A indústria de seguros no Brasil Transformação e crescimento em um país de oportunidades II III IV A indústria de seguros no Brasil Transformação e crescimento em um país de oportunidades 1 Direção geral do projeto Clodomir Félix F. C. Junior Coordenação editorial Renato de Souza Mtb 26.563 Produção editorial Ester Rossi Mtb 47.283/SP Fotos Walter Craveiro (fotógrafo oficial do projeto) Nelson Toledo (Enrico De Vettori e João Batista Pinto) Gilberto Alves (Jérôme Garnier) Jorge Luiz – ANS (Mauricio Ceschin) Nilton Santana (Fabio Luchetti) Gabriel Sales – Photocamera (Carlos Augusto Pinto Filho) Gráfica Intergraf Ind. Gráfica Ltda. Apoio à produção Laura Paoletti Sthefani Tironi Tiragem 1.700 exemplares na versão em português 300 exemplares na versão em inglês Produção gráfica e pesquisa de imagem Elisa Paulillo Otavio Sarsano Empresas e entidades colaboradoras Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Aon Risk Solutions Banco do Brasil Bradesco Seguros Caixa Seguros CESCEBRASIL Seguros HDI Seguros IRB-Brasil Re Itaú Auto e Residência S.A. MAPFRE Seguros Marítima Seguros S.A. Marsh Brasil OdontoPrev Porto Seguro SulAmérica Superintendência de Seguros Privados (Susep) Complementação de informações econômicas Fernando Ruiz Giovanni Cordeiro Aline Oshiro Revisão Sonia Hagemann Versão em inglês Unitrad – Profissionais em tradução Arte Mare Magnum ••As estatísticas mencionadas neste livro refletem a última informação disponível no fechamento da publicação. A divulgação de dados pela imprensa ou por quaisquer outras fontes do mercado que venham a atualizar as estatísticas aqui expostas não invalida, de forma alguma, o propósito informativo desta obra, que é o de articular movimentos e tendências essenciais que se estabelecem e se desenvolvem ao longo de anos, a despeito de mudanças pontuais ou ciclos curtos da economia e dos negócios. ••O conteúdo dos artigos assinados pelos articulistas colaboradores desta publicação não reflete necessariamente as opiniões da Deloitte. ••Estão reservados à Deloitte todos os direitos autorais desta obra. A reprodução de páginas deste livro está vetada e a citação de informações nele contidas está sujeita à autorização prévia, da Deloitte e dos articulistas colaboradores, mediante consulta formal e comprometimento de citação de fonte. Filiada à Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) Contato para leitores desta obra: [email protected] Sobre a Deloitte A Deloitte oferece serviços nas áreas de Auditoria, Consultoria, Consultoria Tributária, Corporate Finance e Outsourcing para clientes dos mais diversos setores. Com uma rede global de cerca de 182.000 profissionais atuando a partir de firmas-membro em mais de 150 países, a Deloitte reúne habilidades excepcionais e um profundo conhecimento local para ajudar seus clientes a alcançar o melhor desempenho, qualquer que seja o seu segmento ou região de atuação. No Brasil, onde atua desde 1911, a Deloitte é uma das líderes de mercado e seus cerca de 4.500 profissionais são reconhecidos pela integridade, competência e habilidade em transformar seus conhecimentos em soluções para seus clientes. Suas operações cobrem todo o território nacional, com escritórios em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, Fortaleza, Joinville, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Recife e Salvador. “Deloitte” refere-se à sociedade limitada estabelecida no Reino Unido “Deloitte Touche Tohmatsu Limited” e sua rede de firmas-membro, cada qual constituindo uma pessoa jurídica independente. Acesse www.deloitte.com/about para uma descrição detalhada da estrutura jurídica da Deloitte Touche Tohmatsu Limited e de suas firmas-membro. © 2011 Deloitte Touche Tohmatsu. Todos os direitos reservados. Uma visão sobre o nosso vibrante mercado de seguros “Em nosso segundo século no País, queremos continuar participando ativamente do processo de crescimento e transformação desse setor.” A excelência da indústria financeira do Brasil é hoje reconhecida em todo o mundo, contribuindo para projetar o País como um mercado de fato atraente para os principais agentes internacionais. Os sólidos fundamentos das organizações desse setor se traduzem em ótimos níveis de rentabilidade, ofertas diversificadas de produtos, penetração crescente em faixas pouco exploradas da população, invejável base tecnológica e destacável estrutura de gestão de riscos. O setor de seguros é, sem dúvida, parte muito importante dessa nossa robusta indústria financeira. Mais do que isso, ele representa hoje um mercado vibrante, em forte expansão e consolidando um nível significativo de maturidade. O atual sucesso do nosso mercado segurador é resultado não apenas de um momento promissor da economia e do ambiente de negócios do País, mas, sobretudo, da capacidade das próprias empresas que o constituem em se reinventar permanentemente. A Deloitte, que já completou 100 anos de atuação no Brasil, se orgulha em ter historicamente apoiado as organizações que compõem toda a nossa cadeia do mercado de seguros e financeiro em geral. Em nosso segundo século no País, queremos continuar participando ativamente do processo de crescimento e transformação desse setor. Esta coletânea de artigos que organizamos, com alguns dos principais executivos desse mercado, nos oferece uma visão panorâmica sobre um dos setores mais promissores da economia nacional. Desejamos a todos uma ótima leitura. Juarez Lopes de Araújo Presidente da Deloitte Articulistas colaboradores Carlos Augusto Pinto Filho Coordenador-geral de Monitoramento de Solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep) Francisco Caiuby Vidigal Presidente da Marítima Seguros S.A. e Marítima Saúde Seguros S.A. Cristiano Furtado CFO da Marsh Brasil Jérôme Garnier Diretor financeiro da Caixa Seguros Duarte Marinho Vieira Superintendente técnico atuarial da MAPFRE Seguros e professor de Ciências Atuariais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Leonardo André Paixão Presidente do IRB-Brasil Re Fabio Luchetti Vice-presidente executivo da Porto Seguro Marcelo Homburger Vice-presidente de Recursos Técnicos da Aon Risk Solutions Deloitte – liderança local e global Clodomir Félix Líder da Deloitte no Brasil para a indústria financeira Chris Harvey Líder global da Deloitte para a indústria financeira Joe Guastella Líder global da Deloitte para a indústria de seguros Marco Antonio Rossi Presidente do Grupo Bradesco Seguros Patrick de Larragoiti Lucas Presidente do Conselho de Administração da SulAmérica Seguros e Previdência Mauricio Ceschin Diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) Paulo Rogério Caffarelli Vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do Banco do Brasil Murilo Setti Riedel Vice-presidente da HDI Seguros e responsável pelas áreas técnicas de Seguros, Resseguros e Sinistros Randal Zanetti Presidente da OdontoPrev Ney Ferraz Dias Diretor geral do Itaú Auto e Residência S.A. Valmir Forni Diretor administrativo financeiro da CESCEBRASIL Seguros Deloitte – expertise na indústria e na prática de negócios Enrico De Vettori Sócio da área de Consultoria da Deloitte e especialista no setor de saúde João Batista Pinto Diretor da prática de Atuária da Deloitte Introdução Um setor que avança com o novo Brasil Para analisar o universo de transformações pelas quais passa o mercado segurador, nada melhor do que uma coletânea de artigos de executivos e especialistas que conhecem a fundo o setor e trabalham pelo seu desenvolvimento. O mercado de seguros vivencia no Brasil um momento inédito, marcado por acentuados níveis de expansão em praticamente todos os segmentos e tipos de produto e, principalmente, por amplas oportunidades nas mais diversas frentes. Uma série de fatores tem contribuído para que essa indústria avance rapidamente para consolidar conquistas históricas e efetivar seu reconhecido potencial de crescimento em uma das principais economias emergentes do mundo. O primeiro facilitador dos avanços recentes desse setor está ligado à própria estabilidade econômica do País, que passou a proporcionar nas últimas duas décadas uma maior capacidade de planejamento para consumidores e empresas, a fim de aumentar o interesse por produtos de seguro. 6 Outro determinante dessa nova realidade – talvez o mais significativo de todos pela sua abrangência – tem sido a exuberância do nosso mercado interno, com a elevação do poder de consumo de partes significativas da população. A chamada “nova classe média”, que já vinha desencadeando mudanças em diversos setores econômicos, busca agora meios para preservar seus bens adquiridos e garantir segurança e um futuro mais estável para sua família. Desse modo, grandes oportunidades continuarão a se abrir para certos segmentos de seguros. O próprio microsseguro, em vias de ser regulamentado no País, projeta-se como alternativa importante nesse contexto. Felizmente, as excelentes perspectivas para o mercado segurador se sustentam não apenas como reflexo de eventos socioeconômicos do passado recente. Muito pelo contrário, há razões para se Clodomir Félix Líder da Deloitte no Brasil para a indústria financeira acreditar na manutenção do crescimento em médio e longo prazos, em decorrência de fenômenos econômicos, mercadológicos e até demográficos em curso. A retomada dos investimentos em infraestrutura, por exemplo – associados ou não à realização dos megaeventos esportivos de 2014 e 2016 –, traz sinais promissores para segmentos como o resseguro e o seguro patrimonial. A própria instabilidade vigente em economias maduras deve contribuir, por sua vez, para que o setor de seguros brasileiro permaneça atrativo a investimentos estrangeiros, em particular, diante do movimento de abertura que o mercado local tem vivenciado. E a relevância cada vez maior da População Economicamente Ativa (PEA) na sociedade brasileira tende a concretizar o que se vem chamando de “bônus demográfico”, com um número maior de pessoas produzindo, consumindo e gerando ainda mais oportunidades para a indústria seguradora. Diante desse cenário sem precedentes, a indústria de seguros no Brasil vem promovendo uma transformação contínua nos mais diversos âmbitos: das estratégias de negócio adotadas à introdução de modelos de operação mais eficientes, de novos mecanismos de crescimento ao uso de canais alternativos de distribuição. É para tratar desse universo de transformações em um ambiente propício ao crescimento que a Deloitte decidiu convidar executivos e especialistas para expor suas visões sobre o desenvolvimento do mercado segurador. Desse modo, “A indústria de seguros no Brasil – Transformação e crescimento em um país de oportunidades” é uma coletânea de artigos que percorre os grandes determinantes das mudanças e da expansão 7 Uma história de desse setor. O primeiro capítulo do livro (“Além da tempestade”) trata da conjuntura internacional do mercado de seguros, com os líderes globais da Deloitte para as indústrias financeira e de seguros – Chris Harvey e Joe Guastella, respectivamente – discorrendo a respeito dos novos determinantes da dinâmica do setor. Os cinco artigos do segundo capítulo (“O país do presente se revela”) discorrem sobre como o novo cenário social brasileiro vem trazendo oportunidades inéditas para as seguradoras. O capítulo “Horizonte sem fim” trata da relação entre o mercado de seguros e os caminhos que o capital vem tomando, no mundo e, em particular, no Brasil. Já o quarto capítulo (“Pela saúde do brasileiro”) inclui artigos sobre os desafios e as perspectivas para os seguros de saúde e odontológico. Os aspectos de gestão, que vão da precificação e rentabilidade aos papéis do corretor e do profissional atuário, estão no quinto capítulo, “A gestão moderna”. Para finalizar o livro, os três artigos do capítulo 6 (“A nova dinâmica da indústria”) tratam de movimentos próprios de um setor globalizado por definição, que abrangem aderência a regulamentações, gestão de riscos, consolidações e competitividade. Vistos no conjunto, os 20 artigos expostos nas páginas seguintes constituem retratos do presente e do futuro de uma indústria que aprendeu a se transformar permanentemente, adaptando-se sempre aos novos tempos da economia. 8 1808 1850 1855 1862 No ano da abertura dos portos brasileiros, é fundada a primeira organização de seguros do País, a Companhia de Seguros Boa-Fé Com a promulgação do "Código Comercial Brasileiro", o seguro marítimo é regulado plenamente, atividade fundamental para um país agroexportador Já sob a regência de D. Pedro II, o Brasil Império vivencia a formação da Companhia de Seguros Tranquilidade, a primeira do País dedicada ao ramo vida Surgem as primeiras sucursais no Brasil de seguradoras sediadas no exterior 1996 2000 2006 2008 O Brasil passa a permitir a entrada de grupos estrangeiros podendo controlar companhias seguradoras locais É criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para regular o setor de serviços de saúde São estabelecidas novas regras de solvência para as seguradoras, com a exigência de mais capital, acarretando novas consolidações O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re) perde o monopólio do resseguro, favorecendo a chegada de competidores estrangeiros transformação e crescimento 1901 1929 1939 1966 1985 1993 Criação da Superintendência Geral de Seguros, que passou a concentrar as responsabilidades de fiscalização do setor É fundada a primeira empresa de capitalização do Brasil, a Sul América Capitalização S.A. É criado o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), que monopolizaria o resseguro no País até o início do século 21 São criados o Sistema Nacional de Seguros Privados e a Superintendência de Seguros Privados (Susep) O mercado brasileiro de seguros passa por uma reestruturação, com a desregulação gradativa do setor O Plano Real é lançado, sedimentando as bases da posterior estabilização econômica brasileira 2010 2011 2014 2020 O País encerra uma década de forte expansão do crédito e inclusão social, ampliando o mercado interno e abrindo perspectivas a todo o mercado segurador O Governo Federal lança o PAC 2, que, junto a empreendimentos privados, abre oportunidades a ramos como o resseguro e o seguro patrimonial O País sediará a Copa do Mundo da FIFA, coroando uma fase de retomada dos investimentos em infraestrutura, que favorece segmentos do mercado segurador O Brasil deve alcançar o ápice do “bônus demográfico”, com a sua população economicamente ativa representando a maior parte da sociedade – mais oportunidades ao mercado segurador Fontes: Susep, revista Época Negócios e Deloitte (consolidação de dados públicos) 9 Sumário Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 13 Além da tempestade Um olhar sobre o futuro da indústria no mundo 23 O país do presente se revela As facetas do crescente mercado interno 45 Horizonte sem fim De portas abertas para o investimento 14 O s vetores da transformação Quatro fatores centrais para explicar as mudanças na indústria financeira 24 Um bônus a conquistar As oportunidades que virão com o aumento da população economicamente ativa 46 A segurança das seguradoras Grandes perspectivas para o mercado de resseguros no Brasil Chris Harvey 18 N ovas rotas para o crescimento O foco nos mercados emergentes e em canais de distribuição não tradicionais Joe Guastella 28 O novo objeto de desejo Após a ascensão social, as classes emergentes querem preservar suas conquistas 50 O ciclo virtuoso do patrimônio Um ambiente ideal para a expansão do seguro de patrimônio Marcelo Homburger Marco Antonio Rossi 32 As novas necessidades da nova classe média As demandas da classe C, que ajuda a impulsionar o setor de seguros Patrick de Larragoiti Lucas 36 Muito além de um “seguro barato” O potencial e o público-alvo de produtos promissores, como o microsseguro Paulo Rogério Caffarelli 40 A próxima etapa evolutiva Chegou a vez dos seguros de vida, previdência e saúde Jérôme Garnier 10 Leonardo André Paixão Fabio Luchetti 52 Mais proteção aos exportadores O seguro de crédito à exportação em tempos de globalização intensa do comércio Valmir Forni Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 57 Pela saúde do brasileiro Alternativas para a indústria da vida 71 A gestão moderna Operações na busca da eficiência 91 A nova dinâmica da indústria Como avançar em um setor globalizado por excelência 58 O portunidades para crescer e incluir Acessibilidade e percepção de valor impulsionam o seguro odontológico no Brasil 72 A informação que define o preço As novas possibilidades na construção de modelos de precificação Ney Ferraz Dias 92 Impactos e benefícios da norma Os esforços para ajustar a indústria de seguros aos padrões internacionais 76 Rentabilidade versus custos O complexo e fundamental processo de gestão profissional dos custos 96 Lições aprendidas com a crise Os muitos aprendizados de toda a indústria financeira aplicados às seguradoras Randal Zanetti 62 Os desafios da cadeia da saúde A importância de se enfrentar o crescente aumento de custos no setor Enrico De Vettori 66 O plano de saúde do futuro O desafio de responder a consumidores cada vez mais bem informados Murilo Setti Riedel 80 Profissão corretor A busca de especialização, atualização e soluções customizadas Cristiano Furtado Mauricio Ceschin Carlos Augusto Pinto Filho Francisco Caiuby Vidigal 100 O risco que vira oportunidade De pessoas a processos, de parcerias a concorrentes: os determinantes da competitividade Duarte Marinho Vieira 84 Novos papéis para o atuário Os desafios que a implementação do IFRS trouxe aos atuários de seguros João Batista Pinto 11 12 Capítulo 1 Além da tempestade Um olhar sobre o futuro da indústria no mundo Os vetores da transformação As mudanças mais importantes em curso nas instituições financeiras do mundo ocorrem hoje em torno de quatro fatores centrais: aderência a regulamentações, capital, clientes e concorrência. O peso dessas alterações afeta hoje todas as áreas de negócio das organizações do setor. uatro anos após o início da crise financeira global, grande parte do setor de serviços financeiros das economias maduras continua bastante inquieta. Nos Estados Unidos e nas nações da Europa Ocidental, as incertezas econômica, regulatória e política custaram a confiança do consumidor, o que se reflete na lenta recuperação econômica. Formuladores de políticas das duas regiões continuam a introduzir regulamentações complicadas e potencialmente custosas, que confundem os esforços de planejamento estratégico e podem ter um efeito cascata nas instituições financeiras das economias dos países em desenvolvimento. Muitas das maiores instituições financeiras do mundo estão lutando para encontrar oportunidades de crescimento, ao mesmo 14 tempo em que enfrentam pressões do governo, dos órgãos reguladores e da opinião pública. Vimos reestruturações e alienações entre as maiores organizações do mundo para sobreviverem. Agora estamos vendo as empresas alterarem seu foco comercial, suas estratégias e seus mercados. Enquanto instituições de economias desenvolvidas digladiam-se com condições adversas, organizações de economias emergentes têm encontrado uma rara oportunidade para recuperar o atraso. Grandes empresas globais de serviços financeiros no Brasil e na China estão assumindo seu legítimo lugar no cenário internacional; os dois países têm hoje instituições financeiras classificadas entre as 25 maiores do mundo em termos de força e atratividade para investimentos. Por Chris Harvey Líder global da Deloitte para a indústria financeira Enfrentando a perspectiva de crescimento estagnado internamente, instituições norte-americanas e europeias estão sendo atraídas para esses mercados emergentes. Elas estão buscando crescimento em economias menos voláteis e levando com elas não apenas ofertas bancárias padrão, mas produtos de seguro mais sofisticados, como, por exemplo, contra recessão para residentes não segurados ou subsegurados no exterior. Vários países estão mudando suas estruturas regulatória e tributária à medida que se tornam mais confiantes a respeito da força de seus setores financeiros e, assim, estão se tornando mais atraentes para essas instituições globais e estrangeiras, em particular, no Brasil. Para lidar com novos regulamentos e ampliar sua presença em novos mercados, organizações financeiras em todo o mundo estão evoluindo com o mercado global pós-recessão. Grande parte da transformação nas instituições financeiras está ocorrendo em torno de quatro elementos centrais: aderência a regulamentações, capital, clientes e concorrência. Essas mudanças estão afetando as decisões em todas as áreas de negócio: modelos operacionais, gestão de riscos, governança, combinações estratégicas, desenvolvimento de produtos, talentos e objetivos estratégicos. Aderência a regulamentações Os governos e as instituições financeiras globais são vistos com desconfiança devido à crise e às ajudas emergenciais. O diálogo político em andamento, as ameaças de penalidades regulatórias e as táticas agressivas de lobby por parte de líderes do setor resultaram na mudança da supervisão da alta cúpula das instituições financeiras nas nações desenvolvidas. No entanto, essa 15 atividade em andamento deixou muitos detalhes operacionais vagos e aumentou o número de órgãos reguladores aos quais as instituições financeiras devem se reportar. Embora tenhamos visto um acordo geral entre os países do G-20 sobre exigências de estabilidade financeira e regulamentação, ainda há graus conflitantes de normas entre os países. Isso requer que esforços de adequação às regulamentações sejam empreendidos para adaptar as exigências a cada jurisdição. A não conformidade poderia levar a penalidades significativas e representa um risco relevante à reputação quando as atenções se voltarem para áreas sensíveis, como a remuneração de executivos. Vários ajustes importantes estão posicionando as empresas para reagirem à mudança regulatória, à medida que ela se desenrola. As instituições financeiras estão caminhando em direção a um programa de conformidade ágil e dimensionável, apoiado por soluções tecnológicas e uma força de trabalho altamente qualificada. Os líderes das instituições financeiras também estão tratando do processo “Os setores financeiros estão se moldando em um número menor de grandes instituições líderes e em um número maior de empresas menores e especializadas.” 16 de adequação às regulamentações de maneira proativa, prevendo penalidades, quantificando vantagens competitivas e analisando cenários que desencadeariam eventualmente mudanças na atuação geográfica, saídas de produtos ou um plano alternativo de remuneração. Capital O capital não é mais uma mercadoria que possa ser adquirida facilmente. Somente o mercado de títulos negociáveis encolheu mais de 50% de 2007 a 2010. A introdução de novos padrões de capital por meio do Basileia III para os bancos e do Solvência II para as seguradoras aumentou ainda mais o custo do capital. Como resultado, a concorrência por fontes mais baratas e estáveis de capital, como depósitos bancários segurados, é intensa. Exigências de capital de prazo mais longo, no entanto, estão forçando as instituições financeiras a focar medidas de “retorno de capital” para identificar o melhor uso do investimento e os produtos mais eficientes. O resultado desse movimento provavelmente será pressionar as instituições financeiras a fim de diversificar em áreas varejistas do setor, que têm potencial para aumentar a liquidez, inclusive para produtos de seguro que gerem fluxos de caixa positivos no curto prazo. Clientes Os clientes saíram arranhados da instabilidade econômica dos últimos quatro anos, o que os forçou a se inteirarem mais sobre os riscos e a escrutinar a natureza dos produtos financeiros mais de perto. A instabilidade econômica também aumentou a sensibilidade do cliente em relação aos preços, forçando as instituições financeiras a reduzir taxas ou a diminuir as expectativas de venda. Na luta pela participação de mercado, as instituições financeiras estão preservando margens por meio de mais eficiência, concentrando-se em produtos de serviço intensivo para segmentos menos sensíveis aos preços e abrindo mão de relações com clientes de alto risco. A eliminação de produtos de qualidade mais baixa e o impulso a marcas viáveis mantêm a gama de produtos e serviços oferecidos de forma compatível com a qualidade do cliente e os padrões de preços. Concorrência O cenário concorrencial está repleto de novos participantes, consolidações e competidores dos mercados emergentes. Os novos participantes estão capitalizando seus serviços especializados para atrair clientes do setor financeiro, insatisfeitos e desconfiados dos atuais fornecedores. A consolidação continua a ser um caminho em direção ao crescimento nas economias anêmicas de hoje; a caça às pechinchas é o esporte financeiro do momento. Nos mercados emergentes, os competidores estão agindo com rapidez e agilidade para desenvolver uma presença regional, forçando os fornecedores internacionais a observar seus planos ambiciosos a fim de aumentar o reconhecimento de marca. Novos competidores, mais rápidos e criativos e com altos padrões de serviço ao cliente, estão motivando fornecedores tradicionais a melhorar a experiência do cliente e a resposta aos serviços para não perder terreno. Os setores financeiros estão se moldando em um número menor de grandes instituições líderes e em um número maior de empresas menores e especializadas. Para enfrentar esses desafios, as instituições financeiras estão se voltando para a inovação de serviços, na qual o uso aperfeiçoado da tecnologia pode levar a uma melhor experiência do cliente. Além disso, a capacitação em serviço para o pessoal da linha de frente tornouse uma grande prioridade para fornecer uma experiência competitiva ao cliente. Aquisições e alienações estratégicas estão mantendo a penetração de mercado alinhada com os objetivos da organização, incluindo investimentos em países emergentes, como o Brasil. Apesar da intensificação das incertezas em torno de aderência a regulamentações, capital, clientes e concorrência, há um grau de estabilidade retornando aos sistemas financeiros mundiais. As instituições que se mantêm concentradas em aproveitar oportunidades nessas quatro áreas centrais estão fortalecendo sua posição para alcançarem êxito no novo cenário global. 17 Novas rotas para o crescimento Com perspectivas reduzidas de expansão nas economias mais maduras, as seguradoras globais estão direcionando seu foco de atuação e capital aos mercados emergentes e para o uso de canais de distribuição não tradicionais. Assim, buscam transitar com mais eficácia nas novas condições do mercado global. A crise financeira que teve início em 2008 acelerou o ritmo das mudanças no mercado de seguros, à medida que os fornecedores intensificaram seus esforços para escorar os fluxos das receitas em queda. Embora a causa-raiz do colapso possa remontar a bancos e empresas de valores mobiliários, o receio de contágio de novos reveses disseminou-se entre todas as instituições de serviços financeiros. As seguradoras estão se saindo melhor do que a maioria, no entanto, devido a medidas eficazes de gestão de riscos e reservas de capital suficientes durante o auge da crise. Apesar de problemas generalizados entre bancos e organizações de valores mobiliários, somente algumas poucas instituições de seguro – a maioria com sede nos Estados Unidos – foram 18 prejudicadas pela crise do sistema financeiro. As seguradoras também continuam a ter uma classificação melhor do que outras instituições de serviços financeiros em pesquisas de avaliação de marca feitas com consumidores. Embora as seguradoras tenham resistido bem durante a crise, a retração econômica ressalta alguns problemas subjacentes com os fluxos tradicionais de receitas das seguradoras, que têm encolhido nos últimos anos. A capacidade das seguradoras de gerar receita a partir de subscrições tradicionais em economias desenvolvidas foi afetada de modo adverso com a alta saturação do mercado e com prejuízos de bilhões de dólares em riscos seguráveis durante a retração econômica. Fluxos de ganhos de investimento, que constituem uma das principais fontes das Por Joe Guastella Líder global da Deloitte para a indústria de seguros receitas dos seguros, também estiveram sob pressão devido à constante volatilidade do mercado. A ameaça de recessão global pressionou as taxas de juros para baixo. A continuidade de taxas de juros mais baixas reduz a capacidade das seguradoras de gerar receita suficiente para cobrir custos fixos de produtos de investimento e limita o retorno que podem oferecer aos consumidores em seguros de vida e produtos de anuidade. O ambiente saturado de regulamentações complica os esforços das seguradoras de agir estrategicamente e caminhar em novas direções. Tanto os países individualmente quanto as organizações normatizadoras continuam a introduzir medidas regulatórias em resposta à crise financeira. No âmbito internacional, medidas destinadas à estabilidade do setor, como o Solvência II, já estavam sendo adotadas antes da crise. A ênfase no foco da reforma regulatória na União Europeia e nos Estados Unidos impõe muitos desafios, entre os quais, nas áreas de estrutura operacional, planejamento fiscal e aderência a regulamentações. O ajuste fino das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros (o IFRS, de “International Financial Reporting Standards”), do International Accounting Standards Board (IASB), provavelmente terá impacto na elaboração dos relatórios das seguradoras, além de ônus fiscal. As seguradoras estão enfrentando um período prolongado no qual ficarão sem saber o que será esperado delas, que demandas e custos de conformidade enfrentarão ou mesmo se continuarão viáveis em determinados mercados. As seguradoras estão agindo para aproveitar o potencial de novas 19 possibilidades de geração de lucros, apesar da incerteza regulatória. Com o crescimento estagnado nas economias avançadas, os líderes do setor de seguros estão mudando seu foco e capital – financeiro, tecnológico e intelectual – para mercados emergentes e canais de distribuição não tradicionais, onde podem ter maiores oportunidades para direcionar o crescimento. As seguradoras estão estudando a possibilidade de ampliar sua presença em economias em desenvolvimento, nas quais a penetração do setor de seguros é baixa. O grande número de pessoas não seguradas ou subseguradas no Brasil, junto com uma economia resiliente e uma classe média em crescimento, apresenta uma nova frente atrativa para melhores retornos. Além de ter a quinta maior população do mundo, o Brasil tem várias qualidades que tornam as perspectivas de venda “Nos mercados emergentes, a economia pode ser diferente, mas as demandas do consumidor são surpreendentemente similares. Empresas e consumidores têm mais ativos para proteger e renda disponível para comprar produtos de seguro em função de suas economias em expansão.” 20 animadoras para as seguradoras. Entre essas qualidades, estão mercados comerciais internacionais abertos, um crescimento projetado consistente e taxas estáveis de inflação, consumo, impostos e dívida pública. O Brasil é um dos vários países que estão agindo para mudar estruturas fiscais e regulatórias a fim de atrair empresas estrangeiras de serviços financeiros. O setor interno de seguros foi liberalizado para permitir investimentos e participação de empresas estrangeiras no crescimento emergente do setor no País. Como resultado, a previsão é de que o mercado brasileiro de seguros cresça a uma taxa média de quase 10% até 2013, ultrapassando em muito a média projetada do mercado global de cerca de 3%. À parte a nova penetração de mercado, as seguradoras estão ajustando seu conjunto de produtos e serviços para atender aos tipos de produtos de seguro que os consumidores querem nas economias pós-recessão. Com pouco dinheiro e desconfortáveis com produtos que não entendem, os consumidores das economias avançadas em geral estão passando de produtos complexos ou híbridos para produtos simples e fáceis de entender, com cobertura em áreas que os compradores acreditam não poder bancar por não ter proteção, como contratos de anuidade à prova de inflação e seguros de vida e saúde. Isso está limitando as oportunidades do setor para avançar com produtos e serviços inovadores de margem mais alta. Diferenças e semelhanças Nos mercados emergentes, a economia pode ser diferente, mas as demandas do consumidor são surpreendentemente similares. Empresas e consumidores têm mais ativos para proteger e renda disponível para comprar produtos de seguro em função de suas economias em expansão. Os novos compradores, que representam o grosso das vendas, demandam coberturas simples a fim de proteger ativos e futuros fluxos de renda. Atingir esses e outros consumidores globais pode ser inicialmente problemático. Embora as seguradoras tenham um alto índice de satisfação do cliente, historicamente tiveram dificuldade em atingir novos clientes. As seguradoras estão buscando melhorar a experiência do cliente e ampliar os canais de distribuição para criar vários pontos de contato no mundo virtual e também no mundo real. As seguradoras estão explorando canais não tradicionais de distribuição para aumentar os fluxos de receita e reconstruir a confiança do consumidor no setor, com melhores respostas aos serviços. Cada vez mais os consumidores estão acessando a internet com a finalidade de comparar produtos de seguro em seus dispositivos móveis. Agregadores online também estão surgindo para atuar como atacadistas para agentes independentes e também como fontes de mercado para pequenos empresários e consumidores de seguro pessoal. Nos mercados em desenvolvimento, o bancassurance é uma maneira fundamental de conectar as seguradoras com potenciais clientes porque o banco é um ponto de contato inicial para aqueles que usam serviços financeiros pela primeira vez. O setor bancário no Brasil é fortemente capitalizado e bem regulamentado e as redes de agências são bem estabelecidas, dando ao bancassurance um público-alvo com interesse em obter apoio financeiro. A maioria das grandes empresas do setor de seguros local é filiada a bancos que têm extensos canais de distribuição internos por meio das redes de agências. O bancassurance permite às seguradoras vender produtos em mercados onde outros concorrentes não podem estar presentes. Os fluxos de receita foram inexoravelmente alterados com a crise financeira, forçando os líderes do setor de seguros a equilibrar a incerteza regulatória com a busca de crescimento em novos centros globais de lucro. As seguradoras que abrirem caminho para os mercados emergentes e canais não tradicionais de distribuição estarão transitando com mais eficácia nas novas condições de mercado. As seguradoras que reavaliam constantemente seus modelos de negócio e os reposicionam para aproveitar as oportunidades predominantes, tanto nas economias avançadas quanto nas emergentes, têm um futuro brilhante pela frente. 21 Capítulo 2 O país do presente se revela As facetas do crescente mercado interno Um bônus a conquistar O aumento da população ativa no País, com o chamado “bônus demográfico”, trará grandes perspectivas para as seguradoras que conseguirem oferecer diferenciais como tranquilidade e segurança, além de produtos e formas de pagamento acessíveis às classes menos favorecidas. O momento de consistente otimismo econômico vivido no Brasil nos últimos anos – e que se projeta para os próximos – tem relação com um fenômeno chamado “bônus demográfico”. Isso significa que, em um determinado período, a População Economicamente Ativa (PEA) vai ultrapassar a de dependentes, formada por idosos e crianças. Portanto, nos próximos 20 anos, teremos uma maior concentração de pessoas na faixa etária entre 15 e 60 anos, que, com mais emprego e educação, uma vez supridas suas necessidades mais básicas, chegarão a conquistar um patrimônio maior – e ampliarão seus sonhos. Cria-se um cenário mágico e otimista para o mercado segurador, principalmente para profissionais e empresas que 24 perceberem que é preciso proporcionar tranquilidade e segurança, além dos aspectos econômicos, oferecendo instrumentos e orientação para a proteção das conquistas e dos sonhos de cada um. Porém, para que os efeitos econômicos e socialmente benéficos do bônus social sejam plenamente alcançados, o País precisa superar alguns desafios básicos, conhecidos e amplamente debatidos, mas que ainda carecem de planejamento efetivo e ações mais dinâmicas de resultado palpável. É preciso investir consistentemente em infraestrutura e, fundamentalmente, em educação. A partir do momento em que os gargalos logísticos forem desfeitos e a educação de qualidade fizer desabrochar todo o talento dos profissionais brasileiros, o Brasil vai confirmar seu papel de destaque continental e mundial. Por Fabio Luchetti Vice-presidente executivo da Porto Seguro Quanto ao setor de seguros, temos três necessidades principais, gerais, além daquelas específicas para cada segmento. Primeiro, é preciso criar soluções de produtos e formas de pagamento acessíveis para classes menos favorecidas. É necessário considerar também os efeitos da degradação ambiental, que já começam a ser sentidos com mais intensidade em algumas regiões e afetam cálculos, sinistros e prêmios. E ainda há um longo caminho no sentido de ampliar a visão da importância do seguro na sociedade brasileira. Necessidades específicas Por segmentos específicos, hoje, em média, apenas 25% da frota brasileira de automóveis é segurada. Os mercados de São Paulo e Rio de Janeiro são os que estão mais amadurecidos, mas há ampla oportunidade de crescimento. A estimativa é de que esse mercado cresça entre 9% e 11% ao ano até 2013. Algumas ações poderiam tornar o seguro auto mais acessível a uma parcela maior da frota, como: redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para veículos com idade superior a dez anos, modificações na lei que permitiria o uso de peças genéricas ou até mesmo usadas para a reparação dos veículos e, por último, uma fiscalização mais intensa focando o uso de álcool, responsável por uma parcela significativa dos acidentes envolvendo veículos. No seguro de vida, de um lado, falta consciência da população para a importância dessa segurança, ou mesmo para contratar capitais de proteção que estejam em sinergia com suas verdadeiras necessidades. No que se refere às classes C e D, as seguradoras devem buscar criar produtos que tenham como ponto principal a forma de cobrança mais barata, evitando 25 boletos bancários. Os seguros de vida e acidentes pessoais também podem crescer anualmente entre 9% e 11% até 2013. Já em previdência, o aumento do nível de conscientização, com educação eficiente, é que vai levar ao aumento do consumo. Nosso país tem carência de consumo de bens e serviços e a previdência ainda não é vista como uma prioridade nos orçamentos das pessoas. Também até 2013, pode crescer em média 10% ao ano. Ainda falta consciência da população sobre a proteção da residência e há muito espaço para desenvolvimento, uma vez que o ticket médio é bem menor do que as pessoas imaginam. A dotação de serviços agregados, como assistência 24 horas e soluções de conveniência, pode ampliar a receptividade por esse ramo de seguro. A previsão é que os seguros patrimoniais em geral cresçam, até 2013, em média 7% ao ano. “Os seguros são importantes instrumentos de tranquilidade e proteção dos sonhos e das conquistas da população, e devem ser disseminados da forma adequada para que os ganhos com o desenvolvimento econômico sejam protegidos agora, e no futuro.” 26 No Brasil, o seguro de transporte é obrigatório, porém, calcula-se que mais de 50% das transportadoras ou 50% das cargas transportadas no Brasil não tenham seguro, e isso ocorre basicamente por falta de fiscalização eficiente. O desenvolvimento econômico do País deve impulsionar uma ampla conscientização nesse segmento, além de maiores investimentos em infraestrutura. Acreditamos que esse cenário se reverta em uma maior profissionalização e mais exigência por parte do mercado. O crescimento anual até 2013 pode ficar entre 5% e 7%. Seguros para grandes riscos e de garantia têm grande potencial – com crescimento previsto entre 20% e 40% anualmente, entre 2012 e 2013 – devido à Copa do Mundo e à Olimpíada. Estes são seguros bem complexos, que contam com poucas seguradoras, mas que são especialistas. Do lado do segurado – que, em geral, são grandes empresas –, conta-se com bons gestores de risco e a assessoria de corretores de seguros competentes. O Brasil recentemente abriu o monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil Re), o que permitiu que várias resseguradoras internacionais oferecessem produtos adequados para o mercado nacional (leia mais a respeito desse tema em artigo nas páginas 46-49). O seguro rural pode crescer de 12% a 20% ao ano até 2013, visto que o Brasil tende a se fortalecer como um grande A revolução etária do Brasil O comparativo entre como era o perfil etário da população brasileira há três décadas, como é hoje e como ficará ao final da terceira década do século evidencia o tamanho da transformação social, o que impulsionará o consumo de bens e serviços. E também de produtos de seguros. Pirâmide etária no Brasil Idade Em 1980 80 ou mais 75 a 79 70 a 74 Mulheres Homens 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 Fonte: Research – Deloitte (a partir de dados do IBGE) competidor mundial na produção de alimentos e bioenergia. Porém, depende dos governos aumentarem os subsídios para a consolidação desse seguro. 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 0a4 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Milhões de pessoas Idade Em 2010 80 ou mais 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 0a4 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Milhões de pessoas Idade Em 2030 80 ou mais 75 a 79 70 a 74 65 a 69 60 a 64 55 a 59 50 a 54 45 a 49 40 a 44 35 a 39 30 a 34 25 a 29 20 a 24 15 a 19 10 a 14 5a9 0a4 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 Milhões de pessoas 2 3 4 5 6 7 8 9 A cultura do seguro Portanto, o bônus demográfico é fato, e pode proporcionar um período de grande prosperidade – consta que a reconstrução da Europa e do Japão no pós-Segunda Guerra Mundial foi auxiliada pela larga faixa de população economicamente ativa para amparar o crescimento. Entretanto, é preciso que as condições socioeconômicas e o trabalho das empresas sejam direcionados para potencializar esse momento. Penso que estamos no caminho certo. É importante que o Brasil continue se desenvolvendo e ampliando a renda. Do lado dos seguros, também é importante que as regras e resoluções permitam o desenvolvimento de produtos que atinjam públicos cada vez maiores, de diversos nichos e segmentos da população. Também precisamos disseminar a cultura do seguro, tanto nos principais centros urbanos como em regiões menos centrais. Os seguros são importantes instrumentos de tranquilidade e proteção dos sonhos e das conquistas da população, e devem ser disseminados da forma adequada para que os ganhos com o desenvolvimento econômico sejam protegidos agora, e no futuro. 27 O novo objeto de desejo A expansão do mercado de seguros reflete o aumento do poder de compra da população brasileira. Nela, estão pessoas que, depois de um primeiro momento de ascensão social, passaram a consumir novos bens e a criar o seu patrimônio. Agora, elas querem preservar suas conquistas e proteger suas famílias. O mercado brasileiro de seguros, previdência complementar aberta e capitalização vive um ótimo momento. Apenas no primeiro semestre de 2011, esses três segmentos, juntos – sem contar o seguro saúde –, faturaram mais de R$ 61 bilhões, 20% a mais do que nos seis primeiros meses de 2010. Para a sociedade, a boa notícia foi o crescimento de 19% da soma das indenizações de seguros. Até junho de 2011, as seguradoras destinaram a esse fim cerca de R$ 13,1 bilhões. Isso significa que, do começo do ano até o dia 30 de junho, o mercado devolveu para os segurados aproximadamente R$ 72,7 milhões por dia ou, ainda, R$ 3 milhões a cada hora. São recursos que garantem a sobrevivência das famílias no caso do óbito do segurado, 28 asseguram a continuidade dos negócios, protegem o investidor e impulsionam novos empreendimentos. Praticamente todas as carteiras mantiveram um ritmo acelerado de crescimento, mas é importante destacar os seguros de pessoas, que cresceram 24% no primeiro semestre, movimentando R$ 9,3 bilhões. Essa carteira espelha com exatidão um dos pilares do atual estágio de crescimento da economia brasileira, qual seja, a recuperação do poder de compra da população e, principalmente, a inserção no mercado de consumo das classes de menor renda. As pessoas, com dinheiro no bolso, viajam mais, o que se refletiu no comportamento do seguro turístico, ou de viagem, destaque no semestre, com crescimento de 42,3%. O cidadão comum, diante de um quadro econômico favorável, também Por Marco Antonio Rossi Presidente do Grupo Bradesco Seguros consome mais, investe em educação e contrata proteções para a família. Não por acaso, os seguros prestamista (que garante o pagamento das prestações em caso de morte ou desemprego do segurado), educacionais e de vida geraram receita de prêmios da ordem de R$ 9,3 bilhões no primeiro semestre, com um salto de 24% em comparação ao registrado nos seis primeiros meses de 2010. E, para atender a um contingente cada vez maior – e mais exigente – de consumidores, o mercado brasileiro conta com empresas sólidas e solventes. Prova disso está no site da Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia do Ministério da Fazenda responsável pela fiscalização e regulamentação desse mercado, que não lista, neste momento, nenhuma companhia de seguros, entidade de previdência aberta nem sociedade de capitalização sob o regime de direção fiscal ou mesmo sob intervenção. E, mesmo nos casos de empresas em liquidação extrajudicial ou ordinária e falência, constam apenas casos muito antigos, alguns instaurados há mais de duas ou três décadas. As empresas são sólidas e o modelo é bem estruturado. O desafio, agora, é tornar os seguros mais simples e a linguagem mais clara. É preciso que o cliente, de qualquer classe social, entenda o que está contratando e o que, eventualmente, o seguro não irá cobrir. Não é exagero afirmar que estamos diante de uma grande janela de oportunidade para tornarmos mais fácil o acesso aos seguros nos próximos anos. Temos bons produtos e o consumidor está predisposto a comprar. 29 A voz do consumidor As pesquisas demonstram que a caminhada é longa, mas as perspectivas são as melhores possíveis. Contudo, não é aconselhável seguir por atalhos e é importante ter cuidado especial com eventuais obstáculos. Por garantia, o melhor é ouvir o que tem a dizer o consumidor. “Não é exagero afirmar que estamos diante de uma grande janela de oportunidade para tornarmos mais fácil o acesso aos seguros nos próximos anos.” 30 O Grupo Bradesco Seguros, por exemplo, com frequência vai a campo para apurar o que a sociedade pensa e quais produtos são adequados para cada nicho de consumo. Nesses trabalhos, o Grupo descobriu que um seguro que atende às necessidades de comunidades carentes de São Paulo pode não servir para regiões mais pobres do Rio de Janeiro, apesar da proximidade geográfica desses dois grandes centros urbanos. Essa constatação pode ser útil no desenvolvimento de produtos da linha de microsseguros, cujas vendas, segundo a Susep, devem ter início em 2012, seguindo uma nova regulamentação, em fase final de análise (leia mais a respeito de “microsseguros” em artigo nas páginas 36-39). É um mercado que, para muitos analistas, pode atrair até 100 milhões de pessoas para a indústria do seguro – cidadãos que nunca na vida tiveram acesso a uma apólice. São consumidores que precisam ser tratados com distinção e cautela. Para a conquista desses novos segurados, é recomendável oferecer, primeiro, produtos mais simples, tais como os seguros residenciais e de vida, deixando para um segundo momento os produtos com maior sofisticação. Porém, em um patamar acima desse público-alvo do microsseguro, do ponto de vista da capacidade financeira, estão aqueles cidadãos que, nos últimos anos, conseguiram ascender socialmente, conquistaram um maior poder de compra e passaram a consumir, inclusive seguros. O estudo feito pela FGV apurou ainda que o brasileiro é o povo mais otimista com relação ao que lhe reserva o futuro. Em uma escala que varia de zero a dez para medir o que os pesquisadores classificaram de “felicidade futura”, a população brasileira surpreendeu ao dar nota 8,7 à expectativa de satisfação com a vida até 2014. Em outros 146 países pesquisados, a média foi de 6,5. Essa é a nova classe média, composta por cerca de 50 milhões de pessoas que, de acordo com levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiram um degrau na escala social, entre 2003 e 2011, e fizeram do Brasil o país do chamado “BRIC” (integrado também por Rússia, Índia e China) que melhor conciliou crescimento econômico e redução das desigualdades sociais (leia mais a respeito da “nova classe média” em artigo nas páginas 32-35). São pessoas que, no primeiro momento da sua ascensão social e financeira, correram para consumir bens e aumentar o seu patrimônio e que, a partir de agora, precisam assegurar a manutenção desse novo status quo e ainda proteger suas famílias de infortúnios. É um quadro extremamente favorável para quem almeja, como o mercado de seguros, estar ao lado desse otimista cidadão no momento em que ele for comprar, por exemplo, um carro ou a casa própria. Cria-se, assim, um processo que repercute no ânimo de toda a sociedade e, consequentemente, no desenvolvimento econômico e social do País. Dessa forma, o Brasil, habitado por um povo essencialmente otimista e que, além disso, se sente protegido, deixou de ser o país do futuro, para ser a nação do agora. Um país onde a pirâmide social virou um barril, com o achatamento dos extremos e o crescimento inexorável de uma forte classe média. 31 As novas necessidades da nova classe média Os brasileiros que passaram a ter maior acesso ao consumo nos últimos anos se transformaram em protagonistas da economia nacional e representam hoje o grande fator de impulso ao setor de seguros no País. D urante muitas décadas, empresários dos mais diversos setores usaram como argumento para os índices de crescimento medianos e, em muitos casos, baixos de seus mercados a falta de uma classe consumidora forte no Brasil. O empresariado ansiava por um grupo de pessoas que demandasse grandes volumes de produtos e serviços, que movimentasse a indústria nacional e reduzisse a dependência do Brasil em relação à exportação de commodities. No setor de seguros e previdência, a situação não era diferente. Acreditávamos que um dos motores que impulsionaria a expansão desse segmento seria o maior acesso à renda. O discurso de que o brasileiro não tinha a “cultura do seguro” era apenas em parte verdadeiro. Afinal, 32 como ter o hábito de fazer seguro se não há patrimônio a ser protegido, se não há padrão de vida a ser conservado? Por essa razão, os seguradores torciam pela chegada de um tempo em que o País finalmente formaria uma massa de pessoas propensas ao consumo. Pois bem, nos últimos anos, o desejo dos empresários e empreendedores brasileiros parece ter se tornado realidade. Entre os anos de 2003 e 2009, quase 30 milhões de pessoas entraram para a classe C, grupo que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tinha, no último ano desse período, uma renda familiar de até R$ 4.854,00. São pessoas que emergiram das classes D e E e que deixaram a miséria e a pobreza para trás ao conseguirem um emprego formal, ao obterem renda por meio de programas Por Patrick de Larragoiti Lucas Presidente do Conselho de Administração da SulAmérica Seguros e Previdência governamentais, ao disporem de crédito, ao terem acesso à educação. Esse fenômeno, que não aconteceu da noite para o dia, e é resultado de diversas políticas sociais e inúmeras iniciativas do setor privado, alterou drasticamente o desenho da sociedade brasileira. A chamada “classe média” ganhou corpo e forma e hoje representa mais da metade (50,5%) da população do País, em um total de 94,9 milhões de indivíduos. Os dados que cito são do estudo “A Nova Classe Média – O Lado Brilhante dos Pobres”, produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a partir de dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao ascender socialmente, esse contingente de milhões de brasileiros passou a consumir. E muito! Dados do Instituto Data Popular mostram que, em oito anos, entre 2002 e 2010, os gastos da classe C com produtos e serviços aumentaram 6,8 vezes, chegando a 41,3% dos gastos totais dos brasileiros e quase se igualando às despesas das classes A e B somadas. Ou seja, atualmente, as pessoas que pertencem à “nova classe média” nacional são as que mais consomem no País. Esses fatos tornaram a classe C a grande protagonista da economia nacional. O País se apoiou nessa nova demanda interna para passar praticamente incólume pela crise internacional de 2008. As grandes multinacionais passaram a depender muito mais dos resultados de suas subsidiárias brasileiras. E os investidores estrangeiros não hesitaram em depositar milhões no Brasil, contando com retornos vindos, em grande parte, dessa nova massa de consumidores. 33 A resposta do mercado segurador Assim como outros setores, o mercado de seguros não ignorou esse movimento social brasileiro. Temos como vantagem o fato de que a segurança é uma necessidade básica do ser humano. “O Brasil caminha para ter um setor de seguros com um maior número de participantes, maior variedade de perfis de consumidores, produtos mais diversificados e maior geração de receita.” 34 Teorias sobre a motivação e o comportamento dos indivíduos apontam que a necessidade de segurança, ou seja, a estabilidade ou a manutenção do que se tem, é a segunda em importância entre todas as demandas dos seres humanos, atrás apenas das necessidades fisiológicas. Essa necessidade vai desde a sensação de estar seguro dentro de casa até o sentimento de estar protegido por um plano de saúde, um seguro de automóvel ou mesmo um seguro de vida. Por essa ótica, a ascensão social da classe média brasileira configura-se como o grande impulso ao setor de seguros. Ao passar a adquirir bens aos quais antes não tinham acesso, os novos consumidores brasileiros passarão a ter a preocupação de protegê-los. Para se ter uma ideia, em 2008 foram licenciados 2,8 milhões de novos automóveis e, em 2014, o número deve girar em torno de 4 milhões. Adicionalmente, a estimativa de recursos para o crédito imobiliário em 2014 é Segurança, a nova necessidade básica do brasileiro Na clássica hierarquia de necessidades proposta pelo teórico Abraham Maslow, a busca por segurança apresenta-se logo na sequência das necessidades fisiológicas, as mais básicas do ser humano. É justamente a essa procura por segurança que a indústria de seguro no mundo todo busca responder, provendo às pessoas a sensação de estarem protegidas por um plano de saúde ou um seguro de vida ou patrimonial. A nova classe média brasileira, ao ter acesso a bens que não possuía, passa a ter agora também a preocupação de protegê-los. Hierarquia das necessidades de Maslow De autorrealização Desenvolvimento pessoal, conquistas De estima Autoestima, reconhecimento, status Sociais Relacionamento, senso de pertencimento a um grupo De segurança Proteção, abrigo, defesa, emprego Fisiológicas Fome, sede, sono etc de R$ 500 bilhões. São milhares de bens de alto custo de aquisição, automóveis e residências que demandarão seguros para garantir a preservação desses patrimônios. Isso sem falar em bens de menor valor, mas igualmente representativos na vida das famílias brasileiras, como eletrodomésticos. Vale destacar também as inúmeras oportunidades oriundas de um novo mercado que se abre, o de microsseguros, voltado aos segmentos de baixa renda, com produtos desenvolvidos para proteger pessoas das camadas sociais mais humildes contra riscos como morte, acidentes pessoais, doenças e desastres, entre outros (leia mais a respeito desse tema em artigo nas páginas 36-39). Diante dessas portas que se abriram com as mudanças sociais ocorridas no Brasil, o setor de seguros tem se movimentado para criar novos produtos e coberturas adequadas a esse novo perfil de consumidor. Projetos-piloto de empresas ou das instituições que representam o setor ocorrem em diversas cidades do País. O Brasil caminha para, nos próximos anos, ter um setor de seguros com um maior número de participantes, maior variedade de perfis de consumidores, produtos mais diversificados e maior geração de receita. E o que começou com uma alteração na estrutura social do Brasil será, certamente, muito positivo para todos. 35 Muito além de um “seguro barato” A ascensão de novos consumidores propiciou o desenvolvimento de produtos como o microsseguro no Brasil, mas, para ser bem-sucedido em mercados como este, é preciso mergulhar fundo no universo social dos potenciais compradores e criar soluções de alta qualidade. D esde o lançamento do Plano Real, cerca de 45 milhões de brasileiros foram inseridos no mercado de consumo. No período entre 2002 e 2010, a população brasileira cresceu 10%, enquanto a classe média ampliou-se em mais de 30%. Como reflexo da ascensão social, reduzem-se as taxas de mortalidade, ampliando a população de idosos. Ao mesmo tempo, diminui a taxa de fecundidade. O resultado acumulado é um “bônus demográfico”, quando a maior concentração da população está na faixa considerada economicamente ativa, entre 15 e 64 anos. Essa condição apresenta-se como propícia ao desenvolvimento econômico, à melhoria da qualidade de vida e ao crescimento do consumo de bens e serviços. 36 O volume de arrecadação de seguros no Brasil ficou acima de R$ 112 bilhões em 2010, com reservas da ordem de R$ 178 bilhões. Nesse período, a relação entre seguros e o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro chegou a 3,1% e a tendência para os próximos anos é que essa proporção cresça. É importante ressaltar que o índice de penetração seguros/PIB no Brasil é menor do que em outros países, como Índia (5,1%), Chile (4%), China (3,8%) e Venezuela (3,5%), fato que mostra o amplo espaço existente para crescimento no setor. Não obstante a crise internacional, as perspectivas para a economia brasileira continuam positivas. Para o período entre 2011 e 2014, é esperado um crescimento de 15% a 20% em prêmios de seguro. Os seguros residenciais e habitacionais se ampliarão movidos pela expansão do setor Por Paulo Rogério Caffarelli Vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do Banco do Brasil imobiliário, cujo crédito alcançou a cifra de R$ 100 bilhões em 2010, com expectativas de que cheguem a R$ 500 bilhões em 2014. Na parcela da população classificada como de baixa renda – que ganha até dois salários mínimos per capita –, 50% já possuem ou estão pagando sua casa própria e são clientes potenciais para os dois seguros citados. Já os seguros de vida e de acidentes pessoais e o seguro prestamista têm projeção de crescimento da ordem de 60% para os próximos quatro anos. Um conceito a ser compreendido A mudança no painel demográfico do Brasil trouxe a demanda pelo desenvolvimento do microsseguro, considerado parte da Política de Microfinanças do Governo Brasileiro e um valioso instrumento de redução da vulnerabilidade a que estão expostas as populações economicamente menos favorecidas. Teoricamente, o microsseguro é definido como “a proteção financeira fornecida por provedores autorizados para a população de baixa renda contra riscos específicos, em troca de pagamentos de prêmios proporcionais às probabilidades e aos custos dos riscos envolvidos, em conformidade com a legislação e os princípios de seguro globalmente aceitos”. Uma simplificação grosseira leva alguns a considerarem que o microsseguro é o seguro barato e ponto final. Contudo, a questão é mais complexa, já que se trata de um público com características econômicas e socioculturais específicas, que resultam em necessidades e expectativas diversificadas. Formatar uma solução de proteção (e assegurar sua venda) para esse segmento requer, assim, um mergulho no universo social dos novos consumidores. 37 Quem são e o que pensam os • novos consumidores Os novos consumidores têm famílias numerosas, com domicílio predominantemente urbano. Possuem, em média, poucos anos de estudo e altas taxas de analfabetismo funcional. A família é o centro da vida e a fonte de apoio. A convivência familiar e a estabilidade financeira estão entre seus valores básicos, e a casa própria, o automóvel e as viagens são os objetos de desejo maior. O acesso aos bens e serviços financeiros – entre os quais, estão incluídos os seguros – é visto como conquista de cidadania, sobretudo, quando possuem crédito em seu nome (“nome limpo”). Ainda assim, olham os bancos com desconfiança e sentem-se mais próximos das redes de varejo. A proteção à família e aos bens adquiridos é bem vista, mas sentem necessidade da evidência de uma vantagem imediata para fazerem um investimento em seguros. “(...) os agentes reguladores também têm a sua tarefa: regulamentar o mercado de microsseguros, definindo critérios e atualizando marcos regulatórios para a sustentação do pleno desenvolvimento desse mercado promissor.” 38 Seguros em sintonia O desenvolvimento do mercado de microsseguros pressupõe a formatação de soluções de alta qualidade, que combinem preço acessível, viabilidade econômica com redução de custos e simplificação de processos de regulação de sinistro sem comprometer as seguradoras. Algumas soluções e diferenciais que merecem destaque são: seguro de vida e acidentes pessoais; inclusão de sorteios entre os segurados; ênfase no auxílio-funeral como assistência; seguros de proteção financeira; pacote de assistências voltadas à família, lazer, reparos residenciais e veiculares, além de descontos em medicamentos; e seguros residenciais e habitacionais para fazer frente à expansão do mercado imobiliário. Quanto ao desenvolvimento de soluções que contemplem as necessidades desses novos consumidores, o momento exige, ainda, que a precificação se dê com base em fórmulas de cálculo que considerem os diferenciais do microsseguro, combinando preço acessível e massificação das vendas. Outro desafio diz respeito ao aperfeiçoamento e à ampliação dos canais de distribuição. No caso do sistema financeiro, a adoção dos correspondentes bancários ampliou significativamente os pontos de vendas e aproximou a oferta dos locais de vida e trabalho do consumidor. Mas é preciso diversificar os canais: lojas, empresas concessionárias e provedoras de serviços públicos e redes varejistas são outras alternativas. Da mesma forma, a comunicação deve ser inovadora. A linguagem a adotar, com tom menos formal e fugindo do complicado “segurês”, deverá fortalecer a credibilidade da marca, desmistificar o produto e apresentá-lo de forma clara e transparente, deixando ao cliente o direito de decidir entre prós e contras. Igual simplificação se impõe aos processos internos e mecanismos de venda, com a adoção de dispositivos automáticos de venda, regulação descomplicada do sinistro – sem que isso implique maior risco para as seguradoras – e capacitação de equipes, sempre com foco na eficiência. Para alcançar tal aprimoramento, os agentes reguladores também têm a sua tarefa: regulamentar o mercado de microsseguros, definindo critérios e atualizando marcos regulatórios para a sustentação do pleno desenvolvimento desse mercado promissor. 39 A próxima etapa evolutiva Depois dos avanços sociais e do aumento da demanda, a indústria de seguros no Brasil já começa a entrar em uma nova etapa, com a ênfase do consumidor por seguros de vida, previdência e saúde. Evolução própria de um mercado em crescimento e com maior penetração dos produtos. O Brasil é hoje um mercado observado e cortejado por governos, empresas e investidores de todo o mundo. Os importantes avanços nas áreas social, econômica, política e financeira garantiram um ambiente estável de negócios e de geração de riqueza – o que, associado ao tamanho do País, tornou o Brasil rota obrigatória no fluxo de investimentos internacional. O sétimo maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, com aproximadamente US$ 2,3 trilhões, tem espaço nobre nas decisões sobre presente e futuro. Quando olhamos mais especificamente para o mercado interno, notamos que a demanda é muito robusta, puxada principalmente pelo crescimento da classe média, que representa hoje aproximadamente um potencial de 40 consumo de US$ 700 bilhões, ou seja, mais do que o PIB da Suíça ou mais do que o PIB da Argentina e do Chile juntos. Continuam existindo, no entanto, grandes necessidades de consumo reprimidas, principalmente nas classes sociais com renda menor. É nesse público que o potencial de vendas do setor de seguros será, nos próximos anos, o maior. Por isso, torna-se hoje um desafio estratégico entender o perfil desse consumidor e ficar cada vez mais próximo desse potencial futuro cliente. A população das classes C, D e E tem um perfil de consumo relativamente diferente e diversificado. Enquanto a classe E vive um momento de recuperação de um longo período de consumo reprimido, mais concentrada no ciclo de compra de bens de primeira necessidade, como alimentação, Por Jérôme Garnier Diretor financeiro da Caixa Seguros vestuário ou até bens eletrodomésticos, as classes C e D apresentam já uma cesta de compra mais sofisticada. As classes C e D, consideradas em geral como a classe média, já pensam ou investem, por exemplo, em produtos mais caros, como computadores, carros e imóveis. Grande parte da classe E de hoje tende a evoluir e crescer amanhã para as classes D e C, entrando, assim, na classe média. Diante disso, essas classes criam um potencial de mercado importantíssimo para os diferentes nichos e segmentos de mercado, tanto na indústria como para os serviços. No caso da indústria de seguros, a realidade não é diferente. O potencial é tão grande que tem uma regulamentação própria em estudo, a de microsseguros (leia mais a respeito de “microsseguros” em artigo nas páginas 36-39). Esse projeto deverá, assim, criar, em um futuro relativamente próximo, a exemplo do que já é observado em outros países emergentes, um novo segmento de seguros mais populares, com prêmio baixo e volumes de venda importantes. O objetivo aqui é dar acesso às classes com renda menor (C, D e E) aos diferentes produtos de seguros, no sentido de garantir tranquilidade no presente e segurança no futuro. A cultura de busca de proteção pelo brasileiro nas coberturas dos produtos de seguros está começando a emergir no Brasil e cada vez mais brasileiros adquirem produtos de seguros. A criatividade das empresas do setor de seguros, observada nos últimos anos em termos de lançamento de produtos, tem ajudado muito, mas o grande passo, o principal, está sendo feito pelo brasileiro, cada vez mais interessado em buscar e adquirir o produto. 41 Proteção à vida Enquanto alguns anos atrás era priorizada a proteção de um bem, como o automóvel, por exemplo, hoje se dá mais ênfase à proteção da vida ou ao planejamento financeiro. Essa evolução é típica de um mercado de seguros em crescimento e com avanço da penetração. Assim, costuma-se observar que, nos países menos desenvolvidos, o segmento de seguros não-vida, geralmente auto, tem o maior peso. Nos países onde a indústria de seguros está mais desenvolvida e mais avançada, os seguros de vida e previdência ganham uma importância mais relevante. Espera-se, dessa forma, que, com o crescimento da atividade e da classe média nos próximos anos, o mercado de seguros no Brasil deverá ser caracterizado por um forte crescimento no segmento de seguros de vida e previdência, mas também em saúde, pois o padrão de saúde pública mostra os seus limites. “É importante que se entenda o papel da indústria de seguros, que não diz respeito apenas a uma pessoa ou família ou mesmo empresa, mas a toda a sociedade.” 42 A Caixa Seguros, seguradora da Caixa, está bem posicionada para atender a esse novo mercado consumidor. De fato, a Caixa Econômica Federal, hoje o segundo maior banco público da América Latina, é considerada o banco do povo brasileiro. Está entre os poucos bancos que têm presença em todos os municípios do Brasil. Além disso, a sua rede bancária é complementada pela rede de agências lotéricas e correspondentes bancários presentes também em todo o País. No total, são mais de 60 mil pontos de atendimento para atender a toda a diversidade das classes brasileiras. Com isso, a sua presença e o seu relacionamento no dia a dia com o brasileiro são muito intensos. Para a Caixa Seguros, isso traduz importantes nichos de mercado. Com aproximadamente 9 milhões de clientes, a seguradora apresenta um potencial de penetração de produtos de seguros muito grande, certamente um dos maiores do mercado brasileiro nos próximos anos, considerando os 54 milhões de clientes da Caixa, a diversificação da sua carteira, a sua experiência em termos de produtos e, principalmente, a confiança do povo brasileiro na marca Caixa. É importante lembrar que a Caixa Seguros foi a primeira empresa a lançar no mercado brasileiro, em 1995, produtos de seguros populares de venda massificada, como os seguros Caixa Fácil Acidentes Pessoais e Caixa Fácil Residencial. Hoje, o Grupo tem diversos “Nos países onde a indústria de seguros está mais desenvolvida e mais avançada, os seguros de vida e previdência ganham uma importância mais relevante.” produtos populares à disposição do brasileiro, como, por exemplo, o seguro de vida “Vida da Gente” na rede Caixa, o seguro Amparo e o título de capitalização “Super X Cap” na rede lotérica. A Caixa Seguros tem, de fato, vocação para se tornar uma das maiores seguradoras desse segmento. É importante que se entenda o papel da indústria de seguros, que não diz respeito apenas a uma pessoa ou família ou mesmo empresa, mas a toda a sociedade. Quando os elos da cadeia econômica e social estão protegidos, garante-se uma corrente forte, que funciona sem sustos ou falhas em sua estrutura. 43 44 Capítulo 3 Horizonte sem fim De portas abertas para o investimento A segurança das seguradoras O cenário econômico e os empreendimentos em infraestrutura e grandes eventos impulsionam o setor de resseguros no Brasil, cuja atual legislação contribui para o vigor do mercado nacional, protegendo as seguradoras diante de instabilidades financeiras do exterior. O Brasil apresenta um cenário econômico bastante promissor, a despeito dos inúmeros desafios colocados pela crise financeira internacional. Inflação sob controle, um nível adequado de reservas e uma trajetória favorável da relação entre dívida e Produto Interno Bruto (PIB) são algumas das condições macroeconômicas que permitem antever a continuidade do ciclo de crescimento econômico, da distribuição de renda e da redução das desigualdades regionais. Em função desse contexto, os setores público e privado brasileiros retomaram suas capacidades de investir em infraestrutura – notadamente em energia, transporte e saneamento – e de realizar megaeventos esportivos, como a Copa do Mundo de futebol, em 2014, e os 46 Jogos Olímpicos, em 2016. Sem falar nos investimentos necessários para a exploração do petróleo do pré-sal, que, por sua magnitude, constituem um capítulo à parte. A concretização de todas essas conquistas da sociedade brasileira exigirá – além de muito planejamento, determinação e trabalho – uma ampla oferta de seguros bem estruturados e a preços razoáveis. As seguradoras, por sua vez, em razão da grande capacidade técnica e financeira necessária para dar cobertura a tais empreendimentos, têm buscado proteção para suas carteiras por meio de resseguro. Felizmente, a indústria de resseguros encontra-se preparada para isso. Depois de 70 anos de monopólio, o mercado Por Leonardo André Paixão Presidente do IRB-Brasil Re brasileiro de resseguros foi aberto à entrada de competidores nacionais e estrangeiros. Atualmente, são cerca de 100 cadastrados no órgão regulador de seguros do Brasil. Sobram capacidade, conhecimento e vontade de fazer parte deste momento positivo do País. Mais importante até do que a simples abertura do mercado foi o fato de a legislação de 2007 ter assegurado a permanência de um mercado nacional de resseguros pujante e apto a oferecer proteção ressecuritária para as seguradoras que operam no Brasil. Esse aspecto é fundamental, pois uma crise internacional pode retirar subitamente a liquidez e o apetite por risco dos resseguradores globais, como ocorreu no final de 2007 e no início de 2008, e, nesse cenário adverso, a preservação de um mercado local forte garante não apenas que empregos, expertise e tributos permaneçam no Brasil, mas também que haja capacidade financeira a fim de contribuir para o desenvolvimento do País. O Instituto de Resseguros do Brasil (IRBBrasil Re), na qualidade de ressegurador estatal, ex-monopolista e atual líder do mercado aberto, também tem feito sua parte, viabilizando soluções de resseguro, como a cobertura da construção da usina de Angra III, por exemplo, o maior negócio do mercado brasileiro em 2011. Para atender cada vez melhor a seus clientes no Brasil e no exterior, a empresa passa por uma grande transformação, caracterizada pela revisão de todas as suas políticas e diretrizes de aceitação e gerenciamento de riscos, pela atualização de todos os seus processos de trabalho e pela completa modernização de seus sistemas de tecnologia da informação. 47 “Mais importante até do que a simples abertura do mercado foi o fato de a legislação de 2007 ter assegurado a permanência de um mercado nacional de resseguros pujante e apto a oferecer proteção ressecuritária para as seguradoras que operam no Brasil.” 48 A atuação do IRB-Brasil Re, a criação de resseguradores de capital brasileiro e a vinda para o País de dezenas de resseguradores globais demonstram o sucesso das novas regras, que disciplinam o resseguro no Brasil e reafirmam a confiança dos agentes privados e do governo brasileiro em um futuro pleno de oportunidades – não apenas para resseguradores, mas para todos aqueles que, direta ou indiretamente, fazem parte do processo de aprimoramento da nossa infraestrutura e, em um sentido mais amplo, da construção de um país economicamente mais forte e socialmente mais justo e solidário. “A atuação do IRB-Brasil Re, a criação de resseguradores de capital brasileiro e a vinda para o País de dezenas de resseguradores globais demonstram o sucesso das novas regras, que disciplinam o resseguro no Brasil e reafirmam a confiança dos agentes privados e do governo brasileiro em um futuro pleno de oportunidades.” Maior competição Após a abertura do mercado nacional de resseguros para a entrada de competidores nacionais e internacionais, em 2007, ampliou-se significativamente o número de resseguradoras atuando no Brasil. Evolução do número de resseguradoras 2008 38 2009 67 2010 82 94 *2011 Fonte: Research – Deloitte (com base em dados da Susep) * Dados de outubro de 2011 Nota: duas resseguradoras não haviam informado a data de cadastramento/autorização 49 O ciclo virtuoso do patrimônio As transformações ocorridas na economia e no ambiente de negócios, com um novo ciclo de investimentos, a chegada de empresas estrangeiras e a abertura do mercado de resseguros, oferecem hoje as bases para a expansão firme do seguro de patrimônio. O mercado segurador brasileiro está hoje apoiado em pilares que podem sustentar um crescimento pujante do seguro patrimonial. Vivemos uma conjunção perfeita para que o crescimento econômico brasileiro possa refletir e reforçar a aceleração da penetração desse tipo de seguro no País. A começar pelo arcabouço estrutural do mercado, que passou por uma grande transformação em 2008, com a abertura do mercado de resseguros – criando um ambiente de maior competitividade e liberdade –, até as consequências da “nova descoberta do Brasil”, com um novo ciclo de investimentos e a chegada de empresas estrangeiras. O mercado segurador necessita de recursos financeiros, disposição para tomar riscos e 50 criatividade como base para sua operação. E a abertura trouxe uma nova injeção de ânimo no mercado. Por outro lado, o crescimento econômico brasileiro nestes últimos oito anos caracterizou-se por uma combinação muito interessante, que contribuiu para um vigoroso crescimento no mercado de seguros patrimoniais. Em primeiro lugar, a distribuição de renda permitiu às classes B, C e D adquirir bens e imóveis, que necessitam de seguros para proteção ao próprio patrimônio e a fim de atender à demanda exigida pelos fornecedores de crédito, que precisam desse instrumento como forma de mitigar sua exposição nessas operações. Esse tipo de seguro, mais conhecido como “massificado”, oferece às seguradoras do mercado um componente vital em suas operações, pois é o chamado “colchão” Por Marcelo Homburger Vice-presidente de Recursos Técnicos da Aon Risk Solutions que permite uma diluição maior de seus riscos, tão necessária para a operação dessas empresas. Por outro lado, e tão importante quanto a característica anterior, os constantes investimentos no parque industrial brasileiro, seja por empresas nacionais ou estrangeiras, representam um importante pilar para a indústria de seguros, pois o crescimento da atividade exige respostas e soluções por parte desse mercado diante da complexidade dos riscos inerentes. Com esse aquecimento e a necessidade de oferecer soluções para os mais diversos tipos de produtos – que vão desde um programa simples e padronizado para atender, por exemplo, ao seguro de imóveis financiados até a estrutura complexa de múltiplas coberturas para unidades industriais –, o mercado segurador brasileiro passa por uma transformação sem precedentes. Inúmeras empresas estrangeiras estão abrindo operações ou reforçando as estruturas existentes, fundos de investimento estão criando seguradoras e resseguradoras, e a intermediação de seguros está se transformando em uma atividade mais consultiva e criativa. Como consequência, a visibilidade desse mercado é muito mais intensa, passando a ser uma opção mais interessante para empresários, empreendedores e, principalmente, jovens que buscam oportunidades de carreira. Enquanto o País mantiver o equilíbrio econômico, inflação sob controle e sustentar a distribuição da renda, fomentando o crescimento do comércio e de sua indústria, as forças conspirarão a favor do mercado de seguros brasileiro. 51 Mais proteção aos exportadores Com a globalização intensa do comércio mundial, o seguro de crédito à exportação tende a ganhar cada vez mais importância nas relações de empresas brasileiras com o mercado externo, ajudando-as a se protegerem de riscos potenciais. O seguro de crédito à exportação é uma importante ferramenta, tanto por ajudar a criar novos mercados, quanto também por possibilitar negócios com compradores que, até então, estavam fora do alcance dos exportadores. Ele delineia um espaço que facilita avaliar e assumir riscos, ou melhor, permite a escolha entre riscos favoráveis e desfavoráveis, criando, assim, um potencial de crescimento – não apenas para exportadores, mas para a economia como um todo. O crescimento do Brasil depende em grande medida do desenvolvimento do comércio internacional. O País necessita exportar e importar produtos, sejam commodities primárias, serviços ou bens manufaturados. No entanto, é necessário haver crédito para a produção, 52 a distribuição e o consumo de bens. O exportador está exposto ao risco de não pagamento durante o período de crédito e o seguro é parte integrante do processo de financiamento das exportações. A fim de dar continuidade aos negócios, as empresas podem ser forçadas a concederem crédito para suas exportações. Os exportadores, protegendo-se dos riscos envolvidos, podem oferecer linhas de crédito com segurança, aumentando os seus volumes de vendas e, com isso, gerando uma vantagem competitiva, pois se colocam em uma posição de poder conceder crédito ao comprador. As incertezas no mercado internacional implicam riscos adicionais e custos comerciais mais elevados do que aqueles existentes no mercado interno. O seguro de crédito, por sua vez, garante a continuidade Por Valmir Forni Diretor administrativo financeiro da CESCEBRASIL Seguros da indústria contra fatores externos e, com isso, atua como um instrumento para facilitar os negócios internacionais. Estima-se que aproximadamente 5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro está coberto por seguro de crédito, enquanto em países em que a cultura desse tipo de seguro é mais desenvolvida esse percentual atinge cerca de 60% do PIB. Vale mencionar que, em países como França e Alemanha, seus respectivos governos utilizam-se do seguro como um dos seus principais instrumentos de desenvolvimento econômico. Os princípios desse tipo de seguro O seguro cobre a incapacidade, não a recusa de efetuar um pagamento. O exportador poderá apresentar a ocorrência de um sinistro no caso de insolvência ou atraso de pagamento, ou seja, imediatamente após ficar evidente que o comprador é insolvente (com falência declarada) ou que o pagamento não foi recebido (a menos que haja litígio) depois do período de carência previsto na apólice. Os exportadores obtêm, por meio do seguro, uma apólice para o turnover ou o movimento global de curto prazo com a cobertura de riscos comerciais ou políticos. Além disso, o caráter turnover da apólice é compulsório, obrigando o exportador a segurar todo o movimento ou partes objetivamente especificadas dele, a fim de obter uma dispersão razoável do risco. Com isso, o exportador solicita um limite de crédito referente a cada um de seus compradores. É emitido um limite renovável de crédito como um anexo da apólice depois que o risco do comprador e do país tiver sido avaliado. 53 Usualmente, as apólices têm uma duração-padrão de 12 meses, a partir da data de sua emissão, cobrindo, no máximo, 90% do valor da fatura de remessa. A apólice oferece a cobertura pós-embarque e uma prática que vem aumentando gradativamente no mercado é de o endosso da apólice poder ser utilizado como garantia de financiamentos, bem como garantia das operações de antecipação de recebíveis. A apólice em si é somente uma estrutura sobre a qual a cobertura real deve ser implantada. Ela começa quando são concedidos os limites de crédito para os compradores individuais com os respectivos países incluídos na apólice. As principais características Em resumo, podem ser feitas as seguintes distinções entre os tipos de seguro de crédito: ••Créditos de curto, médio e longo prazos – Consideram-se créditos de curto prazo aqueles de até um ano. E os produtos de médio e longo prazos, como bens de capital e obras em construção, não são comumente considerados negociáveis no mercado privado de resseguro. Dessa forma, o prazo mais comum das operações é de, no máximo, um ano; ••Seguros de transações específicas – Um dos importantes princípios é que o seguro seja oferecido para a cobertura da movimentação total 54 das transações, lançando mão de todos os esforços para evitar a antisseleção dos riscos; ••Riscos comerciais e políticos – Os comerciais são os relacionados com o comprador e a sua capacidade de pagamento. Riscos políticos estão relacionados com eventos ou situações que podem surgir no país do comprador, impedindo o pagamento ou a transferência de pagamento para o país do exportador; ••Riscos pré-embarque e pós-embarque – O exportador pode ter riscos financeiros referentes ao comprador ou ao país do comprador antes mesmo que as mercadorias sejam despachadas. Esses riscos surgem quando as mercadorias são produzidas especialmente para um determinado comprador (pré-embarque). Após a remessa do exportador, ele aguarda o pagamento de suas faturas (risco pós-embarque). Gestão da apólice A manutenção administrativa diária por parte da seguradora e do segurado é essencial para uma adequada cobertura da operação, pois os limites de crédito concedidos são estabelecidos com base no volume de vendas de cada comprador. O turnover tem de ser declarado e os pagamentos vencidos devem ser notificados. Portanto, há uma gestão integrada de riscos entre a seguradora e a atividade comercial do segurado. O seguro de crédito afeta diretamente os negócios do cliente e da empresa exportadora, sendo parte dos seus procedimentos comerciais. É essencial que tanto os corretores envolvidos quanto a seguradora busquem uma ação integrada. melhor a cobrança e, dependendo das particularidades de cada situação, poderá realizá-la diretamente do devedor ou repassar o processo para um profissional externo. Informações a respeito dos devedores e procedimentos de subscrição adequados deveriam garantir que somente fossem cobertos os riscos considerados normais, mas não é isso o que acontece na realidade. Alguns desses riscos podem se deteriorar, resultando em reclamações de sinistros. A cobrança de importâncias não pagas pelos compradores é algo que a maioria dos exportadores deixa a cargo da seguradora. Além do mais, a seguradora envolvida com a cobrança de valores segurados pendentes tem a oportunidade de minimizar as perdas, desde que a cobrança seja feita profissionalmente. Ela está apta a gerir Concorrência e competitividade Dentro do atual cenário, o seguro de crédito enfrenta certa competição com alguns produtos bancários, mas a situação dominante é a chamada “retenção própria” ou, simplesmente, a decisão da empresa em não fazer seguro para si mesma. A experiência mostra que, na medida em que os exportadores conhecem seus clientes ao longo de muitos anos e os entendem como “bons e sólidos”, consideram que não há necessidade de seguro de crédito. Essa atitude é frequentemente encontrada no dia a dia do processo de vendas e, tecnicamente, a exportadora incluirá determinadas reservas em seus balanços para compensar possíveis perdas de dívidas duvidosas. “O exportador está exposto ao risco de não pagamento durante o período de crédito e o seguro é parte integrante do processo de financiamento das exportações.” Finalizando, a concorrência é intensa e exige-se que as seguradoras auxiliem seus segurados em seus esforços competitivos, oferecendo uma rápida resposta aos seus anseios e às suas necessidades. À medida que o ambiente internacional tem colocado maior ênfase na velocidade das operações, combinada com precisão, as seguradoras de crédito no Brasil vêm demonstrando a sua capacidade em atender e suprir essas demandas nos mesmos níveis do praticado pelo mercado global. 55 56 Capítulo 4 Pela saúde do brasileiro Alternativas para a indústria da vida Oportunidades para crescer e incluir De preço acessível e alto valor percebido, os planos e seguros odontológicos têm tudo para manter sua rápida expansão, até como fator de inclusão social. Mas o setor tem agora o desafio de desenvolver produtos alternativos, repensar a distribuição e sofisticar a gestão e o controle. M uito tem sido falado a respeito do momento histórico que o País atravessa. Termos como “bônus demográfico”, “classe média emergente” e “fortalecimento do mercado interno” foram incorporados aos discursos e planejamentos estratégicos de inúmeras organizações públicas e privadas. As questões que surgem são quais são as reais ambições desse novo universo de consumidores e qual a melhor forma de atendê-las. Não é difícil concluir que a maioria das empresas navega em mares nunca antes navegados, igualmente repletos de riscos e oportunidades, mas para os quais poucas estão realmente preparadas. É sabido que, nos últimos anos, milhões de brasileiros ingressaram em padrões mínimos de consumo. Não se trata apenas 58 de redistribuição, mas de geração efetiva de riqueza, com a massa salarial real crescendo 15% nos 24 meses encerrados em julho de 2011, atingindo R$ 35 bilhões. No mesmo período, enquanto o salário real médio subiu 9%, o desemprego caiu para meros 6%. Manter essa tendência de forma sustentável é o grande desafio do País para as próximas décadas. Esse novo público, em tamanho equivalente ao de alguns países europeus, traz oportunidades e desafios ao setor de seguros. Não se discorda muito sobre o fato de que essas pessoas demandarão, de forma crescente, produtos de seguro adequados ao seu perfil e que lhes proporcionem proteção e serviços com os quais não contavam no passado. Espera-se, portanto, que a participação dos prêmios no Produto Interno Bruto (PIB) seja crescente. Por Randal Zanetti Presidente da OdontoPrev Entretanto, nos parece que alguns segmentos devem se beneficiar antes que outros. Em primeiro lugar, por apresentarem preços mais compatíveis com o novo patamar de renda conquistado. Ou seja, por caberem melhor no bolso das pessoas. Em segundo lugar, por facilitarem o acesso a serviços que, de outra forma, seriam menos acessíveis. Em resumo: preço acessível e alto valor percebido. Os planos e seguros odontológicos nos parecem se enquadrar muito bem nesses dois aspectos. De fato, por um prêmio mensal que é uma fração de outros produtos de seguro, o beneficiário passa a contar com um serviço que, segundo diversas pesquisas, é uma das suas prioridades de consumo, com forte apelo não só pelo aspecto de saúde, mas também pelo de bem-estar e autoestima. Longo caminho pela frente Trata-se ainda de um segmento em seus estágios iniciais. Os planos odontológicos atingem hoje apenas 16 milhões de brasileiros, 8% da população, ou cerca de um terço dos já segurados por planos e seguros médicos. Mas o ritmo de crescimento de beneficiários, com média anual de 18% nos últimos 10 anos, assim como o interesse crescente de importantes operadoras e seguradoras, sugerem bem o potencial do segmento. No entanto, historicamente, o foco das cerca de 400 empresas participantes do setor sempre foi corporativo – o empregador, preferencialmente grande e sofisticado, que concede o plano como um benefício aos seus colaboradores e dependentes. Quando muito, planos individuais (pouco mais de 16% do total) e para pequenas empresas são oferecidos 59 pelos mesmos canais de distribuição de produtos de alto valor agregado, como planos médicos, a pessoas com renda compatível. Ou seja, de uma forma geral, o mercado ainda não tem a experiência necessária para explorar essa nova oportunidade. “A oportunidade de atingir a nova classe média brasileira é histórica e não deve ser desperdiçada.” 60 Ainda são pouco conhecidos, por exemplo, os efeitos da maior complexidade para o controle e a gestão da assistência à saúde inerentes a esse público. Assim como, em geral, não se dispõe dos imprescindíveis meios de distribuição apropriados e de baixo custo. Aliados a um ambiente regulatório desafiador, esses fatos compõem um cenário complexo. Para que haja sucesso nesse novo mercado, o setor de planos e seguros odontológicos precisará se adaptar. Novos produtos precisarão ser desenvolvidos. Repensar os canais de distribuição existentes e explorar alternativas, assim como sofisticar as ferramentas de gestão e controle, serão inclusão social. Em um país que conta com cirurgiões-dentistas competentes em quantidade sem equivalente no mundo, não é razoável que grandes segmentos da população tenham acesso muito limitado a esses serviços. Os desafios que se apresentam são o correto entendimento, planejamento e posicionamento estratégico para esse novo horizonte do setor. cada vez mais importantes. As crescentes demandas regulatórias exigirão redes assistenciais mais robustas, confiáveis e capilares. A oportunidade de atingir a nova classe média brasileira é histórica e não deve ser desperdiçada. Permitir o acesso à odontologia de qualidade a cada vez mais pessoas é um importante fator de Crescimento muito acima da média do setor No intervalo de apenas uma década, a parcela de beneficiários de seguros odontológicos saltou no Brasil de um décimo para um terço do total de pessoas assistidas pelo planos de saúde. Evolução do número de beneficiários de planos privados de saúde (em milhões de pessoas) 30,7 31,1 31,1 31,8 33,7 2,8 3,2 3,8 4,4 5,5 2000 2001 2002 2003 2004 Assistência médica com ou sem odontologia 35,0 36,8 6,1 7,3 2005 2006 38,6 8,8 2007 40,5 10,3 2008 45,6 46,6 14,5 15,7 41,9 12,6 2009 2010 2011* Assistência médica exclusivamente odontológica Fonte: Research – Deloitte (com base em dados do SIB/ANS/MS) * Dados de junho de 2011 61 Os desafios da cadeia da saúde O mercado segurador de saúde no Brasil cresce, mas enfrenta problemas que refletem a própria dinâmica do setor – das discussões legais sobre reajuste de preços e alcance das coberturas aos custos crescentes. A solução passa pela busca da sustentabilidade da saúde suplementar e do alinhamento entre todos os agentes dessa cadeia. U m dos ramos mais importantes do mercado segurador brasileiro é o de saúde. Surgido, sobretudo, como uma opção à queda de qualidade no atendimento médico público, ele foi se desenvolvendo ao longo do tempo. Recentemente, porém, sucessivas discussões legais, envolvendo desde reajustes de preços até o real alcance das coberturas, têm causado preocupação, tanto para o consumidor, como para as empresas. Esse setor também vem sofrendo várias mudanças, principalmente em relação à sua estrutura organizacional e de atuação. Entre os principais protagonistas desse ambiente estão os prestadores de assitência à saúde e as operadoras de planos de saúde. Os últimos anos foram marcados pela realização de várias aquisições e fusões que acabaram intensificando o processo de 62 consolidação do mercado de saúde privada no Brasil. Essa fase de reestruturação devese principalmente à maior interferência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Mudanças como o aumento na oferta de serviços, procedimentos e coberturas estão obrigando muitas empresas de menor porte a deixarem o mercado, gerando uma consequente concentração dos beneficiários nos grupos mais capitalizados. O mercado de seguros, previdência complementar aberta, saúde suplementar e capitalização cresceu fortemente em 2010 relativamente ao ano anterior. O faturamento bruto do grupo de seguros gerais cresceu 14,2%, o do grupo vida (inclusive previdência) se expandiu 18%, o de saúde suplementar, 11%, e o de capitalização, 20%. Esses são resultados muito positivos, tendo em vista que ultrapassam a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,5% em 2010. Por Enrico De Vettori Sócio da área de Consultoria da Deloitte e especialista no setor de saúde Outra característica na análise do seguro saúde é a sua separação nos segmentos pessoa física (ou individual) e pessoa jurídica (ou em grupo). No primeiro caso, acontece uma relação direta do cidadão com a seguradora. Aqui, a regulamentação é bem maior, visto que a negociação comercial ocorre em níveis desiguais. A interferência direta do Poder Público (sobretudo da ANS), com a participação também do Judiciário, se dá sobretudo nos quesitos reajuste de preços e abrangência da cobertura do seguro. No segundo caso, ocorre simplesmente uma relação comercial entre duas empresas, com uma flexibilidade bem maior, e a renegociação periódica dos contratos. Os números registram a queda de participação no seguro individual, mesmo com as restrições legais existentes no caso de encerramento desse tipo de contrato. As seguradoras, na prática, perderam em muito o interesse em vender esse tipo de produto, se restringindo a administrar as carteiras já existentes. Uma resultante desse comportamento foi a concentração da receita nas mãos de poucas empresas. A escalada dos custos Em termos de receitas, medidas pelas contraprestações pecuniárias e pelos prêmios ganhos, os dados fechados de 2010 mostram o setor ultrapassando a marca de R$ 70 bilhões e registrando um crescimento ligeiramente superior ao do PIB. Entretanto, no outro lado da equação, a evolução dos custos em saúde continua preocupando. As despesas assistenciais continuam crescendo a taxas superiores ao índice geral de preços, seja pelo aumento da frequência de utilização, seja pela introdução e massificação de novas tecnologias, especialmente materiais e medicamentos, seja pela ampliação de coberturas obrigatórias. A dinâmica 63 inflacionária na saúde não tem sido objeto de políticas públicas de contenção, o que se reflete em maiores custos e mensalidades. A sinistralidade do setor, atualmente em 80%, ainda encontra-se em patamar acima do que é atuarialmente recomendado: 75%. A gestão do custo assistencial cada vez mais é decisiva para o sucesso do plano de saúde. Em 2010, vale ressaltar, houve uma ampliação do rol em 70 novos procedimentos pela ANS e as regras de solvência se alteraram com o fim da Provisão de Prêmios Não Ganhos (PPNG) e da provisão de risco, com obrigatoriedade de reversão das provisões e contabilização pro rata die (cobrança proporcional, calculada por dia, quando a data do vencimento da contribuição é diferente da data da implantação do plano, garantindo a cobertura do benefício). Essa regulação pode ter influenciado a receita do setor para baixo, em especial, no primeiro trimestre de 2010. Também em 2010 foi iniciada a portabilidade de carências para planos individuais novos, segundo a região geográfica do plano e a segmentação assistencial. Mais recentemente, com a edição da Resolução Normativa n° 252/11, “A dinâmica inflacionária na saúde não tem sido objeto de políticas públicas de contenção, o que se reflete em maiores custos e mensalidades.” 64 a ANS ampliou as regras de portabilidade para planos coletivos por adesão e eliminou algumas restrições técnicas tidas como importantes para evitar o problema da antisseleção. Entretanto, o mais importante em termos regulatórios foi a apresentação pela ANS da Agenda Regulatória para o biênio 2011/12, com um conjunto de ações estratégicas importantes na definição do marco regulatório para este ano. Com relação às pirâmides etárias que caracterizam a população dos beneficiários dos planos de assistência médica no Brasil, a parcela da população segurada concentra-se nos grupos com idade entre 20 e 55 anos, o que corresponde à população economicamente ativa. Apesar de representar apenas 25% do total da população, é considerável, em números absolutos, a quantidade de pessoas seguradas, o que afeta diretamente os prestadores de serviços privados dos mais variados tipos. Impactos das novas tecnologias O seguro saúde é o segundo mais importante do ramo não vida, com 27,2% do total. Obteve um crescimento de 33% entre 2002 e 2010. Assim, mesmo que novas tecnologias possam contribuir tanto para aumentar quanto para reduzir os gastos com saúde, existe um consenso de que, tomadas em conjunto, as novas tecnologias elevam os gastos totais. A avaliação do impacto de uma nova tecnologia sobre o gasto com saúde depende de vários fatores. Por exemplo, o impacto no custo de tratamento de um único paciente. Além disso, deve-se avaliar se a nova tecnologia complementa a tecnologia existente ou se a substitui (parcial ou integralmente), e se há impacto no gasto em outros serviços, como a estadia hospitalar. Em uma situação ideal, as novas tecnologias seriam individualmente avaliadas, levando a medidas objetivas de seus custos e benefícios, e facilitando o processo de decisão por sua incorporação. Outro fator importante é o nível de utilização da nova tecnologia, associado à sua possibilidade de tratar males até então intratáveis, diagnosticar uma população maior para tratamentos já existentes ou estender tratamentos a novas condições. Há, evidentemente, tecnologias que reduzem a utilização de certos procedimentos médicos. Finalmente, cabe observar que a complexidade do tema aumenta quando se consideram os efeitos temporais da introdução da nova tecnologia. Esta pode ampliar o gasto presente, mas levar à economia no futuro. Pode, também, elevar a expectativa de vida das pessoas e, portanto, alterar o perfil e o volume dos gastos com saúde ao longo de seus ciclos de vida. Cabe destacar que o Brasil, em média, aplica menos recursos para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em saúde do que países desenvolvidos, ou seja, o Brasil é importador de tecnologia na área de saúde. A incorporação de tecnologia em saúde representa uma importante fonte de pressão nos custos de nossa medicina. Além disso, o País passa por uma transição demográfica bastante acelerada – muito mais do que nos países europeus, onde os efeitos do envelhecimento populacional já são sentidos há bastante tempo. Isso, aliado ao fato de a renda nacional se encontrar em nível intermediário (no ranking de países), caminhando para patamares mais elevados, indica que teremos à nossa frente uma forte tendência ao aumento dos gastos com saúde, recomendando que o Brasil adote com urgência medidas capazes de tratar com eficácia essa tendência no futuro próximo. Em linhas finais, para a manutenção da viabilidade do sistema de saúde, deve-se considerar o crescimento médio do PIB e da inflação geral, da distribuição de renda e do ganho de renda real da população, ou seja, acompanhar e projetar os indicadores econômicos, permitindo a projeção futura da economia em saúde. Paralelamente, é preciso reduzir desperdícios, incentivando a promoção à saúde, a prevenção e a racionalização do uso da assistência e promovendo a sustentabilidade na saúde suplementar, com consequente alinhamento dos interesses de todos os elos da cadeia de saúde e mantendo os direitos mínimos e igualitários para todos. 65 O plano de saúde do futuro Com consumidores cada vez mais bem informados sobre seus direitos e deveres, e também mais exigentes e qualificados, as empresas da área da saúde suplementar já estão sendo hoje desafiadas a responder às necessidades de um futuro que será baseado no trinômio informação-consumo-saúde. D esde o Código de Defesa do Consumidor, na década de 1990, os mercados vêm se aprimorando na exata correlação da qualificação do consumo. Em outras palavras: consumidores mais qualificados, exigentes e cientes de seus direitos resultam em mercados mais bem preparados e mais qualificados. 66 a eficiência do gasto em saúde – quer seja de fonte privada, quer seja de fonte pública. No entanto, cada vez mais, assistimos cidadãos conscientes de seus direitos de cidadania e de consumo.Nesse sentido, temos um grande desafio: como será o consumidor do futuro na área da saúde suplementar? Se tivéssemos que atribuir um adjetivo apenas para ele no futuro, diríamos: consumidor informado. Para a área da saúde, o tema tem uma importância especial, pois vivemos tempos de aperfeiçoamento e reflexão do sistema público, ao passo que acompanhamos a consolidação do segundo maior mercado privado do mundo. Hoje, já somos mais de 62 milhões de consumidores de planos e seguros de saúde, sejam eles planos médico-hospitalares ou odontológicos. Informado de quê? De seus direitos e de seus deveres – quando da contratação de seu plano ou seguro de saúde? Isso apenas será o suficiente? A nosso juízo não, pois diferente de outros mercados, o de saúde suplementar trata de um objeto que está – e tem de estar cada vez mais – no dia a dia desse consumidor: o cuidado com sua saúde. Certamente existem dilemas por resolver, especialmente quando há de se aumentar Vamos pensar em como o consumidor do futuro poderia ser diferente do Por Mauricio Ceschin Diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) consumidor de hoje. Hoje, se precisamos de atendimento médico, como fazemos? Recorremos ao “livro de credenciados” ou buscamos na internet um médico ou uma clínica, em meio a uma lista de nomes e endereços. Como pode ser no futuro? A partir da informação do local onde estamos – ou mesmo de um ponto de referência – poderemos buscar os prestadores mais próximos por meio de um portal georreferenciado, da mesma forma como hoje recorremos a um celular e a um GPS para localizar um restaurante ou um shopping. Só que, como estamos falando de saúde – da nossa saúde – e não de restaurantes, não basta termos apenas a localização do profissional que pode nos atender. Imprescindível é que possamos ter acesso, também, a informações sobre esse prestador e principalmente sobre a qualidade do serviço que ele presta. Cada vez mais próximo Esse futuro não está muito distante, e talvez um pequeno sonhador se dê por satisfeito com isso. Mas nós não estamos na categoria de pequenos sonhadores: nosso consumidor do futuro tem, além de todo tipo de informação sobre a rede de assistência, todas as informações em saúde necessárias para seu atendimento em um prontuário eletrônico online – e ele, e somente ele, pode autorizar quem vai atendê-lo a ter conhecimento de suas condições de saúde. Isso é informação, esse é o consumidor do futuro. Sabemos que o cuidado com a saúde não pode ser lembrado apenas quando adoecemos. O plano de saúde do futuro 67 deve se preocupar permanentemente com a saúde de seus consumidores. O projeto de saúde individualizado está sendo cumprido? O consumidor está engajado em programas de envelhecimento ativo? Está cuidando de seu ambiente de vida? Não podemos nos esquecer de que, graças aos avanços da medicina e das melhores condições de vida de nossa população, há uma mudança significativa no perfil demográfico em nosso país, que continuará a ocorrer. A proporção de idosos hoje é quase o dobro da proporção de 40 anos atrás, e será triplicada nos próximos 40 anos. Do ponto de vista da saúde, há muito que ser pensado, pois é sabido que as pessoas idosas têm gastos muito mais elevados do que as pessoas jovens. “(...) temos um grande desafio: como será o consumidor do futuro na área da saúde suplementar? Se tivéssemos que atribuir um adjetivo apenas para ele, diríamos: consumidor informado.” 68 Um dos principais desafios das sociedades organizadas, neste princípio de século, será o de dar sustentabilidade a um sistema de saúde que demandará investimentos crescentes e constantes e que precisará, por isso mesmo – posto que os recursos não são infinitos – ser organizado, congruente, consequente e eficiente. As empresas do setor de planos de saúde serão chamadas a fazer um pacto com seu consumidor: pacto pela saúde, pacto pela prevenção, pacto pela vida. Vida com qualidade de vida. Em 1616, Galileu Galilei teve sua teoria heliocêntrica banida pela Inquisição – diz a lenda que, após o veredito da Inquisição, ele teria sussurrado: “eppur si muove”. Traduzindo: “e, no entanto, ela se move”. Quase quatrocentos anos depois, vivemos uma situação semelhante: velhos dogmas sendo rapidamente ultrapassados. Alguns ainda tentam manter-se apegados a um modelo assistencial somente reativo. No entanto, chegou a hora do trinômio: informação-consumo-saúde. Esse é o futuro. “As empresas do setor de planos de saúde serão chamadas a fazer um pacto com seu consumidor: pacto pela saúde, pacto pela prevenção, pacto pela vida. Vida com qualidade de vida.” 69 70 Capítulo 5 A gestão moderna Operações na busca da eficiência 71 A informação que define o preço Para obter informações dos segurados e construir modelos de precificação, os recentes avanços da tecnologia e das ferramentas estatísticas trazem novas possibilidades. Nesse cenário, as seguradoras tendem a focar mais no conhecimento sobre os segurados do que na captura direta das informações. V amos discutir o assunto “precificação” mais precisamente sob a ótica da eficiência do mercado de seguros e da gestão do “mútuo”. Naturalmente isso leva a uma reflexão sobre um dos grandes dilemas que enfrentamos nesse mercado: a busca do equilíbrio entre o nível de assertividade na mensuração do risco e o quanto isso pode custar sob diversos aspectos. Acredite, senhor segurado: as seguradoras não pretendem entediá-lo ou criar uma “pegadinha” para o momento do sinistro. Saber o quanto mais sobre cada risco que assumimos é fundamental para uma precificação adequada, mas é inegável o quanto os processos que levam a essas informações geram custos e tomam tempo das partes envolvidas. É indispensável observar que uma melhor mensuração dos riscos beneficia em muito o bom risco, 72 permitindo o equilíbrio de suas perdas esperadas e viabilizando um preço mais adequado. Mas a boa notícia é que o desenvolvimento tecnológico tende a tornar o acesso a essas informações, ou mesmo a dados que nos permitam inferi-las estatisticamente, cada vez mais simples e menos dependente do preenchimento de questionários, não infrequente, de razoável tamanho e, não raro, com mais de uma possibilidade de interpretação. Os segurados deixam rastros por onde passam, e esses rastros, quando bem trabalhados, transformam-se em preciosa informação para a gestão do mútuo. Os problemas da assimetria de informação e da seleção adversa são inerentes aos seguros. Afinal de contas, é praticamente impossível que uma seguradora tenha Por Ney Ferraz Dias Diretor geral do Itaú Auto e Residência S.A. acesso a todo e qualquer aspecto relacionado a cada um dos riscos que assume, por mais que tente, por exemplo, por meio dos questionários de avaliação de risco. Os primeiros questionários desenvolvidos tinham como base o senso comum, envolvendo questões que, intuitivamente, pareciam representar diferenças entre níveis de risco. Muitas delas se confirmaram como excelentes discriminadores e continuam presentes nesses questionários até hoje. Porém, o principal problema de então não era a escolha das questões, mas sim saber como mensurar o seu peso na minimização ou no agravamento do risco avaliado, o que somente foi possível a partir do desenvolvimento de bases de dados e de ferramentas estatísticas adequadas. Se hoje em dia já se sabe muito mais sobre a participação de cada fator na diferenciação de riscos, o problema passa a ser, cada vez mais, encaixar o preenchimento dos questionários à disponibilidade restrita de tempo da vida moderna. Por outro lado, esse conjunto de informações permite que se mensure não apenas o nível de risco, mas também as chances de que o negócio seja fechado e que seja capturado o maior nível possível de prêmio, sem que haja perda de competitividade. No seguro de automóveis, por exemplo, informações como forma de utilização do veículo, modelo, local de guarda, região de circulação e idade dos condutores são combinadas estatisticamente com outras, como nível de renda, relacionamento com instituições financeiras e grau de instrução, possibilitando o desenvolvimento de modelos sofisticados de propensão à contratação de seguro, bem como 73 de modelos que permitem avaliar a sensibilidade de cada indivíduo a variações de preço, conhecidos como modelos de elasticidade. Menor exposição a risco e receitas mais elevadas, quando combinadas, tendem a proporcionar resultados satisfatórios, garantindo a perenidade das operações. Simplificação e assertividade No fundo, a questão que se apresenta é combinar a importância dessas informações para a caracterização dos riscos – e o desenvolvimento desses modelos – com a dificuldade que se tem em obtê-las. Porém, como disse no início, as tendências de futuro apontam para a simplificação e maior assertividade dos processos de venda, uma vez que os avanços tecnológicos permitem o acesso a essas informações sem que seja sequer necessária a declaração direta do segurado, havendo uma tendência de redução das perguntas diretas a ele. Como exemplos, temos score de crédito, bureaus, bases cadastrais e relacionamento com outras linhas de negócios de conglomerados “Os segurados deixam rastros por onde passam, e esses rastros, quando bem trabalhados, transformam-se em preciosa informação para a gestão do mútuo.” 74 financeiros, uma vez que essas informações guardam forte correlação estatística com os perfis de risco. Também se destacam os sistemas de telemetria, que deverão proporcionar às seguradoras o monitoramento dos veículos em tempo real, dando a elas acesso direto a informações como a quilometragem percorrida, as condições do próprio veículo, as ruas por onde trafega, se é guardado em garagem, se circula por locais onde roubos e furtos são mais frequentes, chegando-se até a sistemas de precificação dinâmicos, nos quais o prêmio é calculado a partir da quilometragem percorrida. Em síntese, não obstante a fundamental importância que a obtenção direta de informações objetivas dos segurados continua tendo até hoje para a construção dos modelos de precificação das seguradoras, os sinais apontam para uma mudança na forma de atuação. O avanço tecnológico abre espaço para outras formas de acesso, além do desenvolvimento de ferramentas estatísticas cada vez mais eficientes. Nesse novo cenário, caberá às seguradoras o papel de reinventar a sua forma de atuação em relação aos segurados, passando a investir os esforços, que antes seriam gastos na captura direta de informações, no estreitamento da relação com eles, conhecendo melhor suas necessidades e oferecendo produtos e serviços que os atendam e representem novas oportunidades de negócios. Concluindo, espero ter contribuído com uma visão do que nos deve trazer o futuro em um tema que acompanha os homens desde os tempos da Babilônia, como nos prova, em escrita cuneiforme, o famoso Código de Hamurábi. Mas aí, é outra história! Por enquanto, você ainda irá conviver com os questionários, sendo estes ainda a melhor ferramenta de discriminação dos riscos. “É indispensável observar que uma melhor mensuração dos riscos beneficia em muito o bom risco, permitindo o equilíbrio de suas perdas esperadas e viabilizando um preço mais adequado.” 75 Rentabilidade versus custos A gestão profissional de custos como variável de negócios e de rentabilidade – uma rotina já disciplinada em outros setores econômicos – constitui um processo complexo, mas fundamental para assegurar que as estratégias de negócios gerem retornos adequados também no mercado segurador. á vivida e experimentada pelas atividades industriais, a gestão profissional de custos como variável de negócios e de rentabilidade é para esses segmentos da economia uma rotina disciplinada. Não há como garantir estratégias que forneçam retornos adequados sem o correto entendimento dos custos reais, diretos ou indiretos, envolvidos nas várias operações de todas as empresas. Não há decisão sem custos. Não há ações ou estratégias sem custos. Seus resultados podem ser obviamente positivos ou negativos, mas sempre haverá alocado, de alguma forma, um determinado valor que teoricamente suportou uma ação. Alguns fabricantes de automóveis, por exemplo, adequam seus produtos e estratégias de forma que a mesma plataforma e os mesmos componentes possam ser customizados 76 para vários modelos e linhas (commonality). Com vantagens e desvantagens, esse é um exemplo de como a indústria tem buscado estratégias de produtos e produção coordenadas no caminho da rentabilidade. No mercado segurador, esse caminho é igualmente trilhado. Perguntas internas clássicas são constantemente revisitadas no desenho de alternativas e estratégias, tais como diversificar ou se especializar, abrir ou não novas frentes, e outros muitos exemplos de questionamentos inevitavelmente abordados nos planos de negócios. Obviamente que o DNA de cada empresa reflete a estratégia adotada para os seus negócios e, dessa forma, as decisões também irão receber a sua “carga genética”. Mas, independentemente de vocações, as atuais exigências de rentabilidade contemplam novos cenários de segurança operacional e um novo Por Murilo Setti Riedel Vice-presidente da HDI Seguros e responsável pelas áreas técnicas de Seguros, Resseguros e Sinistros ambiente regulatório e alteram as equações de custos nas operações de seguro, gerando, além de um novo padrão, uma nova dinâmica de gestão de recursos para a obtenção de rentabilidade. E que novos padrões de custos são esses no mercado segurador? Sem dúvida, a vida e a atribuição dos técnicos de seguros estão bastante modificadas. Há pouco tempo, a noção de rentabilidade de uma operação de seguro considerava quase que exclusivamente as variáveis técnicas diretas, deixando a cargo da área financeira o complemento de custos adicionais relacionados. Não obstante os custos fundamentais terem a obrigatoriedade de análise, novas dimensões de custos não desembolsáveis são agora objeto de análise para a definição de rentabilidade. Essas novas dimensões alteram o fluxo de decisões das operações, adicionando uma profundidade importante para a compreensão da rentabilidade frente à alocação de custos reais, mas, muitas vezes, “gasosos”. A questão da análise desses custos rompe o fluxo operativo tradicional, impactando diretamente a decisão das estratégias. Itens como frequências, custos de indenização médios, desenvolvimentos projetados de reservas e custos administrativos foram adicionados a outros custos que, na verdade, sempre existiram, mas nunca foram realmente identificados e interpretados para a correta análise da rentabilidade das operações de seguros. Na maioria das vezes, o resultado econômico, em seu primeiro nível, sempre norteou as estratégias e definiu prioridades. Muitos desses resultados podem não suportar uma análise sobre o custo dos riscos que estão implícitos e, quando 77 mitigados e posteriormente quantificados, serão capazes de alterar o resultado de operações que, tradicionalmente, se mostram lucrativas e geradoras de recursos financeiros. Apesar dos esforços das entidades reguladoras em controlar a exposição de riscos financeiros da gestão de reservas, o maior risco sempre se concentra em uma dimensão do próprio negócio. É, logicamente, complexo medir e mensurar o custo do risco das operações, principalmente em um mercado onde a mercadoria comercializada já é a própria variável risco e, por essa razão, é difícil a compreensão de que, além do risco como mercadoria, há um risco adicional, que é o da própria operação e da forma como ela é gerida. Como dito anteriormente, não há decisão ou estratégia que não “(...) as atuais exigências de rentabilidade contemplam novos cenários de segurança operacional e um novo ambiente regulatório e alteram as equações de custos nas operações de seguro, gerando, além de um novo padrão, uma nova dinâmica de gestão de recursos para a obtenção de rentabilidade.” 78 impacte em alguma forma de risco e, consequentemente, em alguma forma de custo. O trabalho é quantificá-lo e alocá-lo. Se não é fácil compreender que a rentabilidade de uma operação pode não resistir a uma análise matemática sobre seus riscos, a aplicação de novos fundamentos traz uma prática virtuosa de quantificação e alocação do custo do risco das decisões. Dessa forma, a condução de um negócio de seguro pode não só requerer reservas e precificação adequada, mas, também, garantias adicionais traduzidas em necessidades de capital. Por exemplo, uma engenhosa operação de resseguro objetivando justamente a mitigação dos riscos de exposição pode ser potencialmente cara pelo risco financeiro envolvido. Em épocas nas quais as operações inovadoras têm se demonstrado atraentes do ponto de vista competitivo, a mitigação e quantificação do custo dos riscos e de seus impactos finais na necessidade de capital têm se mostrado como um importante balizador na análise de suas rentabilidades. Nesse processo, alguns custos adicionais de operação rapidamente saíram da amplitude de risco e foram diretamente alocados como pré-requisitos funcionais. Dessa forma, hoje é impensável uma seguradora não operar com contingências físicas para os riscos operacionais e esses fundamentos já se tornaram custos alocados diretos, com seus impactos identificados na própria estrutura de custos do negócio. Também outros custos operativos se tornaram diretamente alocados, tornando-se parte fundamental a qualquer operação de seguro, como, por exemplo, unidades antifraude, workflows, controles operacionais, controle de aceitação etc. de uma operação de seguros e, por essa razão, necessitam ser modelados e alocados e, seus efeitos, refletidos na rentabilidade do negócio. Certamente, um exercício de gestão. Em outras palavras, essas demandas fundamentais, além de exigíveis por força regulatória, são exigíveis pela essência do negócio, pois o custo do risco de sua inexistência, ou fragilidade, impacta diretamente os resultados. Modernamente, não há como desconsiderar na equação de rentabilidade o custo alocado para suportar as práticas adequadas para a condução das operações. A questão naturalmente decorrente seria se, uma vez que os custos alocados para suportar as operações de seguro estão normalmente considerados, quais então seriam os custos determinantes e adicionais que deveriam ser considerados na correta equação de rentabilidade de uma operação de seguro? A resposta estaria no cálculo e na alocação correta de custos de riscos estratégicos e não determinados pela mitigação tradicional dos riscos operativos. Assim sendo, riscos como crédito, risco financeiro, inadequação de ativos, erros probabilísticos na determinação de reservas e de precificação, a conjuntura econômica e política, fatores concorrenciais e possíveis erros estratégicos têm peso extremamente relevante na mensuração de rentabilidade 79 Profissão corretor Em um mercado tão diversificado como o brasileiro, o corretor de seguros firma-se como agente essencial da indústria, precisando atender à necessidade de se especializar, estar sempre conectado às mudanças e ajudar a criar soluções na medida das expectativas de seus clientes. I ndependentemente do fato de, por lei, o corretor ser o representante do segurado em relação à seguradora, já está consolidada no País a cultura de que seguro sem o corretor não é um bom negócio para o segurado. Afinal, ao corretor cabe atuar como um especialista, que, conhecendo as necessidades do cliente, pode sugerir as melhores opções em termos de produtos, coberturas e valores. O corretor é um protagonista importante para a indústria de seguros, pois cabe a ele identificar as necessidades dos segurados e buscar nas seguradoras as melhores opções de cobertura. Mas, para contextualizar o papel do corretor de seguros, temos de entender o tamanho do mercado e sua respectiva gama de produtos e serviços. Atualmente contamos com mais de 170 seguradoras e mais de 80 130 ramos de seguros (veja quadro na pág. 83) e, para dar um atendimento diferenciado, o corretor precisa atuar de acordo com o seu público-alvo. Vamos iniciar essa análise pelo mercado de pessoas físicas, que é notadamente dirigido pelo seguro de automóvel, no qual o preço é fator predominante na escolha do seguro. Nesse mercado, cabe ao corretor entender o que o segurado procura, pois há seguradoras que, além de oferecer seguros de automóveis com coberturas tradicionais, agregam uma vasta gama de serviços, que incluem encanador, eletricista, chaveiro etc. Após entender o que o segurado procura, o corretor poderá escolher quais as seguradoras que atendem às demandas de seu cliente. E a credibilidade do corretor, muitas vezes, é tão importante quanto daquelas seguradoras que participarão do processo de concorrência. Por Cristiano Furtado CFO da Marsh Brasil Como esse mercado exige rapidez no atendimento e agilidade nos procedimentos em caso de sinistro, o corretor deverá auxiliar o segurado na comunicação com a seguradora, mas não poderá se tornar um “cotovelo” no encaminhamento das soluções ao segurado, pois, como o mercado de pessoas físicas requer processos automatizados, eficiência, escala e produtividade, o corretor deverá deixar essa missão para as seguradoras, que, todos os anos, investem milhões para o aprimoramento de seus produtos e serviços. É no âmbito corporativo que o papel do corretor se torna ainda mais desafiador, pois, além de conhecer tecnicamente condições comerciais, cobertura, exclusões, franquias, limites, prazos, sinistros etc, o corretor deverá ser um especialista, conhecer a indústria e o mercado no qual o cliente está inserido, quais variáveis macroeconômicas impactam o negócio do seu cliente, como esses impactos afetam as importâncias seguradas e quais os reflexos na indústria do seguro, tanto no mercado local quanto no internacional. Faz-se, portanto, necessária a especialização, já que cada indústria requer uma visão diferenciada, um profundo conhecimento dos riscos envolvidos e, principalmente, formas de mitigá-los. É dessa maneira que os riscos evitáveis serão mapeados e que se dará a precificação do programa de seguros do cliente (underwriting). Um corretor experiente, com dados históricos atualizados (benchmark), mercado identificado (local ou internacional), fará toda a diferença no processo de colocação do risco. 81 Sintonia com as mudanças Além das características mencionadas anteriormente, o corretor de seguros deve obrigatoriamente estar conectado ao mundo, pois, no mercado globalizado no qual vivemos, todos os eventos naturais, empresariais, financeiros, políticos e socioeconômicos poderão influenciar a formação do preço, e, assim sendo, a habilidade do corretor de seguros de disponibilizar a capacidade de subscrição de risco dos mercados local e internacional (resseguro) será determinante para oferecer ao cliente a melhor relação entre custo e benefício. “O corretor é um protagonista importante para a indústria de seguros, pois cabe a ele identificar as necessidades dos segurados e buscar nas seguradoras as melhores opções de cobertura.” 82 Para a fidelização do segurado, o corretor, além de uma clara e transparente proposta de valor (value proposition), deverá ter papel determinante no processo de regulação de sinistro. Podemos dizer que o sinistro é a hora da verdade, o momento no qual o trabalho do corretor é posto à prova. Isso não quer dizer que todo prejuízo causado ao segurado por um evento não esperado deverá ser obrigatoriamente ressarcido por uma seguradora e que o sucesso do corretor se dará somente com o pagamento da indenização, mas o processo de regulação de sinistro validará se as coberturas e franquias recomendadas pelo corretor foram adequadas, se o clausulado foi elaborado de forma a espelhar a operação do cliente e se as alternativas de mitigação de risco recomendadas pelo corretor foram realmente seguidas pelo segurado. Em adição aos aspectos já abordados anteriormente, o corretor de seguros possui a habilidade de ajudar o mercado a criar novas soluções, adaptar os produtos e serviços às expectativas dos clientes, desenhar novas coberturas e fomentar o desenvolvimento da indústria, uma vez que o seguro, além de garantir o princípio básico da transferência de risco (proteção econômica que os indivíduos procuram contra a necessidade aleatória), poderá, ainda, ser fonte e alternativa para a viabilidade econômica de financiamentos que suportarão a construção da infraestrutura de nosso país. O mercado e o corretor O tamanho do mercado segurador e a sua diversidade de produtos e serviços determinam hoje a dimensão do desafio e o próprio papel do corretor de seguros, que precisa atuar de acordo com o seu público-alvo. Empresas competidoras do mercado de seguros Companhias seguradoras Número 115 Companhias de capitalização 19 Entidades abertas de previdência privada 25 Seguradoras especializadas em saúde1 13 Corretores de seguros ativos 69.672 Resseguradoras cadastradas 94 Corretoras de resseguros autorizadas 32 Nota: últimos dados disponíveis 1 Dados até junho de 2011 Fontes: Federação Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros, de Capitalização, de Previdência Privada, das Empresas Corretoras de Seguros e de Resseguros (Fenacor), Associação Brasileira das Empresas de Resseguros (Aber), Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Agência Nacional de Saúde (ANS) Se levarmos em consideração que o Brasil sediará os dois maiores eventos esportivos do mundo – a Copa do Mundo da FIFA em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016 –, a necessidade de investimentos em infraestrutura (rodovias, ferrovias, trens de alta velocidade, portos e aeroportos) e a demanda por desenvolver rapidamente a indústria petrolífera brasileira, podemos concluir que o corretor de seguros será um agente importante no desenvolvimento do País, agregando expertise na viabilização desses projetos e, ao mesmo tempo, agindo como catalisador da capacidade financeira dos mercados local e internacional. 83 Novos papéis para o atuário A implementação gradual do IFRS, o modelo contábil global, trouxe novos desafios e oportunidades para os atuários da área de seguros, que agora ganham importância estratégica na determinação dos riscos do negócio e maior peso na tomada de decisão das seguradoras. C om a implementação do International Financial Reporting Standards (IFRS) no mercado brasileiro de forma gradativa, muitos desafios surgiram e continuarão a aparecer para os atuários da área de seguros. O primeiro deles se deu na Fase I da “IFRS 4 – Contratos de Seguro”, que estabeleceu uma definição específica para contratos de seguro e resseguro, apresentou diversas mudanças na contabilização de contratos de seguro e requereu uma maior divulgação dos fluxos de caixa futuros e de exposições a riscos. A introdução da definição específica de um contrato de seguro resultou na reclassificação de certos contratos para instrumentos financeiros. Entre as principais mudanças apresentadas na Fase I estão os requisitos para que as seguradoras contabilizem derivativos embutidos (exemplo: garantias 84 como retorno do prêmio, oferecido como parte de um produto de seguro de vida) e os registrem a um “valor justo”, bem como a eliminação das provisões para equalização e catástrofe utilizadas em alguns países. A Fase I do projeto de seguro também requereu uma maior divulgação quantitativa e qualitativa relacionada à exposição a riscos – por exemplo, quanto à explicação de montantes registrados, incluindo informações sobre políticas contábeis, premissas significativas e mudanças relevantes nos passivos de seguro, ativos de resseguro e custos de aquisição diferidos (DAC). Além disso, requereu a divulgação de políticas de gerenciamento de risco e dos termos e das condições que tenham um impacto relevante sobre o montante, a época e as incertezas dos fluxos de caixa das seguradoras. Por meio dessas mudanças, a Fase I permitiu que os usuários Por João Batista Pinto Diretor da prática de Atuária da Deloitte de demonstrações financeiras entendessem melhor a natureza do seguro e como as mudanças em premissas e fatores externos, tais como exposição a crédito, poderiam afetar a avaliação de ativos e passivos. As diferenças no modo como os seguros são contabilizados variam de país para país e, entre alguns deles, essas diferenças são bastante significativas. Daí que os usuários encontram dificuldade para comparar e entender os resultados dos negócios de seguros em nível mundial. Esse fato, aliado à complexidade do setor e à atenção que se vem colocando na integridade das contas, impõe a necessidade de uma base comum para a divulgação de informações financeiras pelas companhias do setor de seguros. A Fase II do projeto introduz padrões abrangentes que tratam do reconhecimento e da mensuração de contratos de seguro. A principal proposição é que todos os passivos de seguros – incluindo seguros diretos e resseguros de vida e não-vida – devem ser mensurados pelo método “Valor de Saída Atual” (CEV, do inglês “Current Exit Value”), usando três blocos básicos: ••Estimativas atuais – explícitas, não-tendenciosas, consistentes com o mercado, ponderadas pelas probabilidades e pelas estimativas atuais de fluxos de caixa contratuais; ••Valor temporal do dinheiro – taxas de desconto correntes no mercado que ajustem a estimativa de fluxos de caixa futuros considerando o valor temporal do dinheiro; ••Margens – estimativa explícita e não-tendenciosa da margem que os participantes do mercado exigem para decidir se assumem o risco (margem de risco) e se fornecem outros serviços, se houver (margem de serviço). 85 O enfoque proposto pelo International Accounting Standards Board (IASB) de valorização de passivos de seguros é a melhor estimativa de desconto (e consistente com o mercado) dos passivos explícitos e das margens explícitas de risco e de serviços. Se adotado, esse enfoque significaria uma mudança significativa na maneira como os passivos são valorizados e introduzem mais subjetividade e volatilidade. Ele deve elevar os custos envolvidos na divulgação de informações financeiras, uma vez que novas técnicas e sistemas atuariais seriam necessários para estimar o CEV. “A divulgação detalhada das premissas e metodologias usadas para calcular as margens de risco e de serviço será crucial para efeito de reporte das informações financeiras, quando se trata de promover o desenvolvimento de práticas de mercado estabelecidas que favoreçam a estimativa consistente dessas margens.” 86 No entanto, os blocos básicos do enfoque CEV vêm sendo cada vez mais utilizados pelas seguradoras na gestão de negócios, como a avaliação do risco de crédito, de mercado e, especificamente no Brasil, do risco jurídico; portanto, as bases de valorização para a elaboração de relatórios e para a gestão de negócios devem convergir. O principal objetivo é a divulgação mais realista de números e riscos por parte das seguradoras. Como resultado, o desempenho financeiro se torna mais transparente. O acréscimo proposto de incluir margens de risco e de serviços como parte da mensuração do passivo é um recurso novo que difere do modelo de negócios prevalente. O mercado reconhece a falta de evidência observável para calibrar essas margens, e a evolução do setor será fundamental para a aplicação dessas propostas a fim de aumentar a consistência das informações financeiras a serem divulgadas. O nível de incerteza envolvido nas operações de seguro dá ao atuário ampla autonomia para determinar essas margens, entretanto, o bom senso e o julgamento cético na adoção dessas margens devem ser fatores preponderantes. Além disso, a falta de dados observáveis para determinar a margem de risco e de serviço levará a um grau significativo de subjetividade. O desafio para os atuários será documentar e justificar o julgamento aplicado. A divulgação detalhada das premissas e metodologias usadas para calcular as margens de risco e de serviço será crucial para efeito de reporte das informações financeiras, quando se trata de promover o desenvolvimento de práticas de mercado estabelecidas que favoreçam a estimativa consistente dessas margens. A partir daí, o atuário deixa de ter um papel de executor dentro da seguradora, e passa a ser estratégico para a continuidade das operações dela. A Fase II do projeto determina que os contratos de seguro sejam registrados ao seu CEV, ou ao montante que seria recebido hoje se toda a obrigação fosse vendida a terceiros. Para determinar o CEV, as seguradoras precisarão fornecer estimativas atuais dos fluxos de caixa futuros do contrato, aplicar uma taxa de desconto apropriada para o valor do dinheiro no tempo, e estimar a margem que os participantes do mercado exigiriam para assumir o risco (margem de risco) e prestar outros serviços, se houver (margem de serviço). Além disso, os fluxos de caixa devem ser explícitos, os mais consistentes possíveis com os preços de mercado observáveis, além de incorporar todas as informações disponíveis sobre a época e a incerteza relacionadas aos fluxos de caixa decorrentes de obrigações contratuais de forma imparcial, e estar atualizados com base nas condições do final do período de divulgação. Certamente essa Fase II apresenta um grande desafio na área de modelagem atuarial a grande parte das seguradoras. Como referência, na Europa, o movimento para os cálculos do valor justo com base no European Embedded Value (EEV) levou as seguradoras a desenvolverem modelos estocásticos. Esses modelos 87 requerem premissas adicionais de como a administração e os segurados podem reagir em diferentes cenários econômicos. Essas premissas normalmente devem ser levadas em consideração na ausência de dados concretos e envolvem subjetividade. Além disso, enquanto o uso do valor embutido em linha com o mercado pelas seguradoras europeias já removeu uma grande parte da subjetividade em premissas econômicas, a subjetividade permanece nas premissas de risco de seguro. As seguradoras precisam se sentir confortáveis ao fornecer premissas Impactos da nova realidade A seguir, alguns dos desafios desencadeados pelas recentes mudanças regulamentares que passaram a vigorar no mercado segurador: ••A convergência da modelagem dos passivos de seguro, do ponto de vista da gestão contábil, reguladora e de riscos e preços, para que técnicas básicas de modelagem possam ser embutidas no negócio e proporcionar consistência na divulgação das informações financeiras e na mensuração; ••A introdução de novos sistemas, acarretando um custo alto (esse custo deve compensar se esses sistemas puderem ser utilizados em todas as áreas da empresa, para diversos objetivos, e não apenas para fins de divulgação de resultados financeiros); ••A necessidade de as seguradoras treinarem seus atuários para que estejam aptos às novas técnicas e demandas do mercado. 88 adequadas, consistentes com o mercado e com as características específicas de sua carteira. Por exemplo, ao estimar valores de mercado consistentes para fluxos de caixa de passivos de seguro, a falta de dados observáveis para alguns itens (exemplos: a frequência de sinistros e a incidência para certas linhas de seguros) pode forçar algumas seguradoras a desenvolver modelos atuariais mais sofisticados. Estimar fluxos de caixa de passivos já é difícil, e essas dificuldades são ainda maiores quando o atuário precisa considerar a possibilidade de movimentos extremos de mercado e deficiências na disponibilidade de dados observáveis que representarão adequadamente os valores financeiros. Os desafios serão maiores para os seguros de vida de longa duração e ramos de seguros elementares que são caracterizados por padrões de emergência, pagamentos possivelmente altos e grande volatilidade. As seguradoras irão precisar se familiarizar com essas técnicas e trabalhar para testar continuamente os modelos sob novas condições e refiná-los. Visão ampla O atuário deverá ter um amplo entendimento de seus produtos, examinando todas as suas carteiras de negócios para possibilitar a classificação de produtos como contratos de seguro ou instrumentos financeiros. À medida que as seguradoras estão cada vez mais cientes desses fatores, as informações adicionais provenientes da adoção do IFRS irão leválas a determinar adequadamente o preço de derivativos embutidos e a fazê-los ao “valor justo”. Consequentemente, alguns produtos de seguro de vida e pensão serão descontinuados, redesenhados ou sofrerão um aumento de preço. O atuário terá a oportunidade de fornecer às empresas a visão necessária para que melhorem substancialmente seus controles internos. E, acima de tudo, uma maior transparência para levar a níveis maiores de responsabilidade sobre as práticas de gerenciamento de riscos. Obrigatoriamente o atuário terá também um papel estratégico para melhorar o gerenciamento do negócio. A necessidade de melhoria das informações disponíveis permitirá que as seguradoras revejam a lucratividade de suas carteiras de negócios, e as ajudará a entender melhor os riscos e as incertezas associados às linhas de negócios individuais. Ao alcançar o que poderia ser considerado como uma visão mais “realista” do negócio, as seguradoras poderão tomar melhores decisões estratégicas sobre se e como continuar a oferecer certas linhas de produtos. Ao mesmo tempo, tendências relacionadas à solvência também irão reforçar a relação com o melhor gerenciamento de risco em “O atuário terá a oportunidade de fornecer às empresas a visão necessária para que melhorem substancialmente seus controles internos.” seguradoras. Por exemplo, na Europa, a evolução paralela do IFRS e a estrutura de Solvência II vêm causando uma maior divulgação das práticas de gerenciamento e margens de risco, fornecendo consistência e rigor a essas práticas, sob uma perspectiva de adequação de capital. De uma forma geral, o atuário terá grande importância estratégica na determinação dos riscos do negócio e terá um peso muito grande na tomada de decisões da seguradora. Será responsável por conhecer os riscos do negócio e deverá ter conhecimento sobre investimentos, gerenciamento de riscos, securitização e, principalmente, de modelagens complexas. Afinal, toda decisão afetará os riscos do negócio, os valores de prêmios, as provisões e a necessidade de retorno dos investimentos. Por isso, o atuário deverá entender o funcionamento de todo o ciclo de seguros. O atuário que entender os riscos de seguros e administrar seu negócio de forma eficiente, de acordo com a nova diretriz, terá uma clara vantagem em relação aos demais. 89 Capítulo 6 A nova dinâmica da indústria Como avançar em um setor globalizado por excelência Impactos e benefícios da norma Os esforços pelo ajustamento da indústria de seguros aos padrões contábeis internacionais e aos princípios gerais do Solvência II favorecem sua inserção no mercado global, tornando-se mais atraente ao investidor e ampliando seu potencial de obtenção de recursos. A Superintendência de Seguros Privados (Susep) vem trabalhando nos últimos anos na adoção dos padrões contábeis internacionais emanados pelo International Accounting Standards Board (IASB), conhecidos como International Financial Reporting Standards (IFRS), e buscando um alinhamento aos princípios gerais do Solvência II, regime prudencial e de solvência da União Europeia (UE) para entidades de previdência, seguradoras e resseguradoras. Em relação ao IFRS, a autarquia vem atuando conjuntamente com representantes dos segmentos supervisionados – entidades de previdência complementar aberta e sociedades de capitalização, seguradoras e resseguradoras – e dos auditores 92 independentes na regulação dos padrões contábeis, com o intuito de promover o ajustamento das demonstrações financeiras aos princípios instituídos pelo IFRS. Inicialmente a mudança de cultura foi maior do que a de práticas contábeis. Acostumados a regras, o supervisor e os supervisionados tiveram de exercitar a arte de fazer julgamentos. A essência sobre a forma passou a ser a nova métrica. Sem dúvida, esse foi o grande impacto na nossa indústria, porém, não podemos deixar de mencionar os demais, como: o ganho na qualidade das peças das demonstrações financeiras, a riqueza das notas explicativas com um maior detalhamento, uma reflexão realista da eficiência econômica do negócio e o aumento da competitividade das empresas nacionais, entre outros fatores. Por Carlos Augusto Pinto Filho Coordenador-geral de Monitoramento de Solvência da Superintendência de Seguros Privados (Susep) Quanto ao Solvência II, a autarquia vem buscando o alinhamento por meio dos princípios gerais estabelecidos nos três pilares que sustentam todo o processo prudencial e de solvência. O primeiro, de caráter quantitativo, trata de requerimentos de capital e avaliação de ativos e provisões técnicas. O segundo, com abordagem qualitativa, aborda as necessidades de governança e gerenciamento de risco, além do processo de supervisão. O terceiro, com foco na disciplina do mercado, trata da necessidade de disclosure e transparência. O Solvência II cria um sistema com base em risco, pelo qual a supervisão quantitativa é complementada por aspectos qualitativos e de disclosure. Com o alinhamento a ele, espera-se obter impacto diretamente nos processos de requerimentos de capital com base em risco, disclosure, controles internos, eficiência na gestão de riscos, avaliação consistente com o mercado, governança corporativa, supervisão de conglomerados, supervisão macroprudencial, transações intragrupos e avaliação própria de riscos e solvência. Controles e governança A Susep vem avançando consideravelmente em relação a controles internos e governança corporativa. Existem normativos apropriados e todo um processo de supervisão desenvolvido. Devemos enfatizar que os dois temas já fazem parte da cultura das empresas, juntamente com a gestão de riscos. Ainda em relação à governança coorporativa, não podemos nos esquecer de que as demonstrações financeiras em IFRS são reconhecidas internacionalmente como boa prática de governança e que essas demonstrações aumentaram significativamente a qualidade do processo de disclosure. 93 “A Susep e a indústria de seguros devem se preparar para os desafios que virão com intenso treinamento, além da participação em apresentações, seminários, grupos técnicos, câmaras ou comissões técnicas (...).” 94 Cabe-nos registrar a contribuição do Teste de Adequação de Passivos, estabelecido no IFRS 4 – Contratos de Seguros, que foi aproveitado para verificar-se, de forma realista, as provisões técnicas das sociedades e entidades supervisionadas, antecipando as mudanças a serem implementadas no cálculo das provisões. Especificamente quanto aos requerimentos de capital com base em riscos, destacamos a regulação do capital adicional para riscos de subscrição dos seguros de danos, cujo capital já foi absorvido pela indústria nacional, e a regulação do capital adicional para riscos de crédito, essa para toda a indústria de seguros e com prazo até janeiro de 2014 para se adaptarem. Além disso, foram concluídos a pesquisa necessária, o debate com o mercado, a análise de impacto e a proposta de regulamentação sobre o capital adicional para riscos de subscrição de vida e previdência. Atualmente, encontra-se em discussão, com a indústria e os atuários, o capital adicional para os riscos de subscrição de capitalização e, em fase final, a pesquisa referente ao capital adicional para riscos de mercado e operacionais. Os registros contábeis e as demonstrações financeiras em IFRS e o alinhamento com o Solvência II fazem com que a indústria de seguros se insira no mercado internacional, seja transformada em mais um competidor global, se torne mais atrativa ao investidor internacional e receba mais recursos financeiros. Como consequência final desse processo, teremos a demonstração do vigor das empresas que atuam na indústria de seguros. A Susep e a indústria de seguros devem se preparar para os desafios que virão com intenso treinamento, além da participação em apresentações, seminários, grupos técnicos, câmaras ou comissões técnicas para debater os temas, tanto no âmbito de suas federações quanto na autarquia. Ressaltamos que a Susep tem sido muito cuidadosa na aplicação das regras de solvência: conferindo tempo para os ajustes necessários; antecedendo cenários de impactos; discutindo com as supervisionadas em grupos, câmaras ou comissões técnicas; efetuando reuniões, antes da publicação das normas, com as companhias afetadas para explicar o normativo e o motivo do possível impacto e também os possíveis ajustes que reduziriam os impactos na aplicação das normas. Por fim, ficam para a área técnica da Susep, na supervisão de solvência, o desafio do desenvolvimento dos processos de eficiência na gestão de riscos, a avaliação consistente com o mercado, a supervisão de conglomerados, a supervisão macroprudencial, as transações intragrupos e a avaliação própria de riscos e solvência. 95 Lições aprendidas com a crise A instabilidade financeira global deixou aprendizados que podem ser aplicados também pela indústria de seguros, que segue bem no Brasil, mas não está imune à crise. Na nova dinâmica da indústria, é longa a lista de preocupações: regulamentação, gestão de riscos, consolidações e muito mais. A recente crise financeira nos fez lembrar quão grave pode ser o impacto das condições do mercado sobre a solidez do setor financeiro. A sequência de explosão da bolha imobiliária, crise de crédito, falta de liquidez e queda de ações atingiu severamente todas as empresas na Europa e nos Estados Unidos, apesar da rapidez sem precedentes da intervenção alinhada dos bancos centrais e dos governos ao redor do mundo. Claramente, essa crise teve a sua origem principal no setor bancário comercial e nos negócios de derivativos ligados ao crédito. As seguradoras até agora têm resistido à tempestade. Apesar disso, a indústria de seguros não está imune à crise e pode facilmente aprender com os erros e acertos da indústria bancária mundial. 96 Cada companhia deverá rever seus processos e instrumentos de gerenciamento de riscos, a fim de incluir uma avaliação mais robusta dos verdadeiros riscos que afetam seu negócio. As seguradoras aprenderam sobre a importância de adotar uma visão geral do balanço – abrangendo ativos e passivos – da sua posição de capital. Faz-se notar também a necessidade constante de atualização de políticas, processos, metodologias e estruturas de mitigação de riscos a serviço de uma nova realidade presente no dia a dia das seguradoras, aglutinada sob o guarda-chuva das ações de compliance, controles internos e gestão de riscos. A questão, neste ponto, é o correto equilíbrio entre os custos e benefícios de um regime de capital de solvência e de um sistema baseado no mercado. Tal dilema é difícil de medir e ainda mais difícil de monitorar, já que precisa estar baseado em Por Francisco Caiuby Vidigal Presidente da Marítima Seguros S.A. e Marítima Saúde Seguros S.A. um conhecimento aprofundado dos riscos que cada empresa enfrenta. Exigências mais elevadas de capital certamente contribuem para reduzir o risco de insolvência de uma empresa de seguros individualmente e, assim, ajudam a promover maior proteção ao segurado. Contudo, ao acrescentar “prudência sobre prudência”, a regulação, inevitavelmente, em breve, chegará a um ponto em que os benefícios marginais serão menores do que os custos marginais. Mudanças na organização e no comportamento Exigências excessivas de capital afetam o preço e o design dos produtos, assim como a subscrição e a capacidade de investimento. Não devem ser esquecidas também as estruturas de monitoramento e gestão de riscos a onerar os custos das seguradoras. Mais especificamente, a sequência das reações resultantes de um aumento considerável nas exigências de capital que ameaçam reduzir a rentabilidade do negócio abaixo do Custo Médio Ponderado de Capital (WACC, na sigla em inglês) da empresa trará os seguintes desafios para a indústria de seguros. ••Excelência operacional – As companhias estão revendo sua estrutura tecnológica e de processos com o objetivo de melhorar a produtividade, reduzindo custos operacionais e administrativos, com a consequente busca de mercado e/ou escalabilidade; ••Transferência de exigências de capital adicional – Por meio de maior uso de resseguro; ••Redesenho de produtos – Inclusão de maior transferência de risco para os segurados; ••Redução do risco de crédito – Maior alocação de ativos conservadores. 97 As transformações do pós-crise elevam o grau de complexidade no ambiente global de negócios e criam novos e maiores desafios. Mas é importante destacar que as companhias podem transformar as dificuldades em oportunidades, ou seja, as empresas precisam incorporar agilidade e inovação em suas culturas corporativas e desenvolver estruturas flexíveis para gerenciar as demandas dos mercados (no quadro da página ao lado, estão indicados alguns geradores de complexidade e de oportunidade para as empresas do setor). Diante de tantos desafios, a indústria de seguros naturalmente se movimenta para uma consolidação. Esse processo já está em andamento há alguns anos, tendo havido uma aceleração principalmente nestes últimos dois anos, em razão dos requerimentos adicionais de capital exigidos. O mercado ainda aguarda a divulgação dos novos requerimentos de capital para os riscos de mercado e operacional, que pressionarão ainda mais a rentabilidade das seguradoras, com amplas repercussões nas demais cadeias de valor do mercado de seguros. “(...) as empresas precisam incorporar agilidade e inovação em suas culturas corporativas e desenvolver estruturas flexíveis para gerenciar as demandas dos mercados.” 98 O que é preciso para vencer Graças aos sólidos fundamentos da economia, ao crescimento do consumo e aos megaeventos esportivos que estão por vir, o volume de investimentos estrangeiros no Brasil vem crescendo vigorosamente. O excesso de liquidez do sistema financeiro internacional, principalmente de 2001 a 2008, propiciou a crise, mas, por outro lado inseriu na economia mundial milhões de novos consumidores ávidos por consumir – processo conhecido e verificado em vários países pela ascensão de milhões de pessoas à classe média. Essa nova conjuntura internacional criou uma demanda crescente por alimentos e recursos minerais, beneficiando, sobretudo, a economia brasileira, altamente competitiva nesses dois setores. Tem de se destacar o bônus previdenciário altamente positivo para ajudar o crescimento da poupança interna para sustentar os investimentos necessários para superar os gargalos econômicos representados pela inadequada infraestrutura brasileira, que demandarão altos investimentos em construção e reformas de portos, aeroportos, estradas, redes de saneamento público, escolas, hospitais, etc. A ascensão de 30 milhões de pessoas à classe média brasileira aumentará o nível crítico e político da sociedade, demandando melhores serviços e produtos de todas as instituições públicas e privadas. No setor de seguros, não são somente as oportunidades de novos negócios a incrementar o crescimento do mercado. O grande fator de incremento e sofisticação dos produtos é a cultura de seguros, cuja principal consequência é o aumento das exigências de produtos mais sofisticados, de melhor qualidade, a preços mais competitivos. A busca de novos canais de distribuição exigirá das seguradoras e corretoras maior agilidade no emprego de novas tecnologias, como meios de relacionamento, como as mídias sociais e grupos de afinidades. Muitos corretores, já reagindo a essa realidade, estão agindo como integradores, aliando-se a seguradoras para lançar produtos via internet. Percebe-se que vencer essa dinâmica que se vislumbra no mercado exige das seguradoras capacidade de reação com agilidade e estratégia – agilidade no posicionamento estratégico com vistas à redução de custos e agilidade na oferta de produtos, associada à qualidade e à incorporação de novos serviços ao seguro, que superem as expectativas dos consumidores. A estratégia deverá sempre obedecer às exigências cada vez maiores dos segurados, que estão ávidos em manter sua renda e os bens conquistados com os novos ventos da economia brasileira, com novos serviços incorporados à sua apólice de seguros, no intuito de encantá-los na aquisição de sua proteção securitária. Entraves e perspectivas Fatores internos que geram mais complexidade para competir: ••Regulamentação; ••Gestão da informação; ••Crescimento da velocidade da informação; ••Política tributária; ••Expansão geográfica; ••Fusões e aquisições; ••Burocracia. Oportunidades a explorar no novo cenário: ••Ganhar vantagem competitiva; ••Criar estratégias novas e melhores; ••Desenvolver novos mercados; ••Tornar a empresa mais eficaz; ••Criar novos produtos; ••Focar a estratégia de negócios atual; ••Aprimorar a governança corporativa. Para atingir esses objetivos, haverá de ser superado mais um desafio, a escassez de mão de obra qualificada. Investimentos nos recursos humanos das seguradoras com vistas a suprir carências estruturais de formação dos colaboradores são uma prioridade. A nova dinâmica da indústria de seguros, impulsionada pelo crescimento da economia, levará o setor a dobrar a sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos e a busca do crescimento pelas seguradoras será acompanhada pelos esforços em eficiência e mitigação de riscos para o desenvolvimento com a segurança exigida pelos órgãos reguladores. 99 O risco que vira oportunidade A competição no setor de seguros está ligada à capacidade de mensurar e analisar o risco, a fim de vislumbrar novas possibilidades. Na busca pela competitividade, alguns fatores merecem tratamento especial: de pessoas a processos internos, de parcerias a novos concorrentes. “ N enhum risco é tão ruim que não possa ser precificado e aceito.” Esta é uma frase de efeito que coloca em questão o fato de que, por vezes, algumas seguradoras recusam o risco por simplesmente considerá-lo ruim. Não verificam como um risco ruim, independentemente de qual seja, pode ser transformado em um risco aceitável. Isso deve ser entendido como parte de uma reflexão sobre competitividade – de como algumas seguradoras, por sua vez, assumem riscos considerados inaceitáveis e conseguem transformá-los, a fim de obter lucro. A competição baseia-se no ato de disputar algo, enxergar o que outros não enxergam; é estar à frente em situações que só alguns veem como oportunidade. Dentro do setor de seguros, atrelado à competitividade, 100 está o risco. Risco este que tem de ser mensurado e analisado em todos os aspectos de interesse. Mas, afinal, como criar competitividade nesse setor? Existem alguns fatores que devem ser considerados como elementos-chave para assegurar a competitividade em seguros. Pessoas, pessoas e pessoas Este é um dos fatores preponderantes para garantir que sejam trazidos negócios e apólices importantes para a empresa. A competitividade está ligada aos números do negócio, tudo é medido com base neles. Mas não há como não falar nesse termo sem ter em mente que tudo começa e se perpetua pela ação das pessoas. Ao falarmos em pessoas, existem algumas características inseparáveis: liderança, competência e ousadia. Para ser líder, é preciso ter carisma e, se ele Por Duarte Marinho Vieira Superintendente técnico atuarial da MAPFRE Seguros e professor de Ciências Atuariais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) for competente, está intrínseco que ele busca a liderança no segmento em que atua. Competir é sinônimo de vida diária e, para ser competitivo, tem de ser ousado. Ousado em inovar; ousado em acreditar no novo. Processos internos Uma empresa bem gerida tem em seu bojo a organização de seus processos e, entre estes, estão o controle e o conhecimento da base de dados. Um controle efetivo, bem exercido, pode aumentar a produção, por exemplo, a partir do exame de seus clientes, verificando possíveis produtos que poderão ser ofertados pela sinergia encontrada. Parcerias Uma empresa é dependente de parcerias para distribuição e representação de seus produtos. Sem essas parcerias, não existe a possibilidade de se alcançar o topo do ranking do mercado. Antigamente, o sinônimo de distribuição era o corretor de seguros. Em muitas das seguradoras, persiste a distribuição exclusiva. Hoje, para se ter e alcançar a liderança em prêmios (contribuições), é necessário contar com um leque de distribuidores dos produtos, que são, por vezes, comercializados em lugares nunca antes pensados. Apólices de seguros estão sendo vendidas em lojas de varejo, concessionárias, igrejas – ou seja, onde houver pessoas, poderão ser comercializados seguros. Para cada local, existe um tipo de seguro específico e dependente do público-alvo. Muitas seguradoras já perceberam a rentabilidade imediata desses pontos de venda, e isso está acirrando a concorrência entre elas – concorrência que, por vezes, 101 ganha pela diferença de remuneração paga ao estipulante. Esse quesito, porém, como qualquer outro, não é a razão exclusiva de se ganhar uma concorrência, pois a conquista depende também de como e por quem foi negociado o contrato. A busca pela perfeição no atendimento e nos benefícios trazidos por uma parceria, visualizando não apenas o presente, mas as perspectivas, torna difícil que essa empresa perca um negócio. Definição da área de atuação A seguradora, para ser competitiva, tem de decidir em qual ramo de atuação distribuirá os seus produtos, pois ter vários produtos requer mais pessoas, implicando aumento de custo fixo, não havendo, necessariamente, elevação do prêmio e da contribuição. Se não houver planejamento adequado, o produto poderá não ser entregue no prazo esperado pelo cliente, que é exigente. O combinado não é caro, e deve ser cumprido. “Competir é sinônimo de vida diária e, para ser competitivo, tem de ser ousado. Ousado em inovar; ousado em acreditar no novo.” 102 A seguradora, para se tornar competitiva, tem de ser expert naquilo que coloca no mercado. A expansão dos ramos de comercialização dar-se-á com o crescimento natural da companhia, com a dependência direta da matriz, determinando o quanto quer crescer e obter lucro, pois, para expandir, existe a obrigatoriedade de se colocar capital, já que não existe crescimento sem o chamado “ativo garantidor”. Esse ativo é uma garantia alocada ao negócio, ou seja, a seguradora assume um risco, e este risco, na sua ocorrência, é garantido o pagamento, por força legal, se coberto. Ameaças Pensar em ser líder, ser competitivo, estar à frente, ser inovador – tudo isso é importante para se levar a empresa muito adiante. Porém, existe, além dos concorrentes, que já são conhecidos, o perigo da entrada de novos concorrentes. É preciso estar atento a estes, entender quem são, identificar o nível de atuação e estar sintonizado aos movimentos de loucura voraz pela angariação de novos clientes a qualquer preço. E isso traz uma lição – é necessário refletir quanto tempo dura essa loucura ou quanto tempo continuaremos suficientemente lúcidos para também não cometer loucuras iguais, por não pensar adequadamente. Pode-se ganhar muito em um momento, mascarando perdas futuras. Tudo é tempo. Decisões e reflexões têm de ser rápidas. Um momento, e o tempo voa. 103 A Deloitte agradece a todas as empresas e instituições aqui representadas por seus executivos por terem tornado possível a realização desta coletânea de artigos. Juarez Lopes de Araújo Presidente da Deloitte Clodomir Félix Líder da Deloitte no Brasil para a indústria financeira 105 106 107 Ao concluir seu primeiro século de atuação no Brasil, a Deloitte reuniu um grupo de renomadas personalidades do mercado segurador com o objetivo de expor, em uma única publicação, as questões mais importantes para o desenvolvimento desse setor. Com o apoio de articulistas que representam empresas privadas, instituições públicas e a própria Deloitte, as páginas de “A indústria de seguros no Brasil – Transformação e crescimento em um país de oportunidades” revelam a dinâmica de um setor complexo e que vivencia forte crescimento no País, inserido num cenário de mudanças significativas em todo o mundo. Uma leitura indispensável para quem acompanha e participa dos avanços de toda a indústria brasileira de serviços financeiros.