Fundação e Escola de Sociologia e Política de São Paulo Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação Paloma dos Santos ALTRAN Biblioteca de Centro Cultural, qual o seu papel? Um estudo sobre a Biblioteca da Casa das Rosas. SÃO PAULO 2011 Paloma dos Santos ALTRAN Biblioteca de Centro Cultural, qual o seu papel? Um estudo sobre a Biblioteca da Casa das Rosas. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, como requisito para obtenção do título de bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tania Callegaro. Linha de pesquisa: Ação cultural. SÃO PAULO 2011 A469b Altran, Paloma dos Santos Biblioteca de Centro Cultural, qual o seu papel? Um estudo sobre a Biblioteca da Casa das Rosas / Paloma dos Santos Altran – São Paulo: FESPSP, 2011. 81f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) – Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Fundação escola de Sociologia e Política de São Paulo, 2010. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Tania Callegaro Banca: Prof.ª Dr.ª Cibele A. C. Marques dos Santos e Prof. Dr. Ivan Russeff. Inclui Bibliografia 1. Bibliotecas 2. Centro Cultural 3. Ação Cultural. I. Autor. II. Título. III. Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Ficha catalográfica elaborada pela autora FOLHA DE APROVAÇÃO Autor: ALTRAN, Paloma dos Santos. Título: Biblioteca de Centro Cultural, qual o seu papel? Um estudo sobre a Biblioteca da Casa das Rosas. Conceito: _________________________________________________________ Banca Examinadora Prof.ª Orientadora: Dr.ª Tânia Callegaro. Assinatura: ________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Cibele A. C. Marques dos Santos. Assinatura: ________________________________________________________ Prof. Dr. Ivan Russeff Assinatura: ________________________________________________________ Data de aprovação: ______/______/_______ DEDICATÓRIA À minha querida Vó Cecília que, mesmo sem nunca ter frequentado uma escola, sabia que os bens mais preciosos nessa vida são a educação e o conhecimento. AGRADECIMENTOS Aos funcionários da Casa das Rosas: Sr. Donny Correia (gerente geral), Sra. Rahile Escaleira (bibliotecária) e Bruna (estagiária) pela valiosa contribuição, sem a qual esse trabalho não seria possível, simpatia e atenção dispensadas; A todos os professores que cruzaram minha vida, contribuindo para minha formação; Aos funcionários da graduação, Edson e Claudionor, e à Prof.ª Dr. ª Helen de Castro Silva Casarin, todos da UNESP, pela paciência e ajuda nos trâmites burocráticos relativos à minha transferência; Ao Prof. Dr. Luís Milanesi, cujos livros escritos foram a inspiração para a realização desse trabalho; Às Professoras Valéria Martin Valls e Maria Ignês Carlos Magno pela compreensão e apoio; À Prof.ª Dr.ª Tania Callegaro pela orientação, imensa paciência e confiança; Aos amigos que fiz durante a caminhada da graduação na UNESP, USP e FESP; Ao inesquecível Odirlei, pelo exemplo de determinação, por sempre demonstrar interesse e trocar ideias sobre a minha pesquisa, mesmo quando ela era apenas um embrião; À minha amiga Cristiane Luiza, por nossas “conversas filosóficas” e pela ajuda na reta final deste trabalho; Aos amigos uspianos Agamenon, Beatriz Araújo e Patrícia Oliveira pelas valiosas mensagens de apoio e por acreditarem em mim, Amanda, Andrea, Anita, Bia, Carol, Marcela e Verônica pelos momentos de descontração e pela torcida; Às tias Arlinda e Jô por todo o carinho e apoio que sempre me deram; Aos meus padrinhos, tia Luzinete e tio Reinaldo, por todo apoio, cumplicidade e carinho; À minha Vó Cecília, por sempre estar comigo; Ao Gabriel, luz da minha vida; E em especial aos meus pais, pelo amor e todos os esforços para garantir uma boa educação a mim e meus irmãos, por sempre estarem ao meu lado e por acreditarem em mim. EPÍGRAFE "...o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando." (ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas) RESUMO Primeiro espaço público destinado à poesia no país, a Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura funciona como um centro cultural. Este trabalho teve como objetivo verificar qual a atuação da Biblioteca da Casa das Rosas em relação à questão cultural, qual sua relação com os demais setores da instituição e se existe uma ação diferenciada, por parte da Biblioteca, que particularize o fazer deste tipo de instituição com relação às demais que não apresentam a característica de estarem inseridas em um centro cultural. Averiguouse, também, se existe uma preocupação por parte da Biblioteca para que haja uma programação e/ou projeto cultural integrado à programação da Casa que culminem com a efetivação da ação cultural. Para a realização deste trabalho foi adotada a metodologia de estudo de caso, com as etapas de pesquisa bibliográfica, observação assistemática do local (neste caso o Espaço Haroldo de Campos e a Biblioteca Circulante da Casa das Rosas), entrevista semi-estruturada com a utilização de um roteiro com perguntas abertas e fechadas, e a coleta de dados objetivos, através da obtenção de documentação fornecida pela diretoria da Casa: organograma e estatísticas de uso e freqüência. Os resultados obtidos mostraram que o foco da Biblioteca é o processamento técnico dos materiais/acervo, não havendo a participação na criação e na efetivação das atividades culturais oferecidas pela Casa das Rosas através de sua programação. A Biblioteca Circulante não possui um catálogo para consulta ao acervo. Constatou-se que a Biblioteca Circulante não participa de forma efetiva na criação e realização da programação cultural que a Casa proporciona ao público e não há em andamento, por parte da Biblioteca, nenhuma iniciativa que vise a diversificação de seus serviços informacionais e tampouco projetos voltados a atividades culturais que sejam propostos e/ou realizados pela Biblioteca. Portanto, verificou-se não haver nenhuma ação diferenciada que particularize o fazer da Biblioteca da Casa das Rosas de forma a aproveitar a vantagem de estar inserida num Centro Cultural para prestação de serviços e atividades que proporcionem aos usuários um ambiente propício para a realização da ação cultural de forma integrada com os demais setores que compõem a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Palavras-chave: Biblioteca, Ação Cultural, Centro Cultural ABSTRACT First public space destined for poetry in the country, the Casa das Rosas – Haroldo de Campos Poetry and Literature Space works as a cultural center. The present work had as objective to verify what is the Casa das Rosas’ Library actuation in relation of the cultural issue, what is its relation with the others sectors of this institution and if there is a differentiated action made by the Library that can particularizes the work in this kind of institutions in relation of the others that do not presents the characteristic of be insert in a cultural center. It was also verified if there is a concern by the Library about a cultural programming and/or project integrated to the Casa das Rosas programming that made effective the cultural action. The methodology chosen to make this work was the case study with bibliographic research, systematic observation in the place (the Haroldo de Campos Space and the Casa das Rosas’ Circulating Library), semi-structured interview utilizing a screenplay with opened and closed question, and a objective data collection through documents offer by the Casa das Rosas director: organizational structure and usage statistics. The found results show that the Library focus is the collection’s technical processing and there is not the participation to create and to make effective the cultural activities offered by the Casa das Rosas. The Circulating Library doesn’t have catalogue for users to consult the collection. It was evidenced that the Circulating Library do not participate in the creation and achievement of the cultural programming that Casa das Rosas offers to its users and there is not happening any initiative at the Library focus on diversification of its informational services and also any projects focus on cultural activities been proposed and/or made by the Library. Thus, it was verified that do not exist any differentiated action to particularize the activities at Casa das Rosas` Library in a way to use to advantage to be insert in a Cultural Center to offer services and activities proportioning to users a propitious environment to make the cultural action in a integrated way with the others sectors from Casa das Rosas – Haroldo de Campos Poetry and Literature Space. Keywords: Library, Cultural Action, Cultural Center. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Casa das Rosas................................................................................20 Figura 2 – Casa das Rosas, visão da Av. Paulista............................................20 Figura 3 – Casa das Rosas................................................................................21 Figura 4 – Vitral no hall de entrada.....................................................................21 Figura 5 – Casa das Rosas, visão da Av. Paulista............................................22 Figura 6 – Jardim da Casa das Rosas...............................................................23 Figura 7 – Haroldo de Campos...........................................................................23 Figura 8 – Poema “Nascemorre”, 1958. Autor: CAMPOS, Haroldo de..............26 Figura 9 – Poema “Cristal”, 1957-1959. Autor: CAMPOS Haroldo de...............26 Figura 10 – Poema “Pós-tudo”, 1984. Autor: CAMPOS, Augusto de................27 Figura 11 – Hall de entrada da casa das Rosas................................................28 Figura 12 – Sala de exposições.........................................................................29 Figura 13 – Sala de exposições: mesa e objetos de Haroldo............................29 Figura 14 – Organograma Casa das Rosas.......................................................31 Figura 15 – Sala de aula.....................................................................................32 Figura 16 – Escadaria de acesso ao 1º andar...................................................33 Figura 17 – Guarda volumes..............................................................................34 Figura 18 – Setor de atendimento/empréstimo..................................................34 Figura 19 – Acervo e sala de leitura...................................................................35 Figura 20 – Acervo e sala de leitura (visão geral)..............................................35 Figura 21 – Estantes...........................................................................................36 Figura 22 – Totem com a programação cultural.................................................39 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11 2 OBJETIVOS .................................................................................................. 16 3 METODOLOGIA ........................................................................................... 17 4 JUSTIFICATIVA............................................................................................ 19 5 CONSTITUIÇÃO DA CASA DAS ROSAS.................................................... 20 5.1 Haroldo de Campos e a poesia concreta ................................................. 23 5.2 Casa das Rosas: estrutura organizacional e administrativa ..................... 28 6 COORDENAÇÃO DE BIBLIOTECAS .......................................................... 33 6.1 Biblioteca Circulante ................................................................................ 33 6.2 Acervo Haroldo de Campos ..................................................................... 38 7 A AÇÃO CULTURAL DA BIBLIOTECA ....................................................... 39 8 O PAPEL DA BIBLIOTECA DA CASA DAS ROSAS .................................. 42 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 47 Referências ..................................................................................................... 50 APÊNDICE A - Entrevista com a bibliotecária ............................................. 52 APÊNDICE B - Entrevista com o gerente geral ............................................ 62 ANEXO A - Organograma da Casa das Rosas ............................................. 72 ANEXO B- Estatística de frequência da Casa das Rosas ........................... 74 ANEXO C- Estatística de utilização da Biblioteca ....................................... 76 11 1 INTRODUÇÃO A partir do século XIX, com o aumento do contato entre as nações da Europa com o resto do mundo, a palavra “cultura” passa a ser uma preocupação científica que perdura até os nossos dias, caracterizando-se assim como uma preocupação contemporânea. Segundo José Luiz dos Santos, existem duas concepções básicas para a palavra cultura. Pode referir-se à totalidade dos aspectos que formam uma realidade social. Assim, “cultura diz respeito a tudo aquilo que caracteriza a existência social de um povo ou nação, ou então grupos formados no interior de uma sociedade” (SANTOS, 1994, p. 24). Nessa concepção, o significado da palavra cultura abrange as características de origem, organização social e aspectos materiais de uma determinada sociedade, povo ou nação. Uma segunda concepção da palavra refere-se à cultura como “conhecimento, ideias e crenças, e as maneiras como eles existem na vida social” (SANTOS, 1994, p. 24). O autor alerta que esta concepção não deixa de lado a realidade social entendida como a cultura definida pela 1ª concepção. No entanto, seu enfoque está no conhecimento e dimensões associadas. A moderna preocupação com a cultura, ligada à constatação da diversidade existente entre grupos de indivíduos, povos e nações, tende a transformá-la: Numa área de reflexão sobre a realidade onde aquelas duas preocupações básicas se mesclam. Assim, cultura passa a ser entendida como uma dimensão da realidade social, a dimensão nãomaterial, uma dimensão totalizadora, pois entrecorta os vários aspectos dessa realidade. Ou seja, em vez de se falar em cultura como a totalidade de características, fala-se agora em cultura como a totalidade de uma dimensão da sociedade. Essa dimensão é a do conhecimento num sentido ampliado, é todo o conhecimento que uma sociedade tem sobre si mesma, sobre outras sociedades, sobre o meio material em que vive e sobre a própria existência. (SANTOS, 1994, p. 41) Raymond Williams (apud EAGLETON, 2005), através de uma complexa pesquisa histórica da palavra cultura, concluiu haver, de forma resumida, três principais sentidos modernos para a palavra. O primeiro sentido, utilizado até o século XVIII, vem do próprio significado 12 etimológico da palavra: cultivar. Deste modo, seu uso foi se desenvolvendo ao longo dos anos passando a representar a noção de civilidade de um grupo, povo ou nação. A partir do século XVIII, a palavra cultura passa a denotar civilização, tomando o sentido de um processo geral do progresso intelectual, espiritual e material, sendo seu significado equiparado a ideia de costumes e moral, colocando o a palavra cultura como representação no sentido de vida social. O terceiro conceito para a palavra refere-se à ideia de cultura como artes, incluindo a atividade intelectual em geral como Ciência, Filosofia, Erudição, abrangendo também a Música, Literatura e Pintura, por exemplo. Muitos são os estudiosos que buscam a definição da ideia de cultura. Entretanto, como bem observa Eagleton (2005, p. 51) “estamos presos, no momento, entre uma noção de cultura debilitantemente ampla e outra desconfortavelmente rígida, e que nossa necessidade mais urgente nessa área é ir além de ambas.” Aqui, o autor refere-se às duas concepções mais utilizadas, atualmente, para a ideia de cultura: a antropológica e a de sentido estético, consecutivamente. Teixeira Coelho (2001, p. 21) observa que cultura é como algo “que move o indivíduo, o grupo, para longe da indiferença, da indistinção, é uma construção, que só pode proceder pela diferenciação”. A definição que melhor se encaixa ao propósito deste trabalho trata a cultura como conhecimento. O conhecimento “que uma sociedade tem sobre si mesma, sobre outras sociedades, sobre o meio material em que vive e sobre a própria existência.” (SANTOS, 1994, p. 41). A Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura foi inaugurada em 1991. Situada na Avenida Paulista, nº 37, em um dos últimos casarões da década de 20, construído pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, a Casa das Rosas é um referencial cultural da cidade de São Paulo. Primeiro espaço público destinado à poesia, no país, a Casa das Rosas funciona como um centro cultural que, através da temática “arte poética”, realiza diversas atividades, cursos, palestras e recitais. Representa, como seu próprio site informa: Um refúgio onde toda a expressão poética encontra seu espaço. Um 13 território onde a liberdade artística se materializa, por meio de saraus, recitais, lançamentos de livros, peças de teatro, exposições e qualquer outro formato que privilegie a difusão da poesia e da arte em geral. A poesia encontra na Casa das Rosas um espaço completamente democrático, onde se pretende desfazer preconceitos e qualquer paradigma negativo sobre a arte poética (CASA DAS ROSAS, 2010). Como aponta Roberto Cenni (1991, p. 01), por centro cultural entende-se um local que oferece consultas e leituras em uma biblioteca, a apreciação de exposições, de filmes, vídeos, a audição musical por meio de espetáculos, apresentações e/ou registros sonoros e, também, a realização de atividades através do setor de oficinas, definindo assim o Centro Cultural como “um espaço que abrigue e possibilite essa dinâmica da cultura”. O autor comenta sobre as características da biblioteca pública no Brasil, na década de 1990, e a função que a biblioteca de um Centro Cultural deveria adotar para oferecer uma atividade mais completa ao usuário, com o propósito de desenvolver o hábito cultural, a preocupação era a de que a Biblioteca “não fosse apenas usada na leitura funcional dos estudantes, mas motivasse a leitura de lazer, procurando desenvolvê-la enquanto hábito cultural” (CENNI, 1991, p. 01), já que a maior parte dos freqüentadores da biblioteca pública eram aqueles que não possuem dinheiro para a compra de livros. Mesmo passados 20 anos, não é possível afirmar que este quadro apresentado por Roberto Cenni tenha se transformado completamente. Infelizmente, a maior parte das bibliotecas públicas ainda é utilizada de forma funcional pelos seus usuários. No entanto, a biblioteca da Casa das Rosas possui um aspecto diferenciador, pois é especializada em uma temática pouco consultada pela maior parte da população, inclusive entre os jovens, que é a Poesia. Assim, o uso desta biblioteca não deve ser feito de maneira funcional apenas. A partir da afirmação de Milanesi (1995, p. 98) que “a biblioteca é o testemunho radical das oposições do pensamento” e que “o acesso às informações, os conflitos e as sínteses, são passos fundamentais na busca de um novo modo de fazer, de agir, de pensar, de criar, de ser.” O autor afirma que não havendo conflito, é provável que não haja a criação. Desta forma, consideramos que a instituição “biblioteca”, inserida em um centro cultural, deve repensar seu papel de modo a adotar uma postura ativa que efetive a interação com os usuários e entre eles. Desta 14 forma, o bibliotecário deve adotar a função de comunicador e a biblioteca deve ser um local não só de documentação e acesso à informação, papel primordial desse tipo de instituição, mas também de integração entre as demais áreas do Centro Cultural, propiciando um ambiente que beneficie o desenvolvimento de uma política de ação cultural conjunta. Por ação cultural, segundo Coelho (2001, p. 93), entende-se a ativação de 3 esferas: imaginação, ação e reflexão. Explica o autor que a esfera da imaginação é o local onde a consciência deve refletir sobre si mesma, inventar a si mesma, se abrindo para as possibilidades, libertando-se do ser e do dever ser para aceitar o desafio de poder ser, “onde a consciência está à beira de muita coisa, sem saber bem o que, gerando imagens imateriais do mundo tal como este existe em sua aparência precária, fugidia e imediata, isenta de normas e coações”. A esfera da ação é “quando o sujeito, ativamente pronto, sem tensão ou distração, penetra no tempo presente e viabiliza aquilo que sua imaginação pré-sentiu, pré-dispôs, ligando-se assim ao processo cultural concreto”. E, por fim, a reflexão seria o que “lhe permite fazer a si mesmo uma proposta de continuidade de si próprio, de sua consciência e de sua ação, numa integração com o passado capaz de permitir-lhe o exercício teórico, isto é, a previsão do futuro, a predeterminação do possível” para que nesse instante o círculo se feche e a imaginação seja de novo motivada. Por estar inserida num Centro Cultural, a Biblioteca da Casa das Rosas pode e deve apresentar um público frequentador variado. Sabendo exercer a função de integração com as demais divisões culturais da instituição, através de uma programação cultural que dialogue com as atividades dos demais setores, por exemplo, a Biblioteca pode ser capaz de “cativar” novos usuários. Ou seja, através da utilização destes mecanismos, usuários que freqüentam a Casa das Rosas com finalidades outras que não a utilização da Biblioteca, passariam a ser, também, usuários dela. Assim, a biblioteca, a partir da adequada formação e utilização de seu acervo, da postura comunicativa de seus bibliotecários e demais funcionários que atendam os usuários, da criação de uma programação cultural e da interação entre a Biblioteca e as demais divisões da Casa, proporcionaria os meios e condições necessárias para a realização da ação cultural. Ação cultural esta que entraria em consonância com o Princípio de Utilidade, proposto por Mário de Andrade, em 1945, que fala do “desejo de fazer da arte e da cultura, instrumentos deliberados de 15 mudança do homem e do mundo” (TEIXEIRA, 2001, p. 8). Levando-se em conta que o conhecimento é um fator de mudança social, esse projeto apresenta como tema a investigação e análise da relação existente entre a Biblioteca da Casa das Rosas e a Instituição em que se encontra inserida, o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Pretende-se analisar a relação existente e verificar se há, efetivamente, por parte da Biblioteca, ações que objetivam um diálogo de interação entre as áreas, que cumpram as especificações que caracterizam um Centro Cultural. 16 2 OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivos: Gerais: • verificar qual é a atuação da Biblioteca da Casa das Rosas em relação à questão cultural, e; • verificar qual a sua relação com o próprio Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Específicos: • verificar se Biblioteca possui uma “ação diferenciada”, que particularize seu “fazer” com relação as demais instituições que não apresentam a característica de estarem inseridas em um centro cultural; • averiguar se existe uma preocupação por parte da Biblioteca para que exista uma programação ou projeto cultural que se comunique com a programação da Casa, visando a integração entre as divisões da instituição. 17 3 JUSTIFICATIVA Levando-se em conta a posição de Milanesi (1995), de que a biblioteca bem desenvolvida/administrada torna-se um centro de cultura, ou seja, que o centro cultural é a evolução da Biblioteca, este trabalho tem a intenção de verificar como fica o papel da biblioteca inserida em uma instituição cultural. Procuraremos identificar se a biblioteca realiza (e como) ações culturais ao seu público e se essas ações são realizadas isoladamente ou em conjunto com as demais divisões que compõem a instituição da qual faz parte. Para este estudo foi escolhida a biblioteca da Casa das Rosas: Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Os itens que levaram a essa decisão foram a sua localização, a questão de estar instalada numa casa tombada pelo patrimônio histórico e programação cultural oferecida. A biblioteca situada em um centro de cultura precisa possuir características que a façam estabelecer contato com as demais áreas culturais existentes na instituição, efetivando, assim, uma integração entre as elas, com o propósito de auxiliar/facilitar o desenvolvimento cultural do indivíduo de uma maneira mais completa. A falta de participação da biblioteca nos trabalhos desenvolvidos pelo centro cultural diminui o número de oportunidades de contato e desenvolvimento de seus usuários, restringe o tamanho do ambiente que pode proporcionar a concretização de atividades, reduz o contato com ferramentas culturais, a partir das quais é possível o desenvolvimento cultural. A formulação de uma programação cultural que dialogue com os eventos realizados pelos demais setores da Casa das Rosas, por exemplo, pode ser vista como um “serviço” prestado pela biblioteca que caracterize essa ação diferenciada de uma biblioteca “de” centro cultural. Essa investigação faz-se relevante, pois a pesquisa científica apresenta-se, ainda, em um número muito reduzido em estudos sobre bibliotecas localizadas dentro de instituições de cultura, como centros culturais e museus. Por meio desse estudo, pretende-se descobrir quais são as características dessa relação e, a partir dela, verificar se existem preocupações que visam colocar em prática as formas e conteúdos culturais para que os objetivos dessa relação entrem em consonância com o verdadeiro propósito de um centro cultural. 18 Acredito que o resultado desse estudo fornecerá informações de grande relevância para a reflexão e análise de questões culturais e sua atuação na sociedade brasileira, principalmente com relação à biblioteca de centro cultural, sua forma, função e o papel do bibliotecário. 19 4 METODOLOGIA Para a realização deste trabalho foi adotada a metodologia de estudo de caso, com as etapas de: pesquisa bibliográfica, observação assistemática do local (neste caso o Espaço Haroldo de Campos e a Biblioteca da Casa das Rosas), entrevista semi-estruturada com a utilização de um roteiro com perguntas abertas e fechadas (APÊNDICE A), e a coleta de dados objetivos, através da obtenção de documentação fornecida pela diretoria da Casa das Rosas: organograma da instituição (ANEXO A) e estatísticas de uso e freqüência (ANEXO B). As entrevistas foram realizadas com a bibliotecária chefe, Sra. Rahile Escaleira, e com o gerente geral, responsável pela programação cultural, Donny Correia, em datas diferentes, e tiveram como objetivo conseguir informações sobre a Casa das Rosas, suas divisões, os trabalhos desenvolvidos, além de verificar se existe e, em caso positivo, como é a relação da Biblioteca com as demais divisões culturais da instituição. Foram analisados o acervo, forma de constituição e composição; os serviços disponibilizados pela Biblioteca, o corpo profissional que nela atua, perfil dos funcionários, quantidade, formação e atividades exercidas; e o perfil dos usuários da Biblioteca da Casa das Rosas. A literatura selecionada para o desenvolvimento desta pesquisa visou definir os conceitos de biblioteca, cultura, centro de cultura e ação cultural, que foram adotados como diretrizes para o aporte teórico do projeto. A partir destes conceitos e dos resultados obtidos através das análises de dados foi verificado o tipo de diálogo existente entre a Biblioteca e as demais divisões culturais que compõem o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura e como essa relação auxilia na adoção de procedimentos que propiciem, de fato, um ambiente para que se efetive a ação cultural, finalidade esta que deve, ou deveria, ser a função maior de um Centro de Cultura. 20 5 CONSTITUIÇÃO DA CASA DAS ROSAS A Avenida Paulista foi inaugurada em 8 de dezembro de 1891 e projetada pelo engenheiro uruguaio Joaquim Eugenio de Lima, que junto com mais dois sócios adquiriram parte da Chácara do Capão, incluindo a área do morro do Caaguaçú, que foram loteadas dando origem a famosa Avenida. O perfil da Avenida foi estritamente residencial até meados da década de 1950, quando o desenvolvimento econômico da cidade levava os novos empreendimentos comerciais e de serviços para regiões afastadas do seu centro histórico. Em pouco tempo praticamente todos os palacetes da avenida tinham sido vendidos e substituídos por pequenos prédios de escritórios e comércio, mas a Casa das Rosas permanecia como residência. Durante as décadas de 60 e 70, no entanto, com a valorização dos imóveis incentivada pela especulação imobiliária, começaram a surgir na Avenida Paulista os arranha-céus, edifícios de escritórios com uma média de 30 andares. Durante esse período, a Avenida passou por uma profunda reforma paisagística. As ruas foram alargadas e criaram-se os atuais calçadões, caracterizados por um desenho branco e preto formado por mosaico português, “o projeto de redesenho da avenida ficou a cargo do escritório da arquiteta-paisagista Rosa Grena Kliass, enquanto o projeto do novo mobiliário urbano da avenida foi assinado pelo escritório Ludovico & Martino” (WIKIPÉDIA, 2010). A Avenida Paulista possui 2,8 km de extensão, servidos pelo metrô. Diariamente, cerca de 450 mil pessoas circulam na região motivadas pelo trabalho, estudo, negócios, em busca de saúde, lazer, compras, turismo e/ou passeios culturais nas diversas instituições localizadas na Avenida (Itaú Cultural, SESI, Conjunto Nacional, MASP, 21 Teatro Gazeta, Reserva Cultural, etc.) “num ritmo todo peculiar, um pulsar característico da vida paulistana, retratada pelo seu símbolo” (WIKIPÉDIA, 2010). A Casa das Rosas é uma das poucas mansões que restaram na Avenida Paulista. A Casa das Rosas, construída numa área de 5.500 metros quadrados, possui 30 cômodos no estilo arquitetônico francês e um enorme vitral colorido, que decora o hall de entrada. Os pavimentos se dividem em térreo, mansarda, primeiro andar e porão. O jardim foi inspirado no Palácio de Versalhes e abriga o famoso roseiral, que dá origem ao nome da casa. Projetada no final da década de 20, pelo arquiteto Ramos de Azevedo, a Casa das Rosas, foi construída para ser a residência da sua filha Lúcia, recém casada com o engenheiro Ernesto Dias de Castro. Ramos de Azevedo não chegou a ver o projeto concluído, pois a construção ficou pronta apenas em 1935, sete anos após sua morte, ocorrida em junho de 1928. Desta forma, a Casa foi assinada pelo arquiteto Felisberto Ranzini, do escritório de Ramos de Azevedo. Lucia Ramos de Azevedo e seu marido, Ernesto Dias de Castro e, mais tarde, Ernesto Dias de Castro Filho e sua esposa, Anna Rosa, residiram por 51 anos na Casa. O Governo do Estado de São Paulo, através do CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo) tombou o local, pelo seu valor histórico, no dia 22 de outubro de 1985 (SAMPA ART, 2010). A mansão foi habitada até 1986 e depois desapropriada. De 1986 até 1991, a Casa foi restaurada. Em 11 de março de 1991, a Secretaria de Estado da Cultura inaugurou o espaço cultural conhecido por Casa das Rosas – Galeria Estadual de Arte, que exibia mostras temporárias de obras do acervo artístico do Estado, 22 divulgando as iniciativas da rede estadual de Museus e do Departamento de Museus e Arquivos. Em março de 2003 a casa foi fechada para reformas e em 09 de dezembro de 2004 foi reinaugurada, recebendo uma nova função, deixou de ser um local apenas para exposições do acervo artístico do Estado para ser o primeiro espaço público do país destinado à poesia, tornando-se, como define seu próprio site, em “um refúgio onde toda a expressão poética encontra seu espaço” (CASA DAS ROSAS, 2010), sendo um local onde a liberdade artística se materializa na forma de saraus, recitais, lançamentos de livros, encenação de peças teatrais, exposições e todas as formas que privilegiam a difusão da poesia e da arte em geral, sendo um espaço democrático, com o intuito de desfazer preconceitos e paradigmas negativos com relação à arte poética. Desta forma, recebeu o nome de Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em homenagem ao poeta paulistano, tradutor e ensaísta Haroldo de Campos, que faleceu em 2003, e abrigou o acervo de cerca de 30 mil volumes da biblioteca do poeta. Com a nova vocação, a Casa das Rosas tem se revelado um Centro Cultural com uma Biblioteca Circulante especializada em poesia, o Acervo Haroldo de Campos (cujo público-alvo são os pesquisadores especializados), um Centro de Referência sobre Haroldo de Campos (em formação), cursos bimestrais, exposições, peças de teatro, lançamentos de livros, palestras, saraus, eventos musicais e participações na Virada Cultural1, assim como a Pinacoteca do Estado, o Museu da Imagem e do Som (MIS), o Teatro Municipal e outras instituições culturais do Estado 1 Evento anual realizado pela prefeitura de São Paulo com o intuito de promover na cidade 24 horas ininterruptas de eventos culturais dos mais variados tipos, como espetáculos musicais, peças de teatro, exposições de arte e história, entre outros. Inspirado na "Nuit Blanche" de Paris, que agita anualmente a capital francesa, com atrações que seguem madrugada adentro, a primeira edição da Virada Cultural ocorreu no ano de 2005 e possui palcos temáticos como a Avenida São João (Rock Nacional), Praça da República (Samba), Largo do Arouche (estilo popular), a Estação Júlio Prestes (MPB). 23 também participam da Virada Cultural oferecendo atividades ao público durante as 24h de evento. A direção da Casa é realizada pelo professor e poeta Frederico Barbosa, idealizador e autor do projeto de criação do Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura “como um reflexão local sobre divulgação da a democrático de literatura de quase e sempre esquecida arte da poesia” (CASA DAS ROSAS, 2010). A Casa apresenta uma diversificada programação cultural, cuja coordenação é feita pelo poeta e tradutor Donny Correia que é, também, o gerente geral da instituição. 5.1 Haroldo de Campos e a poesia concreta Haroldo Eurico Browne de Campos nasceu em São Paulo, no dia 19 de agosto de 1929. Estudou no Colégio de São Bento, de 1942 a 1947, e formouse em direito pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, da Universidade de São Paulo, em 1952. Junto com seu irmão Augusto de Campos e o amigo Décio Pignatari, idealizou o 24 movimento da poesia concreta, criando um novo conceito de poesia e de tradução no Brasil. Em 1958, publicou o Plano-Piloto Para Poesia Concreta, também em conjunto com seu irmão e Décio Pignatari. Em 1972, realizou seu doutorado em Letras, também pela Universidade de São Paulo e lecionou nela até o ano de 1989 e em 1978 lecionou na Universidade americana de Yale. Em 1999, essa Universidade realizou um ciclo de conferências em comemoração aos 70 anos do poeta. Estabeleceu contato com intelectuais e artistas estrangeiros. Realizou inúmeras viagens e participou de simpósios, conferências, debates e mesas-redondas. Além da carreira acadêmica, trabalhou como tradutor, crítico e teórico literário. Haroldo de Campos deixou uma obra vasta e reconhecida. Em 1992 recebeu o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano e em 1999 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, com o livro "Crisantempo". Entre seus livros mais importantes estão "Servidão de Passagem", "Galáxias", "Xadrez de Estrelas", no campo da poesia, e "Ideograma", "Morfologia de Macunaíma", "A arte no Horizonte do Provável" e "Revisão de Sousândrade", entre livros de ensaio e crítica literária. Obteve o título de professor emérito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1990. Entre outras honrarias, recebeu o título de "doutor honoris causa" pela Universidade de Montreal, no Canadá, e o prêmio Octavio Paz, no México. Em 1992, foi laureado com o Prêmio Jabuti de Personalidade Literária do Ano; em 1999 o Prêmio Jabuti de Poesia foi conferido para seu livro Crisantempo: No Espaço Curvo Nasce Um (1998). Criada por Décio Pignatari (1927), Haroldo de Campos (1929) e Augusto de Campos (1931), a poesia concreta era um ataque à produção poética da época, dominada pela geração de 1945, a quem os jovens paulistas acusavam de verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial. São Paulo vivia, naquela época, o apogeu do desenvolvimentismo do governo de Juscelino Kubitschek, e seus intelectuais buscavam uma poética ideológica/artística cosmopolita, como tinham feito os modernistas de 1922. Por isso, adotaram como um dos modelos Oswald de Andrade cuja lírica sintética (“poemas- 25 pílula”) representava para eles o vanguardismo mais radical (EDUCAÇAO UOL, 2010). Formado por Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, o grupo Noigandres, cuja palavra foi tirada de um poema de Erza Pound e que não significa nada, entra em cena em 1952, com uma publicação de mesmo nome, ainda um pouco antes de lançarem a poesia concreta brasileira. O desenvolvimento do trabalho do grupo é indicado por documentos desde o final dos anos 40, quando começaram a publicar seus poemas e traduções em jornais e revistas especializadas, como a Revista de Novíssimos, e editaram seus primeiros livros, merecendo atenção de críticos como Sergio Buarque de Holanda e Sérgio Milliet (que resenhou o primeiro número da revista Noigandres). Como informa Bandeira (2002, p. 11) a proximidade com os artistas plásticos dos grupos artísticas das décadas de 40 e 50, principalmente aqueles saídos do grupo Ruptura2, “colabora para o lançamento, por assim dizer, oficial da poesia concreta na Exposição Nacional de Arte Concreta, embora Augusto e Haroldo de Campos já viessem empregando a expressão em textos teóricos, como ‘Poesia Concreta’”. As exposições ocorridas no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), em 1956, e no saguão do MEC, no Rio de Janeiro, fazem com que a poesia concreta alcance ampla repercussão nessas cidades. A novidade da proposta e a postura aguerrida de todo o grupo se casam perfeitamente com o apetite da imprensa por temas potencialmente controversos. De modo geral, o trabalho dos concretos é recebido com desconfiança nos círculos literários, quando não francamente atacado, conquistando, por outro lado, a simpatia de poetas como Manuel Bandeira e Mário de Faustino. O grupo propôs a abolição do verso tradicional em favor de novas formas de organizar as palavras, explorando seus aspectos gráfico-visuais, lançando oficialmente o mais controverso movimento de poesia vanguardista brasileira: o concretismo. Os poemas a seguir demonstram as características utilizadas pelos poetas concretos. 2 Grupo de artistas que realizavam experiências com a abstração, abandonando a representação da realidade em suas obras. O grupo se reunia regularmente para discutir os novos caminhos da arte, arquitetura e do design. A ideia era organizar um projeto de reforma para a cultura brasileira. 26 Poema: “Nascemorre” Poema: “Cristal em fome de forma” 27 Poema: “Pós-tudo” A experimentação com a dimensão sonora da palavra na poesia concreta e suas ligações com a música de vanguarda do século XX foram representadas por algumas das partituras de verbalização elaboradas por Willys de Castro para poemas do grupo, que foram apresentadas em outro espetáculo do Ars Nova, outro grupo artístico da época, em 1957 (BANDEIRA, p. 12). Haroldo, “considerado o ‘mais barroco’ dos concretistas” (CASA DAS ROSAS, 2010), tem sua obra poética intimamente ligada ao movimento concretista. A crença em uma “crise no verso” o levou ao experimentalismo, à busca de novas formas de estruturação e sintaxe, em curtos poemas-objeto ou longos poemas em prosa. Entre sua própria produção poética, ensaios e traduções dos mais importantes autores da literatura mundial, Haroldo de Campos publicou mais de 30 volumes. Haroldo dirigiu até o final de sua vida a coleção Signos da Editora Perspectiva. "Transcriou" em português poemas de autores como Homero, Dante, Mallarmé, Goethe, Mayakovski, além de textos bíblicos, como o Gênesis e o Eclesiastes. Publicou, ainda, numerosos ensaios de teoria literária, entre eles A Arte 28 no Horizonte do Provável (1969). A biografia do autor foi incluída na Enciclopédia Britânica em 1997. Pouco antes de falecer, publicou sua transcriação em português da Ilíada, de Homero, deixou de viver em 16 de agosto de 2003, por falência múltipla dos órgãos. Frederico Barbosa foi o idealizador do Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura “como um local democrático de reflexão sobre a literatura e de divulgação da quase sempre esquecida arte da poesia” (CASA DAS ROSAS, 2010). Com a reabertura da Casa, em 2004, após uma longa reforma, foi renomeada passando a chamar-se: Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, em homenagem ao poeta. 5.2 Casa das Rosas: estrutura organizacional e administrativa A Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, mais conhecida como Casa das Rosas, é um Centro Cultural cuja especialidade e temática principal gira em torno da poesia. Esse Centro de Cultura é composto por diferentes setores, cada qual com suas específicas funções para realização pertencentes às das atividades programações culturais oferecidas pela Casa. Instituição pública do Governo do Estado de São Paulo, desde 1995 passou a contar com o auxílio da Sociedade dos Amigos da Casa das Rosas. A Sociedade tinha como objetivo principal dar apoio às atividades desenvolvidas pela Diretoria da Casa e realizava sua atividade fim através da intermediação de parcerias e patrocínios com empresas e instituições privadas e públicas, bem como apoio através de recursos humanos e financeiros. Entre as atividades desenvolvidas 29 estavam: oficinas, simpósios, seminários, workshops, lançamentos de livros, exposições e outras atividades museológicas, apresentações teatrais e musicais, eventos de incentivo à poesia, à literatura e às diversas áreas de produção artística e cultural, com a finalidade de garantir o acesso da população à cultura em geral. Com para os a crescente cursos reconhecimento demanda oferecidos da e qualidade o na execução do programa de atividades da Casa das Rosas nos últimos anos, tornou-se possível com o apoio da Sociedade, que complementava recursos financeiros através de patrocínios e humanos intermediação para equipamentos de e obtinha recursos financeiros necessários para o desenvolvimento das atividades propostas pela Diretoria, além de oferecer colaboração técnica na elaboração da programação das atividades e colaboração nas atividades administrativas e de produção por meio de voluntários. Dessa forma, a Sociedade em muito colaborou no projeto de manter a Casa das Rosas como um espaço cada vez mais atuante no sentido de conservar e valorizar o patrimônio cultural, assim como o de divulgar a arte a poesia, a literatura e a cultura. Durante o ano de 2007, o auxílio da Sociedade dos Amigos da Casa das Rosas, em contato direto com o Conselho da Biblioteca Haroldo de Campos, do qual participam alguns dos seus membros, foi fundamental para a captação de recursos que possibilitaram a catalogação do Acervo Haroldo de Campos e sua disponibilização ao público por meio de catálogo eletrônico que pode ser acessado pelo site da Casa. Em 2008, o estatuto social da Sociedade foi adequando-se às reformulado, leis atuais e possibilitando a transformação da Sociedade em uma instituição que passou a ser denominada Poiesis – 30 Associação dos Amigos da Casa das Rosas, da Língua e da Literatura. Sendo assim, pleiteou a qualificação como uma Organização Social e assim colocou-se à disposição do Governo de São Paulo para administrar unidades museológicas ligadas à língua e à literatura. A Associação tornou-se, então, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), entidade privada que atua em áreas típicas do setor público, e o interesse social que desperta merece ser, eventualmente, financiado, pelo Estado ou pela iniciativa privada, para que suporte iniciativas sem retorno econômico. A Poiesis é responsável pela administração da Casa das Rosas, Casa Guilherme de Almeida, Museu da Língua Portuguesa e Biblioteca São Paulo. Sendo a Casa das Rosas administrada por essa OSCIP, todos os cargos, desde a diretoria, gerência, bibliotecários, agentes culturais, etc., enfim, todos os profissionais necessários para o funcionamento da Casa das Rosas são contratados em regime CLT pela organização. Atualmente o diretor da Casa é o poeta e crítico Frederico Barbosa, que também possui o cargo de diretor técnico da Poiesis. Abaixo dele está o gerente geral, cargo ocupado por Dony Correia, responsável pela administração direta e pela programação cultural da Casa. A Casa das Rosas é composta por diferentes setores, conforme cronograma a seguir, que indica também a estruturação e relações de subordinação entre os setores da instituição. 31 Através das entrevistas realizadas com o gerente geral, Donny Correia, e com a bibliotecária coordenadora, Rahile Escaleira, foi possível constatar que o setor de Bibliotecas da Casa das Rosas é dividido em: Biblioteca Circulante e Acervo Haroldo de Campos. Encontra-se em fase de desenvolvimento um novo setor, o Centro de Referência Haroldo de Campos. O Centro de Referência não faz parte do setor de Coordenação de Bibliotecas, não está subordinado à ele, como a Biblioteca Circulante e o Acervo Haroldo de Campos. A Coordenação de Bibliotecas e o Centro de Referência Haroldo de Campos, na visão dos administradores da Casa, são duas coordenações que funcionam paralelamente, porque lidam com o mesmo trabalho: enquanto a bibliotecária do Setor de Bibliotecas trabalha no sentido de administrar o acervo, a Bibliotecária diretora do Centro de Referência cuida do espólio imaterial, é o recolhimento de todas essas informações sobre Haroldo de Campos. 32 O acervo do Centro será digital e físico. Por exemplo, todo evento que a Casa faz a respeito de poesia concreta, ao Haroldo e tudo o mais que envolva a temática do Centro Cultural gera uma documentação que até o momento vinha sendo guardada na Coordenação Cultural. Essa documentação está em suportes variados, como áudio, vídeo, catálogo, etc.. Com a criação do Centro de Referência toda a documentação arquivada será transferida para ele e toda a documentação que vier a ser criada será diretamente arquivada no Centro de Referência. Há também os setores educativo e cultural, vistos no organograma, submetidos à mesma coordenação. O Setor de Ação Cultural cuida das ações de formação propriamente dita, os cursos, avaliação de projetos, que é responsável pela parte de programação dos shows, saraus, recitais, exposições. Recebem projetos, avaliam, vêem a viabilidade, criam temáticas e desenvolvem cursos e atividades. Existe uma exposição permanente, com objetos que foram do Poeta Haroldo de Campos e há, também, exposições diversas que ocorrem regularmente de acordo com a programação bimestral que a Casa oferece. A maior parte das exposições ocupa os espaços no andar térreo, composto pelo hall de entrada, salas e ante-salas. Os cursos bimestrais e também os de férias são realizados no primeiro andar da Casa, onde 3 quartos foram adaptados para salas de aula, com carteiras, quadro branco e equipamento audiovisual. O Setor Educativo trabalha em conjunto com o Setor de Ação Cultural, trazendo escolas e pessoas interessadas em conhecer a Casa, criando atividades específicas para cada tipo de usuário. No mesmo patamar da Coordenação está o Setor de Produção, equipe que de fato viabiliza os projetos da Coordenação Cultural e Educativa, realiza instalações e fornece todo o suporte necessário para a execução das atividades da programação cultural. Essas são as estruturas organizacional e administrativa da Casa das Rosas. 6 COORDENAÇÃO DE BIBLIOTECAS 33 A Casa das Rosas, como mostrou o organograma (FIGURA 14), possui uma divisão em sua Coordenação de Bibliotecas, sendo composto por dois setores: a Biblioteca Circulante e o Acervo Haroldo de Campos. O acervo de ambas, especializado em poesia e literatura, foi formado por doações. A seguir veremos como funciona cada um desses setores que formam a Coordenação de Bibliotecas da Casa das Rosas. 6.1 Biblioteca Circulante Por ser uma casa tombada pelo patrimônio histórico, o espaço não é adequado para abrigar uma biblioteca e não é possível realizar modificações/adaptações, por conta do tombamento, o que dificulta a disponibilização de um local adequado tanto para a disposição do acervo quanto para os usuários. Para ter acesso à Biblioteca, o usuário precisa subir um lance de escadas com quase 30 degraus, aproximadamente. Não há elevador ou rampa de acesso, o único modo de chegar a ela é passando pelas escadas. Desta forma, idosos enfrentam dificuldades de acesso e pessoas com mobilidade reduzida não conseguem chegar até a Biblioteca. A Biblioteca Circulante ocupa o espaço de uma ante-sala e um dormitório, era característica das mansões os quartos possuírem uma ante-sala. Localizada na primeira porta logo após o lance de escadas, em sua entrada, a ante-sala, fica o guarda-volumes, com 12 armários de madeira, e duas estantes de vidro fechadas à chave, que abrigam os catálogos da Casa e os materiais audiovisuais que podem ser emprestados aos usuários. 34 É também na ante-sala o lugar da mesa de trabalho para os estagiários, que funciona como um “balcão de atendimento/empréstimo”. Em cima dessa mesa fica localizado o fichário com as carteirinhas dos usuários. As carteirinhas são feitas em papelão e o sistema de empréstimo é realizado de forma manual, pois a Biblioteca não é informatizada. Nem mesmo seu acervo está catalogado de forma eletrônica, assim como não há um fichário para consultas. Há um computador nesse “balcão” onde apenas os funcionários podem realizar pesquisas na base de dados monousuária do acervo da Biblioteca Circulante. Ao lado desse “balcão” está disponível um terminal para que os usuários possam fazer pesquisas no catálogo eletrônico do Acervo Haroldo de Campos. A Casa das Rosas não disponibiliza, em nenhum de seus espaços, terminais de pesquisa na internet para seus usuários e também não proporciona acesso à internet via rede sem fio (wireless), como o Centro Cultural São Paulo, por exemplo, que oferece esse serviço a seus usuários de forma gratuita. As doações realizadas por editoras, pessoas físicas, instituições e outras bibliotecas compõem o acervo da Biblioteca Circulante, que é aberto aos usuários e ocupa o espaço do que era o dormitório da casa. Com mais de 3.600 volumes, a Biblioteca Circulante da Casa das Rosas, também inaugurada em 2004, é um local de livre acesso em que os leitores inscritos podem retirar até dois livros por vez, com direito à renovação desde que não haja reserva nem dano ao material emprestado. Entre seus títulos constam volumes de 35 literatura portuguesa, brasileira, espanhola, africana, além de um grande número de livros sobre a poesia concreta brasileira e periódicos literários. Por ser uma construção antiga, as estantes encostadas nas estão paredes, dispostas pois a estrutura da casa não agüenta o peso das estantes se colocadas no meio do espaço, corre-se o risco do piso ceder com o peso. Já existe, até, uma leve inclinação (afundamento) do piso em direção ao centro da sala. Dessa forma, as paredes estão cercadas com as estantes. No centro da sala que abriga o acervo é disponibilizado o espaço para a leitura. Há uma mesa com quatro cadeiras para utilização dos usuários e em um dos cantos fica uma confortável poltrona. Qualquer pessoa pode freqüentar a biblioteca e, para realizar empréstimos, é necessário realizar a inscrição, que é feita através da apresentação do documento de identidade + cópia, comprovante de residência + cópia e uma foto 3 x 4. Todos os alunos que se matriculam nos cursos bimestrais ficam automaticamente inscritos na Biblioteca Circulante. A Biblioteca funciona de terça à sexta-feira, das 10h às 21 horas, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18 horas, e localiza-se no primeiro andar da Casa. Desde sua inauguração, a Biblioteca Circulante nunca realizou um estudo de usuários para ter um perfil exato de seus frequentadores e, assim, poder dirigir o desenvolvimento de seu acervo e serviços de maneira a atender as necessidades de seu público. Mesmo sem esse estudo, por apresentar um fluxo relativamente pequeno de freqüência e empréstimos (ANEXO C) quando comparado aos números de frequentadores da Casa (ANEXO 36 B), é possível notar que a maior parte dos usuários da biblioteca é formada por alunos dos cursos oferecidos pela Casa, moradores e estudantes da região, segundo a Sra. Rahile Escaleira (APÊNCIDE A). Infelizmente, através da pesquisa e entrevistas realizadas, constatou-se que a Biblioteca oferece apenas os serviços mais básicos a seus usuários, o empréstimo e renovação de obras, e mesmo assim de forma muito precária, pois não há acervo nem sistema de empréstimo informatizado. Sem um fichário manual e/ou um catálogo para oferecer a seus usuários, a pesquisa no acervo é feita de forma muito precária. Há apenas uma base de dados, monousuária, que só pode ser acessada pelos funcionários, sendo preciso contar com a simpatia e boa vontade destes para encontrar o que se procura. Segundo informações obtidas em entrevista com a Bibliotecária Coordenadora, Sra. Rahile (APÊNDICE A), existe a “intenção” de aquisição do software PHL para informatização do sistema de empréstimo e renovação, esta que poderá ser feita pela internet. Entretanto, antes mesmo da aquisição desse software, a prioridade é a compra de um equipamento de segurança, pois, segundo levantamento realizado, um total de 75 obras não foi localizado, em comparação ao último inventário realizado (APÊNDICE A). Não há um serviço de intercâmbio entre a Biblioteca Circulante e demais instituições culturais públicas, como a Biblioteca Temática de Poesia Alceu Amoroso Lima e a Biblioteca Sergio Milliet, do Centro Cultural São Paulo, por exemplo, que poderiam realizar intercâmbio de obras já que seus acervos são tematicamente compatíveis. Questionada sobre a participação da Biblioteca quanto à criação e participação na programação cultural oferecida pela Casa Rahile das Rosas, informou participação efetiva a Bibliotecária não da haver Biblioteca nessa questão. Por ser um setor mito pequeno, segundo a Bibliotecária, não existe uma comissão de biblioteca e a dinâmica da Casa, com relação à programação cultural funciona da seguinte forma: 37 mensalmente é realizada uma reunião com todos os setores que compõem a Casa das Rosas onde são apresentadas as atividades que integrarão a programação cultural que será realizada. Essa reunião não chega a ser um “brainstorm”, ela tem como objetivo apenas informar quais são as atividades selecionadas para determinado período. Em entrevista com o gerente geral da Casa das Rosas e responsável pela programação cultural, Sr. Donny Correia (APÊNDICE B), essa informação foi confirmada, sendo tarefa dele em conjunto com o setor de Ação Cultural a definição da programação cultural. A Biblioteca Circulante nunca apresentou um “projeto” de ação cultural à gerência da Casa. Durante a entrevista realizada (APÊNDICE A) a bibliotecário falou sobre algumas ideias. Entretanto, nenhuma delas chegou a tornar-se um projeto escrito e apresentado para análise e viabilização de execução. Esse é um comportamento adotado por muitos profissionais: não colocar seus pensamentos no papel, não transformar ideias em projetos. Uma postura mais organizada e efetiva em relação a essas questões beneficiaria o desenvolvimento dos trabalhos. Toda e qualquer ideia de atividade ou projeto deve ser redigida e apresentada às respectivas chefias para que possam vir a ser realizadas. Não há como concretizar ações sem planejamento, organização e realização dos trâmites burocráticos. A bibliotecária Rahile possui ideias ótimas para a captação de novos usuários, por exemplo. Ela mencionou em entrevista que gostaria de realizar uma parceria com o asilo do Hospital Santa Catarina para que os idosos dessa instituição pudessem freqüentar a Biblioteca e a Casa das Rosas. Mencionou, também, uma tentativa verbal sem êxito de estabelecer um vínculo com os professores de literatura da Escola Estadual Rodrigues Alves, localizada muito próxima à Casa das Rosas, para que os alunos pudessem freqüentar e realizar atividades escolares relacionadas com literatura e poesia na biblioteca. No entanto, essas iniciativas não passaram do plano das ideias, nunca tomaram forma, nunca foram apresentadas como um projeto para que pudessem ser viabilizadas. 38 6.2 Acervo Haroldo de Campos O acervo pessoal do crítico e poeta Haroldo de Campos, após sua morte, foi doado por sua família à Secretaria da Cultura do Estado em 2004. O governo, então, decidiu alocar essa valorosa doação na Casa das Rosas, originando, assim o Centro Cultural Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura. Composto por 20 mil volumes da biblioteca do poeta Haroldo de Campos, entre os livros estão raridades como: O cão sem plumas, com dedicatória de João Cabral de Melo Neto a Haroldo de Campos, a primeira edição de Macunaíma, de Mário de Andrade, datada de 1928, e inúmeras edições da Bíblia em hebraico, grego, latim e outros idiomas (CASA DAS ROSAS, 2010). O acervo é fechado, mas sua base de dados pode ser consultada pelo catálogo eletrônico disponível no site. Também é possível acessá-lo pelo terminal de consulta disponível na Biblioteca Circulante. Para ter acesso a obra desejada é preciso realizar o agendamento para que a bibliotecária responsável pelo Acervo possa atender a solicitação. A obra é localizada no Acervo e enviada à Biblioteca Circulante, onde o usuário poderá consultá-la. O horário de funcionamento para consultas das obras pertencentes ao Acervo Haroldo de Campos é feito de terçafeira à sábado, das 10h às 18 horas, mediante agendamento prévio. O Acervo Haroldo de Campos está localizado no porão da Casa das Rosas. Como a construção da Mansão é da década de 30, o prédio não possui estrutura para agüentar o peso do acervo. Assim, o Acervo Haroldo de Campos foi alocado no porão, organizado em estantes deslizantes, para economia de espaço, e possui ambiente devidamente climatizado. Apenas uma bibliotecária trabalha no Acervo, sendo responsável pela organização das obras e atendimento aos usuários/pesquisadores. Esse acervo é considerado um dos mais importantes do país no campo literário, constituído por obras de literatura, poesia, filosofia, crítica literária, além de catálogos e inúmeros periódicos e teses em diversos idiomas. 39 7 A AÇÃO CULTURAL DA BIBLIOTECA A ação cultural é um processo com início claro, mas sem fim específico. Por ser “um instrumento deliberado de mudança do homem e do mundo” (COELHO, 1989), não possui “etapas” a serem seguidas, nem objetivo específico a que se deva chegar. A ação cultural deve proporcionar ao indivíduo o poder de “diferenciação” das coisas, ou seja, de questionamento, criando, assim, um senso crítico que deve ser utilizado pelo indivíduo para perceber o mundo a sua volta em todos os seus aspectos, sejam eles, políticos, econômicos, sociais ou culturais. Em termos organizacionais, segundo Rubim (2005), o circuito cultural na sociedade contemporânea está estruturado da seguinte forma: é responsabilidade dos intelectuais, artistas e criadores a etapa de criação, aos profissionais de comunicação cabem as tarefas de transmissão, difusão e divulgação da cultura, aos arquitetos e profissionais da informação, como bibliotecários, museólogos e arquivistas, é delegada a parte de preservação cultural, críticos, pesquisadores e estudiosos trabalham na área de reflexão e investigação, administradores, economistas e especialistas em gestão respondem pela gestão cultural e ao produtor cultural cabe a organização cultural. Ocupando a informação um lugar de centralidade nas práticas sociais contemporâneas, ela perpassa todas as atividades realizadas dentro do sistema cultural. Sendo assim, toda biblioteca deveria oferecer aos seus usuários, à comunidade a que serve, um ambiente profícuo para a realização da ação cultural. A Biblioteca da Casa das Rosas deve aproveitar a vantagem de estar inserida em um centro de cultura e realmente tomar o posto a que lhe serve dentro desse processo, fazendo parte da programação cultural, realizando ações conjuntas às atividades desenvolvidas pelos setores de Ação Cultural e Educativa. Efetivamente colocar em prática os 3 verbos: informar, discutir e criar, uma vez que: 40 Em termos práticos, a biblioteca-centro cultural é um centro que, a partir da cultura literária, irradia estímulos em direção de um grupo determinado de pessoas (estímulos esses frutos de um trabalho de interação biblioteca-centro cultural com a população dada), que tem por meta o desenvolvimento cultural integrado da comunidade. Este desenvolvimento tem duas dimensões. Por um lado, o conhecimento da cultura – que concerne a comunidade em questão, e por outro, a criação de uma cultura que está constantemente a se fazer. (FLUSSER, 1983, p. 166) O centro cultural é a evolução da Biblioteca, como declarava Milanesi, desde 1981. E essa afirmação se faz verdadeira por ser a Biblioteca uma instituição que pode oferecer muito mais do que um acervo organizado à espera de seus usuários. Através de atividades simples, os bibliotecários podem transformar a Biblioteca em um local repleto de atividades diversas como recitais, grupos de leitura, palestras, apresentações artísticas e teatrais, exposições, cursos, etc.. Tornando-se, assim, um centro de cultura e propiciando aos seus usuários, à sua comunidade, um local onde se efetiva ação cultural. Contudo, a localização da Biblioteca da Casa das Rosas proporciona ao profissional da informação que ali trabalha uma grande oportunidade de efetivamente exercer o papel de comunicador, de fazer com que o usuário reflita sobre a obra lida de forma a interpretá-la, a comparar discursos, a pesquisar e a pensar por si próprio sobre o assunto, pois a programação cultural da Casa das Rosas oferece ao público em geral cursos bimestrais cujas temáticas são relacionadas à poesia, literatura, crítica, música (na análise das letras) e essas ações facilitam/auxiliam o trabalho do bibliotecário, pois os professores traçam um paralelo entre as obras estudadas e as questões históricas, políticas e sociais da atualidade. Caminhando, assim, para a realização da ação cultural, como afirma Milanesi: Disseminar e discutir o conhecimento em sequência permanente que leva as pessoas a desvelarem as aparências, desmontar os engodos, fazer a sua própria cabeça, para se chegar a outra etapa de um circuito perpétuo (...) é necessário que as pessoas, articulando o seu próprio discurso, possa expressá-los por meio da escrita, da fala, do gesto, das formas, dos sons e, sempre que possível, registrálo. Romper com a rotina, com a reprodução permanente, é essencial para as transformações necessárias ao meio onde se vive. (MILANESI, 2003, p. 180) 41 O ideal seria que todos os bibliotecários que trabalham no setor de referência, ou atendimento ao público, tivessem uma formação também voltada ao desenvolvimento cultural de seus usuários e que possuíssem o perfil adequado às exigências que essa função precisa para ser bem-sucedida, como a pró-atividade, criatividade, boa comunicação, extroversão, capacidade de liderança, por exemplo. É preciso que tenham a consciência da importância de seu trabalho para a formação de uma sociedade mais esclarecida e justa. O bibliotecário deve ter a noção de que: A Biblioteca/centro cultural, voltando-se para a população, falando à cidade e criando condições para que a cidade fale, está desdobrando as suas ações e ampliando o seu papel; enfim, prestando informações a quem dela precisar, seja qual for o seu nível. Ela é uma espécie de ação permanente que propõe a revisão contínua do pensamento. Nesse sentido, não há como separar os conceitos de bibliotecas públicas e de centros culturais; ao contrário, juntam-se. Não existe linha divisória entre a informação e a ação cultural que se estabeleça pela arquitetura do prédio e pelos seus móveis: há uma continuidade entre conhecer/pensar/criar um novo conhecimento. (MILANESI, 2003, p. 213, 214) É preciso ter em mente que “nenhuma forma cognitiva é mais apta em mapear as complexidades do coração do que a cultura artística” (EAGLETON, 2005, p. 76) e o centro cultural, através do trabalho conjunto de todas as divisões que o integram, é o local mais apropriado para o desenvolvimento cultural humano. 42 8 O PAPEL DA BIBLIOTECA DA CASA DAS ROSAS Atualmente a Biblioteca da Casa das Rosas oferece um serviço de informação muito precário e não possui visibilidade (e/ou reconhecimento) por parte dos demais setores que compõem o centro de cultura. Esse cenário deve-se à forma de administração e própria postura adotada pelos profissionais, que trabalham dentro de uma visão de biblioteca pública tradicional, centralizadora, isolados, como se esta fosse uma instituição à parte e não parte da Casa das Rosas. Almeida Júnior (2003) lista alguns pontos que servem de base para caracterizar a biblioteca pública tradicional que apresentam um modo de agir característico e fazem com que não haja êxito nas ações por elas praticadas. Através das entrevistas, observações e análises realizadas na Casa das Rosas, foi possível identificar a prática de muitos desses pontos por parte da Biblioteca. Entre eles: • Diferença entre discurso e prática: no discurso a Biblioteca da Casa das Rosas possui um acervo especializado em poesia e literatura para atender ao público. Na prática existe grande dificuldade em ter acesso às obras que compõem esse acervo, pois não existe um catálogo informatizado ou impresso para que os usuários possam ter acesso a lista de obras. Existe apenas uma base dados monousuária que só pode ser acessada pelos funcionários, o que dificulta extremamente o acesso por parte dos usuários. Assim como não há, também, um estudo de usuários para poder adequar o acervo à demanda; • O usuário, na prática, não é o principal objetivo da biblioteca: as ações da biblioteca mostram que o foco principal é o acervo, o processamento técnico de suas obras e o atendimento aos usuários é feito por estagiários do curso de Letras, mostrando alguma familiaridade com o tema. Entretanto, não possuem formação específica que auxiliem na busca/pesquisa de obras, iniciativa na 43 organização e proposição de atividades para melhoria do acervo e serviços; • Os meios são considerados mais importantes que os fins: a questão do tecnicismo em detrimento dos interesses, necessidades dos usuários e orientação adequada; • Todo o trabalho é voltado aos suportes: já que reina o tecnicismo nas atividades desenvolvidas; • Todo o trabalho é voltado quase que exclusivamente para o livro: a biblioteca possui alguns audiolivros que podem ser emprestados aos usuários e possui uma pequena coleção de catálogos. Porém, também não existem catálogos para que os usuários possam ter acesso e saber quais as obras existentes; • A matéria-prima da biblioteca, a informação, não sofre nenhum tipo de interferência, quer política, social, econômica, cultural, etc.: a informação está “armazenada” na biblioteca, não há nenhuma ação por parte da biblioteca para que seu acervo seja trabalhado de forma mais engajada; • O usuário deve procurar a biblioteca, não o contrário: a biblioteca não tem nenhuma ação para captar usuários. Deu-se a entender, durante as conversas telefônicas e as entrevistas realizadas, que a Biblioteca da Casa das Rosas é uma instituição que, por ter um acervo especializado, não deve ser comparada a uma biblioteca pública, seus usuários devem ser restritos aos alunos e frequentadores da Casa. Os avanços tecnológicos mudaram o perfil dos usuários e o ritmo de vida da sociedade. Assim, é incongruente que um centro cultural ímpar como a Casa das Rosas, primeiro espaço público destinado à poesia, possa oferecer a seus usuários uma biblioteca com serviços de informação tão deficiente. 44 A primeira atitude a ser tomada para que a biblioteca passe a exercer seu papel de forma adequada é a organização e disseminação de seu acervo. É inadmissível que não exista ao menos um catálogo impresso com a relação das obras que compõem o acervo para que os usuários possam consultar. Também é urgente repensar, reavaliar, a maneira de trabalho e redirecionar o foco da biblioteca para o usuário e não para o acervo, mais especificamente, o livro. Certo está que um acervo bem desenvolvido é algo muito importante para uma biblioteca. No entanto, o profissional da informação, principalmente aqueles alocados em bibliotecas de instituições culturais, não devem ter uma postura na qual apenas a formação, manutenção e desenvolvimento da coleção sejam seu fim. Pois, como aponta Eagleton: O que importa não são as obras em si, mas a maneira como são coletivamente interpretadas, maneiras que as próprias obras dificilmente poderiam ter previsto. Tomadas em conjunto, elas são apresentadas como evidência da unidade atemporal do espírito humano, da superioridade do imaginativo sobre o real, da inferioridade das ideias com relação aos sentimentos, da verdade de que o indivíduo está no centro do universo, da relativa desimportância do público com relação à vida interpessoal, ou do prático com relação ao contemplativo e outros preconceitos modernos desse tipo. (EAGLETON, 2005, p. 81) É trabalho do bibliotecário organizar a informação de modo que ela possa ser recuperada e disseminada, auxiliando na formação de novos conhecimentos. Entretanto, além disso, o bibliotecário deve exercer também uma postura comunicativa, adotar e criar meios para o desenvolvimento de seus usuários colaborando de forma efetiva para a formação de cidadãos conscientes. Nesse processo, a obra, independente do suporte em que esteja, deixa de ser o objeto e passa a ser um meio de comunicação, de difusão das ideias do autor e cabe ao bibliotecário proporcionar meios para que o usuário não se aproprie do discurso alheio, mas sim reflita a respeito, tenha a oportunidade de comparar o que foi lido com outros discursos, que proporcionem a ampliação da visão sobre certo ponto de vista abrindo caminho para que o usuário venha a pensar, refletir sobre tudo o que leu e possa chegar, ele mesmo, a uma conclusão própria sobre o assunto estudado. O passo inicial de convite à reflexão é dado pelos professores, palestrantes e artistas que realizam as atividades da programação cultural na Casa. Mas, vale lembrar, são passos iniciais, o bibliotecário pode enveredar os usuários a 45 caminhos mais profundos. Pois, como bem lembra Maria Helena Barros, a ação cultural é: Uma ferramenta de primeira linha na ação dos profissionais da informação (repetimos: arquivistas, bibliotecários, museólogos) que a usam como um processo informacional-pedagógico para fazer avançar pequenos ou grandes grupos sociais, cuja situação cultural tenha sido diagnosticada como frágil e necessitando de interferência por parte de profissionais do meio. (BARROS, M. H.T.C., 2011) Obviamente é sabido que o caminho para que o indivíduo adquira tal habilidade não é fácil, principalmente se ambiente escolar que freqüenta (ou freqüentou) não for capaz de auxiliá-lo no desenvolvimento da interpretação de textos e do ato de refletir. Caminho esse que seria menos problemático se as escolas pudessem contar com o apoio e serviços das bibliotecas escolares para o desenvolvimento da educação. Outro problema enfrentado dá-se pelo fato da comodidade que se tornou receber a informação que, graças aos avanços tecnológicos, passou a ser adquirida com pouco ou nenhum esforço por parte das pessoas. Desse modo, o homem passa a habituar-se em apenas ler, ouvir rádio ou assistir TV, se apropriar do discurso recebido e não em pensar/repensar sobre o que leu. Sem essa reflexão não há como gerar novos conhecimentos, há apenas a mera reprodução mecânica de discursos. Contudo, justamente por estarmos inseridos nesse cenário é que as bibliotecas públicas, escolares, universitárias e de centros culturais devem possuir, também, a missão de orientar o leitor não especializado na avalanche informacional em que vivemos, exercendo a função como um “médico, higienista de leituras”, segundo Ortega y Gasset, que explica: Boa parte dos terríveis problemas públicos hoje existentes procede do fato de a cabeça do homem comum estar abarrotada de ideias recebidas por inércia, compreendidas pela metade, desvirtualizadas – abarrotada, portanto, de pseudo-ideias. Nesta dimensão do seu ofício imagino o futuro bibliotecário como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem. (ORTEGA Y GASSET, J. 2006, p. 46). 46 São muitas as iniciativas que podem ser adotadas para aumentar e melhorar os serviços oferecidos. A Coordenação de Bibliotecas da Casa das Rosas pode criar intercâmbios com instituições que possuam o mesmo perfil que ela. Por exemplo, a Biblioteca poderia criar um serviço de intercâmbio de obras com a Biblioteca temática Alceu Amoroso Lima, que também possui um acervo especializado em poesia. O Acervo Haroldo de Campos, mesmo com as restrições com relação ao uso, que deve ser feito com a supervisão de um funcionário e ter seu acervo fechado, pode estabelecer vínculos com as faculdades públicas e privadas, de forma a divulgar seu acervo aos pesquisadores dessas instituições, tornando o acervo mais conhecido e facilitando o acesso a ele. A partir das temáticas que serão abordadas pelos cursos, por exemplo, a Biblioteca pode selecionar obras que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema tratado, criar uma exposição em seu hall de entrada e fazer com que essa informação seja difundida nas salas de aula, no folder informativo da programação e, também, no site da instituição. Além de exposições, podem-se realizar leituras dramáticas ou saraus, momentos para “a hora do conto” e até mesmo a criação de um clube de leitura próprio da Biblioteca. É preciso deixar de lado a postura de armazenador de informações e assumir uma posição centrada na comunicação, utilizar as tecnologias disponíveis, expandir a cooperação intra e interinstitucional e com isso ampliar e diversificar o acesso à informação de forma mais efetiva. Ainda citando Milanesi, (2003, p. 216) “a eficiência de um serviço público de informação/ação cultural dependerá fundamentalmente da qualidade dos recursos humanos” e a direção da Casa das Rosas, assim como a Coordenação de Bibliotecas, devem levar essa informação em conta no momento de contratação dos seus profissionais. Não deve haver separação entre a biblioteca e os demais setores e suas respectivas atividades no centro cultural, deve existir um trabalho conjunto. A Biblioteca somente conseguirá exercer de forma plena suas atividades informacionais e culturais quando sua equipe e administração tiverem plena consciência da importância de suas funções, formação e perfil profissional adequados para que possam oferecer um serviço de qualidade. 47 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em conta a avalanche informacional em que vivemos, cabe ao bibliotecário adotar uma postura de “comunicador” de “orientador de leitura” para que os usuários não armazenem informações, mas sim repensem sobre aquilo que lêem, confrontem discursos, adotem uma postura crítica para que possam, de fato, tornarem-se cidadãos esclarecidos. Como já informava José Ortega y Gasset, em 1935, o bibliotecário “deve agir como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem” (GASSET y ORTEGA, 2006, p. 46). No século XXI, cuja informação pode ser acessada em diferentes lugares, de diversas formas e é feita com cada vez mais urgência por parte dos usuários, é primordial que o profissional da informação exerça essa postura. Afinal, como observa Barros (2011), os bibliotecários “têm a dupla função de exercerem com competência e presteza tanto a função de técnicos em sua área específica quanto a função de agentes sociais para fazerem a diferença na tensão entre informação e conhecimento”. Partindo dessa premissa, a Biblioteca Circulante da Casa das Rosas deve se desenvolver para deixar de ser uma biblioteca tradicional, no sentido de possuir um acervo não automatizado, não divulgado e, por conseguinte, estático, à espera de eventuais usuários que terão apenas acesso a um serviço precário de empréstimo de obra e não um serviço de referência e informação de qualidade. Refletindo sobre os motivos que levaram os irmãos Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari a criarem a poesia concreta, forma de ataque à produção poética da geração de 1945 cujas características eram o verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial, a não autonomia da Biblioteca faz com que ela deixe de se integrar na estética proposta pelo movimento concreto, e presente nas ações realizadas pela Casa através de sua programação. Essa “separação” da Biblioteca faz com que ela não consiga se desvincular do tradicional e repercute também em seus usuários, que não conseguem se apropriar do espaço. Desde o início desse trabalho, um dos objetivos era a obtenção da documentação relativa à criação da Casa das Rosas, que se concretizou a partir de um projeto criado pelo professor e poeta Frederico Barbosa. A intenção era verificar 48 se já no projeto existia uma preocupação com relação à Biblioteca e suas funções. Ou seja, se na concepção do projeto houve uma preocupação com relação a posição e funções que a Biblioteca adotaria no Centro Cultural. No entanto, mesmo após várias tentativas, não foi possível obter uma cópia do projeto. Nem mesmo a Casa das Rosas possui uma cópia em arquivo. Portanto, infelizmente, não houve como analisar se a Biblioteca fez parte da concepção original do projeto e, em caso positivo, a partir de qual conceituação ela foi criada para termos uma melhor compreensão de sua atuação situação e papel. Muitos são os entraves para que a Biblioteca possa se desenvolver de forma adequada e atingir as expectativas necessárias para que ocorra a efetivação da ação cultural de maneira integrada à coordenação cultural e educativa da Casa. O primeiro deles é o próprio local onde está situada. Sendo o prédio da Casa das Rosas uma edificação do início do século, sua composição não é suficiente para atender às necessidades espaciais e estruturais necessárias para abrigar de modo apropriado as instalações da Biblioteca. Além disso, o prédio foi tombado em 1985, pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, o que impossibilita reformas e readequações em suas estruturas interna e externa. Todavia, é possível transferir a Biblioteca do primeiro andar, onde se encontra atualmente, para o térreo. Essa mudança já elimina o primeiro grande obstáculo entre ela e seu usuário: o lance de escadas. No piso térreo, ao lado esquerdo de quem entra no Centro Cultural, existem duas salas com ante-salas que formam um amplo espaço. No momento, uma das salas é utilizada para abrigar a exposição permanente dos móveis que foram de Haroldo de Campos, e sua ante-sala está vazia, disponibilizando apenas um bebedouro aos usuários. A segunda sala e respectiva ante-sala estão ocupadas por uma loja de livros publicados da Imprensa Oficial, é uma revenda autorizada dessa editora. Pensando em encontrar um ambiente mais favorável para a instalação da Biblioteca Circulante, a sala de exposições poderia ser transferida para o primeiro andar, ocupando o espaço onde atualmente encontra-se o acervo e sala de leitura da biblioteca, e a loja da Imprensa Oficial poderia ocupar o espaço de uma sala localizada ao lado direito de quem entra pela porta principal da Casa, utilizado para eventuais exposições e que pode ser realizadas no espaço da ante-sala que a 49 biblioteca ocupa atualmente. Essa seria uma maneira de amenizar os problemas com relação ao acesso, com a eliminação do lance de escadas, e ao espaço, já que esse ambiente proporcionaria o dobro do tamanho da biblioteca no local atual. Assim, haveria espaço para um relativo crescimento do acervo, instalação de ao menos dois terminais eletrônicos para pesquisa e consulta, além de poder oferecer aos seus usuários um espaço para leitura um pouco maior que o existente hoje em dia. A grande preocupação da administração e gerência da Casa das Rosas está na programação cultural. De fato, é ela quem garante a projeção desse Centro nos cenários literário, artístico e cultural. No entanto, seus dirigentes e seus próprios funcionários se esquecem ou não percebem que o centro cultural deve ser um local onde as ações acontecem de forma integrada. Possuir num mesmo lugar diferentes tipos de serviços culturais como os cursos, as atividades lúdicas, as apresentações, recitais, os serviços de informação (Biblioteca, Acervo e Centro de Referência) é uma vantagem, um privilégio e, portanto, poderia ser utilizado da melhor forma possível. Os setores não podem coabitar um local e agir de forma separada, isolada. A oportunidade que o Centro Cultural oferece em termos de integração precisa ser aproveitada. A Coordenação de Bibliotecas poderia reformular seu modo de agir, ampliando suas atividades, direcionando seu foco (centrado atualmente apenas no serviço de processamento técnico de materiais) para o usuário, modernizando e criando serviços que possam oferecer um atendimento mais completo a seus usuários, e passando a atuar de forma efetiva em atividades que estejam em consonância com as demais ações realizadas pela Coordenação de Ação Cultural e Educativa. Dessa forma, ganham os funcionários, ganha a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura e ganham seus usuários, por poderem usufruir de uma grande diversidade de atividades e serviços que contribuem para o desenvolvimento social e cultural em apenas um local. 50 Referências AGUILAR, Gonzalo. Poesia Concreta Brasileira: as Vanguardas na Encruzilhada Modernista. São Paulo: Edusp, 2005. ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo F. de. Biblioteca pública: avaliação de serviços. Londrina: Eduel, 2003. BANDEIRA, João (org.). Arte concreta paulista: documentos. São Paulo: Cosac & Naify, Centro Universitário Maria Antônia da USP, 2002. p. 11 e 12. BARROS, Maria Helena T. C.. Ação cultural como ação solidária. Infohome, fev, 2011. Disponível em <http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=577>. Acesso em 02 fev. 2011. CASA DAS ROSAS. Institucional. Disponível em <http://www.poiesis.org.br/casadasrosas/institucional.php>. Acesso em 05 ago 2010. CENNI, Roberto. Três centros culturais da cidade de São Paulo. 1991. 334 f. Dissertação (Mestrado em Biblioteconomia) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1991. COELHO, Teixeira. O que é ação cultural. São Paulo: Brasiliense, 2001. (Coleção primeiros passos, 216). EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. São Paulo: Editora Unesp, 2005 EDUCAÇÃO UOL. Haroldo de Campos. Disponível em <http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u225.jhtm>. Acesso em 10 out 2010. FLUSSER, Victor. A biblioteca como instrumento de ação cultural. Revista da Escola de Biblioteconomia UFMG. Belo Horizonte, n. 12(2), p. 145-169, 1983. MILANESI, Luiz. A casa da invenção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. ______. O que é biblioteca. 10 ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. (Coleção primeiros passos) ORTEGA Y GASSET, José. A missão do bibliotecário. Brasília: Briquet de Lemos, 2006 RUBIM, Linda. Produção cultural. In: RUBIM, Linda (org). Organização e produção da cultura. Salvador: EDUFBA, Salvador, 2005. SAMPA ART. Casa das Rosas. Disponível em <http://www.sampa.art.br/historia/casadasrosas/historia/>. Acesso em 05 ago 2010. 51 SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. 16 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. (Coleção primeiros passos) WIKIPÉDIA. Avenida Paulista. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Avenida_Paulista>. Acesso em 05 ago. 2010. 52 APÊNDICE A – Entrevista com a bibliotecária 53 Entrevistada: Sra. Rahile Escaleira (Bibliotecária Coordenadora da Casa das Rosas). Data: 14/09/2010 Horário: 16h. Local: Biblioteca da Casa das Rosas, sala de consulta/leitura. Dados sobre a Bibliotecária - Nome completo: Rahile Escaleira - Cargo/função: Bibliotecária Coordenadora (Bibliotecária Chefe) - Idade: 56 anos - Formação acadêmica/Instituição: Bacharel em Biblioteconomia – FESPSP/FaBCI - Data de início de trabalho na Casa das Rosas: 2005 Dados sobre a Biblioteca Estrutura organizacional Paloma: Qual a data de fundação da Biblioteca? Rahile: O Espaço Haroldo de Campos foi inaugurado em 09 de dezembro de 2004, a Instituição foi inaugurada já com a Biblioteca Circulante e o Acervo Haroldo de Campos aptos a exercer suas funções. O setor de Biblioteca se divide em: Biblioteca Circulante, Acervo Haroldo de Campos e Centro de Referência Haroldo de Campos. O centro de referência, a grosso modo, o objetivo é ter tudo aqui do que foi publicado e está sendo publicado sobre o Haroldo, pós-morte, publicações sobre ele ou publicações póstumas do autor. Então agora a família doou uma série de pastas com recortes de jornal que ele colecionou pela vida toda. Paloma: Qual a origem dos acervos? Rahile: O acervo da Biblioteca Circulante foi montado através de doações de editoras, instituições e da Associação dos Amigos da Casa das Rosas, entre outros. O Acervo Haroldo de Campos era o acervo pessoal do poeta e foi doado por seus herdeiros para o Governo do estado de São Paulo, sendo transferido à Casa das Rosas quando a Instituição foi fundada. Paloma: Seções que a compõem? 54 Rahile: Por ser uma biblioteca “pequena” não temo uma divisão tradicional. A Biblioteca Circulante dividida entre a sala de atendimento, onde está localizada a mesa de empréstimo, e a sala de consulta, onde fica o acervo. Sendo então a Biblioteca Circulante dividida em “Acervo” e “Consulta”. Paloma: nº de funcionários, respectivos cargos que ocupam e formação que possuem? Rahile: A Setor de Bibliotecas da Casa das Rosas é composto por 2 bibliotecárias, 1 auxiliar e 2 estagiárias. A auxiliar possui formação em Letras e possui experiência de mais de 20 anos em arquivo. Ambas estagiárias são do curso de Letras, no momento. Já tive estagiárias de Biblioteconomia, mas quando precisei não tivemos condições de preencher com estagiários desse curso. Paloma: O processamento técnico, como é feito? Rahile: O acervo é pequeno, o movimento é razoável e a entrada de documentos nossa é pequena, ainda não temos obras por aquisição, só por doação ou uma ou outra permuta, a doação é esporádica. Agora a Coordenação da Casas das Rosas estipulou uma exigência, cada lançamento realizado aqui, terá que ser doado um exemplar para a Biblioteca Circulante, mas é conservado no acervo desde que seja do nosso tema principal que é literatura e poesia. Para cada doação é preenchido um termo de doação que deixa bem claro que só farão parte do acervo da Biblioteca Circulante da Casa das rosas as obras que forem de interesse. Os demais nós repassaremos para rede, nós temos um projeto que se chama “São Paulo: um estado de leitor”, dos CEUS, que redistribui todas essas doações para as bibliotecas dos municípios. Paloma: A biblioteca possui um organograma? Rahile: No momento, não. Já fizemos, mas não... é bem simples, eu estou na coordenação e as meninas, 2 estagiárias e uma funcionária na Biblioteca Circulante e uma bibliotecária no acervo do Haroldo de Campos. Paloma: Existe uma comissão de Biblioteca? Por quem é formada? Quais as decisões que competem a ela? 55 Rahile: Não. Aqui da Casa das Rosas? Não porque sou eu e as auxiliares, não tem uma comissão. É discutido em reunião geral da Casa. A reunião congrega a Biblioteca, o pessoal da Programação Cultural e a Diretoria. Essas reuniões são mensais. Paloma: A que setor/divisão a Biblioteca está subordinada? Como é esse relacionamento? Rahile: O setor de Biblioteca está subordinado à gerência, que é representada pelo Donny Correia. Estrutura física Paloma: Como são as instalações da Biblioteca (espaço, equipamentos, ferramentas de trabalho)? Rahile: O espaço aqui não é o ideal, pois nós estamos adaptadas a um cômodo da casa, aqui era um quarto com ante-sala e essa porta ia direto pro banheiro, e nós não temos muito espaço e não temos para onde crescer, inclusive essa mesa, as estantes estão ao redor das paredes porque o peso, a estrutura não foi feita para isso. Se a gente soltar uma bolinha de pingue-pongue ela corre pro centro porque o piso está cedendo. Então, não é o ideal. Inclusive nós, temos um sério problema para crescimento, tem seções (do acervo) que eu não tenho mais para onde crescer. Não tenho como colocar mais estantes aqui, eu já fiz os cálculos de tudo quanto é forma, não podemos mexer naquele aquecer, tem que respeitar. Não é um prédio que foi construído para esse fim, nós adaptamos. Acervo Paloma: Qual a composição do acervo? Rahile: Nosso acervo é composto por livros, livretos, catálogos e periódicos, totalizando 3.600 volumes. Paloma: Qual o sistema de classificação utilizado? Rahile: Os sistemas de classificação utilizados são a CDU e a tabela PHA. O controle de vocabulário eu tiro do SIBI. Em 2005 não tinha controle nenhum, as obras estavam nas estantes, com as etiquetas pela CDU, mas tudo estava na classificação poesia brasileira, pouca coisa na portuguesa e tinha essa seção de 56 poesia africana, foi uma doação, então ficou. Era só poesia, não tinha prosa. Então nós começamos a separar em três grandes subdivisões do acervo. Então nós estamos aos poucos trabalhando, consertando, padronizando tanto o vocabulário como a classificação. Paloma: O empréstimo é automatizado? Rahile: Não, o empréstimo é manual, feito em fichas. Existe a intenção de aquisição do software PHL, assim o acervo ficará disponível na internet e a renovação também poderá ser feita pela internet. Paloma: Existe um banco de dados? Ele está interligado a alguma outra instituição? Rahile: A base de dados atual é monousuário. Serviços Paloma: Quais são os serviços que a biblioteca oferece à comunidade? Rahile: Fazemos o básico: empréstimo, renovação, devolução. Pesquisa Bibliográfica não é um item da prestação de serviços. Paloma: A biblioteca possui intercâmbio (empréstimos de materiais) com outras instituições? Rahile: Não. Paloma: Existem serviços on-line? Rahile: Não. Usuários Paloma: A Biblioteca possui um estudo de usuários? Qual o perfil dos usuários da Biblioteca? Rahile: Nunca fizemos um estudo de usuários. Mas o perfil do nosso usuário em primeiro lugar são os frequentadores dos cursos que a Casa oferece e moradores e estudantes da região. Como nós não temos nenhum vínculo, não é uma instituição que ensina, não é uma instituição de empresa privada, porque você sempre tem um vínculo maior ou com a faculdade ou com uma empresa, aqui a única exigência é que seja morador da Grande São Paulo, para fazer o cadastro. Para ficar mais fácil, 57 porque nós já tivemos casos de pessoas que não devolviam os livros e nós tivemos que providenciar um moto-boy para buscar o livro. Então, nós não temos condições. Além de não ter cobrado nenhuma taxa, porque em alguns lugares cobram uma taxa simbólica, então nesses casos, para não termos um desfalque na coleção tivemos que pagar moto-boy para retirar a obra. Paloma: Existem dados/estatísticas sobre o fluxo de freqüência, atendimento e empréstimos realizados? Rahile: Sim, nós fazemos as estatísticas de consulta local, empréstimo, renovação, devolução e também de doações e higienização mecânica do acervo. Paloma: O nº de inadimplência na devolução dos livros é grande? Rahile: Olha, para o porte da Biblioteca eu acho que é grande, você tem que ficar em cima cobrando. Uma das normas que eu institui foi a cobrança de materiais em atraso, nós ligamos para os usuários para cobrar. Paloma: Existe alguma ação ou projeto por parte da Biblioteca para atrair novos usuários? Existe a intenção d captar novos usuários e de disseminar o acervo? Rahile: Normalmente, não. Nós já pensamos em várias ações, mas no momento não temos nada nesse sentido. Nunca foi colocado em prática, eu falei em reunião, mas nunca foi colocado em prática. Programação Paloma: A biblioteca possui uma programação cultural própria? Rahile: Temos uma programação da biblioteca, mas o espaço está inserido na programação. Tanto é que o espaço (onde está localizado o acervo) aqui vire e mexe é usado para entrevistas, sessão de fotos, então usuários, poetas, frequentadores da Casa, gostam de que seja filmado tendo ao fundo o acervo. Mas uma programação específica para Biblioteca não temos. Ainda não foi possível. Paloma: Participa da escolha e organização da Programação da Casa das Rosas? Rahile: A Biblioteca “participa” das reuniões mensais onde são informadas as atividades da programação cultural, mas não chega a “definir” a programação. 58 Damos sugestões, mas não é um trabalho em conjunto, eles é quem definem a programação. Paloma: Quais são os pontos positivos da Biblioteca em sua opinião? Rahile: A Biblioteca é um marco, porque biblioteca específica de poesia, como o próprio site fala “é o primeiro espaço destinado a poesia no Brasil”, é um acervo rico, está localizado em local privilegiado. Paloma: Existe algum item que precisa ser melhorado em sua opinião? Rahile: Nós estamos montando uma lista de obras que são procuradas e que nós não possuímos no acervo. Então, nós precisamos melhorar ainda o acervo, incrementar mais, substituir alguns volumes que já estão bem detonados e um controle maior, um sistema de segurança. O segunda inventário que eu fiz foi agora entre março e abril, nós chegamos a um total de 75 obras que nós não localizamos. Então, nós precisamos um bom sistema de segurança. Por isso nós providenciamos o guarda-volumes e você vê, ela é pequenininha, mas foram perdidos 75 volumes. O desfalque de dicionários, nós tivemos a perda acho que de 3 ou 4 dicionários que eram em formato pequeno e evaporaram, agora nós começamos a carimbar para chamar a atenção e é constrangedor se a pessoa entra e você do lado olhando, você tem que deixar a pessoa à vontade. Então a questão de segurança é o item mais importante que nós estamos providenciando. Paloma: E com relação ao espaço, o que precisa ser melhorado em sua opinião? Rahile: A casa tem o pé direito alto, quando tem qualquer evento lá no hall, o barulho entra todo aqui e não dá para estudar. Aí, um ou outro usuário reclama, mas não é um espaço adequado. Essa Casa não tem acústica. Então a gente já alerta o usuário, que dependendo da programação da Casa não há como garantir um local silencioso. Paloma: Existem projetos da/para a Biblioteca que ainda não puderam ser colocados em prática? Rahile: O que nós temos em primeiro lugar, projeto de providenciar um sistema de segurança. 59 Paloma: Na área de Ação Cultural, há algum projeto que a Biblioteca gostaria de realizar algum dia? Rahile: Já tentamos alguma coisa, mas não tivemos condições e não tivemos um saldo positivo. Então o pessoal da coordenadoria cultural eles providenciam grupos de visitantes escolares. Fizemos reuniões, foram dadas algumas sugestões, algumas eu vi que já foram aplicadas, mas não tem um projeto específico. Paloma: A coordenação dessas visitas orientadas e das visitas agendadas falam sobre a Biblioteca? Rahile: Falam. Mas nós tivemos um problema que entravam grupos de 20, 30, 40 pessoas, como você tem uma pessoa falando com 40 pessoas aqui, tudo estreitinho e você não tem nem onde guardas todo o material dessas 40 pessoas de uma vez só. Então, nós tivemos reunião e nós informamos todos esses itens, esses problemas. Então de lá para cá mudou um pouquinho de figura, o ideal seria dividir em grupos de 10, fazer com um número razoável, de acordo com a estrutura da Casa. Essa parte é muito complicada. É um apena que o pessoal venho de longe passa pela varanda e saia, ao mesmo tempo é complicado eles dentro da biblioteca quando tem gente estudando, por conta do barulho, eles começam a mexer. Precisa de uma saída que eu não parei para pensar nisso, mas ainda não tive condições de parar para estudar o caso. As meninas que tentaram solucionar, dando as sugestões, como por exemplo, os estudantes não vêem de ônibus? Então, porque eles não deixam os materiais nos ônibus? Ah, não pode, porque o motorista não se responsabiliza. Então fica difícil porque ninguém quer se responsabilizar e aí entra um grupo de 40 de uma vez só, todo mundo com mochila, casaco e etc. fica impossível. Paloma: Existe utilização da biblioteca pelos alunos da Escola Estadual Rodrigues Alves, que fica aqui ao lado, na própria Av. Paulista? Rahile: Tínhamos vários usuários aqui, estudantes. Já telefonei, já conversei com a Bibliotecária de lá para tentar criar uma atividade, mas isso também é complicado porque ninguém quer se responsabilizar, é difícil saí com o aluno fora do recinto e com criança é pior ainda, mas eu tentei, conversei, marquei, depois ela ficou de vir aqui, fui lá duas vezes, mas as vezes que eu passei lá, como eu aproveitei meu horário de almoço, eu não consegui, porque ela não estava lá. 60 Poderíamos conversar, colocar na grade da escola alguma atividade, grupos de 10, ela falou que também iria sugerir aos professores, mas até agora não vingou. Uma outra coisa que eu pensei mas não consegui por em prática ainda, porque a gente está sempre com troca de funcionário, quando você está acabando de treinar, que a pessoa está entendendo, começando a trabalhar sozinha, troca, então você começa do zero de novo, essas trocas são por conta do vencimento do contrato, ou pedem transferência ou pedem para sair. Eu queria entrar em contato com aquele condomínio residencial do Hospital Santa Catarina. Não sei se lá tem biblioteca. Passei lá em frente duas ou três vezes aí comentei com uma funcionária da época, vamos um dia lá levar alguns folhetos, conversar com a pessoa responsável, por que você já pensou? Idosos, crianças, todas as faixas etárias, então teríamos o pessoal mais jovem, da escola, o pessoal da terceira idade e daqui da região. Por que? Porque uma vez eu fui fazer exame de sangue no hospital Santa Catarina e conversando falei que eu trabalho na Casa das Rosas que fica aqui ao lado (perto do hospital), aí a enfermeira perguntou “e o que que tem lá?”, eu falei que tem uma série de atividades e que eu sou bibliotecária de uma biblioteca especializada em literatura e poesia. A enfermeira falou “nossa, nem me fale, que eu adoro e fico parada no ponto de ônibus todo dia esperando condução e eu não sabia que tinha”. Aí eu pensei, tá vendo, e é do outro lado da rua, um quer vender ou quer comprar e um não conhece o outro. Então a gente precisa fazer uma ação, estou tentando por em dia agora, porque eu tinha duas funcionárias, então eu pedi para trocar uma funcionária por duas estagiárias, porque a biblioteca fica aberta das 10h às 21h, eu tinha poucas horas para fazer revezamento, se folga, se fica doente, se falta, pronto, eu fico com o quadro muito apertado. Então eu falei nossa, não estou dando conta nem do dia-a-dia, mas nós temos essas ideias. Paloma: Chegamos ao final da entrevista, a senhora gostaria de acrescentar/falar algo? Rahile: Aqui é muito bom, eu gosto muito de trabalhar aqui, apesar de pegar muito trânsito da minha casa para cá, mas é um lugar muito gostoso para se trabalhar, a gente aprende muito e de um modo geral eu espero que... você já é nossa usuária? 61 Paloma: Já, já fiz uns 5 cursos aqui, há alguns anos, já freqüentei a biblioteca daqui, também. Por isso fiz essa escolha, eu gosto da Casa, gosto da arquitetura, do lugar, da atmosfera. Rahile: Eu espero que agora, até 2011, porque nós já estamos em setembro e acho que para 2010 nós não vamos conseguir mas, para 2011, colocar a base de dados na internet, iniciar o pagamento da assinatura, assim ela vai ter uma visibilidade maior, o sistema de empréstimo automatizado, então eu tenho essas metas. Paloma: Quero agradecer a senhora, pela disponibilidade e entrevista, a senhora foi muito gentil, eu gostei da conversa, muito obrigada. 62 APÊNDICE B – Entrevista com o gerente geral 63 Entrevistado: Sr. Donny Correia (Gerente Geral da Casa das Rosas e responsável pela Programação Cultural). Data: 16/10/2010 Horário: 14h. Local: Biblioteca da Casa das Rosas, sala de consulta/leitura. Dados sobre o Gerente Geral - Nome completo: Donny Correia - Cargo/função: Gerente Geral da Casa das Rosas e responsável pela Programação Cultural - Idade: 30 anos -Formação acadêmica: Licenciatura em Letras, cursando pós-graduação em Cinema. - Data de início de trabalho na Casa das Rosas: 2004 Dados sobre a formação da Casa das Rosas Paloma: Existe alguma documentação sobre o nascimento da Casa das Rosas? Eu sei que foi um projeto do Fred, não é? Dony: Você pergunta a Casa enquanto Centro Cultural? Paloma: Isso. Dony: Tem uma documentação, desde o tombamento da casa, nos anos 80, passando pela reforma, pela recuperação do espaço para se transformar num centro cultural, o que de fato aconteceu em 1991. Então, de 1991 à 2003, era uma galeria de arte contemporânea. Em 2003 a casa fechou para uma nova reforma e em 2004 é que reabriu como Espaço Haroldo de Campos, então tem os dois momentos da casa que está tudo documentado na Secretaria de Cultura. Todos os decretos e tudo o mais. Paloma: O projeto do Fred envolvia a Casa por completo como ela é hoje? Ele já havia pensado em toda a estrutura, o que a Casa ia proporcionar, quais os setores que iriam compor a Casa? Dony: O projeto piloto dele previa que a Casa fosse um espaço para abrigar tanto a Biblioteca do Haroldo, que já estava previsto que viria para cá, quanto as ações de formação cultural, então seria um espaço dedicado ao estudo e a difusão da poesia e literatura, aproveitando o gancho da história toda do Haroldo. Então, o projeto que 64 ele escreveu, sim, já era prevista a ação da biblioteca junto com a atividades que despertassem a curiosidade e a vontade das pessoas aprenderem mais a respeito tanto do Haroldo quanto dos movimentos poéticos e fazerem os cursos aqui e tudo o mais. Então, tinham essas duas frentes já no projeto original. Paloma: Posso ter acesso a esse projeto? Donny: Pode. Não tenho uma cópia do projeto comigo, mas eu te passo o e-mail da secretária do Fred e ela certamente te manda o projetinho por e-mail, não é um projeto muito longo, mas ela pode te mandar por e-mail. Dados sobre a estrutura organizacional da Casa Paloma: Como é a estrutura organizacional da Casa? Donny: A Casa tem a direção do Frederico Barbosa, logo abaixo ela tem a gerência geral, que sou eu, quem faz a ponte entre a direção, porque assim: o Frederico é o diretor da Casa das Rosas e também o diretor-técnico da POIESIS, que é uma organização social que administra a Casa das Rosas para o Estado. Só que não só a Casa das Rosas, outros espaços como a Biblioteca do Carandirú (Biblioteca São Paulo), Museu da Língua Portuguesa, Casa Guilherme de Almeida e outros projetos voltados para a leitura no Estado de São Paulo. Então ele é diretor-técnico dessa organização, responsável por toda a parte técnica cultural desses espaços e diretor da Casa das Rosas e eu como gerente faço a ponte, então, porque nem sempre ele pode estar aqui todo o tempo porque tem os outros espaços e tudo o mais. Depois tem a coordenação cultural e educativa, junto, submetida à mesma coordenação, que cuida das ações de formação propriamente dita, os cursos, avaliação de projetos, que é responsável pela parte de programação dos shows, dos saraus, dos recitais, exposições, então eles recebem projetos, avaliam, vêem a viabilidade, criam temáticas e desenvolvem cursos e tudo o mais e isso também junto com a parte educativa que traz as escolas, traz as pessoas interessadas em conhecer a Casa, aí juntamente, no mesmo patamar da coordenação tem a produção que é a equipe quem de fato viabiliza os projetos da coordenação cultural e educativa, põe a mão na massa para fazer acontecer, para dar esse suporte. A Biblioteca, ela é dividida em biblioteca circulante, que é esta em que a gente está agora, que foi formada por doações de editoras e tudo o mais, e a Biblioteca Haroldo de Campos, que aí é o acervo do Haroldo mesmo, que não é aberto, mas as pessoas podem visitar, podem 65 fazer consulta, mas fica restrita à Casa das Rosas, e juntamente com a biblioteca vem, agora, o centro de referência Haroldo de Campos, é um novo departamento que existe para reunir tudo o que tem no mundo a respeito de Haroldo de Campos, poesia concreta, as vanguardas, os anos 50 e tudo o mais, coma intenção de criar um centro de referência mesmo que sirva para pesquisadores daqui e de qualquer parte do mundo. O Centro de Referência é paralelo ao setor de biblioteca, ele não está subordinado, são duas coordenações que funcionam paralelamente, porque eles lidam com o mesmo trabalho, enquanto a Rahile trabalha no sentido de administrar o acervo mesmo, a Genesi, que é a diretora então desse centro de referência, cuida do espólio imaterial, é o recolhimento de todas essas informações e tudo o mais, é um trabalho paralelo, em conjunto na verdade, porque a Genesi depende do trabalho da Rahile para pesquisar o conteúdo que ela vai formar no banco de dados dela. Esse acervo será digital e físico. Por exemplo, todo evento que a gente faz aqui na Casa que diz respeito a poesia concreta, ao Haroldo e tudo o mais, toda essa documentação que a gente vinha guardando na coordenação cultural, seja áudio, vídeo ou catálogo e tudo o mais, com a criação do centro de referência a gente transfere da coordenação cultural para o centro de referência, porque daí a gente entende que vai ser melhor cuidado, quer dizer, vai ser catalogado de uma maneira mais ágil. De setores, operacional, é isso, são essas frentes. Paloma: O centro de referência vai virar até um centro de memória da própria casa? Donny: Exatamente. Paloma: Vocês têm um organograma? Posso ter acesso? Donny: Temos. Eu passo o e-mail da Márcia (secretária do Frederico Barbosa) e a te fornece todo esse material. O organograma está um pouco em mudança, agora. Porque, com a vinda das oficinas culturais para a POIESES, está havendo uma reestruturação nos organogramas. Paloma: E de onde vinham essas oficinas antes? Donny: Essa oficinas culturais eram de outra organização social, a FAOC, daí a Secretaria de Cultura deu a administração para a POIESIS. 66 Paloma: Os cargos aqui da Casas das Rosas são comissionados ou são por Concurso Público? Donny: Não. Somos contratados por CLT, pela POIESIS. Então a organização social é como se fosse uma OSCIP, que é uma organização social cível sem fins lucrativos, ela é formada a partir de um conselho, e aí é formado o corpo estrutural da organização social, uma vez credenciada na Secretaria de Cultura e aprovada, a Secretaria de Cultura, então vai designar essa O.S., que é como a gente chama, para administrar o espaço público e aí aquela O.S., a partir da verba que o governo repassa, contrata, em regime de CLT, os funcionários que vão trabalhar no espaço. O lado bom disso é que a O.S. pode contar, também, contar com verba de instituições privadas. Então, através de leis de incentivo, se existe um projeto bacana, se o corpo cultural da O.S. desenvolve um projeto interessante, pode tentar as leis de incentivo, lei Rouanet, e a partir disso a verba vem também da iniciaiva privada, não fica restrita só à verba do Estado, que aliás é uma meta que a gente precisa cumprir todos os anos para prestar contas na Secretaria é que uma parte da verba tem de vir de iniciativa privada, que não venha toda do dinheiro público. Dados sobre a programação cultural da Casa Paloma: Quem forma a comissão que cuida da programação do setor cultural e educativo? Donny: Tenho uma coordenadora cultural, que é a Micheline, hoje, correta e já tem uma longa experiência nessa parte de centros culturais e tudo o mais, então ela é a coordenadora cultural e ela recruta as assistentes. Eu tenho hoje duas assistentes com ela na parte cultural e duas na parte educativa. Então, ela coordenada essas duas frentes com duas assistentes. É que agora a gente tem uma estrutura completa, como são pessoas que vêem da área de cultura, acaba ficando um time bacana, você não precisa ficar toda hora trocando, então chamar mais gente para suprir algum excesso de trabalho é um pessoal já meio descolado no meio, então, a gente conseguiu formar um time que é pequeno, porém, dá conta de tudo. E são pessoas envolvidas na área da cultura, então já tem experiência na coordenação cultural, no desenvolvimento de ações culturais educativas. 67 Paloma: Com relação ao público, quais são preocupações que vocês têm com relação ao público da Casa e ao não-público? Existe alguma ação nesse sentido de captar mais público? Donny: Quanto ao público que frenquenta a Casa, acho que nossa maior preocupação é formar, multiplicar, o gosto pela leitura, pela poesia, mostrar que a literatura pode ser uma coisa muita bacana, lúdica, que não precisa ser aquela coisa que a gente aprende na escola forçado goela abaixo, que você não nem quem é Machado de Assis e te obrigam a ler, você pega trauma e nunca mais abre um livro na vida. Então, na verdade, desde que a Casa se tornou o Espaço Haroldo de Campos, em 2004, a preocupação é: 1º mostrar que a literatura pode ser vinculada a uma série de atividades lúdicas, interessantes, como os nossos saraus, recitais, as festas que a gente faz na Virada Cultural e tudo o mais, está permeado de literatura e de poesia e faz com que as pessoas tenham uma aproximação, tomem contato de uma maneira mais gostosa, que vai instigá-las a procurar mais. Essa é a preocupação nº 1. Juntamente à essa coisa da literatura, tem a preservação do patrimônio histórico. A Casa é tombada, é cheia de referências arquitetônicas que remetem à história da Paulista. Então, junto com essa parte da literatura, a gente tem a preocupação de mostrar um pouco, de preservar a memória de São Paulo, na verdade, e mostrar isso através das nossas visitas e dos nossos informativos e tudo o mais para as pessoas. Afinal de contas, acho que na verdade a Casa é meio que um oásis no meio da paulista. Então tem essa parte da história, da memória do patrimônio histórico e também é passado para as pessoas. Aqueles que não freqüentam ainda, ou que frequentam pouco, a gente tenta buscar através dos nossos cursos, das atividades que a gente coloca, da multidisciplinaridade das nossas atividades. Então, as vezes a pessoa, é como eu falei, é um pouco arredia com relação à poesia e literatura, mas aí tem um show bacana de uma banda, de um grupo que trabalha com literatura, que trabalha com poesia, e a pessoa conhece, já ouviu. A gente já trouxe para cá o Cordel do Fogo Encantado, já tivemos o Tom Zé também aqui na Casa das Rosas em 2008, na Virada Cultural. Então é assim, às vezes a pessoa não tem intimidade com a literatura e a poesia, mas o Tom Zé é um monstro da música e trabalha, as letras dele você, ele vem de uma geração de músicos que tinham muito contato com as vanguardas poéticas dos anos 1959, 1960, então as pessoas vêem pelo Tom Zé, pelas músicas do Tom Zé, e acabam conhecendo a Casa e sabendo que existe e aí uma coisa vai multiplicando, vai se 68 somando à outra e a gente vai multiplicando o público. Tem aquelas pessoas que freqüentam o espaço desde que a gente abriu, em 2004, que sabem já de cor e salteado o que a gente faz aqui e acaba trazendo conhecidos e isso acaba também aumentando o nosso público e tem as mídias, que a gente tem uma assessoria de imprensa que se preocupa em colocar sempre na mídia, internet, jornal, TV, as ações que a gente faz. Quando a gente tem algum evento do tipo Virada Cultural, ou a rede cultural Halloween, que vai ser agora no final desse mês, a gente coloca no MetrôNews, coloca naquela TVMinuto (do metrô), mas a gente sabe que o boca-aboca é o que funciona melhor. Paloma: Tem alguma ação especial para escolas? Donny: Sim. Temos aquele programa que a FDE, é como se fosse uma instituição dentro da Secretaria de Educação, que cuida exatamente em incentivar a leituras nas escolas. A FDE fecha alguns grupos de alunos por semestre e aí a gente já recebe a lista com todos os grupos das escolas que nós vamos receber durante o semestre. Paloma: Entra naquele programa “Cultura é currículo”? Donny: Exatamente, é esse o programa. As meninas do educativo já se organizam para fazer as atividades com as crianças, mostrar a Casa, contar um pouco da história da Casa, contar um pouco da poesia concreta, e têm um pouco de cuidado para falar de poesia concreta porque dependendo da idade você não consegue ser tão direto assim. Então, temos algumas coisas lúdicas, alguns jogos com palavras e tudo o mais aí você pega essa palavras, recombina, aí vira uma outra coisa e você insere a criança na questão do concretismo. Tem essas ações, voltadas para a escola pública e alguns grupos de escolas particulares também que nos visitam. Já tivemos grupos da Fundação Casa, aqui com a gente também, visitando porque tem um Projeto na Fundação Casa, teve, acho que no segundo semestre do ano passado, que era uma oficina de criação literária que depois resultou num livro e aí o lançamento foi aqui na Casa das Rosas, o pessoal bem animado, então tem essas atividades de cunho cultural, porém mais para o lado educativo. Paloma: E o papel da Biblioteca no meio disso tudo? Qual é a função que ela tem exercido até o momento? Na questão das ações culturais, qual é o papel dela? Donny: Você diz com relação à Biblioteca Circulante? 69 Paloma: Com relação à todas, como um todo. Donny: Biblioteca Haroldo de Campos ela tem uma função que eu acho que é muito interessante que é servir principalmente aos pesquisadores. Então assim, o acervo da biblioteca do Haroldo fica todo disponível online, a pessoa pode consultar quais são os livros que tem, compõem o acervo, são mais de 20 mil volumes, e já vem para cá com os títulos e tudo o mais, vai ser recebido por uma das bibliotecárias que vai entregar os livros, tem uma sala de consulta onde a pessoa pode usar para pesquisar, mas assim, é um público voltado mais para a pesquisa. A biblioteca circulante é mais democrática, tem de tudo, 90% do acervo é composto por poesia, mas tem prosa, tem estudo literário, enfim, tem os livros infantis e tudo o mais. Essa é mais, digamos assim, é mais plural, então, quando os grupos de escolas vêm, tomam contato com o que é a poesia, o que é a poesia concreta, os movimentos poéticos e tudo o mais, eu acho que o papel principal da Biblioteca é poder viabilizar para o estudante, para que, depois que ele passe a conhecer, ele também possa tomar contato constante. Quer dizer, ele se interessou pelo assunto, então ele vem aqui, ele pode levar os livros, ele pode pesquisar aqui, então quer dizer, ele tem acesso fácil ao que acabou de aprender, não adianta nada você explicar uma coisa, mostrar que ela existe, e a pessoa não vai mais ter contato com isso. Então, acho que o papel principal é poder, a partir do momento que a pessoa tomou contato com determinado assunto, poder ter isso sempre à mão para poder desenvolver, para poder se aprofundar mais. Acho que esse é o principal papel. E, também, quanto mais a gente tenha bibliotecas e acervos para o público, melhor, porque a gente tem a carência da educação, tem a carência da leitura e tudo o mais, mas não adianta ficar só falando “o brasileiro é carente de leitura, o brasileiro não lê” e não disponibilizar, então, uma ferramenta para a pessoa poder se iniciar, quer dizer, se inserir nisso. Paloma: E na programação cultural, a Biblioteca participa sugerindo alguma atividade? Donny: A gente tem tentado aproximar mais os dois setores porque estamos vendo cada vez mais que dá para integrar tanto a biblioteca quanto o acervo e o centro de referência à nossa programação. Então, por exemplo, a gente tem um evento anual chamado “Hora H”, que é o final de semana que a gente presta homenagem ao Haroldo de Campos. Esse evento é feito em conjunto com o acerdo Haroldo e o 70 centro de referência porque daí é um momento propício para a gente juntas as 3 coordenações: a coordenação cultural, o centro de referência e a biblioteca Haroldo de campos para pensar uma programação com base no acervo que a gente tem disponível. Então, em quanto o cultural tem o contato com os artistas que eram ligados ao Haroldo e tudo o mais para montar a programação, palestras e tudo, o centro de referência sugere os temas, sugere as pessoas que estudam o Haroldo para poder chamar e fazer conferência e a acervo do Haroldo de Campos entra também nessa parte de pesquisadores, nas pessoas que vêm eventualmente fazer uma pesquisa e ficam cadastrados e aí é uma oportunidade boa para a gente entrar em contato, para convidar para fazer algum tipo de palestra, alguma atividade e tudo o mais. A gente tem tentado integrar mais, mas eu acho que o educativo, as ações educativas são mais próximas da biblioteca, pelas questões que eu mencionei anteriormente, que é passar o conhecimento e disponibilizar. Paloma: Pergunto isso porque dentro da Biblioteconomia existem pesquisas e estudos que mostram que a biblioteca pode se tornar um centro cultural por si só quando é bem utilizada. E o meu enfoque é totalmente ao contrário, é verificar como é a biblioteca “dentro” de um centro cultural, para ver se ela só disponibiliza o acervo ou se ela fomenta de fato, se consegue ter esse diálogo, aproveitando esse gancho de estar inserida. Donny: Sei, entendi. É muito doida a Casa das Rosas porque a Casa das Rosas está submetida, quer dizer, ela pertence à Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico Museológico da Secretaria de Cultura, logo, seria um museu. Ao mesmo tempo, ela opera uma oficina cultura, como um centro cultural, tem dentro dela uma biblioteca, então tem essa crise de identidade: “o que somos”? (risos). Paloma: Ela acaba ajuntando todas as instituições que cuidam da Cultura. Tem seu lado positivo e também negativo, um dos pontos negativos é a questão do espaço para a própria biblioteca, não é? A bibliotecária falou que as estantes estão dispostas desta forma porque não tem estrutura, suporte para aguentá-las de outra maneira, não pode modificar a sala... Donny: É, não tem um espaço físico adequado, então temos esse problema, não podemos tirar iu colocar um prego na parede sequer. Lá embaixo, onde fica o acervo do Haroldo, a gente conseguiu fazer todo um acondicionamento próprio para isso. 71 Então tudo é climatizado, colocamos aquelas estantes que são deslizantes, porque economiza espaço. Então lá a gente conseguiu fazer isso. Aqui em cima, é mais complicado justamente por essa questão do tombamento e pela estrutura. A Casa é dos anos 20 para os anos 30, então a estrutura é diferente, não dá para você colocar muito peso, lá no sótão então nem pensar (risos). Paloma: Entendi. Chegamos ao final da entrevista, acredito que falamos sobre todos os pontos em que eu tinha interesse. Quero agradecê-lo pela rápida e resposta e pronto atendimento, foi uma conversa muito proveitosa. Para fazer a entrevista com a bibliotecária eu tive uma certa dificuldade, quase dois meses para conseguir falar com ela. Mas depois que a gente conversou eu vi que ela é uma ótima pessoa, foi uma conversa muito agradável. Donny: Na biblioteca nós estávamos com um déficit de funcionários há um tempo e tem as metas que tem que ser batidas, aí nós conseguimos contratar mais gente para ajudar e quando essas pessoas chegaram ela começou a correr para colocar em dia, então às vezes demora um pouco, mas eu já marquei logo porque do jeito que fica na correria do dia-a-dia ou a gente marca e faz logo ou então vou acabar esquecendo (risos), para não prejudicar o trabalho dela, então, vem aí. (risos). E como sábado é mais tranqüilo, dá para conversar melhor. Paloma: Claro, eu entendo. Bom gostaria de agradecer, de coração, muito obrigada. 72 ANEXO A – Organograma da Casa das Rosas 73 ORGANOGRAMA Diretor: Frederico Barbosa – Secretária: Márcia Kina – Assessora: Carmem Beatriz Gerente Geral: Donny Correia Produtora Executiva: Thaís Feitosa – Zelador: Marcelo Macedo – Contínuo: Orlando Stross – Copeira: Neide Silva – Recepção – Telefonia – Limpeza – Portaria - Coordenação Cultural: Michelinu Verunschk – Técnica Cultural: Nicole Cristofalo – Técnica Cultural: Mariana Manfredini - Coordenação Educativa: Micheliny Verunschk – Educadora: Kryslei Cipriano – Educadora: Camila Feltre - Coordenador de Produção: Ilo Codognotto – Assistente de produção: Beto Boing – Assistente de produção:Waltemir Dantas – Estagiário: Jackson Oliveira - Centro de referência Haroldo de Campos: Gênese Andrade - Bibliotecária Chefe: Rahile Escaleira – Assistente de biblioteca: Leonice – Assistente de biblioteca: Maria José – Estagiárias: Cristine e Bruna 74 ANEXO B – Estatística de freqüência da Casa das Rosas 75 CASA DAS ROSAS ESTATÍSTICA DE PÚBLICO 2009 JAN 1409 FEV 1268 MAR 1694 ABR 9776 MAIO 12475 JUN 7092 JUL 8809 AGO 9696 SET 8261 OUT 11035 NOV 8445 DEZ 6487 2010 JAN 7799 FEV 5372 MAR 7577 ABR 7226 MAIO 15352 JUN 7026 JUL 8421 AGO 8154 SET 8890 OUT 9956 NOV DEZ - 76 ANEXO C – Estatística de utilização da Biblioteca 77 Casa das Rosas Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura BIBLIOTECA CIRCULANTE Serviços prestados - 2010 Março Abril Maio Junho Julho Agosto 49 28 55 18 23 64 Empréstimos: 183 72 161 83 71 65 Renovações: 50 33 39 33 22 26 101 137 110 78 70 Cadastro de Usuários Novos Circulação 171 Devoluções: Doações recebidas 40 12 31 33 32 64 Consultas no local 323 222 209 246 293 318 22 106 51 20 25 35 Higienização mecânica - Acervo São Paulo, 15 de Setembro de 2010. Rahile Escaleira Coordenadora Acervo Haroldo de Campos