Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências da Saúde Mestrado em Saúde Coletiva MARIÂNGELA MONTEIRO DE MELO AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E OS CURSOS PARANAENSES DE ODONTOLOGIA: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO LONDRINA – PR 2004 2 MARIÂNGELA MONTEIRO DE MELO AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E OS CURSOS PARANAENSES DE ODONTOLOGIA: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Márcio José de Almeida. Co-Orientadora: Prof. Dra. Adriana Ivama. LONDRINA – PR 2004 M528m Melo, Mariângela Monteiro. As Diretrizes Curriculares Nacionais e os cursos paranaenses de odontologia: processo de construção e perspectivas de implementação Orientador: Dr. Márcio José de Almeida. Dissertação (Mestrado) – Centro de Ciências da Saúde. Universidade Estadual de Londrina, 2004. 1. Odontologia. 2. Ensino. 3.Superior. I. Almeida, Marcio José de. II. Universidade Estadual de Londrina. CDD 617.6011 MARIÂNGELA MONTEIRO DE MELO AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS E OS CURSOS PARANAENSES DE ODONTOLOGIA: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO E PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado, em Saúde Coletiva, da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Márcio José de Almeida Universidade Estadual de Londrina ______________________________________ Profa. Dra Luiza Nakama Universidade Estadual de Londrina Profa. Dra. Simone Tetu Moysés Pontifícia Universidade Católica do Paraná Londrina, ____ de _____________ de 2004 Dedico este estudo: Ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde; Aos meus alunos, objetivo primeiro desta caminhada; Ao meu amor “BIBI” pelo incansável companheirismo e amor; A minha família (Pai, Mãe, Tata e Andressa) pelo aconchego e incentivos; A DEUS pelo olhar atento e cuidadoso em todos os momentos. AGRADECIMENTOS As minhas companheiras e amigas do “carro”, Manoela e Márcia, por toda a amizade trocada durante as viagens, seja em momentos de risos, de chateações e frustrações como também nas horas de medo; Ao meu orientador, Prof. Márcio Almeida, pela atenção e incentivo dispensados; A minha co-orientadora, Adriana Ivama, muito mais amiga hoje, por toda a atenção e compreensão. À amiga Maura por todos os esforços em tornar as burocracias do Mestrado mais fáceis. À amiga Lázara pelas sábias dicas passadas durante o congresso da ABENO. Aos meus colegas de mestrado pela oportunidade de tê-los conhecido e convivido em momentos tão diversos; Aos meus professores do Curso de Mestrado em Saúde Coletiva, pelos conhecimentos passados e dedicação na sua tarefa de formar mestres. Aos colegas da Disciplina de Odontologia Social e Preventiva (Fábio e Marina) e também às colegas da Residência em Saúde da Família da UNIOESTE (Carla, Nereida, Karen, Sueli e Bete) pelo inestimável suporte, sem você tudo seria mais difícil; A UNIOESTE pela oportunidade de crescimento oferecida. A todos os entrevistados pela paciência em me receber e ajudar a compor o produto final deste trabalho. Ao Professor Sebastião Chamé (In Memorian) pelos preciosos conhecimentos que nos transmitiu e principalmente pelo sabedoria com que o fazia. "Despertar a curiosidade, inata ao homem e vivíssima no menino, eis o primeiro empenho do professor, num método racional. Da curiosidade nasce a atenção; da atenção a percepção e a memória inteligente." Rui Barbosa. "Além dessas aptidões de espírito, em que consiste a preparação mental do professor, há inclinações do coração, propriedades da alma, qualidades morais, em suma, de que depende a bondade e a eficácia de todo o ensino. Essa simpatia intelectual, entre o entendimento do mestre e o do aluno, que a habilidade prática em manejar os métodos estabelece, será insuficiente, estará minimamente longe de chegar a resultados satisfatórios, se a não envolver um profundo sentimento de humanidade, que o afeiçoe intensamente a todos os discípulos, não descurando os mais fracos, para se entregar à ufania de desvelar, nos mais bem prendados, os talentos prontos e brilhantes; se o mestre não for entusiasta da sua profissão, de modo que a não exerça como tarefa servil, imposta por necessidades materiais, sem compensações superiores; se não possuir, enfim, o dom de inocular na índole dos alunos o amor da verdade do belo e do bem.” Rui Barbosa (1883).’ MELO, Mariângela Monteiro. As Diretrizes Curriculares Nacionais e os cursos paranaenses de odontologia: processo de construção e perspectivas de implementação. 2004. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Universidade Estadual de Londrina. Resumo Após o incontestável avanço da constitucionalização do Sistema Único de Saúde (SUS) é necessária sua consolidação que se dará por meio de políticas públicas que garantam à população o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. Dentre as estratégias para a consolidação do SUS está a reformulação do sistema formador de recursos humanos para a saúde que, por meio da publicação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1996, oportunizou concretizá-la. O Edital 04/97 da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (SESu/MEC), as Instituições de Ensino Superior foram convocadas a apresentarem propostas para a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para todas as carreiras de ensino superior brasileiro. Houve grande mobilização da área da saúde e, na odontologia, as discussões se deram na Associação Brasileira de Ensino Odontológico, em conjunto com núcleos de pesquisas e a comissão de especialistas da SESu/MEc. Diante deste cenário, surge o questionamento de como ocorreu a construção das Diretrizes Curriculares Nacionais e como está sendo sua implementação nos cursos de odontologia do Estado do Paraná. Para se obter tais respostas utilizou-se o método qualitativo em que a coleta de dados se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas que foram analisadas pela técnica de análise de conteúdo. Os atores que compuseram a pesquisa foram os coordenadores de cursos do Estado do Paraná e entidades que participaram da construção das Diretrizes para a odontologia como a Associação de Ensino Odontológico e a Rede Unida, compondo dois panoramas de análises: o Panorama Nacional e o Institucional. A partir do material coletado foram extraídas categorias que serviram na análise dos dados de onde foi possível identificar uma inquietação importante nos cursos do Paraná em relação às mudanças propostas pelas Diretrizes. Alguns processos mais maduros e ousados que outros, porém mais na dependência de “forças” individuais, comprometidas com o SUS, do que propriamente mudanças institucionalizadas. O estudo aponta a necessidade de que haja uma reformulação das Pós-graduações stricto sensu, de modo a subsidiar os docentes universitários às novas práticas de ensino que são requeridas pelas diretrizes. Destaca também que as dificuldades encontradas durante as discussões no interior dos cursos reforçam as relações de poder que existem nas Instituições de Ensino Superior no Brasil que por muitas vezes dificultam ou mesmo impedem a implementação das mudanças necessárias. Por outro lado, mostra que a Associação Brasileira de Ensino Odontológico exerce sobre os cursos um poder simbólico que em função do tradicionalismo de algumas vertentes da entidade, pode inviabilizar os avanços significativos e necessários na formação de graduação em odontologia. Assim, este processo deveria ultrapassar o campo da saúde bucal coletiva, estendendo-se para todas as áreas, acabando com as dicotomias entre básico e clínico, entre clínico e social e entre público e privado. Pois se assim permanecer, o ensino e as práticas permanecerão inalterados e o que é mais grave, sem a percepção da necessidade de mudanças na forma de ensinar e atuar dos odontólogos. Palavras-chave: Curso de Odontologia, Sistema Único de Saúde – SUS e Diretrizes Curriculares Nacionais. MELO, Mariângela Monteiro. The National Guidelines and Principles and the Dental School Courses: the process of construction and prospects of implementation. 2004. Thesis (Master Degree in Collective Health) Londrina State University. Abstract After an undisputed advance in the establishment of the Brazilian Unified Health Care System (SUS), its consolidation, by means of public policies that will guarantee a fair and universal access to the health care system to the population, is fundamental. The Law of National Guidelines and Principles (LDB) sanctioned in 1996 and under the publication 04/97 of the Secretary of Graduate Education of the Ministry of Education and Culture (SESu/MEC) requested the university stuff to present proposal for the development of the National Guidelines and Principles for all the Brazilian undergraduate courses. In the health and dental area, discussions were held at the Brazilian Dental School Association in cooperation with experts from SESu/MEC. With this background in mind, investigations on how the construction of the National Guidelines and Principles and how they are being implemented in Dental School Courses in the State of Paraná have emerged. Data were collected and analyzed, using the qualitative method by means of semi-structured interviews. The subjects of this research were the coordinators of the Dental School Courses in the State of Paraná and entities that participated in the construction of guidelines for the Dental Courses such as the Brazilian Dental School Association and Rede Unida, ending with two panoramas: a national and an institutional one. The data showed that there are serious concerns regarding changes proposed by DCN in Dental Schools in Paraná. Some of them are more mature and bolder than others. However, more in the dependence of “individual forces” compromised with the SUS than the proper institutionalized changes. The study points at the necessity of some adjustment on strictu sensu graduate courses, in that the faculty members should be supported to face the new teaching practice required by DCN. It also indicates that the problems found in the courses reinforce that there is a relation of power in the graduate education in Brazil, making it sometimes unfeasible or even obstructing the implementation of the necessary changes. It also reveals that the Brazilian Dental School Association have a symbolic power and the traditionalism of some members of the entities may become all these advances impossible. Thus, this process would have to transcend the field of the collective buccal health, extending to all the areas, putting an end with the dichotomies between basic and clinical, clinical and social, and private and public. Maintaining the status quo, teaching and practicum will remain unchanged and what is more serious, dental schools professionals will not realize the necessity to change their way of teaching and working. Key words: Dental School, Unified Heath Care System-SUS, National Guidelines and Principles. LISTA DE ABREVIATURAS ABEN Associação Brasileira de Enfermagem ABENO Associação Brasileira de Ensino de Odontologia ABIPEME Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado ABO Associação Brasileira de Odontologia ANEP Associação Nacional de Empresas de Pesquisa CAPES Coordenadoria de Apoio a Pós Graduação CES Câmara de Educação Superior CFO Conselho Federal de Odontologia CINAEM Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico CNE Conselho Nacional de Educação CNSB Conferência Nacional de Saúde Bucal DCN Diretrizes Curriculares Nacionais ENC Exame Nacional de Cursos FDI Dental International Federation FORGRAD Fórum dos Pró-Reitores de Graduação IDA Integração Docente Assistencial IES Instituições de Ensino Superior INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais LDB Lei de Diretrizes e Bases MEC Ministério da Educação NUPES Núcleo de Pesquisa e Estudo do Ensino Superior PADES Programa de Apoio e Desenvolvimento do Ensino Superior PNDA Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar PPP Projeto Político Pedagógico PROENF Programa de incentivo a Mudanças no Ensino de Enfermagem PROMED Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina PRO-SAÚDE PARANÁ Programa Paranaense de Estímulo às Mudanças nos Cursos Universitários de Graduação na Área da Saúde PSF Programa Saúde da Família RHS Recursos Humanos em Saúde SESP Serviço Especializado de Saúde Pública SESu Secretaria do Ensino Superior SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde SUS Sistema Único de Saúde UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UNEO União Nacional dos Estudantes de Odontologia UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 13 2 2.1 2.2 A REFORMA SANITÁRIA E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE A Reforma Sanitária e a Construção do Sistema Único de Saúde O SUS como Ordenador da Formação de Recursos Humanos 18 18 21 3 3.1 3.2 3.3 A REFORMA UNIVERSITÁRIA E A LEI DE DIRETRIZES E BASES A Nova LDB e os Rumos para a Educação Superior no Brasil As Diretrizes Curriculares e as Mudanças no Sistema Formador Competências dos Profissionais da Saúde 24 25 27 31 4 35 4.1 4.2 4.3 4.4 REVENDO A HISTÓRIA PARA ENTENDER O PRESENTE – CAMINHOS DA ODONTOLOGIA A Profissão Odontológica ao Longo da História O Ensino de Odontologia no Brasil e no Paraná A Odontologia na Reforma Sanitária e nos Dias Atuais A ABENO na Construção das Diretrizes Curriculares Nacionais 35 39 48 52 5 5.1 5.2 OBJETIVOS Objetivo Geral Objetivos Específicos 57 57 57 6 MATERIAIS E MÉTODO 6.1 O Percurso Metodológico 6.1.1 Conceitos Adotados 7 7.1 7.1.1 7.1.2 7.1.3 7.1.4 7.15 7.2 7.2.1 7.2.2 7.2.3 8 58 58 68 DA CONTRUÇÃO À IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES 74 CURRICULARES NACIONAIS DE ODONTOLOGIA Panorama Nacional 74 Processo de Construção das Diretrizes Curriculares Nacionais 74 Cenários de Discussão e o Entendimento das Diretrizes Curriculares 81 As Diretrizes Curriculares no Interior das Instituições de Ensino 88 Superior Cenários de Atuação Profissional 92 Estratégias para Efetivação das Mudanças 96 Panorama Institucional 98 Processos de Mudanças no Interior dos Cursos 98 As Competências Profissionais no Foco da Formação Acadêmica 103 As Diretrizes Curriculares na Formação do Profissional para o 107 Sistema de Saúde CONCLUSÕES REFERÊNCIAS 114 121 ANEXOS Anexo A – Diretrizes Curriculares de Odontologia Anexo B – Roteiro Semi Estruturado para Entrevistas com os Coordenadores Anexo C – Roteiro Semi Estruturado para Entrevistas com as Entidades Anexo D – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina Anexo E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 129 130 140 142 144 146 1 INTRODUÇÃO “Art 200 – Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei; [...] III Ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde [...]” (BRASIL, 1988). Quando se retoma o conteúdo da Constituição Federal de 1988, permanece o questionamento sobre a forma como está ocorrendo o cumprimento da lei no que se refere à ordenação de recursos humanos para o Sistema Único Saúde - SUS. Este tema foi objeto de análises e deliberações durante a II Conferência Nacional de Recursos Humanos para a Saúde, realizada em 1993. Nesse momento, novas formulações foram aprovadas, dentre as quais a de que “a preparação de recursos humanos em saúde implica em intensa interface com as políticas de educação, configurando a integração entre os setores de saúde e educação como princípio nuclear das políticas de preparação de recursos humanos para a saúde” (BRASIL, 1994). As preocupações com as questões referentes aos recursos humanos em saúde vêm de longa data. Reflexões e recomendações sobre o assunto podem ser encontradas em inúmeros registros na história das instituições de serviços de saúde em todos países, inclusive o Brasil (SANTANA e GIRARDI, 1993, p.341) Nos últimos anos, o Brasil vem implementando algumas políticas de inclusão social que têm expressões concretas nas áreas sociais, especialmente nos setores de saúde e de educação. Na saúde há uma grande mobilização no sentido de reorganizar e ampliar as ações básicas, como estratégia de substituição do modelo hegemônico de organização do cuidado à saúde, historicamente centrado na doença e no atendimento especializado e complexo. Estabelecer uma atenção básica resolutiva e de qualidade integrada aos demais níveis, significa reafirmar na prática, os princípios constitucionais da universalidade, da eqüidade e da integralidade das ações estabelecidas no SUS que se mantêm muito distante dos currículos de formação dos profissionais do setor. É importante o entendimento de que, apesar de se fazer necessária uma atenção básica resolutiva, é preciso também atentar para os níveis de complexidade requeridos para a solução dos problemas de saúde que acometem a população e assim respeitar também o princípio de hierarquização da atenção (PROMED, 2003). No âmbito educacional, as discussões sobre a construção curricular, voltada quase que exclusivamente para a eficiência e eficácia dos procedimentos, com a preocupação com a forma de se executar as ações sem considerar o por quê, para quê e para quem executá-las, contaminou a educação formal fazendo com que o currículo acabasse por ficar associado à distribuição das disciplinas na grade curricular. Esta característica de construção curricular aprisiona, submete, estabelece regras e controla toda a comunidade acadêmica e se inseriu de tal forma no espaço universitário que sua superação por outras possibilidades está sendo extremamente difícil (MEYER, KRUSE, 2002, p.13). Especificamente no que se refere à educação superior, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que prevê a flexibilização dos currículos de graduação, ultrapassa o modelo de currículos mínimos cujo enfoque estava centrado nas disciplinas e cargas horárias e atinge o conceito de Projeto Político Pedagógico como norteador dos processos no interior da Instituição de Ensino Superior – IES. A educação superior, na LDB, tem como finalidade principal formar indivíduos aptos para a inserção em setores profissionais e para participação no desenvolvimento da sociedade brasileira (MEYER, KRUSE, 2002, p. 2). Nesse momento de transição dos conceitos educacionais, o conceito de currículo até então vigente não responde às necessidades postas por uma demanda de serviços que serão prestados por profissionais formados obedecendo ao aprisionamento proporcionado pela grade curricular e não às necessidades de saúde da população (MEYER, KRUSE, 2002, p. 3). A relação existente entre saúde e educação diz respeito à adequação dos profissionais às necessidades sociais da população. Essa relação será obtida pela efetiva interação entre a formação dos profissionais de saúde, os serviços de saúde do SUS e as comunidades, assim constituindo importante estratégia para promover as mudanças necessárias na formação acadêmica. Neste cenário a profissão de Odontologia tem-se mostrado ineficiente nas suas ações, apesar de não ter ficado à margem das transformações vividas pelos sistemas de saúde nas últimas décadas (NARVAI, 1994, p. 104). A prática atual da profissão é fruto da exaustiva ênfase dada ao caráter individualista que caracterizou a odontologia desde seu início. Reflexos dos tempos passados são claramente sentidos nos dias atuais e, segundo Narvai (1994, p.18), o setor privado da odontologia brasileira proporciona atendimento freqüente a tão somente 5% da população devido aos aspectos curativistas e de alto custo que têm caracterizado esta prática. Para outros 15% a freqüência é de modo irregular e para o restante da população (80%), a profissão oferece atendimentos ainda mais irregulares ou ainda com resposta mutiladora, ou seja, a extração, que para as classes populares acaba por ser a melhor saída para a solução de seu problema – a dor. Dados mais recentes, da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (FUNDAÇÃO IBGE, 1998, p.40) apontam para o fato de que 18,9% da população brasileira nunca freqüentou o consultório odontológico. No momento em que se vivenciam mudanças na saúde e na educação brasileira, como tem ocorrido a incorporação das mudanças do setor saúde na formação dos profissionais odontólogos? As instituições formadoras dos profissionais de saúde têm adequado os seus conteúdos e metodologias para estas mudanças? Os docentes estão preparados para a incorporação de um novo modelo pedagógico que contemple a formação a partir das competências propostas, o formar para quê? para quem? por quê? o que formar? Os estudantes de odontologia sabem das mudanças ocorridas nos setores de saúde e educação? O Processo de elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Odontologia pode ser considerado representativo para o conjunto de discussões realizadas pela classe? As tendências apontadas pelas DCN são consensuais para a categoria? Como foi a participação dos segmentos representativos da classe neste momento? Na junção destes questionamentos surge como pergunta norteadora da pesquisa o modo como está ocorrendo a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais pelos cursos paranaenses de Odontologia, considerando especialmente as competências gerais propostas para todos os cursos da área da saúde segundo a ótica dos diferentes segmentos envolvidos na formação profissional: docentes, discentes, coordenadores de cursos e representantes de movimento sociais atuantes nas mudanças na formação dos profissionais de saúde. Como objeto de pesquisa, o processo de construção e discussão das DCN e sua implementação no Estado do Paraná, na ótica dos coordenadores de cursos paranaenses e outros atores nacionais. Como hipótese, tem-se que os cursos de odontologia do Estado absorvem seletivamente as Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN e as mudanças ocorrem centradas nas disciplinas e cargas horárias. Estas permanecem distantes dos conteúdos e objetivos importantes para a formação do profissional com o perfil recomendado pelas diretrizes e do profissional competente para atender as necessidades de saúde da população. 2 REFORMA SANITÁRIA E SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 2.1 A Reforma Sanitária e a Construção do Sistema Único de Saúde O desenvolvimento científico e tecnológico, a diversidade de métodos e equipamentos terapêuticos, levou ao sucesso e contraditoriamente ao declínio aquilo que teve início no tão citado Relatório Flexner1, publicado em 1910. A expansão dos gastos em saúde, associado ao consumo de mais e mais possibilidades diagnósticas e terapêuticas, explica tal contradição (SANTANA, 1999, p. 234). No pós-guerra, quando os países europeus introduziram o estado de bem-estar social, outros países no mundo, especialmente os Estados Unidos, passaram a discutir as questões referentes à ineficácia do modelo de assistência a saúde o que fez surgir a proposta de reforma preventivista e da medicina integral. Tal proposta baseava-se na necessidade da ação médica ser estendida a outros níveis de atuação, especialmente o período pré-patogênico, o que resultaria em uma 1 Em 1910, a Fundação Carnegie publica o Relatório Flexner, contendo uma crítica à situação da medicina àquela época e propondo soluções para a questão. Este relatório se converteu na base para a implantação do ensino e da prática médica tal como hoje as encontramos. Suas propostas principais eram: a) definição dos padrões de entrada e ampliação, para quatro anos, nos cursos médicos; b) introdução do ensino laboratorial; c) estímulo à docência em tempo integral; d) expansão do ensino clínico, especialmente em hospitais; e) vinculação das escolas médicas às universidades; f) ênfase na pesquisa biológica como forma de superar a era empírica do ensino médico; g) vinculação da pesquisa ao ensino; h) controle do exercício profissional pela profissão organizada. http://www.cfm.org.br/revista/411996/ensin2.htm - extraído de Simpósio de Bioética – O ensino da ética para os profissionais de saúde. medicina mais efetiva, cuja base doutrinária era o modelo da “história natural da doença”, desenvolvido por Leavell e Clark (SANTANA, 1999, p. 234; CHAVES, 1986, p.99). Assim, surgem tentativas no cenário internacional de abandonar o modelo proposto por Flexner em 1910. A exemplo disso, tem-se a reunião de Viña del Mar em 1956, movimento latino de superação do modelo vigente, bem como o ideário da integração docente-assistencial (SANTANA, 1999, p. 234). Mediante estas discussões, a verificação do saldo de crises e conquistas foi positivo e culminou, em âmbito internacional, com a Conferência Mundial de Saúde em Alma Ata em 1978 em que o lema “Saúde para Todos” e a estratégia da atenção primária tomaram força. A partir de então, movimentos reformistas passaram por significativos avanços, como aconteceu com a reforma sanitária no Brasil (SANTANA, 1999, p. 235). Em um contexto em que a liberdade de expressão, própria de um estado democrático, foi suprimida no Brasil com o golpe militar de março de 1964 e que começaram a ser reconquistadas no final dos anos 70, tomava forma o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, que teve seu apogeu na VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986 (NARVAI, 1997, p. 1). Este evento, historicamente caracterizado como movimento políticosanitário, foi de grande importância no cenário nacional, devido ao seu caráter democrático, com participação de milhares de delegados, representando usuários, partidos políticos, os diferentes níveis de governo, universidades, parlamentares, organizações não governamentais, entre outras entidades da sociedade organizada. O resultado central da VIII Conferência de Saúde se deu por fortes momentos de pactuação política que permitiu a formatação do Projeto da Reforma Sanitária, caracterizado por três aspectos principais: o conceito abrangente de saúde; saúde como direito de cidadania e dever do Estado e a instituição de um Sistema Único de Saúde. Além destes aspectos, esse evento teve como desdobramento prático o desenvolvimento de trabalhos técnicos pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária, que influenciaram de modo importante os processos iniciados em 1987, logo após a VIII Conferência Nacional de Saúde com a criação do SUDS e a elaboração da nova constituição (NARVAI, 1997, p. 2; WESTPHAL, 2001, p. 31, CONFERÊNCIA, NACIONAL DE SAÚDE, 1987). Por se tratar de um momento privilegiado de discussões e pactos, a Assembléia Nacional Constituinte acolheu de forma favorável as deliberações da VIII Conferência Nacional de Saúde. O texto final da Constituição (BRASIL, 1988) incorporou conceitos, princípios e uma nova lógica de organização da saúde que estão expressos nos artigos 197 a 200, de modo a contemplar a universalização do acesso, a integralidade das ações e a eqüidade como princípios doutrinários do sistema de saúde. Isto seria viabilizado a todos os cidadãos do país por meio dos princípios organizativos do sistema de saúde, a descentralização, a hierarquização e do o controle social do SUS (UNFER, 2000). Para a incorporação destes conceitos constitucionais, os recursos humanos configuram componentes imprescindíveis na efetiva consolidação do Sistema de Saúde vigente no Brasil (WESTPHAL, 2001, p. 156). A definição de uma política de ordenação de recursos humanos para a saúde, com princípios norteadores claros e efetivos, tem sido o grande impasse para a legítima implantação e desenvolvimento do Sistema Único de Saúde. Esta situação não é exclusiva do Brasil, pois é sabido que sistemas de saúde bem desenvolvidos ainda apresentam como grandes desafios, a formação, a utilização e a gestão de recursos humanos em saúde (PAIM, 2003, p. 3). Vencer este desafio não depende apenas do âmbito da saúde, envolve também um conjunto de políticas, que fogem da governabilidade do setor, tais como educação, emprego e salários e assim a dificuldade na articulação intersetorial pode até mesmo inviabilizar algumas ações voltadas para o cumprimento das tarefas delegadas ao SUS (PAIM, 1994, p.54). 2.2 O SUS Como Ordenador da Formação de Recursos Humanos A Lei Federal 8080/90 (BRASIL, 2003a) contribui para a efetiva atuação do SUS nos processos de ordenamento do RHS quando define: Organização de um sistema de formação em recursos humanos em saúde, em todos os níveis de ensino, inclusive pós-graduação [...] Os serviços públicos que integram o SUS constitui-se em campo de prática para ensino e pesquisa, mediante normas específicas elaboradas conjuntamente com o sistema educacional”(BRASIL, 2003l, secção IV, art. 27, inciso III de 19/09/1990) A implantação desta responsabilidade posta ao SUS no documento constitucional e também na Lei 8080/90 é ainda incipiente. Na XI Conferencia Nacional de Saúde o assunto mereceu significativo destaque com fortes solicitações de regulamentação da matéria (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1999). Apesar dos contratempos, importantes cenários para estas discussões foram sendo instituídos nos últimos anos. A criação da Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico - CINAEM, a implantação dos Projetos UNI (Uma Nova Iniciativa na Educação dos Profissionais de Saúde: união com a comunidade) em Londrina, Marília e outras localidades, como propostas de mudanças no ensino das carreiras da saúde (ALMEIDA, 1999, p. 02) são exemplos de cenários de discussão. Esta definição contou com a participação ativa de atores de relevância no cenário da saúde pública nacional e foi criado o Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares dos cursos de Medicina em âmbito nacional (PROMED, 2003) com o propósito de valorizar os cursos que realizavam mudanças nos seus processos de formação voltados para as reais necessidades da população. Os incentivos fizeram com que grande parte dos cursos de medicina se mobilizasse para de fato implantar mudanças que pudessem responder ao programa do Ministério da Saúde para o fortalecimento do SUS (PROMED, 2003, p. 4). Um outro movimento social de importante valor para o cenário da época, foi a Rede Unida, que surgiu em 1985, a partir do movimento da Rede Integração Docente Assistencial - IDA e também do Projeto UNI, desencadeador de mudanças no ensino dos profissionais da saúde, com o apoio da Fundação Kellogg na América Latina. Estes dois movimentos deram origem, em 1997, à atual Rede Unida (SCHMIDT, 2002, p. 44). A Rede Unida surgiu como proposta de agregação de pessoas, instituições e projetos, configurando-se como ator social presente e ativo nos cenários de discussões relacionadas aos Recursos Humanos em Saúde - RHS. Impulsionando mudanças na formação e desenvolvimento dos profissionais de saúde, a Rede foi concebida como espaço articulador de troca de experiências entre universidade e serviços, instituições de ensino e pesquisa, serviço e comunidade, com o compromisso de possibilitar a construção de um sistema de saúde eqüitativo, eficaz e com forte participação popular (SCHMIDT, 2002, p. 44). No Estado do Paraná, por iniciativa da Rede UNIDA em articulação com a Secretária Estadual de Saúde e a Secretaria de Ensino Superior e Ciência e Tecnologia, foi proposto o Programa Paranaense de Estímulo às Mudanças nos cursos universitários de graduação na área da saúde - PRO-SAÚDE PARANÁ - que, nos moldes do Programa do Ministério da Saúde, daria incentivo financeiro para os cursos de Enfermagem, Farmácia, Medicina e Odontologia que promovessem mudanças significativas em seus processos formadores, contemplando a formação de profissionais capazes de interferir no processo saúde/doença da população de maneira eficaz (PARANÁ, 2003; CADERNOS DA REDE UNIDA, 2003). Atualmente, com a nova gestão nacional, aparentemente voltada para o resgate das políticas sociais e econômicas relevantes e necessárias para o desenvolvimento do País, o Ministério da Saúde retoma o papel de ordenamento dos RHS. Na estrutura atual do Ministério da Saúde, foram criados a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, com o departamento de Gestão na Educação em Saúde em sua estrutura, na clara intenção de formulação de uma política que resolva o ordenamento e fortalecimento dos RHS (BRASIL, 2003b, p.2). A partir da criação destes órgãos, percebe-se que o Ministério da Saúde assume seu papel de gestor federal do SUS no que se refere às formulações de políticas orientadoras da formação e educação permanente dos trabalhadores de saúde em todos os níveis de escolaridade. Além disso, reafirma a necessidade de capacitação de outras áreas e da própria população para favorecer a articulação intersetorial e o controle social no setor saúde. Estes aspectos serão executados a partir dos Pólos de Educação Permanente em Saúde, que atualmente estão sendo implantados nas diferentes regiões do Brasil (BRASIL, 2003b, p.2). 3. A REFORMA UNIVERSITÁRIA E A LEI DE DIRETRIZES E BASES O sistema educacional brasileiro, ao longo de sua história, passou por diversas reformas. Em 1911, com o surgimento de novas elites sociais, principalmente em São Paulo, a necessidade de criar curso superior em outras regiões do país levou a promulgação da Lei Rivadávia. Essa lei promoveu uma reforma no ensino sob a perspectiva das escolas se transformarem gradativamente em entidades privadas, subvencionadas pelo Estado (OLIVEIRA, 1981, p. 278). A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LEI no 4024/61), datada de 1961, dividiu o ensino em três diferentes etapas: • o ensino primário, de quatro a seis anos e obrigatório; • o ensino secundário foi divido em ginásio e secundário, com duração de sete anos; • o ensino superior com duração de acordo com habilitação profissional. Atribuía ao extinto Conselho Federal de Educação, a incumbência de definir os currículos mínimos dos cursos de graduação (Lei 4024/61 - BRASIL, 2003c). Em um outro cenário, o da ditadura militar, foi realizada a reforma educacional, Lei 5540/68 (BRASIL, 2003d) que deu origem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Superior, Lei 5692/71 (BRASIL, 2003e), com extinção das cátedras e agrupamento das disciplinas em departamentos. Esta reforma provocou na Odontologia e nos demais cursos da área da saúde, reflexos até hoje percebidos. As disciplinas básicas passaram a ser ofertadas pelos Institutos Básicos, como ocorria nas Faculdades Federais e na Universidade de São Paulo. Segundo Ivama (1999, p. 99), a finalidade desta reforma era de acelerar a formação profissional para a demanda gerada pelo crescimento econômico da época, com “pedagogia tecnicista”, cujo objetivo era formar os profissionais em curto período de tempo e com os menores custos possíveis. 3.1 A Nova LDB e os Rumos para Educação Superior no Brasil Na perspectiva de responder às necessidades de transformação do sistema educacional brasileiro, em 1995 foi promulgada a Lei 9131/95 (BRASIL, 2003f). A referida lei designava o Conselho Nacional de Educação – CNE e suas Câmaras de Educação Básica e Superior, para atuar de modo a assegurar a participação da sociedade nas mudanças que ocorreriam no setor da educação nacional. Dentre elas a elaboração da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (BRASIL, 2003g). Em 1996, a nova LDB foi promulgada e desde então o Ministério da Educação – MEC tem conduzido discussões sobre o processo de formação dos profissionais para atuarem nas diferentes áreas, por meio das Diretrizes Curriculares. Como consta na LDB, a educação envolve os processos formativos que se desenvolvem em ambiente familiar, no convívio humano, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. A educação deve vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social, desenvolvendo o aluno e preparando-o para o exercício da cidadania e para a qualificação no trabalho (BRASIL, 2003g, art. 1 §1 e §2). No que se refere ao ensino superior, a LDB tem como principais finalidades estimular a criação cultural, desenvolver o espírito científico e o pensamento reflexivo; formar profissionais aptos a participarem do desenvolvimento da sociedade brasileira, colaborar na sua contínua formação; e incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e tecnologia, disseminando a cultura e assim promovendo o desenvolvimento do homem e do meio em que vive (BRASIL, 2003g). A LDB estabelece que as instituições formadoras devem fixar seus currículos e programas por meio de diretrizes gerais pertinentes, conduzindo a sua elaboração pelas diferentes carreiras de modo a possibilitar a formação de profissionais aptos a aprender a aprender nos diversos momentos de seu cotidiano. O MEC, por meio da Secretaria de Educação Superior – SESu publicou o Edital 04/97 (BRASIL, 2003h), convocando todas as entidades, escolas e movimentos a participarem da discussão e elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para as diferentes carreiras. Na ocasião, nem todas as entidades responderam à convocação do Ministério. O Ministério criou comissões de especialistas de cada carreira do ensino superior do Brasil, para ordenar e sistematizar as idéias de outros segmentos e elaboração das propostas finais das Diretrizes Curriculares e que foram encaminhadas para o Conselho Nacional de Educação. 3.2 As Diretrizes Curriculares e as Mudanças no Sistema Formador O Edital 04/97 definia o conjunto de elementos constitutivos que as Diretrizes Curriculares deveriam contemplar: perfil, competências e habilidades, conteúdos curriculares, duração dos cursos, estrutura modular, estágios e atividades complementares e conexão com a avaliação institucional. A apresentação destes elementos no edital procurou organizar o debate nacional e o processo de construção das DCN foi rico e importante para a história da educação superior no país. Apesar das dificuldades apresentadas, o processo envolveu vários atores da educação e da sociedade interessada. Proporcionou a análise e a critica ao modelo de ensino superior vigente, gerando a concepção de propostas inovadoras e criativas por parte dos educadores e de toda a comunidade que participou do processo (FORGRAD, 2003, p. 3). Houve grande mobilização por parte da comunidade interessada no assunto, conferindo ao mesmo maior legitimidade. De acordo com a SESu/MEC, aproximadamente 1200 propostas foram enviadas, provenientes de universidades, faculdades, de organizações profissionais, de docentes e discentes. Neste momento, a ampla participação do setor público e privado na organização de seminários, encontros e debates, com a presença da SESu/MEC teve grande destaque. Os diversos segmentos da odontologia encaminharam 31 propostas que foram sistematizadas pela comissão de especialistas da SESu/MEC (BRASIL, 2003i, p.25). No entanto, não existe relato destas propostas terem sido sistematizadas durante seminários com a presença da SESu/MEC e de uma maior representatividade de entidades da classe odontológica interessadas nesta discussão. A Associação Brasileira de Ensino Odontológico – ABENO, enquanto entidade representativa do ensino de odontologia no Brasil, se fez presente na construção das propostas a serem apresentadas a SESu/MEC, sendo que no estado do Paraná a Universidade Estadual de Londrina e Universidade Federal do Paraná mandaram contribuições. A odontologia se fez presente nas audiências públicas realizadas pelo CNE representada pelo Conselho Federal de Odontologia, além da ABENO. A REDE UNIDA, enquanto movimento social preocupado com os aspectos voltados para os RHS, encaminhou propostas para o MEC, respondendo ao Edital 04/97 e visando mudanças na formação como instrumento de consolidação do SUS. A Rede mobilizou grande parte dos cursos da área da saúde, com predomínio de cursos de Medicina e Enfermagem. De acordo com o parecer 776 do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Ensino Superior - CNE/CES as Diretrizes Curriculares Nacionais são orientações para a elaboração dos currículos que devem ser necessariamente respeitadas por todas as Instituições de Ensino Superior - IES, visando proporcionar a flexibilidade e a qualidade da formação oferecida aos estudantes (BRASIL, 2003j, p. 2). As diretrizes asseguram às IES, ampla liberdade na composição da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como no formato e também nas especificações de estudos a serem ministrados. A substituição dos chamados “Currículos Mínimos” pelas Diretrizes Curriculares pode proporcionar avanço significativo no ensino de graduação do país. Os conteúdos, antes definidos por portarias e, portanto de caráter rígido, agora apresentam possibilidades de flexibilização, podendo ser delimitados pelas IES, dentro de princípios gerais próprios e de acordo com seu panorama regional e local. Assim, a formação de nível superior no Brasil, passa a ser visualizada por uma sólida formação básica integrada à formação profissional e fundamentada nas habilidades e competências teórico-práticas adquiridas dentro e fora do ambiente acadêmico das IES. A publicação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação está inserida em um discurso que anuncia uma ampla reforma educacional do ensino superior brasileiro. No entendimento de Meyer e Kruse (2001, p.6) o conceito de reforma, abriga uma infinidade de tipos de iniciativas e programas com propósitos diversificados. Ocorre desde a adequação do ensino às demandas sociais, às demandas do mercado de trabalho até a descentralização da administração do sistema, passando pela incorporação de novas tecnologias educacionais ao currículo, visando melhorar o rendimento dos alunos ou melhorar a qualidade do trabalho docente. Assim, as leituras de tais documentos podem ser as mais variadas possíveis. A Reforma Educacional brasileira em geral, observando em particular a da área da saúde, ocorre em um momento ímpar da sociedade. Por um lado tem-se um Sistema Único de Saúde em construção e um Ministério da Saúde conduzindo discussões para que a ordenação da formação de recursos humanos em saúde pelo SUS se concretize. Por outro, tem-se as Diretrizes Curriculares indicando para a formação de profissionais competentes a transformar a realidade da população, permitindo as IES discutir suas especificidades e vocações bem como suas realidades locais (MARANHÃO, 2003, p.xvi), o que confirma também sua adequação às discussões relativas às diretrizes para a educação mundial no século XXI, estimuladas no cenário internacional pela UNESCO2. Ainda que a comunidade acadêmica caminhe lentamente rumo a promoção destas mudanças, a sua publicação significa um grande passo rumo ao fortalecimento do Sistema Único de Saúde e adequação do sistema formador às demandas impostas pela sociedade, como, por exemplo, aumentar o acesso aos serviços de saúde e assim possibilitar melhores condições de vida a esta sociedade. 2 Atualmente, no cenário internacional, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura – UNESCO, designou uma comissão na tarefa de estabelecer diretrizes para a educação mundial para o século XXI (DELORS, 2003, p.11). Dentre as recomendações merece destaque a conformação dos quatro pilares da educação. São eles: o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a ser (DELORS, 2003, p.89). Os quatro pilares devem constituir uma só via do saber. No entanto, como regra geral, o ensino formal tem se orientado quase que exclusivamente, para o aprender a conhecer e em menor escala para o aprender a fazer. Uma nova concepção ampliada de educação é necessária para que seja descoberto, resgatado e fortalecido o potencial criativo de cada ser humano (DELORS, 2003, p.90). Isto supõe que se deva ultrapassar a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados (saber-fazer), e passe a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que na sua totalidade, aprende a ser (DELORS, 2003, p.91). 3.3 Competências dos Profissionais da Saúde Quando se pensa em competências profissionais é necessário entender as mudanças no mundo do trabalho. Por conta disso, surgem novas formas de atenção com uso intensivo de tecnologias cada vez mais refinadas que exigem do trabalhador a sua constante atualização. Concomitante a isso, o desemprego aumenta juntamente com a necessidade de trabalhadores com múltiplas capacidades, aptos a exercerem cada vez mais, funções intelectuais e menos mecânicas (DELUIZ, 2003, p. 3). Para Deluiz (2001) o termo competência baseia-se nos resultados, ou seja, na capacidade de resolver problemas de qualquer natureza por parte do trabalhador por meio do saber, do saber-fazer e do saber ser e se traduz em: [...] ações e operações mentais, (que) articulam os conhecimentos (o ‘saber’, as informações articuladas operatoriamente), as habilidades (psicomotoras, ou seja, o ‘saber fazer’ elaborado cognitivamente e socioafetivamente) e os valores, as atitudes (o ‘saber ser’, as predisposições para decisões e ações, construídas a partir de referenciais estéticos, políticos e éticos) constituídos de forma articulada e mobilizados em realizações profissionais com padrões de qualidade requeridos, normal ou distintivamente, das produções de uma área profissional [...] (DELUIZ, 2001, p. 6). Portanto, as exigências no campo do trabalho, exigem do trabalhador capacidades intelectuais, cada vez mais complexas, autônomas e coletivas. Como trabalhar em equipe, comunicar-se, observar, problematizar, diagnosticar, propor soluções, antecipar, prevenir, decidir e intervir em cada uma das situações que surgem em seu cotidiano profissional (NORONHA, 2002a, p.15). Os diferentes usos da noção de competência causam dúvidas quanto ao seu real significado. Na área educacional, ela tende a substituir as noções de saberes e conhecimentos e, na esfera do trabalho, a noção de qualificação. Apesar da competitividade no mundo contemporâneo ser inegável, tem que ser considerado o contexto educativo. Formar pessoas competentes não significa o mesmo que formar pessoas competitivas, em um sentido restrito (VALENTE, 2002, p 8). Para o Conselho Nacional de Educação (CNE, 2003) competências não podem ser aprendidas apenas no plano teórico nem no estritamente prático. A constituição de competência é requerimento à própria construção de conhecimentos. Apesar das competências sempre se manifestarem por comportamentos observáveis, elas conotam implicitamente os conhecimentos tecnológicos, as bases científicas e instrumentais dessas tecnologias e as atitudes e valores inerentes à realização do trabalho. O conceito de competência amplia a responsabilidade das instituições de ensino na organização dos currículos da educação superior, na medida em que exige a inclusão de novos conteúdos, de novas formas de organização do trabalho, da incorporação dos conhecimentos que são adquiridos na prática, de metodologias que desenvolvam as capacidades de como resolver problemas novos, comunicar idéias e tomar decisões dentre outros (CEFET, 2003, p.3). Existe ainda a necessidade de humanizar as práticas de ensino no sentido de se contemplar os diversos aprendizados; o aprender a aprender, o aprender a fazer, o aprender a viver juntos e o aprender a ser (DELORS, 2003). Nas Diretrizes Curriculares, a formação por competência inverte a lógica que tradicionalmente conduziu a organização curricular. Ao invés de partir de uma listagem de disciplinas obrigatórias e respectivas cargas horárias, o novo paradigma exige como referência inicial o conjunto de competências próprias para cada profissão (LOPES, 2002,p. 117). A formação por competência apresenta-se como uma nova tecnologia de organização curricular e tem buscado responder questões sobre como selecionar, organizar conhecimentos sem fazer referências claras às disciplinas (LOPES, 2002, p.117) e incorporar os novos conceitos requeridos no mundo do trabalho, fazendo com que as instituições formadoras se insiram de fato no contexto da sociedade que passa por constantes adaptações ou mesmo transformações. O debate sobre competências profissionais alcançou o campo da saúde principalmente no que se refere à formação profissional. A nova LDB sustenta legalmente tais perspectivas e faz com que o modelo de formação dos profissionais para o setor seja, portanto, reestruturado. Embora haja o embasamento legal, é de entendimento do setor que um longo percurso deve ser feito até que se defina com clareza o modelo de formação profissional pertinente (MOTTA, 2001, p.6). Apesar de já ter sido definido um rol de competências gerais dos profissionais de saúde e que a necessidade de conformação do novo perfil profissional pautado na sistemática de formação por competências, serão necessários exercícios constantes de entendimento e aplicação que permitam configurar possibilidades de metodologias de ensino-aprendizagem para sua efetiva incorporação (MOTTA, 2001, p. 5). As competências gerais para a área da saúde, foram originadas da proposta apresentada pela REDE UNIDA à SESu/MEC em resposta ao Edital 04/97 . Após audiência pública houve o consenso dos participantes em mantê-las no corpo final do documento das DCN, de todas as profissões/carreiras da área da saúde: Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo; Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas; Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação; Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz; Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativa, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a ser empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde; Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais (ALMEIDA, 2003, pág 17). No cenário atual dos dinâmicos movimentos da sociedade, das mudanças nas formas de construção do conhecimento, adotar o modelo de competências pode significar o direcionamento do aluno para a realidade da sociedade. Este rol de competências pode permitir um maior dinamismo na execução de suas práticas tornando-os resolutivos e hábeis nas tomadas de decisões e com foco nas questões voltadas a valorização da condição de cidadania dos usuários do sistema de saúde brasileiro. 4 REVENDO A HISTÓRIA PARA ENTENDER O PRESENTE – OS CAMINHOS DA ODONTOLOGIA 4.1 A Profissão Odontológica ao Longo da História Percorrer a trajetória histórica da profissão odontológica significa buscar nas suas raízes explicações ou justificativas para o que ocorre atualmente. No transcorrer desta contextualização é importante atentar para a forma como a profissão surgiu no cenário mundial. A odontologia, desde seu inicio, foi caracterizada por práticas fundamentadas nas ações mecânicas e artesanais de seus executores, tanto assim que Pinto (1978) apud Perri de Carvalho (1995, p. 11) coloca que a profissão passou por três distintas fases, a artesanal, a acadêmica e a humanística. Assim é de grande importância o conhecimento das raízes históricas da prática e do ensino da odontologia em nosso país. A profissão estava intimamente ligada à história da medicina, isso porque a odontologia era considerada como uma faceta da medicina. O homem lutava contra as doenças e para ele existiam dois grandes dramas: a dor e o medo. No entanto, a evolução dos conhecimentos permitiu uma diferenciação e aos poucos os conhecimentos relativos à Odontologia, foram sendo isolados. Estes conhecimentos estavam fortemente relacionados para as habilidades técnicas e artesanais da construção de peças protéticas (RING, 1998, p. 21). Como a profissão era caracterizada mais pelas habilidades artísticas, que requeriam poucos conhecimentos teóricos e científicos, as pessoas que se destinavam para a profissão eram aqueles menos favorecidos intelectualmente e assim V. G. BLACK, famoso nome da odontologia mundial foi caracterizado: Black nasceu no condado de Scott, Illinois, em 1836 […]. Desde jovem, demonstrava sua aversão pelo estudo, e raramente frequentava a escola. Aos 17 anos, o enviaram a Clayton, Illinois, onde seu irmão mais velho Thomas, exercia a medicina. Aos 21 anos se mudou para Mount Sterling, associando-se ao dentista J.C. Speer, depois de ter descoberto que a odontologia melhor se ajustava às suas aptidões mecânicas, em comparação com a medicina (RING, 1998, p. 274). A profissão, no último quarto do século XIX quando surgiu, já manifestava a intenção de inserir o componente “humanístico” na formação dos profissionais. Para uns isso era um absurdo, pois estaria obrigando o aluno ao estudo de conteúdos que não teriam a ver com a sua prática profissional (BOTAZZO, 2003, p; 18). No III Congresso da Federação Dentária Internacional - FDI, em 1900, DUBOIS (1900) apud Botazzo (2003, p. 18) relata a posição que era defendida pelos “dentísticos” da época. Nesse congresso foi apresentado, discutido e aprovado um “currículo odontológico mínimo”, cujos traços estruturais permanecem intocados decorridos mais de cem anos. Godon, um dos mais combativos militantes da nova profissão, pouco tempo depois justificaria seu encaminhamento afirmando que o tempo de que dispunha o estudante-dentista para seu curso e também para sua “capacidade intelectual menor” recomendavam o recorte instrumental da educação, com ênfase na “educação das mãos” no laboratório e na bancada, já que um dentista sem habilidade manual não seria um dentista. Igualmente não faltou quem afirmasse– no interior da profissão – que , para “extrair dentes dos operários dos arrabaldes”, não se precisava de um profissional lá muito sofisticado ou de custo social elevado, como seria o dos especialistas médicos (BOTAZZO, 2003, p.17). A profissão, neste momento, ganhou duas conotações políticas e também técnicas, fundamentais para o entendimento de suas práticas atuais (DUBOIS, 1890 apud BOTAZZO, 2003, p.17). Uma de que se tratava de uma profissão cujo caráter era essencialmente privado, por entender que o dente não significava “perigo social” e que os processos patológicos que acometiam a cavidade bucal, não eram de fato “patologias” que merecessem ser controladas ou que necessitassem de vigilância. O segundo aspecto, derivado do primeiro, diz respeito a substituição dos elementos dentais por “dispositivos artificiais” ou próteses – o protesismo – que evidencia o caráter cirúrgico-restaurador da profissão (BOTAZZO, 2003, p. 18). Estes dispositivos, presentes na profissão até os dias atuais , deveriam expressar o seu fracasso. Porém Botazzo (2003, p.18) argumentando sobre a intensa utilização de próteses na substituição dos dentes naturais coloca que “[...] em certa ocasião se disse, que a prótese, que devia ser a evidência do fracasso da odontologia, foi erigida como totem e marco distintivo da profissão [...]”. As primeiras necessidades no campo da odontologia surgiram por meio de manifestações dolorosas que afetavam os primeiros núcleos de povoação e fazia-se necessária a presença de determinadas pessoas que tivessem o mínimo de prática para atender as enfermidades daqueles que pertenciam às classes mais abastadas. Dentre estas necessidades estavam as odontológicas (ROSENTHAL, 2002). No Brasil, este quadro não era diferente. Para dar conta destas questões que afetavam as classes abastadas do país, vieram para o Brasil os Mestres de Ofícios, que eram a categoria de artesãos em que se incluíam os cirurgiões que eram também barbeiros e extraíam dentes. Esta categoria recebia licenciamento da coroa portuguesa, sendo a prática odontológica desta época, eminentemente artesanal e voltada para o alívio da dor (ROSENTHAL, 2002). Neste momento a prática das extrações dentárias se dava em função do sofrimento causado por sensações dolorosas, no entanto, quem as executava, não possuía qualquer conhecimento científico a respeito (ROSENTHAL, 2001, p.33). É claramente percebido que a odontologia desta época já era oportunizada, mesmo que nos moldes artesanais e curativistas, apenas para os nobres, pertencente a coroa portuguesa. A odontologia começou a se estruturar no Brasil como profissão por volta de 1800, época em que estabeleceu-se o Plano de Exames da Real Junta do Protomedicato, exigindo do candidato à profissão de dentista, um exame que constava de conhecimento parcial de anatomia, métodos operatórios e terapêuticos para os profissionais que vinham para o Brasil, sendo na maioria advindos da França e Portugal. Apenas após alguns anos foi concedida esta titulação a um brasileiro (ROSENTHAL, 2001, p. 37). Algumas instâncias foram criadas para regulamentação das práticas sanitárias da época. A exemplo disso, a coroa instituiu, por meio de decreto, a Junta de Higiene Pública que possibilitou avanços nas medidas saneadoras. Este decreto ainda previa a regularização da formação em universidades estrangeiras, cujos diplomas não tinham sido legalizados pela Faculdade de Medicina do Império. A antiga prática, realizada pelos mestres de ofício, ainda era muito presente e realizada também por pessoas que não possuíam as habilitações concedidas pelo império. A partir de 1851, o império passou a exigir que Médicos, Cirurgiões, Boticários, Dentistas e Parteiras, apresentassem as suas Cartas de Habilitação à Junta de Higyene. Com a intenção de melhorar o ensino e combater o charlatanismo, foram estabelecidos novos Estatutos às Faculdades de Medicina e em 1856 foram aplicados os primeiros Exames para Dentistas e Sangradores (ROSENTHAL, 2001, p,42). A regulação da profissão iniciou em 1964 por meio da Lei no 4324/64 (CFO, 2003b) que instituía o Conselho Federal e Estaduais de Odontologia cuja finalidade ainda é a de “supervisionar a ética profissional em toda a República, cabendo-lhes zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente” (CFO, 2003b). A profissão foi oficialmente regulamentada, em 1966, por meio da Lei 5081/66 (CFO, 2003b). 4.2 O Ensino de Odontologia no Brasil e no Paraná Para a obtenção do título de Dentista ou Dentista Aprovado, o candidato fazia exames na Faculdade de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. Estes exames constavam de uma parte teórica bem simples e a extração de um dente em cadáver, o que era motivo de muitas críticas (ROSENTHAL, 2001, p.44). Nessa época, existiam apenas as Faculdades de Medicina, que eram segmentadas em práticas diversas, entre elas a de Cirurgia Dentária. Em 1879, foi determinado que em cada Faculdade de Medicina, fossem criadas em anexo, uma Escola de Farmácia, um Curso de Ginecologia e Obstetrícia e também um de Cirurgia Dentária. Por meio de um decreto, a coroa portuguesa regulamentou, desta forma, os exames das Faculdades de Medicina (ROSENTHAL, 2001, p.43). Os Cirurgiões Dentistas que queriam estar aptos ao exercício de sua profissão passavam por duas séries de exames: - o primeiro de anatomia, fisiologia, histologia e higiene, em suas aplicações à arte dentária. O outro, de operações e próteses dentárias (ROSENTHAL, 2001, p.43). Diante disso, foram instituídos oficialmente no dia 25 de outubro de 1884, também por decreto do governo imperial, os Cursos de Odontologia nas Faculdades de Medicina da Bahia e Rio de Janeiro. Esse decreto possibilitou um grande desenvolvimento didático e de organização da odontologia moderna, sendo denominado Reforma Sabóia. A data supracitada, posteriormente seria instituída como o “Dia do Cirurgião-Dentista Brasileiro”, pela Resolução CFO-96 (ROSENTHAL, 2001, p.44). No Brasil, o Curso de Odontologia foi criado no final do século XIX com as características e percalços marcantes com que a profissão era praticada na época. Ao ser criado oficialmente, o curso passou por conturbações típicas de um curso muito recente no Brasil e sua principal dificuldade era a deficiência de recursos humanos preparados para o ensino (PERRI DE CARVALHO, 2001a, p.49). Deve-se destacar que a Odontologia nesta época era caracterizada por alguns autores como sendo eminentemente artesanal e inferiorizada em relação a outras atividades de saúde (MENEZES, 1985 apud PERRI DE CARVALHO, 2001a, p.49). O ensino odontológico do Brasil, entre suas características, passou a apresentar um currículo próprio sem que houvesse disciplinas em comum com o curso médico. Em 1911, por meio de decreto promulgado pelo então Presidente da República, Epitácio Pessoa, os cursos oferecidos pelas Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, se transformaram em Faculdade de Odontologia com duração de 4 anos (MENEZES, 1985 apud PERRI DE CARVALHO, 2001a, p.49). Os cursos de odontologia passaram a surgir desvinculados das Faculdades de Medicina, porém ligados à Farmácia, quando houve significativa expansão do ensino odontológico brasileiro (LIMA apud PERRI de CARVALHO, 2001a, p.50). Nos anos 60, a expansão dos cursos de odontologia no Brasil preocupava a então nascente Associação Brasileira do Ensino Odontológico - ABENO – que na sua 4a Reunião fez algumas recomendações em relação à abertura de novos cursos. Dentre as recomendações constavam: Só se deve cogitar da criação de novas Faculdades de Odontologia, quando estudos das condições geo-econômicas da região onde se pretende fixar a escola, das disponibilidades humanas para a organização do corpo docente e, dos recursos materiais necessários à dotação do novo instituto, de condições físicas compatíveis com a natureza do curso, estejam a indicar a utilidade e viabilidade do mesmo (PERRI DE CARVALHO, 2001 apud ROSENTHAL, 2001, p 51). Ainda sobre a expansão excessiva dos cursos de Odontologia, Rizzatti-Barbosa et. al (1990, p.48), consideram que a criação desenfreada de Faculdades de Odontologia nos anos 70 atendia muito mais aos interesses de determinadas indústrias de educação e da expansão das indústrias médicoodontológicas, de medicamentos e equipamentos, do que a reais necessidades da população. Para Pinto (1978) apud Perri de Carvalho (1995, p.11), o ensino odontológico no Brasil pode ser caracterizado por ter tido três fases em seu desenvolvimento: a artesanal, a acadêmica e a humanística. A primeira fase, desenvolvida de forma empírica nos primeiros centros formadores, preocupava-se essencialmente com a estética. A segunda fase, a acadêmica, surgiu devido à criação e implantação formal dos primeiros cursos de Odontologia, quando se inicia o reconhecimento da necessidade das ciências biológicas. Mais recentemente surge a preocupação com a formação humanística dos profissionais da odontologia e a introdução de disciplinas da área de ciências humanas, como por exemplo, a Sociologia, a Antropologia, a Psicologia entre outras. A odontologia brasileira, assim como a da América Latina de forma geral, sofreu fortes influências das tecnologias de outros países. Assim os profissionais que iam aperfeiçoar-se fora do Brasil voltavam com a pretensão de aplicar os conhecimentos adquiridos nas faculdades brasileiras e também na prática profissional (VIEIRA, 1978). Este aspecto caracterizou fortemente a odontologia nacional, como uma profissão que agrega tecnologias que pouco condizem com as características socioeconômicas do país, o que tem tornado cada vez mais distante a oferta de serviços odontológicos de qualidade à maioria da população (NARVAI, 1994, p.19). A própria ABENO, fundada em 1956 com apoio da CAPES, Ministério da Educação e também Serviço Especializado em Saúde Pública – SESP, na década de 70, assumiu papel importante na vinculação com instituições estrangeiras. A associação implementou um estágio nos Estados Unidos para docentes das Faculdades brasileiras. Esse se deu graças a um convênio com a W. K. Kellogg Foundation originando várias ações de intercâmbio entre o Brasil e os Estados Unidos em convênios tripartites CAPES-ABENO-Kellogg (PERRI DE CARVALHO, 2001b, p. 21). Estes incentivos e a manutenção dos salários públicos oportunizaram o deslocamento de muitos professores universitários para fora do país em busca de novos conhecimentos técnicos e científicos. Alguns autores (GARRAFA e MOYSÉS, 1996, p.8) indagam sobre o retorno destes investimentos para o Estado. Não se tem ao certo se os conhecimentos oportunizados pelos investimentos foram democratizados nas universidades ou se beneficiaram com exclusividade as atividades liberais daqueles que os receberam. As preocupações da ABENO estavam na atuação docente, as quais também estavam centradas no ensino integrado. Em 1962 a Associação defendia a adoção do tempo integral, principalmente para os docentes da área básica. Coincidindo com esse período, foram implementados os cursos de pós-graduação e as exigências de titulação para a carreira universitária, que passou a ser obtida em tais cursos e em concursos públicos (PERRI DE CARVALHO, 2001b, p.60). Mesmo de forma pouco significativa, teve início a superação da fase típica das primeiras décadas de funcionamento dos cursos de Odontologia, em que o professor era o profissional bem conceituado nas práticas clínicas do local. Muito embora não estivesse preparado e nem tivesse vocação para a prática do ensino, este foi um aspecto que caracterizou e ainda caracteriza fortemente o ensino em todas as carreiras da saúde até os dias atuais (PERRI DE CARVALHO, 2001a, p. 61). Com a criação desenfreada de cursos de Odontologia em vários estados, acentuaram-se as discussões sobre as reformas curriculares necessárias para o ensino odontológico brasileiro. Lima (1958 apud PERRI DE CARVALHO, 2001a, p.50) discute o fato das propostas de reforma curricular estarem centradas no simples aumento das cátedras e na possibilidade de aumentar os anos para a obtenção do título de cirurgião-dentista. Sempre que se cogita reformar o ensino odontológico, trata-se com razão de aperfeiçoar a organização didática, aumentando o tempo de duração do curso, desdobrando cadeiras... – Esse objetivo nem sempre é alcançado. Forma-se um círculo vicioso, porque de fato, se atualmente o tempo do qual dispõe o acadêmico para estudar, com proveito, as diversas cadeiras da 3a série, o mesmo inconveniente persistirá, desde que o acréscimo de mais um ano de estudo, corresponda a um sensível aumento de cadeiras (LIMA 1958, apud PERRI DE CARVALHO, 2001, p, 50) Por solicitação do Governo Federal, a CAPES constituiu em 1960 uma comissão para que fossem apresentadas propostas para a melhoria das condições de ensino odontológico no Brasil. A proposta dessa comissão centrava-se na ampliação dos currículos de odontologia para 4 anos, com 4280 horas de trabalho e previa também o agrupamento de disciplinas em departamentos para permitir o entrosamento de disciplinas afins e o estudo orientado. Tal fato tem repercussões importantes nas discussões atuais, acerca das Diretrizes Curriculares Nacionais, pois estas estruturas departamentalizadas têm dificultado o avanço dos processos. Foi neste cenário que se concretizou o ensino fragmentado e dissociado da visão requerida a qualquer profissional da saúde. Em 1964, o grupo de trabalho da ABENO, (GUIMARÃES, 1964 apud PERRI DE CARVALHO, 2001a, p.52) sistematizou uma proposta defendendo um currículo mínimo e a organização de calendário escolar em atendimento à então recente Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O formato proporcionado pela LDB de 1968 resultou em um distanciamento das disciplinas básicas com as consideradas profissionalizantes, e assim, formando cirurgiões-dentistas com visão desvinculada da totalidade do ser humano e centrada apenas nas habilidades técnicas da profissão, com foco na cavidade bucal. Com o objetivo de atender às mudanças sociais ocorridas e visando a formação de um profissional generalista, o CNE, por meio da Resolução 4/82, instituiu um novo currículo para o curso de odontologia. A resolução determinava a carga horária mínima de 3600 horas e de oito semestres para a duração do curso. É importante chamar a atenção para o fato que desde esta época o termo “generalista” tem sido empregado nos ambientes formadores. Neste cenário foram introduzidas também, disciplinas como Antropologia, Psicologia, Sociologia e Metodologia Científica. No entanto, estas disciplinas eram consideradas como “perfumaria” para esta formação por muitos profissionais, uma vez que o interesse da profissão recaía no desenvolvimento de habilidades manuais (PERRI DE CARVALHO, 2003, p. 54). A integração ensino/serviço foi contemplada nos estágios, conforme definição por decreto federal e também pelo Conselho Federal de Odontologia. O estágio curricular, como procedimento didático-pedagógico, passou a ser visto como competência das Instituições de Ensino que poderiam recorrer aos serviços de integração, estabelecendo relações com empresas, serviços, comunidades e governo mediante convênios (MORAES; PESSOTTI, 1983, p. 342). A intensa relação entre a ABENO e a CAPES desencadeou movimentos de inovações curriculares, como o de Diamantina (MG), que influenciou diversas Faculdades. A experiência de Diamantina contava com forte apoio oficial do então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, que ao paraninfar a primeira turma da referida Instituição se pronunciou em relação ao ensino odontológico dizendo que este tinha ainda muito a melhorar e que algo deveria ser feito com urgência para que isso ocorresse (LIMA (1958) apud PERRI DE CARVALHO, 2001a, p.51). De Minas Gerais surgiram outras inovações no currículo, como no Departamento de Odontologia da Universidade Católica de Minas Gerais, tendo como premissa o conceito de integração. Ênfase foi dada ao ensino extra-muro e à pesquisa social, como o desenvolvimento de sistemas de trabalho e da produção de equipamentos simplificados. Surge aí a Odontologia Simplificada. Em muitas outras Universidades brasileiras o movimento de reforma curricular se fazia presente. Notadamente, na Faculdade de Odontologia de Bauru, teve ênfase a Odontologia Preventiva, com a atuação comunitária, o diagnóstico bucal, o ensino clínico-integrado, o estudo de oclusão, o emprego de pessoal auxiliar, entre outras mudanças (PERRI DE CARVALHO, 1995, p. 18). Já neste momento, as inovações se voltavam para a Odontologia Preventiva com menção às práticas comunitárias. Apesar desta disciplina se diferenciar das demais, era ainda centrada no indivíduo e na clínica e não incorporava totalmente a abordagem comunitária na prática. Contudo, um fator relevante, foi o desenvolvimento de tecnologia simplificada na clara tentativa de promover maior acesso às ações e serviços odontológicos, sem, contudo ocorrer mudanças significativas nas ações da odontologia. Paralelamente, na Faculdade de Odontologia da Universidade de Campinas - UNICAMP, em Piracicaba, ocorreu uma profunda reestruturação com vistas à montagem de um curso harmônico, com esforço de integração e formando blocos de ensino, divididos em dois grandes grupos: um de atividades pré-clínicas e outro, de atividades clínicas. Na passagem dos anos 70 para os 80, o Programa de Desenvolvimento do Ensino Superior - PADES do MEC, apoiou alguns projetos inovadores, geralmente voltados à filosofia docente/assistencial. Em 1978, no Seminário sobre ensino Odontológico, promovido pelo MEC, por intermédio da CAPES e do PADES, o destaque foi dado para as propostas de inovação da Faculdade de Bauru e da Universidade Federal de Minas Gerais (PERRI DE CARVALHO, 2001b, p. 18). No Paraná, o primeiro curso a ser constituído, foi o da Universidade Federal do Paraná, em 1912, seguido pelos cursos das Universidades Estadual de Londrina e Ponta Grossa, em 1962 e 1969, respectivamente, o curso da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 1977 e curso da Universidade Tuiutí do Paraná, em 1982 (PERRI DE CARVALHO, 2001a, p. 71). Em 1987 foi criado o curso de odontologia da Universidade Estadual de Maringá. Embora inicialmente com características tradicionais, em seguida foram propostas inovações curriculares avançadas. Em 1992, alguns aspectos hoje contemplados na Lei de Diretrizes e Bases, estavam presentes no projeto de implementação de um currículo integrado e inovador daquela instituição (CECCON, 2000, p. 357). Esta situação colocou o curso de odontologia de Maringá em situação diferenciada dos demais cursos e adiantado nas mudanças que hoje ocorrem na odontologia do Brasil (CONRADO, 1992). O curso hoje, apesar da inovação vivida há uma década e com resultados importantes em termos de formação profissional, passa por reforma curricular voltada à implementação das diretrizes curriculares nacionais para o curso de odontologia. A odontologia, assim como em outras profissões da área da saúde, sofreu significativo aumento de cursos oferecidos a partir da publicação da LDB em 1996. Atualmente, segundo o CFO (CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA, 2003a), existem 161 cursos de odontologia no Brasil. O Estado do Paraná possui 14 cursos, sendo que cinco são de caráter público e nove de caráter privado. Destes cursos, quatro estão na capital (Curitiba) e 10 no interior do Estado nas seguintes cidades: Cascavel (dois cursos), Maringá (três cursos), Londrina (dois cursos), Ponta Grossa (dois cursos) e Umuarama (um curso). De acordo com dados recentes do CFO, os profissionais com registro no órgão em setembro de 2003, somavam aproximadamente 175 mil e no Estado do Paraná este número é de aproximadamente 11 mil cirurgiões-dentistas (CFO, 2003d). 4.3 A Odontologia na Reforma Sanitária Brasileira e nos dias Atuais Para Garrafa (1993, p.54) a odontologia atual pode ser descrita com as seguintes características: [...] trata-se, portanto de uma odontologia tecnicamente elogiável (pelo nível de qualidade e sofisticação inegavelmente alcançados nas diversas especialidades), cientificamente discutível (uma vez que não tem demonstrado competência para expandir esta qualidade para a maioria da população) e socialmente caótica (pela inexistência de impacto social ante a iniciativa e programas públicos e coletivos implementados) [...] (GARRAFA, 1993, p. 54). Apesar destas características, a odontologia se fez presente nos cenários políticos referentes às conquistas atuais do campo da saúde. Uma grande mobilização de estudantes desencadeou a criação da União Nacional dos Estudantes de Odontologia (UNEO) em 1954. O movimento tomou consistência a nos encontros anuais desta entidade a partir do ano de 1979, marcando a atividade estudantil nos tempos da ditadura (SERRA, 1998, p. 14), com discussões e críticas ao modelo de atenção odontológica vigente na época. O descontentamento por parte dos trabalhadores da saúde de um modo geral e em particular da odontologia, fez com que outros cenários fossem criados para a discussão da situação de saúde no Brasil, entre eles, em 1984, o Encontro Nacional dos Técnicos e Trabalhadores do Serviço Público Odontológico – ENATESPO. No processo da Reforma Sanitária Brasileira, a odontologia não ficou à margem, pois teve participação efetiva, com grande significado e contribuição para o movimento (SERRA, 1998, p.15). Após a VIII Conferência Nacional de Saúde (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1987) e como parte do seu processo, foi realizada em Brasília a I Conferência Nacional de Saúde Bucal (CNSB), cujo relatório final contém um diagnóstico da saúde bucal no Brasil (NARVAI, 1997a, p. 3; CONFERENCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 1986). Essencialmente, o documento da I CNSB reafirmava as críticas ao modelo hegemônico de prática odontológica vigente no País, descrito na VII Conferência Nacional de Saúde de 1980 (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE, 1980). Em 1986 a I CNSB caracterizou a prática odontológica do Brasil pela: ineficácia, ineficiência, descoordenação, má distribuição, baixa cobertura, alta complexidade, enfoque curativo, caráter monopolista e mercantilista e inadequação no preparo dos recursos humanos (CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE BUCAL, 1986, p. 4). Com todos os apontamentos dessas Conferências, a odontologia, assim como outras profissões da saúde, ainda está caracterizada pelas práticas individualistas, do tratamento mutilador/restaurador, com baixíssima cobertura e com pouca repercussão no grave quadro epidemiológico das doenças bucais da população brasileira (BOTAZZO, 1998, p. 32). Em contraposição ao invejável desenvolvimento de tecnologias em materiais, equipamentos e métodos clínicos, oriundos de realidades diversas, a odontologia brasileira tem predominantemente se distanciado da realidade socioeconômica da maioria da população brasileira. A reprodução na maioria dos serviços públicos do que se aplica na prática privada e ainda a incorporação tecnológica, pode não representar maior disponibilidade e acesso à população aos serviços odontológicos (RONCALLI, 2000). Para grande parte dos profissionais da odontologia, a percepção da dinâmica entre saúde e doença aparece marcada por uma visão muito reduzida, o que resulta em planejamento e ações que muito pouco se preocupam em transformá-la (WERNECK, 1994, p.71). Para Werneck (1994, p.79), no imaginário da categoria odontológica, o "público" relaciona-se às "camadas socialmente menos favorecidas" da população e isto afeta diretamente as ações e programas que são realizadas nos serviços de saúde do sistema público. A prática odontológica na sociedade brasileira se dá basicamente centrada na cura das lesões ocasionadas pelas doenças que acometem a cavidade bucal. Sabe-se que estas lesões são apenas as manifestações clínicas da doença cárie quando o que deve ser tratado é a doença em si (NARVAI, 1994, p. 106). Nos últimos anos tem-se um desenvolvimento enorme na produção, distribuição e consumo de bens e serviços relacionados aos problemas odontológicos. Narvai (1994, p. 25) relata que os gastos relacionados a odontologia por ano no Brasil estão em torno de 3,4 bilhões de dólares, incluindo entre outros aspectos, a formação, remuneração de recursos humanos odontológicos e o faturamento das indústrias de materiais, equipamentos e produtos de higiene bucal. Neste molde o autor caracteriza a profissão odontológica centrada na ação individual, realizada exclusivamente por um sujeito individual – o cirurgiãodentista, no restrito ambiente clínico-cirúrgico e reafirma: O que temos predominantemente no Brasil, determinando as características essenciais do modelo de prática hegemônico, é uma odontologia de mercado, sob influência política-ideológica do projeto de sociedade neoliberal (NARVAI, 1994, p. 107). Tais aspectos exercem fortes influências no desenvolvimento de tecnologias e da própria ciência em saúde bucal. Essas tecnologias não favorecem em níveis importantes, a resolução dos problemas odontológicos que acometem a população, pois, como citado anteriormente, são de alto custo, baixa cobertura e rendimento, e apresentam enfoque curativo, tecnicista, dentre outros aspectos apontados em conferências de saúde, congressos e eventos da área (BOTAZZO; FREITAS, 1998, p. 159). Conforme Pinto (1992, p. 60), as condições de acesso, diante do exposto, ficam seriamente comprometidas, pois aproximadamente 2/3 dos trabalhadores brasileiros não têm condições de serem atendidos em clínicas privadas, nas quais se concentram ¾ do tempo e força de trabalho ofertado pelos cirurgiões dentistas. Isso tem resultado que, de todo investimento em ciência e tecnologia na área de saúde bucal, apenas uma parte dela pode ser relacionada e aplicada aos problemas de saúde bucal de relevância em Saúde Pública. A formação de profissionais não qualificados para as novas propostas do setor saúde levam ao não comprometimento da maioria da classe com a consolidação do sistema de saúde. Além desta condição causar prejuízo à população, acarreta ainda o descrédito à profissão, qualificando-a como sendo pouco resolutiva, cara e de baixo impacto social (WERNECK, 1994, p. 79). Nesta abordagem, as IES devem ter o compromisso com o processo de transformação social da profissão. A Universidade deve formar atentando às necessidades da população e também ao mercado de trabalho na medida de suas possibilidades, sem que isto coloque em risco o processo de ensino e de produção de conhecimento (CEFET, 2003). A falta de um corpo docente qualificado nas escolas de ensino superior dos cursos da área da saúde, currículos ultrapassados, nos quais as disciplinas do ciclo básico e do clínico mal se relacionam, excessiva carga horária, teoria e práticas dissociadas, e ênfase na assistência especializada e no uso maciço de tecnologia faz com não seja surpresa que a formação em massa de profissionais da saúde esteja completamente afastada da realidade e incapaz de atender as demandas das populações (NORONHA, 2002, p.9). Quando a Universidade propiciar aos seus acadêmicos uma formação básica de qualidade, possibilitará também a sua inserção na prática profissional de modo a ser resolutivo diante das necessidades populacionais. Mais ainda, garantindo o conhecimento das aptidões de cada um, propiciar o aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. 4.4 A ABENO na Construção das Diretrizes Curriculares Nacionais A Associação Brasileira de Ensino Odontológico congrega os segmentos do ensino de odontologia e nos últimos anos suas ações têm alcançado grandes repercussões no cenário da formação de cirurgiões dentistas no país. A entidade tem como finalidades: Congregar representantes das instituições de ensino odontológico no Brasil; atuar objetivando a melhoria do ensino odontológico no país; adotar medidas que objetivem a formação e o aperfeiçoamento do pessoal docente e dos profissionais de odontologia; estimular as atividades de pesquisa na ciência odontológica; incentivar as atividades de extensão e de educação em saúde junto às comunidades; defender os interesses das instituições de ensino odontológico que a integram; constituir-se em fator de integração entre o ensino e a cultura nacional; manter relações com as entidades representativas dos profissionais cirurgiões-dentistas e dos profissionais afins da categoria odontológica; manter intercâmbio com entidades estrangeiras representativas da docência odontológica (XXXIII REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO ODONTOLÓGICO, 1998, p.5). A partir de 1997, um ano após a publicação da LDB, a Associação tem estimulado discussões sobre o Exame Nacional de Avaliação do Ensino Superior – PROVÃO, em que as escolas de odontologia passaram a ser avaliadas nas suas condições de oferta e também em relação ao seu corpo discente, além de outros temas como a construção de projetos pedagógicos, Bioética e assuntos relacionados com as Diretrizes Curriculares Nacionais - DCN para o curso (XXXII REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO ODONTOLÓGICO, 1997, p. 9). O assunto das DCN foi abordado em todas as reuniões a partir de 1997, porém com foco na adaptação dos cursos à nova legislação vigente, mais do que um espaço de discussão e construção coletiva das mesmas. A ABENO participou do processo de elaboração das DCN por meio de reuniões realizadas no Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo - Nupes, que abriga o "Grupo de Estudos sobre Ensino de Odontologia", constituído por representantes de universidades paulistas, com a participação especial da Comissão de Ensino da Associação Brasileira de Ensino Odontológico. Nestas reuniões foram discutidos vários aspectos sobre o ensino da Odontologia e construídos alguns documentos de referência (PERRI DE CARVALHO, 2001b, p. 32). Numa primeira etapa, esse grupo discutiu o modelo e concepção do profissional a ser formado e algumas bases teóricas para o exercício da profissão. Em seguida, discutiu-se um projeto pedagógico de curso de odontologia, definidos pela Comissão de Especialistas de Ensino da Odontologia. (PERRI DE CARVALHO, 2001b, p. 27). Em outras oportunidades, foi discutido o documento “Instrumento de Verificação das Condições de Oferta dos Cursos de Graduação em Odontologia”, depois aprovado pela 32ª Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico – Abeno (XXXII REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO ODONTOLÓGICO, 1997 p. 9) e pela Comissão de Especialistas de Ensino de Odontologia da SESu/MEC. Discutiu-se e elaborou-se também o documento Projeto Pedagógico para Curso de Odontologia, aprovado pela 33ª Reunião da Associação Brasileira de Ensino Odontológico (XXXIII REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO ODONTOLÓGICO, 1998, p.27), já incorporando as principais linhas do atual projeto de Diretrizes Curriculares. A proposta apresentada pela instituição reflete a síntese dos encontros citados, combinando textos e comentários apresentados por participantes das seguintes entidades: o grupo de Estudos sobre Ensino de Odontologia do Núcleo de Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo; Comissão de Ensino da Associação Brasileira de Ensino Odontológico - ABENO; Representantes de várias universidades brasileiras e a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas - APCD; Representantes das Comissões de Especialistas de Ensino de Odontologia - SESu/MEC e do Exame Nacional de Cursos INEP/MEC. Posteriormente, o texto foi aprovado pela Comissão de Odontologia do Exame Nacional de Cursos - INEP/MEC, sendo incluído no texto final das Diretrizes Curriculares, distribuídas pelo INEP. Foram encaminhadas ao MEC, em atendimento à solicitação do Edital sobre Diretrizes Curriculares, sugestões e propostas das seguintes instituições: Universidade Federal de Pernambuco - UFPe, Faculdade de Odontologia de Araraquara - Unesp, Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior do Estado de São Paulo - SEMESP, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, Universidade Federal da Paraíba - UFPb, Universidade Federal do Paraná - UFPR, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Faculdade de Odontologia de São Paulo/USP, Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto/USP, Faculdade de Odontologia de Bauru/USP, UNICAMP, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, Universidade de Fortaleza UNIFOR, Universidade Santa Cruz do Sul, Universidade Estadual de Londrina -UEL, Universidade Sagrado Coração - USC, Universidade de Guarulhos, Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, Universidade Federal do Maranhão UFMa, Sociedade Caruarense de Ensino Superior e Universidade de Brasília. (FERNANDES NETO, 2002, p. 55) Dessas, cinco contribuições confirmavam quase que na totalidade a proposta conjunta da ABENO/NUPES/ENC. As demais eram sugestões pontuais a respeito de estrutura curricular. E assim se deu a construção das DCN para a Odontologia. Este cenário traz as seguintes reflexões. O processo de elaboração das DCN pode ser considerado representativo para o conjunto de discussões realizadas pela classe? As tendências apontadas pelas DCN são consensuais para a categoria? Como foi a participação dos segmentos representativos da classe neste momento? A observação destes aspectos pode representar importante fator para a compreensão dos processos desencadeados nos estados e no interior dos cursos 5 OBJETIVOS 5.1 Objetivo Geral: Identificar o processo de implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Odontologia no Estado do Paraná. 5.2 Objetivos Específicos: • Registrar o papel das instituições representativas dos docentes e dos movimentos sociais no processo de construção das Diretrizes Curriculares Nacionais no Brasil; • Identificar a participação dos cursos do Estado do Paraná, no processo de construção e implementação das DCN à luz dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. • Identificar como as competências gerais previstas nas Diretrizes Curriculares dos cursos de Odontologia estão sendo incorporadas nos cursos do Estado; • Identificar as dificuldades para a incorporação das competências gerais e as possíveis estratégias para superálas. 6 MATERIAIS E MÉTODO 6.1 O Percurso Metodológico Entende-se por pesquisa a atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente a realidade de mundo e assim vincula pensamento e ação. Desta forma nada pode ser um problema intelectual, se não tiver sido, num primeiro momento, um problema da vida cotidiana. As questões da pesquisa estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente determinadas, surgem da inserção na realidade, nela encontrando suas razões e objetivos (MINAYO, 2002, p. 21; GOLDENBERG, 2001, p. 13). Toda investigação se inicia por um problema e este se apresenta claramente definido na pergunta norteadora do presente estudo, estando articulado a conhecimentos anteriores e ao cotidiano da autora do trabalho. A este conhecimento anterior, construído a partir de conhecimentos de outros autores sobre a questão da pesquisa, dá-se o nome de teoria e nesta pesquisa foi construída a partir dos acontecimentos históricos referentes à educação e à saúde bem como os caminhos que a odontologia percorreu nesses cenários (MINAYO, 2002, p. 18). A teoria é construída para explicar ou compreender fenômenos e processos e se caracteriza por ser um conhecimento do qual o pesquisador se serve numa investigação para orientar a obtenção de dados e a análise dos mesmos, e de conceitos que veiculam seu sentido. Minayo (2002, p.19) coloca que a metodologia é o caminho do pensamento e a prática exercida quando se aborda a realidade. Desta forma esta fase da pesquisa ocupa papel central no interior das teorias e está sempre se referindo a ela, incluindo as concepções teóricas de abordagem e o conjunto de técnicas que possibilitam a construção ou interpretação da realidade. Quando o objeto de estudo se preocupa com significados, motivos e valores correspondentes a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos, não podendo ser quantificados, deve-se lançar mão da Pesquisa Social e do método qualitativo. Este método é usado para compreender os significados das ações e as relações humanas que não são detectáveis em equações, médias e estatísticas (FREITAS, 2000, p. 40). Entendendo que o método a ser utilizado em uma pesquisa depende do objeto a ser estudado, a dicotomia existente entre método quantitativo e qualitativo deixou de ser preocupação e assim foi definido que o método que melhor se adequava ao objeto do estudo e seus objetivos seria o qualitativo. O método qualitativo traz como contribuição ao trabalho uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. Este tipo de pesquisa tem como objeto a consciência histórica dos processos (NEVES, 1996, p.2; MINAYO, 1998, p. 19). Ao se empregar o método qualitativo, o pesquisador está mais preocupado com o processo social, buscando visualizar o contexto e se possível estabelecer uma relação empática com o objeto de estudo que implique em uma melhor compreensão do fenômeno (NEVES, 1996, p. 1). Nestes estudos o investigador é quem dá sentido a seu trabalho intelectual, mas os seres humanos, os grupos e a sociedade é que dão o significado e intencionalidade às ações e às construções (MINAYO, 1998, p.19). A finalidade desta abordagem é intervir em uma situação insatisfatória, mudar condições percebidas como mutáveis, onde pesquisador e pesquisados assumem, voluntariamente, uma posição reativa (MINAYO, 1998, p. 23). Neste método todos os fenômenos são igualmente importantes e preciosos: a constância das manifestações e sua ocasionalidade, a freqüência e a interrupção, a fala e o silêncio. É necessário encontrar o significado, manifesto e o que permaneceu oculto (CHIZZOTTI, 1991, p. 77). Quando o objeto de estudo se focaliza no processo de construção, discussão e implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Odontologia, tem-se a necessidade de identificar quais são os segmentos deste processo. Assim, neste estudo, entende-se por segmentos de ensino, os coordenadores, os docentes, os movimentos sociais preocupados com a ordenação dos RHS e os discentes dos cursos do Estado do Paraná. Ao identificar estes segmentos, entendeu-se que este se compunha por diferentes e numerosos atores. Então optou-se por um recorte no objeto de estudo para que o trabalho pudesse ser viável quanto ao fator tempo. Entendendo que os docentes de odontologia se fazem representar principalmente na entidade própria para as discussões de assuntos referentes ao ensino, a ABENO; entendendo que a REDE UNIDA teve papel decisivo no produto final do Documento das Diretrizes Curriculares Nacionais (ANEXO A) enquanto movimento social, assim contribuindo no entendimento do processo de construção, este estudo se dividiu em dois panoramas distintos, porém complementares. São eles: • Panorama Nacional – Composto por representantes da ABENO Nacional e da Secretaria Executiva da REDE UNIDA; • Panorama Institucional – Composto pelos coordenadores dos cursos de Odontologia do Estado do Paraná. Apesar de ter sido apontada em momento anterior3, a intensa participação dos estudantes de odontologia no cenário político contemporâneo à Reforma Sanitária, no momento da coleta de dados desta pesquisa o segmento não apresentava nenhuma entidade representativa em caráter nacional que pudesse compor o estudo. Este fato levou a autora a percorrer caminhos em busca desta representação e refletir sobre a falta de articulação e participação política dos alunos. Neste momento existe um movimento denominado “Pró Executiva Nacional dos Estudantes de Odontologia” que com ajuda do Projeto VER-SUS (Vivência e Estágio na Realidade do Sistema Único de Saúde do Brasil), tem despertado os estudantes da Odontologia para se inserir nas discussões das políticas de saúde do país (BRASIL, 2003k). Diante dos fatos fica claro que embora incipiente, existe um movimento de reorganização dos estudantes de odontologia no nível nacional, porém com muita necessidade de estímulos para uma maior conscientização por 3 Página 48 item 4.3. parte dos estudantes. Devido à ausência desta entidade nacional no momento de coleta dos dados, optou-se pela exclusão deste segmento dos estudantes. Desta forma, este estudo contou com a participação do representante da ABENO Nacional, para o segmento dos docentes, representante da Secretaria Executiva da REDE UNIDA, para o segmento dos movimentos sociais e um participante que atua nos dois segmentos simultaneamente, perfazendo três entrevistas no panorama nacional. O panorama institucional foi formado a partir dos cursos de odontologia do Paraná que tivessem obtido o seu efetivo reconhecimento pelo CNE até dezembro de 2001, perfazendo um total de nove cursos entre privados e públicos. Foram convidados a participar do estudo os coordenadores destes cursos que, pelo critério de disponibilidade do entrevistado, fosse possível agendar um horário. Assim, apenas um curso não foi representado no estudo, pois não foi possível cumprir com este critério proposto por Valles (1997 apud MELCHIOR, 2002, p.76). O critério acima citado foi verificado a partir do primeiro contato com o entrevistado via correio eletrônico. Caso houvesse resposta imediata, estabeleciase contato telefônico para o agendamento do dia e horário da entrevista. Caso contrário, a partir dos endereços eletrônicos e telefones fornecidos pela ABENO/PR, procedia-se com contato telefônico diretamente por até três tentativas. Não foi obtida resposta eletrônica de dois cursos e. um deles foi possível o agendamento via telefônica na primeira tentativa. Para o outro curso, após as três primeiras tentativas, foi mandado outro correio eletrônico, não obtendo resposta. Pela última tentativa, procedeu-se o contato telefônico quando se conseguiu falar com o coordenador do curso. No entanto, não foi possível a combinação dos horários para a entrevista. A etapa de campo constou da entrevista aos coordenadores dos cursos paranaenses, bem como aos representantes dos docentes em âmbito nacional - ABENO e dos movimentos sociais do ensino superior do Brasil - REDE UNIDA. A coleta de dados se deu por meio de entrevista semi-estruturada que se caracteriza por tratar-se de uma técnica de coleta de dados em que o investigador pede ao entrevistado que fale sobre um tema específico eventualmente decomposto em tópicos com objetivo de recolher informações para a pesquisa (TRIVIÑOS, 1987). Os instrumentos utilizados para a coleta foram gravador, caderno de campo e roteiro semi-estruturado. Antes da realização das entrevistas, o roteiro (ANEXO B e ANEXO C) foi validado com um dos coordenadores de curso. Caso fosse necessário readequação no roteiro, concordaria em repetir a entrevista. Ao final foram feitas algumas correções do roteiro sem, no entanto comprometer o conteúdo central do mesmo. Assim as entrevistas foram conduzidas com o restante dos participantes do estudo durante os meses de Abril e Maio de 2003. As entrevistas foram transcritas pela autora da pesquisa, submetidas a uma revisão das formas e sentidos das frases, verificando a pontuação adequada. Na análise dos dados coletados, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo (BARDIN, 1979, p. 38; TRIVINOS, 1987). Esta técnica consiste no tratamento e análise de informações, colhidas por meio de técnicas de coleta de dados, consubstanciadas em um documento. A técnica se aplica à análise de textos escritos ou de qualquer comunicação (oral, visual, gestual) reduzida a um texto ou documento. Para Bardin (1979, p.38), o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações ocultas ou explícitas. Os dados foram trabalhados como um todo e as etapas de organização incluíram: pré-análise, exploração exaustiva do material, co-tratamento e interpretação dos dados. Após a pré-análise das entrevistas, estas foram recortadas em categorias empíricas, que para Freitas e Janissek (2000, p. 46), surgem a partir do estudo de um certo número de entrevistas. As categorias devem ser originadas seja dos documentos objeto da análise, seja de um certo conhecimento geral da área ou atividades estudadas pelo autor. O valor da análise fica sujeito ao valor ou legitimidade das categorias de análise, que devem ser exaustivas, objetivas e pertinentes (Freitas e Janissek, 2000, p.47). Após as leituras iniciais foi estabelecida uma série de cinco temas, sendo que cada tema foi subdividido em categorias, variando de duas a cinco para cada um. Em certos momentos, estas se dividiram em subcategorias. Com o aprofundamento das leituras, os temas foram sendo agrupados até se chegar ao desenho final das categorias analíticas apresentados na árvore de categorias com dois panoramas de análises – Figura 1. Durante a análise do material coletado foram construídos quadros (Quadro 1 e 2) para melhor visualização das características de cada entrevistado. Com o objetivo de proporcionar validade aos dados, o processo de triangulação se deu por meio dos documentos oficiais produzidos durante o processo de construção das DCN, dos anais dos eventos da ABENO (XXXII REUNIÃO DA ABENO, 1997; XXXIII REUNIÃO DA ABENO, 1998; VI Seminário ensinando e aprendendo em odontologia, 1999; Subsídios para o projeto pedagógico de odontologia II, 2002) e também das entrevistas coletadas (ANEXO B e C), (MINAYO, 1998, p.102; FREITAS; JANISSEK, 2000, p. 52). Na análise dos dados, a árvore de categorias analíticas proposta foi utilizada como objeto de trabalho e as categorias se apresentam diluídas por toda a discussão. Este estudo não tem intenção de questionar a legitimidade das DCN para a odontologia, uma vez que nesse momento já estão devidamente publicadas em diário oficial. A intenção é de compreender como se deu a sua construção para que haja o entendimento de como está sendo a incorporação das DCN pelos cursos paranaenses. Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Estadual de Londrina, sendo aprovado conforme parecer em anexo (ANEXO D). No momento da entrevista, os entrevistados leram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, em que a confidencialidade da identidade dos entrevistados e o tratamento global e anônimo dos dados estavam garantidos (ANEXO E). Figura 1: Árvore de Categorias Análiticas Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Odontologia A Processos de Construção da Diretrizes Curriculares A1 Panorama Nacional B Processos de Mudanças Curriculares e SUS A2 Panorama Institucional B1 Panorama Nacional B2 Panorama Institucional A11 Construção das DCN nos Diferentes Fóruns ABENO e REDE UNIDA A21 Construção do PPP na Instituicão B11 Integração DCN/SUS Práticas e Cenários de Aprendizado B21 Integração PPP/SUS Práticas e Cenários de Aprendizado A12 Participação dos segmentos do ensino de Odontologia na Construção das DCN A22 Participação dos segmentos do Ensino na Instituição B12 Formas de Atuação e Inserção no Mercado de Trabalho B22 Formas de Atuação e Inserção no Mercado de Trabalho A13 Dificuldade e Facilidades na construção e implementação das DCN A23 Dificulades e Facilidades nas Discussões B13 Tipo de Profissional a ser formado B23 Tipo de Profissional a Ser Formado A14 Entendimento das DCN Alcance das Mudanças Deselvolvimento Integral do aluno A24 Entendimento de DCN Alcance das Mudanças Formação Integral do Aluno B14 Entendimento de SUS B24 Entendimento de SUS A15 Relações de Poder nas Discussões A25 Relações de Poder nas Discussões Área de Formação do Coordenador Reforma Curricular Participação do curso na ABENO Não concedeu Participação do curso em Movimentos de Mudanças no Ensino Superior - Estágio de Discussão - Odontopediatria Sim Coordenação já participou de comissões na ABENO Sim Comissão Dentística Sim Instituição participa todo ano Sim Colegiado Diagnóstico Sim Apenas 1 vez Não Comissão Prótese Sim Antiga coordenação participava, atual não. Não Colegiado Prótese Sim Apenas 1 vez Não Comissão Saúde Pública Sim Coordenação participa de comissões na ABENO Sim Comissão Dentística Não Antiga coordenação participava, atual não. Não Comissão Educação Sim Instituição participa todo ano Não Comissão Quadro 1: Perfil do Panorama Nacional dos cursos paranaenses estudados segundo a natureza jurídica da instituição, área de formação do coordenador, participação na ABENO, participação em movimentos de mudanças na formação no ensino superior, Reforma Curricular e estágio das discussões. Entidade Área de Formação do Entrevistado REDE UNIDA Saúde Pública ABENO Cirurgia REDE UNIDA e ABENO Odontologia Social e Preventiva Quadro 2: Caracterização do Panorama Nacional das Representações das Entidades Estudadas. 6.1.1 Conceitos adotados O estudo utilizará na análise dos resultados alguns conceitos que permearam todas as entrevistas. Dentre eles estão o conceito de Mudança, o conceito de Construção Coletiva, o conceito de Projeto Político Pedagógico, de Relações de Poder e Mercado de Trabalho em Odontologia. O conceito de Mudança adotado no estudo remete à definição adotada por Kisil (1998, p.6) em que diz que mudança é um rompimento, mesmo que de forma gradual, com o status quo organizacional. A mudança pode ser conseqüência natural dos acontecimentos históricos e dos fatores que incidem sobre a organização, mas pode ser decorrente de adaptações às mudanças que ocorrem nos ambientes. Este pensamento está expresso na Figura 2 - Processo Natural de Mudança proposto pelo mesmo autor e pode contribuir no entendimento do estudo. Neste contexto, os processos de mudanças no interior das IES, também denominadas de “Reformas”, podem expressar os mais diferentes sentidos, dentre eles o definido por Gimeno-Sacristàn (1998, p. 85). O conceito de reforma utilizado em educação delineia um problema de compreensão na comunicação. Através desse conceito somos introduzidos em um mundo de significações potencialmente muito diferentes. Por reforma se pode entender desde uma simples ação sobre um aspecto parcial do sistema educativo, ou também programas para introduzir modificações no caminho de todo o conjunto e, inclusive, em seu sentido mais amplo, pode abarcar o estudo da dinâmica histórica das mudanças na educação, contemplando suas causas sociais, econômicas, culturais, epistemológicas etc (GIMENO-SACRISTÁN, 1998, p. 85). Outro conceito importante a ser adotado é o de Construção Coletiva. Entende-se que a Construção Coletiva se dá quando diversos atores, não apenas atores individuais, mas também atores coletivos, chegam a um consenso sobre determinada situação. Então a construção coletiva é um termo que conota toda a intenção democrática na idealização dos processos. FIGURA 2 - Processo Natural de Mudança (KISIL, 1998, pág. 7) Forças Desestabilizadoras Necessidades de Mudanças Organizacionais Tarefas Individuais Direção Estratégicas Processos Organizacionais Cultura Organizacional Resulta em: Organização Alterada Não Houve Mudança Desejada Sim Nova Organização É necessário entender que o termo não se refere à construção coletiva a partir de pequenas comissões, podendo surgir delas, mas sempre conduzindo a discussões mais amplas de modo a envolver toda a sociedade interessada. O que tem sido freqüentemente usado no atual cenário de reformas curriculares, é o termo Projeto Político Pedagógico (PPP). Neste estudo o PPP é adotado como sendo a concepção de ser humano e de sociedade, contendo de forma clara, quais as tarefas que precisam ser executadas e como se pretende realizá-las nas IES. Assim, o entendimento da real intenção do projeto é facilmente descoberto e por isso, um projeto pedagógico é sempre um projeto políticopedagógico na medida em que realiza opções, toma partido diante da realidade existente e diz, ou deveria dizer, qual sua verdadeira intenção de maneira transparente (VALE, 1999, p.71 apud UEL, 2002, p.3). A atitude de definição em relação aos valores evidencia que pelo projeto ser social, educacional, político, individual, sempre será um instrumento de ação e, nesse sentido, terá que se definir em termos de valores que se deseja transmitir e mais ainda, em termos políticos, em termos sociais e científicos. Em síntese, todo projeto é ação consciente voltada para a criação ou mudança do futuro (VALE, 1999, p.71 apud UEL, 2002, p.3). Nas discussões, tanto em âmbito nacional como no interior dos cursos, forças são aplicadas no sentido de se fazer valer determinadas posições nas discussões acerca de PPP. Entendendo que o sentido de força adotado neste estudo se refere ao poder cujo conceito adotado foi aquele definido por Bourdieu apud Castro (1998, p. 9), neste estudo a presente questão se dá partir do "campo de forças" definido em sua estrutura, pelo estado de relação de forças entre formas de poder ou diferentes espécies de capital. É um campo de lutas pelo poder, um espaço de jogo, onde agentes e instituições, tendo em comum o fato de possuírem uma quantidade de capital específico, quer seja econômico ou principalmente intelectual, sejam suficientes para ocupar posições dominantes no interior de seus respectivos campos, confrontam-se em estratégias destinadas a conservar ou a transformar essa relação de forças. Ainda para Bourdieu, o poder exercido no Sistema de Ensino é o poder simbólico. “[...] poder invisível que só pode se exercer com a cumplicidade daqueles que não querem saber que a ele se submetem ou mesmo que o exercem” (Bourdieu apud Castro, 1998, p. 10). Nesta discussão, o poder invisível é o tipo de poder quase mágico, na medida em que permite obter o equivalente ao que é obtido pela força, graças ao efeito específico de mobilização. Todo poder simbólico é capaz de se impor como legítimo, dissimulando a força que há em seu fundamento e só se exerce se for reconhecido. Ao contrário da força física, que age por uma eficácia mecânica, todo poder verdadeiro age enquanto poder simbólico. A ordem torna-se eficiente porque aqueles que a executam, com a colaboração objetiva de sua consciência ou de suas disposições previamente organizadas e preparadas para tal, a reconhecem e crêem nela, prestando-lhe obediência. O poder simbólico é, para Bourdieu apud Castro (1998, p. 11), uma forma transformada, irreconhecível, transfigurada e legitimada das outras formas de poder. Na odontologia, o termo Mercado de Trabalho tem sido objeto de grandes discussões e sua principal definição para a classe recai no simplismo e conservadorismo de entendê-lo como sendo a lei de oferta e procura por novos postos de trabalhos. Há indícios de significativas alterações no mercado de trabalho para o cirurgião-dentista, tendo em vista a implementação de serviços odontológicos em órgãos governamentais, empresas, associações, sindicatos, com sensível diminuição da atuação como profissional liberal (PERRI DE CARVALHO, 1997, p. 345). É sabido que tais postos estão se abrindo, principalmente no segmento de atuação pública. No entanto, para que sejam ocupados de modo eficiente, é importante que a classe entenda que são necessárias mudanças significativas no modelo formador, cujo enfoque deverá partir dos problemas apresentados pela população. Neste cenário, novas habilidades são requeridas dos CirurgiõesDentistas. As habilidades que compõem este rol se relacionam com as habilidades criativas para planejamento, programação, gestão e gerência das ações nos serviços públicos em que normalmente as ações são voltadas para as práticas coletivas e de habilidades políticas (ZANETTI, 2003). Para Zanetti (2003), os cirurgiões-dentistas devem receber formação para atuar em duas esferas distintas: o de mercado de serviços e os de serviços públicos. Cada uma destas esferas requer qualificações inerentes às suas práticas específicas. Entretanto, em ambas são requeridos um conjunto de qualificações comuns na prática clínica, terapêutica e operatória (preventiva, adequadora, cirúrgica e restauradora). Normalmente o que se observa nas habilidades dos cirurgiões-dentistas é apenas este conjunto e assim tem se tornado rotineiro tratar as duas esferas de maneira inespecíficas, sob o conceito relativamente impreciso de mercado de trabalho. Assim a Odontologia tem seguido a tendência histórica de especialização do trabalho “manual qualificado”, dispensando habilidades profissionais de outras naturezas como as habilidades éticas, humanísticas, de gerenciamento e principalmente as habilidades cognitivas, isto é ter o conhecimento geral (ZANETTI, 2003). A interação dos conceitos de mudanças na construção das DCN em cenário nacional, dos PPP no interior dos cursos, as relações de poder nestes processos e de mercado de trabalho serão ferramentas de análise neste estudo. 7 DA CONSTRUÇÃO À IMPLEMENTAÇÃO DAS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DE ODONTOLOGIA Os processos de mudanças abordados aqui, quanto ao panorama nacional, fazem referência ao histórico da construção das DCN para a odontologia e suas perspectivas de implementação nos cursos do país. No panorama institucional, este tema faz referência aos processos de incorporação das mudanças propostas nas DCN nas instituições estudadas. 7.1 Panorama Nacional 7.1.1 Processo de construção das diretrizes curriculares nacionais Esta abordagem refere-se aos mecanismos e ações que levaram, no cenário nacional, à elaboração das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de odontologia. Diz respeito também à identificação dos atores que participaram da construção e das relações de poder evidenciadas no processo, das dificuldades e facilidades encontradas, bem como as influências do sistema de saúde do país no sistema formador de nível superior. O Edital 04/97 do MEC, foi o grande desencadeador do processo de construção coletiva das DCN. Houve participação de todos os segmentos em geral e em particular os da área da saúde. Entendendo por área da saúde, os 12 cursos considerados pelo CNE: Biomedicina; Educação Física; Enfermagem; Farmácia; Fisioterapia; Fonoaudiologia; Medicina; Medicina Veterinária; Nutrição; Odontologia; Psicologia e Terapia Ocupacional. De acordo com a SESu/MEC estes cursos foram responsáveis pelo envio de aproximadamente 270 propostas (BRASIL, 2003j). O edital atribuía às Comissões de Especialistas de cada carreira a função de sistematizar as propostas enviadas pelas IES ou por outras entidades. Na visão de alguns atores deste processo, as comissões de especialistas encaminharam propostas sem, no entanto incorporar as sugestões encaminhadas o que fica claro nesta entrevista. A comissão de especialista de odontologia que estava encarregada de fazer a formulação ignorou completamente todas as contribuições que haviam sido enviadas e apresentou uma versão horrível de diretrizes, isso todas as comissões de especialistas fizeram, houve uma proposta muito ruim para todas as carreiras (ENTREVISTADO 10). Tal fato contrasta com o apresentado anteriormente4 e remete aos questionamentos de como ocorreu de fato a construção das DCN. Diante destes acontecimentos, o CNE convocou audiências públicas para a sistematização das propostas encaminhadas em que estavam presentes Conselhos e Associações de classe, comissão de especialistas de cada carreira, Conselho Nacional de Saúde, Fórum de Pró-reitores - FORGRAD e outras Entidades Organizadas da Sociedade Civil. Cursos como os de Medicina e de Enfermagem apresentaram propostas de consenso, enquanto a odontologia teve participação discreta nesses processos com clara desarticulação, fatos que podem ser observados nas falas e também no relatório da audiência pública do CNE de 2001. 4 Página 52, item 4.4. [...] tinha havido por parte da CINAEM, que era um movimento mais organizado de mudança na formação profissional, uma certa resistência, eles não queriam participar desta discussão pois diziam que era coisa do governo. Mas aí eles também perceberam que era uma oportunidade importante, um momento importante e aí eles também elaboraram uma proposta e fizemos alguns seminários conjuntos e conseguimos elaborar na Medicina uma proposta só. Enfermeiros fizeram a mesma coisa, fizeram a “Carta de Florianópolis” e elaboraram uma proposta conjunta no maior congresso da ABEn, que reúne um numero bastante significativo de profissionais. (ENTREVISTADO 10) Enfermagem: visão articulada e construção coletiva com participação do CNEnfermagem, ABEN e Comissão de Especialistas [...] Medicina: as escolas médicas, Rede Unida, Cinaem promoveram discussões e concretizaram proposta junto a Comissão de Especialistas (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2003, p. 4). [...] algumas áreas como a Enfermagem e Medicina apresentaram visão articulada e convergente com expectativa de aprovação a curto prazo no CNE [...](CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2003, p. 4). A participação da odontologia neste processo foi discreta, inclusive quando chegou a audiência pública, o CNE convidou as Associações de Ensino e os conselhos profissionais aí o representante do conselho de odontologia disse que nunca tinha ouvido falar daquele negócio lá [...] (ENTREVISTADO 10) A Odontologia reconhece pouca articulação no processo, da parte do CNO. Foi solicitado mais tempo para a revisão da proposta (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2003, p. 5). Quando se fala em construção coletiva, esperava-se que todos os atores que representam o ensino e a classe no país fizessem parte da elaboração da proposta e assim seria importante a participação de entidades como CFO, ABENO, ABO e Sindicatos da categoria de modo a legitimar e dar sustentação à proposta formulada, facilitando o entendimento e implementação destas nos diferentes cursos do Brasil. Este aspecto está claramente exposto no edital 04/97 merecendo destaque. A discussão das Diretrizes Curriculares deverá ser realizada de forma a integrar uma ampla parcela da comunidade interessada, legitimando o processo de discussão. Assim, é desejável a integração das IES com as Sociedades Científicas, ordens e associações profissionais, associações de classe, setor produtivo e outros setores envolvidos, através de seminários, encontros, workshps e reuniões, de forma a garantir Diretrizes Curriculares articuladas tanto às reformas necessárias à estrutura de oferta de cursos de graduação, quanto aos perfis profissionais (BRASIL, 2003h, p. 2). Quando o assunto foi à participação dos segmentos da classe na elaboração da proposta, os entrevistados, relataram da seguinte forma: Aí é que há um problema dentro da odontologia. A gente sente uma dificuldade muito grande em conseguir uma articulação a começar pelas entidades de classe, entidades nacionais, nós senti\mos uma clara dificuldade e os propósitos e trabalhos são muito diferentes. O que tem acontecido é que o próprio CFO, agora nos últimos 3 anos, tem solicitado da ABENO a manifestação sobre as questões de ensino e isso se deve até por razões pessoais pois tenho uma certa amizade com o atual presidente do CFO. Mas ele até solicitou que nós fizéssemos uma apresentação para a diretoria do CFO sobre as DCN, com as outras associações, a ABO, pediu a participação da ABENO para apresentação e discussão sobre DC, agora em um congresso de odontologia programado para out./03 em Foz do Iguaçu. E que vamos fazer reunião paralela da ABENO dando foco nas DCN. Com relação às entidades, é um processo que ainda está muito vagaroso, mas está caminhando. Com relação a outros segmentos, com os coordenadores de curso a gente tem procurado estimular, temos participado, vários membros das comissões e diretores da ABENO tem ido a convites de várias faculdades e a gente tem percebido que nestes últimos anos houve uma tentativa de superação daquele status quo de um ensino muito estagnado, muito baseado naquilo que é uma tradição e que não há necessidade de mudança, a gente já nota um certo incômodo e em várias partes do país nós temos certeza de que tem várias instituições discutindo e refletindo sobre isso. E os coordenadores estão procurando se engajar nisso. Na própria reunião da ABENO tem havido uma conscientização maior por parte dos coordenadores e isso se deveu inclusive por causa dos seminários do INEP, foram promovidos 4 seminários dentro das reuniões com dinâmica de grupo, o coordenador levando uma reflexão sobre estudo de caso e isso sem dúvida nenhuma contribuiu. E na próxima reunião da ABENO em Curitiba em ago/03, o assunto é ainda a questão das mudanças com foco no SUS e PSF, procurando refletir sobre a responsabilidade social da universidade e haverá dinâmica e o convite é claramente dirigido aos coordenadores. Com relação a outros segmentos, nós tivemos uma única vez na ABENO a participação de um grupo de estudantes, na reunião de Campos do Jordão em 2000, que estavam tentando criar uma coordenação executiva de alunos dos cursos de odontologia, foi um contato inicial e não houve mais nada então não há um interlocutor discente em nível nacional para articular alguma coisa com o segmento estudantil (ENTREVISTADO 11). [...] a ABENO seria um fórum para discussão de professores e a reunião se define assim mesmo, se define “Reunião de dirigentes dos cursos de odontologia” e isso significa claramente uma exclusão do aluno. O aluno participa, durante o tempo que tenho participado da ABENO, de forma indireta, mandando trabalhos, participando às vezes com os trabalhos, mas muito mais como ouvinte do que participando ativamente com voz e voto (ENTREVISTADO 12). Em relação à construção, posso dizer que foi um processo bastante aberto, bastante democrático, foi bastante discutido tudo e por isso mesmo que tem uma representatividade muito boa do pensamento pelo menos daquelas pessoas que se propuseram a participar do debate é claro que tem os resistente, que o são por natureza, mas por que se furtaram ao debate, pois a oportunidade foi concedida a todos (ENTREVISTADO 2). Com relação a estas falas percebe-se um certo desacordo quando se fala de um “processo bastante aberto” e ao mesmo tempo se identifica a falta de articulação de outros segmentos como o CFO, ABO e os estudantes, representando fato importante para o entendimento do processo. Durante o período em que ocorreram as mobilizações e nos anais dos eventos anuais da ABENO, o assunto da construção das DCN está presente de maneira discreta. No Encontro anual de 1997, em Uberlândia/MG, os assuntos em pauta eram a formação de pessoal técnico e auxiliar, o ensino e o processo de avaliação de graduação em odontologia e o ensino de pós-graduação (XXXII REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO ODONTOLÓGICO, 1997). Um pouco mais tarde, em dezembro do mesmo ano, era publicado o Edital 04/97 do MEC. Nos anais do Encontro de 1998 (XXXIII REUNIÃO DA ABENO, 1998), em Fortaleza/CE, há relatos de que a Comissão de Ensino da ABENO, composta por sete membros indicados pelo presidente da entidade, em reunião paralela ao referido encontro, enumerou os documentos produzidos, no período de 1997 a 1998, em parceria com a Comissão de Especialistas da SESu/MEC, Núcleo de Pesquisa Sobre Ensino Superior da USP e Comissão de Exame Nacional de Cursos. Entre estes documentos estava a proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Odontologia. Isto também é confirmado pela fala de um entrevistado. [...] num período em que a ABENO estava sobre a presidência * em que ele solicitou inclusive um apoio nosso, pois tínhamos acabado de constituir na USP, um núcleo de pesquisa sobre ensino superior, NUPES, um grupo de estudo sobre ensino de odontologia [...] houve um interesse de aproximação da diretoria e da comissão de ensino, com este grupo de estudo do NUPES e em função disso nós passamos a realizar em SP, reuniões em conjunto com o grupo do NUPES e a comissão de ensino da ABENO, isto a partir de 1995. Essa foi uma fase muito importante porque simultaneamente era aprovada a LDB [...] quando houve a constituição da primeira comissão do exame nacional de curso para odontologia, em 1997, este grupo que integrou a comissão. Então nós participamos no conjunto da elaboração das primeiras diretrizes do exame nacional de curso e em seguida houve uma solicitação até por parte do próprio MEC que elaborasse uma minuta, ante projeto de DC, pois era uma atribuição da comissão de especialista de ensino da SESu, então neste momento a própria comissão abriu para participação da ABENO e do NUPES [...] (ENTREVISTADO 11). Durante o mesmo evento, cujo tema central era “Projeto Pedagógico – indutor da qualidade de Ensino Odontológico” outros assuntos estavam na pauta como, por exemplo: a reformulação estatutária da entidade, a docência universitária para a área da saúde no Brasil, avaliação do ensino superior. A sugestão de tema para o encontro seguinte foi feita pela comissão de ensino e aceito pela assembléia, “Diretrizes Curriculares, o que muda?”. É importante atentar que neste momento a DCN para odontologia ainda não haviam sido aprovadas, portanto as mudanças ainda não estavam efetivadas e grandes discussões no cenário nacional estavam acontecendo. No debate acerca do tema oficial da reunião de 1999 em Canela, o que se percebe é que, embora ainda não tivesse sido aprovada pela SESu/MEC, as DCN da odontologia já eram referências concretas para as discussões no âmbito da ABENO, segundo a fala do Presidente da entidade da época. Dentre todas as profissões e ramos do saber organizado, fomos os primeiros a apresentar as Diretrizes Curriculares às autoridades governamentais e julgo, de modo otimista, que as mesmas serão aprovadas na forma como apresentadas (REVISTA ABENO, 1999, p 37) Diante das questões levantadas, algumas falas fazem referência ao processo de construção das DCN com diferentes entendimentos. [...] tivemos um trabalho intenso em SP, com reuniões periódicas, trazendo docentes, não só do grupo de estudo que eram de universidades paulistas, mas de outras regiões do País, fomos ampliando essa discussão,. [...] nós fechamos uma proposta inicial de DC, esta proposta foi discutida em reuniões da ABENO e em reuniões paralelas da ABENO, como no congresso de odontologia de SP, que é promovida pela APCD, aproveitando que comparecem muitos docentes do pais inteiro (ENTREVISTADO 11). Não tive participação direta nem indireta. Não tive participação no processo. Fiquei sabendo realmente quando saiu a minuta de aprovação na câmara de graduação, isso veio pela ABENO, mas sei que a ABENO teve participação direta, por aquelas comissões de especialistas, todos aqueles representantes, mas quando este processo estava sendo discutido em rede, eu não sabia, [...] da Rede Unida, sei que eles tiveram uma atuação forte, mas desconhecia todo este processo, inclusive aquela oportunidade de falar que foi colocado em rede, do projeto de mandar sugestões e discutir mais abertamente nas instituições, isso eu não sabia, desconhecia e eu era vicecoordenadora nessa época (ENTREVISTADO 3). Em relação à construção das diretrizes propriamente ditas, eu não tive participação na construção. Nós participamos das reuniões na ABENO, foram colocadas algumas sugestões, mas a gente viu que muitas propostas que a gente colocou, foram simplesmente jogadas ao vento. Foram levadas propostas do curso de odontologia para discussão, mas foram jogadas ao vento (ENTREVISTADO 4). [...] a ABENO construiu a proposta dela coletivamente, nas reuniões então teve assembléia, grupo de trabalho, teve espaço para contribuição por escrito, na época eu era coordenadora de curso, dei uma contribuição específica para construção do documento que é inclusive citada na proposta que foi levada pela comissão de ensino da SESu e pela comissão da ABENO (ENTREVISTADO 7). A Universidade * não teve participação neste processo, ainda que pelo Edital n.º 4/97, tenha ocorrido uma "convocação" de todas as instituições (ENTREVISTADO 9). Nos encontros seguintes dos anos de 2000, 2001 e 2002, os seminários do INEP – “Para melhorar não basta avaliar”, foram o foco das discussões que estavam permeadas por temas como Planejamento do Ensino Odontológico, Avaliação do Ensino e da aprendizagem e sua relação com os Projetos Políticos Pedagógicos e ainda Gestão Acadêmica. Neste período o CNE realizava as audiências públicas para aprovação das propostas de DCN que foram apresentadas pelas comissões de especialistas e apenas em 03 de fevereiro de 2002, houve a aprovação das DCN para o curso de odontologia. [...] o conselho levou um tempo relativamente longo, pois o documento foi entregue em 1999 e ele só concluiu em nov/01, mas foi um período em que foram feitas audiências públicas, fizeram algumas articulações com as diversas carreiras dentro da área da saúde e fizeram uma articulação entre MEC e MS e ai surgiram as atuais DC (ENTREVISTADO 11). No evento de 2003, já com as diretrizes aprovadas, o tema central, “Mudanças no ensino de odontologia frente às novas diretrizes curriculares nacionais, SUS e PSF e a Responsabilidade Social da Universidade - Estágio Supervisionado" mobilizou um grande número de participantes em Curitiba – PR. A discussão mostrou a inquietação dos coordenadores de cursos e das instituições de ensino de todo o País frente às mudanças. Os cursos não participaram efetivamente do processo de construção das DCN e a ABENO tem sido o local legítimo para que busquem as informações necessárias para que as mudanças ocorram. 7.1.2 Cenários de discussão e o entendimento das DCN Em uma outra abordagem sobre o tema DCN, o FORGRAD apontou como sendo o avanço mais significativo, a estrutura basilar para todos os currículos da área da saúde, oriundas da utilização de legislação pertinentes e também da incorporação dos avanços mundiais na atenção à saúde, em particular os avanços nacionais. Estes aspectos passam a nortear a formação em nível de graduação dos cursos da saúde e só foram possíveis em função de ampla mobilização de todos os setores da área o que está claramente colocado em uma das falas: A gente mobilizou todos os atores da saúde considerando a importância posicionamento deles por que estava em jogo a proposição da orientação da formação profissional e já concordavam que o problema da formação era uma limitação importante para a construção do SUS (ENTREVISTADO 10). A estrutura basilar a que o FORGRAD faz referência é a incorporação do conceito ampliado de saúde, a definição clara de quais são o objeto, os objetivos das DCN e as competências gerais que são comuns a todos os cursos da área da saúde. Nas DCN, segundo a fala dos entrevistados, [...] Tem uma parte inicial que é comum a todas as profissões da saúde que acho que incorporam muitos dos elementos que estão colocados como desafios para as universidades hoje em dia diante das mudanças que o mundo sofreu [...] (ENTREVISTADO 10). Nos espaços em que as diretrizes de odontologia são discutidas, o documento completo das DCN, constando os diferentes conceitos adotados, o objeto e objetivos das DCN e a legislação utilizada tem sido pouco explorado. O que tem sido discutido faz referências às habilidades específicas da profissão e as definições do que a ABENO entende por estágios supervisionados. Algumas falas foram extraídas para ilustrar tal contradição. [...] mas na ABENO mesmo, a gente entrou direto nestas discussões, e não no objeto mesmo, acaba se limitando ao estágio, o que é o estágio, como que vai ser o estágio, 20% da carga horária, como que é isso, e foge da discussão mais ampla que é esta inserção mesmo [...] (ENTREVISTADO 4). [...] haviam muitos questionamentos, muitas dúvidas do que seriam estágios supervisionados em odontologia e isso é importante a gente lembrar, que este jargão “estágio supervisionado em odontologia” não era usado, ...e isso causou uma preocupação e um impacto muito grande, principalmente pela carga que foi destinada, 1/5 do currículo pleno do curso [...] (ENTREVISTADO 11). Para garantir também a questão da diversificação dos cenários, a questão da humanização, ter uma visão mais ampla e integral da saúde, por que são questões importante e fundamentais na formação de qualquer profissional, não só do que vai trabalhar na atenção básica, ela é importante na formação de todos os níveis (ENTREVISTADO 10). [...] deixa muito claro que o profissional além das questões técnicas e cientificas, ele tem que ter uma formação humanista e critica tem que estar aberto para o processo de transformação da sociedade e tem que estar aberto para o processo de educação continuada e posturas éticas [...] (ENTREVISTADO 11). Este fato foi também observado pela autora do trabalho durante a oficina realizada no V Congresso da Rede Unida em junho de 2003, cujo tema eram as estratégias de implementação das DCN de odontologia. As DCN foram distribuídas constando apenas da parte referente à odontologia, embora no termo de referência existisse a abordagem do objeto das DCN, o documento entregue para discussão não contemplava a sua totalidade (REDE UNIDA, 2003, p. 1). Também na revista da ABENO de 2002 o que consta é o documento diretrizes curriculares fragmentado, sem a parte que conduz ao entendimento amplo, a contextualização do processo geral de todos os cursos da saúde. Esta preocupação foi externada por alguns entrevistados como relevante, porém para outros não (DIRETRIZES, 2002, p. 31). Em termos de inserção no SUS, para os cursos de odontologia, este objeto das diretrizes, que é permitir que as diretrizes insiram mesmo o profissional dentro do SUS, isto não está claro se for pegar só as diretrizes da Odonto, por que isso está ali nas competências gerais, no objeto das diretrizes [...] as discussões nossa mesmo é sempre aquilo, habilidade, competências, o que estamos fazendo e o que não estamos, quando a gente vai discutir com os colegas, fica sempre aqui, entra direto aqui, não entra na área da saúde, é aquela velho problema de você está desinserido do todo (ENTREVISTADO 4). Acho que as DC dos profissionais da área da saúde são derivadas destas competências gerais e estas competências gerais estão muito ligadas a todo o processo de ensino, a todo processo de inserção do cidadão, todo o processo de construção coletiva da saúde, este processo social da saúde. Acho que quem trabalha com educação fatalmente acaba chegando nestas indagações. Elas servem de ponto de base para reflexão e não vejo conflito, entre o que é derivado e o documento maior (ENTREVISTADO 7). [...] deste problema talvez tenha sido pela própria ABENO. Vou te dizer quando. Quando foi aprovado o texto das DC em nov./01 e isso foi passado para a ABENO apenas esta parte e houve uma distribuição para o Brasil inteiro pela internet. Então isso que está gerando este problema [...] pois foi em um momento inicial, quando saiu as DC e foi colado e encaminhado rapidamente e nem todos tem a primeira parte (ENTREVISTADO 11). As questões apresentadas fazem referência ao entendimento por DCN, pois se o que foi construído a partir de ampla discussão com todos os cursos da área da saúde, sendo consenso para esta, é importante que a odontologia entenda o todo do processo e não apenas o documento fragmentado. O ponto importante desta discussão é que a classe ou a profissão odontológica não tem conseguido atuar de forma eficiente no sistema de saúde vigente5, conforme apontado no referencial teórico e as recomendações das DCN são bem claras neste sentido, quando se dá atenção ao objeto das DCN. Objeto das Diretrizes Curriculares: permitir que os currículos propostos possam construir perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos, dentro de perspectivas e abordagens contemporâneas de formação pertinentes e compatíveis com referencias nacionais e internacionais, capazes de atuar com qualidade, eficiência e resolutividade, no Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o processo da Reforma Sanitária Brasileira (BRASIL, 2001a, p. 3). É importante que a ABENO, enquanto condutora de discussões sobre o ensino de odontologia no Brasil e detentora de um poder simbólico cada vez mais explícito nos cursos do país coloque em discussão o que de mais relevante se apresenta na saúde da população, o conhecimento do quadro epidemiológico da mesma, bem como das políticas públicas que regem o setor saúde brasileiro. 5 Página 48, item 4.3. Faz-se necessário o entendimento de que os cursos do Estado e do país possuem coordenadores das mais variadas especialidades e o conceito ampliado de saúde, bem como o de SUS, são assuntos muito discutidos nos ambientes da saúde bucal coletiva. As outras áreas pouco entendem ou mesmo desconhecem esses processos. Este aspecto é importante na medida em que, se não houver o entendimento dos conceitos requeridos, corre-se o risco de recair em erros já cometidos anteriormente e as mudanças necessárias acabarem por não serem implantadas de fato. Quando o estudo remete ao entendimento das diretrizes enquanto objeto de mudanças na formação profissional para os entrevistados, há um claro entendimento de que elas são instrumentos oportunos para isso. Acho que se contempla uma perspectiva de mudanças importantes as concepções de educação. As diretrizes sugerem fortemente a importância de se adotar uma perspectiva de educação em que o estudante tenha um papel ativo no processo de aprendizagem, sugere fortemente a importância de se ter articulação interdisciplinar, recomenda explicitamente que tem que existir prática profissional desde o começo do curso, que a pratica profissional tem que acontecer em vários cenários e não apenas no tradicional, ela abre a perspectiva de um compromisso maior da formação com as questões da construção do SUS, compromisso com a saúde da população (ENTREVISTADO 10). As DC abrem um caminho muito importante e promissor e que poderia estar sendo implementado um pouco mais rapidamente. Primeiro a própria necessidade que vejo bastante grande de uma abertura de novas formas de ensinar e aprender acho que isso é essencial, é a própria essência da escola, novas formas de ensinar e aprender [...] (ENTREVISTADO 12). Porém, mesmo entendendo a importância e a relevância, entendem também que não são suficientes para garantir a sua implementação em todas as escolas e os entrevistados apontam para a necessidade de que amplas discussões devam ser deflagradas nas escolas para que de fato haja a incorporação da proposta e que extrapolem o campo da saúde coletiva. [...] o processo tem que ser construído de maneira muito participativa dentro de cada escola tem realmente que buscar envolver a maioria dos professores, sem isso não dá, sem isso vão ser tentativas exatamente como outras que aconteceram, pois mudam no papel e na prática não acontece nada, pois se na cabeça das pessoas, se os valores das pessoas não mudaram, se essas coisas não mudaram, não vão mudar as práticas delas. Prática ninguém muda por decreto. Então na verdade as leis, as políticas elas podem favorecer os processos, mas estes têm que ser construídos nos espaços das escolas e acho que a gente aprendeu bastante sobre como fazer isso, pois se ficar só na saúde coletiva não vai acontecer nada (ENTREVISTADO 10). Mas por exemplo, no processo de discussão de uma possível ou necessária reforma curricular, as discussões são muito em cima de comissões, muito fechadas ainda, muito pouco abrangente e participativas. As discussões se dão ainda da velha forma, da forma tradicional (ENTREVISTADO 12). Esta condição de criação de debates democráticos, com amplo envolvimento da sociedade interessada faz referência às relações de poder que as instituições guardam em relação a seus congregados. Isto pode alavancar ou mesmo impossibilitar a concretização das mudanças ora preconizadas. Poder está intimamente relacionado com o que de concreto se deu nos cenários de discussões durante a construção das DCN. Os diferentes atores do processo, conforme relatado, tendo como “campo de forças” as audiências públicas do CNE, chegaram ao produto final. No campo da odontologia, a ABENO como principal ator, teve sua proposta acatada pelo CNE/CES e isso pode ser constatado no próprio documento das diretrizes (BRASIL, 2001) que trata das habilidades especificas da área e também na fala de seus interlocutores. [...] eu acho que CNE deu um passo importante, pois conseguiu fazer uma articulação entre educação e saúde, entre ensino e serviço, eu diria que representa um fato novo e também as competências gerais que são comuns a todas as carreiras que compõem a área da saúde. Então quer dizer, esse foi um papel do conselho, agora tirando essa parte geral de articulação de ensino/serviço e as diversas carreiras, o restante das habilidades especificas e de conteúdo, basicamente é a proposta que foi discutida e levada pela ABENO. Aquele rol de 33 habilidades, na verdade são as habilidades que nós havíamos discutido na ABENO que consta inclusive desde os documentos de trabalho do NUPES (ENTREVISTADO 12). No entanto o que é comum à área da saúde como um todo, foi proposta original da Rede Unida e na fala dos entrevistados as propostas da ABENO apresentam características muito mais tradicionais. Acho que foi basicamente em cima do documento da Rede Unida. Pareceme, por que o documento final me parece bastante diferente daquilo que foi preparado pela ABENO. Então quando se compara a contribuição da ABENO em relação às diretrizes curriculares e as contribuições da Rede Unida às diretrizes curriculares, não fizeram um levantamento, um estudo mais detalhado, mas numa leitura mesmo superficial você percebe que existe um predomínio das idéias que foram discutidas e levadas pela Rede Unida. Comparando as duas contribuições, me parece que as contribuições da ABENO são muito mais tradicionais, se existe um adjetivo que possa definir, seria isso (ENTREVISTADO 11). Sobre essa fala, outro ator de grande influência neste “campo de força” foi a Rede Unida que se consolidou como movimento de mudança no ensino superior do Brasil. Grandes embates foram travados e no fim a Rede teve também sua proposta acatada pelo CNE/CES. Aí o que a gente fez foi fazer uma ampla mobilização para exigir que estas comissões de especialistas levassem em conta as contribuições, afinal era isso que o edital dizia. Aí fizemos uma grande mobilização de todos os atores do setor saúde. Aí com tudo isso, as comissões de especialistas voltaram atrás, várias delas, umas mais outras menos e o CNE na verdade assumiu o compromisso de incorporar as sugestões, mesmo que as comissões não tivessem feito, o CNE assumiu o compromisso (ENTREVISTADO 10). No entendimento de que estas “forças” permeiam a arena de debates é de conhecimento que uns saíram mais satisfeitos que outros e muitos pontos de conflitos, como os relativos à duração dos cursos estão ainda em pauta. Haviam pontos polêmicos ainda, principalmente os relativos a duração dos cursos e isso continua ainda, por que a proposta deles era não estabelecer o tempo mínimo de duração dos cursos e aí a maioria das profissões não concordam com isso com medo da possibilidade de aparecer estes cursos de ter aulas só em fim de semana, estas coisas [...] (ENTREVISTADO 10). Outro aspecto importante neste cenário é a efetiva implementação das DCN, pois uma vez construídas, o grande passo agora é transformar o que é “lei” em novas práticas de ensino, consolidando a necessidade de readequar a formação de recursos humanos de odontologia às demandas dos serviços e da população. Mas existia e existe para todo mundo uma grande questão que é como faz para mudar, a questão do “como mudar” é complicado por que como é que se transforma tudo, sempre é difícil transformar intenção em gesto[... ] (ENTREVISTADO 10). Eu já tive oportunidade de fazer palestras para aluno, inclusive sobre orientações sobre o provão que era de interesse deles até, eles estavam desmotivados, preocupados por estarem usando o horário de clinica de outras atividades, por que esta era a mentalidade dos professores da instituição e que infelizmente na odontologia nós encontramos ainda um corpo docente muito conservador e centrado em procedimentos e muito preocupado com suas atividades profissionais e usando a universidade como grife. Este fato novo das DC, não será fácil a implementação [...] (ENTREVISTADO 11). 7.1 3 As DCN no interior das instituições de ensino superior No interior dos cursos de odontologia do Estado do Paraná está ocorrendo uma importante movimentação em torno das modificações na estrutura curricular que as DCN desencadearam. A avaliação da movimentação em questão será objeto de análise neste capítulo da pesquisa. Aspectos como as estruturas das universidades brasileiras, são importantes para a incorporação das mudanças propostas pelas diretrizes. As IES se apresentam departamentalizadas e fragmentadas seguindo o modelo que se tem desde os primeiros centros universitários no país. Estas estruturas favorecem a transmissão do conhecimento de forma fragmentada e dissociada do todo que é o indivíduo a quem se dá a atenção em saúde. O modelo privilegia a formação técnica e super especializada que leva à perda da perspectiva do ser humano. Modelos que formam hábeis profissionais para a atenção fragmentada formam também os que exercerão atividades no campo do ensino e assim o ciclo se perpetua, pois estes hábeis profissionais sem habilidade para ensino, formarão futuros odontólogos em descompasso com a realidade epidemiológica da população. Entendendo que isso não é uma questão exclusiva da odontologia e sim de toda a área da saúde, esta fala ilustra a preocupação de um dos entrevistados. [...] nas profissões da saúde, nunca existiu uma formação pedagógica, então na verdade o cara vira professor por que ele é bom profissional e não por que ele tenha uma acumulação na área de educação. Então a atuação é limitada, a compreensão é limitada. As pessoas reproduzem o tradicional por que não tiveram acesso ao alternativo. Enfim há muitas resistências especialmente em relação à diversificação dos cenários de aprendizagem [...[ (ENTREVISTADO 10). Esta deficiência no campo da saúde faz com que professores assumam posturas de transmissores do conhecimento e os alunos como receptores passivos. É necessário ter inovações no modo de atuação do educador, disponibilizar conhecimentos pedagógicos inovadores e de novas metodologias que coloquem o aluno como principal ator na produção de seus conhecimentos e o professor como facilitador dos processos de ensino-aprendizagem. A necessidade que estas mudanças ocorram também no ensino de pós-graduação stricto sensu é urgente, pois os educadores buscam aprofundar seus conhecimentos nestes locais. Portanto, importantes cenários de capacitação pedagógica apropriados são criados, oportunizando a inserção de novas práticas de ensino. Porém, o que ocorre com freqüência nas pós-graduações stricto sensu é a valorização dos aspectos técnicos que formam excelentes pesquisadores, mas com habilidades pedagógicas restritas. O tema é complexo e tem sido pouco abordado em pesquisas e seminários. Pelo próprio critério de entrada na Universidade, percebe-se que não há preocupação com a formação pedagógica do professor universitário. A exigência legal para o exercício da docência é cumprida, restringindo-a ao âmbito da graduação ou pós-graduação na área específica em que vai atuar, conforme a categoria funcional em que se dá seu ingresso. O encaminhamento destes profissionais para o magistério é, na maioria das vezes, uma situação circunstancial, sem que haja políticas das IES voltadas para estes aspectos (FERNANDES, 2001, p.118) Inclui-se ainda a necessidade de oportunizar conhecimentos sobre o quadro epidemiológico da população e das políticas de saúde que regem o sistema de saúde do Brasil, a fim de identificar quais são os conhecimentos relevantes para a melhora do quadro de saúde da população. Assim, cada atual disciplina identificaria seu papel e conteúdos necessários na reversão do quadro epidemiológico das doenças bucais do Brasil. Atualmente a maioria das disciplinas defende a manutenção ou até a elevação de suas cargas horárias sem no mínimo conhecer as necessidades epidemiológicas e de acesso da população. Para que ocorram tais conhecimentos, faz-se oportuno desencadear amplas discussões envolvendo a participação da comunidade acadêmica dos cursos, docentes, discente, dirigente, bem como os usuários dos serviços oferecidos pela IES, compondo assim forças vivas, realmente capazes de identificar e proporcionar mudanças necessárias no sistema formador. Assim, formando profissionais aptos a responder as necessidades da população e não simplesmente atender aos apelos tecnológicos das indústrias de equipamentos e medicamentos da área. As mudanças necessárias na pós-graduação e nas políticas de capacitação institucional está expressa nesta fala. […] mas dentro de um perfil de formação geral há elementos importantes dentro destas temáticas que tem que estar presentes, a pessoa tem que ter minimamente idéias, conhecimentos, experiências dentro destes assuntos, que em geral antes eram ignorados […] Enquanto a gente mexer só na graduação, o impacto sobre o SUS será pequeno, a gente vai ter que mexer na formação como um todo (ENTREVISTADO 10). Quando se fala das necessidades de mudanças pautadas pelo conceito ampliado de saúde e nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde é importante resgatar que este sistema tem como uma de suas missões a ordenação da formação de recursos humanos. No âmbito da saúde, em especial na odontologia, existem várias controvérsias e deficiências. Deveria existir uma forte integração entre o ensino e as práticas demandadas pela população. No entanto, são reproduzidos no âmbito do SUS, ações desenvolvidas na clínica privada e individualizada, em que o trabalho em equipe, não compõe o cotidiano destes profissionais (SCHIMIDT, 2002, p. 23). Chaves (1990) recomenda uma íntima aproximação entre a estrutura formadora e a estrutura dos recursos humanos para a prestação de serviços de saúde. As inovações curriculares que são desligadas do modelo de prestação de serviços têm muito menos chance de interferir com eficiência no modelo formador do que as reformulações ou reformas emergidas das necessidades sentidas pelos alunos e professores nas vivências cotidianas de suas práticas nos serviços de atendimento público (CHAVES, 1990). O grande problema deste aspecto diz respeito à forma como a universidade tem se portado diante das necessidades da população. Em suas propostas de currículos e em seus discursos, as necessidades de mudanças são notórias. O que se tem em termos de atuação nos cenários de práticas tem sido semelhante ao de tempos atrás. Nesses cenários, a universidade adentrava aos serviços de saúde sem, contudo, saber o que ali se fazia, sem entender as demandas do processo saúde-doença, as necessidades dos serviços e as pressões que estes sofrem com o freqüente aumento da demanda populacional (WERNECK, 1996, p.100). Este problema é apontado pelos entrevistados da seguinte maneira: Não adianta só colocar os alunos nos cenários de prática, precisa mudar a gente, somos nós professores que estamos lidando com isso, que estamos colocando nossos alunos para trabalhar lá, fazendo ele entender o que está fazendo lá, isto é muito mais importante. Então esse momento de transição caberia muito mais a nós, conscientizar o aluno e não simplesmente joga-lo, eu tenho medo de só se mudar os cursos, começar inserir de qualquer forma estágio, tentando mostrar um perfil diferente de atuação e simplesmente se jogar isso, sem explicar o por que (ENTREVISTADO 3). O curso de odontologia especificamente mantém alguns convênios, alguns projetos com as prefeituras da região tentando levar serviços de odontologia preventiva, campanhas de prevenção de câncer de boca (ENTREVISTADO 4). 7.1.4 Cenários de atuação profissional Na odontologia de mercado, o predomínio da prática privada voltada à oferta de serviços especializados está em crise (ZANETTI, 1999, p.12), e os vínculos empregatícios, quer sejam públicos ou mesmo privados têm se tornado cada vez mais a primeira opção dos que ingressam no mundo do trabalho (PERRI DE CARVALHO, 1996, p.21). No entanto, na odontologia o segmento público sempre foi visto como uma esfera secundária de atuação profissional (ZANETTI, 1999, p.12). Pesquisa realizada com profissionais da Grande São Paulo indica que houve mudanças na forma de atuação profissional e que 40% dos cirurgiõesdentistas dependem de um vínculo empregatício (COSTA, 1992, p. 822). Assim, faz-se necessária a adequação das práticas às mudanças ocorridas no setor de prestação de serviços de saúde. Porém o que freqüentemente ocorre é que as faculdades continuam formando profissionais para atuação na clínica privada. Isso está expresso nesta fala: [...] a gente vê é um distanciamento quase que total do ensino de odontologia do SUS. [...] fui fazer uma palestra em uma faculdade de uma capital brasileira, localizado numa região extremamente privilegiada, os alunos, os formandos não sabiam o que era reforma sanitária brasileira, nunca tiveram nenhuma orientação do que seria SUS e nem PSF, e são formandos e isso provavelmente deva acontecer em um bom número de faculdades de odontologia pelo país (ENTREVISTADO 11). Para Werneck (1994, p. 79), os profissionais que atuam no setor público, reproduzem a prática liberal com procedimentos de mutilação/restauração que em muito pouco ou quase nada resolvem os problemas dos pacientes e esta visão fica clara na fala desses coordenadores de cursos. Se eu ficasse, ou se alguém ficar 50 anos na prefeitura municipal de *, vai ficar 50 anos abrindo e fechando buraco (ENTREVISTADO 5). Em relação ao SUS, acredito que não houve muitos avanços, neste sentido e então acredito que não tem uma perspectiva muito positiva. Acho que vai ser muito difícil formar profissional de qualidade. Acho que a qualidade profissional, a tendência é cair nesta situação (ENTREVISTADO 4). Werneck (1994, p. 79) destaca ainda que no imaginário da classe, o público se refere ao atendimento às pessoas menos favorecidas e isso faz com que as atividades desenvolvidas neste setor interfiram de modo pouco significativo no processo saúde/doença da população. Além disso, a maioria dos estudantes que entram nas escolas de odontologia, têm a pretensão de exercer a prática profissional em consultórios privados (SLAVUTZKY, 1996, p.15). Isso é percebido nestas falas. [...] quando o estudante entra na faculdade, o profissional que ele quer ser, não é o profissional que trabalha no SUS. É outra coisa que ele quer ser. Os médicos querem ser médicos atender no consultório, que trabalha em hospital chique, estas coisas. Dentista quer ter consultório chique (ENTREVISTADO 10). O perfil do aluno que entra na universidade é aquele que vai procurar a clínica, o consultório, e tudo mais, dificilmente o aluno que entra no curso de odontologia ele quer se um profissional que vai ajudar a comunidade carente, o profissional do serviço público. [...] a gente conversa muito com os meninos do primeiro ano e a gente observa isso, eles querem ir para o consultório fazer ortodontia, às vezes não precisa nem fazer odontologia, mas eles querem fazer ortodontia. Ir direto para ortodontia (ENTREVISTADO 4). A realidade é que não formamos um aluno hoje para a realidade do país. A gente forma o aluno para ter carro bom, para ter não sei o que, para fazer cerômeros e não para tratar a dor daquele que está lá na favela para ele ir lá e fazer o atendimento. Então tem que mudar principalmente o conceito dos professores (ENTREVISTADO 5). É necessário resgatar que o efeito da globalização tem conduzido, mesmo as classes menos favorecidas, a exigências de serviços de qualidade. Ora, se nos dias atuais 90% da população usa o SUS, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2003l, p.3) de alguma maneira para os cuidados à saúde e, principalmente entendendo que a classe média no país tem perdido seu poder de compra, será mesmo que o serviço público atende apenas os menos favorecidos? Os serviços oferecidos pelas universidades têm mostrado que não, pois apesar das pessoas que freqüentam estes lugares receberem baixos salários, a renda familiar é média e possuem casas próprias, de acordo com um estudo realizado nas clínicas da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (GIL, 1999, p.82). Outro estudo sobre este aspecto foi realizado na Faculdade de Odontologia da UFMG (CARVALHAIS, 2001, p.47), em que 14% dos usuários pertenciam às classes B1 e B2 de acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil de 1997 adotado pela ANEP e ABIPEME, e que 4,3% eram os pertencentes à classe E. Há ainda que considerar que os inúmeros cursos de pós-graduação oferecidos pelas mais variadas entidades da classe, também fazem atendimento à população, diminuindo ainda mais a parcela da população que realmente se dirige aos serviços privados. Porém não há estudos conclusivos sobre o perfil econômico deste grupo. A análise dos parâmetros abordados neste capítulo remete às seguintes reflexões. Se de fato houve consensos no processo de construção das DCN e se há o entendimento da necessidade de mudanças, a implementação das DCN poderá realmente mudar as práticas de ensino. Assim as IES poderão formar profissionais aptos a interferir na dinâmica do processo/saúde doença e na falada realidade da população. Por outro lado, se esta construção não foi consensual, se foi produto de poucos atores, a sua implementação poderá ser difícil, não efetivando na prática, as mudanças tidas como necessárias para a formação do odontólogo. Corre-se o risco de que ocorra algo como as mudanças no âmbito da saúde bucal coletiva, o que desdobrou em disciplinas da odontologia com diversos adjetivos, mas com pouco impacto na formação como um todo. Relatos de Barros (1984, p.39), já apontavam as distorções das práticas profissionais, há algum tempo reconhecidas e também a inadequação do modelo formador. O autor destaca ainda as dificuldades e as necessidades de mudanças, no entanto, muito pouco se via transformar nas práticas dos serviços e do sistema formador de odontologia. Assim, este processo deveria ultrapassar o campo da saúde bucal coletiva, estendendo-se para todas as áreas, acabando com as dicotomias entre básico e clínico, entre clínico e social e entre público e privado. Pois se assim permanecer, o ensino e as práticas permanecerão inalterados e o que é mais grave, sem a percepção da necessidade de mudanças na forma de ensinar e atuar dos odontólogos. 7.1.5 Estratégias para efetivação das mudanças É preciso entender que a odontologia, enquanto profissão da saúde, tem responsabilidade social acumulada e requer conhecimentos clínicos e das Ciências Sociais, das demandas populacionais, do Sistema de Saúde do país, de seus princípios e diretrizes, dos determinantes sociais e do processo saúde-doença entre outros. Isto é, precisa avançar para além das técnicas e das paredes do consultório e ver que as necessidades da população não se restringem a isso. Tornar o Movimento da Reforma Sanitária conhecido no ambiente universitário odontológico, mostrar-lhe que o SUS tem sua história enquanto processo socialmente construído e em construção como potencial empregador, pode se configurar importante estratégia à incorporação da realidade social na formação acadêmica. Tais aspectos não devem ser considerados como uma ação assistencialista da classe e sim como uma nova perspectiva de atuação profissional concreta, porém na dependência de se ter profissional apto a atuar nas demandas populacionais e não apenas nas atividades individuais A oportunidade de a odontologia ser incorporada as Equipe de Saúde da Família, que é o que começou a acontecer no ano passado, acho que vai ser muito interessante em relação a esta perspectiva, por que acho que é uma inserção interessante, legal, não vai ser o dentista na escola e separado de todo mundo, será pela primeira vez uma coisa mais interessante. Começa a abrir uma possibilidade para a odontologia através do PSF. Que será realizada de maneira muito mais radical, principalmente nas capitais. Quer dizer existe uma perspectiva de mercado que não é antipático e sim simpático (ENTREVISTADO 10). Então na medida em que se tem ampliação deste mercado com a criação do PSF e que se espera que se expanda, acho que o CD sendo mais orientado sobre isso na faculdade e considerando a realidade real do mercado de trabalho e mais estas aberturas que estão acontecendo, eu acredito que haverá uma maior participação do CD no SUS. Não será fácil mudar uma mentalidade, mas acho que os primeiros passos começam a ser dados (ENTREVISTADO 11). Porém há que se entender que apesar dos processos de mudanças serem bastante complexos, existem muitas iniciativas, umas mais ousadas, outras menos, umas centradas na saúde coletiva, outras envolvendo as diversas especialidades, porém são tentativas de superar o modelo hegemônico de atenção à saúde e também na formação profissional. Existe uma mobilização e inquietação por diversos atores da área da saúde na perspectiva destas mudanças. Espaços de discussões, como a Rede Unida, estão sendo criados para nutrir esta mobilização, mas é necessário que ocorra uma busca ativa por formação pedagógica por parte dos docentes e que as IES também oportunize. As possibilidades de mudanças são concretas mas ainda na dependência de que se extrapole o campo da graduação e adentre nas capacitações institucionais e na pós-graduação stricto sensu. Estes aspectos podem significar a possibilidade de se proporcionar instrumentos adequados para os educadores que por formação desconhecem quase que totalmente o conceito ampliado de saúde, os princípios do SUS, as práticas multiprofissionais e novas práticas pedagógicas, necessárias para formar o profissional requerido nas DCN. 7.2 Panorama Institucional 7.2.1 Processos de mudanças no interior dos cursos O processo de implementação das DCN nas Instituições de Ensino do Estado do Paraná, sua compreensão pelos coordenadores de cursos, os aspectos que dificultaram ou facilitaram a implementação, as relações de poder e qual o entendimento destes coordenadores a respeito do SUS são objetos de análise neste capítulo. Foi constatado no decorrer da pesquisa que dos oito cursos estudados, apenas um não se encontra em processo de reforma curricular por razões de prazos institucionais, isto é a instituição estabeleceu que as mudanças poderão ser efetivadas a partir de 2004. Com base no que foi adotado como conceito de PPP na metodologia6, a idéia de que este precisa ser construído por todos os segmentos da 6 Página 68, item 6.1.1. instituição ou curso está sendo importante para que, enquanto documento legítimo, represente os interesses da comunidade acadêmica onde se insere, definindo a concepção filosófica de mundo, de sociedade, de ser humano e de universidade que se tem e que se pretende ter, num entendimento coletivo. Para alguns cursos o entendimento de construção coletiva ainda fica restrito a comissões instituídas a partir dos colegiados de cursos. [...] a partir de setembro que nós montamos uma comissão menor do que a comissão de ensino daí conseguimos fazer todas as readequações que precisava fazer e se encontravam semanalmente com a comissão e eu e minha vice-coordenadora direto trabalhando só nós duas para trazer as coisas mais direcionadas para as reuniões e aí nós apresentamos o resultado para o departamento em Janeiro/03 (ENTREVISTADO 3). Fazemos em nível de colegiado de curso com esses 6 membros que representam os departamentos, departamento de odontologia e os outros departamentos, o representante discente, então é analisado em nível de colegiado e levando ao departamento para discussão (ENTREVISTADO 4). É importante considerar que em apenas uma instituição o colegiado nato é formado por todos os professores e por representantes de alunos. Em uma outra instituição existe o colegiado de curso, constituído por representantes de departamentos e alunos mas com a possibilidade de ter o que foi chamado de “colegiado ampliado”, formado por todos os professores e representantes de alunos. Os outros cursos possuem colegiados compostos por representantes de departamentos profissionalizantes, por representantes das disciplinas “básicas” e também por representação acadêmica, com poucos participantes. Em algumas falas é citada a intenção de se levar o que a comissão construir para debate em fórum aberto, com alunos, funcionários e docentes. Este fato pode indicar que o entendimento a respeito de construção coletiva está de acordo como o proposto no estudo. No que se refere à participação da sociedade, usuária dos serviços e, receptora dos profissionais formados, não foi citado em nenhuma entrevista, apenas em uma fala foi feita referência ao fato de não ter havido esta participação, inclusive em um contexto apontado como ponto negativo do processo. [...] e para encaminhar para os departamentos para que todos participem e vamos sistematizar as opiniões e fechar num fórum aberto com a participação de todos. É preocupação da comissão a construção coletiva [...] (ENTREVISTADO 2). [...] e acho que a única maneira de se formular uma proposta, um projeto pedagógico por escrito é através de um grupo que de certa forma consiga ser sensível aos diferentes tendências de construção e depois ampliar para discussão de para mais pessoas (ENTREVISTADO 6). Não houve participação da comunidade nem de entidades fora do curso (ENTREVISTADO 3). O termo PPP no âmbito do ensino odontológico é recente e tem sido objeto de estudo em freqüentes reuniões da ABENO refletindo preocupação desta entidade em fornecer instrumentos para este entendimento nos cursos do país. Este fato pode contribuir para que, ao construir um PPP, as propostas de formação estejam articuladas com as necessidades locais da população e também que se formule políticas institucionais mais claras. Até recentemente, o currículo de odontologia baseava-se na distribuição das disciplinas em uma grade ou matriz curricular. Alguns processos inovadores no Estado do Paraná conduziram as discussões em torno de propostas de mudanças na formação, no entanto não fica claro que houve alteração na forma de se estruturar os conteúdos a serem dados. Este fato pode ser apontado a partir das falas retiradas das entrevistas. O nosso currículo de 1992, ele vai muito ao encontro ao que as diretrizes colocam, esta questão de estágio, nós temos 900 horas de estágio nas UBS de *, é uma característica bastante interessante, nós sempre tentamos colocar a necessidade de formação do profissional generalista, inserida à questão social daí nosso estágio ser realmente direcionado para as UBS, a gente tem muitos pontos que a diretriz coloca que nosso currículo já estava inserido [...] (ENTREVISTADO 3). Como o passar do tempo, também fomos vendo, na medida que tínhamos disciplinas diferentes de outros cursos de graduação em odontologia, daquilo que desejávamos formar e a medida do possível nós fomos reformulando, fomos unindo, acoplando cargas horárias, eliminando disciplinas, tentando pensar em formar áreas e já, há uns 5 ou 6 anos atrás, pensando, a expressão hoje é mais recente, mas pensando em projeto político-pedagógico no sentido de conhecimento e de cobrança, mas pensando sempre em diretrizes que o nosso curso deveria ter (ENTREVISTADO 9). Historicamente, as mudanças curriculares na odontologia, têm sido sinônimo de redistribuições de cargas horárias e disciplinas, sem rever o modelo pedagógico adotado, ou ainda sem sintonizar-se com as necessidades da sociedade para que de fato mudem as práticas dos profissionais nela inseridos. Esse assunto já esteve em pauta na área em outros tempos e suas preocupações fundamentavam-se basicamente no que ainda hoje se revela preocupante: a prática individual da profissão e a incorporação tecnológica desenfreada (BARROS, 1984, p. 41). As falas dos entrevistados referem-se a propostas de mudanças ocorridas ou em curso no Estado. Estas mudanças, apesar de estarem acontecendo das mais diferentes maneiras, em diferentes tempos e nos mais variados entendimentos, apontam para uma inquietação dos cursos em torno das propostas contidas nas DCN. Nós estamos na fase final de elaboração da proposta de currículo baseado nas diretrizes e nas possibilidades de aplicação das diretrizes dentro da universidade pública que é bem diferente da possibilidade de aplicação na privada e agora vamos encaminhar para discussão nos departamentos, pretendemos fazer um fórum para poder fechar toda esta construção do currículo, tudo norteado pelas diretrizes, desde de nov./02 (ENTREVISTADO 2). Uma comissão de ensino criada desde 2001, agora uma comissão específica para discutir reformulação curricular existe desde set./2002, nomeamos uma outra comissão Janeiro/2003 para discutir as mudanças para 2004 (ENTREVISTADO 3). Desde o final do ano passado, nós estamos em fase de transformação curricular, este ano nós mudamos o nosso currículo, justamente para adequação de alguns fatores, então nós estamos discutindo. Alguns professores estão defendendo o fato de continuarmos com 5 anos, como temos agora, outros professores estão querendo reduzir para 4 anos. Eu particularmente sou contra a diminuição para 4 anos, acho que da maneira como está sendo desenvolvido o curso e dentro das novas propostas, eu acredito que para que o profissional saia com o perfil que as diretrizes estão exigindo eu acredito que 5 anos seriam ideal (ENTREVISTADO 4). O problema é que nem todos professores conhecem as diretrizes, a maioria desconhece. Mas no que a gente pretendeu fazer estas mudanças em cima disso aí, tanto que estamos pegando as básicas entrelaçadas com as profissionalizantes, e entre estas também se entrelaçar dizendo a importância de uma para aquilo que vai acontecer na outra (ENTREVISTADO 5). [...] no século passado, foi uma proposta não totalmente calcada em cima das diretrizes curriculares, foi mais uma readequação dentro do próprio curso em termos de carga horárias, das necessidades dos alunos, na tentativa às vezes de cortar duplicidade de informações, foi um início de reforma, foi um enxugamento de nosso currículo pleno. Na seqüência e agora já neste século, nos idos de 2000, é que estamos tentando fazer uma reformulação mais global em cima das diretrizes curriculares, em cima das diretrizes que o MEC preconiza (ENTREVISTADO 6). Existe o colegiado de curso que discute regularmente todas as propostas mesmo as anteriores a atual vigente e existe o colegiado ampliado que é constituído por todos os professores e todos leram e discutiram as diretrizes. Na verdade desde 2000. Que a proposta de construção das diretrizes é anterior a isto e todas as versões, todas as versões, as propostas da comissão da SESu, da própria comissão da ABENO foram levadas ao colegiado do curso e ao colegiado ampliado (ENTREVISTADO 7). Ênfase principalmente a partir em 2002, foi quando começou a ter uma preocupação maior com o projeto pedagógico, com currículo, com estas diretrizes, alguns cursos já começaram a fazer algumas modificações mais, isso ainda não foi oficializado, não foi uma conduta geral pois temos até 2004 para estar implantando estas modificações, tem alterações de grade para 2004 (ENTREVISTADO 8). [...] então são estas as inovações que nós começamos a trabalhar, isto antecedeu a publicação da LDB, até por querer inovar, por querer tornar uma coisa diferente, por experiência que cada um de nós tínhamos. É importante destacar que nós sempre tivemos oportunidade de modificar, de fazer as coisas diferentes (ENTREVISTADO 9). 7.2.2 As competências profissionais no foco da formação acadêmica O entendimento da necessidade de se buscar a formação de profissionais comprometidos com os problemas da população e competentes para atuar nos diferentes problemas apresentados por ela, pode ser o principal avanço proporcionado pelas DCN. Os cursos estudados mostraram nas entrevistas que está havendo iniciativas para a superação do modelo ora vigente, e isso poderá se dar por meio das competências gerais propostas para a área da saúde. O contato do aluno com o cotidiano das comunidades nos primeiros anos do curso, o contato com outras carreiras da área da saúde, a busca ativa do conhecimento, a iniciativa de se tomar decisões, a capacidade gerencial estão presentes nas propostas de reforma do Estado do Paraná de diferentes maneiras. Algumas contemplando de modo a atingir a maioria das competências propostas nas DCN, outras mais tímidas, contemplando somente algumas e as falas se apresentam desta maneira. [...] construímos módulos de integração que permeiam o curso inteiro culminando com o TCC do aluno e agora estamos estudando para o arremate final, como é que a gente vai trabalhar no primeiro ano a multidisciplinaridade [...] O que não vai mais existir provavelmente é o professor P.O., puro de origem, vai ser muito difícil manter neste novo currículo o professor só de prótese dentaria (ENTREVISTADO 2). Só de começar a trabalhar a disciplina de integração multiprofissional, efetivamente e eles querendo participar também, então vamos avançar bastante (ENTREVISTADO 3). Em todos os processos de extensão vamos levar estas competências também (ENTREVISTADO 4) [...] onde o primeiro e segundo semestre o aluno teria uma condição de inter-relacionamento com o paciente e com o seu corpo. No terceiro e quarto semestre ele teria uma condição de diagnóstico, no quinto, no sexto, no sétimo e oitavo ele teria uma condição terapêutica, nos 2 últimos semestre um estágio clínico completo e integrado. [...] nós estamos extraindo conteúdos de disciplinas para montar um conteúdo maior dentro de períodos, [...] Então ele estuda antropologia, psicologia, ele estuda os procedimentos básicos e a idéia é que ele tenha contato com o paciente desde o primeiro período, [...] Como profissionais de saúde temos responsabilidade com o ser humano e principalmente estamos trazendo já para o início, no primeiro semestre uma grande parte do conteúdo ético, para que ele saiba se portar [...] Estão presentes na conformação que estamos construindo, onde o profissional vai ter inicialmente uma visualização das condições de saúde, vai ter que exercer seu raciocínio pessoal e lógico no sentido de tomar decisão, daquilo que é melhor para aquele paciente [...] o aluno vai e ele faz o levantamento daquilo que ele encontra na família, a vinculação familiar, os laços familiares, se há presença de alcoolismo, se há presença de drogas, o ambiente que a família vive, o perfil de cada familiar [...] (ENTREVISTADO 6). [...] é mais difícil você delinear todo o curso em cima desta ou daquela metodologia de ensino, mas ter como princípios básico esta busca ativa do conhecimento e uma proposta que seja aberta às iniciativas possíveis (ENTREVISTADO 7). [...] este ano nós temos a oportunidade de estar entrando também no centro saúde-escola, que é comandado também pela enfermagem, é um posto de atendimento, parceria entre a Universidade e a prefeitura, onde ali a universidade nos seus diferentes cursos da área da saúde presta serviços para a comunidade, crianças, adolescentes e pacientes idosos [...] a odontologia estará entrando dentro do hospital para trabalhar com a fisioterapia enfermagem e nutrição. A parte administrativa não é dada, entra ali na odontologia preventiva, sanitária e ergonomia. É abordado nestas disciplinas apenas a teoria. Interessante (ENTREVISTADO 8). [...] nós instituímos um sistema um pouquinho diferente, nada muito especial, mas diferente, diferente por que, porque colocamos nosso atendimento da clínica integrada no período da noite, das 18:30 às 22:30, segundo por que criamos um corpo próprio, específico da clínica integrada, [...] trabalhando com supervisores e com supervisores de várias áreas, isto é professores com formação em endodontia, prótese, periodontia, radiologia, dentística, enfim pelo menos da áreas mais comuns, com formação, digamos, mais generalista, na época nem se usava este termo, mas dentro deste conceito e formulamos então esta inovação. [...] fizemos uma reformulação de colocar uma clínica integrada no terceiro ano, no quarto ano e quinto ano e aquilo que seria o último momento de formação já desde o terceiro ano e isso dentro de um processo e de um projeto de saúde da família. Então nós trazemos esta família para atender nas clínicas de terceiro e quarto anos, este é o segundo ano deste projeto, ano que vem vamos desmembrar a clínica do quinto ano (ENTREVISTADO 9). Os aspectos que se referem à formação em nível de graduação estão claros enquanto necessidades de mudanças, mas como as instituições estão preparando seu corpo docente para isso? Em algumas entrevistas existem propostas que dão subsídios para as respostas. Vai ter que mudar toda uma formação. Mas temos já em andamento dois cursos de reciclagem dos professores. O primeiro curso vai acontecer agora em maio aqui só para nossos professores onde eles verão novas técnicas de ensino na odontologia, uma professora da área de educação vai falar especificamente para a odontologia. E no mês de junho virá um outro curso aonde vai se discutir novas avaliações na odontologia e um dos tópicos abordado é a avaliação da avaliação (ENTREVISTADO 6). A iniciativas sugerem também que exista diversidade de entendimento das mudanças propostas nas DCN. Enquanto para uns elas significam claro avanço, para outros isso não acontece, o que está ilustrado nestas falas. O principal avanço é reconhecer que o sujeito a ser formado ele tem que se aproximar de outras áreas do conhecimento, as humanidades, para poder tratar com pessoas de fato [...] (ENTREVISTADO 2). As diretrizes contemplam sim, por que uma das premissas é mesmo que está forte nos objetivos é formar o profissional generalista, humanista, crítico e reflexivo, mas acima de tudo inserido nas necessidades da nossa comunidade social. E com forte inserção no SUS para fortalecer nosso sistema de saúde do Brasil (ENTREVISTADO 3). Não houve tantas mudanças assim, dentro das discussões que tivemos no colegiado as modificações não foram tão intensas. Acho que é o perfil que se propõe há alguns anos atrás, a formação do generalista. O instrumento das diretrizes foi lido, foi estudado e realmente discutido em várias reuniões, mas nós não achamos assim grandes avanços não. Acho que é basicamente o que já estávamos fazendo na escola (ENTREVISTADO 4). A odontologia tem um perfil de profissional de mercado e esse mercado se traduz em consultório, clínica, mesmo que seja na forma de emprego, e até mesmo em algumas situações em subemprego, eles preferem ir para a parte comercial mesmo da profissão. E as diretrizes induzem a formação de um profissional voltado à saúde pública, acho que não existe ainda o equilíbrio de informações em relação a estes dois tipos (ENTREVISTADO 4). É necessário chamar a atenção para as duas últimas falas. Em um primeiro momento o entrevistado revela que não houve tantos avanços, pois já há alguns anos se pensava na formação do profissional generalista. Na fala seguinte é retomado o entendimento de uma outra maneira, o que chamou a atenção. Ora se a formação do profissional generalista, para atuação na comunidade já era aplicada pela escola há algum tempo então por que só agora há o entendimento de que as DCN conduzem para uma formação voltada para a saúde pública? Este fato sugere que pode estar havendo a preocupação em fazer as mudanças sem, contudo, entender o porquê ou para quem se está formando. Pode estar havendo o entendimento do sentido operacional das mudanças sem a preocupação do impacto que estas poderão causar na sociedade. Retomando as outras falas a respeito do entendimento, tem-se; O problema que nem todos, ou a grande maioria de nossos professores conhecem as diretrizes, a maioria desconhece (ENTREVISTADO 5). Eu não sei por que deva se estabelecer que o profissional deva atuar no sistema único de saúde, este é um ponto que sou crítico, acata-se por que parto do princípio que se o Ministério assim quer, assim será, pois é nossa obrigação[...] (ENTREVISTADO 6). Acho que a principal diretriz é a aproximação da universidade com a sociedade (ENTREVISTADO 7). [...] muitas definições não são claras, ainda mais que eles dão liberdade de fazer do jeito que você quer, eles dão flexibilidade, por um lado ela é boa, mas também pode ser perigoso (ENTREVISTADO 8). Ela diz o tempo todo que a educação deve ser continuada, mas não diz de quem é esta responsabilidade. Ele também diz sobre a atenção básica, mas não diz o que é o básico e acaba tendo o básico do básico (ENTREVISTADO 9). Claro que esta diversidade de entendimentos é própria do momento. As diretrizes conduzem a um caminho, porém a interpretação destas depende do ambiente de cada escola. Depende da existência de “forças” nas escolas que conduzam à uma melhor compreensão e aplicação das DCN. As DCN podem conduzir ao amadurecimento sobre o tipo de profissional que a instituição identifica como necessário para suprir as necessidades locais e regionais da IES. As políticas institucionais voltadas para a capacitação docente, subsidiando-os às mudanças e a novas práticas de ensino também devem estar presentes no envolvimento que as IES devem ter nos processos de mudanças dos cursos. 7.2.3 As Diretrizes Curriculares na Formação do Profissional para o Sistema De Saúde Nas DCN a proposição de se formar um profissional preocupado com o entendimento do processo saúde/doença da população se apresenta da seguinte forma. Perfil do Profissional - Cirurgião dentista, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade (BRASIL, 2001a, p. 8). Apesar da expressão “generalista” estar sendo usada há algum tempo para se definir qual o perfil necessário para a formação profissional, pode ser que os cursos da área da saúde, em especial a odontologia, não tenham clareza do significado desta expressão e de quais metodologias são necessárias para formar este profissional. Para alguns entrevistados, o entendimento é que de fato as DCN contribuirão para mudar as práticas e o tipo de profissional que será formado. Outros, no entanto, entendem que o tipo de profissional a ser formado, continuará sendo aquele “profissional da odontologia mesmo”, aquele profissional voltado para a odontologia de mercado cuja prática se dá na oferta de serviços especializados e privados. Mas, qual a intenção da proposta das DCN quando é colocado este perfil de formação? Será que está claro que este profissional é aquele capaz de interferir de modo eficiente no processo saúde/doença das populações, no âmbito individual ou coletivo, ou simplesmente aquele profissional clinico geral que consegue resolver “todos” os problemas clínicos na sua prática clínica e individual? As falas a seguir ilustram esta divergência de entendimento. [...] acredito que o profissional estará mais sensível, a uma série de coisas, ao mundo globalizado, ele estará mais responsável pelo aprender a aprender, ele vai, pelas próprias mudanças que vão acontecer na sociedade a profissão vai mudar, até mesmo em mudanças comportamentais e mesmo no quadro epidemiológico das doenças relacionadas a odontologia (ENTREVISTADO 2). Espero que o aluno venha aqui procurando, se preocupando primeiro não em abrir consultório. Uma mudança cultural (ENTREVISTADO 3). Qualificando o profissional para sair daqui realmente trabalhando, profissionais tecnicamente e cientificamente dotados de uma boa qualificação. [...] mas vai ser dado ênfase principal a formação do profissional da odontologia mesmo, e não o voltado especificamente para a saúde coletiva (ENTREVISTADO 4). Eu acredito que seja o generalista mesmo. Voltar ao clinico geral de antigamente. Aquele dentista que o paciente chegava e ficava com ele e não precisava sair de seu consultório para tratar canal com um, fazer perio com outro, para daí restaurar com você. Então para mudar isso, nós vamos ter que voltar aquele empirismo da odontologia antiga, não no sentido empírico da palavra, mas de voltar materiais muito mais baratos, de voltar o cimento de silicato no consultório, de voltar o amálgama (ENTREVISTADO 5). [...] então na verdade o aluno vai ter que ser proficiente nas coisas básica sem detrimento de uma especificidade de conteúdo[...] (ENTREVISTADO 6). A necessidade de formação de um profissional que esteja inserido no seu meio, esta inserção no contexto acredita-se que é o ponto mais importante. O principal ponto da diretriz que deve significar avanço (ENTREVISTADO 7). Eu acho que vamos formar profissionais diferentes, num curto prazo, já estamos formando profissionais diferentes, só que muitas vezes os profissionais não entenderam o por que da formação dele ser diferente (ENTREVISTADO 8). [...] que apresente ao aluno a possibilidade da sua formação teórica aliada inseparavelmente à condição prática dentro de um sentido de “práxis”, quer dizer não separar estas duas possibilidades, tanto em uma condição intramuros, dentro da escola, como uma condição extramuros, conhecer o que e para que eu preciso e onde vou trabalhar, mas sem, contudo tornarme mão de obra gratuita ou barata, manter dignidade a identidade da odontologia (ENTREVISTADO 9). Entendendo que a compreensão do perfil do profissional a ser formado é relevante para que o que está contemplado nas DCN seja de fato adotado, o que se percebeu é que o foco destas mudanças, para alguns, recai basicamente em aumentar as cargas horárias das disciplinas relacionadas com a Saúde Coletiva. Há dificuldade em se compreender a necessidade destas mudanças atingir toda a estrutura dos cursos e não apenas nas disciplinas relacionadas com a saúde coletiva. [...] lógico que existem as odontologias preventivas, sociais e sanitárias e isso dentro da nova proposta curricular, vamos colocar em todos os anos a disciplina de odontologia preventiva ou odontologia em saúde coletiva [...] (ENTREVISTADO 4). Hoje a moda é dentística, vamos ter que fazer a moda virar odontologia social. Mas que tem nestas diretrizes alguma coisa, tem! (ENTREVISTADO 5). Os processos de mudanças precisam ultrapassar o campo destas disciplinas e do simples aumento de cargas horárias, para de fato haver mudanças nas atitudes de ensinar por parte do professores de todas as outras disciplinas. Há que se ter o entendimento da necessidade de construção do perfil ideal de profissional que a instituição quer. Há que se ter em mente que outros entendimentos são necessários como a adoção de metodologias ativas de ensinoaprendizagem, do contato com a realidade da população nos primeiros anos de graduação, da diversidade de cenários de práticas com níveis de complexidades crescentes, reconhecer o SUS como ordenador do sistema formador e empregador potencial dos profissionais recém formados. Algumas falas remetem à preocupação de que as mudanças não irão ultrapassar as paredes dos departamentos ou disciplinas de odontologia social, ou mesmo que o foco das mudanças continuará sendo as cargas horárias. Vamos ter que nos habituar, já estamos pensando nisso e uma das propostas reais que nós temos que já está incorporado ao processo, é a implementação da disciplina de odontologia em saúde coletiva em todos os anos, a atuação do aluno perante a comunidade, basicamente a grande mudança curricular seria neste sentido, agora a parte clínica permanece praticamente inalterada [...] (ENTREVISTADO 4). Muitos reprovam ter odontologia social e preventiva do primeiro ao quinto ano. “Ta louco, isto é um absurdo”, mas qual o papel da odontologia? Qual o papel da universidade? Outros querem aumentar suas cargas horárias pelo simples prazer de aumentar. Qual o conteúdo programático que vai ser dado? Então não conseguimos nos entender e de 5000 horas pulamos para 6000. Vamos ter que baixar isso para 5000, para a Odontologia Social sair em campo para poder fazer o que tem que ser feito (ENTREVISTADO 5). Então nosso curso basicamente deverá mudar de 8 para 10 semestre, um aumento de um semestre totalmente clínico, quer dizer, aumentar a carga horária clínica ao final do curso [...] (ENTREVISTADO 6). É evidente, que a maior necessidade é a compreensão do que é o SUS por parte da maioria dos profissionais que compõem a categoria e isto fica claro quando os coordenadores de cursos se manifestam a respeito. [...] é foi discutido, falta ainda um pouco e vamos precisar trabalhar isso com os professores da dentística, prótese, perio estas coisas. Para eles entenderem como eles se inserem dentro do sistema de saúde, eles não têm clareza sobre isso, que ele lá dentro da clínica da faculdade ou da clínica isolada da dentística, que ele está dentro de um macro e acho que isso terá que ser trabalhado, é um desafio geral, é um desconhecimento das outras áreas que não são da área de saúde coletiva, salvo honrosas exceções (ENTREVISTADO 2). Em relação ao SUS, acredito que não houve muitos avanços, neste sentido e então acredito que não tem uma perspectiva muito positiva. Acho que vai ser muito difícil formar profissional de qualidade. Acho que a qualidade profissional, a tendência é cair nesta situação (ENTREVISTADO 4). [...] hoje na prefeitura municipal de * você não faz prótese, você faz somente o básico, você atende de 0 a 3 anos, no postinho próprio para criança de 0 a 3 anos e de 3 a 14 nos postos de saúde na periferia da cidade, única e exclusivamente faz o que, restaurações extrações, profilaxia, selante, rx, o básico (ENTREVISTADO 5). [...] se teoricamente nós temos hoje uma direção única, em direção a especialização, nós queremos reverter para um outro radicalismo, então vai ser agora só para o Sistema Único de Saúde onde ele vai atender a população menos favorecida, o programa saúde da família, enfim, em detrimento da outra ala, acho que deveria ter um consenso neste sentido (ENTREVISTADO 6). Esta compreensão deve se dar entendendo que a maioria do corpo docente de odontologia não teve contato prévio com os aspectos que estão propostos nas DCN e que a sua formação se deu acreditando que as habilidades técnicas são suficientes para serem educadores e que as habilidades relacionadas com as ciências humanas e sociais são “perfumarias” no processo formador. Como qualquer processo de mudança, são encontradas dificuldades no seu transcorrer. Para os coordenadores entrevistados foram identificadas como grandes barreiras: a formação dos professores nos moldes antigos, sem conhecimentos pedagógicos necessários para o ensino; o descomprometimento do corpo docente com os processos de mudanças; a falta de politização do corpo discente e até mesmo as relações de poder entre os departamentos e as disciplinas e em cima disso, as estruturas departamentalizadas das instituições. Estes problemas estavam presentes em mais de uma entrevista como as que seguem: [...] tendo em vista a força de lei que as DC tem, não cabe muita discussão, mas é claro, não vou negar para você que existe um eterno problema de carga horária, a minha ganha e outra perde [...] (ENTREVISTADO 2). Todo mundo enxerga que estas mudanças são extremamente urgente para a gente, essas nossas adequações, do currículo, para que elas fiquem realmente redondinhas. Inclusive os próprios professores só que é inacreditável como é difícil, por mais que os professores queiram (ENTREVISTADO 3). [...] mas eu vejo algumas dificuldades, a primeira dificuldade é a departamentalização da universidade e a segunda são os professores, e eu me incluo entre eles, cuja a formação é toda no aspecto de disciplinas [...] (ENTREVISTADO 6). Acho que uma dificuldade da área muito grande é a falta de conhecimento, de preparo. As pessoas trabalham com educação, mas são derivadas de sua prática profissional, não tem entendimento, não tem formação mesmo, falta estudo, falta leitura e isto não é específico da escola que eu coordeno, isto de uma maneira geral é comum a toda área da saúde (ENTREVISTADO 7). [...] é complicado você pegar quem foi educado dentro de um modelo tradicional de odontologia, dentro de um programa tradicional e vc ter que passar a ensinar de forma diferente daquilo que vc acreditava que seria o ideal e correto[...] (ENTREVISTADO 8). E a outra dificuldade é a conscientização política do corpo discente, eu não sei se os outros entrevistados talvez estejam levando por este lado, mas não adianta nada fazer uma política unilateral, não é? (ENTREVISTADO 8). Em relação ao corpo docente, eu ainda não consegui descobrir como é que você faz para ter comprometimento e não compromisso, comprometimento com a escola, não é por intermédio de carga horária, não por intermédio somente financeiro, está certo? (ENTREVISTADO 9). As relações de poder que naturalmente existem nas discussões foram apontadas como uma das dificuldades nos processos. Outro aspecto relatado foi que a ausência de “forças” capazes de conduzir processos mais inovadores podendo fazer com que o ranço das instituições departamentalizadas e detentoras do poder simbólico permaneça e faça valer a força da tradição. As IES em descompasso com a sociedade e com os serviços podem levar ao não acompanhamento dos avanços das políticas sociais. Acho isso importante, mas muito na dependência de ter lideranças, professores ou lideranças mesmo, que puxem este processo para dentro da escola de forma mais ativa, puxando tanto a discussão mais aprofundada e que realizem estas aspirações ou estas possibilidades que já estão escritas, possibilidades estão escrita, mas entre a possibilidade e o realizar existe uma diferença de se estar encampando isso (ENTREVISTADO 12). A partir destas considerações, pode-se estabelecer uma relação entre os cursos com melhor entendimento a respeito das DCN e com processos de mudanças mais amadurecidos com o fato de que em algum momento tiveram participação em comissões da ABENO ou que há uma valorização institucional sobre a participação nas reuniões da entidade e ainda que a formação de seus coordenadores tenha relação com a saúde coletiva e que participam de movimentos de mudanças no ensino superior (ver tabela 1 – pág 65). Para estes docentes, hoje coordenadores, o melhor entendimento deste processo, pode ter ocorrido a partir do conhecimento e da busca por melhor entendimento daquilo que está além da “boca” humana, está na complexidade que é o processo saúde-doença, das políticas de saúde que vigoram em nosso país, além de uma formação adequada para os docentes do ensino superior do Brasil. 8 CONCLUSÕES A ordenação de recursos humanos para a área da saúde pelo SUS é um assunto que está na pauta dos principais eventos que tratam da saúde pública no Brasil. No entanto, apesar de se estar sempre discutindo a temática, apenas com a LDB e com o Edital 04/97, o Sistema de Saúde teve a oportunidade de interferir, de modo importante, no Sistema Educacional do país. No cenário de construção das DCN para os cursos da área da saúde, em especial da odontologia, alguns atores se destacaram. A ABENO, como ator e entidade que representa o ensino de odontologia no país e a Rede Unida como ator e representante dos movimentos sociais pelas mudanças nas graduações da área da saúde. No processo de construção das DCN para o curso de odontologia percebe-se a notória e intensa participação da ABENO, por meio da comissão de ensino indicada pelo presidente da instituição, na elaboração da proposta da entidade. A ABENO contribuiu de modo significativo, porém ainda muito conservador e centrado nas habilidades específicas da profissão. Algumas vertentes mais conservadoras da entidade discutem as mudanças sem contemplar o conceito ampliado de saúde, bem como os objetivos e o objeto das DCN explicitados nas competências gerais para a área da saúde. Restringem sua atuação nas capacitações pedagógicas que são realizadas em eventos e reuniões paralelas da entidade, ao invés de aprofundar as discussões sobre as políticas de saúde do País, bem como as prioridades epidemiológicas da população. Os fatos apresentados no estudo revelam que, a ABENO tem assumido um poder simbólico relevante nos cursos de odontologia do país e isso influencia fortemente os processos de mudanças no interior dos cursos. Como sugestão, o estudo aponta para a canalização deste poder para discutir o que realmente é válido na resolução do grave quadro epidemiológico do País e das dificuldades de acesso aos serviços públicos de odontologia por grande parte da população. Os atores do processo, de acordo as com falas dos entrevistados, dos anais das reuniões da ABENO, bem como do Relatório da Audiência Pública do CNE, indicam a construção de uma proposta não inteiramente sistematizada, de modo consensual, pelas entidades que representam a classe odontológica, como por exemplo: a ABO, CFO, Sindicatos, Estudantes e não apenas pela entidade representante do ensino de odontologia. Este fato pode significar dificuldades na incorporação das mudanças propostas. Quanto à participação de outros atores no processo de construção das DCN, a Rede Unida também teve importante papel. A participação não se restringiu ao envio de propostas, mas sim de articulações com o CNS e outros importantes atores do cenário de construção das DCN e também da Reforma Sanitária brasileira. A Rede Unida participou apoiando discussões para que estratégias de implementação das DCN fossem traçadas. Como foi o caso do Congresso realizado pela entidade no ano de 2003, em que oficinas de construção de estratégias para implementação das DCN foram realizadas para a maioria das carreiras da área da saúde. Aspectos como a participação acadêmica nas discussões para a construção das DCN ocorreu de modo sutil. Em âmbito nacional, o que se encontrou foi uma falta de articulação dos estudantes de odontologia, pois não existia, no momento da coleta de dados, uma executiva nacional que os representasse em discussões que envolvessem o ensino. Esta desarticulação está relacionada à falta de politização e envolvimento da classe nas políticas públicas que regem o País, apesar da grande participação dos estudantes, por meio do UNEO, no Movimento da Reforma Sanitária. Alguns questionamentos foram levantados como resultados do estudo. Entre eles está o que pode ter ocorrido com a participação acadêmica tão importante? O que ocorreu com aqueles atores que marcaram o movimento estudantil de odontologia? Qual foi o seu legado em relação ao movimento estudantil? Possivelmente aqueles atores estejam envolvidos com questões da maior relevância para a classe, no entanto parece que a continuidade do movimento estudantil não continuou sendo estimulada. No cenário atual, em que o Ministério da Saúde tem incentivado a participação acadêmica por meio de uma secretaria própria, pode ser que assim ocorra o envolvimento por parte dos acadêmicos de odontologia ,nas questões de políticas públicas do país. Os cursos do Paraná tiveram pouco envolvimento no envio de contribuições para a comissão de especialistas da SESu/MEC. Apenas os cursos de Odontologia da Universidade Federal do Paraná e da Universidade Estadual de Londrina enviaram oficialmente suas contribuições. Nos processos de implementação das DCN nos cursos do Estado foram identificados os mais variados tempos e maneiras. Assim, alguns cursos desencadearam processos mais inovadores e outros permanecem com o enfoque nas distribuições de disciplinas na grade horária. Faz-se necessário o entendimento de que os cursos do Estado e do País possuem coordenadores das mais variadas especialidades e o conceito ampliado de saúde, bem como o de SUS, são assuntos muito discutidos nos ambientes da saúde bucal coletiva, no entanto, as outras áreas pouco entendem ou mesmo desconhecem esses processos. Este aspecto é importante na medida em que, se não houver o entendimento dos conceitos requeridos, corre-se o risco de recair em erros já cometidos anteriormente e as mudanças necessárias acabarem por não serem implantadas de fato. Os processos mais inovadores partiram de iniciativas e do melhor entendimento dos coordenadores de curso e de docentes a respeito do SUS. Estes fatos sugerem que as mudanças dependem muito mais de “forças” individuais para desencadear os processos no interior das escolas do que propriamente dos documentos oficiais e legítimos e das políticas institucionais que as viabilizem. Neste momento, o estudo aponta a necessidade de serem criados mecanismos de identificação de lideranças emergentes nos cursos, para que seja praticado o poder simbólico de modo a efetivar as mudanças necessárias na formação em odontologia. Como dificuldades, os coordenadores entrevistados, apontaram para uma participação inexpressiva e falta de compromisso do corpo docente. Tal fato pode ser atribuído à formação tradicional, com foco no atendimento individualizado e técnico, sem habilidades para o exercício da atividade docente. Assim, nesta circunstância de mudanças, toda sua formação é colocada em conflito. No entanto, as IES exigem, no momento do ingresso nestas atividades, conhecimentos e habilidades restritas à sua área de atuação técnica. Portanto, um docente universitário do curso de Odontologia, circunstancialmente se conduz a conhecimentos relacionados à atividade de docência propriamente dita e com menor freqüência ainda a conhecimentos relacionados ao conceito ampliado de saúde, às políticas de saúde do país, ao trabalho multiprofissional, bem como do quadro epidemiológico da população. Tais aspectos são de fundamental importância para que todos os preceitos abordados nas DCN sejam contemplados na formação de novos profissionais de odontologia. Exigir do atual corpo docente, atitudes de mudanças sem, contudo subsidiá-los, é incidir nos erros já cometidos anteriormente e passar a responsabilidade da formação requerida para este corpo docente, colocando-o literalmente em conflito com concepções e valores que até então eram necessários para ser um bom profissional. A Odontologia em Saúde Coletiva, enquanto conhecedora dos princípios e diretrizes do SUS em parceria com a ABENO, detentora de um poder simbólico cada vez mais explícito e relevante no interior dos cursos, podem contribuir para que haja o entendimento dos aspectos levantados como importantes para a efetivação das mudanças. Assim, seria oportuna a consolidação de um grupo de docentes da área a fim de proporcionar discussões, fortalecer idéias e criar estratégias que de fato possam proporcionar as mudanças necessárias na graduação. Esta iniciativa teve seu marco inicial na Reunião da ABENO de 2003, basta que seja consolidada de fato. Quanto às IES, formadoras de Recursos Humanos em odontologia e nas demais áreas da saúde, estas não devem restringir seu papel social ao atendimento às demandas por serviços de saúde no seu interior e sim estendê-lo para que sejam formados profissionais capazes de interferir de modo competente nos problemas sociais, políticos, econômicos e de saúde da população. É requerido ainda um maior envolvimento das IES nos processos de mudanças, subsidiando os cursos nas capacitações pedagógicas de seus docentes. Cabe aqui também a reflexão do papel das IES nestes processos de mudanças na formação. Está havendo por parte destas, comprometimento com estes processos? Estão surgindo programas de capacitações docentes visando proporcionar instrumentos a seus professores para que ocorram as mudanças de fato? Ou simplesmente estão ocorrendo estes processos sem o devido acompanhamento institucional? As IES estão interessadas em participar dos programas de incentivos às mudanças curriculares? Está havendo busca por alternativas para o problema das capacitações docentes? Tais indagações podem ser objeto de estudo de novas pesquisas na área. Como estratégias também, faz-se necessário que as Pósgraduações stricto senso dêem maior ênfase aos conteúdos relacionados ao conhecimento do sistema de saúde vigente no Brasil e de docência universitária, pois nestas pós-graduações, são reforçados os aspectos técnicos da profissão em detrimento destas temáticas. Neste sentido, o Conselho Federal de Odontologia poderia se envolver para que os referidos temas também sejam elementos obrigatórios nos cursos de Pós-graduação latu sensu. As Políticas de Avaliações das instituições pelos órgãos de âmbito federal podem favorecer a incorporação dos preceitos adotados nas diretrizes, pois exigirão das IES, posturas humanísticas relevantes para contribuir, de modo a favorecer as condições de vida da população em geral. Para que ocorra a mudança necessária, faz-se importante que os Movimentos de Mudanças na graduação aprofundem estas discussões em todos os cursos e que Políticas de Incentivos para tais processos sejam de fato praticadas e disseminadas na comunidade acadêmica do Estado, como por exemplo, o PROSAÚDE/PR e ainda que a classe se aproprie de conhecimentos relevantes para ultrapassar a incapacidade histórica da profissão de sair dos limites da ação individual. Assim, este processo deveria ultrapassar o campo da saúde bucal coletiva, estendendo-se para todas as áreas, acabando com as dicotomias entre básico e clínico, entre clínico e social e entre público e privado. Pois se assim permanecer, o ensino e as práticas permanecerão inalterados e o que é mais grave, sem a percepção da necessidade de mudanças na forma de ensinar e atuar dos odontólogos. REFERÊNCIAS IV Seminário ensinando e aprendendo em odontologia. Paulo, v.2, n.1, p. 27-30, jan./dez. 2002. 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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO INTERESSADO: Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior UF: DF ASSUNTO: Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Farmácia e Odontologia RELATOR (A): Éfrem de Aguiar Maranhão (Relator), Arthur Roquete de Macedo e Yugo Okida. PROCESSO(S) Nº(S): 23001.000318/2001-75 PARECER Nº: CNE/CES 1300/01 COLEGIADO CES APROVADO EM: 06/11/2001 I – RELATÓRIO • Histórico A Comissão da CNE/CES analisou as propostas de Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação da área de Saúde elaboradas pelas Comissões de Especialistas de Ensino e encaminhadas pela SESu/MEC ao CNE, tendo como referência os seguintes documentos: Constituição Federal de 1988; Lei Orgânica do Sistema Único de Saúde 8.080 de 19/9/1990; Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9.394 de 20/12/1996; Lei que aprova o Plano Nacional de Educação 10.172 de 9/1/2001; Parecer CNE/CES 776/97 de 3/12/1997; Edital da SESu/MEC 4/97 de 10/12/1997; Parecer CNE/CES 583/2001 de 4/4/2001; Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI da Conferência Mundial sobre o Ensino Superior, UNESCO: Paris, 1998; Relatório Final da 11ª Conferência Nacional de Saúde realizada de 15 a 19/12/2000; Plano Nacional de Graduação do ForGRAD de maio/1999; Documentos da OPAS, OMS e Rede UNIDA; Instrumentos legais que regulamentam o exercício das profissões da saúde. Após a análise das propostas, a Comissão, visando o aperfeiçoamento das mesmas, incorporou aspectos fundamentais expressos nos documentos supramencionados e adotou formato, preconizado pelo Parecer CNE/CES 583/2001, para as áreas de conhecimento que integram a saúde: PERFIL DO FORMANDO EGRESSO/PROFISSIONAL COMPETÊNCIAS E HABILIDADES CONTEÚDOS CURRICULARES ESTÁGIOS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES ORGANIZAÇÃO DO CURSO ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. Essas propostas revisadas foram apresentadas pelos Conselheiros que integram a Comissão da CES aos representantes do Ministério da Saúde, do Conselho Nacional de Saúde, da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação e do Fórum de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras e aos Presidentes dos Conselhos Profissionais, Presidentes de Associações de Ensino e Presidentes das Comissões de Especialistas de Ensino da SESu/MEC na audiência pública, ocorrida em Brasília, na sede do CNE, em 26 de junho do corrente ano. • Mérito A Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, ao orientar as novas diretrizes curriculares recomenda que devem ser contemplados elementos de fundamentação essencial em cada área do conhecimento, campo do saber ou profissão, visando promover no estudante a competência do desenvolvimento intelectual e profissional autônomo e permanente. Esta competência permite a continuidade do processo de formação acadêmica e/ou profissional, que não termina com a concessão do diploma de graduação. As diretrizes curriculares constituem orientações para a elaboração dos currículos que devem ser necessariamente adotadas por todas as instituições de ensino superior. Dentro da perspectiva de assegurar a flexibilidade, a diversidade e a qualidade da formação oferecida aos estudantes, as diretrizes devem estimular a superação das concepções antigas e herméticas das grades curriculares, muitas vezes, meros instrumentos de transmissão de conhecimento e informações, e garantir uma sólida formação básica, preparando o futuro graduado para enfrentar os desafios das rápidas transformações da sociedade, do mercado de trabalho e das condições de exercício profissional. Princípios das Diretrizes Curriculares Assegurar às instituições de ensino superior ampla liberdade na composição da carga horária a ser cumprida para a integralização dos currículos, assim como na especificação das unidades de estudos a serem ministradas; Indicar os tópicos ou campos de estudo e demais experiências de ensino-aprendizagem que comporão os currículos, evitando, ao máximo, a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias pré-determinadas, as quais não poderão exceder 50% da carga horária total dos cursos. A Comissão da CES, baseada neste princípio, admite a definição de percentuais da carga horária para os estágios curriculares nas Diretrizes Curriculares da Saúde; Evitar o prolongamento desnecessário da duração dos cursos de graduação; Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa; Estimular práticas de estudo independente, visando uma progressiva autonomia intelectual e profissional; Encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as que se referiram à experiência profissional julgada relevante para a área de formação considerada; Fortalecer a articulação da teoria com a prática, valorizando a pesquisa individual e coletiva, assim como os estágios e a participação em atividades de extensão; Incluir orientações para a conclusão de avaliações periódicas que utilizem instrumentos variados e sirvam para informar às instituições, aos docentes e aos discentes acerca do desenvolvimento das atividades do processo ensino-aprendizagem. Além destes pontos, a Comissão reforçou nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação em Saúde a articulação entre a Educação Superior e a Saúde, objetivando a formação geral e específica dos egressos/profissionais com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, indicando as competências comuns gerais para esse perfil de formação contemporânea dentro de referenciais nacionais e internacionais de qualidade. PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. Desta forma, o conceito de saúde e os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) são elementos fundamentais a serem enfatizados nessa articulação. Saúde: conceito, princípios, diretrizes e objetivos A saúde é direito de todos e dever do estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (Artigo 196 da Constituição Federal de 1988); As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes (Artigo 198 da Constituição Federal de 1988): I – descentralização; II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III – participação da comunidade. O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS). (Artigo 4º da Lei 8.080/90). Parágrafo 2º deste Artigo: A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter complementar. São objetivos do Sistema Único de Saúde (Artigo 5º da Lei 8.080/90): I – a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II – a formulação de política de saúde; III – a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS) são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios (Artigo 7º da Lei 8.080/90): I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; VII – utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; X – integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XII – capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência. Com base no exposto, definiu-se o objeto e o objetivo das Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação da Saúde: Objeto das Diretrizes Curriculares: permitir que os currículos propostos possam construir perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos, dentro de perspectivas e abordagens contemporâneas de formação pertinentes e compatíveis com referencias nacionais e internacionais, capazes de atuar com qualidade, eficiência e resolutividade, no Sistema Único de Saúde (SUS), considerando o processo da Reforma Sanitária Brasileira. PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. Objetivo das Diretrizes Curriculares: levar os alunos dos cursos de graduação em saúde a aprender a aprender que engloba aprender a ser, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a conhecer, garantindo a capacitação de profissionais com autonomia e discernimento para assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e comunidades. PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. • DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA 1. PERFIL DO FORMANDO EGRESSO/PROFISSIONAL Cirurgião dentista, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor técnico e científico. Capacitado ao exercício de atividades referentes à saúde bucal da população, pautado em princípios éticos, legais e na compreensão da realidade social, cultural e econômica do seu meio, dirigindo sua atuação para a transformação da realidade em benefício da sociedade. 2. COMPETÊNCIAS E HABILIDADES Competências Gerais • Atenção à saúde: os profissionais de saúde, dentro de seu âmbito profissional, devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo. Cada profissional deve assegurar que sua prática seja realizada de forma integrada e contínua com as demais instâncias do sistema de saúde, sendo capaz de pensar criticamente, de analisar os problemas da sociedade e de procurar soluções para os mesmos. Os profissionais devem realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas sim, com a resolução do problema de saúde, tanto em nível individual como coletivo; • Tomada de decisões: o trabalho dos profissionais de saúde deve estar fundamentado na capacidade de tomar decisões visando o uso apropriado, eficácia e custo-efetividade, da força de trabalho, de medicamentos, de equipamentos, de procedimentos e de práticas. Para este fim, os mesmos devem possuir competências e habilidades para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas, baseadas em evidências científicas; • Comunicação: os profissionais de saúde devem ser acessíveis e devem manter a confidencialidade das informações a eles confiadas, na interação com outros profissionais de saúde e o público em geral. A comunicação envolve comunicação verbal, não-verbal e habilidades de escrita e leitura; o domínio de, pelo menos, uma língua estrangeira e de tecnologias de comunicação e informação; • Liderança: no trabalho em equipe multiprofissional, os profissionais de saúde deverão estar aptos a assumir posições de liderança, sempre tendo em vista o bem estar da comunidade. A liderança envolve compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz; • Administração e gerenciamento: os profissionais devem estar aptos a tomar iniciativa, fazer o gerenciamento e administração tanto da força de trabalho, dos recursos físicos e materiais e de informação, da mesma forma que devem estar aptos a ser empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na equipe de saúde; • Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais. Competências e Habilidades Específicas PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. O Curso de Graduação em Odontologia deve assegurar, também, a formação de profissionais com competências e habilidades específicas para: • respeitar os princípios éticos e legais inerentes ao exercício profissional; • atuar em todos os níveis de atenção à saúde, integrando-se em programas de promoção, manutenção, prevenção, proteção e recuperação da saúde, sensibilizados e comprometidos com o ser humano, respeitando-o e valorizando-o; • atuar multiprofissionalmente, interdisciplinarmente e transdisciplinarmente com extrema produtividade na promoção da saúde baseado na convicção científica, de cidadania e de ética; • reconhecer a saúde como direito e condições dignas de vida e atuar de forma a garantir a integralidade da assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; • exercer sua profissão de forma articulada ao contexto social, entendendo-a como uma forma de participação e contribuição social; • conhecer métodos e técnicas de investigação e elaboração de trabalhos acadêmicos e científicos; • desenvolver assistência odontológica individual e coletiva; • identificar em pacientes e em grupos populacionais as doenças e distúrbios buco-maxilofaciais e realizar procedimentos adequados para suas investigações, prevenção, tratamento e controle; • cumprir investigações básicas e procedimentos operatórios; • promover a saúde bucal e prevenir doenças e distúrbios bucais; • comunicar e trabalhar efetivamente com pacientes, trabalhadores da área da saúde e outros indivíduos relevantes, grupos e organizações; • obter e eficientemente gravar informações confiáveis e avaliá-las objetivamente; • aplicar conhecimentos e compreensão de outros aspectos de cuidados de saúde na busca de soluções mais adequadas para os problemas clínicos no interesse de ambos, o indivíduo e a comunidade; • analisar e interpretar os epidemiológicas e clínicas; • organizar, manusear e avaliar recursos de cuidados de saúde efetiva e eficientemente. • aplicar conhecimentos de saúde bucal, de doenças e tópicos relacionados no melhor interesse do indivíduo e da comunidade; • participar em educação continuada relativa a saúde bucal e doenças como um componente da obrigação profissional e manter espírito crítico, mas aberto a novas informações; • participar de investigações científicas sobre doenças e saúde bucal e estar preparado para aplicar os resultados de pesquisas para os cuidados de saúde; • buscar melhorar a percepção e providenciar soluções para os problemas de saúde bucal e áreas relacionadas e necessidades globais da comunidade; • manter reconhecido padrão de ética profissional e conduta, e aplicá-lo em todos os aspectos da vida profissional; • estar ciente das regras dos trabalhadores da área da saúde bucal na sociedade e ter responsabilidade pessoal para com tais regras; resultados de relevantes pesquisas experimentais, PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. • reconhecer suas limitações e estar adaptado e flexível face às mudanças circunstanciais. • colher, observar e interpretar dados para a construção do diagnóstico; • identificar as afecções buco-maxilo-faciais prevalentes; • propor e executar planos de tratamento adequados; • realizar a preservação da saúde bucal; • comunicar-se com pacientes, com profissionais da saúde e com a comunidade em geral; • trabalhar em equipes interdisciplinares e atuar como agente de promoção de saúde; • planejar e administrar serviços de saúde comunitária; • acompanhar e incorporar inovações tecnológicas (informática, novos materiais, biotecnologia) no exercício da profissão. A formação do Cirurgião Dentista deverá contemplar o sistema de saúde vigente no país, a atenção integral da saúde num sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contrareferência e o trabalho em equipe. 3. CONTEÚDOS CURRICULARES Os conteúdos essenciais para o Curso de Graduação em Odontologia devem estar relacionados com todo o processo saúde-doença do cidadão, da família e da comunidade, integrado à realidade epidemiológica e profissional. Os conteúdos devem contemplar: • Ciências Biológicas e da Saúde – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de base moleculares e celulares dos processos normais e alterados, da estrutura e função dos tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos, aplicados às situações decorrentes do processo saúde-doença no desenvolvimento da prática assistencial de Odontologia. • Ciências Humanas e Sociais – incluem-se os conteúdos referentes às diversas dimensões da relação indivíduo/sociedade, contribuindo para a compreensão dos determinantes sociais, culturais, comportamentais, psicológicos, ecológicos, éticos e legais, nos níveis individual e coletivo, do processo saúde-doença. • Ciências Odontológicas – incluem-se os conteúdos (teóricos e práticos) de: • propedêutica clínica, onde serão ministrados conhecimentos de patologia bucal, semiologia e radiologia. • clínica odontológica, onde serão ministrados conhecimentos de materiais dentários, oclusão, dentística, endodontia, periodontia, prótese, implantodontia, cirurgia e traumatologia buco-maxilo-faciais. • odontologia pediátrica, onde serão ministrados conhecimentos de patologia, clínica odontopediátrica e de medidas ortodônticas preventivas. 4. ESTÁGIOS E ATIVIDADES COMPLEMENTARES • Estágio Curricular A formação do Cirurgião Dentista deve garantir o desenvolvimento de estágios curriculares, sob supervisão docente. Este estágio deverá ser desenvolvido de forma articulada e com complexidade crescente ao longo do processo de formação. A carga horária mínima do estágio curricular supervisionado deverá atingir 20% da carga horária total do Curso de Graduação em Odontologia proposto, com base no Parecer/Resolução específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação. • PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. Atividades Complementares As atividades complementares deverão ser incrementadas durante todo o Curso de Graduação em Odontologia e as Instituições de Ensino Superior deverão criar mecanismos de aproveitamento de conhecimentos, adquiridos pelo estudante, através de estudos e práticas independentes presenciais e/ou a distância. Podem ser reconhecidos: • • • • • Monitorias e Estágios, Programas de Iniciação Científica; Programas de Extensão; Estudos Complementares; Cursos realizados em outras áreas afins. 5. ORGANIZAÇÃO DO CURSO O Curso de Graduação em Odontologia deverá ter um projeto pedagógico, construído coletivamente, centrado no aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e mediador do processo ensino-aprendizagem. Este projeto pedagógico deverá buscar a formação integral e adequada do estudante através de uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. As Diretrizes Curriculares e Projeto Pedagógico deverão orientar o currículo do Curso de Graduação em Odontologia para um perfil acadêmico e profissional do egresso. Este currículo deverá contribuir, também, para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas nacionais e regionais, internacionais e históricas, em um contexto de pluralismo e diversidade cultural. A organização do Curso de Graduação em Odontologia deverá ser definida pelo respectivo colegiado do curso, que indicará o regime: seriado anual, seriado semestral, sistema de créditos ou modular. Para conclusão do Curso de Graduação em Odontologia, o aluno deverá elaborar um trabalho sob orientação docente. A estrutura do Curso de Graduação em Odontologia deverá: • estabelecer com clareza aquilo que se deseja obter como um perfil do profissional integral; na sua elaboração, substituir a decisão pessoal pela coletiva. Deverá explicitar como objetivos gerais a definição do perfil do sujeito a ser formado, envolvendo dimensões cognitivas, afetivas, psicomotoras, nas seguintes áreas: • formação geral: conhecimentos e atitudes relevantes para a formação científico-cultural do aluno; • formação profissional: capacidades relativas às ocupações correspondentes; • cidadania: atitudes e valores correspondentes à ética profissional e ao compromisso com a sociedade. • aproximar o conhecimento básico da sua utilização clínica; viabilização pela integração curricular; • utilizar metodologias de ensino/aprendizagem, que permitam a participação ativa dos alunos neste processo e a integração dos conhecimentos das ciências básicas com os das ciências clínicas e, instituir programas de iniciação científica como método de aprendizagem. PARECER CNE/CES 1.300/2001 - HOMOLOGADO Despacho do Ministro em 4/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 7/12/2001, Seção 1, p. 25. É importante e conveniente que a estrutura curricular do curso, preservada a sua articulação, contemple mecanismos capazes de lhe conferir um grau de flexibilidade que permita ao estudante desenvolver/trabalhar vocações, interesses e potenciais específicos (individuais). 6. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO A implantação e desenvolvimento das diretrizes curriculares devem orientar e propiciar concepções curriculares ao Curso de Graduação em Odontologia que deverão ser acompanhadas e permanentemente avaliadas, a fim de permitir os ajustes que se fizerem necessários ao seu aperfeiçoamento. As avaliações dos alunos deverão basear-se nas competências, habilidades e conteúdos curriculares desenvolvidos tendo como referência as Diretrizes Curriculares. O Curso de Graduação em Odontologia deverá utilizar metodologias e critérios para acompanhamento e avaliação do processo ensino-aprendizagem e do próprio curso, em consonância com o sistema de avaliação e a dinâmica curricular definidos pela IES à qual pertence. II - VOTO DO (A) RELATOR (A) A Comissão recomenda a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Farmácia e Odontologia na forma ora apresentada. Brasília (DF), 06 de novembro de 2001. Conselheiro Arthur Roquete de Macedo Conselheiro Éfrem de Aguiar Maranhão - Relator Conselheiro Yugo Okida III – DECISÃO DA CÂMARA A Câmara de Educação Superior aprova por unanimidade o voto do Relator. Sala das Sessões, em 06 de novembro de 2001. Conselheiro Arthur Roquete de Macedo – Presidente CONSELHEIRO JOSÉ CARLOS ALMEIDA DA SILVA – VICE-PRESIDENTE Anexo B Roteiro Semi-Estruturado para Entrevista com os Coordenadores de Cursos Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências da Saúde Mestrado em Saúde Coletiva ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO PARA ENTREVISTA TEMAS QUE DEVEM SER ABORDADOS INSTRUMENTO PARA OS COORDENADORES DE CURSOS 1. Conte um pouco como foi construída a proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Odontologia. Fale de sua participação neste processo. 2. Na sua opinião, as diretrizes aprovadas contemplam mudanças necessárias/significativas em relação ao profissional formado atualmente no Brasil? Quais os principais avanços? (considerando a atuação destes profissionais no Sistema Único de Saúde) 3. Como está sendo o processo de reforma curricular na sua instituição para adaptação do currículo pleno às diretrizes curriculares e qual tem sido seu papel? 4. Nas diretrizes aprovadas, existe uma proposta de formação de competências gerais comuns a todos os cursos da área da saúde. De que forma estas competências podem ser ou estão sendo incorporadas à formação do Odontólogo nesta instituição? 5. Na sua opinião qual seria o impacto destas mudanças na atuação dos futuros profissionais a curto, médio e longo prazo (à luz do SUS, estratégia S. Família)? Que outras estratégias que vc sugere para que isso ocorra? 6. Gostaria de falar mais alguma coisa? Anexo C Roteiro Semi-Estruturado Para Entrevista Com as Entidades Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências da Saúde Mestrado em Saúde Coletiva ROTEIRO SEMI-ESTRUTURADO PARA ENTREVISTA TEMAS QUE DEVEM SER ABORDADOS INSTRUMENTO PARA AOS REPRESENTATES DAS ENTIDADES 1. Conte um pouco como foi construída a proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Odontologia. Fale de sua participação neste processo. 2. Na sua opinião, as diretrizes aprovadas contemplam mudanças necessárias/significativas em relação ao profissional formado atualmente no Brasil? Quais os principais avanços? (considerando a atuação destes profissionais no Sistema Único de Saúde) 3. Como está sendo o processo de reforma curricular no país para adaptação do currículo pleno às diretrizes curriculares? 4. Nas diretrizes aprovadas, existe uma proposta de formação de competências gerais comuns a todos os cursos da área da saúde. De que forma estas competências podem ser ou estão sendo incorporadas à formação do Odontólogo? 5. Na sua opinião qual seria o impacto destas mudanças na atuação dos futuros profissionais a curto, médio e longo prazo (à luz do SUS, estratégia S. Família)? Que outras estratégias que vc sugere para que isso ocorra? 6. Gostaria de falar mais alguma coisa? Anexo D Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina Anexo E Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Universidade Estadual de Londrina Centro de Ciências da Saúde Mestrado em Saúde Coletiva TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Eu _____________________________________, concordo em participar da pesquisa “Mudanças nos cursos de odontologia do Paraná: realidade e tendências.” Essa pesquisa tem por objetivo identificar e analisar as iniciativas da comunidade acadêmica das escolas de odontologia paranaenses, ocorridas no processo de elaboração e implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais. Entendo que serão feitas perguntas a respeito do processo de implementação das Diretrizes Curriculares do curso em que atuo e sobre minha participação e impressões a respeito do processo e que a entrevista será gravada e posteriormente transcrita e analisada. Estou ciente de que as informações por mim fornecidas são confidenciais e concordo com a publicação e divulgação dos resultados desta pesquisa, que serão divulgados de forma global e anônima, pois minha identidade será totalmente preservada. Sei também que não precisarei efetuar qualquer pagamento. Em caso de dúvidas posso esclarecer com a pesquisadora e odontóloga Mariângela Monteiro de Melo pelo telefone (045)277-9608, ou com o coordenador da pesquisa Prof. Dr. Marcio José de Almeida pelo telefone (043)33712305. Entendo que tenho a liberdade de aceitar ou não responder às questões da entrevista e de me recusar a participar no momento em que eu quiser, sem qualquer prejuízo para mim ou para o curso. Assinatura: _____________________________________________________