alcoviteira, íntima do próprio diabo, cujo nome é Celestina. CELESTINA.- Conjúrote, triste Plutón, señor de la profundidad infernal, emperador de la Corte dañada, capitán soberbio de los condenados ángeles […] yo, Celestina, tu más conocida cliéntula, te conjuro por […] este hilado: vengas sin tardanza a obedecer mi voluntad e en ello te envuelvas e con ello estés sin un momento te partir, hasta que Melibea … lo compre e con ello de tal manera quede enredada […] e se le abras y lastimes de crudo y fuerte amor de Calisto, […] E otra e otra vez te conjuro. Y así confiando en mi mucho 7 Realização: Apoio: Anais do V SENALIC – TEXTOS COMPLETOS ISSN – 2175-4128 Organizadores: Gomes, Carlos; Ramalho, Christina; Ana Leal Cardoso São Cristóvão: GELIC, Volume 05, 2014 poder, me parto para allá con mi hilado, donde creo te llevo ya envuelto. (ROJAS, 1994, p. 95) Se em Julieta encontramos reciprocidade amorosa desde o primeiro encontro, em Melibea há pura paixão carnal induzida pelo feitiço. A bruxa Celestina não intercede por e pelo amor, como Frei Lourenço, mas pelas cem moedas de ouro que receberá de Calixto e que, nem bem as receba, provocará a morte sua e de dois servos do jovem, todos vitimados pela cobiça. A partir dessas primeiras mortes, seguirá a de Calixto e o suicídio de Melibea. No romance inglês a morte de Romeu e Julieta regenera valores e sentimentos, promovendo a paz entre as famílias. Entretanto, tudo que resta em “La Celestina” é desesperança e falta de sentidos para a vida humana através do lamento niilista de Pleberio, pai da jovem morta. O amor trágico, provável encontro entre os textos, apresenta-se imbricado em uma rede de conexões com elementos e tendências externas, estéticas, sociais e políticas que trazem sentidos aos espaços vazios observados no processo de leitura. Desse modo, a relação intertextual, tecida através de aproximações e contrastes, entre os textos comparados, realiza-se no diálogo entre literatura e cultura. REFERÊNCIAS CARVALHAL, Tânia Franco. Literatura Comparada. São Paulo, Ática 2006. LOPEZ, José Garcia. História de la literatura española. Barcelona, editorial Vices-Vives, 18ª ed. 1972. NITRINI, Sandra. Literatura Comparada: história, teoria e crítica. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1997. ROJAS, Fernando de. La Celestina o Tragicomédia de Calixto y Melibea, Clássicos Universales. Barcelona, Edicomunicación S.A, 1994. 8 Realização: Apoio: