O TRABALHADOR DO COMÉRCIO: CARACTERÍSTICAS E PARTICULARIDADES 1 Mardônio de Oliveira Costa O TRABALHADOR DO COMÉRCIO: CARACTERÍSTICAS E PARTICULARIDADES Instituto de Desenvolvimento do Trabalho Fortaleza 2013 1 Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social Decreto Estadual nº 25.019, de 03/07/98. Análise e Redação Mardônio de Oliveira Costa Apoio Técnico Arlete da Cunha de Oliveira Diorgia Maria Dias de Carvalho Editoração eletrônica e layout Clayton Queiroz de Oliveira Revisão Regina Helena Moreira Campelo C837e Costa, Mardônio de Oliveira. O Trabalhador do Comércio: Características e Particularidades / Mardônio de Oliveira Costa. – Fortaleza: IDT, 2013. 99 p. 1. Mercado de Trabalho. 2. Comércio I. Título CDD: 331.1 Correspondências para: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT Av. da Universidade, 2596 - Benfica CEP 60.020-180 Fortaleza-CE Fone: (085) 3101-5500 Endereço eletrônico: [email protected] 2 Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) Francisco de Assis Diniz Presidente Antônio Gilvan Mendes de Oliveira Diretor de Promoção do Trabalho Sônia Maria de Melo Viana Diretora Administrativo-Financeira Francisco Assis Papito de Oliveira Diretor de Estudos e Pesquisas 3 4 SUMÁRIO 1 Introdução 07 2 A Relevância do Comércio para o Mercado de Trabalho 16 3 O perfil do comerciário 27 4 Tempo de permanência no emprego ou negócio 40 5 Caracterização dos grupos ocupacionais 53 6 A extensão da jornada de trabalho no comércio 60 7 Perfil das remunerações do trabalho no comércio 65 8 Sinalizações para a qualificação profissional no comércio 81 9 O perfil dos desempregados do comércio 90 REFERÊNCIAS 98 5 6 1 INTRODUÇÃO As economias brasileira e cearense apresentaram bom desempenho nos últimos anos, registrando taxas de crescimento positivas, exceto em 2009. O ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Ceará superou o nacional em sete dos últimos dez anos, até 2012 (Gráfico 1), um sinalizador do fortalecimento e da crescente dinâmica da economia estadual, elevando sua participação no PIB nacional de 1,90%, em 2004/2005, para aproximadamente 2,03%, no biênio 2009/2010, alcançando a marca de 2,07%, em 2011. Destaque-se que, mesmo após ter crescido expressivos 7,9%, em 2010, a economia cearense cresceu 4,3%, em 2011, superando o desempenho do PIB nacional em 1,6 ponto percentual, com um PIB de R$ 85,6 bilhões, a preços de mercado. Para 2012, enquanto o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) estimava que a economia cearense cresceria entre 3,5% e 4,5%, diversas instituições, inclusive o Banco Central do Brasil, estimavam que o PIB brasileiro deveria crescer aproximadamente 1%. De fato, o PIB cearense cresceu 3,65% e o nacional apenas 0,90%, em 2012. Segundo o mesmo Instituto, para 2013, previsão é de que a economia cearense cresça aproximadamente 4,0% a brasileira, segundo o Banco Central, algo em torno de 2,7%, mais um ano em que a taxa de crescimento da economia do Ceará ultrapassará a taxa nacional. Gráfico 1 – Taxas de crescimento do PIB a preços de mercado (Em %) Brasil e Ceará – 2003 - 2012 9,00 8,49 8,02 8,00 7,90 7,50 7,00 6,09 6,00 5,71 5,15 5,00 5,16 4,30 4,00 3,96 3,65 3,34 3,16 2,81 3,00 2,70 2,00 1,00 1,47 1,15 0,90 0,00 2003 2004 2005 2006 2007 2008 0,04 2009-0,332010 2011 2012 -1,00 Fonte: IBGE e IPECE. Brasil Ceará Fonte: IBGE e IPECE (Elaboração própria do autor). 7 Por seu turno, a atividade comercial tem significativa relevância para a economia cearense, tanto na formação do seu PIB quanto na geração de oportunidades de trabalho, além de contribuir, de forma robusta, para a elevação da arrecadação de impostos1. Nos anos de 2004 a 2009, a participação do setor de serviços no PIB estadual apresentou crescimento - de 67,8% (2004) para 70,4% (2009). Nesse ínterim, apenas três ramos lograram participações crescentes, dentre eles, o ramo de comércio e serviços de manutenção e reparação, com crescimento contínuo em 2004/2008 e representações na economia do estado que evoluíram de 12,3% (2004) para 14,4% (2009). Nesse último ano, o PIB do setor de serviços cresceu 5,6% e o das atividades de comércio e serviços de manutenção e reparação, 10,9%. Adicionalmente, considerando as taxas de crescimento trimestrais do comércio no Ceará, segundo o IBGE/IPECE, o citado setor registrou taxas positivas, embora em queda, nos três primeiros trimestres de 2011. As taxas foram de 10,5%, 6,8% e 4,3%, respectivamente, totalizando um crescimento de 8,3%, no período de janeiro a setembro de 2011, enquanto o setor de serviços como um todo cresceu apenas 4,3%, ou seja, o comércio cresceu com uma intensidade duas vezes maior e, dentre as diversas atividades do setor de serviços, a atividade comercial foi, de longe, a que cresceu mais rapidamente. Em termos anuais, os serviços cresceram 4,9%, em 2011, e 5,8%, em 2012, e o comércio 7,4% e 8,0%, respectivamente. De fato, o comércio é uma atividade que se expandiu, nos últimos anos, de forma continuada, quer em termos de volume de vendas ou de faturamento, em decorrência de fatores diversos, tais quais: redução da pobreza/desigualdade, política de valorização do salário mínimo, crescimento do emprego, redução da taxa básica de juros, ampliação da massa de rendimento do trabalho, reforço do crédito, incentivos fiscais e tributários, ganhos reais de salário, etc. As políticas redistributivas e de crescimento com inclusão social implementadas no Brasil, nos últimos anos, têm fomentado um robusto consumo interno, o qual tem sustentado o crescimento da economia nacional, nesses anos de turbulência. Na realidade, o Brasil e o Ceará apresentaram crescimento tanto no volume de vendas como na receita nominal de vendas, nos anos de 2004 a 2012, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio 1 Segundo a Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, a arrecadação estadual do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cresceu de R$ 217,6 (jan/2011) para R$ 256,4 milhões (jan/2012), um incremento de 17,84%. Nos doze meses até janeiro de 2012, o crescimento foi de 14,33%. 8 (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Números da PMC também demonstram que os indicadores do Ceará superaram os nacionais, em termos relativos, nos últimos quatro anos, tanto em termos de volume de vendas quanto de receita nominal das vendas, retratando a força e a dinâmica do varejo estadual (Gráfico 2). Gráfico 2 – Variações anuais do volume de vendas e da receita nominal de vendas no comércio varejista - Estado do Ceará - 2004 – 2012 (Em %) 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 2004 2005 Fonte: IBGE - PMC. 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Brasil Vendas Brasil Faturam ento Ceará Vendas Ceará Faturam ento Fonte: IBGE – PMC (Elaboração própria do autor). Oportuno destacar que, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) (2012), enquanto no Brasil a participação do rendimento do trabalho na renda nacional caiu de 48,0% (1995) para 43,4% (2009), na Região Nordeste, esta relação passou de 14,5% para 16,1%. Efetivamente, este incremento ocorreu somente nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste. No Ceará, a citada participação variou de 2,2% (1995) para 2,5% (2009), com crescimento contínuo na participação do rendimento do trabalho na renda nacional, durante os anos selecionados, o que fortalece o mercado consumidor estadual. Ademais, 9 [...] é necessário reconhecer que a redução da taxa de desemprego a níveis historicamente baixos e a elevação dos rendimentos reais são sinais de mudanças expressivas ocorridas no nosso país nos últimos anos. O fortalecimento do mercado interno decorrente dessa expansão da massa dos rendimentos do trabalho tem sido o elemento-chave para o crescimento brasileiro em meio à crise econômica internacional que vem se agravando desde 2007 (IPEA, 2012b, p.5). No que concerne ao fortalecimento do mercado interno no Ceará, via redução do desemprego e crescimento da massa salarial, esta realidade é também constatada na região metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo números da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED/RMF)2. Particularmente, no quadriênio 2009/2012, são notórias a redução da taxa de desemprego (-21,9%), a ampliação do nível ocupacional (9,6%), especialmente com registro em carteira, e o incremento da massa de rendimentos reais dos ocupados (18%), indicadores que potencializam a ampliação do mercado consumidor local, sem mencionar a entrada na economia estadual dos recursos oriundos dos programas de transferências de renda do governo federal e do seguro-desemprego, este com um aporte de recursos da ordem de R$ 422 milhões, em 2011, cifra que foi quase duplicada para R$ 802 milhões, em 2012. A dinâmica da atividade comercial no estado também pode ser percebida a partir do movimento nos supermercados e shoppings, na presença de grandes grupos varejistas nacionais/estrangeiros (operadores globais) no mercado cearense, na inauguração de novos hiper/supermercados e construção/ampliação de novos shoppings centers no estado, especialmente em regiões pouco exploradas de Fortaleza. Um exemplo de tal fato é a construção do North Shopping Parangaba, cuja construção deve ter gerado 2 mil empregos diretos e outros 4 mil indiretos, segundo projeções de seus idealizadores. A expectativa era que as 220 lojas do empreendimento gerassem outras 1,5 mil vagas, segundo a Ancar Ivanhoe Shopping Centers3. Ademais, segundo o último censo realizado pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), a indústria de shopping centers dispõe atualmente de 161 estabelecimentos distribuídos nas regiões Norte e Nordeste do país. Desse total, 28 estão localizados no Estado do Ceará, estado que assume a segunda posição no 2 Pesquisa realizada por meio do Convênio IDT/Sine-CE, STDS, Fundação Seade-Dieese e MTE/FAT, na região metropolitana de Fortaleza, com periodicidade mensal. 3 Fonte: Diário do Nordeste, edição de 7/2/2012. 10 ranking do Norte/Nordeste, atrás apenas da Bahia, com 47 estabelecimentos. Desses 28 shoppings cearenses, 24 estão situados na região metropolitana de Fortaleza e, segundo Abílio do Carmo (Alshop), com as expansões e inaugurações previstas para 2013, os shoppings de Fortaleza deverão registrar crescimento de 14% nas vendas, em relação ao ano passado. Para ele, a capital cearense está prestes a ser o primeiro palco de um novo “boom” do setor em todo o Ceará, na medida em que Fortaleza passa por um período de expansão, só que, dessa vez, focado na classe C emergente e nos bairros pouco explorados por grandes centros de compras4. Ademais, destaque-se também a quinta loja Extra Hipermercado (Extra Hiper Mister Hull), do grupo Pão de Açúcar, em Fortaleza, assim como o Hiper Bompreço Fátima (Grupo Walmart), a terceira loja das Casas Bahia, empreendimentos inaugurados recentemente, além dos investimentos na construção de mais quatro shopping centers em Fortaleza, na modernização das lojas e ampliação dos serviços e produtos aos clientes, dentre outros. Falando em supermercados, a inauguração de novas lojas, associada ao aumento do poder de compra da população, fez com que as vendas no segmento de hiper e supermercados apresentassem um dos melhores desempenhos no Ceará, em 2012, com incremento anual de 7,4% nas vendas, segundo a PMC. Ademais, conforme o novo presidente da Associação Cearense de Supermercados (ACESU), Severino Ramalho Neto, um dos setores de maior expansão no Ceará, nos últimos anos, crescendo a taxas médias de 7% a 8% ao ano, o setor de supermercados já representa algo em torno de 10% do PIB cearense. O volume de riqueza gerado no setor supermercadista já alcança a cifra de R$ 9,4 bilhões5. Além do mais, não se pode deixar de considerar que os processos automatizados, condição indispensável para a sobrevivência das empresas em um mercado globalizado, a presença cada vez mais marcante da informática, das mídias sociais, do comércio eletrônico e a adoção de novas tecnologias e formas de gestão mais modernas utilizadas pelos estabelecimentos comerciais, visando melhorar a competitividade das empresas varejistas, assim como a chegada de grandes grupos 4 Jornal Diário do Nordeste – 07/03/2013. “Fortaleza vive um novo “boom” de shoppings”. Jornal Diário do Nordeste – 18/01/2013. “Supermercados representam 10% do PIB cearense, diz Acesu.” 5 11 varejistas nacionais/estrangeiros no mercado cearense, acirrando a concorrência, demandam um novo perfil de profissional para o setor. Não obstante, em estudo sobre a oferta de mão de obra qualificada nos estados brasileiros para 2011, com base em números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) e da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) demonstrou que, no Ceará, o setor do comércio e reparação apresentava um déficit de mão de obra qualificada de 1.768 trabalhadores, dadas as estimativas de mão de obra com qualificação e experiência profissional (172.586 profissionais) e da demanda efetiva de mão de obra do setor (174.354 profissionais), em 2011, uma sinalização da carência de mão de obra qualificada e com experiência profissional no varejo cearense (IPEA, 2011). Mais precisamente, no Estado do Ceará e no ano em apreço, comércio e reparação foi o único setor econômico que apresentava problemas de contratação de trabalhadores qualificados, segundo o estudo do IPEA. Por outro lado, segundo números do IBGE/IPECE, como já mencionado, o crescimento da economia cearense foi de 4,3%, em 2011, com o PIB estadual, a preços de mercado, alcançando a cifra de R$ 85,6 bilhões. Para 2012, as previsões iniciais eram ainda mais favoráveis, com o PIB cearense crescendo a uma taxa de cerca de 5,0%, na medida em que o conjunto de investimentos públicos, que estão sendo realizados no Ceará nos últimos anos, vem garantindo uma dinâmica própria na economia, acelerando nosso crescimento, por vezes acima da média nacional (IPECE, 2011a). Concretamente, a economia cearense cresceu 3,65%, com um PIB estimado em R$ 94,6 bilhões, no citado ano. Ainda assim, fato é que a crise econômica internacional, especialmente nas economias da União Européia, acompanhada do ínfimo crescimento da economia norte-americana, tem influenciado negativamente o desempenho da economia brasileira, pois as projeções de crescimento do PIB nacional para 2012 têm sido rebaixadas a cada previsão feita por instituições diversas. Ressalte-se que, na primeira semana de julho de 2012, a estimativa do Banco Central para a expansão da economia brasileira, no mesmo ano, segundo a Pesquisa Focus, após reduções ao longo de oito semanas consecutivas, estava em 2,05%. Na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, de 10 de outubro de 2012, segundo analistas financeiros consultados pelo Banco 12 Central, o crescimento do PIB brasileiro seria da ordem de 1,54%, no mesmo ano, e de 4%, em 2013. A previsão oficial do BC, expressa no Relatório Focus, em 28 de dezembro de 2012, foi de um crescimento de 0,98%, para 2012. Em síntese, parece ter havido uma convergência de instituições diversas, nacionais e internacionais, de que a economia brasileira deverá crescer cerca de 1%, em 2012, o que de fato aconteceu. Essa continua queda do ritmo de atividade econômica nacional certamente influenciará o ritmo de crescimento da economia cearense em 2012, apesar da forte expansão dos investimentos do governo do estado. Se as previsões para 2013 se confirmarem, este será o oitavo ano em que o crescimento da economia cearense supera o resultado nacional, no período 2003/2013. Focando nas perspectivas para o varejo cearense, o IPECE destaca que Para 2012 as previsões relativas ao setor de serviços são positivas, ao se destacar as últimas medidas do Governo Federal direcionadas ao comércio, sobretudo, como a redução da taxa de juros, de impostos (IPI) incidentes nos produtos industriais, mas com rebatimento nas vendas comerciais, por atingir bens de amplo consumo interno, como a linha branca de produtos (geladeira, fogão e máquina de lavar), massas alimentícias e materiais de construção, o que impactará positivamente nas vendas desses. (IPECE, 2011a, p.16). E na opinião da Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza (CDL), [...] as condições estruturais revelam um grande leque de oportunidades de negócios. As economias brasileira e cearense atravessam uma onda de progresso com distribuição de renda, reconstruindo o mercado interno, inspirando uma perspectiva de crescimento permanente do consumo agregado. [...] Portanto, com juros em queda, estimulando o consumo interno e os investimentos, a inflação declinante e o consumo agregado aquecido, dificilmente a economia brasileira deixará de apresentar uma performance positiva. (CÂMARA..., 2012, p.11). Portanto, diante do impacto da atividade comercial na economia do estado, da dinâmica atual do setor, com boas perspectivas de se manter em expansão nos próximos anos, das transformações pelas quais a gestão das empresas varejistas tem passado, das exigências para a sobrevivência dos negócios em uma economia cada vez mais globalizada, da necessidade de mão de obra qualificada e com experiência profissional, dentre outros, o presente estudo objetiva delinear, de forma detalhada, o perfil do trabalhador do comércio da RMF, propiciando aos órgãos representativos do setor, muito particularmente à Câmara de Dirigentes Lojistas de Fortaleza, 13 implementar, em bases mais concretas, estratégias para melhor adequar oferta e demanda de trabalho no setor, fomentando a maior lucratividade e longevidade das empresas comerciais locais. Justifica-se a opção pela RMF em face de sua relevância tanto econômica quanto populacional no Ceará, consequentemente uma área bastante representativa do comércio cearense. Além disso, a abrangência geográfica da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED/RMF) contempla apenas a citada área metropolitana. Segundo o Censo de 2010, o Estado do Ceará tinha uma população de 8,45 milhões de habitantes, dos quais 3,62 milhões residentes na RMF. Assim, a RMF elevou sua representação de 41,14% (2000) para 42,78% (2010) da população estadual. Deve-se ainda salientar que, segundo estudo do IPEA, baseado nos dados do Censo 2010, dentre as nove maiores regiões metropolitanas do país, a Grande Fortaleza é a que apresentou a maior taxa de crescimento de sua população entre os anos de 2000 e 2010. Passou de uma população de pouco mais de 3,0 milhões para 3,6 milhões de habitantes, com um crescimento populacional de 1,68% ao ano, superando, por exemplo, São Paulo (0,96%), Rio de Janeiro (0,67%), Recife (1,00%) e Salvador (1,37%), o que eleva sua importância como mercado de consumo. Este aumento foi devido ao crescimento populacional das cidades integrantes da área metropolitana e não da cidade-sede Fortaleza. Além do mais, a RMF responde por aproximadamente 63% do PIB cearense e, no ano de 2011, foram contabilizados quase 56 mil estabelecimentos (66,3%) e um estoque de emprego formal de 915 mil vínculos (65,0%) na região, segundo números da RAIS de 2011. Adicionalmente, 58,4% dos estabelecimentos comerciais e 71,6% do emprego do comércio do estado localizavam-se na RMF, em 2011. Quanto à sua estrutura, este estudo foi planejado de forma a oferecer um perfil detalhado da força de trabalho ocupada no comércio da RMF. Assim, ele é constituído de vários módulos. Além dessa introdução, o segundo módulo destaca a relevância do comércio como gerador de oportunidades de trabalho e renda no mercado de trabalho local, particularmente do emprego com carteira assinada. Em seguida, trata-se do delineamento do perfil dos (as) comerciários (as) segundo variáveis diversas (sexo, idade, escolaridade, média de anos de estudo, situação de estudo, tempo de permanência no emprego ou negócio, forma de inserção no mercado de trabalho, nível de formalização do trabalho e previdência social e grupos 14 ocupacionais). Os cinco módulos na sequência tratam de temáticas bem específicas, quais sejam: tempo de permanência no trabalho ou emprego, extensão da jornada de trabalho do setor, nível de remuneração, sinalizações para a qualificação profissional e perfil dos desempregados do comércio. Por fim, o perfil do comerciário local será traçado a partir de duas principais fontes de informação, sendo a primeira a Relação Anual de Informações Sociais, do Ministério do Trabalho e Emprego, atinente aos números sobre o emprego formal fornecidos pelas próprias empresas varejistas, e a segunda a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), pesquisa domiciliar realizada mensalmente na RMF, desde 2009, pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), conforme metodologia desenvolvida pela Fundação Seade e o Dieese de São Paulo, com base no Convênio IDT/Sine/Ce, STDS, Fundação Seade/Dieese e MTE/FAT. Este levantamento contempla o mercado de trabalho como um todo, envolvendo as relações formais e informais de trabalho, com uma amostra mensal realizada de aproximadamente 1,9 mil domicílios e cerca de 6 mil pessoas investigadas/mês, de onde serão, de fato, extraídos os números inerentes ao perfil do comerciário, com os dados mensais acumulados para os anos de 2009 e 2011. 15 2 A RELEVÂNCIA DO COMÉRCIO PARA O MERCADO DE TRABALHO A Pesquisa Anual do Comércio, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, objetiva o levantamento de um acervo de informações econômico-financeiras que permitem estimar as características estruturais básicas do setor do comércio nacional e acompanhar sua evolução ao longo do tempo. Dentre as variáveis trabalhadas, destacam-se: receitas, despesas, pessoal ocupado, salários, retiradas e outras remunerações, compras, estoques e margem de comercialização, entre outras, segundo o próprio IBGE. Os levantamentos de 2008, 2009 e 2010 ratificam que a atividade comercial se expandiu no país, reforçando sua importância para as economias estaduais, muito particularmente na economia do Estado do Ceará. Eles também revelam que o comércio cearense ocupa a terceira posição dentre os estados do Nordeste, atrás apenas da Bahia e de Pernambuco. No Ceará, o comércio varejista é o principal segmento, posto que gerou 67,4% dos salários, retiradas e outras remunerações (R$ 1,6 bilhão), foi responsável por 78,3% do pessoal ocupado em empresas comerciais no estado (206,8 mil) e por metade da receita bruta de revenda de mercadorias (R$ 25,4 bilhões), no ano de 2010. Conforme a citada pesquisa, no Estado do Ceará, o número de unidades locais com receita de revenda alcançou a marca de 62,7 mil unidades, em 2010, diante das 60,1 mil do ano anterior, empregando cerca de 264,1 mil pessoas em empresas comerciais, um incremento de 15,6% relativamente a 2009, quando o setor empregava 228,4 mil pessoas. O crescimento do emprego no comércio, em 2010, foi quase o dobro do observado em 2009, quando o pessoal ocupado cresceu 8,1%, relativamente ao ano anterior. Os gastos com salários, retiradas e outras remunerações em empresas comerciais cearenses evoluíram de R$ 1,9 (2009) para R$ 2,3 bilhões (2010) – crescimento de 26,5% -, enquanto as margens de comercialização passaram de R$ 7,3 para R$ 9,9 bilhões (35,0%), no mesmo biênio. Complementarmente, a receita bruta de revenda de mercadorias cresceu 25,1%, bem mais do que havia crescido em 2009 (15,3%), ao passar de R$ 40,2 para R$ 50,3 bilhões, em 2009 – 2010, números que ratificam o aquecimento do ritmo de atividade econômica do comércio cearense, crescimento que foi mais vigoroso em 2010 do 16 que em 2009, conforme os números já citados (Tabela 1). O maior vigor da atividade comercial remete à constatação de que: Estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da Federação do Comércio (Fecomércio) prevêem que o movimento de ascensão das classes D e E vai continuar por pelo menos oito anos – a classe C, ou classe média, já representa 50,5% da população do país. Este é um novo dado que deverá ser considerado pelos governos na adoção de políticas públicas. Além disso, é um fator extremamente relevante para o planejamento, o marketing e os estudos sociais. [...] A nova situação da maioria da população brasileira, ou seja, 95 milhões de brasileiros que se localizam na classe média, faz com que existam perspectivas de crescimento sustentável para o Brasil, com menor dependência da situação econômica externa. 6 Para 2012, o estudo IPC Maps, da IPC Marketing Editora Ltda.7, calcula que as despesas das famílias devem alcançar a cifra de R$ 75,2 bilhões no Ceará, com crescimento de quase R$ 6 bilhões na comparação com 2011 (8,7%), embora com expansão inferior à média nacional (11%). Dessa forma, o Ceará apresentará pequena redução na participação do consumo estadual no potencial de consumo brasileiro para 2,76%, em 2012, ocupando a décima colocação no ranking nacional, a mesma posição de 2011. Quanto a Fortaleza, a estimativa do potencial de consumo de suas famílias foi ampliada de R$ 29,9 (2011) para R$ 34,4 bilhões (2012), elevação de R$ 4,5 bilhões (15,0%), superando o resultado nacional. Assim sendo, a participação de Fortaleza no potencial de consumo do país variará de 1,22%, em 2011, para 1,26%, em 2012, mantendo-se como a oitava cidade no ranking nacional, em termos de potencial de consumo. Das capitais nordestinas, apenas Salvador está a sua frente, com um potencial de consumo estimado em R$ 41,1 bilhões em 2012, segundo o citado estudo. A estimativa para o ano de 2013, segundo a mesma fonte, é de que o potencial de consumo dos cearenses deverá ultrapassar a faixa dos R$ 84,2 bilhões. 6 Da Luz, Guilherme. Um novo consumidor e cidadão: o poder da classe média brasileira. Junho de 2012. Acesso em http://dinheirama.com/ - Dinheirama.com – Artigos do dia. 7 Acesso em http://www.ipcbr.com/imprensa - IPC Maps 2012. 17 Tabela 1 - Indicadores da atividade comercial – Ceará -2008 - 2010 Indicadores 2008 2009 2010 Número de unidades locais com receita de 55.939 60.124 62.749 revenda Pessoal ocupado em 31/12 em empresas 211.370 228.405 264.061 comerciais Gastos com salários, retiradas e outras R$ 1,5 bilhão R$ 1,9 bilhão R$ 2,3 bilhões remunerações em empresas comerciais Margem de comercialização em empresas R$ 5,7 bilhões R$ 7,3 bilhões R$ 9,9 bilhões comerciais1 Receita bruta de revenda de mercadorias R$ 34,9 bilhões R$ 40,2 bilhões R$ 50,3 bilhões Fonte: IBGE - Pesquisa Anual do Comércio. Nota: (1) A margem de comercialização é calculada pela diferença entre a receita líquida de revenda das mercadorias e o seu custo de aquisição. Refere-se ao resultado obtido pelo esforço de venda de mercadorias, deduzidos os custos de aquisição das mercadorias pelas empresas, conforme conceituação utilizada pelo IBGE. Por esse e outros motivos, a atividade comercial mostra-se uma relevante fonte geradora de emprego no estado, tanto no que concerne ao trabalho assalariado quanto por conta própria, conforme ilustram os números a seguir. De acordo com estatísticas da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), registro administrativo do Ministério do Trabalho e Emprego, o número de estabelecimentos comerciais no Estado do Ceará evoluiu de 24.970 (2004) para 39.292 (2011) (57,4%). No mesmo interstício, ainda em termos estaduais, o total de empregos formais no comércio passou de 122.284 para 230.755 (88,7%). Em outras palavras, se em 2004 a atividade comercial no Ceará respondia por 14,2% do estoque de emprego formal do estado, esta foi elevada para 16,4%, em 2011. Quanto à sua participação no número de estabelecimentos do estado, o setor detinha representações de 45,6%, em 2004, e de 46,7%, em 2011. Referindo-se à região metropolitana de Fortaleza (RMF), ela concentrava cerca de 72% do estoque de emprego formal do comércio do Ceará e era responsável por quase 59% dos estabelecimentos comerciais cearenses, em 2011. Nesse ano, aproximadamente 165 mil empregados e 22,9 mil estabelecimentos comerciais do estado declarantes da RAIS estavam localizados na região, o que qualifica a RMF como uma área bastante representativa do comércio cearense (Tabela 2). 18 Tabela 2 – Estoque de emprego e número de estabelecimentos no comércio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2004 - 2011 Estoque de emprego Número de estabelecimentos Ano Participação Participação Absoluto Absoluto relativa1 relativa1 (%) 2004 90.806 74,26 15.418 61,75 2005 98.209 73,65 16.062 61,19 2006 103.891 73,56 16.904 60,67 2007 114.584 73,68 17.805 60,37 2008 124.308 73,17 18.987 60,21 2009 134.845 72,68 20.310 60,12 2010 149.988 71,58 21.733 59,25 2011 165.154 71,57 22.948 58,40 Fonte: MTE/RAIS. Nota: (1) Expressa a participação relativa da RMF no total estadual, tanto do estoque de empregados do comércio quanto dos estabelecimentos comerciais. Retratando a dinâmica e o fortalecimento da atividade comercial da RMF e seu impacto no mercado de trabalho local, verifica-se que, entre os anos de 2004 e 2011, tanto o estoque de emprego formal quanto o número de estabelecimentos comerciais cresceram de forma contínua, ano a ano, com incrementos de 81,9% e 48,8%, respectivamente (Tabela 2). Os movimentos de geração de empregos no setor e de ampliação do número de estabelecimentos comerciais declarantes da RAIS culminaram com a elevação do número médio de empregados por estabelecimento comercial na RMF, o qual evoluiu de 5,9 para 7,2 empregados, nesses oito anos. Ademais, a participação do comércio no estoque de emprego formal da RMF variou de aproximadamente 15,8%, em 2004/2006, para algo próximo a 16,3%, em 2007/2010, alcançando 17,1%, em 2011, conforme Gráfico 3. Dessa forma, o comércio tem respondido por uma parcela ligeiramente maior do emprego formal da área metropolitana de Fortaleza, com um estoque de empregados da ordem de 165 mil pessoas, em 2011. 19 Gráfico 3 – Estoque anual de emprego formal total e do comércio Região Metropolitana de Fortaleza – 2004 - 2011 Fonte: MTE/RAIS (Elaboração própria do autor). Nesse ano, ao elevar o seu estoque de emprego formal para 165 mil empregados, o comércio adicionou 15,2 mil novos empregos formais ao mercado de trabalho da RMF. Mas onde esses empregos foram gerados: nas micro, pequenas, médias ou grandes empresas? É o que se investigará na sequência. Em 2011, a geração de empregos nos estabelecimentos comerciais da metrópole cearense não foi concentrada em determinados estabelecimentos. Muito pelo contrário, os novos empregos foram criados nos mais diversos estabelecimentos, embora em diferentes intensidades, conforme exposto na Tabela 3. Os estabelecimentos com 20 a 49 empregados contribuíram com 2.328 empregos (15,4%), aqueles com 50 a 99 colaboradores criaram 3.346 empregos (22,1%) e 3.554 novos empregos foram ofertados em estabelecimentos de 100 a 249 empregados (23,3%), para citar os de maior destaque. Em conformidade com essas participações relativas, os três tipos de estabelecimentos citados responderam por 60,8% do total de empregos formais gerados no comércio da RMF, em 2011, segundo a RAIS. 20 Tabela 3 – Estoque de emprego formal no comércio segundo estabelecimentos – Região Metropolitana de Fortaleza – 2010 - 2011 Tamanho do Variação Participação 2010 2011 estabelecimento Absoluta Relativa 1a4 24.523 25.963 1.440 9,5 5a9 25.228 26.179 951 6,3 10 a 19 23.581 25.175 1.594 10,5 20 a 49 27.901 30.229 2.328 15,4 50 a 99 16.148 19.494 3.346 22,1 100 a 249 23.320 26.874 3.554 23,3 250 a 499 8.526 9.372 846 5,6 500 a 999 761 1.868 1.107 7,3 Total 149.988 165.154 15.166 100,0 Fonte: MTE/RAIS (Elaboração própria do autor). Apesar da geração de empregos em todas as faixas, avaliando a velocidade de crescimento destes, segundo o tamanho dos estabelecimentos, conclui-se que foi nos estabelecimentos comerciais de 50 a 99 e de 100 a 249 empregados onde o ritmo de criação de empregos foi mais intenso, com taxas de crescimento de 20,7% e 15,2%, respectivamente, valores bem superiores à velocidade de crescimento do estoque de emprego formal do comércio da RMF, que cresceu 10,1%, em 2010/2011. Considerando ainda os números da Tabela 3 e as qualificações de micro (até 19 empregados), pequenas (20 a 99), médias (100 a 499) e grandes empresas (500 ou mais), deduz-se que as microempresas geraram 3.985 empregos (26,3%), pequenas 5.674 (37,4%), médias 4.400 (29,0%) e as grandes empresas 1.107 empregos (7,3%). Além disso, o emprego cresceu com mais velocidade nas grandes empresas (145,5%). Destacam-se também as pequenas empresas comerciais por terem gerado 37,4% dos novos empregos formais do comércio, enfatizando-se inclusive que as micro e pequenas empresas comerciais foram responsáveis por 63,7% dos empregos gerados no setor, em 2011. Daí a importância de políticas que fomentem o fortalecimento e a competitividade de tais empreendimentos. Reportando-se aos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego, eles também destacam a relevância do comércio para o mercado de trabalho local. Segundo essa fonte, com números referentes ao emprego formal de 2011, a atividade comercial da RMF foi responsável por 87,3 mil admissões de trabalhadores, 75,4 mil desligamentos e geração líquida de 11,9 mil empregos com registro em carteira, no contexto metropolitano cearense. Relativamente aos números totais do emprego formal na 21 RMF, o comércio foi responsável por 21,3% das admissões, 20,5% dos desligamentos e por 28,2% dos novos empregos na região, em 2011. Em valores absolutos, de um total de 42,3 mil empregos formais gerados na RMF, em 2011, 11,9 mil foram gerados pelo comércio (28,2%), segundo o CAGED. No ano seguinte, o comércio da RMF gerou 9,0 mil empregos de um total de 29,5 mil (30,5%). Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a taxa de rotatividade mede o percentual dos trabalhadores substituídos mensalmente em relação ao estoque de emprego vigente no primeiro dia do mês. O seu cálculo mensal é obtido utilizando o menor valor entre o total de admissões e desligamentos sobre o total de empregos no primeiro dia do mês. Assim, o comércio apresenta algumas características relevantes no que concerne à rotatividade de mão de obra no setor. Considerando as taxas mensais de 2010 e 2011 observadas na RMF, verifica-se que: a) o nível de rotatividade da mão de obra do comércio encontra-se acima da média do mercado de trabalho formal, ou seja, uma das características do mercado de trabalho formal do comércio é a rotatividade dos empregados relativamente mais elevada; b) o comércio ocupa a segunda posição em termos de rotatividade de mão de obra, atrás apenas da construção civil, setor que sempre se caracterizou por deter uma rotatividade muito expressiva, dada a própria natureza de sua atividade com relação às etapas de execução de obras e empreendimentos imobiliários; c) com a elevação da taxa de rotatividade no mercado formal de trabalho no primeiro semestre de 2011, a taxa de rotatividade do comércio tem convergido para essa média global, mas comumente registra taxas acima dessa média e d) a rotatividade no comércio tende a cair no último trimestre do ano, fato que pode estar associado ao maior volume de vendas nesse período, conforme Gráfico 4. 22 Gráfico 4 – Taxa de rotatividade mensal total, na construção civil e no comércio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2010 - 2011 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 3,00 Const. Civil Dez11 Out Nov Set Jul Ago Mai Jun Abr Mar Fev Jan11 Dez10 Nov Set Total Out Jul Ago Jun Mai Abr Mar Fev Jan10 2,00 Comércio Fonte: MTE/CAGED (Elaboração própria do autor). Por trás da rotatividade de mão de obra há vários motivos para admissão e/ou demissão de trabalhadores. Estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados demonstram que as razões que motivaram os desligamentos dos trabalhadores do comércio da RMF permaneceram as mesmas, nos anos de 2011 e 2012. O grande destaque fica por conta das demissões sem justa causa, com representação de 61,0% dos desligados, seguidas pelo desligamento a pedido do trabalhador (21,0%), término do contrato de trabalho por prazo determinado (9,5%) e desligamento por término do contrato de trabalho (6,7%). Por conseguinte, a motivação mais relevante das demissões no comércio da RMF é a realizada sem justa causa, mesmo porque a demissão com justa causa representa apenas 1,0% dos trabalhadores desligados do setor. Diante dessa realidade, convém destacar que a prática intensiva da rotatividade de mão de obra traz consequências negativas para trabalhadores e empresas. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), 23 As elevadas taxas de rotatividade são um sério problema, que afeta o funcionamento do mercado de trabalho. Para os trabalhadores, representa insegurança quanto ao contrato de trabalho, levando-os a períodos de desemprego [...]. A insegurança diz respeito também às condições de trabalho, sobretudo em relação ao rebaixamento salarial, devido ao uso recorrente do mecanismo da rotatividade como expediente de redução de custos pelas empresas; à formação profissional, pois pode representar a interdição da aprendizagem e da experiência no exercício de certas ocupações. Do lado empresarial, a literatura da área de Recursos Humanos é enfática em apontar os custos decorrentes do processo de seleção e de treinamento e de avaliação do admitido contratado para substituir o desligado; a perda de “capital intelectual”; aos problemas decorrentes da “aculturação” do novo trabalhador, de forma mais ampla; a influência da rotatividade sobre a “saúde organizacional”, com impactos negativos sobre a produtividade e a lucratividade das empresas. (DIEESE, 2011, p11). Por sua vez, a Pesquisa de Emprego e Desemprego estima que, na área metropolitana de Fortaleza, a atividade comercial gerou ocupação para um total de 285 mil pessoas de 16 a 64 anos de idade, em 2009, saltando para 303 mil, em 2011, o que corresponde à geração de 18 mil oportunidades de trabalho, um crescimento relativo de 6,3%, englobando tanto as ocupações assalariadas (com e sem carteira) como também as não assalariadas (por conta própria, empregador, trabalhador familiar, etc.). A atividade comercial tem uma representação de 19,4% no total da ocupação local, superando setores como a indústria de transformação (18,8%) e construção civil (7,5%) (Gráfico 5). Além disso, na comparação com as demais regiões pesquisadas pelo Sistema PED8, percebe-se que o comércio é relativamente mais relevante para o mercado de trabalho da RMF. No triênio 2009/2011, na média das sete regiões pesquisadas, o comércio representava pouco mais de 16% dos ocupados, na área metropolitana de Belo Horizonte, situava-se em torno de 15%, enquanto em São Paulo não alcançava 16%. Em Recife – no patamar dos 19% - e Salvador - pouco mais de 16% - foram estimadas representações um pouco mais elevadas, sinalizando o peso da atividade comercial nas áreas metropolitanas do Nordeste. Não obstante, em todas as regiões, o peso do comércio no total de ocupados é inferior aos 19,4% estimados para a RMF, destacando a importância do varejo local como gerador de oportunidades de trabalho e renda na região. A propósito, segundo a Pesquisa Anual do Comércio, os gastos com salários, retiradas 8 As regiões integrantes do Sistema PED são as regiões metropolitanas de Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre e o Distrito Federal. 24 e outras remunerações em empresas comerciais cearenses cresceram 25,9%, em 2008/2009, e 26,5%, em 2009/2010, conforme já citado. Gráfico 5 – População ocupada segundo setor de atividade - Região Metropolitana de Fortaleza – 2011 O ut ro s ; 9 ,2 % S e rv iç o s ; 4 5 ,1% C o ns t .C iv il; 7 ,5 % C o m é rc io ; 19 ,4 % Ind. T ra ns f o rm a ç ã o C o ns t .C iv il Ind. T ra ns f o rm a ç ã o ; 18 ,8 % C o m é rc io S e rv iç o s O ut ro s Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Portanto, independentemente da fonte trabalhada, é muito evidente a relevância da atividade comercial para o mercado de trabalho cearense, notadamente nos dias de hoje, ocasionada pelo aquecimento dessa atividade econômica no estado9, o que, por sua vez, contribui para o fortalecimento da economia cearense. Esse maior dinamismo da atividade comercial impactou positivamente no mercado de trabalho local, propiciando uma contínua expansão do nível de ocupação do setor, nos últimos anos, e consequentemente elevando a sua participação relativa na ocupação total da metrópole cearense para quase 20,0%, em 2011, de acordo com a PED/RMF. A RAIS sinaliza uma participação do emprego formal do comércio de 17,1% no total do emprego formal da RMF, em 2011. Fato é que tanto a RAIS como a PED/RMF têm sinalizado estoques de emprego/ocupados do comércio mais robustos, com participação crescente do setor na ocupação da RMF. Conforme citação anterior, a PED/RMF estimou um total de 303 mil pessoas de 16 a 64 anos de idade 9 Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (IBGE), paralelamente a 2010, o volume de vendas no comércio varejista cearense cresceu 7,95% e a receita nominal de vendas no comércio varejista, 12,24%, em 2011, ambos superiores aos resultados nacionais. 25 trabalhando no comércio local, com uma participação de 19,4% na ocupação total da RMF, contemplando aqueles com e sem registro em carteira. Na mesma direção, números da RAIS indicaram um estoque de empregos formalizados de 165 mil pessoas (2011), número que converge para o resultado da PED/RMF, na medida em que a taxa de formalidade do mercado de trabalho local se situa próxima a 50,0% 10. Os números da RAIS também revelaram elevação do tamanho médio dos estabelecimentos comerciais de 5,9 para 7,2 empregados, entre 2004 e 2011, na RMF, com um universo de 22,9 mil estabelecimentos comerciais declarantes, em 2011. Enfim, as estatísticas trabalhadas vêm solidificar a posição da atividade comercial local como uma grande geradora de trabalho e renda na economia cearense. 10 Segundo estudo do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho de 2011, com base em dados da PED/RMF, a taxa de formalidade dos ocupados de quinze anos e mais de idade, na região metropolitana de Fortaleza, passou de 48,2% (2009) para 50,0% (2010). 26 3 O PERFIL DO COMERCIÁRIO Para traçar o perfil dos que trabalham no comércio da região metropolitana de Fortaleza (RMF), considerar-se-á a população ocupada no setor com idade de 16 a 64 anos: 16 anos por ser a idade mínima estabelecida por lei para o exercício do trabalho ou emprego no país, exceto na condição de aprendiz aos 14 anos; o limite de 64 anos é para minorar os efeitos do exercício de atividades muito precarizadas, de trabalhos sem continuidade, na maioria das vezes informais, normalmente exercidas por pessoas com idade acima desse limite, nas condições gerais de trabalho no comércio. Observar que a população de 16 a 64 anos representava mais de 95,0% da população comerciária da RMF, mais precisamente, 95,2%, em 2009, e 95,6%, em 2011 e, assim sendo, esta restrição etária não implicará em perda de conteúdo ou de representatividade dos resultados obtidos. No intuito de traçar o perfil daqueles que trabalham no comércio da RMF, foi utilizada a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED/RMF) como principal fonte de informação. A base de dados foi constituída a partir da acumulação dos dados brutos mensais em bases anuais, nos anos de 2009 e 2011, objetivando apreender algumas especificidades da mão de obra que se ocupa da atividade comercial, assim como captar algumas possíveis transformações que tenham ocorrido ou particularidades que mereçam menção e/ou tenham se fortalecido no período analisado. Tradicionalmente, as mulheres participam menos do que os homens no mercado de trabalho. Uma expressão desse fato são as taxas de participação femininas usualmente inferiores às masculinas. Mesmo assim, é bastante similar e expressiva a proporção da mão de obra feminina trabalhando no comércio, diante da proporção de mulheres na ocupação total da RMF. Enquanto a proporção de mulheres de 16 a 64 anos na ocupação total oscilou de 46,1% (2009) para 45,4% (2011), a parcela de mulheres na ocupação do comércio apresentou-se em relativa estabilidade ao oscilar de 46,1% (2009) para 46,4% (2011), ou seja, a representação das mulheres no universo de ocupados do comércio é muito similar à sua parcela no total de ocupados, indicando ausência de segregação ocupacional por sexo, pelo menos em nível do comércio como um todo, o que não inviabiliza que isto ocorra em determinados segmentos ocupacionais do setor. Desse modo, os homens detêm aproximadamente 54% dos postos de trabalho do comércio local, ficando as 27 mulheres com algo em torno de 46%. Isto demonstra que, embora os homens sejam maioria, assim como na indústria de transformação, a atividade comercial da RMF caracteriza-se pelo maior equilíbrio de gênero. Os homens são maioria nos serviços e destacadamente na construção civil, onde o desequilíbrio de gênero está muito mais presente. Quanto à idade, o perfil etário desses profissionais é o de um trabalhador um pouco mais velho visto que a fatia de jovens que têm de 16 a 24 anos de idade não chega a ¼ dos ocupados, ao mesmo tempo em que cerca de 36% têm idade entre 35 e 54 anos, realidade constatada em 2009 e 2011. Enquanto a percentagem de jovens de 16 a 24 anos oscilou de 24,3% (2009) para 23,3% (2011), a parcela de adultos (25 a 64 anos) evoluiu de 75,7% para 76,7%, respectivamente, ou seja, para cada três adultos trabalhando no comércio local há um jovem comerciário. Além do mais, as estatísticas indicam haver uma ligeira sobrerrepresentação dos homens entre os mais jovens, sinalizando que eles se iniciam nessa atividade com menos idade do que as mulheres. Ilustrando essa ligeira sobrerrepresentação, em 2011, os homens respondiam por 53,6% dos ocupados no setor, sendo que, entre os jovens, eram 55,9%, enquanto entre os adultos, a representação masculina chegou a 52,9%. Enfatizando que a população juvenil é muito exposta a elevadas taxas de desemprego e trabalhos precários, os resultados da PED/RMF evidenciam a importância da atividade comercial para a ocupação juvenil da RMF, pois quase ¼ dos que trabalham no comércio é composto de jovens trabalhadores. Esta proporção de jovens comerciários supera a observada na maioria dos setores econômicos, exceto a indústria de transformação, onde a participação juvenil é similar à do comércio. De fato, nos últimos três anos, comércio e indústria de transformação foram os setores econômicos com maior proporção de jovens em seus quadros, com frações ligeiramente superiores a 23%, em 2011, superando os serviços (18,6%), construção civil (16,9%) e o resultado global (20%) (Gráfico 6). Essa superioridade pode estar relacionada ao fato de a atividade comercial não exigir maiores qualificações do trabalhador, relativamente aos demais setores econômicos, facilitando a obtenção de emprego pelos mais jovens. Um fator de atração para o trabalhador jovem está no fato de o setor possibilitar a inserção em inúmeras funções não especializadas e de baixa remuneração que, em geral, não requerem qualificação ou experiência anterior. (DIEESE, 2009). 28 Gráfico 6 – Proporção de jovens ocupados de 16 a 24 anos segundo setor de atividade - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 2 4 ,7 % 2 3 ,4 % 2 4 ,3 % 2 3 ,3 % 2 5 ,0 % 2 0 ,9 % 19 ,7 % 2 0 ,0 % 18 ,6 % 2 0 ,0 % 17 ,8 % 15 ,3 % 16 ,9 % 14 ,2 % 15 ,0 % 10 ,0 % 5 ,0 % 0 ,0 % Indús t ria C o m é rc io S e rv iç o s 2009 C o ns t ruç ã o O ut ro s T o tal 2 0 11 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Há indícios de que a mão de obra ocupada no comércio apresentou alguma melhora em termos de escolaridade, no triênio 2009 – 2011, posto que a proporção de trabalhadores com instrução de nível médio completo ou superior se elevou de 49,3% (2009) para 53,6% (2011) e a participação daqueles com instrução de ensino fundamental incompleto caiu de 26,7% para 23,1%, no mesmo período. No entanto, esses movimentos não foram suficientes para assegurar uma efetiva elevação da escolaridade dos trabalhadores no comércio, medida pelo número de anos de estudo, além dos problemas decorrentes da baixa qualidade na escolaridade básica do Estado do Ceará, notadamente no ensino fundamental. A escolaridade média dos (as) comerciários (as) oscilou de 8,9 (2009) para 9,2 anos de estudo (2011), o teto máximo de anos de estudo de metade dos trabalhadores do setor - a escolaridade mediana - permaneceu em 11 anos, além da estabilidade de outras estatísticas constantes na Tabela 4. Em outras palavras, se, em média, os comerciários possuíam cerca de 9 anos de estudo, metade deles tinha, no máximo, 11 anos de escola e os 10% menos instruídos tinham até quatro anos de estudo. Ademais, considerando apenas os trabalhadores assalariados do comércio com idade entre 16 e 64 anos e com registro em carteira, o tempo médio de escola estimado permaneceu em cerca de 10 anos de estudo, em 2009 e 2011. 29 Tabela 4 – Anos de estudo dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por sexo - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Total de Ocupados Homens Mulheres Estatísticas 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 8,9 9,2 8,5 8,8 9,4 9,6 Percentil 10 4,0 4,0 4,0 4,0 4,0 5,0 Percentil 25 7,0 8,0 6,0 7,0 8,0 8,0 Mediana 11,0 11,0 9,0 10,0 11,0 11,0 Percentil 75 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 90 11,0 11,0 11,0 11,0 11,5 11,9 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. No paralelo entre homens e mulheres, elas são mais escolarizadas, com cerca de um ano de estudo a mais. Conforme ilustra o Gráfico 7, à medida que se eleva a escolaridade, a presença feminina é crescente, ocorrendo o oposto com os homens. Em 2011, no segmento mais escolarizado (médio completo/superior), 53,6% foi a participação das mulheres, enquanto a dos homens foi estimada em 46,4%, realidade que não se alterou entre os anos de 2009 e 2011. Na categoria dos analfabetos, eles integravam 75,7% desse segmento e elas apenas 24,3%, três homens para cada mulher com esta escolaridade, em 2011. Por conseguinte, políticas que visem elevar a escolaridade dos comerciários (as) devem focar mais a força de trabalho masculina e, em menor intensidade, a feminina. Gráfico 7 – Ocupados no comércio com idade de 16 a 64 anos, segundo o nível de escolaridade, por sexo - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 8 0 ,0 % 7 0 ,0 % 7 5 ,7 % 6 9 ,6 % 6 1,8 % 5 9 ,9 % 6 0 ,6 %6 0 ,6 % 6 0 ,0 % 5 3 ,8 % 5 0 ,0 % 4 6 ,2 % 5 3 ,6 % 4 6 ,4 % 4 0 ,1% 3 8 ,2 % 3 9 ,4 %3 9 ,4 % 4 0 ,0 % 3 0 ,4 % 3 0 ,0 % 2 4 ,3 % 2 0 ,0 % 10 ,0 % 0 ,0 % H o m e ns M ulhe re s 2009 H o m e ns M ulhe re s 2 0 11 A na lf a be t o / s e m e s c o la rida de F unda m e nt a l inc o m ple t o F unda m e nt a l c o m ple t o / M é dio inc o m ple t o M é dio c o m ple t o / s upe rio r Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). 30 Esse perfil de instrução dos comerciários (as) pode ser traduzido no maior tempo de estudo das mulheres. Os indicadores da Tabela 4 demonstram que as comerciárias possuem um tempo de escola, medido pelo número de anos de estudo, um pouco mais elevado do que o dos homens em aproximadamente um ano. Em 2011, a escolaridade média masculina foi estimada em 8,8 anos e a feminina, em 9,6 anos, enquanto em termos medianos quantificaram-se 10 e 11 anos, respectivamente, ou seja, se 10 anos de estudo é o teto máximo de escolaridade de metade dos comerciários, este teto é de 11 anos entre as comerciárias. Os demais indicadores sinalizam na mesma direção. A título de ilustração, o piso de escolaridade dos 10% mais instruídos, medido pelo percentil 90, foi de 11 anos entre os homens e de quase 12 anos entre as mulheres. No quesito escolaridade, os números explicitam que grande parte da diferença entre jovens e adultos comerciários (as) está localizada na metade menos escolarizada, pois os valores medianos e dos percentis 75 e 90 são todos iguais a 11 anos de estudo. Daí se concluir que a metade mais escolarizada dos comerciários jovens e adultos tem 11 anos ou mais de estudo, o equivalente, no mínimo, à conclusão do ensino médio. Em média, os jovens possuem um ano a mais de escola do que os adultos, principalmente porque os jovens menos escolarizados têm mais tempo de escola do que os adultos na mesma condição. Isto significa dizer que, mesmo dentre os menos escolarizados, os adultos estão em pior situação do que a juventude comerciária, de dois a três anos de estudo a menos – vide valores dos percentis 10 e 25 de jovens e adultos na Tabela 5. Tabela 5 – Anos de estudo dos trabalhadores jovens e adultos no comércio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Jovens Adultos Estatísticas 2009 2011 2009 2011 Média 9,7 9,9 8,7 9,0 Percentil 10 6,0 7,0 4,0 4,0 Percentil 25 8,0 9,0 6,0 7,0 Mediana 11,0 11,0 10,5 11,0 Percentil 75 11,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 90 11,0 11,0 11,0 11,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 31 O presente estudo também revela um dado preocupante. A percentagem de comerciários (as) de 16 a 64 anos, que declararam não estar estudando, é muito significativa, afirmado por 90,3% dos ocupados no setor, em 2009, percentual este que passou para 91,4%, em 2011. De outra forma, de cada dez comerciários, nove estavam fora dos bancos escolares, somente trabalhavam, mesmo que aproximadamente 23,3% deles sejam jovens de 16 a 24 anos. Assim, estima-se que apenas 8,6% dessa mão de obra trabalhava e estudava concomitantemente, em 2011, um percentual muito baixo e preocupante, particularmente em função da escolaridade dos homens, em particular, dos homens adultos, e da parcela de jovens que trabalham no setor (Gráfico 8). Gráfico 8 – Comerciários jovens e adultos segundo a situação de estudo Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 95,8% 95,4% 90,3% 100,0% 90,0% 91,4% 78,3% 80,0% 73,2% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 26,8% 21,7% 30,0% 9,7% 20,0% 10,0% 8,6% 4,6% 4,2% 0,0% Só trabalha Trabalha e 2009 estuda 2009 Jovens Só trabalha Trabalha e 2011 estuda 2011 Adutos Total Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Atendo-se à juventude comerciária, esta situação é um pouco melhor, mas muito longe de ser a ideal. A parcela de jovens que trabalhavam e estudavam caiu quase 5 p.p., nos últimos três anos, ao declinar de 26,8% (2009) para 21,7% (2011), possivelmente influenciada pelo maior dinamismo do mercado de trabalho da RMF, pela maior demanda de trabalho no comércio e valorização do salário mínimo, facilitando a obtenção de emprego em detrimento dos estudos. Por conseguinte, de cada dez jovens comerciários, apenas dois estudavam, em 2011. Dentre os adultos, a 32 situação é muito mais séria, visto que menos de 5% estudavam e trabalhavam, proporção que se manteve em relativa estabilidade no triênio 2009/2011. O comércio cearense, assim como em inúmeras outras unidades da federação, apresenta características bastante heterogêneas, nos mais diversos aspectos. Na RMF, segundo o porte das empresas comerciais declarantes da RAIS/2010, o comércio local é composto, na maioria dos casos, por microempresas (1 a 19 empregados), na proporção de 82,5% (17.916 estabelecimentos), 11,3% ou 2.463 estabelecimentos não declararam nenhum empregado, certamente constituídos por empresas familiares, além das empresas de pequeno, médio e grande porte. Esta realidade foi preservada no ano seguinte, com 82,4% de microempresas (18.901 estabelecimentos), com forte concentração nos estabelecimentos de um a quatro empregados (56,7% ou 13.015 estabelecimentos), e 11,1% sem nenhum empregado (2.537 estabelecimentos), conforme a RAIS/2011. Apesar da predominância dos estabelecimentos comerciais de um a quatro empregados, essa diversidade de estabelecimentos se reflete nas diversas estratégias de inserção no mercado de trabalho por meio da atividade comercial, dentre outras motivações. Através dos resultados da Pesquisa de Emprego e Desemprego, pode-se conhecer as estratégias de inserção dos trabalhadores no mercado de trabalho, analisando as movimentações das diversas categorias ocupacionais. No caso particular do comércio, observam-se três categorias principais: empregado do setor privado com carteira assinada, autônomo que trabalha para o público em geral e empregado do setor privado sem carteira assinada. No transcorrer dos anos de 2009 a 2011, houve um importante movimento de expansão das contratações com registro em carteira no comércio, o que foi acompanhado da redução da fração dos empregados da iniciativa privada sem registro na carteira de trabalho, além da queda na parcela de autônomos que trabalhavam para o público, ou seja, a dinâmica do mercado de trabalho do setor foi caracterizada notadamente pela expansão dos empregos com carteira assinada, o que conferiu mais qualidade aos empregos gerados no comércio, no citado triênio. O emprego com carteira saltou de 36,5% (2009) para 42,5% (2011) dos ocupados, o sem carteira declinou ligeiramente de 14,0% para 13,1% e os autônomos, que trabalhavam para o público, tiveram sua representação reduzida de 33,9% para 32,0%, respectivamente, conforme o Gráfico 9. Considerando-se apenas a categoria dos assalariados do setor privado que trabalhavam no comércio, 72,5% 33 tinham carteira assinada, em 2009, representação que se elevou para 76,7%, em 2011, o que dá uma relação de três empregados com carteira para cada um sem carteira assinada. Estima-se que o total de empregados de 16 a 64 anos no comércio da RMF com registro em carteira tenha evoluído de cerca de 105 mil (2009) para aproximadamente 130 mil empregados (2011). Por conseguinte, a forma de contratação usualmente utilizada no comércio é a modalidade padrão regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com registro em carteira, pratica que vem sendo fortalecida nos últimos anos. Gráfico 9 - Ocupados no comércio com idade de 16 a 64 anos segundo posição na ocupação - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 D o no ne gó c io f a m ilia r T ra ba lha do r f a m illia r E m pre ga do r A ut ô no m o p/ e m pre s a 1,5 % 2 ,5 % 2 ,6 % 3 ,5 % 3 ,9 % 3 ,6 % 3 ,9 % 5 ,6 % 13 ,1% 14 ,0 % E m pre ga do s e m c a rt e ira 3 2 ,0 % 3 3 ,9 % A ut ô no m o p/ públic o 4 2 ,5 % E m pre ga do c o m c a rt e ira 0 ,0 % 3 6 ,5 % 10 ,0 % 2 0 ,0 % 2009 3 0 ,0 % 4 0 ,0 % 5 0 ,0 % 2 0 11 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Até mesmo no âmbito das categorias menos representativas, aquelas caracterizadas por situações laborais mais fragilizadas, como os autônomos que trabalham para empresas, os donos de pequenos negócios familiares ou os próprios trabalhadores familiares, houve declínio em suas participações relativas, significando dizer que as citadas categorias perderam um pouco de importância como formas de inserção no mercado de trabalho da RMF, via setor comércio. Na realidade, em decorrência do aquecimento da atividade comercial local, da elevação da concorrência no mercado de trabalho, do movimento global de formalização das 34 relações de trabalho, dos esforços de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego, dentre outras, a única forma de inserção em expansão no mercado de trabalho da RMF, através do comércio, foi a contratação com carteira assinada – contratação na modalidade padrão -, que chegou a representar 42,5% dos que trabalhavam no setor, em 2011, embora o trabalho no comércio por conta própria para o público em geral ainda represente uma fatia de quase 1/3 dos ocupados do setor. Destaque-se que as proporções de contratados à margem da modalidade padrão, comerciantes e o segmento outros registraram queda em 2009/2011 (Tabela 6). Dessa forma, o comércio seguiu a tendência geral do mercado11, qual seja, a geração de empregos no setor privado e, particularmente, com carteira assinada, dando sua contribuição para minorar o nível de precarização existente no mercado de trabalho da RMF, que é mais expressivo do que o observado nas demais regiões pesquisadas pelo Sistema PED, conforme estudo já realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT). (Costa, 2011). Tabela 6 – Ocupados de 16 a 64 anos no comércio segundo forma de inserção ocupacional Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Absoluto Participação (Em 1.000) relativa (%) Forma de inserção 2009 2011 2009 2011 Contratados na modalidade padrão(1) 104 129 36,5 42,5 Contratados à margem da modalidade padrão(2) 53 50 18,7 16,5 Comerciantes(3) 108 104 37,7 34,5 Outros(4) 20 20 7,1 6,5 Total 285 303 100,0 100,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Notas: (1) São os empregados com carteira assinada contratados pelo setor privado. (2) São os empregados sem carteira assinada contratados pelo setor privado, os assalariados contratados em serviços terceirizados e os autônomos que trabalham para uma empresa. (3) São os autônomos que trabalham para mais de uma empresa, os autônomos que trabalham para o público em geral e os donos de negócio familiar. (4) Incluem os empregadores, os trabalhadores familiares sem remuneração e os profissionais universitários autônomos. Concretamente, o referido movimento de expansão das contratações com registro em carteira impactou positivamente no grau de formalização das relações de trabalho no comércio, nos anos recentes. Considerando-se a taxa de formalização 11 Os resultados da PED/RMF indicam que, em 2011, houve uma robusta expansão do emprego no setor privado e com carteira assinada (59 mil novos empregos ou crescimento de 9,8%). Esta foi basicamente a única categoria com crescimento, representando 40,4% dos ocupados da RMF, em 2011, diante dos 37,7% de 2010. 35 como a participação dos ocupados no comércio com registro em carteira e dos empregadores e autônomos do setor contribuintes para a previdência social no universo de ocupados do comércio, verifica-se que, além da melhoria quantitativa da ocupação, houve avanços qualitativos em virtude do aumento da taxa de formalização no comércio, de 41,8% (2009) para 47,7% (2011). Para tanto, a dinâmica observada na geração de emprego assalariado com carteira assinada foi preponderante. Lembrar que, mesmo com o avanço na formalização do trabalho no comércio, ainda são expressivas as participações dos contratados à margem da modalidade padrão (16,5%) e dos comerciantes (34,5%), que responderam por 51,0% do total de ocupados no setor, em 2011, um contingente estimado em 155 mil trabalhadores (Tabela 6). A maior formalização do mercado de trabalho do comércio beneficiou homens e mulheres, jovens e adultos, de acordo com a Tabela 7. Segundo o sexo, o maior nível de formalização ocorreu entre os homens e o hiato entre eles e as mulheres se manteve em 10 p.p., ratificando a maior exposição das mulheres às relações informais de trabalho e, consequentemente, aos menores rendimentos do trabalho. Curiosamente, os jovens comerciários detêm um patamar de formalização dos vínculos trabalhistas superior aos dos adultos, em larga medida por trabalharem proporcionalmente mais como assalariados com carteira assinada e pela presença significativa dos adultos entre os pequenos comerciantes. Em 2011, a taxa de formalização juvenil foi estimada em 57,9% e, entre os adultos, ficou em 44,6%, o que incrementou o hiato entre jovens e adultos. Enfim, os maiores patamares de formalização do trabalho no comércio local encontram-se nos vínculos trabalhistas de homens e jovens, com taxas superiores à média do setor, especialmente entre os jovens comerciários. Tabela 7 – Taxa de formalização no mercado de trabalho do comércio por segmentos específicos (Em %) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Segmentos 2009 2011 populacionais Homens 46,4 52,3 Mulheres 36,6 42,3 Jovens 47,3 57,9 Adultos 40,2 44,6 Total 41,8 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 36 47,7 Esse incremento na formalização do trabalho se refletiu na maior proporção de comerciários (as) contribuintes para a previdência social12, que cresceu de 43,3% (2009) para 48,6% (2011). Assim, estima-se que o número de comerciários (as) de 16 a 64 anos que contribuem para a previdência social passou de cerca de 123 (2009) para algo em torno de 147 mil trabalhadores (2011). Dessa forma, foram incorporados 24 mil comerciários (as) à cobertura da proteção social. Esse comportamento foi muito heterogêneo entre as diversas categorias ocupacionais. A Tabela 8 a seguir revela que essa proporção crescente de contribuintes apenas ocorreu entre os assalariados, ao variar de 73,3% para 77,4%, respectivamente, em decorrência do maior número de empregados com carteira assinada. Por outro lado, mesmo com o movimento de formalização dos pequenos negócios, a parcela de empregadores contribuintes para a previdência encolheu de forma substancial para menos da metade, enquanto a de autônomos registrou pequena oscilação para 7,8%, em 2011. Apesar do avanço, tais números sinalizam a significativa parcela dos trabalhadores em atividades vinculadas ao comércio excluídos da proteção social, à margem dos benefícios propiciados pelo acesso à previdência social, benefícios assegurados pela previdência, em caso de incapacidade, idade avançada, desemprego involuntário e amparo para as famílias que deles dependessem economicamente, em que os autônomos constituem um caso exemplar. Tabela 8 – Trabalhadores do comércio segundo a contribuição para a Previdência Oficial, por categorias selecionadas (Em %) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Contribuintes Não contribuintes Categorias 2009 2011 2009 2011 Assalariado 73,3 77,4 26,7 22,6 Autônomo 6,9 7,8 93,1 92,2 Empregador 61,5 48,4 38,5 51,6 Total 43,3 48,6 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 56,7 51,4 Nesse contexto e na medida em que, no biênio 2009/2010, aproximadamente 34% dos empregos formais do comércio local eram em estabelecimentos de um a nove empregados, segundo a Relação Anual de Informações Sociais, oportuno destacar que o estudo do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho revela que, na 12 A metodologia da Pesquisa de Emprego e Desemprego investiga se o indivíduo é contribuinte de algum instituto oficial de previdência social, não sendo considerados os de caráter privado. O instituto pode ser de âmbito federal, estadual ou municipal, podendo também ser considerada a Caixa Beneficente da Polícia Militar. 37 análise da relação existente entre a proporção de contribuintes para a previdência e o tamanho do estabelecimento, há uma forte correlação positiva, indicando que quanto maior o estabelecimento no qual o profissional trabalha maior a probabilidade de este ser contribuinte para a previdência social. (Costa, 2011). Assim, no caso do comércio, em decorrência do tamanho dos estabelecimentos, a chance de um empregado ser contribuinte da previdência social mostra-se relativamente menor, precipuamente entre os autônomos e empregadores. Esta realidade atual de crescente formalização do emprego e ganhos reais de salário no mercado de trabalho da metrópole cearense como um todo, e mais especificamente no comércio, coexiste com uma outra, que é a do trabalho precarizado, informal, sem proteção social e de remunerações ainda menores, o que coloca em evidência o conceito de trabalho decente. Segundo Ribeiro e Berg, Ao final da década de 1990, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) desenvolveu e passou a disseminar o conceito de Trabalho Decente como síntese de seu mandato histórico, lastreado em quatro pilares estratégicos: respeito às normas internacionais do trabalho, em especial aos princípios e direitos fundamentais do trabalho – liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; eliminação de todas as formas de trabalho forçado; abolição efetiva do trabalho infantil; eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação; promoção do emprego de qualidade; extensão da proteção social; diálogo social. Nessa perspectiva, Trabalho Decente é conceituado como um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, sem quaisquer formas de discriminação, e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem do seu trabalho. Pode ser compreendido, portanto, como uma condição fundamental para a superação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e garantia da governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável. (Ribeiro; Berg, 2010, p.173). A partir da conceituação de trabalho decente e considerando os seus quatro pilares, analisando-se os números da Tabela 9, que propiciam algumas indicações do tamanho do déficit de trabalho decente no mercado de trabalho do comércio da RMF, toma-se consciência do tamanho do desafio e de quanto se tem que avançar na direção do trabalho decente. Nesse aspecto, a OIT vem continuamente destacando a necessidade de reduzir os déficits de trabalho decente na economia informal e de se avançar em direção a uma progressiva formalização das relações de trabalho. Retomando a análise da Tabela 9, quanto à evolução no tempo, todos os indicadores apontaram alguma melhora nos últimos anos, na medida em que declinaram entre 2009 e 2011, sinalizando para uma redução do déficit de trabalho decente, no triênio em questão. A maior redução foi observada na proporção de comerciários (as) com menos de oito anos de estudo, aqueles que não chegaram a 38 concluir o ensino fundamental, que caiu de 28,0% (2009) para 24,1% (2011), totalizando aproximadamente 73 mil pessoas. Por sua vez, o declínio para 56,7% na proporção de comerciários (as) com jornada acima de 44 horas semanais registrou a menor redução (5,0%), sendo o único segmento a crescer em termos absolutos, com discreta ampliação para cerca de 171,8 mil trabalhadores. No tocante aos dois segmentos restantes - trabalhadores com remuneração mensal inferior a um salário e comerciários (as) não contribuintes para a previdência oficial -, eles detiveram quedas da ordem de 9,3%. Tabela 9 – Indicadores do déficit de trabalho decente no comércio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 2009 2011 Categorias 1 (%) Absoluto (%) Absoluto1 Ocupados com menos de 8 anos de 28,0 79,8 24,1 73,0 estudo (1º grau incompleto) Ocupados com jornada semanal de 59,7 170,1 56,7 171,8 mais de 44 horas Ocupados com remuneração inferior 32,1 91,5 29,1 88,2 a um salário mínimo Ocupados sem contribuição para a 56,7 161,6 51,4 155,7 previdência oficial Total de ocupados 100,0 285 100,0 303 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Note: (1) Ocupados de 16 a 64 anos no comércio, medidos em 1.000 pessoas. Quanto à dimensão do déficit de trabalho decente, todos esses indicadores demonstraram uma expressiva magnitude, abrangendo parcelas significativas da ocupação total do comércio, o que propicia uma noção do tamanho do déficit de trabalho decente, no setor. O segmento mais abrangente é o dos ocupados que trabalhavam uma jornada superior a 44 horas por semana - 56,7% ou 171,8 mil pessoas em 2011 -. Na sequência, os não contribuintes para a previdência oficial, cuja representação foi estimada em 56,7%, em 2009, com diminuição para 51,4% três anos depois (155,7 mil trabalhadores sem proteção social). Ocupando a terceira posição, têm-se os trabalhadores com rendimento inferior a um salário mínimo, cuja proporção foi reduzida de 32,1% (2009) para 29,1% (2011), com um contingente estimado de 88,2 mil profissionais. Na última colocação, mas nem por isso menos relevante, coloca-se a participação dos comerciários (as) com menos de oito anos de estudo, contemplando 24,1% dos ocupados do setor ou 73 mil pessoas. Por conseguinte, o déficit de trabalho decente existente no comércio local é devido, em boa medida, à extensa jornada de trabalho do setor e à significativa informalidade, o que se reflete na percentagem de trabalhadores excluídos da proteção social. 39 4 TEMPO DE PERMANÊNCIA NO EMPREGO OU NEGÓCIO As pesquisas do Sistema PED investigam a variável tempo no emprego ou negócio objetivando mensurar o tempo de permanência no trabalho atual, ou seja, captar o nível de estabilidade no emprego. No caso do empregado refere-se ao tempo que trabalha na atual empresa. No caso dos autônomos deve ser considerado o período ininterrupto de trabalho. Isto pressupõe a necessidade de averiguar o período em que houve maior regularidade da atividade, sem períodos extensos de nãotrabalho ou de procura. [...] Nesse sentido, para o autônomo, será considerada como referência para períodos de não-trabalho a “interrupção” de um período de sete dias. Portanto, no caso de trabalho autônomo ou conta-própria, não confundir o tempo de duração do trabalho atual com o tempo em que está na sua profissão ou ocupação. (Fundação Seade; Dieese, 2000, p. 67). Nesse módulo, será dedicada especial atenção à análise do tempo de permanência no emprego ou negócio, no intuito de se avaliar como tem evoluído a estabilidade no emprego dos comerciários (as). Isto será feito a partir da análise da distribuição dos trabalhadores, segundo diversas faixas de tempo de permanência, que variam de menos de 6 meses até 60 meses ou mais. Ademais, serão também utilizados os indicadores de flexibilidade e de estabilidade do mercado de trabalho, além de algumas estatísticas adicionais, para auxiliar na avaliação da estabilidade no emprego/negócio. Ao longo do texto, as expressões tempo no emprego ou negócio, tempo no emprego e tempo no trabalho serão utilizadas indistintamente, conservando, porém, a conceituação do tempo de permanência no emprego ou negócio adotada pelo Sistema PED. Estima-se que, independente de sexo, cerca de 45% dos ocupados no comércio da RMF tenham menos de dois anos no mesmo emprego ou negócio, sendo de 29,3% a proporção de trabalhadores com menos de um ano, em 2011, o que revela uma parcela substantiva de trabalhos de curta duração. Mesmo assim, para destacar os dois extremos dessa distribuição e chamar atenção para os indicadores de flexibilidade e estabilidade do mercado de trabalho, na análise do tempo de permanência no trabalho principal no comércio, optou-se por abordar, inicialmente, dois subgrupos principais, os quais englobam metade dos trabalhadores do setor: 1. comerciários com tempo no emprego de até 6 meses e 2. comerciários que possuem tempo de permanência no trabalho de 5 anos ou mais, este com o maior peso na 40 distribuição. No primeiro subgrupo, a participação relativa caiu de 20,9% (2009) para 18,9% (2011) e, no segundo, houve oscilação de 32,3% para 32,4% dos ocupados, o que pode se constituir em indício de ligeiro aumento na estabilidade ocupacional do setor. Uma comprovação disso é que se, por um lado, os tempos mediano e modal mantiveram-se em 24 meses – para o total de ocupados e para homens e mulheres -, o tempo médio de permanência no trabalho principal cresceu ligeiramente de 55,4 (2009) para 56,5 meses (2011), não alcançando sequer a marca dos seis anos. Dessa forma, a distribuição dos comerciários segundo o tempo no emprego ou negócio tem uma significativa concentração de trabalhadores nas faixas extremas, mais da metade dos trabalhadores tem, no mínimo, dois anos no trabalho/negócio, apesar da relevante representação dos trabalhadores com vínculos ou contratos de trabalho de curta duração, como é o caso daqueles que declararam um tempo inferior a seis meses (18,9%), em 2011. Assim, a atividade comercial desenvolve-se a partir da coexistência de dois grupos de trabalhadores: 1. um privilegiado e até expressivo, com uma estabilidade acima da média do setor e 2. outro também amplo e sujeito a trabalhos de curta duração. A ínfima elevação do tempo de permanência no trabalho do comércio foi propiciada pelo aumento do tempo médio das mulheres – de 50,1 (2009) para 51,8 meses (2011) -, e, em menor intensidade, pela oscilação da média masculina de 59,9 para 60,6 meses, respectivamente. A maior formalização do emprego no comércio e a intensificação dessa atividade nos anos recentes parecem ter impactado favoravelmente na estabilidade do emprego das comerciárias, elevando-a em quase dois meses, em média. Reforçando essa realidade, atendo-se às comerciárias do quartil inferior – aquelas com menores tempos de permanência -, o valor associado ao quartil 1 aumentou de seis para oito meses e, para aquelas situadas no quartil superior (tempos de permanência mais longos), o tempo mínimo passou de 60 para 69 meses. Entre os homens, as estatísticas analisadas não apresentaram alteração, exceto a média, sugerindo estabilidade do tempo de permanência dos homens em seu trabalho no comércio, nesses três anos. A relativa estabilidade masculina e a melhora da estabilidade feminina fizeram com que a diferença entre os tempos médios de ambos caísse de 9,8 (2009) para 8,8 meses (2011), ou seja, reduziu a desigualdade na estabilidade do emprego, embora as médias masculinas sejam 41 maiores, evidenciando maior fragilidade dos vínculos femininos e maior instabilidade ocupacional das mulheres, no setor (Tabela 10). Tabela 10 – Estatísticas do tempo de permanência no trabalho principal no setor comércio por sexo (Em meses) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Total Homem Mulher Estatísticas 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 55,4 56,5 59,9 60,6 50,1 51,8 Mediana 24,0 24,0 24,0 24,0 24,0 24,0 Moda Quartil 1 24,0 7,0 24,0 8,0 24,0 8,0 24,0 8,0 24,0 6,0 24,0 8,0 84,0 60,0 69,0 Quartil 3 72,0 72,0 84,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. O tempo mediano estimado para os dois anos significa que metade dos trabalhadores do comércio local, quer sejam homens ou mulheres, permanece com o mesmo vínculo de trabalho ou no mesmo negócio por, no máximo, dois anos. Por sua vez, a diferença entre os tempos médio e mediano demonstra a heterogeneidade/desigualdade existente em termos da permanência dos trabalhadores em seus empregos ou negócios comerciais, como as análises por sexo e idade a seguir ratificarão. Oportuno destacar que a estabilidade no trabalho é importante para desenvolver o capital humano da força de trabalho e está vinculada aos aumentos de produtividade. (OIT, 2009). Consequentemente ela deve influenciar o nível de remuneração da mão de obra e explicar parte dos diferenciais de remuneração entre homens e mulheres, na medida em que eles apresentam maior estabilidade no trabalho. Não obstante, o incremento na produtividade é elemento de suma importância para impulsionar o crescimento econômico13. Nas palavras da Organização Internacional do Trabalho (OIT), dada a relação positiva entre regulamentação do mercado de trabalho e o tempo de permanência no emprego, este pode ser interpretado como um indicador de flexibilidade (ou estabilidade) numérica do mercado de trabalho. A OIT afirma que um indicador de flexibilidade no mercado de trabalho é a percentagem da população com 13 Segundo estudo do BNDES, a produtividade no comércio brasileiro, medida pela razão valor adicionado por trabalhador, avançou apenas 0,1% a.a., entre os anos de 1995 a 2008, ou seja, o setor não apresentou crescimento da produtividade, no período citado. Nesse aspecto, o estudo destaca ainda que “Nos setores com grande participação do trabalho (Outros Serviços, Comércio e Indústria de Transformação), nota-se uma certa estagnação da produtividade, que se deve ao fato de o valor adicionado ter crescido praticamente às mesmas taxas que o emprego nesses setores.” (BNDES, 2012, p.3) 42 permanência no emprego inferior a um ano. Do ponto de vista da estabilidade no mercado de trabalho, é interessante considerar o indicador de permanência no emprego igual ou superior a cinco anos (OIT, 2009). Fato é que o mercado de trabalho brasileiro é por demais flexível na medida em que é grande a facilidade com que os trabalhadores são admitidos/desligados. Assim, a flexibilidade para contratar e/ou desligar trabalhadores constitui uma característica básica do funcionamento do mercado de trabalho nacional, ocasionada principalmente pela abundante oferta de mão de obra. Atendo-se ao mercado de trabalho do comércio da RMF, o indicador de flexibilidade acusou ligeira queda e o de estabilidade apresentou-se praticamente constante, nos anos de 2009 e 20011. Em termos da flexibilidade, a pesquisa captou uma ligeira redução desse indicador, de 31,5% (2009) para 29,3% (2011), de onde se pode inferir que aproximadamente 29,3% dos trabalhadores do setor podem ser mais facilmente desligados, achavam-se trabalhando com base em contratos de curta duração. Nesse aspecto, as mulheres apresentaram chances discretamente maiores do que os homens. Em 2009, 32,8% das comerciárias tinham menos de um ano no trabalho, declinando para 29,9%, em 2011, enquanto a parcela masculina, ligeiramente inferior, oscilou de 30,4% para 28,9%. Para esse indicador, o hiato entre homens e mulheres foi reduzido de 2,4 para 1,0 p.p., dada a convergência das proporções estimadas (Gráfico 10). Conclui-se que o mercado de trabalho do comércio local é deveras flexível, com significativa parcela dos trabalhadores expostos a trabalhos de curta duração, independente de sexo. 43 Gráfico 10 – Distribuição dos ocupados no comércio com idade de 16 a 64 anos, segundo o tempo no trabalho, por sexo - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Quanto ao indicador de estabilidade, conforme já citado, verifica-se que a porcentagem dos ocupados no comércio com tempo de permanência no emprego ou negócio igual ou superior a cinco anos foi mantida nos últimos três anos, oscilando de 32,3% (2009) para 32,4% (2011), ou seja, cerca de 1/3 dos trabalhadores do comércio tinha cinco anos ou mais de experiência laboral no setor sob o mesmo vínculo trabalhista ou no mesmo negócio, usufruindo de maior estabilidade ocupacional. Essa constância foi reflexo das pequenas variações constatadas entre homens e mulheres com esse tempo de permanência. Entre eles, a percentagem flutuou de 34,3% (2009) para 34,0% (2011) e as respectivas percentagens femininas foram de 30,0% e 30,4%, outro indicativo da maior estabilidade masculina e da perpetuação dessa realidade diferenciada (Tabela 11). 44 Tabela 11 – Indicadores de flexibilidade e estabilidade no mercado de trabalho por sexo e idade - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 2009 2011 Segmentos populacionais < 1 ano ≥ 5 anos < 1 ano ≥ 5 anos Homens 30,4% 34,3% 28,9% 34,0% Mulheres 32,8% 30,0% 29,9% 30,4% Jovens 55,4% 5,8% 56,2% 4,6% Adultos 23,9% 40,7% 21,2% 40,7% Total 31,5% 32,3% 29,3% 32,4% Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados jovens os trabalhadores com idade entre 16 e 24 anos e adultos, com 25 anos e mais. Portanto, se a situação relativa ao tempo de permanência no trabalho dos ocupados, no comércio da RMF, basicamente não se alterou entre os homens, captaram-se algumas melhoras entre as mulheres, como o tempo médio no emprego/negócio em crescimento, tal qual as estatísticas relativas aos quartis 1 e 3 e diminuição do indicador de flexibilidade (-8,8%), bem acima do observado entre os homens (-4,8%). Não obstante, elas são mais susceptíveis a tais indicadores, sendo mais penalizadas pela instabilidade no emprego, além de terem menor representatividade nas situações de maior estabilidade ocupacional, uma expressão da maior fragilidade dos vínculos empregatícios das mulheres no setor, o que não é um privilégio do comércio local. Segundo os indicadores de instabilidade e estabilidade do mercado de trabalho do comércio na RMF, nos últimos três anos, as grandezas percentuais das participações de homens e de mulheres, nessas duas situações, assumiram valores muito próximos, especialmente no caso das mulheres, o que também retrata a composição da distribuição geral, com concentração de força de trabalho nas faixas extremas. Até mais do que as mulheres, os (as) jovens comerciários (as) de 16 a 24 anos de idade são bastante expostos (as) aos contratos de trabalho mais instáveis, pois eles (as) têm presença marcante nas faixas de menor tempo de permanência no trabalho/negócio, isto é, são mais expostos (as) à pratica da rotatividade de mão de obra, são admitidos (as) e desligados (as) mais facilmente de seus empregos. Estimase que a proporção de jovens com menos de um ano de permanência no trabalho, no comércio, tenha passado de 55,4 % (2009) para 56,2% (2011), dos quais em torno de 37% não chegaram a completar seis meses no trabalho. No caso dos adultos (comerciários (as) de 25 a 64 anos de idade), este percentual declinou de 23,9% para 21,2%, no mesmo período, isto é, pouco mais de 20% dos adultos declararam tempo 45 de permanência inferior a um ano, em 2011. Portanto, a presença relativa dos jovens entre os comerciários (as) com menos de um ano no emprego/negócio é quase três vezes mais intensa, paralelamente aos adultos. À medida que cresce o período de permanência no trabalho, amplia-se a parcela adulta, em detrimento dos mais jovens, culminando com uma participação juvenil de apenas 4,6% na faixa de cinco anos e mais, frente a expressivos 40,7% dos adultos, conforme ilustrado no Gráfico 11. Assim, mesmo com maior nível de formalização, o trabalho juvenil no comércio local caracteriza-se por elevada instabilidade e fragilidade dos vínculos de emprego, haja vista as tendências de crescimento do indicador de instabilidade e de queda do de estabilidade entre os jovens, medidos pelas porcentagens de ocupados no comércio com tempos de permanência no trabalho menor de 12 meses e maior ou igual a 60 meses, respectivamente. Gráfico 11 - Ocupados jovens e adultos no comércio segundo o tempo no trabalho - Região Metropolitana de Fortaleza – 2011 3 2 ,4 % 4 0 ,7 % 6 0 m e s e s o u m a is 4 ,6 % 2 3 ,3 % D e 2 4 a m e no s de 60 meses 2 4 ,2 % 2 0 ,5 % 15 ,0 % 13 ,9 % 18 ,6 % D e 12 a m e no s de 24 meses D e 6 a m e no s de 12 meses 10 ,4 % 7 ,8 % 19 ,1% 18 ,9 % 13 ,4 % M e no s de 6 m e s e s 3 7 ,2 % 0 ,0 % 10 ,0 % 16 a 2 4 a no s 2 0 ,0 % 2 5 a 6 4 a no s 3 0 ,0 % 4 0 ,0 % 5 0 ,0 % T o tal Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). A Tabela 12 traz alguns indicadores adicionais que enfatizam os diferenciais de jovens e adultos no tocante ao tempo de permanência no trabalho. Destacam-se a ligeira queda do tempo médio dos jovens para cerca de 15 meses, contraposta ao crescente tempo médio dos adultos – 69 meses em 2011 -, influenciado pela elevação do piso dos trabalhadores com tempos mais longos (Quartil 3), que cresceu de 96 46 (2009) para 102 meses (2011). Para todos estes indicadores, a razão adulto/jovem variou entre 4,0 e 4,5 vezes, explicitando muito claramente a supremacia dos adultos no que concerne à estabilidade no trabalho. Em termos medianos, enquanto o tempo de permanência no trabalho dos jovens era de oito meses, o dos adultos chegou a trinta e seis meses, sendo esta realidade constatada nos dois anos analisados. Tabela 12 – Estatísticas do tempo de permanência no trabalho principal no comércio por idade (Em meses) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Jovem Adulto Estatísticas 2009 2011 2009 2011 Média 16,0 15,2 68,0 69,1 Quartil 1 3,0 3,0 12,0 12,0 Mediana 8,0 8,0 36,0 36,0 Quartil 3 24,0 24,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 96,0 102,0 Ao avaliar o tempo de permanência segundo a escolaridade, percebe-se que a distribuição dos trabalhadores replica a distribuição global do setor, com concentração nas duas faixas extremas, indicando não haver correlação entre a escolaridade do trabalhador e tempo de permanência no trabalho, isto é, deixando transparecer que a elevação da escolaridade não tem assegurado maior estabilidade no trabalho, possivelmente em função da influência exercida pelos pequenos negócios comerciais familiares e informais, por exemplo. Segundo a Tabela 13, os maiores valores de todas as estatísticas são observados entre os trabalhadores analfabetos ou sem escolaridade, demonstrando que eles têm vínculos mais estáveis no trabalho ou são donos de seus próprios negócios. Possivelmente essa constatação esteja associada ao exercício do trabalho autônomo, em pequenos negócios familiares, com baixa remuneração, associado a estratégias de sobrevivência, etc. 47 Tabela 13 – Estatísticas do tempo de permanência no trabalho principal no comércio por escolaridade - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 (Em meses) Analfabeto/ Fund. Médio Fundamental Sem Completo/ Completo/ Incompleto Estatísticas escolaridade Médio Incomp. Superior 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 85,3 102,7 70,0 75,0 50,8 48,2 48,3 48,8 Quartil 1 12,0 12,0 9,0 12,0 6,0 6,0 7,0 8,0 Mediana 36,0 36,0 36,0 36,0 20,0 24,0 24,0 24,0 Quartil 3 96,0 120,0 96,0 120,0 60,0 60,0 60,0 60,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Os números expressam que houve redução da instabilidade em todos os níveis de escolaridade, ou seja, diminuiu a percentagem de trabalhadores com menos de um ano no trabalho nos diversos níveis de instrução dos ocupados no comércio. No caso dos ocupados com instrução de nível médio completo ou superior, por exemplo, essa porcentagem passou de 32,3% (2009) para 30,5% (2011). De forma surpreendente, o indicador de estabilidade - tempo de cinco anos ou mais no trabalho - só cresceu entre os trabalhadores com instrução de nível fundamental incompleto, de 39,1% para 43,6%, enquanto declinaram as proporções dos trabalhadores com fundamental completo ou médio incompleto (27,0%) e médio completo ou superior (28,2%), em 2011. A maior instabilidade/flexibilidade no mercado de trabalho do comércio local é encontrada entre os trabalhadores de nível fundamental completo ou médio incompleto e a maior estabilidade, entre os de nível fundamental incompleto, ratificando suposição anterior de que maior escolaridade não assegura mais estabilidade empregatícia nesse setor. A Tabela 14 apresenta estatísticas adicionais sobre a escolaridade (anos de estudo) dos comerciários segundo o tempo de permanência no emprego ou negócio. Tais indicadores comprovam a não existência de correlação entre escolaridade e estabilidade no emprego ou negócio, conforme já citado. É claramente percebido que os menores períodos de anos de estudo são observados no segmento de trabalhadores com tempo de permanência de sessenta meses ou mais, por exemplo. O tempo mediano é de onze meses até o intervalo de vinte e quatro a menos de sessenta meses, variando entre nove e dez meses na faixa superior. Adicionalmente, enquanto nas quatro menores faixas a média de anos de estado varia de 9,0 a 9,7 anos, na faixa de sessenta meses ou mais no emprego, esta variação é de 8,4 a 8,6 anos de estudo. 48 Tabela 14 – Anos de estudo dos trabalhadores, no comércio, com idade entre 16 e 64 anos, por tempo de permanência no emprego ou negócio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 De 6 a De 12 a De 24 a Menos de 6 60 meses ou menos de 12 menos de 24 menos de 60 meses mais Estatísticas meses meses meses 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 9,0 9,3 9,4 9,7 9,3 9,5 9,0 9,5 8,4 8,6 Percentil 10 4,0 5,0 5,0 5,0 4,0 5,0 4,0 4,0 3,0 4,0 Percentil 25 7,0 8,0 8,0 8,0 8,0 8,0 7,0 8,0 5,0 5,3 Mediana 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 9,0 10,0 Percentil 75 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 90 11,0 11,0 12,0 11,0 11,0 11,0 11,0 12,0 11,0 11,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Da mesma forma que a escolaridade, a análise do tempo de permanência no trabalho por tamanho dos estabelecimentos comerciais da RMF replica a distribuição global, com a concentração dos comerciários nas faixas extremas, independente do porte dos estabelecimentos, mesmo porque há uma incidência muito forte dos pequenos estabelecimentos e, neles, essa concentração é mais notória – em 2011, a representação dos estabelecimentos comerciais com até nove empregados foi estimada em torno de 58% -. Além do mais, a maior incidência de trabalhadores com tempo no trabalho de cinco anos ou mais – indicador de estabilidade no mercado de trabalho - é verificada nos estabelecimentos de até nove empregados, participação que cresceu de 37,9% (2009) para 40,6% (2011), duas vezes maior do que nos demais estabelecimentos, que apresentaram proporções na casa dos 21%. O oposto ocorre ao se considerar a menor faixa de tempo (menos de seis meses). Nesse caso, enquanto nos estabelecimentos comerciais com até nove empregados tem-se 16,1% dos trabalhadores com menos de seis meses no trabalho, nos demais, as proporções variaram de 20,6% (500 ou mais) a 23,1% (100 a 499 empregados) dos ocupados (Gráfico 12). Portanto, os números apontam que é nos estabelecimentos de menor porte onde os comerciários usufruem de uma estabilidade no emprego ou negócio relativamente maior. Assim, são muito bem-vindas iniciativas que visem ampliar o tempo de permanência no trabalho dos comerciários em empresas de maior porte, a adoção de práticas que se destinem a reter uma maior parcela do quadro funcional das grandes empresas, mesmo porque elas se utilizam de novas tecnologias, práticas mais modernas de gestão, adotam uma administração mais profissionalizada, demandam uma mão de obra mais qualificada, etc. Lembrar que, conforme citação anterior, a estabilidade no trabalho é importante para o desenvolvimento do capital humano da força de trabalho e para a elevação da produtividade, dentre outros. A propósito, 49 Se em uma empresa existem funcionários com talentos singulares, é sinal de inteligência não podá-los, mas canalizar essas aptidões conforme o perfil e objetivos da organização. E, para reter profissionais, é preciso que os líderes forneçam aos seus colaboradores bem mais que apenas um salário mensal. [...] Um líder que não consegue reter funcionários perde possibilidades de expandir novas habilidades até então latentes ou estagnadas no próprio contratado e, por consequência, pode perder grandes oportunidades de crescimento para a empresa. (CÂMARA..., 2012, pp.12-13). Gráfico 12 - Distribuição dos ocupados no comércio de 16 a 64 anos de idade segundo o tempo de permanência no trabalho e o tamanho dos estabelecimentos comerciais - Região Metropolitana de Fortaleza – 2011 4 5 ,0 % 4 0 ,6 % 4 0 ,0 % 3 5 ,0 % 3 0 ,0 % 2 5 ,4 % 2 5 ,0 % 2 3 ,0 % 2 3 ,3 % 2 1,0 % 2 0 ,0 % 15 ,0 % 10 ,0 % 2 5 ,1% 2 3 ,2 % 2 1,6 % 2 0 ,5 % 2 0 ,6 % 19 ,0 % 17 ,0 % 16 ,1% 12 ,5 % 2 1,5 % 19 ,0 % 15 ,7 % 13 ,8 % 13 ,3 % 7 ,8 % 5 ,0 % 0 ,0 % A té 9 e m pre ga do s D e 10 a 9 9 e m pre ga do s M e no s de 6 m e s e s D e 12 a m e no s de 2 4 m e s e s 6 0 m e s e s o u m a is D e 10 0 a 4 9 9 e m pre ga do s 5 0 0 o u m a is e m pre ga do s D e 6 a m e no s de 12 m e s e s D e 2 4 a m e no s de 6 0 m e s e s Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). O conteúdo da Tabela 15 faz menção à distribuição dos comerciários (as) de 16 a 64 anos de idade, segundo o tempo no trabalho associado ao nível de rendimento mensal do trabalho principal. Conforme os indicadores de flexibilidade e estabilidade já referidos, é evidente que a instabilidade/flexibilidade penaliza mais intensamente a mão de obra da base da pirâmide salarial, ou seja, à medida que se evolui das menores para as maiores remunerações, a exposição à instabilidade no trabalho (tempo inferior a 12 meses) decresce e a estabilidade (tempo de 60 meses ou mais) mostra-se mais vigorosa, até porque a reposição dos trabalhadores melhor remunerados tende a ser mais dispendiosa. Exceção feita à classe de maiores remunerações (10 salários ou mais), cujo percentual de trabalhadores nessa condição situou-se acima de 20%, a única com participação crescente, posto que variou de 20,8% (2009) para 22,4% (2011). Assim, deduz-se que até mesmo os trabalhadores 50 mais bem remunerados do setor não estão livres dessa instabilidade ocupacional, até porque aproximadamente um em cada cinco dos comerciários (as) melhor remunerados (as) declarou um tempo no trabalho inferior a doze meses. Por outro lado, uma parcela crescente desses trabalhadores experimentou mais estabilidade, ao variar de 43,5% (2009) para 47,2% (2011) a fração dos melhor remunerados com tempo no trabalho de seis anos e mais. Entre os trabalhadores dos demais níveis de remuneração, houve queda da exposição à instabilidade no triênio, com a estabilidade em alta no período. Ao mesmo tempo em que se verifica que o indicador de instabilidade é mais robusto nas duas menores faixas de remuneração, além de este ter apresentado redução nos últimos três anos, isto foi complementado com um comportamento favorável do indicador de estabilidade, que cresceu entre os trabalhadores com remuneração nessas duas faixas (Tabela 15). Portanto, os mais pobres lograram alguma melhora no tocante à estabilidade no trabalho/emprego. Observar ainda que a estabilidade só logrou crescimento nas faixas extremas, enquanto o declínio da instabilidade foi generalizado, com exceção dos trabalhadores com remuneração de 10 salários ou mais. Por conseguinte, as variáveis tempo de permanência e rendimento do trabalho correlacionam-se negativamente no mercado de trabalho do comércio da RMF, em que os trabalhadores com menores rendimentos são duplamente penalizados: percebem as menores remunerações pelo trabalho executado e são rotacionados mais frequentemente, detentores que são dos mais elevados indicadores de instabilidade, apesar da melhora observada na estabilidade dos vínculos de trabalho, relativamente falando. 51 Tabela 15 - Ocupados no comércio de 16 a 64 anos de idade segundo o tempo de permanência no trabalho, por faixas de rendimento do trabalho - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 De 6 a menos Menos de 6 meses 60 meses ou mais Rendimento de 12 meses (Em SM) 2009 2011 2009 2011 2009 2011 < 1/2 32,9% 23,9% 10,0% 10,8% 23,9% 27,5% ½ |---1 21,8% 19,2% 10,1% 10,9% 31,9% 35,4% 1|---2 18,9% 19,3% 13,8% 12,8% 27,1% 25,6% 2|---3 6,9% 6,3% 7,9% 6,9% 52,3% 47,7% 3|---5 5,6% 4,6% 5,0% 3,5% 56,9% 52,6% 5|---10 5,2% 2,8% 3,2% 4,4% 61,9% 61,9% ≥ 10 15,6% 16,8% 5,2% 5,6% 43,5% 47,2% Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Em resumo, sobre o tempo no trabalho dos comerciários (as), pode-se concluir que: há uma concentração de trabalhadores nas faixas extremas (menos de seis meses e sessenta meses ou mais), independente de sexo, tamanho de estabelecimento e escolaridade; houve uma pequena redução da flexibilidade no mercado de trabalho do comércio e um ligeiro incremento na estabilidade ocupacional do setor, notadamente entre as mulheres; ainda assim elas são bem mais expostas à instabilidade ocupacional tal qual os jovens: metade dos (as) comerciários (as) tem um tempo de, no máximo, dois anos no trabalho, independente de sexo; a maior estabilidade ocorre nos estabelecimentos de menor porte (até nove trabalhadores); 1/3 dos (as) comerciários (as) tem cinco anos ou mais de tempo no trabalho; 37% dos jovens comerciários (as) não chegam a completar seis meses no trabalho, com a parcela dos adultos crescendo à medida que se eleva o tempo no trabalho/negócio; a escolaridade parece não assegurar mais estabilidade no trabalho e os (as) comerciários (as) com menores remunerações sofrem mais com a instabilidade dos vínculos trabalhistas vigentes no comércio local. 52 5 CARACTERIZAÇÃO DOS GRUPOS OCUPACIONAIS Dando continuidade ao traçar do perfil dos (as) comerciários (as), no intuito de se elaborar uma subdivisão dos ocupados, de modo a se proceder a algumas avaliações por grupos ocupacionais, partiu-se de agrupamentos já utilizados por instituições como o IPEA e DIEESE e, após uma avaliação dos diversos tipos de ocupação existentes no setor e de sua representatividade e escolaridade, decidiu-se pelo seguinte agrupamento, composto de cinco subgrupos ocupacionais: 1. dirigentes de empresas e gerentes; 2. técnicos e escriturários; 3. trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços; 4. trabalhadores de atividades de suporte ao comércio e 5. outros. O grupo dos dirigentes de empresas e gerentes é quase que totalmente composto por gerentes, enquanto o grupo dos técnicos e escriturários é integrado por trabalhadores de nível médio, destacadamente escriturários e técnicos de nível médio nas ciências administrativas. No grupo 3, trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços, os vendedores e prestadores de serviços do comércio são maioria absoluta e, no grupo dos trabalhadores de atividades de suporte ao comércio, sobressaem-se os trabalhadores de funções transversais, aqueles de serviços de conservação, manutenção e reparação, dentre outros. Fazendo menção à representação de cada subgrupo na ocupação total do comércio da metrópole cearense, em 2011, têm-se as seguintes proporções: grupo I (dirigentes de empresas e gerentes) com cerca de 17,4% (53 mil profissionais), grupo II (técnicos e escriturários) com aproximadamente 10,6% (32 mil pessoas), grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) com uma representação de 60,3% (183 mil trabalhadores) e o grupo IV (trabalhadores de atividades de suporte ao comércio) com uma fração de 10,1% (30 mil ocupados), restando 1,6% para o segmento outros. Assim, o grupo de maior representação no universo dos comerciários é o grupo III, constituído, em sua maioria, pelos trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e prestadores de serviços, com aproximadamente 183 mil profissionais e uma participação relativa de 60,3%, em 2011. Enfocando a geração de ocupações nos diversos grupos, em 2011, no paralelo com 2009, o grupo II (técnicos e escriturários) foi o que registrou maior expansão relativa do nível ocupacional (18,5%), com aproximadamente 5 mil novas 53 oportunidades de trabalho. Em segundo lugar, posicionou-se o grupo I (dirigentes de empresas e gerentes) (6,0%) e, em terceiro, o grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) (4,6%). Assim, nessa base de comparação, apesar de o grupo II ter apresentado o maior crescimento relativo da ocupação, foi o grupo III - composto predominantemente por vendedores e prestadores de serviços do comércio - que deteve o maior crescimento absoluto, com a adição de 8 mil postos de trabalho, ou seja, o grupo III foi o que gerou mais vagas para emprego no setor, no triênio 2009/2011. Portanto, a categoria de profissionais que trabalhavam no atendimento ao público, vendedores e serviços é a que mais tem se expandido no comércio. Por fim, o crescimento relativo da ocupação no grupo IV foi de 3,4%, com mil novas ocupações. Nos próximos parágrafos serão disponibilizadas informações sobre a constituição de cada um desses grupos, concernentes à sua composição por sexo, idade, escolaridade, além de estatísticas diversas sobre anos de estudo. Na composição dos grupos ocupacionais por sexo, percebe-se que é no grupo dos dirigentes de empresas e gerentes onde há maior equilíbrio de sexo, praticamente na proporção de um para um, podendo-se inclusive concluir que as mulheres estão sobrerrepresentadas nesse grupo, isto porque, na ocupação total do setor, elas são pouco mais de 46% e têm uma participação de mais de 49% nesse grupo, nos dois anos em análise. A sobrerrepresentação feminina é mais robusta ainda no grupo III, onde a participação das mulheres evoluiu de 52,6%, em 2009, para 54,4% dos ocupados do grupo, em 2011. Embora a composição de sexo dos profissionais do grupo II não indique sobrerrepresentação feminina, a presença das mulheres nesse grupo cresceu de 37,5%, em 2009, para 39,4%, em 2011. Por outro lado, a presença dos homens no grupo IV foi bastante fortalecida nos últimos anos, na medida em que respondeu por 95,3% dos trabalhadores do grupo, em 2011 (Gráfico 13). Assim, em grandes linhas, a investigação da composição de sexo dos quatro grupos ocupacionais revela uma boa equidade no grupo dos dirigentes de empresas e gerentes, um fortalecimento da ocupação feminina nos grupos II e III, este com a maior sobrerrepresentação delas, e um domínio quase total dos homens no grupo IV, o único onde ocorreu avanço masculino. Esta realidade evidencia que, apesar da não existência de segregação ocupacional por sexo para o conjunto de ocupados do comércio, conforme citado anteriormente, o mesmo não pode ser dito em nível dos 54 quatro grupos ocupacionais. Embora a citada segregação basicamente não ocorra nos grupos I e III, ela se faz presente no grupo II e, notadamente, no grupo IV, dada a quase totalidade da mão de obra ser masculina, o que pode estar relacionado às características de boa parte dos ofícios de manutenção, reparação, transporte de carga, dentre outros. Gráfico 13 - Ocupados no comércio de 16 a 64 anos de idade, segundo os grupos ocupacionais, por sexo - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 95,3% 100,0% 87,4% 90,0% 80,0% 70,0% 62,4% 60,6% 60,0% 50,0% 52,6% 54,4% 50,8% 50,7% 49,3% 49,2% 47,4% 37,5% 40,0% 39,4% 45,6% 30,0% 20,0% 12,6% 4,7% 10,0% 0,0% Grupo I 2009 Hom em Grupo II 2009 Mulher Grupo III 2011 Hom em Grupo IV 2011 Mulher Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Quanto à composição por idade, apesar de os adultos (25 a 64 anos) serem maioria em todos os grupos, notadamente em 2011, a sua presença é mais marcante nos grupos III (73,7%) e disparadamente no grupo I (95,4%), enquanto os jovens (16 a 24 anos) estão relativamente mais presentes nos grupos II (32,9%) e IV (28,4%). Dessa forma, a juventude comerciária, em larga medida, desempenha atividades correlatas às de técnicos e escriturários e de trabalhadores de atividades de suporte ao comércio, enquanto somente cerca de 5% deles desempenham atribuições de dirigentes de empresas ou de gerentes. Na verdade, a composição dos grupos ocupacionais, segundo a idade, experimentou apenas alterações residuais em três dos quatro grupos analisados. Somente no grupo IV - trabalhadores de atividades de suporte ao comércio – a análise quantitativa registra aumento da participação dos adultos para 71,6%, em 2011, ante os 68,2% de três anos atrás. O Gráfico 14 ilustra a evolução dessa composição no tempo. 55 Gráfico 14 - Ocupados jovens e adultos no comércio segundo grupos ocupacionais Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 71,6% 28,4% Grupo IV 68,2% 31,8% 73,7% 26,3% Grupo III 73,1% 26,9% 67,1% 32,9% Grupo II 66,9% 33,1% 95,4% Grupo I 4,6% 94,5% 5,5% 0,0% 20,0% 2009 Jovem 40,0% 2009 Adulto 60,0% 2011 Jovem 80,0% 100,0% 2011 Adulto Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Ao ser mensurada por meio do número de anos completos de estudo, a evolução da escolaridade nos grupos ocupacionais apresenta algumas flutuações que não asseguraram incrementos na escolaridade dos trabalhadores do comércio em três dos quatro grupos investigados. Ainda assim, houve queda generalizada na representação dos menos escolarizados - analfabeto/sem escolaridade e fundamental incompleto - e fortalecimento da participação dos trabalhadores com instrução de nível médio completo ou superior em todos os grupos, o que se reflete nas discretas oscilações para mais no tempo médio de escola de todos os grupos analisados (Tabela 16). Tabela 16 – Distribuição dos ocupados no comércio de 16 a 64 anos de idade por grupos ocupacionais, segundo o nível de escolaridade - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 (Em %) Fund. Analfabeto/ Médio Fundamental Completo/ Sem Completo/ Grupos Incompleto Médio escolaridade Superior Ocupacionais Incompleto 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Grupo I 6,2 5,1 32,6 30,6 17,9 16,0 43,3 48,3 Grupo II 0,5 0,4 9,3 5,8 15,2 14,5 75,0 79,3 Grupo III 4,0 3,0 25,7 22,2 19,7 20,7 50,6 54,1 Grupo IV 7,0 5,3 39,9 34,8 26,4 29,0 26,7 30,9 Total 4,3 3,4 26,7 23,1 19,7 19,9 49,3 53,6 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 56 O incremento na escolaridade é relativamente mais percebível entre os integrantes do grupo I, o grupo dos dirigentes e gerentes de empresas. Nesse grupo, com exceção do percentil 75 (11 anos de estudo), todos os demais indicadores mostraram crescimento entre 2009 e 2011, notadamente na metade menos escolarizada, em que os percentis 10 (33,3%), 25 (20,0%) e 50 (22,2%) apresentaram as maiores variações relativas, indicando crescimento relativamente mais intenso da escolaridade. Este fato contribuiu para homogeneizar um pouco mais o nível de escolaridade intragrupo. Além disso, o grupo I foi o único no qual o piso dos 10% mais instruídos (percentil 90) cresceu. Este passou de 12,0, em 2009, para 12,7 anos de estudo, em 2011. Reforçando a argumentação, foi também nesse mesmo grupo onde o tempo mediano foi acrescido de dois anos, de 9,0 para 11 anos de estudo, o único em que esse indicador mostrou elevação, no período em apreço (Tabela 17). Portanto, há sinalizações diversas que indicam ter havido elevação na escolaridade dos dirigentes e gerentes de empresas comerciais da RMF e que o maior patamar de instrução da metade menos instruída fomentou uma maior homogeneidade dentre os profissionais do grupo I, em termos de escolaridade, em 2009/2011. Tabela 17 – Anos de estudo dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por grupos ocupacionais - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Estatísticas Grupo I Grupo II 2009 2011 2009 2011 Média 8,5 8,8 10,6 10,9 Percentil 10 3,0 4,0 8,0 8,0 Percentil 25 5,0 6,0 11,0 11,0 Mediana 9,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 75 11,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 90 12,0 12,7 13,6 13,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Grupo III 2009 8,9 4,0 7,0 11,0 11,0 11,0 2011 9,2 4,0 8,0 11,0 11,0 11,0 Grupo IV 2009 7,6 3,0 5,0 8,0 11,0 11,0 2011 7,9 4,0 5,0 8,0 11,0 11,0 O grupo II (técnicos e escriturários) destaca-se como o mais escolarizado, com 79,3% de profissionais com instrução de, no mínimo, nível médio completo, peso maior do que o resultado setorial (53,6%). São quase onze anos completos de estudo, em média, em 2011, e é no grupo II onde constam os maiores pisos de anos de estudo dos 10% mais instruídos - mais elevados valores do percentil 90 -, situados em treze anos, aproximadamente. Este também é o grupo com o mais alto teto de escolaridade para os 10% menos instruídos (8 anos), o dobro do estimado para os 57 demais grupos. Por conseguinte, são inúmeros os indicativos de que o conjunto de profissionais do grupo II é o mais escolarizado do comércio local. Atendo-se à escolaridade de nível médio ou mais, o grupo IV é o de menor representação (30,9%). Os profissionais do grupo IV também apresentam as maiores frações de trabalhadores com escolaridade de nível fundamental incompleto (34,8%), o mesmo ocorrendo em 2009, e uma escolaridade média que não chegou a oito anos completos de estudo. Em síntese, enquanto os trabalhadores pertencentes ao grupo II são os mais escolarizados, os menos escolarizados estão no grupo IV, com certo equilíbrio entre os pertencentes aos grupos I e III, onde a média de anos de estudo oscilou em torno de nove anos e a escolaridade mediana é de onze anos de estudo. Portanto, hierarquizando os quatro grupos ocupacionais, segundo o nível de escolaridade, têm-se: grupo II (técnicos e escriturários), grupo I (dirigentes de empresas e gerentes), grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) e grupo IV (trabalhadores de atividades de suporte ao comércio), em ordem decrescente de escolaridade. Portanto, no que concerne à política de qualificação profissional dos comerciários (as), ela deveria ser mais focada nos trabalhadores dos grupos III e IV. Na análise acerca do nível de formalização das relações de trabalho, por meio do indicador taxa de formalização, constatou-se que foram verificados avanços qualitativos no mercado de trabalho do comércio da RMF, conforme já citado, quando esse indicador cresceu de 41,8% (2009) para 47,7% (2011) dos ocupados, resultante do crescimento do emprego com registro em carteira ocorrido no setor, nos últimos anos. Mas como a taxa de formalização se comportou segundo os grupos ocupacionais? Informações extraídas da Tabela 18 revelam dois aspectos principais: 1.há diferentes níveis de formalização entre os diversos grupos, ou seja, o patamar de formalização é heterogêneo, segundo esse recorte analítico; 2.a tendência é de crescimento da formalização em todos eles. É no grupo I (dirigentes de empresas e gerentes) onde a formalização é mais baixa, sendo a mais elevada entre os trabalhadores do grupo II (técnicos e escriturários), na casa dos 76%, em 2011. Por seu turno, o crescimento mais forte da formalização entre os comerciários ocorreu no grupo IV (trabalhadores de atividades de suporte ao comércio), com acréscimo de 12,1 p.p. e, em menor medida, no grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) (6,4 p.p.), onde o assalariamento é predominante. Dos quatro 58 grupos analisados, somente os grupos II e IV, que responderam por pouco mais de 20% dos comerciários, apresentaram níveis de formalização acima da média do setor. Destaca-se que o nível de formalização é influenciado pelo tipo de vínculos de trabalho dos integrantes de cada grupo ocupacional, o que mantém estreita correlação com a natureza das funções exercidas. Tabela 18 – Taxa de formalização no mercado de trabalho do comércio por grupos ocupacionais (Em %) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Grupos ocupacionais 2009 2011 Grupo I 28,2 29,2 Grupo II 75,5 76,1 Grupo III 38,5 44,9 Grupo IV 49,5 61,6 Total 41,8 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 47,7 De forma sintética, é possível afirmar que as características analisadas dos grupos ocupacionais do comércio da RMF destacam os principais aspectos: o grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) é o mais numeroso, com 60,3% dos ocupados ou 183 mil trabalhadores, em 2011; basicamente não foi registrada segregação de sexo nos grupos I e III, embora ela se faça presente nos grupos II e IV; enquanto a presença dos adultos é mais marcante nos grupos III e, disparadamente, no grupo I, os jovens estão relativamente mais representados nos grupos II e IV e os comerciários do grupo II são os mais escolarizados e os do grupo IV os menos escolarizados. 59 6 A EXTENSÃO DA JORNADA DE TRABALHO NO COMÉRCIO Considerando o universo de ocupados do comércio da RMF - os empregados com e sem carteira assinada, os que trabalham por conta própria, os empregadores, dentre outros - a jornada semanal média de trabalho apresentou ligeira redução, ao passar de 47,7, em 2009, para 46,0 horas, em 2011, e a jornada semanal mediana permaneceu em 48 horas, significando dizer que metade dos trabalhadores tinha uma jornada de trabalho de, no mínimo, 48 horas por semana. Além de relativamente mais extensa, essa jornada de trabalho se mostra bastante homogênea, não havendo maiores oscilações entre os trabalhadores do setor, em virtude da proximidade das extensões das jornadas média e mediana. Em outras palavras, a longa jornada de trabalho posta em prática no comércio abrange grande parte de sua mão de obra de maneira bastante uniforme (Tabela 19). Tabela 19 – Jornada semanal de trabalho no comércio segundo segmentos selecionados Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Jornada média Jornada mediana Segmentos populacionais 2009 2011 2009 2011 Homens 50,4 49,0 48,0 48,0 Mulheres 44,3 42,5 46,0 44,0 Jovens 43,5 43,9 47,0 48,0 Adultos 49,0 46,6 48,0 48,0 46,0 48,0 48,0 Total 47,7 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. A menor proporção de trabalhadores com jornada semanal acima de 44 horas contribuiu para essa discreta redução da jornada de trabalho. Ela caiu 3 p.p., ao passar de 59,7% (2009) para 56,7% (2011) dos comerciários (as), proporções que, ao mesmo tempo, ajudam na compreensão da extensa jornada de trabalho do setor. Essa ligeira redução foi também consequência da evolução das jornadas de homens e mulheres. Entre eles, a jornada média flutuou de 50,4 (2009) para 49,0 horas (2011) e, entre elas, variou de 44,3 para 42,5 horas, no mesmo período, concluindo-se que, no comércio, os homens trabalham uma jornada mais extensa do que a das mulheres. Reforçando essa assertiva, em 2011, metade deles trabalhou 48 horas ou mais por semana, enquanto a jornada mediana das mulheres foi reduzida em duas horas, passando de 46 (2009) para 44 horas (2011). Nesse ano, a proporção de homens trabalhando mais de 44 horas foi de 63,5%, para 48,7% das mulheres e, no caso da jornada superior a 48 horas semanais, da mesma forma, foram estimadas frações de 60 35,2% dos homens e de 27,7% das mulheres. Assim, conforme esse recorte analítico, a diminuição da jornada feminina em muito contribuiu para a redução na jornada média de trabalho do setor, no triênio analisado. Ao se cotejarem as jornadas de jovens e adultos, essa ligeira queda da jornada média do setor foi, em grande medida, efeito do encolhimento da jornada semanal de trabalho dos adultos, já que a jornada dos jovens praticamente foi mantida. Se, em média, a jornada semanal dos adultos foi reduzida de 49,0 (2009) para 46,6 horas (2011), a dos jovens oscilou de 43,5 para 43,9 horas, respectivamente. Embora em média a jornada de trabalho dos mais jovens seja ligeiramente inferior à dos adultos, não há diferença quando se considera a jornada mediana, que foi estimada em 48 horas por semana. Além disso, 53,9% da juventude comerciária declarou ter uma jornada de trabalho de mais de 44 horas semanais, diante dos 57,6% dos adultos, em 2011 (Gráfico 15). E mesmo que a fração de jovens trabalhando mais de 48 horas por semana tenha diminuído de 29,3% (2009) para 24,2% (2011), estes números, além de muito expressivos, revelam a extensa jornada de trabalho a que a juventude comerciária está exposta, constituindo um sério empecilho à continuidade dos estudos. Oportuno recordar que os jovens constituíam 23,3% da população comerciária da RMF e apenas 8,6% do universo de comerciários de 16 a 64 anos declarou estar estudando, em 2011. Gráfico 15 – Proporção de comerciários com jornada semanal de trabalho de até 44 horas e superiores a 44 horas por sexo e idade Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 56,7% Total 59,7% 43,3% 40,3% 57,6% 61,7% Adulto 42,4% 38,3% Jovem 46,1% 46,5% 53,9% 53,5% 48,7% 51,8% 51,3% 48,2% Mulher 63,5% Hom em 66,3% 36,5% 33,7% 0,0% 10,0% 20,0% Até 44 horas 2009 Mais de 44 horas 2009 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% Até 44 horas 2011 Mais de 44 horas 2011 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). 61 Na análise da jornada semanal de trabalho por escolaridade, apesar de a jornada mediana ter se mantido em 48 horas, independente do nível de escolaridade, há fortes indícios de que os mais escolarizados usufruem de jornadas de trabalho menos extensas. Tanto em 2009 quanto em 2011, percebe-se que a extensão da jornada de trabalho cai à medida que se eleva o nível de instrução do (a) comerciário (a). Em 2011, por exemplo, ela foi reduzida de 50,1 horas, dentre os menos escolarizados, para 44,8 horas, dos com instrução de nível médio completo ou superior. Esta mesma realidade foi percebida em 2009, com o declínio de 50,1 para 46,1 horas trabalhadas. Além do mais, enquanto os (as) comerciários (as) menos instruídos (as) mantiveram a jornada de trabalho inalterada em 50,1 horas semanais, houve diminuição da jornada dos (as) trabalhadores (as) de nível médio completo ou superior, de 46,1, em 2009, para 44,8 horas, em 2011 (Tabela 20). Tabela 20 – Jornada semanal de trabalho no comércio segundo escolaridade e tempo de permanência no trabalho - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Jornada média Jornada mediana Escolaridade/Tempo de permanência no trabalho 2009 2011 2009 2011 Analfabeto/Sem escolaridade 50,1 50,1 48,0 48,0 Fundamental Incompleto 50,6 48,0 48,0 48,0 Fund. Completo/Médio Incompleto 47,0 46,3 48,0 48,0 Médio Completo/Superior 46,1 44,8 48,0 48,0 Menos de 6 meses 42,5 42,9 48,0 45,0 De 6 a menos de 12 meses 45,6 44,4 48,0 48,0 De 12 a menos de 24 meses 46,4 46,1 48,0 48,0 De 24 a menos de 60 meses 47,5 45,4 48,0 48,0 60 meses ou mais 52,3 48,7 48,0 48,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. O oposto ocorre com o comportamento da jornada de trabalho quando vista sob o prisma do tempo de permanência no emprego ou negócio. Parece que, quanto maior for esse tempo, mais responsabilidades o trabalhador vai assumindo, redundando em uma jornada de trabalho mais extensa, isto é, a maior estabilidade em empregos do comércio está positivamente correlacionada com jornadas mais longas de trabalho. Se para os trabalhadores com tempo de permanência no trabalho de menos de seis meses a jornada semanal não chegava a 43 horas, para aqueles com tempo no trabalho de 60 meses ou mais, a jornada estimada foi de quase 49 horas, em 2011. Observar que a jornada mediana se mantém em 48 horas, qualquer que seja a duração do tempo no emprego ou negócio, ou seja, tal qual as outras variáveis 62 analisadas, metade dos profissionais do comércio trabalharam semanalmente durante 48 horas ou mais, independente do tempo no trabalho. Em 2011, essa jornada chegou a contemplar aproximadamente 152 mil comerciários (as), de um total estimado de 303 mil pessoas trabalhando no setor. Quando se desagregam as informações da jornada de trabalho segundo o tamanho dos estabelecimentos comerciais, como na Tabela 21, percebe-se que a ligeira redução da jornada de trabalho ocorreu independentemente do tamanho dos estabelecimentos, mas em menor intensidade nos estabelecimentos de 10 a 99 empregados. Em todos eles a jornada apresentou-se acima de 44 horas, especialmente em estabelecimentos de 10 a 99 empregados, com jornada média de cerca de 48 horas. Uma vez mais, foi mantida a jornada mediana em 48 horas em todos os estabelecimentos comerciais. Outro aspecto observado é que houve certa convergência para jornadas menos longas nos estabelecimentos de maior porte. Em média, enquanto nos estabelecimentos de até 99 empregados a extensão da jornada semanal de trabalho é de algo próximo a 48 horas, essa jornada, além de menor, foi reduzida de 46,0 para 44,1 horas por semana, nos estabelecimentos de 500 ou mais empregados. Tabela 21 – Jornada semanal de trabalho no comércio, segundo tamanho do estabelecimento e grupos ocupacionais - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Tamanho do Jornada média Jornada mediana estabelecimento/Grupo 2009 2011 2009 2011 ocupacional Até 9 empregados 47,7 45,8 48,0 48,0 De 10 a 99 empregados 48,3 47,4 48,0 48,0 De 100 a 499 empregados 47,2 45,3 48,0 48,0 500 ou mais empregados 46,0 44,1 48,0 48,0 Grupo I 63,1 59,3 60,0 56,0 Grupo II 44,7 44,2 44,0 44,0 Grupo III 43,7 42,1 48,0 46,0 Grupo IV 47,2 48,2 48,0 48,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. No triênio 2009/2011, a evolução da jornada média de trabalho dos (as) comerciários (as) foi bastante heterogênea quando analisada segundo os grupos ocupacionais. Houve redução da jornada dos profissionais do grupo I (dirigentes de empresas e gerentes), de 63,1 para 59,3 horas semanais, tal qual no grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços), de 43,7 para 42,1 horas. A extensão da jornada média dos pertencentes ao grupo II (técnicos e 63 escriturários) basicamente não foi alterada, ficando em torno de 44 horas, e ocorreu ligeiro aumento na jornada de trabalho das pessoas alocadas no grupo IV (trabalhadores de atividades de suporte ao comércio), ao passar de 47,2 (2009) para 48,2 horas (2011). Uma constatação adicional é que os trabalhadores dos grupos I e IV têm as jornadas de trabalho mais extensas, acima da média geral do setor, que foi de 46 horas, em 2011, e a jornada mediana varia entre 44 e 56 horas semanais, sendo as maiores as medianas dos grupos I (56 horas) e IV (48 horas), assim como verificado com a jornada média. Portanto, nessa temática, os grupos I e IV destacamse por apresentar as jornadas mais longas. Em resumo, o comércio é um setor que, além de uma jornada de trabalho bastante homogênea, também se caracteriza pela sua extensão significativa e, conforme verificado, diversos são os fatores que exercem influência sobre essa extensão. No universo de trabalhadores de 16 a 64 anos de idade, apesar de a metade dos comerciários (as) trabalharem 48 horas ou mais por semana, ocorreu ligeira diminuição na jornada média de trabalho, mais especificamente, entre as mulheres, os adultos e os mais escolarizados. Não obstante, os homens, os adultos, aqueles com mais tempo de permanência no trabalho ou negócio, os menos escolarizados e os trabalhadores dos grupos I e IV são os detentores das jornadas mais extensas. Complementarmente, nos últimos anos, ao contrário dessa tendência geral, as estimativas média e mediana da jornada de trabalho dos jovens sinalizam para uma jornada mais longa, o que deve ser visto com preocupação pelo fato de inviabilizar a continuidade dos estudos, até porque 24,2% dos jovens declararam ter trabalhado mais de 48 horas por semana, em 2011. Isto está a merecer uma reflexão mais profunda sobre o verdadeiro perfil do (a) comerciário (a) que se quer no futuro próximo e quais as estratégias a serem implementadas para que esse objetivo seja alcançado. Certamente isso deve passar pela redução temporária da jornada de trabalho da juventude comerciária, associada à maior assiduidade e melhor desempenho escolar por parte dos comerciários (as) que optarem por retornar aos bancos escolares, por exemplo. . 64 7 PERFIL DAS REMUNERAÇÕES DO TRABALHO NO COMÉRCIO A distribuição dos trabalhadores do comércio da região metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo o nível de remuneração mensal do trabalho, manteve suas características gerais inalteradas, nos últimos anos. Essa distribuição, como tantas outras distribuições dos rendimentos do trabalho, apresenta uma curva de frequência assimétrica positiva, em virtude da relevante parcela de trabalhadores nas faixas salariais mais baixas, com destacada concentração de pessoas na faixa de um a menos de dois salários mínimos14. Essa concentração se fortaleceu ao longo dos anos, haja vista que a participação relativa dos trabalhadores com esse nível de remuneração cresceu de 50,3% (2009) para 53,7% dos ocupados do setor (2011). Portanto, mais da metade dos (as) comerciários (as) tinha remuneração mensal na faixa de um a menos de dois salários mínimos. A remuneração média real no comércio da RMF, a preços de dezembro de 2011, evoluiu de R$ 808 (2009) para R$ 842 (2011), o correspondente a um ganho real de 4,2%, no triênio, em boa medida impulsionada pela valorização do salário mínimo, aquecimento do mercado de trabalho e pelo maior consumo das famílias. Isto foi reflexo do reajuste ocorrido na remuneração média das comerciárias (6,8%) e, em menor intensidade, do reajuste dos rendimentos dos comerciários (2,7%), lembrando que eles são maioria absoluta dentre os ocupados do setor - quase 54,0%. Em 2011, a remuneração média mensal dos comerciários foi estimada em R$ 958 (1,8 SM) e a das comerciárias, R$ 703 (1,3 SM) (Tabela 22). Tabela 22 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio, com idade entre 16 e 64 anos, por sexo - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Total de Ocupados Homens Mulheres Estatísticas 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 808 842 933 958 658 703 Percentil 10 161 206 284 402 108 105 Percentil 25 379 510 492 556 235 306 Mediana 551 605 589 633 535 560 Percentil 75 824 877 928 1.024 701 787 Percentil 90 1.422 1.548 1.733 1.811 1.183 1.276 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. 14 O valor do salário mínimo foi de R$ 465, em 2009, e de R$ 545, em 2011. 65 O maior ganho salarial das mulheres propiciou uma redução no diferencial das remunerações médias mensais de homens e mulheres, notadamente quando se comparam as remunerações por hora trabalhada. Em 2009, a remuneração média mensal das mulheres equivalia a 70,5% da remuneração média dos homens, razão que avançou para 73,4%, em 2011, posto que o ganho real das mulheres foi 2,5 vezes superior ao dos homens. Além disso, os reajustes obtidos pelas mulheres com maiores remunerações (percentis 75 e 90) foram superiores aos dos homens, o que também contribuiu para a diminuição da desigualdade salarial em questão. As remunerações médias horárias confirmam com mais exatidão essa constatação, posto que homens e mulheres passaram a ganhar a mesma remuneração por hora, em 2011 (R$ 5,39). Em 2009, elas ganhavam R$ 3,98 por hora, o equivalente a 96,4% da remuneração média horária dos homens (R$ 4,13). Ainda assim, estimativas de 2011 demonstram que 63,9% dos ocupados no comércio local, que ganhavam menos do que um salário mínimo, eram mulheres, revelando que, nessa faixa de remuneração, havia quase duas mulheres para cada homem. Esta situação se inverte quando a remuneração passa para a faixa de um a menos de três salários, em que os homens eram 61,3%, explicitando as menores remunerações das mulheres, apesar de alguns avanços observados em 2011. Uma forma alternativa de verificar a queda da desigualdade de rendimentos é quantificar o crescimento da remuneração nos diversos percentis. Segundo a Tabela 22 e Gráfico 16, apesar de os ganhos salariais terem contemplado todo o leque salarial dos (as) comerciários (as), os (as) trabalhadores (as) que obtiveram maiores reajustes nas suas remunerações mensais foram os mais pobres, haja vista os incrementos observados nos percentis 10 (28,0%) e 25 (34,6%): no primeiro caso devido aos homens (41,5%) e, no segundo, às mulheres (30,2%). Complementarmente, entre os 50% mais bem remunerados, os reajustes foram bem mais modestos, variando de 6,4% (percentil 75) a 9,8% (mediana ou percentil 50). Fato é que a política de valorização do salário mínimo, particularmente a partir de 2003, beneficiou sobremaneira os trabalhadores mais pobres e menos qualificados, contribuindo para a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil, elevando o poder de compra das classes menos favorecidas. 66 Gráfico 16 – Crescimento médio real das remunerações do trabalho dos comerciários de 16 a 64 anos, segundo os percentis selecionados - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 40,0% 34,6% 35,0% 30,0% 28,0% 25,0% 20,0% 15,0% 9,8% 8,9% 10,0% 6,4% 5,0% 4,2% 0,0% Média Percentil 10 Percentil 25 Percentil 50 Percentil 75 Percentil 90 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Na análise da evolução da razão entre as remunerações mediana e média, pode-se também captar alterações na intensidade da desigualdade de rendimentos. É útil comparar o rendimento médio com a renda mediana, já que a renda média não revela possíveis diferenças de comportamento entre as diferentes faixas de renda e pode inclusive crescer em uma situação de aumento da desigualdade (OIT, 2009). Em 2009, a remuneração mediana dos ocupados em atividades ligadas ao comércio foi estimada em R$ 551, correspondendo a 68,2% da remuneração média, e em 2011, R$ 605 ou 71,9% da remuneração média dos (as) comerciários (as). Esse aumento da razão renda mediana/renda média demonstra ter havido um pequeno decréscimo na desigualdade de rendimentos entre os (as) trabalhadores (as) do setor, nesses três anos. Esta redução foi ocasionada por um crescimento mais robusto da remuneração mediana (9,8%), diante do reajuste de apenas 4,2% da remuneração média, como consequência dos maiores ganhos da metade mais pobre dos trabalhadores. Essa distribuição menos desigual dos rendimentos do trabalho no comércio local reflete a menor desigualdade verificada entre os homens – de 63,1% (2009) para 66,1% (2011), diante da ligeira ampliação da desigualdade percebida entre as mulheres, pois, nesse caso, a relação mediana/média oscilou de 81,3% para 79,7%, respectivamente. Observar que entre os comerciários a remuneração mediana (7,5%) cresceu bem mais do que a média (2,7%), sendo o oposto verificado com as comerciárias, em que a remuneração média (6,8%) cresceu mais do que a mediana 67 (4,7%). Portanto, na medida em que os homens representavam quase 54,0% dos trabalhadores do comércio e o acréscimo na remuneração mediana masculina superou o observado na remuneração média, isto potencializou a queda na desigualdade salarial do setor, em 2009/2011. Uma alternativa de medição da desigualdade de rendimentos é o indicador “taxa de remuneração baixa”, definida como a porcentagem de trabalhadores que ganham abaixo de 2/3 do rendimento mediano real (OIT, 2009). No caso dos trabalhadores e trabalhadoras do comércio da RMF, a taxa de remuneração baixa apresentou uma queda importante de 4,9 p.p., variando de 24,7% (2009) para 19,8% (2011). Isto significa que, se em 2009 quase ¼ dos trabalhadores (as) do comércio percebia menos de 2/3 do rendimento mediano real do setor, essa porcentagem caiu para 19,8%, em 2011, ratificando o declínio da desigualdade existente em termos dos rendimentos do trabalho, com a queda na parcela dos mais pobres. Não obstante, as expressivas diferenças entre homens e mulheres mostram-se ainda mais robustas, um forte indício de discriminação de sexo. Em 2011, 30,6% das comerciárias detinham uma remuneração inferior a 2/3 do rendimento mediano real, em comparação com apenas 12,4% dos homens, de onde se conclui que a taxa de remuneração baixa feminina é 2,5 vezes maior. Em 2009, esta relação foi estimada em 2,2 vezes. Portanto, todos os indicadores analisados apontam para uma redução da desigualdade salarial no comércio, nos últimos três anos, sendo que esta redução foi maior entre os homens, apesar de as comerciárias terem logrado maiores ganhos salariais, no período. Os números da PED/RMF também explicitam a desigualdade de remuneração existente entre homens e mulheres que trabalham no setor, destacando a redução do hiato existente entre as remunerações de homens e mulheres. Essa queda está associada a causas diversas: valorização do salário mínimo, concentração das remunerações do trabalho em cerca de 1,5 salário mínimo, maiores ganhos dos mais pobres, maior dinamismo da atividade comercial, aquecimento do mercado de trabalho, elevação do nível de consumo, dentre outros. 68 Tabela 23 – Taxa de remuneração baixa entre os trabalhadores do comércio com idade de 16 a 64 anos por sexo - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Sexo 2009 2011 Var. Relativa Homem 16,1% 12,4% -23,0% Mulher 35,9% 30,6% -14,8% Total 24,7% 19,8% -19,8% Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração do autor). Nota: Taxa de remuneração baixa é definida como a porcentagem de trabalhadores que ganham abaixo de 2/3 do rendimento mediano real. Quando da análise das remunerações de jovens e adultos, surgem alguns resultados interessantes. Em 2009, a remuneração média dos jovens comerciários foi estimada em R$ 555 e, em 2011, R$ 615, com acréscimo real de 10,8%, um patamar de remuneração um pouco maior do que um salário mínimo. Por sua vez, a remuneração média dos adultos passou de R$ 888 para R$ 911, no mesmo período, com ganho real de apenas 2,6%, demonstrando que os maiores ganhos ocorreram na população juvenil. Ainda assim, os jovens têm uma remuneração aquém da média do setor, equivalência que chegou a 73,0%, em 2011. Seguindo a tendência geral, os reajustes salariais de ambos foram mais expressivos nas faixas de menores remunerações, segmento em que os jovens obtiveram ganhos mais elevados. Exemplificando, se entre os jovens o valor do percentil 25 (teto salarial dos 25% mais pobres) cresceu de R$ 355 para R$ 514 (44,8%), nos três anos, para os adultos, o aumento foi de 26,2%, ao variar de R$ 404 para R$ 510 (Tabela 24). Tabela 24 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores jovens e adultos no comércio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Jovens Adultos Estatísticas 2009 2011 2009 2011 Média 555 615 888 911 Percentil 10 173 270 142 204 Percentil 25 355 514 404 510 Mediana 538 566 574 616 Percentil 75 615 645 942 1.020 Percentil 90 825 901 1.726 1.760 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. Em termos medianos, os jovens percebiam uma remuneração equivalente a 90% da remuneração adulta. Em 2011, enquanto metade dos jovens comerciários tinha uma remuneração mensal de até R$ 566, este valor foi estimado em R$ 616 para os adultos. Além disso, no decíl superior da distribuição, o ganho mínimo mensal 69 dos dez por cento com maiores remunerações foi de R$ 901 para os jovens e de R$ 1.760 para os adultos, quase duas vezes mais. Quanto ao rendimento médio por hora, a remuneração média horária dos jovens variou de R$ 3,11 (2009) para R$ 3,98 (2011), o correspondente a 68,0% da remuneração média horária dos adultos, que passou de R$ 4,58 para R$ 5,82, respectivamente. Na comparação com a média horária do comércio, a remuneração média horária dos jovens equivale a quase 74,0%. Pela experiência no ramo e pelo maior tempo na atividade comercial, os adultos percebem maiores salários e, quanto mais elevado o patamar dos salários, maior a discrepância entre jovens e adultos. Pelo menos nos últimos três anos, os jovens lograram ganhos reais mais expressivos, em termos médios. A Tabela 25 apresenta estatísticas diversas sobre o nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos, por nível de escolaridade, destacando muito claramente os efeitos positivos da escolaridade sobre os rendimentos do trabalho. À medida que se eleva o nível de instrução, maiores são os rendimentos do trabalho, segundo todas as estatísticas tabuladas. Ademais, o nível de remuneração no comércio melhorou qualquer que seja o grau de instrução do trabalhador. A educação é, de fato, um forte indutor da mobilidade social, especialmente quando a escolaridade média se situa em torno de nove anos de estudo, como é o caso do comércio local. Em 2011, enquanto a remuneração média mensal dos trabalhadores do ensino fundamental incompleto foi estimada em R$ 626, ela chegou a R$ 682 para aqueles com instrução fundamental completo ou médio incompleto e alcançou R$ 1.016 para os que tinham instrução de nível médio completo ou superior. Assim, estes últimos percebiam, em média, uma remuneração superior a dos trabalhadores com instrução intermediária, da ordem de 41,4%, em 2009, diferencial que foi ampliado para 49,0%, em 2011. Para os trabalhadores de nível médio completo ou superior, o piso para os 25% mais bem remunerados com essa escolaridade foi ligeiramente superior a R$ 1.000, em 2009, e 2011 (Vide percentil 75). Deve-se ainda observar que esse patamar de remuneração só é alcançado pelos trabalhadores com menos instrução quando são contemplados apenas os 10% com maiores remunerações, isto é, uma parcela bem menor, conforme o valor do percentil 90 dos menos escolarizados. 70 Tabela 25 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por nível de escolaridade - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Fundamental Fund. Completo/ Médio Completo/ Incompleto Médio Incompleto Superior Estatísticas 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 571 626 711 682 1.005 1.016 Percentil 10 114 104 153 203 296 356 Percentil 25 236 303 344 408 533 558 Mediana 492 553 543 566 607 658 Percentil 75 652 717 764 795 1.020 1.038 Percentil 90 1.049 1.161 1.185 1.159 1.851 2.029 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. Uma constatação adicional é que, considerando-se as várias escolaridades e a avaliação das remunerações média e mediana, o perfil dos rendimentos do trabalho no comércio da RMF apresenta-se menos dispare, independente da escolaridade. De outra forma, houve ligeira redução na heterogeneidade salarial no setor, independente da escolaridade. Destaque-se que, mesmo entre os mais pobres, a remuneração cresce com a escolaridade, o que é percebido pela evolução do percentil 10 (teto para a remuneração dos 10% mais pobres), que passa de R$ 104 (fundamental incompleto) para R$ 356 (médio completo/superior), em 2011. De fato, os maiores impactos da escolaridade sobre a remuneração do trabalho se processaram nas faixas extremas, ou seja, entre os mais pobres (com menores rendimentos) e os mais ricos (com maiores rendimentos). Por exemplo, em 2011, considerando-se o percentil 10, os trabalhadores mais escolarizados (médio completo/superior) perceberam uma remuneração 2,3 vezes maior do que a dos menos escolarizados (fundamental incompleto) e, atendo-se ao percentil 90, a remuneração foi apenas 1,7 vez mais elevada, comprovando o maior impacto entre os mais pobres, tal qual em 2009. Fazendo-se referência à remuneração média por hora trabalhada, enquanto a dos trabalhadores menos escolarizados (fundamental incompleto) foi de R$ 3,93, em 2011, valor 28,9% maior do que a de 2009, a dos trabalhadores com instrução de nível fundamental completo ou médio incompleto chegou a R$ 4,62 (23,9%) e a dos mais escolarizados (médio completo/superior) foi de R$ 6,41 (22,3%). Assim, pode-se supor que os menos escolarizados obtiveram ganhos mais expressivos, o que 71 também contribuiu para a discreta redução da disparidade das remunerações pagas no setor. O paralelo entre a remuneração média horária de cada nível de escolaridade e a remuneração média horária global destaca, uma vez mais, a relevância da escolaridade, pois apenas os trabalhadores de nível médio completo ou superior tiveram remuneração horária acima da média global, tanto em 2009 quanto em 2011 (Tabela 31). Via de regra, quanto mais tempo o trabalhador passar no emprego ou no negócio, ou seja, quanto maior for a estabilidade no emprego, mais elevado é o patamar de remuneração do trabalho. Praticamente, todas as estatísticas da Tabela 26 ratificam essa constatação, além da maior remuneração do trabalhador em 2011, qualquer que seja o tempo no emprego ou negócio ou o patamar de remuneração percebido, pois a tendência é de alta em todos os percentis, exceto pouquíssimos casos de relativa estabilidade. Isto explica, pelo menos em parte, os diferenciais de salário existentes entre homens e mulheres e jovens e adultos, pois as mulheres e os jovens normalmente têm menos estabilidade no emprego e, por conseguinte, auferem menores rendimentos do trabalho. Tabela 26 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por tempo de permanência no emprego ou negócio - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 De 6 a De 12 a De 24 a Menos de 6 60 meses ou menos de 12 menos de 24 menos de 60 meses mais Estatísticas meses meses meses 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 522 575 632 661 675 737 781 840 1.121 1.104 Percentil 10 92 199 213 212 171 210 173 205 231 211 Percentil 25 231 369 460 467 467 538 456 519 474 514 Mediana 530 559 547 569 551 603 553 617 669 717 Percentil 75 589 633 701 713 701 804 818 950 1.169 1.222 Percentil 90 829 844 1.031 1.020 1.145 1.218 1.421 1.589 2.296 2.107 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. A análise da remuneração do trabalhador do comércio traz alguns pontos em comum quando essa análise é feita segundo a escolaridade, o tempo de permanência no emprego ou negócio e o tamanho dos estabelecimentos. O primeiro ponto em comum é que o nível de remuneração se eleva à medida que cresce a escolaridade, o tempo de permanência no emprego ou negócio e o tamanho dos estabelecimentos. O segundo destaca o fato de que, para os 25% mais ricos, remunerações acima de R$ 72 1.000 só são encontradas no extremo superior das três variáveis (instrução médio completo ou superior, tempo de sessenta meses ou mais no emprego e em estabelecimentos com quinhentos ou mais empregados. Em outras palavras, os maiores ganhos estão correlacionados à melhor escolaridade, mais estabilidade no emprego e aos maiores estabelecimentos comerciais. E o terceiro reforça os ganhos reais de salário no triênio, independente do tempo de permanência e do tamanho dos estabelecimentos. De fato, os números da Tabela 27 revelam que o rendimento do trabalho tende a se elevar com o tamanho dos estabelecimentos. Os rendimentos médio e mediano, assim como os demais indicadores, experimentaram acréscimos contínuos ao se passar dos rendimentos pagos em estabelecimentos comerciais de até nove empregados para aqueles com 500 ou mais empregados. Em termos da remuneração por hora trabalhada, somente os empregados em estabelecimentos de até 99 empregados auferiram remuneração abaixo da média horária global, mas foi nos estabelecimentos com até nove empregados onde houve maior ganho real por hora trabalhada (32,78%). Adicionalmente, o rendimento do trabalho também se elevou em todos os níveis – dos menores aos maiores rendimentos, independentemente do porte dos estabelecimentos. Tabela 27 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por tamanho de estabelecimento - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Até 9 De 10 a 99 De 100 a 499 500 ou mais empregados empregados empregados empregados Estatísticas 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 747 787 876 886 912 909 1.021 995 Percentil 10 114 122 491 548 530 542 530 556 Percentil 25 236 307 537 561 547 563 551 583 Mediana 530 556 592 633 626 632 653 686 Percentil 75 769 843 862 915 923 913 918 1.024 Percentil 90 1.494 1.589 1.389 1.371 1.424 1.522 1.611 1.743 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. Por posição na ocupação, houve ganho real de salário entre os assalariados e autônomos nos anos analisados. O salário médio mensal dos assalariados mostrou incremento de 4,9% ao passar de R$ 770 (2009) para R$ 808 (2011). A remuneração média dos autônomos apresentou comportamento similar, com ganho de 4,8%, variando de R$ 623 para R$ 653 no mesmo período, patamar equivalente a 81% da 73 remuneração média dos assalariados. Dentre as três categorias, a dos autônomos foi a única a reduzir ligeiramente a desigualdade de remuneração do trabalho, pois a relação remuneração mediana/remuneração média cresceu de 0,65 (2009) para 0,77 (2011), ou seja, houve uma maior homogeneização dos ganhos mensais na categoria, um pequeno decréscimo na desigualdade de seus rendimentos. Usualmente, os autônomos ganham menos do que os assalariados. Só que, ao se ater apenas aos 10% mais bem remunerados, a remuneração dos autônomos supera a dos assalariados – em 2011, para os assalariados, enquanto o piso dos 10% mais ricos foi de R$ 1.267, para os autônomos, foi estimada a cifra de R$ 1.528. Por outro lado, os maiores ganhos foram observados entre os 10% mais pobres, tanto dos assalariados quanto dos autônomos, mas todos lograram melhores remunerações, em 2011, independente do patamar de remuneração. Por sua vez, o ganho médio real dos empregadores acusou ligeira redução ao variar de R$ 3.158 (2009) para R$ 3.055 (2011), tal qual o ganho mediano, que alcançou R$ 2.111 em 2011. Ademais, o ganho mínimo percebido pelos 10% dos empresários mais bem remunerados registrou redução de R$ 6.122 para R$ 5.279, no período (Tabela 28). Tabela 28 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por posição na ocupação - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Estatísticas Assalariados Autônomos Empregadores 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 770 808 623 653 3.158 3.055 Percentil 10 456 526 71 101 805 860 Percentil 25 533 558 176 205 1.181 1.512 Mediana 586 616 407 503 2.252 2.111 Percentil 75 799 837 710 819 3.474 3.593 Percentil 90 1.183 1.267 1.373 1.528 6.122 5.279 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. Segundo as estatísticas da remuneração do trabalho dos diversos grupos ocupacionais apresentadas na Tabela 29, em linhas gerais, os números revelam que houve ganho real de salário em todos os grupos e, uma vez mais, em todos os níveis de remuneração, qualquer que seja o grupo em foco, onde o ganho mais expressivo beneficiou os trabalhadores do grupo IV. Mais especificamente, o salário médio mensal dos dirigentes de empresas e gerentes (grupo I), que era de R$ 1.339, em 2009, foi estimado em R$ 1.357, em 2011, com ganho real de 1,3%. No grupo II 74 constatou-se incremento de 5,8%, ao passar de R$ 916 (2009) para R$ 969 (2011). A remuneração média dos integrantes do grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) apresentou comportamento similar, com ganho um pouco menor (2,6%), variando de R$ 655 para R$ 672, no mesmo período. O ganho mais expressivo foi obtido pelo grupo IV (13,8%), auferindo uma remuneração média de R$ 710, em 2011. Quanto à evolução das remunerações por hora trabalhada, nesse triênio, os ganhos reais variaram de um mínimo de 19,0% (grupo II) a um máximo de 30,0% (grupo III), sendo que somente os ganhos reais observados nos grupos com menores remunerações, isto é, os grupos III e IV, foram superiores ao da média global, que foi estimado em 27,4%. Em termos médios ou medianos, os grupos I (dirigentes de empresas e gerentes) e II (técnicos e escriturários) são aqueles cujos trabalhadores foram mais bem-remunerados, notadamente o grupo I, independentemente de a remuneração ser mensal ou horária. Quanto aos trabalhadores dos grupos III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) e IV (trabalhadores de atividades de suporte ao comércio), eles detinham remunerações mensais relativamente próximas, mas, ao se considerarem as remunerações médias por hora trabalhada, fica mais nítida a diferença, confirmando que o grupo IV é o detentor do menor rendimento do trabalho no comércio. A partir da análise da relação entre as remunerações mediana e média, verifica-se que, dentre os quatro grupos em estudo, apenas os mais bem remunerados (grupos I e II) reduziram a desigualdade de remuneração do trabalho intragrupo, pois a relação remuneração mediana/remuneração média cresceu de 52,4% (2009) para 62,1% (2011), no grupo I, e passou de 68,6% para 73,9%, respectivamente, no grupo II, ou seja, houve uma pequena redução na desigualdade dos rendimentos dos integrantes dos grupos I e II. Nos grupos III e IV, a realidade da desigualdade das remunerações mostrou-se em relativa estabilidade. Além do mais, a desigualdade da remuneração dos trabalhadores desses dois grupos é menor que a observada nos grupos I e II, na medida em que a remuneração mediana equivalia a aproximadamente 85,0% da remuneração média, em 2011. 75 Tabela 29 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por grupos ocupacionais - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Estatísticas Grupo I Grupo II Grupo III Grupo IV 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 1.339 1.357 916 969 655 672 624 710 Percentil 10 117 158 491 542 118 202 230 411 Percentil 25 346 409 543 568 346 410 478 555 Mediana 701 843 628 716 543 566 547 607 Percentil 75 1.549 1.637 945 1.056 710 768 687 811 Percentil 90 2.962 3.081 1.579 1.826 1.150 1.130 940 1.027 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. A Tabela 31 traz a remuneração média horária de diversas categorias de trabalhadores do comércio, em que todas se elevaram entre 2009 e 2011, especialmente a dos autônomos que trabalham para empresas. Enquanto a remuneração média horária dos assalariados com carteira assinada é mais elevada do que a dos assalariados sem carteira, a dos autônomos que trabalhavam para empresas superou a dos autônomos que trabalhavam para o público em geral e a remuneração média horária mais elevada foi a dos empregadores. Em termos dos ganhos salariais por hora trabalhada, as diversas categorias podem ser hierarquizadas na seguinte sequência: autônomos que trabalhavam para empresas (70,9%), autônomos que trabalhavam para o público em geral (38,8%), assalariados sem registro em carteira (23,8%), assalariados com carteira assinada (17,9%) e empregadores (15,5%). Em 2011, a remuneração média por hora trabalhada dos autônomos que trabalhavam para empresas foi estimada em R$ 7,81, a dos autônomos que trabalhavam para o público em geral ficou em R$ 5,72, a dos assalariados sem registro em carteira, R$ 3,49, assalariados com carteira assinada, R$ 4,67 e a dos empregadores, R$ 15,08. Deve-se lembrar que os ganhos salariais mais expressivos entre os autônomos, além do reajuste do salário mínimo, estão associados à maior produtividade desse profissional, decorrente da elevação do consumo da população. Com o intuito de detalhar um pouco mais as informações sobre o nível de remuneração do trabalho no setor, foi elaborada a Tabela 30 que apresenta diversos indicadores específicos para cada faixa de remuneração. Nesse caso, a faixa superior contempla remunerações entre 3 e 5 salários, posto que a amostra da PED/RMF não comporta desagregação para faixas de 5 salários ou mais, com a restrição setorial do 76 comércio. Mas antes se investiga como os trabalhadores do comércio se distribuem nas diversas faixas de remuneração, ou seja, qual é a frequência relativa de cada uma das faixas. Por meio do Gráfico 17, verifica-se a significativa concentração de trabalhadores na faixa de um a menos de dois salários mínimos, que, inclusive, foi mais robusta em 2011, com 53,7% da ocupação total do setor ou aproximadamente 162 mil trabalhadores de 16 a 64 anos de idade. Em outros termos, mais da metade dos trabalhadores do comércio local tem remuneração mensal de um a menos de dois salários mínimos, conforme já citado. Nesse mesmo ano, 13,5% dos ocupados perceberam remunerações mensais de menos de ½ salário mínimo e outros 15,6%, entre ½ e menos de um salário. Além disso, caiu de 32,3% (2009) para 29,1% (2011) a proporção daqueles com rendimentos mensais inferiores a um salário mínimo. Portanto, nada menos do que 82,7% dos ocupados no comércio da RMF (250 mil pessoas) declararam um patamar de remuneração mensal inferior a dois salários mínimos, em 2011, o que retrata um quadro de manutenção do patamar salarial do setor, no transcorrer dos últimos três anos, na medida em que esta mesma percentagem foi estimada em 82,6% em 2009. Ademais, estima-se que a proporção de trabalhadores com remunerações de cinco salários ou mais tenha oscilado na casa dos 3,6% (Gráfico17). Gráfico 17 – Perfil da remuneração do trabalho dos comerciários de 16 a 64 anos Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 53,7% 60,0% 50,3% 50,0% 40,0% 30,0% 17,6% 20,0% 14,7% 10,0% 13,5% 8,2% 15,6% 8,8% 5,7% 3,5% 4,8% 3,6% 0,0% 2009 2011 Menos de 1/2 SM de 1/2 a m enos de 1 SM De 1 a m enos de 2 SMs De 2 a m enos de 3 SMs De 3 a m enos de 5 SMs 5 SMs ou m ais Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). 77 A parcela de trabalhadores com remuneração de dois a menos de cinco salários também se apresentou relativamente estável, em quase 14,0%, com cerca de 41 mil profissionais, em 2011. Isto foi ocasionado por discretas oscilações nas proporções de ocupados nas faixas de dois a menos de três e de três a menos de cinco salários. Além disso, não se poderia deixar de mencionar a importante queda na proporção de trabalhadores da base da pirâmide salarial (menos de ½ salário), de 17,6% (2009) para 13,5% (2011). Tais movimentos, associados à incidência de trabalhadores cada vez maior na faixa de um a menos de dois salários mínimos, delinearam este cenário de menor discrepância salarial no âmbito da atividade comercial na RMF, em 2011. Retomando a análise do perfil salarial por faixas de remuneração, ao se analisarem alguns indicadores da faixa inferior (menos de ½ salário mínimo), nota-se que esses trabalhadores perceberam em média R$ 147, em 2011, metade deles ganhava, no mínimo, R$ 153, sendo que os 10% mais bem remunerados ganhavam R$ 252 ou mais. Com referência à faixa de três a menos de cinco salários, a média salarial era de R$ 2.091, em 2011, metade deles ganhou, no mínimo, R$ 2.054 e os 10% mais bem remunerados tiveram remunerações de R$ 2.551 ou mais. Um resultado muito importante é que quase todas essas estatísticas ratificam o crescimento das remunerações pagas pelo setor em todos os níveis, tanto no interior de cada faixa como entre as diversas faixas de remuneração. Para maiores detalhes, ver Tabela 30. Tabela 30 – Estatísticas do nível de remuneração dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por faixas de remuneração1 - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 De ½ a De 1 a De 2 a De 3 a Menos de ½ menos de 1 menos de 2 menos de 3 menos de 5 salário Estatísticas salário salários salários salários 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 2009 2011 Média 142 147 397 417 651 696 1.230 1.357 2.006 2.091 Percentil 10 45 50 294 306 532 555 1.074 1.122 1.650 1.810 Percentil 25 80 86 345 316 543 565 1.145 1.217 1.726 2.012 Mediana 118 153 370 411 591 621 1.183 1.325 1.896 2.054 Percentil 75 229 206 467 512 711 814 1.374 1.530 2.311 2.127 Percentil 90 236 252 474 527 915 973 1.422 1.583 2.370 2.551 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. A amostra não comporta desagregação para as faixas de 5 a menos de 10 e de 10 ou mais salários mínimos. 78 O crescimento dos níveis de remuneração e de emprego no comércio impactou favoravelmente na massa salarial gerada pelo setor. Dado que o total de ocupados de 16 a 64 anos passou de 285 mil (2009) para 303 mil pessoas (2011), com respectivas remunerações médias de R$ 808 e R$ 842, é estimado que a massa salarial paga pelo comércio da RMF tenha sido ampliada de algo em torno de R$ 230 para R$ 255 milhões, no triênio 2009/2011, um incremento da ordem de 10,9%. Por fim, apesar dos ganhos reais de salário ocorridos no comércio em diversos segmentos e em todos os níveis de rendimento, o patamar de remuneração do trabalho no setor é ainda muito baixo, notadamente quando se considera a extensão da jornada de trabalho. Isto reporta ao fato de que em uma conjuntura de crescimento econômico, que tende a se perpetuar por mais alguns anos, e de uma taxa de desemprego em um dos menores patamares já registrados na RMF, desde 2009, os trabalhadores mais escolarizados/qualificados tendem a obter emprego mais rapidamente, em detrimento dos menos qualificados. Assim, de modo geral, as empresas passariam a contratar os trabalhadores menos qualificados/escolarizados, em virtude de uma possível escassez de mão de obra qualificada. Diante dessa realidade e em um ambiente de elevada competitividade, é premente investir em qualificação profissional, particularmente quando a escolaridade da mão de obra é relativamente baixa. Assim, para que os empregados avancem nessa direção, ou seja, invistam em qualificação laboral, é também necessário que as empresas façam sua parte, precipuamente melhorando o patamar de remuneração do trabalho, que, no mercado de trabalho local, é o mais baixo dentre as sete regiões pesquisadas pelo Sistema PED. 79 Tabela 31 – Estatísticas do nível de remuneração por hora dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por segmentos diversos - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Segmentos populacionais 2009 2011 Sexo Homens 4,13 5,39 Mulheres 3,98 5,39 Idade Jovens 3,11 3,98 Adultos 4,58 5,82 Escolaridade Fundamental Incompleto 3,05 3,93 Fund. Completo/Médio Incompleto 3,73 4,62 Médio Completo/Superior 5,24 6,41 Tempo de permanência no emprego Menos de 6 meses 3,19 3,98 De 6 a menos de 12 meses 3,42 4,64 De 12 a menos de 24 meses 3,67 4,52 De 24 a menos de 60 meses 4,24 5,51 60 meses ou mais 5,38 6,75 Situação de trabalho/estudo Só trabalham 4,21 5,29 Trabalham e estudam 4,45 6,41 Posição na ocupação Assalariados com carteira assinada 3,96 4,67 Assalariados sem carteira assinada 2,82 3,49 Autônomo para o público 4,12 5,72 Autônomo para empresas 4,57 7,81 Empregador 13,06 15,08 Tamanho do estabelecimento Até 9 empregados 4,18 5,55 De 10 a 99 empregados 4,16 4,77 De 100 a 499 empregados 4,35 5,22 500 ou mais empregados 4,99 6,20 Grupo ocupacional Grupo I 5,61 6,87 Grupo II 4,73 5,63 Grupo III 3,90 5,07 Grupo IV 2,99 3,86 Medidas de tendência central Remuneração Mediana 2,67 3,41 Remuneração Modal 2,42 2,84 Remuneração Média 4,23 5,39 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: Foram considerados somente aqueles com alguma remuneração declarada, isto é, foram desconsiderados os ocupados que não tiveram remuneração no mês e os sem informação. Inflator utilizado – INPC/RMF – IBGE. Valores em Reis de Dezembro de 2011. 80 8 SINALIZAÇÕES PARA A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NO COMÉRCIO As Tabelas 32 e 33 a seguir apresentam duas listas de ocupações com os maiores saldos de emprego em Fortaleza, relativas aos anos de 2009 e 2011, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Elas relacionam as ocupações que mais geraram empregos com registro em carteira no comércio de Fortaleza, uma vez que o saldo de emprego é calculado pela diferença entre o número de trabalhadores admitidos e desligados. Elas também informam o salário médio de admissão de cada ocupação. Dentre aquelas com os maiores saldos no comércio da capital cearense, destacam-se: vendedor de comércio varejista, operador de caixa, embalador à mão, almoxarife, repositor de mercadorias, assistente administrativo e auxiliar de escritório. Outra constatação é que as ocupações com os maiores saldos de emprego, constantes nas listas, têm o salário médio de admissão ligeiramente acima de um salário mínimo, o que pode estar associado ao piso salarial do comerciário, que é pouco acima desse patamar de remuneração. Uma utilidade prática dessas informações é sua aplicação na seleção dos cursos de qualificação que poderiam ser priorizados, pois sinalizam as ocupações mais ofertadas pelo comércio no mercado de trabalho de Fortaleza, nos últimos anos. Tabela 32 – As ocupações do comércio com os maiores saldos de emprego formal segundo o salário médio de admissão - Fortaleza – 2009 Salário Médio de Ocupação Admissão Desligamento Saldo Admissão (em R$) Vendedor de Comércio Varejista 510,24 12.522 11.542 980 Operador de Caixa 501,56 4.289 3.505 784 Almoxarife 498,37 1.477 1.049 428 Assistente Administrativo 572,39 1.383 975 408 Auxiliar de Escritório, em Geral 481,63 3.083 2.694 389 Embalador, à Mão 432,40 1.000 676 324 Repositor de Mercadorias 480,12 1.950 1.627 323 Recepcionista, em Geral 484,84 1.045 836 209 Motociclista no Transporte de 497,72 1.127 947 180 Documentos e Pequenos Volumes Carregador (Armazém) 515,86 454 315 139 Armazenista 490,35 915 799 116 Frentista 571,18 1.292 1.180 112 Promotor de Vendas 532,63 710 604 106 Colorista Têxtil 486,68 315 217 98 Lavador de Veículos 494,61 197 101 96 Promotor de Vendas Especializado 512,50 424 329 95 Cozinheiro Geral 513,15 269 177 92 Vendedor em Comercio Atacadista 562,12 968 878 90 Abatedor 577,21 298 210 88 Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/CAGED. Nota: O valor do salário mínimo mensal era de R$ 465,00, em 2009. 81 Tabela 33 - As ocupações do comércio com os maiores saldos de emprego formal segundo o salário médio de admissão - Fortaleza - 2011 Salário Médio de Ocupação Admissão Desligamento Saldo Admissão (em R$) Vendedor de Comércio Varejista 604,07 16.664 15.394 1.270 Operador de Caixa 597,02 6.125 5.126 999 Embalador, à Mão 503,27 2.119 1.252 867 Almoxarife 591,78 2.337 1.828 509 Repositor de Mercadorias 562,82 2.807 2.359 448 Assistente Administrativo 649,96 1.950 1.667 283 Zelador de Edifício 614,06 721 453 268 Auxiliar de Escritório, em Geral 579,71 3.416 3.187 229 Ajudante de Motorista 592,63 857 653 204 Armazenista 594,01 1.209 1.027 182 Promotor de Vendas 653,42 876 716 160 Agente de Microcrédito 604,33 215 69 146 Frentista 749,87 1.661 1.542 119 Comerciante Atacadista 552,71 505 387 118 Faxineiro (Desativado em 2010) 570,78 496 379 117 Recepcionista, em Geral 584,99 1.135 1.019 116 Motociclista no Transporte de 596,78 1.500 1.386 114 Documentos e Pequenos Volumes Assistente de Vendas 620,40 785 675 110 Promotor de Vendas Especializado 637,92 506 400 106 Trabalhador de Serviços de Limpeza 614,72 418 318 100 e Conservação de Áreas Públicas Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/ CAGED. Nota: O valor do salário mínimo mensal era de R$ 545,00, em 2011. Complementando as informações contidas nas duas tabelas anteriores com as ocupações do comércio que registraram os maiores saldos de emprego em Fortaleza, a Tabela 34 apresenta as 46 famílias ocupacionais com os maiores estoques de emprego no comércio da região metropolitana de Fortaleza – RMF, segundo a Relação Anual de Informações Sociais de 2011. Diferente das tabelas com números de saldo de emprego, que quantificam os empregos gerados por ocupação, as informações sobre os estoques de emprego, em 31 de dezembro, quantificam o total de empregados celetistas existentes no comércio da metrópole cearense, ou seja, o estoque de empregados do setor no final de dezembro, destacando as famílias ocupacionais com os maiores contingentes de empregados, de outra forma, as famílias ocupacionais que mais geram oportunidades de trabalho na RMF. Optou-se por adotar o corte de 410 empregados, o que totalizou 46 famílias ocupacionais abrangendo um estoque de 143 mil empregados, dos quais 83,3 mil são homens (58,2%) e 59,7 mil, mulheres (41,8%). Ademais, o estoque total de empregados das 46 famílias ocupacionais listadas representava 86,6% do estoque total de empregados celetistas do comércio da RMF (165,2 mil), em 2011, com representações dos estoques totais de homens (83,3%) e de mulheres (91,8%) bem significativas, o que assegura uma excelente abrangência do universo de empregados celestistas do comércio local. 82 Quando da análise do número de empregados existentes nas diversas famílias ocupacionais, sobressai-se a família dos vendedores e demonstradores em lojas ou mercados por deter o mais expressivo estoque de empregados do comércio (48,9 mil ou 29,6%), do qual 25,5 mil são homens e 23,4 mil, mulheres. Em seguida, a família dos escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos, com 13,6 mil empregados (8,2%) – 5,1 mil homens e 8,4 mil, mulheres. Na terceira colocação, a família dos caixas e bilheteiros (exceto caixa de banco), com 12,5 mil empregados (7,6%), com forte predominância feminina – 9,6 mil empregadas. Uma consulta mais detalhada à Tabela 34 certamente propiciará uma visão mais verticalizada das famílias ocupacionais que mais empregam comerciários na RMF, assim como sobre as composições por sexo, lembrando que os números da RAIS, nesse caso, referem-se aos empregos celetistas. 83 Tabela 34 - Estoque de emprego no comércio, segundo famílias ocupacionais selecionadas, por sexo Região Metropolitana de Fortaleza – 2011 Famílias Ocupacionais Vendedores e demonstradores em lojas ou mercados Escriturários em geral, agentes, assistentes e auxiliares administrativos Caixas e bilheteiros (exceto caixa de banco) Almoxarifes e armazenistas Trabalhadores de cargas e descargas de mercadorias Gerente de marketing , comercialização e vendas Motoristas de veículos de pequeno e médio porte Técnicos de vendas especializadas Trabalhadores de embalagens e de etiquetagem Motociclistas e ciclistas de entregas rápidas Recepcionistas Trabalhadores nos serviços de manutenção de edificações Gerentes de operações comerciais e de reparação Magarefes e afins Motoristas de veículos de carga em geral Mecânicos de manutenção de veículos automotores Gerentes administrativos, financeiros e de risco Contínuos Garçons, barmen, copeiros e sommeliers Padeiros, confeiteiros e afins Escriturários de contabilidade Supervisores de vendas e de prestação de serviços Escriturários de apoio à produção Coloristas Trabalhadores nos serviços de administração de edifícios Escriturários de serviços bancários Farmacêuticos Porteiros, guardas e vigias Trabalhadores dos serviços de manutenção e conservação de edifícios e logradouros Outros trabalhadores dos serviços Supervisores de ser viços administrativos (exceto contabilidade , finanças e controle) Cozinheiros Técnico em eletrônica Operadores de máquinas para costura de peças do vestuário Mecânico de manutenção de máquinas industriais Ajudantes de obras civis Despachantes documentalistas Vigilantes e guardas de segurança Montadores de móveis e artefatos de madeira Técnico em secretariado, taquígrafos e estenotipistas Supervisores de serviços financeiros, de câmbio e de controle Cobradores e afins Trabalhadores dos serviços domésticos em geral Alimentadores de linhas de produção Vendedores em domicílio Profissionais de relações públicas, publicidade, mercado e negócios Sub-total (46 grupos familiares) Estoque total do comércio Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/RAIS 2011. 84 Sexo Homem Mulher 25.530 23.358 Total 48.888 5.144 8.436 13.580 2.886 6.514 3.639 1.859 3.369 1.425 2.203 2.505 427 1.872 1.363 1.876 2.063 1.855 878 1.462 514 1.140 524 881 1.159 945 874 166 421 1.103 9.636 600 52 1.560 19 1.704 820 32 2.078 633 1.020 361 15 17 902 207 953 288 805 400 81 281 349 1.043 749 47 12.522 7.114 3.691 3.419 3.388 3.129 3.023 2.537 2.505 2.505 2.383 2.237 2.078 1.872 1.780 1.669 1.467 1.428 1.329 1.281 1.240 1.226 1.223 1.209 1.170 1.150 843 288 1.131 886 34 920 513 396 909 293 766 110 749 714 652 577 562 401 274 366 295 313 258 512 34 679 13 23 8 58 9 147 273 164 138 107 158 805 800 789 762 737 660 635 571 548 547 530 433 420 416 164 247 411 83.333 100.070 59.734 65.084 143.067 165.154 Dando continuidade às sinalizações para nortear as ações de qualificação profissional no varejo cearense, nessa etapa do presente estudo, são estimadas as proporções de trabalhadores sobrequalificados (trabalhadores mais escolarizados, com escolaridade acima de certo limite), dos com qualificação compatível (trabalhadores com escolaridade intermediária) e de trabalhadores subqualificados (trabalhadores menos escolarizados, com escolaridade inferior a certo limite) do comércio da metrópole cearenses, para alguns grupos ocupacionais selecionados, englobando somente os comerciários na faixa de 16 a 64 anos de idade. Nesse aspecto, Estudos no campo da compatibilidade entre trabalho e educação classificam os trabalhadores em sobrequalificados, compatíveis ou subqualificados, de acordo com o número de anos completos de estudo (variável proxi de qualificação profissional) e tendo em vista os limites de escolaridade calculados para o grupo ocupacional ao qual o trabalhador pertence. Nesta investigação, os limiares de escolaridade foram calculados conforme formulado por Nielsen (2007) e testado, com a base de microdados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), por Schneider (2010). A forte correlação entre escolaridade e outras dimensões constituintes da qualificação profissional, como identificada em estudos anteriores, autoriza designar qualificado aquele assim classificado pelo critério educação. (DIEESE, 2011b, p.73). Trabalhando com a variável anos completos de estudo como proxi de qualificação profissional, os citados autores consideraram sobrequalificado o trabalhador com: Escolaridade > Mediana + ( Percentil 75 Mediana ) x (2 x dp) Percentil 75 Percentil 25 Foi considerado como compatível aquele com: Mediana - ( ( Mediana Percentil 25 ) x (2 x dp) ≤ Escolaridade ≤ Mediana + Percentil 75 Percentil 25 Percentil 75 Mediana ) x (2 x dp) Percentil 75 Percentil 25 85 E foi classificado como subqualificado o trabalhador com: Escolaridade < Mediana – ( Mediana Percentil 25 ) x (2 x dp). Percentil 75 Percentil 25 De acordo com o Dieese, a metodologia empregada é mais afeita a captar as necessidades de qualificação profissional, em termos dos cursos livres, por exemplo, aqueles decididos pelas Comissões Municipais de Emprego, apresentando restrições para os cursos técnicos e superiores. (DIEESE, 2011b). No caso da quantificação dos limiares de escolaridade para alguns grupos ocupacionais de trabalhadores da RMF, adotou-se a mesma metodologia utilizada pelo DIEESE, ressaltando que os resultados são restritos aos trabalhadores do comércio de 16 a 64 anos de idade (empregados com e sem carteira assinada, autônomos, trabalhadores familiares, empregadores, etc.), tendo como fonte de informação a Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Fortaleza. Os dados trabalhados foram acumulados para o triênio 2009 – 2011, assegurando maior representatividade aos resultados, o que propiciou a estimação da proporção de trabalhadores dos diversos grupos ocupacionais em cada uma das três classificações. Por sua vez, as estimativas do número de trabalhadores do comércio sobrequalificados, compatíveis e subqualificados referem-se a 2011. As diversas estatísticas necessárias à quantificação dos limites de escolaridade - média, desvio padrão e alguns percentis - foram estimadas para cada um dos segmentos ocupacionais selecionados, conforme constam nas Tabelas 35 e 36, o que possibilita a realização de análises complementares, mais pormenorizadas, caso seja necessário. 86 Tabela 35 – Estatísticas de anos de estudo dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos por grupos ocupacionais - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009, 2010, 2011 Estatísticas Ocupados no comércio 16 a 64 anos Assalariados com registro em carteira Gerentes Vendedores Grupo I Grupo II Grupo III Grupo IV Média 9,1 10,2 8,7 9,0 8,7 10,7 9,04 7,75 Desvio 3,16 2,54 3,62 3,09 3,62 2,31 3,02 3,00 padrão Percentil 4,0 7,0 4,0 4,0 4,0 8,0 4,0 4,0 10 Percentil 7,0 10,0 5,0 7,0 5,0 11,0 7,0 5,0 25 Mediana 11,0 11,0 10,0 11,0 10,0 11,0 11,0 8,0 Percentil 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 11,0 75 Percentil 11,0 12,0 12,0 11,0 12,0 13,0 11,0 11,0 90 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: As estatísticas foram geradas a partir do acúmulo trienal dos dados, ou seja, os valores amostrais foram acumulados para os anos de 2009, 2010 e 2011 e, a partir daí, foram geradas as estatísticas tabuladas. Tabela 36 – Estatísticas de anos de estudo dos trabalhadores no comércio com idade entre 16 e 64 anos, por segmentos populacionais - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009, 2010, 2011 Homens de 16 Mulheres de 16 Jovens de Adultos de 25 a Estatísticas a 64 anos a 64 anos 16 a 24 anos 64 anos Média 8,7 9,5 9,8 8,8 Desvio padrão 3,22 3,04 2,26 3,37 Percentil 10 4,0 4,0 7,0 4,0 Percentil 25 7,0 8,0 8,0 6,0 Mediana 10,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 75 11,0 11,0 11,0 11,0 Percentil 90 11,0 11,0 11,0 11,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: As estatísticas foram geradas a partir do acúmulo trienal dos dados, ou seja, os valores amostrais foram acumulados para os anos de 2009, 2010 e 2011 e, a partir daí, foram geradas as estatísticas tabuladas. Focando a análise no nível de subqualificação dos comerciários de 16 a 64 anos de idade, passou-se a analisar o conteúdo da Tabela 37, que traz as proporções estimadas de trabalhadores subqualificados, compatíveis e sobrequalificados, segundo os diversos segmentos ocupacionais analisados. Inicialmente, a proporção de comerciários subqualificados foi estimada em 15,9%, o equivalente a cerca de 48,2 mil comerciários subqualificados na RMF, em 2011, valor proveniente da adição do total de homens (33,6 mil) e mulheres subqualificados (14,6 mil). Constatou-se ainda que há níveis diferenciados de subqualificação, quando se adotou o recorte analítico dos segmentos ocupacionais, os quais variaram de 7,9% a 22,2%, no triênio 2009/2011. Por exemplo, o nível de subqualificação dos homens (20,8%) é duas vezes maior do 87 que o das mulheres (10,2%), mesmo porque elas são mais escolarizadas, como já relatado. Pelo mesmo motivo, a subqualificação entre os mais jovens chegou a 9,1% e alcançou 15,4% entre os comerciários adultos, dentre outros. As proporções mais expressivas de subqualificados foram encontradas entre os trabalhadores do Grupo II (técnicos e escriturários) (22,2%), homens (20,8%), trabalhadores do Grupo IV (trabalhadores de atividades de suporte ao comércio) (18,6%) e trabalhadores adultos (15,4%). No extremo oposto à elevada subqualificação, ela se mostra em menor intensidade entre os vendedores (12,4%), trabalhadores do Grupo III (trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços) (11,6%), mulheres (10,2%), gerentes (9,6%), trabalhadores do Grupo I (dirigentes de empresas e gerentes) (9,6%), jovens comerciários (9,1%) e entre os assalariados com registro em carteira (7,9%). Tabela 37 – Distribuição dos ocupados no comércio, com idade entre 16 e 64 anos, segundo a compatibilidade entre qualificação e o tipo de ocupação - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009, 2010, 2011 Segmentos ocupacionais Subqualificados Compatíveis Sobrequalificados Assalariados com registro em carteira 7,9% 81,2% 10,9% Homens ocupados 20,8% 72,7% 6,5% Mulheres ocupadas 10,2% 79,9% 9,9% Trabalhadores jovens de 16 a 24 anos 9,1% 83,5% 7,4% Trabalhadores adultos de 25 a 64 anos 15,4% 76,4% 8,2% Trabalhadores do Grupo I 9,6% 78,9% 11,5% Trabalhadores do Grupo II 22,2% 59,0% 18,8% Trabalhadores do Grupo III 11,6% 82,7% 5,7% Trabalhadores do Grupo IV 18,6% 80,4% 1,0% Gerentes 9,6% 79,0% 11,4% Vendedores 12,4% 81,6% 6,0% Total de ocupados no comércio 15,9% 76,0% 8,1% Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: As estatísticas foram geradas a partir do acúmulo trienal dos dados, ou seja, os valores amostrais foram acumulados para os anos de 2009, 2010 e 2011 e, a partir daí, foram geradas as estatísticas tabuladas. Observar que o grau de subqualificação dos vendedores (12,4%), assim como o do Grupo III (11,6%), registrou proporção próxima ao resultado global (15,9%). Isto pode ter sido ocasionado pela expressiva representatividade dos vendedores na ocupação total do comércio, conforme os números das diferentes fontes de informação já atestaram, o que significa dizer que investir na qualificação dos vendedores é uma estratégia consistente para a redução da subqualificação setorial e para incrementar a produtividade no comércio da RMF. Há também a necessidade de 88 um olhar mais cuidadoso sobre os subqualificados do Grupo II (técnicos e escriturários), mesmo porque foi nesse grupo que se encontrou o mais elevado nível de sobrequalificação (18,8%) (Tabela 37). Ademais, os resultados sinalizam que os trabalhadores subqualificados do comércio, em larga medida, têm mais idade, posto que os adultos são maioria e menos escolarizados, são do sexo masculino e possuem relações informais de trabalho, pois a subqualificação é maior entre os sem registro em carteira, deixando transparecer a precariedade de sua inserção no mercado de trabalho. Dessa forma, os segmentos dos homens e dos trabalhadores dos Grupos II e IV deveriam ser priorizados quando se trata de qualificar os profissionais do comércio da metrópole cearense, o que não significa dizer que se deva esquecer os demais, mesmo porque o presente estudo evidenciou a existência da subqualificação entre os profissionais de todos os segmentos analisados, apesar das diferenciadas intensidades. 89 9 O PERFIL DOS DESEMPREGADOS DO COMÉRCIO A trajetória de crescimento da economia brasileira, em particular da economia cearense, a partir de 2004, produziu importantes resultados positivos no mercado de trabalho, em que se destacaram: elevação do nível ocupacional, queda da taxa de desemprego, maior formalização do emprego, com a consequente queda da informalidade, ganhos reais de salário e forte expansão da massa salarial. Seguindo a tendência dos principais mercados de trabalho metropolitano do país, a taxa de desemprego na região metropolitana de Fortaleza (RMF) apresentou importante movimento de queda, no quadriênio 2009 – 2012, de 11,4%, em 2009, para 9,4%, em 2010, até alcançar 8,9% da população economicamente ativa, em 2011 e 2012, contabilizando 162 mil desempregados, 32 mil a menos do que em 2009. Isto foi reflexo da geração de 145 mil ocupações, em número superior ao de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho local (113 mil), conforme estimativas da PED/RMF. O total de ocupados passou de 1.512 mil, em 2009, para 1.657 mil trabalhadores, em 2012, com expansão de 9,6%, enquanto o número de desempregados registrou uma redução de expressivos 16,5%, no citado período. Especificamente no setor do comércio e reparação de veículos, o contingente de ocupados de 10 anos ou mais de idade cresceu de 370 mil, em 2011, para 388 mil pessoas, em 2012, em virtude da criação de 18 mil novas oportunidades de trabalho. Portanto, simultaneamente à redução do desemprego, verificou-se um movimento similar de elevação do nível ocupacional na RMF, nos últimos quatro anos, reflexo do aquecimento do mercado de trabalho local, conforme se pode constatar no Gráfico 18, com o comércio contribuindo com a geração de 18 mil ocupações. Por outro lado, os números também revelam uma perda de dinamismo do mercado de trabalho da RMF, em 2012. 90 Gráfico 18 - Taxas anuais de participação, ocupação e desemprego (Em %) Região Metropolitana de Fortaleza – 2009 – 2012 59,0 12,0 11,4 58,5 58,0 58,4 58,2 57,8 10,0 9,4 8,9 56,0 8,9 8,0 55,0 6,0 54,0 53,2 53,0 53,0 53,0 Desemprego Participação e ocupação 57,0 4,0 52,0 51,2 2,0 51,0 50,0 0,0 2009 2010 Participação 2011 Ocupação 2012 Desem prego Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). Apesar dos diferentes patamares de desemprego dos diversos segmentos populacionais, em que as mulheres e os mais jovens são os mais penalizados, a Tabela 38 aponta que a queda na taxa de desemprego ocorreu nos mais diversos segmentos, o que dá mais consistência ao fenômeno em si, na medida em que indica que esta redução foi generalizada. Ao longo dos quatro anos, as reduções mais expressivas no desemprego aconteceram entre os chefes de família (-21,1%), os cônjuges (-28,0%), os homens (-26,0%) e entre os trabalhadores com mais idade - 25 a 39 anos (-26,2%) e de 40 a 49 anos (-26,3%). Portanto, além de possuírem taxas mais elevadas, o desemprego das mulheres e o dos mais jovens reduziram-se em menor intensidade. No quadriênio 2009/2012, o desemprego feminino apresentou queda de 12,9% para 10,7% e o juvenil caiu de 23,1% para 20,5%, conforme tabela 38. Tabela 38 – Taxas anuais de desemprego por segmentos populacionais selecionados (Em %) Região Metropolitana de Fortaleza – 2009 – 2012 Segmentos populacionais 2009 Chefes de família 5,7 Cônjuges 9,3 Homens 10,0 Mulheres 12,9 16 a 24 anos 23,1 25 a 39 anos 10,3 40 a 49 anos 5,7 Total 11,4 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. 2010 2011 2012 4,4 7,9 8,1 11,0 20,2 8,4 4,2 9,4 4,1 7,3 7,3 10,7 19,9 7,9 4,0 8,9 4,5 6,7 7,4 10,7 20,5 7,6 4,2 8,9 91 Diante dessa conjuntura de elevação da ocupação e declínio do desemprego, nessa etapa do trabalho, os esforços analíticos voltam-se para traçar o perfil dos desempregados que trabalhavam anteriormente no comércio, ou seja, para se conhecer, em maiores detalhes, a mão de obra desligada do setor. Assim, estimam-se o total de desempregados do comércio e o número de desempregados com qualificação e experiência no setor. Investiga-se também o perfil dos desempregados segundo o sexo, idade e escolaridade, conforme apresentado a seguir. O presente estudo elegeu como população alvo aquela com idade na faixa de 16 a 64 anos, que trabalhava no comércio da RMF, nos anos de 2009 e 2011. Dessa forma, considerando a população economicamente ativa na mesma faixa etária, as estimativas do contingente de desempregados foram de 191 mil trabalhadores, em 2009, e de 156 mil, em 2011. Na sequência, como a participação do comércio no universo de desempregados não variou, mantendo a representação de 17,1%, o total de desempregados de 16 a 64 anos, com experiência de trabalho anterior no comércio, foi estimado em 33 mil, em 2009, com redução para 27 mil indivíduos, em 2011. Observar, inclusive, que o ritmo de redução do desemprego no comércio da RMF foi similar ao verificado no total de desempregados, com quedas ligeiramente acima de 18%, no triênio. Portanto, enquanto a atividade comercial respondia por 17,1% do desemprego da RMF, em 2011, sua participação na ocupação total foi estimada em 19,4%, conforme já citado. Em síntese, em 2011, dos 156 mil desempregados da RMF, 27 mil eram originários do comércio, contingente inferior aos 33 mil desempregados de 2009. Por sua vez, a análise do perfil dos desempregados do setor vem sedimentar conclusões anteriores que revelavam a fragilidade dos vínculos empregatícios de mulheres e jovens que trabalham no comércio da RMF, visto que as participações desses segmentos no desemprego cresceram, nos últimos anos. Enquanto as proporções de homens e de trabalhadores de 25 a 64 anos de idade declinaram, entre 2009 e 2011, a parcela feminina no desemprego foi ampliada para 53,1% e a dos jovens, para 52,4%. Assim, apesar do crescimento das oportunidades de trabalho no setor, os jovens de 16 a 24 anos e as mulheres respondiam por mais da metade dos desempregados com experiência de trabalho anterior no comércio da RMF (Tabela 39). 92 Tabela 39 – Perfil dos desempregados de 16 a 64 anos, com experiência de trabalho anterior no comércio, por segmentos populacionais selecionados (Em %) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Segmentos populacionais 2009 2011 Sexo Homens 52,2 46,9 Mulheres 47,8 53,1 Idade 16 a 24 anos 47,8 52,4 25 a 64 anos 52,2 47,6 Escolaridade Analfabeto/Sem escolaridade - (1) - (1) Fundamental Incompleto 15,9 - (1) Fund. Completo/Médio Incompleto 23,5 24,5 Médio Completo/Superior 60,1 63,6 Total 100,0 100,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Nota: -(1) A amostra não comporta a desagregação para esta categoria. Outro aspecto relevante é que a presença dos(as) comerciários(as) mais escolarizados(as) no segmento dos desempregados do setor foi fortalecida com o passar dos anos. De outra forma, as empresas comerciais têm à disposição um contingente de desempregados ligeiramente mais instruído. Nesse cenário, destaca-se a participação dos comerciários com instrução de nível médio completo ou superior, que evoluiu de 60,1%, em 2009, para 63,6%, em 2011, isto é, de cada dez comerciários desempregados, seis tinham, no mínimo, nível médio completo, assegurando aos comerciantes uma disponibilidade efetiva de mão de obra relativamente escolarizada. Tal fato pode ser resultante da elevada rotatividade verificada no setor, aliada ao maior nível de instrução das mulheres e dos jovens comerciários, na medida em que eles conformam mais de 50% dos desempregados do setor. No tocante aos grupos ocupacionais, a participação mais expressiva na população de desempregados do setor é detida pelos trabalhadores que integravam o grupo dos trabalhadores de atendimento ao público, vendedores e serviços (Grupo III), no qual os vendedores e prestadores de serviços do comércio são maioria absoluta. Lembrar ainda que o citado grupo foi também o de maior representação no segmento dos ocupados (60,3% ou 183 mil trabalhadores), em 2011, o que, novamente, remete à elevada rotatividade de mão de obra no comércio. 93 No intuito de estimar o contingente de desempregados do comércio com qualificação e experiência profissional, considerar-se-á o conceito utilizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), conforme definição a seguir. A oferta dos desempregados qualificados e com experiência é o indivíduo desempregado que tomou alguma providência para conseguir trabalho, e que, no período de 358 dias anteriores à pesquisa havia trabalhado em determinado setor e, que, além disso, tem o número de anos de estudo maior que a média dos empregos formais (servidores públicos ou privados com CLT), deste mesmo setor. (IPEA, 2011, p. 9). Fazendo uma adequação conceitual15 especificamente para o setor do comércio, serão considerados como desempregados com qualificação e experiência profissional os indivíduos que tomaram alguma providência para conseguir trabalho e que, no período de 358 dias anteriores à pesquisa, haviam trabalhado no comércio, além de deterem número de anos de estudo maior que a média dos empregos formais deste mesmo setor, ou seja, maior do que a média dos comerciários com registro em carteira, que foi de 10,1 anos, em 2009, e 10,2 anos, em 2011, segundo a PED/RMF. Assim sendo, números da mesma fonte estimam que aproximadamente 28,4% dos desempregados de 16 a 64 anos de idade eram pessoas qualificadas e com experiência de trabalho no comércio, em 2009, proporção ampliada para 35,5%, em 2011. Em valores absolutos, a estimativa do total de desempregados da RMF, com qualificação e experiência de trabalho no comércio, passou de 9,4 mil pessoas, em 2009, para 9,6 mil, em 2011. Por conseguinte, em 2009, do universo de 33 mil desempregados do comércio com idade entre 16 a 64 anos, 9,4 mil foram classificados como desempregados com qualificação e experiência de trabalho no setor. Em 2011, os valores estimados foram de 27 mil e 9,6 mil, respectivamente, ou seja, para cada três desempregados do comércio, de 16 a 64 anos, um tinha qualificação e experiência de trabalho no setor, mantendo a relação de aproximadamente um desempregado qualificado e experiente para cada três 15 Em termos de desemprego, a Pesquisa de Emprego e Desemprego considera as categorias de desemprego aberto e desemprego oculto. Na estimação do total de desempregados com qualificação e experiência profissional no comércio, optou-se por considerar apenas os desempregados na condição de desemprego aberto. Isto ocorreu devido aos seguintes fatores: exigência da procura efetiva de trabalho; o foco está voltado para os desempregados com qualificação e experiência, trabalhadores usualmente na condição de desemprego aberto, e a significativa parcela do desemprego aberto no desemprego total de 16 a 64 anos, que passou de 66,0% (2009) para 75,3% (2011), no mercado de trabalho da RMF. 94 desempregados. Mais precisamente, esta relação apresentou ligeira melhora, ao passar de 3,5, em 2009, para 2,8, em 2011, isto é, um desempregado qualificado e experiente para cada 2,8 desempregados, uma situação um pouco mais favorável. No que concerne ao tempo de procura de trabalho dos desempregados do comércio de 16 a 64 anos, residentes na RMF, a Tabela 40 traz um leque de estatísticas sobre o tema, cuja principal constatação é a redução observada no indicador em questão. Em média, o tempo de procura de trabalho despendido pelos desempregados de 16 a 64 anos, originários do comércio, diminuiu de 9,3, em 2009, para 7,8 meses, em 2011 (-16,1%), o que pode sinalizar um retorno mais rápido ao trabalho, não obrigatoriamente no comércio. Este menor tempo de procura ocorreu inclusive em termos medianos, que caiu de cinco meses, em 2009, para quatro meses, em 2011, significando dizer que metade dos desempregados do setor levava, no máximo, quatro meses para obter um novo trabalho. Mas, verdade é que, em 2011, apesar da citada redução, o piso dos 25% com tempo mais longo de procura foi estimado em dez meses. Por conseguinte, a intensificação da atividade comercial na metrópole cearense impactou favoravelmente no mercado de trabalho local e, dentre os inúmeros indicadores que ratificam essa constatação, a redução do tempo de procura de trabalho apresenta-se como um deles. De acordo com a Tabela 40 e o Gráfico 19, esta diminuição ocorreu independente de sexo ou idade, embora as quedas mais significativas foram entre as mulheres e os trabalhadores adultos. Em média, o tempo de procura de trabalho das mulheres é mais extenso do que o dos homens e acusou um declínio de quase três meses, apresentando queda de 11 meses, em 2009, para 8,1 meses, em 2011 - ou redução de 26,4% -. Entre os comerciários adultos, esta foi cerca de dois meses, em média, ao passar de 11,6 para 9,6 meses, respectivamente. Adicionalmente, considerando os tempos médios de procura em termos globais, apenas as mulheres e principalmente os adultos detinham tempos superiores a essa média, o que quer dizer que eles despendiam mais tempo tentando obter uma nova colocação no mercado de trabalho. Observar ainda que o tempo de procura dos mais jovens se mostra bem mais curto, possivelmente por eles não serem muito exigentes em termos da qualidade do trabalho, remuneração paga, etc. 95 Tabela 40 – Estatísticas do tempo de procura por trabalho dos desempregados de 16 a 64 anos, com experiência de trabalho anterior no comércio, por sexo e idade (Em meses) Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 Estatísticas Total Homens Mulheres 16 a 24 anos 25 a 64 anos 2009 Média 9,3 7,8 11,0 6,8 11,6 Percentil 10 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 Percentil 25 2,0 2,0 2,8 2,0 2,0 Percentil 50 5,0 4,0 6,0 4,0 6,0 Percentil 75 12,0 11,0 12,0 10,0 12,0 Percentil 90 24,0 24,0 24,0 17,0 24,0 2011 Média 7,8 7,5 8,1 6,1 9,6 Percentil 10 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 Percentil 25 2,0 2,0 2,0 2,0 2,0 Percentil 50 4,0 3,0 4,0 3,0 4,0 Percentil 75 10,0 8,8 11,0 9,0 12,0 Percentil 90 18,0 13,0 18,0 12,0 24,0 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF. Em face de tais constatações, pode-se concluir que a atividade comercial foi responsável por pouco mais de 17% dos desempregados da RMF, nos últimos anos, similar à sua representação na ocupação total (19,4%), sendo a maior parte dos desempregados proveniente do comércio constituída por mulheres e jovens. Até mesmo por esse motivo, este segmento se mostra relativamente mais escolarizado. Nesse aspecto, o estudo ainda revela que de cada três desempregados, de 16 a 64 anos, um apresentava-se com qualificação e experiência de trabalho anterior no comércio, totalizando 9,6 mil desempregados com qualificação e experiência no setor, em 2011. Ademais, com o maior dinamismo do mercado de trabalho local, o tempo de procura de trabalho dos comerciários mostra-se cada vez menor, em diversos segmentos populacionais, dentre os quais, as mulheres e os adultos despenderam mais tempo na procura de trabalho, apesar de as reduções se apresentarem mais fortes, em ambos os casos, na casa dos 33%, em termos medianos. 96 Gráfico 19 – Variação relativa dos tempos médio e mediano de procura de trabalho, segundo sexo e idade (Em %) - Região Metropolitana de Fortaleza – 2009/2011 0,0% -5,0% -3,8% -10,0% -10,3% -15,0% -16,1% -20,0% -17,2% -20,0% -25,0% -25,0% -25,0% -26,4% -30,0% -33,3% -33,3% -35,0% Total Tem po m édio Hom em Mulher 16 a 24 anos 25 a 64 anos Tem po m ediano Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego – PED/RMF (Elaboração própria do autor). 97 REFERÊNCIAS AMBROZIO, A; SOUSA; F. Decompondo a produtividade brasileira entre 1995 e 2008. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. 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