Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação - ARC - Vol. 2 - Edição Especial
Curso de Introdução à Conservação e Restauro de Acervos Documentais - CICRAD
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Convênio AERPA - Ministério da Justiça - no 748319/2010
M4A2 - MÓDULO 4 - AULA 2
TIPOS DE PAPEL E SUAS CARACTERÍSTICAS
Malthus Oliveira de Queiroz; Plínio Santos-Filho; Carla Andrade Reis; Demilson Malta Vigiano
Andréa Mota Silveira; Pedro Campelo Cavalcanti; Antônio dos Santos Filho; Euma Décia Leônidas
Laboratório Escola CERPO Papel - Agência de Estudos e Restauro do Patrimônio - AERPA
Introdução
Conforme vimos na primeira aula deste módulo, a
base da fabricação de papel mais comumente
consumido modernamente são as plantas. No entanto,
apesar de terem matéria-prima comum, os papéis
diferem entre si, havendo quantidade considerável de
tipos de papel.
Cada tipo de papel tem aplicabilidade específica.
De maneira geral, os papéis modernamente são usados
para impressão e escrita. No entanto, encontramos
papel nas embalagens, em utensílios de higiene
pessoal, em obras de arte, construção civil, e assim por
diante.
Tipos de papel
A referência (1) desta aula traz um resumido índice
da variedade de papéis presente no nosso cotidiano.
Esses papéis são:
Papel de imprensa - usado para designar papéis para
impressão de jornais e revistas. Existem diferenças no
uso dos diversos tipos de papel de imprensa. Eles são
considerados, para efeito de estatísticas, como um só.
Papel-bíblia (papel da Índia) - um tipo de papel de
imprensa, usado principalmente para confeccionar
livros, dicionários, bulas para as indústrias
farmacêuticas e de cosméticos, revistas e periódicos.
Possui alta opacidade, o que lhe permite ser impresso
nos dois lados; e boa formação da folha, conferindo às
publicações um manuseio melhor.
O papel-bíblia possui baixa gramatura, por isso
utiliza menos matéria-prima. Assim, seu custo é
reduzido, o que o torna adequado para publicações com
grande número de páginas.
Papel bouffant - tipo de papel de impressão, usado
na confecção de livros e para serviços tipográficos.
Papel couché - muito usado na impressão de livros
e na indústria gráfica geral. Sua composição é papelbase que recebeu camadas adicionais e cargas, para se
tornar mais liso, uniforme. Pode ser brilhoso ou fosco.
Papel-jornal - papel de baixíssimo custo, usado para
publicação de jornais e periódicos. Feito com sobras de
madeira usada na fabricação de móveis e com mistura
de madeira e fibras recicladas, esse papel apresenta
baixa qualidade e custo reduzido.
Papel Offset - papel para impressão offset,
fabricado com pasta química branqueada. Possui
grande resistência a tração e a umidade e possui
superfície lisa.
Papéis especiais
Papel-pergaminho - papel de fibras puras, imita o
pergaminho animal, só que é feito de fibras vegetais.
Muito usado em luminárias e abajures e também na
produção de embalagens para proteção de substâncias
gordurosas e alimentos, por causa da sua baixa
permeabilidade. Possui alta resistência à tração e à
temperatura. De pH Neutro, possui grande
versatilidade, podendo ser usado para confecção de
certificados e diplomas, cartões de visita, menus,
calendários, catálogos, edições de prestígio, etiquetas
de moda, jóias e perfumaria, embalagens de luxo e
produtos de artesanato e decoração.
Papel da China - fabricado com casca do bambu,
tem cor parda ou amarelada. É fino e esponjoso e, ao
mesmo tempo, macio e brilhante, tal um tecido de seda.
Esse papel é muito inconsistente e sua reputação
provém não da beleza, mas da boa qualidade que
oferece para a tinta de impressão, o que torna bastante
concorrido no trabalho com gravuras artísticas.
Papel japonês - papel branco ou suavemente
amarelado, sedoso, acetinado, espesso e transparente.
Fabricado com a casca de arbustos da flora japonesa,
que oferece fibras macias, flexíveis, compridas e
resistentes, o papel japonês absorve muito bem as
tintas, sendo adequado para trabalhos com gravuras e
xilogravuras, pois deixa sobressair os tons das imagens
com bastante qualidade. Seu manuseio deve evitar
fricção, raspagem e limpeza.
Papel italiano - especial para uso em desenho e
trabalhos artísticos, o papel italiano possui grande
gama de gramaturas. A próxima a 260 gramas é muito
apreciada para trabalhos artísticos desde a renascença.
Na renascença eram comuns as variedades de fibras
esbranquiçadas e papeis com tons azulados,
provenientes de restos de trapos e tecidos das roupas de
marinheiros, daí o nome "papel de trapo". Na Itália
destacasse o papel da fábrica Fabriano, uma das
pioneiras da fabricação do papel na Europa desde o
século XII (1282, Ancona, Itália). A Fabriano é
especialista em papéis com qualidades arquivísticas,
pH neutro e de trapo de puro algodão.
Papel francês Arches - o papel Arches é bastante
tradicional, tendo mais de 500 anos de história. O papel
é 100% de algodão e foi o preferido de grandes artistas
da história da arte, como Monet, Picasso e outros.
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Possui brancura natural (sem branqueador óptico),
proteção contra fungos e bactérias e pH neutro, o que
ajuda a conservar a obra por mais tempo.
Papel Strathmore - papéis puros ou reciclados,
apresentam marcas d'água e superfície lisa, bastante
indicado para impressão artística, fotos ou ilustrações.
Sua gramatura varia entre 200g e 500g.
Papel Canson - no Brasil são muito populares os
papéis da fabricante Canson, que são encontrados em
diversas gramaturas e colorações, para as mais diversas
aplicações.
O papel artesanal
A técnica de fabricação do papel artesanal é a
mesma da do inventor Ts’ai Lun. No caso do papel
artesanal, pode utilizar dois processos:
1. Reciclagem de resíduos do papel industrial,
reaproveitando sua celulose;
2. Extraindo celulose de fibras vegetais.
A reciclagem de papel se coaduna com o
pensamento
humano
contemporâneo
de
reaproveitamento de resíduos, melhorando sua relação
com o meio ambiente. O papel reciclado, por seu lado,
tem grande aceitação comercial, apesar de muitas vezes
apresenta custo maior do que o do papel
industrializado.
A
reciclagem
consiste
basicamente
na
decomposição desses papéis em liquidificador
doméstico, obtendo-se daí a polpa, para depois
formação de nova folha de papel. A colagem das fibras
e a nova formação da folha é facilitada pela presença
da cola nos papéis industriais.
Papéis impressos ou de revistas não são
recomendáveis para reciclagem, pela tinta que contêm.
No entanto, eventualmente, pode-se também reciclar
esses papéis, principalmente na técnica artística do
papier maché, onde a tinta industrial de impressão no
papel reciclado passa a funcionar como um
conservante.
Alguns processos adicionais, como tingimento,
impermeabilidade, etc., podem ser aplicados ao papel
reciclado, conforme se pode ver no texto de Diva Elena
Buss (1).
O papel feito artesanalmente de fibras vegetais
possui basicamente o mesmo processo, com a diferença
de que é um processo mais demorado e se utiliza da
pré-fabricação da folha, que exige equipamentos
específicos e uso de produtos químicos. Esses
equipamentos e produtos podem ser conferidos (1)(2),
como também todo o processo.
Esse processo inclui, na pré-fabricação da folha:
retirada das cascas vegetais; limpeza da matéria-prima;
cozimento; lavagem; e batimento.
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Papel de cana de açúcar - feito do bagaço da cana, é
também conhecido como um tipo de papel verde. Sua
fabricação é um híbrido do papel reciclado e de fontes
vegetais, pois recicla não o papel, mas a própria fonte
vegetal da matéria-prima (polpa do papel).
O uso do bagaço de cana para fabricação de papel
se configura numa boa solução para o uso de resíduos
industriais, tendo em vista a presença de grandes
lavouras de cana em praticamente todo o País.
Estudos apontam que a produção de papel
utilizando fibras de cana-de-açúcar apresenta algumas
vantagens, como menor quantidade de produtos
químicos usados na transformação, o que permite o
papel resultante seja utilizado até em contato direto
com alimento, devido à pureza das fibras virgens.
Estas fibras, por sua vez, possibilitam a fabricação
de uma variedade considerável de papéis, dos nobres
ao mais simples papéis para escrita.
Outra vantagem apontada pelos estudos está na
forma de branqueamento, que utiliza dióxido de cloro
(ou ECF), menos poluente.
Diferentemente da madeira de reflorestamento, que
necessita de muitos anos para ser utilizada na
fabricação de papel, o bagaço da cana é abundante,
podendo-se obtê-lo praticamente o ano todo. Isso
implica custos menores no manejo e retorno mais
eficiente, já que o ciclo médio da cana-de-açúcar é de
12 a 18 meses.
Conclusão
A variedade de papéis na atualidade é muito
grande, tendo em vista as possibilidades de uso serem
bastante abrangentes. Por isso, você pode pesquisar na
internet e em outras fontes documentais sobre as
variedades do papel.
No entanto, podemos definir os tipos de papel da
seguinte maneira:
a) quanto a seu processo (espécies de pasta) - pasta
mecânica (obtida da madeira); pasta química
(celulose); pasta de trapos (linho ou algodão); carga
(com adição de ingredientes minerais, como talco,
caulin, carbonato de magnésio ou cálcio, argila,
amianto, gesso. Esse processo é usado, principalmente,
para baratear o custo do papel e torná-lo melhor para a
escrita, evitando a transparência e aumentando seu
peso); e
b) quanto a qualidade e emprego - tipos de papel:
papel-jornal, papel offset, papel-bíblia, etc. Abrange
também os papéis para imprimir e para escrita, para
fins de higiene, etc.
A preocupação com os papéis para uso
arquivísticos deve ser levada em conta pelo
conservador-restaurador de acervos documentais, e os
parâmetros primeiros a serem verificados são o pH, a
pureza e a resistência à umidade.
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Sala de Leitura
(1) Como fazer papel artesanal. Diva Elena Buss.
(2) Produção de polpa celulósica a partir do engaço da
bananeira. Maria de Lourdes Soffner.
Links
http://www.fazfacil.com.br/materiais/papel_tipos.html
http://fabriano.com/p/en/11/
http://www.strathmoreartist.com/paper-use-guide.html
http://www.canson-us.com/
Tags: história do papel; fabricação do papel; papiro;
pergaminho.
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