Eletrônica básica - Introdução Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva ELETRÔNICA BÁSICA 1.INTRODUÇÃO A eletrônica surgiu em meados de 1950, com a descoberta por pesquisadores dos laboratórios da empresa Bell, nos Estados Unidos, de um componente obtido da mistura controlada de elementos semicondutores (que possuem características elétricas entre os elementos condutores e os elementos não condutores). Esta descoberta deu origem a diversos componentes elétricos, capazes de “controlar” a corrente e tensão elétrica de forma diferente dos componentes elétricos usuais, como resistências, indutores e capacitores. Estes componentes são estudados até hoje, e deles são criados novos dispositivos que por apresentarem um comportamento elétrico diferente são chamados de eletrônicos. Atualmente, podemos dividir o estudo da eletrônica em: • básica; • analógica; • digital; • de potência. A eletrônica básica estuda o princípio de funcionamento dos materiais semicondutores e os componentes eletrônicos básicos: o diodo e o transistor. Na eletrônica digital e analógica, estuda-se o transistor na geração dos sinais de tensão digitais e analógicos, assim como os respectivos circuitos, são estudados. A eletrônica de potência compreende dispositivos eletrônicos especiais fabricados para o controle de grandes capacidades de corrente, tensão e potência. 1.1.SEMICONDUTORES O início da eletrônica se deu com a pesquisa e criação de materiais que possuiam características elétricas especiais em relação ao modo como controlavam a condução da corrente elétrica. Estes materiais, designados semicondutores, são a base de todos os dispositivos eletrônicos fabricados. Os elementos semicondutores são aqueles que possuem características elétricas que se situam entre os elementos condutores e os não condutores. Na tabela períodica, podemos observar que os elementos condutores são aqueles que apresentam na última camada da eletrosfera, também chamada de camada de valência, poucos elétrons. Estes elétrons são chamados de elétrons livres porque são retirados do átomo facilmente, com pouca energia, facilitando a condução elétrica. Como exemplo, o átomo de cobre: 1 elétron na última camada Aplicando-se energia a um material condutor, os elétrons da última camada dos átomos adquirem energia para passar para o átomo vizinho, e o elétron do átomo vizinho locomove-se para o próximo átomo, originando uma reação em cadeia: a corrente elétrica. Cefet/PR – Cornélio Procópio 1 Eletrônica básica - Introdução Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva Os elementos semicondutores, na tabela periódica, também situam-se entre os condutores e os não condutores. Os principais elementos semicondutores que formam os materiais utilizados atualmente na eletrônica são o Silício (Si) e o Germânio (Ge). Si Na forma natural, um pedaço de silício puro encontra-se na forma de cristal, porque seus átomos formam uma estrutura geométrica através de ligações covalentes entre eles: na camada de valência de um átomo de Silício encontram-se quatro elétrons, que são compartilhados com quatro átomos vizinhos . Assim, no cristal de silício, cada átomo possui na útima camada eletrônica oito elétrons: quatro elétrons do próprio átomo + quatro elétrons dos átomos vizinhos, como na representação da figura abaixo. elétron compartilhado O cristal de silício puro é considerado não condutor, porque não existem elétrons livres para se locomoverem. Um meio encontrado para melhorar esta característica foi a introdução ou retirada de elétrons da estrutura do cristal, misturando-se outros elementos, de modo a criar elétrons livres. Este processo chama-se dopagem a “mistura” controlada de outros materiais ao cristal de silício ou germânio. 1.2.DOPAGEM Como o átomo de silício possui quatro elétrons na última camada, para originar elétrons livres é inserido na estrutura do cristal um elemento que possui cinco elétrons na camada de valência, ou seja, mistura-se um elemento pentavalente com o silício/germânio, que é tetravalente. Do mesmo modo pode-se inserir um elemento no cristal de silício que possua três elétrons na camada de valência, originando a falta de um elétron nas ligações covalentes (criando uma carga elétrica equivalente à do elétron, mas positiva). A esta Cefet/PR – Cornélio Procópio 2 Eletrônica básica - Introdução Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva mistura chamamos de dopagem, porque deve ser feita com as duas substâncias puras e como a outra substância combinada com o silício/germânio está presente em menor quantidade no cristal, ela comporta-se como uma impureza. Na tabela periódica, observamos exemplos de elementos que podemos inserir entre os átomos do cristal de silício: - trivalentes: alumínio, boro, gálio; - pentavalentes: arsênio, antimônio, fósforo. Na figura abaixo temos a representação de um átomo de fósforo entre os átomos de um cristal de silício. elétron extra P Por ser um elemento pentavalente, o átomo de fósforo forma ligações com os átomos de silício vizinhos, mas dos cinco elétrons da camada de valência do átomo de fósforo, quatro formam ligações covalentes com os elétrons do silício. O elétron restante será um elétron livre do composto. Como os elementos pentavalentes comportam-se desta forma na dopagem, “doando” um elétron, eles são chamados de impurezas doadoras. Este novo composto forma um cristal semicondutor formado pelo silício (ou germânio) dopado com um elemento pentavalente, o qual é chamado de cristal semicondutor tipo “N”, porque possui cargas elétricas negativas (dos elétrons livres) a mais. Agora observemos um cristal de silício/germânio, dopado com uma substância trivalente, como o boro, cujos átomos estão representados abaixo: lacuna B Ao contrário do cristal semicondutor tipo “N”, neste novo composto falta um elétron nas ligações covalentes do átomo trivalente com os átomos de silício. A falta deste elétron cria o que é chamado de lacuna (um “local” deixado pelo elétron). A lacuna comporta-se Cefet/PR – Cornélio Procópio 3 Eletrônica básica - Introdução Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva como uma carga elétrica semelhante ao elétron, mas positiva (de sinal oposto). Ao aplicarmos energia a um cristal deste tipo, surgem dois tipos de corrente elétrica: uma gerada normalmente pelos elétrons e outra gerada em sentido contrário pelas lacunas, que são ocupadas pelos elétrons, surgindo novos locais vagos (outras lacunas). Esta reação em cadeia gera um movimento semelhante a corrente elétrica, mas de cargas positivas em vez de negativas. O elemento trivalente na dopagem é chamado de impureza aceitadora, porque em relação ao silício, tem um elétron a menos. O cristal de silício/germânio dopado com uma substância trivalente é chamado de cristal semicondutor tipo “P”, pois tem cargas positivas (lacunas) geradas pela falta de elétrons em sua estrutura. Para que o processo acima ocorra, as duas substâncias, o silício e o elemento pentavalente ou trivalente, enquanto matéria-prima, devem passar por um tratamento adequado para a purificação e para que ocorra uma combinação adequada entre os dois materiais. Cefet/PR – Cornélio Procópio 4