ID: 33434031 05-01-2011 Tiragem: 21717 Pág: 8 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,33 x 30,85 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 3 Governo trava providências cautelares contra cortes salariais O secretário de Estado garante que o Executivo “vai recorrer a todos os mecanismos legais ao seu dispor” para aplicar as reduções em Janeiro. Denise Fernandes [email protected] O Governo deverá invocar o interesse público para travar as providências cautelares que os sindicatos da função pública vão interpor hoje nos tribunais administrativos com o objectivo de tentarem suspender os cortes salariais dos trabalhadores do Estado. Segundo disse ao Diário Económico o secretário de Estado da Administração Pública, Gonçalo Castilho dos Santos, “o Governo vai recorrer a todos os mecanismos legais ao seu dispor” para travar as intenções dos sindicatos. “O Governo está confiante de que esta medida de consolidação orçamental [as reduções salariais] respeita a Constituição e de que não há qualquer constrangimento de ordem jurídica para a sua aplicação,” acrescentou Castilho dos Santos. Em cima da mesa deverá estar a invocação do interesse público para garantir que as reduções sa- lariais entre 3,5% e 10% se irão aplicar já entre os dias 20 e 25 de Janeiro (ver tabela a lado). Segundo explicou o especialista da PLMJ em Direito Público, Pedro Melo, a suspensão dos cortes salariais pretendida pelos sindicatos pode ser eliminada caso o Ministério das Finanças apresente uma “resolução fundamentada de interesse públiOs sindicatos da Frente Comum, liderada por Ana Avoila, entregam hoje nos tribunais administrativos as providências cautelares para tentarem travar os cortes salariais. co” (ver entrevista). Em regra, sempre que o Estado invoca esta norma, os tribunais optam por decidir a favor deste último. Apesar de os juízes também serem abrangidos pelos cortes salariais da função pública, Castilho dos Santos acredita que “os tribunais irão decidir com imparcialidade, como o fazem sempre”. Segundo apurou o Diário Económico, o Ministério das Finanças poderá ainda usar em sua defesa vários pareceres jurídicos favoráveis ao artigo 19º da Lei do Orçamento do Estado - o artigo que estabelece os cortes salariais, entre eles, um parecer do constitucionalista Jorge Miranda. Médicos, professores, juízes, entre outros, contestam A determinação do Executivo em garantia a aplicação dos cortes salariais resulta do facto de hoje a Frente Comum da Administração Pública, os sindicatos dos professores, dos médicos, dos juízes e muitos outros irem avançar para os tribunais administrativos com as providências cautelares para tentarem suspender as reduções salariais. A dirigente da Frente Comum, Ana Avoila, garante que, caso os tribunais não decidam até final do mês, outras acções serão colocadas no terreno. Segundo Ana Avoila, as providências cautelares abrangem “os 700 mil trabalhadores” da administração pública, já que basta que haja três decisões dos tribunais favoráveis aos sindicatos para que se faça jurisprudência. Os sindicatos exigem ainda que o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre o artigo do Orçamento que estabelece os cortes salariais, pelo que irão recorrer aos grupos parlamentares para que sejam os deputados a pedir ao Tribunal essa verificação. Recorde-se que os sindicatos também fizeram o mesmo pedido ao Presidente da República, mas este promulgou o Orçamento sem fazer qualquer pedido de verificação da constitucionalidade ao Tribunal Constitucional. ■ COMO VÃO SER PAGOS OS SALÁRIOS NO ESTADO DURANTE 2011 DIA 20 ● Encargos Gerais do Estado ● Presidência do Conselho de Ministros ● Ministério das Finanças e da Administração Pública ● Ministério da Defesa Nacional ● Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social ● Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações ● Ministério dos Negócios Estrangeiros DIA 21 ● Ministério da Administração Interna ● Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território ● Ministério da Justiça ● Ministério da Saúde DIA 22 ● Ministério da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento DIA 23 ● Ministério da Educação ● Ministério da Cultura Castilho dos Santos garante que o Governo tudo fará para que os cortes se apliquem em Janeiro. ● Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ● Ministério da Agricultura, SINDICATOS RECORRERAM VÁRIAS do Desenvolvimento Rural Colocação em mobilidade especial e das Pescas Fonte: DGO bre Mais so es reduçõ s i salaria Pág. 26 ✔ Em 2007, os sindicatos da administração pública recorreram aos tribunais para tentar travar a colocação de funcionários públicos em situação de mobilidade especial (excedentários). Nalguns casos, os tribunais deram razão aos sindicatos e muitos trabalhadores tiveram de ser reintegrados. ID: 33434031 05-01-2011 Tiragem: 21717 Pág: 9 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,39 x 30,78 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 3 João Paulo Dias ENTREVISTA PEDRO MELO sócio da PLMJ “A necessidade prevalece sobre a irredutibilidade dos salários” Em termos processuais e substantivos, vai ser difícil uma vitória para os sindicatos. Denise Fernandes tranho e mesmo uma perplexidade se isso acontecesse. Os casos mais rápidos que tive de processos cautelares foram de dois meses. [email protected] O advogado da PLMJ especialista em Direito Público, Pedro Melo, explica como se desenrola um processo cautelar e defende que será muito difícil aos sindicatos da função pública ganharem a causa em tribunal. As providências cautelares interpostas pelos sindicatos da função pública para tentar travar os cortes salariais terão consequências práticas? A suspensão automática (dos cortes salariais), pedida pelos sindicatos, pode ser ultrapassada se for emitida uma resolução fundamentada pelo Ministério das Finanças, onde este justifique a continuação da suspensão das reduções salariais seria gravemente prejudicial para o interesse público. VEZES A TRIBUNAL PARA TENTAR TRAVAR MEDIDAS DO GOVERNO Avaliação de professores ✗ Os sindicatos da educação recorreram às providências cautelares para tentar suspender o processo de avaliação de desempenho dos docentes. Mas, em Abril de 2008, as cinco providências cautelares foram rejeitadas pelos tribunais administrativos, dando assim razão ao Ministério da Educação. Nova lei dos vínculos ✗ Depois das críticas e dos pedidos dos sindicatos, os grupos parlamentares do PCP e do Bloco de Esquerda fizeram um pedido de fiscalização sucessiva à nova lei dos vínculos, carreiras e remunerações da função pública. Porém, o Tribunal Constitucional acabou por dar luz verde ao diploma. Reformas antecipadas ✔ Um despacho de 2003, da então ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, que dificultava as reformas antecipadas no Estado levou os sindicatos a recorrerem às vias judiciais. Os tribunais de primeira instância deram razão ao Estado, mas quando o caso chegou aos tribunais superiores, os sindicatos ganharam. Essa resolução fundamentada é entregue nos tribunais? Sim, a partir do momento em que os processos entram nos tribunais, tudo se desenrola lá. Ou seja, os sindicatos apresentam nos tribunais os processos cautelares, em representação dos seus associados. Depois, o Estado tem um prazo de dez dias para contestar, e se for pedido o efeito suspensivo pelos sindicatos, como é o caso, o Estado tem de ir a tribunal apresentar uma resolução fundamentada, tendo 15 dias para esse efeito. Ou seja, há aqui um incidente dentro do próprio processo cautelar. Depois, o juiz decide. Mas enquanto o juiz decide, não há suspensão dos cortes salariais. Há algum prazo estipulado na lei para o juiz decidir? A lei refere que o juiz deve ouvir os interessados, que neste caso são os sindicatos, sobre a resolução fundamentada do Estado. A lei diz que o juiz ou relator ouve os interessados no prazo de cinco dias, tomando de imediato a decisão. Mas isso nunca acontece. Seria altamente es- Na sua opinião, como vai acabar este processo? Não conheço o processo na íntegra, não o li. Mas baseandome nas declarações dos responsáveis dos sindicatos, penso que estes não têm razão. Os sindicatos invocam o princípio do não retrocesso social, mas esse é um princípio que o Tribunal Constitucional não tem reconhecido. Além disso, esse princípio não prevalece sobre o princípio da necessidade. Um outro princípio que tem sido utilizado pelos dirigentes sindicais é o da irredutibilidade dos salários, ou seja, defendem que é inconstitucional reduzir os salários mas, uma vez mais, o princípio da necessidade prevalece. É preciso não esquecer que os cortes salariais resultam de uma norma do Orçamento do Estado, que é aprovado por lei pela Assembleia da República. E essa lei, por ser mais recente, derroga a lei anterior, ou seja, o princípio da irredutibilidade. Além deste problema de carácter substantivo, antevejo muitas dificuldades do ponto de vista processual. ■ “ Os casos mais rápidos que tive de processos cautelares demoraram dois meses.” ID: 33434031 05-01-2011 Tiragem: 21717 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 6,46 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 3 de 3 Governo invoca interesse público para forçar corte nos salários Os sindicatos da administração pública entregam hoje providências cautelares para tentar travar corte de salários no Estado. O Governo vai utilizar todos os meios ao seu alcance para impedir que as providências cautelares, que os sindicatos hoje entregam em tribunal para suspender o cor- te salarial na Função Pública, possam surtir efeito. A garantia foi dada pelo secretário de Estado da Administração Pública que não afasta assim a possibilidade de in- vocar o interesse público do corte salarial para, desta forma, levar os tribunais a anular o efeito suspensivo das acções judiciais colocadas pelos sindicatos. ➥ P8 Conheça os casos em que os tribunais deram razão às providências cautelares colocadas pelos sindicatos.