Agradecimento à Associação Amara Da Associação Amara, retenho um verdadeiro apreço por o todo o seu trabalho desenvolvido na àrea dos Cuidados Paliativos em Portugal e uma imensa gratidão a nível pessoal por todo o apoio que recebi, nomeadamente, em três situações que se inserem no contexto de doença que assolou a vida do meu pai - Mariano Miguel - quando lhe foi diagnosticado em Outubro de 2006, uma Neoplasia Pulmonar ainda em fase inicial, pouco depois de ter completado os 72 nos de idade. Tomar conhecimento de uma doença do foro Oncológico desta natureza, provocou no meu pai um efeito devastador na sua vida pessoal a vários níveis, contudo, predispôs-se desde o início, a seguir rigorosamente e duma forma corajosa e paciente, todas as indicações médicas aconselhadas; apesar de ter sido informado pelos médicos de que o seu tumor era de origem maligna e inoperável. Dado que não havia tempo a perder, pelo facto de o tumor ter provocado uma trombose na veia cava superior e o risco de repetição se poder agravar, os tratamentos de Quimioterapia sobrevieram, duas semanas depois do veredicto. Contudo, quatro meses depois, perante o avanço incontrolável da doença e sofrimento físico foi necessário entrar na última fase dos tratamentos que consistiu na aplicação de sessões de Radioterapia. Nessa altura, a fragilidade a nível corporal era já tão acentuada que essa terapia foi acompanhada de novo internamento. O meu pai, entrou então rapidamente na fase terminal da sua doença e era urgente completar os seus apoios domiciliários com um acompanhamento profissional e exigente, no sentido de o preparar para o seu fim de existência. O aparecimento do contacto da Associação Amara, revelou-se nesse tempo de desespero para o doente e familiares, uma luz de esperança no conforto moral que representaria a acção dos Assistentes da Amara que nos passaram a visitar na casa do meu pai, poucos dias depois de feito o pedido de ajuda por telefone ao primeiro rosto da Amara: a Psicoterapeuta Helena-Hermine Aitken, reveladora duma intensa preocupação e desejo de intervir imediatamente perante a situação apresentada. Assim, dias depois, surgiu o primeiro apoio. Desde o primeiro instante que o profissionalismo especializado da primeira Assistente Helena Melo, se revelou para com o meu pai, na sua dimensão mais terna, humana e compreensiva. Guardo essencialmente da sua extrema dedicação e empenho no seu trabalho de voluntária, imagens de grande atenção e dum respeito paciente para com o meu pai, nos diálogos que mantinham por várias horas, nos telefonemas que a Helena Melo lhe fazia, por inúmeras vezes, mesmo depois da sua hora de visita; na introdução dum clima de alegria contagiante que fez o meu pai recuperar a sua vontade de sorrir de novo; manteve sempre uma intensa preocupação pelo bemestar do doente e pelos familiares mais próximos em todo o seu tempo de acompanhamento. Passados dois meses, pelo agravamento do estado de saúde do meu pai e pela necessidade de algum tempo de descanso da minha parte, como cuidadora permanente, recebemos o apoio adicional do Sr.Gil Menezes alternando nos dias de Rua Alves Redol, 4 – 4º C 2660-215 Santo António dos Cavaleiros voluntariado com a primeira assistente. De igual forma, o Sr. Gil Menezes soube sempre, no seu tempo dedicado ao meu pai, rodeá-lo de grande serenidade e paz, pela confiança que a sua presença amiga e atenta inspirava no doente. Demonstrou na sua acção de voluntariado, todo o seu interesse em ajudar e um profundo reconhecimento pela situação tormentosa que o doente atravessava. Não disponho de palavras adequadas para descrever o quanto agradeço, a felicidade que estes dois Assistentes da Amara conseguiram devolver ao meu pai nos seus últimos quatro meses de vida, conseguindo entregar-lhe o seu mundo perdido, o seu amor próprio, assim como, a confiança necessária para o caminho final que se aproximava num espaço temporal demasiado rápido, em relação ao seu e ao nosso sentir do tempo. A morte apareceu para seguir igualmente o seu fim, pouco depois. Os problemas respiratórios do meu pai acentuaram-se drasticamente na última semana de Julho de 2007. A sua enorme capacidade de resistência física, aliada a uma grande vontade de viver, aguentaram todas as tentativas médicas de intervenção urgente mas a sua vida física terminou a 29 de Julho de 2007. O meu pai morreu. Finalmente, estava liberto do grande sofrimento físico e espiritual em que a doença prolongada o colocara, desde o seu aparecimento. Nos meses que se seguiram, continuei a dispor do apoio incondicional dos assistentes da Amara que me aconselharam a receber apoio Psicológico por parte da associação: Perante a minha dificuldade em admitir essa necessidade eu não estava a conseguir entrar no processo de luto), permaneci vários meses imersa em sentimentos de angústia e tristeza, pela ausência da pessoa que eu mais gostava. Finalmente em Março de 2008, por um feliz acaso,conheci outros voluntários da Amara que me convidaram a participar no Clube de Partilha. Foi uma ocasião importante para começar a exprimir sentimentos, ideias e memórias reprimidas acerca de toda a experiência de perda que havia sentido. Através da escuta atenta e enorme compreensão por parte dos voluntários Rosie Blandy, Rute e Rui Romão, senti que havia espaço e aceitação para falar de temas que normalmente não eram abordados em ambiente familiar. Comecei a sentir vontade de me envolver cada vez mais, naquele ambiente de reflexão e de descoberta interior - através da leituras aconselhadas pelos elementos do Clube de Partilha - ocorreu em mim uma inversão de todos os pensamentos negativos que possuía, relacionados com as ideias de doença, sofrimento, morte e perda. Aprendi que era preciso confrontar-me com os meus próprios receios, nestas questões. No fundo, temas incontornáveis da existência humana e inadiáveis da nossa consciência, de condição de seres para a morte. Por fim, os encontros do Clube de Partilha, encaminharam-me para o auto-reconhecimento de que faltava realizar um confronto com os meus pensamentos, com apoio especializado, no caminho da reparação definitiva do meu estado emocional. De novo, me foi sugerido pelos voluntários, o apoio Psicológico por parte da Associação Amara. Dessa vez não hesitei, estava pronta para esse trabalho de escavação interior, com imensa força de vontade. Agradeço sentidamente, todo o envolvimento pessoal destes elementos do Clube de Partilha, no trabalho de orientação e aconselhamento que estabeleceram comigo, no sentido de terem contribuído para o meu bem-estar emocional e para a minha evolução como ser humano, em termos de maior partilha e atenção para com o próximo. A última etapa do trabalho de aceitação da morte do meu pai, foi excelentemente conduzida pela acção da Drª Carol Melo. A sua enorme experiência no acompanhamento de pessoas e crianças em luto, permitiu que eu sentisse desde a primeira sessão de terapia, a confiança necessária para desbloquear os meus traumas interiores relacionados com os acontecimentos duros que vivera recentemente. A sua presença atenta e interessada, ajudaram-me a sentir apoiada para conseguir superar alguns sentimentos de culpabilidade, frustração e impotência, por não ter podido impedir todo o sofrimento pelo Rua Alves Redol, 4 – 4º C 2660-215 Santo António dos Cavaleiros qual o meu pai tinha passado. Pacientemente a Drª Carol Melo, ao longo das sessões em que me acompanhou, levou-me á compreensão do estado emocional de alguém que se encontra prestes a partir e do que poderá ocorrer na sua intimidade de pensamentos e memórias, nas últimas horas ou momentos de vida. O meu pai tivera realizado o seu próprio trabalho de preparação para a morte, ainda que os familiares não se tivessem apercebido completamente. Compreendi então que essa tarefa final de alguém que se encontra em fase extrema da vida, por vezes, pode ser feita pelo doente quando se encontra sozinho, em pleno encontro de si para si mesmo independentemente da presença sempre constante do cuidador mais próximo. A permanente constância no apoio e grandiosa ajuda efectuada pela Drª Carol Melo, permitiu que em poucos meses eu desse por completo a volta ao texto da minha vida. Sentia-me a recuperar de novo, tudo o que deixara para trás nos meses de dormência a apatia. Pouco antes de ser liberada das sessões de terapia pela Drª Carol Melo, existiu espaço para uma intensa e linda cerimónia simbólica em memória do meu pai. Finalmente eu podia expressar tudo o que sentia em relação ao meu pai, os agradecimentos e despedidas finais que não tivera possibilidade de realizar, nas suas últimas horas de vida. Actualmente (passados dezoito meses após a morte do meu pai) vivo uma sensação de grande equilíbrio interior e num constante estado de alegria e paz quando penso no meu pai. Sem angústias ou desesperos. Agora, compreendo que estaremos sempre unidos, espiritualmente, independentemente do plano de realidade em que nos possamos encontrar. Existe um grande amor que nos une e que está para além da morte. Compreendi igualmente que não vale a pena recearmos a vinda da morte, podemos sim, acolhê-la com confiança e desprendimento total porque o processo de transformação física não anula a imortalidade da nossa alma. Entre a vida que se desprende do plano material para uma outra vida de existência transcendente, existe a morte. E a morte - é apenas um segundo - entre esses dois planos de realidades. Ter conseguido chegar a este estado de espírito de novo optimista, em relação à maravilhosa experiência de vida que nos é dada viver neste mundo terreno, com todos os seus acontecimentos surpreendentes e únicos, só foi possível pela acção imensamente generosa e dedicada da Drª Carol Melo, a quem presto aqui o meu total agradecimento e admiração pelo seu enorme contributo na minha recuperação emocional. A toda a equipa da Amara igualmente, deixo aqui o meu grande obrigado por todo o bem que fizeram ao meu pai e a mim. Até sempre. Luísa Miguel Rua Alves Redol, 4 – 4º C 2660-215 Santo António dos Cavaleiros