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REVISTA EDUCAÇÃO - EDIÇÃO 102
Imersão total
No Ecocentro IPEC, em Pirenópolis (GO), o conceito de
desenvolvimento sustentável é traduzido para a vida cotidiana
Vanessa Nakasato
Crianças e adolescentes de Goiás e do Distrito Federal têm a
oportunidade de aprender educação ambiental in loco: dezenas de
escolas públicas e particulares reservam pelo menos um dia do ano
para visitar o Ecocentro IPEC - Instituto de Permacultura e Ecovilas
do Cerrado. Situado em uma fazenda no município de Pirenópolis,
no interior goiano, foi estabelecido há seis anos com o objetivo de
desenvolver tecnologias sustentáveis e ensiná-las para o público em
geral, mas especialmente alunos de ensino fundamental e
médio.Atualmente, é considerado referência mundial em vida
sustentável e imitado em diversas partes do mundo.
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A ferramenta de trabalho do instituto é a permacultura, metodologia
de suprir as necessidades básicas de uma comunidade de forma
ecológica, eficiente e com baixo custo. Em outras palavras, consiste
em ocupar determinado espaço e seus recursos naturais de maneira
consciente, planejada e sem desperdícios. O Brasil tem uma rede de
oito institutos de permacultura. O Ecocentro IPEC é o mais antigo.
O diretor e fundador, André Soares, explica que a permacultura não
é algo recente. "Ela só é novidade no Brasil. Mas o trabalho feito
aqui, em compensação, é considerado modelo exatamente porque
aprendemos com os erros dos outros. Tanto que, recentemente,
recebemos 25 americanos aqui. Eles vieram passar três semanas e
fazer um curso, que vale crédito na universidade deles nos Estados
Unidos", orgulha-se André, que montou um instituto de permacultura
na Austrália, em 1989.
A grande diferença em relação aos demais institutos do mundo é
que, no Ecocentro do Cerrado, há pessoas morando no local. Quem
visita o lugar tem a percepção exata de como funciona o
desenvolvimento sustentável. "O ideal é que a pessoa venha para
ficar no mínimo três dias e passe um ciclo inteiro do organismo aqui:
coma, beba, durma, faça suas necessidades. A partir do momento
em que ela vivencia um pouco do nosso modo de vida, não é
preciso mais apostilas. A integração com a natureza ensina o que
páginas de livros não conseguem", ressalta André.
No Ecocentro IPEC, cada detalhe é muito bem planejado antes de
ser construído. A começar pelo sistema de calhas para captação de
chuva, encontradas em todas as construções do instituto. As telhas
são de cerâmica e a água fica armazenada em cisternas de
ferrocimento, mais econômicas para construir e manter. Elas ficam
na superfície; assim, não precisam de bombas e gasto energético
para a água ser retirada. A água armazenada é utilizada,
principalmente, para beber e cozinhar. A ausência de indústrias e
poluição na região de Pirenópolis garante água de chuva limpa e
potável.
Mesmo a água suja, vinda de chuveiros, tanques de lavar e
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cozinhar, passa por tratamento natural antes de ser reutilizada. A
água proveniente das cozinhas comunitárias, por exemplo, vai parar
em tonéis com plantas que a filtram, como alface da água e papirus.
"A água suja vinda da cozinha não é nada mais do que uma água
com excesso de nutrientes. Então, criamos ambientes para as
bactérias povoarem e digerirem esses nutrientes. No último estágio
do tratamento, ela sai limpa. Não dá para beber, mas serve para
aguar a horta ou tomar banho", afirma a bióloga e educadora
ambiental Flávia Moraes, que mora no instituto.
Os alimentos também recebem cuidados especiais. O IPEC
desenvolveu diversas técnicas consideradas tão eficientes quanto ou até superiores - as tradicionais de monocultura, como o uso de
agrotóxicos e de outros produtos químicos. A horta mandala é uma
delas. Construída em forma circular para evitar o desperdício da
água e facilitar o manuseio, ela parte do princípio da biodiversidade.
As plantas são todas misturadas, dispostas conforme suas
características. São as "plantas companheiras". Alface, rúcula, agrião
e cebola ficam todas juntas em um mesmo canteiro. Elas trocam
nutrientes, sombreiam umas às outras e algumas, como alho, confrei
e raiz forte, servem de repelente contra insetos. Essa é uma das
técnicas utilizadas para sobreviver sem produtos químicos.
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Para proteger o solo, a horta fica coberta com palha de arroz e
folhas secas. O adubo é todo feito no próprio IPEC, com esterco
animal e restos de comida da cozinha. Na hora de plantar, tudo é
feito na sementeira, uma estufa construída para evitar o desperdício
de sementes e manter boas condições de temperatura e umidade
para o cultivo de mudas. O princípio mais importante da
permacultura é a conexão. No ecossistema natural, não existe lixo.
Todos os elementos são conectados e formam ciclos fechados em
que os materiais não são perdidos. Os resíduos são sempre
reaproveitados. As necessidades de um elemento são supridas com
os resíduos e produtos de outros.
"Aqui, a gente usa os animais em conexão com as hortas", afirma
Flávia. "As galinhas são um elemento permacultural que, além de
prover alimento para as pessoas, trabalham o solo antes de a gente
plantar. Elas o limpam se alimentando de ervas daninhas e insetos
invasores, e fertilizam o solo com esterco. As galinhas também se
alimentam de restos de comida da cozinha. Então, fechamos o ciclo.
O mesmo acontece com os porcos."
Os coelhos também são elementos permaculturais indispensáveis.
Fontes protéicas, eles são criados em gaiolas, em cima de
minhocários. As minhocas se alimentam das fezes dos coelhos e dos
restos de comida, transformando-os em húmus, adubo natural mais
fértil. No IPEC, o esterco humano também é aproveitado, para
adubar os jardins e a zona de reflorestamento. Todos os sanitários
do instituto são secos e compostáveis.
Após utilizar o banheiro, moradores e visitantes acrescentam um
pouco de serragem aos seus dejetos, o que ajuda na decomposição
dos resíduos. Em cada banheiro, há duas câmaras. Quando uma
está sendo utilizada, a outra fica fechada para que aconteça o
processo de compostagem. As câmaras ficam lacradas por seis
meses, a uma temperatura que chega a 80ºC.
Segundo Flávia, a temperatura da compostagem já é alta por si só.
A ação das bactérias a eleva ainda mais. Existe, ainda, uma chapa
metálica na câmara, pintada de preto, para absorver maior energia
do sol. Essa temperatura por tempo prolongado mata qualquer
patógeno que possa existir nas fezes, inclusive a lombriga, o mais
resistente. Isso torna o adubo humano de alta qualidade. Ele só não
é usado na agricultura por preconceito.
O cheiro? Não há mau cheiro. O ar sempre circula e os gases saem
por uma chaminé que tem sistema de termofuncionamento. "O gás
metano, liberado no processo, poderia ser usado, inclusive, como
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gás de cozinha. Só não temos isso ainda porque não tivemos tempo
de desenvolver a tecnologia para comprimir esse gás", diz a bióloga.
As crianças, em geral, adoram o banheiro compostável. "Quando
vêm turmas da mesma escola, o primeiro lugar que elas querem
conhecer é o sanitário", conta Flávia.
Os chuveiros ficam em outro ambiente. Decorados com mosaico
colorido e bolinhas de gude, os vestiários não aparentam ter sido
feitos com sobras de construções de Brasília. E quem deseja tomar
banho tem de consumir o mínimo de água possível. Banhos
demorados com direito a minutos de relaxamento, nem pensar.
"Trabalhamos a conscientização e sensibilização das pessoas. Não
temos água de sobra e a água quente é finita, pois é aquecida a luz
solar. Se eu demorar muito no chuveiro, quando a última pessoa for
tomar banho só terá água fria", lembra Flávia.
As construções do Ecocentro IPEC não são menos planejadas.
Erguidas em mutirões, elas impressionam qualquer pessoa que
nunca tenha visto uma casa feita de terra. A maioria é feita de super
adobe, uma técnica recente desenvolvida na Califórnia (EUA), que
usa subsolo úmido em sacos de polipropileno. Socados, formam
paredes. Além de ser fácil e economicamente viável, a temperatura
dentro da casa é sempre agradável. Tanto no verão quanto no
inverno, ela fica por volta de 22ºC.
"Só o vidro vem de fora. Cerca de 70% do que é extraído na
pedreira de Pirenópolis é resíduo e nós o aproveitamos para fazer
forno, fogão, mesa e bancos", conta Flávia. Um grande auditório
está sendo construído no IPEC, com cúpulas e salas anexas. A
técnica usada, entretanto, é outra. O auditório está sendo feito de
tijolos, produzidos no instituto com a terra retirada da construção e
prensados manualmente. Ao contrário dos tijolos tradicionais, os do
Ecocentro evitam o impacto ambiental, pois não há queima de olaria
nem uso de carvão vegetal.
O IPEC tem algumas praças. A da Música é a que mais faz sucesso
com as crianças. É nela que estão os brinquedos feitos de madeira
e materiais recicláveis. O preferido é a gangorra. Seu movimento
produz energia cinética e bombeia a água do lago ao lado, irrigando
as hortas. "As crianças ficam encantadas quando percebem que sua
brincadeira água as plantas", diverte-se Flávia. "Adolescentes
aprenderiam física facilmente com essa gangorra."
Conforme a bióloga, a permacultura não ensina apenas educação
ambiental. Ela pode ser interdisciplinar. O diretor do IPEC faz coro:
"Aqui, é possível trabalhar conceitos avançados de química e física
que as crianças só vão ver daqui a dez anos na escola. E o melhor
é que elas vão entender, porque as conexões são óbvias e claras. A
natureza serve para todas as disciplinas. Não há outro jeito de falar
de matemática ou biologia se não for observando as interações que
acontecem no mundo à nossa volta. Então, a educação ambiental é
transdisciplinar, porque vai além de disciplinas".
A estudante Julia Gomes Moreira, 11 anos, se empolgou ao
perceber que estava vendo, em seu passeio, muita coisa que já
aprendeu na escola. Sua alegria consistia em poder tocar plantas e
animais, sentir o cheiro e a textura do que queria. "Quando a gente
pode pegar e ver de perto é diferente. É mais fácil de entender".
Na opinião do diretor, as escolas estão formando alunos incapazes
de entender a natureza onde estão. "A criança vê tudo pelos livros,
mas não entende como e onde ela interage com aquilo que estuda.
Ela precisa ter suas lições incorporadas à sua realidade. Saber para
onde vai seu xixi, de onde vem a energia elétrica ou a diferença de
um legume sem agrotóxicos. Caso contrário, ela jamais brigará pela
preservação do meio ambiente".
Desde que o instituto foi fundado, mais de 10 mil crianças passaram
por ali. Este ano, o IPEC começou a fazer parcerias com as escolas.
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Ao invés de visitas esporádicas, o instituto quer aumentar a
quantidade de escolas conveniadas e levar as mesmas turmas
várias vezes ao ano. Dessa forma, professores e Ecocentro podem
focalizar as visitas por temas, prepará-las juntas e explorar cada
assunto de maneira aprofundada.
Para Poliana Braz, coordenadora de projetos do Colégio Vovó
Olívia, de Luziânia, interior de Goiás, a visita a um lugar como o
IPEC é fundamental. "Trouxemos nossos alunos para que eles
vissem que nós podemos viver sem poluir e degradar. Preferimos vir
ao IPEC ao invés de visitar cachoeiras, porque aqui damos aos
alunos uma oportunidade única. Um pai jamais trocará uma viagem
para uma cachoeira para levar o filho em um instituto de
permacultura."
A coordenadora afirma ter se surpreendido com o comportamento de
seus alunos. Ela diz nunca tê-los visto tão participativos, soltos e
comunicativos. "Senti um interesse incomum por parte das crianças.
Houve interação o tempo todo, o sonho de todo professor." A
estudante Isabela Roriz Teodoro, 11 anos, diz que vai recomendar o
lugar para seus amigos e voltará com seus pais assim que puder.
Mas, antes, ela quer fazer uma horta como a do IPEC no quintal de
sua casa.
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