0 UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO INSTITUTO DE ARTE E COMUNICAÇÃO SOCIAL IBICT - INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA CARLOS NEPOMUCENO MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL: MUITO ALÉM DAS EXPLOSÕES INFORMACIONAIS ORIENTADORES: ROSALI FERNANDEZ DE SOUZA (IBICT) MARCOS CAVALCANTI (COORIENTADOR) (UFRJ) NITERÓI 2011 1 CARLOS NEPOMUCENO MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL: MUITO ALÉM DAS EXPLOSÕES INFORMACIONAIS Tese Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do convênio PPGCI/UFF – IBICT/MCT, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciência da Informação. Orientadores: Rosali Fernandez de Souza (IBICT) Marcos Cavalcanti (coorientador) (UFRJ) Niterói 2011 2 CARLOS NEPOMUCENO MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL: MUITO ALÉM DAS EXPLOSÕES INFORMACIONAIS T e s e apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) em convênio com a Universidade Federal Fluminense (UFF), para obtenção do Grau de Doutor em Ciência da Informação. Área de Concentração: O conhecimento da informação e a informação para o conhecimento. Linha de Pesquisa 2: Representação, gestão e tecnologia da informação. BANCA EXAMINADORA Profª Drª Rosali Fernandez de Souza – Orientadora PhD Polytechnic of North London /CNAA Prof. Dr. Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti – Coorientador Doutor em Informática. Universite de Paris XI (Paris-Sud), U.P. XI, França Profª Drª Lena Vânia Ribeiro Pinheiro Doutora em Comunicação e Cultura IBICT/UFRJ-ECO Prof. Dr. Geraldo Moreira Prado Ph.D em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade UFRRJ Profª Profa. Dra. Liz-Rejane Issberner IBICT (PPGCI- Convênio UFF-IBICT) Profª Drª Ana Maria Malin Doutora em Ciência da Informação IBICT/UFRJ-ECO Suplentes: Prof. Dra Vânia Maria Rodrigues Hermes de Araújo.– Hermes Doutora em Comunicação e Cultura IBICT/UFRJ – ECO Prof. Dr. José Arnaldo Deutscher Doutor em Engenharia de Produção – Coppe/UFRJ Niterói 2011 3 AGRADECIMENTOS Aos meus pais, em primeiro lugar, que teriam adorado me chamar de Doutor; À minha família, esposa e três filhos, por aguentarem um doutorando em casa; Aos meus orientadores Rosali Fernandez de Souza e Marcos Cavalcanti pelo carinho e atenção; À banca de qualificação pelos sábios e preciosos conselhos, formada por Ana Maria Malin, Aldo Barreto, Lena Vânia Pinheiro e Vânia Araújo; Aos meus amigos que deram diversos palpites e sugestões preciosas: Lucia Peixoto, Jones de Freitas, Luiz (Azeredo) Silveira, Lucília Ferreira e Michael Cristian Bieler; Aos professores do doutorado, que tive o prazer de assistir aulas: Lena Vânia, Gilda Olinto, Liz Rejane, Sarita Albagli, Henrique Antoun; Aos meus colegas de turma que me ajudaram durante o doutorado, em especial Linair; Aos que me incentivaram a entrar no doutorado: Maria Helena Hatschbach e Adilson Cabral; Aos meus alunos que me ajudaram, co-criando, a ter várias ideias para minha tese; À professora Rosa Inês, coordenadora do PPGCI pela atenção; À Érica Loureiro, Ana Amador e Luizete Pena por terem revisado o texto; Ao CNPq por ter oferecido a bolsa, fundamental para a compra dos livros; À Internet por ser essa fonte inesgotável de recursos; Aos criadores da ferramenta Google Docs que me permitiram trabalhar na tese de qualquer lugar; Aos criadores do programa Free PDF, que converteu PDFs e DOCs e facilitou o uso de citações na tese. 4 A Michael Cristian Bieler - em memória. 5 RESUMO Esta pesquisa procura desenvolver um novo conceito na CI das macrocrises de informação, importando as ideias de outras Ciências, tais como Economia e Ecologia, que lidam com macrocrises na sociedade. Tal abordagem se torna útil para analisar momentos de ruptura como a que estamos passando agora com a chegada da Internet. Macrocrises da informação são processos dinâmicos e cíclicos de mudança, que criam rupturas sociais. Tal abordagem aprofunda o conceito de explosão informacional ou explosões informacionais, comumente usado na Ciência da Informação, e aponta que tais explosões não são fenômenos isolados, mas fazem parte de mudanças mais amplas. A tese defende a importância do resgate do estudo histórico como elemento-chave para a compreensão dos macrofenômenos informacionais, tal como a Internet e a característica da macrocrise da informação digital. PALAVRAS-CHAVE: crises, crises informacionais, macrocrises da informação, macrocrises informacionais, explosão da informação, Internet, ambientes de informação. 6 ABSTRACT This research seeks to develop a new concept in information science – information macrocrises in society – importing ideas from other sciences, such as economics and ecology, which deal with macrocrises in society. This approach is useful to analyze periods of disruption such as the one we are living in with the arrival of the Internet. Information macrocrises are dynamic and cyclical processes of change that create disruptions in society. It also deepens the concept of information explosion or information explosions, often used in information science, indicating that such explosions are not isolated phenomena but an integral part of broader changes. The thesis argues for the importance of historical studies as key elements to understand information macro-phenomena, such as the Internet. KEYWORDS: information crises, information macrocrises, information explosion, Internet, information environments. 7 LISTA DE TABELAS Página Tabela 1 - fontes não especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise, informação) ................18 Tabela 2 - fontes especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise) ...........................................20 Tabela 3 - Google Acadêmico - fontes em português - Para as palavras-chaves “Ciência da Informação”............................................................................................................................................20 Tabela 4- Google Acadêmico - bases de dados pesquisadas em inglês - para as palavras-chaves “information science”.............................................................................................................................21 Tabela 5 - definições de crise por áreas do conhecimento, a partir do dicionário Houaiss de língua portuguesa ..............................................................................................................................................25 Tabela 6 - definições de crise na Wikipédia em diversos idiomas........................................................28 Tabela 7 - definições de crise para autores fora da CI..........................................................................30 Tabela 8 – tipos de crises humanas……………………………………………….............…………...33 Tabela 9 – tipos de crises humanas (abruptas e cumulativas)................................................................33 Tabela 10 - tipos de crises humanas (localizadas e globais)..................................................................37 Tabela 11 - conceitos de micro e macro fora da CI................................................................................39 Tabela 12 - verbetes do dicionário Houaiss sobre informação...............................................................44 Tabela 13 - definições de informação em diferentes idiomas na Wikipédia..........................................45 Tabela 14 - definições da ci sobre informação.......................................................................................51 Tabela 15 - pesquisa na Wikipédia sobre crise informacional ou crise da informação..........................58 Tabela 16 - termo explosão da informação ou explosão informacional (português e inglês) no Google Acadêmico.............................................................................................................................62 Tabela 17 - o termo crise nas revistas da CI..........................................................................................64 Tabela 18 - termos crise, crise informacional e crise da informação em diferentes revistas da CI....................................................................................................................66 Tabela 19 - pesquisa no Google Acadêmico relacionando diferentes palavras-chaves, a partir do levantamento de Pinheiro...................................................................................................................67 Tabela 20 - pesquisa no Google Acadêmico sobre crise informacional em outros idiomas...................68 Tabela 21 - pesquisa no Journal of Information Science sobre crise e crise da informação..................68 Tabela 22 - dos três tempos de espírito, tecnologia e formas de interação............................................92 Tabela 23 - comparação entre a chegada do livro impresso versus a chegada da internet.....................111 8 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9 1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................... 14 1.2 METODOLOGIA ............................................................................................................ 15 2. DESENVOLVIMENTO ..................................................................................................... 25 2.1 O CONCEITO CRISE ...................................................................................................... 25 2.1.1 2.1.2 2.1.3 2.1.4 2.1.5 2.1.6 O conceito crise no dicionário e no wikipédia ................................................... 25 O conceito de crise fontes especializadas ........................................................... 29 A anatomia das crises ......................................................................................... 31 A definição de crise ............................................................................................ 37 O conceito macrocrise ........................................................................................ 38 A definição de macrocrise .................................................................................. 43 2.2 O CONCEITO INFORMAÇÃO ...................................................................................... 44 2.2.1 2.2.2 2.2.3 2.2.4 O conceito informação nas fontes não especializadas ........................................ 44 O conceito de informação nas publicações especializadas ................................. 47 O conceito da informação na CI ......................................................................... 50 O conceito da informação ................................................................................... 56 2.3 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO ................................................................... 58 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.4 O conceito crise da informação: em fontes não especializadas e fora da ci ...... 58 O conceito crise da informação na Ciência da Informação ................................ 61 O conceito de crise da informação ..................................................................... 76 O conceito macrocrise da informação ................................................................ 76 2.4 AS MACROCRISES NA HISTÓRIA ............................................................................. 84 2.4.1 2.4.2 A macrocrise da informação digital ................................................................ 101 Análise da pesquisa ............................................ Erro! Indicador não definido. 3. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 126 4. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 128 9 1. INTRODUÇÃO ―Não somos estudantes de assuntos, mas de problemas; e os problemas constituem os recortes de qualquer assunto ou disciplina‖- Popper. Desde os seus primórdios, a Ciência da Informação (CI, como passaremos a denominá-la) tem se dedicado a procurar soluções para constantes crises informacionais localizadas, que se repetem ciclicamente na história (em especial depois da Segunda Guerra Mundial). Na maioria das vezes, essas crises são atribuídas ao aumento gradual, constante e geométrico do volume de informação, primeiramente verificado na área científica e, posteriormente, em toda a sociedade, chamado de explosão informacional ou explosão da informação, que passaremos a denominar com o nome genérico de explosão. Nessa perspectiva, a CI desenvolveu – ou viu surgir – teorias, conceitos, metodologias e tecnologias na tentativa de apresentar diferentes respostas teóricas e práticas aos problemas informacionais enfrentados pela sociedade, sendo a questão do volume da informação global uma das principais dificuldades. Pode-se dizer, assim, que a CI cresceu e ganhou forma na importante e necessária jornada como área de estudos teóricos e aplicados pela necessidade humana de superar problemas informacionais - principalmente pela adoção de métodos e tecnologias - motivados principalmente pelo aumento crescente da quantidade de informação na sociedade, seja na área científica ou fora dela (SARACEVIC, 1996). Constata-se ainda que a consolidação da Internet, a partir da década de 1990, despertou intensa inquietação teórica por tratar de fenômeno global não previsto pelas teorias vigentes, com mudanças claras e radicais na maneira de se produzir e consumir informação. Perguntaram-se os cientistas de todas as áreas, incluindo os da informação: que instrumentos, conceitos e teorias, do passado ou do presente, vamos usar para analisar, dimensionar e classificar mais esta explosão contemporânea? E quais precisamos construir para termos mais capacidade de compreender e atuar nesse novo ambiente? Tal fenômeno social, acreditamos, pode se enquadrar nos conceitos de paradigmas de Thomas Kuhn (1922-1996). Kuhn acreditava que, em certos momentos da história, determinados fenômenos passavam a não contar mais com a explicação de determinada Ciência, criando dificuldades, irregularidades, anomalias e, podemos até dizer, crises. O problema central consiste em não mais se conseguir conceituar e ter explicações lógicas sobre 10 alguns objetos ou fenômeno; o paradigma teórico existente não é mais adequado. Nestes momentos, não se pode dizer que uma determinada Ciência precisa progredir, mas sim que precisa mudar, de forma mais radical, a maneira de olhar o seu objeto (CHAUÍ, 2001). Podemos afirmar, assim, como diversos autores têm diagnosticado que a partir da Internet a CI inaugura uma crise teórica filosófica paradigmática, com a necessidade de analisar com novo olhar o fenômeno da informação. Tal visão pode ser percebida em Barreto, quando aponta que o fenômeno da Internet obriga a uma revisão de antigos conceitos e delineia uma nova etapa na história da CI. Barreto optou por chamar esta de fase do conhecimento interativo (BARRETO, 2007). Tal fato, inclusive, influencia a própria história da CI, dividindo-a em três tempos, como propõe Barreto: - o tempo da gerência de informação (1945 a 1980); - o tempo da relação informação e conhecimento (1980 a 1995); - e o tempo fase atual como a do conhecimento interativo (1995 - até os dias atuais) 1 (BARRETO 2002). Mas o que exatamente será preciso rever na CI com a chegada da Internet? Parece-nos que no centro dessa crise paradigmática teórica reside uma questão central: a Internet não pode mais ser vista como um fenômeno informacional único, isolado, acidental sem precedentes históricos, que não se repete isoladamente na sociedade. Há na história do fenômeno da informação um ambiente que se modifica ao longo do tempo. Assim, como passamos do mundo oral para o escrito, estamos agora diante do ambiente digital. A presente tese procura se alinhar a todos os pesquisadores que tentam superar as barreiras paradigmáticas sobre o olhar da informação, assim como apontar alguns caminhos para continuarmos a tentar minimizar os inúmeros problemas informacionais da sociedade. Os caminhos adotados na presente pesquisa, detalhados ao longo da tese, foram: Aprofundar o estudo histórico para analisar outras rupturas informacionais similares 1 à Internet, área emergente na É interessante observar que a historiografia de Barreto para a Ciência da Informação marca a passagem do computador de grande porte para o microcomputador e deste para a Internet. CI; 11 Formular contornos do conceito de crise, macrocrises, crises da informação e macrocrise da informação para descrever com mais precisão o surgimento da macrocrise da informação digital; Demonstrar que o conceito da explosão informacional não pode ser visto de forma isolada, sem analisar um contexto mais global de uma crise informacional; Defender o estudo histórico para analisar outras rupturas informacionais similares à Internet, área emergente na CI; A partir desse encaminhamento, acreditamos poder compor cenário para analisar o atual momento de nossa sociedade, na passagem de um ambiente informacional baseado no papel, na escrita, no áudio e na imagem para outro digitalizado, que incorpora todos os demais e os coloca em uma rede muito mais dinâmica. Com isso, estimamos apontar direções para o estudo do fenômeno Internet. O surgimento da Internet no final do século XX criou perplexidade na sociedade como um todo, e em particular na CI. Foi sem dúvida o grande fenômeno informacional que surgiu no início do Século XXI. Barreto, por exemplo, resume essa inquietação ao reconhecer que ainda temos mais perguntas que respostas, e que as transformações que ocorrem com a passagem para a cultura eletrônica e a realidade virtual só irão se delinear ao longo do tempo (BARRETO, 1999b). Saracevic já previa a importância da influência das redes, de maneira geral, na sociedade, assim como a relevância de pesquisá-las. Acreditava o autor que as redes poderiam mudar radicalmente a qualidade e a quantidade da comunicação, e mesmo da informação comunicada (SARACEVIC, 1996). Malheiro acredita que a nova comunicação dos ambientes de rede cria um corte transversal em toda a Ciência da Informação. Gera, assim, a necessidade de novas abordagens, tanto teóricas quanto práticas, com a devida relevância (MALHEIRO, 2005). Nessa direção, estudiosos da Ciência da Informação, cada qual em seu campo de pesquisa e interesse, indagam sobre como a Internet influencia ou influenciará o futuro geral e em sua área específica. Issberner, por exemplo, faz a relação das redes com as aglomerações produtivas. As aglomerações produtivas utilizam as redes eletrônicas? Para quê? Que tipo de aplicação é 12 mais utilizado? Qual é o potencial de aplicações das redes eletrônicas de informação em territórios produtivos? (ISSBERNER, 2006). Marcondes, Mendonça e Malheiros questionam de que forma a rede pode mais que simplesmente facilitar o acesso a textos científicos e como seria possível agenciar programas (de computador) para ajudar a processar este conhecimento (MARCONDES, MENDONÇA e MALHEIROS, 2006). Como descrever e recuperar em rede os recursos e serviços de Bioinformática, especificamente no domínio de Genoma e Transcriptoma, visando apoiar as pesquisas nesta área no Brasil? (CAMPOS, 2006). Como abrir janelas para o virtual na realidade local? (FREIRE, 2006). Como classificar as áreas de conhecimento da Ciência em um cenário tão dinâmico? (SOUZA, 2004) Como os universitários podem usar melhor as tecnologias da informação? (DINIZ e OLINTO, 2006) Como recuperar os textos incluídos de forma não estruturada e apenas legível, por pessoas e não pelas máquinas, dificultando a recuperação? (MARCONDES, MENDONÇA e MALHEIRO, 2006). O Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - PPGCI2 não ficou opaco frente a esse largo e profundo movimento de pesquisa. Ao longo de sua história, tem trabalhado intensamente e contribuído substancialmente para o desenvolvimento da área da Ciência da Informação no Brasil. Esse fato se reflete tanto nas linhas adotadas, nas pesquisas em andamento, como nas teses que alunos de mestrado e doutorado têm desenvolvido. O interesse pode ser dimensionado, por exemplo, através da produção científica produzida no PPGCI. Das 11 (onze) teses de doutorado da UFRJ/UFF/IBICT3 concluídas até 2005, conforme lista publicada no website do programa4, seis, ou 54%, abordam direta ou indiretamente o tema das novas tecnologias e a influência que exercem nos mais diferentes tipos de sistemas de informação tradicionais, a saber: MARIZ, Anna Carla Almeida. Arquivos públicos brasileiros: a transferência da informação na Internet; MIRANDA, Marcos Luiz Cavalcanti de. Organização e representação do conhecimento: fundamentos teórico-metodológicos para busca e recuperação da informação em ambientes virtuais; DINIZ, Cládice Nobile. A fluência em tecnologia de informação entre estudantes de Administração; OLIVEIRA, Eloisa da Conceição Príncipe de. Grau de adesão à comunicação científica de base eletrônica: estudo de caso da área de Genética; CARVALHO, Rosane Maria Rocha de. As transformações da relação museu e 2 3 4 Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI), com convênios feitos com a UFRJ e com a UFF em momentos distintos. http://www.ibict.br/ http://www.uff.br/ppgci/editais/tesesdou.pdf (não há dados mais recentes) 13 público: a influência das tecnologias da informação para o desenvolvimento de um público virtual; VALÉRIO, Palmira Maria Caminha Moriconi. Periódicos científicos eletrônicos e novas perspectivas de comunicação e divulgação para a Ciência. De fato, tais trabalhos estão no âmbito da Ciência da Informação, uma área que se caracterizou tanto antes, como agora, pelos problemas e soluções que propõem nas pesquisas científicas, práticas profissionais e pelos métodos que escolheu (SARACEVIC, 1996). Esses problemas foram intuídos por Paul Otlet (1868-1944). O pesquisador, bem antes da área se consolidar, percebeu a importância de campo de estudo que introduzisse olhar ético sobre a informação, para organizar a sociedade civil em prol de uma organização mundial em torno do tema da informação (FERREIRA, 2006). A definição da abrangência da Ciência da Informação como área de conhecimento, entretanto, ocorre quase vinte anos depois do fim da Segunda Grande Guerra, durante reunião no Georgia Institute of Technology realizada no período de 12 e 13 de abril de 1962, seguida da publicação, em 1966, no primeiro volume do ARIST, no artigo de Robert Taylor. O recorte inicial de Taylor serve de base para que Harold Borko, dois anos depois, em 1968, a tornasse popular no artigo O que é Ciência da Informação?. Desde os seus primórdios, as crises informacionais fazem parte das preocupações centrais da CI, apesar de não serem colocadas de maneira explícita com o termo crises informacionais. Crise, como se verá na tese, é um assunto emergente em todas as Ciências, em função da globalização cada vez maior da humanidade, na qual fatos que antes isolados e não tinham repercussão mais ampla, passam a ter, o que obriga aos pesquisadores não só a rever o estudo das crises, mas, principalmente estudá-las do ponto de vista amplo e macro para poder ter uma noção geral ao se analisar questões localizadas. A presente tese pretendeu, assim, apontar a possibilidade de se trabalhar com uma visão mais ampla e histórica de macrocrises informacionais para delinear caminhos teóricos para facilitar a compreensão do fenômeno da Internet, a partir de uma nova visão das rupturas do fenômeno da informação na sociedade. A presente tese se debruça sobre a seguinte questão: é possível rever o conceito de crises e explosões informacionais através do estudo histórico para se chegar ao conceito de macrocrises de informação? Diante de tal perspectiva, sugere-se como válida a seguinte hipótese: há a incidência de fenômeno histórico, que podemos denominar de macrocrises da informação. São raros, porém marcantes na história da humanidade. Tais fenômenos ocorreram na passagem do mundo oral para o escrito, e agora deste para o digital. Tal premissa nos leva a rever o 14 fenômeno da informação e principalmente suas crises sistêmicas, podendo afirmar que há regulares macrocrises , que são explicitadas com mudanças tecnológicas radicais na sociedade, como, por exemplo, no final do século XX, a chegada da Internet. 1.1 OBJETIVOS Como objetivos, o trabalho propomos: Revisar o conceito de crises, crises da informação e sugerir um novo de macrocrise da informação, como elemento importante para compreender o fenômeno Internet; Rediscutir os conceitos de crises da informação na CI e de explosões informacionais e trazer questões para a prática da CI, diante de fenômenos informacionais globais, como é o caso da Internet; Caracterizar o fenômeno das macrocrises globais da informação, incluindo a macrocrise da informação digital suas causas e consequências e possível diagnóstico de suas origens para que se possa traçar estratégias teóricas e práticas no presente e futuro; 15 1.2 METODOLOGIA A presente tese procurou problematizar alguns conceitos recorrentes na sociedade e na Ciência da Informação, a saber: crise, crise da informação, macrocrise, “explosão informacional”. O objetivo foi, através da exposição da pesquisa e levantamento dos termos e adotando nova lógica, repensá-los e produzir novo conceito: o da macrocrise informacional, que não havia ainda sido trabalhado na CI. Para se obter o resultado pretendido, adotamos os seguintes procedimentos: - análise de conceitos em publicações não especializadas, tais como dicionários de língua portuguesa (Houaiss) e enciclopédia on-line (Wikipédia5), que serviram de base e de inspiração para, através de lógica e da problematização, alinhavar novas reflexões sobre antigos conceitos. Feito isso, procuramos compará-los com conceitos problematizados pela Ciência em publicações especializadas (científicas) e, por fim, após a definição do conceito de macrocrise informacional, incluí-la no contexto histórico, dialogando com diversos autores que se dedicaram ao estudo do passado da mídia, da informação e do conhecimento. Tal metodologia procurou desenvolver, através da problematização de conceitos, novo olhar sobre o macrofenômeno informacional digital trazido à sociedade, principalmente pela difusão do computador e, posteriormente, pela Internet. Assim, os critérios adotados foram os seguintes. 5 HTTP://www.wikipedia.com 16 Para a obtenção dos conceitos não-especializados: Dicionário – o dicionário de língua portuguesa Houaiss foi selecionado por motivo arbitrário, de preferência e facilidade de acesso do autor, como poderia ter sido escolhido qualquer outro, que estivesse no mesmo patamar de credibilidade na sociedade brasileira. O dicionário é reconhecidamente um dos mais importantes do Brasil e serviu ao propósito pretendido. O objetivo era iniciar o discurso científico da presente tese de um determinado ponto de partida, a partir de conceito não especializado e ir sofisticando-o ao longo da tese. É importante observar que um dicionário não é uma obra fechada, pois está em constante atualização. Lembrar também que os verbetes neles contidos não são considerados definitivos ou que haja consenso sobre eles, nem mesmo entre seus diferentes realizadores. Porém, o objetivo, ao utilizá-lo, é partir de uma referência para um trabalho de desenvolvimento de uma dada lógica e a construção de novos conceitos, considerando que uma língua é fixada nos seus dicionários para criar certa regulação de seu uso, como detalha Biderman: O léxico de uma língua natural pode ser identificado com o patrimônio vocabular de uma dada comunidade lingüística que tem uma história. Assim, para as línguas de civilização, esse patrimônio constitui um thesaurus, ou seja, uma herança de signos lexicais herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas palavras. (BIDERMAN, 1987). O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é um dicionário elaborado pelo lexicógrafo brasileiro Antônio Houaiss. A primeira edição foi lançada em 2001, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia. O projeto de confecção do dicionário começou em 1985. Antônio Houaiss tinha a ambição de criar o mais completo dicionário de língua portuguesa já compilado. Dezesseis anos depois, o Dicionário Houaiss foi concluído, contando durante esse período com uma equipe de edição com mais de 150 especialistas brasileiros, portugueses, angolanos e timorenses. O Dicionário Houaiss traz cerca de 228.500 verbetes, 376.500 acepções, 415.500 sinônimos, 26.400 antônimos e 57.000 palavras arcaicas. Além 17 da quantidade de verbetes, a equipe de edição pesquisou também as etimologias de cada palavra e o seu primeiro registro no idioma português6. Enciclopédia online – o uso da enciclopédia Wikipédia visou também criar uma facilitação da construção do discurso por parte do pesquisador, através da comparação com o dicionário e, posteriormente, na junção destas definições comparála aos conceitos acadêmicos. No caso da Wikipédia, foi feita uma síntese dos termos encontrados em vários idiomas. Por fim, construindo uma definição, digamos, não especializada, os conceitos foram, então, comparados e problematizados em confronto dos definidos pelas publicações científicas. Criamos, assim, através de uma metodologia de construção do discurso uma sofisticação cada vez maior de cada conceito, agregando olhares de fora da academia, não os ignorando, porém os contabilizando e enriquecendo, através da problematização feita posteriormente pelo olhar especializado dos pesquisadores. A Wikipédia foi escolhida por ser hoje a principal enciclopédia na Internet, estando, por ocasião da presente pesquisa, entre os sete websites mais consultados na rede eletrônica para pesquisas rápidas sobre qualquer termo ou assunto. A Wikipédia foi criada em 2001 e cumpre papel de detectar uma visão global da sociedade sobre determinados temas. Trata-se de uma proposta colaborativa (feita por várias mãos, inclusive com a colaboração de muitos especialistas). É uma enciclopédia on-line, aberta e gratuita, na qual 13 milhões de artigos foram produzidos por cerca de 80 mil colaboradores, em 260 idiomas, até março de 2011, por ocasião de nossa visita, sendo que deste total cerca de 430 mil são em português7. Os verbetes são, assim, produzidos por especialistas e usuários de todo o tipo, pessoas da academia ou de fora, permitindo um largo cenário para consolidar uma visão externa não especializada da sociedade sobre dados conceitos, o que nos foi de grande auxílio para aprofundá-los posteriormente8. Cabe registrar que, apesar de poder contar com a colaboração de alguns especialistas (o que não é propriamente confirmado) o critério de validação dos verbetes não é o mesmo da academia e, por isso, não é aceita com referência, o que não foi feito nessa tese. 6 Dados da editora. 7 http://www.alexa.com/topsites http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Sobre_a_Wikipédia 8 18 Utilizamos a Wikipédia, assim, apenas como inspiração e como auxiliar, similar ao dicionário, para o desenvolvimento de um discurso lógico, procurando uma forma mais atrativa e mais fácil, um caminho válido como qualquer outro, desde que os termos fossem problematizados posteriormente e comparados por conceitos mais elaborados pela ciência do ponto de vista de sua validação, através de pares, seguindo as metodologias tradicionais, como exige uma tese de doutorado. Para uma visão mais ampla dos conceitos, optou-se no caso da Wikipédia abranger a pesquisa além do Português e Inglês, também para o Francês, Espanhol e Alemão. Tal fato objetivou enriquecer os conceitos e termos mais elementos para compor o discurso da presente tese. Em resumo, podemos detalhar na tabela abaixo os conceitos problematizados e as pesquisas realizadas no levantamento não-especializado do trabalho: Tabela 1 - fontes não especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise, informação) FONTES NÃO ESPECIALIZADAS / TERMOS PESQUISADOS CONCEITO FONTES Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e Wikipédia (foram feitas nesta enciclopédia buscas nos Crise seguintes idiomas: Português e Inglês, Francês, Espanhol e Alemão) . Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e Wikipédia (foram feitas buscas nos seguintes idiomas: Português e Inglês, Francês, Espanhol e Alemão). Macrocrise Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e Wikipédia (foram feitas buscas nos seguintes idiomas: Português e Inglês, Francês, Espanhol e Alemão). Informação Para a pesquisa dos conceitos especializados, optamos por criar a delimitação, através de uma ferramenta de busca, no caso o Google Acadêmico9. O Google Acadêmico (Google Scholar em inglês) é uma ferramenta de pesquisa do Google que permite pesquisar trabalhos acadêmicos, em diferentes bancos de dados simultaneamente. A ferramenta, a exemplo do Google, identifica endereços na Internet relevantes para que os dados sejam coletados e armazenados em uma base de dados do próprio Google. Quando o usuário pesquisa, na verdade, está procurando dados no servidor do próprio Google Acadêmico. 9 O Google Acadêmico indexa artigos de múltiplas publicações e os apresenta em página única, seguindo a mesma lógica de pesquisa do Google - http://scholar.google.com.br/ 19 Dessa forma, ao escolher o Google Acadêmico como delimitador de pesquisa optamos por aceitar a delimitação feita pelos coordenadores daquele site. O Google acadêmico indexa literatura escolar, jornais de universidades e artigos variados. Lançado em Novembro de 2004 passou a oferecer buscas em língua Portuguesa em 10 de janeiro de 2006. Como em outras ferramentas de pesquisa o Google Acadêmico ordena os resultados por ordem de relevância. Os critérios são a íntegra de cada artigo e seu autor, onde ele foi publicado e a freqüência de suas citações na literatura acadêmica. A ferramenta permite ainda a pesquisa por ano de publicação, o que viabiliza a descoberta de trabalhos por assuntos mais ou menos recentes. Podemos ler na definição do próprio serviço: O Google Acadêmico ajuda a identificar as pesquisas mais relevantes do mundo acadêmico (...) classifica os resultados de pesquisa segundo a relevância. Como na pesquisa da web com o Google, as referências mais úteis são exibidas no começo da página. A tecnologia de classificação do Google leva em conta o texto integral de cada artigo, o autor, a publicação em que o artigo saiu e a freqüência com que foi citado em outras publicações acadêmicas10. No caso do Google Acadêmico optamos abranger a pesquisa além do Português para o Inglês. Tal fato objetivou enriquecer os conceitos e termos mais elementos para compor o discurso da presente tese. Tabela 2 - fontes especializadas / termos pesquisados (Crise, macrocrise) FONTES ESPECIALIZADAS / TERMOS PESQUISADOS CONCEITO Explosão da informação FONTES Google Acadêmico Google Acadêmico Crise Macrocrise Google Acadêmico Informação Google Acadêmico 10 http://scholar.google.com.br/intl/pt-BR/scholar/about.html 20 Não consta do site, na data das pesquisas, uma lista dos sites nos quais ele armazena seus dados para que se possa ter um escopo mais preciso de sua dimensão. Entretanto, para efeito de apresentar uma base de referência para a presente tese, optamos por realizar uma pesquisa no site com o termo “Ciência da Informação” e “Information Science” e os resultados que apareceram apresentam de forma um pouco mais clara, quais as fontes indexadas. Obtivemos, com isso, como resultados: Tabela 3 - Google Acadêmico - fontes em português - Para as palavras-chaves “Ciência da Informação” GOOGLE ACADÊMICO - FONTES EM PORTUGUÊS11 Para as palavras-chaves “Ciência da Informação” FONTES 12 Scielo ENDEREÇO http://www.scielo.br/ http://revista.ibict.br ( O Google Acadêmico pesquisa nessa revista, tanto através do Scielo, como Revista Ciência também, diretamente por critérios não detalhados). da Informação IBICT A pesquisa feita no Scielo13, via Google Acadêmico, por ocasião da tese na área de Ciências Sociais Aplicadas, em um total de 90 periódicos, abrange duas revistas da CI brasileiras. São elas: Revista da Ciência da Informação do IBICT14 e Perspectivas em Ciência da Informação da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em inglês, a pesquisa do Google Acadêmico abrange principalmente a base Mendeley. Tal projeto, se auto-denomina um site que gerencia referências acadêmicas, visando ajudar aos pesquisados que pode ajudar você a organizar a sua 11 Data da pesquisa: 29/02/2011. O Scielo, como o Google Acadêmico, é uma base de dados que reúne diversas publicações, o que seria um motor de busca sobre outro. O critério de classificação dos periódicos pode ser visto aqui: http://www.scielo.br/avaliacao/faq_avaliacao_en.htm. Os títulos aqui: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_alphabetic&lng=en&nrm=iso 13 Data da pesquisa: 29/02/2011. 14 Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (www.ibict.br) 12 21 investigação, colaborar com outras pessoas online e auxiliar pesquisadores a acharem as pesquisas mais recentes em diversos campos do conhecimento15. Tabela 4- Google Acadêmico - bases de dados pesquisadas em inglês16 - para as palavras-chaves “information science” GOOGLE ACADÊMICO BASES DE DADOS PESQUISADAS EM INGLÊS17 Para as palavras-chaves “Information Science” BASE DE DADOS Mendeley18 ENDEREÇO http://www.mendeley.com- Uma busca interna no Mendeley nos indicou a busca nas seguintes publicações: Journal of the American Society for Information Science, Journal of Documentatio, Annual Review of Information Science and Technology, Libri , Journal of Information Science, International Journal of Geographical Information Science Destaca-se, entretanto, que buscas por trabalhos acadêmicos mais recentes são limitadas àqueles que estão disponíveis na Internet, em texto completo ou por referências. Tal limitação tende a limitar e comprometer em algum aspecto o trabalho e deve ser chamada a atenção para as conclusões que forem feitas. Para alargar as buscas, foram feitas também buscas no Google para atingir algumas publicações da CI que não estão na base de dados do Google Acadêmico, tais buscas no Google retornaram como resultados as seguintes publicações: DataGrama Zero19 e Revista Encontro Bibli da Universidade de Santa Catarina20, Revista Encontro Bibli21 e Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação22. Consideramos, assim, que para o presente trabalho que visava a obtenção de uso corrente de alguns conceitos, tais como “explosão da informação” nos seus mais diferentes contextos, tal estratégia serviu como parâmetro adequado. 15 http://www.mendeley.com/ Data da pesquisa: 29/03/2011. 17 Data da pesquisa: 29/03/2011. 18 “Mendeley é livre organizador feito por usuários que reúnem textos acadêmicos, que pode ajudar você a organizar a sua investigação, colaborar com outras pessoas online, e descubra as últimas pesquisas” (segundo dados colhidos na primeira página do site em 29/03/2011. 16 19 20 21 22 http://dgz.org.br/ http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb http://www.sbu.unicamp.br/seer/ojs/index.php 22 A pesquisa visou, assim, analisar sites sem senha ou login, que disponibilizam textos completos no que podemos chamar de Internet aberta23, sem proteção, para ter uma visão mais ampla e acesso a documentos com mais visibilidade na Internet. Tal estratégia visou ter um panorama inicial, estabelecer um corte e uma abrangência de estudos. Como o tema é novo e os estudiosos do mesmo tendem a disponibilizar seus resultados em rede, optamos por esta estratégia para se ganhar tempo e rapidez, em função do tempo e da abrangência do estudo proposto. A presente tese procurou, dessa forma, criar certa coerência entre a forma e conteúdo ao construir os próprios conceitos ao longo da tese, através de reconstrução constante dos termos, uma prática adotada, principalmente no Wikipédia, a partir da colaboração constante de novos pontos de vistas. Tal possibilidade é arbitrária e de escolha do autor, apenas uma opção de estilo, que se mostrou bastante útil, entretanto para o desenvolvimento dos mesmos e agregou pontos de vistas interessantes de fora da academia, ajudando bastante a problematização pretendida. Tal escolha pode ser justificada em função da nova maneira de produção de conhecimento da sociedade que se deu com a chegada da Internet, o que Barreto chamou de conhecimento interativo. Assim, procurou-se trabalhar sempre a partir de dado conceito para ter consciência de seus registros, sofisticando-os e incorporando, a partir do trabalho de outros cientistas de fora da CI e depois da própria área, cada conceito, procurando uma uniformidade entre a forma da tese e o próprio objeto estudado. A proposta de considerar tão marcadamente conceitos não problematizados no presente trabalho se deve à concepção de que a construção do saber (qualquer que seja) faz parte de amplo processo social, tal como sugere Paulo Freire, que defende que não se deve relegar o que é de uso corrente, mas, pelo contrário, registrá-lo e criar bases para que este seja superado (FREIRE, 1970). Trabalha-se, assim, com a evolução e com a sofisticação de uso de cada termo. Entretanto, tal método não se propõe excludente, já que quando determinado conceito dito popular ou do dicionário se mostrar importante para o trabalho, o mesmo passará a ser incorporado para o enriquecimento e capacidade de diálogo, após ter passado pelo crivo de outros autores acadêmicos. 23 Podemos caracterizar Internet aberta aquela que pode ser acessada sem a necessidade de cadastro, login ou senha. 23 Segue-se, nessa direção, Albert Einstein, que considera que “toda a ciência nada mais é do que o refinamento do pensamento cotidiano24”. Portanto, torna-se relevante conhecer o pensamento cotidiano e, a partir dele, reconstruir conceitos ainda incipientes em um novo campo de atuação para a CI, tais como crises informacionais e macrocrises da informação. Considera-se que tal abordagem não se generaliza, mas cumpre o papel do presente projeto, acreditando que contribua para um melhor resultado final, além de poder aproximar os resultados da pesquisa a um leque maior de leitores. Dessa maneira, optou-se por problematizar conceitos, partindo de fontes não especializadas, comparando-as com fontes científicas, o que permitiu o autor, a partir desse método, desenvolver lógica e propiciar, dessa maneira, uma leitura mais agradável do texto geralmente longo de uma tese de doutorado, visando ampliar o alcance na sociedade, já que esta passará a estar disponível, inclusive para os leitores que participaram do blog do autor. O blog (www.nepo.com.br) recebeu as reflexões sobre o assunto diretamente ou questões correlatas puderam ser expostas ao longo da tese de forma preliminar e contar com o exercício da escrita e reflexão, bem como, o recebimento de comentários por parte dos leitores. Até o dia 22 de março de 2011, foram escritos pelo autor 734 “posts25” e recebidos 4423 comentários, o que denota intensa participação e apoio de um grupo de interessados nos temas, sendo um canal importante e fundamental para os resultados obtidos. Assim procuramos realizar análise conceitual da CI e fora dela para construção de um novo conceito “macrocrise da informação”, que pudesse ter como resultado preliminar, a ser aprimorado em futuros projetos de pesquisa. Tal conceito, depois de obtido, foi utilizado como marco para revisitar a história da informação e suas rupturas no capítulo 2 “As macrocrises na história” (em particular a chegada do livro impresso por volta de 1450, na Europa), caracterizando ambos os momentos como macrocrises informacionais, uma distorção a nível macro entre oferta e demanda. Para o estudo da história da informação, entretanto, a pesquisa foi realizada em livros impressos, que foram sendo adquiridos, lidos, resumidos ao longo dos quatro anos do processo do desenvolvimento do doutorado. É fato inquestionável que toda a pesquisa acadêmica contém opções do autor, que limita seus resultados e que outras levariam o pesquisador a diferentes conclusões. Há, assim, possíveis desvios a serem registrados na formação dos conceitos básicos formulados, que 24 http://ecienciablog.blogspot.com/2010/07/convergencia-entre-ciencia-e-arte.html 25 Post é considerado um texto publicado em determinado blog. 24 podem ser aprofundados, através de pesquisas em revistas específicas da CI, não indexadas pelo Google Acadêmico, que podem influenciar no resultado final da tese. Quisemos aqui demonstrar o que existe hoje dentro de certo uso corrente na Internet aberta, acadêmica ou não, sobre os temas analisados crises e macro-crises de informação. O que nos interessou nessa pesquisa foi o desenvolvimento de um discurso lógico, capaz de problematizar uma tendência em curso, hoje acessível à maioria dos internautas e pesquisadores. Tal opção, obviamente, pode trazer influência do ponto de vista dos resultados finais, porém deve se destacar que nenhuma tese deve ser vista fora de seu contexto histórico e da importância que pode ocupar em determinados momentos da Ciência. Consideramos que a emergência hoje de novos pontos de vista sobre o fenômeno Internet é vital para a CI e para toda a sociedade e que a abordagem na Internet aberta, inicialmente, devido à necessidade de um parâmetro, serviria aos propósitos desejados. 25 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 O CONCEITO CRISE Esta seção compreende levantamento do uso do conceito de crises, desde a procura de termos não científicos, através do dicionário e da Wikipédia, passando por definições em áreas da ciência, para se chegar a um conceito final que norteará a presente pesquisa no âmbito da Ciência da Informação. 2.1.1 O CONCEITO CRISE NO DICIONÁRIO E NO WIKIPÉDIA Nesta subseção, são investigados os conceitos de crise encontrados em dicionários e na Wikipédia, visando à construção deste conceito para a presente tese. O dicionário Houaiss define assim a palavra crise: Crìsis, is 'momento de decisão, de mudança súbita, crise (us. esp. acp. med)', do gr. krísis, eós 'ação ou faculdade de distinguir, decisão' p.ext. 'momento decisivo, difícil', der. do v. gr. krínó 'separar, decidir, julgar'; já no lat. ocorre a acp. 'momento decisivo na doença'; a pal. ganha curso em econ a partir do sXIX; fr. crise (1429), ing. crisis (1543), al. Krise (sXVI), it. crisi (sXVI-XVII), esp. crisis (1705), port. crise (sXVIII); ver critic- (HOUAISS, 2002). Para dar sentido à palavra, o dicionário precisou relacioná-la a diversas áreas de conhecimento, cada uma delas atribuindo à crise determinado contexto, a saber na tabela abaixo: Tabela 5 - definições de crise por áreas do conhecimento, a partir do dicionário Houaiss de língua portuguesa DEFINIÇÕES DE CRISE POR ÁREAS DO CONHECIMENTO, A PARTIR DO DICIONÁRIO HOUAISS DE LÍNGUA PORTUGUESA DEFINIÇÃO DE CRISE Convulsiva ou epilética – eclosão súbita e periódica da doença, caracterizada por convulsões, perda da consciência e outros distúrbios cerebrais; crise convulsiva. ÁREA DE ESTUDO Neurologia e Psiquiatria 26 De crescimento – conflito que ocorre na fase em que um indivíduo já experimenta suas novas forças (de integração, de independência), mas ainda não superou a influência de seus problemas centrais. Psicologia Dramática – culminância da ação ou dos conflitos psicológicos quando uma intriga se intensifica e atinge uma solução decisiva, frequentemente violenta. Literatura e teatro Ministerial – em regime parlamentarista, fase intermediária entre a dissolução de um governo e a formação de outro. Política Na sociedade – processo de intensa mudança (conjuntural ou estrutural) na organização de uma sociedade, alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões culturais. Sociologia Fonte: HOUAISS, 2002 Se pudéssemos fazer uma síntese do que há em comum nas definições do dicionário para as diferentes áreas, esta seria: Crise é um momento de intensa mudança (conjuntural ou estrutural) entre dois momentos, com uma fase intermediária, geralmente com eclosão súbita, podendo ser periódica, potencialmente geradora de conflitos em dada organização de uma sociedade, alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões culturais. No dicionário Houaiss, crise é classificada como substantivo feminino abstrato. Um substantivo abstrato, segundo o próprio dicionário: “designa ideias ou conceitos, cuja existência está vinculada a alguém ou a alguma outra coisa”. É um termo similar ao da informação, justiça, amor ou trabalho, não sendo substantivo concreto, palpável, como bicicleta, cavalo ou carro. Substantivos abstratos têm vida dependente, pois dependem de como cada um os encara ou conceitua, por não existir enquanto objeto palpável. Um substantivo abstrato depende da nomeação, classificação, conceituação por alguém, através de determinada ação ou estado. Portanto, a caracterização de dada crise como conceito abstrato dependerá daquele, daqueles, daquela ou daquelas que a caracterizarem como tal. Para uns, portanto, o que é uma crise, para outros pode não ser. Há, assim, a necessidade destacar, desde já, que a caracterização de uma dada crise sempre dependerá, antes de tudo, de como cada um analisa determinado momento de impasse, em que processos passam a não funcionar costumeiramente ao ponto de alguém definir este dado momento como uma crise, conforme a sua dimensão ou natureza. Há, assim, diferentes nuances e dificuldades ao se categorizar crise, em função desse caráter abstrato do termo e seus diferentes pontos de vista. Uma crise pode ser abrupta para um conjunto de atores, mas pode ser vista como cumulativa por outros, que podem alegar que já sabiam que algo estava por acontecer. Um exemplo pode ser retirado da crise econômica global, de 2008, provocada pela inadimplência do pagamento de hipotecas, que desencadeou 27 grave problema financeiro nos Estados Unidos, como noticiou New York Times em 22/08/0834: No dia 7 de setembro de 2006, Nouriel Roubini, um professor de economia da New York University, se colocou diante de uma platéia de economistas no Fundo Monetário Internacional e anunciou que uma crise estava surgindo 35. Nos meses e anos seguintes ele advertiu que os Estados Unidos provavelmente enfrentariam uma eclosão imobiliária como nunca vista, um impacto nos preços do petróleo e um agudo declínio da confiança do consumidor - basicamente, uma recessão profunda (...) Quando Roubini desceu do palco de onde proferia a palestra, o moderador do evento disse, em tom de gracejo: ―Acho que vamos precisar de uma bebida bem forte depois disso tudo‖. O público presente riu – e com razão. Na época, os índices de desemprego e de inflação mantinham-se baixos, e a economia, embora fraca, continuava a crescer, apesar dos preços de petróleo em alta e do mercado imobiliário se enfraquecendo36. Para o economista Nouriel Roubin, a crise financeira americana que se seguiu a sua palestra não foi abrupta, e sim cumulativa e previsível, mas, para a maioria dos economistas e para o cidadão comum, inclusive para quem estava na platéia. Desse ponto de vista, surge um detalhamento maior para se ter a classificação científica de crise, pois toda ela tende, como demonstrado, ser sempre cumulativa, em que determinado momento eclode um problema inesperado, impedindo o funcionamento de um dado processo. Será mais ou menos abrupta a partir da maneira que os atores envolvidos encaram os processos que podem desencadear dada crise e os controles sobre estes fatores. Ainda do ponto de vista do Dicionário Houaiss, podemos dizer que crise não é uma palavra que tem um sentido isolado, pois, além da caracterização de um dado momento, há a necessidade de situar a crise em determinado local, setor, área da sociedade ou no próprio corpo humano (crise renal, de coluna, cardíaca, pulmonar, econômica, ecológica). Pode-se dizer assim que crise é um conceito, além de abstrato, polissêmico (similar, aliás, a informação), com mais de um significado, que se aplica conforme a utilização em determinado campo. Nessa perspectiva, uma crise ministerial (política) é diferente de uma crise convulsiva (psicológica-médica), mas as duas têm em comum, como vimos acima, elementos que denotam: 34 35 36 momento difícil, de decisão; surpresa; período de tempo específico; agravamento de dada situação pré-existente, que se intensifica, agrava, eclode; momento entre duas fases; http://www.roubini.com/roubini-monitor/253363/new_york_times_article_on_nouriel_roubini_as_dr_doom http://www.roubini.com/roubini-monitor/253363/new_york_times_article_on_nouriel_roubini_as_dr_doom Grifo do autor 28 situações irregulares, fora de determinado padrão; intensidade; alteração de um momento a para momento b. Na Wikipédia, temos definição para o termo crise em cinco idiomas37: Tabela 6 - definições de crise na Wikipédia em diversos idiomas. DEFINIÇÕES DE CRISE NA WIKIPÉDIA EM DIVERSOS IDIOMAS IDIOMA Português 38 DEFINIÇÃO DE CRISE Crise (do grego κρίσις,-εως, translit. krisis; distinção, decisão, sentença, juízo, separação) é um conceito utilizado na sociologia, na política, na economia, na medicina, na psicopatologia, entre outras áreas de conhecimento. Espanhol39 Crise (Latin crise, por sua vez do grego κρίσις) situação de mudança em qualquer aspecto de uma realidade organizada, mas instável, sujeito a evolução, especialmente a crise de uma estrutura. As mudanças críticas, embora previsíveis, sempre têm algum grau de incerteza quanto à sua reversibilidade. Mudanças profundas, de súbito, violentas, que podem trazer consequências de grande alcance, indo além de uma crise e pode ser chamado de revolução. Inglês40 A crise (plural: "crises"; forma adjetiva: "crítico") (a partir do κρίσις grego) é uma situação de perigo, de instabilidade, nos campos econômico, militar, pessoal, podendo ser também nos campos político ou social, especialmente aqueles que envolvem uma abrupta mudança iminente, "um tempo de teste" ou caso de emergência. Alemão41 (tradução do autor com apoio do Google Tradutor) A crise (alto e aprendeu grego κρίσις, krisis, originalmente chamado de opinião","avaliação","decisão", em seguida, mais no sentido da" escalada”) significa um problema com um ponto de alteração de dada situação de tomada de decisões relacionadas. "Crise" é uma disciplina científica discutida de diferentes maneiras em medicina e psicologia, na economia e sociologia, bem como em ecologia e teoria dos sistemas. Francês42 Etimologicamente falando, a palavra crise é associada ao significado de “decisão "e" Julgamento ", em grego," Κρίσις ". Crise é a capacidade de distinguir uma decisão entre duas escolhas. A crise, portanto, exige decisão, ação. É uma situação rara, caracterizada pela instabilidade, que obriga a adotar uma atitude para retornar ao modo normal de vida. Crise (para a comunidade da Wikipédia) seria, em síntese: determinada situação no tempo e no espaço, que acontece raramente, de forma instável, incomum, emergencial, abrupta, que desorganiza dada situação ou processo considerado ―normal‖ e que impõe decisão, ação, avaliação, tomada de decisão, entre uma ou mais escolhas para se retornar a um dado estágio de retorno a dada regularidade ou normalidade, sendo o tema estudado e concebido em diferentes áreas de conhecimento. Nota-se que a crise é encarada como um momento de passagem entre dois momentos, marcado pela eclosão de uma situação aguda, que necessita de uma ação imediata para não 37 38 39 40 41 42 Pesquisa feita em 07/11/2010. http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal http://es.wikipedia.org/wiki/ http://en.wikipedia.org/wiki/ http://de.wikipedia.org/wiki/ http://fr.wikipedia.org/wiki/ 29 aprofundar ainda mais dada situação difícil. Numa síntese entre a definição do dicionário Houaiss e o que se coletou na Wikipédia, teríamos, então, as seguintes premissas iniciais para compor um conceito de crise: momento difícil de decisão; que causa surpresa; que ocorre de forma abrupta; que exige ação ou atitude emergencial, tomada de decisão; causador de instabilidade, que desorganiza determinada ordem vigente; período raro, incomum, que ocorre em dado tempo e espaço específicos; momento de agravamento de dada situação pré-existente, que se intensifica, eclode; ocorre entre duas fases, que pode, ou não, retornar à fase anterior, causando mudanças mais ou menos profundas (evolução ou revolução); Situações irregulares, fora de determinado padrão; intensidade; alteração de um momento a para momento b. Resumindo as duas definições do Houaiss e Wikipédia, teríamos: Crise é determinada situação de intensa mudança no tempo e no espaço, que acontece raramente, de forma instável, potencialmente geradora de conflitos, com eclosão súbita, incomum, emergencial, abrupta, que desorganiza dada situação ou processo considerado ―normal‖ e que impõe decisão, ação, avaliação, tomada de decisão, entre uma ou mais escolha para se retornar as um dado estágio de retorno a dada regularidade ou normalidade, através de fase intermediária (conjuntural ou estrutural), em dada organização de uma sociedade, alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões culturais, sendo o tema estudado e concebido em diferentes áreas de conhecimento. Procurou-se, nesta subseção, dialogar com os conceitos de crise, tanto da Wikipédia, como do dicionário Houaiss para começar o trabalho da construção de um conceito para a presente pesquisa. 2.1.2 O CONCEITO DE CRISE FONTES ESPECIALIZADAS Nesta subseção é trabalhado o conceito de crise nas outras ciências, bastante evocado, por exemplo, por economista e estudiosos da administração. Nesta subseção, haverá a 30 continuidade da argumentação com o objetivo de firmar o conceito. GAO fez extenso levantamento do conceito de crise por diferentes autores acadêmicos e contextos (GAO, 2010), alguns deles fortemente marcados pelo estudo de crises organizacionais, sobre a qual o tema crise é mais emergente, em função de necessidades de ação mais prementes, como ilustrado a seguir (tabela 3): Tabela 7 - definições de crise para autores for a da CI DEFINIÇÕES DE CRISE PARA AUTORES FORA DA CI DEFINIÇÃO DE CRISE AUTOR Evento que envolve surpresa, ameaça e um tempo de resposta curto HERMANN, 1963 Ameaça para o sistema em sua totalidade FINK, BEAK e TADDEO, 1971 Ameaça para dada organização para sua própria sobrevivência NYSTROM e STARBUCKS,1984; e MITROFF, 2005 Situação específica, inesperada e não-rotineira, de evento ou série de eventos que criam altos níveis de incerteza e de ameaça a determinada organização e suas metas prioritárias ULMER, SELLNOW e SEEGER, 2007 Ameaça grave para a base estruturas ou o valor fundamental e as normas de um sistema social ROSENTHAL e CHARLES, 1989 Situações extraordinárias em espécie e ou extensão, testando a resistência de uma sociedade a expor as deficiências de seus líderes e instituições públicas DRENNAN e MCCONNELL, 2007 Ameaça aos objetivos, capacidade reduzida para controlar o ambiente e um curto espaço de tempo percebido CLARK, 1988 Evento de baixa probabilidade com grande consequência capaz de ameaçar a legitimidade de dada organização, sua rentabilidade e, por fim, sua viabilidade SHRIVASTAVA, 1987 Ameaça imprevisível, com efeito negativo se gerenciada de forma incorreta, sobre dada organização ou indústria COOMBS, 2006 Situação indesejada, inesperada, sem precedentes, uma situação quase incontrolável ROSENTHAL, BOIN e COMFORT, 2001; e SUNDELIUS STERN, 2002 Perturbação física que afeta um dado sistema como um todo e ameaça seus pressupostos básicos, tal como a sensação subjetiva de si mesmo e seu núcleo existencial PAUCHANT e MITROFF, 1992 Tempo instável ou estado de situações nos quais há uma mudança decisiva iminente em curso com a possibilidade distinta de resultados altamente indesejável ou altamente desejável, com resultados extremamente positivos KEEFFE e DARLING, 2008 Fonte: (GAO, 2010) Incorporando as definições acima com as do Dicionário e da Wikipédia, poderíamos listar aspectos recorrentes sobre crise: Momento difícil, que inviabiliza, em parte ou no todo, o funcionamento de dada estrutura; que exige ação ou atitude emergencial, tomada de decisão; que pode se agravar ou abrandar, conforme decisão tomada; causador de instabilidade, que desorganiza determinada ordem vigente, em sua parte ou todo; 31 período raro, incomum, que ocorre em dado tempo e espaço específico; situações irregulares, fora de determinado padrão; que ocorre com intensidade, quase incontrolável; que causa surpresa; momento de testes de resistência de determinada estrutura; que ocorre de forma abrupta; momento de agravamento de situação pré-existente, que se intensifica, eclode; ocorre entre duas fases, que pode, ou não, retornar à fase anterior, causando mudanças mais ou menos profundas (evolução ou revolução); alteração de um momento a para momento b; que tem efeitos positivos, pois acelera mudanças necessárias. A comparação das duas visões nos leva a conceber a seguinte definição: Crise é determinado fenômeno que envolve surpresa, ameaça, quase incontrolável e um tempo de resposta curto, de intensa mudança no tempo e no espaço, que acontece raramente, de forma instável, não rotineira, que cria altos níveis de incerteza. É um fato potencialmente gerador de conflitos, com eclosão súbita, com característica de ameaça para dado sistema ou organização em sua totalidade ou sobrevivência, em suas metas prioritárias, (e/ou) rentabilidade, testando a resistência e deficiências. Trata-se de fato incomum, emergencial, abrupto, que desorganiza dada situação ou processo considerado ―normal‖ e que impõe decisão, ação, avaliação, tomada de decisão, entre uma ou mais escolha para se retornar a um estágio de dada regularidade ou normalidade, através de fase intermediária (conjuntural ou estrutural), alterando suas relações intergrupais ou de classe, suas normas e padrões culturais, podendo, conforme as ações realizadas, tornar-se processo com resultados extremamente positivo, sendo o tema estudado e concebido em diferentes áreas de conhecimento. 2.1.3 A ANATOMIA DAS CRISES De maneira geral, ao se estudar o fenômeno crise os autores sentem a necessidade de dividi-la em diferentes momentos: aqueles que antecedem suas causas e as ações humanas que são feitas para contorná-la. Ulmer detalha que a classificação se torna útil para ajudar a reduzir a incerteza quando ocorre uma crise (ULMER et al., 2007). 32 Desse ponto de vista, dois momentos se apresentam a pré-crise e o pós-crise, sendo o centro de ambos o momento mais agudo pelo qual é preciso revisar conceitos, repensar processos e se analisar as ações necessárias para sair da mesma e, se possível, evitar situação igual. Pode-se detalhar ainda mais, tal com fez Fink, por exemplo, ao se debruçar sobre crises corporativas. O autor detalha estas etapas da seguinte maneira (FINK, 1986): os sintomas precoces; a crise aguda; a definição dos contornos da crise; a fase da resolução da mesma A ideia da divisão das crises será útil para analisar macrocrises, pois podemos separar claramente o momento anterior da macrocrise para o posterior, quando esta já começa a ser analisada e passa-se a tentar contornar o problema.) Mitroff, também ao refletir sobre o tema (mais voltado para as organizações), avalia que uma crise tem as seguintes etapas (MITROFF, 2005): um evento (gatilho) que inicia uma mudança significativa, que chama a atenção dos membros de dada organização; a gestão da organização se sente incapaz de lidar com a mudança que ocorrem; o gatilho é tão significativo como uma ameaça para a sobrevivência da organização. No caso das macrocrises podemos considerar que o “evento gatilho” é o surgimento de uma nova tecnologia (no caso contemporâneo a Internet), que demonstra que havia uma demanda reprimida. Há uma compreensão do problema e admite-se que havia uma macrocrise em curso. Há vários fatores envolvidos na fase da pré-crise serão desenvolvidas mais adiante. Podemos assim, do ponto de vista do processo, resumir crise em fases: o antes (causas); o depois (consequências). E as ações que serão realizadas: o diagnóstico tanto das causas e das consequências, que preparam ações reparadoras; as ações reparadoras para que a crise seja minimizada ou resolvida; as medidas para evitar que nova crise ocorra. Além das fases e ações, é possível ainda identificar na literatura acadêmica classificações para caracterizar diferentes tipos de crise. 33 as de origem natural (provocada exclusivamente pelos fenômenos da natureza, tais como terremoto, tsunami, grande tempestade) sobre as quais só resta o monitoramento, a previsão e ações para dirimir os danos e perdas; as crises provocadas pela ação humana, que são as mais comuns e as que podem ter uma ação preventiva efetiva, se comparadas às provocadas por acidentes climáticos, por exemplo. (MITROFF, 2005). Crises provocadas pela natureza podem ser afetadas por ações humanas e as ações humanas afetadas pelas crises provocadas pela natureza, pois a evolução humana é uma eterna relação entre estes dois elementos (GAO, 2010). Entretanto, cabe-nos discutir as crises humanas, nas quais vão se inserir as informacionais. Ao estudar as crises humanas, Gao, principalmente baseado em crises organizacionais, procurou definir diferentes tipos, que podemos dividir em fatores distintos causas e consequências. Do ponto de vista das causas, podemos identificar: Tabela 8 – tipos de crises humanas TIPOS DE CRISES HUMANAS CATEGORIAS Pelos fatores de motivação TIPOS DE CRISES HUMANAS Provocadas - com a intenção de gerar a crise Acidentais - Ocorridas por negligência, falta de experiência, conhecimento de recursos, capacitação. AUTOR ULMER et al., 2007; e HWANG e LICHTENTHAL, 2000 Fonte: GAO, 2010. Conforme a tabela 4, crises acidentais são aquelas que ocorrem por erros e problemas independentes de ações humanas, e as provocadas podem ser incluídas dentro da ideia de sabotagem ou má fé. Notaremos que ao analisar uma macrocrise informacional iremos considerá-la uma crise acidental de grandes proporções que não temos consciência de sua existência. A crise, assim, não é provocada, mas fruto de movimentos da sociedade, atribuídos ao aumento de volume informacional, que tornam ingovernáveis os ambientes de informação com os conceitos e teorias anteriores. Do ponto de vista das consequências, podemos identificar, em um primeiro momento: Tabela 9 – tipos de crises humanas (abruptas e cumulativas) TIPOS DE CRISES HUMANAS (ABRUPTAS E CUMULATIVAS) CATEGORIAS Pelo impacto TIPOS DE CRISES HUMANAS Abruptas - sem anúncio ou possibilidade de monitoramento Cumulativas - já alertadas ou com o monitoramento falho AUTOR HWANG e LICHTENTHAL, 2000 34 Nessa direção, qualquer crise provocada por ações humanas, não intencionalmente, nos levará necessariamente a procurar os motivos que podem desencadear acidentalmente determinada crise e, posteriormente, os métodos de controle das ações que possam evitá-la. Assim, o que pode diferenciar uma crise é determinar se as causas para sua eclosão têm fatores conhecidos ou não pela sociedade (e pela academia). Tal raciocínio aponta para dois tipos de classificação para as crises: Crises conhecidas não paradigmáticas - são aquelas nas quais há métodos de controle conhecido, mas que foram negligenciados ou deliberadamente alterados por algum motivo pelos responsáveis para evitá-la. São crises em que os métodos de controle dos processos não precisam ser revistos, mas apenas executados e as reflexões a serem feitas giram em torno de por que não o foram. Portanto, não são crises paradigmáticas ou teóricas, pois os paradigmas teóricos, que deram suporte aos métodos práticos, não foram questionados. Não há necessidade de rever os paradigmas teóricos, que deram suporte aos métodos práticos, que seriam crises contornadas por aspectos mais práticos do que teóricos. Crises desconhecidas, paradigmáticas ou teóricas - são aquelas nas quais não há reconhecimento dos fatores que podem desencadear determinada crise, e os métodos de controle conhecidos já não são válidos por aqueles que eram responsáveis para evitá-la e que, a partir da sua eclosão, precisarão ser conceituados, registrados e adotados. São crises em que os conceitos e as teorias que definem os controles dos processos precisam ser revistos, do ponto de vista teórico, para só, então, adotar novos métodos. São assim, crises paradigmáticas ou teóricas. Há necessidade de rever os paradigmas teóricos, que deram suporte aos métodos práticos, que seriam crises contornadas por aspectos mais teóricos do que práticos. As crises de causas desconhecidas paradigmáticas ou teóricas nos levariam a duas possibilidades de classificação: com referência teórica existente na sociedade - caracterizada por haver métodos de controle conhecidos e reconhecidos pela sociedade, mas que não haviam sido incorporados por dada organização ou estrutura, que precisam ser compreendidos e adotados. Assim, a crise é desconhecida, paradigmática, mas há alternativas teóricas na sociedade conhecidas a serem utilizadas, bastando conhecê-las, aperfeiçoá-las e adotá-las; 35 sem referência teórico existente na sociedade - caracterizada por não haver métodos de controle conhecidos pela sociedade, sendo necessário estudos teóricos para que sejam descobertos, registrados e adotados, implicando em revisões paradigmáticas e no desenvolvimento de novas teorias para que a crise possa ter seus métodos de reconhecimento de fatores conhecidos e as medidas adotadas para evitar a eclosão da mesma. Por esta classificação, podemos afirmar que crises desconhecidas sem referência teórica existente são paradigmáticas da Ciência. Tal percepção se aproxima dos conceitos de Kuhn. Ao estudar o avanço científico, o autor aponta ciclos nos quais, em alguns momentos, em dada Ciência, há a necessidade do desenvolvimento de novas teorias sobre determinado fenômeno que permita uma revisão geral dos conceitos até então conhecidos, para que se possa desenvolver um novo paradigma. (KUHN, 2000). No decorrer da tese que as crises globais se encaixam nesse momento e nessa classificação, ilustradas pela na citação abaixo: Essa oscilação da ciência leva-nos a uma interminável lista de teorias científicas permeadas por descontinuidades "como resultado de diferentes maneiras de conhecer e construir os objetos científicos, de elaborar os métodos e inventar tecnologias... (...) Aqui não nos importa a expressão (revolução científica ou ruptura epistemológica), mas o reconhecimento de que algo mudou e que continuará mudando sempre que o instituído não der conta de esclarecer os questionamentos colocados pelo ser humano‖ (CARVALHO e KANISKI, 2000). Nessa linha de raciocínio podem ser considerados, os conceitos de mudanças de Schumpeter, do caráter "radical" versus "incremental" das inovações tecnológicas. As inovações radicais representam uma ruptura com o padrão tecnológico até então vigente, originando novos produtos, processos, setores e mercados (ou seja, representam produtos, processos, setores e formas de organização inteiramente novas) (SCHUMPETER, 1934). As inovações incrementais, por sua vez, referem-se à introdução de melhorias e aperfeiçoamentos em produtos, processos ou na organização da produção. O design, a combinação e adaptação de tecnologias já existentes, no sentido de se aperfeiçoar os processos de produção e a redução de materiais e componentes na produção de um bem, podem ser consideradas inovações incrementais (ROCHA e DUFLOTH, 2009). Dessa maneira, crises não-paradigmáticas solicitariam mudanças incrementais e crises paradigmáticas nos levariam a alterações radicais na maneira de se pensar determinados problemas, exigindo novas teorias. Araújo analisa esse “pêndulo” ao estudar o modelo dos 36 sistemas. Afirma que na teoria geral dos sistemas haverá sempre momentos de rupturas e equilíbrio, o que é desejável entre todas as partes: “equilíbrio significa „estabilidade dinâmica‟, preservação de caráter dos sistemas, quando este atravessa períodos de crescimento e expansão” (ARAÚJO, 2005). Capra nos lembra que a civilização continua a crescer quando sua resposta bemsucedida ao desafio inicial gera um ímpeto, cultura que leva a sociedade para além de um estado de equilíbrio, que então se rompe e se apresenta como um novo desafio. Desse modo, padrão inicial de desafio-resposta é repetido com sucessivas fases de crescimento, pois cada resposta bem sucedida produz um desequilíbrio que requer novos ajustes criativos (CAPRA, 1982). No caso das crises, novos paradigmas permitiriam um reconhecimento maior de causas e consequências (seu contorno), o que propiciaria o desenvolvimento de novos métodos de controle. Crises paradigmáticas implicariam na adoção de conceitos da Ciência Pura ou Básica, através da revisão teórica sobre determinado fenômeno. Esse tipo de crise sem referencial teórico, paradigmática, seriam crises teóricas, que resultariam em situações práticas. Porém, para minimizar seus aspectos exigiriam estudos científicos e históricos aprofundados para coletar momentos similares do mesmo fenômeno, analisando suas possíveis causas e consequências. Ao se traçar as causas de tais crises, podese vislumbrar possíveis soluções para que possam ser previstas, minimizadas e muitas vezes contornadas. Nessa classificação que envolve a necessidade de referencial teórico, ganha destaque o conhecimento e a informação. Se dada crise eclode por falta de métodos de controle, caracteriza-se a necessidade de criação de métodos registrados em dada documentação para que não ocorra mais. Se existe a documentação e esta não é consultada, devem-se observar os motivos (um ajuste incremental). Por fim, se há a crise e não há teoria existente, é necessário desenvolvê-la e registrá-la em documentos (um ajuste radical, pois necessitará de novos conceitos e valores). Portanto, podemos afirmar que toda crise provocada por ações humanas terá sempre um viés informacional a ser analisado e diagnosticado através da validação de dada teoria existente, ou pela criação de uma teoria que possa criar métodos de diagnóstico e controle para identificar seus sintomas com antecedência ou, quando ocorre, ter procedimentos para minimizá-la. Gilpin e Murphy, por exemplo, reforçam essa visão, pois acreditam que, de uma maneira ou de outra, toda situação de crise envolve problemas de informação, conhecimento e 37 compreensão e todos envolvidos pela crise o são por uma questão de processamento de uma dada informação (GILPIN e MURPHY, 2008). Do ponto de vista das conseqüências, uma classificação de crise permitiria ainda a seguinte classificação para definir sua amplitude: tabela 10 - tipos de crises humanas (localizadas e globais) TIPOS DE CRISES HUMANAS (LOCALIZADAS E GLOBAIS) CATEGORIAS Pela abrangência TIPOS DE CRISES HUMANAS Localizadas - delimitadas a certo espaço Globais - com abrangência ampla AUTOR BOIN et al., 2008; HWANG e LICHTENTHAL, 2000 Crises localizadas ficariam restritas a determinada empresa ou região, ou mesmo país. Crises globais extrapolariam tais fronteiras, podendo atingir um conjunto de países, podendo ser considerada global, como será abordado ao se definir macrocrise. 2.1.4 A DEFINIÇÃO DE CRISE Podemos, a partir desse ponto, conceituar crise, no que se mostrou mais adequado. Entre todas as definições levantadas, tanto entre a comunidade científica e fora dela, como na Wikipédia, assim como no dicionário Houaiss, podemos definir e caracterizar crises da seguinte maneira: Crise caracteriza-se por um período raro e incomum, em dado tempo e espaço específico, fora de determinado padrão estabelecido. É de intensidade quase incontrolável, geradora de instabilidade e desorganização de determinada ordem vigente, em sua parte ou todo, servindo como um rompimento de dada estrutura social, que exige ação ou atitude emergencial, através de tomada de decisão, pois parte ou um todo passa a ser impedido de forma parcial ou completa de atuar da maneira padrão. Tal situação pode se agravar ou abrandar, conforme ações tomadas a posteriori, sendo esse momento um teste de resistência de determinada estrutura. Podemos identificar dois tipos de causas: as práticas (causadas pelo não uso de dado conhecimento existente na sociedade) ou teóricas (quando não há conhecimento e a causa é desconhecida), sendo esta última com paradigmas já desenvolvidos ou não desenvolvidos pela sociedade. E, por fim, podemos, a partir de sua abrangência, defini-la como crise local ou global. A definição acima procura ressaltar o aspecto da impossibilidade de continuidade total ou parcial de determinado processo de crise por algum motivo, o que exige uma ação 38 emergencial. Dessa maneira, procura-se atribuir maneiras objetivas para caracterizar que determinado momento pode ser considerado uma crise, já que existe objetivamente um processo que não consegue ter continuidade, obviamente, variando a análise de cada observador do que é a impossibilidade de continuidade. Uma crise, em última instância, portanto, denotaria que determinado processo corrente da sociedade não consegue mais ser executado da mesma maneira por vários motivos, a partir das práticas ou dos conceitos que temos sobre eles, necessitando a revisão de um ou de outro, conforme cada caso. Tal definição nos permite caracterizar bem uma crise, como um momento de passagem entre dois pontos, antes e depois de determinados fatos, que nos levam a mudança. Tal caracterização nos facilita a visualização da passagem da sociedade antes e depois da Internet e nos permite iniciar o trabalho da compreensão do fenômeno de macrocrises. 2.1.5 O CONCEITO MACROCRISE Nesta seção, a partir do conceito de crise, será apresentado o conceito de macrocrise, a partir do levantamento do conceito em outras ciências. A palavra macro é considerada por Houaiss como elemento de composição antepositivo para denotar um efeito comprido, longo, extenso, que se alia a outras palavras para denotar algo que tem um efeito maior do que outro, de forma comparativa, tais como macroclima : “clima de uma ampla região geográfica”; e macroevolução: “evolução em larga escala, que ocorre acima do nível das populações e que dá origem a novas espécies ou grupos taxonômicos mais altos” (HOUAISS, 2002). O uso mais corrente do antepositivo macro na sociedade, em função das buscas feitas no Google Acadêmico, é o de macroeconomia. O dicionário Houaiss define macroeconomia como “ramo da economia que estuda, em escala global e por meios estatísticos e matemáticos, os fenômenos econômicos e sua distribuição em uma estrutura ou em um setor, verificando as relações entre elementos como a renda nacional, o nível dos preços, a taxa de juros, o nível da poupança e dos investimentos, a balança de pagamentos e o nível de desemprego” (HOUAISS, 2002). Sandroni (autor do Novíssimo Dicionário de Economia) define assim o termo macroeconomia: Parte da ciência econômica que focaliza o comportamento do sistema econômico como um todo (...) Esse direcionamento fundamenta-se na ideia de que é possível explicar a operação da economia sem que haja necessidade de compreender o 39 comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participam. Ao detectar as forças gerais que impelem os agregados em determinada direção, a macroeconomia estabelece as chamadas forças de "ajuste" ou "equilíbrio", que explicam o comportamento do sistema econômico, caracterizando-o, de forma mecânica, como um sistema de igualdades de equilíbrio (SANDRONI, 1999). O conceito de macroeconomia, segundo Sandroni, se opõe ao da microeconomia: Ramo da ciência econômica que estuda o comportamento das unidades de consumo representadas pelos indivíduos e pelas famílias; as empresas e suas produções e custos (...) Em outras palavras, a microeconomia ocupa-se da forma como as unidades individuais que compõem a economia — consumidores privados, empresas comerciais, trabalhadores, latifundiários, produtores de bens ou serviços particulares etc. — agem e reagem umas sobre as outras (SANDRONI, 1999). A tabela a seguir, ilustra as referências de micro e macro encontradas no dicionário Houaiss: Tabela 11 - conceitos de micro e macro fora da CI CONCEITOS DE MICRO E MACRO FORA DA CI MEIO AMBIENTE Macroclima - clima de uma ampla região geográfica; Microclima - variação localmente restrita do padrão climático geral em decorrência de condições físicas específicas, como a topografia, a vegetação e o solo; NA QUÍMICA Macrociclo - composto orgânico de cadeia fechada que contém mais de dez átomos de carbono; Microciclo - composto orgânico de cadeia fechada que contém menos de dez átomos de carbono; NA FÍSICA Microcosmo - estudo ou descrição do corpo humano; Macrocosmo - tratado ou ciência do universo como um todo Fonte: HOUAISS, 2002. A partir das definições do dicionário Houaiss, nota-se a necessidade de separar eventos que têm abrangência geral daqueles mais localizados, com reduzido aspecto, geralmente menor ou local, na qualidade ou na quantidade, sendo delimitador para se trabalhar com grandes ou pequenos cenários, processos e focos de atuação. Na pesquisa feita no Google Acadêmico não se obteve nenhum resultado para ambas as palavras macrocrise e microcrise43 em português. Entretanto, o termo macro-crisis em inglês retornou com 197 resultados. Já a expressão micro-crisis, também em inglês, teve 38 resultados. A expressão macro-crisis, em inglês, é utilizada para se referir às crises globais, principalmente na Economia. Nela, o termo macrocrise não é incomum, apesar de se optar mais por crises globais. Em se analisando o termo macrocrises na Economia, encontra-se nos resultados de busca as seguintes situações: Para caracterizar um forte impacto: 43 Fizemos a pesquisa utilizando-se do antigo acordo ortográfico, com hífens, macro-crise e micro-crise. 40 Macrocrise vem em muitas variedades. Uma característica comum (caso contrário não seria uma macrocrise) é que durante sua duração o poder de compra médio cai drasticamente (KANBUR, 2010). Para caracterizar um aspecto mundial global: A crise do Leste Asiático, por outro lado, é uma súbita descontínua macrocrises, e seus efeitos potenciais sobre a desinstitucionalização de emprego para a vida pode oferecer resultados intrigantes (ALAKENT e LEE, 2010). Uma questão central para os políticos na tentativa de ajudar os pobres, através de uma macrocrise, é a melhor forma de canalizar os recursos escassos nesse momento de maior necessidade. Para a sustentabilidade do processo de liberalização, seria melhor deixar a proteção em vigor até que a macrocrise seja superada. (FALVEY e KIM, 1992). Para caracterizar a passagem de uma área específica para uma geral: O amplo leque da crise dos bônus transformou uma micro-crise que tinha uma abrangência isolada de algumas empresas em dificuldades em uma macrocrise, que ameaçou a integridade do mercado inteiro (HAHN, 2009). O retorno acionário estimado calculado a partir do modelo multifator é concebido como um link para o modelo de micro-crise. Em outras palavras, a empresa retorno estimado calculado a partir da multifator (ou macroeconômico fatores) representa o modelo de efeitos macro incorporada na micro-crise , conforme o modelo de previsão (NITTAYAGASETWAT e TIRAPAT, 1999). O conceito macro em Economia, como se vê, permite uma visão de um ambiente como um todo, através da explicação de dada operação sem que haja necessidade de compreender o comportamento de cada indivíduo ou empresa que dela participam. Ao detectar as forças gerais que impelem os agregados em determinada direção, estabelece forças de "ajuste" ou "equilíbrio" que explicam o comportamento do sistema, caracterizando-o, de forma mecânica, como um sistema de igualdades de equilíbrio (SANDRONI, 1999). Ainda na área de Economia encontramos o contraponto do que seria micro, ou o comportamento das unidades representadas pelos indivíduos e pelas famílias; as empresas, das unidades individuais que reagem umas sobre as outras (SANDRONI, 1999). Se analisarmos, sob esse ponto de vista, estudos sobre a crise global ecológica, pesquisadores do meio ambiente procuram ter essa visão planetária geral. Como exemplo, a visão de LEFF sobre crise civilizatória: A crise ambiental tem repercutido nos estilos de vida e de consumo, na ética e na cultura, na dinâmica política e social e na organização do espaço em escala mundial. (...) é uma ―crise civilizatória‖, a qual se apresenta como um limite no real que significa e reorienta o curso da história. A crise ambiental se constitui na crise do pensamento ocidental, da metafísica que fez a disjunção entre ―o ser e o ente‖, que produziu um mundo fragmentado e coisificado no controle e domínio da natureza. (...) Nesse contexto, os problemas ambientais ultrapassaram as fronteiras nacionais e uma nova categoria de questões ambientais emergiu, ou seja, questões cujas conseqüências são globais e os autores envolvidos transcendem uma única região ou país. Dentre as principais, hoje se destacam: a destruição da camada de 41 ozônio, a mudança climática global, o aquecimento global, a poluição dos ambientes marítimos, a destruição das florestas e a ameaça à biodiversidade (MUNIZ, 2009). Há nas diferentes abordagens a necessidade de apontar o inter-relacionamento entre crises localizadas e crises globais, como, por exemplo, na abordagem das crises ecológicas: “o que é absolutamente novo é que as crises locais e regionais estão se tornando sempre mais agudas pela influência de crises globais” (GIULIANI, 1999). Define-se nesse campo de estudo crises locais como inseridas em uma dada sociedade institucionalmente organizada e outras crises cujo efeito se faz sentir em todo o mundo (OCDE, 2001). Ao se estudar macrocrises, portanto, aproveitando-se da sugestão da Economia e da Ecologia, visa-se analisar crises que seriam provocadas por tendências gerais, que permitiriam ter uma visão mais ampla de um dado processo e tendências passadas e futuras. Pode-se perceber na abordagem da crise global ambiental as seguintes características: A visão de atores coletivos, tal como o conjunto da civilização; Causas globais: a crise de pensamento ocidental; A abrangência além de fronteiras nacionais e regionais; A visão histórica como facilitadora para a compreensão da crise; E consequências que repercutem em todo o planeta: “destruição da camada de ozônio, a mudança climática global, o aquecimento global, a poluição dos ambientes marítimos, a destruição das florestas e a ameaça à biodiversidade”. (MUNIZ, 2009). A macrocrise denotaria na Ecologia, como na Economia, comportamento que atingiria de forma isolada unidades representadas por indivíduos, seus grupos ou empresas. Outros autores, tais como Pereira e Antunes, preferem denominar como crise global, ao invés de macrocrise: A crise bancária que teve início em 2007 e tornou-se uma crise global em 2008 provavelmente representará uma virada na história do capitalismo (BRESSERPEREIRA, 2010). Premonitória, podemos adicionar que, em plena eclosão da mais recente crise global, esse quadro se amplia ainda mais e nos faz presenciar uma corrosão ainda maior do trabalho contratado e regulamentado, que foi dominante ao longo do século XX, de matriz tayloriano-fordista (ANTUNES, 2010). 42 Entretanto, o termo crise global é mais utilizado do que o termo macrocrise, como se vê no resultado do Google Acadêmico, em português, que teve como resposta 1650 resultados44, contra nenhum de macrocrise (ou macro-crise). Assim, a ideia de se definir o conceito de crise global pressupõe que todo o globo seria atingido, incluindo todos os países. Macrocrise, ao invés de crise global, como prefere a Economia, pode sugerir que há uma crise de grande relevância em curso, porém abre espaço para que não necessariamente atinja todo o planeta, podendo ser macro, porém não global, já que dificilmente todos os países, regiões e habitantes seriam afetados por ela, ao mesmo tempo. Por exemplo, uma crise financeira pode ter atingido vários países, caracterizando-se, assim, como uma macrocrise. Mas se deixou de atingir a vários deles, não se pode dizer que foi uma crise global; sendo assim, o termo macro tornaria o conceito mais preciso. Outra vantagem do uso do conceito macro e micro é permitir caracterizar melhor efeitos maiores e menores, independente de se apontar localizações específicas. São fenômenos de maior ou menor escala, e as expressões macro e micro seriam mais expressivas do que global ou local. Geralmente uma crise atinge pessoas de regiões diferentes, de forma diferente. A ideia de se trabalhar com macrocrise deixaria, assim, em aberto, necessitando de um detalhamento de sua abrangência, o que permite mais precisão para se trabalhar com o dado conceito. Na Ciência da Informação o termo macrocrise não apresenta resultados no Google Acadêmico. Opta-se na área pelo uso de crise global. O resultado obtido pela combinação de "crise global" + "ciência da informação" possibilitou, em português, apenas 17 resultados. Em inglês, o termo "global crisis" + "information science" retornou 125 resultados45. Podemos caracterizar seu uso, por exemplo, com Albagli, que ao descrever os desafios para o Século XXI utiliza a expressão: Vivemos hoje um processo de transformação ou crise global, o qual pode ser indicativo da emergência de uma nova lógica civilizatória, baseada em novos valores, novos modelos societários e novos padrões de acumulação. O sentido da mudança permanece, até o presente, em grande medida incerto e imprevisível ( ALBAGLI, 1995). Ou ainda com Warner: Biblioteca e estudos de informação (LIS) estão dando sinais de estar em crise como uma disciplina. As transformações institucionais tendem a ser percebidos em termos locais, mas pode ser mais convincente, considerados como produtos de uma crise quase global, mediado pela evolução local (WARNER, 2001). 44 45 Pesquisa feita em novembro de 2010. Pesquisa feita em novembro de 2010. 43 2.1.6 A DEFINIÇÃO DE MACROCRISE A PARTIR DO EXPOSTO, AO SE PENSAR em macrocrises estaríamos definindo que são: Crises com amplas consequências para a sociedade, atingindo parte da população mundial ou parte de suas regiões, através da reação de um coletivo de indivíduos. Ao detectar as forças gerais que impelem os fatores da crise em determinada direção, há uma fase das chamadas forças de "ajuste" ou "equilíbrio", que explicam o comportamento do sistema como um todo. Assim, nesta crise não há tanto ações individuais, mas movimentos coletivos. Da mesma maneira que em todas as crises, há a macrocrise prática, cuja causa é conhecida, e a macrocrise teórica, não conhecida e que demanda estudos teóricos. Assim, do mesmo modo, ao se pensar em microcrises definimos que são como: Crises humanas com consequências restritas para a sociedade, atingindo parcialmente habitantes, organizações ou algumas de suas regiões, através de uma reação de um conjunto pequeno de indivíduos. Nestas crises há a possibilidade de ações individuais para realizar os ajustes. Da mesma maneira que em todas as crises, há microcrises práticas, cujas causas são conhecidas, e macrocrises teóricas, cujas causas não são conhecidas e que demandam estudos teóricos. O conceito de macrocrise nos fornece a base para introduzir o conceito de informação e, a partir dele, definir o que seriam macrocrises da informação, conforme será abordado na próxima seção. 44 2.2 O CONCEITO INFORMAÇÃO Nesta seção, será apresentado o conceito de informação, a partir do levantamento do conceito em fontes não especializadas e fora da CI. 2.2.1 O CONCEITO INFORMAÇÃO NAS FONTES NÃO ESPECIALIZADAS Nesta subseção, serão apresentados o conceito de informação, a partir do levantamento foi feito no Dicionário Houaiss e na Wikipédia. O Dicionário Houaiss apresenta a definição de informação em oito tópicos divididos através de rubricas específicas, que denotam diversas acepções do termo: Informação: ato ou efeito de informar (-se) 1 comunicação ou recepção de um conhecimento ou juízo 2 o conhecimento obtido por meio de investigação ou instrução; esclarecimento, explicação, indicação, comunicação, informe 3 acontecimento ou fato de interesse geral tornado do conhecimento público ao ser divulgado pelos meios de comunicação; notícia 4 em âmbito burocrático, esclarecimento processual dado ger. por funcionário de apoio à autoridade competente na solução ou despacho de requerimento, comunicação etc. 5 informe escrito; relatório 6 conjunto de atividades que têm por objetivo a coleta, o tratamento e a difusão de notícias junto ao público Ex.: liberdade de i. 7 conjunto de conhecimentos reunidos sobre determinado assunto Ex.: a i. existente sobre a nova doença é insuficiente 8 elemento ou sistema capaz de ser transmitido por um sinal ou combinação de sinais pertencentes a um repertório finito A seguir, apresenta-se a tabela 8 sobre os conceitos de Informação a partir do Houaiss: Tabela 12 - verbetes do dicionário Houaiss sobre informação VERBETES DO DICIONÁRIO HOUAISS SOBRE INFORMAÇÃO COMÉRCIO Opinião ou parecer que contém dados sobre uma pessoa física ou sobre a evolução de uma pessoa jurídica Ex.: revelaram-se boas as i. sobre o fornecedor COMUNICAÇÃO Quantidade numérica que mede a incerteza do resultado de um experimento a realizar-se; medida quantitativa do conteúdo da informação INFORMÁTICA Mensagem suscetível de ser tratada pelos meios informáticos; conteúdo dessa mensagem; interpretação ou significado dos dados; produto do processamento de dados TERMO MILITAR. REGIONALISMO: BRASIL Conjunto de informes (documentos ou observações) já analisados, integrados e interpretados, que habilita um comandante a tomar decisões seguras relativas a uma linha de ação e à conduta da manobra DIREITO (FALIMENTAR/ ADMINISTRATIVO/ PROCESSUAL) Fase inicial do processo falimentar onde são apurados os bens, direitos e obrigações do falido; ato pelo qual órgão da administração pública faz esclarecimentos sobre o processo administrativo; conjunto de dados fornecidos pela autoridade impetrada no habeas corpus sobre o fato que se quer qualificar como abusivo GARIMPO Sinal de possível existência de diamantes nas adjacências, dado pela presença de satélites ('minerais') 45 Fonte: HOUAISS, 2002. Em síntese, a partir do Dicionário Houaiss, teríamos a seguinte definição de informação: ato ou efeito de informar (-se), através de comunicação ou recepção de um conhecimento ou juízo, obtido por meio de investigação ou instrução; esclarecimento, explicação, indicação, comunicação, informe, podendo ser um fato ou acontecimento de interesse geral tornado do conhecimento público ao ser divulgado pelos meios de comunicação, que têm por objetivo a coleta, o tratamento e a difusão de notícias junto ao público incluindo notícias, ou através de informe escrito ou relatório. No âmbito burocrático, é o esclarecimento processual dado geralmente por funcionário de apoio à autoridade competente na solução ou despacho de requerimento, comunicação. Esse ato se reflete em um conjunto de conhecimentos reunidos sobre determinado assunto, através de elemento ou sistema capaz de ser transmitido por um sinal ou combinação de sinais pertencentes a um repertório finito. Para complementar a visão não especializada, optamos por levantar o conceito de Informação na Wikipédia para se analisar como o conceito é apresentado na Internet. Naquele site, podem-se obter as seguintes definições46 (tabela 9). Tabela 13 - definições de informação em diferentes idiomas na Wikipédia DEFINIÇÕES DE INFORMAÇÃO EM DIFERENTES IDIOMAS NA WIKIPÉDIA IDIOMA DEFINIÇÃO DE INFORMAÇÃO Português47 Resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe. Espanhol48 Em geral, é um conjunto organizado de dados tratados que constituem uma mensagem que muda o estado de conhecimento do assunto ou o sistema que recebe a mensagem. Do ponto de vista da teoria geral dos sistemas, qualquer sinal de entrada que pode alterar o estado de um sistema é peça de informação. Inglês49 No seu sentido mais restrito técnica, é uma seqüência ordenada de símbolos. Como conceito, entretanto, a informação tem muitos significados. Além disso, o conceito de informação está intimamente relacionado às noções de restrição, comunicação, controle, formulário, instrução, conhecimento, significado, estímulo, padrão, percepção e representação. Alemão50 Do Latim Informare "forma", "uma forma, forma, fornecer informações", é um termo usado em muitas áreas da vida, incluindo ciências naturais, ciências humanas, tecnologia e a escala da ação humana. Francês51 Conceito com vários significados. Está intimamente ligada às noções de restrição, comunicação, controle, dados, forma, instrução, conhecimento, ou seja, a percepção e a representação. A informação refere-se a comunicar a mensagem e os símbolos utilizados para escrevê-lo usando um código de sinais de transmitir significado, tais como letras do alfabeto, de números de uma base de dados ideogramas ou pictogramas. Etimologicamente, a informação é o que dá forma ao espírito. Ela vem da Informare, verbo latino que 46 47 48 49 50 51 Pesquisa feita em 07/11/2010. http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal http://es.wikipedia.org/wiki/ http://en.wikipedia.org/wiki/ http://de.wikipedia.org/wiki/ http://fr.wikipedia.org/wiki/ 46 significa "moldar" ou "para formar uma ideia”. Podemos, realizando uma síntese da definição da Wikipédia em vários idiomas, constatar que existe um conceito sobre informação, que seria o seguinte: Informação é um conceito com vários significados. O termo é utilizado em várias áreas do conhecimento, ligado ao ato humano de se comunicar aprender e conhecer, através da percepção, a partir de dada representação, dados, símbolos, códigos, tais como letras do alfabeto, números ideogramas ou pictogramas. Do ponto de vista da formação da palavra (etimologicamente), a informação é o que dá forma ao espírito, do verbo latino, Informare, que significa "moldar", formar uma ideia, do Latin "forma", que possibilite uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe. Ao realizar a síntese entre o Dicionário e a Wikipédia, teríamos a seguinte definição: informação é o ato ou efeito de informar (-se), através do ato humano de comunicar, aprender e conhecer, através de dada percepção, através da representação, dados, símbolos, códigos, tais como letras do alfabeto, números ideogramas ou pictogramas. A informação é obtida por meio de investigação ou instrução; esclarecimento, explicação, indicação, comunicação, informe, podendo ser um fato ou acontecimento de interesse geral tornado do conhecimento público ao ser divulgado pelos meios de comunicação, que têm por objetivo a coleta, o tratamento e a difusão de notícias junto ao público incluindo notícias, ou através de informe escrito ou relatório. No âmbito burocrático, é o esclarecimento processual dado geralmente por funcionário de apoio à autoridade competente na solução ou despacho de requerimento, comunicação. Esse ato se reflete em um conjunto de conhecimentos reunidos sobre determinado assunto. É, entretanto, um conceito que permite vários significados e é utilizado em várias áreas do conhecimento. Do ponto de vista da formação da palavra (etimologicamente) a informação é o que dá forma ao espírito, do verbo latino, Informare, que significa "moldar", formar uma ideia, do Latin "forma", que possibilite uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe. O levantamento e a junção dos conceitos nos parecem úteis para iniciar uma comparação com outras ciências e, depois, com a CI a fim de podermos consolidar um conceito final para detalhar as macrocrises da informação. 47 2.2.2 O CONCEITO DE INFORMAÇÃO NAS PUBLICAÇÕES ESPECIALIZADAS Nesta subseção será apresentado o conceito de informação através do levantamento do termo em outras ciências, de forma a compor o conceito com mais elementos, para posteriormente compará-lo com conceitos não problematizados pela Ciência. É comum entre historiadores e filósofos a analise do papel da informação e do conhecimento por meio da comparação entre a espécie humana e as outras espécies. Podemos, por exemplo, afirmar que os seres humanos vivem sobre a Terra e os animais em nichos ecológicos. O que distingue o humano dos animais é a nossa capacidade de nos comunicar, informar e aprender com nossos contemporâneos e antepassados (LÉVY, 1999). Diferente dos animais, que contam basicamente com o instinto, o ser humano é dependente de suas mãos e cérebro, que operam encapsulados dentro de ambientes de conhecimento, desde que o homem desceu das árvores e saiu das cavernas, há mais de 200 mil anos52. Sob esse ponto de vista, o conhecimento vem substituir o que não temos, tais como garras, patas, caudas, guelras, asas ou teias. Somos seres fundamentalmente culturais. Formamos uma grande rede de relações para atender nossas necessidades, das mais básicas, como comer e beber, até as mais sofisticadas, de lermos ou criarmos poemas para nosso autoreconhecimento (GLEISER, 2010). Criamos a linguagem para nos comunicarmos e expandimos nosso espaço no planeta, viabilizados por ambientes de informação e comunicação cada vez mais sofisticados. Gleiser sugere que a linguagem nasceu, basicamente, tanto para facilitar a sobrevivência dos grupos quanto para imitar os sons ouvidos pelo mundo; de cachoeiras e trovões aos pássaros e os temidos tigres (GLEISER, 2009). O conhecimento e a informação vêm, portanto, ajudar-nos a suprir nossas necessidades humanas, tema, aliás, de estudo do psicólogo Abraham Maslow (1908-1970), sobre o qual Barreto detalhou como sendo nossas necessidades básicas: alimentação, habitação, vestuário, saúde, educação, estando no topo da pirâmide as de auto-realização (BARRETO, 1994). Podemos dizer, assim, que se a humanidade construiu outros tempos, mais rápidos e violentos que os das plantas e animais, é porque dispõe do extraordinário instrumento de memória e propagação das representações que é a linguagem (LÉVY, 1993). 52 http://poeticacoletiva.blogspot.com/2009/08/homo-artisticus-marcelo-gleiser.html 48 O corpo de conhecimento do grupo sempre foi e será elemento fundamental de unidade e personalidade, sendo a transmissão deste capital intelectual condição necessária para sobrevivência material e social da espécie (LEROI-GOURHAN, 1987). Giramos, assim, no interior de um triângulo mão-linguagem-córtex sensitivo motor entre o macaco e homem, em busca de uma saída que não pudesse ser partilhada com o resto do mundo, zoológica ou mecanicamente animado (LEROI-GOURHAN, 1965). Nesse sentido, conseguimos cristalizar uma infinidade de informações nos objetos e em suas relações; pedras, madeira, terra, construtos de fibras ou ossos e metais retêm informações em nome dos humanos e de sua sobrevivência (LÉVY, 1993). O equipamento externo se ajusta ao nosso corpo, a um número quase infinito de operações, mas tem como característica um potencial, um “pode ser”, e não um “é”, através de um processo constante de fazer e aprender a usar, criar novas formas e utilizar novas maneiras o que foi criado (CHILDE, 1962). As técnicas são imaginadas, fabricadas e reinterpretadas pelos homens durante seu uso, da mesma forma que é também o próprio uso intensivo de ferramentas que constitui a humanidade enquanto tal, junto com a linguagem e as instituições complexas (LÉVY, 1999). As tecnologias intelectuais são, assim, apenas condições de possibilidade, dispositivos suscetíveis de serem interpretados, desviados ou negligenciados. Portanto, podemos afirmar que: “o estribo condicionou efetivamente toda a cavalaria e, indiretamente, todo o feudalismo, mas não os determinou” (LÉVY, 1993). Essa nossa habilidade adquirida, ao longo de séculos, de produzir ferramentas foi conquistada pela observação, recordação e experiência: Pode parecer um exagero, mas é bem certo dizer que qualquer instrumento é uma materialização da ciência, pois representa a aplicação prática de experiências lembradas, comparadas e reunidas, tal como as sistematizadas e sumarizadas nas fórmulas, descrições e prescrições científicas (CHILDE, 1962). Somos, portanto, seres que herdam tradições sociais, que são formadoras de uma experiência coletiva acumulada pelo grupo – que, por sua vez, aprendeu com seus pais. A experiência humana pode ser participada através da linguagem e seus desdobramentos, o que nos emancipa da servidão do concreto (CHILDE, 1962). Nossa adaptabilidade de homo sapiens está para sempre condicionada pelo meio social no qual vivemos e pensamos (LEROIGOURHAN, 1965). Assim, saber sempre foi poder ou, como afirma de forma curiosa Man sobre os livros impressos na Idade Média: “Quem sabia ler ficou com as melhores Terras” (MAN, 2002). 49 Castells defende que a informação e o conhecimento sempre foram elementos-chave ao longo da história, poder e riqueza na sociedade (CASTELLS, 2004). Assim, o corpo de conhecimento de grupo é peça fundamental para a nossa unidade, personalidade e para a transmissão deste capital intelectual, representando condição necessária para a sobrevivência material e social (LEROI-GOURHAN, 1965). Ou, de forma mais enfática: A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos depende de sua capacidade de navegar pelo espaço do saber (LÉVY, 1998). É natural que as sociedades mais interconectadas, mais rápidas, mais livres, mais inventivas e, logo, mais poderosas explorem o futuro antes que as outras e, fazendo isso, elas acentuam as distâncias que as separam das demais (LÉVY, 2001). É bom recordarmos, por exemplo, que os homens de Neandertal, bem adaptados às maravilhosas caças da tundra glacial, extinguiram-se quando o clima umidificou-se e reaqueceu-se com excessiva rapidez. A despeito de sua inteligência, esses homens emitiam grunhidos ou eram mudos, não tinham linguagem para se comunicar entre si. Desse modo, as soluções encontradas aqui e ali para seus novos problemas não puderam difundir-se. Permaneceram dispersos diante da transformação do mundo à sua volta. Não se transformaram com ele (LÉVY, 1994). Portanto, segundo estes autores a informação e o conhecimento são processos fundamentais para que o ser humano atenda as suas necessidades materiais e sociais (das mais básicas às mais sofisticadas) e possa sobreviver sobre a terra, sendo elemento-chave para tomada de decisões, para obtenção e manutenção do poder e da riqueza. Elemento, assim, de prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos. Se pudermos depreender a visão da Informação em outras ciências, esta surge como um elemento vital para sobrevivência da espécie humana e uma das diferenciações principais entre o ser humano e as outras espécies. A informação é vista como um elemento vital para suprir necessidades básicas e um fator principal para que possamos superar um conjunto de obstáculos da natureza. Passa a ser um elemento vital de unidade e personalidade da espécie humana, um fator diferencial entre as nações. Comparado aos conceitos não especializados levantados na subseção anterior, pode se afirmar que o aprofundamento do termo em outras ciências se enriquece, ao se enfatizar a importância da informação para a espécie humana, sendo muito mais do que um simples ato de comunicação. Destaca-se, assim, a relevância da informação para a sobrevivência da espécie e para a geração de valor em uma dada sociedade. 50 2.2.3 O CONCEITO DA INFORMAÇÃO NA CI Nesta subseção é apresentado o conceito de informação através do levantamento do termo na CI, de forma a compor o mesmo com mais elementos, compará-los com os conceitos não especializados e em ciências fora da CI para definirmos conceito final. Se existe um consenso na Ciência da Informação é de que não o há na definição do que é informação, por mais que estudantes e os pesquisadores da área se sintam frustrados com essa realidade (MATHEUS, 2005). A indefinição não se deve à falta de esforços, pois já existem registrados mais de 400 conceitos sobre o fenômeno (BELKIN e ROBERTSON, 1976). A falta de consenso demarca a complexidade do termo, vital para a humanidade. Assim, o que indica consenso nesse amplo dissenso: informação é um termo polissêmico, pois permite múltiplos significados (ARAÚJO, 1995); existem muitas repostas possíveis, dependendo de quem responde (MATHEUS, 2005); deve ser utilizada cada definição, conforme cada problema estudado (CAPURRO e HJORLAND, 2007); o termo deve ser usado para o bem do esclarecimento teórico, ou não sê-lo (CAPURRO e HJORLAND, 2007). O que se apreende é que a Informação, por ser uma ação e um recurso básico da espécie humana, está envolvido em todas as atividades sociais. Por isso, é um conceito polissêmico e deve ser utilizado para resolver determinados problemas da sociedade, procurando descrevê-los e criar contornos a partir do problema pesquisado; no caso dessa tese, apresentando-o na sua relevância maior e como um fator fundamental para a sobrevivência humana. Assim, coletamos e apresentamos na tabela 10, a seguir, algumas definições consideradas úteis: 51 Tabela 14 - definições da ci sobre informação DEFINIÇÕES DA CI SOBRE INFORMAÇÃO DEFINIÇÃO AUTOR Informação é o que é capaz de transformar estrutura (imagem que um organismo tem de si mesmo e do mundo, é construído um espectro de informação com uma tipologia de complexidade crescente). BELKIN e ROBERTSON, 1976 Informação é qualificada como instrumento modificador da consciência do homem. BARRETO, 2002 Informação é conhecimento (para) ação. FREIRE, 1995 A informação é o sangue da ciência. Sem informação, a ciência não pode se desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e o conhecimento não existiria. SANTOS, ALCÂNTARAELIEL e ELIEL, 2006 Informação é alimento, ar aí compreendido, são as condições necessárias à sobrevivência do ser humano. ARAÚJO, 1995 A informação é considerada como o ingrediente básico do qual dependem os processos de decisão. CAUTELA e POLIONI 1982 Ao se analisar os aspectos críticos do negócio tornou-se de primordial importância que a informação é fundamental para tomar decisões que permitam a realização dos projetos como previsto. DANIEL, 1961 As definições acima têm em comum a ideia de que a informação não tem fim nela mesma, mas é elemento vital, “sangue ou ar”, para o funcionamento “do corpo ou do pulmão” da humanidade. Tal visão procura combater a ideia de que é possível avaliar a informação como fim; esta só passa a ter sentido enquanto viabilizadora da vida para possibilitar a sobrevivência da espécie e suprir suas demandas e necessidades. Há, portanto, relação entre produzir, sobreviver e existir e os ambientes informacionais que nos circundam. Quanto mais sofisticadas forem as necessidades humanas, mais os ambientes informacionais deverão acompanhar esse processo. Esse fato ocorre na complexidade e vem, ao longo dos últimos séculos, transformando as organizações, responsáveis, em última instância, por produzir e utilizar o conhecimento para solucionar os problemas humanos, através da informação. Tal como a proposição de que informação é o que é capaz de transformar estrutura, acrescentando um cunho mais ferramental e pragmático ao conceito, de que a “informação além de ser tudo que é capaz de transformar estruturas, é ferramenta e insumo principal para que o ser humano desenvolva tecnologias e metodologias necessárias para a sua sobrevivência no planeta” (BELKIN e ROBERTSON, 1976). Desde a luta pelo fogo até as atuais empresas modernas, quem lidava ou lida melhor com a informação e dela sabe tirar proveito consegue levar vantagem, através de uma melhor tomada de decisões, com inteligência, criatividade e, ocasionalmente, esperteza (CHOO, 2003). Assim, se a informação é o insumo básico para nossa sobrevivência, a sua utilização para que isso seja feito ocorre, principalmente, no âmbito das organizações produtivas, através 52 de tecnologias e metodologias, utilizadas principalmente por um dado setor produtivo, com reflexos em toda a sociedade: As pessoas das diferentes unidades de trabalho que compõem uma organização têm necessidade de dados, informação e conhecimento para desenvolverem suas tarefas cotidianas, bem como para traçarem estratégias de atuação. Portanto, dados, informação e conhecimento são insumos básicos para que essas atividades obtenham resultados satisfatórios ou excelentes (VALENTIM, CERVANTES et al., 2003) Nestes ambientes produtivos, independente do sistema econômico, a humanidade deposita a esperança de que se resolvam seus problemas de produção de todos os tipos. Quando nos referimos, assim, ao conjunto necessário de informação para a sobrevivência humana, estamos nos referindo basicamente, em última instância, aos instrumentos para gerir a informação organizacional, que se aproxima do conceito adotado pelos estudiosos da Gestão da Informação, tal como Woodman. Este conceito visa: Garantir um conjunto de capacidades próprias mobilizadas por uma entidade lucrativa destinadas a assegurar o acesso, capturar, interpretar e preparar conhecimento e informação com alto valor agregado para apoiar a tomada de decisão requerida pelo desenho e execução de sua estratégia competitiva (VALENTIN, 2002). E, por fim, com as práticas de gestão de conhecimento que tentariam alcançar: A criação, a aquisição e o compartilhamento e utilização de ativos de conhecimento, para estabelecer fluxos que garantam a informação necessária no tempo e formato adequados, a fim de auxiliar na geração de ideias, solução de problemas e tomada de decisão" (MACHADO NETO, 1998) de tal forma a criar valor alavancando os ativos intangíveis sendo ferramental que visa utilizar e combinar as várias fontes e tipos de conhecimento organizacional para desenvolver competências específicas e capacidade inovadora... (TERRA, 2001). Caracteriza-se, assim, uma possível evolução gradual do conceito de informação dentro da CI. De uma visão mais estreita, prática e voltada aos suportes da informação como registro, suporte ou como entidade (como fim em si mesmo), para a opção mais adequada à analise dos problemas em curso, de informação como processo (meio para se chegar a determinado fim). Ou, melhor detalhado: A separação fundamental entre os diversos conceitos talvez seja oriunda da distinção entre a informação vista como coisa ou objeto (por exemplo, no caso dos bits e da teoria matemática da comunicação, de Shannon (1948)) e a informação entendida como um conceito subjetivo, cujo significado, ou conteúdo informacional, depende da interpretação e do contexto (CAPURRO e HJORLAND, 2007). Os autores lembram que a questão Para que serve a informação? leva a outra: Para que serve a própria CI? (MATHEUS, 2005). Essa realidade é lembrada por Araújo, que defende um estudo mais voltado para o processo do que para os objetos: 53 Não se torna premente mudar o foco de suas atenções para a informação e não para seus simulacros, muitas vezes distorcidos e mutilados?‖ (...) É fundamental que a ciência da informação aproxime-se do fenômeno que pretende estudar o encontro da mensagem com o receptor, ou seja, a informação, seu uso, implicações e conseqüências. (ARAÚJO, 1995). Esta ideia da informação como processo determina, segundo Barreto (BARRETO, 2002): o afastamento da CI de suas origens mais ligadas à documentação e à biblioteconomia, pois estas objetivam, essencialmente, o fluxo interno ao seu sistema de informação, que abrange seleção, aquisição, catalogação, classificação, indexação, armazenamento, recuperação e disponibilidade para uso de itens de informação; recoloca-a como ciência preocupada com a condição da informação, elemento organizador, que gere harmonia e referencia o humano a seu destino; desde antes de seu nascimento, com sua identidade genética, e durante sua existência pela capacidade em relacionar suas memórias do passado com uma perspectiva de futuro e assim estabelecer diretrizes para realizar sua aventura individual no espaço e no tempo. Pode-se perceber, ao se ler autores e observar a prática de seus profissionais, que quanto mais se afastou dessa relação umbilical e tratou informação como um elemento isolado do contexto. Barreto defende que as atuais mudanças oriundas da Internet tornam necessário um novo tipo de ferramental para o estudo da realidade, impulsionados por dois motivos básicos (BARRETO, 1997): há um modelo teórico em mudança, no qual a relação entre a informação e o conhecimento é privilegiada; tecnologias intensas em inovação modificam, também, as condições de produção, distribuição e uso da informação, com novos reposicionamentos que afetam, como resultado, todos os atores do setor de informação, assim como os seus relacionamentos. O autor defende a necessidade de ampliar a visão do campo de ação da Ciência da Informação, mudando o foco central dos Sistemas de Recuperação de Informação (Information Retrieval System), já que os sistemas de recuperação da informação, de certa forma, “obedecem a um rígido formalismo técnico e reducionista, que serviu aos propósitos de gerenciamento e controle da informação em determinada situação” (BARRETO, 1997). 54 Nessa perspectiva, o objetivo da informação e de suas unidades gestoras passa a ser o de promover o desenvolvimento do indivíduo de seu grupo e da sociedade através dos sistemas de produção do conhecimento (BARRETO, 2007). O conhecimento, portanto, pode ser visto como toda alteração provocada no estado cognitivo do indivíduo, isto é, no seu acervo mental de saber acumulado, proveniente de uma interação positiva com uma estrutura de informação. É também desenvolvimento, de uma forma ampla e geral, como um acréscimo de bem estar; um novo estágio de qualidade de convivência que seria alcançado através da informação (BARRETO, 1997). Assim, conceito de informação como processo recoloca, por um lado, a informação como uma atividade vital para a transformação humana, com capacidade ilimitada de transformar culturalmente cada ser, a sociedade e a própria humanidade como um todo (ARAÚJO, 1995). Passa a ser elemento modificador da consciência, ao ser adequadamente apropriada, produzindo conhecimento e modificando o estoque mental de saber do indivíduo; traz benefícios para seu desenvolvimento e para o bem-estar da sociedade em que vive (BARRETO, 1997). Os dois termos, informação e conhecimento, se integram em um mesmo processo como fatores indissociáveis e indivisíveis, tal como definiu Davenport: “o conhecimento é a informação em ação” (DAVENPORT, 1998). Ou como sintetizaram Wersig e Nevelling: “informação é conhecimento (para) ação” (WERSIG e NEVELLING, 1975). Portanto, não seria incorreto afirmar que é de uso comum e aceito na CI a conceituação de informação como insumo, como condição básica para o desenvolvimento econômico juntamente com o capital, o trabalho e a matéria-prima (CAPURRO e HJORLAND, 2007). Reforça-se, assim, a ideia da informação e de conhecimento unidos como elementos de ação cognitiva vital para a sobrevivência, como processos constituintes da vida. Ao se referir à Ciência, Le Coadic usa a metáfora do corpo ao sugerir que informação é o sangue da ciência. “Sem informação, a ciência não pode se desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e o conhecimento não existiria” (LE COADIC, 2004). Ou ainda Sagan, ao defender que “informação e alimento [ar, aí compreendido] são as condições necessárias à sobrevivência do ser humano” (SAGAN, 1977). A informação, na verdade, é indispensável para toda e qualquer atividade humana, sendo, cada vez mais, vista como uma força importante e poderosa a ponto de dar origem a expressões como: sociedade da informação, explosão da informação, era da informação, indústria da informação, revolução da informação, sociedade póssociedade da informação. (ARAÚJO, 1995) 55 A nosso entender, a informação está para o cérebro assim como o ar para os pulmões e o sangue para o coração. Sem ela, teríamos menos chances de sobreviver no passado e menos qualidade no presente e futuro. No The Oxford English Dictionary (1989) destacam-se duas funções nas quais o termo informação é utilizado: o ato de moldar a mente e o ato de comunicar conhecimento. O conhecimento, portanto, pode ser visto como toda alteração provocada no estado cognitivo do indivíduo, isto é, no seu acervo mental de saber acumulado, proveniente de uma interação positiva com uma estrutura de informação, o que nos levaria a concepção de ideias de informação como processo e um meio para se atingir determinado fim. “É também desenvolvimento, de uma forma ampla e geral, como um acréscimo de bem estar; um novo estágio de qualidade de convivência que seria alcançado através da informação” (BARRETO, 1997). Buckland e Liu sintetizam as diferentes vertentes em dois aspectos (BUCKLAND e LIU, 1995): A informação como entidade seria o “molde da mente”, aquilo que se consolida como o conhecimento acumulado, mas intangível, que quando registrado se tangibiliza como coisa e é transformado em dados, documentos, conhecimento registrado. A informação como processo seria o “ato de comunicar conhecimento”, aquilo que se vai se consolidando com o conhecimento acumulado na mente, “tornar-se informado”. Também intangível, se tangibiliza através de processos, tal como o processamento de informação, de dados, informação em fluxo. Na verdade, a informação pode ser vista como elemento de sobrevivência e de melhoria da qualidade de vida da humanidade, podendo-se resumir da seguinte maneira: Informação como registro - o conhecimento acumulado no sentido mais restrito, em dado registro em suportes dos mais diversos (ARAÚJO, 1995). Neste caso, teríamos um livro, uma biblioteca ou um dicionário, seriam informações registradas, em forma de suporte, tendo uma definição mais restritiva. Informação como processo - no sentido geral, na alteração cognitiva humana que muda ou transforma tal estrutura. Nesse contexto, a informação só ocorre no interior de organismos – desde o nível hereditário ao do conhecimento 56 formalizado (ARAÚJO, 1995). Desse ponto de vista, a informação como processo se utiliza dos registros acumulados em suportes para realizar o seu processo. Dessa forma podemos analisar a informação como peça fundamental para a humanidade viver melhor e poder enfrentar diferentes crises. Assim, temos os elementos necessários para introduzir na próxima subseção o conceito de informação. 2.2.4 O CONCEITO DA INFORMAÇÃO Nesta subseção, é apresentado o conceito de informação, através do levantamento, tanto de conceitos não especializados, bem como a CI. Como afirma Bell, determinada teoria (e mesmos conceitos) não estão certos nem errados, mas devem ser úteis (BELL, 1973). Na mesma direção, Capurro e Hjorland defendem que, no discurso científico, conceitos teóricos não são elementos verdadeiros ou falsos ou reflexos de algum outro elemento da realidade; em vez disso, são construções planejadas para desempenhar um papel, da melhor maneira possível. Os autores afirmam que o significado de um termo é definido não só pelo passado, mas, também, pelo futuro (CAPURRO e HJORLAND, 2007). Diferentes concepções de termos fundamentais como informação são, assim, mais ou menos úteis, dependendo das teorias (e, ao fim, das ações práticas) para as quais se espera que dêem suporte. Ou ainda, de forma mais direta, como dizem Capurro e Hjorland, “é bem sabido que as definições não são verdadeiras ou falsas, mas sim, mais ou menos produtivas”: Estudos sobre como um termo tem sido usado não podem, contudo, ajudar-nos a decidir como deveríamos defini-lo. Quando usamos a linguagem e as palavras, executamos uma ação, com o intuito de realizarmos algo. Os diferentes significados dos termos que usamos são ferramentas mais ou menos eficientes para ajudar-nos a alcançar o que pretendemos. Desta forma, de acordo com filósofos pragmáticos, como Charles Sanders Peirce (1905), o significado de um termo é determinado não apenas pelo passado, mas, também, pelo futuro (CAPURRO e HJORLAND, 2007). Os pesquisadores lembram que, apesar de sua subjetividade, qualquer conceito sobre informação é, antes de tudo, provocado por processos sócio-culturais e científicos. Deve-se observar a informação dentro de contextos humanos, pois “quando se estuda informação, é fácil perder a orientação” (CAPURRO e HJORLAND, 2007). Visto que informação é um conceito polissêmico, pois permite múltiplos significados, muitas repostas possíveis, dependendo de quem as responde. Assim, pode ser utilizada cada 57 definição conforme o problema estudado, visando o bom do esclarecimento teórico dentro das 400 definições possíveis, cabe a cada pesquisador de CI escolher entre tantos quais são aqueles que mais se adaptam ao fenômeno ao qual está se debruçando e de que forma tal conceito é capaz de ajudá-lo a desvendar o objeto/problema que resolveu tratar. Tal possibilidade de múltiplos usos para o mesmo conceito pode ser atribuída à própria função da informação para o ser humano. Sem informação, o ser humano não sobreviveria como espécie, podendo a mesma ser comparada ao ar que respiramos. A informação, sob esse ponto de vista, teria uma função cognitiva, primordial, semelhante o ar para o pulmão e o sangue para o coração. Da mesma forma que o ar e o sangue são elementos vitais para nossa sobrevivência, um cérebro sem informação torna-se incapacitado para lidar com a vida, não tendo mais função, pois não poderia agir e tomar decisões para continuar existindo. É impossível estudar o coração e o pulmão, bem como o ar e o sangue, sem conseguir observá-los, também em movimento. Adotaremos, assim, o caráter da informação como meio, não como objeto. Informação como insumo, ferramenta principal e fundamental para manter a humanidade viva e resolver os problemas produtivos na sua expansão. Com esta abordagem, a informação ganha papel de destaque para viabilizar a nossa sobrevivência, através do desenvolvimento de tecnologias e metodologias, desde a ocupação em regiões cada vez mais inóspitas (devido ao frio e calor), profundas ou na altitude (no fundo do mar ou no alto das montanhas) ou ao espaço (em outros planetas), bem como para manter seus processos em todas as sociedades humanas e superar suas crises. Para efeito da tese, a informação é analisada como ferramenta humana para determinado fim: ou da a sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida da espécie. O estudo, assim, da informação como um fenômeno isolado ou mero suporte levaria a um falso problema para o fenômeno estudado. Portanto, informação é: um processo vital para o ser humano inseparável, indivisível e contínuo de conhecer, viver, produzir, através da percepção, a partir de dada representação. É matéria-prima básica para o funcionamento do cérebro, da mesma maneira que o ar é para o pulmão e o sangue para o coração. É um ato modificador da consciência humana, capaz de transformar estruturas e garantir a sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida humana no planeta. Processo fundamental para que o ser humano atenda as suas necessidades materiais e sociais (das mais básicas às mais sofisticadas) e possa sobreviver sobre a terra, sendo elemento-chave para tomada de decisões, para obtenção e manutenção do poder e da riqueza. Elemento, assim, de prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos. 58 2.3 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO A partir das definições de crise e de informação nas subseções anteriores, se abordará nessa subseção o conceito de crise da informação não especializado e em outras ciências, para se avaliar na seção seguinte o conceito de macrocrise da informação. 2.3.1 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO: EM FONTES NÃO ESPECIALIZADAS E FORA DA CI Pretende-se nessa subseção abordar o conceito de crise da informação em fontes não especializadas e fora da CI para se avaliar posteriormente na outra seção o conceito de macrocrise da informação. Não há no Dicionário Houaiss um verbete para Crise informacional. Na Wikipédia, obtivemos os seguintes resultados (tabela 11): Tabela 15 - pesquisa na Wikipédia sobre crise informacional ou crise da informação PESQUISA NA WIKIPÉDIA SOBRE CRISE INFORMACIONAL OU CRISE DA INFORMAÇÃO53 CRISE INFORMACIONAL (em português) Nenhum resultado CRISE DA INFORMAÇÃO (em português) Nenhum resultado INFORMATION CRISIS (em inglês) CRISE DE INFORMATION (em francês) CRISIS DE LA INFORMACIÓN ( Uma crise da informação é um desastre no qual as informações importantes e o mau funcionamento de sistemas informáticos, causam diversos problemas nas regiões afetada. Especula-se que o risco de uma crise da informação é maior nas nações de alto poder aquisitivo, como os Estados Unidos, devido à forte dependência de tecnologia, tanto na transferência de informação e controle de funções importantes. Nenhum resultado em espanhol) Nenhum resultado KRISE VON INFORMATIONEN ( em alemão) Nenhum resultado Ao se analisar as abordagens da academia, fora da CI, através de pesquisas no Google Acadêmico sobre crises informacionais, observam-se algumas vertentes básicas para definir as causas de possíveis problemas (ou crises) provocados pela informação, como demonstrados nos exemplos abaixo. Crises causadas pelo excesso de informação: 53 Pesquisa feita em 07/11/2010. 59 É imprescindível notar também que o processo de direcionamento estratégico da empresa – e conseqüentemente o seu sucesso – também pode estar sendo comprometido pelo excesso de informações, uma vez que o acompanhamento da movimentação de um ambiente cada vez mais dinâmico é um fator determinante deste processo (BASTOS et. al., 2004). Na visão das meninas esse fato decorre de uma preocupação com o status no grupo social onde convivem, enquanto os meninos associaram o incentivo à perda dos limites e responsabilidades ao excesso de informação advinda dos meios de comunicação (CRISTINO, KRUGER e KRUG, 2006). Augé (2006) propõe a utilização do conceito sobre modernidade, para pensar a coexistência das correntes de uniformização e dos particularismos. Augé afirma que se trata de uma lógica do excesso, mensurada a partir de três excessos, segundo sua proposta: o excesso de informação, o excesso de imagens e o excesso de individualismo. O excesso de informação dá a ideia de que a História se acelera. Cada dia tem-se a informação do que acontece nos quatro cantos do mundo (CUNHA, 2007). A relativa eficácia das redes tecnológicas seria a contrapartida para a degradação e desorganização urbanas, um encolhimento do espaço, na definição de Paul Virilio, em favor de uma cultura on-line, em tempo real, que tende a abolir o espaço, as fronteiras e os territórios. Virilio vê nessa contração do espaço em favor da velocidade e do tempo real da cultura on-line uma mutação radical em termos de percepção, uma precipitação do tempo no simultâneo que seria para ele algo da ordem do intolerável e do catastrófico. O excesso de informação produzindo uma desinformação estrutural, como a sensação de labirinto e perda numa longa sessão de navegação pela Internet em que muito facilmente se perde o ponto de referência ou a motivação inicial do percurso (BENTES, 1997). Crises causadas pela escassez da informação: A escassez de informação econômica é uma realidade para o setor agrícola como um todo, especialmente para o hortifrutícola. Para se conseguir informações, a principal fonte de consulta eram as estatísticas de volume e preços nas principais CEASAs do país. Contudo, tal fonte, apesar de sua importância, pouco relatava sobre os preços locais recebidos pelos produtores, acontecimentos regionais e as sazonalidades de produção, que são questões essenciais para o setor por terem forte influência sobre o comportamento do mercado (PINTO et al., 2002). Os efeitos do glyphosate sobre fungos micorrízicos arbusculares na soja são pouco esclarecidos, haja vista a escassez de informação, com poucos trabalhos abordando o assunto (Morandi, 1989; Mujica et al., 1999; Malty et al., 2006). Acrescenta-se que inseticidas e fungicidas podem atingir e afetar a atividade desses microrganismos endossimbiontes, em virtude de a maioria das formulações ser sistêmica, da possível interação com herbicidas e da ação específica dos fungicidas sobre fungos do sol (REIS et al., 2010). A avaliação comparativa desse delineamento tem sido pouco explorada na literatura. Um dos trabalhos com esse enfoque foi realizado com a cultura da batata (BEARZOTI, 1994). No caso específico do feijoeiro, há escassez de informação a esse respeito (SOUZA et al., 2000). Ou ainda a desinformação: O artigo que relata a sondagem realizada no Canadá chega a conclusões similares, no que se refere ao mito de que uma atitude negativa em relação à biotecnologia seja fruto, necessariamente, de desinformação: “há controvérsia sobre o papel da 60 „informação científica‟ („scientific literacy‟) em julgamentos sobre ciência e tecnologia; alguns sustentam que ela leva a julga (LEITE, 2002)”. Em resumo, todas as sugestões têm por objetivo tornar o mercado de trabalho mais transparente e, desta forma, reduzir o volume de desinformação entre as partes envolvidas no contrato de trabalho (CAMARGO e REIS, 2005). Embora a homeopatia seja uma especialidade médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina desde 1980, com pressupostos científicos estabelecidos, aplicação clínica diversa, projetos nas áreas de pesquisa básica e clínica, oferecida nos serviços públicos de saúde e com iniciativas de ensino na graduação médica, a desinformação sobre esta peculiar racionalidade se encontra arraigada na cultura médica. Este estudo objetivou mensurar a desinformação quanto aos pressupostos homeopáticos existente entre estudantes de Medicina participantes do 33º Encontro Científico de Estudantes de Medicina (São Paulo, 2003) (TEIXEIRA, 2007). A falta da qualidade da informação: Dos 301 óbitos neonatais precoces, foi possível identificar no Sinasc 218 (72,42%), sendo que 83 (27,5%) óbitos foram descartados da análise pela impossibilidade de formação de pares verdadeiros no processo de linkage. Esta perda ocorreu por duas razões: a primeira, provavelmente por sub-registro no Sinasc, não tendo sido preenchida a DN para estes nascimentos; a segunda, por problemas na qualidade da informação, pois nesses casos o nome da mãe não havia sido registrado, dado este importante no processo de linkage adotado neste trabalho (SOARES e MENEZES, 2010). Entretanto, a análise da evolução da mortalidade por homicídios por armas de fogo deve ser feita com cautela, podendo parte do incremento ser explicado por problemas na qualidade das informações, particularmente no que se refere à determinação da intencionalidade e do tipo de instrumento na declaração de óbito (PERES e SANTOS, 2005). Uma revisão com estes tipos de estudos encontrou que 70% relataram problemas na qualidade da informação sobre saúde disponível em páginas da Internet (SILVA, 2009). É pertinente destacar que há diferença básica entre a escassez da informação (que caracterizaria sempre falta) e o conceito de desinformação (que denotaria confusão ou manipulação). O Dicionário Houaiss, ao definir desinformação, admite as duas hipóteses: Desinformação: 1 ação ou efeito de desinformar 2 informação falsa, dada no propósito de confundir ou induzir a erro 3 falta de informação, de conhecimento acerca de; ignorância Em síntese, podemos depreender nos textos escolhidos acima que as crises são resultados daquilo que impede o ser humano de exercer o objetivo pleno de obter e fazer uso da informação. Teriam as seguintes causas: o excesso de informação - dificuldade de lidar com volume exagerados; a escassez de informação - não ter as informações necessárias; a desinformação (ou manipulação) da informação - contar com informações manipuladas de forma proposital, a partir de determinado interesse; 61 a má qualidade da informação disponível - que tanto pode ser o excesso, a falta ou a manipulação da mesma, o que nos permite nos debruçar agora como a CI analisar essa questão. 2.3.2 O CONCEITO CRISE DA INFORMAÇÃO NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO A partir das definições de crise e de informação nas subseções anteriores, abordamos nessa subseção o conceito de crise da informação na CI para se avaliar posteriormente a ideia de macrocrise de informação. Opta-se por verificar que há aumento vertiginoso do volume da informação no pósguerra. Diante desse fenômeno, em 1945, Vannevar Bush, no seu famoso artigo As We May Think (Como podemos pensar), lembra que, depois da Guerra, os cientistas se depararam com “uma montanha crescente de pesquisa”, que gerava problemas sérios para os investigadores que não tinham mais tempo para compreender, muito menos para se lembrar, como eles aparecem (BUSH, 1945). Saracevic, ao procurar definir a contribuição da CI para a sociedade, parte do mesmo ponto ao analisar que a questão central era o aumento de volume de conhecimento, citando o próprio Bush, já que havia um “problema crítico que estava há muito tempo na cabeça das pessoas”. Destaca que se tratava de saber tornar mais acessível um acervo crescente de conhecimento: BUSH identificou o problema da explosão informacional-irreprimível crescimento exponencial da informação e de seus registros, particularmente em ciência e tecnologia. A solução por ele proposta era a de usar as incipientes tecnologias de informação para combater o problema (SARACEVIC, 1996). O termo explosão informacional, que, apesar de citado inúmeras vezes como se fosse descrito por Bush não aparece no original deste, passa a ser de uso corrente na área para detalhar não só as suas origens, mas como conceito de uso fácil para caracterização da sociedade em que vivemos, como podemos notar nos exemplos abaixo: A expressão explosão da informação, dessa maneira, passa a ser adotada para caracterizar o aumento significativo de publicações na área científica e tecnológica e depois adquire contexto mais geral, transbordando os limites da ciência e da tecnologia, e atingindo proporções catastróficas na sociedade (ARAÚJO, 1995). 62 Em função do cenário atual de explosão informacional, tem crescido o interesse por parte de bibliotecários e educadores em torno da information literacy ou competência em informação (DUDZIAK, 2005). Observa-se também o uso como explosão documentária (AZEVEDO, 2009), explosão bibliográfica (CUNHA, 1999), explosão documental/digital (DZIEKANIAK, 2004) ou crescimento do tipo exponencial da informação (LE COADIC, 2004). Apesar de pouco aprofundada do ponto de vista teórico e conceitual ao longo do tempo, e por estar nos textos de seus fundadores, as expressões explosão informacional ou explosão da informação passam a ser de uso corrente na CI (tabela 12). Tabela 16 - termo explosão da informação ou explosão informacional (português e inglês) no Google Acadêmico TERMO EXPLOSÃO DA INFORMAÇÃO OU EXPLOSÃO INFORMACIONAL (PORTUGUÊS E INGLÊS) NO GOOGLE ACADÊMICO54 TERMO RESULTADO explosão informacional 471 explosão da informação 537 information explosion informational explosion 15.400 82 Nota-se na tabela 12 que os resultados são fortemente influenciados do uso dos termos por pesquisadores da CI, chamando a atenção da quantidade de termos em inglês para information explosion. Como padrão, os termos são utilizados pelos pesquisadores para situar a CI na história ou o momento presente da sociedade contemporânea. É comum encontrá-los principalmente na abertura de artigos, teses e trabalhos acadêmicos. 1 - Uso do termo explosão informacional quando se pretende abordar a questão da própria história da CI pode ser visto no artigo abaixo: A CI surgiu da necessidade crescente de lidar com a informação. Novas tecnologias se apresentaram para lidar com as dificuldades geradas pela explosão informacional, basicamente, concentradas na recuperação de informação (PEREIRA e MEIRELES, 2009). No artigo de CI e pós-modernidade, Azevedo observa: “(...) ocorreram-se neste período uma cisão com a biblioteconomia, na qual, historicamente, teve grandes dificuldades de organizar, estruturar e recuperar a informação no período conhecido como explosão da informação‖ (AZEVEDO, 2009). 54 Pesquisa feita em 07/11/2010. 63 2 - Uso do termo explosão informacional quando se pretende criar um cenário da sociedade contemporânea como podemos observar: (...) ―multimeios‖ e a ―auto-estrada informacional‖ irão conduzir a espécie humana rumo à ―Idade da Informação‖, à sociedade global baseada no conhecimento. [...] A combinação dos vários avanços tecnológicos está contribuindo para o que é anunciado como uma explosão informacional (FREITAS, 2002). Encontram-se ainda citações que caracterizam o termo explosão informacional como fator a ser medido, como uma das tarefas do profissional da informação: As principais contribuições dos cientistas da informação. Os cientistas da informação medem a explosão informacional, estudos de impacto, difusão da inovação, junção bibliográfica, citação e padrões de co-citação e outras regularidades (RIECKEN, 2006). A expressão explosão informação/informacional tem, assim, um conjunto expressivo de resultados no Google Acadêmico. Podemos aferir que há, se podemos chamar assim,conceitos recorrentes na área, o que Kuhn cunhou como um dado paradigma (KUHN, 2000) de que as explosões informacionais ou explosão de informação caracterizariam um tipo de crise da informação, já que uma explosão implica em ações necessárias para administrá-la. Há, nesse caso, um determinado momento crítico de “explosão”, constatado pela primeira vez no pós-guerra, no final de década de 50. A partir dali, esse fenômeno informacional passou a fazer parte da origem da própria CI, algo corriqueiro e constante da sociedade. Constata-se que o termo crise informacional apesar de amplamente utilizado, quase como um “bordão científico”, não aparece como tema central em artigos acadêmicos. No levantamento feito por Pinheiro em 10 periódicos dedicados à CI55, de 1972 a 2004 foram coletados as seguintes subáreas recorrentes na CI (PINHEIRO et al., 2005) 56: 1. Teoria da ciência da informação 2. Bibliometria 3. Representação da informação 4. Políticas de informação 55 56 Revista da Ciência da Informação, Encontros Bibli, Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Em Questão, Revista de Biblioteconomia & Comunicação, Perspectivas em Ciência da Informação, Informação & Sociedade, Transinformação, Revista de Biblioteconomia de Brasília, Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Datagramazero, MORPHEUS, Revista eletrônica em Ciências Humanas:Conhecimento e Sociedade. http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/816/657 64 5. Necessidades e usos de informação 6. Gestão da informação 7. Comunicação científica 8. Tecnologias da informação 9. Formação e aspectos profissionais 10. Sistemas e redes de informação 11. Disseminação da informação 12. Sistema de recuperação da informação 13. Bibliotecas virtuais/digitais 14. Inteligência competitiva 15. Política de ciência e tecnologia 16. Bases de dados 17. Organização e processamento da informação 18. Economia da informação 19. Biblioteconomia/bibliotecas/livros 20. Arquivologia 21. Processamento automático da linguagem 22. Automação de biblioteca 23. Divulgação científica 24. Ciência e tecnologia 25. Gestão do conhecimento 26. Política editorial 27. Sistemas especialistas 28. Comunicação social 29. Imprensa 30. Linguística 31. Tecnologias Diferente de outras áreas, o estudo das crises (informacional ou não) de forma isolada não aparece no levantamento acima como uma subárea ou mesmo um tema emergente na Ciência da Informação, mesmo depois do surgimento da Internet. Note-se que nas pesquisas apresentadas a seguir, o resultado nas revistas acadêmicas de CI, ao se pesquisar a palavra crise: Tabela 17 - o termo crise nas revistas da CI O TERMO CRISE NAS REVISTAS DA CI58 REVISTA PESQUISADA Data Grama Zero59 58 59 Pesquisa feita em 07/11/2010. Utilizando recurso de pesquisa avançada do Google para o domínio: http://dgz.org.br/ RESULTADOS 89 65 Revista Ciência da Informação IBICT 24 Revista Encontro Bibli 49 Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação 10 Ao se analisar a palavra crise nas publicações destacadas na tabela 13, o termo aparece principalmente relacionado à crise da própria Ciência da Informação, na qual podemos encontrá-la associada à: crise de paradigmas da Ciência da Informação (CARVALHO e KANISKI, 2000) crise dos periódicos acadêmicos (BAILEY, 2005); crise que se abate sobre o modelo moderno de cientificidade, através dos conceitos de Kuhn. (GALDO et al., 2009). Não foram encontrados trabalhos específicos tratando o termo crise informacional ou crise de informação como objeto isolado. Vejamos, a seguir, as tabelas, que demonstram esse fato, incluindo pesquisas em outras Ciências, através da pesquisa nas publicações Revista da Ciência da Informação do IBICT60, DataGrama Zero61 e Revista Encontro Bibli da Universidade de Santa Catarina62. O critério de escolha destas revistas foi definido através dos resultados de buscas no Google, tendo como palavras-chaves: Revistas da Ciência da Informação. Tabela 18 - termos crise, crise informacional e crise da informação em diferentes revistas da CI TERMOS CRISE, CRISE INFORMACIONAL E CRISE DA INFORMAÇÃO 63 EM DIFERENTES REVISTAS DA CI TERMO REVISTA PESQUISADA RESULTADOS Crise Data Grama Zero 89 Crise informacional (sem aspas) Data Grama Zero 46 Crise da informação (sem aspas) Data Grama Zero 88 “Crise informacional” Data Grama Zero Nenhum resultado “Crise da informação” Data Grama Zero Nenhum resultado Crise Revista Ciência da Informação IBICT 24 crise da informação (sem aspas) Revista Ciência da Informação IBICT 18 crise informacional (sem aspas) Revista Ciência da Informação IBICT 10 60 http://revista.ibict.br/ http://dgz.org.br/ 62 http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb 63 Pesquisa feita em 07/11/2010. 61 66 “crise da informação” Revista Ciência da Informação IBICT Nenhum resultado “crise informacional” Revista Ciência da Informação IBICT Nenhum resultado Crise Revista Prima (sobre Ciência da Informação e Comunicação de Portugal) 21 Crise Revista Encontro Bibli 49 Crise da informação (sem aspas) Revista Encontro Bibli 49 crise informacional (sem aspas) Revistas Encontro Bibli 24 “crise da informação” Revistas Encontro Bibli Nenhum resultado “crise informacional” Revistas Encontro Bibli Nenhum resultado Nota-se que, apesar da pesquisa sobre a palavra crise obter resultados por trabalhos sobre o assunto, o refinamento da busca sobre “crise informacional” ou “crise da informação” não obtém nenhum resultado. Pesquisa realizada no Google Acadêmico, relacionando diferentes palavras-chave, a partir do levantamento de Pinheiro de subáreas recorrentes na CI, tais como teoria da ciência da informação, políticas de informação, necessidades e usos de informação, gestão da informação, Inteligência competitiva, organização e processamento da informação, Economia da informação e gestão do conhecimento resultou na tabela 15, apresentada a seguir: Tabela 19 - pesquisa no Google Acadêmico relacionando diferentes palavras-chaves, a partir do levantamento de Pinheiro PESQUISA NO GOOGLE ACADÊMICO RELACIONANDO DIFERENTES PALAVRAS-CHAVES, A PARTIR DO LEVANTAMENTO DE PINHEIRO (*) 64 TERMO RESULTADOS "Teoria da ciência da informação" "crise informacional" Nenhum "Teoria da ciência da informação" "crise da informação" Nenhum "Políticas de informação" "crise de informação" Referência às origens da CI "Políticas de informação" "crise informacional" Como cenário da sociedade contemporânea "necessidades e usos de informação" "crise informacional" Nenhum "necessidades e usos de informação" "crise de informação" Nenhum "Gestão de informação" "crise de informação" Referência às origens da CI e como cenário da sociedade contemporânea "Gestão da informação" "crise informacional" Nenhum 64 Pesquisa feita em 07/11/2010. 67 "Inteligência competitiva" "crise informacional" Nenhum "Inteligência competitiva" "crise de informação" Referência às origens da CI e como cenário da sociedade contemporânea "Organização e processamento da informação" "crise informacional" Nenhum "Organização e processamento da informação" "crise da informação" Nenhum “Economia da informação" "crise de informação" Nenhum “Economia da informação" "crise informacional" Nenhum “Gestão do conhecimento" "crise informacional" Nenhum (*) PINHEIRO et al., 2005. Chama a atenção, na tabela 15, a falta de resultados possíveis dos termos na língua portuguesa. Procuramos, portanto, trabalhos no Google Acadêmico em diferentes idiomas, sempre com o termo entre aspas para garantir o uso exato do que se pesquisa, pretendendo-se abordagens mais gerais sobre crises globais da informação: Tabela 20 - pesquisa no Google Acadêmico sobre crise informacional em outros idiomas PESQUISA NO GOOGLE ACADÊMICO SOBRE CRISE INFORMACIONAL EM OUTROS IDIOMAS65 TERMO RESULTADOS information crisis 948 links, com 24 apontando para trabalhos realizados em 2010 informational crisis 47 links, com três apontando para trabalhos realizados em 2010 Crise de l'information 55 registros com apenas com dois de 2010 crise d'information 10 registros com apenas com zero de 2010, como o último realizado em 2009 Crisis de Información 32 registros, com o último realizado em 2008. Crisis informativo Nenhum registro Os dados demonstram que a busca feita com as palavras-chave acima apresentadas aparece com quase mil trabalhos acadêmicos em inglês, com poucos estudos em Francês (55) e menos em espanhol (32). Apesar do aumento de resultados, a análise dos trabalhos sobre o tema em inglês, espanhol e francês para o termo “crise de informação” não resultou em trabalhos que abordassem crises informacionais globais, limitando-se a estudos pontuais ou específicos de gestão de crises organizacionais localizadas. Procuraram-se, assim, os termos em revistas específicas sobre Ciência da Informação em inglês. Vejamos, abaixo, a tabela 17 sobre buscas e resultados: 65 Pesquisa feita em 07/11/2010. 68 Tabela 21 - pesquisa no Journal of Information Science sobre crise e crise da informação PESQUISA NO JOURNAL OF INFORMATION SCIENCE SOBRE CRISE E CRISE DA INFORMAÇÃO66 TERMO Crisis Information Crisis RESULTADOS 107 173767 Informational Crisis 199 “Information Crisis” 04 “Informational Crisis” Nenhum Nos resultados da busca apresentados na tabela 17, observa-se que o termo Information crisis ou Informational Crisis, apesar de sua aparente relevância, não é ainda um termo utilizado, com apenas quatro (4) resultados para o termo exato da busca. Nota-se ainda que a recuperação por palavras isoladas, sem aspas, permite a busca nos documentos em que os termos crise da informação ou informacional aparecem de forma separada. Porém, quando se procura o termo entre aspas – ―crise informacional” ou “crise da informação” –, nota-se que não há retorno ao termo procurado. O tema crise da informação, ou crise global da informação, portanto, não aparece nos levantamentos feitos por este trabalho como relevantes da área e não foi palavra-chave facilmente recuperada nas revistas acadêmicas da CI. Em síntese, pela pesquisa realizada, as crises aparecem de forma localizada e caracterizadas como problemas de informação ou problemas informacionais. Para lidar com a questão das crises, opta-se por tratar dessas questões em campos de estudo, tal como gestão de informação ou inteligência competitiva, ou de forma localizada nas bibliotecas, em organizações e nos arquivos, restringindo fenômenos de mudanças mais globais e a relação entre o local e o geral. Restringindo a analise do problema pela parte e não pelo todo, ou mesmo não relacionando problemas informacionais corriqueiros e localizados com fatos mais gerais, dificulta-se em muito a compreensão de macromudanças informacionais, tais como a adesão dos usuários para o uso cada vez maior da Internet, como já havia ocorrido há mais de 500 anos, na Europa, com o livro impresso. Do ponto de vista da sociedade, os temas crise, crises e crises globais ou crise global são recorrentes e emergentes na sociedade. Os autores que estudam o tema nos lembram que o 66 67 Pesquisa feita em 07/11/2010. A busca ampliou o universo ao invés de reduzir. 69 mundo hoje, superpovoado, mais conectado, cada vez mais global e interdependente, ganhou, antes de tudo, complexidade. Hoje, qualquer fato isolado em algum país, seja por fator humano ou provocado por fenômenos naturais, tem reflexos em diversos outros pontos do planeta. Aprofundar, portanto, a discussão sobre Crises globais da Informação e suas múltiplas variantes, tal como crises informacionais, é suporte teórico relevante para os estudiosos das crises de todo tipo. E, também, um referencial para a sociedade que espera respostas da academia, à procura de teorias e conceitos para lidar com crises globais, inclusive as da informação, cada vez mais frequentes, ao considerarmos que por trás de toda crise humana sempre haverá algum fator informacional. Como não são correntes na CI os termos crise informacional ou crise da informação, identifica-se o termo em inglês management information crisis, que se caracterizaria pela situação na qual os dados relevantes não estão disponíveis para a tomada de decisões ou de medição de desempenho, criando um problema de gestão da informação que pode impedir ou paralisar a empresa. “Esses problemas decorrem de uma lacuna entre o sistema de informação estática e outro mais dinâmico que altera a estrutura organizacional em um momento de mudança e crescimento” (DANIEL, 1961). A abordagem da informação como problema, através de estudos de problemas de informação ou problemas informacionais, foi defendida por Saracevic ao definir que pesquisadores da CI são: “estudiosos dos problemas de informação” (SARACEVIC, 1996). Assim, o conceito problema da informação aparece na CI, como: Em 1945, Bush escreveu As we may think, onde apresenta o problema da informação em ciência e tecnologia e possíveis entraves que haveriam para organizar e repassar à sociedade as informações mantidas secretas durante a guerra. Os entraves eram: a) na formação dos recursos humanos; b) no instrumental de armazenamento e recuperação; e c) no arcabouço teórico existente para a organização e controle da explosão de informação gerada durante a guerra (BARRETO, 2002). Há um reconhecimento crescente de que os avanços tecnológicos incorporados nos computadores e equipamentos de telecomunicações atuais não podem resolver, por si mesmos, os problemas de informação nas organizações. Infelizmente, muitos sistemas de informação são implementados sem que as necessidades informacionais e o comportamento dos usuários sejam satisfatoriamente considerados (BARBOSA, 1997). Para Vickery (1999, p. 477), os problemas de informação científica e tecnológica são "objetivos e subjetivos", e, dentre seus questionamentos, destacamos o que denominou "contradições", nascidas da especialização na ciência e estudos multidisciplinares, o que, por sua vez, "... cria novos problemas na transferência da informação". Ele chama a atenção para a abrangência do conceito de ciência e para a existência de "cadeia/corrente de informação" diferente para cada campo do conhecimento, reforçando as ideias de outros autores, no reconhecimento de 70 padrões de comunicação específicos por área, ainda que possam existir algumas práticas comunicacionais e, conseqüentemente, informacionais comuns (PINHEIRO, 2003). Pode-se encontrar nas pesquisas realizadas, ainda que incomum, a expressão de grave problema de informação na CI, que pode ser observada abaixo: Os dados permitem concluir que a situação se apresenta como um grave problema de informação para a saúde, problema esse que está a exigir ações imediatas para a sua solução. Na realidade, almeja-se que a informação oficial deva permitir atender a esse requisito, para não se ter que, a cada momento, despender quantias não desprezíveis de tempo e dinheiro, na realização de pesquisas de campo (MELLO JORGE, 1990). Outra variante da busca sobre problemas da informação é o termo problema informacional, que apresenta, em pesquisa, os seguintes tratamentos: Pelos motivos apontados anteriormente, pode-se dizer que os parlamentares brasileiros enfrentam um "problema informacional", ou seja, a estrutura institucional do Legislativo não gera incentivos para a produção endógena e sistemática de informação especializada. Ausentes os incentivos institucionais, também não é de se esperar que os parlamentares busquem soluções individuais para o problema dado que informação a respeito da relação entre políticas públicas e seus resultados é um bem coletivo (SANTOS e ALMEIDA, 2005). A pesquisa qualitativa focaliza a sua atenção nas causas das reações dos usuários da informação e na resolução do problema informacional, ela tende a aplicar um enfoque mais holístico do que o método quantitativo. Além disso, ela dá mais atenção aos aspectos subjetivos da experiência e do comportamento humano (BAPTISTA e CUNHA, 2007). O problema informacional é fundamental no processo de regulação, uma vez que as empresas têm melhor informação sobre a sua estrutura de custos do que o regulador. Dessa forma a relação entre empresa e regulador pode resultar em risco de captura, que ocorre quando a empresa, pelo conhecimento do setor, faz prevalecer as suas informações no processo de regulação. Nesse caso, o regulador será ―capturado‖. Há, contudo, alguns fatores que podem reduzir o problema informacional (SANTANA e MUNDURUCA, 2008). Encontra-se também nos trabalhos de CI a própria expressão crise da informação e crise informacional, referindo-se às origens da CI: Na dissertação de Mello sobre Gestão da Informação: este momento histórico (do surgimento da CI) é referendado pelos estudiosos como sendo a primeira crise da informação (MELLO, 2005); Na dissertação de Messias sobre periódicos científicos: “[...] a Ciência da Informação (CI) é um campo recente e que surgiu da demanda social pela otimização dos processos de coleta, armazenamento, recuperação e disseminação da informação científica e tecnológica, cuja produção apresentava um crescimento 71 exponencial ao final da década de 50 – a chamada „crise da informação‟” (MESSIAS, 2005)68. Dessa maneira, o problema da informação ou o problema informacional são utilizados para exemplificar impedimentos do uso pleno da informação ou para que o ato de conhecer, viver, produzir, através da percepção, ocorra, a partir de dada representação. A dicotomia entre excesso e escassez talvez resuma as preocupações dos autores sobre a qualidade da informação a ser oferecida para a sociedade. Oliveira e Nunes, citando Bell, lembram que esta relação entre o volume de informação e a incerteza decisória diretamente proporcional cresce simultaneamente, já que “mais informação não significa informação completa; significa, quando muito, informação cada vez mais incompleta” (BELL, 1973). Ou, como preferiram, “a riqueza da informação cria a pobreza da atenção” (SHAPIRO, 1999). Desta forma, mais informação implica, necessariamente, em um dispêndio maior de tempo com sua ordenação, discriminação e categorização em função da relevância, dos gostos, das preferências, das crenças, dos gostos, das perspectivas e dos interesses diversos e idiossincráticos de cada sujeito. É um corolário no mínimo irônico para uma sociedade onde o tempo urge, e os resultados são buscados de forma incessante com o menor grau de risco e imprevisibilidade possíveis (OLIVEIRA e NUNES, 2007). Para superar problemas ou crises informacionais há a necessidade de se estabelecer uma relação ideal entre escassez e excesso de informação para garantir que esta chegue no tempo certo a quem precisa (MARCHIORI, 2002), ou: "a obtenção da informação adequada, na forma correta, para a pessoa indicada, a um custo adequado, no tempo oportuno, em lugar apropriado, para tomar a decisão correta" (PONJUÁN DANTE, 1998). Com este espírito, surgem novos campos de análise dentro da CI, tais como Gestão da Informação, que visa, a partir de solução ou minimização de crises locais garantir a ―informação ideal‖. Tal tarefa pode ser resumida como a procura de trabalhar a informação do ponto de vista estratégico e operacional, através de mecanismos de obtenção e utilização de recursos humanos, tecnológicos, financeiros, materiais e físicos para o gerenciamento da informação e, a partir disto, ela mesma ser disponibilizada como insumo útil e estratégico para indivíduos, grupos e organizações. (MARCHIORI. 2002) Pode-se ainda ser mais detalhado, tal como as ações que têm, por princípio, enfocar o indivíduo (grupos ou instituições) e suas "situações-problema" no âmbito de diferentes fluxos de informação, os quais necessitam de soluções criativas e custo/efetivas. 68 Grifos do autor. 72 Diagnosticada a demanda e suas possibilidades, deve-se definir uma metodologia/estratégia para sua "solução", que pode envolver a identificação e avaliação de fontes de informação, a aplicação de tecnologias adequadas, os profissionais e os fornecedores adequados para se trabalhar em parceria, assim como os mecanismos de avaliação do andamento da atividade e seus resultados parciais e total. A função principal do gestor da informação é prover um serviço e/ou produto de informação que seja direcionado, funcional e atrativo (MARCHIORI, 2002). Dessa maneira, é importante identificar as causas para que estes problemas apareçam. Entre as causas mais comuns coletadas para crises informacionais, obtivemos dois fatores pendulares: o excesso e a escassez de informação, que seriam reguladas pelo tempo e a qualidade. Dentro da CI, os temas que abordam a questão das causas, consequências, diagnósticos para problemas e crises informacionais são listados abaixo: Gerenciamento do fluxo da informação (ALVARES E JÚNIOR, 2007); Gestão da Informação Organizacional (ALVARES E JÚNIOR, 2007); Inteligência estratégica (ALVARES E JÚNIOR, 2007); Inteligência Competitiva (CANONGIA, PEREIRA e ANTUNES, 2002). O objetivo de tais estudos é subsidiar não apenas a escolha da estratégia corporativa, mas também o gerenciamento dos sistemas responsáveis por sua coleta, processamento e disseminação de forma sistemática na organização (ALVARES E JÚNIOR, 2007). Ou seja, as crises que a CI têm estudado de forma mais aprofundada estão ligadas ao dia-a-dia do uso da informação como subsídio ao processo decisório. Entretanto, a procura da informação ideal é fruto de um ambiente informacional no qual os elementos pessoas, metodologias e tecnologias compõem um cenário para que esse objetivo seja perseguido (porém sempre inalcançável). Essa meta está nos primórdios das reflexões sobre a área, quando Borko defende estudos práticos e teóricos sobre os fluxos e o fenômeno da informação. Bush sugere que, para lidar com o problema do excesso de informação, a solução era adotar novas tecnologias, defendendo uma máquina que funcionasse por um tipo de recuperação de dados, que permitisse um avanço na indexação, até o momento baseada em determinadas hierarquias, e que estas passassem para outro modelo, em torno de associações. O autor denominou essa nova máquina Memex (BUSH, 1945). 73 Assim, estabelece-se a partir dali uma relação aceita de que problemas de informação (ou crises) podem e devem ser resolvidos através de métodos, pessoas e tecnologias. Barreto re-introduz as ideias de similitude de Galileu69, inicialmente levantadas por Bell. Segundo o autor, há mais de 350 anos, Galileu (1564-1642) formulou seu princípio da similitude afirmando que nenhum organismo biológico ou instituição humana que sofra uma mudança de tamanho (entende-se aqui volume), e uma consequente mudança na escala de proporções, passa por isso sem modificar sua forma ou conformação (BARRETO, 2007): A analogia destes conceitos ao crescimento dos estoques de memória leva a crer que estas estruturas de armazenagem tendem a crescer em volume periódico e cumulativamente e terão em um determinado momento70 que enfrentar um problema de forma e conteúdo. A menos que existam estratégias de adaptação, os estoques tenderão a quebrar por seu próprio peso; transformar-se em agregados inúteis de informação por terem um exagerado excedente de informação não relevante. (BARRETO, 2007) Bell primeiro e depois Barreto recorrem ainda a outro pesquisador externo à Ciência da Informação, o biólogo e matemático D'Arcy Wentworth Thompson (1860-1948), para procurar explicações sobre o fenômeno da entropia, crises e mudanças nestes ambientes: O conhecimento, potencialmente armazenado em estoques de informação, acumulase exponencialmente em estruturas que lhe servem de repositório. Mesmo colocando-se filtro de entrada para limitar qualitativamente o crescimento destes estoques, a coisa toda tenderá a ruir em pedaços, devido ao seu próprio peso, a menos que se modifique as proporções relativas da estrutura em relação ao seu conteúdo físico. (THOMPSON, 1961) Portanto, quando o limite de crescimento do sistema de informação e seus subsistemas é atingido, presencia-se a transição desse crescimento para a saturação (que parece estar levando os processos do sistema a uma estagnação, não concretização): (...) a uma seleção que não seleciona; indexação que isola e mutila; organização de arquivos que têm problemas quanto a sua própria integridade física, problemas que se ampliam e repercutem no armazenamento; imprecisão e indeterminismo de análise e negociação de questões e perplexidades na disseminação/acesso ao documento. Nesse contexto, nada resta a acrescentar quanto ao sistema de avaliação: os estudos espelham, de maneira geral o gigantismo dos sistemas e insatisfação e a frustração do usuário com a resposta que lhe é fornecida pelo sistema (ARAÚJO, 1995). Para a autora, quanto maior o sistema: (...) maior a entropia em seu interior, mais entropia é gerada no esforço de gestão desse sistema – de tal forma que gigantismo, crescimento exagerado, megassistemas implicam logicamente aceleração do processo entrópico e conseqüente desorganização, caos, desequilíbrio acentuado (ARAÚJO, 2005). 69 70 http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei Grifo do autor. 74 Podemos ainda dizer que há um ponto crucial além do qual o crescimento da massa crítica leva a uma explosão, a um gigantismo que acarreta uma saturação, o alcance de um “ponto limite” do qual não há mais capacidade de absorção/assimilação (ARAÚJO, 2005). Ou ainda, uma determinada periodicidade, ritmo que faz com que em seu processo de movimento e desenvolvimento atravesse certas etapas ou fases cronologicamente sucessivas (AFANASIEV, 1977). Castells recupera trabalhos de Stephen J. Gould que abordam o aspecto tecnológico como um dos elementos para se compreender o ciclo de contínua mudança dos sistemas, na medida em que os ambientes tecnológicos evoluem incrementalmente, mas sofrendo, de tempos em tempos, uma descontinuidade (CASTELLS, 2004). Estas descontinuidades são marcadas por revoluções tecnológicas que introduzem um novo paradigma (GOULD, 1980), citado por Castells (2004). Nesse contexto, é possível afirmar que sistemas estão em movimento periódico e regular, de crises e rupturas, e criam etapas demarcadas por contínuas explosões e quebras, a partir de dada entropia, que são solucionadas, como sugere Gould, por novas tecnologias. Podemos afirmar, assim, que dado ambiente informacional está em movimento periódico e regular. Cria etapas demarcadas por contínuas explosões e quebras a partir de uma dada entropia, provocada por um aumento de volume. Este, por sua vez, cria uma escassez pela dificuldade de produzir informação com qualidade, precisando de novas tecnologias, como sugere Gould, ou da adoção de métodos e tecnologias - motivadas principalmente pelo aumento crescente da quantidade de informação no planeta. Há, portanto, uma relação entre aumento do volume de informações, crises e soluções tecnológicas. Não seria difícil supor que quando um dado ambiente informacional tiver um aumento radical de volume de informações, de alguma forma será adotada uma nova tecnologia que permitira que as pessoas possam lidar com o volume de informação. Esse momento entre o aumento gradual do volume e a implantação de uma nova tecnologia pode caracterizar a crise informacional. Cabe ressaltar que a tecnologia é elemento fundamental para superar o impasse, mas que qualquer tecnologia exige conceitos teóricos e práticos prévios para que possam ser desenvolvidas novas maneiras de lidar com a informação. Assim, ao trazer os conceitos de Galileu e Thompson, Barreto introduz peça fundamental para que possamos compreender a anatomia de uma crise informacional, ao supor que tal momento exige naturalmente uma modificação nas proporções relativas da estrutura em 75 relação ao seu conteúdo físico, e uma mudança na sua forma ou conformação (BARRETO, 2007). Assim, é cabível pressupor que um ambiente informacional que vive uma crise vai se reciclar através de um conjunto de ações. Tal concepção é válida para a análise das macrocrises globais da informação e para a introdução da Internet (tecnologia) ou do livro impresso (tecnologia), por exemplo, que vieram superar uma dada crise informacional de aumento de volume de informação e de escassez por não se conseguir encontrar o que deseja em tal volume. 76 2.3.3 O CONCEITO DE CRISE DA INFORMAÇÃO Para se chegar ao conceito de crise da informação, utilizamos o já trabalhado conceito de crise, incluindo nele os problemas de informação que podem gerar crises informacionais. Sendo assim, a definição: Crise da informação se caracteriza por um período raro e incomum, em dado tempo e espaço específico, em que o uso eficaz da informação esteja fora de determinado padrão estabelecido, necessário para um indivíduo ou grupo continuar sobrevivendo ou vivendo com qualidade. Tal fato ganha intensidade quase incontrolável e é potencial gerador de instabilidade e desorganização de determinada ordem vigente, em sua parte ou todo, servindo como um rompimento de dada estrutura social. Tal crise pode gerar crises correlatas, que exige, portanto, ação ou atitude emergencial, através de tomada de decisão, pois parte ou um todo passa a ser impedido de forma parcial ou completa de atuar da maneira padrão. Tal situação pode se agravar ou abrandar, conforme ações tomadas a posteriori, sendo esse momento um teste de resistência de determinada estrutura informacional. Podemos identificar dois tipos de crises informacionais: as práticas (causadas pelo não uso de dado conhecimento já dominado pela sociedade) ou teóricas (quando o conhecimento da causa é desconhecido pela sociedade), com paradigmas ainda não desenvolvidos. Tais crises podem ocorrer com consequências localizadas (microcrises informacionais) ou globais (macrocrises informacionais) e apresentam quatro causas recorrentes: o excesso, a falta, a baixa qualidade de informação e ainda a desinformação, e são resolvidas ou minimizadas através da introdução de novos métodos e tecnologias para lidar com a informação para superar seus impasses. Como o conceito de crise da informação definido nesta seção, é possível, apresentarmos o conceito principal da presente tese, que é a macrocrise da informação. 2.3.4 O CONCEITO MACROCRISE DA INFORMAÇÃO A partir das definições de crise da informação na seção e subseções anteriores, esta subseção aborda o conceito macrocrise da informação para se avaliar posteriormente macrocrises da informação na história. 77 O termo crise global da informação não apresenta retorno no Google Acadêmico, bem como crise geral da informação ou crise da informação globalizada. A busca em inglês global information crisis retornou com três resultados, voltados para a Ecologia e a Economia, não tocando diretamente em uma possível crise da informação. A alternativa de busca por problemas globais de informação foi infrutífera, ou mesmo problemas de informação mundial ou problema mundial da informação. Foi também nulo o resultado para as buscas sobre macrocrise da informação. Foi também infrutífera a busca para information macro-crisis ou macro-crisis of information. Na literatura analisada da CI, não se obteve resultados positivos nas buscas feitas por estudos que abordem macrocrises informacionais. Para se abordar o problema foi preciso utilizar consultas por termos similares que pudessem levar a compor um cenário, a partir de fragmentos de crises globais ou macrocrises. As buscas revelaram que corrente na área o emprego do termo explosão informacional, que seria uma das causas geradoras de problemas gerais de informação. A explosão informacional provocada pelas inovações tecnológicas fez a quantidade de documentos vigentes no mundo ganharem dimensões imensuráveis. Os problemas resultantes dessa explosão estão ligados à dificuldade dos processos de controle da produção, recuperação, seleção, tratamento e disponibilização do conteúdo imerso nos suportes multiplicáveis. A cada dia inúmeros textos nascem nos mais diferentes meios, são concebidos e divulgados através dos rápidos canais tecnológicos de transmissão de dados (MONTEIRO et al., 2010). Nota-se que a citação acima, se relaciona a explosão informacional a um fenômeno mundial. Uma outra citação destaca: Dentre essas competências, destaca-se a competência em informação, expressão esta que se originou em meio ao surgimento da explosão informacional, que se caracteriza pelo magnífico crescimento da informação disponibilizada e, ainda, pelas mudanças ocasionadas pela tecnologia usada no processo de geração, disseminação, acesso e uso da informação (LISTON e SANTOS, 2008). A citação acima, parte do pressuposto de que se trata de uma explosão informacional geral, que atinge todo o planeta. Além disso, o termo magnífico crescimento remete a ideia de algo que acontece a despeito de outros fenômenos, algo sem uma causa, ligada diretamente ao processo informacional. Pode-se ver ainda no texto abaixo: Rompendo as barreiras tecnológicas, surgiram os documentos eletrônicos na internet, que podem ser utilizados por qualquer indivíduo, desde que este saiba localizá-los. A explosão informacional tem dificultado de maneira considerável a recuperação das informações, pois o crescimento da Internet como meio de acesso à pesquisa e à informação a tem tornado um espaço complexo, que, às vezes, supera a capacidade humana de acessar e processar informações (SANTOS e OLIVEIRA, 2009). 78 A citação acima também define um movimento global, advindo do fenômeno da Internet, indicando uma dificuldade de se recuperar informações no novo ambiente. Indica que se trata também de um fenômeno sem controle, o que caracteriza uma crise geral da informação, mesmo sem citar o nome: “a „explosão da informação‟ é um problema social que teve início na ciência e agora se espalhou para todo e qualquer empreendimento humano” (SARACEVIC, 1996). Assim, com já definimos o fenômeno das crises da informação são problemas de excesso, falta e baixa qualidade da informação ou ainda de desinformação; que são resolvidos e/ou minimizados através da introdução de novos métodos e tecnologias para superar seus impasses. Podemos especular que tais fatos também ocorrem em movimentos mais amplos da informação. Em microcrises informacionais há um elemento de causas e efeitos mais facilmente diagnosticado, em função da proximidade das ações. Nas macrocrises da informação é preciso, entretanto, encontrar fenômenos que provoquem o aumento da oferta e da demanda da informação, que independam de fatores locais, mas que originem macroações para superar esses impasses. Um destes fenômenos, que parece ser evidente, é o aumento demográfico da população. No entanto, não é objetivo aqui comprovar a relação entre macrocrises informacionais e o fator demográfico. Para tal será, então, necessário pesquisas de campo para aferir como determinado volume de usuários é capaz de gerar determinada crise informacional e que alterações pode gerar no ambientes de informação, tanto em termos micros como macros, através de amostragens estatísticas. Entretanto, é possível reunir algumas suposições de que há, de forma bem provável, relação entre crises informacionais e o crescimento populacional, repercutindo tanto nos microssistemas locais como em situações globais. Em termos locais e globais, podemos aferir que quanto mais usuários tivermos em dado sistema, mais demandas haverá de informação e, por sua vez, mais necessidade de aumento na oferta de informação. Há nesse aspecto de oferta e demanda dois fatores a serem analisados. O aumento do volume de informações disponíveis em dado ambiente informacional e, por outro lado, o número de usuários que se beneficia dessa informação. Por tendência, o aumento de número de usuários deve, por sua vez, pressionar o ambiente para que amplie a oferta. Ao estudar o problema, Barreto considera que a oferta e demanda de informação em um determinado contexto informacional são representadas pelos estoques de informação 79 institucionalizados disponíveis e pelas necessidades de informação da realidade onde o consumo se realiza. Segundo Barreto, em um mercado tradicional, do ponto de vista econômico, oferta e demanda se ajustam considerando as condições específicas deste mercado. Em curto prazo, a demanda tem um papel primordial no ajuste. Se a demanda de determinado produto aumenta ou diminui, a oferta tende a se ajustar a estas variações. Entretanto, no mercado de informação existem características peculiares, já que a “oferta que determinaria a demanda por informação”: Unidades que operam os agregados de informação tendem a aumentar as suas condições de produção (volume do estoque) de maneira periódica e cumulativa, mesmo que não ocorra acréscimo na demanda por informação. Assim uma biblioteca aumenta a sua coleção, anualmente, mesmo que o número de usuários permaneça o mesmo e o volume de sua demanda também. O mesmo ocorre com uma base de dados, ou com o acervo de um arquivo ou museu, ou o estoque de conhecimento produzido em uma unidade acadêmica. (BARRETO, 1999a) Sob esse ponto de vista, haveria sempre, nestas unidades gestoras de informação/conhecimento, um acréscimo periódico, contínuo e cumulativo da quantidade de informação armazenada, permitindo aumentar a geração da oferta, ainda que a demanda por informação permaneça constante. Mesmo que a demanda possa vir a ter um acréscimo, não é mantida uma proporcionalidade entre os acréscimos da demanda e os acréscimos da oferta pelos produtos e serviços de informação. Conseqüentemente, esta condição de oferta/demanda por informação vai ocasionar implicações técnicas, econômicas e políticas. O aumento constante e cumulativo no volume físico dos estoques de informação/conhecimento afetará diretamente a produtividade destes estoques no tocante à retirada ou recuperação de itens para distribuição. Como esta função se orienta por uma racionalidade prática, técnica e produtivista, haverá sempre necessidade de administrar estes estoques para um máximo de produtividade, o que tenderá a afetar a estratégia de distribuição da informação. Barreto, ao analisar os tipos de demandas de usuários de um ambiente informacional, destaca três: a básica, contextual e reflexiva, a saber: demanda básica: responsável pelas necessidades básicas de informação do indivíduo no exercício de sua cidadania corresponde às condições de demanda que se justificam pela necessidade dos indivíduos em habitação, alimentação, vestuário, saúde e instrução; demanda contextual: responsável pelas transações correntes de informação para que o indivíduo possa permanecer e se manter em seus espaços de convivência profissional, social, econômica e política; 80 demanda reflexiva: de informação que se orienta para o pensar, a pesquisa, o inovar – é a demanda por informação que induz ao pensamento criativo da reelaboração e reformatação da informação em nova informação, permitindo a inovação em todos os seus aspectos (BARRETO, 1999a). Apesar de considerar que há, por tendência, independente da demanda, um aumento gradual na oferta, outras pesquisas demonstram que o aumento de volume de usuários tende a ocasionar demanda e por sua vez pressionar a oferta. Ao abordar o tema da explosão informacional, Sweeney chama a atenção para o crescimento sem precedentes no número e variedade da coleta de dados em diversos setores da economia. Há para Sweeney um aumento gradual e radical dos dados necessários para o acompanhamento dos nascimentos, tanto em termos de quantidade do aumento de nascimentos, como da necessidade de ampliar os campos de dados necessários para um melhor controle. A pesquisadora abordou, usando a mesma lógica, o crescimento do volume em outra área, como no de supermercados, o que se caracterizaria, conforme Barreto, em demanda primária de informação. Na pesquisa realizada, um consumidor, em 1983, ao comprar itens em um supermercado deixava apenas gravado o quanto consumiu. Não eram registrados a identidade do consumidor, hábitos pessoais, comportamentos, produtos adquiridos e os horários e dias, nem mesmo a experiência de compra de cada consumidor, gerando certa incerteza nas vendas do supermercado. Hoje, a tecnologia do computador permite reduzir a incerteza. As transações do consumidor podem ser armazenadas e analisadas, e ao fazê-lo, colhe-se e usa-se informações sobre o estilo de vida de cada um deles e seus comportamentos e hábitos geralmente podem ser revelados. Depois todos, observando as compras um consumidor individual, na semana após semana, fornece indícios sobre as demandas sobre tempo do consumidor, estatuto econômico e experiências de vida. (SWEENEY, 2001) Ao se analisar, por exemplo, o conceito de demanda básica de Barreto, observa-se que os itens levantados por Sweeney estão relacionados às necessidades básicas dos indivíduos, tal como alimentação (supermercado) e saúde (hospitais). Para realizar seu estudo sobre o aumento da população no mundo, a autora criou o que ela denominou de Disk storage per person – DSP (armazenamento de disco personalizado). DPS seria a medida em megabytes por pessoa e Global DSP (GDSP) o espaço total do disco rígido em disco (em MB) pela população. A métrica GDSP é uma medida aproximada da quantidade de armazenamento em disco que poderia ser utilizada para coletar dados de pessoas específicas sobre a população mundial. 81 Pode-se porém especular aqui como hipótese para outros pesquisadores que macrocrises da informação têm como uma das causas principais o aumento populacional. Tal hipótese se baseia na verificação de um aumento da população proporcional, tanto no surgimento do livro quanto no da Internet: Aumento de demografia anterior ao livro impresso – Forte e rápido crescimento populacional, de 300 milhões de habitantes em 1100, para 460 milhões de habitantes em 1500, um aumento de 50% em 400 anos, gerando uma crise de demanda, que o ambiente produtivo vigente (feudalismo) não conseguia resolver, a tempo e a hora, em vista da quantidade e diversidade da nova população. Aumento de demografia anterior a Internet – Forte e rápido crescimento populacional de um bilhão, em 1800; para sete bilhões em 2010, crescimento de 600% nos últimos 200 anos, gerando uma crise de demanda, que o ambiente produtivo vigente (capitalismo hierárquico) não tem conseguido resolver no modelo atual, a tempo e a hora em vista da quantidade e diversidade da nova população. É possível antever que um novo ambiente informacional, baseado em outros parâmetros, será, com grande chance, um importante impulsionador – ainda que não determinante – de mudanças radicais em nossa sociedade. Imaginemos, por exemplo, a adaptação populacional de um planeta habitado por x, e agora por y, necessitando de outro ambiente de informação para realizar mudanças na sociedade. Porém, é preciso que tenhamos consciência de que, se por um lado, não podemos trazer nesse estudo afirmações conclusivas, por outro, não podemos hoje rebater tais argumentos sem que haja mais e mais estudos com outros pontos de vista, conceitos e, principalmente, abertura para novos desafios teóricos. É isso, precisamente, o que nos leva e condiciona a refutá-los e/ou aprofundá-los na base de estudos de campo, que precisam ser feitos cada vez mais e em menos tempo. Tal aumento demográfico provoca, por sua vez, ao longo de um vasto período, impactos de demandas de consumo, que exigiria um aumento de dinâmica dos setores produtivos (onde se inclui toda a sociedade), principalmente, através da inovação, pois tornase necessário produzir mais com menos, a custos acessíveis, a cada vez mais gente e, muitas vezes, com mais diversidade. 82 A inovação implicará melhorias de todos os tipos: métodos de gestão, tecnologias, melhor capacitação de pessoal. Tais demandas pressionarão, de forma latente, os ambientes informacionais da sociedade a ampliar a sua dinâmica, ampliando também a quantidade de fontes disponíveis para introduzir novas ideias. Com isso, surgirão novos meios para que a comunicação à distância possa ser feita de forma mais ágil, criando, por consequência, a possibilidade de armazenar o que passa a ser produzido em novos suportes informacionais. É possível supor que macrocrises da informação possam ter como um de seus fatores principais o aumento demográfico. Tal relação pode ser levantada a partir de alguns pressupostos colocados na seguinte sequência: O ser humano, para sobreviver, tem necessidades variadas, que deságuam em demandas de consumo; Quanto maior o número de pessoas, mais demandas; Quanto mais demandas de consumo na sociedade, mais demandas informacionais; Quanto mais demandas informacionais, mais sofisticados devem ser os ambientes informacionais. É possível prever ainda que no contínuo crescimento da população - que deve chegar a marca dos nove bilhões, provavelmente em 2050 - pode estar embutido novas macrocrises, com a contínua (como já estamos vendo) e acelerada escalada de novas tecnologias da informação e da comunicação, tanto como solucionadora como geradora de crises. Tal fato coloca a CI como uma área fundamental e indispensável para investigar e auxiliar na solução de problemas e informação. Pode-se ainda especular se conseguiremos ter capacidade de separar de forma tão clara as macrocrises, ou se elas farão parte de um estado permanente. A velocidade do tempo pré-Internet não é mais compatível com a que precisamos agora, haja visto o grande número de pessoas no planeta. Sob esse ponto de vista, abandona-se a ideia de que estamos vivendo apenas uma Revolução Tecnológica Informacional. Essa revolução de fato existe e é evidente e perceptível, mas devemos entender as transformações em curso sobretudo como a superação de uma macrocrise global da informação, que leva a sociedade a rever valores antigos para criar novos, compatíveis com um mundo mais populoso. Se tal hipótese se consolidar, saltamos da compreensão do fenômeno informacional micro para o macro e passamos a estudar suas possíveis causas, permitindo à humanidade gerir melhor seus ambientes informacionais, já que a informação é o ar que a sociedade respira para sobreviver. Se não conhecermos a fundo o fenômeno, podemos acabar ciclicamente “sufocados” pela falta de compreensão desse complexo fenômeno. 83 Diante desse conjunto de reflexões, consideramos que macrocrises informacionais podem ser consideradas: Macrocrises informacionais têm amplas consequências para a sociedade, atingindo todos os habitantes do planeta ou boa parte de suas regiões, através da reação de um coletivo de indivíduos. Ao detectar as forças gerais que impelem os fatores da crise em determinada direção, há uma fase das chamadas forças de "ajuste" ou "equilíbrio", que explicam o comportamento do sistema como um todo. Podemos identificar dois tipos de causas de crises informacionais: as práticas (causadas pelo não uso de dado conhecimento já dominado pela sociedade) ou teóricas (quando o conhecimento da causa é desconhecido pela sociedade), com paradigmas não desenvolvidos. Macrocrises apresentam quatro causas recorrentes: o excesso, a falta, a baixa qualidade de informação e ainda a desinformação. Macrocrises informacionais, por fim, são geralmente minimizadas com a introdução de novas metodologias e tecnologias. Ao pensar em microcrises da informação, concluímos que: Microcrises informacionais têm consequências restritas para a sociedade, atingindo parcialmente habitantes do planeta ou algumas de suas regiões, através de uma reação de um conjunto pequeno de indivíduos. Podemos identificar dois tipos de causas de crises informacionais: as práticas (causadas pelo não uso de dado conhecimento já dominado pela sociedade) ou teóricas (quando o conhecimento da causa é desconhecida pela sociedade), com paradigmas não desenvolvidos. Microcrises informacionais, por fim, são geralmente minimizadas com a introdução de novas metodologias e tecnologias. 84 2.4 AS MACROCRISES NA HISTÓRIA Esta seção apresenta como diversos autores lidam com a história da informação e se procurará identificar os momentos de macrocrises informacionais, principalmente na passagem do mundo oral e suas deficiências para o mundo escrito, com a popularização da escrita, através da difusão do papel impresso e em seguida abordar a macrocrise digital. É plausível considerar que toda a ciência, seja qual for o problema analisado, proporciona deslocamento de limites da compreensão humana sobre determinado fenômeno. Tais avanços são feitos através da superação de determinados impasses, justamente pela dificuldade de superar paradigmas anteriores, que nos dificultam a visão. Pode-se, assim, encarar que há um certo a-historicismo da CI ao analisar explosões informacionais como uma dessas barreiras cognitivas, criando certa ilusão, já que cada momento da trajetória do conhecimento deve conter o passado e o futuro para fazer sentido. Temos que admitir e criar uma linha demarcatória em algum momento (por que não desde já) de que já não foi – e cada vez mais – não será mais possível compreender fenômenos informacionais da dimensão da Internet sem um estudo rigoroso do passado. Recorremos na conclusão a crítica de Kobashi, Smit e Tálamo: No entanto, tal visão não é o que se observa na interpretação retrospectiva do campo da Ciência da Informação, apenas nomeia o já produzido e não desenvolve um objeto específico: vem sempre a reboque das várias disciplinas produtoras do conhecimento. Imagina-se a-histórica, não reconhece as relações sociais e o contexto de circulação daquilo que preserva e nomeia. (KOBASHI, SMIT e TÁLAMO, 2001) A História da Informação se define como campo emergente na CI, que, por sua natureza, tem estudado a informação sob o ponto de vista mais amplo e geral, reunindo, em torno desse tema, cientistas da informação e historiadores. O novo campo procura focar no estudo geral da informação – o que inclui suas possíveis crises – ampliando o horizonte da pesquisa e não mais se preocupando em resolver aspectos particulares de determinados problemas pontuais e particulares, como tem sido o usual, atualmente. Weller, um dos defensores do desenvolvimento dessa área de pesquisa, lembra que a CI existe há talvez 50 ou 60 anos, mas a informação, há séculos, milênios e está diretamente ligada à existência humana. História da Informação é, assim, o estudo da relação entre a humanidade e suas diferentes formas de conhecimento - da gravação, manifestação, divulgação, 85 preservação, coleta, compreensão e o uso de informações e de como estas questões afetaram e foram afetadas pela evolução social, econômica e política. Não é um campo preocupado com a informação e tecnologias, mas com todos os aspectos da sociedade da informação - no sentido mais amplo do termo (WELLER, 2008). No desenvolvimento dessa nova área de pesquisa da CI optou-se por descartar o estudo, como era corrente, dos livros e das bibliotecas, que havia sido a primeira tendência. Recentemente, alguns autores, como têm sugerido a ampliação dessa visão, consideram este campo de pesquisa um “guarda-chuva” para áreas distintas, tais como história do livro, da biblioteca, da gestão da informação, das sociedades de informação, infraestruturas e sistemas. Entretanto, o campo, do ponto de vista de seu desenvolvimento, deve ter um escopo mais amplo e não se restringir apenas à história das tecnologias, mas mais uma visão conceitual e abstrata da informação de forma intangível e multifacetada. Há uma emergência pelo estudo histórico, a partir dos novos dilemas que estamos enfrentando na última década, tais como o surgimento da Internet, que nos obriga a realizar uma reinterpretação da história para compreendê-los, baseados nos valores contemporâneos e preocupações da sociedade da informação. Weller, por exemplo, que a história da informação abarque “o estudo da relação entre a humanidade e suas diferentes formas de conhecimento” (WELLER, 2008). Ao propor essa visão para o campo específico, na verdade, amplia as possibilidades e se alinha ao debate em curso no pensar e agir da Ciência da Informação, capitaneado principalmente por Barreto, Araújo e Freire, entre outros, ao se privilegiar o estudo da construção do conhecimento e suas consequências ao das tecnologias e suportes, só que agora com ponto de vista histórico introduzido por Weller. Ao estudar a história das mídias e do próprio conhecimento, Burke sugere melhor sincronia entre dois grupos de pesquisadores: que os historiadores passem a se dedicar mais ao estudo das teorias e tecnologias da comunicação; e os da informação, da comunicação e do conhecimento à pesquisa histórica. (BURKE, 2003) Concorda Lévy com essa visão ao insinuar, de forma provocativa, que as tecnologias intelectuais têm muito a ensinar aos filósofos sobre filosofia e aos historiadores sobre a história (LÉVY, 1993). É fato evidente a necessidade de analisar as mudanças nos sistemas de comunicação, informação e conhecimento que aconteceram no passado, pois é da natureza humana, ao habitar determinado ambiente, ter a sensação de que tudo se trata de algo consolidado e pronto. Tal hiato pode ser justificado, pois o conhecimento sobre o tema cristalizou-se em épocas nas quais as tecnologias de transformação e de comunicação estavam relativamente estáveis, ou pareciam evoluir em uma direção previsível (LÉVY, 1993). 86 “É só pela comparação que podemos vê-lo como um sistema entre outros” (BRIGGS e BURKE, 2006). Essa lacuna é ainda explicada pelos pesquisadores devido à incorporação das novas tecnologias ao nosso dia-a-dia, que foi antes um conceito, um projeto, uma grande novidade (LÉVY, 1999). Ou, de forma mais precisa e sintética, como defende Alan Kay: “uma tecnologia só é uma tecnologia se você nasceu antes dela71”. Na escala de uma vida humana, os agenciamentos sócio-técnicos constituíam um fundo sobre o qual se sucediam os acontecimentos políticos, militares ou científicos (LÉVY, 1993). Pode-se inclusive recorrer a Freud, que defendia a hipótese de que quanto menos um humano conhece a respeito do passado e do presente, mais inseguro terá de mostrar-se seu juízo sobre o futuro (FREUD, 1987). Apesar de ser recorrente o estudo histórico dos fenômenos em outras Ciências Sociais, nem sempre tem sido assim no campo da informação, da comunicação e do conhecimento. Somente a partir da década de 90 tivemos incremento maior das pesquisas de história nessas áreas (BRIGGS e BURKE, 2006). Tal lacuna resultou na profícua, porém ainda imatura linha de pesquisa denominada História da Informação (Information History - IH), que pretende suprir as lacunas observadas. Assim, pode-se levantar também como reflexão forte indício de uma inviabilidade científica do pleno exercício da CI. Constata-se que não é viável não se aprofundar estudos históricos diante de fenômeno tão amplo como a Internet. Se há algo bastante evidente, este é o fato de que se pode apontar a Internet como o principal fenômeno informacional ocorrido desde que a área foi formada. A difusão da Internet e a sua clara repercussão na sociedade nos leva a torná-la o ponto central de revisão sobre os conceitos que tínhamos sobre fenômeno informacional. Aquilo que aparentemente parecia estático (o macroambiente) se mostrou dinâmico. Demandas globalmente reprimidas de informação passaram a impulsionar a humanidade, sem um projeto político aparente de nenhum grupo. Com isso, deu-se início à criação de novos ambientes globais mais dinâmicos de informação. A aparição de fenômenos novos, como é o caso da Internet, gera a motivação necessária ao estudo histórico, nascida sempre a partir do estímulo por novas exigências e novas obscuridades, “pois a história se relaciona sempre com a necessidade e a situação presentes, nas quais aqueles fatos propagam sua vibração” (CROCE, 1962). A história da imprensa, por exemplo, pode ser considerada parte integrante do estudo do passado da civilização ocidental, e a natureza de seu impacto é, ainda hoje, assunto de interpretação. 71 Em: http://www.cramster.com/reference/wiki.aspx?wiki_name=Alan_Kay / (Technology is anything that wasn't around when you were born) 87 Podemos considerar que nenhum evento político, eclesial, econômico, sociológico, filosófico e literário pode ser completamente compreendido sem essa importante variável (STEINBERG, 1961). Sem dúvida, o nascimento de um novo meio de comunicação e informação é, ao mesmo tempo, estimulante e assustador, pois qualquer tecnologia industrial, independente da área, estende dramaticamente nossas capacidades e nos torna inquietos, desafiando-nos, inclusive, a repensar o nosso próprio conceito de humanidade (MURRAY, 2001). É preciso compreender, portanto, o lugar fundamental das tecnologias da comunicação e da inteligência na história cultural, permitindo olhar a razão, a verdade e a história de uma nova maneira (LÉVY, 1993). Sem um cenário mais amplo, global e com antecedentes históricos para comparação, portanto, passamos a tratar fenômenos sociais não estudados e repentinos como obras da natureza, ou corriqueiros, como se fizessem parte das coisas do mundo. Porém o papel da Ciência é justamente este: compreender e dar uma lógica sempre provisória às coisas do mundo e tentar transformá-las em teorias, com sua lógica própria, aprofundando da melhor forma possível os conceitos, que também são históricos, na nossa capacidade e necessidade de defini-los. Procura-se, assim, traçar e registrar movimentos prováveis e elementos condicionantes e condicionados para que se possa, no presente e futuro, lidar melhor com ele e, quando possível, agir de forma mais eficaz. A história da troca de informação entre os humanos é feita de rupturas. Essa parece ser a percepção, quase unânime, de todos os que estudaram os diferentes ambientes de informação ao longo do tempo. O desenvolvimento do intercâmbio de informações entre os seres humanos se caracteriza mais por um processo de abalos que de continuidade. De tempos em tempos, mudamos a maneira de realizar esse intercâmbio, o que repercute inevitável e drasticamente na maneira de pensar e agir da sociedade. Não são poucos os autores que têm ido à história para comparar a Internet a outras mudanças tecno-informacionais, como vemos o exemplo abaixo, quando a explosão aparece no passado: Os estudiosos, ou mais genericamente os que buscassem o conhecimento, também enfrentavam problemas. Observemos deste ponto de vista a assim-chamada "explosão" da informação - uma metáfora desconfortável que faz lembrar a pólvora - subseqüente à invenção da imprensa. A informação se alastrou "em quantidades nunca vistas e numa velocidade inaudita". Alguns estudiosos logo notaram as desvantagens do novo sistema72. O astrônomo humanista Johann Regiomontanus observou, por volta de 1464, que os tipógrafos negligentes 72 Grifo do autor. 88 multiplicariam os erros. Outro humanista, Niccolò Perotti, propôs em 1470 um projeto defendendo a censura erudita. Mais sério ainda era o problema da preservação da informação e, ligado a isso, o da seleção e crítica de livros e autores. Em outras palavras, a nova invenção produziu uma necessidade de novos métodos de gerenciamento da informação. (BURKE, 2002) Há entre historiadores certo consenso de que as passagens tecnológicas podem variar em dimensão. Há, por um lado, as passagens menos perceptíveis, também chamadas incrementais, que são reconhecidamente fruto de microcrises informacionais, superadas por novas tecnologias que resolvem crises pontuais. Por outro lado, há as passagens tecnológicas maiores e mais perceptíveis, conhecidas como passagens tecnológicas radicais, que resultam de macrocrises informacionais. São exemplo desta última as passagens tecnológicas que tiveram início quando o ser humano começou a falar, a escrever e a trocar informações, através do computador. São momentos na história que modificam de forma visível a maneira com que lidamos com a informação, pois há uma mudança no suporte pelo qual a informação é recebida e transmitida, o que influencia todo o processo (LÉVY, 1999). Diante disso, pesquisadores de diferentes áreas optaram por definir que estas rupturas marcaram determinadas “eras”, “ordens”, “tempos de espírito” e “ecologias informacionais”. O que se pode perceber foi que um modelo de troca anterior passava a outro bastante diverso, a partir da introdução de dada tecnologia de informação e comunicação, permitindo significativa alteração na maneira de produção e consumo da informação. Burke acredita ser possível identificar, ao longo da história, esses momentos de mudanças radicais e incrementais como um grande sistema vivo, em contínua mudança (BRIGGS e BURKE, 2006). Se pudéssemos traçar um gráfico da evolução do uso da informação pelos seres humanos nos últimos cinco mil anos, a curva ascendente que vai do grunhido ao correio eletrônico não poderia ser vista de formar regular. Em vez disso, o que se observaria é que cada ponto marca níveis diferenciados de velocidade e alcance da comunicação (MAN, 2002). Masuda descreve etapas distintas da comunicação humana: a da linguagem, a da escrita, a da imprensa e a do computador (MASUDA, 1980). Santos, ao explicar a passagem do computador para a rede, define como divisores a “ordem do livro” e “ordem da Internet” (SANTOS, 2006). Briggs e Burke dividem a história informacional da seguinte maneira: impressão (c.1450 C), alfabeto (c.2000 a.C) e a escrita (c.50000 a.C) (BRIGGS e BURKE, 2006). Man destaca que primeiro tivemos a invenção da escrita, levando à criação das sociedades grandes, duradouras, com elites clericais. Em um segundo momento, a invenção do alfabeto trouxe a escrita até o alcance das pessoas comuns, a partir dos quatro anos de 89 idade. O terceiro momento teve início a partir da invenção da imprensa com tipos móveis, que surgiu na Europa quinhentos anos atrás. E o quarto momento, finalmente, é aquele “que parece estar nos transformando em células de um cérebro planetário, é o advento da Internet” (MAN, 2002). Ao analisar a história dessa memória coletiva, Leroi-Gourhan opta pela seguinte classificação: transmissão oral, escrita por meio de tábuas ou índices, das fichas simples, da mecanografia e o da seriação eletrônica (LEROI-GOURHAN, 1965). Podemos aferir, assim, que há certo consenso de que, de fato, para analisarmos a história da troca de informação humana é necessário, a título de uma melhor compreensão do processo, dividi-la em etapas, como um elemento facilitador científico para traçar sua história. É bom ressalvar que toda divisão histórica, em qualquer época, será sempre aleatória, refletindo um exercício arbitrário de um dado historiador, ou de um conjunto deles, para defender determinado ponto de vista. Le Goff, historiador francês, considera que todo o estudo sobre o passado sempre será, de alguma forma, “uma obra de ficção”, pois só é possível o trabalho sobre algo constatável, que pode sofrer alterações, a partir de novas realidades futuras, “já que o discurso histórico, ele mesmo, faz parte da história” (LE GOFF, 1977). A separação, portanto, por etapas, é apenas um facilitador para compreensão de uma determinada fase para outra de melhor compreensão, a partir da reavaliação de fatos passados, a partir de fenômenos presentes. Dessa forma, seria possível, através de momentos similares, analisar fatos de hoje, com melhores parâmetros, comparando-os (ou relacionando-os) com o que já ocorreu no passado. Desse ponto de vista, não seria científico afirmar que a história da informação seja marcada por tal ou qual época, como uma verdade absoluta. Porém, observa-se que há momentos nessas passagens em que a forma de produção e consumo da informação foram profundamente alterados. Percebe-se uma passagem bem demarcada pela chegada de uma nova tecnologia informacional. Há um conjunto de mudanças relevantes para a sociedade e, portanto, merece ser chamada a atenção. Ressalva-se, assim, que é possível aferir uma dada separação histórica, tomando o cuidado, porém, não perder de vista que se trata de uma abordagem sujeita a questionamentos, pois ela é “histórica”, com os dados e elementos existentes para essa comparação. A divisão sugerida por Lévy, ao definir a história da informação em três tempos de espírito (oral, escrito e digital), se assemelha aos demais, mas preserva um mérito ao acrescentar um dado relevante. O autor não só define os momentos de passagem, mas também consegue perceber a diferença entre estes momentos, estabelecendo que, em cada uma destas 90 passagens, ocorreram novas possibilidades de trocas informacionais, inviáveis devido aos limites técnicos da tecnologia anterior, a saber, um-um, um-muitos, muitos-muitos. O um-um no mundo oral, o um-muitos com a escrita, rádio, TV e até o computador na sua primeira fase, e o muitos-muitos, à distância, com o surgimento da Internet (LÉVY, 1999). Poderíamos detalhar essas trocas informacionais definidas por Lévy, como: um-um – contato direto entre duas pessoas (mundo oral); um-muitos – contato entre um emissor para vários receptores (mundo escrito e comunicação de massa); muitos-muitos – contato entre diversos emissores e receptores (radioamadores, Internet e as ferramentas colaborativas da rede). Em diversos livros, Lévy, filósofo da tecnologia, considerou a chegada da Internet (complementando o mundo digital, do computador) como mais uma passagem relevante na forma do ser humano trocar conhecimento, a partir de novas tecnologias. Segundo Lévy, constituíram-se, em torno dessas novas tecnologias, tempos diferentes do espírito, a saber: da oralidade, da escrita e da informática digital (LÉVY, 1993). A relevância das observações de Lévy está em perceber que em cada uma dessas passagens o ser humano conseguiu ampliar aquilo que já fazia em torno da fogueira no início da jornada humana, através da expansão dos intercâmbios humanos, vencendo as barreiras de espaço (presença física no mesmo horário) e de tempo (mensagens que podem ser decodificadas muito depois de terem sido emitidas), como é o caso do texto em papel e similares, que possibilita o registro e a preservação das mensagens orais, seja impresso ou manuscrito. Assim, pode-se afirmar que o tempo de “espírito da oralidade” se caracterizou pela troca de conhecimento humano através da fala e da audição. Antes da fala, as tribos humanas interagiam através dos gestos e de grunhidos, em uma clara impossibilidade de realizar atividades em grupos mais complexas, criando uma dependência quase total em relação às forças da natureza, tanto do domínio do fogo, por exemplo, quanto da possibilidade de ter alimento, criação, sem precisar caçar (LEROI-GOURHAN, 1965). O tempo de espírito da escrita, que aparentemente surgiu por volta de 50.000 a.C, libera a relação informacional um-muitos, permitindo a troca de ideias para fora do seu tempo e lugar, a partir da possibilidade do registro das ideias humanas em determinado suporte (da pedra ao papel mais sofisticado, passando depois tanto pelo rádio e pela televisão). Ideias 91 presas no local passaram a ser levadas para longe, ampliando a possibilidade de comunicação de ideias e liberando a memória, que armazenava todo o passado. O tempo de espírito digital se inicia com a chegada do computador por volta da década de 40, a qual estabelece nova possibilidade de troca de informações humanas. Todos os registros, iniciando com os textos (e depois incorporando áudio e imagem), passam a migrar para uma nova possibilidade, baseada, de forma física, em troca de impulsos elétricos em placas de silício, assumindo formas lógicas de números. Tais formas lógicas vão se sofisticando ao longo do tempo, incorporando linguagens de programação, incluindo ícones e a interface, através de teclados, mouses e, mais recentemente, comandos de voz. Atualmente, já existem comandos de ondas elétricas do próprio cérebro, o que marca a maturidade de um processo que estabelece a possibilidade de unir o planeta por meio de redes, constituindo um novo ambiente. Há a possibilidade de estabelecer nestes três momentos a seguinte tabela (tabela 18): Tabela 22 - dos três tempos de espírito, tecnologia e formas de interação DOS TRÊS TEMPOS DE ESPÍRITO, TECNOLOGIA E FORMAS DE INTERAÇÃO TEMPOS TECNOLOGIA FORMAS DE INTERAÇÃO Oral Fala Um-um, um-muitos, muitosmuitos (restritos ao local) Escrita/Meios de Massa/Digital Escrita, rádio, TV e computador sem rede Um-todos (à distância) Digital em Rede Computador em rede Todos-todos Fonte: LÉVY, 1999. Pode-se avaliar que a possibilidade de troca de informação à distância em cada uma destas plataformas possibilitou que novas ideias passassem a circular na sociedade, tanto do ponto de vista de quem recebia, quanto de quem emitia a informação. Basicamente, há nesse processo a procura incessante pela inovação e a redução de custo do suporte informacional, no caso da escrita e do computador. A massificação da escrita ocorre, a partir do surgimento da chegada do livro impresso, em 1450, que, só então, consegue uma máquina reprodutora (a prensa de Gutenberg), capaz de iniciar um processo de massificação da escrita73. Não seria, portanto, disparatado considerar que os momentos que antecederam cada uma destas rupturas as sociedades tinham em comum demandas informacionais reprimidas nas sociedades. Tais demandas estariam atreladas a modelos mentais de um ambiente viciado por ideias delimitadas pela circulação de locais, por um lado, ou filtradas por determinadas mídias 73 A grosso modo, podemos chamar o livro impresso de Escrita 2.0, para fazer uma comparação com a massificação da Internet com a Web 2.0. 92 como é o caso do rádio e TV, que impediam uma circulação mais ampla de ideias naquele ambiente, o que acabou por se expandir com o livro impresso na Idade Média e agora com a Internet no final do século passado. Nota-se, por exemplo, que o surgimento da fala, no lugar da escrita, foi um organizador humano para atender a um conjunto de demandas não solucionáveis, impeditivas da evolução da nossa espécie. Houve, quando o homem começou a falar, a necessidade de uma melhoria física dos ossos e músculos do crânio e da boca, a invenção de palavras, que correspondessem ao que se via, registros aceitos por todos, para identificações de ações e objetos necessários para a expansão do processo de ampliação das tribos (LEROIGOURHAN, 1965). Tal avanço libertou a humanidade de um mundo de sombras, de incompreensão, de despersonalização dos indivíduos. . A fala representou um enorme salto na história humana, pois permitiu o detalhamento maior do mundo, antes limitado pelos gestos e grunhidos. Havia, porém, um claro limite da troca informacional, a qual, para acontecer, dependia que emissor e o receptor estivessem necessariamente na mesma hora e local, em uma conversa direta permeada de intervenções de ambas as partes, por meio de mensagens abertas, na qual cada um poderia, interferir no discurso do outro (LÉVY, 1999). É interessante observar que havia a interação um-um (conversas individuais) pari passu com outras formas de interação um-muitos (um chefe fazendo um discurso para a tribo) ou com uma conversa grupal muitos-muitos (todos em volta da fogueira). Porém, todas as interações informacionais possíveis estavam limitadas ao tempo e lugar. Tal limitação, de certa forma, impedia a capacidade principalmente de receber novas ideias, restringindo a geração de inteligência coletiva que se dá a partir da interação com pessoas de outras regiões e de tempos diferentes (LÉVY, 1999). O tempo de espírito oral fortalecia o poder local, criava suas crenças e dogmas, muitos deles ligados à força da natureza, que não sofriam a interferência das ideias do mundo exterior, somente aquelas trazidas por viajantes que vinham do mundo externo Assim sendo, criava-se, por sua vez, práticas e tradições que dificultavam possibilidades de mudanças de todos os tipos. Reconhece-se ter havido, no tempo de espírito oral, portanto, uma macrocrise informacional do mundo oral, pois na necessidade de expansão daquelas tribos havia sempre um limite da possibilidade das ideias circularem, em função da falta de uma tecnologia que as expandisse para além do local e do tempo. O surgimento de uma nova mídia - através da escrita iniciada nas paredes da caverna, passando depois pelos papiros e depois pelos papéis manuscritos e depois impressos - libertou a humanidade dos grilhões do mundo oral, sem 93 porém abrir mão dele, que continuou a se expandir, como foi o surgimento do telefone (umum) à distância, e como mais recentemente o uso do Skype74, por exemplo. Não há registros da passagem das tribos falantes para as não-falantes. Os antropólogos que estudam o assunto optam por tentar precisar esse tempo pelo estudo da formação dos crânios de nossos antepassados. O objetivo é procurar, naquelas relíquias, traços que possibilitavam o uso mais complexo da boca, permitindo a emissão de sons mais bem articulados (LEROI-GOURHAN, 1965). O estudo da ruptura do oral para o escrito também é escasso, o que se explica pela própria natureza daquele ambiente das palavras, sem documentação ou registros recuperáveis. Pode-se supor, pela lógica, entretanto, que havia ali (como agora) demanda informacional reprimida, e que a fala, a mídia dessa fase, era impeditiva para que novas possibilidades pudessem ocorrer. A chegada da escrita vem tentar dirimir essa limitação, possibilitando a circulação de novas ideias na sociedade. A partir do momento que novas ideias chegam, novos pensamentos são articulados, novos conceitos passam a ser trocados e repensados, “oxigenando” a sociedade e permitindo que mudanças sociais possam ocorrer e, assim, levar a humanidade ao mundo escrito. O surgimento da escrita inaugura o início do registro e da recuperação da memória humana, o que não só retrata a história do conteúdo das ideias, mas também nos ajuda a perceber a evolução do seu próprio suporte. Com a escrita estabelece-se uma ponte entre o sistema oral mais fluido, flexível e colaborativo para outro, que a fixa e aprisiona o tempo, com uma mudança de foco do auditivo para o visual, rompendo distancias. A escrita preservou o trabalho intelectual das gerações anteriores para as novas gerações, o que não ocorreu com o tempo oral, no qual “muita coisa hoje considerada básica ficou de fora” (BRIGGS e BURKE, 2006). O aparecimento da escrita, entretanto, não foi um fato fortuito, nem tampouco de fácil absorção pela sociedade. Foi amadurecido durante milênios, no interior dos sistemas de representação, através da notação linear do pensamento possibilitada graças à emergência do metal e da escravatura. A inovação incidiu sobre as cúpulas do sistema. Isso foi possível na medida em que se aperfeiçoaram as palavras e as frases, permitindo sua projeção na memória das gerações e alargando-se a níveis mais profundos o conhecimento (LEROI-GOURHAN, 1965). Esta maturação, longo ciclo, é uma característica de todos os novos tempos, e ocorreu também com a imprensa de Gutenberg, uma invenção “que estava prestes a acontecer” 74 Ferramenta para conversa a distância, via Internet: www.skype.com 94 (MAN, 2002). Podemos dizer que havia sempre certa latência a ser superada, um traço característico de uma macrocrise da informação. O mundo pré-livro impresso caracteriza-se pelo esgotamento de um modelo informacional caracterizado pelo aprisionamento das trocas de ideias, cuja transmissão se dá oralmente. A alternativa a esse modelo, o livro manuscrito, era um suporte caro, com mobilidade reduzida, com códigos escritos em Latim, um idioma que poucos dominavam, fortemente controlado pelas estruturas de poder da época, tanto a Igreja quanto a Monarquia. Um exemplo é a demanda de leitura, por parte dos europeus, no final da Idade Média, que já não se contentavam com a escassez do livro impresso. Manuscritos – inclusive iluminuras – foram produzidos em número cada vez mais elevado nos dois séculos anteriores à invenção da impressão gráfica, nova tecnologia introduzida para satisfazer uma demanda crescente por material de leitura (BRIGGS e BURKE, 2006). Estas rupturas são fruto de demandas sociais de conhecimento (necessidade de mais opções de leitura, por exemplo) e criam crises globais e também a necessidade de maior oferta informacional, o que abre espaço para novos e mais dinâmicos ambientes globais de informação: ... o monopólio intelectual dos monges da Idade Média, baseado em pergaminhos, foi solapado pelo papel e pela impressão gráfica do mesmo modo que o ―poder do monopólio sobre a escrita‖ exercido pelos sacerdotes egípcios na idade dos hieróglifos havia sido subvertido pelos gregos e seu alfabeto (BRIGGS e BURKE, 2006). Sob esse prisma, a história social do conhecimento (e da informação) pode ser descrita por uma interação constante entre outsiders e establishment, entre amadores e profissionais, empresários e assalariados intelectuais. Pode ainda ser descrita como um constante jogo entre inovação e rotina, fluidez e fixidez, degelo e congelamento, conhecimento oficial e não oficial (BURKE, 2003). Por um lado, a população crescia, corria para as cidades, deixava de ser capaz de produzir os produtos e serviços para a sua própria sobrevivência, ampliando cada vez mais a necessidade de inovação e, por outro, os espaços para que as ideias circulassem estava restrito ao ambiente local, às conversas, e raramente havia acesso à escrita. Pode-se dizer que o livro impresso conseguiu massificar a escrita, que antes não conseguia exercer, de fato, seu potencial. Tal movimento se caracterizou, por um lado, pela ampliação de textos fora do Latim, através de campanhas de alfabetização na língua corrente (feita fortemente pelos protestantes) e, por outro lado, pelo barateamento do suporte, livro impresso. 95 Assim sendo, a escassez, percebida no pré-livro impresso, se transformou na explosão da informação no período pós-livro impresso. Ao conseguir produzir livros impressos, a situação se inverteu: o que havia sido um problema de falta de livros no final da Idade Média, ou século XV, se transformou em seu contrário- a abundância do século XVI (BRIGGS E BURKE, 2006). A Europa Moderna assistiu a uma verdadeira “explosão do conhecimento”, que se seguiu à invenção da imprensa, aos grandes descobrimentos e à chamada “revolução científica”. Leroi-Gourhan lembra que em nenhum outro momento da história humana a sociedade conheceu uma tão rápida dilatação da memória coletiva75 (LEROI-GOURHAN, 1965). Contudo, essa acumulação de conhecimentos criava novos problemas ao mesmo tempo em que resolvia outros (BURKE, 2003). Neste ponto, Chartier lembra que a proliferação textual tornava-se obstáculo ao conhecimento, e por isso gerou a necessidade de instrumentos capazes de tirar, classificar, hierarquizar. “Mas, irônico paradoxo, essas ferramentas são, elas próprias, novos livros que se juntam a todos os outros” (CHARTIER, 1997). Para comprovar a mencionada “explosão”, registra-se que por volta de 1600 aproximadamente 400 academias haviam sido fundadas apenas na Itália e poderiam ser encontradas por toda a Europa, de Portugal à Polônia. Cerca de três ou quatro milhões de almanaques foram impressos no século XVII na Inglaterra, bem como em Veneza, com quase dois milhões de cópias, resultando na produção de mais de 16 mil títulos com 18 milhões de cópias na Europa feitos por uma média de 500 editores. (BURKE, 2003). Em 1455, “todos os livros impressos na Europa poderiam ser carregados em um vagão simples. Cinquenta anos depois, os títulos chegavam a dezenas de milhares, os exemplares, a milhões” (MAN, 2002). Apareceram, assim, os problemas da recuperação de informação deste novo volume de dados e, ligadas a isso, a seleção e critica de livros e autores. Este fato exigiu novos métodos de administração de informação para que se pudesse administrar “um oceano no qual os leitores tinham de navegar, ou uma enchente de material impresso em que era difícil não se afogar” (BRIGGS e BURKE, 2006). É interessante observar que a oferta impulsiona, como consequência, a ampliação das bibliotecas e a necessidade cada vez maior de catálogos, sua atualização e do conhecimento dos novos títulos pelos bibliotecários. Como havia mais livros do que era possível ler durante 75 Deixando claro que ele escreveu seu livro em 1965, na fase pré-Internet, o que ressalta mais ainda a caracterização da repetição do fenômeno. 96 uma vida, devia-se ajudar os leitores a escolher, produzindo bibliografias selecionadas e, a partir do final do Século VXII, resenhas das novas publicações (BRIGGS e BURKE, 2006). A nova forma de troca de ideias significou, marcadamente, uma mudança da maneira de se controlar a informação. Passou-se de um ambiente limitado pelos livros manuscritos e controlado pela Igreja e nobreza a uma nova ordem de editores que resolveu, a procura de lucro, disseminar todo o tipo de autores pela Europa. O primeiro revolucionário que utilizou livros e jornais impressos para difundir com sucesso suas ideias foi Martinho Lutero (1483-1546), pois acreditava que através deles era possível que a população “tivesse acesso direto a Deus sem necessidade de mediação dos clérigos” (BRIGGS e BURKE, 2006). Como consequência direta do efeito do uso da mídia, conseguiu-se o envolvimento da população para a Reforma Protestante, em uma clara afronta à Igreja Católica, que só admitia a difusão da palavra de Deus em latim. Lutero traduziu e publicou via impressoras, pela primeira vez, a bíblia em Alemão. A Bíblia Luterana, em alemão76, produzida pelo impressor Witterberg Hans Lufft, vendeu cem mil cópias em 40 anos (1534 a 1574). Estima-se que, de 1517 a 1520, as trinta obras de Lutero tenham vendido mais de 300 mil exemplares, e que tenha chegado a quatro mil cópias o discurso Aos nobres cristãos da nação germânica, em 1520 (BRIGGS e BURKE, 2006). O protestante inglês John Fox profetizou, com razão, que o papa deveria abolir o conhecimento e a impressão gráfica, ou esta acabaria com ele em longo prazo. Com efeito, foi isso o que de fato ocorreu, ao menos parcialmente. (BRIGGS e BURKE, 2006) Lutero, entretanto, não pôde ser silenciado, a exemplo do reformador Jan Hus (1415) e John Wycliffe (1382), ambos mortos na fogueira por ideias similares. A diferença de Lutero para os outros dois foi sua capacidade de utilizar a nova mídia a seu favor, já que seus escritos estavam disponíveis em grande número e a preços bastante razoáveis (HEWITT, 2007). O livro impresso, portanto, permitiu que diversos reformadores isolados tivessem o poder de inspirar pequenas comunidades locais, por meio da nova capacidade de se comunicar em grande escala. Em função do livro, em apenas uma semana, as ideias de Lutero ficaram conhecidas na Alemanha e, em um mês, na Europa, isso em um mundo fechado e regionalizado, que só conhecia, até então, o livro manuscrito (HEWITT, 2007). 76 Antes da Reforma, a Bíblia só era publicada em latim. 97 É importante ressaltar que a mudança do controle da informação, diretamente questionadora dos poderes estabelecidos, cria uma marcante disputa pelo poder social, em um jogo entre demanda e oferta de informação, definindo nessa luta, muitas vezes não evidente, a continuidade das instituições e as benesses de quem delas se beneficia. A impressão gráfica facilitou a acumulação de conhecimento, por difundir as descobertas mais amplamente e por fazer com que fosse mais difícil perder a informação (...) a nova técnica desestabilizou o conhecimento ou o que era entendido como tal, ao tornar os leitores mais conscientes da existência da história e das interpretações conflitantes (BRIGGS e BURKE, 2006). A velocidade de impressão era assustadoramente maior que a do livro manuscrito, já que era preciso um mês ou dois para se produzir uma simples cópia deste, comparada a quinhentas cópias em uma semana daquele. Com a prensa, pode-se dizer que, se ao mesmo tempo os legisladores podiam dirigir melhor seus súditos, com impostos e leis padronizadas, os súditos, por sua vez, tinham ali a ferramenta para organizar revoltas (MAN, 2002). A escrita, entretanto, não fez com que a palavra oral desaparecesse, pois complexificou e reorganizou o sistema de comunicação e da memória social (LÉVY, 1999). Além disso, permitiu que um novo estilo cognitivo se instalasse (LÉVY, 1993): “a sucessão da oralidade, da escrita e da informática como modos fundamentais de gestão social do conhecimento não se dá por simples substituição, mas antes por complexificação e deslocamento de centros de gravidade” (LÉVY, 1993). Na Idade Média os livros estavam “acorrentados” às bibliotecas, eram lidos em voz alta. Graças a uma modificação na dobradura, tornaram-se mais portáteis, sendo então difundidos maciçamente. Portanto, o livro só veio a se tornar uma mídia de massa quando as variáveis tamanho e massa atingiram um valor suficientemente baixo (LÉVY, 1993). Sendo assim, pode-se dizer que houve um constante processo de inovação e melhorias facilitar a relação com aquele suporte e a tornar mais agradável o folhear das páginas e por uma melhor diagramação, com textos distribuídos em capítulos e parágrafos. Nesse mesmo processo, pode-se destacar a introdução de notas impressas nas margens e, para facilitar a recuperação, sumários cada vez mais detalhados, índices organizados em ordem alfabética (BRIGGS e BURKE, 2006), e ainda fontes legíveis, revisões de provas tipográficas, numeração de páginas de rosto e prefácios. Enfim, um grande processo de evolução para transformar o livro em um meio coerente de comunicação (MURRAY, 2011). Para exemplificar o resultado desse esforço, o filósofo Thomas Hobbes (1588-1679) louvava a chegada dos livros de bolso que o permitiam ler no saguão ou na antecâmara, enquanto seu senhor atendia visitas (BRIGGS e BURKE, 2006). 98 É importante destacar que a nova mídia ganhou uma legião de empreendedores para difundir – e lucrar – com a difusão do conhecimento. Tais empreendedores encarregaram-se, por interesse de expandir o seu mercado, de produzir melhorias e redução de custos em sua mercadoria (BRIGGS e BURKE, 2006). Com a chegada dos tipos móveis avalia-se que o custo médio das publicações tenha caído cerca de 400 vezes (HEWITT, 2007). A publicação de livros mais baratos descentralizou o poder do conhecimento e mudou para sempre a estrutura da sociedade, pois conseguiu “tirar” das mãos da elite o papel de interpretação abalizada. Os volumes dos mais variados permitiram a chegada de novas ideias aos membros da classe média burguesa, possibilitando que eles mesmos avaliassem a informação. Esse processo eliminou parcialmente o domínio exclusivo da igreja e da corte, e fez com que a alfabetização se tornasse uma necessidade. Por fim, despertou o fogo intelectual latente durante vários séculos, marcando o fim da Idade Média (HEWITT, 2007). A imprensa também facilitou a interação e a padronização de conhecimentos em lugares diferentes, permitindo que os mesmos textos fossem lidos ou que imagens idênticas fossem examinadas (BURKE, 2003). No regime clássico da escrita, “o leitor encontrava-se condenado a reatualizar o contexto a um alto custo, ou então a restabelecê-lo a serviço das Igrejas, instituições ou escolas, empenhadas em ressuscitar e fechar o sentido” (LÉVY, 1999). A era Gutenberg possibilitou a criação de um verdadeiro genoma intelectual, fomentando a difusão de conhecimento, que passou, de forma mais fácil e barata, de geração a geração. Esse período adubou o solo do qual brotaram a história moderna, a ciência, a literatura popular, a nação-estado – e muito do que chamamos hoje modernidade (MAN, 2002). O livro impresso também viabilizou a Renascença, permitindo que um grande número de escritores, músicos, políticos, religiosos, cientistas, médicos e exploradores passassem a transmitir seu conhecimento (HEWITT, 2007). Mas, da mesma maneira que trouxe diferentes vantagens, problemas também foram detectados, a exemplo da crise da superprodução, colocada como tema teórico entre 1910 e 1914. O excesso de volumes, ou “livros demais para poucos leitores”, gerou um ambiente “perigoso ou inútil” para a constituição do próprio saber, sempre baseado em escolhas e triagens (CHARTIER, 1997). A escrita, assim, ao mesmo tempo em que libera as ideias humanas dos grilhões do tempo e lugar, em contrapartida também introduz na sociedade a figura do emissor distante, não presente, que, por sua própria característica, reduz o espaço do diálogo, tão comum no mundo oral entre emissor e receptor, não permitindo mais, na troca pela escrita, a interferência do receptor nas ideias do emissor. A relação que a partir da escrita se estabelece 99 é uma relação desproporcional - a mensagem escrita é por natureza fechada, imune à alteração (LÉVY, 1999). Em contrapartida, como benefício, permite que novas ideias circulem na sociedade, levando a mensagem, independente da presença física de seu emissor, a territórios distantes Além disso, a mensagem escrita permitiu a preservação da memória do passado, possibilitando tanto o registro de um conjunto de inscrições quanto à sofisticação da civilização na constituição de cidades, administrações, contratos entre pessoas. A escrita, assim, possibilitou à humanidade solucionar determinadas demandas que antes eram inviáveis de serem minimizadas ou resolvidas através da palavra oral. Há, assim, a introdução de uma nova tecnologia cognitiva, que permite a ampliação da possibilidade de troca de conhecimento humano, inaugurando a possibilidade de uma interação um-muitos à distância (não eliminando o um-muitos presencial), na qual cada participante não precisa estar mais no mesmo tempo e lugar. Tal troca se estabelece, entretanto, através de mensagem “fria”, fechada, sem a possibilidade de alteração, através de um receptor para um emissor distante. Esse modelo não apenas molda as trocas informacionais, mas também influencia a maneira da sociedade se organizar por meio do modelo hierárquico de organização da sociedade. A interação informacional um-muitos atravessa os séculos e se amplia, caracterizando-se como fenômeno de massa com a chegada do livro impresso, pois a prensa de Gutenberg consegue reduzir bastante o custo do preço unitário do livro, comparado ao do manuscrito, o que possibilita a sua rápida difusão na Europa. Tal “explosão da informação” claramente demarca o fim de uma macrocrise informacional, característica da Idade Média, esta, uma época marcada pela troca oral e pelos raros livros manuscritos (escondidos em bibliotecas de pouco acesso), o que limitava muito ao conjunto da sociedade repensar os seus pensamentos, dificultando, por conseguinte, a circulação de ideias , a inovação de hábitos e costumes e dos modos de produção de produtos e serviços. O mundo a distância um-muitos é a base do modelo informacional que molda as tecnologias que se seguiram, tanto do rádio quanto da televisão, incluindo diversos projetos na própria Internet, que se mantém com a premissa do Tempo de Espírito anterior, através de mensagens unidirecionais, fechadas, à distância, sem interferência do receptor. A Internet com suas características vem derrubar essa barreira. 100 Ao analisar a ruptura da sociedade, a partir do livro impresso, principalmente com o fim da Idade Média, por volta de 1450, os pesquisadores que de dedicam ao tema constataram algumas características daquele momento na sociedade: escassez das fontes da informação (baseadas no poder do clero e monarquia); problemas produtivos, em função da dificuldade de trocas de ideias; entraves no desenvolvimento da inovação produtiva; desinformação, produzida pelos canais informacionais dominantes. Tal tempo de espírito era baseado, principalmente, pela tecnologia do livro manuscrito, suporte principal das ideias circulantes da época, complementado ainda pelo discurso oral, principalmente nas Igrejas, por meio dos sermões dos papas. A Bíblia, principal livro manuscrito da época, era em Latim, e sua tradução para os idiomas proibida. Era necessária a interpretação da “palavra de Deus” por alguém que tivesse capacidade de entendê-la e reproduzi-la. Esse tempo do espírito gerava uma crise informacional global invisível para a sociedade, já que ideias não circulavam, impedindo que os problemas fossem resolvidos. Tal situação se agravava com o aumento da população, que saltou de 300 mil em 1400 para 400 mil em 1500, e se concentrou nas cidades, abandonando a produção do seu sustento (alimentação e vestimentas). Nesse contexto, a prensa de Gutenberg aparece como um fenômeno isolado, fora de contexto e sem nenhum tipo de consciência histórica por parte de seu criador. A prensa não vem com a intenção de resolver nenhum problema humano, a não ser reproduzir textos religiosos de forma mais barata e poder lucrar com eles (MAN, 2002). Constata-se, assim, que há uma disparidade na solução crise informacional da Idade Média, disparidade essa entre a tecnologia que vem superá-la e a intenção de seus criadores. O novo suporte viabiliza as mudanças, mas quem o inventa não tem consciência de seu potencial e não tem essa intenção. O mesmo fenômeno se deu depois com a Internet. A crise que marca o fim da Idade Média foi uma macrocrise informacional, pois estava limitada pela possibilidade das trocas de ideias, através de um canal dispendioso e com pouca capacidade de mobilidade como era o livro manuscrito. O livro impresso, assim, de forma não intencional foi um canal natural para que as ideias, antes restritas, passassem a circular, e que a crise global da informação fosse superada, através da formação de um novo ambiente informacional na sociedade. Tal ambiente viabiliza as inovações que vêm a seguir, tanto do ponto de vista econômico (Revolução Industrial), 101 quanto político (Revolução Francesa) e religioso (Reforma Protestante). Todos esses movimentos só se tornam possíveis pela chegada desse novo canal de troca, que viabiliza a inovação, levando, por conseguinte, a sociedade a resolver os seus impasses. Podemos, assim, afirmar que aquela crise global teve a seguinte sequência: escassez informacional e problemas sociais correlatos; surgimento de tecnologia informacional sem a intenção de solução destes problemas; adesão em massa a essa tecnologia; explosão informacional; mudanças sociais de todo tipo, a partir do novo canal aberto, que passa a “oxigenar” a sociedade com novas ideias. Tal situação se assemelha à chegada da Internet. Este recurso surgiu na sociedade por meio de projetos que não tinham a consciência da crise e, em vez disso, visavam proteger pontos estratégicos do território americano de um possível ataque nuclear. Os canais de troca de ideias eram asfixiados pelas poucas fontes, ligadas a Indústria de Massa (Rádio, tevê e jornal) A Internet vem, por fim, resolver essa escassez, através de uma multiplicação de novas fontes. Observa-se nos dois momentos a expansão da capacidade humana de se comunicar. No livro impresso foi possível o envio de mensagens fechadas para muito mais gente, através de uma definição clara entre emissor e receptor, na Internet expande-se a conversa a distância e permite-se interferir no registro da mensagem de várias maneiras. Tal mudança acelera o processo da transmissão da informação e abre um novo canal de oxigenação social para a troca de ideias. É de se supor, se nos basearmos na experiência do passado, que diversas ideias circulantes visam a criação de produtos, serviços e a formulação de novas propostas nos campos econômico, político e social. Percebe-se nessa subseção a similaridade entre os fenômenos de ruptura da informação, com macrocrises, o que nos possibilita ter mais clareza para analisar a macrocrise da informação digital atual, explicitada com a chegada do computador e da Internet. 102 2.4.1 A MACROCRISE DA INFORMAÇÃO DIGITAL Nesta subseção se detalhará o evento da macrocrise da informação digital, explicitada com a chegada, em primeiro lugar, do computador e depois deste em rede, com a Internet. A introdução do computador na sociedade, nos seus primeiros passos, tem várias implicações para a interação informacional humana. Permite a inclusão de novos registros em um meio que permite fácil alteração da mensagem por quem produziu e por quem consome a informação. Além disso, facilita a realização de cópias infinitas, através da reprodução no próprio meio digital (disquetes, CDs, pen-drives), além da realização de uma recuperação de registros através de ferramentas de busca locais e a incorporação de som e imagem ao texto produzido, principalmente nos CDs. A evolução do mundo digital segue o mesmo caminho da difusão do livro impresso na sociedade: a criação de uma forte indústria em torno da tecnologia (parte por novos empreendedores e parte por antigos que perceberam com antecedência seu potencial), seguida de inovações incrementais na direção de redução de custo e facilitação do uso. O mundo digital tem dois momentos bem demarcados em sua expansão: a chegada do microcomputador em 1980 e a Internet, a partir de 1990 - um ambiente de troca de dados sob um mesmo protocolo, que expande o potencial do computador. A rede digital permite a drástica redução de custo de acesso, principalmente com a chegada da banda larga, em 2004, quando surgem, em paralelo e de forma massiva, inúmeras ferramentas colaborativas (CAVALCANTI e NEPOMUCENO, 2006). A Internet tem como características principais: o acesso a registros a longa distância; a alteração dos registros por quem os consome; a interação muitos-muitos à distância; a sofisticação da interação um-um / um-muitos à distância; a incorporação e a potencialização do que já era característica do computador isolado; a inclusão de novos registros em um meio que permite fácil alteração da mensagem por quem produziu e por quem consome a informação; a possibilidade de cópias infinitas em rede; a recuperação de registros, por meio de ferramentas de busca, agora locais e globais. 103 a incorporação de som e imagem ao texto produzido. A transformação que estas mudanças geram no ambiente informacional da sociedade é evidente, ampliando as conquistas da humanidade que se deram pela escrita e pelo mundo oral e as potencializando, através de um meio com grande capacidade de armazenamento, difusão, troca e recuperação. As técnicas de processamento e armazenamento de informações e conhecimentos tornam possíveis determinadas evoluções culturais. Elas são produto de uma sociedade e de uma cultura e, portanto, carregam consigo projetos, implicações e expectativas variadas, e historicamente determinadas (...) Assim, as tecnologias da inteligência possibilitaram a expansão de formas do saber, ao longo do tempo. (LÉVY, 1993) Há uma primeira fase da digitalização dos registros que se amplia com a conexão dos computadores em rede, por meio de um código universal de troca de dados. Tal aparato inaugura uma nova possibilidade de interação à distância, que é a troca de conhecimento humano baseada na interação muitos-muitos77, na qual cada participante não precisa mais estar no mesmo tempo e lugar e pode realizar encontros à distância para troca de mensagens, de novo “quentes”, abertas, já que permitem a alteração no processo e resgatam, em parte, a possibilidade da troca oral por meio de tecnologias digitais. O autor destaca que as formas sociais do tempo e do saber, se nos parecem hoje mais naturais e incontestáveis ou até mesmo invisíveis, baseiam-se, na verdade, no uso de técnicas historicamente datadas e, portanto, transitórias (LÉVY, 1993). Tal percepção é compartilhada pelo programador Alan Curtis Kay, partir de sua famosa frase: “uma tecnologia só é uma tecnologia se você nasceu antes dela.78” A Internet é mais uma tecnologia intelectual, que se assemelhava por diferentes motivos à passagem humana dos grunhidos para a fala, deste para a escrita e ainda desta para o computador. Tais quebras marcavam pontos históricos de ruptura informacional da humanidade, significavam rompimentos com o passado e permitiam que a humanidade pudesse resolver problemas até então insolúveis com a tecnologia disponível, principalmente pela expansão da possibilidade das tecnologias anteriores, mas, sobretudo, pela viabilidade de se realizar novas formas de interação (CHARTIER, 1997). O tempo digital se inicia com a chegada, na década de 40, do Eniac, primeiro computador de grande porte que ocupava um andar inteiro de um prédio. O mundo digital caracteriza-se como uma revolução das estruturas de suporte material e das nas maneiras de leitura, através da separação, por meio da tela, entre corpo e texto. É também o início de uma 77 78 Observa-se, por exemplo, que os radioamadores já prenunciavam esse tipo de interação. http://pt.wikipedia.org/wiki/Alan_Kay 104 fase na qual há forte tendência da pulverização das noções de autor, editor e distribuidor (CHARTIER, 1997). Lévy considera que, nesse novo mundo, trabalhamos com quatro pólos fundamentais: o da produção ou composição de dados; o da seleção, recepção e tratamento dos dados; o da transmissão; e o do armazenamento dos mesmos (LÉVY, 1993). O mundo digital evolui e se massifica com a chegada do microcomputador, na década de 80; depois, com a difusão da Internet, que inicia seus primeiros protótipos na década de 60; massificando-se a partir de 1990, quando ganha a dimensão atual. A Internet é fruto de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem. (LÉVY, 1999). Castells identifica, nessa formação, a presença de quatro camadas culturais: a cultura hacker, a comunitária virtual, a empresarial e a tecno-meritocrática. Considera o autor que estas formam a base de uma nova cultura da rede: (...) feita de uma crença tecnocrática no progresso dos seres humanos, através da tecnologia, levado a cabo por comunidades de hackers, que prosperam na criatividade tecnológica livre e aberta, incrustada em redes virtuais que pretendem reinventar a sociedade, e materializada por empresários movidos a dinheiro nas engrenagens da nova economia (CASTELLS, 2001). A Internet introduz um novo momento comunicacional no planeta, pois permite a ligação de qualquer ser humano a outro, possibilitando a comunicação das comunidades entre si e consigo mesmas, o que suprime, de certa forma, os monopólios de difusão e permite que cada um emita para quem estiver envolvido ou interessado (LÉVY, 1999). As redes, de fato, têm vantagens extraordinárias como ferramentas de organização, em virtude de sua flexibilidade e adaptabilidade inerentes, características essenciais para se sobreviver e prosperar num ambiente em rápida mutação. A Internet, em particular, permite ao humano a flexibilidade e a criação de novas formas organizacionais superiores para a ação humana. “E mais do que apenas quantidade de usuários, permite qualidade de uso” (CASTELLS, 2001). A Internet é uma tecnologia particularmente maleável, suscetível de ser profundamente alterada por sua prática social, e conducente a toda a uma série de resultados sociais potenciais a serem descobertos por experiências, não proclamados de antemão, mas, sim, dependentes do seu contexto e processo (CASTELLS, 2001). O conhecimento interativo surge com a Internet e similares, fruto da influência do surgimento das redes eletrônicas, que mudam a forma de comunicação humana através de 105 uma quebra de paradigma, só comparada à invenção da escrita, do papel e da prensa de Gutenberg. Barreto analisa o mesmo fenômeno sob o olhar de um cientista da informação. Concorda com Lévy ao considerar que há uma mudança profunda com a chegada das redes, criando uma cultura eletrônica, momento similar ao da passagem da cultura oral para a escrita – tipográfica. O pesquisador lembra que o desenvolvimento e a vivência da cultura escrita tipográfica influíram na ocorrência da revolução industrial e do nacionalismo radical, fatos relevantes da história da humanidade. Barreto avalia ainda que as transformações que ocorrerão com a passagem para a cultura eletrônica e da realidade virtual ainda estão se delineando (BARRETO, 1998). A Internet estabelece outro paradigma para a CI, através do conhecimento interativo. Segundo Barreto, tal momento se inicia com o surgimento da massificação do mundo digital, com o advento da escrita acêntrica (em função, entre outros recursos, dos hiperlinks), criando nova conformação no relacionamento com o receptor e com o conhecimento. "O texto entrelaçado com outras estruturas traz uma vinculação e um emaranhado de cadeias imprevisíveis sem uma qualificação hierárquica" (BARRETO, 2007). Giramos, assim, segundo Barreto (BARRETO, 1998) em torno de dois eixos centrais, a interatividade e a interconectividade: Interconectividade – possibilidade que tem o usuário de informação de deslocarse, no momento de sua vontade, de um espaço de informação para outro, e de um acervo de informação para outro. O usuário passa a ser seu próprio mediador na escolha de informação, o determinador de suas necessidades; passa a ser o julgador de relevância do documento e do acervo que o contêm em tempo real, como se estivesse colocado virtualmente dentro do sistema de armazenamento e recuperação da informação. A interconectividade reposiciona a relação usuário - espaço informação. Interatividade – possibilidade de acesso em tempo real pelo usuário a diferentes acervos de informação; múltiplas formas de interação entre o usuário e as estruturas de informação contidas nestes acervos. A interatividade modifica a relação usuário - tempo – informação, reposiciona os acervos de informação, o acesso à informação e à sua distribuição, e também o próprio documento de informação ao liberar o receptor dos diversos intermediários que executavam estas funções em linha e em tempo linear, passando para o acesso on-line e com linguagens interativas. 106 É válido conceber, então, que mudanças provocadas pelas tecnologias intensas de informação trarão alterações na mediação da relação receptor - informação e da relação informação - conhecimento. Estas transformações têm estabelecido um novo relacionamento em meio ao gerador e o receptor, e são mudanças que, em sua essência, ficarão para sempre. A partir desse novo cenário, passa a ser necessário estabelecer nova conceituação das estruturas de informação, dividindo-as entre fechadas e abertas. As estruturas de informação fechadas passam a ser os artefatos que estão explicitamente formatados e finalizados em seu conteúdo, por razões das características de seu formato ou por uma necessidade de integridade de sua estrutura: Sua substância não pode e nem deve ser alterada após sua finalização. O objeto de informação apresenta um acabamento que condiz com a qualidade e com as características da informação ali contida. É um formato próprio dos documentos lineares em que se supõe uma temporalidade continua que vai contemplando o sentido como em um folhetim único e com uma escrita que não é interrompida. (BARRETO, 2007) Estruturas de informação fechadas podem ser vistas nos livros, artigos de periódicos impressos, imagens acabadas e impressas, documentos históricos, legais ou contratuais, patentes concedidas etc. "Não é a forma que determina a completeza, mas uma impossibilidade de nova modificação no conteúdo por interação com o gerador ou o receptor" (BARRETO, 2007). Já as informações de estruturas abertas são objetos que estão em desenvolvimento ou que, apesar de pré-acabados, podem ter seu conteúdo modificado: Estruturas de informação abertas são objetos que ainda estão se fazendo ou que, apesar de pré-acabados, podem ter seu conteúdo modificado continuamente devido a um sucessivo diálogo do gerador consigo mesmo ou a uma ingerência, permitida e espontânea, de um coletivo de participantes. Nessas estruturas abertas, a informação é aberta em fluxo, e não acontece uma só transmissão de informação, existe um contínuo colóquio interativo de enunciados entre geradores e receptores. (BARRETO, 2007) Ao se apresentar um novo mapa, a escrita digital, composta de textos paralelos, subverte a estabilidade da posição do autor e sua autoridade em relação ao texto. A escrita múltipla e a sua apropriação colocam uma nova condição para o pensar, tanto para o autor quanto para o receptor (BARRETO, 2007). Há, assim, por um lado, a introdução de novas possibilidades de práticas, com enunciados e identidades, e, por outro, a remoção de características de gênero da autoria. Desestabilizam-se também hierarquias semânticas existentes na escrita tradicional e re- 107 hierarquiza-se a comunicação com base em critérios que eram anteriormente tratados como irrelevantes. Mas, sobretudo, se dispersa o conteúdo, deslocando-o no tempo e no espaço, e eliminando as barreiras entre o autor e o leitor. As escrituras digitalizadas, entrelaçadas e distribuídas em rede, certamente reposicionarão as condições de apropriação da informação. Estudos e pessoas começam a aparecer para pesquisar o assunto (BARRETO, 2007). A comunicação em sistemas complexos e abertos - por seu dinamismo e pela infinidade de elementos e de relações que dela fazem parte - não pode ser tratada da mesma maneira, como nos sistemas simples. Em sistemas complexos, não é possível isolar e reduzir o processo de comunicação a um único aspecto que se verificaria com o envio de uma mensagem entre uma fonte e um receptor através de um canal determinado. Neles, as relações e a comunicação que se desenvolvem entre diferentes agentes são múltiplas, ocorrendo simultaneamente por “canais” diversos e produzindo os mais variados tipos de informação ao mesmo tempo. Neste caso não existem “fluxos”, mas sim um processo de sincronização entre os diversos elementos, cada qual com suas constrições, que, no final do processo, produzem algo que não existia antes. Nesse caso a informação não pode ser tratada como algo quase material, identificada à mensagem, mas deve ser entendida como uma emergência, um evento provocado por um processo de sincronização entre diferentes fluxos. Burke, na mesma direção, ao estudar o passado nos traz a convicção de que a explosão do pós-guerra e a atual não foram fenômenos isolados da história humana: Observemos deste ponto de vista a assim-chamada "explosão" da informação - uma metáfora desconfortável que faz lembrar a pólvora - subseqüente à invenção da imprensa. A informação se alastrou "em quantidades nunca vistas e numa velocidade inaudita". Alguns estudiosos logo notaram as desvantagens do novo sistema. O astrônomo humanista Johann Regiomontanus observou, por volta de 1464, que os tipógrafos negligentes multiplicariam os erros. Outro humanista, Niccolò Perotti, propôs em 1470 um projeto defendendo a censura erudita. Mais sério ainda era o problema da preservação da informação e, ligado a isso, o da seleção e crítica de livros e autores. Em outras palavras, a nova invenção produziu uma necessidade de novos métodos de gerenciamento da informação. (BURKE, 2002) Por esse ponto de vista, as rupturas informacionais se iniciam a partir de uma dada tecnologia, mas as consequências de seu uso são feitas principalmente pelo potencial que a nova forma interativa à distância permite e não pela tecnologia em si. Tal expansão permite que haja uma espécie de oxigenação da forma pela qual as ideias circulam na sociedade, saindo de uma limitação de um dado ambiente para outro mais rico em possibilidades: “por meio desta expansão viabiliza-se uma mudança na concepção sobre a produção e manutenção 108 do conhecimento. O saber estanque e restrito a um local e data expande-se, desterritorializa-se e descentraliza-se” (LÉVY, 1993). Dessa maneira, é possível imaginar que antes da ruptura informacional havia alguns fatores que determinavam uma latência por novos ambientes informacionais. A descentralização e a desterritorialização da informação eram limitadas, e apenas com o surgimento de uma nova tecnologia essas limitações poderiam ser superadas. Caracterizavase, nesse momento, o pré-surgimento da nova tecnologia, dando vazão às demandas de um momento de macrocrise informacional. As macrocrises poderiam ser identificadas por uma escassez informacional. Não só as fontes eram limitadas, mas também a possibilidade de descentralização e a desterritorialização. Na superação da crise, inverte-se o quadro, passando da escassez para a abundância, para o excesso, denominado na área de explosão informacional. Tal processo pode ser melhor visto ao se analisar a passagem do livro manuscrito para o livro impresso e depois com a chegada da própria Internet, com a conexão dos computadores. Nestes dois momentos, podemos considerar uma mudança (incremental) na tecnologia, porém há uma expansão do uso, o que potencializa a nova forma interativa que se expande pela sociedade. Observa-se esse fenômeno na Europa com a chegada do livro impresso, em 1450. As demarcações, que podemos chamar de arbitrárias, são artefatos para ajudar a compreensão dos fatos que ocorreram em torno de visíveis rupturas tecnológicas informacionais, à procura da maior versatilidade dessas novas ferramentas de produção de ideias, que passam da periferia à hegemonia. É o que Castells sugere, por exemplo, citando Stephen J. Gould, com as chamadas quebras de paradigmas tecnológico: “os sistemas tecnológicos evoluem incrementalmente, mas, de tempos em tempos, sofrem descontinuidade. Estas descontinuidades são marcadas por revoluções tecnológicas que introduzem um novo paradigma tecnológico” (CASTELLS, 2004). O conceito de sistemas tecnológicos é a principal referência para essa análise e se alinha com o que percebeu Ellul, de que a tecnologia apresenta um modo paradoxal de operar: resolve problemas apenas por meio da criação de novos problemas (LIMA, 2007). Essas rupturas são marcadas pela nova maneira com que cada tecnologia cognitiva surge, se estabelece e permite uma nova forma de interação humana na sociedade, através de novos suportes informacionais. No tempo oral, por exemplo, as mensagens lingüísticas eram sempre recebidas no tempo e lugar em que eram emitidas. A fala não tinha suporte de armazenamento, se perdia ao vento. 109 Emissores e receptores compartilhavam uma situação idêntica e no mesmo universo de significação. Naquele tempo, a única possibilidade de troca entre as partes era a comunicação presencial, na interação humana um para um. Havia ali um constante diálogo, reciprocidade, mas com o aprisionamento do conhecimento no tempo e lugar (LÉVY, 1999). Por este ângulo, considerada a pré-história dos ambientes da informação, é possível supor que todas as outras tecnologias de informação e comunicação vieram, na evolução desta, permitir a libertação humana do tempo e lugar, expandindo a capacidade de comunicação à distância para atender as necessidades de ocupação do planeta e superar problemas informacionais que estavam impedindo a humanidade de se expandir em direção de outros lugares Como disse Lévy: “as técnicas de processamento e armazenamento de informações e conhecimentos tornam possíveis determinadas evoluções culturais” (LÉVY, 1999). Nessa escalada, ao registrar a fala em determinado suporte, a escrita passa a permitir que dada mensagem escape do espaço fechado do mundo oral. Possibilita, pela primeira vez, que ideias sejam levadas a milhares de pessoas, sem as barreiras do tempo e lugar, reverberando o pensamento dos vivos e, por consequência, a herança dos mortos, independente das diferenças culturais ou sociais. Esta “alforria informacional” possibilitou aos atores da comunicação um novo tipo de interação indireta, mais profícua. Estabeleceu-se, pela primeira vez na história, a possibilidade da comunicação “um-todos” à distância, ampliando o horizonte humano para novas conquistas (LÉVY, 1999). Além disso, ao conectar diferentes computadores em rede - verdadeiras máquinas de produção de registros líquidos - cria-se o espaço para a produção universal por qualquer pessoa a custo reduzido, através dos blogs (MORENO, 2009). Há também o compartilhamento de mudanças de textos de forma coletiva, tal como a Wikipédia, potencializando o que os antigos rabinos antigos já faziam quando comentavam nas margens do Talmude (CHARTIER, 1997). Além destas características inovadoras, pode-se dizer que a Internet propicia uma radical ruptura nos ambientes de conhecimento. Ademais, propicia também mudanças no suporte do texto e a forma de leitura, a liberação do tempo e lugar, do diálogo de muitas vozes nesse ambiente atemporal e sem fronteiras. Esse meio, assim, resgata a co-presença das mensagens em um retorno ao seu contexto original, como ocorria nas sociedades orais, e estabelece pela primeira vez, na escalada do conhecimento mais dinâmico da humanidade, a interação todos-todos à distância (LÉVY, 1999), o que, em certa medida, o rádio-amador começou a fazer décadas atrás. 110 A Internet possibilita, assim, a reorientação do fluxo informacional em tempo real umum e no diálogo entre vários participantes todos-todos (LÉVY, 1999). Trata-se, de certo modo, de um retorno para as conversas dos grupos nas cavernas, em torno das fogueiras. Como bem destaca Castells, esse é o principal elemento para caracterizar a ruptura do tempo da rede digital: “a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muito com muitos, num momento escolhido, em escala global” (CASTELLS, 2001). Ao analisarmos as grandes rupturas nos tempos de espírito na humanidade podemos constatar que, ao se introduzirem novas mídias, as mais antigas não são abandonadas, mas coexistem e interagem. É possível que haja, sem problemas, uma convivência natural entre a velha e a nova, competindo, imitando ou se complementando mutuamente (BRIGGS e BURKE, 2006). Há quem defenda que deva haver uma ponderação maior ao tratar do tema, pois apesar de se constatar rupturas, por exemplo, entre a cultura do livro manuscrito e a do livro impresso, é possível perceber uma forte linha de continuidade entre os dois momentos, observando-se a impressão em um processo muito mais lento do que se imagina, a princípio, “por sucessivos deslizamentos” (CHARTIER, 1997). Todas as sociedades sem escrita se baseavam na memória de autênticos especialistas: chefes de família já idosos, bardos, sacerdotes que assumem, na humanidade tradicional, o importante papel de mantenedores da coesão do grupo. Sendo assim, são poucos os elementos para se resgatar a chegada da fala na humanidade. A situação é diferente no caso da escrita e, principalmente, do surgimento do livro impresso, pois é vasto o material de pesquisa sobre essa passagem. A Internet e suas tecnologias em rede digital vêm trazer, por sua vez, novos horizontes nesse caminhar humano. Parece que há forte consistência na defesa que diversos autores têm feito na comparação destes dois momentos (chegada da Internet e livro impresso), como podemos observar na tabela 19, que se desdobra por mais duas páginas: Tabela 23 - comparação entre a chegada do livro impresso versus a chegada da internet COMPARAÇÃO ENTRE A CHEGADA DO LIVRO IMPRESSO VERSUS A CHEGADA DA INTERNET AMBIENTE DA ESCRITA IMPRESSA (1450 – 1990) AMBIENTE DIGITAL (1990-?) Nova tecnologia que vem de fora da estrutura de poder - da sociedade. Gutenberg era um empreendedor que queria vender livros. Nova tecnologia que vem de fora da estrutura de poder – A Internet se inicia para resolver problemas militares. O livro impresso é uma tecnologia de comunicação e informação radical – que permite novas vozes, desestruturando com novas ideias o ambiente de poder da sociedade, diferente das outras tecnologias A Internet é uma tecnologia de informação e comunicação radical - que permite novas vozes, desestruturando, com novas ideias, o ambiente de poder da sociedade, diferente das outras tecnologias cognitivas (também inovadoras) que vieram antes, 111 cognitivas (também inovadoras) que vieram depois, como o telefone, o rádio, a tevê, mas que não tinham essa característica de descentralização do poder. como o telefone, o rádio, a tevê, mas que não tinham essa característica de descentralização do poder. Confunde-se a passagem da Indústria de Mídia para a Internet, mas não se leva em conta essa descentralização. Adesão de empreendedores – que percebem o potencial da nova tecnologia para seus negócios. Multiplicam-se editoras em toda a Europa. Adesão de empreendedores – que percebem o potencial de ter lucros com a nova tecnologia, multiplicam-se novas empresas para vender todo tipo de serviços, desde acesso até vendas pela Internet. Novo ambiente informacional – com a disseminação da tecnologia é formado um novo ambiente informacional no qual há uma mudança radical na forma de consumir e produzir informação, reduz-se a importância do mundo oral, ganhando força a palavra escrita, começa-se forte movimento de alfabetização, principalmente, com destaque, o dos Luteranos. Novo ambiente informacional – com a disseminação da tecnologia é formado um novo ambiente informacional no qual há uma mudança radical na forma de consumir e produzir informação, reduz-se a importância do mundo oral e escrito, ganhando força as trocas pelo meio digital, começa-se forte movimento de alfabetização digital. Saída de impasse – que permite com a nova tecnologia sair de paralisia social, em função de um novo canal de troca de informação entre as pessoas (livro impresso), resolvendo os impasses que o canal anterior (livro manuscrito) deixava: elitizado, escondido nas bibliotecas, caro, de difícil manuseio, com pouca possibilidade de permitir a difusão de novas vozes para gerar a informação. Saída de impasse – que permite com a nova tecnologia sair de paralisia social, em função de um novo canal de troca de informação entre as pessoas (Internet), resolvendo os impasses que o canal anterior (mídia de massa) deixava: elitizado, emissor único, caro para emissão de sinal, de difícil manuseio, com pouca possibilidade de permitir a difusão de novas vozes para gerar a informação. Objetivo principal: revelar novos valores humanos (inovadores, empreendedores, visionários, revolucionários) para que a inovação pudesse ser acelerada, através dos novos autores que passam a difundir suas ideias no papel impresso. Objetivo principal: revelar novos valores humanos (inovadores, empreendedores, visionários, revolucionários) para que a inovação pudesse ser acelerada, através dos novos autores que passam a difundir suas ideias no ambiente digital. Descentralização de poder – há uma nova gama de ideias que passa a circular na sociedade, que questionam o que era o estabelecido. Denunciam o agir e o discurso dos reis e papas, que impediam com sua ideologia que novas inovações ocorressem. Mudança fundamental da civilização para superar as novas demandas que o forte crescimento populacional trazia de novo para a sociedade, permitindo, a partir das mudanças que ocorreram, fazer mais com menos, em menos tempo, com menor custo, através da consolidação de direitos humanos, antes inexistentes. Descentralização de poder – há um novo conjunto de ideias que passa a circular na sociedade, e que desafia o que era o estabelecido. Começa-se a questionar o modelo das organizações e governos, que impediam com sua ideologia que novas inovações ocorressem. Este é um primeiro passo para a mudança fundamental da civilização em sentido de superar as novas demandas que o forte crescimento populacional traz de novo para a sociedade, permitindo, a partir delas, que se possa fazer mais com menos, em menos tempo, com menor custo, através da consolidação de direitos humanos, antes inexistentes (ecológicos, do consumidor, do lucro pelo lucro). Resultante - mais poder ao cidadão (consumidor), que ganha novos direitos, através de novas leis, com novas ferramentas de denúncia e tomada de conhecimento: papel impresso em rede social. Resultante - mais poder ao cidadão (consumidor), que começa a ganhar nova voz, que pode resultar em novos direitos, através de futuras novas leis, com novas ferramentas de denúncia e tomada de conhecimento: meio digital em rede social. Gestação de Revoluções – Tecnológicas (inicialmente) e Filosóficas (a seguir/Renascimento), que questiona os valores e estabelece novos parâmetros do que era difundido pelo poder do ambiente de informação que terminou com a chegada do livro impresso. Abriu-se, assim, novo campo para as mudanças sociais que vêm a seguir, alterando radicalmente os campos político e econômico. Para que elas ocorressem, foi necessário que filósofos apontassem novos conceitos, visionários e revolucionários, se apoderassem do uso massificado da nova mídia e percebessem as brechas conjunturais para que o conjunto da população estivesse disposta a assumir o risco da mudança mais radical. Gestação de Revoluções – Tecnológicas (inicialmente) e Filosóficas (provavelmente a seguir/Renascimento 2.0?), que deve questionar os valores e estabelecer novos parâmetros do que era difundido pelo poder do ambiente de informação que termina. Deve-se abrir um espaço para as mudanças sociais que virão, a fim de que possa seguir com a intenção de alterar radicalmente os campos político e econômico. Para que elas ocorram, (se se repetir o passado) será necessário que filósofos apontem novos conceitos, visionários revolucionários, e se apoderem da maneira de reprodução da nova mídia, e que também esperem brechas conjunturais para que o conjunto da população esteja disposta a assumir o risco da mudança mais radical. A eleição do Obama aponta um pouco esse cenário, porém, sem a filosofia da mudança, pois o Governo dele não assume o que se pregou na campanha. Oxigenação social - Nova tecnologia oxigena a sociedade com novas ideias, através da circulação de novos autores, como novo tipo de visão do mundo. Tal oxigenação não permite mais que determinadas ideias Oxigenação social - Nova tecnologia oxigena a sociedade com novas ideias, através da circulação de novos autores, com novo tipo de visão do mundo. Tal oxigenação não permite mais que determinadas ideias antigas façam sentido, criando um 112 antigas façam sentido, criando um ambiente de questionamento geral e mostrando o quanto determinadas práticas eram incompatíveis com o novo momento, evidenciando a distância entre o que se dizia e o que se fazia (Igreja única, poder papal, poder monárquico absoluto, compra de lugar no céu, indulgências, grandes palácios, impostos, fome, falta de produtos, miséria, etc.). ambiente de questionamento geral e mostrando o quanto determinadas práticas são hoje incompatíveis com o novo momento, do que se diz com o que se faz, tal como: produtos com problemas, falta de diálogo com consumidores, lucro pelo lucro, parlamentares descolados da realidade, governos centralizados, aquecimento global, fome, miséria, etc. Ampliação da visibilidade – o cidadão passa a ter instrumentos para jogar luz na sombra do poder (ideias no papel impresso), e tem noção mais clara dos atos do poder que antes ficavam na sombra. Esse espaço do qual se aproveitava o poder vigente, através dos abusos de papas e monarcas, começa a se reduzir cada vez mais, eclodindo mudanças tempos depois, com a maturação de novos conceitos e propostas para a sociedade. Ampliação da visibilidade – o cidadão passa a ter instrumentos para jogar luz na sombra do poder (ideias no meio digital), e tem noção mais clara dos atos do poder que antes ficavam na sombra. Esse espaço do qual se aproveitava o poder vigente, através dos abusos de organizações e governantes, começa a se reduzir cada vez mais, possivelmente gestando mudanças que vão ocorrer daqui a alguns anos, com a maturação de novos conceitos e propostas para a sociedade. É isso o que se tem chamado de empresas 2.0, escola 2.0, sociedade 2.0, capitalismo 2.0, temos ainda em elaboração pela Ciência. Inovações na nova tecnologia cognitiva – fazem com que fique cada vez mais fácil o acesso à informação de qualquer lugar e se torne barato para ser consumido, através de: livro de bolso, novas impressoras, nova diagramação, nova maneira de se apresentar a informação cada vez mais adaptada ao novo meio para ser digerida. O modelo anterior do livro manuscrito entra em colapso e praticamente desaparece, incorporado pelo novo ambiente. Nota-se, entretanto, que não morre a necessidade humana de se informar. Em vez disso, expande-se essa necessidade através da imagem, do som, através do contato oral (missas, teatro), passando a ser fortemente influenciada pelas ideias que circulam no texto impresso. Inovações na nova tecnologia cognitiva – fazem com que o acesso à rede fique cada vez mais aberto (faz de praticamente qualquer lugar), barato e fácil de ser consumido, através de celulares, laptops, fibras óticas, banda larga, nova diagramação na maneira de apresentar a informação e nova maneira de se apresentar a informação cada vez mais fácil de ser digerida. O modelo anterior, do livro impresso, do rádio e da TV não digital, deve desaparecer, incorporado pelo novo ambiente. Note-se que, entretanto, não morre a necessidade humana de se informar através da imagem, do som, do texto impresso e do contato oral (encontros presenciais), mas passam a ser fortemente influenciados, pelas ideias que circulam no meio digital. Massificação da tecnologia – em dado momento o custo cai a ponto de se tornar acessível para a grande massa, através da redução do preço de cada exemplar. Só neste momento há o início da percepção pela maioria das sombras do poder e se inicia a possibilidade das revoluções sociais. Massificação da tecnologia – em dado momento o custo cai a ponto de se tornar acessível para a grande massa, através da redução do preço do acesso, via banda larga. Se houver similaridade com o passado, só neste momento há o início da percepção pela maioria das sombras do poder e se inicia a possibilidade das revoluções sociais. Popularização - estabelece-se o acesso do potencial das ideias para a maior parte da população, a partir da escrita impressa. Nota-se que a escrita impressa já era utilizada há séculos, porém a população mais pobre só começa a ter acesso, a um custo razoável, a partir de 1450, quando passa a ser vendida nas primeiras livrarias, podendo-se conceituar que a chegada do livro impresso foi a viabilização da Escrita 2.0, já que poucos tinham acesso ao seu potencial. Popularização – estabelece-se o acesso do potencial das ideias, a partir do meio digital para a maior parte da população. Notase que o meio digital já era utilizado há décadas (desde 1940), porém a população mais pobre só começa a ter acesso, a um custo razoável, a partir de 1980, quando passam, inclusive, a serem vendidos os microcomputadores. Em 1990, inicia-se a comercialização deles em rede (Internet) e em 2004, passa-se a oferecer um serviço da banda larga, com custos menores, comparados ao acesso discado, via modem e linhas telefônicas. Surgem, tempos depois, as lan-houses, podendo-se conceituar que a chegada do meio digital em rede foi a viabilização do Digital 2.0 (web 2.0), já que poucos tinham acesso ao seu potencial. Com a massificação, o advento da internet ganha outro caráter. Relação humana - Estabelece-se nova forma de relação humana massificada à distância – ummuitos, na qual o autor pode expressar suas ideias sem estar presente no mesmo tempo e lugar, ampliando o poder que era restrito ao mundo oral, que o fazia prisioneiro da relação um-um, obrigando os interlocutores a estarem no mesmo tempo e lugar . Reduz-se distâncias, aumenta-se a velocidade da troca, permite-se que pessoas de uma dada região possam ter acesso a ideias dos “de fora” e diminui-se o conceitualmente o tamanho do mundo, iniciando-se um processo de globalização, sendo as ideias impressas em Relação humana – Estabelece-se nova forma de relação humana massificada – muitos-muitos, na qual os autores podem expressar suas ideias sem estar presente no mesmo tempo e lugar, ampliando o poder que era restrito ao mundo oral, pois reuniões de pessoas exigiam a presença física. Com a rede digital reduzem-se distâncias, aumenta-se a velocidade da troca, permite-se que pessoas de uma dada região possam ter acesso a ideias dos “de fora” e diminui-se conceitualmente o tamanho do mundo, reforçando ainda mais o processo de globalização, sendo as ideias espalhadas pelo meio digital a „gota d‟água‟ que faltava para novas etapas humanas, sendo esta a formadora da nova Civilização que está por se formar. 113 texto a „gota d‟água‟ que faltava para as explorações marítimas que surgem 50 anos depois, que levam os Europeus a todos os outros continentes, criando o modelo de nações que se esboçaram nos séculos posteriores. Somos a primeira geração desse novo mundo. Inteligência Coletiva - a interação (inteligência coletiva) ganha nova energia, criando os movimentos renascentistas (filosóficos) que formularão as bases e os conceitos que serão o suporte para as revoluções sociais, que virão a seguir. A Inteligência Coletiva anterior era dependente da presença física, o que impedia em muito o seu desenvolvimento. Inteligência Coletiva - a interação (inteligência coletiva) ganha nova energia. Espera-se, assim, que se criem cada vez mais movimentos renascentistas (filosóficos) que formularão as bases que serão os suportes para as revoluções sociais, que possivelmente virão a seguir. A Inteligência Coletiva anterior era dependente da presença física ou das ideias impressas, ainda via áudio e imagem, centralizadas, o que impedia em muito o seu desenvolvimento. Explosão informacional – depois de massificada com a chegada de novos autores na sociedade, via panfletos, jornais e livros impressos, expande-se radicalmente a produção de material impresso, o que obriga a sociedade a criar novas formas de armazenamento e recuperação da informação (bibliotecas, livros de índices, ficha catalográfica, taxonomia). Explosão informacional – depois de massificada com a chegada de novos autores na sociedade, via blogs, sites de comunidades, “youtubes”, expande-se radicalmente a produção de material digital, o que obriga a sociedade novas formas de armazenamento e recuperação da informação (ferramentas de buscas, diretórios, tags, folksonomia). Mudanças sociais – ocorreram, ajustando a civilização às novas ideias que passaram a circular na sociedade, permitindo novo ambiente mais compatível com a demanda da população mais numerosa. Mudanças sociais – que tem ocorrido deverão ajustar a civilização às novas ideias que passaram a circular na sociedade, permitindo novo ambiente mais compatível com a demanda da população mais numerosa. Nesta seção, procurou-se analisar os fenômenos históricos, comparando explosões informacionais com macrocrises, o que nos possibilita apresentar uma análise final da presente pesquisa. 114 2.4.2 A ANÁLISE DA PESQUISA Nessa seção final apresentamos as conclusões, a partir do que foi levantado, pesquisado e exposto ao longo de toda a tese. Podemos afirmar que abordamos questões mais teóricas do que práticas. Aproximouse mais da Ciência Pura, do que para problemas concretos, como apontou ser possível na CI, segundo Borko79. A tese, assim, teve como objeto não a coleta de dados de campo, mas fontes secundárias, do próprio registro da CI e fora dela, através da análise de conceitos para formular nova lógica sobre o fenômeno informacional, a partir de novos fatos relevantes, como a massificação da Internet no final do século passado. Nosso objetivo foi procurar argumentos, teorias e conceitos que pudessem analisar de forma mais ampla e histórica esse fenômeno da massificação da Internet, que consideramos estar imerso no que passamos a denominar macrocrise da informação digital. Acreditamos ser função de uma tese de doutorado - entre outras possíveis - alertar para certos rumos de determinada Ciência, a partir de novos fenômenos (no caso, o da Internet), procurando introduzir dúvidas e novos conceitos (no caso, as macrocrises da informação na história e a macrocrise da informação digital). Magnoli nos lembra que nenhum fenômeno histórico é igual a outro: paralelos servem para iluminar diferenças e permitir recolocar perguntas (MAGNOLI, 2010). Foi uma das tentativas. Para cumprir tais objetivos, realizou-se o aprofundamento dos seguintes conceitos: crise informação crise da informação/explosão informacional macrocrise da informação macrocrise da informação na história macrocrise da informação digital Esta tese sentiu necessidade, para cumprir seus objetivos, de questionar termos de uso corrente, tais como explosões da informação/informacionais e aprofundar outros como crises da informação, procurando construir, em seu lugar, o conceito de macrocrises da informação e sua aplicação macrocrise da informação digital, que aparecem ciclicamente em situações de 79 O outro ramo é o da Ciência Aplicada. 115 mudanças informacionais da sociedade. Procuramos demonstrar que uma explosão informacional é parte de um processo mais amplo, sistêmico e não pode ser visto de forma isolada, sob o risco de não se perceber suas causas e consequências passadas, presentes e futuras, provocando, assim, problemas de análises, tanto do ponto de vista local, como do macrocenário. Tal pesquisa, como qualquer outra, não pode ter a pretensão de chegar a conclusões definitivas, pois trabalha com as limitações do seu tempo, da capacidade do autor, das condições para o seu desenvolvimento, entre tantas variáveis, que limitam seus horizontes, além das escolhas metodológicas mais ou menos efetivas para se chegar às conclusões aqui propostas. Toda tese, portanto, tem seus méritos e deméritos, como é o fazer de toda a Ciência, um processo de tentativas e erros. Visa, entretanto, contribuir, com um novo ponto de vista, criando algumas indagações, acreditamos pertinentes, na maneira de olhar a massificação da Internet, fenômeno tão vital para a sociedade contemporânea. Novas pesquisas e estudos, principalmente no campo histórico e com o espírito de observar o fenômeno da informação do ponto de vista macro, poderão comprovar, ou não, a utilidade, a partir do aprofundamento da lógica proposta. Sugerimos, entretanto, a partir desse estudo, que ao se abordar crises locais da informação devemos levar em conta também a possibilidade de que existam acima destes macromovimentos gerais da informação, que regulam as ações nos micromovimentos informacionais, principalmente em fases de ruptura de ambiente informacional, evitando-se abordagens que não tenham um aprofundamento histórico, sob o risco de não compreender no médio e longo prazo o processo e ser induzido a erro ao se analisar fenômenos localizados. A tese alinha-se, dessa maneira, ao espírito que destacou Umberto Eco ao defender que uma tese deve procurar originalidade, levantar o que foi escrito sobre determinado tema (dentro das possibilidades de tempo e recursos) e realizar uma reorganização acrescida de releitura sobre o mesmo, descobrindo algo que ainda não foi dito (ECO, 1977). Tentamos chamar a atenção para pontos obscuros, constatar a escassez de pesquisas, alinhavar pensamentos antes não articulados, descobrir novas fontes de pesquisa, autores, resgatar conceitos de outras ciências e, através do exercício de lógica, recolocar determinadas questões que permitam que outros autores possam, a partir delas, ter novo olhar, principalmente na tentativa da compreensão da Internet, como fenômeno histórico, a partir de suas evidentes consequências para a sociedade. É preciso ter em vista, entretanto, como sugere Gleiser, que qualquer avanço da Ciência nos leva a romper determinado círculo de conhecimento. Se, por um lado, 116 conseguimos melhor dominá-lo, paradoxalmente, ao mesmo tempo, ampliamos a fronteira daquilo que nos é desconhecido. Dessa forma, qualquer trabalho científico, ao mesmo tempo em que responde antigas questões ainda não feitas, mal formuladas, ainda não abordadas ou não respondidas, aponta automaticamente para novos caminhos e dúvidas. Sob esse ponto de vista, quanto mais a Ciência avança na direção do conhecimento, mais admite seu próprio desconhecimento (GLEISER, 2010). Assim, procuramos comprovar que a história de um determinado conceito, seja ele elemento químico átomo, informação ou o inconsciente e assim por diante, envolve a emergência deste como ideia vaga, seguida de processo de esclarecimento gradual à medida que a teoria na qual ele está inserido adquire uma forma mais precisa e coerente. E observamos que a continuidade do uso, após consolidado pode conter desvios que, de tempo em tempo, a partir de novos fenômenos, precisam, de novo, serem repensados. Optamos, assim, dentro do espírito vigente colaborativo na rede digital, procurar o que havia de conceitos não especializados sobre o tema crise, informação, crise da informação, macrocrise da informação na sociedade, através principalmente da Wikipédia e Dicionário de Língua Portuguesa Houaiss e depois no que é comum e paradigmático em outras Ciências e na própria CI, para, por fim, trazer um novo olhar para enriquecer tal assunto. Reconstruímos tal discurso como um novo e pretensamente mais sintético e elaborado, como é o papel do cientista, através de uma proposta de construção do discurso do conhecimento importado pelos conceitos do educador Paulo Freire, que sugeria a reconstrução de termos, a partir do pensamento menos para mais complexos. A tese acolheu, dessa maneira, sugestão de Bell, de procurar mais do que ter repostas completas,eleger boas perguntas e desenvolver esquema conceitual científico, que teve como meta selecionar atributo particular dentro de dada realidade complexa e reuni-lo na mesma rubrica comum, de tal forma a distinguir similaridades e propor ponto de vista capaz de influenciar o raciocínio subsequente. Pretendeu, por fim, suprir lacuna teórica utilizando-se de abordagem através da pesquisa de alguns dos fundamentos da informação. Procurou, assim, apontar problemas de forma distinta e construir esquema conceitual sobre macrocrises da informação, tendo sempre em vista que qualquer “esquema conceitual não é verdadeiro ou falso, mas útil ou não” (BELL, 1973). A tese foi delimitada pela pesquisa feita na Internet aberta (nas bases de dados definidas na metodologia) pelos termos crise, macrocrise, crise da informação, macrocrise da informação, explosão informacional em websites públicos, sem necessidade de login e senha. 117 Na pesquisa de literatura sobre história da informação, do conhecimento e das mídias recorreu-se a principalmente livros impressos, em português e inglês, ao longo dos quatro anos do doutorado, principalmente, a partir da bolsa de estudos oferecida pelo CNPq80 para doutorandos. Tais opções, obviamente, delimitaram o trabalho do autor, devido ao tempo e recursos disponíveis, e pode ter, em alguma medida, ter comprometido parte dos resultados, que não devem ser visto como conclusivos, mas muito mais indutivos, propositivos e indagativos dentro do escopo desta tese. O tema poderá ser abordado ainda com mais profundidade, através de pesquisas em bases de dados protegidas na Internet. Tal ressalva deve ser feita para aqueles que desejarem continuar o presente estudo. Foram opções que fomos obrigados a fazer e certamente tiveram benefícios e prejuízos para o resultado final e devem ser destacadas quando se for analisar, estudar e, ainda citar o presente estudo. Constatamos nesse processo de pesquisa na Internet aberta que, infelizmente, a despeito de todo o movimento acadêmico pela disponibilização de material gratuito na Web, este ainda não é o padrão para a Ciência em geral nem para a CI, apesar desta ser uma área que pensa e lida diretamente com a informação. Percebe-se que o conjunto de teses acadêmicas dos cientistas da CI, principalmente do Brasil, ora não estão disponíveis, ora apontam para links inexistentes, o que torna inexata a possibilidade de afirmar que os autores contemporâneos da CI estão disponíveis em rede. Alguns pesquisadores podem ter desenvolvido tema similar, que não aparecem nas bases de dados pesquisadas, através de recuperação na rede ou de citações por outros autores. Tal fato pode ter influenciado o resultado da pesquisa e deve ser observado como um fator a ser destacado como sua limitação por quem fará uso dela para outros estudos. Deve-se ressaltar, entretanto, que há uma tendência entre os autores que abordam o tema sobre a Internet na sociedade e seus desdobramentos já estarem mais conscientes e afeitos à disponibilização de seus trabalhos em texto completo na Internet aberta, porém, isso não pôde ser comprovado. Ou seja, todas as afirmações da presente tese “de que não há ou são poucos os estudos” devem ser vistos dentro da limitação da pesquisada feita e não em todos os espaços disponíveis e possíveis, o que demandaria mais tempo para a pesquisa, o que não foi possível no tempo e na abrangência que se escolheu, o que abre a possibilidade da continuidade e o aprofundamento do estudo. 80 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - cnpq.br 118 É preciso ter em vista, assim, que a presente tese se propôs a levantar questões para reflexão, muito mais do que chegar a conclusões específicas sobre um tema amplo, novo e emergente e para tal propósito consideramos que as ideias que tivemos contato foram suficientes para esse exercício. Sobre o conceito de crise, de maneira geral, o levantamento feito pode ajudar aos estudantes de todas as áreas, não só os da informação, pois permitiu oferecer definições variadas sobre o fenômeno, incluindo a influência da informação na eclosão das crises, o que nem sempre é um fato recorrente, no material encontrado. Pode-se ter mais convicção, a partir da pesquisa que foi possível realizar e das reflexões feitas sobre ela que toda a crise humana tem forte influência do fator informacional em todas as suas fases. Crise, como se viu, é um assunto emergente em todas as Ciências, em função da globalização cada vez maior da humanidade, na qual fatos que antes isolados e não tinham repercussão mais ampla, passam a ter, o que obriga aos pesquisadores não só a rever o estudo das crises, mas, principalmente estudá-las do ponto de vista amplo e macro para poder ter uma noção geral ao se analisar questões localizadas. O que nos leva a sugerir que a relação do tema crises gerais humanas de qualquer natureza e o problema da informação é um campo vasto, interessante, curioso, multidisciplinar e, nos pareceu, pouco explorado para desenvolvimento de pesquisas na CI, com extrema relevância para a sociedade. No desenvolvimento da tese, desenvolvemos a ideia, a ser aprofundada e melhorada, de que há crises de dois tipos: pragmática (aquela que há teoria e, a partir dela, normas e manuais de condutas que não foram, por algum motivo seguidos) e crises paradigmática (na qual os conceitos e as teorias não foram concebidas para que se pudesse redigir as normas e manuais). As crises paradigmáticas são claramente teóricas e se caracterizam pelo fato de que não há e deve-se procurar desenvolver teorias e conceitos. Tais teorias serão posteriormente transformadas em normas, condutas e manuais para a ajuda prática de determinado processo para que determinada crise aguda não ocorra ou sejam minimizados os seus efeitos. Observamos que o tema crise da informação, naquilo que foi possível ter acesso, é um estudo ainda limitado na CI, principalmente voltado para situações localizadas em empresas, instituições, casos isolados e que não se encontrou na pesquisa estudos para o termo ou similares, que se aproximassem de um cenário geral ou próximo da macrocrise da informação. Tal fato - podemos sugerir - que se caracteriza como campo emergente ainda mais com a 119 demanda de fenômenos tão globais, interconectados, velozes e complexos, como é o caso da Internet. Nos estudos encontrados sobre crises informacionais optamos, de maneira geral, por processos indutivos, caminho de estudos de casos particulares, iguais ou semelhantes à procura de uma lei geral. Porém, constatou-se pouca a ênfase para a dedução que se inicia do geral para o particular ou do universal para o individual. Tal abordagem mais pragmática, nos pareceu, tem dificultado ainda mais a análise de um fenômeno Internet tão amplo, massivo e abrangente. Obviamente, que o tema pode ter sido abordado e documentado em locais nos quais o pesquisador não teve acesso, mas mesmo que isso seja fato, pode-se afirmar que é incipiente e incompatível com o estudo em outras Ciências e mesmo com a demanda de teorias que a Internet desperta, tendo como o ponto de vista o acesso de um cidadão comum ou mesmo de cientistas interessados no tema, através da pesquisa apenas na Internet aberta, através dos documentos completos ali disponibilizados. Podemos ainda afirmar, portanto, que as macrocrises da informação no geral - e a macrocrise digital no particular - podem ser caracterizadas como crises informacionais paradigmáticas, que apareceram na sociedade e não têm teorias e conceitos suficientes para prever os seus contornos, causas e, principalmente, consequências, não tendo, portanto, normas, manuais pré-concebidos que possam direcionar as atitudes a serem tomadas tanto a nível macro, como no micro. Constatamos que o conceito de macrocrises, entretanto, já é comum em outras ciências (principalmente Economia e Ecologia). Na CI, macrocrises da informação são abordadas, de forma indireta, através de nomes genéricos e correlatos, de forma ainda superficial, tais como explosão informacional ou explosão da informação, ao se referir claramente à fenômenos globais e gerais da informação, porém sem o detalhamento necessário. Notamos que tais expressões, explosões, passaram a ser de uso corrente e utilizadas geralmente nos primeiros parágrafos dos textos acadêmicos, como meio para descrever a história da própria CI e/ou caracterizar a sociedade na qual vivemos. Usa-se tais termos como se algo amadurecido, consolidado e estudado, sem maiores necessidade de detalhamento. Porém não se encontrou na presente pesquisa estudos que tivessem aprofundado ou problematizado tais questões, que nos levasse a situar tais explosões, contornos, causas e consequências e relacionando-as a uma história que não fosse da própria CI. Verificamos ainda que não foi possível identificar trabalhos que fizessem a relação destas explosões com possíveis crises globais da informação ou as perguntas: Foi a primeira? 120 Era possível prevê-la? Quais os seus contornos? Tal visão, principalmente, a-histórica e localizada pode ser um dos motivos relevantes, que tem, entre outros, dificultado ainda mais nossa capacidade de observar novos fenômenos macroinformacionais, tais como a Internet, partindo do todo e não das partes. É preciso para suprir essa deficiência que um conjunto de novos autores, pesquisadores passem a trabalhar, como contraponto, com conceitos mais amplos, históricos e globais da dimensão da Internet e do próprio fenômeno informacional. Nesse momento reverbera na área a frase de Kurt Lewin: “não há nada mais prático (ainda mais nas crises82) do que uma boa teoria” 83. Capurro, em uma visão pessimista (realista?) da produção acadêmica da CI afirma que não é tarefa árdua nem demorada encontrar muitas vezes certo caos conceitual na área, tais como citação acrítica de definições anteriores, fusão de teoria e prática, afirmações obsessivas de status científico, visão estreita da tecnologia, descaso pela literatura sem o rótulo de ciência ou tecnologia, analogias inadequadas, definições circulares e multiplicidade de noções vagas, contraditórias e, às vezes, bizarras quanto à natureza do termo informação (CAPURRO e HJORLAND, 2007). Podemos afirmar, nesse sentido, a partir desse estudo ainda inicial que conceitos tais como explosão informacional, explosão da informação e crises da informação encaixam-se provavelmente nesse diagnóstico, principalmente como definições circulares e contraditórias e por vezes obsessivas. A utilização dos mesmos chama a atenção pelo paradoxo do seu uso excessivo e, por outro, falta de aprofundamento teórico sobre ele em algo tão fundamental e marcante da CI que são os macromovimentos da informação. Os termos - podemos supor - acabaram por se incorporar à CI mais como hábito, sem que tenhamos nos debruçado com mais vagar sobre eles, bem delineado pelo pensador americano Thomas Paine como fato para o qual: “(...) o longo hábito de não pensar que uma coisa pode estar errada, lhe dá o aspecto superficial de estar certa” (PAINE, 1982). Encaixase ainda o rol das crenças, ideias nas quais acreditamos sem questionar, que aceitamos porque são óbvias e evidentes, sem fazer uma relação de causa e efeito, o que nos leva a considerar que dado aspecto da realidade é feito das causalidades (CHAUÍ, 2001). Se não há, assim, explicação teórica aprofundada para que determinados fenômenos aconteçam em dada Ciência, corre-se o risco de considerar tais explosões como fatos invisíveis e das forças da natureza ou inerentes a dado ambiente e não um relevante aspecto 82 83 Inclusão do autor. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642005000100019 121 do macrofenômeno da informação a ser estudado. Tal fato pode ser atribuído à velocidade das mudanças, através da percepção de Lévy, que considera que “quanto mais rápida é a alteração técnica, mais nos parece vir do exterior‖ – (LÉVY, 1999). Esse déficit teórico que podemos supor que ocorre na CI – e é nosso papel alertar para essa constatação preliminar - se encaixa a partir da filosofia como o princípio da razão suficiente, que é definido pela procura de uma causa ou motivo para tudo que acontece. Na razão suficiente haveria duas possibilidades: as causas acidentais ou causais, que ocorreriam apenas uma vez, para um determinado momento particular, ou aquilo que é universal e necessário, que se repetiria, por razões a serem estudadas, ao longo do tempo (CHAUÍ, 2001). O que cabe, portanto, nos questionarmos, o que objetivamos também, é se tal fenômeno das explosões da informação é atípico e único ou falta alguma peça nesse quebra cabeça teórico do fenômeno informacional para compreender explosões e mudanças nos ambientes da informação, trazidas por novas tecnologias, tais como o livro impresso e a Internet. Se é algo causal, com fatores que podem ser conhecidos e se ocorre de forma única, ou repete-se ciclicamente? Por quê? Podemos supor que as macrocrises da informação, portanto, não são apenas explosões informacionais que ocorrem sem determinados fatores indutores. Sugerimos aqui que existe uma razão suficiente para esse fenômeno e que é emergente um estudo mais aprofundado sobre tais fatores, um benefício/questão/desafio que a Internet tem colocado para todas as Ciências e, principalmente, à CI, sendo papel dessa adotar tal desafio, como o vem fazendo com mais ou menos sucesso. A aceitação, portanto, de certa forma passiva da ideia de explosões isoladas, sem nexo ou causa, como crença, pode ser inicialmente diagnosticada por: Visão a-histórica, (influenciada por uma filosofia pragmática pelos autores americanos?) voltada mais para o local, sem uma contextualização do todo; Compreensão ainda insuficiente do papel das tecnologias de comunicação e informação nas mudanças do fenômeno informacional, também a nível global e suas influências nas sociedades; Relação entre estas mudanças e o conceito de macrocrises, ainda não trabalhado, como em outras ciências. Não seria, portanto, descabido considerar como já afirmam diversos autores (Barreto, entre tantos) que o surgimento da Internet e todos os seus desdobramentos trouxeram uma 122 crise teórica paradigmática para a CI, pois os seus instrumentos de compreensão do fenômeno informacional localizados não são ou ainda foram suficientes para prever tal fato, ou mesmo analisar os seus desdobramentos. De maneira geral, há certo consenso de que a Internet tem a relevância de rupturas informacionais tais como foram a chegada da fala e da escrita, sendo esta a disseminação em rede, do computador, principalmente a partir de Lévy. Diante do exposto, podemos analisar que a visão atual da CI sobre as explosões informacionais e as crises da informação que atingem a sociedade pode ser aprofundada através da análise de fenômenos macroinformacionais da sociedade, denominados de macrocrises da informação. Constatou-se que é necessária uma revisão do conceito recorrente explosão informacional, por considerá-lo inconsistente teoricamente, aprofundando-se os macromovimentos da informação. Tal fato nos remete a uma percepção mais ampla de que é possível constatar que existem macromovimentos históricos da informação, motivados por fatores ainda a serem estudados e aprofundados, para o qual deveriam ser abertas mais pesquisas, sendo uma área que pode ser também considerada estratégica e emergente. Podemos ainda afirmar que o estudo da história da informação em um momento de uma crise paradigmática é vital para se repensar determinado fenômeno de âmbito global. Pelo levantamento da literatura dos autores que estudam a história da informação, conhecimento e mídia que macrocrises da informação, como essa que estamos assistindo com a chegada da Internet. A partir desse cenário, pode-se afirmar que as crises globais da informação, ou macrocrises, ao serem estudadas por características históricas, podem ajudar não só no estudo do fenômeno informacional pela CI, bem como ser precioso apoio para outros campos de estudo sobre crises globais, incorporando a fundamental problemática da informação. A procura de uma visão global dos fenômenos informacionais pode recolocar a CI mais uma vez como um pilar de apoio para a compreensão dos desafios teóricos e práticos que se abateram sobre a sociedade pós-Internet e de suas repercussões (no curto, médio ou longo prazo). As mudanças já verificadas são de tamanha magnitude que devem alterar tanto a maneira de pensarmos a informação, quanto à prática dos profissionais envolvidos com esta, passando de administradores de documentos a gestores de coletivos inteligentes. Tal visão nos leva ainda ao aprofundamento dos micromovimentos, evoluções incrementais das tecnologias, que ocorreram entre esses longos períodos, detalhando melhor as microcrises informacionais, porém sem perder a noção dos movimentos macros. A tese visa, enfim, alertar que nossas premissas mais básicas, como as das explosões informacionais, 123 base dos primeiros textos da CI e perpetuados na literatura podem ser mais problematizados do que vem sendo feito. Termos a consciência histórica do que a sociedade passou, passa e pode passar nos permitirá agir de forma mais estratégica, mantendo a Ciência da Informação, como previram seus fundadores, no epicentro das questões fundamentais do seu tempo, através do estudo permanente e cada vez mais aprofundado do fenômeno informacional. Acata-se, assim, sugestão de Pierre Lévy, talvez o autor mais relevante que nos levou à abordagem história, de que diante dos fenômenos recentes do avanço das tecnologias da informação e comunicação sejamos abertos e benevolentes, receptivos em relação à novidade. Dessa forma seremos capazes de desenvolver estas novas tecnologias dentro de uma perspectiva humanista. Do ponto de vista do fenômeno em si, foi possível detectar que nos contextos da macrocrise informacional existe paralelamente a percepção de que há uma escassez por falta de informações para tomada de decisão e de que há, por outro lado, com o surgimento de uma nova tecnologia (livro impresso, Internet) um aumento do volume de informações, que passa a ser impossível de ser administrado, através dos antigos métodos, capacidade profissional e tecnologias adotadas. Tanto a escassez quanto o excesso levam o ser humano a um estágio de desinformação. Se tal fato ocorre localmente, o acúmulo de fatores locais leva à sociedade a conviver com macrocrises informacionais e vice-versa. Tais macrocrises teriam como característica a inviabilidade de se resolver inicialmente problemas de escassez, que aparecem a nível local, refletindo o problema global, contra a qual surgem novas tecnologias de informação e comunicação. Estas, por sua vez, ao tentarem minimizar a escassez geram um processo de excesso, impactando os ambientes locais de informação, através de microcrises, que refletem a crise maior. Podemos supor, por exemplo, a partir dos dados analisados, que a Internet guarda significativas similaridades com o fenômeno da chegada do livro impresso. A comparação entre os dois momentos e ainda com o processo do surgimento da fala e os posteriores ajustes ocorridos na sociedade, resolvendo problemas de todos os tipos, desde sociais, econômicos e políticos, demonstram fortes indícios de que um caminho de estudo que aprofunde tais macrocrises possa ser profícuo. Pela dimensão da evolução do processo global de mudança informacional, rápido e radical, seria natural procurar comparações históricas de mudanças informacionais, promovidas por outras tecnologias de informação e comunicação. Ao se fazer o resumo e 124 ordenar o trabalho acadêmico de diversos autores que estudam o passado, podemos propor, sob o ponto de vista de macrocrise da informação, premissas fundamentais para aprofundar o assunto, tendo como base hipóteses a serem desenvolvidas posteriormente: A história da informação é uma história de rupturas - ao longo do tempo, demarcada pela chegada de novas e radicais mudanças em tecnologias de informação e comunicação, que passam a ser de largo uso pela sociedade; A crise inicial da informação se inicia com uma escassez da informação – é possível identificar momentos na sociedade (um fenômeno em vários países) em que há uma forte escassez informacional, em função do controle social exercido sobre dada tecnologia de informação e comunicação já dominada, impedindo que um conjunto de novas ideias circule na sociedade e impedindo que haja desenvolvimento social, econômico e político; A crise de escassez é resolvida com uma nova e radical tecnologia de informação e comunicação – que surge de forma inesperada, sem a intenção ou consciência histórica por parte de seus criadores e aplaca a macrocrise informacional. Passa por um período de difusão para segmentos mais afeitos a experimentações, tem uma redução de custo através de inovações incrementais e é rapidamente adotada, gerando um novo ambiente da informação, alterando a forma de se lidar com a informação; Da escassez se passa à abundância - o novo ambiente informacional passa, então, da escassez para a abundância, já que nova documentação passa a ser produzida de forma mais barata, exigindo novas formas de gestão da informação, através de métodos, novos suportes individuais (livros, discos rígidos) e coletivos (bibliotecas, bancos de dados), caracterizando, portanto, a passagem da escassez para a explosão, sendo esta uma etapa, consequência de uma dada crise e não a crise em si, que se caracteriza como causa como uma crise de escassez. Assim, é provável que possamos conceituar nos dois casos (chegada do livro impresso e da Internet) fenômenos de macrocrises informacionais, traçando os primeiros contornos de sua chegada, mudança e evolução. Assim, como se viu, uma crise tem causas e consequências. As causas são motivadas pela escassez e pela limitação da troca de ideias, que representam um obstáculo à inovação em dada sociedade. As consequências são uma dada 125 explosão documental, a partir do novo suporte informacional que se estabelece e uma nova forma de interação entre os humanos. Podemos avaliar que é possível - porém não objeto desta tese - que o fator demográfico pode exercer uma forte influência sobre as causas impulsionadoras dessa crise, um tema a ser desenvolvido por este ou outros pesquisadores interessados no tema no futuro. O início dessa hipótese pode ser visto no corpo dessa tese na subseção “O conceito macrocrise da informação‖. Nota-se que as consequências de uma macrocrise informacional, como a que se deu na Idade Média, entretanto, não se limitaram ao campo da informação. A análise histórica da chegada do livro impresso demarcou a sociedade em que vivemos, com a democracia representativa, o capitalismo, a constituição das escolas, das empresas, do parlamento e balizou os parâmetros que temos hoje de sociedade. Acreditamos que crises são situações analisadas pelo ser humano, a partir das limitações à continuidade de um determinado processo. Portanto, qualquer ruptura que se viabilize a nível macro caracterizaria o final de um determinado limite, mesmo que esse não tenha sido visível. Uma das características das crises informacionais, seria, inclusive, a própria “invisibilidade” que a envolve, por ser um movimento sistêmico global, geralmente movido por forças sem que um agente consciente desse processo, mas, pelo contrário, através de ações descoordenadas por vários agentes (empreendedores, técnicos, cientistas, usuários), que impulsiona a sociedade na mesma direção, diferente de uma revolução social, por exemplo, na qual há um propósito e uma articulação para se obter um dado objetivo. Essa constatação pôde ser demonstrada na presente tese na tabela 19 ―Comparação entre a chegada do livro impresso versus chegada da Internet‖, na qual se comparou as novas tecnologias, adesão dos empreendedores, constituição de novo ambiente informacional, saída do impasse informacional, os objetivos principais com a ruptura, a descentralização do poder subsequente, as resultantes após a massificação do novo ambiente, a gestação de revoluções, a oxigenação social, a ampliação da visibilidade ,as inovações na nova tecnologia cognitiva, a massificação da tecnologia, a popularização, as mudanças nas relações humanas, o fenômeno da Inteligência Coletiva, as Explosões Informacionais, as mudanças sociais. Tal tabela é praticamente um subproduto da presente tese e serve como base para estudos futuros históricos entre as duas rupturas da chegada do livro impresso e da Internet e carece de aprofundamento, reflexão e análise com mais fontes e, principalmente, mais fatos. Nesta tabela apresenta-se o detalhamento da macrocrise informacional digital. 126 Esse ambiente digital em rede se caracteriza, além de vários outros aspectos, pela possibilidade e facilidade a baixo custo de surgirem novas fontes de informação; por se permitir o intercâmbio de ideias de muitos-muitos à distância e pela possibilidade de cada consumidor da informação passar a ser também um produtor da mesma, através de uma atitude menos passiva, interferindo de alguma forma na mensagem emitida, além da queda gradativa das barreiras de custo, tempo e espaço. Tal passagem, de alguma forma, simboliza o início e o fim de uma época informacional global, como já havia ocorrido com o surgimento da fala e da escrita, como sugeriram vários autores (Lévy, Santos, Barreto entre outros) ao constatarem o fim de uma Era para uma nova, não só informacional, mas posteriormente de toda a sociedade, como afirma o editor da Revista de Tecnologia americana Wired: “não estamos numa época de mudanças, mas em uma mudança de época” – Chris Anderson85. Devemos, assim, como cientistas nos perguntar os porquês. Por que a Internet veio ao mundo? Veio resolver algum tipo de macrocrise? Que tipo de macrocrise? Como está sendo resolvida? E que novas crises estão sendo gestadas com a sua chegada para o futuro? Qual a relação da explosão informacional com a Internet? É causa ou consequência desta? Podemos estender esse argumento tanto em termos locais, para resolver problemas específicos, que afligem profissionais e, por sua vez, usuários e cientistas, mas, sobretudo para questões globais, estando uma, obviamente, relacionada à outra. Podemos, assim, concluir o presente trabalho, através da sua conclusão. 3. CONCLUSÃO As conclusões da presente tese podem ser divididas na percepção do antes e depois ao se analisar o problema das crises informacionais, a saber: Os ambientes informacionais sem processos de ruptura – para a informação com processos de ruptura – caracteriza-se pelo apresentado que é possível identificar ao longo da história rupturas nos ambientes informacionais. Que a forma como lidamos com a informação sofre rupturas ao longo do tempo por fatores envolvendo volume de dados e a necessidade de gerenciá-los, necessitando mais pesquisa sobre este assunto, tendo como preocupação a análise da influência da demografia nessas macrocupturas; 85 http://www.techlider.com.br/2010/08/midias-sociais-transformam-consumidores-em-parceiros/ 127 Do particular para o geral - geral para o particular – que é possível ter uma nova base para o estudo da informação, partindo do geral para o particular e não apenas do particular para o geral, um fato que se tornou recorrente na CI. Tal visão filosófica pode ser um instrumento importante para compreender macrofenômenos como o da Internet; Explosão informacional sem causa – com causa – podemos reconhecer que as explosões informacionais não são fenômenos sem causa, mas que podem ser analisados dentro dessas macrorupturas, necessitando caracterizá-lo melhor e aprofundá-lo, não sendo uma característica natural, mas criada por fatores que podem ter uma determinada lógica, voltando a repetir, tal como o aumento demográfico, a se problematizar e estudar mais; Sem conceito de macrocrise informacional – com conceito de macro-crise informacional – vimos também que é possível conceber que tais macromovimentos podem se caracterizar por macrocrises informacionais, movidas por necessidades de equilíbrio sistêmicas, necessitando, a partir dessa primeira abordagem aprofundar a questão; Não há razão suficiente para explicar as macrocrises informacionais para há razões suficientes para explicá-las – da mesma maneira como analisamos as explosões informacionais, podemos afirmar que as macrocrises da informação podem ser analisadas e estudadas pela Ciência e termos muito mais consciência do que temos hoje de seus movimentos, fatores causais, possíveis consequências, ampliando nossa capacidade de prevêlas e interferir nos seus impactos. Por fim, diante do exposto, esperamos, assim, a presente tese se torne, antes de tudo, útil para os novos e antigos cientistas que estudam o fenômeno da informação na sociedade e suas eventuais crises, localizadas ou globais, principalmente o fenômeno Internet e desdobramentos. Apontamos, assim, algumas sugestões e considerações sobre o que foi estudado, pesquisado e aqui redigido. A presente tese não se propõe a esgotar o assunto, mas a levantá-lo de forma mais evidente para que, dentro de suas limitações já citadas possa contribuir, parcialmente, para iniciar uma nova etapa da discussão. Reforçamos, assim, à procura dos contornos que nos levam a compreender de forma mais lógica as macrorupturas da informação do nosso tempo. Compreendemos que sem 128 analisar as macrocrises globais da informação elas podem causar muito mais sofrimento do que o necessário para a humanidade. 4. REFERÊNCIAS AFANASIEV, V.G. Sistemas dinamicos integrales; concepto de direcion. In: Teoria geral de Sistemas y administracion publica. Costa Rica: EDUCA-ICAL, 1977. AHMADUN. Fakharu‟l-razi; SAID, Aini Mat; SHALUF, Ibrahim M. A review of disaster and crisis. Disaster Prevention and Management. 2010, vol.19. Disponível em: http://www.emeraldinsight.com/journals.htm?articleid=871016&show=html. Acesso em: set.2010. ALAKENT, Ekin; LEE, Seung-Hyun. Do Institutionalized Traditions Matter During Crisis? Employee Downsizing in Korean Manufacturing, Organizations Journal of Management Studies, 2010 - Disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.14676486.2009.00863.x/pdf. Acesso em: set.2010. ALBAGLI, Sarita. Informação e desenvolvimento sustentável: novas questões para o século XXI. Ciência da Informação, vol.24, n.1, 1995. _____________. Conhecimento, inclusão social e desenvolvimento local. Inclusão Social, Brasília, abr./set.2006, v.1, n.2, p.17-22. Disponível em: http://www.ibict.br/revistainclusaosocial/include/getdoc.php?id=148&article=27&mode=pdf. Acesso em: set.2009. ALBAGLI, Sarita; MACIEL, Maria Lucia. Informação e conhecimento na inovação e no desenvolvimento local. Ciência da Informação, Brasília, 2004, v.33, n.3. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652004000300002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: set.2009. ALVARES, Júnior Lillian; JUNIOR, Rogério Henrique de Araújo. Parcerias Estratégicas, dez./2007, n.25. Disponível em: http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/view/310/0. Acesso em: out.2010. ANDERSON, Chris. Free – o futuro dos preços. Rio de Janeiro: Campus, 2009. ANTUNES, Ricardo. Os modos de ser da informalidade: rumo a uma nova era da precarização estrutural do trabalho? Revista Praia Vermelha, Rio de Janeiro, jan./jun.2010, v.20, n.1, p.11-20. Disponível em: http://web.intranet.ess.ufrj.br/ejornal/index.php/praiavermalha/article/viewArticle/139. Acesso em: 15fev.2011. 129 ARAÚJO, V. M. R. H. Informação: instrumento de dominação e de submissão. Ciência da Informação, Brasília, 1991, v.20, n.1, p.37-44. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/viewArticle/1226. Acesso em: out.2010. _____________. Sistemas de informação: nova abordagem teórico-conceitual. Ciência da Informação, Brasília, jan/abr.1995, v.24, n.1, p.54-76. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/532/484. Acesso em: out.2010. _____________. Sistemas de recuperação da informação: uma abordagem conceitual. In: STAREC, Claudio; GOMES, Elisabeth; BEZERRA, Jorge (org.). Gestão estratégica da informação e Inteligência competitiva. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, v. 01, p. 306-321. ARAÚJO, V. M. R. H.; FREIRE, I. Conhecimento para o desenvolvimento: reflexões para o profissional da informação. In: Informação & Sociedade: estudos. João Pessoa [em línea], 1999, vol.9, n.1. Disponível em: http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/417/338. Acesso em: set.2010. AZEVEDO, A. W. A construção da ciência da informação na pós-modernidade: dialética histórica. Revista Digital de Biblioteconomia & Ciência da Informação, Campinas, jan./jun.2009, v.6, n.2, p.71-82. BAILEY JR., C. Open access bibliography. Washington: ARL, 2005. BAPTISTA, Sofia Galvão; CUNHA, Murilo Bastos da. Estudo de usuários: visão global dos métodos de coleta de dados. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, 2007, vol.12, n.2, p.168-184. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-99362007000200011&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18out.2010. BARBOSA, Ricardo Rodrigues. Acesso e necessidade de informação de profissionais brasileiros: um estudo exploratório. Perspectivas em Ciência da Informação, João Pessoa, jan./jun.1997, v.2, n.1, p.5-35. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/32/407. Acesso em: out.2010. _____________. Sistemas de recuperação da informação: uma abordagem conceitual. In: STAREC, Claudio; GOMES, Elisabeth; BEZERRA, Jorge. (org.). Gestão estratégica da informação e Inteligência competitiva. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, v.1, p.306-321. BARRETO, Aldo de Albuquerque. A questão da informação. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, 1994, v.8, n.4, p.3-8. Disponível em: http://www.alternex.com.br/~aldoibict/quest/quest.htm. Acesso em 15fev.2011. 130 _____________. As tecnologias intensivas de informação e comunicação e o reposicionamento dos atores do setor. INFO 97, Cuba, 1997. Disponível em: http://aldoibct.bighost.com.br/Info97Cuba.pdf. Acesso em: set.2009. _____________. Mudança estrutural no fluxo do conhecimento: a comunicação eletrônica. Ciência da Informação, mai./ago.1998, v.27, n.2, p.122-127. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v27n2/barreto.pdf. Acesso em: set.2009. _____________. Os Destinos da Ciência da Informação: entre o cristal e a chama. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, 1999a, nº zero, artigo 03. Disponível em: http://www.dgz.org.br/dez99/Art_03.htm. Acesso em: set.2009. _____________. A oferta e a demanda da informação: condições técnicas, econômicas e políticas. Ciência da Informação, 1999b, vol.28, n.2, p.168-168. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19651999000200009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18out.2010. _____________. A condição da informação. In: São Paulo em Perspectiva, 2002, vol.16, n.3. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392002000300010&script=sci_arttext. Acesso em: set.2009. _____________. As tecnoutopias do saber: redes interligando o conhecimento. DatagramaZero - Revista de Ciência da Informação, dez./2005, v.6, n.6. Disponível em: http://www.dgz.org.br/dez05/F_I_art.htm. Acesso em: set.2009. _____________. Mitos e lendas da informação: o texto, o hipertexto e o conhecimento. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, fev.2007, v.8, n.1. Disponível em: http://www.datagramazero.org.br/fev07/F_I_aut.htm. Acesso em: set.2009. _____________. Memórias, esquecimento e acervo de informação. Disponível em: http://aldoibct.bighost.com.br/MemorEsquecim.pdf. Acesso em: set.2009. BARRETO, Almeida Tainá et al. Educação e saúde: problematizando gênero e sexualidade em uma escola municipal de Juazeiro - BA. Revista de Educação do Vale do São Francisco REVASF, 2010, vol.1, n.1. Disponível em: http://www.revasf.univasf.edu.br/index.php/revasf/article/view/44/16. Acesso em: out.2010. BASTOS, J. S. Y. et. al. Monitoração ambiental em contextos dinâmicos: busca e uso de informação por gerentes bancários. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, 2004, v.9, n.2. Disponível em: http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/article/view/362/171. Acesso em: out. 2010. 131 BEARZOTI, E. Comparação entre métodos estatísticos na avaliação de clones de batata em um programa de melhoramento. Lavras/MG, 1994, 128p. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Lavras, Antiga Escola de Agricultura de Lavras – ESAL. Lavras: Esal, 1994. BECKSON, Karl. O Melhor de Oscar Wilde. Rio de Janeiro: Garamond, 2000. BELKIN, N.J.; ROBERTSON, S.E. Information science and the phenomenon of information. Journal of the American Society for Information Science - JASIS, 1976, v.27, n.4, p.197- 204. BELL, Daniel. O advento da sociedade pós-industrial. São Paulo: Cultrix, 1973. BENTES, I. Globalização eletrônica e América Latina. In: MENEZES, P. Signos Plurais. São Paulo: Experimento, 1997. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/bentes-ivanaglobalizacao-eletronica.html. Acesso em: out.2010. BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. “Dicionários do Português: da tradição à contemporaneidade”. In: Alfa, São Paulo, p. 53-69, 2003. BOIN, A.; MCCONNELL, A.; HART, P. T. Governing after crisis. In: Governing after Crisis, The Politics of Investigation, Accountability and Learning. Cambridge: Cambridge Press, 2008, p. 3-30, Amacom. BORKO, H. Information Science: what is it? American Documentation, v.19, n.1, p.3-5, jan. 1968. BRAGA, G. M. Informação, ciência da informação: breves reflexões em três tempos. Ciência da Informação, 1985, v.24, n.1, p.84-88. Disponível em: http://capim.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/viewArticle/534. Acesso em: out.2010. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A crise financeira global e depois: um novo capitalismo? In: Novos estudos – CEBRAP. São Paulo, nº 86, mar.2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002010000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 28set.2010. BRETHERICK, Giselda G. S. Desterritorialização do conhecimento e descentralização do saber na obra de Pierre Lévy. Múltiplas Leituras, jan./jun.2010, v.3, n.1, p.184-196. Disponível em: http://74.125.155.132/scholar?q=cache:sgCCZYCOAdMJ:scholar.google.com/&hl=ptBR&as_sdt=2000. Acesso em: out.2010. BRUCE, C. S. Seven faces of information literacy. Adelaide: Aslib, 1997. 132 BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. BUCKLAND, Michael K.; LIU, Ziming. History of Information Science. ARIST- Annual Review of Information Science and Technology, 1995, v.30, p. 385-416. BURKE, Peter. Problemas causados por Gutenberg: a explosão da informação nos primórdios da Europa moderna. Estudos Avançados, 2002, vol.16, n.44, p. 173-185. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142002000100010&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 9set.2010. _____________. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. BUSH, V. As we may may think. Atlantic Monthly, 1945, v.176, n.1, p.101-108. Disponível em: http://www.theatlantic.com/doc/194507/bush. Acesso em: set.2009. CAMARGO, J.M. ; REIS, M.C. Desemprego: o custo da desinformação. Revista Brasileira de Economia, 2005, vol.59, n.3, p.381-425. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71402005000300003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13out.2010. CAMPOS, M.L.A. Integração de ontologias: o domínio da bioinformática e a problemática da compatibilização terminológica. VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2006, Marília. Anais eletrônicos.... Marília: Unesp, 2006. Disponível em: http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/enancib/viewpaper.php?id=163. Acesso em: set.2009. CANONGIA, C.; PEREIRA, M.N.F.; ANTUNES, A. Uso e gestão da informação na prospecção em medicamentos contra o câncer de mama. Parcerias Estratégicas, 15out.2002, pp. 93–110. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix,1982. CAPURRO, R.; HJORLAND, B. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação. Belo Horizonte, 2007, v.12, n.1. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-99362007000100012&script=sci_arttext&tlng=e. Acesso em: out.2010. CARVALHO, I.C.L.; KANISKI, A.L. A sociedade do conhecimento e o acesso à informação: para quê e para quem? Ciência da Informação, 2000, vol.29, n.3, p.33-39. Disponível em: http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/enancib/viewpaper.php?id=163. Acesso em: set.2009. 133 CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2001. _____________. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. _____________. Informationalism, networks and the network society: a theoretical blueprint. The network society. A cross-cultural perspective, 2004, p.3-45. Disponível em: http://annenberg.usc.edu/Faculty/Communication/~/media/Faculty/Facpdfs/Informationalism %20pdf.ashx. Acesso em: set.2009. CATARINO, M. E.; BAPTISTA, A. A. Folksonomia: um novo conceito para a organização dos recursos digitais na Web. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação. Rio de Janeiro, jun.2007, v.8, n.3. Disponível em: http://www.dgz.org.br/jun07/Art_04.htm. Acesso em: set.2009. CAUTELA, A.L.; POLIONI, F.G.F. Sistemas de informação. Livros científicos e técnicos, 1982. CAVALCANTI, Marcos; GOMES, Elizabeth. A sociedade do conhecimento e a política industrial brasileira. In: CASSIOLATO, José Eduardo (et al.). O futuro da indústria: oportunidades e desafios, a reflexão da universidade. Brasília: MDIC/STI, 2001, p.245-267. CAVALCANTI, Marcos; NEPOMUCENO, Carlos. O Conhecimento em Rede: como implantar projetos de Inteligência Coletiva. Rio de Janeiro: Campus, 2006. CAVALLO, Guglielmo (org.). História da leitura no mundo ocidental, vol.1. Coleção Múltiplas Escolhas. Rio de Janeiro: Ática, 1998. Tradução do original Histoire da la lecture dans le monde occidental. Paris: Laterza du Seuil, 1997. CHARTIER, Roger. A Aventura do livro do leitor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1997. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12 ed. 4º impressão. São Paulo: Ática, 2001. CHILDE, Benedetto. A história – pensamento e ação. Rio de Janeiro, Zahar, 1962. CHURCHMAN, C.W. The systems approach. Nova York: Dell Publ., 1968. 134 COCCO, Giuseppe et al. Introdução: conhecimento, inovação e rede de redes. In: COCCO, Giusepe et al (org.). Capitalismo Cognitivo: trabalho, rede e inovação. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p.7-14. ____________ CONHECIMENTO e acumulação capitalista. Jornal da UFRJ. Rio de Janeiro: UFRJ, jan./fev.2007. Entrevista com Giuseppe Cocco. Disponível em: http://www.jornal.ufrj.br/jornais/jornal23/jornalUFRJ2305.pdf. Acesso em: set.2009. CHOO, Chun Wei. A organização do conhecimento. São Paulo: SENAC, 2003. COSTA, A. F. C. Ciência da Informação: o passado e a atualidade. Ciência da Informação. 1990, vol.19, n.2. CRIPA, Willian Eduardo Righini de; SOUZA, Giulia. O campo da ciência da informação e o patrimônio cultural: reflexões iniciais para novas discussões sobre os limites da área. Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 2010, vol.15, n.29. Disponível em: http://www.journal.ufsc.br/index.php/eb/article/viewArticle/10754. Acesso em: set.2010. CRISTINO, Ana Paula da R.; KRUGER, Leonardo G.; KRUG, Hugo N. A construção de saberes reflexivos sobre corpo, gênero e sexualidade nas aulas de educação física. UNIrevista. 4º Congresso Internacional de Educação. São Leopoldo: Unisinos, 2006, v. 1, n.2, p.1-7. Disponível em: http://www.unirevista.unisinos.br/index.php?e=3&s=19. Acesso em set.2010. CROCE, B. A história – Pensamento e Ação. Rio de Janeiro: Zahar, 1962. CUNHA, Murilo Bastos da. Desafios na construção de uma biblioteca digital. Ciência da Informação, 1999, vol.28, n.3, p.257-268. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19651999000300003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 15fev.2011. CUNHA, Rodrigues Magda. A leitura do tempo no espaço: uma reflexão sobre a cultura e a memória na mídia. Conexão - Comunicação e Cultura. Caxias do Sul: Universidade de Caxias do Sul, jan./jun.2007, v.6, n.11. Disponível em: http://www.ucs.br/etc/revistas/index.php/conexao/article/view/192/183. Acesso em: set.2010. DANIEL, D.R.Management information crisis. Harvard Business Review. Harvard, 1961, vol. 39(5), p.111-121. DAVENPORT, T. H. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998. DERRIDA, J. A escritura e a Diferença. São Paulo: Perspectiva, 1995, 2 ed. 135 DIAS, Cláudia Augusto. Hipertexto: evolução histórica e efeitos sociais. Ciência da Informação, 1999, vol.28, n.3. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010019651999000300004&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: set.2009. DINIZ, Cládice N.; OLINTO, Gilda. O uso da tecnologia da informação entre universitários. VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2006, Marília. Anais eletrônicos.... Marília: Unesp, 2006. Disponível em: http://www.google.com/search?q=cache:bF2fGyio3rUJ:www.portalppgci.marilia.unesp.br/en ancib/viewpaper.php%3Fid%3D199+%22%22fatores+condicionantes+da+flu%C3%AAncia %22+gilda&hl=pt&ct=clnk&cd=1&gl=br. Acesso em: set.2009. DUDZIAK, E. A. Information literacy education: integração pedagógica entre bibliotecários e docentes visando a competência em informação e aprendizado ao longo da vida. XXI CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2005, Curitiba. Anais... Curitiba, 2005, vol.21. DZIEKANIAK, Gisele Vasconcelos; KIRINUS, Josiane Boeira. Web Semântica. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis, 2004, nº18, p.20-39. Disponível em: http://www.encontros-bibli.ufsc.br /Edicao_18/2_Web_Semantica.pdf. Acesso em: set.2010. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977, 9 ed. FALVEY, Rod; KIM Cha Dong. Timing and Sequencing. The Economic Journal, jul.1992, vol.102, n.413, p.908-924. Blackwell Publishing for the Royal Economic Society. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/2234587. Acesso em: fev.2011. FERREIRA, Helio da Silva. Otlet realizador ou visionário? O que existe em um nome? Revista de Ciência da Informação, 2006, v.3, n.2. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v35n2/a02v35n2.pdf. Acesso em: set.2009. FINK, S. Crisis Management: Planning for the Inevitable. American Management Association NewYork. Nova York, 1986. FISCHER, RS. A história da Leitura. São Paulo: Unesp, 2005. FREIRE, Isa Maria. Informação; consciência possível; campo. Um exercício com construtos teóricos. Ciência da Informação, Brasília, 1995, v.24, n.1, p.133-142. Disponível em: http://dici.ibict.br/archive/00000152/01/Ci[1].Inf-2004-590.pdf. Acesso em: set.2009. 136 _____________. A responsabilidade social da Ciência da Informação na perspectiva da consciência possível. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, 2004, v.5, n.1. Disponível em: www.dgz.org.br/fev04/Art_02.htm. Acesso em: set.2009. _____________. Acesso à informação e identidade cultural: entre o global e o local. Ciência da Informação, Brasília, mai./ago.2006, v.35, n.2. Disponível em: http://revista.ibict.br/index.php/ciinf/article/view/829/674. Acesso em: set.2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. FREITAS, Lídia Silva de. A memória polêmica da noção de sociedade da informação e sua relação com a área de informação. In: Informação & Sociedade, João Pessoa, 2002, v.12, n.2. Disponível em: http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/147/141. Acesso em: set.2010. FREUD, S. O futuro de uma ilusão. Obras Completas, v.21. Rio de Janeiro: Imago, 1987. GALDO, Alessandra; VIEIRA, Angel Freddy Godoy; RODRIGUES, Rosângela Schwarz. Classificação Social da Informação na Web: Tecnologia, Informação e Gente. DataGrama Zero - Revista de Ciência da Informação, dez.2009, v.10, n.8. Disponível em: http://www.dgz.org.br/dez09/Art_03.htm. Acesso em: set.2010. GAO, Junhong. Human resource and reputational crises in chinese organisations. Tallin, 2010. Tese (Doutorado em Filosofia). Estonia Business School, Tallin, 2010. Disponível em: http://ebs.ee/public/oppeosakond/doktoriope/Junhong_Gao_varuta.pdf. Acesso em: set.2010. GILPIN, D. R.; MURPHY, P. J. Crisis Management in a Complex World. Nova York: Oxford University Press, 2008. Disponível em: http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=_7rW6w7duDUC&oi=fnd&pg=PA3&dq=+Crisis+Management+in+a+Complex+World&ots=jt QvtS9dhe&sig=IEbk71-s86TfiHi2dP1sJrxg_Z0#v=onepage&q=information&f=false. Acesso em: set.2010. GIULIANI, Gian Mario. A questão ecológica, a indústria e o capitalismo. Raízes, Ano XVIII, n.19, mai./1999. Disponível em: http://www.ufcg.edu.br/~raizes/artigos/Artigo_40.pdf. Acesso em: set.2010. GLEISER, Marcelo. Homo Artisticus, 2009. Disponível http://poeticacoletiva.blogspot.com/2009/08/homo-artisticus-marcelo-gleiser.html. em: set.2009. _____________. Criação Imperfeita. Rio de Janeiro: Record, 2010. em: Acesso 137 GOMES, Sandra Lúcia Rebel. Bibliotecas Virtuais: informação e comunicação para a pesquisa científica. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Rio de Janeiro. _____________. Biblioteca virtual: um novo território para a pesquisa científica no Brasil. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, dez./2004, v.5, n.6. Disponível em: http://www.dgz.org.br/dez04/Art_05.htm. Acesso em: set.2009. _____________. Os ambientes contemporâneos de informação para a comunicação do conhecimento científico: mudança e crescimento. CONFERÊNCIA IBEROAMERICANA DE PUBLICAÇÕES ELETRÔNICAS NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA, Brasília, 25-28abr.2006. Brasília: UNIDERP, 2006. Disponível em: http://www.uff.br/ppgci/editais/rebelleituras.pdf . Acesso em: set.2009. GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida. A informação como instância de integração de conhecimentos, meios e linguagens. Questões epistemológicas, conseqüências políticas. In: GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M.N.; ORRICO, E.G.D. Políticas de memória e informação. Natal: EDUFRN, 2006, p.29-84. GOULD, Stephen J. The pandas thumb: More reflections on natural history. Nova York: WW Norton, 1980. HAHN, David. The financial crisis of 2009 - have reorganization proceedings in emerging markets gone bankrupt? Israel as a case study, 2009. Disponível em: http://works.bepress.com/cgi/viewcontent.cgi?article=1000&context=david_hahn. Acesso em: set.2010. HEWITT, Hugh. Blog entenda a revolução que vai mudar seu mundo. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2007. HOUAISS, Antonio. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. HWANG, P.; LICHTENTHAL, J.D. 2000. Anatomy of organizational crisis. Journal of Contingencies and Crisis management, 8 (3), p.129-139. INGWERSEN, P. The calculation of Web impact factors. Journal of Documentation, 1998, v. 54, n. 2, p. 236-243. INNIS, H. A. Empire and communications. Toronto: University of Toronto Press, 1972. 138 ISSBERNER, Liz-Rejane. Redes eletrônicas de informação em aglomerações produtivas, 2005. Disponível em: http://www.uff.br/ppgci/editais/lizpesquisa.pdf. Acesso em: set.2009. _____________. Adoção, difusão e uso de redes eletrônicas de informação em aglomerações produtivas. VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 2006, Marília. Anais eletrônicos.... Marília: Unesp, 2006. Disponível em: http://www.uff.br/ppgci/editais/lizpesquisa.pdf. Acesso em: set.2009. JOHNSON, B.; Lundvall, B-Å. Promoting innovation systems as a response to the globalising learning economy. In: CASSIOLATO, J.; LASTRES, H. Arranjos e sistemas produtivos locais e as novas políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. Rio de Janeiro: IE/UFRJ, 2000. KANBUR, Ravi. Macro Crises and Targeting Transfers to the Poor. Journal of Globalization and Development, 2010, vol.1, iss. 1, art.9. KARAMUFTUOGLU, Murat. Colaborative Information Retrieval: Toward a Social informatics View of a IR Interaction. Journal of the American Society for Information Science - JASIS, out.1998. KOBASHI, N. Y.; SMIT, J. W.; TÁLAMO, G. M. A função da terminologia na construção do objeto da Ciência da Informação. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, abr.2001, v.2, n.2. Disponível em: http://dici.ibict.br/archive/00000294/01/Fun%C3%A7%C3%A3o_da_terminologia.htm. Acesso em: set.2010. KUHN, T.S. Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo: Perspectiva, 2000. LE COADIC, Y. F. Princípios científicos que direcionam a ciência e a tecnologia da informação digital. Transinformação, Campinas, set./dez. 2004, v.16, n.3, p.205-213. LE GOFF, Jaques. A Nova História. Lisboa, Portugal, 1977. LEAMER, E. E.; STORPER, M. The economic geography of the Internet age. Cambridge: NBER, ago.2001, Working Paper, 8450. LEITE, M. As biotecnologias e suas quimeras. In: Ética das Manipulações Genéticas. Proposta para um Código de Conduta (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, org.), p.213-221, Edição Especial de Parcerias Estratégicas, Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, Ministério de Ciência e Tecnologia, 2002. Disponível em: http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrategicas/article/viewArticle/223. Acesso em: set.2010. 139 LEROI-GOURHAN, André. O gesto e a palavra – 1 Técnica e Linguagem. Lisboa: Edições 70, 1964. _____________. O gesto e a palavra – 2 Memória e Ritmos. Lisboa: Edições 70, 1965. LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência. O Futuro do Pensamento na Era da Informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993, p. 111-119. _____________. A Inteligência Coletiva por uma antropologia do ciberespaço. Tradução de Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola, 1998. _____________. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. _____________. A conexão planetária. São Paulo: Ed. 34, 2001 LIMA , João Epifânio Regis. Considerações sobre filosofia da tecnologia. I CONFERÊNCIA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIAS DIGITAIS DA UMESP – Universidade Metodista de São Paulo, 2007. Anais eletrônicos... São Paulo: Umesp, 2007. Disponível em: http://www.walterlima.jor.br/academico/Pos/casper/evolutech_efpifanio.pdf. Acesso em: set.2009. LIMA, Vanessa Wendhausen. Canais de interação na Wikipedia. Biblioteca online de Ciências da Comunicação. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/lima-vanessa-canaisinteracao-wikipedia.pdf. Acesso em: set.2009. LISTON, Rose Cristiani Franco Seco; SANTOS, Plácida L. V. A. da Costa. Representando a Information Literacy “Competências Informacionais” na Biblioteconomia. Em Questão. Porto Alegre: UFRGS, 2008, vol.14, n.2. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/viewArticle/5043/4875. Acesso em: out.2010. LUHMANN, Niklas. Introdução à teoria dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 2009. MACHADO NETO, N. R. Gestão de conhecimento como diferencial competitivo. SEMINÁRIO GERENCIAMENTO DA INFORMAÇÃO NO SETOR PÚBLICO E PRIVADO, Brasília, 1998, 4. Anais... Brasília: Linker, 1998. MAGNOLI, Demétrio. Ogro, sim, senhor! O Estado de São Paulo, 16set.2010, 1º Caderno p.7. MALHEIRO, Armando. A Ciência da Informação na Sociedade da Informação perfil e desafios. SEMINÁRIO QUALIDADE E EXCELÊNCIA NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO, Porto/Portugal, 3-4nov.2005. Porto: FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2005. Disponível em: 140 www.letras.up.pt/dctp/documentos/FLUP_Seminario_Qualidade_AMS_FLUP_ok.pdf. Acesso em: set.2009. MAN, John. A Revolução de Gutenberg. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. MARCONDES, Carlos H.; MENDONÇA, Marília A. R.; MALHEIROS, Luciana R. Uma proposta de modelo de representação do conhecimento contido no texto de artigos científicos publicados na web em formato legível por programas. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, v.7, n.5, out.2006. Disponível em: http://www.datagramazero.org.br/out06/Art_03.htm. Acesso em: set.2009. MARCHIORI, Patricia Zeni. A ciência e a gestão da informação: compatibilidades no espaço profissional. Ciência da Informação, 2002, vol.31, n.2, p.72-79. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-19652002000200008&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18out.2010. MARTELETO, Regina Maria. Social field, domains of knowledge and information practice. Journal of Documentation, 2008, v.64, p.397-412. _____________. Regina Maria; VALLA, Victor Vincet. Informação e educação popular: o conhecimento social no campo da saúde. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, jul./dez 2003, v.8, n. especial, p.8-21. MARTIN, Henri-Jean. The Hystory and Power of Writing. Londres e Chicago: The University of Chicago Press, 1994. MARTINS, Beatriz Cintra. Wikipédia – a enciclopédia colaborativa como ferramenta de estímulo à pesquisa. Espaço – Informativo Técnico Científico do INES. Rio de Janeiro: INES, jan.-dez./2006, n. 25/26, p.68-81. Disponível em: http://autoriaemrede.files.wordpress.com/2010/07/wikipedia_ferramentadepesquisa.pdf. Acesso em: set.2010. MASUDA, Y. A sociedade da informação. Rio de Janeiro: Embratel, Editora Rio, 1980. MATHEUS, R. F. Desafios para a Ciência da Informação: enfrentando dificuldades paradigmáticas, dilemas e paradoxos através de programas de programas de pesquisa interdisciplinares. Disponível em: http://www.rfmatheus.com.br/doc/MATHEUSDesafioV0.57.pdf. 2005. Acesso em: out.2010. MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 5 ed., 1964. MEADOWS, A. J. A Comunicação Científica. Tradução de Antonio Briquet de Lemos. Brasília, DF: Briquet de Lemos Livros, 1999. 141 MEIRELES, M.R.G.; PEREIRA, D.C. Uma abordagem transdisciplinar do método “análise de redes sociais”. Inf. Inf. , Londrina , v.14 , n.2 , p.8 4-9 9, j u l . / d e z . 2 0 0 9. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/3258/4731. Acesso em set.2010. MELLO, Ricardo Coutinho. Gestão da Informação em Serviços de Saúde: o fluxo informacional no segmento de laboratórios de análises clínicas em Salvador. Dissertação (Mestrado), Salvador, 2005. Universidade Federal da Bahia - UFBA, 2005. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufba.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=469. Acesso em: 15fev.2011. MELLO JORGE, Maria Helena P. de. Situação atual das estatísticas oficiais relativas à mortalidade por causas externas. Revista de Saúde Pública, 1990, vol.24, n.3, p.217223. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489101990000300008&lng=en&nrm=iso. Acesso em 18.out.2010. MESSIAS, L. C. S. Informação: um estudo exploratório do seu conceito em periódicos científicos brasileiros da área de Ciência da Informação. Marília, 2005. 184 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista, Marília, 2005. MIRANDA, Antonio; BARRETO, Aldo de Albuquerque. Pesquisa em ciência da informação no Brasil: síntese e perspectiva. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.1, n.6, dez.2000. Artigo 4. Disponível em: http://www.dgz.org.br/dez00/Art_04.htm. Acesso em: 15mai.2004. _____________. A profissionalização da Ciência da Informação no marco da globalização: paradigmas e propostas. In: LUBISCO, Nídia M.; BRANDÃO, Lídia (org.). Informação e Informática. Salvador: EDUFBA, 2000. MIRANDA, Antonio; SIMEÃO, Elmira. A conceituação de massa documental e o ciclo de interação entre tecnologia e o registro do conhecimento. DataGramaZero – Revista de Ciência da Informação, v.3, n.4, ago.2002. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/miranda-simeao-conceituacao-massa-graficos-final.pdf. Acesso em: set.2009. MITROFF, I. I. Why some companies emerge stronger and better from a crisis: 7 essential lessons for surviving disaster. Nova York: American Management Association, 2005. MONTEIRO, Samuel Alves; CARNEIRO, Maria Daniele Lungas; ALENCAR, Débora Brito de; SANTOS, Rafaelle Gleice dos; MENDONÇA Danilene Alves Torquato de. O profissional da informação encarando a constante mudança tecnológica: reduzindo ou ampliando o seu papel? 33º ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO, CIÊNCIA E 142 GESTÃO DA INFORMAÇÃO - ENEBD, João Pessoa, 18-24jul/2010. Anais eletrônicos..., João Pessoa, 2010. Disponível em: http://dci.ccsa.ufpb.br/enebd/index.php/enebd/article/view/140/144. Acesso em: out.2010. MONTEIRO, Silvana Drumond. A forma eletrônica do hipertexto. Ciência da Informação, 2000, vol.29, n.1. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010019652000000100003&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: set.2009. MORENO, Albuquerque Barros. Emergência e Dinâmica Informacional na Blogosfera. Niterói, 2009. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2009. Disponível em: http://www.pontonet.com.br/moreno/moreno.pdf. Acesso em: set.2009. MUNIZ, Lenir Moraes. Ecologia Política: o campo de estudo dos conflitos sócioambientais. Pós Ciências Sociais, 2009, v.6, n.12. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/article/viewFile/64/45. Acesso em: set.2010. MURRAY, Janete H. Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço. São Paulo: Unesp, 2001. MUSSO, Pierre. A filosofia da rede. In: PARENTE, André (org.). Tramas da rede. Porto Alegre: Sulinas, 2004. NITTAYAGASETWAT, Aekkachai; TIRAPAT, Sunti. An Investigation of Thai Listed Firms‟ Financial Distress Using Macro and Micro Variables National Institute of Development Administration. Multinational Finance Journal, 1999, vol.3, n.2, p.103–125. Disponível em: http://mfs.rutgers.edu/MFJ/Articles-pdf/V03N2p2.pdf. Acesso em: 2010. OCDE - ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO ECONÔMICA EUROPÉIA. O Futuro da Economia Global: Rumo a uma expansão duradoura? Lisboa: Medigráfica, 2001. Disponível em: http://books.google.com/books?id=LdakjEAcWtEC&pg= ]PA196&lpg=PA196&dq=%22em+termos+concretos,+existem+crises+ecol%C3%B3gicas%22&source=bl &ots=lRtSKSRLPm&sig=jm3JBugXmrL5OxEfrPh30tVMh9g&hl=pt-BR&ei=m3VATOH9Boi1uAf9vn9Dg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=1&ved=0CBQQ6AEwAA#v=onepage&q=%22em%20t ermos%20concretos%2C%20existem%20crises%20ecol%C3%B3gicas%22&f=false. Acesso em: 2010. OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de; NUNES, José Mauro Gonçalves. Sociedade do conhecimento, educação e ansiedade de informação: efeitos sobre a ação tutorial. Rio de Janeiro: UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: http://aveb.univap.br/opencms/opencms/sites/ve2007neo/pt-BR/imagens/27-0607/Cognitivas/trabalho_95_eloiza_anais.pdf. Acesso em: out.2010. OLIVEIRA, Walter Clayton de ; VIDOTTI, S. A. B. G. ; CABRAL, Fátima. Notas sobre a dinâmica da sociocomunicação no ciberespaço. Datagramazero – Revista de Ciência 143 da Informação. Rio de Janeiro, 2005, v.6, n.6, http://www.dgzero.org/dez05/Art_02.htm. Acesso em: 2007. p.1-10. Disponível em: O'REILLY, Tim. What Is Web 2.0: Design Patterns and Business Models for the Next Generation of Software. 30set.2005. Disponível em: http://www.oreillynet.com/pub/a/oreilly/tim/news/2005/09/30/what-is-web-20.html. Acesso em: set.2009. PAINE, Thomas. O senso comum e a Crise. Trad. Vera Lúcia de Oliveira Sarmento. Brasília: UnB, 1982. PANDE, R. K. Rautela, P. Disaster Prevention and Management – Disaster, Prevention and Management, vol.14, n.14, n.3, 2005. Disponível em: http://gov.ua.nic.in/dmmc/papers_published/DM4.pdf. Acesso em: set.2010. PEDRO, R. M. L. R. As redes na Atualidade: refletindo sobre a produção de conhecimento. In: Maria Inácia D'Ávila; Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro (org.). Tecendo o Desenvolvimento: Saberes, Gênero, Ecologia Social. 1 ed. Rio de Janeiro: MAUAD/Badra Editora, 2003, v.1, p. 29-47. PEREIRA, Débora de Carvalho; MEIRELES, Magali Rezende Gouvêa. Uma abordagem transdisciplinar do método “Análise de Redes Sociais”. Informação & Informação, Londrina, jul./dez., 2009, v.14, n.2, p.84-99. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/3258/4731. Acesso em: 17 jan.2011. PERES, Maria Fernanda Tourinho; SANTOS, Patrícia Carla dos. Trends of homicide death in Brazil in the 90s: the role of firearms. Revista de Saúde Pública. 2005, vol.39, n.1, p. 58-66. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S003489102005000100008&lng=en&nrm=iso. Acesso em 13out.2010. PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Ciência da Informação entre sombra e luz: domínio Epistemológico e campo interdisciplinar. Rio de Janeiro, 1997. 278p. Tese (Comunicação e Cultura). Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ/ECO. Orientadora: Gilda Braga. Disponível em: http://biblioteca.ibict.br/phl8/anexos/lenavaniapinheiro1997.pdf. Acesso em: set.2009. _____________. Comunidades científicas e infra-estrutura tecnológica no Brasil para uso de recursos eletrônicos de comunicação e informação na pesquisa. Ciência da Informação, Brasília, set./dez.2003, v.32, n.3. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19025.pdf. Acesso em: set.2009. _____________. Ciência da Informação: desdobramentos disciplinares, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. In: GONZALEZ DE GOMEZ, M. N.; ORRICO, E. G. D. (org.). 144 Políticas de memória e informação: reflexos na organização do conhecimento. Natal: EDUFRN- Editora Universitária da UFRN, 2006, p.111-141. PINHEIRO, L. V. R.; BRÄSCHER, M.; BURNIER, S. Ciência da informação: 32 anos (1972-2004) no caminho da história e horizontes de um periódico científico brasileiro. Ciência da Informação, Brasília, 2005, v.34, n.3, p.25-80. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/viewArticle/816. Acesso em: set.2010. PINTO, F.R.G., BOTEON, M., SILVA, A.P. Sistema de Informação Econômica para o Mercado da Banana. XXXX CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL – SOBER. Passo Fundo, 2002. Anais eletrônicos... Disponível em: http://www.abavar.com.br/InfoEcon-banana.doc. Acesso em: out.2010. PONJUÁN DANTE, G. Gestión de información en las organizaciones: principios, conceptos y aplicaciones. Santiago: CECAPI, 1998, 222p. POPPER, Karl Raymond. Conjecturas e Refutações. Trad. de Sergio Bath. 3ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1994. 449p. PRIMO, A.; RECUERO, Raquel da Cunha; ARAÚJO, Ricardo Matsumura. Co-links: proposta de uma nova tecnologia para a escrita coletiva de links multidirecionais. Revista Fronteira, 2004, v.VI, n.1, p.91-113. RAMOS, Amauri Pereira e Fontanini, José Oscar de Carvalho. A utilização de ambientes virtuais para a colaboração por grupos de pesquisa brasileiros: uma análise do desenvolvimento de trabalhos de maneira colaborativa. DataGramaZero – Revista de Ciência da Informação, fev.2007, v.8, n.1. Disponível em: http://www.dgz.org.br/fev07/Art_01.htm. Acesso em: set.2009. REIS, M.R. et al. Impacto do glyphosate associado com endossulfan e tebuconazole sobre microrganismos endossimbiontes da soja. Planta daninha, Viçosa, 2010, v.28, n.1. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010083582010000100014&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13out.2010. RIECKEN, R. F. Frame de temas potenciais de pesquisa em ciência da informação. Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v.3, n.2, p.43-63, jan./jun.2006. Disponível em: http://www.marilia.unesp.br/Home/PosGraduacao/CienciadaInformacao/Dissertacoes/coneglian_alo_me_mar.pdf. Acesso em: set.2010. ROCHA, Elisa Maria Pinto da; DUFLOTH, Simone Cristina. Análise comparativa regional de indicadores de inovação tecnológica empresarial: contribuição a partir dos dados da pesquisa industrial de inovação tecnológica. Perspectivas em Ciência da Informação, 2009, vol.14, n.1, p.192-208. Disponível em: 145 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-99362009000100013&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27.ago.2009. RODRIGUES, Maria da Paz Lins. Citações nas dissertações de mestrado em Ciência da Informação. Ciência da Informação, Brasília, 1982, 11 (1): 35-61. SAGAN, C. The dragons of Eden: Speculations on the evolution of human intelligence. Nova York: Ballantine Books, 1977. SANDRONI, P. Novíssimo dicionário de economia. 1 ed. São Paulo: Best Seller, 1999. SANTANA, J.R.; MUNDURUCA, D.F.V. Setores de infra-estrutura: importância econômica e problema informacional na sua regulação. Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, vol.X, n.1, jan./abr.2008. Disponível em: http://www2.eptic.com.br/arquivos/Revistas/v.%20X,n.%201,2008/JosSantana-DaniloMunduruca.pdf. Acesso em: out.2010. SANTOS, Fabiano; ALMEIDA, Acir. Teoria informacional e a seleção de relatores na Câmara dos Deputados. Dados, 2005, vol.48, n.4, p.693-735. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582005000400001&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18out.2010. SANTOS, Lívia Renata; OLIVEIRA, Nivaldo de; SILVA, Marina Cajaíba da. Comutação Bibliográfica e as novas tecnologias de comunicação e informação: uma convivência pacífica? Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, jul./dez.2009, Florianópolis, v.14, n.2, p.429-450. Disponível em: http://revista.acbsc.org.br/index.php/racb/article/download/642/742. Acesso em: set.2009. SANTOS, Milton. A normalidade da crise, 1999. Disponível em: http://br.geocities.com/madsonpardo/ms/folha/msf06.htm e Folha Online: http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_3_4.htm. Acesso em: set.2009. SANTOS, Nilton Bahlis. Da Ordem do Livro à Ordem da Internet. VII ENANCIB ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, Marília, 2006. Trabalhos Científicos Aprovados - VII ENANCIB. Marília, 2006. Disponível em: http://www.portalppgci.marilia.unesp.br/enancib/viewpaper.php?id=210.Acesso em: set.2009. SANTOS, R.N.; ALCÂNTARA-ELIEL, R.; ELIEL, O. A ciência e o novo estado do conhecimento: a contribuição da Ciência da Informação. Encontros Bibli: Revista Eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação, 2006, n.22, p.16-29. Disponível em: http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/viewArticle/273. Acesso em: out.2010. 146 SARACEVIC, Tefko. Ciência da Informação: origem, evolução e relações. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, jan./jun.1996, v.1, n.1, p.41-62. Disponível em: http://www.scielo.br/scieloOrg/php/reflinks.php?refpid=S01001965200300010000800029&pid=S0100-19652003000100008&lng=en. Acesso em: set.2010. SCHUMPETER, J. The theory of economic development. Massachusetts: Harvard University, 1934. SHAPIRO, Carl. A Economia da Informação: como os princípios econômicos se aplicam à era da Internet. Rio de Janeiro: Campus, 1999 SILVA, Emília Vitória da. Análise das informações sobre o tratamento farmacológico da obesidade disponibilizadas em sítios da Internet, no Brasil. Brasília, 2009. 127f. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde), Universidade de Brasília, Brasília, 2009. Disponível em: http://repositorio.bce.unb.br/handle/10482/4166. Acesso em: set.2010. SHINYASHIKI, R.T.; FISCHER, R.M.; SHINYASHIKI, G. A importância de um sistema integrado de ações na gestão de crises. Organicom, ano 4, n.6, 1ºsem.2007. Disponível em: http://www.eca.usp.br/departam/crp/cursos/posgrad/gestcorp/organicom/re_vista6/148a159.pdf. Acesso em: set.2010. SIMEÃO, Elmira; MIRANDA, Antonio. Uma proposta conceitual para a massa documental considerando o ciclo de interação entre tecnologia e o registro do conhecimento. In: ARELLANO, Filiberto Felipe Martinez; GONZÁLES, Juan José Calva (compiladores). Memória Del XXI Colóquio de Investigación Bibliotecológica Y de la Información. México: UNAM, Centro Universitário de Investigaciones Bibliotecológicas, 2004, p.22-34. Disponível em: http://eprints.rclis.org/archive/00002414/01/2003_015.pdf. Acesso em: set.2009. SOARES, Enio Silva; MENEZES, Greice Maria de Souza. Fatores associados à mortalidade neonatal precoce: análise de situação no nível local. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 2010, vol.19, n.1, p.51-60. Disponível em: http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742010000100007&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13out.2010. SONNENWALD, D. H.; IIVONEN, M. An integrated human information behavior research framework for information studies. Library & Information Science Research, Chapel Hill, nov.1999, v.21, n.4, p.429-457. SOUZA, Elaine Aparecida de; GERALDI, Isaias Olívio; RAMALHO, Magno Antonio Patto. Alternativas experimentais na avaliação de famílias em programas de melhoramento genético do feijoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 2000, vol.35, n.9, p.17651771. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100204X2000000900009&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13out.2010. 147 SOUZA, Rosali Fernandes de. Áreas do Conhecimento. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, abr.2004, v.5, n.2, artigo 02. Disponível em: http://www.datagramazero.org.br/abr04/Art_02.htm. Acesso em: set.2009. STEINBERG, S.H. Five Hundred Years of Printing. Bristol, 1961. SUAIDEN, E. J. ; OLIVEIRA, C. L. Dimensão social do conhecimento. In: TARAPANOFF, Kira (org.). Inteligência, informação e conhecimento. Brasília: Unesco e IBICT, 2006, v.1, p.99-116. SWEENEY, Latanya. Information explosion. In: ZAYATZ, L.; DOYLE, P.; THEEUWES, J.; LANE, J. (editores). Confidentiality, Disclosure, and Data Access: Theory and Practical Applications for Statistical Agencies. Washington: Urban Institute, 2001. TALJA, S. Information sharing in academic communities. Types and levels of collaboration in information seeking and use. New Review of Information Behaviour Research, 2002, n.3, p.143-159. TEIXEIRA, Marcus Zulian. Homeopatia: desinformação e preconceito no ensino médico. Revista Brasileira de Educação Médica, 2007, vol.31, n.1, p.15-20. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022007000100003&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13out.2010. TERRA, J.C. Gestão do Conhecimento: o grande desafio empresarial. São Paulo: Negócio Editora, 2ed., 2001. THOMPSON, D'Arcy. On Magnitude. In: _________. On Growth and Form. Inglaterra: Cambrige University Press, 1961, ed. abrev., capítulo II. TOFFLER, Alvin; TOFFLER, Heidi. Criando uma nova civilização: a política da Terceira Onda. Rio de Janeiro: Record, 1995. ULMER, R. R.; SELLNOW, T. L.; SEEGER, M. W. Effective Crisis Communication: Moving from Crisis to Opportunity. Thousand Oaks: Sage Publications, 2007. VALENTIM, M. L. P. Inteligência competitiva nas Organizações: dado, informação e conhecimento. DataGramaZero – Revista de Ciência da Informação, v.3, n.4, ago.2002. Disponível em: http://www.dgz.org.br/ago02/Art_02.htm. Acesso em: out.2010. VALENTIM, M. L. P.; CERVANTES, B. M. N. et al. O processo de inteligência competitiva em organizações. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação, jun.2003, v.4, n.3. Disponível em: http://www.dgz.org.br/jun03/Art_03.htm. Acesso em: out.2010. 148 VIDOTTI, S. A. B. G. O ambiente hipermídia no processo de ensino-aprendizagem. Marília, 2001. 126f. Tese (doutorado). Universidade Estadual Paulista, Marília, 2001. WARNER, J. W(h)ither information science?/! Library Quarterly. 2001, vol.71, n.2, p.243-255. WARNER, Simeon. Exposing and harvesting metadata using the OAI Metadata Harvesting Protocol. Tutorial, High Energy Physics Libraries Webzine, v. 4, June 2001. Disponível em: <http://library.cern.ch/HEPLW/4/papers3>. Acesso em: set.2010. WELLER, T. Information History an introduction: exploring an emergent field. Oxford: Chandos, 2008. Disponível em: http://www.emeraldinsight.com/Insight/ViewContentServlet?Filename=/published/emeraldful ltextarticle/pdf/2760590410.pdf. Acesso em: set.2010. WERSIG, G.; NEVELING, U. The phenomena of interest to information science. The Information Scientist, v.9, n.4, 1975. WRIGHT, Alex. Forgotten Forefather: Paul Otlet. Boxes and Arrows, Story, nov.2003. Disponível em: http://www.boxesandarrows.com/view/forgotten_forefather_paul_otlet. Acesso em: out.2010.