Da Guarvaia à Pedra no Caminho Breve História da Poesia em Língua Portuguesa Texto de Ivan Lovison Parte 1 – Trovadorismo Todos Um Dois Três Quatro Um Dois Três Parte 1. O Trovadorismo! O Trovadorismo foi a primeira manifestação literária da Língua Portuguesa. Para que existisse o trovadorismo, preciso foi que existissem os trovadores. Os trovadores eram uma espécie de poetas, cantores e tocadores de lira... Eles andavam de feudo em feudo cantando suas cantigas em troca de cama para dormir... Comida para encher a pança... E algumas moedas para poderem seguir viagem. A coisa se dava mais ou menos assim... Senhor Feudal Servo Senhor Feudal Ora, quem vem lá? Trata-se de um trovador, oh grande senhor deste feudo! Pois que se chegue. Terás uma cama para dormir, Uma perna de cabrito para encher a barriga. E muitos cobres para sua algibeira, Desde que nos alegre com suas cantigas a noite inteira! Trovador No mundo não conheço ninguém que se compare a mim em infelicidade Enquanto minha vida continua como vai indo, porque já morro de amor por vós, e ai! Minha senhora vestida de branco e de faces rosadas, Quereis que eu vos descreva quando eu vos vi sem manto! Em infeliz dia me levantei, pois vos vi bela, e não feia! E, minha senhora, desde aquele dia, ai! Tudo ocorreu muito mal para mim, E vós, filha de Dom Paio Moniz, parece-vos suficiente e satisfatório, Que eu deva receber, por vosso intermédio, uma guarvaia (por pintar vosso retrato); Pois eu, minha senhora, como prova de amor, nunca de vós recebi, nem receberei Nem o simples valor de uma correia. Três Essa aí é a Cantiga da Guarvaia. Quatro Também conhecida com Cantiga da Ribeirinha Um Guarvaia, em Portugal, naquela época, era uma espécie de manto luxuoso. Dois E Ribeirinha era o apelido da moça para quem essa cantiga foi escrita. Um A Cantiga da Guarvaia ou da Ribeirinha foi composta por Paio Soares de Taveirós, provavelmente, no ano de 1198. Dois E essa cantiga é o primeiro texto literário da Língua Portuguesa de que se tem registro. 1 Três Ela é uma cantiga de amor. Quatro Nas Cantigas de amor que eram compostas naquela época, o eu-lírico, ou seja, o sujeito que canta o poema, era sempre masculino, ou seja, um homem. Um Era sempre um homem cantando para uma mulher. Dois O assunto principal dessas cantigas era o sofrimento amoroso do eu-lírico perante uma mulher idealizada e distante. Ou seja, o amor impossível. Três Mas, também havia outros tipos de cantigas. Quatro Havia as cantigas de amigo! Um Cantigas de amigo são cantigas de origem popular, que se utilizam de recursos que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares. Dois Na Cantiga de amigo, o eu-lírico é sempre uma mulher, embora o autor fosse masculino, devido à sociedade feudal que não permitia às mulheres fazerem coisas audaciosas, como por exemplo, compor cantigas. Três Nelas, a mulher cantava o seu amor por um amigo, quer dizer, por um namorado, ou melhor, algum carinha de quem ela estivesse a fim. Quatro Mas, como a época era extremamente conservadora, dizia-se amigo, e não namorado, e muito menos “carinha de quem ela estivesse a fim”. Um Na cantiga de amigo, a mulher reclamava à sua mãe, a uma amiga, ou então a algum elemento da natureza, como a um vaso de flores, por exemplo, a distância do homem a quem amava. Trovador Ai flores, ai flores do verde pino, Sabereis vós noticias do meu amigo! Ai Deus, onde estará ele? Ai flores, ai flores do verde ramo, Sabereis vós notícias do meu amado! Ai Deus, onde estará ele? Sabereis vós notícias do meu amigo, Aquele que mentiu daquela vez em que esteve comigo! Ai Deus, onde estará ele? Sabereis vós notícias do meu amado, Aquele que mentiu aquilo tudo que me havia jurado! Ai Deus, onde estará ele? Dois E havia também a cantiga de escárnio. Três Nela, o eu-lírico fazia uma sátira a alguma pessoa. Quatro Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos e ironias. Um Às vezes, a cantiga de escárnio se transformava em cantiga de maldizer, que era quase a mesma coisa... Dois Só que na cantiga de maldizer a sátira era direta e sem duplos sentidos. Na bucha! Trovador Ai dona feia! Foste vos queixar Que nunca vos louvei em meu cantar 2 Mas quero fazer agora um cantar Em que vos louvarei por toda vida; E verás como vos quero louvar: Dona feia, velha e insandecida! Ai dona feia! Que Deus me perdoe! Pois tu tens um grande coração! Para que eu louve com toda razão Vos quero louvar por toda vida; E verás qual será a canção Dona feia, velha e insandecida! Dona feia, nunca eu vos louvei Em meu cantar, embora muito cantei; Mas agora mesmo, um bom cantar farei Em que vos louvarei por toda vida; E vos direi como vos louvarei: Dona feia, velha e insandecida! Três Quatro Um Dois Três Quatro Todos Um Cantigas de amor... Cantigas de amigo... E Cantigas de escárnio. Tudo cantando ao som da lira, pois o poema ainda não havia se separado da música... Esse era o Trovadorismo. Período que compreende a parte 1 da história da poesia em língua portuguesa. E agora, o que é que vem? Agora vem a parte 2! Parte 2 – O Humanismo Todos Um Dois Três Quatro Um Dois Três Quatro Sapateiro Diabo Sapateiro Diabo Sapateiro Diabo Sapateiro Diabo Parte 2. O Humanismo! Ao contrário da poesia trovadoresca, durante o Humanismo, a poesia era feita para ser lida, e não mais cantada, como eram as cantigas medievais. Ou seja, é nesse momento que o casamento entre poesia e música, acaba. Acaba entre aspas, é claro, porque todos nós sabemos que os poemas jamais podem deixar de ter certa... musicalidade. Mas agora os poemas eram lidos ou declamados, e não mais cantados ao som da lira, como antes. Durante o Humanismo, o amor platônico não era mais tão freqüente. Os poetas passaram a ser mais realistas e a abordar temas mais realistas também. E passaram a ser mais freqüentes também os poemas de índole religiosa. Teatro, poesia e valores religiosos. Tudo isso, junto e misturado, deu liga e se tornou a grande coqueluche dos palácios portugueses durante os séculos XV e XVI. Um cara que fez muito sucesso junto ao rei de Portugal e, por tabela, junto a toda corte portuguesa daquela época foi Gil Vicente! Ô da barca! Quem vem aí? Oh, um santo sapateiro honrado! Mas por que vem tão carregado? Mandaram-me vir assim... Mas para onde é esta viagem? Para o lago dos danados. Cruz credo, excomungado! E os que morrem confessados e perdoados Onde têm sua embarcagem? Não abuses de minha paciência, seu sapateiro deslavado! Esta é a tua barca! Tu não passas de um danado! Mas como pode ser isso? Antes de morrer, fui confessado, perdoado e comungado! Não mintas! Tu morreste excomungado! Não confessaste coisa alguma, pois esperavas viver! E antes disso, roubaste durante trinta anos o povo que te veio ver! 3 Sapateiro Diabo Sapateiro Diabo Sapateiro Diabo Um Dois Três Quatro Um Dois Três Todos Três Embarca já cá nesta barca! Há muito que te espero! Pois digo-te que não quero! Hás de embarcar sem discussão! Para o inferno é que não vou! E as missas que assisti, de nada me valerão? Ouvir missa, e continuar a roubar, é caminhar para o inferno! E as ofertas que dei à igreja e aos finados, para onde me levarão? E os dinheiros desviados, que dizes desses roubos então? Vamos logo, para o lago dos danados, e sem discussão! Gil Vicente foi o primeiro autor de teatro e também o primeiro grande poeta português. Essa obra aí, das quais vocês estão vendo uma pequena compilação, chama-se “Auto da Barca do Inferno”. Nela, como se pode notar nesse pequeno trecho, estão presentes algumas das principais características da poesia Humanista. O poema declamado. O aspecto moral e religioso. E a união da poesia com o teatro. E agora passemos logo a próxima parte desse espetáculo, antes que este diabo nos faça entrar a todos nesta barca! E qual é a próxima parte? A parte 3! Parte 3 – Classicismo Todos Parte 3. O Classicismo! Camões As armas e os barões assinalados Que, da ocidental praia lusitana, Por mares nunca dantes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo reino, que tanto sublimaram. Um Os Lusíadas, de Luis Vaz de Camões, é o maior poema épico da História da Língua Portuguesa! Dois E Camões é considerado um dos maiores, senão o maior poeta da Língua Portuguesa de todos os tempos! Três E Camões também é o maior expoente do movimento poético-literário intitulado: Classicismo! Quatro Universalismo! Um Racionalismo! Dois Antropocentrismo! Três Paganismo! Quatro Neoplatonismo! Um E todas as referências à cultura grega, possíveis e imagináveis! Dois Essas são as principais características do Classicismo! 4 Três Por outro lado, o Classicismo também marca a criação do poema lírico e a instituição do soneto. Quatro Sonetos são a marca do apuro formal que se revela na poesia a partir do Classicismo! Um Sonetos são formados por dois quartetos e dois tercetos. Dois Quartetos: estrofes com quatro versos cada. Três Tercetos: estrofes com três versos cada. Quatro ersos com até dez sílabas métricas... Um Rimas consoantes e ricas... Dois Eis a poesia do Classicismo e do gênio Luís de Camões! Camões Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? Três Quatro Três E antes que todos nós morramos de amor, nos braços de Camões e de todo esse lirismo do Classicismo, passemos logo à próxima parte... qual é a próxima parte? A parte 4! Parte 4 – Barroco Todos Um Dois Três Quatro Um Dois Três Quatro Todos Um Dois Três Quatro Parte 4. O Barroco! Idade Média. Domínio total e absoluto da Igreja Católica sobre a sociedade. Renascimento. Fim da Idade Média. Reforma Religiosa. Surge o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo! E para conter a revolta que ameaça o império da hegemonia católica... Surge a Contra-Reforma! Fervor religioso! Passionalidade! A antítese, as ideias contrárias, o paradoxo! Eis o Barroco! Uma nova maneira de ver e pensar o mundo toma conta da Espanha, da Itália, da França, de Portugal, enfim... de toda a Europa! Tão forte que chegou até o Brasil! Século XVI. O Brasil finalmente é descoberto. E o primeiro movimento poético-literário que chega ao país do carnaval, é o melancólico, comovedor e rebuscado... Barroco! 5 G. de Mattos Meu Deus, que estais pendente em um madeiro, Em cuja lei protesto viver, Em cuja santa lei hei de morrer Animoso, constante, firme, e inteiro. Neste lance, por ser o derradeiro, Pois vejo a minha vida anoitecer, É, meu Jesus, a hora de se ver A brandura de um Pai manso Cordeiro. Mui grande é vosso amor, e meu delito, Porém pode ter fim todo o pecar, E não o vosso amor, que é infinito. Esta razão me obriga a confiar, Que por mais que pequei, neste conflito Espero em vosso amor de me salvar. Um No Brasil, o Barroco teve início em 1601, com a publicação do poema épico Prosopopéia, de Bento Teixeira. Dois Mas, o mais importante poeta brasileiro do período Barroco foi Gregório de Mattos. Esse cara aí, que declamou esse poema tão lindo que nos fez chorar a todos... Três Pois é. Era justamente essa a intenção do Barroco: Comover. Quatro Ao contrário do pensamento Renascentista, que era racional e tinha ideias antropocentristas, o Barroco é totalmente sentimental e teocentrista, ou seja, Deus no centro. Um Tanto, que o nome desse poema aí é “A Jesus crucificado, estando o poeta para morrer”. Vejam que coisa mais emocionante. Não, não, gente. É muito emocionante! Nem sei o que dizer... E antes que todos nós nos desmanchemos em tantas lágrimas, passemos logo à próxima parte. qual é a próxima parte? A parte 5! Dois Três Quatro Três Parte 5 – Arcadismo Todos Um Dois Três Quatro Um Parte 5. O Arcadismo! O pastoril... O bucólico... A natureza amena... A busca do equilíbrio! A revolta contra o colonialismo! A traição à coroa portuguesa! A inconfidência! 6 Dois Três Quatro Um Dois Todos Um sentimento pré-romântico tomando conta dos poetas! E nesse cenário, surge Tomás Antônio Gonzaga! Um português naturalizado brasileiro que, assim como Tiradentes e tantos outros, lutou pela Independência do Brasil! Tanto, que acabou na prisão! E foi na prisão, que Gonzaga, que tinha por nome arcádico Dirceu, concluiu o seu poema mais importante. Marília de Dirceu! Gonzaga Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Três Acusado de conspiração e preso em 1789, Gonzaga cumpriu sua pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Quatro Ao ser preso, teve seus bens confiscados. Um Foi separado de sua amada, Maria Doroteia, para quem escreveu este poema... Dois E permaneceu em reclusão por três anos, durante os quais escreveu a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não há registros de assinatura em qualquer um de seus poemas. Três Em 1792, sua pena é comutada em degredo e o poeta é enviado a costa oriental da África, em Moçambique, onde morre, em 1810. Todos E agora? Três E agora, a parte 6! Parte 6 – Romantismo Todos Um Dois Três Quatro Um Dois Três Quatro Um Dois Três Quatro Um Dois Parte 6. O Romantismo! Lirismo... Individualismo... Subjetivismo... Egocentrismo... Medievalismo... Indianismo... Naturalismo... Exagero... Fuga da realidade... A busca pelo exótico e pelo inóspito... A idealização do mundo e da mulher... E a extrema depressão, causada justamente por essa idealização não se concretizar no mundo real. Eis as características principais de um dos principais movimentos literários de que já se teve notícia e de uma das principais maneiras de se pensar ainda tão presente em nossos dias... O Romantismo! O Romantismo, no Brasil, inicia em 1836, com a publicação do livro: “Suspiros poéticos e saudades”, de Gonçalves de Magalhães. 7 Três Mas, ao longo do tempo, podemos dividi-los em três fases. Todos Primeira fase! Quatro Idealização do Índio! Um Exaltação da Pátria! Dois Culto à natureza! G. Dias Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Todos Segunda fase! Três Pessimismo! Quatro Narcisismo! Um Angústia! Dois Gosto pela morte! Três O mal do século! A. de Azevedo Se eu morresse amanhã, viria ao menos Fechar meus olhos minha triste irmã; Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã! Quanta glória pressinto em meu futuro! Que aurora de porvir e que manhã! Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã! 8 Que sol! que céu azul! que dove n'alva Acorda a natureza mais louçã! Não me batera tanto amor no peito Se eu morresse amanhã! Mas essa dor da vida que devora A ânsia de glória, o dolorido afã... A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã! Todos Terceira fase! Um Transição para o Realismo. Dois Sensualidade. Três Combate à escravidão. Castro Alves Era um sonho dantesco... o tombadilho Que das luzernas avermelha o brilho. Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... Estalar de açoite... Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar... Negras mulheres, suspendendo às tetas Magras crianças, cujas bocas pretas Rega o sangue das mães: Outras, moças, mas nuas e espantadas, No turbilhão de espectros arrastadas, Em ânsia e mágoa vãs! E ri-se a orquestra irônica, estridente. . . E da ronda fantástica a serpente Faz doudas espirais... Qual um sonho dantesco as sombras voam!... Gritos, ais, maldições, preces ressoam! E ri-se Satanás!... Parte 7 – Parnasianismo Todos Olavo Bilac Parte 7. O Parnasianismo! Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... Um O parnasianismo foi um movimento literário essencialmente poético, contemporâneo do Realismo e do Naturalismo. Dois O nome “Parnasianismo” vem de Monte Parnaso, a montanha que, na mitologia grega era consagrada a Apolo e às musas. Três Mais uma vez, os autores procuravam recuperar os valores estéticos da Antiguidade Clássica. Quatro Sacralidade da forma. Um Respeito às regras de versificação. 9 Dois Preciosismo rítmico e vocabular. Três Rima rica e estruturas fixas. Quatro Preferência pelos sonetos. Um Objetividade e impessoalidade. Dois Combate ao exagerado subjetivismo romântico. Três Metrificação Rigorosa. Quatro Descritivismo. Um Preferência por temas históricos, objetos e paisagens. Dois A arte pela arte. Três E como essa é uma escola literária série, perfeccionista e precisa, não faremos brincadeiras ou piadinhas. Quatro Trataremos apenas de apresentá-lo e pronto. Um Por favor, senhor Olavo Bilac, o senhor, que é o poeta mais representativo desse movimento, queira brindar-nos com um de seus poemas. Olavo Bilac Muito obrigado. Recitarei: Ouvir estrelas, de minha própria autoria. ―Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizes, quando não estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas". Dois Três E agora? E agora, a parte 8. Parte 8 – Pré-modernismo Todos Quatro Um Dois Três Quatro Um Dois Três Parte 8. O Pré-modernismo! Cubismo! Valorização do presente! Subjetivismo! Ilogicidade! Enumeração caótica! Humor! Palavras em liberdade! Invenção de palavras! 10 Quatro Um Dois Três Quatro Um Dois Três Quatro Um Todos Augusto dos Anjos Substantivos soltos, jogados de forma anárquica! Verso livre! Negação da estrofe, da rima e da harmonia! Negação dos verbos, adjetivos e pontuação! Futurismo! Expressionismo! Dadaísmo! Surrealismo! Busca da emancipação do homem fora do lógico, da razão, da família, da pátria, da moral e da religião! Importância ao sonho e à exploração do inconsciente, praticando o automatismo psíquico e a expressão, libertada da censura e sem o controle da razão! Eis o Pré-Modernismo! Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Na bruta ardência orgânica da sede, Morde-me a goela ígneo e escaldante molho. "Vou mandar levantar outra parede..." - Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho, Circularmente sobre minha rede! Pego de um pau. Esforços faço. Chego A tocá-lo. Minh’alma se concentra. Que ventre produziu tão feio parto?! A Consciência Humana é este morcego! Por mais que a gente faça, à noite, ele entra Imperceptivelmente em nosso quarto! Um Esse aí é o Augusto dos Anjos, o cara mais esquisitão da poesia brasileira. Dois Também é conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo. Três Até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários. Quatro Sua poesia chocou a muitos, principalmente aos poetas parnasianos. Dois Hoje em dia, diversas editoras brasileiras publicam edições do seu único livro: Eu e Outros Poemas. Três Sua linguagem é orgânica, muitas vezes cientificista e agressivamente crua... Quatro Mas sempre com ritmados jogos de palavras, ideias, e rimas geniais. Um Ele causava repulsa na crítica e no grande público da época. Dois E somente apresentou grande vendagem anos após a sua morte. Três As imagens da obra poética de Augusto dos Anjos são de dor, horror e morte. Quatro Há, em Augusto dos Anjos, uma solidariedade universal, ligada à desumanização da natureza e até do próprio ser humano, o que reduziria todos os seres a uma só condição. Um Marco de uma época e de todas as épocas... Dois Augusto dos Anjos... 11 Três O poeta mais importante do Pré-modernismo brasileiro e um dos caras mais interessantes, curiosos e intrigantes de todos os tempos! Dois E agora? Um E agora, a parte 9! Parte 9 – Modernismo Todos Parte 9. O Modernismo! Um Tudo que se pensava durante o Pré-modernismo, amadureceu e se concretizou após a Semana de Arte Moderna, de 1922. Dois É por isso que nem precisamos dizer nada sobre o Modernismo Brasileiro. Três Basta que se apresente os seus maiores poetas! Osvald de Andrade Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena! Fosse uma manhã de sol O índio tinha despido o português! Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero na cama que escolherei. Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcalóide à vontade Tem prostitutas bonitas para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada. 12 Mário de Andrade Eu insulto o burguês! O burguês níquel, o burguês-burguês! A digestão bem-feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! Morte ao burguês de giolhos, cheirando religião e que não crê em Deus! Ódio vermelho! Ódio fecundo1 Ódio cíclico! Ódio fundamento, sem perdão! Fora! Fora! Fora o bom burguês!... Vinícius de Moraes Para que vieste na minha janela meter o nariz? Se foi por um verso, não sou mais poeta. Ando tão feliz.‖ Cecília Meireles Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face? Mario Quintana Na mesma pedra se encontram, Conforme o povo traduz, Quando se nasce - uma estrela, Quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam Hão de emendar-nos assim: "Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da estrela no fim!" Drummond No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra Parte final - O final Todos Todos Parte final. O final! E para terminar uma peça sobre a história da poesia Nada melhor que dizer versos com rima 13 Mesmo que estas sejam vazias Da Guarvaia à Pedra no caminho Como bem puderam ver e ouvir vocês A história mudou, mas ainda é a mesma, E da mesma maneira ainda há de acontecer E já que estamos nos despedindo, mais um Drummond nunca é demais E a pergunta que fica no ar, é também poema que faz pensar E drummondiando, e poetanto, Vamos todos, drummondiando, poetar... Todos Que vai ser quando crescer? Vivem perguntando em redor. Que é ser? É ter um corpo, um jeito, um nome? Tenho os três. E sou? Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito? Ou a gente só principia a ser quando cresce? É terrível, ser? Dói? É bom? É triste? Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas? Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R. Que vou ser quando crescer? Sou obrigado a? Posso escolher? Não dá para entender. Não vou ser. Vou crescer assim mesmo. Sem ser Esquecer. Ivan Lovison. Dois Vizinhos. 25 de fevereiro de 2010. 14