REVISÃO:
CONCEITOS E
CARACTERÍSTICA
DOS MOVIMENTOS
LITERÁRIOS NO BRASIL
O que é Literatura?
A literatura, como manifestação artística, tem por finalidade
recriar a realidade a partir da visão de determinado autor (o artista),
com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas
técnicas narrativas. O que difere a literatura das outras
manifestações é a matéria-prima: a palavra que transforma a
linguagem utilizada e seus meios de expressão. Porém, não se
pode pensar ingenuamente que literatura é um “texto” publicado em
um “livro”, porque sabemos que nem todo texto e nem todo livro
publicado são de caráter literário.
Logo, o que definiria um texto “literário” de outro que não
possui essa característica? Essa é uma questão que ainda gera
discussão em diversos meios, pois não há um critério formal para
definir a literatura a não ser quando contrastada com as demais
manifestações artísticas (evidenciando sua matéria-prima e o meio
de divulgação) e textuais (evidenciando um texto literário de outro
não literário). Segundo José de Nicola (1998:24), o que torna um
texto literário é a função poética da linguagem que “ocorre
quando a intenção do emissor está voltada para a própria
mensagem, com as palavras carregadas de significado.” Além
disso, Nicola enfatiza que não apenas o aspecto formal é
significativo na composição de uma obra literária, como também o
seu conteúdo.
Texto 1:
Descuidar do lixo é sujeira
Veja, Rio (23/12/2008)
Diariamente, duas horas antes da chega do caminhão da
Comlurb, a gerência de uma das filiais do Mc Donald’s deposita na
calçada dezenas de sacos plásticos recheados de papelão, isopor, restos
de sanduíches. Isso acaba propiciando um lamentável banquete de
mendigos. Dezenas deles vão ali revirar o material e acabam deixando os
restos espalhados pelo calçadão.
Texto 2:
O Bicho
Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu D’us, era um homem.
ANTES DE TUDO...
Cantigas de Maldizer: através delas, os trovadores faziam sátiras
diretas, chegando muitas vezes a agressões verbais. Em algumas
situações eram utilizados palavrões. O nome da pessoa satirizada
podia aparecer explicitamente na cantiga ou não.
Cantigas de Escárnio: nestas cantigas o nome da pessoa
satirizada não aparecia. As sátiras eram feitas de forma indireta,
utilizando-se de duplos sentidos.
Cantigas de Amor: neste tipo de cantiga o trovador destaca todas
as qualidades da mulher amada, colocando-se numa posição
inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não
correspondido. As cantigas de amor reproduzem o sistema
hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o
vassalo da amada (suserana) e espera receber um benefício em
troca de seus “serviços” (as trovas, o amor dispensado, sofrimento
pelo
amor
não
correspondido).
Cantigas de Amigo: enquanto nas Cantigas de Amor o eu-lírico é
um homem, nas de Amigo é uma mulher (embora os escritores
fossem homens). A palavra amigo nestas cantigas tem o significado
de namorado. O tema principal é a lamentação da mulher pela falta
do amado.
Exemplo – Cantiga de Amigo
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus, se verrá cedo!
Martin Codax, CV 884, CBN 1227
Exemplo – Cantiga de Maldizer
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv'en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
Joan Garcia de Guilhade, CV 1097, CBN 1486
PERÍODO COLONIAL
Quinhentismo
Possui como tema central os próprios objetivos da expansão
marítima: a conquista material, na forma da literatura informativa
das Grandes Navegações, e a conquista espiritual, resultante da
política portuguesa da Contrareforma e representada pela literatura
jesuítica da Companhia de Jesus.
“Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra
coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de
muito bons ares [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar
parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal
semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.”
(Carta a El-Rei D. Manuel)
•
Literatura Barroca
Gregório de Matos
"Esse povo maldito..."[Fugindo da Bahia]
"(...)Ausentei-me da Cidade Porque esse Povo maldito me pôs em guerra
com todo se aqui vivo em paz comigo. Aqui os dias não me passam,
porque o tempo fugitivo, por ver minha solidão, pára em meio do
caminho. Graças a D’us, que não vejo neste tão doce retiro hipócritas
embusteiros velhacos entremetidos. Não me entram nesta palhoça
visitadores prolixos, políticos enfadonhos, cerimoniosos vadios.”
Padre Antônio Vieira
“Vos, diz Chriſto Senhor noſſo, fallando com os Prègadores,
ſois o ſal da terra: & chama-lhe ſal da terra, porque quer que
façaõ na terra, o que faz o ſal. O effeito do ſal he impedir a
corrupção, mas quando a terra ſe vê taõ corrupta como eſtá a
noſſa, havendo tantos nella, que tem officio de ſal, qual ſerá, ou
qual pòde ſer a cauſa deſta corrupção? Ou he porque o ſal naõ
ſalga, ou porque a terra ſe não deyxa ſalgar.”
Sermão de Santo Antonio aos Peixes (1654)
Arcadismo no Brasil
Desenvolveu-se no Brasil do século XVIII e se prendeu ao
estado de Minas Gerais, onde se havia descoberto ouro, fato que
marcou o local como centro econômico e, portanto, cultural da
colônia portuguesa.
No apogeu da produção aurífera, entre as 1740 e 1760, Vila
Rica (hoje Ouro Preto) e o Rio de Janeiro substituíram a cidade de
Salvador como os dois polos da produção e divulgação de ideias.
Os ideais do Iluminismo francês eram trazidos da Europa pelos
poucos membros da burguesia letrada brasileira - juristas formados
em Coimbra, padres, comerciantes, militares.
Alguns autores destacados desse momento são Cláudio
Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e José
de Santa Rita Durão.
Claudio Manuel da Costa
Já rompe, Nise, a matutina aurora
O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora.
Que alegre, que suave, que sonora,
Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!
Só minha alma em fatal melancolia,
Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda, que coisa é alegria;
E a suavidade do prazer trocada,
Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.
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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SINTAXE