0
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL
IBICT - INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO
EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CARLOS NEPOMUCENO
MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL:
MUITO ALÉM DAS EXPLOSÕES INFORMACIONAIS
ORIENTADORES:
ROSALI FERNANDEZ DE SOUZA (IBICT)
MARCOS CAVALCANTI (COORIENTADOR) (UFRJ)
NITERÓI
2011
1
CARLOS NEPOMUCENO
MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL:
MUITO ALÉM DAS EXPLOSÕES INFORMACIONAIS
Tese
Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Informação do convênio PPGCI/UFF –
IBICT/MCT, como requisito parcial para a obtenção do
grau de Doutor em Ciência da Informação.
Orientadores: Rosali Fernandez de Souza (IBICT)
Marcos Cavalcanti (coorientador) (UFRJ)
Niterói
2011
2
CARLOS NEPOMUCENO
MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL:
MUITO ALÉM DAS EXPLOSÕES INFORMACIONAIS
T e s e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (IBICT) em convênio com a Universidade Federal
Fluminense (UFF), para obtenção do Grau de Doutor em Ciência
da Informação. Área de Concentração: O conhecimento da
informação e a informação para o conhecimento. Linha de
Pesquisa 2: Representação, gestão e tecnologia da informação.
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª Rosali Fernandez de Souza – Orientadora
PhD Polytechnic of North London /CNAA
Prof. Dr. Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti – Coorientador
Doutor em Informática. Universite de Paris XI (Paris-Sud), U.P. XI, França
Profª Drª Lena Vânia Ribeiro Pinheiro
Doutora em Comunicação e Cultura IBICT/UFRJ-ECO
Prof. Dr. Geraldo Moreira Prado
Ph.D em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade UFRRJ
Profª Profa. Dra. Liz-Rejane Issberner
IBICT (PPGCI- Convênio UFF-IBICT)
Profª Drª Ana Maria Malin
Doutora em Ciência da Informação IBICT/UFRJ-ECO
Suplentes:
Prof. Dra Vânia Maria Rodrigues Hermes de Araújo.– Hermes
Doutora em Comunicação e Cultura IBICT/UFRJ – ECO
Prof. Dr. José Arnaldo Deutscher
Doutor em Engenharia de Produção – Coppe/UFRJ
Niterói
2011
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, em primeiro lugar, que teriam adorado me chamar de Doutor;
À minha família, esposa e três filhos, por aguentarem um doutorando em casa;
Aos meus orientadores Rosali Fernandez de Souza e Marcos Cavalcanti pelo carinho e atenção;
À banca de qualificação pelos sábios e preciosos conselhos, formada por Ana Maria Malin, Aldo
Barreto, Lena Vânia Pinheiro e Vânia Araújo;
Aos meus amigos que deram diversos palpites e sugestões preciosas: Lucia Peixoto, Jones de
Freitas, Luiz (Azeredo) Silveira, Lucília Ferreira e Michael Cristian Bieler;
Aos professores do doutorado, que tive o prazer de assistir aulas: Lena Vânia, Gilda Olinto, Liz
Rejane, Sarita Albagli, Henrique Antoun;
Aos meus colegas de turma que me ajudaram durante o doutorado, em especial Linair;
Aos que me incentivaram a entrar no doutorado: Maria Helena Hatschbach e Adilson Cabral;
Aos meus alunos que me ajudaram, co-criando, a ter várias ideias para minha tese;
À professora Rosa Inês, coordenadora do PPGCI pela atenção;
À Érica Loureiro, Ana Amador e Luizete Pena por terem revisado o texto;
Ao CNPq por ter oferecido a bolsa, fundamental para a compra dos livros;
À Internet por ser essa fonte inesgotável de recursos;
Aos criadores da ferramenta Google Docs que me permitiram trabalhar na tese de qualquer lugar;
Aos criadores do programa Free PDF, que converteu PDFs e DOCs e facilitou o uso de citações na
tese.
4
A Michael Cristian Bieler - em memória.
5
RESUMO
Esta pesquisa procura desenvolver um novo conceito na CI das macrocrises de informação,
importando as ideias de outras Ciências, tais como Economia e Ecologia, que lidam com macrocrises
na sociedade. Tal abordagem se torna útil para analisar momentos de ruptura como a que estamos
passando agora com a chegada da Internet. Macrocrises da informação são processos dinâmicos e
cíclicos de mudança, que criam rupturas sociais. Tal abordagem aprofunda o conceito de explosão
informacional ou explosões informacionais, comumente usado na Ciência da Informação, e aponta que
tais explosões não são fenômenos isolados, mas fazem parte de mudanças mais amplas. A tese defende
a importância do resgate do estudo histórico como elemento-chave para a compreensão dos
macrofenômenos informacionais, tal como a Internet e a característica da macrocrise da informação
digital.
PALAVRAS-CHAVE: crises, crises informacionais, macrocrises da informação, macrocrises
informacionais, explosão da informação, Internet, ambientes de informação.
6
ABSTRACT
This research seeks to develop a new concept in information science – information macrocrises in
society – importing ideas from other sciences, such as economics and ecology, which deal with
macrocrises in society. This approach is useful to analyze periods of disruption such as the one we are
living in with the arrival of the Internet. Information macrocrises are dynamic and cyclical processes
of change that create disruptions in society. It also deepens the concept of information explosion or
information explosions, often used in information science, indicating that such explosions are not
isolated phenomena but an integral part of broader changes. The thesis argues for the importance of
historical studies as key elements to understand information macro-phenomena, such as the Internet.
KEYWORDS: information crises, information macrocrises, information explosion, Internet,
information environments.
7
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1 - fontes não especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise, informação) ................18
Tabela 2 - fontes especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise) ...........................................20
Tabela 3 - Google Acadêmico - fontes em português - Para as palavras-chaves “Ciência da
Informação”............................................................................................................................................20
Tabela 4- Google Acadêmico - bases de dados pesquisadas em inglês - para as palavras-chaves
“information science”.............................................................................................................................21
Tabela 5 - definições de crise por áreas do conhecimento, a partir do dicionário Houaiss de língua
portuguesa ..............................................................................................................................................25
Tabela 6 - definições de crise na Wikipédia em diversos idiomas........................................................28
Tabela 7 - definições de crise para autores fora da CI..........................................................................30
Tabela 8 – tipos de crises humanas……………………………………………….............…………...33
Tabela 9 – tipos de crises humanas (abruptas e cumulativas)................................................................33
Tabela 10 - tipos de crises humanas (localizadas e globais)..................................................................37
Tabela 11 - conceitos de micro e macro fora da CI................................................................................39
Tabela 12 - verbetes do dicionário Houaiss sobre informação...............................................................44
Tabela 13 - definições de informação em diferentes idiomas na Wikipédia..........................................45
Tabela 14 - definições da ci sobre informação.......................................................................................51
Tabela 15 - pesquisa na Wikipédia sobre crise informacional ou crise da informação..........................58
Tabela 16 - termo explosão da informação ou explosão informacional (português e inglês)
no Google Acadêmico.............................................................................................................................62
Tabela 17 - o termo crise nas revistas da CI..........................................................................................64
Tabela 18 - termos crise, crise informacional e crise da informação
em diferentes revistas da CI....................................................................................................................66
Tabela 19 - pesquisa no Google Acadêmico relacionando diferentes palavras-chaves, a partir
do levantamento de Pinheiro...................................................................................................................67
Tabela 20 - pesquisa no Google Acadêmico sobre crise informacional em outros idiomas...................68
Tabela 21 - pesquisa no Journal of Information Science sobre crise e crise da informação..................68
Tabela 22 - dos três tempos de espírito, tecnologia e formas de interação............................................92
Tabela 23 - comparação entre a chegada do livro impresso versus a chegada da internet.....................111
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9
1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 14
1.2 METODOLOGIA ............................................................................................................ 15
2. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................................... 25
2.1 O CONCEITO CRISE ...................................................................................................... 25
2.1.1
2.1.2
2.1.3
2.1.4
2.1.5
2.1.6
O conceito crise no dicionário e no wikipédia ................................................... 25
O conceito de crise fontes especializadas ........................................................... 29
A anatomia das crises ......................................................................................... 31
A definição de crise ............................................................................................ 37
O conceito macrocrise ........................................................................................ 38
A definição de macrocrise .................................................................................. 43
2.2 O CONCEITO INFORMAÇÃO ...................................................................................... 44
2.2.1
2.2.2
2.2.3
2.2.4
O conceito informação nas fontes não especializadas ........................................ 44
O conceito de informação nas publicações especializadas ................................. 47
O conceito da informação na CI ......................................................................... 50
O conceito da informação ................................................................................... 56
2.3 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO ................................................................... 58
2.3.1
2.3.2
2.3.3
2.3.4
O conceito crise da informação: em fontes não especializadas e fora da ci ...... 58
O conceito crise da informação na Ciência da Informação ................................ 61
O conceito de crise da informação ..................................................................... 76
O conceito macrocrise da informação ................................................................ 76
2.4 AS MACROCRISES NA HISTÓRIA ............................................................................. 84
2.4.1
2.4.2
A macrocrise da informação digital ................................................................ 101
Análise da pesquisa ............................................ Erro! Indicador não definido.
3. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 126
4. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 128
9
1. INTRODUÇÃO
―Não somos estudantes de assuntos, mas de problemas;
e os problemas constituem os recortes
de qualquer assunto ou disciplina‖- Popper.
Desde os seus primórdios, a Ciência da Informação (CI, como passaremos a
denominá-la) tem se dedicado a procurar soluções para constantes crises informacionais
localizadas, que se repetem ciclicamente na história (em especial depois da Segunda Guerra
Mundial). Na maioria das vezes, essas crises são atribuídas ao aumento gradual, constante e
geométrico do volume de informação, primeiramente verificado na área científica e,
posteriormente, em toda a sociedade, chamado de explosão informacional ou explosão da
informação, que passaremos a denominar com o nome genérico de explosão. Nessa
perspectiva, a CI desenvolveu – ou viu surgir – teorias, conceitos, metodologias e tecnologias
na tentativa de apresentar diferentes respostas teóricas e práticas aos problemas
informacionais enfrentados pela sociedade, sendo a questão do volume da informação global
uma das principais dificuldades.
Pode-se dizer, assim, que a CI cresceu e ganhou forma na importante e necessária
jornada como área de estudos teóricos e aplicados pela necessidade humana de superar
problemas informacionais - principalmente pela adoção de métodos e tecnologias - motivados
principalmente pelo aumento crescente da quantidade de informação na sociedade, seja na
área científica ou fora dela (SARACEVIC, 1996).
Constata-se ainda que a consolidação da Internet, a partir da década de 1990,
despertou intensa inquietação teórica por tratar de fenômeno global não previsto pelas teorias
vigentes, com mudanças claras e radicais na maneira de se produzir e consumir informação.
Perguntaram-se os cientistas de todas as áreas, incluindo os da informação: que instrumentos,
conceitos e teorias, do passado ou do presente, vamos usar para analisar, dimensionar e
classificar mais esta explosão contemporânea? E quais precisamos construir para termos mais
capacidade de compreender e atuar nesse novo ambiente?
Tal fenômeno social, acreditamos, pode se enquadrar nos conceitos de paradigmas de
Thomas Kuhn (1922-1996). Kuhn acreditava que, em certos momentos da história,
determinados fenômenos passavam a não contar mais com a explicação de determinada
Ciência, criando dificuldades, irregularidades, anomalias e, podemos até dizer, crises. O
problema central consiste em não mais se conseguir conceituar e ter explicações lógicas sobre
10
alguns objetos ou fenômeno; o paradigma teórico existente não é mais adequado. Nestes
momentos, não se pode dizer que uma determinada Ciência precisa progredir, mas sim que
precisa mudar, de forma mais radical, a maneira de olhar o seu objeto (CHAUÍ, 2001).
Podemos afirmar, assim, como diversos autores têm diagnosticado que a partir da
Internet a CI inaugura uma crise teórica filosófica paradigmática, com a necessidade de
analisar com novo olhar o fenômeno da informação. Tal visão pode ser percebida em Barreto,
quando aponta que o fenômeno da Internet obriga a uma revisão de antigos conceitos e
delineia uma nova etapa na história da CI. Barreto optou por chamar esta de fase do
conhecimento interativo (BARRETO, 2007).
Tal fato, inclusive, influencia a própria história da CI, dividindo-a em três tempos,
como propõe Barreto:
- o tempo da gerência de informação (1945 a 1980);
- o tempo da relação informação e conhecimento (1980 a 1995);
- e o tempo fase atual como a do conhecimento interativo (1995 - até os dias atuais) 1
(BARRETO 2002).
Mas o que exatamente será preciso rever na CI com a chegada da Internet? Parece-nos
que no centro dessa crise paradigmática teórica reside uma questão central: a Internet não
pode mais ser vista como um fenômeno informacional único, isolado, acidental sem
precedentes históricos, que não se repete isoladamente na sociedade. Há na história do
fenômeno da informação um ambiente que se modifica ao longo do tempo. Assim, como
passamos do mundo oral para o escrito, estamos agora diante do ambiente digital.
A presente tese procura se alinhar a todos os pesquisadores que tentam superar as
barreiras paradigmáticas sobre o olhar da informação, assim como apontar alguns caminhos
para continuarmos a tentar minimizar os inúmeros problemas informacionais da sociedade. Os
caminhos adotados na presente pesquisa, detalhados ao longo da tese, foram:

Aprofundar o estudo histórico para analisar outras rupturas informacionais
similares
1
à
Internet,
área
emergente
na
É interessante observar que a historiografia de Barreto para a Ciência da Informação marca a passagem do
computador de grande porte para o microcomputador e deste para a Internet.
CI;
11

Formular contornos do conceito de crise, macrocrises, crises da informação e
macrocrise da informação para descrever com mais precisão o surgimento da
macrocrise

da
informação
digital;
Demonstrar que o conceito da explosão informacional não pode ser visto de forma
isolada, sem analisar um contexto mais global de uma crise informacional;

Defender o estudo histórico para analisar outras rupturas informacionais similares
à Internet, área emergente na CI;

A partir desse encaminhamento, acreditamos poder compor cenário para analisar o
atual momento de nossa sociedade, na passagem de um ambiente informacional
baseado no papel, na escrita, no áudio e na imagem para outro digitalizado, que
incorpora todos os demais e os coloca em uma rede muito mais dinâmica. Com
isso, estimamos apontar direções para o estudo do fenômeno Internet.
O surgimento da Internet no final do século XX criou perplexidade na sociedade como
um todo, e em particular na CI. Foi sem dúvida o grande fenômeno informacional que surgiu
no início do Século XXI. Barreto, por exemplo, resume essa inquietação ao reconhecer que
ainda temos mais perguntas que respostas, e que as transformações que ocorrem com a
passagem para a cultura eletrônica e a realidade virtual só irão se delinear ao longo do tempo
(BARRETO, 1999b).
Saracevic já previa a importância da influência das redes, de maneira geral, na
sociedade, assim como a relevância de pesquisá-las. Acreditava o autor que as redes poderiam
mudar radicalmente a qualidade e a quantidade da comunicação, e mesmo da informação
comunicada (SARACEVIC, 1996).
Malheiro acredita que a nova comunicação dos ambientes de rede cria um corte
transversal em toda a Ciência da Informação. Gera, assim, a necessidade de novas
abordagens, tanto teóricas quanto práticas, com a devida relevância (MALHEIRO, 2005).
Nessa direção, estudiosos da Ciência da Informação, cada qual em seu campo de pesquisa e
interesse, indagam sobre como a Internet influencia ou influenciará o futuro geral e em sua
área específica.
Issberner, por exemplo, faz a relação das redes com as aglomerações produtivas. As
aglomerações produtivas utilizam as redes eletrônicas? Para quê? Que tipo de aplicação é
12
mais utilizado? Qual é o potencial de aplicações das redes eletrônicas de informação em
territórios produtivos? (ISSBERNER, 2006).
Marcondes, Mendonça e Malheiros questionam de que forma a rede pode mais que
simplesmente facilitar o acesso a textos científicos e como seria possível agenciar programas
(de computador) para ajudar a processar este conhecimento (MARCONDES, MENDONÇA e
MALHEIROS, 2006). Como descrever e recuperar em rede os recursos e serviços de
Bioinformática, especificamente no domínio de Genoma e Transcriptoma, visando apoiar as
pesquisas nesta área no Brasil? (CAMPOS, 2006).
Como abrir janelas para o virtual na realidade local? (FREIRE, 2006). Como
classificar as áreas de conhecimento da Ciência em um cenário tão dinâmico? (SOUZA,
2004) Como os universitários podem usar melhor as tecnologias da informação? (DINIZ e
OLINTO, 2006) Como recuperar os textos incluídos de forma não estruturada e apenas
legível, por pessoas e não pelas máquinas, dificultando a recuperação? (MARCONDES,
MENDONÇA e MALHEIRO, 2006).
O Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCI2 não ficou opaco
frente a esse largo e profundo movimento de pesquisa. Ao longo de sua história, tem
trabalhado intensamente e contribuído substancialmente para o desenvolvimento da área da
Ciência da Informação no Brasil. Esse fato se reflete tanto nas linhas adotadas, nas pesquisas
em andamento, como nas teses que alunos de mestrado e doutorado têm desenvolvido. O
interesse pode ser dimensionado, por exemplo, através da produção científica produzida no
PPGCI.
Das 11 (onze) teses de doutorado da UFRJ/UFF/IBICT3 concluídas até 2005,
conforme lista publicada no website do programa4, seis, ou 54%, abordam direta ou
indiretamente o tema das novas tecnologias e a influência que exercem nos mais diferentes
tipos de sistemas de informação tradicionais, a saber:
MARIZ, Anna Carla Almeida. Arquivos públicos brasileiros: a transferência da
informação na Internet; MIRANDA, Marcos Luiz Cavalcanti de. Organização e representação
do conhecimento: fundamentos teórico-metodológicos para busca e recuperação da
informação em ambientes virtuais; DINIZ, Cládice Nobile. A fluência em tecnologia de
informação entre estudantes de Administração; OLIVEIRA, Eloisa da Conceição Príncipe de.
Grau de adesão à comunicação científica de base eletrônica: estudo de caso da área de
Genética; CARVALHO, Rosane Maria Rocha de. As transformações da relação museu e
2
3
4
Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), com convênios feitos com a UFRJ e com a UFF em
momentos distintos.
http://www.ibict.br/
http://www.uff.br/ppgci/editais/tesesdou.pdf (não há dados mais recentes)
13
público: a influência das tecnologias da informação para o desenvolvimento de um público
virtual; VALÉRIO, Palmira Maria Caminha Moriconi. Periódicos científicos eletrônicos e
novas perspectivas de comunicação e divulgação para a Ciência.
De fato, tais trabalhos estão no âmbito da Ciência da Informação, uma área que se
caracterizou tanto antes, como agora, pelos problemas e soluções que propõem nas pesquisas
científicas, práticas profissionais e pelos métodos que escolheu (SARACEVIC, 1996). Esses
problemas foram intuídos por Paul Otlet (1868-1944). O pesquisador, bem antes da área se
consolidar, percebeu a importância de campo de estudo que introduzisse olhar ético sobre a
informação, para organizar a sociedade civil em prol de uma organização mundial em torno
do tema da informação (FERREIRA, 2006).
A definição da abrangência da Ciência da Informação como área de conhecimento,
entretanto, ocorre quase vinte anos depois do fim da Segunda Grande Guerra, durante reunião
no Georgia Institute of Technology realizada no período de 12 e 13 de abril de 1962, seguida
da publicação, em 1966, no primeiro volume do ARIST, no artigo de Robert Taylor. O recorte
inicial de Taylor serve de base para que Harold Borko, dois anos depois, em 1968, a tornasse
popular no artigo O que é Ciência da Informação?.
Desde os seus primórdios, as crises informacionais fazem parte das preocupações
centrais da CI, apesar de não serem colocadas de maneira explícita com o termo crises
informacionais. Crise, como se verá na tese, é um assunto emergente em todas as Ciências,
em função da globalização cada vez maior da humanidade, na qual fatos que antes isolados e
não tinham repercussão mais ampla, passam a ter, o que obriga aos pesquisadores não só a
rever o estudo das crises, mas, principalmente estudá-las do ponto de vista amplo e macro
para poder ter uma noção geral ao se analisar questões localizadas.
A presente tese pretendeu, assim, apontar a possibilidade de se trabalhar com uma
visão mais ampla e histórica de macrocrises informacionais para delinear caminhos teóricos
para facilitar a compreensão do fenômeno da Internet, a partir de uma nova visão das rupturas
do fenômeno da informação na sociedade.
A presente tese se debruça sobre a seguinte questão: é possível rever o conceito de
crises e explosões informacionais através do estudo histórico para se chegar ao conceito de
macrocrises de informação?
Diante de tal perspectiva, sugere-se como válida a seguinte hipótese: há a incidência
de fenômeno histórico, que podemos denominar de macrocrises da informação. São raros,
porém marcantes na história da humanidade. Tais fenômenos ocorreram na passagem do
mundo oral para o escrito, e agora deste para o digital. Tal premissa nos leva a rever o
14
fenômeno da informação e principalmente suas crises sistêmicas, podendo afirmar que há
regulares macrocrises , que são explicitadas com mudanças tecnológicas radicais na
sociedade, como, por exemplo, no final do século XX, a chegada da Internet.
1.1 OBJETIVOS
Como objetivos, o trabalho propomos:

Revisar o conceito de crises, crises da informação e sugerir um novo de
macrocrise da informação, como elemento importante para compreender o
fenômeno Internet;

Rediscutir os conceitos de crises da informação na CI e de explosões
informacionais e trazer questões para a prática da CI, diante de fenômenos
informacionais globais, como é o caso da Internet;

Caracterizar o fenômeno das macrocrises globais da informação, incluindo a
macrocrise da informação digital suas causas e consequências e possível
diagnóstico de suas origens para que se possa traçar estratégias teóricas e práticas
no presente e futuro;
15
1.2 METODOLOGIA
A presente tese procurou problematizar alguns conceitos recorrentes na sociedade e na
Ciência da Informação, a saber: crise, crise da informação, macrocrise, “explosão
informacional”. O objetivo foi, através da exposição da pesquisa e levantamento dos termos e
adotando nova lógica, repensá-los e produzir novo conceito: o da macrocrise informacional,
que não havia ainda sido trabalhado na CI. Para se obter o resultado pretendido, adotamos os
seguintes procedimentos:
- análise de conceitos em publicações não especializadas, tais como dicionários de
língua portuguesa (Houaiss) e enciclopédia on-line (Wikipédia5), que serviram de base e de
inspiração para, através de lógica e da problematização, alinhavar novas reflexões sobre
antigos conceitos. Feito isso, procuramos compará-los com conceitos problematizados pela
Ciência em publicações especializadas (científicas) e, por fim, após a definição do conceito de
macrocrise informacional, incluí-la no contexto histórico, dialogando com diversos autores
que se dedicaram ao estudo do passado da mídia, da informação e do conhecimento.
Tal metodologia procurou desenvolver, através da problematização de conceitos, novo
olhar sobre o macrofenômeno informacional digital trazido à sociedade, principalmente pela
difusão do computador e, posteriormente, pela Internet.
Assim, os critérios adotados foram os seguintes.
5
HTTP://www.wikipedia.com
16
Para a obtenção dos conceitos não-especializados:
Dicionário – o dicionário de língua portuguesa Houaiss foi selecionado por
motivo arbitrário, de preferência e facilidade de acesso do autor, como poderia ter sido
escolhido qualquer outro, que estivesse no mesmo patamar de credibilidade na
sociedade brasileira. O dicionário é reconhecidamente um dos mais importantes do
Brasil e serviu ao propósito pretendido. O objetivo era iniciar o discurso científico da
presente tese de um determinado ponto de partida, a partir de conceito não
especializado e ir sofisticando-o ao longo da tese.
É importante observar que um dicionário não é uma obra fechada, pois está em
constante atualização. Lembrar também que os verbetes neles contidos não são
considerados definitivos ou que haja consenso sobre eles, nem mesmo entre seus
diferentes realizadores. Porém, o objetivo, ao utilizá-lo, é partir de uma referência para
um trabalho de desenvolvimento de uma dada lógica e a construção de novos
conceitos, considerando que uma língua é fixada nos seus dicionários para criar certa
regulação de seu uso, como detalha Biderman:
O léxico de uma língua natural pode ser identificado com o patrimônio vocabular de
uma dada comunidade lingüística que tem uma história. Assim, para as línguas de
civilização, esse patrimônio constitui um thesaurus, ou seja, uma herança de signos
lexicais herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas palavras.
(BIDERMAN, 1987).
O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é um dicionário
elaborado
pelo lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss. A primeira edição foi lançada em 2001,
no Rio de Janeiro, pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia.
O projeto de confecção do dicionário começou em 1985. Antônio Houaiss
tinha a ambição de criar o mais completo dicionário de língua portuguesa já
compilado. Dezesseis anos depois, o Dicionário Houaiss foi concluído, contando
durante
esse
período
com
uma
equipe
de
edição
com
mais
de
150
especialistas brasileiros, portugueses, angolanos e timorenses.
O Dicionário Houaiss traz cerca de 228.500 verbetes, 376.500 acepções,
415.500 sinônimos,
26.400 antônimos e
57.000
palavras
arcaicas.
Além
17
da quantidade de verbetes, a equipe de edição pesquisou também as etimologias de
cada palavra e o seu primeiro registro no idioma português6.
Enciclopédia online – o uso da enciclopédia Wikipédia visou também criar
uma facilitação da construção do discurso por parte do pesquisador, através da
comparação com o dicionário e, posteriormente, na junção destas definições comparála aos conceitos acadêmicos. No caso da Wikipédia, foi feita uma síntese dos termos
encontrados em vários idiomas. Por fim, construindo uma definição, digamos, não
especializada, os conceitos foram, então, comparados e problematizados em confronto
dos definidos pelas publicações científicas. Criamos, assim, através de uma
metodologia de construção do discurso uma sofisticação cada vez maior de cada
conceito, agregando olhares de fora da academia, não os ignorando, porém os
contabilizando e enriquecendo, através da problematização feita posteriormente pelo
olhar especializado dos pesquisadores.
A Wikipédia foi escolhida por ser hoje a principal enciclopédia na Internet,
estando, por ocasião da presente pesquisa, entre os sete websites mais consultados na
rede eletrônica para pesquisas rápidas sobre qualquer termo ou assunto. A Wikipédia
foi criada em 2001 e cumpre papel de detectar uma visão global da sociedade sobre
determinados temas. Trata-se de uma proposta colaborativa (feita por várias mãos,
inclusive com a colaboração de muitos especialistas). É uma enciclopédia on-line,
aberta e gratuita, na qual 13 milhões de artigos foram produzidos por cerca de 80 mil
colaboradores, em 260 idiomas, até março de 2011, por ocasião de nossa visita, sendo
que deste total cerca de 430 mil são em português7.
Os verbetes são, assim, produzidos por especialistas e usuários de todo o tipo,
pessoas da academia ou de fora, permitindo um largo cenário para consolidar uma
visão externa não especializada da sociedade sobre dados conceitos, o que nos foi de
grande auxílio para aprofundá-los posteriormente8. Cabe registrar que, apesar de poder
contar com a colaboração de alguns especialistas (o que não é propriamente
confirmado) o critério de validação dos verbetes não é o mesmo da academia e, por
isso, não é aceita com referência, o que não foi feito nessa tese.
6
Dados da editora.
7
http://www.alexa.com/topsites
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Sobre_a_Wikipédia
8
18
Utilizamos a Wikipédia, assim, apenas como inspiração e como auxiliar,
similar ao dicionário, para o desenvolvimento de um discurso lógico, procurando uma
forma mais atrativa e mais fácil, um caminho válido como qualquer outro, desde que
os termos fossem problematizados posteriormente e comparados por conceitos mais
elaborados pela ciência do ponto de vista de sua validação, através de pares, seguindo
as metodologias tradicionais, como exige uma tese de doutorado.
Para uma visão mais ampla dos conceitos, optou-se no caso da Wikipédia
abranger a pesquisa além do Português e Inglês, também para o Francês, Espanhol e
Alemão. Tal fato objetivou enriquecer os conceitos e termos mais elementos para
compor o discurso da presente tese.
Em resumo, podemos detalhar na tabela abaixo os conceitos problematizados e
as pesquisas realizadas no levantamento não-especializado do trabalho:
Tabela 1 - fontes não especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise, informação)
FONTES NÃO ESPECIALIZADAS / TERMOS PESQUISADOS
CONCEITO
FONTES
Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e Wikipédia (foram feitas nesta enciclopédia buscas nos
Crise
seguintes idiomas: Português e Inglês, Francês, Espanhol e Alemão) .
Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e Wikipédia (foram feitas buscas nos seguintes idiomas:
Português e Inglês, Francês, Espanhol e Alemão).
Macrocrise
Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e Wikipédia (foram feitas buscas nos seguintes idiomas:
Português e Inglês, Francês, Espanhol e Alemão).
Informação
Para a pesquisa dos conceitos especializados, optamos por criar a delimitação,
através de uma ferramenta de busca, no caso o Google Acadêmico9. O Google
Acadêmico (Google Scholar em inglês) é uma ferramenta de pesquisa do Google que
permite
pesquisar
trabalhos
acadêmicos,
em
diferentes
bancos
de
dados
simultaneamente. A ferramenta, a exemplo do Google, identifica endereços na Internet
relevantes para que os dados sejam coletados e armazenados em uma base de dados do
próprio Google. Quando o usuário pesquisa, na verdade, está procurando dados no
servidor do próprio Google Acadêmico.
9
O Google Acadêmico indexa artigos de múltiplas publicações e os apresenta em página única, seguindo a
mesma lógica de pesquisa do Google - http://scholar.google.com.br/
19
Dessa forma, ao escolher o Google Acadêmico como delimitador de pesquisa
optamos por aceitar a delimitação feita pelos coordenadores daquele site. O Google
acadêmico indexa literatura escolar, jornais de universidades e artigos variados.
Lançado em Novembro de 2004 passou a oferecer buscas em língua Portuguesa em 10
de janeiro de 2006. Como em outras ferramentas de pesquisa o Google Acadêmico
ordena os resultados por ordem de relevância. Os critérios são a íntegra de cada artigo
e seu autor, onde ele foi publicado e a freqüência de suas citações na literatura
acadêmica. A ferramenta permite ainda a pesquisa por ano de publicação, o que
viabiliza a descoberta de trabalhos por assuntos mais ou menos recentes. Podemos ler
na definição do próprio serviço:
O Google Acadêmico ajuda a identificar as pesquisas mais relevantes do mundo
acadêmico (...) classifica os resultados de pesquisa segundo a relevância. Como na
pesquisa da web com o Google, as referências mais úteis são exibidas no começo da
página. A tecnologia de classificação do Google leva em conta o texto integral de
cada artigo, o autor, a publicação em que o artigo saiu e a freqüência com que foi
citado
em
outras
publicações
acadêmicas10.
No caso do Google Acadêmico optamos abranger a pesquisa além do
Português para o Inglês. Tal fato objetivou enriquecer os conceitos e termos mais
elementos para compor o discurso da presente tese.
Tabela 2 - fontes especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise)
FONTES ESPECIALIZADAS / TERMOS PESQUISADOS
CONCEITO
Explosão
da
informação
FONTES
Google Acadêmico
Google Acadêmico
Crise
Macrocrise
Google Acadêmico
Informação
Google Acadêmico
10
http://scholar.google.com.br/intl/pt-BR/scholar/about.html
20
Não consta do site, na data das pesquisas, uma lista dos sites nos quais ele
armazena seus dados para que se possa ter um escopo mais preciso de sua dimensão.
Entretanto, para efeito de apresentar uma base de referência para a presente tese,
optamos por realizar uma pesquisa no site com o termo “Ciência da Informação” e
“Information Science” e os resultados que apareceram apresentam de forma um pouco
mais
clara,
quais
as
fontes
indexadas.
Obtivemos, com isso, como resultados:
Tabela 3 - Google Acadêmico - fontes em português - Para as palavras-chaves “Ciência da Informação”
GOOGLE ACADÊMICO - FONTES EM PORTUGUÊS11
Para as palavras-chaves “Ciência da Informação”
FONTES
12
Scielo
ENDEREÇO
http://www.scielo.br/
http://revista.ibict.br ( O Google Acadêmico pesquisa nessa revista, tanto através do Scielo, como
Revista Ciência também, diretamente por critérios não detalhados).
da Informação
IBICT
A pesquisa feita no Scielo13, via Google Acadêmico, por ocasião da tese na
área de Ciências Sociais Aplicadas, em um total de 90 periódicos, abrange duas
revistas da CI brasileiras. São elas: Revista da Ciência da Informação do IBICT14 e
Perspectivas em Ciência da Informação da Escola de Ciência da Informação da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Em inglês, a pesquisa do Google Acadêmico abrange principalmente a base
Mendeley.
Tal projeto, se auto-denomina um site que gerencia referências
acadêmicas, visando ajudar aos pesquisados que pode ajudar você a organizar a sua
11
Data da pesquisa: 29/02/2011.
O Scielo, como o Google Acadêmico, é uma base de dados que reúne diversas publicações, o que seria um
motor de busca sobre outro. O critério de classificação dos periódicos pode ser visto aqui:
http://www.scielo.br/avaliacao/faq_avaliacao_en.htm. Os títulos aqui:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_alphabetic&lng=en&nrm=iso
13
Data da pesquisa: 29/02/2011.
14
Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (www.ibict.br)
12
21
investigação, colaborar com outras pessoas online e auxiliar pesquisadores a acharem
as pesquisas mais recentes em diversos campos do conhecimento15.
Tabela 4- Google Acadêmico - bases de dados pesquisadas em inglês16 - para as palavras-chaves
“information science”
GOOGLE ACADÊMICO
BASES DE DADOS PESQUISADAS EM INGLÊS17
Para as palavras-chaves “Information Science”
BASE DE
DADOS
Mendeley18
ENDEREÇO
http://www.mendeley.com- Uma busca interna no Mendeley nos indicou a busca nas seguintes
publicações: Journal of the American Society for Information Science, Journal of Documentatio,
Annual Review of Information Science and Technology, Libri , Journal of Information Science,
International Journal of Geographical Information Science
Destaca-se, entretanto, que buscas por trabalhos acadêmicos mais recentes são
limitadas àqueles que estão disponíveis na Internet, em texto completo ou por referências. Tal
limitação tende a limitar e comprometer em algum aspecto o trabalho e deve ser chamada a
atenção para as conclusões que forem feitas.
Para alargar as buscas, foram feitas também buscas no Google para atingir algumas
publicações da CI que não estão na base de dados do Google Acadêmico, tais buscas no
Google retornaram como resultados as seguintes publicações: DataGrama Zero19 e Revista
Encontro Bibli da Universidade de Santa Catarina20, Revista Encontro Bibli21 e Revista
Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação22. Consideramos, assim, que para o
presente trabalho que visava a obtenção de uso corrente de alguns conceitos, tais como
“explosão da informação” nos seus mais diferentes contextos, tal estratégia serviu como
parâmetro adequado.
15
http://www.mendeley.com/
Data da pesquisa: 29/03/2011.
17
Data da pesquisa: 29/03/2011.
18
“Mendeley é livre organizador feito por usuários que reúnem textos acadêmicos, que pode ajudar você a
organizar a sua investigação, colaborar com outras pessoas online, e descubra as últimas pesquisas” (segundo
dados colhidos na primeira página do site em 29/03/2011.
16
19
20
21
22
http://dgz.org.br/
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb
http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/index.php
22
A pesquisa visou, assim, analisar sites sem senha ou login, que disponibilizam textos
completos no que podemos chamar de Internet aberta23, sem proteção, para ter uma visão
mais ampla e acesso a documentos com mais visibilidade na Internet. Tal estratégia visou ter
um panorama inicial, estabelecer um corte e uma abrangência de estudos. Como o tema é
novo e os estudiosos do mesmo tendem a disponibilizar seus resultados em rede, optamos por
esta estratégia para se ganhar tempo e rapidez, em função do tempo e da abrangência do
estudo proposto.
A presente tese procurou, dessa forma, criar certa coerência entre a forma e conteúdo
ao construir os próprios conceitos ao longo da tese, através de reconstrução constante dos
termos, uma prática adotada, principalmente no Wikipédia, a partir da colaboração constante
de novos pontos de vistas. Tal possibilidade é arbitrária e de escolha do autor, apenas uma
opção de estilo, que se mostrou bastante útil, entretanto para o desenvolvimento dos mesmos
e agregou pontos de vistas interessantes de fora da academia, ajudando bastante a
problematização pretendida.
Tal escolha pode ser justificada em função da nova maneira de produção de
conhecimento da sociedade que se deu com a chegada da Internet, o que Barreto chamou de
conhecimento interativo. Assim, procurou-se trabalhar sempre a partir de dado conceito para
ter consciência de seus registros, sofisticando-os e incorporando, a partir do trabalho de outros
cientistas de fora da CI e depois da própria área, cada conceito, procurando uma uniformidade
entre a forma da tese e o próprio objeto estudado.
A proposta de considerar tão marcadamente conceitos não problematizados no
presente trabalho se deve à concepção de que a construção do saber (qualquer que seja) faz
parte de amplo processo social, tal como sugere Paulo Freire, que defende que não se deve
relegar o que é de uso corrente, mas, pelo contrário, registrá-lo e criar bases para que este seja
superado (FREIRE, 1970).
Trabalha-se, assim, com a evolução e com a sofisticação de uso de cada termo.
Entretanto, tal método não se propõe excludente, já que quando determinado conceito dito
popular ou do dicionário se mostrar importante para o trabalho, o mesmo passará a ser
incorporado para o enriquecimento e capacidade de diálogo, após ter passado pelo crivo de
outros autores acadêmicos.
23
Podemos caracterizar Internet aberta aquela que pode ser acessada sem a necessidade de cadastro, login ou
senha.
23
Segue-se, nessa direção, Albert Einstein, que considera que “toda a ciência nada mais
é do que o refinamento do pensamento cotidiano24”. Portanto, torna-se relevante conhecer o
pensamento cotidiano e, a partir dele, reconstruir conceitos ainda incipientes em um novo
campo de atuação para a CI, tais como crises informacionais e macrocrises da informação.
Considera-se que tal abordagem não se generaliza, mas cumpre o papel do presente projeto,
acreditando que contribua para um melhor resultado final, além de poder aproximar os
resultados da pesquisa a um leque maior de leitores.
Dessa maneira, optou-se por problematizar conceitos, partindo de fontes não
especializadas, comparando-as com fontes científicas, o que permitiu o autor, a partir desse
método, desenvolver lógica e propiciar, dessa maneira, uma leitura mais agradável do texto
geralmente longo de uma tese de doutorado, visando ampliar o alcance na sociedade, já que
esta passará a estar disponível, inclusive para os leitores que participaram do blog do autor.
O blog (www.nepo.com.br) recebeu as reflexões sobre o assunto diretamente ou
questões correlatas puderam ser expostas ao longo da tese de forma preliminar e contar com o
exercício da escrita e reflexão, bem como, o recebimento de comentários por parte dos
leitores. Até o dia 22 de março de 2011, foram escritos pelo autor 734 “posts25” e recebidos
4423 comentários, o que denota intensa participação e apoio de um grupo de interessados nos
temas, sendo um canal importante e fundamental para os resultados obtidos.
Assim procuramos realizar análise conceitual da CI e fora dela para construção de um
novo conceito “macrocrise da informação”, que pudesse ter como resultado preliminar, a ser
aprimorado em futuros projetos de pesquisa. Tal conceito, depois de obtido, foi utilizado
como marco para revisitar a história da informação e suas rupturas no capítulo 2 “As
macrocrises na história” (em particular a chegada do livro impresso por volta de 1450, na
Europa), caracterizando ambos os momentos como macrocrises informacionais, uma
distorção a nível macro entre oferta e demanda.
Para o estudo da história da informação, entretanto, a pesquisa foi realizada em livros
impressos, que foram sendo adquiridos, lidos, resumidos ao longo dos quatro anos do
processo do desenvolvimento do doutorado.
É fato inquestionável que toda a pesquisa acadêmica contém opções do autor, que
limita seus resultados e que outras levariam o pesquisador a diferentes conclusões. Há, assim,
possíveis desvios a serem registrados na formação dos conceitos básicos formulados, que
24
http://ecienciablog.blogspot.com/2010/07/convergencia-entre-ciencia-e-arte.html
25
Post é considerado um texto publicado em determinado blog.
24
podem ser aprofundados, através de pesquisas em revistas específicas da CI, não indexadas
pelo Google Acadêmico, que podem influenciar no resultado final da tese.
Quisemos aqui demonstrar o que existe hoje dentro de certo uso corrente na Internet
aberta, acadêmica ou não, sobre os temas analisados crises e macro-crises de informação. O
que nos interessou nessa pesquisa foi o desenvolvimento de um discurso lógico, capaz de
problematizar uma tendência em curso, hoje acessível à maioria dos internautas e
pesquisadores.
Tal opção, obviamente, pode trazer influência do ponto de vista dos resultados finais,
porém deve se destacar que nenhuma tese deve ser vista fora de seu contexto histórico e da
importância que pode ocupar em determinados momentos da Ciência. Consideramos que a
emergência hoje de novos pontos de vista sobre o fenômeno Internet é vital para a CI e para
toda a sociedade e que a abordagem na Internet aberta, inicialmente, devido à necessidade de
um parâmetro, serviria aos propósitos desejados.
25
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 O CONCEITO CRISE
Esta seção compreende levantamento do uso do conceito de crises, desde a procura de
termos não científicos, através do dicionário e da Wikipédia, passando por definições em
áreas da ciência, para se chegar a um conceito final que norteará a presente pesquisa no
âmbito da Ciência da Informação.
2.1.1 O CONCEITO CRISE NO DICIONÁRIO E NO WIKIPÉDIA
Nesta subseção, são investigados os conceitos de crise encontrados em dicionários e na Wikipédia,
visando à construção deste conceito para a presente tese.
O dicionário Houaiss define assim a palavra
crise:
Crìsis, is 'momento de decisão, de mudança súbita, crise (us. esp. acp. med)', do gr.
krísis, eós 'ação ou faculdade de distinguir, decisão' p.ext. 'momento decisivo,
difícil', der. do v. gr. krínó 'separar, decidir, julgar'; já no lat. ocorre a acp.
'momento decisivo na doença'; a pal. ganha curso em econ a partir do sXIX; fr.
crise (1429), ing. crisis (1543), al. Krise (sXVI), it. crisi (sXVI-XVII), esp. crisis
(1705), port. crise (sXVIII); ver critic- (HOUAISS, 2002).
Para dar sentido à palavra, o dicionário precisou relacioná-la a diversas áreas de
conhecimento, cada uma delas atribuindo à crise determinado contexto, a saber na tabela
abaixo:
Tabela 5 - definições de crise por áreas do conhecimento, a partir do dicionário Houaiss de língua
portuguesa
DEFINIÇÕES DE CRISE POR ÁREAS DO CONHECIMENTO,
A PARTIR DO DICIONÁRIO HOUAISS DE LÍNGUA PORTUGUESA
DEFINIÇÃO DE CRISE
Convulsiva ou epilética – eclosão súbita e periódica da doença, caracterizada por
convulsões, perda da consciência e outros distúrbios cerebrais; crise convulsiva.
ÁREA DE ESTUDO
Neurologia e Psiquiatria
26
De crescimento – conflito que ocorre na fase em que um indivíduo já experimenta suas
novas forças (de integração, de independência), mas ainda não superou a influência de seus
problemas centrais.
Psicologia
Dramática – culminância da ação ou dos conflitos psicológicos quando uma intriga se
intensifica e atinge uma solução decisiva, frequentemente violenta.
Literatura e teatro
Ministerial – em regime parlamentarista, fase intermediária entre a dissolução de um
governo e a formação de outro.
Política
Na sociedade – processo de intensa mudança (conjuntural ou estrutural) na organização de
uma sociedade, alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões
culturais.
Sociologia
Fonte: HOUAISS, 2002
Se pudéssemos fazer uma síntese do que há em comum nas definições do dicionário
para as diferentes áreas, esta seria: Crise é um momento de intensa mudança (conjuntural ou
estrutural) entre dois momentos, com uma fase intermediária, geralmente com eclosão súbita,
podendo ser periódica, potencialmente geradora de conflitos em dada organização de uma
sociedade, alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões
culturais.
No dicionário Houaiss, crise é classificada como substantivo feminino abstrato. Um
substantivo abstrato, segundo o próprio dicionário: “designa ideias ou conceitos, cuja
existência está vinculada a alguém ou a alguma outra coisa”. É um termo similar ao da
informação,
justiça, amor ou trabalho, não sendo substantivo concreto, palpável, como
bicicleta, cavalo ou carro. Substantivos abstratos têm vida dependente, pois dependem de
como cada um os encara ou conceitua, por não existir enquanto objeto palpável.
Um substantivo abstrato depende da nomeação, classificação, conceituação por
alguém, através de determinada ação ou estado. Portanto, a caracterização de dada crise como
conceito abstrato dependerá daquele, daqueles, daquela ou daquelas que a caracterizarem
como tal. Para uns, portanto, o que é uma crise, para outros pode não ser. Há, assim, a
necessidade destacar, desde já, que a caracterização de uma dada crise sempre dependerá,
antes de tudo, de como cada um analisa determinado momento de impasse, em que processos
passam a não funcionar costumeiramente ao ponto de alguém definir este dado momento
como uma crise, conforme a sua dimensão ou natureza.
Há, assim, diferentes nuances e dificuldades ao se categorizar crise, em função desse
caráter abstrato do termo e seus diferentes pontos de vista. Uma crise pode ser abrupta para
um conjunto de atores, mas pode ser vista como cumulativa por outros, que podem alegar que
já sabiam que algo estava por acontecer. Um exemplo pode ser retirado da crise econômica
global, de 2008, provocada pela inadimplência do pagamento de hipotecas, que desencadeou
27
grave problema financeiro nos Estados Unidos, como noticiou New York Times em
22/08/0834:
No dia 7 de setembro de 2006, Nouriel Roubini, um professor de economia da New
York University, se colocou diante de uma platéia de economistas no Fundo
Monetário Internacional e anunciou que uma crise estava surgindo 35. Nos meses e
anos seguintes ele advertiu que os Estados Unidos provavelmente enfrentariam uma
eclosão imobiliária como nunca vista, um impacto nos preços do petróleo e um
agudo declínio da confiança do consumidor - basicamente, uma recessão profunda
(...) Quando Roubini desceu do palco de onde proferia a palestra, o moderador do
evento disse, em tom de gracejo: ―Acho que vamos precisar de uma bebida bem
forte depois disso tudo‖. O público presente riu – e com razão. Na época, os índices
de desemprego e de inflação mantinham-se baixos, e a economia, embora fraca,
continuava a crescer, apesar dos preços de petróleo em alta e do mercado
imobiliário se enfraquecendo36.
Para o economista Nouriel Roubin, a crise financeira americana que se seguiu a sua
palestra não foi abrupta, e sim cumulativa e previsível, mas, para a maioria dos economistas e
para o cidadão comum, inclusive para quem estava na platéia. Desse ponto de vista, surge um
detalhamento maior para se ter a classificação científica de crise, pois toda ela tende, como
demonstrado, ser sempre cumulativa, em que determinado momento eclode um problema
inesperado, impedindo o funcionamento de um dado processo. Será mais ou menos abrupta a
partir da maneira que os atores envolvidos encaram os processos que podem desencadear dada
crise e os controles sobre estes fatores.
Ainda do ponto de vista do Dicionário Houaiss, podemos dizer que crise não é uma
palavra que tem um sentido isolado, pois, além da caracterização de um dado momento, há a
necessidade de situar a crise em determinado local, setor, área da sociedade ou no próprio
corpo humano (crise renal, de coluna, cardíaca, pulmonar, econômica, ecológica). Pode-se
dizer assim que crise é um conceito, além de abstrato, polissêmico (similar, aliás, a
informação), com mais de um significado, que se aplica conforme a utilização em
determinado campo. Nessa perspectiva, uma crise ministerial (política) é diferente de uma
crise convulsiva (psicológica-médica), mas as duas têm em comum, como vimos acima,
elementos que denotam:
34
35
36

momento difícil, de decisão;

surpresa;

período de tempo específico;

agravamento de dada situação pré-existente, que se intensifica, agrava, eclode;

momento entre duas fases;
http://www.roubini.com/roubini-monitor/253363/new_york_times_article_on_nouriel_roubini_as_dr_doom
http://www.roubini.com/roubini-monitor/253363/new_york_times_article_on_nouriel_roubini_as_dr_doom
Grifo do autor
28

situações irregulares, fora de determinado padrão;

intensidade;

alteração de um momento a para momento b.
Na Wikipédia, temos definição para o termo crise em cinco idiomas37:
Tabela 6 - definições de crise na Wikipédia em diversos idiomas.
DEFINIÇÕES DE CRISE NA WIKIPÉDIA EM DIVERSOS IDIOMAS
IDIOMA
Português
38
DEFINIÇÃO DE CRISE
Crise (do grego κρίσις,-εως, translit. krisis; distinção, decisão, sentença, juízo, separação) é um
conceito utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia, entre outras
áreas de conhecimento.
Espanhol39
Crise (Latin crise, por sua vez do grego κρίσις) situação de mudança em qualquer aspecto de uma
realidade organizada, mas instável, sujeito a evolução, especialmente a crise de uma estrutura. As
mudanças críticas, embora previsíveis, sempre têm algum grau de incerteza quanto à sua
reversibilidade. Mudanças profundas, de súbito, violentas, que podem trazer consequências de grande
alcance, indo além de uma crise e pode ser chamado de revolução.
Inglês40
A crise (plural: "crises"; forma adjetiva: "crítico") (a partir do κρίσις grego) é uma situação de perigo,
de instabilidade, nos campos econômico, militar, pessoal, podendo ser também nos campos político ou
social, especialmente aqueles que envolvem uma abrupta mudança iminente, "um tempo de teste" ou
caso de emergência.
Alemão41
(tradução
do
autor com apoio
do
Google
Tradutor)
A crise (alto e aprendeu grego κρίσις, krisis, originalmente chamado de opinião","avaliação","decisão",
em seguida, mais no sentido da" escalada”) significa um problema com um ponto de alteração de dada
situação de tomada de decisões relacionadas. "Crise" é uma disciplina científica discutida de diferentes
maneiras em medicina e psicologia, na economia e sociologia, bem como em ecologia e teoria dos
sistemas.
Francês42
Etimologicamente falando, a palavra crise é associada ao significado de “decisão "e" Julgamento ", em
grego," Κρίσις ". Crise é a capacidade de distinguir uma decisão entre duas escolhas. A crise, portanto,
exige decisão, ação. É uma situação rara, caracterizada pela instabilidade, que obriga a adotar uma
atitude para retornar ao modo normal de vida.
Crise (para a comunidade da Wikipédia) seria, em síntese: determinada situação no
tempo e no espaço, que acontece raramente, de forma instável, incomum, emergencial,
abrupta, que desorganiza dada situação ou processo considerado ―normal‖ e que impõe
decisão, ação, avaliação, tomada de decisão, entre uma ou mais escolhas para se retornar a
um dado estágio de retorno a dada regularidade ou normalidade, sendo o tema estudado e
concebido em diferentes áreas de conhecimento.
Nota-se que a crise é encarada como um momento de passagem entre dois momentos,
marcado pela eclosão de uma situação aguda, que necessita de uma ação imediata para não
37
38
39
40
41
42
Pesquisa feita em 07/11/2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
http://es.wikipedia.org/wiki/
http://en.wikipedia.org/wiki/
http://de.wikipedia.org/wiki/
http://fr.wikipedia.org/wiki/
29
aprofundar ainda mais dada situação difícil. Numa síntese entre a definição do dicionário
Houaiss e o que se coletou na Wikipédia, teríamos, então, as seguintes premissas iniciais para
compor um conceito de crise:

momento difícil de decisão;

que causa surpresa;

que ocorre de forma abrupta;

que exige ação ou atitude emergencial, tomada de decisão;

causador de instabilidade, que desorganiza determinada ordem vigente;

período raro, incomum, que ocorre em dado tempo e espaço específicos;

momento de agravamento de dada situação pré-existente, que se intensifica,
eclode;

ocorre entre duas fases, que pode, ou não, retornar à fase anterior, causando
mudanças mais ou menos profundas (evolução ou revolução); Situações
irregulares, fora de determinado padrão;

intensidade;

alteração de um momento a para momento b.
Resumindo as duas definições do Houaiss e Wikipédia, teríamos: Crise é determinada
situação de intensa mudança no tempo e no espaço, que acontece raramente, de forma
instável, potencialmente geradora de conflitos, com eclosão súbita, incomum, emergencial,
abrupta, que desorganiza dada situação ou processo considerado ―normal‖ e que impõe
decisão, ação, avaliação, tomada de decisão, entre uma ou mais escolha para se retornar as
um dado estágio de retorno a dada regularidade ou normalidade, através de fase
intermediária (conjuntural ou estrutural), em dada organização de uma sociedade, alterando
suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões culturais, sendo o tema
estudado e concebido em diferentes áreas de conhecimento.
Procurou-se, nesta subseção, dialogar com os conceitos de crise, tanto da Wikipédia,
como do dicionário Houaiss para começar o trabalho da construção de um conceito para a
presente pesquisa.
2.1.2 O CONCEITO DE CRISE FONTES ESPECIALIZADAS
Nesta subseção é trabalhado o conceito de crise nas outras ciências, bastante evocado,
por exemplo, por economista e estudiosos da administração. Nesta subseção, haverá a
30
continuidade da argumentação com o objetivo de firmar o conceito. GAO fez extenso
levantamento do conceito de crise por diferentes autores acadêmicos e contextos (GAO,
2010), alguns deles fortemente marcados pelo estudo de crises organizacionais, sobre a qual o
tema crise é mais emergente, em função de necessidades de ação mais prementes, como
ilustrado a seguir (tabela 3):
Tabela 7 - definições de crise para autores for a da CI
DEFINIÇÕES DE CRISE PARA AUTORES FORA DA CI
DEFINIÇÃO DE CRISE
AUTOR
Evento que envolve surpresa, ameaça e um tempo de resposta curto
HERMANN, 1963
Ameaça para o sistema em sua totalidade
FINK, BEAK e TADDEO,
1971
Ameaça para dada organização para sua própria sobrevivência
NYSTROM e
STARBUCKS,1984; e
MITROFF, 2005
Situação específica, inesperada e não-rotineira, de evento ou série de eventos que criam
altos níveis de incerteza e de ameaça a determinada organização e suas metas prioritárias
ULMER, SELLNOW e
SEEGER, 2007
Ameaça grave para a base estruturas ou o valor fundamental e as normas de um sistema
social
ROSENTHAL e CHARLES,
1989
Situações extraordinárias em espécie e ou extensão, testando a resistência de uma
sociedade a expor as deficiências de seus líderes e instituições públicas
DRENNAN e
MCCONNELL, 2007
Ameaça aos objetivos, capacidade reduzida para controlar o ambiente e um curto espaço
de tempo percebido
CLARK, 1988
Evento de baixa probabilidade com grande consequência capaz de ameaçar a
legitimidade de dada organização, sua rentabilidade e, por fim, sua viabilidade
SHRIVASTAVA, 1987
Ameaça imprevisível, com efeito negativo se gerenciada de forma incorreta, sobre dada
organização ou indústria
COOMBS, 2006
Situação indesejada, inesperada, sem precedentes, uma situação quase incontrolável
ROSENTHAL, BOIN e
COMFORT, 2001; e
SUNDELIUS STERN, 2002
Perturbação física que afeta um dado sistema como um todo e ameaça seus pressupostos
básicos, tal como a sensação subjetiva de si mesmo e seu núcleo existencial
PAUCHANT e MITROFF,
1992
Tempo instável ou estado de situações nos quais há uma mudança decisiva iminente em
curso com a possibilidade distinta de resultados altamente indesejável ou altamente
desejável, com resultados extremamente positivos
KEEFFE e DARLING, 2008
Fonte: (GAO, 2010)
Incorporando as definições acima com as do Dicionário e da Wikipédia, poderíamos
listar aspectos recorrentes sobre crise:

Momento difícil, que inviabiliza, em parte ou no todo, o funcionamento de dada
estrutura;

que exige ação ou atitude emergencial, tomada de decisão;

que pode se agravar ou abrandar, conforme decisão tomada;

causador de instabilidade, que desorganiza determinada ordem vigente, em sua
parte ou todo;
31

período raro, incomum, que ocorre em dado tempo e espaço específico;

situações irregulares, fora de determinado padrão;

que ocorre com intensidade, quase incontrolável;

que causa surpresa;

momento de testes de resistência de determinada estrutura;

que ocorre de forma abrupta;

momento de agravamento de situação pré-existente, que se intensifica, eclode;

ocorre entre duas fases, que pode, ou não, retornar à fase anterior, causando
mudanças mais ou menos profundas (evolução ou revolução);

alteração de um momento a para momento b;

que tem efeitos positivos, pois acelera mudanças necessárias.
A comparação das duas visões nos leva a conceber a seguinte definição: Crise é
determinado fenômeno que envolve surpresa, ameaça, quase incontrolável e um tempo de
resposta curto, de intensa mudança no tempo e no espaço, que acontece raramente, de forma
instável, não rotineira, que cria altos níveis de incerteza. É um fato potencialmente gerador
de conflitos, com eclosão súbita, com característica de ameaça para dado sistema ou
organização em sua totalidade ou sobrevivência, em suas metas prioritárias, (e/ou)
rentabilidade, testando a resistência e deficiências. Trata-se de fato incomum, emergencial,
abrupto, que desorganiza dada situação ou processo considerado ―normal‖ e que impõe
decisão, ação, avaliação, tomada de decisão, entre uma ou mais escolha para se retornar a
um estágio de dada regularidade ou normalidade, através de fase intermediária (conjuntural
ou estrutural), alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões
culturais, podendo, conforme as ações realizadas, tornar-se processo com resultados
extremamente positivo, sendo o tema estudado e concebido em diferentes áreas de
conhecimento.
2.1.3 A ANATOMIA DAS CRISES
De maneira geral, ao se estudar o fenômeno crise os autores sentem a necessidade de
dividi-la em diferentes momentos: aqueles que antecedem suas causas e as ações humanas que
são feitas para contorná-la. Ulmer detalha que a classificação se torna útil para ajudar a
reduzir a incerteza quando ocorre uma crise (ULMER et al., 2007).
32
Desse ponto de vista, dois momentos se apresentam a pré-crise e o pós-crise, sendo o
centro de ambos o momento mais agudo pelo qual é preciso revisar conceitos, repensar
processos e se analisar as ações necessárias para sair da mesma e, se possível, evitar situação
igual. Pode-se detalhar ainda mais, tal com fez Fink, por exemplo, ao se debruçar sobre crises
corporativas. O autor detalha estas etapas da seguinte maneira (FINK, 1986):

os sintomas precoces;

a crise aguda;

a definição dos contornos da crise;

a fase da resolução da mesma
A ideia da divisão das crises será útil para analisar macrocrises, pois podemos separar
claramente o momento anterior da macrocrise para o posterior, quando esta já começa a ser
analisada e passa-se a tentar contornar o problema.)
Mitroff, também ao refletir sobre o tema (mais voltado para as organizações), avalia
que uma crise tem as seguintes etapas (MITROFF, 2005):

um evento (gatilho) que inicia uma mudança significativa, que chama a atenção
dos membros de dada organização;

a gestão da organização se sente incapaz de lidar com a mudança que ocorrem;

o gatilho é tão significativo como uma ameaça para a sobrevivência da
organização.
No caso das macrocrises podemos considerar que o “evento gatilho” é o surgimento
de uma nova tecnologia (no caso contemporâneo a Internet), que demonstra que havia uma
demanda reprimida. Há uma compreensão do problema e admite-se que havia uma macrocrise
em curso. Há vários fatores envolvidos na fase da pré-crise serão desenvolvidas mais adiante.
Podemos assim, do ponto de vista do processo, resumir crise em fases:

o antes (causas);

o depois (consequências).
E as ações que serão realizadas:

o diagnóstico tanto das causas e das consequências, que preparam ações
reparadoras;

as ações reparadoras para que a crise seja minimizada ou resolvida;

as medidas para evitar que nova crise ocorra.
Além das fases e ações, é possível ainda identificar na literatura acadêmica
classificações para caracterizar diferentes tipos de crise.
33

as de origem natural (provocada exclusivamente pelos fenômenos da natureza, tais
como terremoto, tsunami, grande tempestade) sobre as quais só resta o
monitoramento, a previsão e ações para dirimir os danos e perdas;

as crises provocadas pela ação humana, que são as mais comuns e as que podem
ter uma ação preventiva efetiva, se comparadas às provocadas por acidentes
climáticos, por exemplo. (MITROFF, 2005).
Crises provocadas pela natureza podem ser afetadas por ações humanas e as ações
humanas afetadas pelas crises provocadas pela natureza, pois a evolução humana é uma eterna
relação entre estes dois elementos (GAO, 2010). Entretanto, cabe-nos discutir as crises
humanas, nas quais vão se inserir as informacionais. Ao estudar as crises humanas, Gao,
principalmente baseado em crises organizacionais, procurou definir diferentes tipos, que
podemos dividir em fatores distintos causas e consequências. Do ponto de vista das causas,
podemos identificar:
Tabela 8 – tipos de crises humanas
TIPOS DE CRISES HUMANAS
CATEGORIAS
Pelos fatores de
motivação
TIPOS DE CRISES HUMANAS
Provocadas - com a
intenção de gerar a crise
Acidentais - Ocorridas por negligência,
falta de experiência, conhecimento de
recursos, capacitação.
AUTOR
ULMER et al., 2007;
e HWANG e
LICHTENTHAL,
2000
Fonte: GAO, 2010.
Conforme a tabela 4, crises acidentais são aquelas que ocorrem por erros e problemas
independentes de ações humanas, e as provocadas podem ser incluídas dentro da ideia de
sabotagem ou má fé. Notaremos que ao analisar uma macrocrise informacional iremos
considerá-la uma crise acidental de grandes proporções que não temos consciência de sua
existência. A crise, assim, não é provocada, mas fruto de movimentos da sociedade, atribuídos
ao aumento de volume informacional, que tornam ingovernáveis os ambientes de informação
com os conceitos e teorias anteriores.
Do ponto de vista das consequências, podemos identificar, em um primeiro
momento:
Tabela 9 – tipos de crises humanas (abruptas e cumulativas)
TIPOS DE CRISES HUMANAS (ABRUPTAS E CUMULATIVAS)
CATEGORIAS
Pelo impacto
TIPOS DE CRISES HUMANAS
Abruptas - sem anúncio ou
possibilidade de monitoramento
Cumulativas - já alertadas ou
com o monitoramento falho
AUTOR
HWANG e
LICHTENTHAL,
2000
34
Nessa direção, qualquer crise provocada por ações humanas, não intencionalmente,
nos levará necessariamente a procurar os motivos que podem desencadear acidentalmente
determinada crise e, posteriormente, os métodos de controle das ações que possam evitá-la.
Assim, o que pode diferenciar uma crise é determinar se as causas para sua eclosão têm
fatores conhecidos ou não pela sociedade (e pela academia). Tal raciocínio aponta para dois
tipos de classificação para as crises:

Crises conhecidas não paradigmáticas - são aquelas nas quais há métodos de
controle conhecido, mas que foram negligenciados ou deliberadamente alterados
por algum motivo pelos responsáveis para evitá-la. São crises em que os métodos
de controle dos processos não precisam ser revistos, mas apenas executados e as
reflexões a serem feitas giram em torno de por que não o foram. Portanto, não são
crises paradigmáticas ou teóricas, pois os paradigmas teóricos, que deram suporte
aos métodos práticos, não foram questionados. Não há necessidade de rever os
paradigmas teóricos, que deram suporte aos métodos práticos, que seriam crises
contornadas por aspectos mais práticos do que teóricos.

Crises desconhecidas, paradigmáticas ou teóricas - são aquelas nas quais não há
reconhecimento dos fatores que podem desencadear determinada crise, e os
métodos de controle conhecidos já não são válidos por aqueles que eram
responsáveis para evitá-la e que, a partir da sua eclosão, precisarão ser
conceituados, registrados e adotados. São crises em que os conceitos e as teorias
que definem os controles dos processos precisam ser revistos, do ponto de vista
teórico, para só, então, adotar novos métodos. São assim, crises paradigmáticas ou
teóricas. Há necessidade de rever os paradigmas teóricos, que deram suporte aos
métodos práticos, que seriam crises contornadas por aspectos mais teóricos do que
práticos.
As crises de causas desconhecidas paradigmáticas ou teóricas nos levariam a duas
possibilidades de classificação:

com referência teórica existente na sociedade - caracterizada por haver métodos
de controle conhecidos e reconhecidos pela sociedade, mas que não haviam sido
incorporados por dada organização ou estrutura, que precisam ser compreendidos
e adotados. Assim, a crise é desconhecida, paradigmática, mas há alternativas
teóricas na sociedade conhecidas a serem utilizadas, bastando conhecê-las,
aperfeiçoá-las e adotá-las;
35

sem referência teórico existente na sociedade - caracterizada por não haver
métodos de controle conhecidos pela sociedade, sendo necessário estudos teóricos
para que sejam descobertos, registrados e adotados, implicando em revisões
paradigmáticas e no desenvolvimento de novas teorias para que a crise possa ter
seus métodos de reconhecimento de fatores conhecidos e as medidas adotadas
para evitar a eclosão da mesma.
Por esta classificação, podemos afirmar que crises desconhecidas sem referência
teórica existente são paradigmáticas da Ciência. Tal percepção se aproxima dos conceitos de
Kuhn. Ao estudar o avanço científico, o autor aponta ciclos nos quais, em alguns momentos,
em dada Ciência, há a necessidade do desenvolvimento de novas teorias sobre determinado
fenômeno que permita uma revisão geral dos conceitos até então conhecidos, para que se
possa desenvolver um novo paradigma. (KUHN, 2000).
No decorrer da tese que as crises globais
se encaixam nesse momento e nessa
classificação, ilustradas pela na citação abaixo:
Essa oscilação da ciência leva-nos a uma interminável lista de teorias científicas
permeadas por descontinuidades "como resultado de diferentes maneiras de
conhecer e construir os objetos científicos, de elaborar os métodos e inventar
tecnologias... (...) Aqui não nos importa a expressão (revolução científica ou
ruptura epistemológica), mas o reconhecimento de que algo mudou e que
continuará mudando sempre que o instituído não der conta de esclarecer os
questionamentos colocados pelo ser humano‖ (CARVALHO e KANISKI, 2000).
Nessa linha de raciocínio podem ser considerados, os conceitos de mudanças de
Schumpeter, do caráter "radical" versus "incremental" das inovações tecnológicas. As
inovações radicais representam uma ruptura com o padrão tecnológico até então vigente,
originando novos produtos, processos, setores e mercados (ou seja, representam produtos,
processos, setores e formas de organização inteiramente novas) (SCHUMPETER, 1934).
As inovações incrementais, por sua vez, referem-se à introdução de melhorias e
aperfeiçoamentos em produtos, processos ou na organização da produção. O design, a
combinação e adaptação de tecnologias já existentes, no sentido de se aperfeiçoar os
processos de produção e a redução de materiais e componentes na produção de um bem,
podem ser consideradas inovações incrementais (ROCHA e DUFLOTH, 2009).
Dessa maneira, crises não-paradigmáticas solicitariam mudanças incrementais e crises
paradigmáticas nos levariam a alterações radicais na maneira de se pensar determinados
problemas, exigindo novas teorias. Araújo analisa esse “pêndulo” ao estudar o modelo dos
36
sistemas. Afirma que na teoria geral dos sistemas haverá sempre momentos de rupturas e
equilíbrio, o que é desejável entre todas as partes: “equilíbrio significa „estabilidade
dinâmica‟, preservação de caráter dos sistemas, quando este atravessa períodos de
crescimento e expansão” (ARAÚJO, 2005).
Capra nos lembra que a civilização continua a crescer quando sua resposta bemsucedida ao desafio inicial gera um ímpeto, cultura que leva a sociedade para além de um
estado de equilíbrio, que então se rompe e se apresenta como um novo desafio. Desse modo,
padrão inicial de desafio-resposta é repetido com sucessivas fases de crescimento, pois cada
resposta bem sucedida produz um desequilíbrio que requer novos ajustes criativos (CAPRA,
1982).
No caso das crises, novos paradigmas permitiriam um reconhecimento maior de
causas e consequências (seu contorno), o que propiciaria o desenvolvimento de novos
métodos de controle. Crises paradigmáticas implicariam na adoção de conceitos da Ciência
Pura ou Básica, através da revisão teórica sobre determinado fenômeno.
Esse tipo de crise sem referencial teórico, paradigmática, seriam crises teóricas, que
resultariam em situações práticas. Porém, para minimizar seus aspectos exigiriam estudos
científicos e históricos aprofundados para coletar momentos similares do mesmo fenômeno,
analisando suas possíveis causas e consequências. Ao se traçar as causas de tais crises, podese vislumbrar possíveis soluções para que possam ser previstas, minimizadas e muitas vezes
contornadas.
Nessa classificação que envolve a necessidade de referencial teórico, ganha
destaque o conhecimento e a informação. Se dada crise eclode por falta de métodos de
controle, caracteriza-se a necessidade de criação de métodos registrados em dada
documentação para que não ocorra mais. Se existe a documentação e esta não é consultada,
devem-se observar os motivos (um ajuste incremental). Por fim, se há a crise e não há teoria
existente, é necessário desenvolvê-la e registrá-la em documentos (um ajuste radical, pois
necessitará de novos conceitos e valores). Portanto, podemos afirmar que toda crise
provocada por ações humanas terá sempre um viés informacional a ser analisado e
diagnosticado através da validação de dada teoria existente, ou pela criação de uma teoria que
possa criar métodos de diagnóstico e controle para identificar seus sintomas com antecedência
ou, quando ocorre, ter procedimentos para minimizá-la.
Gilpin e Murphy, por exemplo, reforçam essa visão, pois acreditam que, de uma
maneira ou de outra, toda situação de crise envolve problemas de informação, conhecimento e
37
compreensão e todos envolvidos pela crise o são por uma questão de processamento de uma
dada informação (GILPIN e MURPHY, 2008).
Do ponto de vista das conseqüências, uma classificação de crise permitiria ainda a
seguinte classificação para definir sua amplitude:
tabela 10 - tipos de crises humanas (localizadas e globais)
TIPOS DE CRISES HUMANAS (LOCALIZADAS E GLOBAIS)
CATEGORIAS
Pela abrangência
TIPOS DE CRISES HUMANAS
Localizadas - delimitadas a certo
espaço
Globais - com abrangência ampla
AUTOR
BOIN et al., 2008;
HWANG e
LICHTENTHAL,
2000
Crises localizadas ficariam restritas a determinada empresa ou região, ou mesmo país.
Crises globais extrapolariam tais fronteiras, podendo atingir um conjunto de países, podendo
ser considerada global, como será abordado ao se definir macrocrise.
2.1.4 A DEFINIÇÃO DE CRISE
Podemos, a partir desse ponto, conceituar crise, no que se mostrou mais adequado.
Entre todas as definições levantadas, tanto entre a comunidade científica e fora dela, como na
Wikipédia, assim como no dicionário Houaiss, podemos definir e caracterizar crises da
seguinte maneira: Crise caracteriza-se por um período raro e incomum, em dado tempo e
espaço específico, fora de determinado padrão estabelecido. É de intensidade quase
incontrolável, geradora de instabilidade e desorganização de determinada ordem vigente, em
sua parte ou todo, servindo como um rompimento de dada estrutura social, que exige ação ou
atitude emergencial, através de tomada de decisão, pois parte ou um todo passa a ser
impedido de forma parcial ou completa de atuar da maneira padrão. Tal situação pode se
agravar ou abrandar, conforme ações tomadas a posteriori, sendo esse momento um teste de
resistência de determinada estrutura. Podemos identificar dois tipos de causas: as práticas
(causadas pelo não uso de dado conhecimento existente na sociedade) ou teóricas (quando
não há conhecimento e a causa é desconhecida), sendo esta última com paradigmas já
desenvolvidos ou não desenvolvidos pela sociedade. E, por fim, podemos, a partir de sua
abrangência, defini-la como crise local ou global.
A definição acima procura ressaltar o aspecto da impossibilidade de continuidade total
ou parcial de determinado processo de crise por algum motivo, o que exige uma ação
38
emergencial. Dessa maneira, procura-se atribuir maneiras objetivas para caracterizar que
determinado momento pode ser considerado uma crise, já que existe objetivamente um
processo que não consegue ter continuidade, obviamente, variando a análise de cada
observador do que é a impossibilidade de continuidade.
Uma crise, em última instância, portanto, denotaria que determinado processo corrente
da sociedade não consegue mais ser executado da mesma maneira por vários motivos, a partir
das práticas ou dos conceitos que temos sobre eles, necessitando a revisão de um ou de outro,
conforme cada caso.
Tal definição nos permite caracterizar bem uma crise, como um momento de
passagem entre dois pontos, antes e depois de determinados fatos, que nos levam a mudança.
Tal caracterização nos facilita a visualização da passagem da sociedade antes e depois da
Internet e nos permite iniciar o trabalho da compreensão do fenômeno de macrocrises.
2.1.5 O CONCEITO MACROCRISE
Nesta seção, a partir do conceito de crise, será apresentado o conceito de macrocrise, a
partir do levantamento do conceito em outras ciências. A palavra macro é considerada por
Houaiss como elemento de composição antepositivo para denotar um efeito comprido, longo,
extenso, que se alia a outras palavras para denotar algo que tem um efeito maior do que outro,
de forma comparativa, tais como macroclima : “clima de uma ampla região geográfica”; e
macroevolução: “evolução em larga escala, que ocorre acima do nível das populações e que
dá origem a novas espécies ou grupos taxonômicos mais altos” (HOUAISS, 2002).
O uso mais corrente do antepositivo macro na sociedade, em função das buscas feitas
no Google Acadêmico, é o de macroeconomia. O dicionário Houaiss define macroeconomia
como “ramo da economia que estuda, em escala global e por meios estatísticos e matemáticos,
os fenômenos econômicos e sua distribuição em uma estrutura ou em um setor, verificando as
relações entre elementos como a renda nacional, o nível dos preços, a taxa de juros, o nível da
poupança e dos investimentos, a balança de pagamentos e o nível de desemprego”
(HOUAISS, 2002).
Sandroni (autor do Novíssimo Dicionário de Economia) define assim o termo
macroeconomia:
Parte da ciência econômica que focaliza o comportamento do sistema econômico
como um todo (...) Esse direcionamento fundamenta-se na ideia de que é possível
explicar a operação da economia sem que haja necessidade de compreender o
39
comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participam. Ao detectar as
forças gerais que impelem os agregados em determinada direção, a macroeconomia
estabelece as chamadas forças de "ajuste" ou "equilíbrio", que explicam o
comportamento do sistema econômico, caracterizando-o, de forma mecânica, como
um sistema de igualdades de equilíbrio (SANDRONI, 1999).
O conceito de macroeconomia, segundo Sandroni, se opõe ao da microeconomia:
Ramo da ciência econômica que estuda o comportamento das unidades de consumo
representadas pelos indivíduos e pelas famílias; as empresas e suas produções e
custos (...) Em outras palavras, a microeconomia ocupa-se da forma como as
unidades individuais que compõem a economia — consumidores privados, empresas
comerciais, trabalhadores, latifundiários, produtores de bens ou serviços
particulares etc. — agem e reagem umas sobre as outras (SANDRONI, 1999).
A tabela a seguir, ilustra as referências de micro e macro encontradas no dicionário
Houaiss:
Tabela 11 - conceitos de micro e macro fora da CI
CONCEITOS DE MICRO E MACRO FORA DA CI
MEIO AMBIENTE
Macroclima - clima de uma ampla região geográfica;
Microclima - variação localmente restrita do padrão climático geral em decorrência de condições
físicas específicas, como a topografia, a vegetação e o solo;
NA QUÍMICA
Macrociclo - composto orgânico de cadeia fechada que contém mais de dez átomos de carbono;
Microciclo - composto orgânico de cadeia fechada que contém menos de dez átomos de carbono;
NA FÍSICA
Microcosmo - estudo ou descrição do corpo humano;
Macrocosmo - tratado ou ciência do universo como um todo
Fonte: HOUAISS, 2002.
A partir das definições do dicionário Houaiss, nota-se a necessidade de separar
eventos que têm abrangência geral daqueles mais localizados, com reduzido aspecto,
geralmente menor ou local, na qualidade ou na quantidade, sendo delimitador para se
trabalhar com grandes ou pequenos cenários, processos e focos de atuação.
Na pesquisa feita no Google Acadêmico não se obteve nenhum resultado para ambas
as palavras macrocrise e microcrise43 em português. Entretanto, o termo macro-crisis em
inglês retornou com 197 resultados. Já a expressão micro-crisis, também em inglês, teve 38
resultados.
A expressão macro-crisis, em inglês, é utilizada para se referir às crises globais,
principalmente na Economia. Nela, o termo macrocrise não é incomum, apesar de se optar
mais por crises globais. Em se analisando o termo macrocrises na Economia, encontra-se nos
resultados de busca as seguintes situações:
Para caracterizar um forte impacto:
43
Fizemos a pesquisa utilizando-se do antigo acordo ortográfico, com hífens, macro-crise e micro-crise.
40
Macrocrise vem em muitas variedades. Uma característica comum (caso contrário
não seria uma macrocrise) é que durante sua duração o poder de compra médio cai
drasticamente (KANBUR, 2010).
Para caracterizar um aspecto mundial global:
A crise do Leste Asiático, por outro lado, é uma súbita descontínua macrocrises, e
seus efeitos potenciais sobre a desinstitucionalização de emprego para a vida pode
oferecer resultados intrigantes (ALAKENT e LEE, 2010).
Uma questão central para os políticos na tentativa de ajudar os pobres, através de
uma macrocrise, é a melhor forma de canalizar os recursos escassos nesse momento
de maior necessidade. Para a sustentabilidade do processo de liberalização, seria
melhor deixar a proteção em vigor até que a macrocrise seja superada. (FALVEY e
KIM, 1992).
Para caracterizar a passagem de uma área específica para uma geral:
O amplo leque da crise dos bônus transformou uma micro-crise que tinha uma
abrangência isolada de algumas empresas em dificuldades em uma macrocrise, que
ameaçou a integridade do mercado inteiro (HAHN, 2009).
O retorno acionário estimado calculado a partir do modelo multifator é concebido
como um link para o modelo de micro-crise. Em outras palavras, a empresa retorno
estimado calculado a partir da multifator (ou macroeconômico fatores) representa o
modelo de efeitos macro incorporada na micro-crise , conforme o modelo de
previsão (NITTAYAGASETWAT e TIRAPAT, 1999).
O conceito macro em Economia, como se vê, permite uma visão de um ambiente
como um todo, através da explicação de dada operação sem que haja necessidade de
compreender o comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participam. Ao
detectar as forças gerais que impelem os agregados em determinada direção, estabelece forças
de "ajuste" ou "equilíbrio" que explicam o comportamento do sistema, caracterizando-o, de
forma mecânica, como um sistema de igualdades de equilíbrio (SANDRONI, 1999).
Ainda na área de Economia encontramos o contraponto do que seria micro, ou o
comportamento das unidades representadas pelos indivíduos e pelas famílias; as empresas,
das unidades individuais que reagem umas sobre as outras (SANDRONI, 1999). Se
analisarmos, sob esse ponto de vista, estudos sobre a crise global ecológica, pesquisadores do
meio ambiente procuram ter essa visão planetária geral. Como exemplo, a visão de LEFF
sobre crise civilizatória:
A crise ambiental tem repercutido nos estilos de vida e de consumo, na ética e na
cultura, na dinâmica política e social e na organização do espaço em escala
mundial. (...) é uma ―crise civilizatória‖, a qual se apresenta como um limite no
real que significa e reorienta o curso da história. A crise ambiental se constitui na
crise do pensamento ocidental, da metafísica que fez a disjunção entre ―o ser e o
ente‖, que produziu um mundo fragmentado e coisificado no controle e domínio da
natureza. (...) Nesse contexto, os problemas ambientais ultrapassaram as fronteiras
nacionais e uma nova categoria de questões ambientais emergiu, ou seja, questões
cujas conseqüências são globais e os autores envolvidos transcendem uma única
região ou país. Dentre as principais, hoje se destacam: a destruição da camada de
41
ozônio, a mudança climática global, o aquecimento global, a poluição dos
ambientes marítimos, a destruição das florestas e a ameaça à biodiversidade
(MUNIZ, 2009).
Há nas diferentes abordagens a necessidade de apontar o inter-relacionamento entre
crises localizadas e crises globais, como, por exemplo, na abordagem das crises ecológicas: “o
que é absolutamente novo é que as crises locais e regionais estão se tornando sempre mais
agudas pela influência de crises globais” (GIULIANI, 1999).
Define-se nesse campo de estudo crises locais como inseridas em uma dada sociedade
institucionalmente organizada e outras crises cujo efeito se faz sentir em todo o mundo
(OCDE, 2001).
Ao se estudar macrocrises, portanto, aproveitando-se da sugestão da Economia e da
Ecologia, visa-se analisar crises que seriam provocadas por tendências gerais, que permitiriam
ter uma visão mais ampla de um dado processo e tendências passadas e futuras. Pode-se
perceber
na
abordagem
da
crise
global
ambiental
as
seguintes características:

A visão de atores coletivos, tal como o conjunto da civilização;

Causas globais: a crise de pensamento ocidental;

A abrangência além de fronteiras nacionais e regionais;

A visão histórica como facilitadora para a compreensão da crise;

E consequências que repercutem em todo o planeta: “destruição da camada de
ozônio, a mudança climática global, o aquecimento global, a poluição dos
ambientes marítimos, a destruição das florestas e a ameaça à biodiversidade”.
(MUNIZ, 2009).
A macrocrise denotaria na Ecologia, como na Economia, comportamento que atingiria
de forma isolada unidades representadas por indivíduos, seus grupos ou empresas. Outros
autores, tais como Pereira e Antunes, preferem denominar como crise global, ao invés de
macrocrise:
A crise bancária que teve início em 2007 e tornou-se uma crise global em 2008
provavelmente representará uma virada na história do capitalismo (BRESSERPEREIRA, 2010).
Premonitória, podemos adicionar que, em plena eclosão da mais recente crise
global, esse quadro se amplia ainda mais e nos faz presenciar uma corrosão ainda
maior do trabalho contratado e regulamentado, que foi dominante ao longo do
século XX, de matriz tayloriano-fordista (ANTUNES, 2010).
42
Entretanto, o termo crise global é mais utilizado do que o termo macrocrise, como se
vê no resultado do Google Acadêmico, em português, que teve como resposta 1650
resultados44, contra nenhum de macrocrise (ou macro-crise). Assim, a ideia de se definir o
conceito de crise global pressupõe que todo o globo seria atingido, incluindo todos os países.
Macrocrise, ao invés de crise global, como prefere a Economia, pode sugerir que há
uma crise de grande relevância em curso, porém abre espaço para que não necessariamente
atinja todo o planeta, podendo ser macro, porém não global, já que dificilmente todos os
países, regiões e habitantes seriam afetados por ela, ao mesmo tempo. Por exemplo, uma crise
financeira pode ter atingido vários países, caracterizando-se, assim, como uma macrocrise.
Mas se deixou de atingir a vários deles, não se pode dizer que foi uma crise global; sendo
assim, o termo macro tornaria o conceito mais preciso.
Outra vantagem do uso do conceito macro e micro é permitir caracterizar melhor
efeitos maiores e menores, independente de se apontar localizações específicas. São
fenômenos de maior ou menor escala, e as expressões macro e micro seriam mais expressivas
do que global ou local. Geralmente uma crise atinge pessoas de regiões diferentes, de forma
diferente. A ideia de se trabalhar com macrocrise deixaria, assim, em aberto, necessitando de
um detalhamento de sua abrangência, o que permite mais precisão para se trabalhar com o
dado conceito.
Na Ciência da Informação o termo macrocrise não apresenta resultados no Google
Acadêmico. Opta-se na área pelo uso de crise global. O resultado obtido pela combinação de
"crise global" + "ciência da informação" possibilitou, em português, apenas 17 resultados. Em
inglês, o termo "global crisis" + "information science" retornou 125 resultados45.
Podemos caracterizar seu uso, por exemplo, com Albagli, que ao descrever os desafios
para o Século XXI utiliza a expressão:
Vivemos hoje um processo de transformação ou crise global, o qual pode ser
indicativo da emergência de uma nova lógica civilizatória, baseada em novos
valores, novos modelos societários e novos padrões de acumulação. O sentido da
mudança permanece, até o presente, em grande medida incerto e imprevisível
(
ALBAGLI, 1995).
Ou ainda com Warner:
Biblioteca e estudos de informação (LIS) estão dando sinais de estar em crise como
uma disciplina. As transformações institucionais tendem a ser percebidos em termos
locais, mas pode ser mais convincente, considerados como produtos de uma crise
quase global, mediado pela evolução local (WARNER, 2001).
44
45
Pesquisa feita em novembro de 2010.
Pesquisa feita em novembro de 2010.
43
2.1.6 A DEFINIÇÃO DE MACROCRISE
A PARTIR DO EXPOSTO, AO SE PENSAR em macrocrises estaríamos
definindo que são: Crises com amplas consequências para a sociedade, atingindo parte da
população mundial ou parte de suas regiões, através da reação de um coletivo de indivíduos.
Ao detectar as forças gerais que impelem os fatores da crise em determinada direção, há uma
fase das chamadas forças de "ajuste" ou "equilíbrio", que explicam o comportamento do
sistema como um todo. Assim, nesta crise não há tanto ações individuais, mas movimentos
coletivos. Da mesma maneira que em todas as crises, há a macrocrise prática, cuja causa é
conhecida, e a macrocrise teórica, não conhecida e que demanda estudos teóricos.
Assim, do mesmo modo, ao se pensar em microcrises definimos que são como: Crises
humanas com consequências restritas para a sociedade, atingindo parcialmente habitantes,
organizações ou algumas de suas regiões, através de uma reação de um conjunto pequeno de
indivíduos. Nestas crises há a possibilidade de ações individuais para realizar os ajustes. Da
mesma maneira que em todas as crises, há microcrises práticas, cujas causas são conhecidas,
e macrocrises teóricas, cujas causas não são conhecidas e que demandam estudos teóricos.
O conceito de macrocrise nos fornece a base para introduzir o conceito de informação
e, a partir dele, definir o que seriam macrocrises da informação, conforme será abordado na
próxima seção.
44
2.2 O CONCEITO INFORMAÇÃO
Nesta seção, será apresentado o conceito de informação, a partir do levantamento do
conceito em fontes não especializadas e fora da CI.
2.2.1 O CONCEITO INFORMAÇÃO NAS FONTES NÃO
ESPECIALIZADAS
Nesta subseção, serão apresentados o conceito de informação, a partir do levantamento
foi feito no Dicionário Houaiss e na Wikipédia. O Dicionário Houaiss apresenta a definição de
informação em oito tópicos divididos através de rubricas específicas, que denotam diversas
acepções do termo:
Informação: ato ou efeito de informar (-se)
1
comunicação ou recepção de um conhecimento ou juízo
2
o conhecimento obtido por meio de investigação ou instrução;
esclarecimento, explicação, indicação, comunicação, informe
3
acontecimento ou fato de interesse geral tornado do conhecimento público
ao ser divulgado pelos meios de comunicação; notícia
4
em âmbito burocrático, esclarecimento processual dado ger. por funcionário
de apoio à autoridade competente na solução ou despacho de requerimento,
comunicação etc.
5
informe escrito; relatório
6
conjunto de atividades que têm por objetivo a coleta, o tratamento e a
difusão de notícias junto ao público
Ex.: liberdade de i.
7
conjunto de conhecimentos reunidos sobre determinado assunto
Ex.: a i. existente sobre a nova doença é insuficiente
8
elemento ou sistema capaz de ser transmitido por um sinal ou combinação
de sinais pertencentes a um repertório finito
A seguir, apresenta-se a tabela 8 sobre os conceitos de Informação a partir do Houaiss:
Tabela 12 - verbetes do dicionário Houaiss sobre informação
VERBETES DO DICIONÁRIO HOUAISS SOBRE INFORMAÇÃO
COMÉRCIO
Opinião ou parecer que contém dados sobre uma pessoa física ou sobre a evolução de uma
pessoa jurídica Ex.: revelaram-se boas as i. sobre o fornecedor
COMUNICAÇÃO
Quantidade numérica que mede a incerteza do resultado de um experimento a realizar-se;
medida quantitativa do conteúdo da informação
INFORMÁTICA
Mensagem suscetível de ser tratada pelos meios informáticos; conteúdo dessa mensagem;
interpretação ou significado dos dados; produto do processamento de dados
TERMO MILITAR.
REGIONALISMO: BRASIL
Conjunto de informes (documentos ou observações) já analisados, integrados e interpretados,
que habilita um comandante a tomar decisões seguras relativas a uma linha de ação e à conduta
da manobra
DIREITO (FALIMENTAR/
ADMINISTRATIVO/
PROCESSUAL)
Fase inicial do processo falimentar onde são apurados os bens, direitos e obrigações do falido;
ato pelo qual órgão da administração pública faz esclarecimentos sobre o processo
administrativo; conjunto de dados fornecidos pela autoridade impetrada no habeas corpus
sobre o fato que se quer qualificar como abusivo
GARIMPO
Sinal de possível existência de diamantes nas adjacências, dado pela presença de satélites
('minerais')
45
Fonte: HOUAISS, 2002.
Em síntese, a partir do Dicionário Houaiss, teríamos a seguinte definição de
informação: ato ou efeito de informar (-se), através de comunicação ou recepção de um
conhecimento ou juízo, obtido por meio de investigação ou instrução; esclarecimento,
explicação, indicação, comunicação, informe, podendo ser um fato ou acontecimento de
interesse geral tornado do conhecimento público ao ser divulgado pelos meios de
comunicação, que têm por objetivo a coleta, o tratamento e a difusão de notícias junto ao
público incluindo notícias, ou através de informe escrito ou relatório. No âmbito burocrático,
é o esclarecimento processual dado geralmente por funcionário de apoio à autoridade
competente na solução ou despacho de requerimento, comunicação. Esse ato se reflete em um
conjunto de conhecimentos reunidos sobre determinado assunto, através de elemento ou
sistema capaz de ser transmitido por um sinal ou combinação de sinais pertencentes a um
repertório finito.
Para complementar a visão não especializada, optamos por levantar o conceito de
Informação na Wikipédia para se analisar como o conceito é apresentado na Internet. Naquele
site, podem-se obter as seguintes definições46 (tabela 9).
Tabela 13 - definições de informação em diferentes idiomas na Wikipédia
DEFINIÇÕES DE INFORMAÇÃO EM DIFERENTES IDIOMAS NA WIKIPÉDIA
IDIOMA
DEFINIÇÃO DE INFORMAÇÃO
Português47
Resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma
modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a
recebe.
Espanhol48
Em geral, é um conjunto organizado de dados tratados que constituem uma mensagem que muda o estado
de conhecimento do assunto ou o sistema que recebe a mensagem. Do ponto de vista da teoria geral dos
sistemas, qualquer sinal de entrada que pode alterar o estado de um sistema é peça de informação.
Inglês49
No seu sentido mais restrito técnica, é uma seqüência ordenada de símbolos. Como conceito, entretanto, a
informação tem muitos significados. Além disso, o conceito de informação está intimamente relacionado
às noções de restrição, comunicação, controle, formulário, instrução, conhecimento, significado, estímulo,
padrão, percepção e representação.
Alemão50
Do Latim Informare "forma", "uma forma, forma, fornecer informações", é um termo usado em muitas
áreas da vida, incluindo ciências naturais, ciências humanas, tecnologia e a escala da ação humana.
Francês51
Conceito com vários significados. Está intimamente ligada às noções de restrição, comunicação, controle,
dados, forma, instrução, conhecimento, ou seja, a percepção e a representação. A informação refere-se a
comunicar a mensagem e os símbolos utilizados para escrevê-lo usando um código de sinais de transmitir
significado, tais como letras do alfabeto, de números de uma base de dados ideogramas ou pictogramas.
Etimologicamente, a informação é o que dá forma ao espírito. Ela vem da Informare, verbo latino que
46
47
48
49
50
51
Pesquisa feita em 07/11/2010.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
http://es.wikipedia.org/wiki/
http://en.wikipedia.org/wiki/
http://de.wikipedia.org/wiki/
http://fr.wikipedia.org/wiki/
46
significa "moldar" ou "para formar uma ideia”.
Podemos, realizando uma síntese da definição da Wikipédia em vários idiomas,
constatar que existe um conceito sobre informação, que seria o seguinte: Informação é um
conceito com vários significados. O termo é utilizado em várias áreas do conhecimento,
ligado ao ato humano de se comunicar aprender e conhecer, através da percepção, a partir
de dada representação, dados, símbolos, códigos, tais como letras do alfabeto, números
ideogramas ou pictogramas. Do ponto de vista da formação da palavra (etimologicamente), a
informação é o que dá forma ao espírito, do verbo latino, Informare, que significa "moldar",
formar uma ideia, do Latin "forma", que possibilite uma modificação (quantitativa ou
qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe.
Ao realizar a síntese entre o Dicionário e a Wikipédia, teríamos a seguinte definição:
informação é o ato ou efeito de informar (-se), através do ato humano de comunicar,
aprender e conhecer, através de dada percepção, através da representação, dados, símbolos,
códigos, tais como letras do alfabeto, números ideogramas ou pictogramas. A informação é
obtida por meio de investigação ou instrução; esclarecimento, explicação, indicação,
comunicação, informe, podendo ser um fato ou acontecimento de interesse geral tornado do
conhecimento público ao ser divulgado pelos meios de comunicação, que têm por objetivo a
coleta, o tratamento e a difusão de notícias junto ao público incluindo notícias, ou através de
informe escrito ou relatório. No âmbito burocrático, é o esclarecimento processual dado
geralmente por funcionário de apoio à autoridade competente na solução ou despacho de
requerimento, comunicação. Esse ato se reflete em um conjunto de conhecimentos reunidos
sobre determinado assunto. É, entretanto, um conceito que permite vários significados e é
utilizado em várias áreas do conhecimento. Do ponto de vista da formação da palavra
(etimologicamente) a informação é o que dá forma ao espírito, do verbo latino, Informare,
que significa "moldar", formar uma ideia, do Latin "forma", que possibilite uma modificação
(quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a
recebe.
O levantamento e a junção dos conceitos nos parecem úteis para iniciar uma
comparação com outras ciências e, depois, com a CI a fim de podermos consolidar um
conceito final para detalhar as macrocrises da informação.
47
2.2.2 O CONCEITO DE INFORMAÇÃO NAS PUBLICAÇÕES
ESPECIALIZADAS
Nesta subseção será apresentado o conceito de informação através do levantamento do
termo em outras ciências, de forma a compor o conceito com mais elementos, para
posteriormente compará-lo com conceitos não problematizados pela Ciência.
É comum entre historiadores e filósofos a analise do papel da informação e do
conhecimento por meio da comparação entre a espécie humana e as outras espécies. Podemos,
por exemplo, afirmar que os seres humanos vivem sobre a Terra e os animais em nichos
ecológicos. O que distingue o humano dos animais é a nossa capacidade de nos comunicar,
informar e aprender com nossos contemporâneos e antepassados (LÉVY, 1999).
Diferente dos animais, que contam basicamente com o instinto, o ser humano é
dependente de suas mãos e cérebro, que operam encapsulados dentro de ambientes de
conhecimento, desde que o homem desceu das árvores e saiu das cavernas, há mais de 200 mil
anos52. Sob esse ponto de vista, o conhecimento vem substituir o que não temos, tais como
garras, patas, caudas, guelras, asas ou teias. Somos seres fundamentalmente culturais.
Formamos uma grande rede de relações para atender nossas necessidades, das mais básicas,
como comer e beber, até as mais sofisticadas, de lermos ou criarmos poemas para nosso autoreconhecimento (GLEISER, 2010).
Criamos a linguagem para nos comunicarmos e expandimos nosso espaço no planeta,
viabilizados por ambientes de informação e comunicação cada vez mais sofisticados. Gleiser
sugere que a linguagem nasceu, basicamente, tanto para facilitar a sobrevivência dos grupos
quanto para imitar os sons ouvidos pelo mundo; de cachoeiras e trovões aos pássaros e os
temidos tigres (GLEISER, 2009).
O conhecimento e a informação vêm, portanto, ajudar-nos a suprir nossas necessidades
humanas, tema, aliás, de estudo do psicólogo Abraham Maslow (1908-1970), sobre o qual
Barreto detalhou como sendo nossas necessidades básicas: alimentação, habitação, vestuário,
saúde, educação, estando no topo da pirâmide as de auto-realização (BARRETO, 1994).
Podemos dizer, assim, que se a humanidade construiu outros tempos, mais rápidos e
violentos que os das plantas e animais, é porque dispõe do extraordinário instrumento de
memória e propagação das representações que é a linguagem (LÉVY, 1993).
52
http://poeticacoletiva.blogspot.com/2009/08/homo-artisticus-marcelo-gleiser.html
48
O corpo de conhecimento do grupo sempre foi e será elemento fundamental de unidade
e personalidade, sendo a transmissão deste capital intelectual condição necessária para
sobrevivência material e social da espécie (LEROI-GOURHAN, 1987). Giramos, assim, no
interior de um triângulo mão-linguagem-córtex sensitivo motor entre o macaco e homem, em
busca de uma saída que não pudesse ser partilhada com o resto do mundo, zoológica ou
mecanicamente animado (LEROI-GOURHAN, 1965).
Nesse sentido, conseguimos cristalizar uma infinidade de informações nos objetos e em
suas relações; pedras, madeira, terra, construtos de fibras ou ossos e metais retêm informações
em nome dos humanos e de sua sobrevivência (LÉVY, 1993). O equipamento externo se ajusta
ao nosso corpo, a um número quase infinito de operações, mas tem como característica um
potencial, um “pode ser”, e não um “é”, através de um processo constante de fazer e aprender a
usar, criar novas formas e utilizar novas maneiras o que foi criado (CHILDE, 1962).
As técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas pelos homens durante seu uso,
da mesma forma que é também o próprio uso intensivo de ferramentas que constitui a
humanidade enquanto tal, junto com a linguagem e as instituições complexas (LÉVY, 1999).
As tecnologias intelectuais são, assim, apenas condições de possibilidade, dispositivos
suscetíveis de serem interpretados, desviados ou negligenciados. Portanto, podemos afirmar
que: “o estribo condicionou efetivamente toda a cavalaria e, indiretamente, todo o feudalismo,
mas não os determinou” (LÉVY, 1993).
Essa nossa habilidade adquirida, ao longo de séculos, de produzir ferramentas foi
conquistada pela observação, recordação e experiência:
Pode parecer um exagero, mas é bem certo dizer que qualquer instrumento é uma
materialização da ciência, pois representa a aplicação prática de experiências
lembradas, comparadas e reunidas, tal como as sistematizadas e sumarizadas nas
fórmulas, descrições e prescrições científicas (CHILDE, 1962).
Somos, portanto, seres que herdam tradições sociais, que são formadoras de uma
experiência coletiva acumulada pelo grupo – que, por sua vez, aprendeu com seus pais. A
experiência humana pode ser participada através da linguagem e seus desdobramentos, o que
nos emancipa da servidão do concreto (CHILDE, 1962). Nossa adaptabilidade de homo sapiens
está para sempre condicionada pelo meio social no qual vivemos e pensamos (LEROIGOURHAN, 1965).
Assim, saber sempre foi poder ou, como afirma de forma curiosa Man sobre os livros
impressos na Idade Média: “Quem sabia ler ficou com as melhores Terras” (MAN, 2002).
49
Castells defende que a informação e o conhecimento sempre foram elementos-chave ao longo
da história, poder e riqueza na sociedade (CASTELLS, 2004).
Assim, o corpo de conhecimento de grupo é peça fundamental para a nossa unidade,
personalidade e para a transmissão deste capital intelectual, representando condição necessária
para a sobrevivência material e social (LEROI-GOURHAN, 1965).
Ou, de forma mais enfática:
A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos depende de
sua capacidade de navegar pelo espaço do saber (LÉVY, 1998). É natural que as
sociedades mais interconectadas, mais rápidas, mais livres, mais inventivas e, logo,
mais poderosas explorem o futuro antes que as outras e, fazendo isso, elas
acentuam as distâncias que as separam das demais (LÉVY, 2001).
É bom recordarmos, por exemplo, que os homens de Neandertal, bem adaptados às
maravilhosas caças da tundra glacial, extinguiram-se quando o clima umidificou-se e
reaqueceu-se com excessiva rapidez. A despeito de sua inteligência, esses homens emitiam
grunhidos ou eram mudos, não tinham linguagem para se comunicar entre si.
Desse modo, as soluções encontradas aqui e ali para seus novos problemas não
puderam difundir-se. Permaneceram dispersos diante da transformação do mundo à
sua volta. Não se transformaram com ele (LÉVY, 1994).
Portanto, segundo estes autores a informação e o conhecimento são processos
fundamentais para que o ser humano atenda as suas necessidades materiais e sociais (das mais
básicas às mais sofisticadas) e possa sobreviver sobre a terra, sendo elemento-chave para
tomada de decisões, para obtenção e manutenção do poder e da riqueza. Elemento, assim, de
prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos.
Se pudermos depreender a visão da Informação em outras ciências, esta surge como um
elemento vital para sobrevivência da espécie humana e uma das diferenciações principais entre
o ser humano e as outras espécies. A informação é vista como um elemento vital para suprir
necessidades básicas e um fator principal para que possamos superar um conjunto de
obstáculos da natureza. Passa a ser um elemento vital de unidade e personalidade da espécie
humana, um fator diferencial entre as nações.
Comparado aos conceitos não especializados levantados na subseção anterior, pode se
afirmar que o aprofundamento do termo em outras ciências se enriquece, ao se enfatizar a
importância da informação para a espécie humana, sendo muito mais do que um simples ato de
comunicação. Destaca-se, assim, a relevância da informação para a sobrevivência da espécie e
para a geração de valor em uma dada sociedade.
50
2.2.3 O CONCEITO DA INFORMAÇÃO NA CI
Nesta subseção é apresentado o conceito de informação através do levantamento do
termo na CI, de forma a compor o mesmo com mais elementos, compará-los com os conceitos
não especializados e em ciências fora da CI para definirmos conceito final.
Se existe um consenso na Ciência da Informação é de que não o há na definição do que
é informação, por mais que estudantes e os pesquisadores da área se sintam frustrados com essa
realidade (MATHEUS, 2005). A indefinição não se deve à falta de esforços, pois já existem
registrados mais de 400 conceitos sobre o fenômeno (BELKIN e ROBERTSON, 1976).
A falta de consenso demarca a complexidade do termo, vital para a humanidade.
Assim, o que indica consenso nesse amplo dissenso:

informação é um termo polissêmico, pois permite múltiplos significados
(ARAÚJO, 1995);

existem muitas repostas possíveis, dependendo de quem responde (MATHEUS,
2005);

deve ser utilizada cada definição, conforme cada problema estudado (CAPURRO
e HJORLAND, 2007);

o termo deve ser usado para o bem do esclarecimento teórico, ou não sê-lo
(CAPURRO e HJORLAND, 2007).
O que se apreende é que a Informação, por ser uma ação e um recurso básico da
espécie humana, está envolvido em todas as atividades sociais. Por isso, é um conceito
polissêmico e deve ser utilizado para resolver determinados problemas da sociedade,
procurando descrevê-los e criar contornos a partir do problema pesquisado; no caso dessa
tese, apresentando-o na sua relevância maior e como um fator fundamental para a
sobrevivência humana.
Assim, coletamos e apresentamos na tabela 10, a seguir, algumas definições
consideradas úteis:
51
Tabela 14 - definições da ci sobre informação
DEFINIÇÕES DA CI SOBRE INFORMAÇÃO
DEFINIÇÃO
AUTOR
Informação é o que é capaz de transformar estrutura (imagem que um organismo tem de
si mesmo e do mundo, é construído um espectro de informação com uma tipologia de
complexidade crescente).
BELKIN e ROBERTSON,
1976
Informação é qualificada como instrumento modificador da consciência do homem.
BARRETO, 2002
Informação é conhecimento (para) ação.
FREIRE, 1995
A informação é o sangue da ciência. Sem informação, a ciência não pode se desenvolver
e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e o conhecimento não existiria.
SANTOS,
ALCÂNTARAELIEL e ELIEL, 2006
Informação é alimento, ar aí compreendido, são as condições necessárias à sobrevivência
do ser humano.
ARAÚJO, 1995
A informação é considerada como o ingrediente básico do qual dependem os processos
de decisão.
CAUTELA e POLIONI 1982
Ao se analisar os aspectos críticos do negócio tornou-se de primordial importância que a
informação é fundamental para tomar decisões que permitam a realização dos projetos
como previsto.
DANIEL, 1961
As definições acima têm em comum a ideia de que a informação não tem fim nela
mesma, mas é elemento vital, “sangue ou ar”, para o funcionamento “do corpo ou do pulmão”
da humanidade. Tal visão procura combater a ideia de que é possível avaliar a informação
como fim; esta só passa a ter sentido enquanto viabilizadora da vida para possibilitar a
sobrevivência da espécie e suprir suas demandas e necessidades.
Há, portanto, relação entre produzir, sobreviver e existir e os ambientes informacionais
que nos circundam. Quanto mais sofisticadas forem as necessidades humanas, mais os
ambientes informacionais deverão acompanhar esse processo. Esse fato ocorre na
complexidade e vem, ao longo dos últimos séculos, transformando as organizações,
responsáveis, em última instância, por produzir e utilizar o conhecimento para solucionar os
problemas humanos, através da informação.
Tal como a proposição de que informação é o que é capaz de transformar estrutura,
acrescentando um cunho mais ferramental e pragmático ao conceito, de que a “informação
além de ser tudo que é capaz de transformar estruturas, é ferramenta e insumo principal para
que o ser humano desenvolva tecnologias e metodologias necessárias para a sua sobrevivência
no planeta” (BELKIN e ROBERTSON, 1976).
Desde a luta pelo fogo até as atuais empresas modernas, quem lidava ou lida melhor
com a informação e dela sabe tirar proveito consegue levar vantagem, através de uma melhor
tomada de decisões, com inteligência, criatividade e, ocasionalmente, esperteza (CHOO, 2003).
Assim, se a informação é o insumo básico para nossa sobrevivência, a sua utilização
para que isso seja feito ocorre, principalmente, no âmbito das organizações produtivas, através
52
de tecnologias e metodologias, utilizadas principalmente por um dado setor produtivo, com
reflexos em toda a sociedade:
As pessoas das diferentes unidades de trabalho que compõem uma organização têm
necessidade de dados, informação e conhecimento para desenvolverem suas tarefas
cotidianas, bem como para traçarem estratégias de atuação. Portanto, dados,
informação e conhecimento são insumos básicos para que essas atividades
obtenham resultados satisfatórios ou excelentes (VALENTIM, CERVANTES et al.,
2003)
Nestes ambientes produtivos, independente do sistema econômico, a humanidade
deposita a esperança de que se resolvam seus problemas de produção de todos os tipos. Quando
nos referimos, assim, ao conjunto necessário de informação para a sobrevivência humana,
estamos nos referindo basicamente, em última instância, aos instrumentos para gerir a
informação organizacional, que se aproxima do conceito adotado pelos estudiosos da Gestão da
Informação, tal como Woodman. Este conceito visa:
Garantir um conjunto de capacidades próprias mobilizadas por uma entidade
lucrativa destinadas a assegurar o acesso, capturar, interpretar e preparar
conhecimento e informação com alto valor agregado para apoiar a tomada de
decisão requerida pelo desenho e execução de sua estratégia competitiva
(VALENTIN, 2002).
E, por fim, com as práticas de gestão de conhecimento que tentariam alcançar:
A criação, a aquisição e o compartilhamento e utilização de ativos de
conhecimento, para estabelecer fluxos que garantam a informação necessária no
tempo e formato adequados, a fim de auxiliar na geração de ideias, solução de
problemas e tomada de decisão" (MACHADO NETO, 1998) de tal forma a criar
valor alavancando os ativos intangíveis sendo ferramental que visa utilizar e
combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacional para desenvolver
competências específicas e capacidade inovadora... (TERRA, 2001).
Caracteriza-se, assim, uma possível evolução gradual do conceito de informação dentro
da CI. De uma visão mais estreita, prática e voltada aos suportes da informação como
registro, suporte ou como entidade (como fim em si mesmo), para a opção mais adequada à
analise dos problemas em curso, de informação como processo (meio para se chegar a
determinado fim). Ou, melhor detalhado:
A separação fundamental entre os diversos conceitos talvez seja oriunda da
distinção entre a informação vista como coisa ou objeto (por exemplo, no caso dos
bits e da teoria matemática da comunicação, de Shannon (1948)) e a informação
entendida como um conceito subjetivo, cujo significado, ou conteúdo informacional,
depende da interpretação e do contexto (CAPURRO e HJORLAND, 2007).
Os autores lembram que a questão Para que serve a informação? leva a outra: Para que
serve a própria CI? (MATHEUS, 2005). Essa realidade é lembrada por Araújo, que defende um
estudo mais voltado para o processo do que para os objetos:
53
Não se torna premente mudar o foco de suas atenções para a informação e não
para seus simulacros, muitas vezes distorcidos e mutilados?‖ (...) É fundamental
que a ciência da informação aproxime-se do fenômeno que pretende estudar o
encontro da mensagem com o receptor, ou seja, a informação, seu uso, implicações
e conseqüências. (ARAÚJO, 1995).
Esta ideia da informação como processo determina, segundo Barreto (BARRETO, 2002):

o afastamento da CI de suas origens mais ligadas à documentação e à
biblioteconomia, pois estas objetivam, essencialmente, o fluxo interno ao seu
sistema de informação, que abrange seleção, aquisição, catalogação, classificação,
indexação, armazenamento, recuperação e disponibilidade para uso de itens de
informação;

recoloca-a como ciência preocupada com a condição da informação, elemento
organizador, que gere harmonia e referencia o humano a seu destino; desde antes
de seu nascimento, com sua identidade genética, e durante sua existência pela
capacidade em relacionar suas memórias do passado com uma perspectiva de
futuro e assim estabelecer diretrizes para realizar sua aventura individual no
espaço e no tempo.
Pode-se perceber, ao se ler autores e observar a prática de seus profissionais, que quanto
mais se afastou dessa relação umbilical e tratou informação como um elemento isolado do
contexto. Barreto defende que as atuais mudanças oriundas da Internet tornam necessário um
novo tipo de ferramental para o estudo da realidade, impulsionados por dois motivos básicos
(BARRETO, 1997):

há um modelo teórico em mudança, no qual a relação entre a informação e o
conhecimento é privilegiada;

tecnologias intensas em inovação modificam, também, as condições de produção,
distribuição e uso da informação, com novos reposicionamentos que afetam, como
resultado, todos os atores do setor de informação, assim como os seus
relacionamentos.
O autor defende a necessidade de ampliar a visão do campo de ação da Ciência da
Informação, mudando o foco central dos Sistemas de Recuperação de Informação (Information
Retrieval System), já que os sistemas de recuperação da informação, de certa forma,
“obedecem a um rígido formalismo técnico e reducionista, que serviu aos propósitos de
gerenciamento e controle da informação em determinada situação” (BARRETO, 1997).
54
Nessa perspectiva, o objetivo da informação e de suas unidades gestoras passa a ser o de
promover o desenvolvimento do indivíduo de seu grupo e da sociedade através dos sistemas de
produção do conhecimento (BARRETO, 2007). O conhecimento, portanto, pode ser visto como
toda alteração provocada no estado cognitivo do indivíduo, isto é, no seu acervo mental de
saber acumulado, proveniente de uma interação positiva com uma estrutura de informação. É
também desenvolvimento, de uma forma ampla e geral, como um acréscimo de bem estar; um
novo estágio de qualidade de convivência que seria alcançado através da informação
(BARRETO, 1997).
Assim, conceito de informação como processo recoloca, por um lado, a informação
como uma atividade vital para a transformação humana, com capacidade ilimitada de
transformar culturalmente cada ser, a sociedade e a própria humanidade como um todo
(ARAÚJO, 1995). Passa a ser elemento modificador da consciência, ao ser adequadamente
apropriada, produzindo conhecimento e modificando o estoque mental de saber do indivíduo;
traz benefícios para seu desenvolvimento e para o bem-estar da sociedade em que vive
(BARRETO, 1997).
Os dois termos, informação e conhecimento, se integram em um mesmo processo como
fatores indissociáveis e indivisíveis, tal como definiu Davenport: “o conhecimento é a
informação em ação” (DAVENPORT, 1998). Ou como sintetizaram Wersig e Nevelling:
“informação é conhecimento (para) ação” (WERSIG e NEVELLING, 1975). Portanto, não
seria incorreto afirmar que é de uso comum e aceito na CI a conceituação de informação como
insumo, como condição básica para o desenvolvimento econômico juntamente com o capital, o
trabalho e a matéria-prima (CAPURRO e HJORLAND, 2007).
Reforça-se, assim, a ideia da informação e de conhecimento unidos como elementos de
ação cognitiva vital para a sobrevivência, como processos constituintes da vida. Ao se referir à
Ciência, Le Coadic usa a metáfora do corpo ao sugerir que informação é o sangue da ciência.
“Sem informação, a ciência não pode se desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria
inútil e o conhecimento não existiria” (LE COADIC, 2004). Ou ainda Sagan, ao defender que
“informação e alimento [ar, aí compreendido] são as condições necessárias à sobrevivência do
ser humano” (SAGAN, 1977).
A informação, na verdade, é indispensável para toda e qualquer atividade humana,
sendo, cada vez mais, vista como uma força importante e poderosa a ponto de dar
origem a expressões como: sociedade da informação, explosão da informação, era
da informação, indústria da informação, revolução da informação, sociedade póssociedade da informação. (ARAÚJO, 1995)
55
A nosso entender, a informação está para o cérebro assim como o ar para os pulmões e
o sangue para o coração. Sem ela, teríamos menos chances de sobreviver no passado e menos
qualidade no presente e futuro. No The Oxford English Dictionary (1989) destacam-se duas
funções nas quais o termo informação é utilizado: o ato de moldar a mente e o ato de
comunicar conhecimento.
O conhecimento, portanto, pode ser visto como toda alteração provocada no estado
cognitivo do indivíduo, isto é, no seu acervo mental de saber acumulado, proveniente de uma
interação positiva com uma estrutura de informação, o que nos levaria a concepção de ideias
de informação como processo e um meio para se atingir determinado fim. “É também
desenvolvimento, de uma forma ampla e geral, como um acréscimo de bem estar; um novo
estágio de qualidade de convivência que seria alcançado através da informação” (BARRETO,
1997).
Buckland e Liu sintetizam as diferentes vertentes em dois aspectos (BUCKLAND e
LIU, 1995):

A informação como entidade seria o “molde da mente”, aquilo que se consolida
como o conhecimento acumulado, mas intangível, que quando registrado se
tangibiliza como coisa e é transformado em dados, documentos, conhecimento
registrado.

A informação como processo seria o “ato de comunicar conhecimento”, aquilo
que se vai se consolidando com o conhecimento acumulado na mente, “tornar-se
informado”. Também intangível, se tangibiliza através de processos, tal como o
processamento de informação, de dados, informação em fluxo.
Na verdade, a informação pode ser vista como elemento de sobrevivência e de melhoria
da qualidade de vida da humanidade, podendo-se resumir da seguinte maneira:

Informação como registro - o conhecimento acumulado no sentido mais restrito,
em dado registro em suportes dos mais diversos (ARAÚJO, 1995). Neste caso,
teríamos um livro, uma biblioteca ou um dicionário, seriam informações
registradas, em forma de suporte, tendo uma definição mais restritiva.

Informação como processo - no sentido geral, na alteração cognitiva humana que
muda ou transforma tal estrutura. Nesse contexto, a informação só ocorre no
interior de organismos – desde o nível hereditário ao do conhecimento
56
formalizado (ARAÚJO, 1995). Desse ponto de vista, a informação como processo
se utiliza dos registros acumulados em suportes para realizar o seu processo.
Dessa forma podemos analisar a informação como peça fundamental para a
humanidade viver melhor e poder enfrentar diferentes crises. Assim, temos os elementos
necessários para introduzir na próxima subseção o conceito de informação.
2.2.4 O CONCEITO DA INFORMAÇÃO
Nesta subseção, é apresentado o conceito de informação, através do levantamento,
tanto de conceitos não especializados, bem como a CI.
Como afirma Bell, determinada teoria (e mesmos conceitos) não estão certos nem
errados, mas devem ser úteis (BELL, 1973). Na mesma direção, Capurro e Hjorland defendem
que, no discurso científico, conceitos teóricos não são elementos verdadeiros ou falsos ou
reflexos de algum outro elemento da realidade; em vez disso, são construções planejadas para
desempenhar um papel, da melhor maneira possível. Os autores afirmam que o significado de
um termo é definido não só pelo passado, mas, também, pelo futuro (CAPURRO e
HJORLAND, 2007).
Diferentes concepções de termos fundamentais como informação são, assim, mais ou
menos úteis, dependendo das teorias (e, ao fim, das ações práticas) para as quais se espera que
dêem suporte. Ou ainda, de forma mais direta, como dizem Capurro e Hjorland, “é bem
sabido que as definições não são verdadeiras ou falsas, mas sim, mais ou menos produtivas”:
Estudos sobre como um termo tem sido usado não podem, contudo, ajudar-nos a
decidir como deveríamos defini-lo. Quando usamos a linguagem e as palavras,
executamos uma ação, com o intuito de realizarmos algo. Os diferentes significados
dos termos que usamos são ferramentas mais ou menos eficientes para ajudar-nos a
alcançar o que pretendemos. Desta forma, de acordo com filósofos pragmáticos,
como Charles Sanders Peirce (1905), o significado de um termo é determinado não
apenas pelo passado, mas, também, pelo futuro (CAPURRO e HJORLAND, 2007).
Os pesquisadores lembram que, apesar de sua subjetividade, qualquer conceito sobre
informação é, antes de tudo, provocado por processos sócio-culturais e científicos. Deve-se
observar a informação dentro de contextos humanos, pois “quando se estuda informação, é
fácil perder a orientação” (CAPURRO e HJORLAND, 2007).
Visto que informação é um conceito polissêmico, pois permite múltiplos significados,
muitas repostas possíveis, dependendo de quem as responde. Assim, pode ser utilizada cada
57
definição conforme o problema estudado, visando o bom do esclarecimento teórico dentro das
400 definições possíveis, cabe a cada pesquisador de CI escolher entre tantos quais são
aqueles que mais se adaptam ao fenômeno ao qual está se debruçando e de que forma tal
conceito é capaz de ajudá-lo a desvendar o objeto/problema que resolveu tratar.
Tal possibilidade de múltiplos usos para o mesmo conceito pode ser atribuída à própria
função da informação para o ser humano. Sem informação, o ser humano não sobreviveria
como espécie, podendo a mesma ser comparada ao ar que respiramos. A informação, sob esse
ponto de vista, teria uma função cognitiva, primordial, semelhante o ar para o pulmão e o
sangue para o coração.
Da mesma forma que o ar e o sangue são elementos vitais para nossa sobrevivência, um
cérebro sem informação torna-se incapacitado para lidar com a vida, não tendo mais função,
pois não poderia agir e tomar decisões para continuar existindo. É impossível estudar o coração
e o pulmão, bem como o ar e o sangue, sem conseguir observá-los, também em movimento.
Adotaremos, assim, o caráter da informação como meio, não como objeto. Informação
como insumo, ferramenta principal e fundamental para manter a humanidade viva e resolver
os problemas produtivos na sua expansão. Com esta abordagem, a informação ganha papel de
destaque para viabilizar a nossa sobrevivência, através do desenvolvimento de tecnologias e
metodologias, desde a ocupação em regiões cada vez mais inóspitas (devido ao frio e calor),
profundas ou na altitude (no fundo do mar ou no alto das montanhas) ou ao espaço (em outros
planetas), bem como para manter seus processos em todas as sociedades humanas e superar
suas crises.
Para efeito da tese, a informação é analisada como ferramenta humana para
determinado fim: ou da a sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida da espécie. O
estudo, assim, da informação como um fenômeno isolado ou mero suporte levaria a um falso
problema para o fenômeno estudado. Portanto, informação é: um processo vital para o ser
humano inseparável, indivisível e contínuo de conhecer, viver, produzir, através da
percepção, a partir de dada representação. É matéria-prima básica para o funcionamento do
cérebro, da mesma maneira que o ar é para o pulmão e o sangue para o coração. É um ato
modificador da consciência humana, capaz de transformar estruturas e garantir a
sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida humana no planeta. Processo fundamental
para que o ser humano atenda as suas necessidades materiais e sociais (das mais básicas às
mais sofisticadas) e possa sobreviver sobre a terra, sendo elemento-chave para tomada de
decisões, para obtenção e manutenção do poder e da riqueza. Elemento, assim, de
prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos.
58
2.3 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO
A partir das definições de crise e de informação nas subseções anteriores, se abordará
nessa subseção o conceito de crise da informação não especializado e em outras ciências, para
se avaliar na seção seguinte o conceito de macrocrise da informação.
2.3.1 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO: EM FONTES NÃO
ESPECIALIZADAS E FORA DA CI
Pretende-se nessa subseção abordar o conceito de crise da informação em fontes não
especializadas e fora da CI para se avaliar posteriormente na outra seção o conceito de
macrocrise da informação.
Não há no Dicionário Houaiss um verbete para Crise informacional. Na Wikipédia,
obtivemos os seguintes resultados (tabela 11):
Tabela 15 - pesquisa na Wikipédia sobre crise informacional ou crise da informação
PESQUISA NA WIKIPÉDIA
SOBRE CRISE INFORMACIONAL OU CRISE DA INFORMAÇÃO53
CRISE INFORMACIONAL (em
português)
Nenhum resultado
CRISE DA INFORMAÇÃO (em
português)
Nenhum resultado
INFORMATION CRISIS (em
inglês)
CRISE DE INFORMATION (em
francês)
CRISIS DE LA INFORMACIÓN (
Uma crise da informação é um desastre no qual as informações
importantes e o mau funcionamento de sistemas informáticos, causam
diversos problemas nas regiões afetada. Especula-se que o risco de uma
crise da informação é maior nas nações de alto poder aquisitivo, como os
Estados Unidos, devido à forte dependência de tecnologia, tanto na
transferência de informação e controle de funções importantes.
Nenhum resultado
em espanhol)
Nenhum resultado
KRISE VON INFORMATIONEN ( em alemão)
Nenhum resultado
Ao se analisar as abordagens da academia, fora da CI, através de pesquisas no
Google Acadêmico sobre crises informacionais, observam-se algumas vertentes básicas para
definir as causas de possíveis problemas (ou crises) provocados pela informação, como
demonstrados nos exemplos abaixo.
Crises causadas pelo excesso de informação:
53
Pesquisa feita em 07/11/2010.
59
É imprescindível notar também que o processo de direcionamento estratégico da
empresa – e conseqüentemente o seu sucesso – também pode estar sendo
comprometido pelo excesso de informações, uma vez que o acompanhamento da
movimentação de um ambiente cada vez mais dinâmico é um fator determinante
deste processo (BASTOS et. al., 2004).
Na visão das meninas esse fato decorre de uma preocupação com o status no grupo
social onde convivem, enquanto os meninos associaram o incentivo à perda dos
limites e responsabilidades ao excesso de informação advinda dos meios de
comunicação (CRISTINO, KRUGER e KRUG, 2006).
Augé (2006) propõe a utilização do conceito sobre modernidade, para pensar a
coexistência das correntes de uniformização e dos particularismos. Augé afirma
que se trata de uma lógica do excesso, mensurada a partir de três excessos, segundo
sua proposta: o excesso de informação, o excesso de imagens e o excesso de
individualismo. O excesso de informação dá a ideia de que a História se acelera.
Cada dia tem-se a informação do que acontece nos quatro cantos do mundo
(CUNHA, 2007).
A relativa eficácia das redes tecnológicas seria a contrapartida para a degradação
e desorganização urbanas, um encolhimento do espaço, na definição de Paul
Virilio, em favor de uma cultura on-line, em tempo real, que tende a abolir o
espaço, as fronteiras e os territórios. Virilio vê nessa contração do espaço em favor
da velocidade e do tempo real da cultura on-line uma mutação radical em termos de
percepção, uma precipitação do tempo no simultâneo que seria para ele algo da
ordem do intolerável e do catastrófico. O excesso de informação produzindo uma
desinformação estrutural, como a sensação de labirinto e perda numa longa sessão
de navegação pela Internet em que muito facilmente se perde o ponto de referência
ou a motivação inicial do percurso (BENTES, 1997).
Crises causadas pela escassez da informação:
A escassez de informação econômica é uma realidade para o setor agrícola como
um todo, especialmente para o hortifrutícola. Para se conseguir informações, a
principal fonte de consulta eram as estatísticas de volume e preços nas principais
CEASAs do país. Contudo, tal fonte, apesar de sua importância, pouco relatava
sobre os preços locais recebidos pelos produtores, acontecimentos regionais e as
sazonalidades de produção, que são questões essenciais para o setor por terem forte
influência sobre o comportamento do mercado (PINTO et al., 2002).
Os efeitos do glyphosate sobre fungos micorrízicos arbusculares na soja são pouco
esclarecidos, haja vista a escassez de informação, com poucos trabalhos abordando
o assunto (Morandi, 1989; Mujica et al., 1999; Malty et al., 2006). Acrescenta-se
que inseticidas e fungicidas podem atingir e afetar a atividade desses
microrganismos endossimbiontes, em virtude de a maioria das formulações ser
sistêmica, da possível interação com herbicidas e da ação específica dos fungicidas
sobre fungos do sol (REIS et al., 2010).
A avaliação comparativa desse delineamento tem sido pouco explorada na
literatura. Um dos trabalhos com esse enfoque foi realizado com a cultura da batata
(BEARZOTI, 1994). No caso específico do feijoeiro, há escassez de informação a
esse respeito (SOUZA et al., 2000).
Ou ainda a desinformação:
O artigo que relata a sondagem realizada no Canadá chega a conclusões similares, no
que se refere ao mito de que uma atitude negativa em relação à biotecnologia seja
fruto, necessariamente, de desinformação: “há controvérsia sobre o papel da
60
„informação científica‟ („scientific literacy‟) em julgamentos sobre ciência e
tecnologia; alguns sustentam que ela leva a julga (LEITE, 2002)”.
Em resumo, todas as sugestões têm por objetivo tornar o mercado de trabalho mais
transparente e, desta forma, reduzir o volume de desinformação entre as partes
envolvidas no contrato de trabalho (CAMARGO e REIS, 2005).
Embora a homeopatia seja uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho
Federal de Medicina desde 1980, com pressupostos científicos estabelecidos,
aplicação clínica diversa, projetos nas áreas de pesquisa básica e clínica, oferecida
nos serviços públicos de saúde e com iniciativas de ensino na graduação médica, a
desinformação sobre esta peculiar racionalidade se encontra arraigada na cultura
médica. Este estudo objetivou mensurar a desinformação quanto aos pressupostos
homeopáticos existente entre estudantes de Medicina participantes do 33º Encontro
Científico de Estudantes de Medicina (São Paulo, 2003) (TEIXEIRA, 2007).
A falta da qualidade da informação:
Dos 301 óbitos neonatais precoces, foi possível identificar no Sinasc 218 (72,42%),
sendo que 83 (27,5%) óbitos foram descartados da análise pela impossibilidade de
formação de pares verdadeiros no processo de linkage. Esta perda ocorreu por
duas razões: a primeira, provavelmente por sub-registro no Sinasc, não tendo sido
preenchida a DN para estes nascimentos; a segunda, por problemas na qualidade
da informação, pois nesses casos o nome da mãe não havia sido registrado, dado
este importante no processo de linkage adotado neste trabalho (SOARES e
MENEZES, 2010).
Entretanto, a análise da evolução da mortalidade por homicídios por armas de fogo
deve ser feita com cautela, podendo parte do incremento ser explicado por
problemas na qualidade das informações, particularmente no que se refere à
determinação da intencionalidade e do tipo de instrumento na declaração de óbito
(PERES e SANTOS, 2005).
Uma revisão com estes tipos de estudos encontrou que 70% relataram
problemas na qualidade da informação sobre saúde disponível em páginas da
Internet (SILVA, 2009).
É pertinente destacar que há diferença básica entre a escassez da informação (que
caracterizaria sempre falta) e o conceito de desinformação (que denotaria confusão ou
manipulação). O Dicionário Houaiss, ao definir desinformação, admite as duas hipóteses:
Desinformação:
1
ação ou efeito de desinformar
2
informação falsa, dada no propósito de confundir ou induzir a erro
3
falta de informação, de conhecimento acerca de; ignorância
Em síntese, podemos depreender nos textos escolhidos acima que as crises são
resultados daquilo que impede o ser humano de exercer o objetivo pleno de obter e fazer uso
da informação. Teriam as seguintes causas:

o excesso de informação - dificuldade de lidar com volume exagerados;

a escassez de informação - não ter as informações necessárias;

a desinformação (ou manipulação) da informação - contar com informações
manipuladas de forma proposital, a partir de determinado interesse;
61

a má qualidade da informação disponível - que tanto pode ser o excesso, a falta
ou a manipulação da mesma, o que nos permite nos debruçar agora como a CI
analisar essa questão.
2.3.2 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO NA CIÊNCIA DA
INFORMAÇÃO
A partir das definições de crise e de informação nas subseções anteriores, abordamos
nessa subseção o conceito de crise da informação na CI para se avaliar posteriormente a ideia
de macrocrise de informação.
Opta-se por verificar que há aumento vertiginoso do volume da informação no pósguerra. Diante desse fenômeno, em 1945, Vannevar Bush, no seu famoso artigo As We May
Think (Como podemos pensar), lembra que, depois da Guerra, os cientistas se depararam com
“uma montanha crescente de pesquisa”, que gerava problemas sérios para os investigadores
que não tinham mais tempo para compreender, muito menos para se lembrar, como eles
aparecem (BUSH, 1945).
Saracevic, ao procurar definir a contribuição da CI para a sociedade, parte do mesmo
ponto ao analisar que a questão central era o aumento de volume de conhecimento, citando o
próprio Bush, já que havia um “problema crítico que estava há muito tempo na cabeça das
pessoas”. Destaca que se tratava de saber tornar mais acessível um acervo crescente de
conhecimento:
BUSH identificou o problema da explosão informacional-irreprimível crescimento
exponencial da informação e de seus registros, particularmente em ciência e
tecnologia. A solução por ele proposta era a de usar as incipientes tecnologias de
informação para combater o problema (SARACEVIC, 1996).
O termo explosão informacional, que, apesar de citado inúmeras vezes como se fosse
descrito por Bush não aparece no original deste, passa a ser de uso corrente na área para
detalhar não só as suas origens, mas como conceito de uso fácil para caracterização da
sociedade em que vivemos, como podemos notar nos exemplos abaixo:
A expressão explosão da informação, dessa maneira, passa a ser adotada para
caracterizar o aumento significativo de publicações na área científica e tecnológica
e depois adquire contexto mais geral, transbordando os limites da ciência e da
tecnologia, e atingindo proporções catastróficas na sociedade (ARAÚJO, 1995).
62
Em função do cenário atual de explosão informacional, tem crescido o interesse
por parte de bibliotecários e educadores em torno da information literacy ou
competência em informação (DUDZIAK, 2005).
Observa-se também o uso como explosão documentária (AZEVEDO, 2009), explosão
bibliográfica (CUNHA, 1999), explosão documental/digital (DZIEKANIAK, 2004) ou
crescimento do tipo exponencial da informação (LE COADIC, 2004).
Apesar de pouco aprofundada do ponto de vista teórico e conceitual ao longo do
tempo, e por estar nos textos de seus fundadores, as expressões explosão informacional ou
explosão da informação passam a ser de uso corrente na CI (tabela 12).
Tabela 16 - termo explosão da informação ou explosão informacional (português e inglês) no Google
Acadêmico
TERMO EXPLOSÃO DA INFORMAÇÃO OU EXPLOSÃO INFORMACIONAL
(PORTUGUÊS E INGLÊS) NO GOOGLE ACADÊMICO54
TERMO
RESULTADO
explosão informacional
471
explosão da informação
537
information explosion
informational explosion
15.400
82
Nota-se na tabela 12 que os resultados são fortemente influenciados do uso dos termos
por pesquisadores da CI, chamando a atenção da quantidade de termos em inglês para
information explosion. Como padrão, os termos são utilizados pelos pesquisadores para situar
a CI na história ou o momento presente da sociedade contemporânea. É comum encontrá-los
principalmente na abertura de artigos, teses e trabalhos acadêmicos.
1 - Uso do termo explosão informacional quando se pretende abordar a questão
da própria história da CI pode ser visto no artigo abaixo:
A CI surgiu da necessidade crescente de lidar com a informação. Novas tecnologias
se apresentaram para lidar com as dificuldades geradas pela explosão
informacional, basicamente, concentradas na recuperação de informação
(PEREIRA e MEIRELES, 2009).
No artigo de CI e pós-modernidade, Azevedo observa: “(...) ocorreram-se
neste período uma cisão com a biblioteconomia, na qual, historicamente, teve
grandes dificuldades de organizar, estruturar e recuperar a informação no período
conhecido como explosão da informação‖ (AZEVEDO, 2009).
54
Pesquisa feita em 07/11/2010.
63
2 - Uso do termo explosão informacional quando se pretende criar um cenário da
sociedade contemporânea como podemos observar:
(...) ―multimeios‖ e a ―auto-estrada informacional‖ irão conduzir a espécie
humana rumo à ―Idade da Informação‖, à sociedade global baseada no
conhecimento. [...] A combinação dos vários avanços tecnológicos está
contribuindo para o que é anunciado como uma explosão informacional
(FREITAS, 2002).
Encontram-se ainda citações que caracterizam o termo explosão informacional como
fator a ser medido, como uma das tarefas do profissional da informação:
As principais contribuições dos cientistas da informação. Os cientistas da
informação medem a explosão informacional, estudos de impacto, difusão da
inovação, junção bibliográfica, citação e padrões de co-citação e outras
regularidades (RIECKEN, 2006).
A expressão explosão informação/informacional tem, assim, um conjunto expressivo
de resultados no Google Acadêmico. Podemos aferir que há, se podemos chamar
assim,conceitos recorrentes na área, o que Kuhn cunhou como um dado paradigma (KUHN,
2000) de que as explosões informacionais ou explosão de informação caracterizariam um tipo
de crise da informação, já que uma explosão implica em ações necessárias para administrá-la.
Há, nesse caso, um determinado momento crítico de “explosão”, constatado pela primeira vez
no pós-guerra, no final de década de 50. A partir dali, esse fenômeno informacional passou a
fazer parte da origem da própria CI, algo corriqueiro e constante da sociedade.
Constata-se que o termo crise informacional apesar de amplamente utilizado, quase
como um “bordão científico”, não aparece como tema central em artigos acadêmicos. No
levantamento feito por Pinheiro em 10 periódicos dedicados à CI55, de 1972 a 2004 foram
coletados as seguintes subáreas recorrentes na CI (PINHEIRO et al., 2005) 56:
1. Teoria da ciência da informação
2. Bibliometria
3. Representação da informação
4. Políticas de informação
55
56
Revista da Ciência da Informação, Encontros Bibli, Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação,
Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Em Questão, Revista de Biblioteconomia & Comunicação,
Perspectivas em Ciência da Informação, Informação & Sociedade, Transinformação, Revista de Biblioteconomia de
Brasília, Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Datagramazero, MORPHEUS, Revista eletrônica
em Ciências Humanas:Conhecimento e Sociedade.
http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/816/657
64
5. Necessidades e usos de informação
6. Gestão da informação
7. Comunicação científica
8. Tecnologias da informação
9. Formação e aspectos profissionais
10. Sistemas e redes de informação
11. Disseminação da informação
12. Sistema de recuperação da informação
13. Bibliotecas virtuais/digitais
14. Inteligência competitiva
15. Política de ciência e tecnologia
16. Bases de dados
17. Organização e processamento da informação
18. Economia da informação
19. Biblioteconomia/bibliotecas/livros
20. Arquivologia
21. Processamento automático da linguagem
22. Automação de biblioteca
23. Divulgação científica
24. Ciência e tecnologia
25. Gestão do conhecimento
26. Política editorial
27. Sistemas especialistas
28. Comunicação social
29. Imprensa
30. Linguística
31. Tecnologias
Diferente de outras áreas, o estudo das crises (informacional ou não) de forma isolada
não aparece no levantamento acima como uma subárea ou mesmo um tema emergente na
Ciência da Informação, mesmo depois do surgimento da Internet. Note-se que nas pesquisas
apresentadas a seguir, o resultado nas revistas acadêmicas de CI, ao se pesquisar a palavra
crise:
Tabela 17 - o termo crise nas revistas da CI
O TERMO CRISE NAS REVISTAS DA CI58
REVISTA PESQUISADA
Data Grama Zero59
58
59
Pesquisa feita em 07/11/2010.
Utilizando recurso de pesquisa avançada do Google para o domínio: http://dgz.org.br/
RESULTADOS
89
65
Revista Ciência da Informação IBICT
24
Revista Encontro Bibli
49
Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação
10
Ao se analisar a palavra crise nas publicações destacadas na tabela 13, o termo aparece
principalmente relacionado à crise da própria Ciência da Informação, na qual podemos
encontrá-la associada à:

crise de paradigmas da Ciência da Informação (CARVALHO e KANISKI, 2000)

crise dos periódicos acadêmicos (BAILEY, 2005);

crise que se abate sobre o modelo moderno de cientificidade, através dos
conceitos de Kuhn. (GALDO et al., 2009).
Não foram encontrados trabalhos específicos tratando o termo crise informacional ou
crise de informação como objeto isolado. Vejamos, a seguir, as tabelas, que demonstram esse
fato, incluindo pesquisas em outras Ciências, através da pesquisa nas publicações Revista da
Ciência da Informação do IBICT60, DataGrama Zero61 e Revista Encontro Bibli da
Universidade de Santa Catarina62. O critério de escolha destas revistas foi definido através dos
resultados de buscas no Google, tendo como palavras-chaves: Revistas da Ciência da
Informação.
Tabela 18 - termos crise, crise informacional e crise da informação em diferentes revistas da CI
TERMOS CRISE, CRISE INFORMACIONAL E CRISE DA INFORMAÇÃO 63
EM DIFERENTES REVISTAS DA CI
TERMO
REVISTA PESQUISADA
RESULTADOS
Crise
Data Grama Zero
89
Crise informacional (sem aspas)
Data Grama Zero
46
Crise da informação (sem aspas)
Data Grama Zero
88
“Crise informacional”
Data Grama Zero
Nenhum resultado
“Crise da informação”
Data Grama Zero
Nenhum resultado
Crise
Revista Ciência da Informação IBICT
24
crise da informação (sem aspas)
Revista Ciência da Informação IBICT
18
crise informacional (sem aspas)
Revista Ciência da Informação IBICT
10
60
http://revista.ibict.br/
http://dgz.org.br/
62
http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb
63 Pesquisa feita em 07/11/2010.
61
66
“crise da informação”
Revista Ciência da Informação IBICT
Nenhum resultado
“crise informacional”
Revista Ciência da Informação IBICT
Nenhum resultado
Crise
Revista Prima (sobre Ciência da
Informação e Comunicação de Portugal)
21
Crise
Revista Encontro Bibli
49
Crise da informação (sem aspas)
Revista Encontro Bibli
49
crise informacional (sem aspas)
Revistas Encontro Bibli
24
“crise da informação”
Revistas Encontro Bibli
Nenhum resultado
“crise informacional”
Revistas Encontro Bibli
Nenhum resultado
Nota-se que, apesar da pesquisa sobre a palavra crise obter resultados por trabalhos
sobre o assunto, o refinamento da busca sobre “crise informacional” ou “crise da
informação” não obtém nenhum resultado.
Pesquisa realizada no Google Acadêmico, relacionando diferentes palavras-chave, a
partir do levantamento de Pinheiro de subáreas recorrentes na CI, tais como teoria da ciência
da informação, políticas de informação, necessidades e usos de informação, gestão da
informação, Inteligência competitiva, organização e processamento da informação, Economia
da informação e gestão do conhecimento resultou na tabela 15, apresentada a seguir:
Tabela 19 - pesquisa no Google Acadêmico relacionando diferentes palavras-chaves, a partir do
levantamento de Pinheiro
PESQUISA NO GOOGLE ACADÊMICO RELACIONANDO DIFERENTES
PALAVRAS-CHAVES, A PARTIR DO LEVANTAMENTO DE PINHEIRO (*) 64
TERMO
RESULTADOS
"Teoria da ciência da informação" "crise informacional"
Nenhum
"Teoria da ciência da informação" "crise da informação"
Nenhum
"Políticas de informação" "crise de informação"
Referência às origens da CI
"Políticas de informação" "crise informacional"
Como cenário da sociedade
contemporânea
"necessidades e usos de informação" "crise informacional"
Nenhum
"necessidades e usos de informação" "crise de informação"
Nenhum
"Gestão de informação" "crise de informação"
Referência às origens da CI e como
cenário da sociedade contemporânea
"Gestão da informação" "crise informacional"
Nenhum
64
Pesquisa feita em 07/11/2010.
67
"Inteligência competitiva" "crise informacional"
Nenhum
"Inteligência competitiva" "crise de informação"
Referência às origens da CI e como
cenário da sociedade contemporânea
"Organização e processamento da informação" "crise informacional"
Nenhum
"Organização e processamento da informação" "crise da informação"
Nenhum
“Economia da informação" "crise de informação"
Nenhum
“Economia da informação" "crise informacional"
Nenhum
“Gestão do conhecimento" "crise informacional"
Nenhum
(*) PINHEIRO et al., 2005.
Chama a atenção, na tabela 15, a falta de resultados possíveis dos termos na língua
portuguesa. Procuramos, portanto, trabalhos no Google Acadêmico em diferentes idiomas,
sempre com o termo entre aspas para garantir o uso exato do que se pesquisa, pretendendo-se
abordagens
mais
gerais
sobre
crises
globais
da
informação:
Tabela 20 - pesquisa no Google Acadêmico sobre crise informacional em outros idiomas
PESQUISA NO GOOGLE ACADÊMICO
SOBRE CRISE INFORMACIONAL EM OUTROS IDIOMAS65
TERMO
RESULTADOS
information crisis
948 links, com 24 apontando para trabalhos realizados em 2010
informational crisis
47 links, com três apontando para trabalhos realizados em 2010
Crise de l'information
55 registros com apenas com dois de 2010
crise d'information
10 registros com apenas com zero de 2010, como o último realizado em 2009
Crisis de Información
32 registros, com o último realizado em 2008.
Crisis informativo
Nenhum registro
Os dados demonstram que a busca feita com as palavras-chave acima apresentadas
aparece com quase mil trabalhos acadêmicos em inglês, com poucos estudos em Francês (55)
e menos em espanhol (32). Apesar do aumento de resultados, a análise dos trabalhos sobre o
tema em inglês, espanhol e francês para o termo “crise de informação” não resultou em
trabalhos que abordassem crises informacionais globais, limitando-se a estudos pontuais ou
específicos de gestão de crises organizacionais localizadas. Procuraram-se, assim, os termos
em revistas específicas sobre Ciência da Informação em inglês. Vejamos, abaixo, a tabela 17
sobre buscas e resultados:
65
Pesquisa feita em 07/11/2010.
68
Tabela 21 - pesquisa no Journal of Information Science sobre crise e crise da informação
PESQUISA NO JOURNAL OF INFORMATION SCIENCE
SOBRE CRISE E CRISE DA INFORMAÇÃO66
TERMO
Crisis
Information Crisis
RESULTADOS
107
173767
Informational Crisis
199
“Information Crisis”
04
“Informational Crisis”
Nenhum
Nos resultados da busca apresentados na tabela 17, observa-se que o termo
Information crisis ou Informational Crisis, apesar de sua aparente relevância, não é ainda um
termo utilizado, com apenas quatro (4) resultados para o termo exato da busca. Nota-se ainda
que a recuperação por palavras isoladas, sem aspas, permite a busca nos documentos em que
os termos crise da informação ou informacional aparecem de forma separada. Porém, quando
se procura o termo entre aspas – ―crise informacional” ou “crise da informação” –, nota-se
que não há retorno ao termo procurado.
O tema crise da informação, ou crise global da informação, portanto, não aparece nos
levantamentos feitos por este trabalho como relevantes da área e não foi palavra-chave
facilmente recuperada nas revistas acadêmicas da CI. Em síntese, pela pesquisa realizada, as
crises aparecem de forma localizada e caracterizadas como problemas de informação ou
problemas informacionais.
Para lidar com a questão das crises, opta-se por tratar dessas questões em campos de
estudo, tal como gestão de informação ou inteligência competitiva, ou de forma localizada nas
bibliotecas, em organizações e nos arquivos, restringindo fenômenos de mudanças mais
globais e a relação entre o local e o geral.
Restringindo a analise do problema pela parte e não pelo todo, ou mesmo não
relacionando problemas informacionais corriqueiros e localizados com fatos mais gerais,
dificulta-se em muito a compreensão de macromudanças informacionais, tais como a adesão
dos usuários para o uso cada vez maior da Internet, como já havia ocorrido há mais de 500
anos, na Europa, com o livro impresso.
Do ponto de vista da sociedade, os temas crise, crises e crises globais ou crise global
são recorrentes e emergentes na sociedade. Os autores que estudam o tema nos lembram que o
66
67
Pesquisa feita em 07/11/2010.
A busca ampliou o universo ao invés de reduzir.
69
mundo hoje, superpovoado, mais conectado, cada vez mais global e interdependente, ganhou,
antes de tudo, complexidade. Hoje, qualquer fato isolado em algum país, seja por fator
humano ou provocado por fenômenos naturais, tem reflexos em diversos outros pontos do
planeta.
Aprofundar, portanto, a discussão sobre Crises globais da Informação e suas múltiplas
variantes, tal como crises informacionais, é suporte teórico relevante para os estudiosos das
crises de todo tipo. E, também, um referencial para a sociedade que espera respostas da
academia, à procura de teorias e conceitos para lidar com crises globais, inclusive as da
informação, cada vez mais frequentes, ao considerarmos que por trás de toda crise humana
sempre haverá algum fator informacional.
Como não são correntes na CI os termos crise informacional ou crise da informação,
identifica-se o termo em inglês management information crisis, que se caracterizaria pela
situação na qual os dados relevantes não estão disponíveis para a tomada de decisões ou de
medição de desempenho, criando um problema de gestão da informação que pode impedir ou
paralisar a empresa. “Esses problemas decorrem de uma lacuna entre o sistema de informação
estática e outro mais dinâmico que altera a estrutura organizacional em um momento de
mudança e crescimento” (DANIEL, 1961).
A abordagem da informação como problema, através de estudos de problemas de
informação ou problemas informacionais, foi defendida por Saracevic ao definir que
pesquisadores da CI são: “estudiosos dos problemas de informação” (SARACEVIC, 1996).
Assim, o conceito problema da informação aparece na CI, como:
Em 1945, Bush escreveu As we may think, onde apresenta o problema da
informação em ciência e tecnologia e possíveis entraves que haveriam para
organizar e repassar à sociedade as informações mantidas secretas durante a
guerra. Os entraves eram: a) na formação dos recursos humanos; b) no
instrumental de armazenamento e recuperação; e c) no arcabouço teórico existente
para a organização e controle da explosão de informação gerada durante a guerra
(BARRETO, 2002).
Há um reconhecimento crescente de que os avanços tecnológicos incorporados nos
computadores e equipamentos de telecomunicações atuais não podem resolver, por
si mesmos, os problemas de informação nas organizações. Infelizmente, muitos
sistemas de informação são implementados sem que as necessidades informacionais
e o comportamento dos usuários sejam satisfatoriamente considerados (BARBOSA,
1997).
Para Vickery (1999, p. 477), os problemas de informação científica e tecnológica
são "objetivos e subjetivos", e, dentre seus questionamentos, destacamos o que
denominou "contradições", nascidas da especialização na ciência e estudos
multidisciplinares, o que, por sua vez, "... cria novos problemas na transferência da
informação". Ele chama a atenção para a abrangência do conceito de ciência e
para a existência de "cadeia/corrente de informação" diferente para cada campo do
conhecimento, reforçando as ideias de outros autores, no reconhecimento de
70
padrões de comunicação específicos por área, ainda que possam existir algumas
práticas comunicacionais e, conseqüentemente, informacionais comuns
(PINHEIRO, 2003).
Pode-se encontrar nas pesquisas realizadas, ainda que incomum, a expressão de grave
problema de informação na CI, que pode ser observada abaixo:
Os dados permitem concluir que a situação se apresenta como um grave problema
de informação para a saúde, problema esse que está a exigir ações imediatas para
a sua solução. Na realidade, almeja-se que a informação oficial deva permitir
atender a esse requisito, para não se ter que, a cada momento, despender quantias
não desprezíveis de tempo e dinheiro, na realização de pesquisas de campo
(MELLO JORGE, 1990).
Outra variante da busca sobre problemas da informação é o termo problema
informacional, que apresenta, em pesquisa, os seguintes tratamentos:
Pelos motivos apontados anteriormente, pode-se dizer que os parlamentares
brasileiros enfrentam um "problema informacional", ou seja, a estrutura
institucional do Legislativo não gera incentivos para a produção endógena e
sistemática de informação especializada. Ausentes os incentivos institucionais,
também não é de se esperar que os parlamentares busquem soluções individuais
para o problema dado que informação a respeito da relação entre políticas públicas
e seus resultados é um bem coletivo (SANTOS e ALMEIDA, 2005).
A pesquisa qualitativa focaliza a sua atenção nas causas das reações dos usuários
da informação e na resolução do problema informacional, ela tende a aplicar um
enfoque mais holístico do que o método quantitativo. Além disso, ela dá mais
atenção aos aspectos subjetivos da experiência e do comportamento humano
(BAPTISTA e CUNHA, 2007).
O problema informacional é fundamental no processo de regulação, uma vez que
as empresas têm melhor informação sobre a sua estrutura de custos do que o
regulador. Dessa forma a relação entre empresa e regulador pode resultar em risco
de captura, que ocorre quando a empresa, pelo conhecimento do setor, faz
prevalecer as suas informações no processo de regulação. Nesse caso, o regulador
será ―capturado‖. Há, contudo, alguns fatores que podem reduzir o problema
informacional (SANTANA e MUNDURUCA, 2008).
Encontra-se também nos trabalhos de CI a própria expressão crise da informação e
crise informacional, referindo-se às origens da CI:

Na dissertação de Mello sobre Gestão da Informação: este momento histórico (do
surgimento da CI) é referendado pelos estudiosos como sendo a primeira crise da
informação (MELLO, 2005);

Na dissertação de Messias sobre periódicos científicos: “[...] a Ciência da
Informação (CI) é um campo recente e que surgiu da demanda social pela
otimização dos processos de coleta, armazenamento, recuperação e disseminação
da informação científica e tecnológica, cuja produção apresentava um crescimento
71
exponencial ao final da década de 50 – a chamada „crise da informação‟”
(MESSIAS, 2005)68.
Dessa maneira, o problema da informação ou o problema informacional são utilizados
para exemplificar impedimentos do uso pleno da informação ou para que o ato de conhecer,
viver, produzir, através da percepção, ocorra, a partir de dada representação.
A dicotomia entre excesso e escassez talvez resuma as preocupações dos autores sobre a
qualidade da informação a ser oferecida para a sociedade. Oliveira e Nunes, citando Bell,
lembram que esta relação entre o volume de informação e a incerteza decisória diretamente
proporcional cresce simultaneamente, já que “mais informação não significa informação
completa; significa, quando muito, informação cada vez mais incompleta” (BELL, 1973). Ou,
como preferiram, “a riqueza da informação cria a pobreza da atenção” (SHAPIRO, 1999).
Desta forma, mais informação implica, necessariamente, em um dispêndio maior de
tempo com sua ordenação, discriminação e categorização em função da relevância,
dos gostos, das preferências, das crenças, dos gostos, das perspectivas e dos
interesses diversos e idiossincráticos de cada sujeito. É um corolário no mínimo
irônico para uma sociedade onde o tempo urge, e os resultados são buscados de
forma incessante com o menor grau de risco e imprevisibilidade possíveis
(OLIVEIRA e NUNES, 2007).
Para superar problemas ou crises informacionais há a necessidade de se estabelecer
uma relação ideal entre escassez e excesso de informação para garantir que esta chegue no
tempo certo a quem precisa (MARCHIORI, 2002), ou: "a obtenção da informação adequada,
na forma correta, para a pessoa indicada, a um custo adequado, no tempo oportuno, em lugar
apropriado, para tomar a decisão correta" (PONJUÁN DANTE, 1998).
Com este espírito, surgem novos campos de análise dentro da CI, tais como Gestão
da Informação, que visa, a partir de solução ou minimização de crises locais
garantir a ―informação ideal‖. Tal tarefa pode ser resumida como a procura de
trabalhar a informação do ponto de vista estratégico e operacional, através de
mecanismos de obtenção e utilização de recursos humanos, tecnológicos,
financeiros, materiais e físicos para o gerenciamento da informação e, a partir
disto, ela mesma ser disponibilizada como insumo útil e estratégico para indivíduos,
grupos e organizações. (MARCHIORI. 2002)
Pode-se ainda ser mais detalhado, tal como as ações que têm, por princípio, enfocar o
indivíduo (grupos ou instituições) e suas "situações-problema" no âmbito de diferentes fluxos
de informação, os quais necessitam de soluções criativas e custo/efetivas.
68
Grifos do autor.
72
Diagnosticada
a
demanda
e
suas
possibilidades,
deve-se
definir
uma
metodologia/estratégia para sua "solução", que pode envolver a identificação e
avaliação de fontes de informação, a aplicação de tecnologias adequadas, os
profissionais e os fornecedores adequados para se trabalhar em parceria, assim como
os mecanismos de avaliação do andamento da atividade e seus resultados parciais e
total. A função principal do gestor da informação é prover um serviço e/ou produto
de informação que seja direcionado, funcional e atrativo (MARCHIORI, 2002).
Dessa maneira, é importante identificar as causas para que estes problemas apareçam.
Entre as causas mais comuns coletadas para crises informacionais, obtivemos dois fatores
pendulares: o excesso e a escassez de informação, que seriam reguladas pelo tempo e a
qualidade.
Dentro da CI, os temas que abordam a questão das causas, consequências,
diagnósticos para problemas e crises informacionais são listados abaixo:

Gerenciamento do fluxo da informação (ALVARES E JÚNIOR, 2007);

Gestão da Informação Organizacional (ALVARES E JÚNIOR, 2007);

Inteligência estratégica (ALVARES E JÚNIOR, 2007);

Inteligência Competitiva (CANONGIA, PEREIRA e ANTUNES, 2002).
O objetivo de tais estudos é subsidiar não apenas a escolha da estratégia corporativa, mas
também o gerenciamento dos sistemas responsáveis por sua coleta, processamento e
disseminação de forma sistemática na organização (ALVARES E JÚNIOR, 2007). Ou seja, as
crises que a CI têm estudado de forma mais aprofundada estão ligadas ao dia-a-dia do uso da
informação como subsídio ao processo decisório.
Entretanto, a procura da informação ideal é fruto de um ambiente informacional no
qual os elementos pessoas, metodologias e tecnologias compõem um cenário para que esse
objetivo seja perseguido (porém sempre inalcançável). Essa meta está nos primórdios das
reflexões sobre a área, quando Borko defende estudos práticos e teóricos sobre os fluxos e o
fenômeno da informação. Bush sugere que, para lidar com o problema do excesso de
informação, a solução era adotar novas tecnologias, defendendo uma máquina que
funcionasse por um tipo de recuperação de dados, que permitisse um avanço na indexação, até
o momento baseada em determinadas hierarquias, e que estas passassem para outro modelo,
em torno de associações. O autor denominou essa nova máquina Memex (BUSH, 1945).
73
Assim, estabelece-se a partir dali uma relação aceita de que problemas de informação (ou
crises) podem e devem ser resolvidos através de métodos, pessoas e tecnologias. Barreto re-introduz
as ideias de similitude de Galileu69, inicialmente levantadas por Bell. Segundo o autor, há mais de 350
anos, Galileu (1564-1642) formulou seu princípio da similitude afirmando que nenhum organismo
biológico ou instituição humana que sofra uma mudança de tamanho (entende-se aqui volume), e uma
consequente mudança na escala de proporções, passa por isso sem modificar sua forma ou
conformação (BARRETO, 2007):
A analogia destes conceitos ao crescimento dos estoques de memória leva a crer
que estas estruturas de armazenagem tendem a crescer em volume periódico e
cumulativamente e terão em um determinado momento70 que enfrentar um problema
de forma e conteúdo. A menos que existam estratégias de adaptação, os estoques
tenderão a quebrar por seu próprio peso; transformar-se em agregados inúteis de
informação por terem um exagerado excedente de informação não relevante.
(BARRETO, 2007)
Bell primeiro e depois Barreto recorrem ainda a outro pesquisador externo à Ciência
da Informação, o biólogo e matemático D'Arcy Wentworth Thompson (1860-1948), para
procurar explicações sobre o fenômeno da entropia, crises e mudanças nestes ambientes:
O conhecimento, potencialmente armazenado em estoques de informação, acumulase exponencialmente em estruturas que lhe servem de repositório. Mesmo
colocando-se filtro de entrada para limitar qualitativamente o crescimento destes
estoques, a coisa toda tenderá a ruir em pedaços, devido ao seu próprio peso, a
menos que se modifique as proporções relativas da estrutura em relação ao seu
conteúdo físico. (THOMPSON, 1961)
Portanto, quando o limite de crescimento do sistema de informação e seus subsistemas
é atingido, presencia-se a transição desse crescimento para a saturação (que parece estar
levando os processos do sistema a uma estagnação, não concretização):
(...) a uma seleção que não seleciona; indexação que isola e mutila; organização de
arquivos que têm problemas quanto a sua própria integridade física, problemas que
se ampliam e repercutem no armazenamento; imprecisão e indeterminismo de
análise e negociação de questões e perplexidades na disseminação/acesso ao
documento. Nesse contexto, nada resta a acrescentar quanto ao sistema de
avaliação: os estudos espelham, de maneira geral o gigantismo dos sistemas e
insatisfação e a frustração do usuário com a resposta que lhe é fornecida pelo
sistema (ARAÚJO, 1995).
Para a autora, quanto maior o sistema: (...) maior a entropia em seu interior, mais
entropia é gerada no esforço de gestão desse sistema – de tal forma que gigantismo,
crescimento exagerado, megassistemas implicam logicamente aceleração do processo
entrópico e conseqüente desorganização, caos, desequilíbrio acentuado (ARAÚJO, 2005).
69
70
http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei
Grifo do autor.
74
Podemos ainda dizer que há um ponto crucial além do qual o crescimento da massa
crítica leva a uma explosão, a um gigantismo que acarreta uma saturação, o alcance de um
“ponto limite” do qual não há mais capacidade de absorção/assimilação (ARAÚJO, 2005). Ou
ainda, uma determinada periodicidade, ritmo que faz com que em seu processo de movimento
e desenvolvimento atravesse certas etapas ou fases cronologicamente sucessivas
(AFANASIEV, 1977).
Castells recupera trabalhos de Stephen J. Gould que abordam o aspecto tecnológico
como um dos elementos para se compreender o ciclo de contínua mudança dos sistemas, na
medida em que os ambientes tecnológicos evoluem incrementalmente, mas sofrendo, de
tempos em tempos, uma descontinuidade (CASTELLS, 2004).
Estas descontinuidades são marcadas por revoluções tecnológicas que introduzem um
novo paradigma (GOULD, 1980), citado por Castells (2004). Nesse contexto, é possível
afirmar que sistemas estão em movimento periódico e regular, de crises e rupturas, e criam
etapas demarcadas por contínuas explosões e quebras, a partir de dada entropia, que são
solucionadas, como sugere Gould, por novas tecnologias.
Podemos afirmar, assim, que dado ambiente informacional está em movimento
periódico e regular. Cria etapas demarcadas por contínuas explosões e quebras a partir de uma
dada entropia, provocada por um aumento de volume. Este, por sua vez, cria uma escassez
pela dificuldade de produzir informação com qualidade, precisando de novas tecnologias,
como sugere Gould, ou da adoção de métodos e tecnologias - motivadas principalmente pelo
aumento crescente da quantidade de informação no planeta.
Há, portanto, uma relação entre aumento do volume de informações, crises e soluções
tecnológicas. Não seria difícil supor que quando um dado ambiente informacional tiver um
aumento radical de volume de informações, de alguma forma será adotada uma nova
tecnologia que permitira que as pessoas possam lidar com o volume de informação.
Esse momento entre o aumento gradual do volume e a implantação de uma nova
tecnologia pode caracterizar a crise informacional. Cabe ressaltar que a tecnologia é elemento
fundamental para superar o impasse, mas que qualquer tecnologia exige conceitos teóricos e
práticos prévios para que possam ser desenvolvidas novas maneiras de lidar com a
informação.
Assim, ao trazer os conceitos de Galileu e Thompson, Barreto introduz peça
fundamental para que possamos compreender a anatomia de uma crise informacional, ao supor
que tal momento exige naturalmente uma modificação nas proporções relativas da estrutura em
75
relação ao seu conteúdo físico, e uma mudança na sua forma ou conformação (BARRETO,
2007).
Assim, é cabível pressupor que um ambiente informacional que vive uma crise vai se
reciclar através de um conjunto de ações. Tal concepção é válida para a análise das
macrocrises globais da informação e para a introdução da Internet (tecnologia) ou do livro
impresso (tecnologia), por exemplo, que vieram superar uma dada crise informacional de
aumento de volume de informação e de escassez por não se conseguir encontrar o que deseja
em tal volume.
76
2.3.3 O CONCEITO DE CRISE DA INFORMAÇÃO
Para se chegar ao conceito de crise da informação, utilizamos o já trabalhado conceito
de crise, incluindo nele os problemas de informação que podem gerar crises informacionais.
Sendo assim, a definição: Crise da informação se caracteriza por um período raro e
incomum, em dado tempo e espaço específico, em que o uso eficaz da informação esteja fora
de determinado padrão estabelecido, necessário para um indivíduo ou grupo continuar
sobrevivendo ou vivendo com qualidade. Tal fato ganha intensidade quase incontrolável e é
potencial gerador de instabilidade e desorganização de determinada ordem vigente, em sua
parte ou todo, servindo como um rompimento de dada estrutura social. Tal crise pode gerar
crises correlatas, que exige, portanto, ação ou atitude emergencial, através de tomada de
decisão, pois parte ou um todo passa a ser impedido de forma parcial ou completa de atuar
da maneira padrão. Tal situação pode se agravar ou abrandar, conforme ações tomadas a
posteriori, sendo esse momento um teste de resistência de determinada estrutura
informacional. Podemos identificar dois tipos de crises informacionais: as práticas (causadas
pelo não uso de dado conhecimento já dominado pela sociedade) ou teóricas (quando o
conhecimento da causa é desconhecido pela sociedade), com paradigmas ainda não
desenvolvidos. Tais crises podem ocorrer com consequências localizadas (microcrises
informacionais) ou globais (macrocrises informacionais) e apresentam quatro causas
recorrentes: o excesso, a falta, a baixa qualidade de informação e ainda a desinformação, e
são resolvidas ou minimizadas através da introdução de novos métodos e tecnologias para
lidar com a informação para superar seus impasses.
Como o conceito de crise da informação definido nesta seção, é possível,
apresentarmos o conceito principal da presente tese, que é a macrocrise da informação.
2.3.4 O CONCEITO MACROCRISE DA INFORMAÇÃO
A partir das definições de crise da informação na seção e subseções anteriores, esta
subseção aborda o conceito macrocrise da informação para se avaliar posteriormente
macrocrises da informação na história.
77
O termo crise global da informação não apresenta retorno no Google Acadêmico, bem
como crise geral da informação ou crise da informação globalizada. A busca em inglês
global information crisis retornou com três resultados, voltados para a Ecologia e a
Economia, não tocando diretamente em uma possível crise da informação. A alternativa de
busca por problemas globais de informação foi infrutífera, ou mesmo problemas de
informação mundial ou problema mundial da informação. Foi também nulo o resultado para
as buscas sobre macrocrise da informação. Foi também infrutífera a busca para information
macro-crisis ou macro-crisis of information.
Na literatura analisada da CI, não se obteve resultados positivos nas buscas feitas por
estudos que abordem macrocrises informacionais. Para se abordar o problema foi preciso
utilizar consultas por termos similares que pudessem levar a compor um cenário, a partir de
fragmentos de crises globais ou macrocrises.
As buscas revelaram que corrente na área o emprego do termo explosão
informacional, que seria uma das causas geradoras de problemas gerais de informação.
A explosão informacional provocada pelas inovações tecnológicas fez a quantidade
de documentos vigentes no mundo ganharem dimensões imensuráveis. Os
problemas resultantes dessa explosão estão ligados à dificuldade dos processos de
controle da produção, recuperação, seleção, tratamento e disponibilização do
conteúdo imerso nos suportes multiplicáveis. A cada dia inúmeros textos nascem
nos mais diferentes meios, são concebidos e divulgados através dos rápidos canais
tecnológicos de transmissão de dados (MONTEIRO et al., 2010).
Nota-se que a citação acima, se relaciona a explosão informacional a um fenômeno
mundial. Uma outra citação destaca:
Dentre essas competências, destaca-se a competência em informação, expressão
esta que se originou em meio ao surgimento da explosão informacional, que se
caracteriza pelo magnífico crescimento da informação disponibilizada e, ainda,
pelas mudanças ocasionadas pela tecnologia usada no processo de geração,
disseminação, acesso e uso da informação (LISTON e SANTOS, 2008).
A citação acima, parte do pressuposto de que se trata de uma explosão informacional
geral, que atinge todo o planeta. Além disso, o termo magnífico crescimento remete a ideia de
algo que acontece a despeito de outros fenômenos, algo sem uma causa, ligada diretamente ao
processo informacional. Pode-se ver ainda no texto abaixo:
Rompendo as barreiras tecnológicas, surgiram os documentos eletrônicos na
internet, que podem ser utilizados por qualquer indivíduo, desde que este saiba
localizá-los. A explosão informacional tem dificultado de maneira considerável a
recuperação das informações, pois o crescimento da Internet como meio de acesso
à pesquisa e à informação a tem tornado um espaço complexo, que, às vezes, supera
a capacidade humana de acessar e processar informações (SANTOS e OLIVEIRA,
2009).
78
A citação acima também define um movimento global, advindo do fenômeno da
Internet, indicando uma dificuldade de se recuperar informações no novo ambiente. Indica
que se trata também de um fenômeno sem controle, o que caracteriza uma crise geral da
informação, mesmo sem citar o nome: “a „explosão da informação‟ é um problema social
que teve início na ciência e agora se espalhou para todo e qualquer empreendimento humano”
(SARACEVIC, 1996).
Assim, com já definimos o fenômeno das crises da informação são problemas de
excesso, falta e baixa qualidade da informação ou ainda de desinformação; que são resolvidos
e/ou minimizados através da introdução de novos métodos e tecnologias para superar seus
impasses. Podemos especular que tais fatos também ocorrem em movimentos mais amplos da
informação.
Em microcrises informacionais há um elemento de causas e efeitos mais facilmente
diagnosticado, em função da proximidade das ações. Nas macrocrises da informação é
preciso, entretanto, encontrar fenômenos que provoquem o aumento da oferta e da demanda
da informação, que independam de fatores locais, mas que originem macroações para superar
esses impasses.
Um destes fenômenos, que parece ser evidente, é o aumento demográfico da
população. No entanto, não é objetivo aqui comprovar a relação entre macrocrises
informacionais e o fator demográfico. Para tal será, então, necessário pesquisas de campo para
aferir como determinado volume de usuários é capaz de gerar determinada crise
informacional e que alterações pode gerar no ambientes de informação, tanto em termos
micros como macros, através de amostragens estatísticas.
Entretanto, é possível reunir algumas suposições de que há, de forma bem provável,
relação entre crises informacionais e o crescimento populacional, repercutindo tanto nos
microssistemas locais como em situações globais. Em termos locais e globais, podemos aferir
que quanto mais usuários tivermos em dado sistema, mais demandas haverá de informação e,
por sua vez, mais necessidade de aumento na oferta de informação.
Há nesse aspecto de oferta e demanda dois fatores a serem analisados. O aumento do
volume de informações disponíveis em dado ambiente informacional e, por outro lado, o
número de usuários que se beneficia dessa informação. Por tendência, o aumento de número
de usuários deve, por sua vez, pressionar o ambiente para que amplie a oferta.
Ao estudar o problema, Barreto considera que a oferta e demanda de informação em
um determinado contexto informacional são representadas pelos estoques de informação
79
institucionalizados disponíveis e pelas necessidades de informação da realidade onde o
consumo se realiza. Segundo Barreto, em um mercado tradicional, do ponto de vista
econômico, oferta e demanda se ajustam considerando as condições específicas deste
mercado. Em curto prazo, a demanda tem um papel primordial no ajuste. Se a demanda de
determinado produto aumenta ou diminui, a oferta tende a se ajustar a estas variações.
Entretanto, no mercado de informação existem características peculiares, já que a “oferta que
determinaria a demanda por informação”:
Unidades que operam os agregados de informação tendem a aumentar as suas
condições de produção (volume do estoque) de maneira periódica e
cumulativa, mesmo que não ocorra acréscimo na demanda por informação. Assim
uma biblioteca aumenta a sua coleção, anualmente, mesmo que o número de
usuários permaneça o mesmo e o volume de sua demanda também. O mesmo ocorre
com uma base de dados, ou com o acervo de um arquivo ou museu, ou o estoque de
conhecimento produzido em uma unidade acadêmica. (BARRETO, 1999a)
Sob esse ponto de vista, haveria sempre, nestas unidades
gestoras de
informação/conhecimento, um acréscimo periódico, contínuo e cumulativo da quantidade de
informação armazenada, permitindo aumentar a geração da oferta, ainda que a demanda por
informação permaneça constante. Mesmo que a demanda possa vir a ter um acréscimo, não é
mantida uma proporcionalidade entre os acréscimos da demanda e os acréscimos da oferta
pelos produtos e serviços de informação. Conseqüentemente, esta condição de oferta/demanda
por informação vai ocasionar implicações técnicas, econômicas e políticas.
O aumento constante e cumulativo no volume físico dos estoques
de
informação/conhecimento afetará diretamente a produtividade destes estoques no tocante à
retirada ou recuperação de itens para distribuição. Como esta função se orienta por uma
racionalidade prática, técnica e produtivista, haverá sempre necessidade de administrar estes
estoques para um máximo de produtividade, o que tenderá a afetar a estratégia de distribuição
da informação. Barreto, ao analisar os tipos de demandas de usuários de um ambiente
informacional, destaca três: a básica, contextual e reflexiva, a saber:

demanda básica: responsável pelas necessidades básicas de informação do
indivíduo no exercício de sua cidadania corresponde às condições de demanda que
se justificam pela necessidade dos indivíduos em habitação, alimentação,
vestuário, saúde e instrução;

demanda contextual: responsável pelas transações correntes de informação para
que o indivíduo possa permanecer e se manter em seus espaços de convivência
profissional, social, econômica e política;
80

demanda reflexiva: de informação que se orienta para o pensar, a pesquisa, o
inovar – é a demanda por informação que induz ao pensamento criativo da
reelaboração e reformatação da informação em nova informação, permitindo a
inovação em todos os seus aspectos (BARRETO, 1999a).
Apesar de considerar que há, por tendência, independente da demanda, um aumento
gradual na oferta, outras pesquisas demonstram que o aumento de volume de usuários tende a
ocasionar demanda e por sua vez pressionar a oferta. Ao abordar o tema da explosão
informacional, Sweeney chama a atenção para o crescimento sem precedentes no número e
variedade da coleta de dados em diversos setores da economia.
Há para Sweeney um aumento gradual e radical dos dados necessários para o
acompanhamento dos nascimentos, tanto em termos de quantidade do aumento de
nascimentos, como da necessidade de ampliar os campos de dados necessários para um
melhor controle. A pesquisadora abordou, usando a mesma lógica, o crescimento do volume
em outra área, como no de supermercados, o que se caracterizaria, conforme Barreto, em
demanda primária de informação.
Na pesquisa realizada, um consumidor, em 1983, ao comprar itens em um
supermercado deixava apenas gravado o quanto consumiu. Não eram registrados a identidade
do consumidor, hábitos pessoais, comportamentos, produtos adquiridos e os horários e dias,
nem mesmo a experiência de compra de cada consumidor, gerando certa incerteza nas vendas
do supermercado.
Hoje, a tecnologia do computador permite reduzir a incerteza. As transações do
consumidor podem ser armazenadas e analisadas, e ao fazê-lo, colhe-se e usa-se
informações sobre o estilo de vida de cada um deles e seus comportamentos e
hábitos geralmente podem ser revelados. Depois todos, observando as compras um
consumidor individual, na semana após semana, fornece indícios sobre as
demandas sobre tempo do consumidor, estatuto econômico e experiências de
vida. (SWEENEY, 2001)
Ao se analisar, por exemplo, o conceito de demanda básica de Barreto, observa-se que
os itens levantados por Sweeney estão relacionados às necessidades básicas dos indivíduos,
tal como alimentação (supermercado) e saúde (hospitais). Para realizar seu estudo sobre o
aumento da população no mundo, a autora criou o que ela denominou de Disk storage per
person – DSP (armazenamento de disco personalizado).
DPS seria a medida em megabytes por pessoa e Global DSP (GDSP) o espaço total do
disco rígido em disco (em MB) pela população. A métrica GDSP é uma medida aproximada
da quantidade de armazenamento em disco que poderia ser utilizada para coletar dados de
pessoas específicas sobre a população mundial.
81
Pode-se porém especular aqui como hipótese para outros pesquisadores que
macrocrises da informação têm como uma das causas principais o aumento populacional. Tal
hipótese se baseia na verificação de um aumento da população proporcional, tanto no
surgimento do livro quanto no da Internet:

Aumento de demografia anterior ao livro impresso – Forte e rápido
crescimento populacional, de 300 milhões de habitantes em 1100, para 460
milhões de habitantes em 1500, um aumento de 50% em 400 anos, gerando uma
crise de demanda, que o ambiente produtivo vigente (feudalismo) não conseguia
resolver, a tempo e a hora, em vista da quantidade e diversidade da nova
população.

Aumento de demografia anterior a Internet – Forte e rápido crescimento
populacional de um bilhão, em 1800; para sete bilhões em 2010, crescimento de
600% nos últimos 200 anos, gerando uma crise de demanda, que o ambiente
produtivo vigente (capitalismo hierárquico) não tem conseguido resolver no
modelo atual, a tempo e a hora em vista da quantidade e diversidade da nova
população.
É possível antever que um novo ambiente informacional, baseado em outros
parâmetros, será, com grande chance, um importante impulsionador – ainda que não
determinante – de mudanças radicais em nossa sociedade. Imaginemos, por exemplo, a
adaptação populacional de um planeta habitado por x, e agora por y, necessitando de outro
ambiente de informação para realizar mudanças na sociedade.
Porém, é preciso que tenhamos consciência de que, se por um lado, não podemos
trazer nesse estudo afirmações conclusivas, por outro, não podemos hoje rebater tais
argumentos sem que haja mais e mais estudos com outros pontos de vista, conceitos e,
principalmente, abertura para novos desafios teóricos. É isso, precisamente, o que nos leva e
condiciona a refutá-los e/ou aprofundá-los na base de estudos de campo, que precisam ser
feitos cada vez mais e em menos tempo.
Tal aumento demográfico provoca, por sua vez, ao longo de um vasto período,
impactos de demandas de consumo, que exigiria um aumento de dinâmica dos setores
produtivos (onde se inclui toda a sociedade), principalmente, através da inovação, pois tornase necessário produzir mais com menos, a custos acessíveis, a cada vez mais gente e, muitas
vezes, com mais diversidade.
82
A inovação implicará melhorias de todos os tipos: métodos de gestão, tecnologias,
melhor capacitação de pessoal. Tais demandas pressionarão, de forma latente, os ambientes
informacionais da sociedade a ampliar a sua dinâmica, ampliando também a quantidade de
fontes disponíveis para introduzir novas ideias. Com isso, surgirão novos meios para que a
comunicação à distância possa ser feita de forma mais ágil, criando, por consequência, a
possibilidade de armazenar o que passa a ser produzido em novos suportes informacionais.
É possível supor que macrocrises da informação possam ter como um de seus fatores
principais o aumento demográfico. Tal relação pode ser levantada a partir de alguns
pressupostos colocados na seguinte sequência:

O ser humano, para sobreviver, tem necessidades variadas, que deságuam em
demandas de consumo;

Quanto maior o número de pessoas, mais demandas;

Quanto mais demandas de consumo na sociedade, mais demandas informacionais;

Quanto mais demandas informacionais, mais sofisticados devem ser os ambientes
informacionais.
É possível prever ainda que no contínuo crescimento da população - que deve chegar a
marca dos nove bilhões, provavelmente em 2050 - pode estar embutido novas macrocrises,
com a contínua (como já estamos vendo) e acelerada escalada de novas tecnologias da
informação e da comunicação, tanto como solucionadora como geradora de crises. Tal fato
coloca a CI como uma área fundamental e indispensável para investigar e auxiliar na solução
de problemas e informação. Pode-se ainda especular se conseguiremos ter capacidade de
separar de forma tão clara as macrocrises, ou se elas farão parte de um estado permanente.
A velocidade do tempo pré-Internet não é mais compatível com a que precisamos agora,
haja visto o grande número de pessoas no planeta. Sob esse ponto de vista, abandona-se a ideia
de que estamos vivendo apenas uma Revolução Tecnológica Informacional. Essa revolução de
fato existe e é evidente e perceptível, mas devemos entender as transformações em curso
sobretudo como a superação de uma macrocrise global da informação, que leva a sociedade a
rever valores antigos para criar novos, compatíveis com um mundo mais populoso.
Se tal hipótese se consolidar, saltamos da compreensão do fenômeno informacional
micro para o macro e passamos a estudar suas possíveis causas, permitindo à humanidade gerir
melhor seus ambientes informacionais, já que a informação é o ar que a sociedade respira para
sobreviver. Se não conhecermos a fundo o fenômeno, podemos acabar ciclicamente
“sufocados” pela falta de compreensão desse complexo fenômeno.
83
Diante desse conjunto de reflexões, consideramos que macrocrises informacionais
podem ser consideradas:
Macrocrises informacionais têm amplas consequências para a sociedade, atingindo
todos os habitantes do planeta ou boa parte de suas regiões, através da reação de um
coletivo de indivíduos. Ao detectar as forças gerais que impelem os fatores da crise em
determinada direção, há uma fase das chamadas forças de "ajuste" ou "equilíbrio", que
explicam o comportamento do sistema como um todo. Podemos identificar dois tipos de
causas de crises informacionais: as práticas (causadas pelo não uso de dado conhecimento já
dominado pela sociedade) ou teóricas (quando o conhecimento da causa é desconhecido pela
sociedade), com paradigmas não desenvolvidos. Macrocrises apresentam quatro causas
recorrentes: o excesso, a falta, a baixa qualidade de informação e ainda a desinformação.
Macrocrises informacionais, por fim, são geralmente minimizadas com a introdução de novas
metodologias e tecnologias.
Ao pensar em microcrises da informação, concluímos que:
Microcrises informacionais têm consequências restritas para a sociedade, atingindo
parcialmente habitantes do planeta ou algumas de suas regiões, através de uma reação de
um conjunto pequeno de indivíduos. Podemos identificar dois tipos de causas de crises
informacionais: as práticas (causadas pelo não uso de dado conhecimento já dominado pela
sociedade) ou teóricas (quando o conhecimento da causa é desconhecida pela sociedade),
com paradigmas não desenvolvidos. Microcrises informacionais, por fim, são geralmente
minimizadas com a introdução de novas metodologias e tecnologias.
84
2.4 AS MACROCRISES NA HISTÓRIA
Esta seção apresenta como diversos autores lidam com a história da informação e se
procurará identificar os momentos de macrocrises informacionais, principalmente na
passagem do mundo oral e suas deficiências para o mundo escrito, com a popularização da
escrita, através da difusão do papel impresso e em seguida abordar a macrocrise digital.
É plausível considerar que toda a ciência, seja qual for o problema analisado,
proporciona deslocamento de limites da compreensão humana sobre determinado fenômeno.
Tais avanços são feitos através da superação de determinados impasses, justamente pela
dificuldade de superar paradigmas anteriores, que nos dificultam a visão. Pode-se, assim,
encarar que há um certo a-historicismo da CI ao analisar explosões informacionais como uma
dessas barreiras cognitivas, criando certa ilusão, já que cada momento da trajetória do
conhecimento deve conter o passado e o futuro para fazer sentido. Temos que admitir e criar
uma linha demarcatória em algum momento (por que não desde já) de que já não foi – e cada
vez mais – não será mais possível compreender fenômenos informacionais da dimensão da
Internet sem um estudo rigoroso do passado. Recorremos na conclusão a crítica de Kobashi,
Smit e Tálamo:
No entanto, tal visão não é o que se observa na interpretação retrospectiva do
campo da Ciência da Informação, apenas nomeia o já produzido e não desenvolve
um objeto específico: vem sempre a reboque das várias disciplinas produtoras do
conhecimento. Imagina-se a-histórica, não reconhece as relações sociais e o
contexto de circulação daquilo que preserva e nomeia.
(KOBASHI,
SMIT e TÁLAMO, 2001)
A História da Informação se define como campo emergente na CI, que, por sua
natureza, tem estudado a informação sob o ponto de vista mais amplo e geral, reunindo, em
torno desse tema, cientistas da informação e historiadores. O novo campo procura focar no
estudo geral da informação – o que inclui suas possíveis crises – ampliando o horizonte da
pesquisa e não mais se preocupando em resolver aspectos particulares de determinados
problemas pontuais e particulares, como tem sido o usual, atualmente.
Weller, um dos defensores do desenvolvimento dessa área de pesquisa, lembra que a
CI existe há talvez 50 ou 60 anos, mas a informação, há séculos, milênios e está diretamente
ligada à existência humana.
História da Informação é, assim, o estudo da relação entre a humanidade e suas
diferentes formas de conhecimento - da gravação, manifestação, divulgação,
85
preservação, coleta, compreensão e o uso de informações e de como estas questões
afetaram e foram afetadas pela evolução social, econômica e política. Não é um
campo preocupado com a informação e tecnologias, mas com todos os aspectos da
sociedade da informação - no sentido mais amplo do termo (WELLER, 2008).
No desenvolvimento dessa nova área de pesquisa da CI optou-se por descartar o
estudo, como era corrente, dos livros e das bibliotecas, que havia sido a primeira tendência.
Recentemente, alguns autores, como têm sugerido a ampliação dessa visão, consideram este
campo de pesquisa um “guarda-chuva” para áreas distintas, tais como história do livro, da
biblioteca, da gestão da informação, das sociedades de informação, infraestruturas e sistemas.
Entretanto, o campo, do ponto de vista de seu desenvolvimento, deve ter um escopo
mais amplo e não se restringir apenas à história das tecnologias, mas mais uma visão
conceitual e abstrata da informação de forma intangível e multifacetada. Há uma emergência
pelo estudo histórico, a partir dos novos dilemas que estamos enfrentando na última década,
tais como o surgimento da Internet, que nos obriga a realizar uma reinterpretação da história
para compreendê-los, baseados nos valores contemporâneos e preocupações da sociedade da
informação.
Weller, por exemplo, que a história da informação abarque “o estudo da relação entre
a humanidade e suas diferentes formas de conhecimento” (WELLER, 2008). Ao propor essa
visão para o campo específico, na verdade, amplia as possibilidades e se alinha ao debate em
curso no pensar e agir da Ciência da Informação, capitaneado principalmente por Barreto,
Araújo e Freire, entre outros, ao se privilegiar o estudo da construção do conhecimento e suas
consequências ao das tecnologias e suportes, só que agora com ponto de vista histórico
introduzido por Weller.
Ao estudar a história das mídias e do próprio conhecimento, Burke sugere melhor
sincronia entre dois grupos de pesquisadores: que os historiadores passem a se dedicar mais
ao estudo das teorias e tecnologias da comunicação; e os da informação, da comunicação e do
conhecimento à pesquisa histórica. (BURKE, 2003) Concorda Lévy com essa visão ao
insinuar, de forma provocativa, que as tecnologias intelectuais têm muito a ensinar aos
filósofos sobre filosofia e aos historiadores sobre a história (LÉVY, 1993).
É fato evidente a necessidade de analisar as mudanças nos sistemas de comunicação,
informação e conhecimento que aconteceram no passado, pois é da natureza humana, ao
habitar determinado ambiente, ter a sensação de que tudo se trata de algo consolidado e
pronto. Tal hiato pode ser justificado, pois o conhecimento sobre o tema cristalizou-se em
épocas nas quais as tecnologias de transformação e de comunicação estavam relativamente
estáveis, ou pareciam evoluir em uma direção previsível (LÉVY, 1993).
86
“É só pela comparação que podemos vê-lo como um sistema entre outros” (BRIGGS
e BURKE, 2006). Essa lacuna é ainda explicada pelos pesquisadores devido à incorporação
das novas tecnologias ao nosso dia-a-dia, que foi antes um conceito, um projeto, uma grande
novidade (LÉVY, 1999). Ou, de forma mais precisa e sintética, como defende Alan Kay:
“uma tecnologia só é uma tecnologia se você nasceu antes dela71”. Na escala de uma vida
humana, os agenciamentos sócio-técnicos constituíam um fundo sobre o qual se sucediam os
acontecimentos políticos, militares ou científicos (LÉVY, 1993).
Pode-se inclusive recorrer a Freud, que defendia a hipótese de que quanto menos um
humano conhece a respeito do passado e do presente, mais inseguro terá de mostrar-se seu
juízo sobre o futuro (FREUD, 1987). Apesar de ser recorrente o estudo histórico dos
fenômenos em outras Ciências Sociais, nem sempre tem sido assim no campo da informação,
da comunicação e do conhecimento. Somente a partir da década de 90 tivemos incremento
maior das pesquisas de história nessas áreas (BRIGGS e BURKE, 2006). Tal lacuna resultou
na profícua, porém ainda imatura linha de pesquisa denominada História da Informação
(Information History - IH), que pretende suprir as lacunas observadas.
Assim, pode-se levantar também como reflexão forte indício de uma inviabilidade
científica do pleno exercício da CI. Constata-se que não é viável não se aprofundar estudos
históricos diante de fenômeno tão amplo como a Internet. Se há algo bastante evidente, este é
o fato de que se pode apontar a Internet como o principal fenômeno informacional ocorrido
desde que a área foi formada.
A difusão da Internet e a sua clara repercussão na sociedade nos leva a torná-la o
ponto central de revisão sobre os conceitos que tínhamos sobre fenômeno informacional.
Aquilo que aparentemente parecia estático (o macroambiente) se mostrou dinâmico.
Demandas globalmente reprimidas de informação passaram a impulsionar a humanidade, sem
um projeto político aparente de nenhum grupo. Com isso, deu-se início à criação de novos
ambientes globais mais dinâmicos de informação.
A aparição de fenômenos novos, como é o caso da Internet, gera a motivação
necessária ao estudo histórico, nascida sempre a partir do estímulo por novas exigências e
novas obscuridades, “pois a história se relaciona sempre com a necessidade e a situação
presentes, nas quais aqueles fatos propagam sua vibração” (CROCE, 1962). A história da
imprensa, por exemplo, pode ser considerada parte integrante do estudo do passado da
civilização ocidental, e a natureza de seu impacto é, ainda hoje, assunto de interpretação.
71
Em: http://www.cramster.com/reference/wiki.aspx?wiki_name=Alan_Kay / (Technology is anything that wasn't around
when you were born)
87
Podemos considerar que nenhum evento político, eclesial, econômico, sociológico, filosófico
e literário pode ser completamente compreendido sem essa importante variável
(STEINBERG, 1961).
Sem dúvida, o nascimento de um novo meio de comunicação e informação é, ao
mesmo tempo, estimulante e assustador, pois qualquer tecnologia industrial, independente da
área, estende dramaticamente nossas capacidades e nos torna inquietos, desafiando-nos,
inclusive, a repensar o nosso próprio conceito de humanidade (MURRAY, 2001). É preciso
compreender, portanto, o lugar fundamental das tecnologias da comunicação e da inteligência
na história cultural, permitindo olhar a razão, a verdade e a história de uma nova maneira
(LÉVY, 1993).
Sem um cenário mais amplo, global e com antecedentes históricos para comparação,
portanto, passamos a tratar fenômenos sociais não estudados e repentinos como obras da
natureza, ou corriqueiros, como se fizessem parte das coisas do mundo. Porém o papel da
Ciência é justamente este: compreender e dar uma lógica sempre provisória às coisas do
mundo e tentar transformá-las em teorias, com sua lógica própria, aprofundando da melhor
forma possível os conceitos, que também são históricos, na nossa capacidade e necessidade de
defini-los. Procura-se, assim, traçar e registrar movimentos prováveis e elementos
condicionantes e condicionados para que se possa, no presente e futuro, lidar melhor com ele
e, quando possível, agir de forma mais eficaz.
A história da troca de informação entre os humanos é feita de rupturas. Essa parece ser
a percepção, quase unânime, de todos os que estudaram os diferentes ambientes de informação
ao longo do tempo. O desenvolvimento do intercâmbio de informações entre os seres humanos
se caracteriza mais por um processo de abalos que de continuidade. De tempos em tempos,
mudamos a maneira de realizar esse intercâmbio, o que repercute inevitável e drasticamente
na maneira de pensar e agir da sociedade.
Não são poucos os autores que têm ido à história para comparar a Internet a outras
mudanças tecno-informacionais, como vemos o exemplo abaixo, quando a explosão aparece
no passado:
Os estudiosos, ou mais genericamente os que buscassem o conhecimento, também
enfrentavam problemas. Observemos deste ponto de vista a assim-chamada
"explosão" da informação - uma metáfora desconfortável que faz lembrar a
pólvora - subseqüente à invenção da imprensa. A informação se alastrou "em
quantidades nunca vistas e numa velocidade inaudita". Alguns estudiosos logo
notaram as desvantagens do novo sistema72. O astrônomo humanista Johann
Regiomontanus observou, por volta de 1464, que os tipógrafos negligentes
72
Grifo do autor.
88
multiplicariam os erros. Outro humanista, Niccolò Perotti, propôs em 1470 um
projeto defendendo a censura erudita. Mais sério ainda era o problema da
preservação da informação e, ligado a isso, o da seleção e crítica de livros e
autores. Em outras palavras, a nova invenção produziu uma necessidade de novos
métodos de gerenciamento da informação. (BURKE, 2002)
Há entre historiadores certo consenso de que as passagens tecnológicas podem variar
em dimensão. Há, por um lado, as passagens menos perceptíveis, também chamadas
incrementais, que são reconhecidamente fruto de microcrises informacionais, superadas por
novas tecnologias que resolvem crises pontuais. Por outro lado, há as passagens tecnológicas
maiores e mais perceptíveis, conhecidas como passagens tecnológicas radicais, que resultam
de macrocrises informacionais. São exemplo desta última as passagens tecnológicas que
tiveram início quando o ser humano começou a falar, a escrever e a trocar informações,
através do computador. São momentos na história que modificam de forma visível a maneira
com que lidamos com a informação, pois há uma mudança no suporte pelo qual a informação
é recebida e transmitida, o que influencia todo o processo (LÉVY, 1999).
Diante disso, pesquisadores de diferentes áreas optaram por definir que estas rupturas
marcaram determinadas “eras”, “ordens”, “tempos de espírito” e “ecologias informacionais”.
O que se pode perceber foi que um modelo de troca anterior passava a outro bastante diverso,
a partir da introdução de dada tecnologia de informação e comunicação, permitindo
significativa alteração na maneira de produção e consumo da informação. Burke acredita ser
possível identificar, ao longo da história, esses momentos de mudanças radicais e incrementais
como um grande sistema vivo, em contínua mudança (BRIGGS e BURKE, 2006).
Se pudéssemos traçar um gráfico da evolução do uso da informação pelos seres
humanos nos últimos cinco mil anos, a curva ascendente que vai do grunhido ao correio
eletrônico não poderia ser vista de formar regular. Em vez disso, o que se observaria é que
cada ponto marca níveis diferenciados de velocidade e alcance da comunicação (MAN, 2002).
Masuda descreve etapas distintas da comunicação humana: a da linguagem, a da
escrita, a da imprensa e a do computador (MASUDA, 1980). Santos, ao explicar a passagem
do computador para a rede, define como divisores a “ordem do livro” e “ordem da Internet”
(SANTOS, 2006). Briggs e Burke dividem a história informacional da seguinte maneira:
impressão (c.1450 C), alfabeto (c.2000 a.C) e a escrita (c.50000 a.C) (BRIGGS e BURKE,
2006).
Man destaca que primeiro tivemos a invenção da escrita, levando à criação das
sociedades grandes, duradouras, com elites clericais. Em um segundo momento, a invenção
do alfabeto trouxe a escrita até o alcance das pessoas comuns, a partir dos quatro anos de
89
idade. O terceiro momento teve início a partir da invenção da imprensa com tipos móveis, que
surgiu na Europa quinhentos anos atrás. E o quarto momento, finalmente, é aquele “que
parece estar nos transformando em células de um cérebro planetário, é o advento da Internet”
(MAN, 2002).
Ao analisar a história dessa memória coletiva, Leroi-Gourhan opta pela seguinte
classificação: transmissão oral, escrita por meio de tábuas ou índices, das fichas simples, da
mecanografia e o da seriação eletrônica (LEROI-GOURHAN, 1965). Podemos aferir, assim,
que há certo consenso de que, de fato, para analisarmos a história da troca de informação
humana é necessário, a título de uma melhor compreensão do processo, dividi-la em etapas,
como um elemento facilitador científico para traçar sua história.
É bom ressalvar que toda divisão histórica, em qualquer época, será sempre aleatória,
refletindo um exercício arbitrário de um dado historiador, ou de um conjunto deles, para
defender determinado ponto de vista. Le Goff, historiador francês, considera que todo o
estudo sobre o passado sempre será, de alguma forma, “uma obra de ficção”, pois só é
possível o trabalho sobre algo constatável, que pode sofrer alterações, a partir de novas
realidades futuras, “já que o discurso histórico, ele mesmo, faz parte da história” (LE GOFF,
1977). A separação, portanto, por etapas, é apenas um facilitador para compreensão de uma
determinada fase para outra de melhor compreensão, a partir da reavaliação de fatos passados,
a partir de fenômenos presentes. Dessa forma, seria possível, através de momentos similares,
analisar fatos de hoje, com melhores parâmetros, comparando-os (ou relacionando-os) com o
que já ocorreu no passado.
Desse ponto de vista, não seria científico afirmar que a história da informação seja
marcada por tal ou qual época, como uma verdade absoluta. Porém, observa-se que há
momentos nessas passagens em que a forma de produção e consumo da informação foram
profundamente alterados. Percebe-se uma passagem bem demarcada pela chegada de uma
nova tecnologia informacional. Há um conjunto de mudanças relevantes para a sociedade e,
portanto, merece ser chamada a atenção. Ressalva-se, assim, que é possível aferir uma dada
separação histórica, tomando o cuidado, porém, não perder de vista que se trata de uma
abordagem sujeita a questionamentos, pois ela é “histórica”, com os dados e elementos
existentes para essa comparação.
A divisão sugerida por Lévy, ao definir a história da informação em três tempos de
espírito (oral, escrito e digital), se assemelha aos demais, mas preserva um mérito ao
acrescentar um dado relevante. O autor não só define os momentos de passagem, mas também
consegue perceber a diferença entre estes momentos, estabelecendo que, em cada uma destas
90
passagens, ocorreram novas possibilidades de trocas informacionais, inviáveis devido aos
limites técnicos da tecnologia anterior, a saber, um-um, um-muitos, muitos-muitos. O um-um
no mundo oral, o um-muitos com a escrita, rádio, TV e até o computador na sua primeira fase,
e o muitos-muitos, à distância, com o surgimento da Internet (LÉVY, 1999).
Poderíamos detalhar essas trocas informacionais definidas por Lévy, como:

um-um – contato direto entre duas pessoas (mundo oral);

um-muitos – contato entre um emissor para vários receptores (mundo escrito e
comunicação de massa);

muitos-muitos – contato entre diversos emissores e receptores (radioamadores,
Internet e as ferramentas colaborativas da rede).
Em diversos livros, Lévy, filósofo da tecnologia, considerou a chegada da Internet
(complementando o mundo digital, do computador) como mais uma passagem relevante na
forma do ser humano trocar conhecimento, a partir de novas tecnologias. Segundo Lévy,
constituíram-se, em torno dessas novas tecnologias, tempos diferentes do espírito, a saber: da
oralidade, da escrita e da informática digital (LÉVY, 1993).
A relevância das observações de Lévy está em perceber que em cada uma dessas
passagens o ser humano conseguiu ampliar aquilo que já fazia em torno da fogueira no início
da jornada humana, através da expansão dos intercâmbios humanos, vencendo as barreiras de
espaço (presença física no mesmo horário) e de tempo (mensagens que podem ser
decodificadas muito depois de terem sido emitidas), como é o caso do texto em papel e
similares, que possibilita o registro e a preservação das mensagens orais, seja impresso ou
manuscrito.
Assim, pode-se afirmar que o tempo de “espírito da oralidade” se caracterizou pela
troca de conhecimento humano através da fala e da audição. Antes da fala, as tribos humanas
interagiam através dos gestos e de grunhidos, em uma clara impossibilidade de realizar
atividades em grupos mais complexas, criando uma dependência quase total em relação às
forças da natureza, tanto do domínio do fogo, por exemplo, quanto da possibilidade de ter
alimento, criação, sem precisar caçar (LEROI-GOURHAN, 1965).
O tempo de espírito da escrita, que aparentemente surgiu por volta de 50.000 a.C,
libera a relação informacional um-muitos, permitindo a troca de ideias para fora do seu tempo
e lugar, a partir da possibilidade do registro das ideias humanas em determinado suporte (da
pedra ao papel mais sofisticado, passando depois tanto pelo rádio e pela televisão). Ideias
91
presas no local passaram a ser levadas para longe, ampliando a possibilidade de comunicação
de ideias e liberando a memória, que armazenava todo o passado.
O tempo de espírito digital se inicia com a chegada do computador por volta da década
de 40, a qual estabelece nova possibilidade de troca de informações humanas. Todos os
registros, iniciando com os textos (e depois incorporando áudio e imagem), passam a migrar
para uma nova possibilidade, baseada, de forma física, em troca de impulsos elétricos em
placas de silício, assumindo formas lógicas de números. Tais formas lógicas vão se
sofisticando ao longo do tempo, incorporando linguagens de programação, incluindo ícones e
a interface, através de teclados, mouses e, mais recentemente, comandos de voz. Atualmente,
já existem comandos de ondas elétricas do próprio cérebro, o que marca a maturidade de um
processo que estabelece a possibilidade de unir o planeta por meio de redes, constituindo um
novo ambiente.
Há a possibilidade de estabelecer nestes três momentos a seguinte tabela (tabela 18):
Tabela 22 - dos três tempos de espírito, tecnologia e formas de interação
DOS TRÊS TEMPOS DE ESPÍRITO, TECNOLOGIA E FORMAS DE INTERAÇÃO
TEMPOS
TECNOLOGIA
FORMAS DE INTERAÇÃO
Oral
Fala
Um-um, um-muitos, muitosmuitos (restritos ao local)
Escrita/Meios de Massa/Digital
Escrita, rádio, TV e computador sem rede
Um-todos (à distância)
Digital em Rede
Computador em rede
Todos-todos
Fonte: LÉVY, 1999.
Pode-se avaliar que a possibilidade de troca de informação à distância em cada uma
destas plataformas possibilitou que novas ideias passassem a circular na sociedade, tanto do
ponto de vista de quem recebia, quanto de quem emitia a informação. Basicamente, há nesse
processo a procura incessante pela inovação e a redução de custo do suporte informacional, no
caso da escrita e do computador. A massificação da escrita ocorre, a partir do surgimento da
chegada do livro impresso, em 1450, que, só então, consegue uma máquina reprodutora (a
prensa de Gutenberg), capaz de iniciar um processo de massificação da escrita73.
Não seria, portanto, disparatado considerar que os momentos que antecederam cada
uma destas rupturas as sociedades tinham em comum demandas informacionais reprimidas nas
sociedades. Tais demandas estariam atreladas a modelos mentais de um ambiente viciado por
ideias delimitadas pela circulação de locais, por um lado, ou filtradas por determinadas mídias
73
A grosso modo, podemos chamar o livro impresso de Escrita 2.0, para fazer uma comparação com a massificação da
Internet com a Web 2.0.
92
como é o caso do rádio e TV, que impediam uma circulação mais ampla de ideias naquele
ambiente, o que acabou por se expandir com o livro impresso na Idade Média e agora com a
Internet no final do século passado.
Nota-se, por exemplo, que o surgimento da fala, no lugar da escrita, foi um
organizador humano para atender a um conjunto de demandas não solucionáveis, impeditivas
da evolução da nossa espécie. Houve, quando o homem começou a falar, a necessidade de
uma melhoria física dos ossos e músculos do crânio e da boca, a invenção de palavras, que
correspondessem ao que se via, registros aceitos por todos, para identificações de ações e
objetos necessários para a expansão do processo de ampliação das tribos (LEROIGOURHAN, 1965).
Tal avanço libertou a humanidade de um mundo de sombras, de incompreensão, de
despersonalização dos indivíduos. . A fala representou um enorme salto na história humana,
pois permitiu o detalhamento maior do mundo, antes limitado pelos gestos e grunhidos.
Havia, porém, um claro limite da troca informacional, a qual, para acontecer, dependia que
emissor e o receptor estivessem necessariamente na mesma hora e local, em uma conversa
direta permeada de intervenções de ambas as partes, por meio de mensagens abertas, na qual
cada um poderia, interferir no discurso do outro (LÉVY, 1999).
É interessante observar que havia a interação um-um (conversas individuais) pari
passu com outras formas de interação um-muitos (um chefe fazendo um discurso para a tribo)
ou com uma conversa grupal muitos-muitos (todos em volta da fogueira). Porém, todas as
interações informacionais possíveis estavam limitadas ao tempo e lugar. Tal limitação, de
certa forma, impedia a capacidade principalmente de receber novas ideias, restringindo a
geração de inteligência coletiva que se dá a partir da interação com pessoas de outras regiões e
de tempos diferentes (LÉVY, 1999).
O tempo de espírito oral fortalecia o poder local, criava suas crenças e dogmas, muitos
deles ligados à força da natureza, que não sofriam a interferência das ideias do mundo
exterior, somente aquelas trazidas por viajantes que vinham do mundo externo Assim sendo,
criava-se, por sua vez, práticas e tradições que dificultavam possibilidades de mudanças de
todos os tipos. Reconhece-se ter havido, no tempo de espírito oral, portanto, uma macrocrise
informacional do mundo oral, pois na necessidade de expansão daquelas tribos havia sempre
um limite da possibilidade das ideias circularem, em função da falta de uma tecnologia que as
expandisse para além do local e do tempo. O surgimento de uma nova mídia - através da
escrita iniciada nas paredes da caverna, passando depois pelos papiros e depois pelos papéis
manuscritos e depois impressos - libertou a humanidade dos grilhões do mundo oral, sem
93
porém abrir mão dele, que continuou a se expandir, como foi o surgimento do telefone (umum) à distância, e como mais recentemente o uso do Skype74, por exemplo.
Não há registros da passagem das tribos falantes para as não-falantes. Os antropólogos
que estudam o assunto optam por tentar precisar esse tempo pelo estudo da formação dos
crânios de nossos antepassados. O objetivo é procurar, naquelas relíquias, traços que
possibilitavam o uso mais complexo da boca, permitindo a emissão de sons mais bem
articulados (LEROI-GOURHAN, 1965).
O estudo da ruptura do oral para o escrito também é escasso, o que se explica pela
própria natureza daquele ambiente das palavras, sem documentação ou registros recuperáveis.
Pode-se supor, pela lógica, entretanto, que havia ali (como agora) demanda informacional
reprimida, e que a fala, a mídia dessa fase, era impeditiva para que novas possibilidades
pudessem ocorrer. A chegada da escrita vem tentar dirimir essa limitação, possibilitando a
circulação de novas ideias na sociedade. A partir do momento que novas ideias chegam,
novos pensamentos são articulados, novos conceitos passam a ser trocados e repensados,
“oxigenando” a sociedade e permitindo que mudanças sociais possam ocorrer e, assim, levar a
humanidade ao mundo escrito.
O surgimento da escrita inaugura o início do registro e da recuperação da memória
humana, o que não só retrata a história do conteúdo das ideias, mas também nos ajuda a
perceber a evolução do seu próprio suporte. Com a escrita estabelece-se uma ponte entre o
sistema oral mais fluido, flexível e colaborativo para outro, que a fixa e aprisiona o tempo,
com uma mudança de foco do auditivo para o visual, rompendo distancias.
A escrita
preservou o trabalho intelectual das gerações anteriores para as novas gerações, o que não
ocorreu com o tempo oral, no qual “muita coisa hoje considerada básica ficou de fora”
(BRIGGS e BURKE, 2006).
O aparecimento da escrita, entretanto, não foi um fato fortuito, nem tampouco de fácil
absorção pela sociedade. Foi amadurecido durante milênios, no interior dos sistemas de
representação, através da notação linear do pensamento possibilitada graças à emergência do
metal e da escravatura. A inovação incidiu sobre as cúpulas do sistema. Isso foi possível na
medida em que se aperfeiçoaram as palavras e as frases, permitindo sua projeção na memória
das gerações e alargando-se a níveis mais profundos o conhecimento (LEROI-GOURHAN,
1965). Esta maturação, longo ciclo, é uma característica de todos os novos tempos, e ocorreu
também com a imprensa de Gutenberg, uma invenção “que estava prestes a acontecer”
74
Ferramenta para conversa a distância, via Internet: www.skype.com
94
(MAN, 2002). Podemos dizer que havia sempre certa latência a ser superada, um traço
característico de uma macrocrise da informação.
O mundo pré-livro impresso caracteriza-se pelo esgotamento de um modelo
informacional caracterizado pelo aprisionamento das trocas de ideias, cuja transmissão se dá
oralmente. A alternativa a esse modelo, o livro manuscrito, era um suporte caro, com
mobilidade reduzida, com códigos escritos em Latim, um idioma que poucos dominavam,
fortemente controlado pelas estruturas de poder da época, tanto a Igreja quanto a Monarquia.
Um exemplo é a demanda de leitura, por parte dos europeus, no final da Idade Média,
que já não se contentavam com a escassez do livro impresso.
Manuscritos – inclusive iluminuras – foram produzidos em número cada vez mais
elevado nos dois séculos anteriores à invenção da impressão gráfica, nova
tecnologia introduzida para satisfazer uma demanda crescente por material de
leitura (BRIGGS e BURKE, 2006).
Estas rupturas são fruto de demandas sociais de conhecimento (necessidade de mais
opções de leitura, por exemplo) e criam crises globais e também a necessidade de maior oferta
informacional, o que abre espaço para novos e mais dinâmicos ambientes globais de
informação:
... o monopólio intelectual dos monges da Idade Média, baseado em pergaminhos,
foi solapado pelo papel e pela impressão gráfica do mesmo modo que o ―poder do
monopólio sobre a escrita‖ exercido pelos sacerdotes egípcios na idade dos
hieróglifos havia sido subvertido pelos gregos e seu alfabeto (BRIGGS e BURKE,
2006).
Sob esse prisma, a história social do conhecimento (e da informação) pode ser descrita
por uma interação constante entre outsiders e establishment, entre amadores e profissionais,
empresários e assalariados intelectuais. Pode ainda ser descrita como um constante jogo entre
inovação e rotina, fluidez e fixidez, degelo e congelamento, conhecimento oficial e não oficial
(BURKE, 2003).
Por um lado, a população crescia, corria para as cidades, deixava de ser capaz de
produzir os produtos e serviços para a sua própria sobrevivência, ampliando cada vez mais a
necessidade de inovação e, por outro, os espaços para que as ideias circulassem estava restrito
ao ambiente local, às conversas, e raramente havia acesso à escrita.
Pode-se dizer que o livro impresso conseguiu massificar a escrita, que antes não
conseguia exercer, de fato, seu potencial. Tal movimento se caracterizou, por um lado, pela
ampliação de textos fora do Latim, através de campanhas de alfabetização na língua corrente
(feita fortemente pelos protestantes) e, por outro lado, pelo barateamento do suporte, livro
impresso.
95
Assim sendo, a escassez, percebida no pré-livro impresso, se transformou na explosão
da informação no período pós-livro impresso. Ao conseguir produzir livros impressos, a
situação se inverteu: o que havia sido um problema de falta de livros no final da Idade Média,
ou século XV, se transformou em seu contrário- a abundância do século XVI (BRIGGS E
BURKE, 2006).
A Europa Moderna assistiu a uma verdadeira “explosão do conhecimento”, que se
seguiu à invenção da imprensa, aos grandes descobrimentos e à chamada “revolução
científica”. Leroi-Gourhan lembra que em nenhum outro momento da história humana a
sociedade conheceu uma tão rápida dilatação da memória coletiva75 (LEROI-GOURHAN,
1965).
Contudo, essa acumulação de conhecimentos criava novos problemas ao mesmo
tempo em que resolvia outros (BURKE, 2003).
Neste ponto, Chartier lembra que a
proliferação textual tornava-se obstáculo ao conhecimento, e por isso gerou a necessidade de
instrumentos capazes de tirar, classificar, hierarquizar. “Mas, irônico paradoxo, essas
ferramentas são, elas próprias, novos livros que se juntam a todos os outros” (CHARTIER,
1997).
Para comprovar a mencionada “explosão”, registra-se que por volta de 1600
aproximadamente 400 academias haviam sido fundadas apenas na Itália e poderiam ser
encontradas por toda a Europa, de Portugal à Polônia. Cerca de três ou quatro milhões de
almanaques foram impressos no século XVII na Inglaterra, bem como em Veneza, com quase
dois milhões de cópias, resultando na produção de mais de 16 mil títulos com 18 milhões de
cópias na Europa feitos por uma média de 500 editores. (BURKE, 2003). Em 1455, “todos os
livros impressos na Europa poderiam ser carregados em um vagão simples. Cinquenta anos
depois, os títulos chegavam a dezenas de milhares, os exemplares, a milhões” (MAN, 2002).
Apareceram, assim, os problemas da recuperação de informação deste novo volume de
dados e, ligadas a isso, a seleção e critica de livros e autores. Este fato exigiu novos métodos
de administração de informação para que se pudesse administrar “um oceano no qual os
leitores tinham de navegar, ou uma enchente de material impresso em que era difícil não se
afogar” (BRIGGS e BURKE, 2006).
É interessante observar que a oferta impulsiona, como consequência, a ampliação das
bibliotecas e a necessidade cada vez maior de catálogos, sua atualização e do conhecimento
dos novos títulos pelos bibliotecários. Como havia mais livros do que era possível ler durante
75
Deixando claro que ele escreveu seu livro em 1965, na fase pré-Internet, o que ressalta mais ainda a caracterização da
repetição do fenômeno.
96
uma vida, devia-se ajudar os leitores a escolher, produzindo bibliografias selecionadas e, a
partir do final do Século VXII, resenhas das novas publicações (BRIGGS e BURKE, 2006).
A nova forma de troca de ideias significou, marcadamente, uma mudança da maneira
de se controlar a informação. Passou-se de um ambiente limitado pelos livros manuscritos e
controlado pela Igreja e nobreza a uma nova ordem de editores que resolveu, a procura de
lucro, disseminar todo o tipo de autores pela Europa.
O primeiro revolucionário que utilizou livros e jornais impressos para difundir com
sucesso suas ideias foi Martinho Lutero (1483-1546), pois acreditava que através deles era
possível que a população “tivesse acesso direto a Deus sem necessidade de mediação dos
clérigos” (BRIGGS e BURKE, 2006).
Como consequência direta do efeito do uso da mídia, conseguiu-se o envolvimento da
população para a Reforma Protestante, em uma clara afronta à Igreja Católica, que só admitia
a difusão da palavra de Deus em latim. Lutero traduziu e publicou via impressoras, pela
primeira vez, a bíblia em Alemão.
A Bíblia Luterana, em alemão76, produzida pelo impressor Witterberg Hans Lufft,
vendeu cem mil cópias em 40 anos (1534 a 1574). Estima-se que, de 1517 a 1520, as trinta
obras de Lutero tenham vendido mais de 300 mil exemplares, e que tenha chegado a quatro
mil cópias o discurso Aos nobres cristãos da nação germânica, em 1520 (BRIGGS e
BURKE, 2006).
O protestante inglês John Fox profetizou, com razão, que o papa deveria abolir o
conhecimento e a impressão gráfica, ou esta acabaria com ele em longo prazo. Com efeito, foi
isso o que de fato ocorreu, ao menos parcialmente. (BRIGGS e BURKE, 2006) Lutero,
entretanto, não pôde ser silenciado, a exemplo do reformador Jan Hus (1415) e John Wycliffe
(1382), ambos mortos na fogueira por ideias similares. A diferença de Lutero para os outros
dois foi sua capacidade de utilizar a nova mídia a seu favor, já que seus escritos estavam
disponíveis em grande número e a preços bastante razoáveis (HEWITT, 2007).
O livro impresso, portanto, permitiu que diversos reformadores isolados tivessem o
poder de inspirar pequenas comunidades locais, por meio da nova capacidade de se comunicar
em grande escala. Em função do livro, em apenas uma semana, as ideias de Lutero ficaram
conhecidas na Alemanha e, em um mês, na Europa, isso em um mundo fechado e
regionalizado, que só conhecia, até então, o livro manuscrito (HEWITT, 2007).
76
Antes da Reforma, a Bíblia só era publicada em latim.
97
É importante ressaltar que a mudança do controle da informação, diretamente
questionadora dos poderes estabelecidos, cria uma marcante disputa pelo poder social, em um
jogo entre demanda e oferta de informação, definindo nessa luta, muitas vezes não evidente, a
continuidade das instituições e as benesses de quem delas se beneficia.
A impressão gráfica facilitou a acumulação de conhecimento, por difundir as
descobertas mais amplamente e por fazer com que fosse mais difícil perder a
informação (...) a nova técnica desestabilizou o conhecimento ou o que era
entendido como tal, ao tornar os leitores mais conscientes da existência da história
e das interpretações conflitantes (BRIGGS e BURKE, 2006).
A velocidade de impressão era assustadoramente maior que a do livro manuscrito, já
que era preciso um mês ou dois para se produzir uma simples cópia deste, comparada a
quinhentas cópias em uma semana daquele. Com a prensa, pode-se dizer que, se ao mesmo
tempo os legisladores podiam dirigir melhor seus súditos, com impostos e leis padronizadas,
os súditos, por sua vez, tinham ali a ferramenta para organizar revoltas (MAN, 2002).
A escrita, entretanto, não fez com que a palavra oral desaparecesse, pois
complexificou e reorganizou o sistema de comunicação e da memória social (LÉVY, 1999).
Além disso, permitiu que um novo estilo cognitivo se instalasse (LÉVY, 1993): “a sucessão
da oralidade, da escrita e da informática como modos fundamentais de gestão social do
conhecimento não se dá por simples substituição, mas antes por complexificação e
deslocamento de centros de gravidade” (LÉVY, 1993).
Na Idade Média os livros estavam “acorrentados” às bibliotecas, eram lidos em voz
alta. Graças a uma modificação na dobradura, tornaram-se mais portáteis, sendo então
difundidos maciçamente. Portanto, o livro só veio a se tornar uma mídia de massa quando as
variáveis tamanho e massa atingiram um valor suficientemente baixo (LÉVY, 1993).
Sendo assim, pode-se dizer que houve um constante processo de inovação e melhorias
facilitar a relação com aquele suporte e a tornar mais agradável o folhear das páginas e por
uma melhor diagramação, com textos distribuídos em capítulos e parágrafos.
Nesse mesmo processo, pode-se destacar a introdução de notas impressas nas margens
e, para facilitar a recuperação, sumários cada vez mais detalhados, índices organizados em
ordem alfabética (BRIGGS e BURKE, 2006), e ainda fontes legíveis, revisões de provas
tipográficas, numeração de páginas de rosto e prefácios. Enfim, um grande processo de
evolução para transformar o livro em um meio coerente de comunicação (MURRAY, 2011).
Para exemplificar o resultado desse esforço, o filósofo Thomas Hobbes (1588-1679)
louvava a chegada dos livros de bolso que o permitiam ler no saguão ou na antecâmara,
enquanto seu senhor atendia visitas (BRIGGS e BURKE, 2006).
98
É importante destacar que a nova mídia ganhou uma legião de empreendedores para
difundir – e lucrar – com a difusão do conhecimento. Tais empreendedores encarregaram-se,
por interesse de expandir o seu mercado, de produzir melhorias e redução de custos em sua
mercadoria (BRIGGS e BURKE, 2006). Com a chegada dos tipos móveis avalia-se que o
custo médio das publicações tenha caído cerca de 400 vezes (HEWITT, 2007).
A publicação de livros mais baratos descentralizou o poder do conhecimento e mudou
para sempre a estrutura da sociedade, pois conseguiu “tirar” das mãos da elite o papel de
interpretação abalizada. Os volumes dos mais variados permitiram a chegada de novas ideias
aos membros da classe média burguesa, possibilitando que eles mesmos avaliassem a
informação. Esse processo eliminou parcialmente o domínio exclusivo da igreja e da corte, e
fez com que a alfabetização se tornasse uma necessidade. Por fim, despertou o fogo
intelectual latente durante vários séculos, marcando o fim da Idade Média (HEWITT, 2007).
A imprensa também facilitou a interação e a padronização de conhecimentos em
lugares diferentes, permitindo que os mesmos textos fossem lidos ou que imagens idênticas
fossem examinadas (BURKE, 2003). No regime clássico da escrita, “o leitor encontrava-se
condenado a reatualizar o contexto a um alto custo, ou então a restabelecê-lo a serviço das
Igrejas, instituições ou escolas, empenhadas em ressuscitar e fechar o sentido” (LÉVY, 1999).
A era Gutenberg possibilitou a criação de um verdadeiro genoma intelectual,
fomentando a difusão de conhecimento, que passou, de forma mais fácil e barata, de geração a
geração. Esse período adubou o solo do qual brotaram a história moderna, a ciência, a
literatura popular, a nação-estado – e muito do que chamamos hoje modernidade (MAN,
2002).
O livro impresso também viabilizou a Renascença, permitindo que um grande número
de escritores, músicos, políticos, religiosos, cientistas, médicos e exploradores passassem a
transmitir seu conhecimento (HEWITT, 2007). Mas, da mesma maneira que trouxe diferentes
vantagens, problemas também foram detectados, a exemplo da crise da superprodução,
colocada como tema teórico entre 1910 e 1914. O excesso de volumes, ou “livros demais para
poucos leitores”, gerou um ambiente “perigoso ou inútil” para a constituição do próprio saber,
sempre baseado em escolhas e triagens (CHARTIER, 1997).
A escrita, assim, ao mesmo tempo em que libera as ideias humanas dos grilhões do
tempo e lugar, em contrapartida também introduz na sociedade a figura do emissor distante,
não presente, que, por sua própria característica, reduz o espaço do diálogo, tão comum no
mundo oral entre emissor e receptor, não permitindo mais, na troca pela escrita, a
interferência do receptor nas ideias do emissor. A relação que a partir da escrita se estabelece
99
é uma relação desproporcional - a mensagem escrita é por natureza fechada, imune à alteração
(LÉVY, 1999).
Em contrapartida, como benefício, permite que novas ideias circulem na sociedade,
levando a mensagem, independente da presença física de seu emissor, a territórios distantes
Além disso, a mensagem escrita permitiu a preservação da memória do passado,
possibilitando tanto o registro de um conjunto de inscrições quanto à sofisticação da
civilização na constituição de cidades, administrações, contratos entre pessoas. A escrita,
assim, possibilitou à humanidade solucionar determinadas demandas que antes eram inviáveis
de serem minimizadas ou resolvidas através da palavra oral.
Há, assim, a introdução de uma nova tecnologia cognitiva, que permite a ampliação da
possibilidade de troca de conhecimento humano, inaugurando a possibilidade de uma
interação um-muitos à distância (não eliminando o um-muitos presencial), na qual cada
participante não precisa estar mais no mesmo tempo e lugar. Tal troca se estabelece,
entretanto, através de mensagem “fria”, fechada, sem a possibilidade de alteração, através de
um receptor para um emissor distante.
Esse modelo não apenas molda as trocas informacionais, mas também influencia a
maneira da sociedade se organizar por meio do modelo hierárquico de organização da
sociedade. A interação informacional um-muitos atravessa os séculos e se amplia,
caracterizando-se como fenômeno de massa com a chegada do livro impresso, pois a prensa
de Gutenberg consegue reduzir bastante o custo do preço unitário do livro, comparado ao do
manuscrito, o que possibilita a sua rápida difusão na Europa.
Tal “explosão da informação” claramente demarca o fim de uma macrocrise
informacional, característica da Idade Média, esta, uma época marcada pela troca oral e pelos
raros livros manuscritos (escondidos em bibliotecas de pouco acesso), o que limitava muito ao
conjunto da sociedade repensar os seus pensamentos, dificultando, por conseguinte, a
circulação de ideias , a inovação de hábitos e costumes e dos modos de produção de produtos
e serviços.
O mundo a distância um-muitos é a base do modelo informacional que molda as
tecnologias que se seguiram, tanto do rádio quanto da televisão, incluindo diversos projetos na
própria Internet, que se mantém com a premissa do Tempo de Espírito anterior, através de
mensagens unidirecionais, fechadas, à distância, sem interferência do receptor. A Internet com
suas características vem derrubar essa barreira.
100
Ao analisar a ruptura da sociedade, a partir do livro impresso, principalmente com o fim
da Idade Média, por volta de 1450, os pesquisadores que de dedicam ao tema constataram
algumas características daquele momento na sociedade:

escassez das fontes da informação (baseadas no poder do clero e monarquia);

problemas produtivos, em função da dificuldade de trocas de ideias;

entraves no desenvolvimento da inovação produtiva;

desinformação, produzida pelos canais informacionais dominantes.
Tal tempo de espírito era baseado, principalmente, pela tecnologia do livro manuscrito,
suporte principal das ideias circulantes da época, complementado ainda pelo discurso oral,
principalmente nas Igrejas, por meio dos sermões dos papas. A Bíblia, principal livro
manuscrito da época, era em Latim, e sua tradução para os idiomas proibida. Era necessária a
interpretação da “palavra de Deus” por alguém que tivesse capacidade de entendê-la e
reproduzi-la.
Esse tempo do espírito gerava uma crise informacional global invisível para a
sociedade, já que ideias não circulavam, impedindo que os problemas fossem resolvidos. Tal
situação se agravava com o aumento da população, que saltou de 300 mil em 1400 para 400 mil
em 1500, e se concentrou nas cidades, abandonando a produção do seu sustento (alimentação e
vestimentas).
Nesse contexto, a prensa de Gutenberg aparece como um fenômeno isolado, fora de
contexto e sem nenhum tipo de consciência histórica por parte de seu criador. A prensa não
vem com a intenção de resolver nenhum problema humano, a não ser reproduzir textos
religiosos de forma mais barata e poder lucrar com eles (MAN, 2002).
Constata-se, assim, que há uma disparidade na solução crise informacional da Idade
Média, disparidade essa entre a tecnologia que vem superá-la e a intenção de seus criadores. O
novo suporte viabiliza as mudanças, mas quem o inventa não tem consciência de seu potencial
e não tem essa intenção. O mesmo fenômeno se deu depois com a Internet. A crise que marca o
fim da Idade Média foi uma macrocrise informacional, pois estava limitada pela possibilidade
das trocas de ideias, através de um canal dispendioso e com pouca capacidade de mobilidade
como era o livro manuscrito.
O livro impresso, assim, de forma não intencional foi um canal natural para que as
ideias, antes restritas, passassem a circular, e que a crise global da informação fosse superada,
através da formação de um novo ambiente informacional na sociedade. Tal ambiente viabiliza
as inovações que vêm a seguir, tanto do ponto de vista econômico (Revolução Industrial),
101
quanto político (Revolução Francesa) e religioso (Reforma Protestante). Todos esses
movimentos só se tornam possíveis pela chegada desse novo canal de troca, que viabiliza a
inovação, levando, por conseguinte, a sociedade a resolver os seus impasses.
Podemos, assim, afirmar que aquela crise global teve a seguinte sequência:

escassez informacional e problemas sociais correlatos;

surgimento de tecnologia informacional sem a intenção de solução destes
problemas;

adesão em massa a essa tecnologia;

explosão informacional;

mudanças sociais de todo tipo, a partir do novo canal aberto, que passa a “oxigenar”
a sociedade com novas ideias.
Tal situação se assemelha à chegada da Internet. Este recurso surgiu na sociedade por
meio de projetos que não tinham a consciência da crise e, em vez disso, visavam proteger
pontos estratégicos do território americano de um possível ataque nuclear. Os canais de troca
de ideias eram asfixiados pelas poucas fontes, ligadas a Indústria de Massa (Rádio, tevê e
jornal) A Internet vem, por fim, resolver essa escassez, através de uma multiplicação de novas
fontes.
Observa-se nos dois momentos a expansão da capacidade humana de se comunicar. No
livro impresso foi possível o envio de mensagens fechadas para muito mais gente, através de
uma definição clara entre emissor e receptor, na Internet expande-se a conversa a distância e
permite-se interferir no registro da mensagem de várias maneiras. Tal mudança acelera o
processo da transmissão da informação e abre um novo canal de oxigenação social para a troca
de ideias. É de se supor, se nos basearmos na experiência do passado, que diversas ideias
circulantes visam a criação de produtos, serviços e a formulação de novas propostas nos
campos econômico, político e social.
Percebe-se nessa subseção a similaridade entre os fenômenos de ruptura da
informação, com macrocrises, o que nos possibilita ter mais clareza para analisar a macrocrise
da informação digital atual, explicitada com a chegada do computador e da Internet.
102
2.4.1 A MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL
Nesta subseção se detalhará o evento da macrocrise da informação digital, explicitada
com a chegada, em primeiro lugar, do computador e depois deste em rede, com a Internet.
A introdução do computador na sociedade, nos seus primeiros passos, tem várias
implicações para a interação informacional humana. Permite a inclusão de novos registros em
um meio que permite fácil alteração da mensagem por quem produziu e por quem consome a
informação. Além disso, facilita a realização de cópias infinitas, através da reprodução no
próprio meio digital (disquetes, CDs, pen-drives), além da realização de uma recuperação de
registros através de ferramentas de busca locais e a incorporação de som e imagem ao texto
produzido, principalmente nos CDs.
A evolução do mundo digital segue o mesmo caminho da difusão do livro impresso na
sociedade: a criação de uma forte indústria em torno da tecnologia (parte por novos
empreendedores e parte por antigos que perceberam com antecedência seu potencial), seguida
de inovações incrementais na direção de redução de custo e facilitação do uso.
O mundo digital tem dois momentos bem demarcados em sua expansão: a chegada do
microcomputador em 1980 e a Internet, a partir de 1990 - um ambiente de troca de dados sob
um mesmo protocolo, que expande o potencial do computador. A rede digital permite a
drástica redução de custo de acesso, principalmente com a chegada da banda larga, em 2004,
quando surgem, em paralelo e de forma massiva, inúmeras ferramentas colaborativas
(CAVALCANTI e NEPOMUCENO, 2006).
A Internet tem como características principais:

o acesso a registros a longa distância;

a alteração dos registros por quem os consome;

a interação muitos-muitos à distância;

a sofisticação da interação um-um / um-muitos à distância;

a incorporação e a potencialização do que já era característica do computador
isolado;

a inclusão de novos registros em um meio que permite fácil alteração da
mensagem por quem produziu e por quem consome a informação;

a possibilidade de cópias infinitas em rede;

a recuperação de registros, por meio de ferramentas de busca, agora locais e
globais.
103

a incorporação de som e imagem ao texto produzido.
A transformação que estas mudanças geram no ambiente informacional da sociedade é
evidente, ampliando as conquistas da humanidade que se deram pela escrita e pelo mundo oral
e as potencializando, através de um meio com grande capacidade de armazenamento, difusão,
troca e recuperação.
As técnicas de processamento e armazenamento de informações e conhecimentos
tornam possíveis determinadas evoluções culturais. Elas são produto de uma
sociedade e de uma cultura e, portanto, carregam consigo projetos, implicações e
expectativas variadas, e historicamente determinadas (...) Assim, as tecnologias da
inteligência possibilitaram a expansão de formas do saber, ao longo do tempo.
(LÉVY, 1993)
Há uma primeira fase da digitalização dos registros que se amplia com a conexão dos
computadores em rede, por meio de um código universal de troca de dados. Tal aparato
inaugura uma nova possibilidade de interação à distância, que é a troca de conhecimento
humano baseada na interação muitos-muitos77, na qual cada participante não precisa mais
estar no mesmo tempo e lugar e pode realizar encontros à distância para troca de mensagens,
de novo “quentes”, abertas, já que permitem a alteração no processo e resgatam, em parte, a
possibilidade da troca oral por meio de tecnologias digitais. O autor destaca que as formas
sociais do tempo e do saber, se nos parecem hoje mais naturais e incontestáveis ou até mesmo
invisíveis, baseiam-se, na verdade, no uso de técnicas historicamente datadas e, portanto,
transitórias (LÉVY, 1993). Tal percepção é compartilhada pelo programador Alan Curtis Kay,
partir de sua famosa frase: “uma tecnologia só é uma tecnologia se você nasceu antes dela.78”
A Internet é mais uma tecnologia intelectual, que se assemelhava por diferentes motivos
à passagem humana dos grunhidos para a fala, deste para a escrita e ainda desta para o
computador. Tais quebras marcavam pontos históricos de ruptura informacional da
humanidade, significavam rompimentos com o passado e permitiam que a humanidade pudesse
resolver problemas até então insolúveis com a tecnologia disponível, principalmente pela
expansão da possibilidade das tecnologias anteriores, mas, sobretudo, pela viabilidade de se
realizar novas formas de interação (CHARTIER, 1997).
O tempo digital se inicia com a chegada, na década de 40, do Eniac, primeiro
computador de grande porte que ocupava um andar inteiro de um prédio. O mundo digital
caracteriza-se como uma revolução das estruturas de suporte material e das nas maneiras de
leitura, através da separação, por meio da tela, entre corpo e texto. É também o início de uma
77
78
Observa-se, por exemplo, que os radioamadores já prenunciavam esse tipo de interação.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alan_Kay
104
fase na qual há forte tendência da pulverização das noções de autor, editor e distribuidor
(CHARTIER, 1997).
Lévy considera que, nesse novo mundo, trabalhamos com quatro pólos fundamentais:
o da produção ou composição de dados; o da seleção, recepção e tratamento dos dados; o da
transmissão; e o do armazenamento dos mesmos (LÉVY, 1993).
O mundo digital evolui e se massifica com a chegada do microcomputador, na década
de 80; depois, com a difusão da Internet, que inicia seus primeiros protótipos na década de 60;
massificando-se a partir de 1990, quando ganha a dimensão atual. A Internet é fruto de um
movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de
comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. (LÉVY, 1999).
Castells identifica, nessa formação, a presença de quatro camadas culturais: a cultura
hacker, a comunitária virtual, a empresarial e a tecno-meritocrática. Considera o autor que
estas formam a base de uma nova cultura da rede:
(...) feita de uma crença tecnocrática no progresso dos seres humanos, através da
tecnologia, levado a cabo por comunidades de hackers, que prosperam na
criatividade tecnológica livre e aberta, incrustada em redes virtuais que pretendem
reinventar a sociedade, e materializada por empresários movidos a dinheiro nas
engrenagens da nova economia (CASTELLS, 2001).
A Internet introduz um novo momento comunicacional no planeta, pois permite a
ligação de qualquer ser humano a outro, possibilitando a comunicação das comunidades entre
si e consigo mesmas, o que suprime, de certa forma, os monopólios de difusão e permite que
cada um emita para quem estiver envolvido ou interessado (LÉVY, 1999).
As redes, de fato, têm vantagens extraordinárias como ferramentas de organização, em
virtude de sua flexibilidade e adaptabilidade inerentes, características essenciais para se
sobreviver e prosperar num ambiente em rápida mutação. A Internet, em particular, permite
ao humano a flexibilidade e a criação de novas formas organizacionais superiores para a ação
humana. “E mais do que apenas quantidade de usuários, permite qualidade de uso”
(CASTELLS, 2001).
A Internet é uma tecnologia particularmente maleável, suscetível de ser
profundamente alterada por sua prática social, e conducente a toda a uma série de resultados
sociais potenciais a serem descobertos por experiências, não proclamados de antemão, mas,
sim, dependentes do seu contexto e processo (CASTELLS, 2001).
O conhecimento interativo surge com a Internet e similares, fruto da influência do
surgimento das redes eletrônicas, que mudam a forma de comunicação humana através de
105
uma quebra de paradigma, só comparada à invenção da escrita, do papel e da prensa de
Gutenberg.
Barreto analisa o mesmo fenômeno sob o olhar de um cientista da informação.
Concorda com Lévy ao considerar que há uma mudança profunda com a chegada das redes,
criando uma cultura eletrônica, momento similar ao da passagem da cultura oral para a escrita
– tipográfica. O pesquisador lembra que o desenvolvimento e a vivência da cultura escrita
tipográfica influíram na ocorrência da revolução industrial e do nacionalismo radical, fatos
relevantes da história da humanidade. Barreto avalia ainda que as transformações que
ocorrerão com a passagem para a cultura eletrônica e da realidade virtual ainda estão se
delineando (BARRETO, 1998).
A Internet estabelece outro paradigma para a CI, através do conhecimento interativo.
Segundo Barreto, tal momento se inicia com o surgimento da massificação do mundo digital,
com o advento da escrita acêntrica (em função, entre outros recursos, dos hiperlinks), criando
nova conformação no relacionamento com o receptor e com o conhecimento. "O texto
entrelaçado com outras estruturas traz uma vinculação e um emaranhado de cadeias
imprevisíveis sem uma qualificação hierárquica" (BARRETO, 2007).
Giramos, assim, segundo Barreto (BARRETO, 1998) em torno de dois eixos centrais, a
interatividade e a interconectividade:

Interconectividade – possibilidade que tem o usuário de informação de deslocarse, no momento de sua vontade, de um espaço de informação para outro, e de um
acervo de informação para outro. O usuário passa a ser seu próprio mediador na
escolha de informação, o determinador de suas necessidades; passa a ser o julgador
de relevância do documento e do acervo que o contêm em tempo real, como se
estivesse colocado virtualmente dentro do sistema de armazenamento e recuperação
da informação. A interconectividade reposiciona a relação usuário - espaço informação.

Interatividade – possibilidade de acesso em tempo real pelo usuário a diferentes
acervos de informação; múltiplas formas de interação entre o usuário e as estruturas
de informação contidas nestes acervos. A interatividade modifica a relação usuário
- tempo – informação, reposiciona os acervos de informação, o acesso à informação
e à sua distribuição, e também o próprio documento de informação ao liberar o
receptor dos diversos intermediários que executavam estas funções em linha e em
tempo linear, passando para o acesso on-line e com linguagens interativas.
106
É válido conceber, então, que mudanças provocadas pelas tecnologias intensas de
informação trarão alterações na mediação da relação receptor - informação e da relação
informação - conhecimento. Estas transformações têm estabelecido um novo relacionamento
em meio ao gerador e o receptor, e são mudanças que, em sua essência, ficarão para sempre. A
partir desse novo cenário, passa a ser necessário estabelecer nova conceituação das estruturas
de informação, dividindo-as entre fechadas e abertas. As estruturas de informação fechadas
passam a ser os artefatos que estão explicitamente formatados e finalizados em seu conteúdo,
por razões das características de seu formato ou por uma necessidade de integridade de sua
estrutura:
Sua substância não pode e nem deve ser alterada após sua finalização. O objeto de
informação apresenta um acabamento que condiz com a qualidade e com as
características da informação ali contida. É um formato próprio dos documentos
lineares em que se supõe uma temporalidade continua que vai contemplando o sentido
como em um folhetim único e com uma escrita que não é interrompida. (BARRETO,
2007)
Estruturas de informação fechadas podem ser vistas nos livros, artigos de periódicos
impressos, imagens acabadas e impressas, documentos históricos, legais ou contratuais,
patentes concedidas etc. "Não é a forma que determina a completeza, mas uma impossibilidade
de nova modificação no conteúdo por interação com o gerador ou o receptor" (BARRETO,
2007).
Já as informações de estruturas abertas são objetos que estão em desenvolvimento ou
que, apesar de pré-acabados, podem ter seu conteúdo modificado:
Estruturas de informação abertas são objetos que ainda estão se fazendo ou que,
apesar de pré-acabados, podem ter seu conteúdo modificado continuamente devido
a um sucessivo diálogo do gerador consigo mesmo ou a uma ingerência, permitida e
espontânea, de um coletivo de participantes. Nessas estruturas abertas, a
informação é aberta em fluxo, e não acontece uma só transmissão de informação,
existe um contínuo colóquio interativo de enunciados entre geradores e receptores.
(BARRETO, 2007)
Ao se apresentar um novo mapa, a escrita digital, composta de textos paralelos, subverte
a estabilidade da posição do autor e sua autoridade em relação ao texto. A escrita múltipla e a
sua apropriação colocam uma nova condição para o pensar, tanto para o autor quanto para o
receptor (BARRETO, 2007).
Há, assim, por um lado, a introdução de novas possibilidades de práticas, com
enunciados e identidades, e, por outro, a remoção de características de gênero da autoria.
Desestabilizam-se também hierarquias semânticas existentes na escrita tradicional e re-
107
hierarquiza-se a comunicação com base em critérios que eram anteriormente tratados como
irrelevantes. Mas, sobretudo, se dispersa o conteúdo, deslocando-o no tempo e no espaço, e
eliminando as barreiras entre o autor e o leitor.
As escrituras digitalizadas, entrelaçadas e distribuídas em rede, certamente
reposicionarão as condições de apropriação da informação. Estudos e pessoas começam a
aparecer para pesquisar o assunto (BARRETO, 2007).
A comunicação em sistemas complexos e abertos - por seu dinamismo e pela infinidade
de elementos e de relações que dela fazem parte - não pode ser tratada da mesma maneira,
como nos sistemas simples. Em sistemas complexos, não é possível isolar e reduzir o processo
de comunicação a um único aspecto que se verificaria com o envio de uma mensagem entre
uma fonte e um receptor através de um canal determinado. Neles, as relações e a comunicação
que se desenvolvem entre diferentes agentes são múltiplas, ocorrendo simultaneamente por
“canais” diversos e produzindo os mais variados tipos de informação ao mesmo tempo.
Neste caso não existem “fluxos”, mas sim um processo de sincronização entre os
diversos elementos, cada qual com suas constrições, que, no final do processo, produzem algo
que não existia antes. Nesse caso a informação não pode ser tratada como algo quase material,
identificada à mensagem, mas deve ser entendida como uma emergência, um evento provocado
por um processo de sincronização entre diferentes fluxos.
Burke, na mesma direção, ao estudar o passado nos traz a convicção de que a explosão
do pós-guerra e a atual não foram fenômenos isolados da história humana:
Observemos deste ponto de vista a assim-chamada "explosão" da informação - uma
metáfora desconfortável que faz lembrar a pólvora - subseqüente à invenção da
imprensa. A informação se alastrou "em quantidades nunca vistas e numa
velocidade inaudita". Alguns estudiosos logo notaram as desvantagens do novo
sistema. O astrônomo humanista Johann Regiomontanus observou, por volta de
1464, que os tipógrafos negligentes multiplicariam os erros. Outro humanista,
Niccolò Perotti, propôs em 1470 um projeto defendendo a censura erudita. Mais
sério ainda era o problema da preservação da informação e, ligado a isso, o da
seleção e crítica de livros e autores. Em outras palavras, a nova invenção produziu
uma necessidade de novos métodos de gerenciamento da informação. (BURKE,
2002)
Por esse ponto de vista, as rupturas informacionais se iniciam a partir de uma dada
tecnologia, mas as consequências de seu uso são feitas principalmente pelo potencial que a
nova forma interativa à distância permite e não pela tecnologia em si. Tal expansão permite
que haja uma espécie de oxigenação da forma pela qual as ideias circulam na sociedade,
saindo de uma limitação de um dado ambiente para outro mais rico em possibilidades: “por
meio desta expansão viabiliza-se uma mudança na concepção sobre a produção e manutenção
108
do conhecimento. O saber estanque e restrito a um local e data expande-se, desterritorializa-se
e descentraliza-se” (LÉVY, 1993).
Dessa maneira, é possível imaginar que antes da ruptura informacional havia alguns
fatores que determinavam uma latência por novos ambientes informacionais. A
descentralização e a desterritorialização da informação eram limitadas, e apenas com o
surgimento de uma nova tecnologia essas limitações poderiam ser superadas. Caracterizavase, nesse momento, o pré-surgimento da nova tecnologia, dando vazão às demandas de um
momento de macrocrise informacional.
As macrocrises poderiam ser identificadas por uma escassez informacional. Não só as
fontes
eram
limitadas,
mas
também
a
possibilidade
de
descentralização
e
a
desterritorialização. Na superação da crise, inverte-se o quadro, passando da escassez para a
abundância, para o excesso, denominado na área de explosão informacional. Tal processo
pode ser melhor visto ao se analisar a passagem do livro manuscrito para o livro impresso e
depois com a chegada da própria Internet, com a conexão dos computadores.
Nestes dois momentos, podemos considerar uma mudança (incremental) na
tecnologia, porém há uma expansão do uso, o que potencializa a nova forma interativa que se
expande pela sociedade. Observa-se esse fenômeno na Europa com a chegada do livro
impresso, em 1450.
As demarcações, que podemos chamar de arbitrárias, são artefatos para ajudar a
compreensão dos fatos que ocorreram em torno de visíveis rupturas tecnológicas
informacionais, à procura da maior versatilidade dessas novas ferramentas de produção de
ideias, que passam da periferia à hegemonia. É o que Castells sugere, por exemplo, citando
Stephen J. Gould, com as chamadas quebras de paradigmas tecnológico: “os sistemas
tecnológicos evoluem incrementalmente, mas, de tempos em tempos, sofrem descontinuidade.
Estas descontinuidades são marcadas por revoluções tecnológicas que introduzem um novo
paradigma tecnológico” (CASTELLS, 2004).
O conceito de sistemas tecnológicos é a principal referência para essa análise e se
alinha com o que percebeu Ellul, de que a tecnologia apresenta um modo paradoxal de operar:
resolve problemas apenas por meio da criação de novos problemas (LIMA, 2007). Essas
rupturas são marcadas pela nova maneira com que cada tecnologia cognitiva surge, se
estabelece e permite uma nova forma de interação humana na sociedade, através de novos
suportes informacionais. No tempo oral, por exemplo, as mensagens lingüísticas eram sempre
recebidas no tempo e lugar em que eram emitidas. A fala não tinha suporte de
armazenamento, se perdia ao vento.
109
Emissores e receptores compartilhavam uma situação idêntica e no mesmo universo de
significação. Naquele tempo, a única possibilidade de troca entre as partes era a comunicação
presencial, na interação humana um para um. Havia ali um constante diálogo, reciprocidade,
mas com o aprisionamento do conhecimento no tempo e lugar (LÉVY, 1999).
Por este ângulo, considerada a pré-história dos ambientes da informação, é possível
supor que todas as outras tecnologias de informação e comunicação vieram, na evolução
desta, permitir a libertação humana do tempo e lugar, expandindo a capacidade de
comunicação à distância para atender as necessidades de ocupação do planeta e superar
problemas informacionais que estavam impedindo a humanidade de se expandir em direção
de outros lugares Como disse Lévy: “as técnicas de processamento e armazenamento de
informações e conhecimentos tornam possíveis determinadas evoluções culturais” (LÉVY,
1999).
Nessa escalada, ao registrar a fala em determinado suporte, a escrita passa a permitir
que dada mensagem escape do espaço fechado do mundo oral. Possibilita, pela primeira vez,
que ideias sejam levadas a milhares de pessoas, sem as barreiras do tempo e lugar,
reverberando o pensamento dos vivos e, por consequência, a herança dos mortos,
independente das diferenças culturais ou sociais. Esta “alforria informacional” possibilitou
aos atores da comunicação um novo tipo de interação indireta, mais profícua. Estabeleceu-se,
pela primeira vez na história, a possibilidade da comunicação “um-todos” à
distância,
ampliando o horizonte humano para novas conquistas (LÉVY, 1999).
Além disso, ao conectar diferentes computadores em rede - verdadeiras máquinas de
produção de registros líquidos - cria-se o espaço para a produção universal por qualquer
pessoa a custo reduzido, através dos blogs (MORENO, 2009). Há também o
compartilhamento de mudanças de textos de forma coletiva, tal como a Wikipédia,
potencializando o que os antigos rabinos antigos já faziam quando comentavam nas margens
do Talmude (CHARTIER, 1997).
Além destas características inovadoras, pode-se dizer que a Internet propicia uma
radical ruptura nos ambientes de conhecimento. Ademais, propicia também mudanças no
suporte do texto e a forma de leitura, a liberação do tempo e lugar, do diálogo de muitas vozes
nesse ambiente atemporal e sem fronteiras. Esse meio, assim, resgata a co-presença das
mensagens em um retorno ao seu contexto original, como ocorria nas sociedades orais, e
estabelece pela primeira vez, na escalada do conhecimento mais dinâmico da humanidade, a
interação todos-todos à distância (LÉVY, 1999), o que, em certa medida, o rádio-amador
começou a fazer décadas atrás.
110
A Internet possibilita, assim, a reorientação do fluxo informacional em tempo real umum e no diálogo entre vários participantes todos-todos (LÉVY, 1999). Trata-se, de certo
modo, de um retorno para as conversas dos grupos nas cavernas, em torno das fogueiras.
Como bem destaca Castells, esse é o principal elemento para caracterizar a ruptura do tempo
da rede digital: “a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a
comunicação de muito com muitos, num momento escolhido, em escala global” (CASTELLS,
2001).
Ao analisarmos as grandes rupturas nos tempos de espírito na humanidade podemos
constatar que, ao se introduzirem novas mídias, as mais antigas não são abandonadas, mas
coexistem e interagem. É possível que haja, sem problemas, uma convivência natural entre a
velha e a nova, competindo, imitando ou se complementando mutuamente (BRIGGS e
BURKE, 2006).
Há quem defenda que deva haver uma ponderação maior ao tratar do tema, pois apesar
de se constatar rupturas, por exemplo, entre a cultura do livro manuscrito e a do livro
impresso, é possível perceber uma forte linha de continuidade entre os dois momentos,
observando-se a impressão em um processo muito mais lento do que se imagina, a princípio,
“por sucessivos deslizamentos” (CHARTIER, 1997).
Todas as sociedades sem escrita se baseavam na memória de autênticos especialistas:
chefes de família já idosos, bardos, sacerdotes que assumem, na humanidade tradicional, o
importante papel de mantenedores da coesão do grupo. Sendo assim, são poucos os elementos
para se resgatar a chegada da fala na humanidade. A situação é diferente no caso da escrita e,
principalmente, do surgimento do livro impresso, pois é vasto o material de pesquisa sobre
essa passagem. A Internet e suas tecnologias em rede digital vêm trazer, por sua vez, novos
horizontes nesse caminhar humano.
Parece que há forte consistência na defesa que diversos autores têm feito na
comparação destes dois momentos (chegada da Internet e livro impresso), como podemos
observar na tabela 19, que se desdobra por mais duas páginas:
Tabela 23 - comparação entre a chegada do livro impresso versus a chegada da internet
COMPARAÇÃO ENTRE A CHEGADA DO
LIVRO IMPRESSO VERSUS A CHEGADA DA INTERNET
AMBIENTE DA ESCRITA IMPRESSA
(1450 – 1990)
AMBIENTE DIGITAL
(1990-?)
Nova tecnologia que vem de fora da estrutura de
poder - da sociedade. Gutenberg era um empreendedor
que queria vender livros.
Nova tecnologia que vem de fora da estrutura de poder – A
Internet se inicia para resolver problemas militares.
O livro impresso é uma tecnologia de comunicação e
informação radical – que permite novas vozes,
desestruturando com novas ideias o ambiente de poder
da sociedade, diferente das outras tecnologias
A Internet é uma tecnologia de informação e comunicação
radical - que permite novas vozes, desestruturando, com novas
ideias, o ambiente de poder da sociedade, diferente das outras
tecnologias cognitivas (também inovadoras) que vieram antes,
111
cognitivas (também inovadoras) que vieram depois,
como o telefone, o rádio, a tevê, mas que não tinham
essa característica de descentralização do poder.
como o telefone, o rádio, a tevê, mas que não tinham essa
característica de descentralização do poder. Confunde-se a
passagem da Indústria de Mídia para a Internet, mas não se leva
em conta essa descentralização.
Adesão de empreendedores – que percebem o
potencial da nova tecnologia para seus negócios.
Multiplicam-se editoras em toda a Europa.
Adesão de empreendedores – que percebem o potencial de ter
lucros com a nova tecnologia, multiplicam-se novas empresas
para vender todo tipo de serviços, desde acesso até vendas pela
Internet.
Novo ambiente informacional – com a disseminação
da tecnologia é formado um novo ambiente
informacional no qual há uma mudança radical na
forma de consumir e produzir informação, reduz-se a
importância do mundo oral, ganhando força a palavra
escrita, começa-se forte movimento de alfabetização,
principalmente, com destaque, o dos Luteranos.
Novo ambiente informacional – com a disseminação da
tecnologia é formado um novo ambiente informacional no qual
há uma mudança radical na forma de consumir e produzir
informação, reduz-se a importância do mundo oral e escrito,
ganhando força as trocas pelo meio digital, começa-se forte
movimento de alfabetização digital.
Saída de impasse – que permite com a nova tecnologia
sair de paralisia social, em função de um novo canal de
troca de informação entre as pessoas (livro impresso),
resolvendo os impasses que o canal anterior (livro
manuscrito) deixava: elitizado, escondido nas
bibliotecas, caro, de difícil manuseio, com pouca
possibilidade de permitir a difusão de novas vozes para
gerar a informação.
Saída de impasse – que permite com a nova tecnologia sair de
paralisia social, em função de um novo canal de troca de
informação entre as pessoas (Internet), resolvendo os impasses
que o canal anterior (mídia de massa) deixava: elitizado,
emissor único, caro para emissão de sinal, de difícil manuseio,
com pouca possibilidade de permitir a difusão de novas vozes
para gerar a informação.
Objetivo principal: revelar novos valores humanos
(inovadores,
empreendedores,
visionários,
revolucionários) para que a inovação pudesse ser
acelerada, através dos novos autores que passam a
difundir suas ideias no papel impresso.
Objetivo principal: revelar novos valores humanos
(inovadores, empreendedores, visionários, revolucionários) para
que a inovação pudesse ser acelerada, através dos novos autores
que passam a difundir suas ideias no ambiente digital.
Descentralização de poder – há uma nova gama de
ideias que passa a circular na sociedade, que
questionam o que era o estabelecido. Denunciam o agir
e o discurso dos reis e papas, que impediam com sua
ideologia que novas inovações ocorressem. Mudança
fundamental da civilização para superar as novas
demandas que o forte crescimento populacional trazia
de novo para a sociedade, permitindo, a partir das
mudanças que ocorreram, fazer mais com menos, em
menos tempo, com menor custo, através da
consolidação de direitos humanos, antes inexistentes.
Descentralização de poder – há um novo conjunto de ideias
que passa a circular na sociedade, e que desafia o que era o
estabelecido. Começa-se a questionar o modelo das
organizações e governos, que impediam com sua ideologia que
novas inovações ocorressem. Este é um primeiro passo para a
mudança fundamental da civilização em sentido de superar as
novas demandas que o forte crescimento populacional traz de
novo para a sociedade, permitindo, a partir delas, que se possa
fazer mais com menos, em menos tempo, com menor custo,
através da consolidação de direitos humanos, antes inexistentes
(ecológicos, do consumidor, do lucro pelo lucro).
Resultante - mais poder ao cidadão (consumidor), que
ganha novos direitos, através de novas leis, com novas
ferramentas de denúncia e tomada de conhecimento:
papel impresso em rede social.
Resultante - mais poder ao cidadão (consumidor), que começa
a ganhar nova voz, que pode resultar em novos direitos, através
de futuras novas leis, com novas ferramentas de denúncia e
tomada de conhecimento: meio digital em rede social.
Gestação de Revoluções – Tecnológicas (inicialmente)
e Filosóficas (a seguir/Renascimento), que questiona os
valores e estabelece novos parâmetros do que era
difundido pelo poder do ambiente de informação que
terminou com a chegada do livro impresso. Abriu-se,
assim, novo campo para as mudanças sociais que vêm a
seguir, alterando radicalmente os campos político e
econômico. Para que elas ocorressem, foi necessário
que filósofos apontassem novos conceitos, visionários e
revolucionários, se apoderassem do uso massificado da
nova mídia e percebessem as brechas conjunturais para
que o conjunto da população estivesse disposta a
assumir o risco da mudança mais radical.
Gestação de Revoluções – Tecnológicas (inicialmente) e
Filosóficas (provavelmente a seguir/Renascimento 2.0?), que
deve questionar os valores e estabelecer novos parâmetros do
que era difundido pelo poder do ambiente de informação que
termina. Deve-se abrir um espaço para as mudanças sociais que
virão, a fim de que possa seguir com a intenção de alterar
radicalmente os campos político e econômico. Para que elas
ocorram, (se se repetir o passado) será necessário que filósofos
apontem novos conceitos, visionários revolucionários, e se
apoderem da maneira de reprodução da nova mídia, e que
também esperem brechas conjunturais para que o conjunto da
população esteja disposta a assumir o risco da mudança mais
radical. A eleição do Obama aponta um pouco esse cenário,
porém, sem a filosofia da mudança, pois o Governo dele não
assume o que se pregou na campanha.
Oxigenação social - Nova tecnologia oxigena a
sociedade com novas ideias, através da circulação de
novos autores, como novo tipo de visão do mundo. Tal
oxigenação não permite mais que determinadas ideias
Oxigenação social - Nova tecnologia oxigena a sociedade com
novas ideias, através da circulação de novos autores, com novo
tipo de visão do mundo. Tal oxigenação não permite mais que
determinadas ideias antigas façam sentido, criando um
112
antigas façam sentido, criando um ambiente de
questionamento geral e mostrando o quanto
determinadas práticas eram incompatíveis com o novo
momento, evidenciando a distância entre o que se dizia
e o que se fazia (Igreja única, poder papal, poder
monárquico absoluto, compra de lugar no céu,
indulgências, grandes palácios, impostos, fome, falta de
produtos, miséria, etc.).
ambiente de questionamento geral e mostrando o quanto
determinadas práticas são hoje incompatíveis com o novo
momento, do que se diz com o que se faz, tal como: produtos
com problemas, falta de diálogo com consumidores, lucro pelo
lucro, parlamentares descolados da realidade, governos
centralizados, aquecimento global, fome, miséria, etc.
Ampliação da visibilidade – o cidadão passa a ter
instrumentos para jogar luz na sombra do poder (ideias
no papel impresso), e tem noção mais clara dos atos do
poder que antes ficavam na sombra. Esse espaço do
qual se aproveitava o poder vigente, através dos abusos
de papas e monarcas, começa a se reduzir cada vez
mais, eclodindo mudanças tempos depois, com a
maturação de novos conceitos e propostas para a
sociedade.
Ampliação da visibilidade – o cidadão passa a ter instrumentos
para jogar luz na sombra do poder (ideias no meio digital), e
tem noção mais clara dos atos do poder que antes ficavam na
sombra. Esse espaço do qual se aproveitava o poder vigente,
através dos abusos de organizações e governantes, começa a se
reduzir cada vez mais, possivelmente gestando mudanças que
vão ocorrer daqui a alguns anos, com a maturação de novos
conceitos e propostas para a sociedade. É isso o que se tem
chamado de empresas 2.0, escola 2.0, sociedade 2.0,
capitalismo 2.0, temos ainda em elaboração pela Ciência.
Inovações na nova tecnologia cognitiva – fazem com
que fique cada vez mais fácil o acesso à informação de
qualquer lugar e se torne barato para ser consumido,
através de: livro de bolso, novas impressoras, nova
diagramação, nova maneira de se apresentar a
informação cada vez mais adaptada ao novo meio para
ser digerida. O modelo anterior do livro manuscrito
entra em colapso e praticamente desaparece,
incorporado pelo novo ambiente. Nota-se, entretanto,
que não morre a necessidade humana de se informar.
Em vez disso, expande-se essa necessidade através da
imagem, do som, através do contato oral (missas,
teatro), passando a ser fortemente influenciada pelas
ideias que circulam no texto impresso.
Inovações na nova tecnologia cognitiva – fazem com que o
acesso à rede fique cada vez mais aberto (faz de praticamente
qualquer lugar), barato e fácil de ser consumido, através de
celulares, laptops, fibras óticas, banda larga, nova diagramação
na maneira de apresentar a informação e nova maneira de se
apresentar a informação cada vez mais fácil de ser digerida. O
modelo anterior, do livro impresso, do rádio e da TV não
digital, deve desaparecer, incorporado pelo novo ambiente.
Note-se que, entretanto, não morre a necessidade humana de se
informar através da imagem, do som, do texto impresso e do
contato oral (encontros presenciais), mas passam a ser
fortemente influenciados, pelas ideias que circulam no meio
digital.
Massificação da tecnologia – em dado momento o
custo cai a ponto de se tornar acessível para a grande
massa, através da redução do preço de cada exemplar.
Só neste momento há o início da percepção pela
maioria das sombras do poder e se inicia a
possibilidade das revoluções sociais.
Massificação da tecnologia – em dado momento o custo cai a
ponto de se tornar acessível para a grande massa, através da
redução do preço do acesso, via banda larga. Se houver
similaridade com o passado, só neste momento há o início da
percepção pela maioria das sombras do poder e se inicia a
possibilidade das revoluções sociais.
Popularização - estabelece-se o acesso do potencial
das ideias para a maior parte da população, a partir da
escrita impressa. Nota-se que a escrita impressa já era
utilizada há séculos, porém a população mais pobre só
começa a ter acesso, a um custo razoável, a partir de
1450, quando passa a ser vendida nas primeiras
livrarias, podendo-se conceituar que a chegada do livro
impresso foi a viabilização da Escrita 2.0, já que
poucos tinham acesso ao seu potencial.
Popularização – estabelece-se o acesso do potencial das ideias,
a partir do meio digital para a maior parte da população. Notase que o meio digital já era utilizado há décadas (desde 1940),
porém a população mais pobre só começa a ter acesso, a um
custo razoável, a partir de 1980, quando passam, inclusive, a
serem vendidos os microcomputadores. Em 1990, inicia-se a
comercialização deles em rede (Internet) e em 2004, passa-se a
oferecer um serviço da banda larga, com custos menores,
comparados ao acesso discado, via modem e linhas telefônicas.
Surgem, tempos depois, as lan-houses, podendo-se conceituar
que a chegada do meio digital em rede foi a viabilização do
Digital 2.0 (web 2.0), já que poucos tinham acesso ao seu
potencial. Com a massificação, o advento da internet ganha
outro caráter.
Relação humana - Estabelece-se nova forma de
relação humana massificada à distância – ummuitos, na qual o autor pode expressar suas ideias sem
estar presente no mesmo tempo e lugar, ampliando o
poder que era restrito ao mundo oral, que o fazia
prisioneiro
da
relação um-um, obrigando
os
interlocutores a estarem no mesmo tempo e lugar .
Reduz-se distâncias, aumenta-se a velocidade da troca,
permite-se que pessoas de uma dada região possam ter
acesso a ideias dos “de fora” e diminui-se o
conceitualmente o tamanho do mundo, iniciando-se um
processo de globalização, sendo as ideias impressas em
Relação humana – Estabelece-se nova forma de relação
humana massificada – muitos-muitos, na qual os autores
podem expressar suas ideias sem estar presente no mesmo
tempo e lugar, ampliando o poder que era restrito ao mundo
oral, pois reuniões de pessoas exigiam a presença física. Com a
rede digital reduzem-se distâncias, aumenta-se a velocidade da
troca, permite-se que pessoas de uma dada região possam ter
acesso a ideias dos “de fora” e diminui-se conceitualmente o
tamanho do mundo, reforçando ainda mais o processo de
globalização, sendo as ideias espalhadas pelo meio digital a
„gota d‟água‟ que faltava para novas etapas humanas, sendo
esta a formadora da nova Civilização que está por se formar.
113
texto a „gota d‟água‟ que faltava para as explorações
marítimas que surgem 50 anos depois, que levam os
Europeus a todos os outros continentes, criando o
modelo de nações que se esboçaram nos séculos
posteriores.
Somos a primeira geração desse novo mundo.
Inteligência Coletiva - a interação (inteligência
coletiva) ganha nova energia, criando os movimentos
renascentistas (filosóficos) que formularão as bases e os
conceitos que serão o suporte para as revoluções
sociais, que virão a seguir. A Inteligência Coletiva
anterior era dependente da presença física, o que
impedia em muito o seu desenvolvimento.
Inteligência Coletiva - a interação (inteligência coletiva) ganha
nova energia. Espera-se, assim, que se criem cada vez mais
movimentos renascentistas (filosóficos) que formularão as
bases que serão os suportes para as revoluções sociais, que
possivelmente virão a seguir. A Inteligência Coletiva anterior
era dependente da presença física ou das ideias impressas, ainda
via áudio e imagem, centralizadas, o que impedia em muito o
seu desenvolvimento.
Explosão informacional – depois de massificada com
a chegada de novos autores na sociedade, via panfletos,
jornais e livros impressos, expande-se radicalmente a
produção de material impresso, o que obriga a
sociedade a criar novas formas de armazenamento e
recuperação da informação (bibliotecas, livros de
índices, ficha catalográfica, taxonomia).
Explosão informacional – depois de massificada com a
chegada de novos autores na sociedade, via blogs, sites de
comunidades, “youtubes”, expande-se radicalmente a produção
de material digital, o que obriga a sociedade novas formas de
armazenamento e recuperação da informação (ferramentas de
buscas, diretórios, tags, folksonomia).
Mudanças sociais – ocorreram, ajustando a civilização
às novas ideias que passaram a circular na sociedade,
permitindo novo ambiente mais compatível com a
demanda da população mais numerosa.
Mudanças sociais – que tem ocorrido deverão ajustar a
civilização às novas ideias que passaram a circular na
sociedade, permitindo novo ambiente mais compatível com a
demanda da população mais numerosa.
Nesta seção, procurou-se analisar os fenômenos históricos, comparando explosões
informacionais com macrocrises, o que nos possibilita apresentar uma análise final da
presente pesquisa.
114
2.4.2 A ANÁLISE DA PESQUISA
Nessa seção final
apresentamos as conclusões, a partir do que foi levantado,
pesquisado e exposto ao longo de toda a tese.
Podemos afirmar que abordamos questões mais teóricas do que práticas. Aproximouse mais da Ciência Pura, do que para problemas concretos, como apontou ser possível na CI,
segundo Borko79. A tese, assim, teve como objeto não a coleta de dados de campo, mas
fontes secundárias, do próprio registro da CI e fora dela, através da análise de conceitos para
formular nova lógica sobre o fenômeno informacional, a partir de novos fatos relevantes,
como a massificação da Internet no final do século passado.
Nosso objetivo foi procurar argumentos, teorias e conceitos que pudessem analisar de
forma mais ampla e histórica esse fenômeno da massificação da Internet, que consideramos
estar imerso no que passamos a denominar macrocrise da informação digital.
Acreditamos ser função de uma tese de doutorado - entre outras possíveis - alertar
para certos rumos de determinada Ciência, a partir de novos fenômenos (no caso, o da
Internet), procurando introduzir dúvidas e novos conceitos (no caso, as macrocrises da
informação na história e a macrocrise da informação digital). Magnoli nos lembra que
nenhum fenômeno histórico é igual a outro: paralelos servem para iluminar diferenças e
permitir recolocar perguntas (MAGNOLI, 2010). Foi uma das tentativas.
Para cumprir tais objetivos, realizou-se o aprofundamento dos seguintes conceitos:

crise

informação

crise da informação/explosão informacional

macrocrise da informação

macrocrise da informação na história

macrocrise da informação digital
Esta tese sentiu necessidade, para cumprir seus objetivos, de questionar termos de uso
corrente, tais como explosões da informação/informacionais e aprofundar outros como crises
da informação, procurando construir, em seu lugar, o conceito de macrocrises da informação
e sua aplicação macrocrise da informação digital, que aparecem ciclicamente em situações de
79
O outro ramo é o da Ciência Aplicada.
115
mudanças informacionais da sociedade. Procuramos demonstrar que uma explosão
informacional é parte de um processo mais amplo, sistêmico e não pode ser visto de forma
isolada, sob o risco de não se perceber suas causas e consequências passadas, presentes e
futuras, provocando, assim, problemas de análises, tanto do ponto de vista local, como do
macrocenário.
Tal pesquisa, como qualquer outra, não pode ter a pretensão de chegar a conclusões
definitivas, pois trabalha com as limitações do seu tempo, da capacidade do autor, das
condições para o seu desenvolvimento, entre tantas variáveis, que limitam seus horizontes,
além das escolhas metodológicas mais ou menos efetivas para se chegar às conclusões aqui
propostas. Toda tese, portanto, tem seus méritos e deméritos, como é o fazer de toda a
Ciência, um processo de tentativas e erros. Visa, entretanto, contribuir, com um novo ponto
de vista, criando algumas indagações, acreditamos pertinentes, na maneira de olhar a
massificação da Internet, fenômeno tão vital para a sociedade contemporânea.
Novas pesquisas e estudos, principalmente no campo histórico e com o espírito de
observar o fenômeno da informação do ponto de vista macro, poderão comprovar, ou não, a
utilidade, a partir do aprofundamento da lógica proposta. Sugerimos, entretanto, a partir desse
estudo, que ao se abordar crises locais da informação devemos levar em conta também a
possibilidade de que existam acima destes macromovimentos gerais da informação, que
regulam as ações nos micromovimentos informacionais, principalmente em fases de ruptura
de ambiente informacional, evitando-se abordagens que não tenham um aprofundamento
histórico, sob o risco de não compreender no médio e longo prazo o processo e ser induzido a
erro ao se analisar fenômenos localizados.
A tese alinha-se, dessa maneira, ao espírito que destacou Umberto Eco ao defender
que uma tese deve procurar originalidade, levantar o que foi escrito sobre determinado tema
(dentro das possibilidades de tempo e recursos) e realizar uma reorganização acrescida de
releitura sobre o mesmo, descobrindo algo que ainda não foi dito (ECO, 1977).
Tentamos chamar a atenção para pontos obscuros, constatar a escassez de pesquisas,
alinhavar pensamentos antes não articulados, descobrir novas fontes de pesquisa, autores,
resgatar conceitos de outras ciências e, através do exercício de lógica, recolocar determinadas
questões que permitam que outros autores possam, a partir delas, ter novo olhar,
principalmente na tentativa da compreensão da Internet, como fenômeno histórico, a partir de
suas evidentes consequências para a sociedade.
É preciso ter em vista, entretanto, como sugere Gleiser, que qualquer avanço da
Ciência nos leva a romper determinado círculo de conhecimento. Se, por um lado,
116
conseguimos melhor dominá-lo, paradoxalmente, ao mesmo tempo, ampliamos a fronteira
daquilo que nos é desconhecido. Dessa forma, qualquer trabalho científico, ao mesmo tempo
em que responde antigas questões ainda não feitas, mal formuladas, ainda não abordadas ou
não respondidas, aponta automaticamente para novos caminhos e dúvidas. Sob esse ponto de
vista, quanto mais a Ciência avança na direção do conhecimento, mais admite seu próprio
desconhecimento (GLEISER, 2010).
Assim, procuramos comprovar que a história de um determinado conceito, seja ele
elemento químico átomo, informação ou o inconsciente e assim por diante, envolve a
emergência deste como ideia vaga, seguida de processo de esclarecimento gradual à medida
que a teoria na qual ele está inserido adquire uma forma mais precisa e coerente. E
observamos que a continuidade do uso, após consolidado pode conter desvios que, de tempo
em tempo, a partir de novos fenômenos, precisam, de novo, serem repensados.
Optamos, assim, dentro do espírito vigente colaborativo na rede digital, procurar o
que havia de conceitos não especializados sobre o tema crise, informação, crise da
informação, macrocrise da informação na sociedade, através principalmente da Wikipédia e
Dicionário de Língua Portuguesa Houaiss e depois no que é comum e paradigmático em
outras Ciências e na própria CI, para, por fim, trazer um novo olhar para enriquecer tal
assunto. Reconstruímos tal discurso como um novo e pretensamente mais sintético e
elaborado, como é o papel do cientista, através de uma proposta de construção do discurso do
conhecimento importado pelos conceitos do educador Paulo Freire, que sugeria a
reconstrução de termos, a partir do pensamento menos para mais complexos.
A tese acolheu, dessa maneira, sugestão de Bell, de procurar mais do que ter repostas
completas,eleger boas perguntas e desenvolver esquema conceitual científico, que teve como
meta selecionar atributo particular dentro de dada realidade complexa e reuni-lo na mesma
rubrica comum, de tal forma a distinguir similaridades e propor ponto de vista capaz de
influenciar o raciocínio subsequente.
Pretendeu, por fim, suprir lacuna teórica utilizando-se de abordagem através da
pesquisa de alguns dos fundamentos da informação. Procurou, assim, apontar problemas de
forma distinta e construir esquema conceitual sobre macrocrises da informação, tendo sempre
em vista que qualquer “esquema conceitual não é verdadeiro ou falso, mas útil ou não”
(BELL, 1973).
A tese foi delimitada pela pesquisa feita na Internet aberta (nas bases de dados
definidas na metodologia) pelos termos crise, macrocrise, crise da informação, macrocrise da
informação, explosão informacional em websites públicos, sem necessidade de login e senha.
117
Na pesquisa de literatura sobre história da informação, do conhecimento e das mídias
recorreu-se a principalmente livros impressos, em português e inglês, ao longo dos quatro
anos do doutorado, principalmente, a partir da bolsa de estudos oferecida pelo CNPq80 para
doutorandos.
Tais opções, obviamente, delimitaram o trabalho do autor, devido ao tempo e recursos
disponíveis, e pode ter, em alguma medida, ter comprometido parte dos resultados, que não
devem ser visto como conclusivos, mas muito mais indutivos, propositivos e indagativos
dentro do escopo desta tese. O tema poderá ser abordado ainda com mais profundidade,
através de pesquisas em bases de dados protegidas na Internet. Tal ressalva deve ser feita para
aqueles que desejarem continuar o presente estudo. Foram opções que fomos obrigados a
fazer e certamente tiveram benefícios e prejuízos para o resultado final e devem ser
destacadas quando se for analisar, estudar e, ainda citar o presente estudo.
Constatamos nesse processo de pesquisa na Internet aberta que, infelizmente, a
despeito de todo o movimento acadêmico pela disponibilização de material gratuito na Web,
este ainda não é o padrão para a Ciência em geral nem para a CI, apesar desta ser uma área
que pensa e lida diretamente com a informação. Percebe-se que o conjunto de teses
acadêmicas dos cientistas da CI, principalmente do Brasil, ora não estão disponíveis, ora
apontam para links inexistentes, o que torna inexata a possibilidade de afirmar que os autores
contemporâneos da CI estão disponíveis em rede.
Alguns pesquisadores podem ter desenvolvido tema similar, que não aparecem nas
bases de dados pesquisadas, através de recuperação na rede ou de citações por outros autores.
Tal fato pode ter influenciado o resultado da pesquisa e deve ser observado como um fator a
ser destacado como sua limitação por quem fará uso dela para outros estudos. Deve-se
ressaltar, entretanto, que há uma tendência entre os autores que abordam o tema sobre a
Internet na sociedade e seus desdobramentos já estarem mais conscientes e afeitos à
disponibilização de seus trabalhos em texto completo na Internet aberta, porém, isso não pôde
ser comprovado. Ou seja, todas as afirmações da presente tese “de que não há ou são poucos
os estudos” devem ser vistos dentro da limitação da pesquisada feita e não em todos os
espaços disponíveis e possíveis, o que demandaria mais tempo para a pesquisa, o que não foi
possível no tempo e na abrangência que se escolheu, o que abre a possibilidade da
continuidade e o aprofundamento do estudo.
80
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - cnpq.br
118
É preciso ter em vista, assim, que a presente tese se propôs a levantar questões para
reflexão, muito mais do que chegar a conclusões específicas sobre um tema amplo, novo e
emergente e para tal propósito consideramos que as ideias que tivemos contato foram
suficientes para esse exercício.
Sobre o conceito de crise, de maneira geral, o levantamento feito pode ajudar aos
estudantes de todas as áreas, não só os da informação, pois permitiu oferecer definições
variadas sobre o fenômeno, incluindo a influência da informação na eclosão das crises, o que
nem sempre é um fato recorrente, no material encontrado. Pode-se ter mais convicção, a partir
da pesquisa que foi possível realizar e das reflexões feitas sobre ela que toda a crise humana
tem forte influência do fator informacional em todas as suas fases.
Crise, como se viu, é um assunto emergente em todas as Ciências, em função da
globalização cada vez maior da humanidade, na qual fatos que antes isolados e não tinham
repercussão mais ampla, passam a ter, o que obriga aos pesquisadores não só a rever o estudo
das crises, mas, principalmente estudá-las do ponto de vista amplo e macro para poder ter uma
noção geral ao se analisar questões localizadas.
O que nos leva a sugerir que a relação do tema crises gerais humanas de qualquer
natureza e o problema da informação é um campo vasto, interessante, curioso,
multidisciplinar e, nos pareceu, pouco explorado para desenvolvimento de pesquisas na CI,
com extrema relevância para a sociedade.
No desenvolvimento da tese, desenvolvemos a ideia, a ser aprofundada e melhorada,
de que há crises de dois tipos: pragmática (aquela que há teoria e, a partir dela, normas e
manuais de condutas que não foram, por algum motivo seguidos) e crises paradigmática (na
qual os conceitos e as teorias não foram concebidas para que se pudesse redigir as normas e
manuais).
As crises paradigmáticas são claramente teóricas e se caracterizam pelo fato de que
não há e deve-se procurar desenvolver teorias e conceitos. Tais teorias serão posteriormente
transformadas em normas, condutas e manuais para a ajuda prática de determinado processo
para que determinada crise aguda não ocorra ou sejam minimizados os seus efeitos.
Observamos que o tema crise da informação, naquilo que foi possível ter acesso, é um
estudo ainda limitado na CI, principalmente voltado para situações localizadas em empresas,
instituições, casos isolados e que não se encontrou na pesquisa estudos para o termo ou
similares, que se aproximassem de um cenário geral ou próximo da macrocrise da informação.
Tal fato - podemos sugerir - que se caracteriza como campo emergente ainda mais com a
119
demanda de fenômenos tão globais, interconectados, velozes e complexos, como é o caso da
Internet.
Nos estudos encontrados sobre crises informacionais optamos, de maneira geral, por
processos indutivos, caminho de estudos de casos particulares, iguais ou semelhantes à
procura de uma lei geral. Porém, constatou-se pouca a ênfase para a dedução que se inicia do
geral para o particular ou do universal para o individual. Tal abordagem mais pragmática, nos
pareceu, tem dificultado ainda mais a análise de um fenômeno Internet tão amplo, massivo e
abrangente.
Obviamente, que o tema pode ter sido abordado e documentado em locais nos quais o
pesquisador não teve acesso, mas mesmo que isso seja fato, pode-se afirmar que é incipiente e
incompatível com o estudo em outras Ciências e mesmo com a demanda de teorias que a
Internet desperta, tendo como o ponto de vista o acesso de um cidadão comum ou mesmo de
cientistas interessados no tema, através da pesquisa apenas na Internet aberta, através dos
documentos completos ali disponibilizados.
Podemos ainda afirmar, portanto, que as macrocrises da informação no geral - e a
macrocrise digital no particular - podem ser caracterizadas como crises informacionais
paradigmáticas, que apareceram na sociedade e não têm teorias e conceitos suficientes para
prever os seus contornos, causas e, principalmente, consequências, não tendo, portanto,
normas, manuais pré-concebidos que possam direcionar as atitudes a serem tomadas tanto a
nível macro, como no micro.
Constatamos que o conceito de macrocrises, entretanto, já é comum em outras ciências
(principalmente Economia e Ecologia). Na CI, macrocrises da informação são abordadas, de
forma indireta, através de nomes genéricos e correlatos, de forma ainda superficial, tais como
explosão informacional ou explosão da informação, ao se referir claramente à fenômenos
globais e gerais da informação, porém sem o detalhamento necessário.
Notamos que tais expressões, explosões, passaram a ser de uso corrente e utilizadas
geralmente nos primeiros parágrafos dos textos acadêmicos, como meio para descrever a
história da própria CI e/ou caracterizar a sociedade na qual vivemos. Usa-se tais termos como
se algo amadurecido, consolidado e estudado, sem maiores necessidade de detalhamento.
Porém não se encontrou na presente pesquisa estudos que tivessem aprofundado ou
problematizado tais questões, que nos levasse a situar tais explosões, contornos, causas e
consequências e relacionando-as a uma história que não fosse da própria CI.
Verificamos ainda que não foi possível identificar trabalhos que fizessem a relação
destas explosões com possíveis crises globais da informação ou as perguntas: Foi a primeira?
120
Era possível prevê-la? Quais os seus contornos? Tal visão, principalmente, a-histórica e
localizada pode ser um dos motivos relevantes, que tem, entre outros, dificultado ainda mais
nossa capacidade de observar novos fenômenos macroinformacionais, tais como a Internet,
partindo do todo e não das partes.
É preciso para suprir essa deficiência que um conjunto de novos autores,
pesquisadores passem a trabalhar, como contraponto, com conceitos mais amplos, históricos e
globais da dimensão da Internet e do próprio fenômeno informacional. Nesse momento
reverbera na área a frase de Kurt Lewin: “não há nada mais prático (ainda mais nas crises82)
do que uma boa teoria” 83.
Capurro, em uma visão pessimista (realista?) da produção acadêmica da CI afirma que
não é tarefa árdua nem demorada encontrar muitas vezes certo caos conceitual na área, tais
como citação acrítica de definições anteriores, fusão de teoria e prática, afirmações obsessivas
de status científico, visão estreita da tecnologia, descaso pela literatura sem o rótulo de ciência
ou tecnologia, analogias inadequadas, definições circulares e multiplicidade de noções vagas,
contraditórias e, às vezes, bizarras quanto à natureza do termo informação (CAPURRO e
HJORLAND, 2007).
Podemos afirmar, nesse sentido, a partir desse estudo ainda inicial que conceitos tais
como explosão informacional, explosão da informação e crises da informação encaixam-se
provavelmente nesse diagnóstico, principalmente como definições circulares e contraditórias
e por vezes obsessivas. A utilização dos mesmos chama a atenção pelo paradoxo do seu uso
excessivo e, por outro, falta de aprofundamento teórico sobre ele em algo tão fundamental e
marcante da CI que são os macromovimentos da informação.
Os termos - podemos supor - acabaram por se incorporar à CI mais como hábito, sem
que tenhamos nos debruçado com mais vagar sobre eles, bem delineado pelo pensador
americano Thomas Paine como fato para o qual: “(...) o longo hábito de não pensar que uma
coisa pode estar errada, lhe dá o aspecto superficial de estar certa” (PAINE, 1982). Encaixase ainda o rol das crenças, ideias nas quais acreditamos sem questionar, que aceitamos porque
são óbvias e evidentes, sem fazer uma relação de causa e efeito, o que nos leva a considerar
que dado aspecto da realidade é feito das causalidades (CHAUÍ, 2001).
Se não há, assim, explicação teórica aprofundada para que determinados fenômenos
aconteçam em dada Ciência, corre-se o risco de considerar tais explosões como fatos
invisíveis e das forças da natureza ou inerentes a dado ambiente e não um relevante aspecto
82
83
Inclusão do autor.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642005000100019
121
do macrofenômeno da informação a ser estudado. Tal fato pode ser atribuído à velocidade das
mudanças, através da percepção de Lévy, que considera que “quanto mais rápida é a
alteração técnica, mais nos parece vir do exterior‖ – (LÉVY, 1999).
Esse déficit teórico que podemos supor que ocorre na CI – e é nosso papel alertar para
essa constatação preliminar - se encaixa a partir da filosofia como o princípio da razão
suficiente, que é definido pela procura de uma causa ou motivo para tudo que acontece. Na
razão suficiente haveria duas possibilidades: as causas acidentais ou causais, que ocorreriam
apenas uma vez, para um determinado momento particular, ou aquilo que é universal e
necessário, que se repetiria, por razões a serem estudadas, ao longo do tempo (CHAUÍ, 2001).
O que cabe, portanto, nos questionarmos, o que objetivamos também, é se tal
fenômeno das explosões da informação é atípico e único ou falta alguma peça nesse quebra
cabeça teórico do fenômeno informacional para compreender explosões e mudanças nos
ambientes da informação, trazidas por novas tecnologias, tais como o livro impresso e a
Internet. Se é algo causal, com fatores que podem ser conhecidos e se ocorre de forma única,
ou repete-se ciclicamente? Por quê?
Podemos supor que as macrocrises da informação, portanto, não são apenas explosões
informacionais que ocorrem sem determinados fatores indutores. Sugerimos aqui que existe
uma razão suficiente para esse fenômeno e que é emergente um estudo mais aprofundado
sobre tais fatores, um benefício/questão/desafio que a Internet tem colocado para todas as
Ciências e, principalmente, à CI, sendo papel dessa adotar tal desafio, como o vem fazendo
com mais ou menos sucesso.
A aceitação, portanto, de certa forma passiva da ideia de explosões isoladas, sem nexo
ou causa, como crença, pode ser inicialmente diagnosticada por:

Visão a-histórica, (influenciada por uma filosofia pragmática pelos autores
americanos?) voltada mais para o local, sem uma contextualização do todo;

Compreensão ainda insuficiente do papel das tecnologias de comunicação e
informação nas mudanças do fenômeno informacional, também a nível global e
suas

influências
nas
sociedades;
Relação entre estas mudanças e o conceito de macrocrises, ainda não trabalhado,
como em outras ciências.
Não seria, portanto, descabido considerar como já afirmam diversos autores (Barreto,
entre tantos) que o surgimento da Internet e todos os seus desdobramentos trouxeram uma
122
crise teórica paradigmática para a CI, pois os seus instrumentos de compreensão do fenômeno
informacional localizados não são ou ainda foram suficientes para prever tal fato, ou mesmo
analisar os seus desdobramentos.
De maneira geral, há certo consenso de que a Internet tem a relevância de rupturas
informacionais tais como foram a chegada da fala e da escrita, sendo esta a disseminação em
rede, do computador, principalmente a partir de Lévy. Diante do exposto, podemos analisar
que a visão atual da CI sobre as explosões informacionais e as crises da informação que
atingem
a
sociedade
pode
ser
aprofundada
através
da
análise
de
fenômenos
macroinformacionais da sociedade, denominados de macrocrises da informação.
Constatou-se que é necessária uma revisão do conceito recorrente explosão
informacional,
por
considerá-lo
inconsistente
teoricamente,
aprofundando-se
os
macromovimentos da informação. Tal fato nos remete a uma percepção mais ampla de que é
possível constatar que existem macromovimentos históricos da informação, motivados por
fatores ainda a serem estudados e aprofundados, para o qual deveriam ser abertas mais
pesquisas, sendo uma área que pode ser também considerada estratégica e emergente.
Podemos ainda afirmar que o estudo da história da informação em um momento de
uma crise paradigmática é vital para se repensar determinado fenômeno de âmbito global.
Pelo levantamento da literatura dos autores que estudam a história da informação,
conhecimento e mídia que macrocrises da informação, como essa que estamos assistindo com
a chegada da Internet.
A partir desse cenário, pode-se afirmar que as crises globais da informação, ou
macrocrises, ao serem estudadas por características históricas, podem ajudar não só no estudo
do fenômeno informacional pela CI, bem como ser precioso apoio para outros campos de
estudo sobre crises globais, incorporando a fundamental problemática da informação.
A procura de uma visão global dos fenômenos informacionais pode recolocar a CI
mais uma vez como um pilar de apoio para a compreensão dos desafios teóricos e práticos
que se abateram sobre a sociedade pós-Internet e de suas repercussões (no curto, médio ou
longo prazo). As mudanças já verificadas são de tamanha magnitude que devem alterar tanto a
maneira de pensarmos a informação, quanto à prática dos profissionais envolvidos com esta,
passando de administradores de documentos a gestores de coletivos inteligentes.
Tal visão nos leva ainda ao aprofundamento dos micromovimentos, evoluções
incrementais das tecnologias, que ocorreram entre esses longos períodos, detalhando melhor
as microcrises informacionais, porém sem perder a noção dos movimentos macros. A tese
visa, enfim, alertar que nossas premissas mais básicas, como as das explosões informacionais,
123
base dos primeiros textos da CI e perpetuados na literatura podem ser mais problematizados
do que vem sendo feito.
Termos a consciência histórica do que a sociedade passou, passa e pode passar nos
permitirá agir de forma mais estratégica, mantendo a Ciência da Informação, como previram
seus fundadores, no epicentro das questões fundamentais do seu tempo, através do estudo
permanente e cada vez mais aprofundado do fenômeno informacional.
Acata-se, assim, sugestão de Pierre Lévy, talvez o autor mais relevante que nos levou
à abordagem história, de que diante dos fenômenos recentes do avanço das tecnologias da
informação e comunicação sejamos abertos e benevolentes, receptivos em relação à novidade.
Dessa forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma
perspectiva humanista.
Do ponto de vista do fenômeno em si, foi possível detectar que nos contextos da
macrocrise informacional existe paralelamente a percepção de que há uma escassez por falta
de informações para tomada de decisão e de que há, por outro lado, com o surgimento de uma
nova tecnologia (livro impresso, Internet) um aumento do volume de informações, que passa a
ser impossível de ser administrado, através dos antigos métodos, capacidade profissional e
tecnologias adotadas.
Tanto a escassez quanto o excesso levam o ser humano a um estágio de
desinformação. Se tal fato ocorre localmente, o acúmulo de fatores locais leva à sociedade a
conviver com macrocrises informacionais e vice-versa. Tais macrocrises teriam como
característica a inviabilidade de se resolver inicialmente problemas de escassez, que aparecem
a nível local, refletindo o problema global, contra a qual surgem novas tecnologias de
informação e comunicação. Estas, por sua vez, ao tentarem minimizar a escassez geram um
processo de excesso, impactando os ambientes locais de informação, através de microcrises,
que refletem a crise maior.
Podemos supor, por exemplo, a partir dos dados analisados, que a Internet guarda
significativas similaridades com o fenômeno da chegada do livro impresso. A comparação
entre os dois momentos e ainda com o processo do surgimento da fala e os posteriores ajustes
ocorridos na sociedade, resolvendo problemas de todos os tipos, desde sociais, econômicos e
políticos, demonstram fortes indícios de que um caminho de estudo que aprofunde tais
macrocrises possa ser profícuo.
Pela dimensão da evolução do processo global de mudança informacional, rápido e
radical, seria natural procurar comparações históricas de mudanças informacionais,
promovidas por outras tecnologias de informação e comunicação. Ao se fazer o resumo e
124
ordenar o trabalho acadêmico de diversos autores que estudam o passado, podemos propor,
sob o ponto de vista de macrocrise da informação, premissas fundamentais para aprofundar o
assunto, tendo como base hipóteses a serem desenvolvidas posteriormente:

A história da informação é uma história de rupturas - ao longo do tempo,
demarcada pela chegada de novas e radicais mudanças em tecnologias de
informação e comunicação, que passam a ser de largo uso pela sociedade;

A crise inicial da informação se inicia com uma escassez da informação – é
possível identificar momentos na sociedade (um fenômeno em vários países) em
que há uma forte escassez informacional, em função do controle social exercido
sobre dada tecnologia de informação e comunicação já dominada, impedindo que
um conjunto de novas ideias circule na sociedade e impedindo que haja
desenvolvimento social, econômico e político;

A crise de escassez é resolvida com uma nova e radical tecnologia de
informação e comunicação – que surge de forma inesperada, sem a intenção ou
consciência histórica por parte de seus criadores e aplaca a macrocrise
informacional. Passa por um período de difusão para segmentos mais afeitos a
experimentações, tem uma redução de custo através de inovações incrementais e é
rapidamente adotada, gerando um novo ambiente da informação, alterando a
forma de se lidar com a informação;

Da escassez se passa à abundância - o novo ambiente informacional passa,
então, da escassez para a abundância, já que nova documentação passa a ser
produzida de forma mais barata, exigindo novas formas de gestão da informação,
através de métodos, novos suportes individuais (livros, discos rígidos) e coletivos
(bibliotecas, bancos de dados), caracterizando, portanto, a passagem da escassez
para a explosão, sendo esta uma etapa, consequência de uma dada crise e não a
crise em si, que se caracteriza como causa como uma crise de escassez.
Assim, é provável que possamos conceituar nos dois casos (chegada do livro impresso
e da Internet) fenômenos de macrocrises informacionais, traçando os primeiros contornos de
sua chegada, mudança e evolução. Assim, como se viu, uma crise tem causas e
consequências. As causas são motivadas pela escassez e pela limitação da troca de ideias, que
representam um obstáculo à inovação em dada sociedade. As consequências são uma dada
125
explosão documental, a partir do novo suporte informacional que se estabelece e uma nova
forma de interação entre os humanos.
Podemos avaliar que é possível - porém não objeto desta tese - que o fator
demográfico pode exercer uma forte influência sobre as causas impulsionadoras dessa crise,
um tema a ser desenvolvido por este ou outros pesquisadores interessados no tema no futuro.
O início dessa hipótese pode ser visto no corpo dessa tese na subseção “O conceito
macrocrise da informação‖.
Nota-se que as consequências de uma macrocrise informacional, como a que se deu
na Idade Média, entretanto, não se limitaram ao campo da informação. A análise histórica da
chegada do livro impresso demarcou a sociedade em que vivemos, com a democracia
representativa, o capitalismo, a constituição das escolas, das empresas, do parlamento e
balizou os parâmetros que temos hoje de sociedade.
Acreditamos que crises são situações analisadas pelo ser humano, a partir das
limitações à continuidade de um determinado processo. Portanto, qualquer ruptura que se
viabilize a nível macro caracterizaria o final de um determinado limite, mesmo que esse não
tenha sido visível. Uma das características das crises informacionais, seria, inclusive, a
própria “invisibilidade” que a envolve, por ser um movimento sistêmico global, geralmente
movido por forças sem que um agente consciente desse processo, mas, pelo contrário, através
de ações descoordenadas por vários agentes (empreendedores, técnicos, cientistas, usuários),
que impulsiona a sociedade na mesma direção, diferente de uma revolução social, por
exemplo, na qual há um propósito e uma articulação para se obter um dado objetivo.
Essa constatação pôde ser demonstrada na presente tese na tabela 19 ―Comparação
entre a chegada do livro impresso versus chegada da Internet‖, na qual se comparou as novas
tecnologias, adesão dos empreendedores, constituição de novo ambiente informacional, saída
do impasse informacional, os objetivos principais com a ruptura, a descentralização do poder
subsequente, as resultantes após a massificação do novo ambiente, a gestação de revoluções, a
oxigenação social, a ampliação da visibilidade ,as inovações na nova tecnologia cognitiva, a
massificação da tecnologia, a popularização, as mudanças nas relações humanas, o fenômeno
da Inteligência Coletiva, as Explosões Informacionais, as mudanças sociais.
Tal tabela é praticamente um subproduto da presente tese e serve como base para
estudos futuros históricos entre as duas rupturas da chegada do livro impresso e da Internet e
carece de aprofundamento, reflexão e análise com mais fontes e, principalmente, mais fatos.
Nesta tabela apresenta-se o detalhamento da macrocrise informacional digital.
126
Esse ambiente digital em rede se caracteriza, além de vários outros aspectos, pela
possibilidade e facilidade a baixo custo de surgirem novas fontes de informação; por se
permitir o intercâmbio de ideias de muitos-muitos à distância e pela possibilidade de cada
consumidor da informação passar a ser também um produtor da mesma, através de uma
atitude menos passiva, interferindo de alguma forma na mensagem emitida, além da queda
gradativa das barreiras de custo, tempo e espaço.
Tal passagem, de alguma forma, simboliza o início e o fim de uma época
informacional global, como já havia ocorrido com o surgimento da fala e da escrita, como
sugeriram vários autores (Lévy, Santos, Barreto entre outros) ao constatarem o fim de uma
Era para uma nova, não só informacional, mas posteriormente de toda a sociedade, como
afirma o editor da Revista de Tecnologia americana Wired: “não estamos numa época de
mudanças, mas em uma mudança de época” – Chris Anderson85.
Devemos, assim, como cientistas nos perguntar os porquês. Por que a Internet veio ao
mundo? Veio resolver algum tipo de macrocrise? Que tipo de macrocrise? Como está sendo
resolvida? E que novas crises estão sendo gestadas com a sua chegada para o futuro? Qual a
relação da explosão informacional com a Internet? É causa ou consequência desta?
Podemos estender esse argumento tanto em termos locais, para resolver problemas
específicos, que afligem profissionais e, por sua vez, usuários e cientistas, mas, sobretudo
para questões globais, estando uma, obviamente, relacionada à outra.
Podemos, assim, concluir o presente trabalho, através da sua conclusão.
3. CONCLUSÃO
As conclusões da presente tese podem ser divididas na percepção do antes e depois ao
se analisar o problema das crises informacionais, a saber:
Os ambientes informacionais sem processos de ruptura – para a informação com
processos de ruptura – caracteriza-se pelo apresentado que é possível identificar ao longo da
história rupturas nos ambientes informacionais. Que a forma como lidamos com a informação
sofre rupturas ao longo do tempo por fatores envolvendo volume de dados e a necessidade de
gerenciá-los, necessitando mais pesquisa sobre este assunto, tendo como preocupação a
análise da influência da demografia nessas macrocupturas;
85
http://www.techlider.com.br/2010/08/midias-sociais-transformam-consumidores-em-parceiros/
127
Do particular para o geral - geral para o particular – que é possível ter uma nova
base para o estudo da informação, partindo do geral para o particular e não apenas do
particular para o geral, um fato que se tornou recorrente na CI. Tal visão filosófica pode ser
um instrumento importante para compreender macrofenômenos como o da Internet;
Explosão informacional sem causa – com causa – podemos reconhecer que as
explosões informacionais não são fenômenos sem causa, mas que podem ser analisados
dentro dessas macrorupturas, necessitando caracterizá-lo melhor e aprofundá-lo, não sendo
uma característica natural, mas criada por fatores que podem ter uma determinada lógica,
voltando a repetir, tal como o aumento demográfico, a se problematizar e estudar mais;
Sem conceito de macrocrise informacional – com conceito de macro-crise
informacional – vimos também que é possível conceber que tais macromovimentos podem se
caracterizar por macrocrises informacionais, movidas por necessidades de equilíbrio
sistêmicas, necessitando, a partir dessa primeira abordagem aprofundar a questão;
Não há razão suficiente para explicar as macrocrises informacionais para há
razões suficientes para explicá-las – da mesma maneira como analisamos as explosões
informacionais, podemos afirmar que as macrocrises da informação podem ser analisadas e
estudadas pela Ciência e termos muito mais consciência do que temos hoje de seus
movimentos, fatores causais, possíveis consequências, ampliando nossa capacidade de prevêlas e interferir nos seus impactos.
Por fim, diante do exposto, esperamos, assim, a presente tese se torne, antes de tudo,
útil para os novos e antigos cientistas que estudam o fenômeno da informação na sociedade e
suas eventuais crises, localizadas ou globais, principalmente o fenômeno Internet e
desdobramentos. Apontamos, assim, algumas sugestões e considerações sobre o que foi
estudado, pesquisado e aqui redigido.
A presente tese não se propõe a esgotar o assunto, mas a levantá-lo de forma mais
evidente para que, dentro de suas limitações já citadas possa contribuir, parcialmente, para
iniciar uma nova etapa da discussão.
Reforçamos, assim, à procura dos contornos que nos levam a compreender de forma
mais lógica as macrorupturas da informação do nosso tempo. Compreendemos que sem
128
analisar as macrocrises globais da informação elas podem causar muito mais sofrimento do
que o necessário para a humanidade.
4.
REFERÊNCIAS
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