Chamo-me Bárbara, tenho 36 anos e perdi o meu pai há 8 meses.
Um cancro de pulmão apareceu repentinamente e com ele metástases
ósseas...Diagnósticos e exames, quimioterapias e radioterapias....tudo para melhorar a
qualidade de vida, era já tudo para tratamento paliativo.
Começou em Setembro com o resultado de uma TAC…embora a dor no joelho tivesse
chegado em Maio. Metástases e a origem sem se saber onde estava….Outubro partiu
o fémur…metastizado e operação, internamento e mais exames…diagnóstico em 27 de
Outubro de 2011 – adenocarcinoma de pulmão com metástases ósseas e
ganglionares. Novembro consulta oncologia, e radioterapia, Dezembro Quimioterapia e
Janeiro ultima sessão…..Ficamos por aqui.
Pesquisei na internet mas pouca informação obtive e tendo 2 filhos pequenos queria
saber o que fazer quando tudo acontecesse e também queria saber como preparar
tudo....ou seja, como é a degradação, o que devemos ter em casa, cadeira de rodas,
camas, onde se trata disso, onde se procura, o que acontece com os cancros, como,
gostava de ter tudo pronto para quando fosse preciso, inclusivé o oxigénio.....sou muito
organizada e não queria que nada faltasse ao meu Pai.
O meu pai foi tratado num hospital público, onde as defesas humanas dos médicos
fazem com que por vezes pareçam não nos entender.
Foi tratado também no IPO onde sentia que toda a gente queria ajudar, encontrei
algumas ajudas lá, as enfermeiras muito queridas e o meu pai não estava a ser lá
seguido. O médico que o viu também sempre muito cuidadoso e muito querido.
No Hospital onde estava a ser seguido toda a equipe de enfermeiras e voluntárias
foram espectaculares, sempre queridas e atentas, faziam rir, ouviam mesmo quando
não tinham obrigação de o fazer. Obrigada a todas as pessoas que se dedicam a quem
precisa, sejam voluntários, enfermeiras ou médicos, todos!
O meu Pai não queria estar num hospital, não queria ficar nos cuidados paliativos
(estava muitíssimo lúcido até ao final) e apesar de inicialmente acharmos que um dia
teria de ser e acharmos que era o mais indicado pois tinha as melhores referencias
destes cuidados e das ajudas de toda a equipe médica, explicaram-nos que o que se
faz num hospital faz-se em casa e assim foi, criamos as condições para que o meu pai
pudesse ficar onde queria….que era estar no conforto da sua casa, para isso também
pesquisei sobre enfermeiros, cuidados domiciliários, tudo! No centro de saúde também
encontrei muita ajuda de todas as enfermeiras, dedicadas e amigas…. A elas recorria
muito para perguntar o que fazer, o que deveria tratar, como…..e lá consegui.
Em pesquisar descobri a AMARA e agradeço desde já a sua existência, contactei a
Carol Gouveia Melo, a psicóloga na AMARA.....em palavras e desabafos.....e senti um
alívio quando recebi a resposta, um alívio em saber que estava ali alguém, com quem
eu podia conversar, já que apesar de ter mãe e irmã era eu a principal cuidadora do
meu pai....e parecia que ninguém queria ver a realidade…..eu como estava sempre
com o meu Pai, trabalhava mas em todos os segundos livres estava lá. Vivi como pude
e com tanta dedicação ao meu Pai que criamos uma cumplicidade enorme e ao
acompanhar o meu Pai em todos os tratamentos e consultas sabia o que se ía
passando.
Senti na Carol um ombro, um apoio incondicional que apesar de não ser físico estava
lá sempre que eu precisasse e sim…..respondeu-me vezes sem conta com uma
paciência que só pessoas dedicadas sabem fazer. Sempre com “ouvidos”, Sempre com
palavras mesmo que duras, palavras de ajuda, sempre com algo a dizer para aliviar,
para tentar melhorar e até para tornar a minha dor e a do meu pai mais leve.
Conseguiu….OBRIGADA
Indicou-me livros que aconselho a todos que leiam, Dignidade e sentido da
vida….muito bonito, li-os rapidamente......pesquisei tudo e mais alguma coisa, li
testemunhos da AMARA que em muito me ajudaram pois falavam em diagnósticos
concretos, em lutas, algumas bonitas com um final feliz e com cura mas outras, mesmo
com finais tristes como o meu…também se leram com um sorriso pois junto da AMARA
soubemos sorrir ao nosso luto e aprender que a dor dói, uma parte de nós vai embora
e fica um vazio mas sabemos que tudo fizemos e a AMARA muito ajudou nesse
processo.
Somente sabia que o meu Pai estava a ir embora, pouco a pouco e sempre com um
sorriso, sempre a falar que ía fazer, íamos juntos no verão fazer coisas, que lhe caíria o
cabelo (não caiu) mas que no verão teria novamente...sempre com uma garra pela
vida.
Com 77 anos foi embora mas com toda a dignidade que também teve na vida.
Na noite de 16 de Março ficou em paz num sono profundo sem sofrimento, nem dor,
com um suspiro de alivio..... o medo da morte era grande.....mas Deus tratou de fazer
as coisas bem feitas, tal como na música e poema Pegadas do Senhor....nos
momentos maus pegou no meu pai ao colo e depois levou-o sem sofrimento.
Doi, custa e uma parte de mim foi embora mas estou certa que sem a ajuda constante
da AMARA bem como também da Liga Portuguesa contra o Cancro não teria
conseguido.....ajudou-me a aprender que deveria deixar o meu pai ir livremente, que
para nós custa pensar em ficar sem aquela pessoa mas ao meu pai tinha que estar a
custar pensar que ia ficar sem todos nós, filhas, mulher, netos, cão…..
O que tentei em vida foi proporcionar todos os desejos e momentos de alegria, tentei
que tivesse qualidade de vida e a sua dignidade sempre e assim foi!
Obrigada mais uma vez à AMARA que tanto fez e continua a fazer por mim.
Bárbara – [email protected]
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Testemunho Bárbara Albuquerque