Revista da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA ISSN 0102-1788 47 VOL 23 Jan / Jul 2007 NESTA CASA ESTUDA-SE O DESTINO DO BRASIL REVISTA DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA VOL 23 1º Semestre 2007 EdESG ISSN 0102-1788 Rio de Janeiro 2007 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 -3 9, jan/jul. 2007 1 Revista da Escola Superior de Guerra / v.23, n. 47 (jan/jul. 2007) – Rio de Janeiro : ESG, 2007. Semestral ISSN 0102-1788 1. Ciência Militar - Periódicos. 2. Política - Periódicos. I. Escola Superior de Guerra (Brasil). II. Título. CDD 320.981 Revista da Escola Superior de Guerra A Revista é uma publicação semestral da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, do Rio de Janeiro. Com tiragem de 1.000 exemplares, circula em âmbito nacional e internacional. Comandante e Diretor de Estudos Almirante-de-Esquadra José Antonio de Castro Leal Subcomandante e Subdiretor de Estudos Major-Brigadeiro-do-Ar Nilson Prado Godoy Chefe do Departamento de Estudos General-de-Brigada José Luís Gonçalves Menin Padronização Bibliográfica Cleide Santos Souza (CRB-7/3381) Projeto, Produção Gráfica e Impressão Gráfica da Escola Superior de Guerra Diagramação e Arte Final Anério Ferreira Matos 2 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. 21 -39, jan/jul. 2007 SUMÁRIO Apresentação O Futuro do Planejamento Estratégico e os Desafios do Planejamento Estratégico Governamental Washington Rodrigues Lima O Estado Brasileiro e a Soberania na Amazônia Renato Luiz Scariot 5 7 19 Ações Subsidiárias das Forças Armadas na Amazônia e seus Reflexos na Segurança e no Desenvolvimento José Luis Gonçalves Menin Tecnologia Espacial e a Integração Sul-Americana Marcos Dias da Silva 41 57 Desafios e Questões de Segurança nas Relações do Brasil com os Paises Andinos Edson de Oliveira Barroso Inteligencia Competitiva e Proteção do Conhecimento Marcos Aurélio Silveira de Oliveira 69 85 A Política de Cotas nas Universidades Públicas e seus Reflexos na Educação 103 Ivo Costa de Lima Utilização dos Embriões Humanos para Fins de Pesquisa e Terapia – Aspectos Éticos e Jurídicos 119 Célia Vidal Pessoa Direito Digital e Infoguerra. Regulamentação do Ciberespaço: Realidade ou Utopia? 135 Jorge Roberto da Silva Revista da Escola Superior de Guerra Rio de Janeiro V. 23 n. 47 p. 1-174 jan/jul. 2007 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 -3 9, jan/jul. 2007 3 Memória Discurso proferido pelo Exmo. Sr. Presidente da República, Juscelino Kubitschek, por ocasião da abertura dos cursos da ESG, em 1958. Lista deTrabalhos 2006 163 Guia para Colaboradores 171 4 155 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. 21 -39, jan/jul. 2007 Apresentação Almirante-de-Esquadra José Antonio de Castro Leal Comandante e Diretor de Estudos da Escola Superior de Guerra Ao longo de quase seis décadas de existência, a atuação da ESG sempre decorreu de uma dedicação peculiar aos estudos dos destinos do Brasil. Para tal, concebeu o interesse nacional a partir de objetivos fundamentais e, por intermédio da análise de opções estratégicas, estabeleceu um modelo próprio de planejamento e uma sólida base conceitual. Em passado recente, foi questionado se não deveria a ESG passar a constituir-se em centro de excelência de ensino, pesquisa e extensão, dedicado apenas ao campo dos estudos de defesa, com propósito tanto de embasar o pensamento sobre o assunto como o de formar recursos humanos. Em outra análise, foi considerado que a ESG deveria continuar a ser um centro de inteligência, com visão global, autonomia acadêmica e liberdade intelectual, ainda visando estudar os rumos do Brasil para uma posição de destaque em um mundo globalizado. Na realidade, o papel da ESG está na junção dessas idéias, dentro de um projeto pedagógico que privilegie a abordagem relacionada com os estudos e as metodologias de planejamento estratégico e gestão conseqüente, com vistas à compreensão de todos os aspectos dos problemas nacionais que, direta ou indiretamente, afetem a Política Nacional de Defesa. Dessa forma, a ESG manterá seu vigor na contribuição para o aperfeiçoamento da sociedade brasileira, hoje bem consciente do valor da pesquisa científica e do debate construtivo de opções político-estratégicas como fonte de subsídios para o equacionamento dos problemas nacionais, desde a inserção social do cidadão brasileiro até a defesa, no seu sentido mais amplo, do Estado Nacional. Revendo fundamentos do passado da Instituição, verifica-se que, por ocasião da abertura dos cursos no ano de 1958, o então Presidente Juscelino Kubitschek evocava o espírito que provocou o nascimento desta Escola, destacando a necessidade de se estudar o Brasil em profundidade e o dever imperativo da Nação de manter-se na vanguarda dos acontecimentos mundiais. O discurso presidencial de há cinqüenta anos prima pela permanente atualidade, ao reconhecer a segurança nacional como verdadeira condição determinante da vida do país em todos os campos, ao defender a criação de um sentimento de união sul-americana e ao destacar a necessidade de formar lideranças capazes de defender, interna e externamente, os interesses nacionais. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 -3 9, jan/jul. 2007 5 Ao pretender levar para além dos portões da Fortaleza de São João a produção intelectual contributiva para atingir esses objetivos, a partir do corrente ano seguir-se-á uma linha editorial apoiada em duas vertentes: publicação, nos Cadernos de Estudos Estratégicos, dos estudos e pesquisas sobre temas de interesse, produzidos pelo Centro de Estudos Estratégicos; e publicação, na Revista da Escola Superior de Guerra, de trabalhos acadêmicos produzidos pelos corpos docente e discente. Nesse contexto, o ano de 2006 foi especialmente profícuo em relação às atividades dos estagiários dos Cursos de Altos Estudos de Política e Estratégia, de Inteligência Estratégica e de Logística e Mobilização Nacional, como pode ser visto na listagem detalhada dos estudos desenvolvidos, todos disponíveis para consulta na Biblioteca da ESG. Por isso, o presente volume da Revista da ESG contempla apenas alguns desses trabalhos, selecionados pela oportunidade e alcance dos respectivos temas, buscando proporcionar o intercâmbio de idéias e contribuindo, também, para a ampliação dos conhecimentos sobre os interesses nacionais. 6 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. 21 -39, jan/jul. 2007 O futuro do planejamento estratégico e os desafios do planejamento estratégico governamental Washington Rodrigues Lima Tenente-Coronel Bombeiro Militar do Distrito Federal, estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra no ano de 2006. 1 - Introdução Num mundo sob o paradigma de intensa competitividade e, consequentemente, de constantes mudanças, resultando num ambiente complexo, imprevisível e de profundas incertezas, onde a concepção de cenários futuros é cada vez mais para muitos um exercício de adivinhação, quais seriam então as perspectivas da filosofia do planejamento estratégico e especialmente do planejamento estratégico governamental? Esse questionamento tem sido objeto de muitas reuniões de gestores de alto nível, de organizações privadas e também de instituições públicas. Inclusive, as discussões não têm poupado fóruns que, ao longo de muitos anos, vêm utilizando da metodologia de planejamento estratégico para definir os rumos dos negócios. A polêmica toma volume à medida que os casos de fracasso, sempre de maior repercussão, não foram evitados pela adoção sistemática do planejamento estratégico. Já se fala que o planejamento estratégico é apenas mais um modismo, alavancado pelas empresas de consultoria para garantir seu portifólio de serviços. Se modismo ou não, hoje, e mais acentuadamente nos últimos 10 anos, uma empresa que não embarcou na onda do planejamento estratégico é vista com maus olhos no seu segmento de mercado e, também, por seus clientes mais exigentes. Falar que na empresa se adotam as melhores práticas do planejamento estratégico soa como sinal de modernidade, quando não de sofisticação. O contrário pode até ser interpretado como sinal de deterioração empresarial. Isso a despeito do quanto efetivamente o planejamento estratégico tem colaborado para o sucesso do negócio, o que fica mais evidente pela recorrente ausência de métricas confiáveis de avaliação. Não é incomum ver organizações e instituições que adotaram o planejamento estratégico não conseguirem tangibilizar os benefícios decorrentes ou, ao menos, associá-los aos esforços de planejamento. Num esforço de trazer mais luz sobre o tema pretendemos, ao longo desse artigo, analisar o futuro do planejamento estratégico e os desafios do Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 7 --318, 9, jan/jul. 2007 7 planejamento estratégico governamental diante da abordagem do americano Henry Minstzberg, um dos gurus da atualidade do planejamento estratégico, no seu recente livro Ascensão e queda do planejamento estratégico e de Carlos Matus, chileno, pós-graduado em Harvard, ex-ministro e ex-presidente do Banco Central do Chile, apresentada na obra O método PES – Planejamento Estratégico Situacional, de Franco Huertas. Não é o escopo dessa iniciativa uma abordagem conceitual do planejamento estratégico ou mesmo a apresentação de metodologias. O esforço é no sentido de desmistificar o planejamento estratégico como um todo e potencializar as suas possibilidades, destacadamente na vertente do planejamento estratégico governamental, um dos temas de preocupação da Escola Superior de Guerra na sua incansável busca de “se estudar os destinos do Brasil”, e com a qual pretendemos colaborar. Contudo, apenas preliminarmente, cabe esclarecer que o método PES de paternidade de Matus é “... um método e uma teoria do Planejamento Estratégico Público... uma vertente boa do planejamento estratégico corporativo... onde os atores são partidos políticos, governantes ou dirigentes de organizações públicas, empresariais e sindicais... atores sociais.” (HUERTAS, 1996) e dadas as suas peculiaridades difere considerável, mas não essencialmente, do planejamento estratégico tradicional. Assim, entendo que o método PES poderia se inserir nos estudos da Escola Superior de Guerra. Inicialmente, embora já no começo de ambos os textos citados, os autores declaram explicitamente que existe forte ceticismo em relação aos efetivos resultados do planejamento estratégico, também deixam claro que essa sensação é mais resultado de problemas na implementação do planejamento e na avaliação dos resultados. Quanto às questões que envolvem a implementação, as dificuldades já começam no entendimento do que é realmente o planejamento para as instituições. Logo, é previsível que os demais aspectos sejam prejudicados. No que diz respeito à avaliação dos resultados obtidos a dificuldade gira em torno das métricas adotadas que, mormente remetem a parâmetros financeiros que, via de regra, não são os indicadores mais recomendáveis para avaliação de iniciativas públicas cujos objetivos são o interesse público e o bem comum, valores perceptíveis, mas intangíveis do ponto de vista quantitativo. Somente diante dessas considerações preliminares alguém precocemente poderia relegar o planejamento estratégico à decadência. Mas, veremos que não é o caso que se verifica ao término da leitura das duas obras de referência. 2 - O método PES – Planejamento Estratégico Situacional O livro de Huertas sobre o Método PES é uma compilação de uma entrevista que concedeu após uma palestra de Carlos Matus, o autor deste método com que trabalha há 25 anos, numa universidade. 8 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.721 - 18, -39, jan/jul. 2007 Ao longo de todo o livro podemos perceber que existem significativas diferenças entre o planejamento estratégico tradicional e o Método PES, proposto por Matus. Mas a diferença marcante que, inclusive, é evidenciada no nome do método - Planejamento Estratégico Situacional – envolve uma outra abordagem do que seja o diagnóstico, ou análise ambiental (CERTO, 1993), fase inicial do planejamento estratégico tradicional, como vemos a seguir. “O planejador tradicional vale-se do conceito de diagnóstico para explicar a realidade. Até meados dos anos 70 eu também aceitava esse conceito...O analista que diagnostica deve ser objetivo, científico e rigoroso; deve descobrir a verdade – no singular – e, a partir dela, construir o plano para mudá-la. O diagnóstico, nesse caso, deve ser único e válido para todos. Essas idéias parecem evidentes e imbatíveis. ...Até aqui tudo parece ir muito bem, mas na verdade já está tudo muito mal. Para descobrir o que há de errado no conceito de diagnóstico, é preciso tentar aplicá-lo a um jogo com dois ou mais adversários. A aplicação do conceito, nesse caso, é o único modo de descobrir que, em um jogo real, as explicações dos jogadores adversários nunca são iguais, e que não se resolve o problema ao dizer que uma dessa explicações é verdadeira e que as que forem diferentes dessa são falsas. Há várias explicações verdadeiras sobre uma mesma realidade? O que significa verdadeira? Esse é o ponto de partida para a teoria das situações.” (Matus apud Huertas, 1997) Essa ótica, embora preliminarmente pareça sutil, impacta de forma significativa o processo de concepção do planejamento estratégico, como é desenvolvido na maioria das organizações. Matus, inclusive, comenta que, dado o quanto a maneira tradicional de conceber o planejamento estratégico esteja já arraigada nas práticas gerenciais da empresa, muitos gestores não conseguem perceber as conseqüências dessa abordagem. Ele continua: “O planejamento tradicional só reconhece um ator – o governo do Estado – e todos os demais são agentes com condutas predizíveis. O planejamento tradicional, ..., estabelece uma relação entre um sujeito que planeja e um sistema planificado, na qual não há sujeitos e que se pode auto-explicar. Só haverá uma explicação se houver um ator interessado em explicar. Ao contrário, para PES, o que há é um jogo entre vários atores, em conseqüência, surge a pergunta: como esses atores explicam a realidade do jogo? Cada jogador tem a sua realidade? Qual é o fundamento explicativo a partir do qual cada jogador faz seus planos para ganhar o jogo?” (Matus apud Huertas, 1997) Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 7 --318, 9, jan/jul. 2007 9 Esse é o ponto de partida para a teoria das situações (Matus apud Huertas, 1997) que Matus propõe, a partir da qual ele estabelece um método para captar melhor a realidade ou situações. A teoria tenta minimizar a miopia natural dos gestores em suas particulares visões de mundo - o mercado – com as quais fundamentam os planos estratégicos de sua organização. Logo, a partir de visões particulares construímos um futuro muito particular onde queremos que o nosso planejamento nos leve. È como se numa viagem marítima nos guiássemos pelas impressões visuais do clima ao nosso redor e desprezássemos a experiência do timoneiro, de outros navegantes na mesma rota, as informações climatológicas dos especialistas, etc.. “...a categoria “situação” permite compreender a assimetria das explicações em um jogo, conceito teórico da maior importância na análise estratégica. Explicações diferentes sobre uma mesma realidade não são apenas respostas diferentes para perguntas iguais: são respostas diferentes a perguntas diferentes. Por exemplo, em uma situação de inflação, uma pergunta-chave, para os sindicalistas, é: de quanto é a perda em salários reais? Para uma empresa, a pergunta-chave, crítica, é: de quanto é minha descapitalização? As perguntas relevantes são diferente para diferentes atores. ...O planejador tradicional omite a mediação da apreciação situacional porque as subjetividades o incomodam e estabelece uma relação direta – que não existe na realidade – entre diagnóstico e o plano. Nenhum plano real é formulado com base em diagnósticos: fazemse planos reais a partir de análises de situações”. (Matus apud Huertas, 1997) De fato, à medida que a sociedade, de maneira geral, se sofistica, as interações entre os seus diversos atores são cada vez mais complexas e, dificilmente, podem ser materializadas por intermédio de uma abordagem particular. “O irrealismo do planejamento tradicional baseia-se em uma só coisa que contamina toda a sua teoria com uma grande falta de rigor: ignora que o outro existe, ignora os adversários, ignora a metáfora do jogo e ignora os atores sociais”. (Matus apud Huertas, 1997) Muitas organizações não entendem o porquê dos seus planejamentos estratégicos não aderirem à realidade ou mesmo resultarem em baixa efetividade. Como Matus vê, a explicação está na falta de uma percepção mais consistente da própria realidade. Essa percepção será tanto mais consistente na medida em que mais atores em torno do negócio participem do processo de percepção da situação. 10 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.721 - 18, -39, jan/jul. 2007 No caso do planejamento estratégico governamental essa abordagem é mais crucial, dado que o governo mais adiante se confunde com a própria sociedade que representa. Assim, as visões dos diversos atores sociais são fundamentais para nortear as políticas de governo. Diante do que Matus coloca, percebe-se o porquê de muitas políticas públicas materializadas em planejamentos estratégicos tipicamente de gabinete e de autoria de gestores com pouca representatividade não comporem a realidade. Normalmente, disso decorre o grande ceticismo existente em torno das iniciativas de planejamento estratégico e, por outro lado, um reforço nas práticas de improvisação. “As fraquezas do planejamento tradicional dão valiosíssimas vantagens à improvisação. A improvisação tem quatro qualidades essenciais em relação ao planejamento tradicional: (1) é flexível e adaptável à realidade, já que não se apresenta com uma proposta formal e é feita a cada momento; (2) é oportuna, porque age sem formalismos e em alta velocidade, enquanto um plano demora um ou dois anos para ser produzido e quase nunca pode ser revisto; a improvisação está sempre presente quando é necessária, com suas propostas; (3) é variada, porque suas fontes de produção estão dispersas em muitos lugares do aparelho e do sistema social, enquanto o planejamento tem suas fontes concentradas nos escritórios de planejamento; e (4) e predominantemente situacional, ainda que muitas vezes também possa ser tecnocrática, já que o improvisador não age, em geral, movido por uma teoria ou técnica, mas com base em uma experiência matizada por uma grande variedade de critérios. (Matus apud Huertas, 1997) Assim, após a ascensão e queda do planejamento estratégico tradicional a alternativa é planejamento estratégico situacional? Como explicitamos inicialmente, se o planejamento estratégico tradicional é ainda um modismo objeto de grandes projetos de consultoria será que de fato estamos vendo o final de um ciclo? 3 -Ascensão e queda do planejamento estratégico Minstzberg, autor de umas das referências no estudo da evolução da filosofia do planejamento, a obra Safári de Estratégias, em seu mais recente trabalho, Ascensão e Queda do Planejamento Estratégico, desmistifica o planejamento estratégico por intermédio do que chama de “armadilhas e falácias” que estão de modo geral, mais relacionadas com os problemas de implementação, como citamos na introdução. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 7 --318, 9, jan/jul. 2007 11 Embora diante da preponderância dos problemas relacionados com a implementação das estratégias, Minstzberg traça um paralelo entre as “armadilhas e falácias” e a ascensão e queda do planejamento estratégico. Vemos em suas próprias palavras que: “... as duas principais armadilhas do planejamento... que não somente erram o alvo, mas que podem ser o oposto do que sustentavam ...o planejamento pode impedir a si mesmo de funcionar como os proponentes afirmaram que devia. Certamente, o planejamento não pode funcionar de maneira efetiva sem o apoio das pessoas que ocupam cargos seniores nas organizações, nem sobreviver em climas hostis à sua prática. Entretanto, as verdadeiras perguntas são por que, afinal, esse apoio é negado com tanta freqüência e por que esses climas aparecem? Ao sugerirmos algumas respostas, introduzimos várias características problemáticas do planejamento. Essas incluem um afastamento do “objetivo” que muitas vezes abala o comprometimento e suscita a política, bem como uma tendência para o conservadorismo e uma obsessão pelo controle que pode provocar um clima de conformidade e inflexibilidade, o qual prefere a mudança incremental, genérica, focada no curto prazo. Essas podem ser as verdadeiras armadilhas do planejamento.” (MINTZBERG, 2004) Podemos perceber que as armadilhas que Minstzberg destaca, o comprometimento, no caso a falta do comprometimento e a obsessão por controle da alta administração, determinam o fracasso do planejamento estratégico na medida em que limita o seu impacto no curto prazo, como resultado de mudanças meramente reativas ou incrementais, e inespecíficas ou genéricas. De fato, se o escopo do planejamento estratégico é estabelecer um contexto organizacional com atenção no futuro, e quanto mais distante for este futuro, melhor, como forma de antecipar cenários e, a partir daí, reposicionar o negócio. Uma postura imediatista, de curto prazo, desvirtua essencialmente o planejamento estratégico. No que tange às falácias Minstzberg coloca que a falácia da predeterminação e a do desligamento leva a essência do problema ou das falácias, a formalização do planejamento estratégico. Assim lemos: “O planejamento assume a predeterminação em vários aspectos: o prognóstico por meio da previsão”...”a incerteza é o calcanhar de Aquiles do planejamento estratégico”...”as previsões de longo prazo (dois anos ou mais) são notoriamente imprecisas”. ...”uma das principais suposições em planejamento é a de 12 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.721 - 18, -39, jan/jul. 2007 desligamento”...”a verdadeira direção do planejamento” tornase “possível exclusivamente porque a gerência não está mais inteiramente imersa nos detalhes da própria tarefa”...Em vez disso, ela pode se concentrar nos assuntos “estratégicos” realmente importantes, de longo prazo.”...”Também não há dúvida de que os bons pensadores estratégicos são reflexivos, o tipo de gente que, na metáfora popular, consegue se elevar acima das árvores para ver a floresta – consegue ter a perspectiva ampla, de longo prazo. Ainda assim, afirmar que a resposta estratégica efetiva depende de esse tipo de gente ficar permanentemente empoleirado no ar (presume-se que na plataforma de um sistema formal) é, em nossa opinião, uma falácia que se revelou terrivelmente dispendiosa para muitas organizações.” (MINTZBERG, 2004) Minstzberg, embora faça distinção entre as falácias, estabelece que a predeterminação e o desligamento deságüem na formalização, entendida como a materialização do planejamento estratégico concebido pela alta administração da organização. Para ele o planejamento estratégico formal ou formalizado é uma tênue imagem da perspectiva que a alta administração realmente entende como planejamento estratégico. “Gradualmente, estamos convergindo para a essência do problema, a grande falácia do planejamento. Mais próxima de seu núcleo, realmente um compêndio dos pontos considerados até agora, está a falácia de que o processo de formação de estratégia pode ser formalizado...assim não temos evidências de qualquer dos sistemas de planejamento estratégico – independentemente de sua elaboração, ou fama – tenha dado certo...Alguma coisa claramente deu errado com a formalização.” (MINTZBERG, 2004) Pelo que foi mostrado, o planejamento estratégico deve ser descartado das práticas gerenciais? Se diante do planejamento estratégico nos confrontamos com armadilhas e falácias, como podemos ainda empregá-lo como ferramenta gerencial e assim apropriar as organizações de condições para acompanhar o dinamismo das mudanças do mercado e comunidades? Na realidade, a didática de concepção da obra Ascensão e Queda do Planejamento e Estratégico é, propositadamente, revelada somente no seu fim, descortinando onde o autor pretendia chegar com suas observações desconcertantes. “Fomos altamente críticos durante esta discussão, afirmando que, ao tentar ser tudo, o planejamento arriscou-se a ser rejeitado Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 7 --318, 9, jan/jul. 2007 13 como sendo nada. Na verdade, nunca tivemos qualquer intenção de rejeitar o planejamento, embora o tom de nossa discussão possa ter dado esta impressão. Ao contrário, exageramos nossas críticas, longe da conclusão de que o planejamento pode fazer tudo ou nada. Para levar de um extremo (onde acreditamos que o planejamento sempre esteve) para o meio, é preciso se afastar do extremo oposto (como, ao tentar equilibrar uma gangorra com todo o peso em um extremo, deve-se por o peso no outro, não no meio). Tendo (esperamos) conseguido atrair o leitor para esse meio, agora podemos nos posicionar aí também, para considerar os papéis viáveis que o planejamento, assim como os planos e os planejadores, podem desempenhar nas organizações. Por isso, o tom de nossa discussão muda neste ponto, de crítico para construtivo.” (MINTZBERG, 2004) O grande esforço de Minstzberg é “...atrair o leitor...” e assim levá-lo, depois de perceber as idiossincrasias do planejamento estratégico, a “considerar os papéis viáveis que o planejamento, assim como os planos e os planejadores, podem desempenhar nas organizações.” E somente então, “...o tom de nossa discussão muda neste ponto, de crítico para construtivo.” Entendido o artifício de Minstzberg ao tratar da “Ascensão e Queda do Planejamento Estratégico” e diante da alternativa proposta por Matus como o PES, passamos a considerar as duas perspectivas com vistas ao futuro do planejamento estratégico e aos desafios do planejamento estratégico governamental. 4 -O futuro do planejamento estratégico e os desafios do planejamento estratégico governamental Neste ponto, percebemos que, embora a partir de abordagens estanques, Mintzberg e Matus fazem considerações convergentes. Dessa convergência, podemos identificar uma nova forma de se desenvolver o planejamento estratégico que, entendemos, seja o futuro do planejamento. Essa nova forma é especialmente mais importante à medida que é mais aderente às demandas da complexidade das corporações multinacionais ou globais e aos governos e sociedades. Quando o autor de “Ascensão e Queda do Planejamento Estratégico” se refere às armadilhas e falácias do planejamento estratégico, por intermédio da falta de comprometimento, da obsessão por controle, da filosofia da predeterminação, e do desligamento, tudo em torno da alta administração, o que resulta numa formalização míope de um plano estratégico, ele está questionando a filosofia do planejamento na raiz, nos primórdios da fase de análise ambiental, no diagnóstico. 14 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.721 - 18, -39, jan/jul. 2007 Numa outra abordagem, Matus também questiona a doutrina do planejamento já no seu começo, quando declara que a ausência da percepção da realidade situacional, do modo como a vêem os muitos atores envolvidos, compromete o diagnóstico a partir do qual se vai elaborar qualquer planejamento. Embora aqui apresentadas sumariamente, fica evidente que as duas posturas levam à invalidação da formalização do planejamento estratégico. E aqui aparece uma incongruência: como podemos atribuir a maioria dos fracassos de muitos projetos de planejamento estratégico a problemas com a implementação, se existem dúvidas anteriores quanto ao processo de formalização do planejamento? Vemos que o futuro do planejamento estratégico e notadamente os desafios do planejamento estratégico governamental, dependem dos esforços dos estudiosos e administradores em resolver a questão da validação do plano estratégico formalizado ao final do processo. Somente então, seria razoável responsabilizar a fase de implementação pelos insucessos! Por outro lado, se a formalização está sendo encarada com ponto sensível é, também, uma oportunidade para o amadurecimento de iniciativas, embora ainda isoladas, de agregar valor ao processo de concepção do plano estratégico, com o uso das possibilidades da tecnologia da informação. Essas possibilidades não se restringem ao uso de aplicativos, mas a concepção de um sistema de informação focado nas demandas do processo de concepção do plano estratégico. Na realidade, alguns aplicativos voltados especificamente para a concepção do plano estratégico, já tentam reduzir a miopia das visões restritas ao nível gerencial pelo uso do Método Delphi, que se propõem a confrontar a opinião de vários atores. Esses aplicativos também apresentam maior flexibilidade para acompanhar a evolução da conjuntura e, portanto, absorver as mudanças que podem impactar o plano, tornando-o mais dinâmico. Uma categoria de aplicativos chamada Enterprise Planning Managment – (EPM), voltada, de modo geral, para gerência de projetos, começa a apresentar modelos de planejamento estratégico, justamente para integrar e gerenciar os diversos projetos em curso na organização. Mas o quê entendemos possuir maior vocação para potencializar as possibilidades de um planejamento estratégico e, especificamente, minimizar os problemas em sua concepção, ensejando a colaboração de vários atores, e a participação mais madura dos gestores de alto nível, é o Data Warehouse (DW), um sistema de informação utilizado para armazenar informações relativas às atividades de uma organização em bancos de dados, de forma consolidada, favorecendo a produção de relatórios, a análise de grandes volumes de dados e a obtenção de informações estratégicas, que podem facilitar a tomada de decisão. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 7 --318, 9, jan/jul. 2007 15 Diante do exposto, identificamos alguns desafios do planejamento estratégico mais emergentes, talvez, até mesmo, que assumam o papel de “fatores críticos de sucesso” (FCS). O primeiro desafio é a despeito das correntes que pregam a improvisação e o reativismo devemos continuar acreditando nas virtudes do planejamento estratégico, mas de forma centrada, absorvendo a didática do equilíbrio de Mintzberg. O segundo desafio é engajarmos todas as possibilidades da tecnologia da informação para poder resolver as idiossincrasias do processo de formalização do planejamento estratégico. Esse esforço requer a busca daquelas soluções mais maduras e consolidadas e que sejam aderentes à realidade da organização – o planejamento situacional de Matus. Isso como o próprio planejamento estratégico não é trivial. O planejamento estratégico governamental, dada a complexidade de interações com a sociedade, e entre os vários órgãos do governo e as outras nações, não pode prescindir do uso de potente sistema de informação para formulação de suas estratégias. Sem o paradigma da informática, o planejamento estratégico governamental é superficial, setorizado e sem substância, já que não consegue enxergar a Nação e o Estado com um todo, sem prejudicar a autonomia dos poderes e das esferas do governo. 5 - Conclusões A revisão de Ascensão e queda do planejamento estratégico e O método PES com o propósito de confrontar essas duas abordagens e, a partir daí, estabelecer o futuro do planejamento estratégico como disciplina ou filosofia administrativa e os desafios do planejamento estratégico governamental, resulta numa ênfase na tecnologia da informação como instrumento para resolver os problemas de formulação do plano estratégico. Naturalmente, os saltos tecnológicos da informática são orientados às demandas do mercado. Assim, cremos que à medida que as organizações entendam os benefícios do uso da tecnologia da informação no planejamento estratégico e comecem a requerer soluções mais competentes, o mercado vai reagir exponencialmente. Podemos até concluir que já estamos entrando na segunda geração de tecnologias com recursos para apoiar o planejamento estratégico. Essa conclusão leva-nos a perceber que ainda há muitos espaços para ocupar e passos para dar. Para o planejamento estratégico governamental, o suporte da tecnologia da informação possibilita o acesso aos conteúdos de valor estratégico dos diversos segmentos do governo, o tratamento desse imenso volume de informação, a produção de conhecimento a partir de então, a submissão à análise interativa 16 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.721 - 18, -39, jan/jul. 2007 dos vários atores do governo, o uso de um modelo de formalização dos planos estratégicos em níveis gerenciais, o controle da implementação de medidas decorrentes, a retro-alimentação dinâmica da evolução da conjuntura, etc. Somente nessa perspectivas de tratamento das informações governamentais fica evidente o papel crucial da tecnologia da informação diante da complexidade que reveste o planejamento estratégico governamental. Portanto, a decisão de se investir na concepção de uma solução informacional capaz pode ser a diferença entre as verdadeiras possibilidades do uso da filosofia do planejamento estratégico e o uso apenas acadêmico quando não meramente teórico. REFERÊNCIAS CERTO, Samuel C. Administração Estratégica. São Paulo: Person Education do Brasil Ltda, 1993. HUERTAS, Franco. O método PES: entrevista com Matus. São Paulo: FUNDAP, 1996. MINTZBERG, Henry. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2000. __________________. Ascensão e queda do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman, 2004. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 7 --318, 9, jan/jul. 2007 17 18 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.721 - 18, -39, jan/jul. 2007 O Estado Brasileiro e a soberania na Amazônia Cel Av Renato Luiz Scariot Coronel-Aviador, estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra no ano de 2006. 1 - Introdução Dificilmente se encontrará alguém na América do Norte ou na Europa que não tenha ouvido falar da Amazônia. É unânime o entendimento de que a Amazônia brasileira necessita ser preservada. Pessoas que, muitas vezes, não se deram a oportunidade ou mostraram o interesse de conhecer os seus países encontram-se envolvidas numa cruzada que visa manter intocada a última área de floresta virgem do mundo. O “pulmão do mundo”, como ficou conhecida a região, precisa, a todo custo, ser transformada numa área onde a comunidade internacional tenha o poder de mando. Sob esta nota orquestrada pelos países mais ricos do mundo buscase o direito de conservação da Amazônia para as gerações futuras. Neste caso, ao invés do desenvolvimento econômico propõem-se a preservação do meio ambiente e do solo. Dentro desse espírito, estas nações desejam que a Amazônia permaneça como uma reserva ecológica e biológica, pouco povoada e sem desenvolvimento. Temas como a globalização, neoliberalismo e terrorismo, tão atuais no cotidiano brasileiro, serão contemplados neste trabalho na intenção de correlacioná-los com as dificuldades encontradas pela Nação Brasileira para promover desenvolvimento e incorporar a Amazônia ao ciclo de crescimento do país. Enquanto isso, questões envolvendo terras indígenas, biopirataria, biodiversidade, narcotráfico, contrabando, exploração de riquezas e muitas outras protagonizadas por influentes ONGs, impõe ao Brasil um difícil caminho na escalada para o crescimento. Sob este cenário de dificuldades e ameaças de perder a soberania, o leitor será convidado a encontrar possíveis soluções que visem incutir no subconsciente nacional a necessidade de valorizar a Amazônia e sobrepujar a cobiça que se propagou pelo mundo afora como palavra de ordem para salvar a região. Ações de comunicação social como uma das maneiras de cooperar com o esforço de integrar a Amazônia ao país, por meio do reforço da vontade do povo brasileiro, e como importante ferramenta na formação da opinião pública nas demais regiões do país serão a seguir tratadas. O sucesso dessa empreitada Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 19 na contraposição às inúmeras investidas, muitas vezes maquiadas de solução, será diretamente proporcional à compreensão e o apoio despendidos pelas elites e pela mídia brasileira. 2 - O Ambiente Amazônico Necessário se faz retornar ao passado para identificar e caracterizar como se deu a ocupação do ambiente que nos propomos a desvendar. A conquista da Amazônia remonta do descobrimento e de seus desdobramentos históricos. Devido ao Tratado de Tordesilhas, a região amazônica enquadrava-se, em quase sua totalidade, na área reconhecida à Espanha, cabendo a Portugal apenas uma fatia do litoral, o que gerou, inicialmente, o seu desinteresse pela região. Desta forma, foram os espanhóis os primeiros a manifestarem interesse pela Amazônia. Foram necessários cento e sessenta anos para levar o Meridiano de Tordesilhas até os contrafortes dos Andes. Só a partir daí, a Amazônia foi incorporada como um todo ao território brasileiro. As colônias militares destinadas a proteger os estabelecimentos e as fronteiras constituíam-se também o principal efetivo demográfico, acrescido de colonos civis. As Forças Armadas tiveram papel determinante para o seu desenvolvimento. Entende-se como Amazônia as terras da América do Sul cortada pela linha do Equador, com superfície de aproximadamente 7 milhões de km2 que, além do norte do Brasil, abrange, também, parte da Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e da Guiana Francesa (também denominada de PAN-AMAZÔNIA). Possui um quinto (1/5) da água doce do mundo, um terço (1/3) das florestas, abrange 3 fusos horários e 2 hemisférios. É uma densa floresta que forma uma área geográfica natural definida pelo seu meio físico, clima úmido e super-úmido (equatorial), chuvas abundantes e altas temperaturas. O principal curso de água é o Rio Amazonas (cerca de 7000 km de extensão). Nasce em território peruano no planalto La Raya, cordilheira dos Andes, cerca de 120 km do pacífico, e recebe o nome de Vilcanota e Ucaiali. No Brasil - “Solimões” até a confluência com o Rio Negro. A partir daí chamase Amazonas. A Amazônia brasileira, compreende mais da metade da área drenada pelo Rio Amazonas, com cerca de 4,5 milhões de km2. A lei 1806/1956, extrapolando os limites políticos dos Estados da Região Norte, criou a chamada “Amazônia Legal”, e estendeu os benefícios destinados ao desenvolvimento da região Amazônica, concedidos pela Constituição Federal de 1946 – 3% de receita federal. 20 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 A Amazônia Legal abrange uma área de 5,2 milhões de quilômetros quadrados, 61% do território nacional. Sua população é de cerca de 18,5 milhões de habitantes, 10% da população do Brasil. A faixa de fronteira da Amazônia Legal tem uma extensão de cerca de 11600 km na linha divisória terrestre e cerca de 1820 km de fronteira marítima. A maior parte da faixa de fronteira se apresenta como um imenso vazio habitado por pequenas comunidades indígenas, missões religiosas, poucos militares, garimpeiros e rarefeita população que sobrevive, basicamente, do extrativismo. Como maior bacia hidrográfica do mundo, com suas florestas caracterizadas pela grande biodiversidade e com suas riquezas naturais imensas: diamantes, ferro, bismuto, bauxita, cassiterita, cobre, prata, zinco, estanho e hematita, a Amazônia é mais do que isso. A Amazônia é água. Em contrapartida à sua malha rodoviária precária e insuficiente, os dados disponíveis do subsolo comprovam sua vocação mineral. O subsolo amazônico dispõe de apreciáveis reservas de evaporitos, de materiais usados na construção civil, de linhito, de turfa e, ainda, de hidrocarbonetos, óleo e gás natural. Ao falamos de vegetação, a “Hiléia brasileira” abrange 3,3 milhões de Km2, contém um volume assombroso de madeiras de lei, inventariado em 40 bilhões de metros cúbicos, computados somente aquelas com diâmetro à altura de peito igual ou superior a 30 centímetros. A biodiversidade pode conferir à região qualificações de maior banco genético do planeta. Dentro deste contexto foram demarcadas as regiões fronteiriças na Amazônia, imensidões isoladas e sem comunicação, limitadas, por isso, em seu desenvolvimento. Abandono virtual que determina uma estrutura dependente, atrelada a atividades de subsistência e elevados custos. Ressalta-se, igualmente, a carência de infra-estrutura de energia, comunicações, transportes e de baixos níveis de produção pela precária tecnologia utilizada na exploração. Cria o natural sentimento de isolamento, marginalização e exclusão nas populações fronteiriças. As Forças Armadas vem ao longo do tempo, em algumas áreas, suprindo e minimizando esta realidade, buscando atender às necessidades e carências locais. Os Pelotões de Fronteiras do Exército são em muitos pontos os únicos núcleos de civilização. Representam, também, a possibilidade de apoio, educação, transporte, evacuação e saúde (atendimento médico e odontológico), inclusive aos grupos indígenas da região. Mas essa presença é insuficiente diante da grandiosidade da área. Essas vulnerabilidades são, ainda, mais acentuadas ao considerarmos as áreas indígenas demarcadas e em processo de demarcação, exatamente na faixa de fronteira. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 21 Há que se considerar, como aspecto preocupante e que carece de atenção e cuidados, o fato das áreas contínuas demarcadas ao longo de grande extensão da faixa de fronteira. O Estado de Roraima possui 57% de sua área destinada para terras indígenas. Faz-se necessário diferenciar entre recursos e o que podemos chamar de riquezas. O recurso tem conotação potencial; a riqueza, um bem econômico definido. Há tecnologia disponível e capaz de harmonizar a exploração mineral com poucos danos à natureza e ao ecossistema, possibilitando aproveitar os recursos como riquezas. Os recursos naturais da Amazônia têm considerável importância na promoção do desenvolvimento econômico da região, não podendo (e não devendo) a Nação ceder às pressões internas ou externas quanto à sua política de exploração mineral. Nesse contexto são imperativas as providências e ações para viabilizar projetos de exploração mineral na região. A Amazônia Brasileira beneficiarse-á exponencialmente das potencialidades existentes, não se podendo adiar a transformação destas em riquezas efetivas. Semelhante aos minérios, a biodiversidade é a chave do futuro, pois dela virão os novos materiais, os novos medicamentos, novos princípios ativos, novos alimentos. A utilização cada vez maior de produtos e seus derivados sintetizados têm aumentado a procura por compostos orgânicos presentes na natureza. Medidas urgentes devem ser adotadas para proteger e defender o acesso aos recursos genéticos, biológicos, minerais, madeireiros da Amazônia. 3 - FATORES ADVERSOS E ANTAGONISMOS Teses Sobre a Soberania Relativa da Região Amazônica A História registra inúmeras investidas de governos estrangeiros e de entidades privadas internacionais desde meados do século XIX. A questão ambiental vem despertando o interesse e a atenção da opinião pública mundial ganhando espaços cada vez mais importantes na mídia dos países industrializados impondo, através de diferentes formas de pressão, uma nova atitude de proteção ambiental. Na realidade, o constante policiamento ecológico visa controlar as imensas riquezas amazônicas, e através dos instrumentos de pressão viabilizar o veto a qualquer iniciativa de progresso econômico da região. A divisão do Brasil em 7 corredores ecológicos causa preocupação. O IBAMA, com a ingerência direta de ONG (Organizações Não Governamentais), comanda este processo. São 2 corredores na mata atlântica e 5 na Amazônia. São áreas preservadas, “área de proteção ambiental” (APA), onde o poder público não poderá conduzir atividades econômicas: estão em transformação 22 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 ou irão transformar-se em verdadeiros santuários. Só o do centro é maior do que a Grã-Bretanha; os cinco da Amazônia perfazem 30% da área. Em 1992, tem início a “balcanização” da área, com um decreto criando a reserva YANOMAMI, sendo o ponto de apoio no caso Amazônico o vazio demográfico. É exatamente neste vácuo de desnacionalização que se gera a cobiça da internacionalização. O Brasil dispõe de um organismo dedicado à proteção dos indígenas (FUNAI). Até há poucos anos a política era de integração, e foi essa política que vigorou ao longo da história do Brasil. Hoje a tendência parece ser a de segregar o índio, a pretexto de preservar a sua cultura. A orquestração sobre o tema, com ingerência estrangeira, baseia-se na formação de “nações indígenas”. Na verdade, a defesa dessa tese é fruto, fundamentalmente das imensas reservas de minérios existentes tais como o ouro, nióbio, molibdênio, etc. Não há uma posição definida da FUNAI, o que gera campo fértil para intromissões, especulações e ações paralelas, a revelia ou até com a conivência do próprio órgão que deveria gerir as políticas indígenas, mas que hoje não inspira credibilidade. “Que extensão terá uma terra indígena (TI) demarcada?” É preciso uma política indígena de integração do índio, dando-lhe a oportunidade de ser cidadão brasileiro. É preciso não confundir os direitos e a soberania nacionais sobre a imensidão amazônica. É preciso, e é possível, conciliar direitos e interesses através de uma política indígena séria, justa e integrada alterando os atuais conceitos da FUNAI. A Questão Fundiária é outra preocupação que deve ser tomada a sério. Alertas de especialistas dão conta de que a tomada da Amazônia pode ser a última – e mais perigosa – invasão sofrida pelo Brasil. Denúncias e documentos mostram que boa parte deste território já foi comprada, enquanto líderes mundiais insistem em sugerir que o Brasil deveria se desfazer do “patrimônio mundial” para pagar a sua dívida. O assunto conecta-se com a análise da cobiça internacional e trata-se de uma ameaça real. Estudos e pesquisas constataram que grandes grupos japoneses, europeus e norte-americanos possuem gigantescos pedaços de terras na região. Estima-se que o número de pessoas físicas ou jurídicas com títulos de propriedade na região amazônica, e que ainda não foram identificados, sejam maiores que os já registrados. O INCRA não possui uma base de dados com o mapa agrário do Brasil. Uma CPI criada para levantar essas questões fundiárias, teve os trabalhos dificultados por isso. Relatório do mesmo INCRA, demonstra que existem gigantescos pedaços de terras amazônicos nas mãos de pessoas físicas e jurídicas estrangeiras. De acordo com a legislação vigente, até 2,5 mil hectares podem ser adquiridos por pessoas físicas e jurídicas estrangeiras (e, no máximo 25% de um município). Acima desse número devem ser apreciadas pelo Congresso Nacional (Artigo 188 da CF). Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 23 O problema é que a lei não é cumprida e nem há quem a controle. O narcotráfico alia a dificuldade de penetração e o vazio de poder criando condições para a instalação e o alastramento das guerrilhas. Como a Amazônia está coberta por áreas indígenas e à inexistência de áreas livres para mineração, e de áreas promissoras de manganês, ferro, nióbio, terras raras, ouro, diamante, tantalita, molibdênio e cassiterita nas reservas indígenas, esse fato tem ocasionado a busca da expansão de fronteira mineral, adentrando essas áreas, gerando inúmeros conflitos. Adicionalmente, constata-se a garimpagem com grande intensidade na faixa de fronteira. O uso de técnicas rudimentares causa efeitos desastrosos ao ecossistema, perturba a ordem interna, cria inconvenientes com os países vizinhos e, ainda, projeta imagens negativas para o exterior relativamente aos problemas indígenas e de conservação do meio ambiente. Quanto ao contrabando, estima-se que metade do ouro extraído da Amazônia é desviado para as fronteiras, haja vista a inexistência de compradores credenciados pelo governo com presença freqüente nas regiões, impedindo o recolhimento de tributos. Como se não bastasse, a Ecologia, a Biodiversidade e a Biopirataria buscam alçar um lugar de atores principais neste cenário. Entende-se por biopirataria o roubo de material biológico encontrado em território brasileiro, e seu posterior envio para o exterior, sem os devidos trâmites legais. O uso do termo “biogrilagem” parece mais adequado que o consagrado termo biopirataria. A biogrilagem pode ser um dos mais complexos e graves problemas da Amazônia. Em razão da proliferação dos casos de biogrilagem, já se discute uma legislação para definir o uso dos princípios ativos de plantas e animais de interesse para a ciência. A biodiversidade da Amazônia atraiu o interesse de indústrias nacionais e internacionais, que através da biotecnologia visam a industrialização e a comercialização. A Amazônia dispõe do maior banco genético do mundo, que ainda não foi possível mapear, e possui também mais de 30% de toda a biodiversidade da Terra. As novas biotecnologias ampliam a importância do patrimônio genético e moléculas orgânicas contidas na biodiversidade, insumos para medicamentos e terapias. Há forte potencial de mercado da biodiversidade nas florestas, várzeas, cerrados e rios - 33 mil espécies de plantas superiores, pelo menos 10 mil com uso medicinal, cosmético ou como bioinseticida, e 300 espécies de frutas comestíveis, além da rica fauna silvestre. O mesmo ocorre em relação ao reino animal. Existem cerca de 1.400 espécies de peixes nas águas da Bacia Amazônica, mais de trezentas espécies de mamíferos, mais de 1.300 espécies de aves e 2,5 milhões de espécies de artrópodes, e infinitas formas de vida. 24 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 O comércio mundial de produtos, principalmente farmacêuticos, derivados da biodiversidade vegetal e animal já está na casa das dezenas de bilhões de dólares por ano, e só nos falta a ciência e a tecnologia para transformar esse potencial em riqueza real. A solução dos conflitos de interesse entre desenvolvimento e conservação na Amazônia, bem como, os conflitos entre os grupos populacionais, dependem, em grande parte, de ordenamento territorial, divisão de espaços, respeito pelas diferenças, maior presença do Estado e maior participação da sociedade. Neste contexto, os ambientalistas defendem que uma maneira de se preservar essa biodiversidade biológica seria criar áreas de preservação e de corredores ecológicos. Na PANAMAZÔNIA, corredor ecológico transnacional pode sugerir a aceitação da teoria da soberania limitada e justificar ingerências na ação governamental brasileira. A atuação das ONGs, das Multinacionais, de Missionários e estrangeiros sugere a atuação exatamente nesse sentido, cujas principais ações objetivam a defesa do meio ambiente, a preservação das espécies animais e vegetais, e são contrarias à discriminação do índio brasileiro. Tanto as ONGs como as Missões Religiosas atuam com estrangeiros no país. Geólogos, engenheiros, sociólogos e outros especialistas e pesquisadores atuando nessas entidades levam à adução da existência de velado levantamento de recursos naturais da Amazônia, e a obtenção de importantes informações de cunho estratégico - espionagem. Essa tendência crescente de influenciar os povos tornando-os interdependentes, tanto em termos econômicos quanto sócio-culturais que foi denominado “globalização”, na realidade, é um modelo de dominação econômica. No campo da biotecnologia existe um grande número de pesquisadores estrangeiros ocupando assento em instituições brasileiras de pesquisas e que remetem aos seus países os conhecimentos adquiridos que a seguir são lá patenteados. Sobressai a falta de preservação dos conhecimentos sensíveis gerando o aumento do registro de patentes. No caso da Amazônia brasileira, a posse de vultosas reservas minerais, a falta de exploração racional dos recursos hídricos e biológicos somados ao baixo povoamento e pouco controle sobre seu território reforça o discurso daqueles que defendem a soberania relativa e a possibilidade de intervenção e ocupações de áreas onde se mostra vantajosa. 4 - PLANO PARA O DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA Identificou-se a necessidade de desenvolvimento como fator preponderante para se garantir a soberania da Amazônia. Faz-se necessário conhecer os pontos a serem equacionados. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 25 •Investimentos em Estradas e Rios Amazônicos A articulação no que concerne às vias fluviais e terrestres é prejudicada por um conjunto de fatores restritivos que inibem seu desenvolvimento. Destacam-se: obstáculos naturais impedem a navegação continua; diferentes condições de navegabilidade, face às diferentes características dos rios e pelas variadas profundidades disponíveis para o calado das embarcações; longas distâncias entre localidades próximas, devido à sinuosidade de grande número das vias fluviais; falta de infra-estrutura portuária adequada e a inexistência de conexões intermodais; elevados custos de construção e manutenção de rodovias; pressões sobre impactos ambientais, a existência de Parques Nacionais e áreas de preservação; grande quantidade e a extensão das áreas indígenas na região, isolando áreas, em grande parte localizadas na fronteira, e impedindo uma ação eficaz e efetiva para integração da Amazônia. •A Presença das Forças Armadas Os interesses já registrados e a necessidade de implementar a segurança e o desenvolvimento da Amazônia, levaram o governo federal a criar, em 1985, o projeto Calha Norte. O nome, função de sua localização: sub-região ao norte da calha do rio Solimões e do Amazonas, próximo à linha de fronteira, visa ocupar o grande vazio com a presença brasileira. O projeto sofreu um processo de quase estagnação. Atualmente há sinais de sua retomada. •O Projeto SIPAM/SIVAM O Projeto merecia um capítulo à parte, pela grandeza, capacidade de coleta de dados e pelos resultados que se obtém dos milhares de sensores distribuídos pela Amazônia. Com a sua entrada em operação a Amazônia passou a ser desnudada, melhor conhecida; passou-se a monitorar as águas dos rios quanto à presença de poluentes, sua quantidade, a circulação dos ventos, a origem das chuvas; compreender mais e melhor o fenômeno das chuvas; controlar os tráfegos aéreos que voam na região; passou-se a fazer efetivamente a defesa do território brasileiro junto às fronteiras dos oito países vizinhos. Através de sensores remotos incorporados às aeronaves hoje se pode acompanhar a evolução de áreas devastadas, áreas queimadas, garimpos ilegais, áreas de minério, o surgimento de efetivos populacionais e acompanhar as suas movimentações tornando possível aos governos estaduais e federal prever a aplicação de recursos em áreas mais necessitadas. Pode-se melhor estudar a biodiversidade trabalhando praticamente em tempo real. 26 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 O projeto SIPAM/SIVAM, ou apenas SIVAM como ficou conhecido, despertou a curiosidade dos governantes de todo mundo, dos ambientalistas, dos militares do mundo todo. Todos se mostraram impressionados com a quantidade de informações disponibilizadas. O Projeto, no entanto, exige recursos humanos e materiais para produzir/ processar/disponibilizar os dados coletados. Os equipamentos sofrem a degradação com o tempo e, desde já precisam de manutenção e/ou reposição (verbas de custeio). •As Projeções do Poder Internacional no Brasil Em relação ao Brasil, as pressões internacionais se materializam através de pressões econômicas, políticas e psicossociais, destacando-se: restrições diversas ao intercâmbio comercial; campanha negativa da mídia internacional; questão ecológica, com ênfase na floresta amazônica; problema indígena e suposto genocídio Yanomani; combate ao narcotráfico; atuação de ONGs que defendem os interesses dos seus criadores; necessidade de preservar o “pulmão do mundo” e outras como mudanças climáticas no mundo devido à devastação da Amazônia. •A Presença de Multinacionais Enquanto os países ricos promovem campanhas pela preservação da Amazônia, evitando que o Brasil explore suas riquezas em benefício do desenvolvimento do país, suas empresas investem em grandes extensões de terras na Amazônia, não para transformá-las em reservas ecológicas, mas para explorá-las economicamente quando lhes for conveniente. •Queimadas e Desmatamentos Cerca de 80% da madeira são extraídos ilegalmente. Entre dois terços (2/3) e três quartos (3/4) da madeira são oriundos de desmatamento e o restante de planos de manejo. Com o crescimento das áreas desmatadas avança a plantação de grãos, sobretudo soja e milho. Dois terços da expansão na área plantada com soja ocorre na Amazônia Legal. Dentro de uma conjuntura cuja tendência aponta para possíveis ingerências, identificam-se ameaças, que as potências poderiam usar para justificar perante a opinião pública mundial um ato agressivo: narcotráfico, guerrilha, destruição de florestas tropicais, terrorismo internacional, proteção a minorias étnicas, garantia de acesso à biodiversidade,etc. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 27 •Transportes Grandes investimentos em infra-estrutura constituíram o principal elemento de transformação do espaço e da dinâmica social na Amazônia, nas últimas décadas. Ora servem como condição essencial ao desenvolvimento e à integração da região ao País, ora criticados como vetor de devastação ambiental e fragmentação territorial, os projetos de infra-estrutura na Amazônia ainda não foram avaliados adequadamente quanto a seus custos e benefícios. Problemas envolvendo questões ambientais induzem a busca de alternativas de melhoria dos transportes fluviais, de integração multimodal e de competitividade entre rotas rodoviárias. •Energia A matriz energética regional consiste de geração hidroelétrica, termoelétrica, movida à diesel, lenha e carvão vegetal. A dependência do diesel, com altos custos e ineficiência da produção, é, ainda, muito alta, faltando investimentos na geração de alternativas locais descentralizadas e isoladas, e em novas linhas de transmissão. Importa-se energia elétrica da Venezuela e gás da Bolívia. A tecnologia atual já permite a produção de energia aproveitando-se o pequeno desnível dos rios amazônicos, sem a necessidade da construção de grandes reservatórios. Esse fato une dois aspectos importantes: a oferta de energia e a preservação do meio ambiente. •Comunicações Nos últimos anos a Amazônia Legal aumentou de forma significativa a capacidade instalada de telecomunicações, porém manteve uma alta inacessibilidade aos serviços, especialmente para as comunidades rurais. Esse desnível, utilizado por forças adversas, pode criar no consciente amazônida atmosfera favorável a ingerências externas. Um processo de desenvolvimento sub-reptício, a médio ou longo prazo, poderia ser danoso para a soberania. •Zona Franca de Manaus Embora a permanência dos incentivos seja de primordial importância para a manutenção do desenvolvimento da Amazônia e para o estabelecimento do processo de desenvolvimento sustentado, o empresariado brasileiro, mais explicitamente o da FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, adota postura contrária à existência da ZFM muitas vezes, obstaculiza o crescimento e a adoção de medidas para o seu desenvolvimento. 28 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 O modelo de desenvolvimento da ZFM é assentado em Incentivos Fiscais e Extra fiscais, que propiciam condições de crescimento e desenvolvimento da área incentivada. Em 15 de agosto de 1968, o Decreto-Lei Nº 356/68 estendeu estes benefícios a toda a Amazônia Ocidental, ou seja, Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. A existência da ZFM foi prorrogada até 2023. A Indústria no Amazonas depara-se com inúmeros impedimentos ao uso da floresta, como leis ambientais, reservas indígenas e de preservação, gerando uma migração gigantesca para a cidade de Manaus que já conta hoje com cerca de 1,5 milhão de habitantes. A diminuição da carga tributária nos outros estados da federação, leva a uma perda de competitividade relativa, haja vista que o grande diferencial da Zona Franca de Manaus é a suspensão ou isenção do Imposto de Importação (II) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre os produtos importados e feitos naquela região. •Programa Brasileiro de Ecologia Molecular Para Uso Sustentável de Biodiversidade na Amazônia (PROBEM) O valor estratégico da biodiversidade amazônica é imenso e conduziu o Governo Brasileiro, a iniciativa privada e a comunidade científica a executar o PROBEM. Ao mesmo tempo, foi criado o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) que é um complexo de laboratórios voltados para pesquisas básicas e aplicadas, transferência de tecnologia e incubação de empresas e prestação de serviços aplicados como a certificação de produtos, patenteamento e controle da propriedade industrial. O CBA abre caminho para um pólo de bioindústria, com empresas que utilizam matéria-prima da região na elaboração de produtos afetos à biodiversidade. Mais uma vez inúmeros pesquisadores estrangeiros ocupam assento nesses laboratórios, fato que gera preocupação com o sigilo dos informações. •Programa Amazônia Sustentável No dia nove de maio de 2003, foi aprovado o documento inicial “Amazônia Sustentável” pelo Presidente da República. A participação da sociedade é uma das inovações metodológicas do PAS, que prioriza a integração, necessária e indispensável, de diretrizes políticas e ações do Governo Federal com os Governos Estaduais. As iniciativas de desenvolvimento da Amazônia precisam levar em consideração as implicações da presença dominante da floresta. De um lado, Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 29 os cuidados requeridos para sua conservação. De outro, as possibilidades de aproveitamento econômico dos produtos associados à biodiversidade. O desafio de promover a utilização da riqueza florestal com simultânea conservação do bioma é, talvez, o mais significativo para a Amazônia no presente. A sociedade brasileira, especialmente a amazônida, pouco conhece este Programa. •Ligações Pacifico/Caribe A integração regional amazônica depende, como já visto, da articulação do seu espaço, dotando a área com alternativas de novos mercados internos e externos. Atingir esses mercados atenderia à colocação da produção regional, dos diversos setores, a tempo e preços mais competitivos, além de facilitar às outras regiões, especialmente a Centro-Oeste, o escoamento dos produtos de sua pauta de exportação. A ligação com o Pacífico, via Peru e Bolívia, é uma necessidade que não pode ser postergada, sob pena de manter a integração amazônica apenas na retórica. Os portos do Peru e do norte do Chile têm capacidade e infraestrutura para atender às demandas decorrentes. •Inventário e Zoneamento Socioeconômico-Ecológico A questão ambiental não deve ser vista somente sob a ótica das ameaças, mas também como oportunidades. As dimensões amazônicas inibem e tornam desastrosas iniciativas isoladas; indicam a necessidade de articulação e intervenção do Estado, com regras estáveis e definidas. O estabelecimento, através do zoneamento, das áreas vocacionais para cada tipo de utilização, segundo suas potencialidades, deverá buscar a integração entre empresas, governo e comunidades, possibilitando ações economicamente rentáveis e ecologicamente corretas. É um fator fundamental para tomada de decisão. •Revitalização do TCA As Repúblicas da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador, da Guiana, do Peru, do Suriname e da Venezuela firmaram em 03 de julho de 1978 o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA). Os seu signatários estavam seguros de que um processo de cooperação redundaria em benefício de seus países e da Amazônia em seu conjunto. Passados 28 anos, não obteve avanços e nem atingiu os objetivos previstos. 30 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 O TCA é um instrumento diplomático que destaca a preservação ecológica e a utilização da área amazônica por seus condôminos, devendo ser, entre outros, argumento soberano para a integração e solidariedade sob responsabilidade única de seus partícipes. A cobiça, o interesse e as ameaças encontram campo fértil e justificativas na medida em que a Amazônia não recebe a atenção e a prioridade nacionais devidas. A ocupação coordenada e planejada, o desenvolvimento e a integração efetiva da Amazônia, com certeza, enfraqueceriam quaisquer pretensões ou ambições externas. 5- A SOBERANIA BRASILEIRA NA AMAZÔNIA •Conceituação de Soberania Soberania relaciona-se a poder, autoridade suprema, independencia . É o direito exclusivo de uma autoridade suprema sobre uma área geográfica, grupo de pessoas. A soberania sobre uma nação é geralmente atributo de um governo. Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através da qual as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais com: a familia; a escola; a empresa, a igreja, etc. A soberania se manifesta, principalmente, através da constituição de um sistema de normas juridicas capazes de estabelecer as pautas fundamentais do comportamento humano. No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a idéia de igualdade de todos os Estados na comunidade internacional. Tradicionalmente, a idéia de soberania costuma vir associada às seguintes características: o poder soberano é uno (poder estatal único), indivisível (não pode haver dois Estados num mesmo território) e imprescritível. Qual o conceito de soberania é utilizado pelo governo brasileiro para a Amazônia? Os planos de governo para o desenvolvimento nacional têm contemplado a Amazônia como um grande depósito de matérias primas à disposição, para contribuir na formação do Produto Interno Bruto Nacional. Essa postura induziu a ocupação irracional do solo e na uso de tecnologias agressivas e ao meio ambiente e economicamente inadequadas. A postura possibilitou o surgimento de uma economia de exploração danosa e predatória contrária aos interesses da economia regional, da sociedade local e sem atender aos princípios de conservação ambiental. Paralelamente, gera tensões sociais que se avolumam e já se expressam em conflitos como os embates pela posse de terras, por exemplo. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 31 Estudos sobre as dificuldades da região, apontam à deficiência, ou a ausência, da atuação do Estado como fatores primordiais. Desmatamentos, endemias, crimes e descaminhos, enfim, todos os problemas devem ser atacados com a presença eficaz e permanente do poder de coerção do Estado. Baseadas na alegação da incapacidade do Brasil de preservar a Amazônia, ONGs européias e norte-americanas lutam para que se estabeleça o status de “território de interesse da humanidade”, para que um organismo supranacional, com autoridade decisória, passe a participar de sua administração. Essas ONGs já envolveram a ONU, a UNESCO e financeiras internacionais na tese de criação dessa entidade. E, com esse objetivo, aprovam/desaprovam pedidos de empréstimos. Igualmente, mantêm/financiam várias agências na área que se apresentam como ambientalistas, antropológicas, naturalistas, indigenistas, pacifistas e de direitos humanos. As ONGs internacionais irradiam no Brasil – e em particular na Amazônia – uma rede de dezenas de agências que buscam criar na população local e nos indígenas uma conscientização da necessidade de internacionalizar a região. Duas teses se confrontam em torno da questão indígena – integração e confinamento. A política tradicional brasileira é a da integração à sociedade nacional. A partir dos anos 60, organizações internacionais do Primeiro Mundo e entidades cristãs sediadas na Europa e Estados Unidos, com inúmeras missões religiosas na Amazônia, lutam pela internacionalização da Hiléia e confinamento dos índios visando preservar hábitos e costumes primitivos. As ONGs internacionalistas escolheram como tema de penetração a questão indígena, concentrando as operações no Norte do Estado de Roraima, contíguo às fronteiras com a Venezuela e a República da Guiana. Uma região vulnerável pela distância dos grandes centros, pelo seu despovoamento, contíguo ao espaço tri fronteiriço com acesso ao Caribe. A propaganda das idéias de internacionalização conquistou um número crescente de adeptos no exterior e mesmo no Brasil, particularmente entre as organizações que delas recebem financiamento e entre brasileiros que delas dependem por seu emprego. Qual tem sido a atitude do governo brasileiro em face das investidas internacionalistas? Algumas vezes, cega. Outras vezes, dúbia, cedente e em parte, vacilante. Poucas vezes firme, veemente. O grave nesta história é a acomodação da maior parte da mídia, há muito aberta para falsas denúncias de que o Brasil queima a floresta, acabando com o pulmão do mundo. Não é verdade. O oxigênio exarado de dia é substituído pelo gás carbônico à noite. Não dá para entender como a ministra Marina Silva se tenha deixado enredar pelas falácias dos neoliberais defensores da lei de concessões; ela que sempre formou na primeira linha de defesa do patrimônio amazônico. Estará 32 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 ela iludida de que os estrangeiros vão comprando a floresta para mantê-la intocada, respeitando até a biodiversidade? Este é o grande desafio ante aos brasileiros dessa geração. Saberemos responde-lo? Cai sobre os nossos ombros a responsabilidade pela preservação da integridade do nosso território ameaçado. Contudo, a batalha não será decidida nesta geração, que tem que se dedicar com força e com entusiasmo para preservá-la para as gerações seguintes (antes que seja tarde). É necessário responder: “O que significa a Amazônia para o Brasil e para os brasileiros? Qual o seu papel no contexto nacional?” O grande desafio é unir o Brasil em sua defesa; é unir vastas forças, de todos os segmentos da sociedade, em torno do seu progresso e do seu desenvolvimento. A mídia já foi referenciada como o quarto poder, capaz das mais incríveis e significativas mudanças; deve ser uma aliada indispensável no caminho rumo à integração da Amazônia buscando reforçar em todo cidadão brasileiro a vontade de fazer uma Amazônia cada vez mais brasileira. Sabemos que os interesses individuais incentivam, orientam ou reduzem as atividades, sendo o seu carro-chefe. Podem ser explorados, desenvolvidos ou combatidos. Conceitos relativos aos indivíduos podem ser repassados para um grupo e, dentro de uma visão ampla, expressar influência, integração, expansão, proteção e sobrevivência. O tema em tela, quando tratado da forma como pretendeu-se nessa abordagem sobre a Amazônia, provoca reflexões que não são casuais: A quem interessa manter a Amazônia intocada, inexplorada? A exploração de suas riquezas não elevaria a Nação brasileira a uma das maiores potencias mundiais? Esse não é o desejo de todos os brasileiros – emprego, renda, melhoria das suas condições de vida? Por qual motivo o governo federal não investe na região? Por quais motivos os governos estaduais cooptam com as ONGs cedendo-lhes enormes espaços para desenvolverem suas atividades? Criando extensas áreas de Preservação Ambiental ? Quais os motivos que levam as pessoas a aceitarem tudo, pacificamente? O quê leva a grande mídia a não se interessar pelo que acontece na região a não ser quando há algum massacre ou a morte de um estrangeiro? Outras tantas reflexões se configuram quando nos dedicamos a pensar sobre a Amazônia: Que forças poderiam sensibilizar um cidadão para defender um pedaço de terra tão distante do seu mundo? Que forças induziriam esse cidadão a se empenhar para que aquele espaço chamado Amazônia não seja tomado por terceiros, ou entregue a interesses escusos? E ainda: a envidar esforços no sentido de direcionar recursos para aquela região longínqua? Esses questionamentos acabam por se configurar num verdadeiro desafio. Uma Constituição prescrevendo objetivos fundamentais não é suficiente. As elites devem ajustar emoções e conduzir todo processo para o fortalecimento Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 33 das aspirações nacionais. É necessário destacar que a vontade é subalterna à indução e imprescindível à ação. Veremos que a comunicação social configura-se como um elemento fundamental para a mobilização dessa sociedade. •Comunicação Social A Comunicação Social é um campo de conhecimento acadêmico que estuda a comunicação humana e questões que envolvem a interação entre os sujeitos em sociedade. Lida com técnicas de transmissão da informação, o formato com que a informação é transmitida, e os impactos que terá na sociedade e a relação entre os sujeitos em uma situação comunicativa. Entre as subdisciplinas da comunicação, incluem-se a teoria da comunicação, comunicação intrapessoal, comunicação interpessoal, marketing, publicidade e propaganda, relações públicas, análise do discurso, telecomunicações e Jornalismo. Grande parte de sua prática está associada ao estudo da Teoria da Comunicação. A comunicação social possui diversas especialidades, como o jornalismo, a publicidade e a editoração, o rádio e tv, as relações públicas, o cinema e a produção cultural. Para Luiz Beltrão comunicação social é o processo mímico, gráfico, plástico e tátil pelo qual os seres humanos exprimem e intercambiam idéias, sentimentos e informações visando estabelecer relações e somar experiências. Basta olharmos para o número de referências feitas em torno da Amazônia nos veículos de comunicações em torno do mundo para entendermos a importância da comunicação social. A mídia nacional e internacional, diariamente, publica artigos sobre o assunto. O volume e a qualidade das notícias são conclusivos quanto à existência de uma sistemática orquestração para que a opinião pública mundial aceite a idéia de que a Amazônia não é patrimônio, apenas e exclusivamente, dos países que tem a posse do território, mas sim um patrimônio de toda a humanidade. As “diversas Amazônias” com suas complexidades, fragilidades e potenciais característicos devem ser divulgada. Faltam-lhe recursos necessários e suficientes para, por si só, estimular o desenvolvimento. Nesse esforço, cresce a importância das atividades de comunicação social. Tais ações são capazes de agregar valores intrínsecos do homem brasileiro e promover o convencimento das elites sobre o caráter imperativo de manter a Amazônia. O conceito de opinião pública, atualmente, refere-se ao universo de opiniões individuais, naquilo que elas possam ter de mais comum acerca de uma mesma questão. O processo de formação da opinião pública é, dessa forma, resultante do processo da construção da opinião individual. Podemos, então, concluir que a opinião pública nada mais é que o somatório das opiniões 34 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 individuais ou a síntese qualificada e quantificada das opiniões individuais sobre uma mesma questão, em um dado espaço de tempo. Recentemente foram introduzidas, no mundo da comunicação social, formas de influenciar a opinião pública individual, focando atividades eticamente aceitas e com resultados altamente positivos. O marketing social tem crescido e tecnicamente melhorado, transformando-se em eficaz instrumento de modificação da opinião pública. •Marketing Social Cada vez mais, são utilizados os métodos e técnicas de marketing social – que pode ser conceituado, segundo Kotler e Zaltman, como “a criação, implementação e controle de programas voltados para influenciar a aceitabilidade das idéias sociais”. Para eles, o “marketing social é um dos novos desenvolvimentos promissores, pelos quais se espera aumentar a eficácia de agentes sociais de mudança, no sentido de proporcionar as mudanças sociais desejadas”. Necessita-se de profissionais que busquem analisar e conhecer o comportamento da população que se pretende atingir; estabelecer o posicionamento que a causa social a ser promovida deverá ter na mente do adotante. O marketing social é, portanto, uma nova tecnologia de administração da mudança social, associada ao projeto, à implantação e ao controle de programas voltados para o aumento da disposição de aceitação de uma idéia e/ou prática social nos grupos adotantes selecionados como alvo. Esse aspecto é ressaltado por Atucha, para quem “a expressão marketing social é empregada para descrever o uso dos princípios e técnicas para a promoção de uma causa, idéias ou um comportamento social. É uma tecnologia de administração da mudança social associada ao projeto de implementação e controle de programas destinados a aumentar a disposição das pessoas para a aceitação de uma idéia, um comportamento e/ou uma prática social”. •Uso da Propaganda O conceito contemporâneo de Marketing engloba a construção de um satisfatório relacionamento a longo prazo do tipo ganha-ganha no qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam. O marketing não está limitado aos bens de consumo. É amplamente usado para “vender” idéias e programas sociais. Suas técnicas são aplicadas em todos os sistemas políticos e em muitos aspectos da vida. •Agregação de valor Uma oferta de marketing só alcançará exito se proporcionar valor ao seu mercado-alvo. O cliente recebe benefícios e assume custos, por isso definimos Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 35 valor como a razão entre tudo aquilo que o cliente recebe e tudo o que sacrifica ao fechar um acordo. A satisfação do mercado-alvo depende diretamente do desempenho da oferta em relação às suas expectativas. A expectativa por sua vez é construida a partir de experiências anteriores dos clientes e da reputação, promessas e informações. Nesse sentido, tendo sempre a Amazônia como foco principal, vislumbrase infinitas formas de estimular o interesse, despertar a conscientização dos individuos para essa mudança social – pretendida por todos os brasileiros e que se encontra reprimida, por vezes sufocada dentro de nós: -Concursos de redações em todas as escolas; -Incentivo ao turismo com descontos em hotéis; -Defesa de teses envolvendo soluções que beneficiem Estados e Municipios da região Amazonica no que se refere a melhorias sanitárias; -Promoção de idéias que valorizem a aplicação da moral, da ética e dos demais valores; -Conscientização de que a Amazônia brasileira é dos brasileiros e que cada brasileiro venha a conhecê-la, a amá-la, e cada vez mais ela venha a fazer parte do seu dia-a-dia, mesmo que inconscientemente, como o ar que se respira; -Programas de televisão e rádio que conscientizem sobre a preservação dos recursos hídricos; -Programas de televisão e rádio que conscientizem sobre as riquezas minerais, fauna, flora, biodiversidade e a necessidade de sua preservação e utilização com vistas ao desenvolvimento nacional; -Amplos debates nas rádios e televisões podem contribuir para essa mudança de atitude social. Enfim, alguém dedicado a esse tema e neste sentido seria capaz de listar centenas de idéias e atitudes, a grande maioria delas sem envolver a aplicação de recursos que, num regime de mutirão social, faria toda a diferença na hora que alguém com segundas intenções pretendesse subordinar qualquer interesse internacional sem o aval de toda a sociedade brasileira. •Telenovelas brasileiras: suporte eficaz para mensagens sócioeducativas 36 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 O significativo poder de influência que as telenovelas exercem sobre a população tem sido objeto de inúmeras pesquisas e estudos, tanto no Brasil quanto em vários países do exterior. Maria Tereza Monteiro, diretora da Retrato Consultoria, revela que “assistir telenovelas constitui-se em um hábito extremamente valorizado sobretudo por provocar uma ruptura em seu cotidiano atribulado e quase sempre desprovido de outras alternativas de lazer. Assim sendo, se estabelece uma relação profunda dos expectadores com as telenovelas, uma vez que estas lhes oferecem entretenimento e realização das suas fantasias, além de informações e cultura”. Parece ser consensual a percepção de que a televisão em geral e a telenovela, em particular, é um excelente meio para a difusão de conteúdos culturais e educativos junto às populações carentes de alternativas, como é o caso de grande parcela da população brasileira. As telenovelas constituem um gênero televisivo independente, sendo o mais popular e de público mais fiel, entre todos os tipos de programas veiculados. Elas lideram a audiência em diferentes regiões, segmentos sociais, sexo e faixas etárias. Não chegam a ser uma unanimidade nacional, sobretudo para os segmentos sociais mais intelectualizados. Porém, enquanto entretenimento de massa, a telenovela é o tipo de programa que está mais perto de se transformar em unanimidade. Quando decide acompanhar uma telenovela o(a) telespectador(a) está reservando a este hábito parte do tempo disponível para o lazer, está assumindo um firme compromisso de ali estar quase todos os dias (de segunda a sábado, em geral) e sempre no mesmo horário. É, virtualmente, uma relação de dependência e de prazer em relação ao programa escolhido e, ainda, ao próprio veículo. Com efeito, a audiência das telenovelas se apropria dos seus conteúdos temáticos, criando significados próprios para as diferentes cenas ou situações vivenciadas através do vídeo. O imaginário ocupa o lugar do real e o fato concreto perde espaço para o fenômeno sentido. Enquanto se assiste à telenovela, todo e qualquer sonho tem a chance de se tornar realidade. Realidade de estar ali, diante do vídeo, num contexto histórico conhecido e numa geografia já experimentada. Os comportamentos, atitudes e práticas latentes podem vir à tona, revelando que cada pessoa é – potencialmente – capaz de fazer muito mais do que aquilo que, realmente, faz em sua realidade cotidiana. Isto se dá porque a telenovela interfere de forma homeopática no cotidiano dos(as) telespectadores(as), oferecendo-lhes uma dose ficcional que – embora não sendo capaz de transformá-los intimamente e de forma duradoura – também não os deixa mais como eram antes. O universo ficcional da telenovela tende a expandir em muito as fronteiras da realidade. Enfim: a telenovela é a própria linguagem do Brasil: ela reflete as suas riquezas e as suas misérias; os seus desníveis e contradições; ela retrata e enfatiza os seus êxitos e fracassos; e reforça a expectativa e o sonho de que “amanhã tudo vai ser diferente”. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 37 A telenovela brasileira trata de temas universais, mas usando um enfoque absolutamente contemporâneo. Ela nacionaliza o regional, fantasia a realidade e realiza as fantasias dos telespectadores. As telenovelas, como foi visto, exercem um grande poder de modificação na consciência social, sendo, portando, um dos principais veículos que podem ser utilizados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Amazônia se constitui numa grande responsabilidade para o Brasil e, acima de tudo, num imenso desafio. A integração total do vasto espaço amazônico, embora tentada ao longo do tempo, ainda está longe de ser alcançada. Nos cinco séculos de história brasileira, aquele ermo território tem sido palco das mais diversas ações. As primeiras ameaças datam do início do século XIX. A integração da Amazônia é uma tarefa da sociedade brasileira que exige inteligência, tecnologia diferenciada, sem interferência e sem esperanças vãs, de tal forma que o IDH da região alcance os mesmos patamares que a média do Brasil. A solução dos inúmeros problemas do contexto amazônico poderá ser efetivada com a eficaz presença do Estado Brasileiro. É insuficiente a implementação de programas e projetos com ações pontuais e esporádicas. Num contexto mundial em que se escasseiam, com muita rapidez, recursos de toda ordem, é no mínimo ingenuidade crer, que não há interesse pelos recursos naturais existentes na Amazônia. Biodiversidade, metais raros e água aparecem no contexto mundial como itens a serem disputados no futuro. A grande maioria da população brasileira desconhece os aspectos que determinam a dinâmica da vida amazônica e não identifica as ameaças à soberania, as vulnerabilidades latentes, capazes de facilitar a propaganda adversa e as campanhas visando formar, no consciente coletivo brasileiro, um ambiente favorável aos interesses das grandes potências. Certamente, já é o momento de transformar esse estado de coisas. Tal transformação somente será possível com a busca, na comunicação social, do antídoto para as campanhas já em curso. O conhecimento, por toda a nação brasileira, do potencial exato da região amazônica, possibilita introduzir no consciente coletivo a necessidade premente da manutenção da soberania plena, total e indiscutível do patrimônio da Amazônia Brasileira. O Estado Brasileiro possui projetos em andamento na região. A maioria deles com resultados apenas paliativos que apenas amenizam as necessidades. Projetos de infra-estrutura são os que exigem um grande volume de recursos e sofrem os maiores ataques das ONGs ligadas à preservação do meio ambiente. 38 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 O governo precisa, no mais curto prazo, reverter essa situação e introduzir e manter no seio da opinião pública conceitos, idéias e metas a serem atingidas, de tal forma, que os projetos de impacto não sejam retardados no legislativo quer por ações diversionárias de ambientalistas, quer pelas ONGs. Em se tratando de ONGs é necessário desmistificar o assunto. Para as comunidades atendidas elas são, por muitas vezes, o único alento existente num universo de carências totais. Embora ocorra a ausência do Estado não significa que todas as ações desenvolvidas pelas ONGs estejam corretas, ou mesmo, que isso lhes respalde a imposição de idéias ou a defesa dos interesses de grupos estrangeiros. Para desmascará-las perante os residentes amazônidas, é necessário informá-los e desenvolver em suas mentes um pensamento crítico, levando-os a opinar sobre seus desejos, interesses e aspirações sem interferências. O empresariado nacional dificilmente agirá, por si só, para acelerar o desenvolvimento da Amazônia. O Estado mínimo proposto pelo neoliberalismo, a globalização e a força dos blocos econômicos estarão a retardar as ações e a reduzir seus efeitos. Para a plena integração tem que haver ingerência das forças governamentais e, nesse caso, as ações de comunicação social, o uso da propaganda e do marketing estarão colaborando para a aceitação, por parte das elites, de forma mais rápida e menos reacionária. Atualmente, a mídia divulga e os ambientalistas propalam que existem inúmeras ameaças à Amazônia Brasileira, em sua maioria ligadas ao mau uso do ecossistema ou a crimes ambientais. Não resta dúvida que são ações antrópicas agressivas e podem conduzir a situações críticas e de difícil gerenciamento pelo Estado Brasileiro. Ao se falar em ameaças, cabe lembrar o contexto amazônico. São muitas as nossas questões ambientais e a solução deve ser brasileira; o apoio internacional é necessário e as ingerências são inaceitáveis. E ainda, há clareza também do fato de que o Brasil não abre mão da soberania plena em qualquer parte do território nacional. Qualquer projeto, estatal ou privado, a ser desenvolvido, demandará recursos materiais ou humanos. O seu atendimento só será encontrado no centro-sul do país ou no exterior. É a hora da sociedade brasileira fazer a sua escolha: ficamos à espera e assistindo ou seremos os atores principais desse novo processo? O financiamento para qualquer projeto estatal deve ter seu orçamento aprovado na Lei do Orçamento da União e requer um esforço político, o qual ainda não possui representatividade significativa na região. A iniciativa privada, tendo a certeza da manutenção das garantias e dos incentivos fiscais, ao longo das sucessivas legislaturas, e tendo a continuidade no escoamento da produção vislumbrará atrativos para investir, montarem filiais ou subsidiárias e até mesmo formar aglomerados na área. Nesse processo, a participação dos órgãos governamentais de controle Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 19-40, -3 9, jan/jul. 2007 39 do meio ambiente é fundamental para o adequado e perfeito zoneamento industrial, buscando a implantação de “indústrias limpas”. A utilização do conhecimento adquirido por esses institutos governamentais e a capacidade das ONGs de influir na opinião pública, tende a eliminar os entraves espúrios das questões ambientais, transformando-os em parceiros ativos na busca do desenvolvimento e da melhoria da qualidade de vida do amazônida. Mais do que tudo, a Amazônia deve, sim, ser vendida... Vendida para os brasileiros. 40 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 19-40, 21 -39, jan/jul. 2007 Ações subsidiárias das Forças Armadas na Amazônia e seus reflexos na segurança e no desenvolvimento José Luis Gonçalves Menin General-de-Brigada, estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra em 2006 Introdução [...] sem diminuir sua capacidade militar, sem concorrer com a atividade civil particular, levar as Forças Armadas a colaborar decisivamente nas obras de bem-estar público, [...] pressupõe ligá-las, intimamente, aos interesses e ideais da sociedade, para promover a harmonia e benefícios mútuos, em um ordenado espírito de cooperação, [...] (Onganía, Juan Carlos. Tenente-General argentino West Point, EUA. 5a Conferência dos Exércitos Americanos, 2002) A função social exercida pelas Forças Armadas por meio de Ações Subsidiárias tem fortalecido a Segurança e proporcionado o Desenvolvimento Nacional na Amazônia Brasileira! (o autor) A Amazônia Brasileira – Amazônia Legal –, criada pela Constituição de 1946 e regulamentada por Lei no 1.806, de 6 de janeiro de 1953, fruto de um conceito político e não de um imperativo geográfico, com vistas à necessidade do Governo de planejar o desenvolvimento da região, é constituída pelos territórios dos Estados do Pará, Amazonas, parte do Maranhão, Mato Grosso e Tocantins, e dos antigos territórios, hoje Estados do Amapá, Roraima, Acre e Rondônia. A Amazônia Legal ocupa uma superfície de aproximadamente 5.217.000 (cinco milhões e duzentos e dezessete mil) Km2,cerca de 60 (sessenta) % do território brasileiro, tem uma fronteira de 11.000 (onze mil) Km, um litoral com mais de 1.660 (mil seiscentos e sessenta) Km, e o Rio Amazonas como sua principal referência, sendo que este é o maior da terra em volume de água, constitui-se em 1/5 (um quinto) da água doce do globo e estende-se por 3.500.000 (três milhões e quinhentos mil) Km2 em território brasileiro. Essa imensa área é coberta por cerca de 1/3 (um terço) das florestas tropicais da Terra, formando o maior ecossistema do planeta. É detentora de exuberantes fauna e flora e rica de recursos minerais, inclusive os radiativos, e seus rios, com 23.000 (vinte e três mil) Km navegáveis oferecem um grande potencial no campo da energia elétrica. O clima é equatorial quente e úmido. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 41 Fonte: Wikipedia, a enciclopédia livre – navegação, pesquisa. As imensas e ricas reservas de origem vegetal e mineral, incluindo os minerais radiativos, as reservas de gás, de água potável, a par das atitudes dos governos e da maioria dos brasileiros, têm levado a imprensa mundial a transmitir idéias de internacionalização da Amazônia, aceitas e afirmadas por grupo de países, dentro dos mais variados pretextos, como o direito à exploração de riquezas, liberdade de navegação nos rios, busca de espaço demográfico, deveres ecológicos, e outros. Esse processo de internacionalização e de várias outras ameaças, atualmente ligadas à biodiversidade, à ecologia e às áreas indígenas avançam com o apoio promovido por organizações não-governamentais, subsidiadas por governos ou por empresas multinacionais, ao tempo em que o Poder Público, seja federal, estadual ou municipal, encontra muitas limitações para conduzir atividades sócio-econômicas, de desenvolvimento e de integração. A concepção do preparo e emprego das Forças Armadas brasileiras têm sofrido significativas mudanças, pois sem prejuízo de suas atividades-fim, realizam missões não militares ligadas às aspirações e soluções de problemas nacionais, voltados, principalmente, para o desenvolvimento sócio-econômico e para as atividades de segurança, denominadas como Atividades ou Ações, Subsidiárias ou Complementares. BASE LEGAL E DOUTRINÁRIA A base legal para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas encontra-se definida nos seguintes instrumentos: Constituição, Lei 42 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999 (modificada pela Lei Complementar nº 117, de 02 de setembro de 2004), Decreto no 5.376, de 17 de fevereiro de 2005 e Decreto no 2.959, de 10 de fevereiro de 1999. Da análise da legislação que compõe a base legal conclui-se que: • A Lei Complementar no 97, de 1999, alterada pela Lei Complementar no 117, de 2004, estatui às Forças Armadas: 1. como Atribuição Subsidiária Geral (Art. 16), cooperar com o Desenvolvimento Nacional e cooperar com a Defesa Civil, integrando as referidas ações de caráter geral a participação em campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social. • Cooperar com o Desenvolvimento Nacional significa participar, em caráter subsidiário, de iniciativas levadas a efeito pelo Governo Federal para reduzir os desequilíbrios sócio-econômicos; traduz-se no desenvolvimento de ações nos campos científico-tecnológico e sócio-econômico em proveito da comunidade nacional. • Cooperar com a Defesa Civil significa a participação, em caráter episódico, realizando ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas destinadas a evitar ou minimizar os desastres, preservar o moral da população e restabelecer a normalidade social. 2. como atribuições subsidiárias particulares, as ações previstas nos artigos 17, 17 A e 18. • O Decreto no 5.376, de 2005 integra as Forças Armadas ao Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC. • O Decreto no 2.959, de 1999, estabelece a participação dos Comandos Militares na Força – Tarefa, para o monitoramento, a prevenção, a educação ambiental e o combate a incêndios florestais na Amazônia Legal. A base doutrinária para o estudo em questão está consubstanciada, particularmente, no Manual Básico da Escola Superior de Guerra e em publicações afetas ao Ministério da Defesa. • Desenvolvimento Nacional é o processo que pode ser compreendido pela análise da evolução de seu Poder, na transformação que a sociedade, indivíduo ou grupo, incluso o militar, é capaz de realizar, na busca e manutenção do Bem Comum, nem sempre podendo ser apresentado quantitativamente. • Segurança Nacional é o sentimento de garantia para a Nação, da conquista e preservação dos seus Objetivos Fundamentais - por ameaças da área externa ou por insegurança individual e/ou comunitária que tenha atingido alto grau de generalização e gravidade -, proporcionada pela aplicação do seu Poder Nacional. • Segurança Individual é a garantia ao homem dos direitos de liberdade, de propriedade, de locomoção, de proteção contra o crime e, bem como, o encaminhamento de soluções de seus problemas básicos como; saúde, educação, justiça e subsistência. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 43 • Atividades Subsidiárias são, de maneira geral, as ações que as Forças Armadas realizam complementando as atividades de outros órgãos ainda carentes de meios (materiais e segurança) para atender à essas. São denominadas, ainda, de Ações Subsidiárias ou Atividades Complementares. AÇÕES SUBSIDIÁRIAS DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA O Exército integrou campanhas institucionais de utilidade pública ou de interesse social, particularmente de saúde, em benefício da população e realizou outras atividades subsidiárias, mercê de sua estrutura organizacional, articulação, presença nacional e de sua capacidade de planejamento e de execução da missão. Na Amazônia, destacam-se as seguintes: • Ações conjuntas com o Ministério da Saúde visando à vacinação, à imunização e ao combate à dengue e à malária. • Participação no Programa Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e AIDS, cooperando para o mapeamento epidemiológico e no controle de DST. • Participação no Programa Nacional de Emunobiológico, produzindo plasma hiperimune para a confecção de soro antiofídico no Instituto de Biologia do Exército. • Distribuição de soros antiofídicos para os Postos de Saúde da Região Amazônica. • Participação na Campanha Nacional contra a Raiva, vacinando animais domésticos nos espaços mais remotos da Amazônia. • Participação na Campanha Emergencial de Distribuição de Alimentos, do Programa Fome Zero. • Distribuição emergencial de água nos municípios atingidos pela seca. • Realização de diversas ações assistenciais e emergenciais de saúde, imunização, saneamento básico, apoio a Agentes Comunitários de Saúde, de Farmácia Básica e de Assistência Farmacêutica (ACISO), com a cooperação dos órgãos de saúde, em benefício de várias cidades dos Estados do Acre, Amazonas, Pará, Roraima e Amapá. • Assistência a menores carentes, em situação de risco social, nos pelotões de fronteira, proporcionando-lhes educação geral, cívica e profissionalizante, alimentação, assistência médico-odontológica e pedagógica, esporte e lazer, abrindo a oportunidade de inserção desses jovens à cidadania. Encaminhamento de alguns, em idade mais avançada, posteriormente a sua profissionalização, ao mercado de trabalho. • Preservação do meio ambiente, em conjunto com as comunidades, com a ação denominada “Verde no Verde”. 44 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 • Cooperação com os órgãos de preservação ambiental, fornecendo o apoio logístico para as atividades de fiscalização ambiental. • Execução de obras e serviços de engenharia, também denominadas de cooperação, realizando obras de apoio à infra-estrutura sócioeconômica. Essas consistem, basicamente: na construção, pavimentação, restauração e conservação de estradas; na construção e manutenção de pontes, viadutos e túneis; na construção e manutenção de instalações de portos, aeroportos e aeródromos; na construção de escolas e postos de saúde; na construção e manutenção de açudes, barragens, poços artesianos, tubulações de água e esgotos; no tratamento de água potável; e, ainda, no mapeamento e demarcação de áreas e instalação de pequenas centrais hidrelétricas e termoelétricas, na faixa de fronteira. Como exemplos pode-se citar as rodovias e suas obras de arte, ManausCaracaraí-Boa Vista, Porto Velho-Manaus, Cuiabá-Santarém, Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco-Cruzeiro do Sul; os portos de Manaus, Itacotiara, Belém e Parintins; os aeroportos de Manaus, Marabá, Assis Brasil, Porto Velho e Marco BV-8. Os portos de Manaquiri, Urucará, Manicoré, Eirunepé e Cainágua/Porto Velho, são projetos a serem iniciados ainda em 2006. • Iniciativas do Instituto Militar de Engenharia: 1. Criação de um centro de excelência de engenharia rodoviária, com a participação do Ministério dos Transportes e de algumas entidades civis, como universidades e centros de pesquisas, com o objetivo de cuidar da pesquisa de novas tecnologias para obras rodoviárias, com grande alcance de aplicação na área amazônica, bem como do desenvolvimento de projetos de infra-estrutura viária para todo o País. 2. Envio dos alunos do 5o ano de graduação, de todas as especialidades de engenharia, e dos alunos de alguns cursos de pós-graduação, para prestarem serviços de engenharia a unidades militares, comunidades e órgãos civis selecionados da Região Amazônica, além de realizarem experimentos científicos. Este projeto iniciou-se em 2003, com o nome de Operação Ricardo Franco. 3. Colaboração para a execução do Programa Institucional CientíficoTecnológico de Apoio à Defesa e ao Desenvolvimento Sustentável da Amazônia – CT AMAZÔNIA, constituído de vários projetos de pesquisa. Como exemplo de benefícios proporcionados por esses projetos, cita-se: • recuperação da barragem de Pacaraima – RR e a construção da barragem da Comunidade Indígena do Balaio (São Gabriel da Cachoeira – AM); Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 45 • construção de pequenas centrais hidrelétricas – PCH, na região das instalações dos pelotões de fronteira, em benefício das comunidades militar e adjacente; • tratamento de Esgoto e Lixo, beneficiando os pelotões e pequenas comunidades da região amazônica; e • instalação e implementação de acesso à Internet, via antena geral, às populações interioranas. AÇÕES SUBSIDIÁRIAS DA MARINHA NA AMAZÔNIA Constata-se que a Marinha vem cumprindo tarefas subsidiárias de contribuição para o Bem Comum e o desenvolvimento nacional, reafirmando, como um Ente do Estado, a presença deste na Amazônia. Dentre outras, na Região Amazônica destacam-se: • Atendimento a populações ribeirinhas com três navios-hospitais (NAsH): “Oswaldo Cruz”, “Carlos Chagas” e “Dr. Montenegro”, denominados Navios da Esperança. Essas embarcações realizam atendimentos odontológicos, de enfermarias, de farmácia, de laboratório, de vacinação e operações de médio porte. Dispõem, também, de Lanchas de Ação Rápida e operam com helicópteros UH-12 Esquilo, para o atendimento de urgência e em lugares de difícil acesso. Seguem-se algumas atividades assistenciais: • Assistência médica e odontológica a comunidades situadas nas imediações de Itacoatiara (AM), na área da Operação “RIBEIREX”. • Atividades assistenciais a cerca de 31.000 pessoas nas proximidades da cidade de Marechal Thaumaturgo – AC, incluindo moradores das aldeias indígenas das tribos Katukinas, Ashanincas e Kulinas. • Realização de cerca de 3.000 procedimentos de saúde às comunidades ribeirinhas do rio Tarauacá, sendo que os municípios de Feijó e Tarauacá, no Acre, foram atendidos por helicóptero. • Realização de cerca de 11.000 ações de saúde, alcançando a cidade de Santa Rosa do Purus (AM), na fronteira com o Peru. • Realização de atendimentos médico, odontológico e sanitário a cerca de 10.000 pessoas às margens do rio Purus e Iaco (AM e AC). • Realização de mais de 110.000 procedimentos – vacinação, exames médicos, pequenas cirurgias, análises clínicas, orientação sanitária, tratamento dentário, parto normal, cesariana, evacuação aeromédica e palestras - e assistência a 58 comunidades isoladas da região do Acre e do Alto Juruá. • Realização de ações de assistência odontológica, médica e orientação sanitária para as comunidades próximas à área da Operação Negro I. • Realização de mais de 11.000 procedimentos (vacinação, exames médicos, pequenas cirurgias, análises clínicas, orientação sanitária, 46 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 • • • • • tratamento dentário, parto normal, cesariana, evacuação aeromédica e palestras, dentre outros) e assistência a 58 (cinqüenta e oito) comunidades isoladas, ao longo dos rios Solimões e Juruá, a uma distância de 3.600.Km de Manaus. Os Relatórios do Comando de Operações Navais apontam os índices atingidos nas comissões dos Navios de Assistência Hospitalar na Amazônia: 167.522 atendimentos em 2004, 161.197 em 2005 e 149.243 até junho de 2006. Atividades de orientação e fiscalização do tráfego aquaviário na região e preservação ambiental, em conjunto com outros órgãos governamentais. Operação Chance para Todos, Programa de Segurança da Navegação e Comitê Técnico da Bacia Amazônica. Alguns são realizados mais de uma vez ao ano. Atividades de apoio aos órgãos estaduais de promoção social, de defesa, de esporte e de lazer (Comissão Estado). Atividades de apoio aos órgãos de repressão ao contrabando, ao descaminho e ao narcotráfico, particularmente pelos navios de Patrulha Fluvial. Construção de lanchas de alumínio, de apoio médico (LAM), de ação rápida (LAR) e de patrulha fluvial (LPF) pela Base Naval de Valde-Cães, para atender aos órgãos de saúde, de segurança, de defesa civil e de proteção ambiental. AÇÕES SUBSIDIÁRIAS DA AERONÁUTICA NA AMAZÔNIA A Força Aérea, por intermédio de Ações Subsidiárias, vem ao longo dos anos desempenhando o papel de provedor da integração e do desenvolvimento econômico da Região Amazônica por intermédio da prestação do apoio logístico aos órgãos governamentais, às organizações militares terrestres, à povoação local e às comunidades isoladas, tendo por base, particularmente, uma pequena pista de pouso localizada junto à unidade de fronteira. As suas aeronaves constituem, na maioria das vezes, o único contato físico desta comunidade com a civilização. Entre tantas Ações, destacam-se: • Ação Cívico-Social em apoio aos órgãos de saúde e social nas cidades de: Envira, Eirunepé, Santa Isabel do Rio Negro, Yauareté, Lábrea, Tefé e Boca do Acre. Em cinco anos alcançou cerca de 24 municípios, num total de 37.370 atendimentos odontológicos e médicos, particularmente a comunidades de difícil acesso. • Missão de Misericórdia (MMI) com atendimento médico, odontológico, de emergência e transporte aéreo de medicamentos, de enfermos ou de pessoas com outras carências (excluídas as vítimas de acidentes aeronáuticos e marítimos). Conforme inventário da FAB foram Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 47 • • • • • • • 48 realizadas 76 missões durante o ano de 2004, totalizando 187 pacientes transportados. Em 2005, 124 missões e 242 transporte de pacientes. No primeiro semestre de 2006 o total de horas voadas neste mister já atinge a 99 horas. Operação “Gota” que é um programa conjunto de multivacinação com o Ministério da Saúde e órgãos estaduais e municipais. Vem sendo realizado a nove anos em comunidades indígenas e áreas rurais nos Estados do Pará, Amapá, Amazonas, Acre e Roraima. Operação “COMAR SECO” que atendeu a 36 municípios do Estado da Amazônia e 5 do Estado do Pará, transportando carga, cestas básicas e kit médicos. Programa “Alerta Brasil” que visa a prestação do apoio aéreo para ajudar na localização e na prestação de primeiros socorros às vítimas e no resgate de acidentados. Controle das atividades da Aviação Civil, bem como as ações de estabelecer, equipar e operar, diretamente ou mediante concessão, a infra-estrutura aeronáutica e aeroportuária. De maneira geral, algumas competências do Departamento de Aviação Civil (DAC) foram transferidas para a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), criada a partir de março de 2006. Detecção de tráfego aéreo desconhecido, pelo CINDACTA, que vem colaborando, sobremaneira, para a segurança e auxiliando a outros órgãos responsáveis pelo combate ao descaminho, ao contrabando e ao narcotráfico. Em 2005, foram detectados, registrados e acompanhados cerca de 4.000 vôos desconhecidos e identificados 662 aeródromos não regularizados. Plano de Apoio à Amazônia (PAA) que presta apoio logístico ao Sistema de Vigilância da Amazônia (SIVAM), às unidades militares instaladas na região, bem como as comunidades próximas a estas ou servidas por aeródromo. O SIVAM é uma rede de radares, satélites e sensores que fornece milhares de informações sobre desmatamentos, queimadas na floresta, tráfego aéreo, fronteiras agropecuárias e campos minerais, entre outras. Os relatórios deste Plano contemplam as seguintes horas voadas nestes atendimentos: 11.110 em 2004 e 10.812 em 2005. Ainda não está oficializado os dados referentes ao período de 2006. Correio Aéreo Nacional (CAN) que promove a integração de cidades e comunidades, a inclusão social e de saúde e leva auxílio e esperança às populações mais remotas e carentes. Transportando agentes prestadores de serviços do Estado, remédios, livros e alimentos e mesmo realizando atendimentos médicos de emergência ou informações, voa nas seguintes rotas na Região Amazônica: Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 CAN ACRE, com origem na cidade de Rio Branco: Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá, Marechal Thaumaturgo e Cruzeiro do Sul; CAN JURUÁ, com origem na cidade de Tefé: Juruá, Carauari, Itamarati, Eirunepé, Envira, Ipixuna e Guajará; CAN ALTO-SOLIMÕES, com origem na cidade de Manaus: Alvarães, Santa Isabel do Rio Negro, Japurá, Santo Antônio do Iça, São Paulo de Olivença, Juruá e Anori; CAN EXPRESSO, com origem na cidade de Manaus: Tapauá, Canutama, Lábrea, Boca do Acré, Feijó, Tarauacá, Guajará, Ipixuna, Eirunepé e Carauarí; CAN JURUÁ-MADEIRA, com origem na cidade de Manaus: Urucurituba, Novo Aripuanã, Apuí, Pauiní, Manoel Urbano, Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo, Cruzeiro do Sul, Envira e Itamarati; CAN PURUS, com origem na cidade de Rio Branco: Canutama, Labrea, Pauiní e Boca do Acre; e CAN RONDONIA, com origem na cidade de Porto Velho: Guajara-Mirim, Costa Marques, Vilhena, Rolim de Moura e Machadinho do Oeste. Conforme relatório das Missões CAN, no 1o Semestre de 2006 foram voadas 345 horas, atingindo um número total de 10.082 atendimentos. AÇÕES SUBSIDIÁRIAS COM O EMPREGO DAS FORÇAS NA AMAZÔNIA A seguir, descreve-se duas das diversas ações com o emprego simultâneo dos Comandos Militares, Instituições e Órgãos Governamentais, realizadas na área amazônica e de grande significado para a segurança e o desenvolvimento. • Programa Calha Norte Foi instituído pelo Governo Sarney (1985), com os objetivos de povoar, realizar o atendimento social e incentivar o desenvolvimento econômico da região ao norte das calhas dos rios Solimões e Amazonas, proporcionando, em conseqüência, uma maior integração desta área ao restante do País. O aumento da presença militar na área tornou-se importante como elemento de fixação das populações e de apoio à criação de pólos de desenvolvimento político-sócio-econômico, a exemplo de Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira. A Marinha contribuiu para a consecução dos objetivos do Programa Calha Norte, com seus pontos de apoio operacional marítimo, com a realização de atividades de segurança, de controle e de patrulhamento da navegação fluvial e com as ações de assistência hospitalar. O Exército contribuiu, com a ativação dos pelotões especiais de fronteira (Iauretê, São Joaquin, Queraí, Maturacá e Pari-Cachoeira, no Amazonas, Ericó, Auarís e Uiramutã, em Roraima, e Tiriós, no Pará), com os serviços de saúde para a população, com os sistemas de comunicações que permitiam a ligação com outros centros da região e do País e com o recebimento de imagens de Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 49 televisão. Destinou, ainda, um pavilhão do pelotão, chamado “De Terceiros”, para o uso de outros órgãos do Governo. A Força Aérea ofertou o apoio logístico de transporte aéreo, a construção de pistas de pouso e aeródromos, as alternativas de segurança para a aviação civil e os levantamentos aéreos da região. As Forças Armadas contribuíram, de maneira especial, para que outros ministérios e órgãos federais e estaduais cumprissem suas atividades de oferta de Recursos Sociais Básicos (saúde, assistência social, educação e saneamento básico) e de fiscalização. • Cooperação com a Defesa Civil (Incêndio em Roraima) Os focos de incêndio atingiram praticamente todo o Estado de Roraima, abrangendo uma extensão aproximada de 400 Km. As áreas mais afetadas se concentravam em regiões de assentamentos e vilas agrícolas, tendo sido contabilizados, em 26 de março, 46 focos. Ao ser constatada uma situação de calamidade pública, o Governador do Estado decidiu reunir, todos os meios disponíveis para, com a colaboração de elementos externos ao Estado de Roraima, atuar de forma decisiva e atribuir ao Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva a função de Coordenador Geral da Operação. As ações das Forças Armadas, de resposta aos desastres permitiram: • O controle de sinistros. • O socorro às populações em risco. • A assistência às populações afetadas. • A reabilitação dos cenários dos desastres. • O retorno da população à área. • A oportunidade da implantação de projetos de desenvolvimento sócioeconômico. • O embasamento para a instituição do Decreto no 2.959, de 10 de fevereiro de 1999, que dispõe sobre o combate a incêndios florestais na Região Amazônica e a criação de uma Força-Tarefa para essa missão. REFLEXOS NA SEGURANÇA E NO DESENVOLVIMENTO Aseguir, exemplifica-se alguns reflexos na segurança e no desenvolvimento, pelas Ações Subsidiárias das Forças Armadas na Amazônia. Reflexos na Segurança Redução ou extinção de focos de insegurança no âmbito interno pelo (a): esclarecimento à população realizado durante as atividades subsidiárias; • aumento da segurança militar na área, pela própria presença das Forças; • 50 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 • • • • • • • • • • aprimoramento dos sistemas de defesa, vigilância e controle, da fronteira, do espaço aéreo e das vias fluviais; diminuição ou eliminação das ameaças ou desafios; priorização do desenvolvimento e vivificação da Faixa de Fronteira; intensificação das atividades de inteligência; inibição do trânsito ilegal de estrangeiros, do narcotráfico e da evasão de riquezas minerais e biológicas na Faixa da Fronteira, pela ação de órgãos responsáveis, com o apoio logístico militar; participação crescente da população na segurança individual e comunitária, beneficiada pela formação educacional, cívica e cultural; interiorização de pólos de desenvolvimento e de fixação da população; contribuição para a implementação de projetos, particularmente Calha Norte e SIVAM; intensificação da assistência social, em particular em regiões desfavorecidas ou atingidas por calamidades públicas; e ampliação e abertura de vias de transporte e de comunicação. Reflexos no Desenvolvimento Fortalecimento e aperfeiçoamento do Poder Nacional pelo (a): • implantação de geradores de energia, usando a infra-estrutura dos pelotões de fronteira; • resultado das pesquisas “CT Amazônia” que beneficiam várias atividades e setores: construção de estradas e açudes, produção de energia elétrica e sistemas de captação, de tratamento e de distribuição de água; • realização de inúmeras obras de infra-estrutura sócio-econômica em regiões inóspitas, onde a iniciativa privada não possui interesse em atuar; • elaboração de Plano Diretor para o desenvolvimento das cidades; • construção, ampliação e manutenção de aeródromos, aeroportos e pistas de pouso, garantindo uma operação segura das aeronaves; • construção de instalações de portos; • elaboração de projetos de infra-estrutura, adequados às necessidades de crescimento dos municípios; • estímulo às atividades educacionais e econômicas em núcleos populacionais; • ampliação das relações bilaterais com os países limítrofes, em particular com a Guiana e o Suriname, pela implementação de rodovias até as fronteiras; • realização de obras de manutenção e reparação em escolas públicas, proporcionando as facilidades para o ensino e a formação de cidadãos capacitados à promoção do desenvolvimento regional; Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 51 • participação na qualificação do pessoal (saúde e profissional), beneficiando a indústria regional; • orientação de trabalhos agropecuários, em especial nas regiões fronteiriças, realizada pelos técnicos transportados e apoiados com meios militares; e • monitoramento e fiscalização dos recursos ambientais da Amazônia. CONCLUSÃO A Amazônia Brasileira, concentradora da maior bacia hidrográfica, do maior manancial de água doce do planeta, de diversos corredores ecológicos, de áreas de preservação ambiental, de terras indígenas, do maior potencial mineral do mundo (ouro, estanho, nióbio, petróleo, gás natural, potássio, manganês, ferro, cromo, bauxita, cassiterita e outros), de 30% da biodiversidade do planeta, de insumos medicinais, é também uma região de acentuado vazio demográfico (2 Hab/Km2), de presença deficiente do Estado, de carência assistencial em saúde e educação e de oportunidade a crimes ambientais, ao contrabando, ao descaminho de minerais e à biopirataria e ao tráfico de drogas. Estes fatores continuam a propiciar desejos a grupos estrangeiras pela região. A presença militar na Região Amazônica veio a constituir-se no grande esforço governamental de realização de ações do Estado para a manutenção da integridade territorial e soberania da Nação, nesta vasta e remota região. Sem prejuízo de sua missão maior -Defesa da Pátria-, as Forças Armadas realizam Atividades Subsidiárias ligadas às aspirações e soluções de problemas da Região Amazônica, voltadas, principalmente, para a segurança e o desenvolvimento sócio-econômico. Neste mister: 1. cooperam com o (a): • Estado, permitindo ao mesmo a criação de condições para que o indivíduo possa viver em liberdade e bem estar; • outros órgãos, na realização de atividades para as quais estes se apresentam com carências de meios materiais e de segurança; • Defesa Civil, prestando socorro às populações atingidas por calamidades públicas, com vistas à redução dos desastres, a preservação do moral da população e o restabelecimento da normalidade social; • Desenvolvimento Nacional, realizando ações nos campos científico, tecnológico, social e econômico, com o intuito de diminuir os desequilíbrios sócio-econômico em comunidades preestabelecidas; e • Segurança Individual, garantindo ao homem os seus direitos, incluso o de locomoção, bem como o encaminhamento de soluções aos problemas, dentre outros, de saúde e educação. 52 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 2. proporcionam e estimulam o (a): • adensamento populacional na área das fronteiras; • execução de ações por outros Entes do Estado; • atividades educacionais e econômicas; • oferta de recursos sociais básicos (saúde, assistência social, educação, saneamento básico, e outros); e • criação de pólos de fixação da população e do desenvolvimento, a exemplo de São Gabriel da Cachoeira, Benjamin Constant, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos, Estirão do Equador, Iauretê, Maturacá, Vila Bitencourt e Tabatinga, no Estado do Amazonas; Oiapoque, Caracaraí, Normandia, Boa Vista, Bonfim e Guajará Mirim, no Estado de Roraima; Porto Velho, Uiramutã, Vilhena e Príncipe da Beira, no Estado de Rondônia; Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumaturgo, Plácido de Castro e Brasiléia, no Estado do Acre; e Tiriós no Estado do Pará. 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Comando do Exército. Palestra do Instituto Militar de Engenharia. Rio de Janeiro, RJ: ESG, 2006. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 41-56, -3 9, jan/jul. 2007 53 ______. Comando do Exército. Relatórios e documentos. Brasília, DF: COTER, 2006. ______. Comando da Marinha. Palestra do Comandante da Marinha aos Cursos de Altos Estudos das Escolas Superior de Guerra, de Guerra Naval e de Comando e Estado-Maior do Exército e da Universidade da Força Aérea, Rio de Janeiro, RJ: ECEME, 2006. ______. Comando da Marinha. Palestra do Comandante do 4o Distrito Naval ao Comandante de Operações Navais. Belém, PA, 2006. ______. Comando da Marinha. Palestra do Comandante do 9o Distrito Naval aos alunos do Curso de Estado-Maior para oficiais superiores da Escola de Guerra Naval. Manaus, AM, 2005. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 23 ed. atual. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. ______. Decreto no 2.959, de 10 de fevereiro de 1999. 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Conselho Nacional de Transportes. Plano de Viação: Evolução Histórica (1808 - 1973). Rio de Janeiro, RJ, 1973. 54 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 CAVALCANTI, Costa. Brasil Potência. São Paulo, SP, Reunidas, 1972. COMBLIN, Joseph. A Ideologia de Segurança Nacional. Rio de Janeiro, RJ, Civilização Brasileira, 1977. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual Básico: Assuntos Específicos. Rio de Janeiro, RJ:À Escola, 2005. v.2. ______. Manual Básico: Elementos Doutrinários. Rio de Janeiro, RJ:À Escola, 2005. v.1. FAGUNDES, Seabra. As Forças Armadas na Constituição. Rio de Janeiro, RJ, Biblioteca do Exército, 1955. MALAN, Alfredo Souto. Os Batalhões de Engenharia de Construção na Amazônia. Brasília, DF, Departamento de Engenharia e Construção, 1967. MORLA CONCHA, MANUEL. General peruano. 5a Conferência dos Exércitos Americanos. West Point, USA, 2002. ONGANÍA, Juan Carlos. 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Brasília, DF, 1998. 56 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 41-56, 21 -39, jan/jul. 2007 Tecnologia espacial e a integração Sul-Americana Marcos Dias da Silva Físico, estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra no ano de 2006. O ímpeto de conhecer, explorar, estudar e modificar o ambiente em que vive é uma peculiaridade inerente à humanidade. Desde os primórdios da civilização a curiosidade sobre o espaço exterior causou fascinações, crenças, especulações e deu origem às Ciências Espaciais. A vontade aliada à necessidade induziu o progresso na área e o desenvolvimento de tecnologias que permitiram ao homem, finalmente, explorar o Espaço. Em 1906 Santos Dumont, imbuído do espírito de pioneirismo do brasileiro, inventou o avião (14 BIS). A primeira e a segunda guerras mundiais consolidaram a tecnologia da aviação. A segunda guerra mundial deu origem à tecnologia nuclear. Posteriormente, a Guerra Fria, protagonizada pelos EUA e URSS, motivaram a corrida ao Espaço. Não queremos aqui fazer apologia à guerra, mas sim denotar que investimentos em tecnologia de defesa, de ponta e sensível, aceleram o desenvolvimento. Hoje, o avião, a energia e a medicina nuclear, e a tecnologia espacial representam grandes benefícios disponíveis à sociedade. Em 1957, foi inaugurada a Era Espacial com o lançamento do Sputnik I pela URSS. Apenas cinco anos após, o Brasil deu início às suas atividades Espaciais com a criação do Grupo de Organização da Comissão Nacional de Atividades Espaciais – GOCNAE, que iniciou seus trabalhos nas dependências do então Centro Técnico da Aeronáutica – CTA. É interessante notar que, até meados do século passado, o homem conseguia observar a Terra dentro dos limites de seu horizonte; o avião possibilitou ampliar este horizonte, porém ainda permitia a observação da Terra somente dentro dos seus limites. Hoje, com o avanço da Tecnologia Espacial, é permitido ao homem observar remotamente a Terra, como um todo, dentro do Universo, bem como observar detalhes do tamanho de uma pessoa (resolução da ordem de 0,5 m). Essa tecnologia, aliada à tecnologia de informática, gerou uma série de ferramentas, e conseqüentes aplicações, nas áreas de Observação da Terra, Previsão do Tempo e do Clima, Telecomunicações, Ciências Espaciais e outras, as quais propiciaram metodologias modernas de levantamento de recursos naturais; previsão de safras; planejamento urbano; monitoramento e controle de florestas e de rios, com reflexos na previsão energética; abastecimento de água; prevenção contra catástrofes naturais; comunicações; controle do espaço aéreo; defesa, dentre outros. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 57-68, -3 9, jan/jul. 2007 57 Essas novas ferramentas e metodologias produzem claras e importantes conseqüências no desenvolvimento econômico e no bem estar social. Convém ressaltar, ainda, que geraram uma série de novas profissões de conteúdo tecnológico consistindo em alternativas para jovens formandos nos mais diversos ramos de atividades. Esse artigo resume o conteúdo do trabalho “A Tecnologia Espacial como Fator de Integração Sul-Americana”, realizado em 2006, na Escola Superior de Guerra, por ocasião do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Na América do Sul, a Argentina e o Brasil possuem infra-estrutura e programas espaciais sistematizados, atuando em vários segmentos espaciais, tendo inclusive satélites próprios. Os outros países buscam estruturar seus programas através de cooperações internacionais, porém, salvo melhor juízo, atualmente utilizam dados de satélites estrangeiros para desenvolverem pesquisas e aplicações. As atividades espaciais executadas pelo Brasil estão fundamentadas na “Política Nacional de Desenvolvimento das Atividades Espaciais – PNDAE”, que estabelece os objetivos e as diretrizes que norteiam as ações do governo voltadas para esta área. O objetivo maior da PNDAE é promover a capacidade do país para utilizar os recursos e as técnicas espaciais na solução dos problemas nacionais e em benefício da sociedade brasileira. Na exposição de motivos, a PNDAE ressalta a extensão territorial do Brasil, a complexidade de suas características geoeconômicas, o cenário geopolítico internacional, e as aceleradas transformações mundiais como fatores que impõem ao país a necessidade de utilizar as tecnologias espaciais para assegurar o desenvolvimento. No plano estratégico, as atividades espaciais brasileiras estão definidas no “Programa Nacional de Atividades Espaciais – PNAE”, que estabelece as missões, as ações e os projetos a serem desenvolvidos ou continuados, as prioridades, as metas e os executores. O PNAE é elaborado para um horizonte temporal de 10 anos, sofrendo, no entanto, revisões quinquenais. A terceira e última revisão do PNAE ocorreu durante o ano de 2004. Os órgãos de planejamento, gestão e execução das atividades espaciais compõem o “Sistema Nacional de Atividades Espaciais – SINDAE”. Integram o SINDAE, a Agência Espacial Brasileira – AEB, como órgão central e de coordenação do Programa; o Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial – CTA, do Comando da Aeronáutica, do Ministério da Defesa – MD e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, do Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT, como órgãos setoriais e principais executores; e outros Ministérios, Secretarias e organismos públicos e privados, mediante convênios, como órgãos participantes. Os instrumentos e a legislação citados acima estão consolidados no documento “Programa Nacional de Atividades Espaciais – PNAE 2005 – 2014”, que pode ser obtido na página eletrônica www.aeb.gov.br 58 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 57-68, 21 -39, jan/jul. 2007 Com base no PNAE, é elaborado o Orçamento da União no que concerne ao financiamento das atividades espaciais a serem priorizadas. O Orçamento da União é a principal fonte de recursos financeiros para o programa. Recursos financeiros adicionais, para execução de projetos específicos, podem advir de fundações de fomento à pesquisa e desenvolvimento, tais como as fundações estaduais de amparo à pesquisa, o CNPq, a FINEP, empresas privadas e organismos nacionais e internacionais. O principal programa de governo na área espacial é o “0464 - Programa Nacional de Atividades Espaciais”, de responsabilidade do MCT e do MD, e engloba ações na área de infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento em tecnologia espacial, incluindo a construção de satélites e lançadores. Nos últimos anos essa Ação tem recebido recursos da ordem de 200 milhões de reais. Outros Programas de Governo, de responsabilidade do MCT, MD, Ministério da Integração Nacional - MI, Ministério do Meio Ambiente - MMA e outros ministérios, também financiam atividades de pesquisa e aplicação, conforme a interface e o interesse desses ministérios. Na página eletrônica do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão - MPOG http://sidornet.planejamento.gov.br/docs/cadacao/# encontra-se a relação com a descrição dos principais Programas e suas respectivas Ações no âmbito das atividades espaciais. O Brasil conta com uma boa infra-estrutura espacial, a qual engloba o conjunto de laboratórios e instalações que dão suporte ao desenvolvimento, integração, testes e operação de satélites e de veículos lançadores. Desse conjunto cabe destacar o Instituto de Aeronáutica e Espaço – IAE/CTA, responsável pelo desenvolvimento e construção de veículos lançadores de satélites; a Usina de Propelentes Coronel Abner – UCA/CTA, responsável pela produção de propelentes sólidos para os propulsores dos veículos lançadores; o Laboratório de Integração e Testes – LIT/INPE, responsável pela construção e testes de satélites; o Centro de Lançamento de Alcântara – CLA/CTA e o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno – CLBI/CTA, de onde partem os veículos lançadores de satélites e os lançadores sub-orbitais; e o Centro de Rastreio e Controle de Satélites – CRC/INPE, responsável pelo rastreio, controle e aquisição de dados de satélites. É imperativo ressaltar que o CLA/ CTA está localizado em Alcântara – MA, portanto próximo à linha do Equador, o que implica numa redução significativa de combustível nos lançamentos, constituindo uma vantagem competitiva altamente relevante para o Brasil neste segmento. Outrossim, o LIT/INPE agrega uma função importantíssima no desenvolvimento e na qualificação da indústria nacional, prestando serviços de testes e assessoramento técnico. O LIT conta hoje com uma carteira de mais de 1000 clientes nas áreas médica, automobilística, de informática e outras. Com Relação ao “Acesso ao Espaço”, termo esse que se refere ao desenvolvimento e produção de lançadores orbitais e sub-orbitais, o CTA, através do IAE e com a participação da indústria aeroespacial brasileira, desenvolveu Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 57-68, -3 9, jan/jul. 2007 59 e produz um conjunto bem sucedido de veículos de sondagem, englobando a série SONDA e os foguetes VS que, inclusive, são utilizados pela Alemanha em experimentos sub-orbitais. Na linha de veículos lançadores de satélites (VLS), o CTA desenvolveu e produziu o VLS 1, cujos dois primeiros protótipos foram lançados do CLA em 1997 e 1999 respectivamente. Embora essas duas missões não tivessem alcançado êxito completo, permitiram testar e qualificar, em vôo, vários componentes do veículo. O terceiro protótipo sofreu um incêndio quando estava sendo preparado para o lançamento no CLA em 2003. Atualmente o VLS 1 está em fase de revisão e deverá ter um novo protótipo lançado em 2007. O VLS 1 permite colocar satélites de até 350 kg em órbita de até 1.000 km de altitude. A partir do VLS 1, o CTA e a AEB estruturaram um novo programa de lançadores denominado “Programa Cruzeiro do Sul”, em referência as cinco estrelas da constelação Cruzeiro do Sul. Essa nova família de lançadores é composta pelos veículos Alfa, Beta, Gama, Delta e Epsilon, com o objetivo de atender tanto as missões espaciais propostas no PNAE, como também as missões de clientes internacionais. Com custo estimado em US$ 700 milhões e prazo de execução para 17 anos (2022), o programa possibilitará ao Brasil a independência no transporte espacial de satélites de pequeno à grande porte. O VLS Epsilon consiste no objetivo final do programa e permitirá colocar satélites de até 4 toneladas em órbitas de transferência geo-estacionária. O Brasil já colocou 4 satélites em órbita. O primeiro foi o Satélite de Coleta de Dados – SCD 1, em 1993, que integrou o Sistema Brasileiro de Coleta de Dados Ambientais, constituído de um conjunto de Plataformas de Coleta de Dados Ambientais - PCD distribuídas no território nacional. Estas plataformas, dependendo do tipo e aplicação, possuem sensores de temperatura do ar e do solo (ou da água, se marítimas ou fluviais), de umidade do solo e do ar, de pressão atmosférica, de radiação solar, de velocidade e direção do vento e de índice pluviométrico. Os dados dos sensores são transmitidos para o satélite (SCD), que os retransmite para as estações de recepção em Cuiabá e em Alcântara. Esses dados são de grande importância para a previsão de clima e tempo. Em 1998, foi lançado o SCD 2; em 1999, o CBERS 1; e, em 2003, o CBERS 2. Embora a missão precípua dos satélites CBERS seja a de observação da Terra, eles possuem também os transponders para a coleta e retransmissão desses dados. Os satélites da série SCD são de órbita equatorial, enquanto que os CBERS são de órbita polar. A associação dos dois permite a coleta mais freqüente de dados. Encontra-se em fase de construção e testes, com lançamento previsto para 2007, o CBERS 2B, para substituição do CBERS 2. O PNAE prevê a construção e o lançamento de novos satélites, para diversas aplicações. O Programa CBERS é o carro chefe do segmento de satélites do PNAE, cujos novos satélites em desenvolvimento, os CBERS 3 e 4, trazem evoluções em relação aos CBERS 1 e 2; o satélite RADAR vai permitir 60 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 57-68, 21 -39, jan/jul. 2007 a varredura de todo território nacional, fornecendo imagens de alta resolução, independente da cobertura de nuvens; o Satélite de Sensoriamento Remoto SSR-1 é o primeiro de uma série de satélites nacionais de observação da Terra que poderão trafegar em órbitas equatoriais ou polares, objetivando uma maior freqüência de aquisição de dados; o Satélite de Pesquisa da Atmosfera Equatorial - EQUARS é um satélite científico, cujo objetivo é o monitoramento global da atmosfera na região equatorial, enfatizando processos dinâmicos, fotoquímicos e mecanismos de transporte de energia entre a baixa, média e alta atmosfera e ionosfera; o Monitor e Imageador de Raios X - MIRAX é um satélite destinado a detectar fontes de raios X na nossa galáxia; o Monitor de Clima Espacial, MCE, é o primeiro de uma série de satélites científicos brasileiros destinados à exploração do espaço profundo (deep space); o denominado Global Preciptation Measurement - GPM consiste de um satélite de monitoramento da precipitação global da atmosfera, enfatizando a América do Sul. O INPE também está construindo uma Plataforma Multimissão, PMM, que poderá servir de base para os vários satélites científicos descritos acima. Outrossim, o PNAE prevê o desenvolvimento de Satélites Geoestacionários de Telecomunicações - GEO 1 e 2, priorizando o atendimento às áreas de comunicações seguras, meteorologia e controle de tráfego aéreo. A carga útil do GEO inclui imageadores no visível e no infravermelho, voltados para o monitoramento do tempo e clima na América do Sul. Na área de aplicações, destacamos as atividades de observação da Terra, englobando sensoriamento remoto e meteorologia. Cabe ressaltar que os produtos nesta área são de reflexos imediatos na economia. Sensoriamento remoto, no contexto aqui analisado, consiste em obter imagens da Terra a partir de satélites no espaço. Em algumas aplicações, também são utilizadas fotos aéreas. Dependendo da natureza da aplicação, as câmaras instaladas em satélites captam imagens em regiões diferentes dos espectros visível, infravermelho e de microondas. Os dados são enviados para estações terrenas de recepção na forma de sinais eletromagnéticos dos sensores dessas câmaras. Estes sinais brutos são processados por programas de tratamento de imagens, de maneira específica para o que se quer evidenciar (vegetação, recursos minerais, água, região urbana, etc.). Esse trabalho é feito pela Coordenação de Observação da Terra, OBT/INPE, e por uma vasta gama de usuários em universidades, institutos de pesquisa e empresas privadas, resultando em produtos para gerenciamento urbano e rural, previsão de safras e desastres naturais, levantamento de recursos naturais, monitoramento de desmatamentos, meteorologia, dentre outras aplicações. Dentre os vários produtos disponibilizados pela OBT/INPE, destacamos o PRODES, o DETER e o PROARCO (vide www.obt.inpe.br) que são programas de detecção e monitoramento do desflorestamento da Amazônia, abrangendo a América do Sul. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 57-68, -3 9, jan/jul. 2007 61 A meteorologia utiliza imagens de satélites meteorológicos e dados de plataformas ambientais terrestres para realizar prognósticos de tempo e de clima. Esses dados são inseridos em programas de modelos numéricos de previsão e processados por supercomputadores. Os resultados apresentam probabilidades de precipitação, temperatura e vento. No Brasil, os principais centros de meteorologia são: o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, CPTEC/ INPE, do Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, e o Instituto Nacional de Meteorologia, INMET, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Em várias universidades, encontram-se outros centros de estudos de clima e tempo dedicados ao desenvolvimento de modelos numéricos e aplicações específicas. O CPTEC/INPE, além de pesquisa básica em clima e tempo, desenvolve projetos e produtos específicos e disponibiliza previsões meteorológicas através de páginas na Internet (vide www.cptec.inpe.br), das quais destacamos: previsão de tempo para todas as cidades do Brasil; prognósticos climáticos para o Brasil, América do Sul e global; previsão oceânica, incluindo as de ondas marítimas e dados correlatos; monitoramento de chuva e nível dos rios, nas principais bacias do Brasil, para controle energético; meteorologia da Antártica, apresentando dados de tempo e clima daquele continente e análises de sua influência na América do Sul; monitoramento de queimadas na América do Sul, apresentando as imagens mais recentes e atualizadas obtidas por meio dos satélites NOAA, GOES, TERRA e ACQUA; poluição atmosférica, apresentando dados de emissão por queimadas de vários gases poluentes, incluindo a emissão de monóxido de carbono - CO por fontes urbano-industriais da América do Sul. O PNAE inclui também ações destinadas à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico, visando gerar produtos e processos inovadores, tanto na área espacial, quanto em áreas correlatas. Essas ações, além de atender às necessidades da P&D espacial, visam agregar valor à indústria nacional, através de mecanismos de transferência de tecnologia, estimulando a adoção de novas metodologias e normas de qualidade de padrão internacional. É interessante destacar também o Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR, realizado na Estação Comandante Ferraz, na Antártica. Este programa contempla projetos de pesquisa nas áreas de ciências espaciais e atmosféricas, clima, biologia, oceanografia e outras. Participam dessa iniciativa o Ministério do Meio Ambiente – MMA; a Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar – SECIRM; o INPE; o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; a Universidade de São Paulo - USP e outras instituições colaboradoras. Cabe ressaltar ainda as ações educacionais e de difusão de conhecimento, com grande repercussão na projeção do programa espacial brasileiro, através da formação de pessoal para todo o continente. Destacamos os Cursos de PósGraduação oferecidos pelo INPE e pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica ITA/CTA; vários cursos técnicos oferecidos pelo INPE e CTA; e, em especial, os 62 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 57-68, 21 -39, jan/jul. 2007 cursos oferecidos pelo Centro Regional de Educação em Ciência e Tecnologia Espaciais para a América Latina e o Caribe – CRECTEALC, uma iniciativa bilateral dos Governos do México e do Brasil, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO, sediado no Brasil, nas dependências do INPE. O planejamento e a execução das atividades espaciais na Argentina são coordenados pela “Comision Nacional de Actividades Espaciales – CONAE”, que é o organismo nacional que elabora e executa o “Plano Espacial Nacional” visando utilizar e aproveitar a ciência e a tecnologia espacial com fins pacíficos. Hoje se encontra em vigência o Plano Espacial Nacional 2004 – 20015, cujo objetivo principal é gerar “Ciclos de Informação Espacial” completos, que permitam ao país aplicar e desenvolver conceitos tecnológicos avançados, otimizar recursos humanos e econômicos, efetuar uma genuína cooperação internacional de caráter associativa e atuar privilegiando o manejo do conhecimento. Ademais o plano espacial deve funcionar como um projeto de inversão. Em seus programas de ações estratégicas o CONAE contempla a formação de uma organização espacial regional como ferramenta de política exterior. A infra-estrutura espacial da CONAE se concentra no Centro Espacial Teófilo Tabanera, localizado na cidade de Córdoba, que congrega a estação terrena de Córdoba, o centro de controle de missões, facilidades de integração e testes e o Instituto de Altos Estudos “Mario Gulich”, um empreendimento conjunto entre a CONAE e a Universidade Nacional de Córdoba, cujo objetivo é a geração de conhecimento e o desenvolvimento de aplicações inovadoras da informação espacial, bem como a formação de recursos humanos. Da mesma maneira que o Brasil, a Argentina busca atuar no ciclo espacial completo. Possui uma cooperação forte com a NASA, através da qual colocou 3 satélites em órbita, o SAC A (missão tecnológica), o SAC B (missão científica para estudos de física solar e astrofísica) e o SAC C (missão de observação da Terra e estudos científicos). Os SAC B e C foram testados no LIT/INPE, Brasil. Atualmente está desenvolvendo 4 satélites, o SAC D, de observação da Terra e de estudos atmosféricos, em colaboração com a NASA; o SAC E (SABIA), de observação óptica de água e meio ambiente, em cooperação com o Brasil; SACOM, baseado em tecnologia de radar para observação da Terra; e o SAC F. Utiliza informações de seu satélite SAC C e dos satélites AQUA, EROS, ERS, LANDSAT, NOAA, OrbView, RADARSAT, SPOT e TERRA para atuar em aplicações agropecuárias, pesqueiras e florestais; hidrologia e oceanografia; gestão de emergências, controle do meio ambiente e recursos naturais; cartografia, geologia, produção mineral, planejamento territorial e gestão da saúde. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 57-68, -3 9, jan/jul. 2007 63 No segmento de acesso ao espaço, desenvolve o projeto Tronador, cujo primeiro elemento (Tronador I) está em desenvolvimento e consiste de um foguete de pequeno porte (3,4 m de altura e 60 Kg), com o objetivo de testes tecnológicos. O projeto visa, em etapas sucessivas, chegar num veículo lançador de satélites. Desenvolve, também, em cooperação com o Brasil, uma carga útil para testes tecnológicos a ser lançada pelo VS 30 brasileiro, numa trajetória sub-orbital. Face do exposto acima, podemos visualizar um campo vasto para ações visando à integração do Brasil com países da América do Sul. Aliás, algumas iniciativas já estão em andamento, das quais, no momento, destacamos a disponibilização gratuita de imagens CBERS para os países sul-americanos; previsões meteorológicas para a América do Sul; interações técnico-científicas, com destaque para os testes de satélites argentinos no LIT/INPE e cooperações nas áreas de ciências espaciais e atmosféricas; os cursos oferecidos pelo CRECTEALC; e a “Earth Observation Partinership of the Américas”, que é uma organização criada com o objetivo de ampliar e integrar os recursos de Observação da Terra nas Américas, disponibilizando-os para todos os países americanos, bem como promover ações no nível global para facilitar o acesso de cientistas e organismos americanos às facilidades existentes no mundo referente à área. Quanto às dificuldades, ressalta-se a limitação de recursos humanos e financeiros para atender a demanda crescente nessa área de tecnologia sensível. Outrossim, as restrições impostas pela Lei de Licitações e Contratos e a ausência de perenidade na liberação de recursos já aprovados, tido como uma espécie de “contingenciamento branco”, constituem entraves para o andamento das atividades de C&T. Como pontos fortes, ou facilitadores, podemos citar a competência instalada, os Fundos Setoriais e a Lei de Inovação Tecnológica. No âmbito internacional, nota-se uma grande disputa pelo mercado comercial de bens e serviços na área espacial. Recente notícia (28/08/2006) da Commission of Science, Tecnology and Industry for National Defense da China, publicada na página eletrônica da Chinese Academy of Space Technology – CAST, afirma que a China busca expandir sua participação no mercado internacional de satélites, lançadores e serviços correlatos. Para isso, está firmando acordos com vários países, como Rússia, Ucrânia, Paquistão, EUA, Canadá, Argentina, Venezuela, Chile e Peru. Cabe ressaltar que a concorrência internacional para o mercado espacial não se restringe ao caso da China. Como já é de conhecimento, a National Aeronautics and Space Administration - NASA, a ESA, a Rússia e outros já participam desse mercado. O presidente dos EUA assinou, recentemente, uma lei que prevê a possibilidade de restrições ao uso do espaço para países que possam se contrapor aos interesses de Washington. Esse ato certamente causará 64 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 57-68, 21 -39, jan/jul. 2007 reflexos no mercado espacial, na medida em que interfere nas cooperações internacionais. Semelhante ao que já ocorre na área nuclear, certamente a transferência de tecnologia espacial será monitorada e restringida. Os EUA e a antiga URSS protagonizaram a corrida espacial, no bojo da Guerra Fria, enquanto a França, menos pressionada no tocante à defesa, dedicou seus esforços às aplicações pacíficas, ganhando notoriedade no segmento comercial, tanto de acesso ao espaço, quanto de produtos e serviços de relevância para as atividades econômicas. A França ocupou o espaço, deixado no seguimento de lançamentos comerciais, desenvolvendo o lançador Ariane, que possui a vantagem de propiciar lançamentos duplos e, ademais, os franceses sempre antecipam uma evolução tecnológica nos novos modelos da série, antes mesmo que o mercado do modelo vigente esteja saturado. Outro exemplo foi a decisão de construir um centro de lançamentos na Guiana Francesa, próximo à linha do equador, o que reduz os custos de lançamento, aumentando a competitividade. O modelo gerencial francês serviu de exemplo para a estruturação dos programas espaciais de outros países, inclusive o Brasil. Essa estratégia empreendedora e de antecipação dos fatos culminou com a formação da “European Space Agency – ESA”, que congrega hoje 17 países trabalhando em regime de cooperação, num arranjo produtivo que permitiu o desenvolvimento de uma indústria espacial forte na Europa. Um outro ponto forte da ESA é que cada membro pode participar dos projetos de seu interesse e, na realização de um projeto conjunto, as encomendas na indústria privada de cada membro são proporcionais ao seu investimento no projeto, observada a sua competência técnica (geographical return). Além da Comunidade Européia, registra-se o desenvolvimento de programas espaciais pelo Canadá e Japão. Em especial, o Japão desenvolveu seu programa espacial baseado na cooperação com os EUA. No início, essa estratégia permitiu uma evolução rápida e até o surgimento de uma pequena indústria aeroespacial lucrativa, porém resultou numa dependência tecnológica do Japão em relação aos EUA que, inclusive, não permitia o Japão comercializar artefatos espaciais que contivessem tecnologia norte-americana. Apesar do apoio governamental e do significativo aporte de recursos, parecenos que o programa espacial japonês, apesar de ter conseguido avanços significativos, ainda não se consolidou como um grande programa devido ao grande número de instituições envolvidas e uma estrutura gerencial pesada e dispersa. Somente em 2003 o Japão criou a “Aerospace Exploration Agency – JAXA” para coordenar o seu programa espacial, buscando maior agilidade e eficiência. Uma análise mais detalhada sobre os programas francês, europeu, americano e japonês pode ser encontrada no livro “Política Espacial Brasileira” de Edmilson Costa Filho, Rio de Janeiro, Revan, 2002. Fica clara a necessidade de uma agência espacial de estrutura enxuta e ágil, para coordenar as ações, Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 57-68, -3 9, jan/jul. 2007 65 bem como o aporte regular de recursos financeiros e humanos para que um programa espacial tenha sucesso. Mais recentemente, despontaram no cenário espacial os chamados países emergentes, como China, Índia e Brasil. Atualmente, as aplicações pacíficas e de cunho comercial dominam o cenário. Analisando os programas das diversas agências espaciais, notamos grande número de projetos nas áreas de Observação da Terra, incluindo monitoramento de recursos naturais, meio ambiente e previsão de clima e tempo; Ciências Espaciais, englobando a alta atmosfera, magnetosfera e ionosfera, bem como emissões radioativas do sol e de galáxias; prospecção no sistema solar; e acesso ao espaço, notadamente pelos EUA, Rússia, Europa e China. Uma característica marcante é a quantidade crescente de projetos em cooperação, sobretudo entre os Estados Unidos, a Comunidade Européia e a Rússia. Esses fatos demonstram que a tecnologia espacial é, hoje, um fator imprescindível para o desenvolvimento de uma nação, constituindo-se numa necessidade básica para países que não detêm essa tecnologia, e numa gama de oportunidades para países que podem disponibilizar dados e produtos nessa área. No mundo atual, a alta tecnologia é um fator preponderante para o desenvolvimento de uma Nação. Para um país emergente, o ponto crucial é identificar as áreas de atuação nas quais possui vantagens competitivas para priorizar as ações de governo. O Brasil conta com grande atrativo para lançamentos de veículos espaciais devido à localização do Centro de Lançamento de Alcântara – CLA próximo à linha do Equador, permitindo significativa economia de combustível, fator esse de grande relevância para acesso ao espaço. Uma tendência nítida no mercado mundial é o crescente nível de cooperação internacional e de arranjos produtivos no setor. Os segmentos de maior atividade são o Acesso ao Espaço, Ciências Espaciais e Observação da Terra. As nações mais desenvolvidas buscam também a exploração do Espaço Profundo e do Sistema Solar. De outro lado, a competitividade pelo mercado espacial internacional vem aumentando espantosamente, se aproximando do marco da virada, após o qual, quem não se estabeleceu fica alijado do processo. Recentes indícios desse novo patamar são a corrida da China em busca de parcerias, notadamente na América do Sul, e a nova política espacial americana, que prevê restrições para o acesso ao espaço de países não alinhados, a exemplo do que já acontece no setor nuclear. É necessário sempre ter em mente que, devido à extensão e à diversidade geoeconômica de seu território, é imperativo que o Brasil tenha seu próprio programa espacial. A ampliação para o continente sul-americano é uma conseqüência natural. Cabe decidir por protagonizar esse processo no nosso continente, ou ficar a reboque das nações mais desenvolvidas. 66 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 57-68, 21 -39, jan/jul. 2007 O Brasil tem, ainda, uma grande oportunidade de liderar esse processo na América do Sul, porém necessita promover ações estratégicas visando fortalecer o Programa Espacial para que consiga aliar ganhos diretos, promover a integração e se projetar no continente. A deficiência de recursos humanos é sentida notadamente nas áreas de engenharia de satélites e do veículo lançador, de controle e rastreio de satélites e de aplicações. O Brasil passou uma década sem realização de concursos públicos na área e as equipes estão ficando comprometidas em face da aposentadoria do pessoal mais antigo. Os concursos públicos realizados ultimamente não foram suficientes para contemplar a demanda crescente de atividades. A falta de perenidade na liberação de recursos já aprovados, implicando numa espécie de “contingenciamento branco”, bem como a lei de licitação, constituem entraves para o andamento das atividades de C&T. Se o Brasil pretende participar efetivamente desse mercado, deve fortalecer seu programa espacial, concentrando esforços nas áreas de Acesso ao Espaço, Ciências Espaciais, Observação da Terra e suas aplicações. Ressaltamos que essa última vem atender diretamente às necessidades do desenvolvimento econômico e social das Nações, contribuindo fortemente para a pretendida integração. Merecem atenção, também, as ações de difusão do conhecimento e formação de pessoal, com destaque para os programas de pós-graduação, para os cursos do CRECTEALC e para as atividades da EOPA, com abrangência em toda a América Latina e o Caribe, ações essas que refletem diretamente na projeção do programa espacial. Um conjunto de ações estratégicas, a serem priorizadas, no sentido de promover e projetar as atividades espaciais do Brasil no continente sulamericano, contempla: Nas áreas administrativa e orçamentária, a realização de concurso público, para recomposição dos quadros de recursos humanos do Programa Espacial, incluindo aperfeiçoamento de pessoal no exterior; liberação dos recursos orçamentários do Programa Espacial no montante e dentro do cronograma previsto, evitando-se contingenciamentos; revisão da Lei de Licitações para agilizar a contratação de produtos e projetos, priorizando os aspectos técnicos; incremento do orçamento do Programa Espacial para fazer frente aos novos desafios. No âmbito PNAE é necessário garantir: a execução dos programas CBERS e demais satélites previstos; a conclusão do VLS e a reconstrução da plataforma de lançamentos do CLA; o início da construção do CEA/AEB, no CLA; a execução do Programa Cruzeiro do Sul e do satélite geoestacionário. No campo externo, procurar exercer uma política mais pró-ativa, com ações diplomáticas mais incisivas no setor em relação à América do Sul; propor a construção e o lançamento de um satélite sul-americano, como embrião para a Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 57-68, -3 9, jan/jul. 2007 67 criação de uma Agência Espacial sul-americana; articular junto à China, visando a inserção do Brasil nas cooperações da China com países da América do Sul; aumentar e contabilizar as cooperações técnico-científicas com a América do Sul para estabelecer um mecanismo eficiente de acompanhamento do processo de integração. Em suma, o programa espacial oferece uma vasta gama de oportunidades para colaborar, juntamente com outros setores, na integração sul-americana. É necessário, porém, acima de tudo, fortalece-lo para que seja um vetor de desenvolvimento nacional e regional. 68 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 57-68, 21 -39, jan/jul. 2007 Desafios e questões de segurança nas relações do Brasil com os Países Andinos Edson de Oliveira Barroso Coronel Combatente do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, estagiário do Curso Superior de Inteligência Estratégica da Escola Superior de Guerra no ano de 2006. 1 - BRASIL E PAÍSES ANDINOS O Brasil e os países andinos possuem características comuns ou diferenciadas, conforme o assunto abordado. 1.1 - Visão histórica O Brasil foi colonizado pelos portugueses e os países andinos pelos espanhóis, sendo contemporâneos em seus períodos de descobrimento, colonização, luta contra invasores e independência. As vitórias sobre os invasores e a revolta contra a exploração dos colonizadores inspiraram sucessivas independências: a do Brasil foi conduzida por Dom Pedro I; da Argentina e Chile pelo General José de San Martín e da Colômbia, Venezuela, Equador e Peru pelo General Simon Bolívar. Seguiram-se tempos de protestos, tentativas e Golpes de Estado até o momento atual, quando os países sulamericanos buscam a consolidação da democracia. 1.2 - Visão Geográfica O Brasil e os países andinos localizam-se na América do Sul, continente com inúmeros recursos naturais, destacando-se a Amazônia, comum à maioria dos países andinos, com exceção do Chile e Argentina. A porção oeste do continente possui a cordilheira dos Andes, cujo ponto mais alto é o pico do Aconcágua, com 6.960 metros, localizado na Argentina. As planícies centrais abrigam a bacia hidrográfica do Orinoco, a Amazônica e a do Prata. Na região norte, de clima equatorial, encontram-se as florestas tropicais úmidas. Nas áreas mais secas do centro localiza-se o cerrado. O sul possui faixas áridas, como o deserto de Atacama, e uma zona temperada, ocupada por florestas subtropicais e pelos pampas argentinos. Vazios demográficos, como nas densas florestas tropicais, no deserto de Atacama e nas porções geladas da Patagônia, convivem com regiões de alta densidade populacional, como os centros urbanos de São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Lima e Santiago. A população é formada principalmente Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 69 por descendentes de europeus, em especial portugueses e espanhóis; seguidos de africanos; indígenas e mestiços. 1.3 - Visão social A maioria das grandes cidades da América do Sul convive com a violência e insegurança, tendo como fatores de risco ou motivadores, de forma isolada ou conjunta, a desigualdade social, o desemprego, o subemprego, a exclusão ou marginalização, a desagregação comunitária e familiar, o mercado de armas, o uso de drogas e álcool, as organizações criminosas e a cultura da violência. A Colômbia, especificamente, apresenta um momento histórico de instabilidade, com instituições da sociedade infiltradas pela droga, violência entre guerrilheiros de esquerda, paramilitares de direita e as Forças Armadas. O narcotráfico contribui para a piora do quadro social do país. A Venezuela, Equador, Peru e Bolívia apresentam problemas sociais e políticos mais acentuados, se comparados ao Brasil, Argentina e Chile. 1.4 - Visão econômica A política neoliberal, imposta aos países subdesenvolvidos e emergentes, entre eles o Brasil e países andinos, defendia a privatização das estatais como uma das medidas para um país crescer rapidamente. Essa política conduziu os países que a implementaram à recessão, aumento do desemprego, fome, convulsões sociais e migrações para os países do norte, que ocorreram pela busca de melhores condições de vida. A Área de Livre Comércio das Américas (Alca), idealizada e liderada pelos EUA para a formação de bloco econômico único para os países americanos, ainda não foi totalmente implementada, face a discordância de alguns países, como Brasil e Argentina, quanto às políticas protecionistas aos produtos norteamericanos. As previsões iniciais para a Alca indicam um total de 13 trilhões de dólares de Produto Interno Bruto (PIB) e um mercado com 900 milhões de indivíduos. Os EUA, como alternativa para futura criação da Alca, tem adotado a estratégia de celebração de acordos bilaterais, os Tratados de Livre Comércio, com alguns países andinos, como o Chile, Equador, Peru e Colômbia. Torna-se necessário habilidade diplomática e comunhão de ideais no concerto regional, por parte do governo brasileiro, para que haja a prevalência dos interesses nacionais e convivência pacífica entre as nações sul-americanas. Em 29 de abril de 2005 inicia-se um acordo de oposição à Alca, liderados pela Venezuela e por Cuba, a “Alternativa Bolivariana para a América Latina e Caribe” (Alba). No dia 29 de abril de 2006, quando do aniversário do primeiro ano da Alba, a Bolívia assinou protocolo de adesão ao acordo em questão. 70 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 A indústria brasileira e argentina tem maior diversificação. Nos demais países andinos é forte o setor de beneficiamento de produtos agrícolas e bens de consumo. O Brasil responde por três quintos da produção industrial sul-americana. A mineração do continente inclui a extração de petróleo, com destaque para a Venezuela, cobre, estanho, manganês, ferro, zinco, chumbo, alumínio, prata e ouro. A agricultura é intensiva nas áreas tropicais, onde há culturas voltadas para a exportação, como de café, cacau, banana, cana-deaçúcar, algodão e cereais. A pecuária é praticada em larga escala no sul e no centro. Há diversificação de blocos e acordos econômicos na região, o que tem dificultado a integração sul-americana. Chile e Peru fazem parte da Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC). Peru, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela fazem parte da Comunidade Andina de Nações (CAN), que se encontra em crise, rumando para a desintegração, motivado por vários fatores, como o posicionamento político-ideológico antiamericanismo do presidente venezuelano Hugo Chávez, bem como a existência dos acordos bilaterais que os demais países do bloco assinaram com os EUA. Acrescenta-se a adesão da Venezuela como membro-pleno do Mercosul, no dia 4 de julho de 2006, o que enfraquece ainda mais a CAN, mesmo com a não formalização do seu desligamento de tal comunidade. É de se perguntar se tal enfraquecimento favorecerá a ampliação do Mercosul e o estabelecimento final da Comunidade Sul-Americana de Nações, ou seja, a união dos países sul-americanos nos moldes da União Européia. Brasil, Argentina e Venezuela são membros-plenos do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Este bloco prevê uma tarifa externa comum para a importação, que deve ser aplicada aos produtos que venham de fora do mesmo. O Mercosul, com a adesão da Venezuela, passa a contar com um Produto Interno Bruto próximo a um trilhão de dólares (78% sobre o total da América do Sul e 54% sobre o de toda América Latina); cerca de 250 milhões de consumidores, correspondente a 65% da população sul-americana. Três importantes documentos foram elaborados na busca da integração sul-americana, respectivamente o Tratado de Cooperação Amazônica, a Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IRSSA) e a Comunidade Sul-Americana de Nações. O Tratado de Cooperação Amazônica, assinado em 3 de julho de 1978, busca a cooperação e o desenvolvimento da região amazônica, com salvaguarda da soberania dos Estados assinantes, ou seja, o Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela (países andinos), acrescidos de Guiana e Suriname. Na 1ª Reunião de Presidentes da América do Sul, ocorrida em 31 de agosto de 2000, em Brasília, foram discutidos temas de integração física, tendo sido lançada a IRSSA, objetivando a implementação de projetos nas áreas de energia, transportes e telecomunicações. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 71 A Comunidade Sul-Americana de Nações foi lançada em Cuzco, Peru, no dia 8 de dezembro de 2004, durante a 3ª Reunião de Presidentes da América do Sul. O novo bloco, integrado por 12 países, é concebido como um projeto comum, que deverá evoluir mediante o fortalecimento do diálogo político, da integração econômica e da infra-estrutura no espaço sul-americano. Quanto às organizações internacionais, tanto o Brasil como os países andinos possuem acordos com o Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Grupo do Rio, Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização Mundial do Comércio (OMC) e Organização das Nações Unidas (ONU). Em 2004, foram apresentados os seguintes Produtos Internos Brutos (PIB), em dólares: Brasil com 492 bilhões e 338 milhões; Argentina com 129 bilhões e 596 milhões; Chile com 72 bilhões e 415 milhões; Bolívia com 7 bilhões e 867 milhões; Peru com 60 bilhões e 577 milhões; Equador com 27 bilhões e 201 milhões; Colômbia com 78 bilhões e 651 milhões e a Venezuela com 85 bilhões e 394 milhões. Ao somarmos os PIBs do Brasil e países andinos, conforme dados de 2004, obtemos 954 bilhões e 39 milhões de dólares, não chegando a um trilhão de dólares, sendo considerado um pequeno montante se comparado ao PIB dos EUA, de 10 trilhões, 948 bilhões e 547 milhões de dólares, quase onze vezes maior que o total dos países andinos acrescidos do PIB brasileiro. 1.5 - Visão política O Brasil e os países andinos tem apresentado uma inclinação política de centro-esquerda, perceptível no Brasil, Argentina, Chile, Bolívia e Venezuela. Há possibilidade do Equador juntar-se a esta inclinação no próximo pleito eleitoral. A Colômbia e o Peru tem tido orientação política de centro-direita. Apesar da mesma inclinação política, há três orientações ou grupos presentes. O primeiro grupo, composto por Brasil, Argentina e Chile, com orientação social-democrata, busca a combinação de democracia, desenvolvimento e bem-estar social. O segundo grupo, composto por Equador, Peru e Colômbia, de orientação neoliberal, sofre influência dos EUA. O terceiro grupo, com a Venezuela e Bolívia, é menos afinado com os princípios da livre iniciativa e está propício a experimentalismos políticos de apelo nacionalista, podendo atrasar a integração sul-americana. 1.6 - Comunidade Andina de Nações A Comunidade Andina de Nações (CAN) é um bloco econômico, instituído em 1969, pelo Acordo de Cartagena, com denominação inicial de Pacto Andino, que foi mantido até 1996, quando recebeu a atual denominação. A CAN é composta por cinco países: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. O objetivo da CAN é o aumento da integração comercial, econômica e política 72 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 entre os países membros. Todos os países da CAN são membros associados do Mercosul, com diferentes datas de assinaturas de acordos de livre-comércio com os países do sul. Chile e Argentina, apesar de serem países andinos, não fazem parte do bloco econômico andino. O Chile foi membro do pacto andino até 1976, quando desligou-se do mesmo, associando-se então à APEC. Posteriormente, entrou no Mercosul, como membro-associado. A Argentina é membro-pleno do Mercosul. Em julho de 2006 a CAN mergulha em uma grave crise, que pode conduzir à desintegração do bloco. Os fatos que agravaram tal crise foi o ingresso da Venezuela no Mercosul, como membro-pleno (no mês em questão) e a existência de acordos bilaterais dos demais países andinos para com os EUA. O Mercosul poderá ser ampliado, com uma possível extinção da CAN, caso os outros países andinos sigam o exemplo da Venezuela, tornando-se membros-plenos. 2 -A SEGURANÇA NAS RELAÇÕES DO BRASIL COM OS PAÍSES ANDINOS O tema Segurança tem ocupado lugar de destaque na agenda internacional desde os atentados de 11 de setembro de 2001, reforçada com a posterior campanha contra o terror desencadeada pelos Estados Unidos da América, passando o mundo a enfocar as chamadas ameaças transnacionais, como o terrorismo e o crime organizado, contra as quais é primordial a cooperação entre os Estados e os setores de segurança e defesa. 2.1 - Segurança e Segurança Nacional Tendo como parâmetro o pensamento estratégico da Escola Superior de Guerra (ESG), afirma-se que Segurança é um sentimento, uma aspiração e um direito inalienável do ser humano, que não pode ser medida, por ser abstrata e subjetiva. A Segurança desdobra-se nos níveis individual, comunitário, nacional e coletivo. Os níveis individual e comunitário conformam a Segurança Pública. Os níveis nacional e coletivo conformam a Segurança Nacional. A Segurança, em uma visão macro, pode ser vista nos níveis humano, nacional e internacional. A Segurança Humana, para pessoas e povos, referemse às ameaças de pobreza e carências sociais, direitos humanos e ações humanitárias. A Segurança Nacional, de responsabilidade principalmente do Estado, refere-se às ameaças de guerrilhas e grupos subversivos, narcotráfico, tráfico de armas, crime organizado, meio ambiente e desastres naturais. A Segurança Internacional, de âmbito global, refere-se às ameaças de agressão militar, pressão política, coerção econômica e terrorismo. Para o trato dos desafios e questões de segurança nas relações do Brasil com os países andinos podem ser vislumbradas a Segurança Nacional e a Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 73 Segurança Internacional, dependendo das ameaças. A Segurança Nacional, pelo pensamento da ESG, decorre da necessidade de proteção da sociedade como um todo e da preservação dos Objetivos Fundamentais, ou seja, o sentimento de garantia para a Nação, da conquista e manutenção dos seus Objetivos Fundamentais, proporcionada pela aplicação do seu Poder Nacional. Os Objetivos Fundamentais, citados anteriormente, são as aspirações que irmanam a Nação, identificados pelas elites, como a Democracia; a Integração Nacional; Integridade do Patrimônio Nacional; Paz Social; Progresso e Soberania. As ameaças à Segurança Nacional ocorrem com maior freqüência no ambiente externo da Nação, no universo antagônico. Entretanto, a insegurança pública, no âmbito interno, pode por em risco algum dos Objetivos Fundamentais, transformando-se em fator de instabilidade para a Nação, afetando-se assim a Segurança Nacional. Não há, explicitamente, a designação de um órgão que faça o controle da Segurança Nacional. De forma implícita, pode-se afirmar que tal competência é do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), face ao assessoramento pessoal ao Presidente da República em assuntos militares e de segurança, conforme artigo 6º da Lei 10.683, de 28 de maio de 2003. O Brasil e países andinos, juntamente com demais países do continente americano, no sentido de afirmar suas reais prioridades quanto à segurança, assinaram a Declaração sobre Segurança nas Américas, na cidade do México, em 2003. Firmado no seio da Organização dos Estados Americanos (OEA), o documento elenca novas ameaças e desafios à segurança continental, tais como a pobreza extrema como fator de instabilidade, o tráfico de seres humanos e ataques à segurança cibernética. Para a América do Sul frente às novas ameaças listadas, podem ser citados como desafios à segurança subcontinental os problemas da Venezuela, Colômbia e Bolívia. A Segurança no ambiente brasileiro ou Segurança Nacional, é regulada no seu aspecto penal, pela Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983, conhecida como a Nova Lei de Segurança Nacional, que revogou a Lei nº 6620, de 17 Dez 1978. A Lei 7.170 prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão a integridade territorial e a soberania nacional; o regime representativo democrático, a Federação e o Estado de Direito; e as pessoas dos chefes dos poderes da União. 2.2 - Defesa e Defesa Nacional Pelo pensamento estratégico da ESG, a Defesa é um ato ou conjunto de atos realizados para obter ou resguardar as condições que proporcionam a sensação de Segurança. A Segurança é um conceito mais amplo e teórico, é dever do Estado criar condições para que o indivíduo possa viver em comunidade livre de ameaças, em liberdade, bem estar e em que não há nada a temer. 74 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 A Defesa Nacional, conforme o pensamento da ESG, é o conjunto de atitudes, medidas e ações do Estado, com ênfase na Expressão Militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas, no âmbito externo ou interno. 2.2.1-Conselho de Defesa Nacional A organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional (CDN) estão definidos na Lei n.º 8.183, de 11 de abril de 1991. Trata-se de órgão de consulta do Presidente da República, reunido por convocação do mesmo, para tratar de assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do estado democrático. A Lei n.º 10.683 , de 27 de maio de 2003, que dispõe sobre a organização da Presidência da República e Ministérios do Brasil, confirmou o funcionamento do CDN como órgão consultivo da Presidência da República, em seu item II, do §2º do artigo 1º. O CDN é presidido pelo Presidente da República, tendo como membros natos o Vice-Presidente da República; o Presidente da Câmara dos Deputados; o Presidente do Senado Federal; o Ministro da Justiça; O Ministro de Estado da Defesa; O Ministro das Relações Exteriores; o Ministro do Planejamento e os Comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica; conforme redação dada pela Emenda Constitucional n.º 23, de 2 de setembro de 1999. O CDN, na forma do § 1º do artigo 91 da Constituição Federal (CF), tem como competências opinar nas hipóteses de declaração de guerra e celebração de paz; sobre a decretação do estado de defesa, de sítio e da intervenção federal; propor critérios e condições de utilização das áreas indispensáveis à segurança do território nacional, especialmente nas fronteiras e de preservação e exploração dos recursos naturais de qualquer tipo e; finalmente, estudar, propor e acompanhar iniciativas que garantam a independência nacional e a defesa do estado democrático. 2.2.2 Política de Defesa Nacional A Política de Defesa Nacional, aprovada pelo Decreto n.º 5.484, de 30 de junho de 2005, é o documento condicionante do mais alto nível de planejamento de defesa, voltado principalmente para as ameaças externas, estabelecendo objetivos e diretrizes para o preparo e emprego da capacitação nacional, envolvendo setores militares e civis, em todas as esferas do Poder Nacional, sob a coordenação do Ministério da Defesa. A citada política é composta por uma parte política, que contempla os conceitos, os objetivos da defesa, os ambientes internacional e nacional. Uma outra parte, de estratégia, engloba as orientações e diretrizes. O contexto da Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 75 nova Política de Defesa Nacional inclui questões como o terrorismo, contrabando, narcotráfico e a biopirataria na Amazônia, com prioridade à Amazônia e ao Atlântico Sul, pela riqueza de recursos e vulnerabilidades de acesso pelas fronteiras terrestres e marítimas. Para efeito da Política de Defesa Nacional, Segurança Nacional é a condição que permite ao País a preservação da soberania, da integridade territorial, realização dos interesses nacionais, livre de pressões e ameaças de qualquer natureza, bem como a garantia aos cidadãos do exercício dos direitos e deveres constitucionais. Ainda, a Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase na expressão militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas. Observa-se, portanto, semelhanças entre os conceitos da ESG e da Política de Defesa Nacional quanto à Segurança e Defesa Nacional. Apenas a ESG emite conceito de Política de Defesa Nacional, que é vista como o conjunto de Objetivos de Governo, bem como a orientação do Poder Nacional, no sentido de conquistá-los e mantê-los, superando ameaças e agressões de qualquer natureza que se manifestem, ou possam manifestar-se, contra a Segurança e o Desenvolvimento da Nação. 2.2.3 - Ministério de Estado da Defesa e Forças Armadas O Ministério da Defesa foi criado pelo Decreto Federal n.º 3.080, de 10 de junho de 1999, como órgão da administração direta, tendo ao seu cargo a direção superior das Forças Armadas. O detalhamento da estrutura regimental do Ministério da Defesa, bem como a competência dos órgãos que o integram foram alterados pelo Decreto Federal n.º 5.201, de 2 de setembro de 2004. A Lei Complementar n.º 97, de 9 de junho de 1999, com alterações da Lei Complementar n.º 117, de 2 de setembro de 2004, dispõe sobre as normas gerais para a organização, preparo e emprego das Forças Armadas. Por esta lei, o Presidente da República, na condição de Comandante Supremo das Forças Armadas, é assessorado no que concerne ao emprego de meios militares, pelo Conselho Militar de Defesa; e no que concerne aos demais assuntos pertinentes à área militar, pelo Ministro de Estado de Defesa. O Conselho Militar de Defesa é composto pelos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica e pelo Chefe do Estado-Maior de Defesa, tendo como Presidente o Ministro de Estado de Defesa. Ressalta-se que, por intermédio da Lei Complementar 97/99, o anterior Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) foi extinto e os anteriores Ministérios da Marinha, do Exército e da Aeronáutica foram transformados em Comandos. As Forças Armadas, conforme artigo 142 da CF, são constituídas pela Marinha, Exército e Aeronáutica. São instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob a autoridade 76 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Uma defesa adequada assegura a Segurança Nacional. Daí observase a importância das Forças Armadas, que devem ser poderosas; aptas ao emprego imediato e capazes de desencorajar intenções de agressões militares ao nosso País. As Forças Armadas, segundo a Política de Defesa Nacional, devem estar ajustadas à estatura político-estratégica do País, considerandose, dentre outros fatores, a dimensão geográfica, a capacidade econômica e a população existente. O Programa Calha Norte, iniciado em 1985, vinculado ao Ministério da Defesa, inicialmente fora concebido para proteger a região da calha superior do Rio Amazonas, área então vulnerável para a segurança nacional. O programa, não exclusivo das Forças Armadas, objetiva aumentar a presença do Estado na Amazônia, por um planejamento integrado do governo, principalmente em áreas de fronteira, acarretando desenvolvimento econômico e social da região. Em 2002, mesmo com a deficiência da presença de alguns órgãos governamentais, situação que ainda persiste, a área de influência do citado programa aumentou de quatro para seis estados, passando a englobar o Acre e Rondônia, em acréscimo ao Amapá, Amazonas, Pará, e Roraima, abrangendo 151 municípios, em uma extensão de 10.938 Km de fronteira com a Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, com os três últimos países não sendo andinos. 2.3 - Relações do Brasil com os países andinos quanto à Segurança As medidas de segurança do Brasil para com os países andinos, pontos importantes a serem considerados nas relações entre os mesmos, ocorrem: 1) No campo diplomático, na intermediação de conflitos e entraves; 2) no processo de integração da região, visando a cooperação entre os partícipes; 3) por medidas de dissuasão, objetivando a manutenção de nossa soberania, quando do emprego interno das Forças Armadas em operações combinadas, em diferentes pontos do território nacional, previamente estabelecidos e pela implementação do Programa Calha Norte, na região amazônica e; 4) pela divulgação da nossa Política de Defesa Nacional. A atuação do Brasil na comunidade internacional respeita os princípios constitucionais de autodeterminação, não intervenção e igualdade entre os Estados. Nessas condições, sob a égide de organismos multilaterais, participa de operações de paz, contribuindo para a paz e a segurança internacionais. A mesma política de defesa relata que a existência de zonas de instabilidade e de ilícitos transnacionais podem provocar o transbordamento de conflitos para outros países da América do Sul; e que a persistência desses Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 77 focos de incertezas impõe que a defesa do Estado seja vista como prioridade, para preservar os interesses nacionais, a soberania e a independência. É importante que o Brasil aprofunde o processo de desenvolvimento integrado e harmônico da América do Sul, face sua situação geopolítica, associados aos planejamentos militares orientados pela Política de Defesa Nacional, mesmo na inexistência momentânea de contenciosos que o encaminhe ao emprego da força. Observa-se então as intenções brasileiras para a região voltadas para a cooperação, integração e desenvolvimento integrado da região, com intermediação quando necessário, respeitando-se a auto-determinação, não intervenção e igualdade entre Estados; solucionando-se as crises externas, inicialmente por ações diplomáticas e políticas e, por fim, com o uso militar. Em 1995, fundamentado no pensamento de resolução diplomática, o Brasil mediou uma questão de segurança entre Equador e Peru, na luta pela posse de território nas fronteiras no Vale do Cenepa. Este conflito, com baixas para os dois países, foi solucionado com a assinatura da Declaração de Paz do Itamaraty, em 10 de março de 1995. Nesta mesma declaração foi criada a Missão de Observadores Militares do Equador-Peru (MOMEP), para acompanhamento dos procedimentos acordados e verificação de desminagem da área de conflito. A MOMEP concluiu seus trabalhos em 30 de abril de 1999. 2.4 -Principais desafios nas relações de Segurança do Brasil com os países andinos (problemas estratégicos) Os desafios e questões de segurança são pontos importantes a serem considerados nas relações do Brasil com os países andinos, bem como entre os países andinos, por prejudicarem o processo de integração sul-americana. Três grandes desafios ou problemas estratégicos entre os países andinos necessitam de acompanhamento por parte do Brasil, em função da Declaração sobre Segurança nas Américas, de 2003, citada no item 2.1 anterior e face à possível evolução para os países vizinhos, a saber: a instabilidade venezuelana, o conflito colombiano e a ascensão dos movimentos políticos indígenas nos países andinos. A Venezuela preocupa seus vizinhos ante a possibilidade de que sua instabilidade interna e os ingredientes ideológicos de sua política externa contra os EUA, transborde para seu campo externo. O atual Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, provavelmente será reeleito em fins de 2006, inferindo-se que não haverá alterações do atual quadro, o que torna desejável acompanhamento dos países vizinhos. A Colômbia, semelhantemente à Venezuela, preocupa seus vizinhos ante a possibilidade de que seu conflito interno, dos guerrilheiros de esquerda e paramilitares de direita, transbordem para o exterior, gerando assim desestabilização para a parte norte do subcontinente, o que deve merecer acompanhamento dos países vizinhos. 78 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 O terceiro problema estratégico, da ascensão de movimentos nativos de luta por igualdade de direitos, sobretudo nos países andinos (destacandose os movimentos indígenas), preocupa os vizinhos não pela sua ascensão propriamente dita, mas pela radicalização dos discursos dos seus representantes, com incitamento à transnacionalidade de tais movimentos, buscando-se sua extensão aos países vizinhos; acrescentados de nacionalismo exacerbado que acompanha as ações dos seus dirigentes, o que pode vir a prejudicar outros países que dependam dos seus recursos naturais. 2.5 -Principais questões de Segurança entre os países andinos Apresentam-se as principais questões de segurança entre os países andinos. 2.5.1 -Conflitos armados entre Estados Dois pequenos conflitos envolveram os países andinos nos últimos anos, que podem ser reacesos. O primeiro, inicia-se em dezembro de 1978, entre Argentina e Chile, pela soberania de três ilhas no Canal de Beagle, que determinam a saída do Oceano Pacífico ao Atlântico, região também rica em pescado e petróleo, no extremo sul do continente. O Papa João Paulo II mediou as negociações que estabeleceram as novas fronteiras do canal, dividindo-o por uma linha imaginária no sentido leste-oeste e atribuindo às águas ao norte dessa linha a soberania argentina; e ao sul da mesma linha a soberania chilena, o que garantiu ao Chile a posse das três ilhas disputadas e, consequentemente, a sua segunda saída ao Atlântico (a primeira é pelo Estreito de Magalhães). O segundo conflito envolveu Equador e Peru, em janeiro de 1995, motivado pelo controle de áreas fronteiriças, tendo sido comentado no item 2.3 anterior. 2.5.2 -Organizações não governamentais As organizações não governamentais (ONGs) são entidades de direito civil, sem fins lucrativos, sem vínculos com governos, sindicatos ou partidos políticos. Atuam em vários ramos de atividade e trabalham com projetos sociais e de promoção da cidadania, meio ambiente e direito das minorias, entre outros, sobrevivendo por doações, campanhas ou trabalho voluntário de militantes e simpatizantes. Algumas ONGs, ditas ecológicas, sob as idéias de proteção, anseiam pela internacionalização ou intocabilidade da amazônia. Na realidade, tais organizações, em sua maioria, podem comprometer o processo de integração, desenvolvimento e crescimento populacional da região sulamericana. Acrescente-se ainda a inexistência ou deficiente fiscalização sobre as mesmas, tanto no Brasil quanto nos países andinos, o que pode comprometer Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 79 ainda a soberania e a integridade do território sul-americano, caso as intenções das mesmas para essas ações não sejam previamente percebidas. 2.5.3 - Questões territoriais Há questões territoriais que podem reaparecer, como uma possível disputa de terras da Venezuela (país andino) com a Guiana, nas proximidades do Brasil; ou a Bolívia buscar terras litorâneas do passado; ou ainda a questão do canal de Beagle. Para o Brasil, especificamente envolvendo os países andinos, as questões territoriais vinculam-se às suas fronteiras dos estados amazônicos, em Mato Grosso, Mato Grosso do sul e Paraná, que tornam-se sensíveis em alguns pontos, por estarem susceptíveis à atuação de narcotraficantes, guerrilheiros, contrabandistas, ou ainda por serem áreas indígenas ou de cobiça de outros povos, na maioria das vezes disfarçadas por ONGs, sendo que esta última ameaça engloba todo o espaço interno dos estados amazônicos. 2.5.4 - Narcotraficantes Os narcotraficantes da Colômbia, Peru e Bolívia, não respeitam fronteiras quando das suas atuações, adentrando em territórios uns dos outros, por vezes no território brasileiro, como no Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que poderá gerar entraves diplomáticos. Os cartéis de Medelin e de Cali fazem da Colômbia um importante produtor mundial de cocaína. 2.5.5 - Guerrilheiros A Colômbia possui dois grupos de guerrilheiros, respectivamente as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o Exército de Libertação Nacional (ELN), ambos com tendência comunista. Para combater as FARC e a ELN surgiu uma organização paramilitar de direita, denominada de Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Ressalta-se que um antigo grupo guerrilheiro, o Movimento Revolucionário 19 de Abril (MR-19) depôs suas armas e transformouse em partido político, a Aliança Democrática M-19. O Peru possui dois grupos de oposição, inativos nos últimos anos, respectivamente o grupo Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA). 2.5.6 - Risco de intervenção A evolução política dos Estados Unidos após o 11 de setembro de 2001, explicita um combate aos grupos terroristas, por serem uma ameaça presente em todas as partes, nas mais variadas formas. Há o reconhecimento da hegemonia dos EUA, reconhecido pela Política do Ataque Preventivo, se possível com a 80 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 colaboração de países amigos, aliados e de organismos internacionais como as Nações Unidas, mas, se necessário, sem qualquer desses apoios. Segundo Souza Filho (2006), François Mitterrand, enquanto Presidente da França, sustentou a tese do chamado “dever de ingerência” (Devoir d’ingerence), concepção na qual os organismos internacionais ou as grandes potências têm o dever de intervir em temas ditos de interesse da humanidade, mesmo ferindo-se a soberania dos Estados. Tal dever de ingerência, com argumentos emanados por algumas ONGs, já fundamentou questionamentos quanto a uma possível internacionalização ou intervenção da área amazônica, incluindo-se a dos países andinos, o que pode comprometerá a soberania dos Estados da região. 2.5.7 - Contrabando e biopirataria O contrabando pode ocorrer em todas as fronteiras do Brasil, com maior facilidade nas fronteiras terrestres amazônicas, tendo em vista o vazio demográfico e insuficiente presença do Estado. Já a biopirataria ocorre de forma mais acentuada na região amazônica, podendo entretanto ter incursões por todo o território brasileiro. 2.5.8 - Atos terroristas A mídia, eventualmente, noticia a possibilidade da presença de terroristas na Tríplice Fronteira, entre o Brasil, Argentina (país andino) e Paraguai, o que poderia conduzir a atos terroristas em algum dos países da região. Até o momento não há reconhecimento oficial do governo brasileiro quanto a existência de grupos terroristas na América do Sul; entretanto, tal tema deve ter especial acompanhamento. 2.6 - Ministério das Relações Exteriores e política externa do Brasil com os países andinos A política externa brasileira, conduzida pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), orienta-se pelos princípios do artigo 4º da CF, como a independência nacional; prevalência dos direitos humanos; autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre os Estados; defesa da Paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao racismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político. O MRE tem buscado a integração andina com o Brasil, pelo acompanhamento ou fortalecimento de acordos ou blocos regionais. Os principais acordos vigentes são a Carta Andina para a Paz e Segurança; a Declaração da Zona de Paz Andina; a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul e a Zona de Paz Sul Americana. Os blocos regionais são o Mercosul; a Comunidade Andina de Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 81 Nações; Organização do Tratado de Cooperação Amazônica; a Associação Latino Americana de Nações (ALADI) e a Comunidade Sul-Americana de Nações. 2.7 - A Inteligência no Brasil e nos países andinos O Brasil e os países andinos possuem seus serviços de inteligência, com regulamentações, doutrinas e atividades próprias. A Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, instituiu o Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) e criou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A Abin tem buscado a integração do sistema de inteligência brasileiro, o que será facilitado com a publicação da Política Nacional de Inteligência, que se encontra no Congresso Nacional para avaliações. Os instrumentos de Inteligência e de Segurança dos Estados, pela Política de Defesa Nacional, devem fazer frente aos delitos transnacionais de natureza variada e ao terrorismo internacional, por ameaçarem a paz, a segurança e a ordem democrática. Percebe-se assim a importância da atividade de Inteligência para a manutenção da Segurança Nacional; entre as medidas fundamentais para essa garantia, posiciona-se atividade de Inteligência, que seja eficiente e eficaz, capaz de assessorar o processo decisório, desse modo garantindo a preservação do Estado e da sociedade contra ameaças reais ou potenciais. 3 - CONCLUSÃO O presente trabalho identificou os desafios e questões de segurança nas relações do Brasil com os países andinos, felizmente ainda são conflitos no âmbito interno dos mesmos, ocorrendo nos campos político, econômico, social e de controle de grupos de guerrilheiros, que se não bem administrados poderão extrapolar suas fronteiras para países vizinhos, incluindo-se o Brasil; o que pode comprometer o processo de integração, a soberania e a estabilidade existente no relacionamento de segurança entre os países sul-americanos, merecendo portanto acompanhamento dos serviços de Inteligência de cada país. Verificou-se ainda que o processo de integração da região sul-americana, buscada pelo Brasil, é importante para a manutenção da segurança entre os Estados sul-americanos, incluindo-se os países andinos, em função de que países parceiros e integrados possuem objetivos semelhantes, descartando-se eventuais conflitos entre os Estados. O Programa Calha Norte, implementado na região norte brasileira, tem fortalecido áreas sensíveis de nossas fronteiras amazônicas. A política externa brasileira busca a solidificação dos atos de cooperação sul-americana, o que fortalecerá a segurança entre os países envolvidos. 82 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p. 69-84, 21 -39, jan/jul. 2007 REFERÊNCIAS ABRIL, Editora. Almanaque abril 2006 - São Paulo: Editora Abril, 2006. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 2000. ______ Decreto n.º 3.080, de 10 de junho de 1999. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro de Cargos do Ministério de Estado da Defesa. ______ Decreto n.º 4.297, de 10 de julho de 2002. Regulamenta o artigo 9º da Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, estabelecendo critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil. ______ Decreto n.º 5.201, de 2 de setembro de 2004. Aprova a Estrutura Regimental e o Quadro de Cargos do Ministério de Estado da Defesa. ______ Decreto n.º 5.484, de 30 de junho de 2005. Aprova a Política de Defesa Nacional. ______ Emenda Constitucional n.º 23, de 2 de setembro de 1999. Altera os artigos 12, 52, 84, 91, 102 e 105 da Constituição Federal. ______ Lei n.º 7.170, de 14 de dezembro de 1983. Define os crimes contra a Segurança Nacional, a Ordem Política e Social; estabelece seu processo e julgamento. ______ Lei n.º 8.183, de 11 de abril de 1991. Dispõe sobre a organização e funcionamento do Conselho de Defesa Nacional. ______ Lei n.º 10.683, de 28 de maio de 2003. Dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios. ______ Lei Complementar n.º 97, de 9 de junho de 1999. Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. ______ Lei Complementar n.º 117, de 2 de setembro de 2004. Altera a Lei Complementar n.º 97/99, que dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. ______ ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA. Manual Básico da Escola Superior de Guerra: elementos doutrinários. Rio de Janeiro, 2006. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 69-84, -3 9, jan/jul. 2007 83 ______ REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Brasília: Abin, 2005 v. 1. n. 1. Dezembro 2005. DF. COELHO, M. A.; TERRA, L.. Geografia geral: o espaço natural e socioeconômico. 5. ed. Reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2005 (Série Sinopse). GALLIANO, A. G. O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harbra, 1986. GARCIA, Eugênio Vargas. 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Como é imaterial, a Inteligência não pode ferir. Mas o seu uso já levou à morte e à salvação de milhões de pessoas”. (Ângelo Codevilla) 1 - INTRODUÇÃO As grandes decisões estratégicas, fruto de uma análise acurada dos fatores que influíram sobre uma determinada situação, levaram à morte ou à salvação de vidas humanas, à falência ou ao crescimento de empresas, ao desperdício ou ao aproveitamento de oportunidades, por parte de pessoas, grupos, sociedades ou Estados. Ao longo da História, líderes de todos os grupos sociais se depararam com a difícil tarefa de decidir. Quando os resultados da decisão diziam respeito apenas ao indivíduo, menos dúvidas a se dissipar e menos efeitos a se avaliar. Quando, porém, outros destinos estavam em jogo, a pressão psicológica e a carga de responsabilidade sobre o decisor emprestavam-lhe um sentimento de solidão. Embora alguns homens tenham nascido com uma invulgar capacidade de raciocínio ou mesmo dotados de elevada intuição, todos eles sentiram, em momentos cruciais de suas vidas, a necessidade de conhecer os fatos que se passavam ao seu redor, com o objetivo de pesar os prós e os contras da sua decisão. A decisão é fruto, portanto, do conhecimento e este, por sua vez, resulta de raciocínio elaborado, apresentado sob a forma de argumentos, onde as conclusões devem ser sustentadas por premissas coerentes e plausíveis. Napoleão Bonaparte, um dos maiores capitães da história, lançou as bases para a constituição de um Estado-Maior. Este órgão se destinava, e ainda hoje se destina, ao assessoramento do Comandante, tanto na paz como na guerra, no seu processo decisório. A divisão dos trabalhos dentro de um Estado-Maior visa a levantar todos os fatores que possam interferir na decisão, pois é humanamente impossível que o Comandante analise todos os aspectos do problema. Dessa forma, um trabalho conjunto é realizado Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 85 com o fim de levantar informações sobre o inimigo, o terreno e as condições meteorológicas, para que as Forças amigas possam tirar proveito da situação. Durante muito tempo, o trabalho de informações era afeto apenas aos meios militares. Depois, passou a ser executado, também, pelo Estado visando à sua segurança e defesa. Quando se adotou em inglês o termo “intelligence” em lugar de “information” sinalizou-se às pessoas ligadas a esses assuntos, e em seguida ao público em geral, que o produto resultante da “intelligence” era sigiloso, havia sido elaborado sob encomenda e sob medida para atender a uma necessidade específica. Com o fim da guerra fria, em 1989, uma parte dos recursos humanos empregados na Inteligência de Estado colocou os seus serviços à disposição de empresas e, utilizando os mesmos processos, passaram a produzir conhecimentos sobre o mundo dos negócios. Este foi o embrião da Inteligência Competitiva (IC). O presente trabalho estuda a IC, particularmente no que tange à proteção do conhecimento, identificando a sua importância para o mundo dos negócios, bem como os interesses comuns que tem com a Inteligência de Estado. 2 -INTELIGÊNCIA COMPETITIVA Oriundo do latim inter (entre) e legere (escolha), o vocábulo “inteligência” significa a atividade mental de buscar a compreensão das coisas com base em uma seleção. Esta seleção resulta da capacidade humana de fazer inferências, comparar, montar argumentos para, finalmente, sustentar logicamente as suas conclusões. No idioma inglês, o significado é semelhante ao português, porém, recentemente, passou a significar, também, a produção de conhecimentos voltados para a segurança do Estado e da sociedade. Atualmente, em quase todos os países, Inteligência é entendida como informação, como organização e como atividade. Como informação, um dado na sua forma bruta, relevante para formulação e implementação de uma política governamental que contemple os interesses da segurança nacional e se opunha às ameaças representadas pelos interesses de atuais ou potenciais adversários. Como organização, uma referência para designar a organização de Inteligência que exercita o conjunto das atividades relacionadas com as informações, incluindo-se aí a sua estrutura organizacional, o seu pessoal e a sua rotina de funcionamento. Como atividade, o conjunto de ações desenvolvidas num sistema encarregado de produzir informações, compreendendo a parte relativa à produção de conhecimentos, com seus diversos apoios e atividades complementares e, 86 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 também, a parte relacionada com a produção desses conhecimentos e da própria atividade em si mesma. De uma forma bastante sintética, pode-se afirmar que a atividade de Inteligência tem como principal objetivo produzir conhecimentos para assessorar o processo decisório. A “Nova Ordem Mundial”, cenário resultante da queda do muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989 e da fragmentação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a partir de 1991, ficou caracterizada pela hegemonia e “unipolarismo” dos Estados Unidos da América (EUA). A globalização, termo que ocupou e ainda ocupa todos os espaços da mídia e invadiu todas as nações, passou a ser caracterizada, principalmente na economia, por um sistema produtivo que se internacionalizava, no qual os fluxos de capital se tornavam dinâmicos e o comércio internacional se reorganizava. Todas essas transformações foram potencializadas pelo rápido desenvolvimento da tecnologia, em especial nas telecomunicações e na informática. Na esteira dessa nova conjuntura, esvaziada pelo conflito políticoideológico entre os Blocos Comunista e Capitalista, surgiram novos atores e novas ameaças que fizeram os Estados repensarem as suas políticas e as suas estratégias, bem como buscarem a obtenção de conhecimento acerca dessas novas ameaças. A Inteligência de Estado, antes voltada em grande parte para o conflito ideológico, passou a ter menos encargos e parte de sua estrutura ficou ociosa. Alguns de seus agentes com experiência consolidada há vários anos, no trabalho de coleta de informações e produção de conhecimentos, colocaram os seus serviços à disposição de outras organizações. Numa época em que o Estado Brasileiro abria a sua economia, submetendo-a a forte concorrência internacional e com as suas empresas despreparadas para enfrentá-la, surgiu a Inteligência Competitiva. Suas técnicas, métodos e conceitos se derivaram da Inteligência Militar e de Estado, com a diferença de que a Inteligência de Estado volta-se, em primeiro lugar, para as ameaças, enquanto que na Inteligência Competitiva a maior parte do tempo é destinada às oportunidades para a conquista e manutenção de vantagens competitivas no mundo do mercado. Para a Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC), Inteligência Competitiva é um processo informacional proativo que conduz à melhor tomada de decisão, seja ela estratégica ou operacional. É um processo sistemático que visa descobrir as forças que regem os negócios, reduzir o risco e conduzir o tomador de decisão a agir antecipadamente, bem como proteger o conhecimento gerado. Esse processo informacional é composto pelas etapas de coleta e busca ética de dados, informes e informações formais e informais (tanto do macroambiente quanto do ambiente competitivo e interno da empresa), análise de forma filtrada e integrada e respectiva disseminação. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 87 No mundo dos negócios, as empresas vivem uma batalha constante – a concorrência – e a sobrevivência de cada uma delas pode depender das suas capacidades de selecionar e filtrar as informações importantes que possam influir decisivamente nas suas estratégias, conferindo-lhes uma vantagem competitiva sobre os seus concorrentes. No Brasil, a maioria das grandes empresas trabalha com Inteligência Competitiva, particularmente as suas áreas de marketing. Até mesmo as médias e pequenas, envolvidas no ramo de tecnologia, se utilizam de tal ferramenta. Entretanto, nem todas possuem, na sua estrutura organizacional, uma equipe dedicada exclusivamente à produção do conhecimento para assessorar o processo decisório. O emprego da IC no Brasil ainda é recente. O primeiro curso de especialização Lato Sensu foi realizado em 1997 no Instituto Nacional de Tecnologia/Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia/ Universidade Federal do Rio de Janeiro (INT/IBICT/UFRJ). Atualmente, universidades, centros de pesquisa e desenvolvimento, bibliotecas virtuais, associações, sociedades e empresas de consultoria lidam com o assunto, difundindo conhecimentos e contribuindo para aumentar a massa crítica de especialistas e a conscientização da importância da atividade no meio empresarial. Algumas universidades, inclusive, oferecem cursos de pós-graduação em gestão da informação e Inteligência Competitiva. 3 - PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO O ciclo da Inteligência Competitiva ou a produção do Conhecimento de Inteligência Competitiva é uma seqüência de procedimentos que permite transformar os dados e informações disponíveis em Conhecimentos ou, como alguns autores preferem, em Inteligência propriamente dita. Esta é uma tarefa para profissionais porque exige o estudo de todos os processos de tomada de decisão da empresa para a qual trabalha, a habilidade em lidar com pensamento lógico – deduções e induções –, a perspicácia para separar o supérfluo do importante e o “feeling” para difundir o conhecimento no momento oportuno ao decisor. O Conhecimento é o produto da atividade de Inteligência e tem como objetivo básico subsidiar uma decisão. Ele é obtido por meio de uma metodologia específica e busca o significado de fatos ou situações. A metodologia para a produção do Conhecimento ou o ciclo da Inteligência Competitiva compreende cinco fases: identificação das necessidades de Inteligência, coleta, análise, disseminação e avaliação. Identificar as necessidades de Inteligência de uma empresa significa, em primeiro lugar, entender o seu processo decisório. Quem toma as decisões? Somente o Diretor ou os gerentes em níveis inferiores? A partir dessas respostas, é necessário identificar que tipo de decisão é tomado e quais as dúvidas com 88 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 que se deparam os decisores, os quais precisam explicar para a sua equipe de Inteligência quais os dados que necessitam e com que freqüência precisam desses dados para decidir, assim como interpretam esses dados. Diante de um universo de dados e informações e diferentes tipos de fontes, a fase da coleta se apresenta como um grande desafio, pois não é tarefa fácil selecionar as fontes pertinentes e extrair delas o que interessa para a organização, exigindo aptidões totalmente diversas da primeira fase da produção do conhecimento, como perseverança, meticulosidade e capacidade de pesquisar banco de dados, entre outras. Todas as fases da produção do conhecimento são importantes, mas a análise se destaca das demais porque nela o analista, por meio de operações intelectuais transforma os dados em conhecimentos. Podem existir inúmeros softwares de apoio, mas nada substitui o cérebro humano; é ele quem identifica relações de causa e efeito, faz inferências, emite conclusões e decide o que é realmente importante, com base nas necessidades de Inteligência definidas na primeira fase do ciclo. Várias ferramentas auxiliam a análise de Inteligência, algumas delas mais específicas para determinados assuntos, de acordo com a escolha do analista: modelo das “cinco forças” de Michael Porter, fatores críticos de sucesso, benchmarking, competências essenciais, análise de citações de patentes, SWOT, análise da cadeia de valor e construção de cenários. O produto da Inteligência é materializado por intermédio de um documento no qual o analista apresenta as suas conclusões, resultantes de raciocínios dedutivos ou indutivos e oferece ao usuário recomendações úteis para a tomada de decisões. Relatórios formais, resumo dos principais eventos, quadros demonstrativos ou planilhas são exemplos das diversas formas de apresentar aos decisores o resultado do trabalho da Inteligência. Por isso que, em fases anteriores, são levantadas as preferências dos usuários pelas formas de disseminação, bem como a freqüência com que desejam receber as informações. A transmissão é feita, geralmente, via rede interna de computadores (intranet), endereçada ao(s) usuário(s) previamente selecionado(s) ou, dependendo da empresa e do estilo de liderança utilizado, são agendadas reuniões nas quais a equipe de Inteligência difunde os conhecimentos produzidos. Avaliar constantemente os processos analíticos utilizados, as formas de disseminação e, acima de tudo, a utilidade dos conhecimentos produzidos para o processo decisório é uma atividade de suma importância, uma vez que caracteriza a última fase da produção do conhecimento, permitindo a retroalimentação do ciclo e a correção dos desvios detectados. A gestão do conhecimento lida com a produção do mesmo e a sua circulação dentro da empresa visando a dar condições para o aperfeiçoamento de processos e tecnologias, bem como estimular a inovação. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 89 Atualmente, as empresas possuem vários ativos, tangíveis e intangíveis, que devem ser administrados, difundidos internamente, se for o caso, e protegidos das ações dos concorrentes. Esses ativos, representados por patentes, tecnologias e outros elementos da estrutura interna, competências integrantes do capital humano e, ainda, relações com parceiros e clientes, estão intimamente ligados com a inteligência competitiva, pois também fornecem subsídios ao processo decisório. Tudo isso, gestão do conhecimento e inteligência competitiva, são integrados por intermédio da tecnologia da informação que fornece diversas opções em redes de computadores (intranets corporativas e internet), softwares e sofisticadas ferramentas analíticas. Os sistemas de informação utilizados pela Inteligência das empresas se valem de uma ampla base de opções tecnológicas, incorporadas aos pacotes de software: e-mail, busca de texto, profiling/push, filtering/agente tecnológico, Groupware, gerenciamento de documentos, visualização, portais e outros. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, particularmente nas áreas de informática e telecomunicações e o incremento do comércio internacional, cada vez mais as questões legislativas e judiciárias tomam corpo e se destacam no cenário mundial, envolvendo o direito de propriedade intelectual. O Brasil já possui legislação adequada para a repressão aos crimes relacionados às atividades econômicas, como é o caso da Lei no 9.279, de 14 de maio de 1.996, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, prevendo penas a serem aplicadas nos crimes contra as patentes, os desenhos industriais, as marcas e a concorrência desleal. 4 -PROTEÇÃO DO CONHECIMENTO Conhecimento é poder - esta idéia se consolidou ao longo da história. Os custos e os riscos para a sua produção, assim como a vantagem competitiva que podem representar, justificam os esforços para protegê-lo. O conhecimento pode estar na mente dos funcionários, na maneira como um determinado processo é executado, nas pesquisas em andamento, na tecnologia executada e nos arquivos armazenados em diversas mídias (impressas, eletrônicas, digitais, etc). Conhecimentos necessários ao bom funcionamento da empresa circulam pela rede interna de computadores ou são impressos em normas, diretrizes de segurança e manuais técnicos. Alguns deles são restritos a alguns usuários específicos mediante a utilização de senhas. Outros não circulam em redes e são protegidos por barreiras físicas e eletrônicas ainda mais restritivas. A Inteligência possui dois ramos distintos: o ramo Inteligência, responsável pela produção do conhecimento e o ramo Contra-Inteligência, responsável pela proteção do mesmo. Na medida em que o conhecimento pode ser acessado em computadores, em publicações ou mesmo por intermédio de pessoas, a Contra90 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 Inteligência considera as ameaças desencadeadas por outras organizações (concorrentes) e/ou elemento ou grupo de qualquer natureza, que objetivam comprometer ou superar as medidas de salvaguarda adotadas em relação ao pessoal, conhecimento, projetos técnico-científicos, instalações e material. As ameaças que mais se destacam no âmbito da Contra-Inteligência Competitiva são aquelas representadas pelo esforço sistemático que realiza o concorrente para a obtenção de dados ou conhecimentos não sigilosos sobre fontes ostensivas tais como: manuais técnicos, publicações, processos organizacionais, patentes e o próprio público-interno da organização. A proteção do conhecimento envolve duas situações bastante nítidas, situações estas diretamente ligadas às pesquisas científicas e ao desenvolvimento tecnológico. A primeira delas ocorre quando o conhecimento ainda não foi divulgado, isto é, existe interesse da organização que realiza a pesquisa em manter segredo sobre o seu andamento, pois pode envolver um esforço considerável e ter valor comercial enquanto não divulgada. A segunda ocorre quando a organização divulga o conhecimento ou o resultado da sua pesquisa, geralmente por intermédio do registro de patentes. A Inteligência Competitiva não executa espionagem, apenas coleta, processa e analisa dados e informações de natureza ostensiva ao alcance de qualquer pessoa. Todavia, precisa estar preparada para defender a organização, para a qual trabalha, das atividades dos concorrentes, que deveriam atuar de forma ostensiva e ética, mas infelizmente isto não ocorre, particularmente quando se trata de grandes empresas, ligadas a outros Estados, com interesses que nem sempre se coadunam com os interesses nacionais. De fato, os interesses comerciais num mundo globalizado extrapolam as fronteiras nacionais. No caso das empresas, os principais resultados são traduzidos por lucros e pela manutenção da liderança em determinado setor de atuação. Lucros são resultados de inovações tecnológicas e essas inovações provêm de pesquisas. A pesquisa tornou-se objeto de competição acirrada entre indústrias e países. A biotecnologia e a medicina, por exemplo, demandam, para a criação de uma molécula nova, cerca de doze anos de atividade de pesquisa e mais de duzentos milhões de dólares de investimentos. No mundo atual, cada vez mais, Estado, Governo e empresas privadas se unem e se completam para a consecução de interesses nacionais. Vários países estimulam a parceria entre empresas e universidades, mas garantelhes, por lei, a proteção da propriedade intelectual. No Brasil, a Lei No 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, alterou, atualizou e consolidou a legislação sobre direitos autorais. Infelizmente, algumas empresas brasileiras ainda olham as universidades como rivais e não como aliadas. Entretanto, com o advento da Lei de Inovação, já existem parcerias importantes entre empresas e universidades brasileiras que alavancam o desenvolvimento tecnológico, como é o caso da Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 91 Universidade de Campinas (Unicamp) e a PETROBRAS. Para se ter uma idéia da magnitude desta parceria, pela primeira vez na história do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), uma universidade lidera o ranking de patentes no Brasil, liderança que sempre coube às empresas. Até o registro da patente, todo o desenvolvimento tecnológico pode ser considerado um segredo de negócio. Como, então, se protege um segredo? Por intermédio de medidas que impeçam o acesso de pessoas não autorizadas aos conhecimentos sensíveis. Qualquer empresa ou organização, com o objetivo de proteger os seus conhecimentos ainda não divulgados, devem implementar um plano de segurança que estabeleça medidas de proteção, podendo ser grupadas em áreas específicas, como pessoas, documentos e materiais, sistemas de informação e áreas e instalações (classificação preconizada pelo Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento - PNPC, conduzido pela ABIN). Quando existe parceria entre uma universidade e uma empresa, a exigência pela segurança é recíproca, pois estão em jogo investimentos financeiros e segredos industriais. Ultrapassada a fase de segredo de negócio, necessário durante o desenrolar da pesquisa, as restrições de acesso ao conhecimento precisam ser levantadas, em prol do progresso da ciência e da tecnologia, permitindo que as descobertas e as inovações possam ser utilizadas em benefício dos homens. Com o monopólio gerado pela patente de invenção ocorre o mesmo processo. A diferença em relação à política de segredo reside no fato de a restrição recair não sobre a verificação pura e simples do conteúdo da informação, mas sobre sua propriedade. A pesquisa e o desenvolvimento para elaboração de novos produtos (no sentido mais abrangente) requerem, na maioria das vezes, grandes investimentos. Proteger esse produto através de uma patente significa prevenir-se de que competidores copiem e vendam esse produto a um preço mais baixo, uma vez que eles não foram onerados com os custos da pesquisa e desenvolvimento do produto. A proteção conferida pela patente é, portanto, um valioso e imprescindível instrumento para que a invenção e a criação industrializável se torne um investimento rentável. O sistema brasileiro, previsto na Lei No 9.279, de 14 de maio de 1996, que regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, contempla para as criações no campo industrial as seguintes formas de proteção: - como patentes: a invenção, propriamente dita; o certificado de adição de invenção e modelo de utilidade; e - como registro: o desenho industrial Em 19 de junho de 1970 foi firmado o Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes - PCT (sigla em inglês) com a finalidade de desenvolver o sistema internacional de patentes e de transferência de tecnologia. Até julho de 2000, 108 (cento e oito) países eram signatários, dentre eles o Brasil. O PCT tem como 92 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 objetivo simplificar os procedimentos, tornando-os mais eficazes e econômicos, tanto para o usuário como para os órgãos governamentais encarregados da administração do sistema de patentes. A tecnologia, atualmente, não é considerada um bem público ao alcance de todos e a sua distribuição não é equânime entre as empresas. Daí, os países que possuem parques tecnológicos desenvolvidos pressionarem para que a comunidade internacional implemente proteções patentárias cada vez mais rigorosas. Não se pode esquecer que as empresas estatais ou privadas estão submetidas a um acirrado ambiente competitivo. No âmbito internacional isso é traduzido por ampliação de mercados, maiores lucros e a conseqüente entrada de divisas para o país. Cabe ao Estado, então, a identificação de áreas estratégicas que interessam às ações da espionagem e oferecer condições para a proteção do conhecimento. Não se trata, todavia, de colocar o aparato da Inteligência do Estado à disposição de empresas e de universidades, o que seria inconstitucional, mas sensibilizá-las e assessorá-las no sentido de que protejam os seus conhecimentos, bem como proporcionar as melhores condições para a proteção intelectual e industrial. Embora a Inteligência Competitiva não esteja inserida na Inteligência de Estado, haja vista que possuem objetivos diversos, a salvaguarda de conhecimentos estratégicos de interesse nacional pode estabelecer uma área de interseção entre as duas, na medida em que tecnologias de ponta são desenvolvidas por empresas ou institutos de pesquisa, podendo dar ao país uma grande vantagem competitiva. Felizmente, no Brasil a ABIN desenvolve o Programa Nacional de Proteção ao Conhecimento (PNPC) cujos objetivos são: desenvolver uma cultura de proteção ao conhecimento; interagir com instituições nacionais geradoras e/ou detentoras de conhecimentos sensíveis; conscientizar a sociedade brasileira sobre as ameaças representadas por ações de espionagem; e recomendar cuidados básicos de proteção. 5 - CULTURA DA DESPROTEÇÃO A mentalidade de segurança no Brasil, infelizmente, ainda é incipiente. O próprio Governo Federal contribuiu para isso, quando, ao invés de reorientar a sua atuação, extinguiu o Serviço Nacional de Informações (SNI), acentuando, entre os brasileiros, a aversão natural pela atividade de Inteligência. O Serviço de Inteligência foi recriado com a denominação de ABIN. Até hoje, entretanto, os estigmas permanecem, tanto é que muitas pessoas consideram a Inteligência de Estado e a Competitiva sinônimo de espionagem. Em face do seu baixo nível educacional, a sociedade brasileira não consegue entender que o Governo deveria estar em associação estratégica Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 93 com os atores econômicos públicos e privados para, juntos, desenvolverem a Inteligência Estratégica e Competitiva de que tanto o país precisa. O Brasil continua patinando em vários quesitos de competitividade mundial e persiste enquadrado, desde 1997, no conjunto de países com pior desempenho do Índice de Competitividade das Nações. O mais recente levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revela que a média do Índice de Competitividade (IC) do Brasil entre 1997 e 2004, foi de 19,1 pontos, em uma escala de 0 a 100, ocupando a 38ª posição. O estudo levou em conta o desempenho de 83 quesitos em 43 países que representam 95% do PIB mundial. Foram consideradas as performances dessas nações em economia doméstica, governo, custo de capital, infraestrutura, tecnologia, comércio internacional, ambiente de negócios e capital humano. Uma das áreas em que o nosso país perde vantagens competitivas é a biotecnologia. Empresas internacionais de biotecnologia, em especial laboratórios farmacêuticos, vêm registrando patentes de princípios ativos encontrados na flora brasileira, violando as normas da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário há mais de dez anos. Essa Convenção, entre outros dispositivos, reconhece a soberania dos países sobre seus recursos naturais, o papel dos povos indígenas e das comunidades locais na sua preservação e o direito das mesmas à repartição eqüitativa dos benefícios da exploração da biodiversidade. O Brasil desperdiça descobertas tecnológicas das universidades e, mesmo nos principais parques de ciência e tecnologia do país, o aproveitamento das inovações equivale a um décimo do verificado em países semelhantes ao nosso. De acordo com dados coletados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 2000 o Brasil depositou 220 pedidos de patentes no USPTO (United States Patent and Trademark Office - Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos), dos quais 98 foram concedidos, enquanto os Estados Unidos depositaram 164.795. Essa comparação talvez não seja justa, mas a Coréia do Sul, outro país de industrialização recente, depositou naquele mesmo ano 5.705 pedidos de patentes de invenção, dos quais 3.314 foram concedidos. Os números são eloqüentes e refletem a baixa capacidade de o Brasil transformar o conhecimento científico em produto ou processo tecnológico. Também indicam que é necessário desenvolver uma cultura de proteção à propriedade intelectual, chave para o desenvolvimento da indústria e para a atração de investimentos. Nos dados disponibilizados no site do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), constata-se que, no Brasil, os pedidos de privilégio de invenção foram liderados pelos não-residentes até o ano de 2.000, com reversão do quadro a partir de 2.001. Em contrapartida, os pedidos de residentes solicitados via Tratado de Cooperação de Patentes (PCT) – somente a partir 94 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 de 1995, pois antes desse ano nenhum foi solicitado – são irrisórios diante dos não-residentes. Esses números ratificam uma atividade inventiva endógena bastante inexpressiva. Atualmente, 20 mil pedidos anuais são depositados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial - INPI. Em razão da deficiência de pessoal, mais de 100 mil pedidos de patentes e 500 mil de marcas estão na fila de espera. Atualmente, um pedido de patente demora, em média, oito anos para ser examinado pelo INPI, desestimulando, assim, a inovação e refletindo diretamente no desenvolvimento do país. Um outro aspecto que deve ser considerado é a proporção entre depósitos de pedidos de Pessoa Física / Pessoa Jurídica. Diferente do que acontece no Brasil, na maioria dos países industrializados são as pessoas jurídicas, em particular as empresas, as que mais solicitam patentes em seus respectivos países. O baixo número e a má distribuição de cientistas e engenheiros nos departamentos de pesquisa e desenvolvimento das empresas brasileiras (27% nas empresas e 65% nas universidades) e a falta de sintonia entre o mundo organizacional e o acadêmico contribuem para o agravamento do quadro. A Inteligência Competitiva busca por meios claros e disponíveis sistematizar informações sobre os concorrentes, transformando-as em conhecimento para o assessoramento às decisões. Por isso não deve ser confundida com a espionagem, que se utiliza de apropriação indevida ou cópia sem autorização de segredos comerciais contidos em documentos, fotografias, desenhos industriais e outros, além de gravação ou interceptação de telefonemas e e-mails. Quem a utiliza não possui, portanto, senso ético e pratica, na maioria das vezes, crimes contra as liberdades individuais ou corporativas das empresas. Os principais alvos da espionagem estão inseridos nas áreas de pesquisa e de desenvolvimento de produtos, particularmente em tecnologias de ponta. Por isso, as empresas que mais investem em pesquisas são as que possuem maior preocupação com a segurança de suas informações e instalações, independente do ramo da economia. As empresas brasileiras têm perdas anuais em torno de R$ 2 bilhões devido ao furto de informações estratégicas, através de espionagem industrial e da ação de hackers. A estimativa é da SSI Consultoria, grupo que detém quase 70% do mercado mundial de soluções tecnológicas para proteção de segredos corporativos e faturou US$ 230 milhões em 2001. Vários casos de espionagem foram tornados públicos, o que evidencia a necessidade de proteção por parte das empresas. Dentre eles, pode-se citar: - Caso Raytheon: licitação internacional do Projeto SIVAM, que envolveu a Inteligência americana com grampos telefônicos; - Caso Kroll: disputa de mercado na telefonia celular, envolvendo a Brasil Telecom com a monitoração de reuniões de diretores da sua rival, a Itália Telecom; e Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 95 - Caso Ford: furto de segredos industriais e estratégias comerciais da montadora, considerado o maior de que se tem notícia no ramo automotivo. O Relatório Anual de 2004 sobre a Coleta de Dados Estrangeira e Espionagem Industrial, elaborado pelo Escritório Executivo da ContraInteligência Nacional dos EUA, relaciona como principais alvos aqueles relacionados a tecnologias de emprego dual, como sistemas de informação, sensores (utilizados por vários sistemas militares), produtos aeronáuticos, eletrônicos, armamentos e energia. O escritório da Casa Branca para ciência e tecnologia calcula os prejuízos dos EUA em cerca de 100 bilhões de dólares por ano com a espionagem industrial. Todavia, apesar da potência hegemônica se dizer vítima da espionagem, executa ações que já comprovaram o seu envolvimento neste tipo de atividade, como foi o caso do Sistema Echelon. Este sistema, que envolve a participação de cinco países - EUA, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia - e se utiliza de 120 (cento e vinte) satélites, intercepta todo tipo de comunicações que empregam instrumentos eletrônicos ou digitais (as comunicações eletrônicas, o FAX e o correio eletrônico) em todo o mundo. A capacidade de interceptação de comunicações privadas e de obter informações políticas, econômicas, tecnológicas e comerciais é de dois bilhões de informações por dia. Seus objetivos não são somente políticos, para a segurança do Estado e contra possíveis atividades terroristas e subversivas, mas também econômicas na competição do livre mercado internacional. Quando o Sistema Echelon se tornou público, recebeu inúmeras críticas, entre as quais do Parlamento Europeu, que considerou que toda e qualquer interceptação de comunicações representa um atentado grave ao exercício do direito à vida privada. Aquele Parlamento considerou, também, que a situação se torna intolerável quando os serviços de informações se deixam instrumentalizar para efeitos de espionagem da concorrência, espionando empresas estrangeiras para lograr vantagens concorrenciais para empresas nacionais. Apesar de o Brasil apresentar um baixo índice de competitividade mundial, várias iniciativas indicam que nem tudo está perdido. A Inteligência Competitiva está ampliando a sua área de atuação e, aos poucos, incutindo a mentalidade de proteção do conhecimento junto às empresas e às universidades. A Associação Brasileira dos Analistas dos Analistas de Inteligência Competitiva (ABRAIC) é um exemplo dessas iniciativas. A ABRAIC foi criada em 15 de abril de 2000 por um grupo de profissionais de várias organizações brasileiras que realizaram cursos em nível de pós-graduação em Inteligência Competitiva no Brasil, na França e na Bélgica, e outros que já que atuavam em áreas afins. A sua missão é congregar e integrar pessoas que exerçam atividades de Inteligência Competitiva e relacionadas, gestores no nível estratégico das organizações, para proporcionar-lhes atualização permanente e integração com o mercado e disseminar as ferramentas, a metodologia e a mentalidade 96 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 de Inteligência Competitiva no país, principalmente nos meios acadêmicos, empresarial e governamental, com ética e responsabilidade social. O Movimento Brasil Competitivo (MBC), criado em novembro de 2001 e reconhecido como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, tem como objetivo contribuir para a melhoria da competitividade das organizações privadas e da qualidade e produtividade das organizações públicas, de maneira sustentável, elevando a qualidade de vida da população brasileira. O Movimento tem associados importantes, como o Banco do Brasil, Petrobrás, Correios, Itaipu Binacional, Odebrecht, Sebrae, várias Federações de Indústrias e outros. Desde 1997, está em vigor a Lei de Propriedade Industrial Brasileira, que confere ao titular de uma patente o direito de impedir terceiros de produzir, usar ou vender, sem o seu consentimento, o produto patenteado. Além disso, o Brasil é signatário dos tratados e acordos internacionais mais importantes relacionados ao tema: o Tratado de Cooperação em Patentes (TCP) e o Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (Acordo Trips). Está em curso no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) um amplo processo de reestruturação visando a transformar o instituto num instrumento de capacitação tecnológica e industrial. O objetivo é fazer com que o INPI não mais funcione somente como cartório ou autarquia, mas sim atue em rede com as agências de fomento e os institutos de pesquisa, além de integrar-se com a indústria e dialogar com as universidades, de maneira que o tema propriedade intelectual passe a fazer parte dos cursos superiores. O governo brasileiro, bem como outros países, toma iniciativas para alterar o acordo de patentes. A proposta brasileira condiciona a concessão de patentes ao cumprimento de três exigências: informação do país de origem, comprovação de repartição de lucros e comprovação de consentimento prévio do país de origem. Mas não será fácil essa mudança porque os países industrializados se opõem a debater o tema da biopirataria e, no caso dos Estados Unidos, até mesmo à inclusão do termo biopirataria em acordos internacionais sobre recursos genéticos. Como antídoto contra a biopirataria, o Brasil apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) uma proposta de emenda ao Acordo TRIPs (Trade Related Intellectual Property Rights), que estabelece padrões de patente e propriedade. A idéia é obrigar os escritórios de patentes a exigirem autorização de origem do material a ser patenteado. Além do Brasil, o documento foi assinado pela Índia, Paquistão, Peru, Tailândia e Tanzânia. A FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), como principal agência governamental de financiamento, está estruturando um sistema de informações de clientes que vai permitir o monitoramento do movimento brasileiro rumo ao desenvolvimento, uma vez que são os clientes Finep atores do próprio desenvolvimento científico e tecnológico do país. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 97 O Brasil necessita de uma indústria nacional razoavelmente forte nas atividades de pesquisa e desenvolvimento. Para isso, o Governo tem que se envolver de forma sistêmica, estabelecendo como objetivo estratégico a colaboração entre as universidades, os institutos de pesquisa e a indústria. Esta colaboração irá gerar, inevitavelmente, conhecimentos, tecnologias e inovações, que precisam ser protegidas. Para a conquista de tão importante objetivo, podem ser implementadas, entre outras, as seguintes ações estratégicas: - estímulo à criação, nas universidades, de um escritório de propriedade intelectual e transferência de tecnologia, a exemplo do que já ocorre em algumas delas, como a Unicamp. A intermediação feita por profissionais especialistas nessa área permite a tradução das necessidades das empresas, bem como estabelece contratos adequados à proteção do conhecimento e direitos de propriedade; - ampliação do quadro nacional de especialistas em propriedade intelectual, incluindo cursos de graduação e pós-graduação nas universidades; - prestigiar as atividades do Programa Nacional de Proteção do Conhecimento conduzido pela ABIN, de forma a ampliar a mentalidade de proteção no seio da sociedade brasileira; - divulgação e ampliação de cursos de graduação e pós-graduação em Inteligência Competitiva; - acompanhar e estimular o atual processo de reestruturação do INPE para que o mesmo se transforme em vetor de capacitação tecnológica e industrial, estreitando os laços entre as universidades e a indústria no campo da propriedade intelectual; e - Ampliar e divulgar as aplicações dos Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia, administrados pela FINEP, particularmente o Fundo Verdeamarelo, voltado à interação universidade-empresa. As ações estratégicas propostas acima visam desenvolver, nas empresas e nas universidades, a mentalidade de proteção dos seus conhecimentos e estimular projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação, tudo com o objetivo de tornar, tanto as empresas como o país, mais inovadores e competitivos, o único caminho para a vitória num mundo globalizado. 6 - CONCLUSÃO A Inteligência Competitiva é, atualmente, uma poderosa ferramenta para o estabelecimento da estratégia de uma empresa num mundo globalizado, onde a velocidade das transformações e os inúmeros fatores que influenciam os seus destinos devem ser estudados na sua plenitude. Oriunda da Inteligência Militar e de Estado emprega a mesma metodologia para a produção do conhecimento, seguindo um ciclo ordenado, que coleta os 98 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.85-102, 21 -39, jan/jul. 2007 dados e as informações de inúmeras fontes, transformando-as em conhecimentos úteis que possam assessorar o processo decisório. Apoiada na tecnologia da informação se utiliza de processos analíticos computadorizados que permitem a coleta, o armazenamento e a recuperação de dados, identificando ameaças e reduzindo o tempo de resposta, tão necessário aos tomadores de decisão. O esforço da produção deve ser equilibrado com a proteção do conhecimento. O acesso às informações de uma instituição por pessoas não autorizadas pode significar a perda de vantagens competitivas e de recursos financeiros. Dessa forma, as medidas preventivas devem ser estabelecidas, fiscalizadas e conhecidas por todos os funcionários. Sendo o homem o elo mais fraco numa estrutura de Inteligência, é de vital importância que a sua participação seja efetiva para que a segurança não seja comprometida. A proteção do conhecimento no Brasil ainda deixa a desejar. Os casos de espionagem ocorridos comprovam a falta de mentalidade. A maioria do povo brasileiro acha que espionagem é ficção e assunto para filmes do gênero. A realidade, entretanto, aponta para outra direção. A competição internacional entre as empresas mostra que a busca voraz por mercados e o desejo de se manter na liderança dos negócios acirra a concorrência e desperta o interesse em desvendar os segredos industriais, particularmente aqueles que envolvem tecnologias sensíveis e que geram produtos com alto valor agregado. Neste jogo de interesses, ressalta de importância o papel do Estado. Na medida em que os interesses nacionais estão em jogo, a Inteligência de Estado deve identificar conhecimentos de caráter estratégico e promover a sua proteção. Não como alguns países o fazem, colocando o aparato do Estado a serviço de empresas privadas e, em alguns casos, realizando ações reconhecidamente ilegais, mas sim, estimulando iniciativas que favoreçam a proteção do conhecimento e participando do esforço nacional para a aproximação entre a ciência e a tecnologia, premiando e protegendo a inovação e os direitos de propriedade intelectual. A Inteligência Competitiva no Brasil, apesar do seu recente desenvolvimento, já conta com iniciativas concretas por parte de grandes e médias empresas, universidades e o próprio Governo Federal. No entanto, ainda há muito que fazer. Muitas políticas já existentes não são implementadas por falta de ações estratégicas e de projetos e programas que lhes dêem suporte. A proteção do conhecimento deve ser preocupação constante por parte de todos aqueles responsáveis pela produção de conhecimentos científicos e desenvolvimento de tecnologias. O desenvolvimento e a soberania de um país estão diretamente relacionados com a sua produção científica e tecnológica e esta produção pode e deve ser protegida por medidas eficientes e eficazes, conduzidas por aqueles que conhecem e dominam a arte da Inteligência Competitiva. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 85-102, -3 9, jan/jul. 2007 99 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Ana Valéria; CAPOBIANCO, João Paulo. 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A partir da segunda metade do século XIX, já despertando para a industrialização, por volta de 1870 surgiu uma população marginalizada e continuou a se acentuar a distância entre os que tinham e os que não tinham acesso ao conhecimento, à educação e ao saber. Privilegiou-se a formação de bacharéis e na prática, o que funcionava era: quem podia pagar, estudava. O século XX foi marcado pela expansão industrial e a aglomeração nas grandes cidades. Trabalhadores desqualificados começaram a afluir para as grandes capitais, em busca de emprego e de melhores condições de vida. Este quadro reforçava o contraste entre os que “podiam” e os que “não podiam” estudar. No Brasil, existe uma barreira histórica que restringe o desenvolvimento humano de uma parte significativa de sua população: o racismo. Ao longo da década de 1980, iniciativas estaduais, como a criação de conselhos e secretarias voltadas para a população negra, eventos históricos, como o centenário da Abolição, a Constituição de 1988, com a Lei Caó, e a criação pelo Ministério da Cultura da Fundação Cultural Palmares deram maior preeminência à luta anti-racista. Até meados dos anos 1990, a adoção de políticas de ação afirmativa no Brasil era objeto de controvérsias tanto no movimento negro como entre cientistas sociais do campo das relações raciais. Todavia, o tema entra na agenda política do governo Fernando Henrique Cardoso ao instituir, por decreto, no dia 20 de Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 103 novembro de 1995, o Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra, por ocasião de uma manifestação em homenagem aos 300 anos de Zumbi dos Palmares. Essa iniciativa veio no bojo do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), do governo federal. Em junho de 1996, no Palácio do Planalto, o Ministério da Justiça, com o apoio do Itamaraty, promoveu o seminário internacional Multiculturalismo e Racismo: O Papel da “Ação Afirmativa” nos Estados Democráticos Contemporâneos, com a presença de renomados acadêmicos brasileiros e brasilianistas norte americanos, com o intuito de colher subsídios para a formulação de políticas voltadas para a população negra. A grande guinada no rumo das ações afirmativas no Brasil ocorreu em setembro de 2001, com a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância, sob os auspícios da ONU, realizada em Durban, África do Sul. Os efeitos de Durban se fizeram sentir no Brasil de imediato. O governo estava atento a demonstrar, no plano internacional, seu interesse em cumprir resoluções elaboradas em fóruns multilaterais em nome dos princípios da igualdade, inclusive racial, sob o signo dos direitos humanos. Após a conferência, o governo brasileiro definiu um programa de política de cotas no âmbito de alguns ministérios como os de Desenvolvimento Agrícola e Reforma Agrária, Justiça e Relações Exteriores. No plano estadual, diversas iniciativas foram realizadas para a implementação do sistema de cotas. Aquela que obteve maior destaque no final do ano de 2001 foi a da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, que estabeleceu uma percentagem das vagas das universidades estaduais para pretos, pardos e indígenas. 2 -A NECESSIDADE DO SABER Ao longo dos séculos, independente de cultura ou forma de governo, o saber tem estado, muito freqüentemente, ligado à idéia de poder. Em outras palavras, saber mais significa, quase sempre, poder mais. Segundo Platão, o conhecimento está dentro de nós. Por outro lado, Aristóteles propôs a antítese a essa tese que é o empirismo: não, nós somos uma tábua rasa, nada do que está na inteligência já estava lá, somos vazios inicialmente e tudo o que está na inteligência passa pelos sentidos através da experiência. Piaget construiu a idéia básica de que entre a experiência e o conhecimento existe uma elaboração da inteligência, do sujeito para interpretar o mundo, o Construtivismo, ou seja, entre a percepção existe uma ação que determina realmente a construção de conhecimento. No Brasil o século XVIII reveste-se da maior importância em vários aspectos. A população crescia; as cidades desenvolviam-se; uma classe 104 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 aristocrática, repousada no trabalho escravo, dispunha de ócios para a vida cultural; seus membros iam estudar na Europa, a princípio em Coimbra e depois em outras universidades européias. De lá traziam as “luzes” do saber e o gosto pela cultura que comunicavam aos que não tinham as mesmas oportunidades. Começou-se a criar, então, um clima de hostilidade entre o despotismo luso e o crescente amadurecimento da população mestiça, fato este que veio estimular os movimentos emancipacionistas precursores da Independência. No Brasil, já a partir da segunda metade do século XIX, a própria estrutura da sociedade sofria franca e radical transformação. De uma sociedade agrária, latifundiária, escravocrata, aristocrática, passava-se para uma civilização burguesa e urbana, já preparando para a industrialização, mas também formadora de um marginalismo populacional com conseqüências até os dias de hoje. Começava a acentuar-se a distância entre os que tinham e os que não tinham acesso ao conhecimento, à informação, à cultura, à educação, ao saber. As diferenças e os conflitos sociais já no século XIX traziam à tona as contradições do sistema liberal – democrático. Ficava evidenciado que as oportunidades não eram e não seriam iguais para todos. Nas últimas décadas do século XIX já existia um movimento contestando a natureza do ensino oficial. Na segunda metade do século XIX a taxa de população livre em idade escolar era de apenas 10%. Índios, mulheres e negros eram excluídos do sistema educacional. 3 -EDUCAÇÃO E POLÍTICA DE COTAS O Estado Democrático de Direito e a Proteção dos Hipossuficientes De acordo com o previsto na Constituição Federal de 1988 nos seus artigos 206 e 208, ofendem o princípio democrático e republicano da isonomia e do mérito pessoal ações que não se atêm à igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (Art. 206, inciso I) e/ ou não levam em conta o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística segundo a capacidade de cada um (Art. 208, inciso V). Ou seja, o acesso ao ensino superior deve se pautar pelo mérito. Rousseau considera que somos iguais pelo fato de cada um ser único em relação aos demais no universo; e o direito positivo considera todos iguais perante a lei. Para Marx, os injustiçados assumem a competência revolucionária que lhes cabe pelo materialismo histórico, mas continua não tendo o que dizer a Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 105 quem se considera igual ao semelhante, ou reivindica igualdade dos que estão melhor de vida em relação a ele. Ser cidadão é um dado jurídico-constitucional; ser burguês1 assinala uma realidade socioeconômica. Segundo Hegel e Marx, respeitadas as diferenças, a sociedade civilburguesa é um sistema de carências, em busca constante de algo que não lhe está à mão. As políticas de ações afirmativas para o acesso dos afro-descendentes às universidades e aos centros tecnológicos de excelência não são movidas por razões de natureza econômica e não se deixam reduzir à questão social. O estabelecimento dos sistemas de cotas para afro-descendente é um mecanismo adequado do Estado Democrático de Direito para compensar injustiças de longa duração contra a população negra em todo o território brasileiro e fazer frente às maldades consolidadas que obstruem há tempo os vasos capilares da vida nacional. A dialética marxiana assume o valor de troca com os olhos no valor de uso e o Estado de Direito toma por dogma a igualdade jurídica para poder honrar as diferenças do cidadão em relação à identidade alheia e fazer jus às peculiaridades de grupos, gêneros e interesses pela legitimação do modo específico de atuação de cada um no tecido societário. No Brasil, a democracia social como racismo latente, subcutâneo, sugestivo, cujo charme está em dar o dito por não dito e deixar o malfeito pelo bem-feito. O significado político da regulamentação de reservas de vagas para afrodescendentes, providenciada por universidades, é mais prospectivo do que retrospectivo. Quanto melhor a universidade for, tanto mais ela justificará sua política de admissão, isto é, propõe-se a ter mais membros da população negra nos corpos discentes de seus cursos e programas não apenas para repará-los por uma injustiça passada, mas fazer, sim, o futuro melhor para todos, ao mudar o curso da história que o passado nos legou. 4 -EDUCAÇÃO E SEUS CONFLITOS Programa Diversidade na Universidade No Brasil o Programa Diversidade na Universidade surge em um momento de forte pressão sobre o MEC para que elaborasse uma política para a população negra. Iniciam-se as reuniões preparatórias para a Conferência de Durban e o então Ministro da Educação, Paulo Renato Souza, era chamado a se manifestar. 1 ���������������������������������������������������������������������������������������� Como complexo social de indivíduos carentes de bens materiais, valores comuns e conhecimentos apropriados a cerca do funcionamento do sistema em que operam, a sociedade civil não conhece cidadãos, mas reconhece um no outro o que Rousseau, Hegel e Marx chamam de bourgeois, o burguês. 106 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 Começava a se discutir no País a questão das ações afirmativas, principalmente em sua forma de cotas, mas o MEC, na pessoa de seu ministro, recusava-a como possibilidade. Como objetivos esse Programa, na sua elaboração, apoiava a promoção da eqüidade e da diversidade no ensino médio e na educação superior para afro-descendentes, indígenas e outros grupos socialmente desfavorecidos. Especificamente seus objetivos consistem em: a) apoiar a formulação de maneira participativa, de políticas e estratégias de inclusão social e combate à discriminação racial e étnica para a educação média e superior; b) fortalecer a capacidade do Ministério da Educação para orientar a formulação das referidas políticas e estratégias; c) apoiar, desenvolver e avaliar projetos inovadores que possam contribuir à formulação de referidas políticas e estratégias. Como alvo principal o Programa destinava-se a trazer subsídios para uma maior reflexão e atuação do MEC na educação de grupos socialmente desfavorecidos, sobretudo indígenas e negros, entendendo-se por socialmente desfavorecidos não somente os que carecem de renda, mas também os que sofriam qualquer tipo de discriminação, seja em razão da especificidade de sua cultura, de sua raça ou de alguma outra especificidade. Quando as cotas surgiram, em 1949, na Índia, seus defensores diziam que elas durariam dez anos. Até hoje elas estão em vigor, ampliadas. As cotas destinavam-se a beneficiar os então chamados intocáveis, que representavam 16% da população, e membros de outras tribos fora do sistema de castas (8%). A lei abria, porém, uma brecha, dizendo que as cotas poderiam também beneficiar “outras classes atrasadas”. Foi o bastante para que, hoje, o maior número de cotas beneficiem essas “outras classes”, que representam 52% da população, e não apenas os intocáveis. A partir da adoção, os grupos que ficaram de fora das cotas usam toda sorte de “desonestidade”. Hoje, 63% dos intocáveis continuam analfabetos. Nos Estados Unidos, quando cotas foram adotadas para beneficiar descendentes de índios houve um aumento exponencial de indivíduos, muitos deles louros de olhos azuis, dizendo-se membros daquela minoria. O censo de 1960 mostrava que havia 50 mil descendentes de índios com idade entre 15 e 19 anos. Vinte anos depois, o número de descendentes de índios com idade entre 35 e 39 anos era de mais de 80 mil, uma impossibilidade biológica. Na Malásia, onde as cotas privilegiam os malaios contra seus concidadãos chineses, os estudantes das famílias malaias que constituem os 17% mais ricos recebem metade de todas as bolsas. Em nenhum dos casos, trata-se de corrupção: cotas são apenas um dos fatores para se entrar na universidade. Igualmente essenciais são o preparo intelectual e o nível econômico. Quem sabe mais sendo mais rico, mesmo pertencendo a uma minoria discriminada, terá mais chances do que aqueles que são menos preparados e mais pobres. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 107 A grande tragédia que as políticas de preferências e de cotas acarretam é o ódio racial. O sentimento de que o mérito não importa esgarça o tecido social. Na Nigéria, a adoção de políticas de preferência racial levou a uma guerra civil, provocando o cisma que criou Biafra, mais tarde reincorporada, sinônimo de fome e miséria. Sri Lanka, quando da independência, era uma nação em que duas etnias, com língua e religião diferentes, conviviam harmoniosamente. Com a adoção de políticas de preferência racial, o que se viu foi uma das mais sangrentas guerras civis. Nos Estados Unidos da América, o número de conflitos raciais foi crescente a partir da década de 70, ano de adoção das cotas. Na impossibilidade, a curto prazo, de aumentar a qualidade do ensino básico, e assim dar chances iguais para que negros e brancos entrem na universidade, o Brasil está prestes a adotar as cotas que apenas acrescentarão mais um estigma ao negro brasileiro como aconteceu nos EUA: o de ingressar na universidade sem mérito. O argumento de que as cotas acabarão incentivando animosidades “raciais” não pode ser facilmente descartado, porque a sua lógica é cristalina. Não se convence o racismo celebrando “raça”, sem o qual, evidentemente, o racismo não pode existir. Iniciativas de ação afirmativa oriunda da sociedade civil produzem conseqüências semelhantes para aquelas poucas pessoas envolvidas. Mas quando cotas raciais se tornam política de Estado, determinando a distribuição de bens e serviços públicos, ninguém escapa à obrigação de se submeter à classificação racial bipolar. O impacto sobre a sociedade como um todo não pode ser subestimado. Alguns argumentam que a idéia de raça deve ser abolida, por estimular a divisão do país em grupos étnicos. A cisão racial seria um passo em direção ao conflito. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que dos 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha de pobreza, 70% são negros; entre os 53 milhões de pobres do país, 63% são negros. A política de cotas aplicada a carentes beneficiaria principalmente a população negra. As cotas são soluções simplistas, que rompe com o princípio republicano básico de igualdade entre os cidadãos. Os negros não têm acesso ao ensino superior porque, na maioria dos casos, são pobres e passaram anos estudando em escolas públicas arruinadas. Em vez de cotas, o Estado deveria aumentar os investimentos no ensino público. Em poucos anos, os negros passariam a ocupar as melhores vagas nas universidades. O manifesto contra o projeto de lei que institui a política de cotas nas universidades federais e cria o Estatuto da Igualdade Racial, com reserva de vagas para negros no ensino superior e no serviço público pede a rejeição dos projetos que tramitam na Câmara porque a adoção de políticas específicas para 108 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 negros poderia acirrar os conflitos raciais, pois dá status jurídico ao conceito de raça. Para a professora Yvonne Maggie, da UFRJ, a medida pode dividir a nação entre brancos e negros. Segundo ela, a melhor forma de combater o racismo é eliminar a idéia de raça e encontrar outras formas de inclusão, como o aumento de vagas em universidades públicas. Recentemente, em decorrência da polêmica acirrada entre os grupos contrários e os que defendem à adoção das políticas de cotas, o governo já declarou que defenderá regras que levem em conta renda e origem das pessoas, temendo o agravamento do preconceito. 5 -OS RUMOS DAS POLÍTICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NO BRASIL A Secretaria de Educação Superior (Sesu/MEC) calcula, para este ano, que o número de cotistas nas instituições públicas estaduais e federais do país chegue a 25 mil. No fim do primeiro semestre de 2005, havia 10.635 estudantes matriculados em 12 universidades pela política de cotas. Hoje, são 24 instituições, sendo que a adoção do sistema de cotas é decisão dos Conselhos Universitários de cada instituição, existindo diferenciação na forma e percentuais de vagas reservadas entre elas. Dentre as Universidades Estaduais e Federais as que adotam, até o momento, o sistema de cotas são as seguintes: I – Reserva de vagas sociais e étnico-raciais (negros e indígenas) : 1 - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); 2 - Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF); 3 - Universidade de Brasília (UnB); 4 - Universidade Estadual da Bahia (UNEB); 5 - Universidade Federal da Bahia (UFBA); 6 - Universidade Estadual de Londrina (UEL); 7 - Universidade Federal do Paraná (UFPR) 8 - Universidade Federal de Alagoas (UFAL); 9 - Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) 10 - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); 11 - Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG); 12- Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES); 13 - Universidade Estadual de Goiás (UEG); 14 - Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT); 15 - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); 16 - Universidade Federal do Pará (UFPA); 17 - Centro Universitário da Zona Oeste (UEZO/RJ); 18 - Fundação Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro (FAETEC); 19 - Universidade Federal do ABC (UFABC) Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 109 II – Reserva de vagas sociais e étnico-raciais (somente indígenas): 20 - Universidade Estadual do Amazonas (UEA) III - Reserva de vagas étnico-raciais (indígenas): 21 - Universidade Federal do Tocantis (UFT) IV - Reserva de vagas sociais (escola pública) 22 - Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS/DF); 23 - Universidade de Pernambuco (UPE); 24 - Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) Processo seletivo nas universidades As Universidades do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Norte Fluminense (UENF), com reservas de vagas desde 2003, para afrodescendentes e indígenas tem, respectivamente, 2.539 e 286 alunos negros cotistas. De acordo com a Lei nº 4.151/2003, de 04 de setembro de 2003, que Institui Nova Disciplina Sobre o Sistema de Cotas para Ingresso nas Universidades Públicas Estaduais e dá outras Providências, o sistema de reserva de vagas da UERJ e UENF visa garantir o acesso de estudantes carentes – dentre estes, os oriundos da rede pública de ensino, os negros e portadores de deficiência física, juntamente com integrantes de outras minorias étnicas. No Art. 5º da Lei, nos primeiros 05 (cinco) anos de sua vigência deverão as universidades públicas estaduais estabelecer vagas reservadas aos estudantes carentes no percentual mínimo total de 45% (quarenta e cinco por cento), distribuído da seguinte forma: I – 20% para estudantes oriundos da rede pública de ensino; II – 20% para negros; III - 5% para pessoas com deficiência, nos termos da legislação em vigor e integrantes de minorias étnicas. O Vestibular da UERJ/UENF é constituído por duas fases. A primeira fase, denominada de Exame de Qualificação, que ocorre em duas ocasiões durante o ano, sendo obrigatória a realização de pelo menos um dos exames, é realizado por meio de uma prova de múltipla escolha, comum a todos os candidatos inscritos, que visa à aferição de habilidades e competências fundamentais ao exercício pleno da cidadania e de conteúdos básicos de disciplinas agrupadas nas três áreas do conhecimento, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. A segunda fase, denominado Exame Discursivo, aberto unicamente aos candidatos que tiverem obtido aprovação no Exame de Qualificação e que tenham concluído ou estejam cursando o último ano do ensino médio, realiza-se em um único dia e composto por uma prova de Língua Portuguesa Instrumental com Redação e duas provas de disciplinas específicas para a carreira escolhida pelo candidato, uma delas com peso dois, de forma a avaliar competências, habilidades e conteúdos pertinentes às diferentes instituições e carreiras. Apenas os candidatos com resultado final igual ou 110 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 maior que 20 pontos são classificados de acordo com o total de pontos obtidos. A Universidade de São Paulo (USP) apresenta um sistema alternativo de inclusão social, com um bônus nas notas dos vestibulandos que tenham cursado os três anos do ensino médio na escola pública que é o Projeto de Inclusão da USP, denominado “Programa Inclusp” que combina mérito acadêmico e inclusão. O Programa consiste em um sistema de pontuação acrescida de forma a acrescentar o fator de 3% na nota dos alunos da rede pública, tanto na primeira quanto na segunda fase do vestibular, a partir deste ano. Este fator de acréscimo, muito pequeno no número de pontos do aluno e que será aplicado em todas as áreas, foi escolhido após várias simulações com as notas dos resultados da Fundação Vestibular (Fuvest) de 2006. Provavelmente, no vestibular de 2008, a universidade deverá implantar o sistema de avaliação seriada que consiste no aumento do número de alunos de escolas públicas, onde ocorre a presença dos negros e os de baixo poder aquisitivo. Esta avaliação seriada será aplicada nas escolas que aderirem ao sistema e será realizada anualmente, acompanhando o aluno desde o primeiro ano sendo ele avaliado ano a ano pela Fuvest. O sistema será um conjunto de ações que nas escolas a universidade contribuirá com o aperfeiçoamento do conteúdo, das disciplinas e aos professores, cursos de educação continuada. Aos alunos com maior desempenho a USP solicitará ao CNPq a bolsa de iniciação científica júnior para trabalharem nos seus diversos laboratórios. Desta forma, a Universidade de São Paulo entende que a seleção dos melhores alunos através de um projeto que articule o mérito acadêmico, a autonomia universitária e a inclusão social, sem implantação do sistema de cotas, é um cenário de inclusão tanto étnica quanto socioeconômica sem a necessidade de adotar o corte socioeconômico e nem o racial. Manifestos aos Projetos que reservam vagas em universidades Em 30 de junho do corrente ano foi entregue aos Presidentes do Senado e da Câmara um manifesto intitulado “Carta Pública ao Congresso Nacional – Todos têm direitos iguais na República democrática” tendo como signatários um grupo de 114 intelectuais, artistas e ativistas do movimento negro. O manifesto é contrário ao projeto de lei que institui a política de cotas nas universidades federais e o que cria o Estatuto da Igualdade Racial, com reserva de vagas para negros no ensino superior e no serviço público, portanto, “implantando uma classificação racial oficial dos cidadãos brasileiros, estabelecendo cotas raciais no serviço público e criando privilégios nas relações comerciais com o poder público para empresas privadas que utilizam cotas raciais na contratação de funcionários”. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 111 O texto pede aos parlamentares que rejeitem os dois projetos. O argumento é que a adoção de políticas específicas para negros pode acirrar conflitos raciais ao dar status jurídico ao conceito de raça, além de não atacar o problema estrutural da desigualdade no país, que é a falta de acesso universal à educação de qualidade. Em reação ao documento contra o projeto de lei que institui a política de cotas nas universidades e o que cria o Estatuto da Igualdade Racial, intelectuais e ativistas de movimentos negros favoráveis às cotas raciais no ensino superior, no serviço público e no mercado de trabalho foram, em 04 de julho do corrente ano, ao Congresso entregar o manifesto em defesa da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do Projeto de reserva de vagas nas universidades federais. Com o título “Manifesto em favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial”, o documento contava com 421 assinaturas. As cotas e o estatuto da pretensa igualdade devem ser rejeitados com a mesma veemência e energia com que se tem de defender a melhoria radical da qualidade do ensino básico para a toda população, independentemente de cor da pele. Esta talvez seja a grande ação afirmativa a ser executada, pelo atual e próximos governos. Desintegração do estado nacional brasileiro O Projeto de Lei das Cotas e o Estatuto de Igualdade Racial, que tramitam no Congresso Nacional, constituem a fase mais recente do projeto de desintegração do estado nacional brasileiro. O Estatuto implica no rompimento das condições jurídicas e culturais, ao impor características étnicas ou raciais na definição de seus cidadãos. Esta implicação favorece o crescimento de manifestações contra esta aberração que contradiz toda a história brasileira, que se fundamenta em uma política de miscigenação racial, característica da idiossincrasia nacional. Um dos signatários do Manifesto, sociólogo Demétrio Magnolli, escreveu em sua coluna semanal, publicada na Folha de São Paulo, em 29/06/2006, recordando a origem dos poderosos patrocinadores do multiculturalismo moderno, citando a Fundação Ford, que também promove o ambientalismo radical, o malthusianismo e outras vertentes colonialistas : A Fundação Ford inspirou o multiculturalismo e os programas de cotas raciais nos EUA, atuando em estreita conexão com os governos Johnson (1963-69) e Nixon (1969-74). McGeorge Bundy, assessor de segurança nacional de Johnson, um entusiasta da Guerra do Vietnã, deixou o governo para ser presidente da Fundação Ford, cargo que ocupou de 1966 a 112 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 1979. Sob Bundy, a fundação filantrópica, cujo portfólio atual de investimentos ultrapassa US$ 10,5 bilhões, transformouse num aparato ideológico internacional. Nos EUA, na África e na América Latina, o dinheiro da filantropia passou a irrigar movimentos e ONGs de cunho “étnico” ou “racial”. Nos EUA, vultuosos financiamentos da Fundação Ford “convenceram” universidades a criar disciplinas voltadas para a produção de identidades raciais, com sistemas de admissão baseados em cotas. Paralelamente, milhares de bolsas de estudos foram direcionadas para a formação de intelectuais-ativistas que se engajam na difusão internacional do modelo americano de ação afirmativa. No núcleo da ideologia da Fundação Ford está a noção de “minorias”. As nações não seriam constituídas por cidadãos, isto é, indivíduos iguais perante a lei, mas por coletividades definidas pela raça ou etnia. Portanto, o Estado trocaria o dever de oferecer serviços públicos universais pela obrigação de conduzir programas seletivos de “inclusão das minorias”. A necessidade de acesso à universidade tornou-se bastante clara com o contundente estudo sobre “Teoria do Crescimento” de Paul Romer. Considera o autor, que o saber é imprescindível para o desenvolvimento de qualquer país que aspire ocupar posição de influência na sociedade moderna, isto porque o século XXI será conduzido por aqueles que dominarem o conhecimento. Exemplos emblemáticos já os temos nos EUA, onde 800 mil cientistas trabalham em pesquisas patrocinadas por grandes empresas e a Coréia do Sul que conta com 75 mil pesquisadores. No Brasil, país continental, somamos apenas 10 mil cientistas. 6 - POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS A política econômica do Governo Lula revelou-se ainda mais restritiva que a anterior, provocando mais recessão e desemprego, redução da capacidade produtiva nacional e, por conseguinte, empobrecimento geral e aumento da exclusão social. Estudo realizado pelo economista Márcio Pochmann, professor da Unicamp, mostra que os gastos sociais do governo caíram 2,7% nos primeiros três anos da gestão Luiz Inácio Lula da Silva, em comparação com os últimos dois anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. Na área Educação e Cultura a evolução dos gastos,2 o valor per capita em Reais (R$) nos anos 2001 a 2005, são respectivamente, 87,78 - 78,89 – 75,76 – 81,47 – 80,67, significando uma variação negativa. 2 Pesquisa Unicamp com dados de MF/SPE/SIAFI Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 113 As cotas são medidas extremas cuja implementação deve ser balizada pelo tempo e pelas diferenças regionais. Cabe ao Governo Federal, em função de sua posição estratégica e centralizadora do sistema republicano brasileiro, incentivar por todos os meios disponíveis os governos estaduais e municipais a também empunharem a bandeira da igualdade racial e social. Cumpre-lhe, ao executar as medidas que lhe competem, exercer nítido papel de liderança e comando na resolução do problema. São sugeridas as seguintes políticas e estratégias: Política nº 1: Ampliação do prazo de vigência e da dotação orçamentária do Programa de Diversidade na Universidade, do Ministério da Educação, que tem como proposta melhorar as condições e as oportunidades de ingresso e permanência no ensino superior para jovens e adultos das populações afrodescendentes, indígenas e outros grupos socialmente desfavorecidos. Os recursos destinados ao Programa, que conta com apoio do BID e tem prazo de execução previsto para três anos, são utilizados para financiar estudos e pesquisas para a elaboração de uma política de inclusão social e de combate ao racismo e à discriminação étnica e racial na educação média e superior. Estratégias: 1. Aumentar o número de cursos pré-vestibulares mantidos por verbas públicas destinados à população socialmente menos favorecida, bem como o número de bolsas de estudos nas instituições privadas desse tipo e financiamentos educativos, como as bolsas de estudo concedidas por antecipação, por um período de tempo determinado, anterior ao concurso de ingresso, a exemplo do Itamarati, em relação ao concurso para o Instituto Rio Branco; 2. Apoiar iniciativas extra-governamentais para a promoção do acesso ao ensino superior, a exemplos dos cursos preparatórios concebidos e mantidos por organizações não governamentais, quer com verbas ou incentivos fiscais; 3. Mobilizar o empresariado nacional para participar do Programa, mediante contribuição financeira ou promoção de aperfeiçoamento curricular de empregados, acenando o Governo com contrapartidas como isenções e incentivos fiscais, bem como com política de premiação tendo em conta o grau de responsabilidade social da empresa, a ser adotado como mais um critério na seleção de fornecedores e contratação de empresas terceirizadas; 114 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 4. Realizar anualmente censos escolares, principalmente nas universidades, e sistematizar, avaliar e divulgar dados, analisando eventuais progressos e deficiências do Programa, como forma de conscientizar a sociedade brasileira, com ênfase nos setores formadores de opinião, para o problema das desigualdades; Política nº 2: Criação do Ciclo Básico permitindo o aprimoramento da capacidade crítica e da compreensão com o oferecimento de disciplinas instrumentais em matemática, língua portuguesa, inglês, informática, física e química, além de participação em oficinas artísticas e diversas atividades culturais.3 Estratégia: 1. Oferecimento de uma bolsa-auxílio e o cumprimento de 90 horas semestrais ao Projeto e 15 horas à orientação acadêmica. Política nº 3: Aumento das vagas nas instituições públicas de ensino, em todos os níveis. Estratégia: 1. Investimentos na infra-estrutura da rede e melhoria das remunerações do pessoal docente e apoio. Política n° 4 : Incorporação do ensino de ciências ao currículo desde os primeiros anos do ensino fundamental4 de forma que o conhecimento científico e as novas tecnologias sejam fundamentais para que a população possa se posicionar frente a processos e inovações sobre os quais precisa ter uma opinião a fim de legitimá-los. 3 A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) a partir de maio de 2004, através do Programa de Iniciação Acadêmica (PROINICIAR) vem implantando gradativamente a permanência de alunos cotistas, como consta no Art. 4º da Lei Ordinária Estadual nº 4151, de 04 de setembro de 2003, e de hiposuficientes. 4 Em diversas partes do mundo, inclusive da América Latina, tem-se experimentado o impacto positivo do ensino de ciências sobre a qualidade da educação. Argentina, Uruguai, Chile, Costa Rica, Cuba detêm os melhores indicadores educacionais da região e são exemplos de países que perceberam que o ensino das ciências pode ser muito importante e produtivo. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 115 Estratégia: 1. Investimentos na formação de docentes, de modo que eles se sintam seguros e possam propiciar aos alunos aprendizagens significativas, através das experimentações. Política nº 5: Melhoria da qualidade dos ensinos fundamental e médio nas escolas públicas5. Estratégia: 1. Investimentos na formação de docentes. CONCLUSÃO A universidade tem a obrigação de zelar pela heterogeneidade e diversificação de seus quadros, tendo em vista o interesse da comunidade maior numa sociedade menos estratificada em brancos e negros, vale dizer, constitui imperativo para cada universidade assegurar que nos próximos anos um número maior de negros ocupe cargos de poder, usufrua prestígio e tenha sucesso econômico, fazendo jus a nação pluricultural e pluri-racial que somos. Em vez de insistir com as cotas, é mais sensato garantir educação adequada às crianças pobres e negras, tornando a rede pública de ensino básico capaz de suprir suas deficiências culturais independentemente de sua cor ou situação social. Esse é o objetivo que o governo deveria perseguir para minimizar as desigualdades social e racial ao invés de utilizar políticas demagógicas que levam as universidades públicas a impasses perigosos. Ações afirmativas não vão resolver o problema do racismo cordial brasileiro. No mínimo chamará a atenção dos brasileiros para ele. Somente uma melhora sensível nos níveis de emprego, na distribuição de renda e nas políticas sociais poderá contribuir de forma permanente para a melhoria do padrão de vida dos brasileiros, particularmente os negros. A solução não reside em cindir a pobreza entre brancos e negros, beneficiando apenas os últimos, mas superá-la com crescimento econômico A classificação do nível de conhecimento dos estudantes brasileiros de escolas públicas urbanas na 4ª e 8ª séries, em leitura e matemática, foi considerado “crítico” ou “intermediário” pelo Prova Brasil levando-se em conta a escala desenvolvida em 2003 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC). Fonte : www.inep.gov.br 5 116 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 e distribuição mais igualitária da renda. Investimentos maciços em educação de qualidade é o caminho seguro que devemos trilhar para alcançar estes objetivos. A universidade tem a obrigação de zelar pela heterogeneidade e diversificação de seus quadros, tendo em vista o interesse da comunidade maior numa sociedade menos estratificada em brancos e negros constituindo um imperativo para cada universidade assegurar que nos próximos anos um número maior de negros ocupe cargos de poder, usufrua prestígio e tenha sucesso econômico, fazendo jus a nação pluri-cultural e pluri-racial. Sob todos os ângulos por que se analise a questão das desigualdades no Brasil, surge um denominador comum: a necessidade de investimento na formação educacional. É um ponto consensual. O que parece longe da unanimidade, porém, é a tese de que, em respeito à natureza multicultural da sociedade brasileira, constitucionalmente reconhecida, as intercessões entre raça ou cor e educação devem ser observadas de maneira obrigatória em qualquer planejamento relativo à inclusão social, com a finalidade específica de alcançar a universalização da cidadania no País. É preciso frisar que as cotas servirão menos para resolver o problema da desigualdade social do que para mudar a cor da elite brasileira – este, sim, o objetivo. De fato, não se mostra minimamente admissível que o País continue a ter uma representação caucasiana. Somos um povo mestiço e como tal precisamos nos apresentar e fazer representar aos olhos do mundo. Esperamos que as cotas sejam temporárias e emergenciais. Temos um sistema educacional tenebroso já em sua base, em seus primeiros anos. Condena já na primeira série um terço da população ao atraso. Enquanto isso, em países como Coréia do Sul, Finlândia e EUA, as taxas de matrícula universitária já passam dos 80%. Ou seja, eles têm em universitários aquilo que temos em analfabetos. Enquanto o mundo desenvolvido universaliza o conhecimento, o Brasil populariza a ignorância. A fonte do problema não é que o Brasil investe pouco em educação. O problema é de qualidade. Qualificação dos professores, fundamentalmente. Exige que a sociedade se mobilize e demande de seus governantes que metam a mão em vespeiros. Da maneira que está organizado (ou desorganizado) o nosso atual sistema educacional prepara o País para o atraso. É preciso rever os currículos dos cursos de formação de professores, repensar todo o processo de alfabetização, compelir as escolas a praticar aquilo que a experiência internacional diz que funciona – dar conhecimento ao professor, uso constante do livro didático, não usar tempo de aula para passar matéria no quadro-negro ou dar exercícios, mas sim explicar a matéria, passar e corrigir dever de casa com freqüência e avaliar os alunos Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 103-118, -3 9, jan/jul. 2007 117 por meio de testes. Ou seja, reavaliar todo o sistema de forma que ele crie oportunidade para todos, independente de cor, raça, situação social ou qualquer outra forma distinta entre os aprendizes, deixando que a universidade, na ponta deste sistema, contribua para o real crescimento da população brasileira como um todo. 118 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.103-118, 21 -39, jan/jul. 2007 Utilização dos embriões humanos para fins de pesquisa e terapia – aspectos éticos e jurídicos Célia Maria Vidal Pessoa Desembargadora, estagiária do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra no ano de 2006. 1 - OBJETIVO O presente trabalho objetiva analisar a recente legislação brasileira sobre pesquisas médicas com células-tronco embrionárias humanas nos âmbitos éticos e jurídicos - Lei nº11105 de 24/03/2005 -, que se encontra sob o crivo de uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI nº 3510), ajuizada pelo Procurador-Geral da República, impugnando o art. 5º e parágrafos da aludida lei, justamente os preceitos permissivos deste procedimento. O tema polêmico é deveras interessante e mesmo apaixonante, porquanto mais uma vez a humanidade se depara com o conflito entre valores agregados à sociedade, como o respeito ao direito à vida e ao princípio da dignidade do ser humano e a liberdade de os cientistas buscarem novas formas de tratamento para doenças ainda incuráveis. As teses defendidas seja pelos que se põem contrários ao estudo dos embriões, para quem a vida humana acontece na fecundação, seja por quem adota posição favorável - entendendo que tal não se dá, pelo fato de as células tronco embrionárias somente poderem ser extraídas até o 14º dia após a fertilização, antes do início da formação do sistema nervoso central ou da existência de qualquer atividade cerebral -, põem em confronto posições sobre o começo da vida humana, remetendo aos posicionamentos filosóficos e jurídicos, em que se pretende discernir suas razões, compilar trabalhos e artigos e, sobretudo, extrair conclusões de todo esse material. 2 -O QUE É CÉLULA-TRONCO? A célula-tronco é uma célula que se origina da fusão espermatozóide e óvulo (fertilização). É célula progenitora que mantem a capacidade de se diferenciar nos inúmeros tecidos (sangue, músculos, nervos, ossos etc.), conforme conceitua Mayana Zatz1, que existem nos organismos adultos, embora em pequena quantidade, assim como nos embriões. A descoberta de que as células- tronco poderiam ser extraídas de embriões em seu estágio de blastocisto foi feita por James A. Thomson em 1998. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 119 2.1 -Origem Dos Embriões Excedentes Por sua vez, os embriões excedentes surgiram com o advento da técnica de fertilização in vitro, método de reprodução assistida, destinado a superar problemas de infertilidade, em que os óvulos são fecundados pelos espermatozóides em laboratório. Gera material excedente, ao se retirarem diversos óvulos para serem fecundados simultaneamente, à consideração de evitar expor a mulher a reiteradas tentativas de fecundação, por força de se tratar de procedimento de alto custo e também sofrido, em razão da bateria de hormônios para estimulação da ovulação a que é submetida, evidenciado que a probabilidade de a gravidez se efetivar aumenta na medida do maior número de embriões que nela é implantado. A reprodução assistida é regulamentada pela Resolução 1358/92 do Conselho Federal de Medicina, que determina que não pode ser superior a quatro o número ideal de pré-embriões a serem transferidos para a receptora, com o intuito de não aumentar os riscos já existentes de multiparidade, ou seja, as hipóteses de gestação múltipla. Contudo, deixa de delimitar a quantidade de óvulos a serem fertilizados, possibilitando a ocorrência de embriões excedentes a serem congelados. É importante salientar que não existe legislação ordinária regulamentando a reprodução assistida, senão apenas a aludida Resolução, que, como ato administrativo, não se substitui àquela, sendo absurdo que não tenha sido editada até agora lei reguladora de procedimento médico que envolve manipulação de material genético. O que se sabe, é que existem dois projetos de lei sobre o assunto (PLS 90/1999 e PLC 54/2002), em tramitação. Aqueles não utilizados na fertilização assistida, ou seja, os não implantados - ou devido ao sucesso na obtenção da gravidez ou por se revelarem inviáveis -, constituem os embriões humanos excedentes. Não podem ser produzidos embriões humanos para o fim específico de pesquisa, nem utilizados para esse fim os decorrentes da fecundação natural, isso porque a norma do art. 5° da Lei 11.105/2005 assim o prescreve: “Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:” (grifos nossos). 2.2 - Espécies De Células-Tronco As células-tronco ou são encontradas no embrião, então chamadas células-tronco embrionárias, ou obtidas de diversos órgãos e tecidos sistema nervoso2, sangue, cordão umbilical, medula óssea e outros tecidos 120 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 do indivíduo adulto -, nesse caso denominadas células-tronco adultas ou pós-natal. São, portanto, gênero, de que são espécies as embrionárias e as adultas. Têm como características a capacidade de se converterem em diferentes tecidos do organismo e de produzirem cópias idênticas de si mesmas. Apesar de gerar polêmica por sua utilização importar na destruição do embrião, o interesse em utilizar as células-tronco embrionárias decorre do fato de nelas poderem ser diferenciados todos os 216 tecidos que formam o corpo humano3. Contrariamente, as adultas não estão aptas a se transformar senão naqueles órgãos e tecidos dos quais foram retiradas, tendo, porém, a vantagem de, na maioria dos casos, serem obtidas do próprio paciente, o que elimina as questões éticas e legais e a possibilidade de rejeição4. Embora haja pesquisa demonstrando a pluripotencialidade das células- tronco adultas, ou seja, a capacidade de poder gerar não apenas os tipos celulares que compõem o tecido ou órgão específico onde estão situadas mas também células de outros órgãos e tecidos, pesquisas em contrário vêm sendo elaboradas, conforme informa Antonio Carlos de Carvalho5. 3-IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS 3.1 -Importância Para A Ciência As células tronco-embrionárias vêm sendo consideradas a mais promissora fonte de estudo dos mecanismos genéticos que levam a doenças degenerativas, como o mal de Alzheimer, de Parkinson, bem como de possíveis terapias das lesões de medula, do diabetes, do acidente vascular cerebral e outros tipos de moléstias. Afirma Lygia da Silva Pereira, Professora Livre Docente e chefe do Laboratório de Genética Molecular do Departamento Genética e Biologia Evolutiva, Instituto de Biociências, USP, que “As CTs embrionárias são o tipo mais versátil de CTs até hoje identificadas em mamíferos. Enquanto as CTs derivadas da medula ou do sangue de cordão umbilical conseguem se transformar em somente alguns, as CTs embrionárias possuem a formidável capacidade de dar origem a todos os tecidos do corpo”6. As pesquisas no Brasil com células-tronco embrionárias de camundongos, que já datam da década de 1980, estão adiantadas, e a expectativa de cura é imensa, pois os estudos feitos assim indiciam, conforme o explica a cientista, no mesmo site “... foram capazes de aliviar os sintomas de diversas doenças, desde leucemia e doença de Parkinson até paralisia causada por trauma da medula espinhal... Em 1980 surgiram as primeiras linhagens de CTs Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 121 embrionárias humanas, e junto com elas a enorme expectativa de seu uso terapêutico.” Sobre os problemas que podem advir, relata o aparecimento de tumores e a possibilidade de rejeição7. Os pesquisadores Dante Marcello Claramonte Gallian e Rosália Mendez-Otero confirmam o fato8. Apesar disso, os cientistas mantêm-se confiantes em prosseguir com os estudos com células tronco-embrionárias, por representarem “uma fonte importante de células para futuras terapias celulares.”9. Seja então por esperança, curiosidade intelectual ou pela prosaica possibilidade de lucro, é certo que a questão tem imensa importância, devido ao potencial de tratamento e cura que envolve. 3.2 - Importância Estratégica A legislação viabiliza novos tratamentos, inclusive para seqüelas de lesões neurológicas, e permite a independência tecnológica frente aos outros países que vêm investindo maciçamente nessas pesquisas, além de direcionar o procedimento, exigível pelos riscos que a manipulação de material genético envolve. Afinal, temos notícias sobre a clonagem humana, sendo importante que a lei pioneira confira ao Estado mecanismos de fiscalização e controle das pesquisas. No enfoque da matéria, relativamente à estratégia, transcreve-se: “A verdade é que o passo dado pela Lei 11.105 é conseqüência natural do que vem se verificando no mundo, de sorte que se o país não evoluísse perderia terreno no campo tratado, sujeitando-se aos efeitos danosos dessa conduta, como, v.g., a dependência científica de outros países, com sérios reflexos econômicos e prejuízos aos brasileiros ansiosos pela terapia com células-tronco embrionárias.”10 E assim o é, porque a maioria dos países admite o procedimento, o que fatalmente redundaria em dependência estratégica por aquele que não dominasse a técnica e assim não se dispusesse a fazê-lo. 4 -ASPECTOS ÉTICOS E JURÍDICOS 4.1 -Posições filosófica, religiosa e científica As pesquisas com as células-tronco embrionárias envolvem questões de ordem ética, caso em que reacende a questão acerca de quando tem início a vida humana, o que importa para o estabelecimento da eticidade do procedimento, discussões essas que se acirraram no Brasil a partir da promulgação da Lei 11105, de 24/03/2005. A questão sobre o começo da vida humana decorre de posições que ora adota o momento da fecundação como o do início da vida, ora em momento posterior. 122 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47,p. p. 119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 Na primeira hipótese - o da fecundação -, por abrigar o embrião todos os caracteres para a formação de uma vida humana, não poderia ser alvo de pesquisa, porquanto sua destruição importaria na morte de uma pessoa. Para os demais, não, porque o embrião, embora contendo todo o potencial de vida, essa apenas se efetivaria com sua introdução no útero da mulher (nidação). Outros adotam momento ainda posterior. É relevante ser dito que, “a chance de um blastocisto se transformar em bebê normal é de 30% - os outros 70% se perdem naturalmente. Quando ele é criado por técnicas de reprodução assistida, a possibilidade cai para menos de 1%”11. Outro argumento dos defensores da segunda hipótese, é que “um blastocisto não apresenta qualquer atividade cerebral, motivo pelo qual os países que permitem as pesquisas com célulastronco embrionárias estabeleceram um limite de idade de até 14 dias, pois até essa etapa não há resquício de sistema nervoso no embrião.”12. Essa última observação é ponderável, visto que se a morte cerebral determina o momento do óbito, conforme aceito pela ciência, e assim o estabelece a Lei dos Transplantes, Lei 9434/1997, art. 3ª, é razoável se concluir que a ausência de sistema nervoso no embrião, por coerência, denotaria que a vida nele ainda não se iniciou. Hoje se sabe que o começo da vida, na verdade, ocorre em um processo e não exatamente em um único instante, que se inicia com a penetração do espermatozóide no óvulo, deixando sua cauda para fora; lá dentro, horas depois, os dois aindasão coisas distintas, por período de 12 a 24 horas, sendo necessárias outras 24 horas para que os cromossomos de ambos se encontrem, podendo o embrião, até o 14º ou 15º dia da fertilização, dar origem a dois ou mais embriões. Por fim, precisa percorre longo caminho até se fixar na parede do útero, estimando-se que mais de 50% dos óvulos fertilizados sejam abortados espontaneamente, expelidos com a menstruação.13 A propósito do tema, a filosofia distingue duas situações: primeira, a de quando começa a vida; segunda, a de quando começa a pessoa. O filósofo, PHD – UERJ, Olinto A. Pegoraro pondera: “A filosofia contemporânea... considera a pessoa como uma existência em expansão... Uma importantíssima conclusão desta teoria é que, nas primeiras fases da vida embrionária, já temos vida humana, mas ainda não há ali uma pessoa que se construirá ao longo de sua evolução”14 (grifos nossos). O argumento contrário mais forte é o da igreja católica. A Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé, sob a presidência do Cardeal Joseph Ratzinger (hoje Papa Bento XVI), publicou em 22/02/1987, as Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 123 “Instruções sobre o respeito à vida humana nascente e dignidade da procriação. Respostas a algumas questões da atualidade”, em que adota postura restritiva quanto à viabilidade ética a respeito: “a experimentação com embriões vivos e não especificamente terapêutico; (...) destruição voluntária de embriões humanos obtidos por fecundação in vitro com fins de investigação e procriação (...)”15. Assim definida a posição ética da Igreja Católica, contrária à pesquisa com embriões, gizou ela o comportamento de católicos de todo o mundo, vindo a repercutir no âmbito jurídico e, em alguns casos, até mesmo legal, sob a pressão dos seguidores da igreja católica, como é natural. A Igreja Católica, porém, nem sempre teve a mesma posição sobre o tema, tendo adotado até o século XIX (1869), com o intervalo no papado de Sixto 5º, no século XVI, a posição aristotélica que permitia o aborto até o 40º dia de gestação, quando então o Papa Pio 9º decidiu proteger o ser humano a partir do momento mais precoce, ou seja, o da concepção16. Com o respeito devido, vale recordar que posições tidas como conservadoras retardaram, ou mesmo impediram, o avanço da ciência, em especial no caso da anatomia, acerca da dissecação de cadáveres17. Como exemplo da intransigência, a notícia que a Revista Veja publicou acerca de nova descoberta de possibilidade de desenvolvimento de células-tronco embrionárias sem destruir o embrião que lhe deu origem, pela Advanced Cell Tchnology, uma empresa de biotecnologia dos Estados Unidos com sede na Califórnia, e, que, de forma emblemática as posições em contrário se mantiveram18. As cinco outras maiores religiões – judaísmo, islamismo, protestantismo, budismo, hinduísmo – apóiam as pesquisas com células-tronco embrionárias, conforme extraídas do mesmo site as posições expostas pelo Rabino Henry Sobel, presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista, pelo Sheik Ali Abdouni, presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica, por Ariovaldo Ramos, pastor batista e presidente da ONG Visão Mundial, pela monja Coen Sensei, missionária oficial da tradição Soto Shu – Zen Budismo e por Swami Krishnapriyananda, da Sociedade da Vida Divina Brasil, linhagem Smarta do hinduísmo19. Quanto ao kardecismo, sugere a médica Marlene Rossi Severino Nobre, presidente da Associação Médica Espírita do Brasil, que os espíritas preferem dar ênfase ás células-tronco adultas.20 No âmbito jurídico, coletamos a posição contrária dos eméritos civilista Maria Helena Diniz e constitucionalista José Afonso da Silva21. Em contrapartida, o especialista em biodireito Erickson Gavazza Marques, em entrevista à jornalista Aline Pinheiro, é favorável, ao aduzir: “Não cabe à 124 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 justiça decidir isso, e sim à medicina, à ciência. E nem a ciência já definiu quando começa a vida.”22 O doutor Fermin Roland Schramm, Presidente da Sociedade Bioética do Estado do Rio de Janeiro, fazendo digressão sobre serem as objeções moralmente questionáveis por recusarem um debate racional, conclui, “Em outros termos, podemos razoavelmente defender a posição ética de que somos moralmente responsáveis tanto pelo mal que infligimos como pelo bem que deixamos de fazer sendo possível e razoável fazê-lo” 23. A exigência inafastável do consentimento dos genitores representa o marco ético da lei, na medida em que configura respeito aos valores das pessoas interessadas. Ainda o fato de proibir a comercialização do material biológico (§3°, do art. 5°), a engenharia genética e a clonagem humana, essas segundo o art. 6°, incisos III e IV da lei. Não se trata de defender uma ética relativa, mas é que diante do fato consumado da legislação autorizadora, que se supõe resultar de aprofundado debate no processo legislativo, resta dela extrair o melhor que o legislador quis nela inserir. Alie-se ao fato de a ciência não definir o termo inicial da vida, como o faz relativamente à morte. Em síntese dos argumentos favoráveis às pesquisas, temos: a) a ciência não define quando a vida humana se inicia; b) inexiste sistema nervoso nos 14 primeiros dias do embrião, logo, se não tem atividade cerebral, não tem vida, por coerência com a Lei dos Transplantes (Lei 9434/97) que estabelece que a morte cerebral determina o momento do óbito; c) a própria igreja católica nem sempre adotou o mesmo entendimento quanto ao começo da vida; d) outras grandes religiões apóiam as pesquisas; e) o estado brasileiro é laico, não tendo que se submeter a qualquer credo religioso; f) seria injusto deixar morrer uma pessoa por doença possivelmente tratável para preservar embrião cujo destino inexorável é o lixo. 5 – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A Lei 11105, de 24/03/ 2005, chamada lei da biossegurança, revogando a Lei 8974/95 que tipificava como crime a pesquisa, dispõe em seu art. 5°: Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células tronco-embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I - sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data do congelamento. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 125 §1 o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. §2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. §3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei n° 9434 de 4 de fevereiro de l997. Dois os pressupostos, portanto, para a utilização de células-tronco embrionárias: 1- que os embriões sejam inviáveis ou congelados há mais de três anos da data da lei ou do congelamento; 2- o consentimento dos genitores. O Decreto n° 5591, de 22/11/ 2005, que regulamenta a lei, define embriões inviáveis, como aqueles impróprios à formação de um novo ser, ou por alterações genéticas que interromperam seu desenvolvimento ou alterações morfológicas que também impedem o pleno desenvolvimento (art. 3°, XIII). 5.1 – Alcance e Contradições Segundo nos parece, a lei 11.105/2005 tem aplicação limitada aos embriões já congelados antes de sua edição, ao se referir especificamente a que “sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação da Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos contados a partir da data do congelamento” (grifos nossos). Significa dizer que aqueles que porventura não se encontrem na situação de já congelados na data da publicação da lei estão ao desabrigo da Lei de Biossegurança, de maneira que não podem ser utilizados para fins de pesquisa e terapia, por falta de amparo legal para essas providências. Não parece aceitável o argumento de que o prazo de três anos foi definido para evitar a produção de embriões exclusivamente para estudo ou de novos embriões excedentários, primeiro, como já dito, porque o art. 5ª, II, da Lei 11105 é expresso quanto aos já congelados na data da publicação da Lei, e a nenhuma outra hipótese; segundo, porque a norma do art. 6°, não arrola dentre os procedimentos que proíbe a pesquisa com os futuros embriões, que, como norma proibitiva, não permite aplicação analógica ou extensiva. A legislação em comento, portanto, é temporária, porquanto aplicável às hipóteses nela previstas de embriões congelados no período temporal tendo por marco a data de sua publicação, donde se conclui a não cobertura às hipóteses futuras, o que força à conclusão de o ordenamento jurídico pátrio ainda estar a carecer de norma que venha a prover sobre os embriões excedentários posteriores, agravado pelo fato de as disposições sobre a reprodução assistida não estabelecerem limite ao número de embriões 126 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 necessários ao procedimento, permitindo que se continue a produzir sobras que exigirão definição sobre seu futuro. Além dessa flagrante omissão - assim nos parece -, a Lei 11.105 apresenta contradição, ao permitir a utilização dos embriões e ao mesmo tempo proibir a “engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano” (art. 6° da lei), haja vista que aquele procedimento científico é forma de engenharia genética, por importar em manipulação de material genético. A inserção da palavra “genitores” na norma não se constitui em reconhecimento legal de vida no embrião, posto que, sendo a vida um bem indisponível do qual ninguém, genitores ou não, pode dispor, não poderia a lei fazê-lo, depreendendo-se que o uso da expressão teve apenas a finalidade de estabelecer a quem incumbe o consentimento nela previsto. A observar, ainda, que a lei brasileira somente permite a utilização de embriões gerados para fins reprodutivos, vedando a produção de embriões especificamente para fins científicos. Devido à interligação com o procedimento em exame, merece ser comentada a crítica feita à lei contra a proibição da clonagem humana (art. 6°, IV, da lei), de forma genérica, sem qualquer especificação, visto que a lei não distingue, como a ciência o faz, a clonagem terapêutica – para reprodução de tecidos -, da clonagem reprodutiva, que objetiva criar um novo ser idêntico, um “clone”. Nesse sentido, o médico Drauzio Varella24 e o Des. Ivan Ricardo Garisio Sartori25 Extraem-se as seguintes conclusões sobre a Lei 11.105/2005: a) sua aplicação é limitada aos embriões já congelados até sua edição; b) não define a situação dos embriões congelados após a sua edição; c) não tem norma provendo sobre o número de embriões a serem produzidos. 5.2 -Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIN. No dia 30 de maio de 2005, o Procurador-Geral da República ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI n° 3510, relator Min. Carlos Brito - alegando ser inconstitucional o art. 5° e parágrafos da Lei 11.105/2005, que permite o uso de células-tronco de embriões humanos para fins de pesquisa e terapia. Na ação proposta, o Procurador-Geral alega que o art. 5° está em dissonância com o disposto no art 5° caput e art. 1º, III, da Constituição Federal, que dispõem, sobre a inviolabilidade do direito à vida e o direito à dignidade da pessoa humana. A tese central da ação, conforme lá afirmado, é que “a vida humana acontece na, e a partir da, fecundação”. A ONG Movitae - MOVIMENTO EM PROL DA VIDA interveio no processo na qualidade de amicus curiae – terceiro especial -, formulando pedido de ingresso na referida ADI, em defesa das pesquisas com células-tronco Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 127 embrionárias e da constitucionalidade do art. 5° da Lei 11.105/2005, que foi acolhido, em 28/11/2005. Igualmente foram admitidos na ação, a CONECTAS DIREITOS HUMANOS - CDH e o CENTRO DE DIREITOS HUMANOS – CDH. A observar que apesar da ação proposta a norma legal do art. 5º, da Lei 11.105 continua a viger até decisão final do STF sobre a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei, haja vista que não foi requerida medida cautelar incidental (arts. 10/12 da Lei 9868/99), que possibilitaria a apreciação de liminar. Por interessantes, transcrevem-se as conseqüências das premissas que a Movitae arrola: ”o embrião resultante da fertilização in vitro, conservado em laboratório: a) não é uma pessoa, haja vista não ter nascido; b) não é tampouco um nascituro, em razão de não haver sido transferido para o útero materno”. Então, conclui: “embrião resultante de fertilização in vitro, sem haver sido transferido para o útero materno, não é nem pessoa nem nascituro”. Quanto à violação à dignidade da pessoa humana, observa que a lei brasileira ao não permitir que sejam utilizadas células-tronco produzidas exclusivamente para pesquisa, afasta “a objeção antiutilitarista, apoiada no núcleo essencial do princípio da dignidade humana, segundo a qual a utilização de embriões em pesquisa significaria tratá-los como meios para a realização das finalidades de outrem.” A posição defendida não ilide o fato de que a questão é tormentosa, exatamente por passar por uma série de reflexões éticas e sociais, incumbindo ao Supremo Tribunal Federal dar a última palavra sobre ela. 6 - A PESQUISA NOS DEMAIS PAÍSES De pesquisa feita se depreende que a comunidade internacional, em grande parte, senão em sua maioria, de uma ou outra forma, é favorável à utilização das células-tronco humanas para fins de terapia, encontrando-se a recente lei brasileira – Lei da Biossegurança – em consonância com o posicionamento prevalente dos demais países. Sobre o posicionamento dos países europeus, apura-se que a Espanha permite a investigação em embriões inviáveis até 14 dias e a clonagem terapêutica a partir de embriões excedentários, sendo ilegal a produção de embriões para fins de pesquisa (lei n° 42 de dezembro de 1988). Na Finlândia, a Lei de Investigação Médica de 1999 permite a investigação em embriões excedentários das fertilizações in vitro, desde que haja consentimento informado dos doadores, e ainda, a clonagem terapêutica, sendo vedada a clonagem reprodutiva. O Reino Unido admite a utilização de embriões humanos na investigação médica, conforme Lei de Fertilização Humana e Embriologia, desde 1990, com alterações, a partir de 2001, para investigação de doenças genéticas. Também legal a produção de embriões para fins de pesquisa 128 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 após o consentimento dos doadores e a clonagem terapêutica, sendo ilegal a clonagem reprodutiva. Embora na Grécia não exista lei específica, a partir de 1991, foi regulada a reprodução assistida e controladas as pesquisas que envolvam embriões humanos, sendo proibidas, desde 1991, a clonagem terapêutica e a clonagem assistida. Na Itália, em que inexiste legislação a respeito, O Comitê formado pelo Ministro da Saúde emitiu, em 2000, em oposição ao Comitê Nacional de bioética, parecer favorável às pesquisas em embriões supranumerários e à clonagem terapêutica. O Ato do Embrião (“Embry Act”), de junho de 2002, na Holanda, regula o uso de gametas humanos e embriões e contem determinação para doação de embriões para pesquisas com células-tronco embrionárias. Quanto à clonagem terapêutica, o Ato proíbe a criação de embriões para fins de pesquisa e para finalidade de isolamento de novas linhas de células-tronco, havendo tendência de liberação dessa pesquisa. O país não permite a clonagem reprodutiva. Na Suécia, o Ato de 1991 define condições para que a pesquisa com embriões humanos e células-tronco embrionárias possam ser realizadas, porém veda a criação de embriões para fins únicos de pesquisa. O prazo de estocagem dos embriões congelados é de cinco anos, também havendo necessidade de autorização dos doadores. Há tendência para a liberação da clonagem terapêutica. Na Dinamarca, existe a Lei de Fertilização, de 1997, que permite a utilização de embriões excedentários em pesquisas, porém apenas para o aperfeiçoamento das técnicas de reprodução artificial e para benefício do próprio embrião. Em Luxemburgo, há uma proposta de lei n° 4567, de 1998, que permite a utilização de embriões excedentes para pesquisa com fins médicos. Quanto aos países contrários ao procedimento científico de pesquisa em células-tronco humanas, temos que, em Portugal, é ilegal a utilização de embriões humanos na investigação médica. O Decreto n° 135/VII, de 1997, proíbe a criação ou a utilização de embriões para fins de investigação, embora a comunidade científica concorde com a possibilidade tecnológica da clonagem terapêutica, acreditando ser uma esperança para a medicina do futuro. Também na Alemanha, a Lei de Proteção do Embrião, de janeiro de 1991, proíbe a fabricação ou a utilização de embriões para fins de investigação médica, salvo em benefício do próprio embrião. A França proíbe a investigação médica em embriões humanos, exceto em benefício do próprio embrião, conforme a Lei sobre Bioética, de julho de 1994. Todavia, a proibição sobre pesquisas a partir de embriões humanos foi suspensa por cinco anos. Na Áustria, é proibida a fabricação de embriões humanos que não sejam destinados à procriação, segundo a Lei de Medicina Reprodutiva, de 1992. Também é proibida a utilização de embriões para fins de pesquisa. Os Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 129 embriões, após um ano, que não forem implantados em útero humano devem ser destruídos. Na Irlanda, de acordo com a interpretação da Constituição, o embrião humano é protegido, sendo então proibida a fabricação para fins de pesquisa. Os dados até aqui expostos foram extraídos de Célula-Tronco: Posicionamento dos Países Europeus26. A União Européia permite o procedimento, desde que não importe em destruir os embriões, de acordo com recente notícia de “O Globo27. Segundo informa a Movitae, em sua peça de defesa, na ADI 3510, outros países, que não os aqui referidos, permitem o procedimento, como os Estados Unidos, que têm como peculiaridade a proibição do financiamento das pesquisas com recursos federais28. Cita, ainda, a China, Israel, Cingapura e Austrália. A petição inicial da aludida ADI somente faz referência à Alemanha, já citada, em que “há específica lei de proteção aos embriões (...)”29. Da exposição, se depreende, que o número de países que permitem a pesquisa com células embrionárias humanas é expressivamente superior àqueles que proíbem o procedimento, podendo-se concluir que a legislação brasileira, na questão pertinente ao tema em estudo, está em perfeita conformidade com a posição predominante da comunidade internacional. 7 - CONCLUSÕES A utilização das células-tronco embrionárias humanas é à evidência um tema complexo que merece densa reflexão, porque, como visto, envolve valores éticos que merecem consideração, por se assentarem em argumentos valiosos em prol de suas posições. Independentemente, porém, de se definir se a vida tem início nesse ou em outro momento, podemos extrair as conclusões que se seguem: a) As perspectivas de tratamentos de doenças graves justificam por si sós as pesquisas; b) O pragmatismo recomenda os novos caminhos, por ser um contra-senso o desperdício de material embrionário já existente que poderia ser utilizado para o bem comum; c) Os óbices criados por posições dogmáticas não devem impedir o progresso, à consideração de seu valor estratégico; d) A imposição legal de a utilização dos embriões dever contar, em qualquer das hipóteses, com a concordância dos genitores, reflete o respeito do Estado aos valores pessoais de cada qual; e) Na medida em que o procedimento científico se banalizar, a discussão perde a razão de ser, dependendo, no caso brasileiro, da decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 3510/2005; 130 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 f) Necessidade de alteração da lei ou de edição de uma nova lei que regule o destino dos embriões congelados após a edição da vigente lei; g) Edição de legislação reguladora da reprodução assistida, estabelecendo limitação ao número de embriões fertilizados em laboratório. Notas 1 ZATZ, Mayana. Saúde e Higiene: Esperança Renovada. Disponível em: <http://temas.buscaki.com.br/saúde/0031htm>. Acesso em: 22 jul. 2006. 2 �������������������������������������������������������������������������������������������� MENDEZ-OTERO, Rosalia. Células-tronco em terapias celulares. Células-tronco: dilemas e perspectivas no tratamento de doenças neurológicas. Disponível em:<http://www.reacao.com.br/programa_sbpc57ra/sbpccontrole/textos/rosaliamendezotero.htm>. Acesso em: 03 abr. 2006. 3 NEMETZ, Luiz Carlos. A Lei de Biossegurança. Disponível em: <http://www.ambito-juridico. com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&art.> Acesso em 23 maio 2006. 4 MENDEZ-OTERO, site cit 5 Adaptação por Margareth Franco, do artigo de Antonio Carlos Campos de Carvalho, publicado originalmente na revista Ciência Hoje (SBPC), vol. 29, n. 172, junho de 2001, com autorização, revisão e atualização do autor. 6 PEREIRA, Lygia da Veiga. A expectativa das células-tronco embrionárias no Brasil. Disponível em: <http://www.reacao.com.br/programa_sbpc57ra/sbpccontrole/textos/lygiapereira.htm>. Acesso em 23 maio 2006. 7 PEREIRA, Lygia Veiga, site cit. 8 ��������������������������������������������������������������������������������������������� GALLIAN, Dante Marcello Claramonte, “Por detrás do último ato da ciência-espetáculo: as células tronco embrionárias”, Estudos Avançados, São Paulo, v.19, n.55, 2005. Disponível em:<http:// www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000300018&lng=pt&nrm=is>. Acesso em: 22 jul. 2006. 9 MENDEZ-OTERO, Rosália, site cit. 10 SARTORI, Des. Ivan Ricardo Garisio. Célula-tronco, Direito não se submete a barreiras morais e religiosas. Disponível em: <http://conjur.estadao.com.br/static/text/37274,1>. Acesso em: 20 jun 2006. 11 AMORIM, Cristina. BioNotícias, Presente e futuro das células-tronco. Disponível em: <www. biotecnologia.com.br/bionoticias/noticias/asp?id>. Acesso em 28 mar. 2006. 12 BioNotícias, site cit 13 Revista SUPERINTERESSANTE, na trilogia que se iniciou com Quando A Vida Começa?novembro de 2005-edição 219, artigo O PRIMEIRO INSTANTE, texto de Eliza Muto e Leandro Marloch, p.60. 14 PEGORARO Olinto O. Cadernos Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,12 (1); 89, 2004. 15 apud Maria Helena Diniz, O estado atual do Biodireito, Saraiva, 3a. edição, 2006, p. 617. 16 p 59. 17 Anatomia-Wikipédia. História da Anatomia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Hist%C3%B3ria_da_anatomia>. Acesso em: 21 jun. 2006. 18 COSTAS, Ruth. Fim da polêmica. Revista Veja, 30 ago. 2006, p.86. 19 As razões da fé. Disponível em: <http:revistagalilei.globo.com/Galielu/0,6993, ECT1045095. - 1719,00.html>. Acesso em: 25 ago 2006. 20 Instituto Ciência e Fé – Encontro – Uma discussão a favor da vida. Disponível em: <http://www. ciencia efe.org.br/jornal/e69/Mt01.htm>. Acesso em 25 ago. 2006 21 DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito, Saraiva, 2006, p.24. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 131 22 23 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 34ª edição, 2005,p. 197. PINHEIRO, Aline. Consultor Jurídico, Direito da Ciência. Disponível em: <http://conjur.esta- dão.com.br/static/text/39232,1>. Acesso em 24 maio 2006. V Encontro de Bioética do CREMERJ, A Bioética e o Uso de Células-Tronco. Disponível em: <http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/artigo%zoroland_bioetica.pdf>. Acesso em: 22/7/2006. 25 MOVITAE – Movimento em prol da vida, Clonagem Humana. Disponível em: <http://www. movitae.bio.br/texto_dvarella_0405.htm>. Acesso em 23 mai 2006. 26 ����������������������������������������������������������������������������������������� SARTORI, Des. Ivan Ricardo Garisio. Célula-tronco, Direito não se submete a barreiras morais e religiosas. Disponível em: <http://conjur.estadao.com.br/static/text/37274,1>. Acesso em: 20 jun 2006. 24 27 Célula-Tronco:Posicionamento dos Países Europeus. Disponível em: <http://www.ghente. org/temas/celulas-tronco/discussao_europeus.htm>. Acesso em: 17 mai. 2006. 28 CIÊNCIA E VIDA-UE apóia estudo de célula-tronco de embrião humano. O Globo, 25 jul. de 2006, p.30. 29 Movitae, em sua peça de defesa, na ADI 3510, nota 62. Referências AMORIM, Cristina. BioNotícias, Presente e futuro das células-tronco. Disponível em: <www.biotecnologia.com.br/bionoticias/noticias/asp?id>. Acesso em 28 mar. 2006. AS RAZÕES DA FÉ. Disponível em: <http:revistagalilei.globo.com/Galielu/0, 6993, ECT1045095. - 1719,00.html>. Acesso em: 25 ago 2006. CÉLULA-TRONCO:POSICIONAMENTO DOS PAÍSES EUROPEUS. Disponível em: <http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/discussao_europeus.htm>. Acesso em: 17 mai. 2006. CIÊNCIA E VIDA - UE APÓIA ESTUDO DE CÉLULA-TRONCO DE EMBRIÃO HUMANO. O Globo, 25 jul. de 2006. COSTAS, Ruth. Fim da polêmica. Revista Veja, 30 ago. 2006. DINIZ, Maria Helena. O estado atual do Biodireito, Saraiva, 3a. edição, 2006. FRANCO, Margareth. Adaptação do artigo de Antonio Carlos Campos de Carvalho, publicado originalmente na revista Ciência Hoje (SBPC), vol. 29, n. 172, junho de 2001, com autorização, revisão e atualização do autor. GALLIAN, Dante Marcello Claramonte. “Por detrás do último ato da ciênciaespetáculo: as células tronco embrionárias”, Estudos Avançados 19 (55), 2005, p. 255. 132 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. 119-134, p. 21 -39, jan/jul. 2007 HERTON, Escobar. Pesquisas com célula-tronco vão receber R$ 11 milhões. O Estado de São Paulo – Vida & - 20 abr. 2005. Disponível em: <http:www. unicamp.br/unicamp/canal_aberto/clipping/abril2005/clipping050420>. Acesso em: 12 set. 2006. INSTITUTO CIÊNCIA E FÉ – ENCONTRO – UMA DISCUSSÃO A FAVOR DA VIDA. Disponível em: <http://www.ciencia efe.org.br/jornal/e69/Mt01.htm>. Acesso em 25 ago. 2006. MENDEZ-OTERO, Rosalia. Células-tronco em terapias celulares. Célulastronco: dilemas e perspectivas no tratamento de doenças neurológicas. Disponível em:<http://www.reacao.com.br/programa_sbpc57ra/sbpccontrole/ textos/rosaliamendezotero.htm>. Acesso em: 03 abr. 2006. MOVITAE, em sua peça de defesa, na ADI 3510, nota 62. MOVITAE – MOVIMENTO EM PROL DA VIDA, CLONAGEM HUMANA. Disponível em: <http://www.movita.bio.br/texto_dvarella_0405.htm>. Acesso em 23 mai 2006. NEMETZ, Luiz Carlos. A Lei de Biossegurança. Disponível em: <http://www. ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&art.> Acesso em 23 maio 2006. - PEGORARO, Olinto O. Cadernos Saúde Coletiva, Rio de Janeiro,12 (1); 89, 2004. PEREIRA, Lygia da Veiga. A expectativa das células-tronco embrionárias no Brasil. Disponível em: <http://www.reacao.com.br/programa_sbpc57ra/ sbpccontrole/textos/lygiapereira.htm>. Acesso em 23 maio 2006. PETIÇÃO INICIAL da ADI 3510. PINHEIRO, Aline. Consultor Jurídico, Direito da Ciência. Disponível em: <http:// conjur.estadão.com.br/static/text/39232,1>. Acesso em 24 maio 2006. REVISTA SUPERINTERESSANTE, na trilogia que se iniciou com Quando A Vida Começa?- novembro de 2005-edição 219, artigo O PRIMEIRO INSTANTE, texto de Eliza Muto e Leandro Marloch, p.60. SARTORI, Des. Ivan Ricardo Garisio. Célula-tronco, Direito não se submete a barreiras morais e religiosas. Disponível em: <http://conjur.estadao.com.br/ static/text/37274,1>. Acesso em: 20 jun 2006. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 119-134, -3 9, jan/jul. 2007 133 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 34ª edição, 2005,p. 197. V ENCONTRO DE BIOÉTICA DO CREMERJ, A Bioética e o Uso de CélulasTronco. Disponível em: <http://www.ghente.org/temas/celulas-tronco/ artigo%zoroland_bioetica.pdf>. Acesso em: 22/7/2006. WIKIPÉDIA - A ENCICLOPÉDIA LIVRE. Anatomia. História da Anatomia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_anatomia>. Acesso em: 21 jun. 2006. ZATZ, Mayana. Saúde e Higiene: Esperança Renovada. Disponível em: <http:// temas.buscaki.com.br/saúde/0031htm>. Acesso em: 22 jul. 2006. 134 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.119-134, 21 -39, jan/jul. 2007 Direito digital e infoguerra Regulamentação do Ciberespaço: realidade ou utopia? Jorge Roberto J. da Silva. Doutor em Ciências Jurídicas e Sociais, estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia da Escola Superior de Guerra no ano de 2005. 1 - Prolegômenos tecnológicos e jus-filosóficos A Telemática1 tornou-se o eixo giratório da sociedade digital e, por conseguinte, implicando na necessidade de transformação do sistema normativo mundial, portanto, de abrangência transnacional, tendo como objetivo a criação de um Tribunal Internacional2 que julgue crimes virtuais. Entrementes, essa tecnologia aboliu barreiras ao comércio convencional, com isso tornando indispensável a cooperação planetária no combate ao crime virtual - conduta essa praticada por cibernautas extremados dos limites temporal, cultural e moral. Portanto, é preciso agir exatamente como se faz no mundo real ou dos átomos, como sói acontecer, no combate ao comércio internacional de drogas e outras práticas criminosas no âmbito interfronteiras3. Várias pesquisas constatam, que a evolução científica da computação eletrônica causou um impacto muito mais intenso do que a imprensa, máquina a vapor, motor a explosão, energia elétrica e nuclear, não ficando restrita apenas ao universo tecnológico,4 mas extravasando para uma cosmovisão, que envolve o campo da Ciência e Filosofia, notadamente, da Ciência do Direito, Ciência Política, Filosofia do Direito e Filosofia Política, pois trata-se concomitantemente de um ambiente transcultural e interdisciplinar. Entretanto, não se pode olvidar, que entre Ciência e a Filosofia ocorre a questão do método, exigindo do pesquisador e estudioso, abordagem do problema, não somente pelo método científico, mas também do método filosófico. Neste diapasão, faz-se oportuno lembrar, que, o método científico já teve seu momento de glória, mas com a crise da ciência moderna, em face da Teoria Quântica e Teoria da Relatividade, a verdade absoluta tornou-se expressiva utopia. Todavia, referindo-se ao método da filosofia, podemos dizer com Giovanni Reale e Dario Antiseri, que: “Não basta à filosofia constatar, determinar dados de fato ou reunir experiências: ela deve ir além do fato e além das experiências, para encontrar a causa ou as causas apenas com a razão. (...) Pode-se dizer que tal caráter é comum também às outras ciências, que, enquanto tais, nunca são mera constatação empírica, mas Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 135 são sempre pesquisa de causas e de razões. A diferença, porém, está no fato de que, enquanto as ciências particulares são pesquisa racional de realidades e setores particulares, a filosofia, conforme dissemos, é pesquisa racional de toda a realidade (do princípio ou dos princípios de toda a realidade).”5 Depreende-se do texto supra transcrito, que, ao analisar fenômenos sociais, jurídicos, políticos e econômicos levados a efeito no ciberespaço, não se pode ficar, apenas, no aspecto das ciências particulares, mas considerando também pressupostos filosóficos, em face destes prestarem auxilio na interpretação dos fatos e fenômeno virtual. Em assim sendo, tal visão fica mais intensa, notadamente, quando se constata fenômenos emergentes de um ambiente onde não se contempla nenhuma espécie de fronteira ou soberania, exceto em alguns países, mas de forma turva e isolada, apresentando desafios transterritoriais para efeito de julgamentos e cumprimento de penas, por crimes praticados via computador. Verdade, é que, no mundo virtual vislumbra-se o reflexo de todos os valores, mazelas e vicissitudes existentes no mundo real, que precisam ser objetos de lei. Por conseguinte, o expressivo diferencial, é, que no mundo dos bits, a punição dos agentes causadores de danos, seja de natureza moral ou patrimonial, fica difícil de ser aplicada, em face de não haver jurisdição internacional, que abarque o agente causador do dano, entrincheirado num continente e, concomitantemente, a vítima localizada em outro. Não há, portanto, qualquer centro de poder político e jurisdicional, sendo assim um ambiente transnacional, sem continentes e fronteiras. Consequentemente, tudo que aí ocorre deve ser pesquisado, estudado e analisado dentro de uma visão holística. Esta é a cobrança ético-moral da tecnologia ciberespacial em um mundo pós-moderno. Portanto, é preciso considerar, que, ao interagir nesse ambiente inseguro, o potencial de destruição de um vírus6 de computador poderá ter conseqüências mais desastrosas do que um ataque no mundo real, se atingir de forma não autorizada o sistema de informações estratégicas de um país. Note bem: os scanners podem ‘escannear’* uma rede de computadores em questão de alguns minutos, apontando bugs,7 portas abertas e revelando sistemas operacionais.8 Do que até aqui foi dito, podemos dizer que estamos diante de armas não letais, porém de poder destruidor imensurável.9 Neste diapasão, tudo o que estiver armazenado em um banco de dados poderá ‘evaporar-se’ numa questão de segundos. Esse novo desafio à segurança da informação, e, levando-se em conta outras descobertas científicas, tais como a biotecnologia, fármacos e bioética, induzem, sobremaneira, o homem do terceiro milênio a profundas reflexões sobre o seu destino e o do Estado, notadamente, no que concerne aos seus arquivos de informações envolvendo assuntos de Segurança Nacional. Daí, o diferencial entre a telemática (integração da informática com 136 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 as telecomunicações)10, e as descobertas científicas anteriormente citadas, onde agora o desafio está na transnacionalidade e na dinâmica da revolução dos bytes. É exatamente aí, que está disfarçado o iminente e sutil perigo a segurança da informação estratégica, pois, sem darmos conta do que ocorre neste cenário, podemos, a qualquer momento, sermos alvos de um planejado ataque de vírus de computador, ou do exercício de técnicas sofisticadas de capturação de dados sigilosos, caindo inesperadamente no laço do passarinheiro, num cipoal virtual inseguro e traiçoeiro - “terra sem lei” - conhecida, apenas, por Rede Mundial de Computadores, interligadas por backbones,11 onde tudo ocorre sem que notemos as suas profundas artimanhas e implicações, tanto no âmbito jurídico, quanto no filosófico, político, sócio-cultural, bem como na segurança nacional, com riscos incalculáveis à soberania do Estado, no mundo real.12 Na ordem de raciocínio do contexto supra, nossa preocupação estribase primordialmente no fato de que o fenômeno cibernético atua tão somente na consciência humana, fonte de toda a criatividade de algoritmos estruturais ciberespacial, ambiente onde agentes cibernéticos arquitetam imprevisíveis e complexas estratégias digitais, sejam de forma transparente e moral, visando o desenvolvimento da humanidade, ou na reprovável conduta de montagem táticas cujo objetivo é simplesmente instaurar futuras guerras virtuais. Neste campo de batalha digital, sairá vencedor aquele que for mais poderoso na posição de defesa ou de ataque nos sistemas de segurança virtual. Embasado nessa linha de raciocínio, veja o que informa John Dentch, diretor da Central Intelligence Agency, dos Estados Unidos – EUA: o terrorismo gerado por meio de computadores será ‘a mais precisa e letal arma de guerra,’13 e esta capacidade já está dominada por organizações terroristas que se autodenominam HEZBOLLAH, e que já atuam no Oriente Médio.14 Ao sofrer o impacto sobre mesmo fenômeno, eis o que conclui Jim Petrom, do Califórnia Specialized Training Institute: “como qualquer crime, é só uma questão de tempo, até que alguém consiga reunir a motivação e o modo para efetuar um desses ataques, mas certamente que alguém o irá fazer no futuro.”15 Assim sendo, é de nosso entendimento de que estarmos diante de uma criação sem limites e auto-reprodutiva, onde os avanços de softwares e hardwares estão sendo utilizados como alicerces para sustentação e desenvolvimento de sistemas ainda mais sofisticados, ora servindo ao progresso da humanidade, ou, lamentavelmente, sendo direcionados à práticas digitais de cunho altamente destrutivo, como por exemplo, banco de dados de empresas e instituições governamentais. Entrementes, será prudente, jamais perder de vista, que todo esse manancial computacional estrutura-se em leis matemáticas16, lógica booleana,17 bem como na construção de algoritmos, o que vem superando sobremaneira as barreiras da tradição geo-política e cultural dos vários países hodiernos, com uma gama considerável de atitudes anti-éticas e criminosa. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 137 Diante dessa realidade, fruto da era pós-moderna, com a implementação da ideologia do pós-tudo, encontra-se a estrutural digital, com profundos reflexos na cybercultura, (sociedade digital) fenômeno este, que vem desafiando juristas, juizes e legisladores, que, não possuindo conhecimentos técnicos-informáticos, ficam adstritos a orientação - quando do julgamento da lide, ou na elaboração de leis - nos pareceres e laudos de especialistas em Informática e Telemática, nem sempre com a necessária eqüidistância do fato, em face de estarem, por vezes, hipoteticamente, quase sempre envolvidos num contexto sócio-cultural, onde prima os mais variados interesses políticos e econômicos, obstaculizando a imparcialidade esperada. 18 Sem dúvida que há considerável e louvável exceção, pois a hipótese levantada serve apenas para argumentar. Daí, para que não ocorra inversão de papéis entre juristas e desenvolvedores de programas de computador, àqueles deverão se conscientizar do lapidar alerta de Borruso:19 “se o jurista se recusar a aceitar o computador, que formula um novo modo de pensar, o mundo, que certamente não dispensará a máquina, dispensará o jurista”.20 Transportando, a visão do mestre italiano supra, para pós-modernidade, percebe-se que, principalmente nos Estados Unidos, vem aumentando a necessidade de segurança de dados, através do desenvolvimento da tecnologia criptográfica, com isso concebendo-se a construção de uma nova ordem de domínio econômico, qual seja, a exportação de tecnologia de segurança de redes, alicerçada em dosadas quantidades tecnológicas de bits, e, conseqüente monopólio no setor da segurança digital. É como se a paz social virtual estivesse atrelada a um tipo de Justiça baseada tão somente na fórmula de chaves virtuais públicas (public key) ou privadas, (private key), portanto, sem qualquer compromisso com a capacidade racional do ser humano para concepção de sistemas jurídicos mais condizentes com a era da telemática.21 Nota-se, que sistemas tecnológicos de segurança, advindos das mais variadas fontes, disputam sobremaneira com legisladores e instituições governamentais, o poder de controle sobre os internautas. Assim, ao pautar a reflexão sobre esta realidade, não se pode olvidar, que os princípios do ‘não há crime sem lei anterior que o defina’ e ‘não há pena sem prévia cominação legal,’ encontram-se em plena evidência no atual cenário cibernético, gerando profundos reflexos no mundo real. Assim, diante do quadro supra, podemos concluir que a situação caótica ciberespacial vem beneficiando consideravelmente os hackers e crackes que, encontrando-se num ambiente beneficiado pela falta de lei e com abrangência planetária, escondem-se no anonimato, bem como em países propícios a prática do terrorismo de Estado, daí levantando ‘trincheiras’ para prática de crimes contra a propriedade intelectual, banco de dados institucionais, dentre outros delitos que 138 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 atentam frontalmente contra a moral e a ética universal, sem sofrerem qualquer tipo de penalidade. Percebe-se, também, que o computador vem sendo utilizado como instrumento à prática de pedofilia, captura de dados sigilosos, dinheiro virtual de bancos, publicação de textos e obras de arte não autorizados, bem como uma gama considerável de crimes previstos nos ordenamentos jurídicos unilaterais dos, aproximadamente, duzentos países que dividem os espaços geo-políticos onde se espraiam as respectivas soberanias implementadas paulatinamente ao sabor da História Universal e Política do mundo dos átomos, ou seja, o mundo real. Malgrado tudo o que acima foi exposto, autoridades de alguns países já manifestam interesse em criar sistemas jurídicos que venham a disciplinar condutas humana no âmbito digital – hodiernamente pulverizada de atos ilícitos -, embora ainda lastreada à luz do princípio genuinamente territorialista, o que concordamos em parte, pois, haja visto, a falta de fronteiras físicas e soberania no mundo ciberespaçial.22 E não podia ser de outro modo, pois é missão da Ciência do Direito tipificar condutas e construir condições à tomada de decisões justas, tanto em âmbito nacional, quanto internacional, e, agora no ambiente binário. Então, faz-se notório que, para atingir esse desafiador objetivo, sustente-se em três pilares teóricos fundamentais, quais sejam: a teoria da norma, a teoria da interpretação e a teoria da decisão,23 voltados, naturalmente, ao escopo virtual. Daí, ao pautar nossa reflexão nessa direção, podemos afirmar que o direito jamais permitirá que a sociedade digital, mesmo que alicerçada em bytes, se auto-governe e tome suas próprias decisões, respaldadas tão somente em tecnologias de segurança.24 Nesse diapasão, apenas para ilustrar, podemos dizer que - na remota hipótese de se implantar a tolerância no confronto com a desordem virtual, portanto, sem imposição de barreiras, e, considerando apenas que interesses do mundo ciberespacial fiquem protegidos somente através de ‘carros fortes virtuais’, (programas de segurança) tornando vulneráveis as corporações sem possibilidade financeira para custear tecnologia criptográfica de ponta25 - a Ciência Jurídica estará esvaziando sua própria razão de existir.26 Então, torna-se necessário a manutenção da tradicional crença de que o velho brocardo latino, ubi societas, ibi jus - onde está a sociedade está o Direito -, em nada perdeu de sua força, pois, no bojo deste ambiente invisível permanece o homem real, e, conseqüentemente o jurista, que, convenhamos, ainda encontra-se um pouco inerte diante do impacto provocado pelo misterioso substrato digital da tecnologia da informação, que nem sempre respeita fronteiras, haja vista que no ciberespaço nem as possui como forma de limitar as soberanias estatais. No entanto, a oxigenação de nossa mente e conseqüente esperança, se aflora nessa feliz afirmativa de Martin Pierre-Marie: “Assim como a missão da Ciência é conceber o inconcebível, uma das missões mais apaixonantes do direito é conciliar o que muitas vezes parece irreconciliável.” Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 139 Podemos, então, consolidar a esperança da elaboração de um ordenamento jurídico internacional implementado no mundo virtual, embora construído a passos módicos.27 Entrementes, podemos dizer que, como se trata de tema sobremaneira complexo, conectando de forma tão expressiva a Cibernética, Informática, Telemática, Ciência do Direito, Ciência Política, Filosofia Pura, Filosofia do Direito e as mais variadas Ciências, face da amplitude imensurável do Ciberespaço, é de bom alvitre refletir sobre o que diz David R. Koepsell, embora este se refira apenas a propriedade intelectual, in A Ontologia do Ciberespaço: a Filosofia, a Lei e o Futuro da Propriedade Intelectual. São Paulo: Madras, 2005, p. 28. “os filósofos ainda não trataram de modo adequado os problemas ontológicos apresentados pelo ciberespaço, o sistema legal está lidando com os problemas práticos levantados pelo aparecimento de meios computadorizados. A lei da propriedade intelectual desenvolveu um útil esquema categórico que pode ser usado sem dificuldade como ponto de partida para um estudo ontológico de ciberespaço. A utilidade desse esquema categórico deve-se, em parte, ao fato de que a lei da propriedade intelectual foi elaborada em torno de uma ontologia incipiente. O que segue é um esquema categórico legal para propriedade intelectual, variando desde os objetos que receberam menos proteção legal até os que receberam mais”. 2- Embasamento teórico para o controle jurídico do fenômeno ciberespacial Duas correntes jusfilosóficas buscam estabelecer uma teoria para regulamentação da Internet. De um lado, a visão do ciberespaço como um ‘território’ à parte merecendo jurisdição específica, corrente esta que adotamos; e a de pólo oposto, com a defesa da tese de que ‘nada existe de novidade em termos legais’. Os corifeus desta linha, sustentam que os tipos penais previstos nos sistemas jurídicos vigentes podem perfeitamente ser aplicados nos crimes informáticos, oferecendo todas as condições ao cumprimento desse desafio cibernético, fruto da vida digital. Ora, razão teriam seus defensores, se os crimes cibernéticos pudessem ficar adstritos tão somente nos limites fronteiriços do território onde ocorreram, o que não acontece no âmbito do Ciberespaço. Assim sendo, conforme vimos tecendo no decorrer de nossas palestras, sempre levadas a efeito no universo acadêmico e empresarial, 28 com a devida vênia, refutamos, em parte, esta teoria, face a mesma não possuir consistência lógica no âmbito de um mundo construído e 140 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 estruturado essencialmente pelo sistema binário, matemático, abstrato, sem fronteiras, e, conseqüentemente, sem o respectivo controle estatal. Senão vejamos: se o agente causador do dano encontrar-se vinculado noutro ordenamento jurídico alheio ao da vítima, indubitavelmente ocorrerá conflitos de leis no espaço real, com toda sorte de controvérsias doutrinárias que tratamos no bojo de nossos artigos, concebidos até a presente data. Temas vinculados há vários ramos do direito serão alvo de questionamento, tais como: Princípio da reserva legal; Qual o juízo competente para julgar a lide? Onde será executada a pena? Qual a natureza da prova documental virtual? Conceito de propriedade virtual; Competência tributária em território sem soberania, pressuposto este de legitimidade para instituição de tributos, dentre outros. Eis, pois, o motivo pelo qual vislumbrarmos solução tão somente através de tratados internacionais, bem como a abdicação - pelas nações interessadas na regulamentação ciberespacial - de alguns valores mais específicos direcionados a convivência internacional, desde que possuam naturalmente, a natureza transnacional, e, também sustentem o corpo normativo dos tratados com princípios jusnaturalistas, em sua vertente jusracionalista. Desta forma, o Direito Natural, comum a todos os homens, funcionará como uma espécie de amálgama e substrato inspirador no sentido de possibilitar o início das negociações para instituição de regras de amplitude planetária, que, após aprovação em foro universal, - sem modelo prévio de razões de Estado ou posições estereotipadas -, finalmente venham a tornarem-se positivadas. 3 - Escorço histórico, com reflexos na atualidade No século XVIII, baseando-se no Direito Natural, na razão e nas necessidades individuais fundamentais, Grotius,29 concebeu, à luz do jusgentium, o direito internacional, embora inspirando Lock e Rousseau. Tempos depois, já no século XX, dos escombros e das cinzas, resultado da última grande guerra, renasce o Direito Natural como força inconteste para criação das Organizações das Nações Unidas - ONU.30 Hodierno, a encruzilhada virtual - representada por quatro grandes sistemas do direito contemporâneo que, ideologicamente interagem no espaço virtual planetário ilimitado, sem fronteiras e soberania-, aponta mais uma vez o jusracionalismo como hipótese viável ao estabelecimento de substrato de princípios, que objetivem alicerçar a nova ordem transnacional e transcultural, embora, a posteriori venham desaguar no direito posto.31 Entrementes, faz-se oportuno consignar o aparecimento de um impacto entre alguns internautas de boa fé e moral inconteste, em face das Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 141 declarações do astrônomo Clifford Stoll, da Universidade de Berkeley: Diz este: “A Internet é a coisa mais próxima da verdadeira anarquia jamais vista”. Entretanto, ao contrário dessa mórbida declaração, entendemos que a Ciência do Direito continuará possuindo o caminho do consenso, desde que juristas, legisladores e autoridades governamentais conscientizem-se de que chegou o momento de se despojarem de parte valorativa e cultural, em benefício do todo interplanetário e transcultural.32 Não vem de mim esta cobrança, mas do âmbito ético e racional que interage no mundo virtual, com o propósito de regulamentá-lo.33 Assim, havendo vontade política para regulamentação do ciberespaço, consignada em tratado internacional, conceitos de soberania deverão ser reavaliados à luz do moderno ‘poder constituinte virtual’, resultado este da realidade existencial da aldeia global ciberespacial. Tradições culturais milenares, enraizadas e pulverizadas em sistemas jurídicos34 que dominam os atuais países, tais como o common-low, romano-germânico, muçulmano, socialista, bem como as vertentes representadas pelo subsistema hindu e chinês, terão que repensar alguns de seus valores, 35 em benefício de outros mais condizentes com a realidade irreversível da tecnologia digital e, conseqüente, convivência na sociedade digital planetária. Neste diapasão, o Direito Natural, 36 sustentado pela visão jusracionalista, 37 em nosso entendimento é a única vertente do pensamento jurídico capaz de possuir a ‘raiz da possibilidade’ em modernizar-se através dos tempos, pois, possui ‘conteúdo progressivo’, adaptável a qualquer homem, em qualquer lugar e em qualquer época. O insigne professor e jusfilósofo Paulo Dourado de Gusmão, sempre lembrou-nos que; “As transformações ocorridas no mundo, pelas duas grandes guerras, forçaram juristas e filósofos a modificarem a idéia de direito natural, porém, sem destruir o direito natural”38 Lastreado no pensamento de Paulo Dourado Gusmão em relação ao período do pós-guerra, podemos também concluir que tal fenômeno venha a repetir-se no contexto social digital da grande rede de computadores, reaparecendo, portanto, o jusracionalismo no cenário normativo digital, embora com outra faceta, à enfrentar o desafio da transnacionalidade do território ciberespacial. É notório, porém, que sua seiva jamais fora modificada, exatamente, como sustentou Renard,39 em ensaios elaborados noutra época, que, dentro de outros matizes, pareceu tão conflituosa quanto a que hoje estamos vivenciando no âmbito da Internet. Faz-se oportuno ainda lembrar, que o Direito aplicado na grande rede não pode ser transformado numa lógica abstrata, alheio a experiência secular das civilizações,40 nem tampouco ser travestido no resultado duma dogmática 142 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 estereotipada, portanto, destituída de qualquer compromisso transcultural entre nações envolvidas, face a imposição de princípios e regras dos países mais poderosos. No mundo virtual, sem qualquer tipo de proprietário, o Direito deve funcionar como instrumento de aplicabilidade da mais lídima justiça, dentro de um ambiente transnacional, tal como vem ocorrendo com o Direito Espacial no espaço sideral, pois sem dúvida, estamos diante de uma criação do gênero humano e não de algum país específico. Finalmente, cabe ainda consignar que, muito embora não estejamos tratando de Direito Espacial, como foi acima apenas para ilustrar, mas sim do ciberespaço, dever-se-á ter sempre em “mira o bem e o interesse de todos os países, qualquer que seja o estágio de seu desenvolvimento econômico científico,” incumbência que se tributa a toda humanidade.41 4 - Conclusão Depreende-se de tudo até aqui foi exposto, que não é nossa pretensão alimentar a idéia de unificar o Direito em proporção planetária, visão esta, utópica em face das inúmeras culturas e valores intrínsecos disseminados na consciência humanitária secular, enraizado, portanto, nos espíritos das nações. Nesta linha de pensamento de Gabriel Tarde,42 podemos concluir com este, que a idéia de “integração ou junção de ordenamentos jurídicos e institutos” há muito encontra-se superada mas, que, em “nada obsta, que se unifique (...) uniões supranacionais de paises com leis e tribunais acima do Direito Nacional tal como a União Européia e a ONU,43 e, porque não, hodiernamente, inserirmos nessa reflexão o ciberespaço, cenário este tão presente e real, embora paradoxalmente virtual. Entrementes, no que concerne ao Brasil, as leis penais encontram-se fundamentadas em princípios essencialmente territorialista, portanto em pólo oposto a natureza virtual, lógico-binária e transnacional do ciberespaço; não estão assim legitimadas para abarcar fenômeno de proporção tão gigantesca como a planetária. Imaginar sistema jurídico ciberespacial nacional, sem visão internacional, dentro de um ‘território’ estruturado em camadas de fórmulas algoritmas, sem fronteiras e autoridade, com dimensões incomensuráveis é, no mínimo, insistir num gravíssimo erro lógico-matemático, muito embora já existam leis internas voltadas para a Internet. Entretanto, cabe lembrar que seus efeitos limitam-se apenas a abarcar a jurisdição protegida tão somente pela soberania do respectivo país onde encontra-se o autor e a respectiva vitima. Assim, considerando que a justiça dos homens se lastreia num espectro de valores consagrados no bojo da tradição de cada sociedade, com seus costumes e valores por vezes milenares, compreendemos, que para haver Tratado de Regulamentação da Internet em âmbito Global - e não somente brasileira, ou de outros países de forma isolada -, será preciso que a parceria Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 143 da Ciência do Direito, Informática e Telemática, concebam negociações entre as nações, no foco de padrões interculturais adequados ao jusracionalismo, pois somente os seus princípios universais generalíssimos, vem incrustados na consciência de cada homem, portanto, sendo a única corrente de pensamento legitimada a criar, à luz da razão, “um sentido do agir comunicativo”,44 bem como igualdade e justiça nas relações jurídico-sociais virtuais. Porém, para que o jurista hodierno não venha desembocar suas elucubrações jusfilosóficas no pensamento estéril, portanto, sem sentido, deverá ter sempre em mente, que o ciberespaço possui âmbito planetário e transcultural há manter um desafio constante à sua regulamentação, sempre evidenciado com “o espírito dialético da liberdade”. Ao aceitar o desafio de normatização da aldeia global virtual, pode-se dizer, ao contrário do teórico político Fukuyama, que a História está longe de terminar,45 pois ainda nem chegou ao seu mais remoto limite, havendo ainda muito o que se refletir sobre pós-modernidade, neo-liberalismo e ciberespaço, com as suas respectivas contradições, conflitos e reflexos “entre os blocos culturais do mundo”... “na era pós-comunismo.”46 Cabe ainda ressaltar que a Filosofia, mais precisamente a Jusfilosofia, ainda tem extensa tarefa há cumprir, mesmo que reflita ainda por muito tempo sobre o doloroso impacto da falta de ética no ambiente cybercultural, situação esta, portanto, diametralmente oposta ao pessimismo lapidar de Richard Rorty, que vem apregoando o seu fim.47 Entrementes, apesar do seu racionalismo cético, estamos com EmileAuguste Chartier48, mais conhecido pelo pseudônimo de Alain, quando este diz: “Jamais se delega a função de pensar”. E a humanidade ainda tem muito o que pensar.49 Nesse diapasão, as conseqüências do ‘pensar com a mente de outrem’ são funestas, pois a omissão crítica diante da vida desemboca na mais profunda ingenuidade existencial. Convenhamos: “Viver sem filosofar é como ter os olhos fechados sem jamais fazer esforço por abri-los; e o prazer de ver todas as coisas que nossa vista descobre não é comparável à satisfação que dá o conhecimento daquelas que se encontram pela filosofia; e seu estudo é mais necessário para regular nossos costumes e nos conduzir na vida que o uso dos nossos olhos para guiar nossos passos.”50 Por derradeiro, vislumbramos no jusnaturalismo contemporâneo a desvinculação da idéia de um Direito Natural metafísico, portanto, extra-histórico, eterno e imutável. Assim sendo, o jusnaturalismo tem, hodiernamente, a posição de vanguarda em face do Direito Posto no sentido de tomar parte na transformação e adaptação do Direito Positivo de qualquer país às mudanças sociais, que são mais velozes que as instituições que criam e aplicam as leis. É o caso do ciberespaço, que reivindica uma nova ordem normativa mundial fundamentada no senso de justiça universal, no âmbito da Aldeia Global Virtual, não constituída de 144 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 crosta terrestre, mas estruturada na criação humana dos números binários, que transmitem informações, sendo estas representados por zeros e uns – 010101, conforme idealizado Gottfried Wilhem Leibniz no século XVII. Notas 1 Sendo o Direito de Informática de natureza interdisciplinar, cabe-nos elucidar a distinção entre este e a Telemática. De origem francesa, a Telemática derivou-se da expressão information automatique e foi adotada em 1962, por Philippe Dreyuis. São várias as teorias que lhe dão o status de ciência de uso da informação integrada ao computador. Enquanto, porém, a Informática possui aspecto estático, a Telemática tornou-se o seu aspecto dinâmico. Esta distinção natural possivelmente influenciou alguns autores. Nora e Minc, se manifestaram na França, através de um relatório apresentado ao então Presidente da República Valéry Giscard D’Estaing, a expressão Télécomunication Automatique ou Informatique. Assim diz Frosini a respeito: ‘Telemática corresponde ao procedimento da elaboração das informações à distância e, por conseguinte, ao movimento de circulação automática dos dados informativos, que ocorrem no diálogo com calculadores eletrônicos, utilizando os terminais inteligentes, capazes de receber e transmitir. A Telemática contribuiu para colocar a informação em liberdade, conferindo-lhe plena autonomia de circulação.’(FROSINI, Vittorio. Diritto dell’ informática negli anni ottanta. Milão, Milano, 1984). 2 Eis, o que disse um membro do Comitê Gestor, in Carta Capital, Ano XIII, nº 427: “precisamos de um Tribunal Internacional. (...)”. O episódio demonstra que a Justiça ainda não é capaz de lidar com os limites da Internet, ressalta a citada Revista em sua respectiva capa, referindose a invasão de privacidade de uma conhecida personalidade. 3 Atente para a informação de Maria Helena Junqueira Reis, “os dados do Instituto Suíço de Seguros sobre as perdas anuais que as companhias seguradoras da Suíça sofrem, tem o montante de US$ 2,86 milhões, em conseqüência desses crimes.” Referindo-se a França, assim continua a citada autora: “em 1984, o resultado dos diferentes tipos delituosos vinculados à informática atingiu a soma de 700 milhões de francos,”(...) “valor dez vezes ao produzido a assaltos a bancos, ocorridos em toda a França.” (Reis, 1997:14). 4 SILVA, Jorge Roberto J. da. Entrevista “Direito e Informática: união sem volta.” Informativo ADCOAS, nº 13/14, 1998, pp. 6 - 7. 5 REALE, Giovanni – ANTISERI, Dario. História da filosofia: filosofia pagã antiga. 2ª ed. São Paulo: Paulos, V1, 2004, p.11. 6 VÍRUS – Programa que tem como característica primordial, acoplar-se em outros programas. Suas ações são inesperadas e com finalidades destrutivas. Todavia, já foram criados antídotos, ou seja, outros programas que protegem o computador e seus softwares desta maldita ‘moléstia virtual’. Podemos citar alguns, quais sejam: Sexta feira 13 – aloca-se na memória do computador, tornando-a lenta; Michelangelo – ataca os discos magnéticos, depois de instalarse na memória do PC. Stoned ou Pato Donald – após instalar-se na memória do computador, mostra mensagem na tela do monitor, atacando, logo após, o winchester e os disquetes. 7 SILVA, Jorge Roberto J. da. Entrevista: ‘Bug’ do milênio: reflexos jurídicos. Informativo ADCOAS, nº 16, 1999, p. 3. * Demorou mas caiu a ficha. Depois de fraudes e prejuízos causados por Worms, cavalos-de-tróia, scans, Keylogs e outras ameaças digitais, a segurança movimentou 100 milhões de dólares em 2005, valor que deve se repetir em 2006. ( Info Canal. Revista especializada em TI, edição 8. Dez./2005, p. 24).* “Os indigitáveis: saiba como os Hackers fazem para deixar os Trajans e Sywares invisíveis diante do seu antivírus “ (...) “Quando um vírus novo é descoberto, a equipe da empresa do antivírus tem poucas horas para tentar identificálo e disponibilizar uma vacina contra o mesmo“. Ver. Software e Segurança. Ano 1 (Escala), p. 14.* MORAZ, Eduardo. Treinamento Profissional Anti-hacker: entenda a ação dos Hacker e saiba como se proteger. Editora Digerati Books, p. 15. (...) “Os inimigos: Hackers, Crackers, Phreaker, Defacers, Sript, Kiddies, Lammers (...) ���������������������������������������������� Diversos itens de uma vasta lista que, surpreendentemente, inclui até os usuários e especialistas de TI e administradores de sistemas.” Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 145 8 Veja: www.self_evidente.com Parte II - Tecnologias – 5, p. 87: Armas Eletromagnéticas. ALEXANDER, John B. Trad. José Magalhães de Souza. Armas não-letais: alternativas para os conflitos do século XXI.. Rio de Janeiro: Apoio editorial: Condor: munições não letais e Welser Itage, 2003. 10 Cibernética, Informática e Telemática: Na lição de Flamarion Tavares Leite, “a informática constitui uma ciência particular, integrada a outra de maior amplitude – a Cibernética (poderíamos dizer que a informática é uma espécie do gênero Cibernética). Destarte, a Cibernética ultrapassa os domínios da informática”. In, Os Nervos do Poder: uma visão cibernética do direito. São Paulo: Max Limonad, 2001. 11 Backbones: é uma rede física por onde trafegam dados pela Internet. Trata-se de um conjunto de equipamentos e conexões telefônicas tais como, linhas de comunicações construídas de fibras óticas, servidores de acesso, roteadores, dentre outros componentes eletrônicos. Neste local trafegam, em alta velocidade, pacotes contendo quantias consideráveis de informações codificadas no sistema binário. No Brasil, o backbone que interliga os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília – capital da República -, tem velocidade de 2Mbps. Existem outras cidades com backbones de menor velocidade, qual seja, de 60 Kbps. 12 Há quem pense diferente. Vejamos o que diz John Perry Barlow, in Declaração de Independência do Ciberespaço: “Governos do Mundo Industrial, gigantes aborrecidos de carne e aço, venho do espaço cibernético, o novo lar da mente (...). Não temos governos eleitos, nem é provável que tenhamos um, então me dirijo a vocês sem autoridade maior do que aquela com a qual a liberdade por si só sempre se manifesta. (...). Essas medidas coloniais e hostis nos coloca na mesma posição daqueles antigos amantes da liberdade e auto- determinação que tiveram de rejeitar a autoridade dos poderes distantes e desinformados. (...) Precisamos nos declarar virtualmente imunes de sua soberania, mesmo se continuarmos a consentir suas regras sobre nós. Nos espalharemos pelo mundo para que ninguém consiga aprisionar nossos pensamentos. Criaremos a civilização da Mente no espaço cibernético. Ela poderá ser mais humana e justa do que o mundo que vocês governantes fizeram antes.”Davos, Suíça 8 de fevereiro de 1996. John Perry Barlow é um fazendeiro aposentado, lírico do Grateful Dead e co-fundador da Fundação da Fronteira Eletrônica. www.home.eff.org/~barlow/libary.html 13 Conforme esclarece Fiúza Junior, Naul. “a atividade de Inteligência, que até o final da Guerra Fria tinha simplesmente conotações ideológicas, agora passa a se preocupar, prioritariamente, com a produção do Conhecimento e com sua segurança, tanto na área governamental como na área privada, pois o manuseio das informações vitais democratizou-se e tornou-se mais aberto, graças ao barateamento dos componentes eletrônicos e à facilidade com que o grande público acessa essas informações”. In, As Atividades Estratégicas do Estado e a Segurança da Informação. Monografia. ESG – CSIE – 1997. 14 BIT. Informação Para Todos, nº 9, ano I, p. 32 3 ss. Lisboa: Portugal. 15 Idem. 16 “(...) os Pitagóricos chegaram a pôr o número como princípio de todas as coisas. (...) Para nós o número é uma abstração mental e, portanto ente da razão; (...) o número não era um aspecto que nós mentalmente abstraímos das coisas, mas sim a própria realidade, a physis das próprias coisas”. Reale, Giovanni – Antiseri, op. cit. p. 27. Wertheim, Margaret, em Uma história do espaço: de Dante à internet. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2001, (contra-capa), fazendo “(...) a ponte entre as ciências do espaço e a história cultural mais ampla, (...) desafia a corrente que tende a espiritualizar o ciberespaço, sugerindo que se trata de um conceito incapaz de sustentar sonhos religiosos.” No que concerne a filosofia, vejamos: “Na tradição clássica e escolástica, a metafísica é a parte mais central da filosofia, a ontologia geral, o tratado do ser enquanto ser. A metafísica define-se assim como filosofia primeira, como ponto de partida do sistema filosófico, (...) na medida em que examina os princípios e causas primeiras, e que se constitui como doutrina do ser em geral, e não de suas determinações particulares: inclui ainda a doutrina do Ser Divino ou do Ser Supremo. (...) No pensamento moderno, a metafísica perde, em grande parte, seu lugar central no sistema filosófico, uma vez que as questões sobre o conhecimento passam a ser tratadas como logicamente anteriores à questão do ser, ao problema ontológico. A problemática 9 146 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 da consciência e da subjetividade torna-se assim mais fundamental.” Japiassú, Hilton. Marcondes, Danilo. 3ª ed. Dicionário básico de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996, p, 180. 17 BIT - abreviação de binary digit, são sinais que transmitem informações, sendo representados por zeros e uns - 010101. Foi idealizado pelo filósofo e matemático Gottfried Wilhem Leibniz no século XVII. Um bit - só pode fornecer dois códigos, quais sejam: ‘bit on’ ou ‘bit off’. O byte – binary term - é a unidade básica da informação. Este é composto de 8 bits, pois, na maioria dos códigos utilizados em computadores, cada letra , algarismo ou símbolo tem necessidade de oito dígitos binários para poder ser identificado – 10101010. 18 SILVA, Jorge Roberto J. da . Filosofia do direito e internet: óbices políticos, ideológicos e jurídicos à regulamentação do ciberespaço. Doutrina, ADCOAS, nº 3, 2001, p. 77-80. 19 SILVA, Jorge Roberto J. da. Direito & Regulamentação do Ciberespaço: aspectos jurídicos e filosóficos. [S.I.]: 2002. Disponível em: http://www.consumidordigital.com/ ARTIGO%CIENTIFICO%20JR.doc. 20 BORRUSO, Renato. Computer e Diritto: Analisis Giuridica del Computer. Milano: Giuffr Editore, 1984, p. 29. 21 Não se trata de renunciar a segurança, seja a física ou virtual, pois conforme Dourado Gusmão, “O direito é a garantia da ordem e da paz social, com o mínimo sacrifício da justiça. A justiça é o fundamento ético e jurídico do direito, enquanto a segurança é o valor-meio, por depender dela a realização da justiça, pois sem ela a justiça é intangível”. In Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 72. 22 Apud. Direito e Regulamentação do Ciberespaço, 2001, p. 10. Tese defendida, em 13 de junho de 2001, pelo autor do presente artigo, Jorge Roberto. Conceito de Ciberespaço: significa um conjunto de lugares dentro do computador, bem como entre computadores em conexão com pequenas e grandes redes como a Internet. Esta palavra foi utilizada pelo autor de ‘Neuromancer’, William Gibson, referindo-se aos computadores interligados em Rede e a sociedade futura que nela se comunica. A obra tem como protagonista um hacker que se utiliza da tecnologia informática para práticas criminosas. GIBSON, William. Neuromancer. Trad. Alex Antunes. 3ª ed. São Paulo: Aleph, 2003. 23 FERRAZ JR, Tércio Sampaio. A Ciência do Direito. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 1988. 24 Referindo-se a proteção a informática, Leonardo Spinetti diz ser “uma importante razão para que o planejamento e execução de medidas de proteção lógica estejam entregues aos técnicos qualificados (...) cabendo “aos técnicos em informática a obrigação de adotar medidas planejadas de defesa da documentação registrada em meio magnético contra riscos de procedência lógica, através de profissionais devidamente gabaritados para atuar, com habilidade e sabedoria, nesse campo de atividade. Sppinetti, Leonardo. Inteligência nas Empresas. Rio de Janeiro: UESA/Thomson, 2005, P. 171. 25 Criptografia: é uma técnica empregada no sentido de codificar dados, tornando-os acessíveis tão somente àquelas pessoas que possuem as respectivas chaves eletrônicas. 26 Missão do Direito: é missão do Direito disciplinar o exercício da liberdade de cada um dentro da vida social. Na linguagem Kantiana, pode-se dizer que “Deves usar de tua liberdade segundo regra, ou roteiro, que possa tornar-se uma lei de conduta universal, isto é, para todos”. No diapasão do raciocínio Kantiano, depreende-se que, se o mundo respeitasse essa moral estaria condicionado à viver em paz, mas na verdade não é assim que ocorre na realidade social. Assim, esse princípio da seara do filósofo Immanuel Kant, (1724-1804) de cunho genuinamente moral -, é algo interno ao homem comprometido com a conduta do bem comum, obediente, portanto, ao imperativo puro que lhe dita a voz da consciência ética. Portanto, a moral é autônoma, sendo imperativo moral categórico, ao passo que o homem descompromissado com a moral, representado no ciberespaço por hackers ou crackers, não tendo consciência moral, deve ser forçado, (temor a sofrer pena ou sanção) por razões externas a sua consciência, à respeitar a regra moral incrustrada na norma do Direito, ou seja do imperativo jurídico hipotético - direito heterônomo. Por outro lado, o homem civilizado e verdadeiramente ético, cumprirá sempre o seu dever moral não por temor ou coerção, Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 147 mas em respeito a sociedade, pois não visa recompensa outra senão manter a paz social. Daí ser razoável concluir que a noção do Direito é construída mediante o recurso do ‘puro raciocínio’ (jusracionalismo), ou o pleno uso da razão, se aplicando a todo e qualquer Direito, bem como em qualquer época. 27 PIERRE-MARIE, Martin. Droit des Activités Spaciales. Paris: Masson, 1992. p. 9. O autor do artigo em epígrafe participou como palestrante do tema,‘Direito e Regulamentação do Ciberespaço’, nos seguintes eventos: Worshop Internacional: Aspectos Legais e Empresariais do Comércio Eletrônico e da Internet, e no 2º Seminário Carioca de Direito na Internet: Aspectos Jurídicos Relevantes da Rede Mundial de Computadores. 28 29 GROTIUS, Hugo. (1583-1645) ‘De jure belli ac pacis’ e ‘O Direito da Guerra e da Paz’ (1625). 30 DAVID, René. Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 31 O Positivismo Jurídico concebe o Direito como conjunto de normas – Ordenamento Jurídico – posto pelo legislador. As doutrinas que tem essa concepção são: a Dogmática Jurídica, a Escola da exegese e a Teoria Geral do Direito. Entretanto, Stammler, fundador da Filosofia do Direito Contemporâneo, mostra que o Positivismo Jurídico não é capaz sequer de definir o Direito e a Justiça, não podendo, portanto, fornecer critério para o jurista. Suas principais obras são: Teoria do Direito Justo; Teoria da Ciência Jurídica e Filosofia do Direito. 32 “se lançarmos um olhar perfunctório sobre o mundo, podemos ver que tal ideal universalista ainda não encontrou plenas condições para se efetivar, não somente pelas indiscutíveis reações culturais ou étnicas que porventura se lhe oponham, mas, e principalmente, pelas abissais diferenças econômicas e políticas entre as culturas que formam o que denominamos de humanidade, pois para que haja a generalização de bens culturais e de consumo, assim como a ampliação do espaço da cidadania e dos direitos fundamentais do homem, torna-se imprescindível construir processos e instituições comuns no campo da política, da cultura e da economia, que estabeleçam uma mediação entre o plano dos princípios universais abstratos e a concretude das realidades singulares que se pretende regular”. Albuquerque, Newton de Menezes. Teoria da Soberania. Belo Horizonte: Mandamentos, 2001, 127-128. 33 LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL: Convenção sobre Cibercrime: Budapeste, 23 de novembro de 2001, composta de 48 artigos: evidenciando a distinção entre delitos informático e delitos telemático, eis o que diz Augusto Rossini: “a Convenção de Budapeste, denominada ‘Convenção sobre Cibercrime’, encerra somente as condutas praticadas em ambiente de rede, não as fora dele, abarcando, desta forma, apenas os fatos típicos ocorridos exclusivamente no Ciberespaço, podendo, desta maneira, receber a denominação ‘delito telemático’, dada a peculiaridade de ocorrer no e a partir do inter-ralacionamento entre computadores em rede telemática usados na prática delitiva”. Assim sendo, Augusto Rossini conclui: “Desta maneira, ‘delito informático’ é o gênero, do qual ‘delito telemático’ é ‘espécie”; in Informática, Telemática e Direito Penal. São Paulo: Memória Jurídica Editora, 2004, p. 110.Lei n 109/91: Lei da Criminalidade Informática de Portugal, composta de 19 artigos; Lei n 23 de dezembro de 1993. Modificações e integrações das normas do Código Penal e do Código de Processo Civil em tema de crime de computador, composta de 13 artigos; Ley Modelo de la Cnudmi sobre Comercio Electrónico com la Adición Del Artículo 5 bis em la Forma Aprobada em 1998; Comunidade Européia: Recomendação nº 13, de 1995, do Comitê de Ministros dos Estados Membros, referente a problemas da lei de procedimento penal relacionados à tecnologia de informação;Resolução do Conselho, de 17 de janeiro de 1995, sobre interceptação ilegal de telecomunicações;Proposta de decisão do Conselho que adota um plano de ação comunitário plurianual para fomentar a utilização segura da Internet;92/242/CEE: Decisão do Conselho, de 31 de Março de 1992, no domínio da segurança dos sistemas de informação.LEGISLAÇÃO BRASILEIRA: Anteprojeto de Lei nº 1.589/99: da ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo, composta de 53 artigos; Resoluções nº 1 e nº 2/98, de abril de 1998, do Comitê Gestor Internet do Brasil. 148 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 34 Sistema jurídico é o conjunto de regras e instituições de direito positivo, pelas quais se regem determinadas coletividades, sendo seus elementos essenciais uma legislação que serve de vínculo à coletividade que rege e uma certa autonomia, quando menos legislativa (Castán Tobeñas, Los sistemas jurídicos contemporaneos del mundo occidental e Arminjon, Nolde e Wolf, Traité de droit comparé, vol. I, P. 10). Mais precisamente, a definição de Arminjon, Nolde e Wolf, na obra citada, é a seguinte: ‘Sistema jurídico é o agrupamento de pessoas unidas por um conjunto de regras jurídicas, que ordenam todos os elementos, ou, pelo menos, os principais elementos de sua vida social, e muitas vezes também por instituições jurisdicionais e administrativas comuns.’ Apud. Cretella, Junior, José. Curso de Filosofia do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1997, p. 46. 35 No Ciberespaço interagem internautas dos mais variados países do mundo, inseridos, portanto, nas mais variadas culturas, seja como indivíduo que vive sob a influência do sistema common-low, bem como do romano-germânico, muçulmano e socialista. Tratando-se de um ambiente transnacional e transcultural, nada mais racional do que se levar em consideração, ao mesmo tempo, de três aspectos indissociáveis da experiência jurídica, quais sejam: o fato, o valor e a norma. Caber-se-á, assim, aplicação da teoria tridimensional da seara de Miguel Reale, pois deve-se levar em consideração imediata, o fato jurídico (Cultura Jurídica); a norma jurídica (Epistemologia Jurídica) e o valor jurídico (Deontologia Jurídica) quando da construção de um sistema de normas de vocação transnacional e transcultural. REALE, Miguel, in O Direito como Experiência. São Paulo, 1992, e Teoria Tridimensional do Direito. São Paulo: Saraiva, 1968. 36 DIREITO NATURAL: no que concerne ao Direito Natural, abalizados autores desdobra-o nas seguintes correntes: o Jusnaturalismo teológico e o jusnaturalismo racionalista, bem como Direito Natural de conteúdo variável (Stammler) e Direito Natural de conteúdo progressivo (Renard). Atualmente, vemos Gény, com a defesa do Direito Natural de conteúdo irredutível. Entretanto, faz-se oportuno consignar que estamos alinhados àqueles que defendem o Direito Natural, como expressão da natureza humana. Assim, conforme lúcida explanação de Bertoli, é “a raiz das tendências que levam o homem ao seu fim próprio e suas correspondentes exigências”. BERTOLI, Antonio Bento. Introdução ao Direito: lições de propedêutica jurídica. São Paulo: Letras & Letras, 2000, p. 466. Cabe também lembrar que José Pedro Galvão de Souza é o mais autorizado jusnaturalista brasileiro. Dentre outras obras, produziu: O Positivismo Jurídico e o Direito Natural; Direito Natural, Direito Positivo e Estado de Direito. 37 Jusracionalistas: www.iscsp.utl.pt/~cepp/ideologias/jusracionalismo.htm: “Com os jusracionalistas laicizantes da chamada Escola do direito natural e das gentes, com Grócio, Pufendorf, Barbeyrac e Burlamaqui, o direito natural passa a visionar-se como um conjunto de normas dimanadas da razão humana e exigidas pela própria recta ratio, normas perspectivadas como imutáveis no espaço e no tempo e nas quais devem fundamentar-se todas as regras do direito positivo”. 38 GUSMÃO, Paulo Dourado. Introdução à Ciência do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2000. 39 RENARD, George. Introducción Filosófica al Estudio del Derecho. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1947. 40 “Assim como o advento de outros tipos de espaço sempre lançou a visão de mundo de uma época num estado de fluxo, assim também o ciberespaço vai provavelmente alterar nossa visão da realidade de maneiras poderosas. Que mudanças exatamente esse novo espaço vai precipitar? Que tipos de mudanças da realidade acarretará? E como irá afetar nossa concepção de nosso próprio papel dentro do sistema do mundo? Wertheim, Margaret. Uma história do espaço: de Dante à Internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 2001, p. 225. 41 Tratado sobre Princípios Reguladores das Atividades dos Estados na Exploração e Uso do Espaço Cósmico, inclusive a Lua e demais Corpos Celestes, (art. 1º) aprovado pela Assembléia Geral da ONU, em 19 de dezembro de 1966, aberto à assinatura, em 27 de janeiro de 1967, estando em vigor desde 10 de outubro de 1967. Possui 93 ratificações e 27 assinaturas. Este Tratado foi ratificado pelo Brasil. 42 TARDE, Gabriel. Stone, Social Dimension of. Law and Justice. Ed. Maitland, Sydney, 1966, p. 481. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 135-154, -3 9, jan/jul. 2007 149 43 44 Idem. “Teoria da Ação Comutativa”. Habermas, Jürgen. Artigo: Moderty Versus Pós-Modernismo, 1981, p. 168. Habermas defende que “o projeto da modernidade ainda não foi cumprido”, oferecendo a possibilidade de fazer despertar um sonho concebido na época do iluminismo: a criação da Ciência Humana que construirá o embasamento duma ‘comunidade ideal’. 45 FUKUYAMA, Francis. Teórico político, norte-americano, professor da Universidade Johns Hopkins. Defende em sua obra - “Fim da História e o Último Homem”. Rio de Janeiro: Rocco -, o fim da história, pois entende que “o espírito que conduziu até agora a nossa história chegou ao fim”. 46 Jornal “O Globo” - Ciência e Vida - artigo de Nicholas Wade, do New York Times; domingo, 26.05.2002, p. 46. 47 RORTY, Richard. A Filosofia e o Espelho da Natureza. Para Rorty “o filósofo geral cria uma filosofia tão revolucionária que joga em um redemoinho as crenças-padrão dos outros, conseguindo assim mudar o rumo da conversa”. Isto, porque a filosofia entrou nesse período em face de “ter chegado a um beco sem saída em busca da verdade e pelo conhecimento incontrolável. Especula hoje com suas próprias idéias, conceitos e consistência interna, sendo estes o material de suas especulações”. História Ilustrada da Filosofia. Martin Oliver. São Paulo: Manole, 1998, p. 18. Relume Dumará. Veja também, do mesmo autor: Pragmatismo e política: Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2005. 48 CHARTIER, Emile-Auguste. Pseudônio. ALAIN. Obras principais: Systême dês beaux-arts; Propos; Elements de philosophie. 49 Em sua trajetória, diferentes pensamentos influenciaram escolas e conceberam suas teorias no sentido de sustentarem alicerces do Direito contemporâneo. Primeiramente veio a lume o Direito Natural objetivando constituir-se no ordenamento jurídico ideal, como justiça suprema. Posteriormente, o Direito Positivo vislumbrou em vários países e épocas,como o direito posto. Neste diapasão, nasceram grandes correntes, que direcionaram a Ciência do Direito ao longo do tempo até os dias atuais. Podemos citar as seguintes: Escola jus naturalista, com Sócrates, Platão, Aristóteles e Cícero. Escola Teológica, (1500/1700; Escola Racionalista ou Contratualista (séc. XVII/XVIII), com Grócio, Hobbes, Locke, Pufendorf, Thomasius, Montesquieu e Rousseau. Escola Histórica, na Alemanha, entre os séculos XVIII e XIX, com Savigny. Escola Sociológica: final do séc. XIX, (o direito vem da sociedade, esta é a sua máxima, pois Deus está fora de tudo, bem como a razão. Escola Marxista: séc. XIX, com Marx e Engels. Escola Positiva, no séc. XX: teve influenciado, posteriormente, Kelvin e Norberto Bobbio, tendo o Direito Positivo como única verdade. Teoria Tridimensional Dinâmica, com Miguel Reale. O Direito somente garantirá o bem comum se considerado for a sua estrutura tridimensional, portanto, integrando norma, fatos e valores, sendo fenômeno histórico e cultural. Conclusão: São princípios norteadores das correntes citadas: O caráter divino do direito;A razão humana; A consciência coletiva; As interações sociais; A necessidade natural. 50 DESCARTES, R. Carta-prefácio aos princípios. 150 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.135-154, 21 -39, jan/jul. 2007 Referências ALBUQUERQUE, Newton de Menezes. Teoria da Soberania. Belo Horizonte: Mandamentos, 2001. ALEXANDER, John B. Trad. José Magalhães de Souza. Armas não-letais: alternativas para os conflitos do século XXI. Rio de Janeiro: Apoio editorial: Condor: munições não letais e Welser Itage, 2003. ARAÚJO, Vandyck Nóbrega de. Idéia de sistema e de ordenamento no direito. Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 1986. BIT. Informação Para Todos, nº 9, ano I, p. 32 3 ss. Lisboa: Portugal. BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico: lições de filosofia do direito. São Paulo: Icone, 1999. _____. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Unb, 1994. BORRUSO, Renato. 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Sr. Presidente da República, Juscelino Kubitschek, por ocasião da abertura dos cursos da ESG em 1958. Sejam as minhas primeiras palavras, ao início das atividades nos cursos da Escola Superior de Guerra este ano, de confiança e de solidariedade para com a obra que aqui se realiza. Houvesse podido contar há mais tempo com esta instituição e muito teria lucrado nosso país no sentido de maior integração de suas elites na realidade nacional e mais profunda penetração nos problemas que o mundo moderno vem enfrentando. Não se puderam valer os homens que tiveram de orientar esta nação, no processo de seu desenvolvimento, de fontes de informações e de interpretação imparciais, de cursos superiores e de altos estudos em que, meticulosa e metodicamente se forma a capacidade de orientar e de decidir, para esta arte, entre todas a mais difícil, a mais delicada, a mais perigosa, que é dirigir a coisa pública, administrando, exercendo a defesa da nação zelando e revigorando a segurança do país em todos os planos. Não nos tivesse faltado por tanto tempo o mesmo espírito que provocou o nascimento desta Escola Superior de Guerra, e bem mais dilatada teria sido hoje a área do nosso desenvolvimento, mais intenso seu ritmo e menos exposto teria estado o Brasil às crises que vieram e vem ameaçando. Nesta Escola Superior de Guerra estão reunidos civis e militares, e reunidos para, entre outros objetivos, meditar sobre os problemas ligados à segurança nacional, no seu mais amplo sentido. Aprendemos, todos nós, graças a muitas dificuldades, tropeços e perigos, ser impossível a um país defender-se e sobreviver, sem planificar, sem prever, conhecer o que importa conhecer não apenas em superfície, mas principalmente em profundidade. No mundo de hoje, em que a luta em todos os setores se tornou tão áspera e tormentosa, conseguem manter-se independentes apenas aquelas nações que contam com a assistência. E comandar quer dizer, aqui, compreender. Não há comando sem compreensão ou inteligência dos problemas. É certo que nos valeram muito, durante longos anos, notadamente os do Império, a intuição e as qualidades de bom senso, de comedimento, as virtudes morais, a prudência de numerosos cidadãos que se engrandeceram, engrandecendo o país. Colocava-se com facilidade, nossa naturalmente elite, nos postos de comando da Nação. Mas não será preciso lembrar-vos que a vida se transformou em menos de meio século de maneira quase que irreconhecível, que tudo se tornou mais amplo mais rápido e que se acumularam tais fatores no desenvolvimento Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 155-162, -3 9, jan/jul. 2007 155 do poderio humano, que não há outro meio senão o de usar para efeitos de segurança e desenvolvimento os instrumentos que as técnicas de hoje oferecem continuamente. Se isto não se verificar a Nação não cumprirá o seu primeiro dever no plano material, o dever imperativo de sua própria dignidade: manterse atual, ou, se me é permitido dizer, contemporânea de seu próprio tempo. Essencialmente, a tarefa desta Escola é promover não só a formação de elites ativas, mas abrir-lhes as vias de acesso aos postos de comando, e o caminho pelo qual a nação encontrará seus líderes naturais. Não deixou de ser considerável o trabalho de defesa de nossa pátria no passado, se tomarmos em consideração as condições precárias em que se verificou; é impossível deixar de louvar sempre o grande mérito de se ter primeiro formado e em seguida preservado a unidade nacional. Mas a preservação da unidade nacional é matéria invariável de todos os dias, e que não deve ser descurada sem risco, pois, me parece que o essencial para o trabalho de segurança é a consciência do risco, o sentido do perigo, a noção de não no surpreendermos, de uma hora para outra, pelos imprevistos. Não há defesa sem essa noção de responsabilidade. Quero, aproveitando-me do ensejo da abertura dos cursos desta Escola, em que o Brasil é tão bem representado, todos os anos, pelas suas elites militares e civis, afirmar-vos que o atual governo do Brasil tem em devida conta todos os fatores adversários da presente conjuntura; e que a esperança, o otimismo, o desejo de construir, o senso do que é preciso para evitar o estrangulamento do progresso, não apenas desejado, mas exigido pela segurança, em virtude do nosso crescimento vegetativo, nos obrigam, uma vezes a ampliar, outra mais a criar, em tempo “record”, através de grandes obras de infra-estrutura, as condições de desenvolvimento. Numa Escola Superior de Guerra é crucial que um homem, que exerce pelas suas funções presidenciais a Chefia das Forças Armadas, reafirme manter atenção vigilante em face de uma hora extremamente delicada numa hora que requer o exercício de uma consciência alerta. Não há dúvida, e nenhum cético será capaz de negá-lo, que o Brasil acelerou sua marcha; mas a própria conseqüência dessa aceleração é o agrupamento de instâncias que começam a ser feitas por contingências de nossa formação econômica. Durante muito tempo não atentamos para a marcha do mundo, e por isto temos de pagar. Enquanto foram crescendo as nossas exigências internas, enquanto tivemos de enfrentar despesas e gastos no Exterior para atender ao surto de uma industrialização que se iniciou tarde, não cuidamos de aumentar as relações de intercâmbio comercial com o estrangeiro, para fazer face ao que ainda precisamos comprar para equipar-nos. Tivemos no café uma base generosa, providencial, a que devemos imensamente, mas perigosa ao mesmo tempo, não apenas pelas flutuações dessa fonte de riquezas, mas porque é precário dever-se demais, e dever-se quase que exclusivamente a um só fator. 156 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.155-162, 21 -39, jan/jul. 2007 O exemplo é pertinente e suscita uma pergunta óbvia: - É possível a uma nação como esta, que já atinge ponderável densidade demográfica, satisfazer as exigências de sua expansão, com a maior parte do peso do que o necessário para comprar fora de suas fronteiras, apoiada no café? Poderemos continuar respirando para o mundo exterior, de onde nos é indispensável receber experiências técnicas e equipamentos – uma vez que mal iniciamos a fabricação das nossas máquinas – com o corpo nacional apoiado em produtos agrícolas que começam a sofrer concorrência por toda a parte? A resposta é clara. Temos de exportar mais, temos de variar e aumentar as nossas exportações e, ao mesmo tempo, continuar defendendo o café por todos os modos justos e sensatos. Não estou falando tangido pela atualidade do assunto. Na minha campanha de candidato à Presidência da República, disse e repeti em toda parte que não podíamos marchar mais adiante sem alongarmos, diversificarmos as nossas exportações. Usei mesmo, para tornar mais acessível a inteligência da situação, da imagem de que, nas condições em que vivemos, nosso país era uma espécie de grande edifício apoiado numa coluna: o café. As dificuldades por que estamos passando se haviam tornado visíveis há muito tempo. Não descuidou o Governo, como bem o demonstram os resultados colhidos no Arranjo do México e na Conferência Cafeeira do Rio de Janeiro. A política cafeeira em vigor pretende a estabilidade dos preços de forma a garantir remuneração razoável do produtor e a manutenção de um nível de ingresso de divisas indispensável às necessidades da Nação e ao desenvolvimento econômico. Os efeitos do ciclo de superprodução do café, no qual já ingressamos, podem ser grandemente atenuados por medidas tais como: - atitude firme e determinada do Governo que divida os ônus da crise entre: Governo, produtor nacional e outros países produtores, e defesa conta os agentes da desvalorização, evitando que precipitem o café no plano inclinado do aviltamento dos preços; - promover, no âmbito internacional acordos para estabilização da economia cafeeira. Com esse objetivo firmamos o Acordo do México, do qual participam, além do Brasil, seis dos maiores produtores mundiais, a apoiamos a Organização Internacional do Café, criada na Conferência celebrada nesta Capital, em janeiro próximo passado, da qual farão parte, além de todos os países produtores da América Latina, produtores africanos; - intensa propaganda e promoção que está também entre os objetivos da Organização Internacional do Café; - incentivo à melhoria de qualidade e da produtividade, desencorajando a produção marginal; - instalação da indústria de café solúvel, obedecendo às conquistas do moderno progresso da técnica; e - empregar o café para aquisição de bens de produção e consumo, Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 155-162, -3 9, jan/jul. 2007 157 principalmente no que se refere aos programas de desenvolvimento econômico, poupando divisas, criando novos mercados e alargando os já existentes. Estes, que focalizo a título de exemplo, está longe de ser um problema exclusivamente econômico – é um problema de defesa, é um problema de segurança. Impõe-se dizê-lo e repeti-lo: o processo de evolução econômica se funde no conceito, sobremaneira dinâmico, de segurança nacional. Ainda há pouco, num dos mais famosos livros de atualidade, “A nova classe”, o autor encontrava, na evolução material dos chamados países subdesenvolvidos ou pouco desenvolvidos, um refuto fundamental e um formal desmentido ao hermetismo das fórmulas genéticas do marxismo. No quadro brasileiro, a segurança nacional condiciona todo o programa de ação que, apesar dos mais variados obstáculos, das mais ingentes dificuldades, estou levando adiante no campo econômico, graças a tal associação, esse programa se reveste de uma generalizada unidade, possui organicidade, alicerces sólidos e, mais do que tudo, autenticidade. Tem condições próprias de vida própria e realizar-se-á porque sua concepção obedeceu a um estudo complexo no qual o conceito de segurança nacional forneceu o sistema de coordenadas, os limites, a direção e a aceleração dos elementos vetoriais representativos do progresso econômico. O programa de metas ao qual já aludi diversas vezes está firmemente enquadrado nesta orientação e, mercê de sua subordinação às exigências essenciais da segurança nacional, adquiriu assegurado esse elemento fundamental: a exeqüibilidade. Erram aqueles que, sem poderem contestarlhes os evidentes benefícios, negam-lhes, porém a possibilidade de consubstancialização, por falta de recursos financeiros. Fixamo-lo, pelo contrário, tendo em vista sua integração no quadro de nossas possibilidades reais; sabedores de que, para assumir feição realista e não levar apenas a um surto episódico, o desenvolvimento econômico deve ser funcionalmente condicionado por duas correntes de fatores: cumpre, em primeiro lugar, que o esforço de investimentos não leve a uma agravação do processo inflacionário, mas antes crie condições para um retorno à estabilidade. A segunda limitação se radica em nossa insuficiente capacidade de importar, o que parcialmente subordina a execução das metas a uma entrada substancial de financiamentos ou investimentos diretos estrangeiros. Ambas essas condições limitativas levaram em vários casos, à fixação de metas em nível modesto, para ajustar as necessidades aos recursos. Em outros, foram elas estabelecidas em caráter ainda condiciona. Em nenhum caso, porém, se procurou ignorar o problema da insuficiência de recursos através do expediente ilusório de financiamento inflacionário, por via de expansão monetária e creditícia. No caso das metas entregue à iniciativa particular, prevê-se que os recursos provenham da capitalização própria das empresas, suplementada às vezes por subvenções do Poder Público; a este cumpre, destarte, criar condições 158 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.155-162, 21 -39, jan/jul. 2007 favoráveis para que a poupança privada, nacional ou estrangeira, se desvie de atividades especulativas ou do consumo suntuário, para se lançar na grande aventura industrial. E, porém, no tocante aos investimentos de natureza pública ou semi-pública que maior é o perigo de planos demasiado ambiciosos, em descompasso com os recurso existentes ou previsíveis. Se bem que boa parcela do programa de metas represente apenas uma tentativa de coordenar e sistematizar investimentos que normalmente vinham sendo feitos de forma onerosa e pouco produtiva, através do mecanismo orçamentário, é indubitável que, na maioria dos casos, a execução das metas implica esforço de investimento alem de níveis que vinham sendo normalmente alcançados. Sem prejuízo do contínuo esforço que o Governo vem mantendo para refrear as despesas de custeio, a programação de metas seria irrealística se não implicasse um levantamento de novos recursos, através de técnicas tributárias destinadas a transferir, em benefício de aplicações prioritárias, disponibilidades que, se deixadas em mãos do setor privado, poderiam ser entregues ao consumo ou utilizadas para inversões de menor urgência econômica e social. Prova cabal do nosso esforço neste sentido é por exemplo, a revisão da legislação sobre o imposto único de combustíveis, tornando-se “ad-valorem” a incidência dessa tributação, o que permitiu garantir à Petrobras os recursos necessários a seu programa de trabalho. Outras ilustrações desta orientação são fornecidas pela legislação que prorrogou a vigência dos fundos aplicados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, pelos projetos, atualmente em discussão no Congresso, dos Fundos Portuários, do Fundo de Marinha Mercante, da nova legislação sobre Energia Elétrica, etc. Sucinta análise dos montantes em cruzeiros e em divisas necessárias ao Programa de Metas, esclarece que o esforço planejado é compatível com nossas possibilidades. A previsão para o período 1957/1961 indica um total de 301 bilhões de cruzeiros, dos quais 65 bilhões para a compra de divisas; dos 236 restantes, 113 provirão do Orçamento da União, 29 bilhões dos Estados, 100 bilhões da iniciativa privada ou das empresas estatais, e o pequeno saldo final de financiamentos públicos ou privados no País. Como, dos 113 bilhões que se demanda do Orçamento da União, cerca de 62 se originarão em fundos vinculados em lei – como o Fundo Rodoviário, o fundo de Eletrificação, etc., somente 51 bilhões, em cinco anos, deverão provir da parte não vinculada do Orçamento, o que será perfeitamente realizável, sem sacrifício maior para outros setores não contemplados no Programa de Metas. Por sua vez, os fundos estaduais estão, em sua maioria, garantidos em leis próprias. Finalmente, os recursos privados ou de reinvestimentos de empresas estatais foram previstos com toda segurança, sendo que os recursos para financiamentos, principalmente por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, estão plenamente assegurados. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 155-162, -3 9, jan/jul. 2007 159 Quanto à obtenção de divisas, o programa de Metas exige, entre 1957 e 1961, cerca de 2 bilhões 318 milhões de dólares, dos quais 150 milhões virão sem cobertura cambial, 1 bilhão 266 milhões serão efetivamente pagos no período de 902 milhões terão pagamento deferido até 1962. Se olharmos para distribuição no tempo desses 2 bilhões 318 milhões de dólares, verificamos que 582 correspondem a financiamentos já registrados na SUMOC, 784 a financiamentos em processo de registro definitivo, 282 a financiamentos em negociações avançadas, restando, pois, 670 milhões de dólares que deverão ser financiados a médio e longo termo, ou adquiridos diretamente no mercado do câmbio, em quatro anos, o que é perfeitamente razoável. Um estudo muito cuidadoso foi feito, de nossos compromissos financeiros no Exterior, e uma análise detalhada do balanço de pagamentos nos permite concluir que podemos realizar o Programa de Metas mesmo na hipótese de queda de nossas exportações em futuro imediato. Ainda que não tenhamos disponibilidades cambiais para importações perdulárias, é certo que a própria realização das metas, ao eliminar grandes demandas de importação, tenderá a fortalecer de muito nosso balanço de pagamentos. A execução do Programa importa numa liberação efetiva de divisas, no período de 1956 a 1960, de 420 milhões de dólares, nos setores de siderurgia, alumínio, álcalis, indústria automobilística e petróleo. É um fato insofismável – a defesa nacional liga-se à realidade econômica do país. Não vos direi nada de novo afirmando-vos que hoje, mais do que nunca, não há poder militar eficiente sem possibilidades financeiras. As contingências do Brasil não permitem, e de longa data, que o aparelhamento de nossa defesa armada corresponda, em valor e qualidade, a razões de existência do poder militar. E, mesmo assim vale consignar que, se não gastamos tudo o que seria necessário para que a nossa defesa fosse plenamente atendida, gastamos com ela tudo o que podemos em relação aos nossos bem limitados recursos. Essa deficiência mais se agrava face aos aspectos inusitados da defesa moderna, aos seus meios extraordinariamente evoluídos, ao alto desenvolvimento tecnológico que implica, ao seu custo enorme. Assim, cumpre a nós, homens de Estado, lutar com decisão e por todos os meios para, tendo em conta o que é realizável, evitar o envelhecimento de normas militares e a situação onerosa e inútil de meios obsoletos. Dispomos, felizmente, de um capital precioso, constituído por valores profissionais que honram a tradição militar do país e que inspiram decidida confiança, além de uma valiosa estrutura, sem a qual não haveria modernização e recuperação possível. Nessa elite, no generoso espírito que a anima, no seu admirável sentimento de classe, no respeito que ela inspira, reside, mais ainda do que nos seus meios de ação, a garantia de segurança nacional e, através desta, da própria unidade brasileira. Tudo continuará a ser feito, por parte do Governo, para que a integração 160 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.155-162, 21 -39, jan/jul. 2007 das Forças Armadas acompanhe o desenvolvimento do país, dentro de sua própria época, no sentido de que corram paralelos, e não antagônicos. Espero haver evidenciado o estreito entrosamento do desenvolvimento econômico com o conceito de segurança nacional. Dinâmicos e evolutivos ambos, têm de se completar, e, na minha obra de governo, jamais cogitarei de um, sem sincronizá-lo com outro. Não obstante a íntima ligação entre os conceitos de segurança nacional e de desenvolvimento econômico – tese à qual desejava apresentar especial realce, já que forma a sistemática de meu programa de governo – mister é reconhecer que aquele transcende a este, por ser a segurança nacional a verdadeira condição determinante da vida do país em todos os campos. No campo interno, é a segurança o princípio que preside à manutenção do clima de respeito à Constituição e à forma democrática de governo, é o que constitui a garantia de que o processo democrático não envereda pelo caminho do parcelamento das instituições, nem cede à tentação de fragmentar-se. E a própria força aglutinante do processo democrático; é a garantia da continuação na variedade, da unificação na multiplicidade. Sua influência é nítida na aprovação dos grandes projetos de interesse público, quer no campo da construção material, como Três Marias, que importa na regularização do curso do São Francisco, e Furnas, quer nas medidas de fiel cumprimento das determinações da Constituição, como a interiorização da Capital Federal, ou nas providências que consolidam o regime democrático, como a reforma da lei Eleitoral. Nestas, como em todas as ocasiões em que estão em jogo os alicerces mesmos da nacionalidade, o conceito de segurança nacional representa o papel de força unificadora e propulsiva, não obstante o embate de facções políticas antagônicas, não obstante os jogos de interesses partidários. No âmbito internacional, a política brasileira tem por base a manutenção da paz, orientada pelo desejo do entendimento entre os povos e o respeito às convicções e idéias alheias; defendemos a liberdade, a dignidade de pessoa humana e a nossa soberania. A vitória da técnica sobre as distâncias geográficas, aproximando as nações, veio a constituir, sem dúvida, um dos meios mais impressionantes e de maiores conseqüências no mundo moderno, para que os seres se entreajudem, ao invés de se entredevorarem. Condenamos cada vez mais, e de forma categórica, a imposição de ideologias, não importa quais sejam, pela força, pela brutalidade. Nossa repulsa é firme e definitiva no que toca a toda a espécie de luta contra raças. É sempre oportuno repetir essa nossa posição, uma das nobilíssimas características da alma nacional. Sabemos ser indispensável que as idéias de liberdade e os próprios sentimentos cristãos se defendam, não apenas como desejos, votos palavras, mas ainda com outros elementos também convincentes. Embora se tenha estreitado o mundo, as desigualdades, diferenças e antagonismos, em lugar de empalidecerem, adquiriram aspectos de suma gravidade. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 155-162, -3 9, jan/jul. 2007 161 Se bem que não hajam esmaecido as esperanças de ser possível a convivência entre os grupos ideológicos que dividem o mundo, força é concluir que o problema da segurança das nações e dos povos tem direito a uma prioridade incontestável. Ficaria incompleta a referência à nossa política externa, se não ressaltasse o novo e promissor espírito que anima as relações dos países desta parte do continente. O meu governo tem-se revelado extremoso adepto de intensificar ao máximo os entendimentos entre os povos sul e centro americanos. Seremos menos pobres à medida que formos mais unidos. Quanto mais nos compreendermos e nos auxiliarmos mutuamente, tanto mais estaremos aptos a enfrentar a crise que é um pouco de todo mundo. A criação de um sentimento de união sul-americana é uma fatalidade social, política e econômica que acolhemos com felicidade. Tudo faremos para antecipar seu advento e reunir, pelos laços do comércio, do intercâmbio cultural e técnico, os membros de uma só família, separados apenas geograficamente. Resultados concretos dessa orientação se patenteiam na União panamericana, e nas Nações Unidas. O recente Tratado com a Bolívia e a conferência de Buenos Aires mostram a natureza generosa, porém prática, dos entendimentos entre os povos do nosso continente – política que, colocada em sua perspectiva histórica, não constitui senão a continuação e a atualização da obra dos grandes estadistas brasileiros. Nestas minhas considerações, que não desejo se alonguem mais ainda, examinei alguns aspectos da segurança, principalmente nas suas ligações entre o setor econômico e o setor militar. Outros há, entretanto, como as forças espirituais e morais, que se integram no todo e constituirão matéria para o vosso exame acurado, no decorrer do curso que hoje se inicia. A Família e a Igreja, cujas raízes mergulham em nossa tradição, devem ser protegidas com desvelo, pois são fatores que contribuem solidariamente para unir os três elementos essenciais de uma nacionalidade: a Terra, o Homem e as Instituições. Consideração alguma terá sentido, se os brasileiros não corresponderem ao que deles se requer para o engrandecimento deste país; e que se requer é, em primeiro lugar, a conservação da esperança, a energia criadora, a decisão de vencer as dificuldades e o sentido da realidade, sem o qual não há povo satisfeito, nem obra duradoura. Por isto o problema da orientação e da formação de nossa mocidade deverá ser um dos temas principais desta e de todas as Escolas que como esta se preocupam com o destino da nossa vida. Temos de cuidar, com urgência, de que as gerações novas se preparem para uma luta imensa pelo nosso país, uma luta que será sempre maior na medida em que o Brasil for maior. Que as nossas esperanças e o nosso ânimo de pugnar pelo alevantamento progressivo de nossa Terra e do nosso povo e de lutar pela segurança da Nacionalidade recebam os estímulos das próprias dificuldades e incompreensões. 162 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.155-162, 21 -39, jan/jul. 2007 Lista de trabalhos desenvolvidos em 2006 Monografias elaboradas pelos estagiários da ESG como exigência curricular para conclusão dos respectivos cursos, disponíveis para consulta na Biblioteca da ESG. 1. Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE) TEMA AUTOR Política de preparo do militar para a inserção no mercado de trabalho após deixar o serviço ativo. Gen Div ANTONIO JOÃO MULATINHO MOISÉS Ações subsidiárias das Forças Armadas na Amazônia e seus reflexos na segurança e no desenvolvimento. Gen Bda JOSÉ LUIZ GONÇALVES MENIN Operações de Paz: Criação de Unidades Combinadas de Gen Bda Instrução. JOÃO HENRIQUE CARVALHO DE FREITAS Interesses geopolíticos do Brasil no Atlântico Sul – políticas e estratégias. C Alte NEY ZANELLA DOS SANTOS Utilização dos embriões humanos para fins de pesquisa e terapia – aspectos éticos e jurídicos. Desembargadora CÉLIA MARIA VIDAL MELIGA PESSOA Aspectos jurídicos de política monetária como instrumento de combate à inflação. Desembargador MARCO AURELIO DOS SANTOS FRÓES Desequilíbrios regionais no Pará: Políticas e Estratégias para sua correção. Desembargadora MARIA DO CÉU CABRAL DUARTE A Questão Fundiária e a Segurança Nacional: a luta pela terra. Vigilância e Proteção da Amazônia Peruana integrada ao Sistema SIPAM-SIVAM. Juiz TRT ANDRÉ RODRIGUES PEREIRA DA VEIGA DAMASCENO Cel Av (Peru) MIGUEL ANGEL TAMAYO ZUMAETA Índia – Uma potência global emergente. Cel (Índia) RAKESH PRATAP SINGH BHADAURIA Análise da política de Defesa Nacional do Equador. Cel (Equador) SERGIO JACINTO TORRES VASQUEZ As relações bilaterais do Brasil com a Colômbia e o controle das fronteiras entre os dois países. Cel Av (Colômbia) JÚLIO ROBERTO RIVERA JIMÉNEZ As novas ameaças à segurança mundial sob o enfoque Sul Africano. Cel (África do Sul) ANTÔNIO JOSÉ ANDRÉ Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.21 p. 163-170, -3 9, jan/jul. 2007 163 Políticas de Defesa da Guatemala e do Brasil: Análise comparativa. Cel Art DEM (Guatemala) EDGAR FERNADO RODRIGUEZ RUIZ A influência da mídia na segurança pública. Cel Int MISAEL PEREIRA DO CARMO Água doce: valor estratégico e perspectivas para o século XXI. Cel Med Aer ERIVELTO SANTOS SAMPAIO Comandos Combinados em tempos de paz: uma proposta. CMG LUIS ARTUR FIALHO AMORIM O Estado Brasileiro e a soberania na Amazônia. O Sistema de Saúde nas Forças Armadas – Possibilidades de integração. Uma estratégia de combate aos delitos transnacionais. Parcerias público-privadas e concessão de serviços públicos – uma análise crítica. A importância do Atlântico Sul para o desenvolvimento nacional. O Sistema de Saúde das Forças Armadas: Diagnósticos e perspectivas, proposta da uma política. Estratégia Militar Brasileira: uma proposta. Integração Sul-Americana: um imperativo geopolítico. A questão ambiental e as ações das FFAA. Cel Av RENATO LUIZ SCARIOT Cel Med OLAVO MEDEIROS MÜLLER Cel Cav PAULO CONTIERI Cel Int MUSSOLINE DA SILVEIRA SOARES FILHO CMG ALEXANDRE MAGNO PEREIRA AGUIAR Cel Int Aer SÉRGIO ANTÔNIO DE MOURA Cel Av ZALDER BAPTISTA DE ARAÚJO FILHO Cel Av LUIZ CLÁUDIO RIBEIRO DA SILVA Cel Av ALEXANDRE FERNANDES DA SILVA LESSA O transporte marítimo, a frota mercante brasileira: implicações para o desenvolvimento. CMG JEFERSON DOS SANTOS ROCHA O orçamento das Forças Armadas e seus reflexos na Defesa Nacional. Cel Eng OZAEL TEODOSIO DE MELO Cone Sul – estudo comparativo das estruturas de preparo e emprego das Forças de Paz. Cel Eng SALOMÃO KIERMES TAVARES A política educacional e a universidade pública brasileira. Cel Inf ADELIO DE SOUSA MARTINS A importância da biodiversidade brasileira. Desenvolvimento sustentável para a Amazônia – uma visão crítica. 164 Cel Inf ARMANDO ROSA BARROSO MAGNO Cel Int JOSÉ MARIA DE CARVALHO Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.163-170, 21 -39, jan/jul. 2007 Operações combinadas na Amazônia: aspectos logísticos. Segurança biológica no Brasil. Cel Av JOSÉ CARLOS SILVA Cel Med Aer GESNER VIEIRA MOTTA As telecomunicações no Brasil – implicações para a segurança nacional. Cel Eng Aer ANSELMO DUARTE FERREIRA A questão ambiental como instrumento de pressão. Cel Art IRAN JABORANDY RODRIGUES Inteligência Competitiva: a proteção do conhecimento. Questões jurídicas do emprego das Forças Armadas no combate à violência nos grandes centros populacionais brasileiros. O Impacto do Superávit Primário nos Financiamentos Externos. O uso de fontes alternativas de energia como forma de diminuir a dependência do petróleo. SIPAM-SIVAM: uma análise crítica. Cel Com MARCOS AURELIO SILVEIRA DE OLIVEIRA Cel Inf EDSON LUNARDI Cel Int JEFFERSON GOMES BATALHA Cel Int JOSÉ MAURO TOFOLI Cel Int SÉRGIO LUIZ VIEIRA DA CUNHA Participação das Forças Armadas do México no combate ao narcotráfico. Capitão de Navio CG DEM (México) JOSÉ LUIS ARELLANO RUÍZ Segurança Pública no Estado da Bahia (Violência Urbana e Rural). Cel PM-BA PEDRO NASCIMENTO BOAVENTURA Defesa Civil no Ceará: desenvolvimento de um programa de prevenção para situações de calamidade. Cel BM-CE JOAQUIM DOS SANTOS NETO Segurança Pública no Estado do Ceará (Violência Urbana e Rural). Cel PM-CE CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA Segurança Pública no Estado do Maranhão (Violência Urbana e Rural). Cel PM-MA ADÉCIO LUÍS VIEIRA Imperativos geopolíticos para o incremento de integração entre Argentina e Brasil. Ten Cel (Argentina) RICARDO ALEJANDRO ECHEVERRIA A Tecnologia da Informação como ferramenta de apoio à decisão governamental. Ten Cel BM-DF WASHINGTON RODRIGUES LIMA Segurança Pública no Estado do Piauí (Violência Urbana e Rural). Ten Cel PM-PI JAIME DAS CHAGAS OLIVEIRA Segurança Pública: o paradigma interativo comunitário. Defesa Civil no Brasil: uma análise crítica. Ten Cel PM-PI JOSÉ ADERSINO ALVES DE MOURA Ten Cel BM-DF LUIZ TADEU VILLELA BLUMM Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 163-170, -3 9, jan/jul. 2007 165 Planejamento Governamental na Polícia Militar do Estado do Piauí. O Protocolo de Kyoto e suas conseqüências para o Brasil. Ten Cel PM-PI GERARDO REBELO FILHO Juiz FÁBIO DUTRA Mercosul: jurisdição internacional em matéria contratual para solução de conflitos. Juíza ELIZABETE ALVES DE AGUIAR Emprego das Forças Armadas em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO): aspectos jurídicos. Proc Just Mil CLAUDIA ROCHA LAMAS Estratégias para o combate ao crime organizado no Brasil. A Segurança Pública na área metropolitana da cidade do Rio de Janeiro: diagnóstico e perspectivas. Reforma Fiscal: requisito para o desenvolvimento nacional. O Crime Organizado nas rodovias brasileiras e suas implicações para a Segurança Nacional. Del Pol Fed MARIA CHRISTINA DOURADO E SILVA Del Pol Fed VICTOR HUGO POUBEL SOUZA DA SILVEIRA Auditor Fiscal Rec Fed CLEBER MAGALHÃES Pol Rod Fed EUGENIO NEMIROVSKY Reforma Tributária: requisito para o desenvolvimento nacional. Auditor-Fiscal Rec Fed MARIO JORGE RENTE DA SILVA Sistemas de Simulação como apoio ao processo decisório nos níveis estratégico e operacional. Servidora Civil MARIÂNGELA LOUREIRO SILVA A Educação a Distância (EAD) como alternativa para uma formação continuada. Servidora Civil MÁRCIA MALTA MIGUEZ FERREIRA Uma estratégia de combate ao crime organizado na Bahia. Del Pol Civil-BA MARÍLIA CHAGAS CARDOSO Segurança Pública no Estado de Sergipe (Violência Urbana e Rural). Del Pol Civil-SE JOCÉLIO FRANCA FRÓES O Tribunal Penal Internacional: análise jurídica e conseqüências para o Brasil. Promotor de Justiça LUÍS AUGUSTO SOARES DE ANDRADE A presença do positivismo na formação do pensamento político brasileiro. Professora LIANA RUTH BERGSTEIN ROSEMBERG Tecnologia Espacial como fator da integração Sul-Americana. Físico MARCOS DIAS DA SILVA Tecnologia e Desenvolvimento – o impacto da abertura do mercado nacional. Engenheira LENA DULCE BOGÉA DA COSTA O processo de “favelização” das regiões metropolitanas: como combatê-lo. Arquiteta MARIA JULIA DUARTE LIRA A política de cotas nas universidades públicas brasileiras e seus reflexos na educação. Engenheiro IVO COSTA DE LIMA 166 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p. 163-170, 21 -39, jan/jul. 2007 Desenvolvimento de uma mentalidade de defesa no âmbito da sociedade brasileira. Interesses geopolíticos e geoestratégicos do Brasil na Antártica. Nutricionista HILDA LONGHI Tecnologista JOÃO CESAR ALMEIDA RECIO Proteção à biodiversidade e combate à biopirataria. Assessor Jurídico JORGE LUIZ DANTAS A globalização e a indústria nacional: perspectivas. Administrador ANDRÉ LUIZ PINHEIRO CORRÊA LIMA O Sistema Habitacional Brasileiro: possibilidades e limitações. Engenheira ROSANA BANHOS SANCHES Fonoaudióloga Bases para um projeto de educação fundamental capaz de atender SONIA MARIA FLEISCHMANN DUTRA DE às necessidades da população brasileira. MENEZES Gestão estratégica pela qualidade no município do Rio de Janeiro: proposta de políticas e estratégias. A Educação como instrumento de construção da cidadania. Contadora ADRIANA SOARES FERREIRA Administrador PEDRO ALONSO RUA Comunicação Social como elemento de integração das Forças Armadas e destas com a sociedade. Empresária MÁRCIA DEVINCENZI REIS TERRA As Forças Armadas Brasileiras como suporte da democracia. Advogada MARIA ELISA MACIEL DE OLIVEIRA ACKER Terrorismo e Contraterrorismo - um Desafio do Século XXI. Comunicação Social na mobilização psicológica. Analista de Sistemas ÁLISSON CAMPOS RAPOSO Empresário ANTÔNIO CARLOS PAIM TERRA Análise sociológica do desemprego no Brasil como fator de aumento da criminalidade. Advogado RUBENS SOMBRA DA ROCHA SANTOS A utilização do ambientalismo como instrumento de interferência na soberania das nações. Engenheiro DIÓGENES OTERO GALHARDO BRAGA Influencia dos países extra continentes nos países da África Subsaariana. Internacionalista JOANA TORRES DE SÁ BRITTO Reforma Educacional: um imperativo estratégico. Professora IONIZE LINS DA SILVA Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 163-170, -3 9, jan/jul. 2007 167 2. Curso Superior de Inteligência Estratégica (CSIE) TEMA AUTOR “Desafios e questões de segurança nas relações do Brasil com os países Andinos”. Cel BM EDSON DE OLIVEIRA BARROSO “A Questão da demarcação das terras indígenas de Roraima. Uma Questão de Segurança Nacional” CF RICARDO PINHEIRO PADILHA “Sistema de Inteligência de Defesa: Análise histórica, situação atual e visão prospectiva”. Ten Cel Inf Aer NILTON FERNANDES “Termo comparativo dos órgãos de inteligência fiscal de Nações Amigas” Aud Fisc Rec Fed MARCOS HELENO COUTO “Recuperação de ativos derivados de atividades ilícitas, no Brasil e no exterior, com a finalidade de recompor os cofres públicos” Aud Fisc MPS LUIZ FERNANDO CREMA “ALCA X MERCOSUL – Ameaças e oportunidades para o Brasil” Del Pol Fed JOSÉ MARIANO BENINCÁ BELTRAME “O Papel da Inteligência Estratégica no apoio ao combate ao terrorismo”. Del Pol Fed PROTÓGENES PINHEIRO DE QUEIROZ “A Água como recurso Estratégico. Uma visão da Atividade de Inteligência” Perito Criminal ISNARD BEZERRA DE LUNA “A Influência das decisões judiciais e os seus desdobramentos na Del Pol Civ Segurança Pública sob enfoque da Inteligência Policial”. RIVALDO BARBOSA DE ARAÚJO JÚNIOR “O Brasil e o quadro Político Estratégico do Hemisfério”. “A Questão Indígena no Brasil e nos países sul-americanos: Integração ou Segregação?”. “A atuação das ONG na Amazônia Brasileira”. “O Posicionamento do Brasil frente ao novo ambiente Mundial”. “As Terras indígenas e a Soberania Nacional”. “Mercosul e o futuro do Bloco Econômico” TCel PM EVANDRO ROXO MEDEIROS Maj Cav VALTIR DE SOUSA Maj Com MARCELO GIMENEZ GRASSI Maj Art RENATO BUFOLO Maj Av ALEXANDRE BARBOSA CUNHA Maj Inf Aer PAULO RIBEIRO BRANCO JUNIOR “Movimentos Sociais de Luta pela Terra. Um desafio a Ordem Pública!” Maj PM HELDSON TOMASO PEREIRA DE LIMA “A Questão da Colômbia e as suas repercussões para o Brasil. Uma análise sob a ótica da Atividade de Inteligência” Maj PM DAVID DA PENHA ASSUNÇÃO 168 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.163-170, 21 -39, jan/jul. 2007 “As Novas ameaças (Narcotráfico, Terrorismo, conflitos étnicos e religiosos) e a Situação Estratégica Internacional” “A Importância da China no cenário Mundial” “A Importância do domínio da tecnologia para a manutenção da Soberania Nacional” “Proteção ao Conhecimento Sensível” “A Expansão do Islamismo no mundo” “O Desenvolvimento da Inteligência Estratégica, como instrumento de Assessoria, junto aos mecanismos de controle de sinais e imagens” Maj PM MÁRCIO CESAR MONTEIRO Ag Adm INSS ROSEMARY SARAIVA DA SILVA Analista de Sistema MÁRCIA FABÍOLA DE MELO Advogado LUIS ANTONIO LEMOS DE ALMEIDA Bacharel MÁRIO LARA NETO Pol Rod Fed DENIS DA SILVA GOUVEA 3. Curso de Logística e Mobilização Nacional (CLMN) TITULO AUTOR A Construção de Navios de Guerra no Brasil-Possibilidades para a Mobilização CMG (EN) CLAUDIO JOSÉ MARTINS FILHO O Poder Terrestre e a Mobilização Nacional Cel Art MARINHO PEREIRA REZENDE FILHO Os Desequilibrios Regionais e sua Repercussão sobre a Mobilização Nacional Cel Int DIOGENES MENEZES BRITO A Expressão Psicossocial do Poder Nacional e a Mobilização: Enfoque na Área Trabalhista e Educacional. Juíza Trab HELOÍSA CORRÊA DA COSTA E PAULA A Comunicação Social e a Mobilização Nacional Os Recursos Petrolíferos Brasileiros e a Mobilização Nacional Os Deslocamentos na Amazônia – Dificuldades para a Execução da Mobilização. Ênfase nas Hidrovias da Amazônia Ocidental Mobilização Aeroespacial – A Realidade de seu Planejamento Atual A Expressão Psicossocial do Poder Nacional e a Mobilização Nacional. Ênfase na Educação Básica. A Logística Nacional e a Infra-Estrutura de Transportes do Brasil Ten Cel Com LUIZ OLAVO MARTINS RODRIGUES Ten Cel Com ROBERTO GUIMARÃES BORGES CF MARCOS ANTONIO RODRIGUES DA SILVA Ten Cel Av MARCELO ROSETTE GOMES PINTO Ten Cel Com MARCOS MANOEL LOPES Ten Cel Inf MARCOS ANTONIO DA SILVA MOREIRA Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 163-170, -3 9, jan/jul. 2007 169 O Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT) e suas Implicações para a Defesa Ten Cel QMB ELANDER MENDES DA ROSA Logística e Mobilização na Amazônia Ocidental-Reflexo para os Pelotões Especiais de Fronteira (PEF) Ten Cel QMB JORGE JOSÉ GOES DA SILVA A Otimização da Manutenção de Aeronaves Militares e a Mobilização Nacional Maj QMB WILLIAM JOSÉ PWA A Logística e a Mobilização com o apoio Aéreo na Amazônia A Logística e a Mobilização da Cia de Engenharia da Força de Paz do Haiti A Logística Nacional: Ênfase em Telecomunicações Eletrônica e Informática e sua Importância para a Mobilização Naciojnal A Logística Nacional e a Infra-Estrutura de Transportes do Brasil O Planejamento da Mobilização no Exército Brasileiro e sua Integração com o Sistema Logístico (Com Finalidade de Atender às Hipóteses de Emprego) A Logística Nacional: Ênfase na Logística Militar Terrestre e na Indústria de Material de Defesa no Brasil. As Comunicações e a Mobilização Nacional: Ênfase nas Comunicações Estratégicas. Os Corpos de Bombeiros Militares e a Mobilização Nacional A Mobilização Nacional e a Força Nacional Mobilização Industrial – Principais Óbices e Estratégias para Superálos A Constituição e a Mobilização Nacional O Ministério da Justiça e a Mobilização Nacional. Ênfase Polícia Federal Mobilização Nacional: Plano de Contingência para os Órgãos da Administração Pública Federal, com ênfase na Secretaria da Receita Federal. A Aviação Agrícola na Mobilização Nacional A Informática e a Mobilização A Globalização e suas Implicações com a Mobilização Nacional Os Minerais Críticos E Estratégicos e a Mobilização Econômica Nacional 170 Maj Av MAURICIO DOS SANTOS SALLES Maj Inf ANDRÉ RICARDO VALENTE DE BARROS Maj QEM CARLOS HENRIQUE GEBER OLIVEIRA Maj QMB ARIEL JOSÉ TISSI MUNHOZ Maj Int EUDIMAN HERINGER Maj Inf LUCIEUDO SARAIVA MARQUES Maj QEM NIVALDO PINTO NOGUEIRA FILHO Maj QOBM (DF) ATHOS ALEXANDRE FERREIRA CAMARGO Maj QOPM (GO) ALEXANDRE FLECHA CAMPOS Adm SURAMA CAVALCANTI MIRANDA Aud Fisc Rec Fed DIRCEU RESENDE PINHEIRO Del Pol Fed JOSÉ CARLOS CHARMERS CALAZANE Aud Fisc Rec Fed LYSIE DE AQUINO DOHERTY Fisc Fed Agropec ANDRÉ GULHERME MARDEGAN Emprº NEY CHAGAS POMPEU Tecnólogo MARCO BARROSO MARTINS Econ FÁBIO SOUZA LOPES DE MATOS Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.163-170, 21 -39, jan/jul. 2007 Guia para Colaboradores Normais gerais A Revista da Escola Superior de Guerra tem por finalidade publicar artigos relacionados à temática da segurança, ao desenvolvimento e à defesa. Em princípio, não serão aceitas colaborações que já tenham sido publicadas em outras revistas brasileiras ou estrangeiras. A Revista da Escola Superior de Guerra recebe para publicação textos em português e espanhol. A apreciação dos textos enviados se processa em dois momentos: primeiramente, é feita a apreciação pela Assessoria de Editoração e Divulgação, que examina a adequação do trabalho à linha editorial da revista. A seguir, o texto é encaminhado ao Chefe do Departamento de Estudos e ao Coordenador do Centro de Estudos Estratégicos, que devem pronunciar-se por escrito, emitindo pareceres sobre a conveniência ou não de sua aceitação. Dos pareceres emitidos, podem constar sugestões de alterações, acréscimos ou adaptações necessárias ao aprimoramento do texto examinado, a serem efetuadas segundo a concordância do autor, com vista a possível publicação. Os autores recebem comunicação relativa aos pareceres emitidos. Os artigos devem vir acompanhados de uma declaração que autorize sua publicação na revista da Escola Superior de Guerra em caso de aceitação. Publicado o texto o autor recebe até cinco exemplares do número no qual consta seu artigo. A revista não se responsabiliza pelos conceitos emitidos em matéria assinada a que dê publicação. Após análise e apreciação do artigo, caso o mesmo não seja aceito para publicação, o autor receberá a volta a via original, ficando a cópia em nosso arquivo. Os direitos autorais dos artigos ficam reservados à Escola Superior de Guerra condicionando-se a sua reprodução parcial ou integral à autorização expressa e as citações eventuais à obrigatoriedade de citação da autoria e da Revista. Endereço eletrônico: [email protected] Preparação dos originais Apresentação Os originais devem ter o mínimo de 15 páginas e o máximo de 30 , em espaço duplo , com 35 linhas. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 171-173, -3 9, jan/jul. 2007 171 Solicita-se aos autores o envio por meio eletrônico com os registros dos artigos em arquivos com extensão DOC (Word). Caso o artico contenha figuras, essas devem além inseridas no texto, ser enviadas também separadamente em arquivo digital. Todo o material deve ser compatível com os computadores PC. Ao artigo deve ser anexada ficha incluindo endereço, telefone, endereço eletrônico, etc. e um currículo abreviado do autor. Estrutura do Trabalho O texto deve ser precedido do título, do nome e titulação principal do autor, assim como da filiação institucional, seguindo de um resumo que deve compreender todos os conceitos importantes do artigo e suas correlações , estabelecendo as conclusões principais. Este resumo, bem como o título do artigo, deve ser apresentado em português , espanhol e inglês, acompanhado de seis a dez palavras-chave usadas no índice cumulativo. As referências bibliográficas devem ser colocadas no final do artigo, obedecendo às normas da ABNT (NBR-6023). Livro: SOBRENOME, Nome. Título: subtítulo. Local: editora, ano (Série) Artigo de Periódico: SOBRENOME, Nome. Título: subtítulo. Título da revista, local de publicação, número do volume, do fascículo, página inicial - página final do artigo, mês e ano. Eventos: (Anais, Resumos, Proceedings, etc.) – SOBRENOME, Nome. Título do trabalho apresentado: subtítulo. In: Título do evento, numeração do evento, ano local de realização. Título do documento(anais atas... Local, editora, data de publicação. Página inicial e final da parte referenciada). Tese: SOBRENOME, Nome. Título: subtítulo. Ano de defesa. Tese (Doutorado em ...) –Faculdade, Universidade, Local. Atos normativos (Leis, Decretos, Portarias, etc.) LOCAL (país, estado ou município) em que se originou o ato. Especificação do ato e número, página inicial - final em que o ato consta, data. Seção. 172 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p.p.171-173, 21 -39, jan/jul. 2007 Documento de acesso em meio eletrônico: AUTOR. Denominação ou título e subtítulo. Indicação de responsabilidade. Endereço eletrônico. Data de acesso. As citações (NBR – 10520 de jul.2001) no corpo do texto devem aparecer entre aspas, seguindo-se o nome do(a) autor(a) ou autores, data da publicação e o número da página referenciada, entre parênteses e separados por vírgula. Quadros, tabelas, gráficos e ilustrações devem ser apresentadas em folhas separadas e sua localização indicada no texto, entre dois traços horizontais. Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. p.21 171-173, -3 9, jan/jul. 2007 173 Este documento foi impresso na gráfica da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA Fortaleza de São João Av. João Luís Alves, s/n - Urca - Rio de Janeiro - RJ CEP 22291-090 - www.esg.br 174 Revista da Escola Superior de Guerra, v.23, n.47, p. 21 -39, jan/jul. 2007 ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA A Escola Superior de Guerra - ESG -, criada pela Lei nº. 785, de 20 de agosto de 1949, é um instituto de altos estudos, subordinado diretamente ao Ministro de Estado da Defesa, e destina-se a desenvolver e consolidar os conhecimentos necessários para o exercício das funções de direção e para o planejamento da Segurança Nacional, considerando, também, os aspectos relativos à Defesa Nacional e ao Desenvolvimento Nacional. A ESG desenvolve estudos sobre política e estratégia, destinados a contribuir para o desenvolvimento do conhecimento e da metodologia do planejamento e da ação - políticas e estratégias -, em especial nas áreas da Segurança e da Defesa. Funcionando como centro permanente de estudos e pesquisas, compete ainda à ESG ministrar os cursos que forem instituídos pelo Ministério da Defesa. A ESG se localiza na área da Fortaleza de São João, no bairro da Urca, Rio de Janeiro. A Fortaleza foi mandada construir, em 1565, por Estácio de Sá, na várzea entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar, e marca a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Revista da Escola Superior de Guerra Av. João Luís Alves s/n Urca - Fortaleza de São João 22291-090, Rio de Janeiro, RJ. Brasil www.esg.br - E-mail: [email protected]