1 Mídias e Poesia: Uma experiência com jovens em conflito com a lei Ozana Aparecida Aires1 Resumo: Apresenta-se aplicação pedagógica de mídias - impressa e vídeo. Ambos, no gênero poético, em concepção construtivista e lúdica, realizada com alunos do Ensino Fundamental o Centro Sócio Educativo de Ariquemes - RO – CESEA, através de oficinas sistematizadas: (I) conhecimento prévio (II) pesquisas, leitura, audição e assistência de material poético; (III) produção textual, oral, pictórica e audiovisual; (IV) Exposição e socialização das produções. Inobstante trabalhar a criatividade e afetividade, contemplou ainda o desenvolvimento de competências como: leitura, escrita, oralidade, artística, tecnológica e interação. As produções dos alunos podem ser consideradas resultados criativos “materializados” em: textos poéticos, painéis poéticos, varal poético, desenhos, músicas ilustradas, filmagens, vídeos, dentre outros publicados em http://www.teduc1001.net/midias1/ozana.htm. Palavras-chave: Mídias na educação; Gênero poético; Produção textual; Ilustrações; Audiovisual. Introdução A educação escolar encontra desafios diversos que são agudizados quando se trata de um Centro Sócio Educativo, “alunos” que necessitam de ressocialização. Neste contexto, as iniciativas docentes demandam cuidados além dos usuais a exemplo de não aumentar o estigma sobre tais jovens; aspectos legais já que são tutelados; dentre outros. Assim, ocorreu-nos trabalhar uma aplicação pedagógica que permita aos alunos do CESEA – Centro Sócio Educativo de Ariquemes – Rondônia, o manifesto da expressão e afetividade sem detrimento aos aspectos cognitivos contemporaneamente associados ao desenvolvimento de competências. Trata-se do emprego das mídias - impressa e vídeo, ambos, no gênero poético, em concepção construtivista e lúdica, tendo como finalidades, desenvolver competências: Leitura, Escrita, Oralidade e Artística, Tecnológica, Audiovisual, Artística e Interação. Tendo como protagonista o aluno, que pôde (Aprender a SER e FAZER) escrever poesias, musicar e ilustrar poemas. E também (Aprender a CONVIVER) interpretar e discutir democraticamente a produção dos colegas. Desta forma, contemplando o que diz Jacques Delors nos “Pilares da Educação Para o Século XXI” – (UNESCO, 1999). Por outra, encontra respaldo no material intitulado “Poesia e Escola” do Programa Salto Para o Futuro – (MECBRASIL, 2007). A Poesia na Escola A poesia está variadamente presente, por exemplo, nas cantigas, canções populares e inclusive no rap. Apresenta múltiplas linguagens e na escola com frequência é usada como _______________________ ¹ [email protected]; Universidade Federal de Rondônia. 2 recurso sensibilizador ou lúdico, este último exemplificado por poemas musicados, em cantigas de roda, parlendas, rimas de improviso, entre outros. Popularmente se diz que a poesia é a “materialização das palavras”, mas, quando é que nossos alunos materializam suas palavras poéticas? Comumente em nossos dias estas palavras poéticas se fazem chegar a nós por meio da mídia: Seja um livro (material impresso); Seja um Compact Disc – CD de poemas, poesias, etc. (áudio); Ou em uma mídia convergente como a Internet, onde se pode assistir, ler, ouvir tais poemas e poesias. Então, se as mídias e poesias estão presentes no cotidiano, que idealmente estejam também na escola. Mas, ocorre perguntar, como é esta poesia que chega às escolas? Ela é concebida pela e para a escola? Na busca de tais respostas, nos servimos do que diz Maria da Glória Bordini Apud MEC-Brasil (2007): A necessidade não apenas mercadológica, mas estrutural, da adaptação de temas e recursos formais para a situação etária do leitor infantil e juvenil gera, frequentemente, produtos poéticos pouco duráveis, mal resolvidos, mas sem dúvida é fator dominante na mobilização dos procedimentos compositivos e lingüísticos do poema destinado à criança e ao jovem. Não pode, portanto, ser desconsiderado sob o argumento de que "o poema bom vale sempre", porque, além de ser o ponto de referência para aquisição e oferta de livros de poesia ao público infanto-juvenil, operando discriminações e rejeições, participa da própria estruturação do texto e atinge em seu cerne a relação comunicativa entre discurso poético adulto e mundo da infância e adolescência. Assim, retomando-se a indagação “ela é concebida pela e para a escola?”, é possível presumir que a resposta apontará como importante determinante o fator mercadológico, pois, se cada escola em nosso diverso país tem culturas e contextos, a aquisição de livros ou outros materiais didáticos que apresentem o gênero poético, dificilmente contemplará a realidade de uma escola e quanto mais de um Centro Sócio Educativo. Logo, oportuniza-nos falar da tão enfatizada “Autoração”, que: “Em Tecnologia Educacional, refere-se a criação de projetos e materiais educativos a partir de Software de Autoria. E tem como termos as Ferramentas de Autoria e a WEB 2.0”. (ALVES, 2012). Portanto, com o uso dos recursos das tecnologias da informação e comunicação na educação, adjacente as Mídias na Educação, é possível que o aluno pesquise os diferentes gêneros poéticos e até mesmo crie e/ou dissemine suas próprias criações, desta feita contextualizadas, dotadas de significado pessoal, trabalhando assim a criatividade e a afetividade do mesmo. Portanto, um motivador desafio em tempos de multimídia, que pode ser compreendido ao considerarmos o que expõe SANTAELLA Apud FERREIRA (2008): [...] Texto, imagem e som já não são mais o que costumavam ser. Deslizam uns nos outros, sobrepõem-se, complementam-se, confraternizam-se, unem-se, separam-se e entrecruzam-se. Tornam-se leves, perambulantes. Perderam a estabilidade que a força de gravidade dos suportes fixos lhes emprestavam. Viraram aparições, presenças fugidias que emergem e desaparecem ao toque delicado da pontinha do dedo em minúsculas teclas. Procedimentos Metodológicos O objeto da pesquisa aplicada de 22/06 a 30/08/2012 foi a mídia impressa e vídeo com apoio da mídia informática (recurso específico Internet) na produção discente e socialização delimitada ao gênero poético, em concepção construtivista e lúdica, que teve como sujeitos da pesquisa 07 (sete) alunos do Ensino Fundamental do Centro Sócio Educativo de Ariquemes RO – CESEA. 3 Foram promovidos minicursos e oficinas sistematizadas de forma gradual: (I) conhecimento prévio (II) pesquisas, leitura, audição e assistência de material poético; (III) produção textual, oral, pictórica e audiovisual; (IV) Exposição e socialização das produções. Inobstante trabalhar a criatividade e afetividade, contemplou ainda o desenvolvimento de competências como: leitura, escrita, oralidade, artística, tecnológica e interação. Inobstante a liberdade de pesquisar poemas, imagens sugestivas e compartilhá-los, adotou-se como bibliografia de relacionamento durante a aplicação pedagógica, basicamente os seguintes livros: “A poesia vai à escola” de Neusa Sorreti (2007); “Poema para brincar” de José Paulo Paes (1990). Como também, pontualmente: Textos diversos de Cecília Meireles (1980) e o poema “A Casa” de Vinícius de Moraes. Assim, pode-se auxiliá-los na compreensão conceitual de elementos como: poema, poesia, verso, estrofe, rima, ritmo, entre outros. Algumas estratégias utilizadas para ensejar a produção, assegurada a livre expressão do aluno, entretanto atento ao teor das mesmas para salvaguardar condutas alheias ao processo educacional de ressocialização em que se encontram: Leitura individual e leitura oralmente compartilhada em roda de leitura. A partir de poema confeccionar/expressar sua própria poesia. A partir de poema confeccionar/expressar um desenho. A partir de materiais impressos diversos disponíveis para recortes e colagens confeccionar um novo material concreto, associando-o a expressão poética. • Musicar textos poéticos. • • • • Efetuadas as oficinas e minicursos, as produções decorrentes foram organizadas em varal didático e painéis, postos em exposição no próprio local aos visitantes e funcionários do CESEA. Em tal exposição, o público pôde indicar o trabalho mais expressivo de cada aluno (contemplando-os todos). A partir desta seleção, se realizou como atividade derradeira uma parada poética. Em um esforço de síntese, segue um “Quadro Panorâmico” da aplicação pedagógica, como se vê no quadro I, no qual encontram-se articuladas: Finalidades / Objetivos / Procedimentos: Finalidade Desenvolver Competências: Leitura, Escrita, Oralidade e Artística. • • • • • • • Desenvolver Competências: Tecnológica, Audiovisual, Artística e Interação. • • • Objetivos Específicos Redigir textos poéticos. Ilustrar os textos poéticos. Musicar os textos poéticos. Montar cartões-mensagem desenhados e coloridos. Recitar diariamente as poesias produzidas. Criar cartazes de divulgação do projeto. Como foi feito Oficina de produção de material impresso Capacitar os alunos para filmagem e edição de vídeo. Integrar os alunos na produção colaborativa dos vídeos. Dialogar (reflexão/ação) sobre o que será filmado. Produzir vídeo a partir do material gerado na oficina. Minicurso de produção de vídeo Quadro I. Quadro Panorâmico da Aplicação Pedagógica. Carga-horária: 20 horas Carga-horária: 10 horas 4 No dia 29/06/2012, promoveu-se um concurso festivo-cultural, que além de permitir a exposição e socialização das produções, ensejou conforme planejamento prévio, “avaliá-las” em duas perspectivas: • Para avaliar qualitativamente a produção individual, elegeram-se as melhores poesias e vídeos, tendo como jurado professores e funcionários do CESEA. • Para avaliar quantitativamente a produção coletiva, todos os convidados puderam registrar uma nota de 5 a 10 e assim, se obteve uma média, que não necessita ser divulgada no presente artigo, pois é antes um feedback para a equipe pedagógica. Resultados Respeitante as finalidades desta aplicação pedagógica, quais fossem: Desenvolver Competências de Leitura, Escrita, Oralidade e Artística; Desenvolver Competências Tecnológica, Audiovisual, Artística e Interação. Aferiu-se por avaliação indireta (dado que para resguardar possível tendenciosidade, os professores-aplicadores não participaram da avaliação das produções, deixando-as sob a apreciação dos demais funcionários do CESEA e visitantes) obteve-se para as três primeiras produções mais expressivas, respectivamente: nota nove (figura1), nota oito (figura2) e nota sete (figura3). Portanto, em média nota oito, o que se pode interpretar como bastante positiva, vez que, lhes foi a primeira experiência com a tipologia poética. Segue algumas produções, “materialização dos resultados” em imagens que as deixaremos “falar” por si, vide páginas 5 a 7 deste artigo: 5 Figura 1. Produção discente que obteve nota 9,0 em avaliação indireta. 6 Figura 2. Produção discente que obteve nota 8,0 em avaliação indireta. 7 Figura 3. Produção discente que obteve nota 7,0 em avaliação indireta. Para além da avaliação quantitativa, a nossa alternância entre observação direta e observação participativa, nos permitiu perceber dois fatores intervenientes, que merecem registro. O primeiro foi a expressão de emoções e sentimentos destes alunos que se encontram em processo de ressocialização e nada mais oportuno que uma expressão espontaneamente manifesta, sem a usual diretividade do professor, atentando-nos aos “construir”. O segundo foi que embora não tão presente nas produções dos mesmos, a rima lhes exerceu muito 8 encantamento e não raro o poema, poesia, ilustrações viraram músicas rap, o que pode ser objeto de estudo de futuras aplicações pedagógicas. As produções dos alunos podem ser consideradas resultados criativos “materializados” em: textos poéticos, painéis poéticos, varal poético, desenhos, músicas ilustradas, filmagens, vídeos, dentre outros publicados em http://www.teduc1001.net/midias1/ozana.htm. Conclusão Verificamos que na relatada aplicação pedagógica da mídia impressa e vídeo com apoio instrumental da informática, no gênero poético, trabalhada de forma construtivista, via mediação pedagógica, se aflorou a criatividade e a iniciativa própria - (basta que se veja em http://www.teduc1001.net/cesea/index.htm, as quase quarenta produções feitas por sete alunos no modesto período de uma semana) - sinalizando o protagonismo do sujeito, ao mesmo tempo em que se formam leitores, quiçá poetas, escritores e/ou ilustradores. Aos quais, acredita-se tenha dado a percepção de que é possível utilizar a linguagem textual poética de forma lúdica. Em tempo, cabe registrar que o fato de os sujeitos da pesquisa (alunos do CESEA) estar em processo sócio educativo, reforça a importância de lhes proporcionar atividades para além do meramente cognitivo (no caso em tela, a leitura e escrita). Atividades que “trabalhem” a afetividade, expressão, reflexão e o vislumbre de uma reintegração social plena destes jovens, sobretudo sem estigmas. Aliás, é o que se espera ter oportunizado nesta aplicação pedagógica com a junção de mídias e poesia nas competências de leitura, escrita, oralidade, artística, tecnológica e interação. Referências Obras citadas FERREIRA, Ana Paula. Poesia digital e não lugar - Poesia e convergência de mídias e linguagens. In: Encontro Internacional de Arte e Tecnologia, Museu Nacional do Complexo Cultual da República, Brasília, 2008. Em: arte.unb.br/7art/textos/anaFerreira.pdf - Acesso em 02/Jul/2012. SORRETI, Neusa. A poesia vai à escola: Reflexões, comentários e dicas de atividade. Belo horizonte: Autêntica, 2007. PAES, José Paulo. Poema para brincar. São Paulo: Ática, 1990. MEC Brasil. Boletim: Salto para o Futuro. Série: Poesia e Escola. SEED – MEC, 2007. - Em: http://tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/170116Poesiaescola.pdf MEIRELES, Cecília. 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