Relato de Caso Clínico Caderno Científico Individualização do componente de transferência Impression transfer customization technique –a case report Bruno Gadelha Fernandes Maia* Sérgio Maia** Resumo Um ponto fundamental para se alcançar resultados esteticamente satisfatórios é proporcionar uma boa transição entre os dentes e os tecidos moles, e isso é conseguido por meio de procedimentos delicados e melhores elaborados como, por exemplo, o condicionamento dos tecidos peri-implantares, cujo objetivo seria a tentativa de criar um contorno semelhante à arquitetura da gengiva. A técnica de moldagem pela individualização do componente de transferência apresentada neste artigo mostrou ser uma alternativa viável para se conseguir a reprodução fiel desta configuração gengival para o modelo de gesso. Unitermos - Técnica de moldagem odontológica; implantes dentários; estética. Abstract A key point to achieve aesthetically satisfactory results is to provide a smooth transition between the teeth and soft tissues and this is achieved by simple procedures such as the direction of peri-implant tissues developing natural tissue architecture. Customization of transferring components presented in this paper proved to be a viable alternative to achieve a faithful reproduction of gingival configuration in the master cast. Key Words - Dental impression technique; Dental implants; Esthetic. *Mestre em Implantodontia – Unisa/SP; Especialista em Prótese – FOB/USP; Atuação em Clínica Privada – Natal/RN. **Mestre em Implantodontia – Unisa/SP; Especialista em Implantodontia – HRAC/USP/Bauru; Atuação em Clínica Privada – Natal/RN. REVISTA IMPLANTNEWS 2010;7(4):563-8 707 Maia BGF • Maia F Introdução e Revisão da Literatura A evolução da Implantodontia ganhou contornos bastante definidos nos dias atuais, permitindo obter resultados diferentes daqueles alcançados no início de seu desenvolvimento. Então, o foco das exigências para o tratamento com próteses implantossuportadas passou a ser a estética do sorriso. Esta exigência que cerca um tratamento restaurador não está mais limitada à prótese confeccionada, pois os tecidos peri-implantares desempenham um papel fundamental e insubstituível para que se alcancem tratamentos plenamente estéticos. Um dente bonito cercado por tecidos gengivais inflamados ou com formas irregulares é como um quadro bem pintado, porém, sem moldura, fica sempre a sensação de que falta algum detalhe. Este novo conceito é chamado de estética rósea (tecidos gengivais) e estética branca (coroas protéticas) e é encarado como o grande desafio dos profissionais envolvidos na restauração protética, visto que o sucesso do tratamento vai depender da harmonia deste conjunto1-2. O sucesso na prótese implantossuportada já começa a se desenhar no momento da escolha do pilar que será utilizado sobre o implante. O fator financeiro, o posiciona- mento do implante ou a própria anatomia dos tecidos periimplantares são os maiores limitadores desta escolha. Os pilares estéticos, como o pilar de zircônia vêm a preencher uma lacuna deixada pelos pilares metálicos, que em determinadas situações, como no caso onde o paciente possui uma gengiva delgada, a estética rósea fica prejudicada3. Dentro do conceito da estética rósea percebe-se, geralmente, que a configuração natural da gengiva é perdida após a extração dos dentes, apresentando alteração do arco côncavo regular e indiferenciação das papilas. Com isso, se torna indispensável a utilização de manobras para restabelecer a configuração natural dos tecidos gengivais2-4. Isto pode ser conseguido com reembasamentos semanais das restaurações provisórias até que se alcance a arquitetura gengival mais próxima possível do original, tendo-se o cuidado de não extrapolar o limite de tolerância do tecido gengival4-6. Porém, todo esse esforço para alcançar um contorno satisfatório para os tecidos peri-implantares seria em vão se esta configuração gengival não fosse fielmente transferida para os modelos de trabalho. Pensando nisso, foi desenvolvida a técnica da individualização do componente de transferência para reproduzir esta arquitetura gengival conseguida após o redirecionamento dos tecidos periimplatares6-9. Relato de Caso Clínico Paciente do sexo feminino, 38 anos, com indicação de reabilitação protética sobreimplante na região do elemento 14, o qual se apresentava clínica e radiograficamente em condições de osseointegração (Figuras 1 a 3). Inicialmente realizou-se a moldagem de transferência do implante de forma convencional para confecção de enceramento diagnóstico e coroa provisória parafusada com cilindro pré-fabricado de titânio de plataforma regular (SIN). Para devolver a arquitetura natural dos tecidos moles e um perfil de emergência adequado, sucessivos reembasamentos da coroa provisória foram realizados. Figuras 1 a 3 Aspecto clínico e radiográfico inicial. 708 REVISTA IMPLANTNEWS 2010;7(4):563-8 Relato de Caso Clínico Caderno Científico Geralmente, quando a coroa provisória é removida, os tecidos moles sofrem um colapso para o interior do espaço entre a gengiva e o implante. Além disso, a maioria dos componentes não acompanha essa modificação da gengiva e o modelo funcional é alterado. Este problema pode ser transferido para o resultado final da restauração, pois esta será confeccionada em um espaço menor que o ideal. A fim de se transferir a configuração gengival conseguida pelo condicionamento para o modelo de gesso optou-se pela individualização do componente de transferência. Figura 4 Delineamento com lápis do contorno gengival da coroa provisória. Inicialmente, demarcou-se a área correspondente à gengiva marginal na prótese provisória (Figura 4). Isso orientará o recorte da muralha de silicona em torno da coroa provisória e permitirá que a resina usada para individualizar o transferente fique restrita à porção subgengival do mesmo, de forma a não interferir com sua reposição no molde. A seguir, a coroa provisória foi conectada a um análogo do implante (SIN) (Figuras 5 e 6). A utilização de um torno manual com cabo (Neodent) para segurar o conjunto análogo/coroa provisória facilita a realização da técnica e impede que, durante a manipulação, o análogo gire dentro da silicona (Figura 7). A região da coroa correspondente à área intrassulcular foi então moldada com uma silicona de adição pesada (Sylagum, DMG) através da inserção do conjunto análogo/prótese no material de moldagem (Figura 8). Após a polimerização do material de moldagem, a coroa provisória foi removida do análogo que permanecia fixado na silicona (Figuras 9 e 10) e, finalmente, o componente de transferência (SIN), Figura 11, parafusado ao análogo. Com auxílio do pincel, preenche-se o espaço resultante entre o transferente e a silicona com resina acrílica Duralay (PoliDental – Reliance Dental/USA) (Figura 12). Após a polimerização da resina, o transferente foi removido do análogo e executou-se o acabamento dos excessos da resina (Figura 13). Figuras 5 e 6 Parafusamento da coroa provisória em um análogo do implante. Figura 7 Torno manual com cabo. Figura 8 Conjunto análogo/coroa provisória envolto de silicona. Observe o nível do contorno gengival delineado previamente em boca. REVISTA IMPLANTNEWS 2010;7(4):563-8 709 Maia BGF • Maia F Figuras 9 e 10 Perfil de emergência da coroa provisória registrado na matriz de silicona. Notar a marcação de uma referência para facilitar a inserção do componente na boca. Figura 11 Análogo e transferente com seu respectivo parafuso. Figura 12 Resina Duralay acrescentada em torno do transferente. Figura 13 Transferente individualizado com o mesmo perfil da coroa provisória. Figura 14 Transferente em posição na boca evitando o colabamento gengival. 710 REVISTA IMPLANTNEWS 2010;7(4):563-8 Relato de Caso Clínico Caderno Científico Figura 15 Hélice de retenção em Duralay evita que o transferente gire dentro do molde no momento do parafusamento do análogo. O transferente, já personalizado, foi parafusado no implante e então confeccionada a hélice de retenção (Figuras 14 e 15). Em seguida realizou-se a moldagem de transferência pela técnica da moldeira aberta de forma convencional com silicona de polimerização por adição nas consistências leve (Honigum light, DMG) e pesada (Honigum MixStar Mono, DMG) (Figuras 16 e 17). No modelo de gesso observa-se o perfil de emergência idêntico ao da coroa provisória (Figuras 18 e 19). Um pilar de zircônia (SIN) foi parafusado e desgastado em laboratório (Figuras 20 e 21) e sua adaptação juntamente com a infraestrutura da coroa foi conferida clínica e radiograficamente. Após os ajustes funcionais e estéticos da porcelana, a coroa foi encaminhada ao laboratório para aplicação de glaze e finalmente cimentada com cimento à base de Fosfato de Zinco (SS White), Figuras 22 e 23. Figura 16 Molde obtido. Figura 17 Análogo conectado. Figuras 18 e 19 Vistas vestibular e lingual do modelo de gesso. REVISTA IMPLANTNEWS 2010;7(4):563-8 711 Maia BGF • Maia F Figura 20 Pilar de zircônia. Figura 21 Desgastado no modelo. Figuras 22 e 23 Aspecto clínico da coroa após a cimentação. Discussão O posicionamento exato do implante em relação aos dentes adjacentes influencia diretamente na obtenção de um perfil de emergência adequado. Contudo, os implantes normalmente possuem um diâmetro mais estreito do que o da coroa do dente que irá substituir. Portanto, o tecido gengival que circunda o implante deve ser condicionado e desenvolvido para adquirir as mesmas dimensões e configurações dos tecidos ao redor da dentição natural. Isso torna necessária a construção de uma coroa provisória que permita a criação de um perfil de emergência protético satisfatório, o que dá mais naturalidade ao dente artificial. Assim, no momento da construção da coroa definitiva, é importante registrar no modelo de trabalho o perfil de emergência estabelecido na coroa provisória, de forma a permitir ao laboratório construir uma coroa com perfil semelhante. A técnica da individualização do componente de transferência se mostra útil nesses casos, visto que a molda- 712 REVISTA IMPLANTNEWS 2010;7(4):563-8 gem de transferência realizada de forma convencional não é capaz de reproduzir, no modelo de gesso, a arquitetura gengival presente. Conclusão A técnica da individualização do transferente de moldagem permite ao técnico de laboratório fabricar uma restauração definitiva que, como descrito no caso clínico, duplica o perfil de emergência condicionado pela restauração provisória. Recebido em: abr/2010 Aprovado em: jul/2010 Endereço para correspondência: Bruno Maia Rua Joaquim Fagundes, 596, Tirol 59022-500 – Natal – RN Tel.: (84) 3201-6655 [email protected] Relato de Caso Clínico Caderno Científico Referências bibliográficas 1. Nery CF. A periodontia em sintonia com a estética dental 2009;3(3):178-84. 2. Francischone CE, Nary Filho H, Matos DAD, Lira HG, das Neves JB, Vasconcelos LW et al. Osseointegração e o tratamento multidisciplinar. São Paulo:Quintessence; 2006. 3. Neves DF, Fernandes Neto AJ, Oliveira MRS, Lima JHF, Galbiatti MAD. Seleção de Intermediários para Implantes Branemark-Compatíveis. Parte II: Casos de Implantes Individuais. PCL 2000;2(6):8-25. 4. Elian N, Tabourian G, Jalbout ZN, Classi A, Cho SC, Froum S et al. Accurate transfer of peri-implant soft tissue emergence profile from the provisional crown to the final prosthesis using an emergence profile cast. J Esthet Restor Dent 2007;19:306-15. 5. Lin WS, Ercoli C. 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