ACOMPANHAMENTO E VULNERABILIDADE SOCIAL NO MUNICÍPIO DE MUNIZ FREIRE ES: UM ESTUDO DE CASO DE PERSONALIDADE BORDERLINE RODRIGUES, INEZ APARECIDA GONÇALVES1; LUGÃO, MARIA DE LOURDES2. Orientadora: Profª Esp. Rosane Maria Souza dos Santos3 Trabalho apresentado para a conclusão do curso de Pós-Graduação em Atenção Psicossocial na Saúde Mental: ênfase em dependência química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre-ES em abril/2013. RESUMO Este artigo teve origem no estudo de caso de uma adolescente com diagnóstico inicial pela CID-10 de Retardo Mental Moderado (F.71) e Transtorno de Personalidade e de Comportamento (F.06.8). O diagnóstico foi difícil de ser realizado em função das comorbidades que surgiram no decorrer da vida da paciente, podendo divergir e variar de acordo com quem está avaliando e quem está sendo avaliado. Seus sintomas aparecem desde a infância, interferindo no seu desenvolvimento cognitivo, na mudança de humor, que oscila frente às frustrações que a paciente não suporta. Os riscos mais graves são as tendências suicidas e automutilação, devido à baixa autoestima, estes pacientes se mutilam para se sentirem vivos, colocando a família e o portador em uma situação de impotência diante de diversas condutas não compreendidas. O seu diagnóstico e tratamento é 1 email: [email protected] 2 email: lourdeslugã[email protected] 3 e-mail: [email protected] muito difícil, porém quando identificado o Transtorno, facilita a terapêutica, assegurando uma melhor qualidade de vida para a paciente. PALAVRAS CHAVE: Estudo de Caso; Saúde Mental, Transtorno de Personalidade. INTRODUÇÃO Mesmo diante dos diversos avanços e conquistas empreendidos nos últimos anos, segundo AlvergaI e Dimenstein (2006, p. 300 ) “a reforma psiquiátrica brasileira, ainda apresenta muitos desafios e impasses na gestão de uma rede de atenção em saúde mental para o cuidar em liberdade”. Paiva (2003, apud ALVERGAL E DIMENSTEIN, 2006) relata que nos últimos anos, a política nacional de saúde mental tem sido orientada, na seguinte direção: Trabalha-se com a defesa da reforma psiquiátrica, por ela ser imbuída dos ideais de uma sociedade realmente igualitária e humana, primando pela reinserção social dos excluídos, como são os loucos, baseando-se nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Enfim, por uma sociedade livre da opressão, preconceito e ignorância. (PAIVA, 2003, apud ALVERGAL e DIMENSTEIN, 2006, p. 302). O referido trabalho apresenta uma descrição psicanalítica do Transtorno de Personalidade Borderline – TPB; um transtorno não muito conhecido pela sociedade e de difícil diagnóstico, mas cada vez mais presente nos consultórios e clínicas. A necessidade de aprofundamento do tema visa um maior conhecimento das características do Transtorno de Personalidade Borderline ainda na infância, quando possível, tendo em vista as dificuldades do diagnóstico e importância de tratamento precoce, em função das comorbidades que interferem no tratamento e a situação de vulnerabilidade que se encontram pacientes com esse quadro. MÉTODOS Para construção do presente estudo, utilizou-se de revisão bibliográfica e de informações no prontuário da usuária L.H.S, 18 anos, em acompanhamento através do Centro de Referência Especializado de Assistência Social- CREAS, no município de Muniz Freire- ES, desde o ano de 2009 até os dias atuais. No prontuário da usuária pode-se encontrar relatórios que narram a evolução do caso, bem como, os encaminhamentos e laudos descrevendo as conturbadas relações interpessoais da adolescente com a família e a sociedade. APRESENTAÇÃO DO CASO Em 2009, aos 15 anos, L.H.S., diagnosticada por profissional psiquiatra com Retardo Mental Moderado (CID-F71), foi encaminhada ao Serviço de Enfrentamento à Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, hoje CREAS, com indicação de gravidez decorrente de abuso sexual, para receber acompanhamento psicossocial, ocasião que também recebeu atenção dos demais órgãos de proteção social do município. L.H.S. é a penúltima filha numa prole de cinco. Quando chegou ao CREAS a adolescente morava com a mãe e uma irmã em precárias condições socioeconômicas. A renda da família provinha do BPC – Benefício de Prestação Continuada da adolescente e da pensão alimentícia paga por seu pai. Por um período, anterior à gravidez, L.H.S. frequentou a APAE (Associação dos Pais e Amigos do Excepcional), devido atraso no desenvolvimento cognitivo. Nesta ocasião, seu comportamento agressivo dificultava a manutenção de relacionamentos interpessoais, o que impossibilitou sua permanência na instituição. O período de gestação da adolescente foi considerado complicado pelo obstetra que a acompanhava, visto que L.H.S. mantinha comportamento hostil, recusando-se a alimentar-se e realizar os exames necessários. Durante as consultas disparava palavras de baixo calão e cuspia no médico. Durante a gestação L.H.S. apresentou sintomas de sangramento anal, que acarretou em perda significativa de peso. Diante do quadro a usuária foi encaminhada e acompanhada por diversos especialistas, realizou variados exames para investigação de possíveis doenças malignas e/ou virais, não sendo reveladas patologias físicas que justificassem os sintomas. Após intensa investigação, a mãe da adolescente declarou ter flagrado a filha manipulando-se com “pedaço de pau”, justificando a causa do sangramento. Em atendimentos psicossociais, L.H.S. declarou desconhecer a identidade do pai do seu filho, o que culminou em encaminhamento por ordem judicial, de 11 supostos pais para realização de exame de paternidade; contudo, todos os resultados do DNA foram negativos. Após o nascimento do bebê (B.S.), o CREAS, manteve o acompanhamento à família. Devido às circunstâncias de negligência e risco envolvendo a criança, o Conselho Tutelar interviu e o bebê, foi acolhido na Casa de Passagem do município, permanecendo no abrigo por seis meses. Ao sair do abrigo B.S ficou sob a guarda provisória da avó materna, visto que L.H.S. é interditada. Após quadro de agressão física (com objeto perfuro cortante) a sua irmã, L.H.S. foi internada no CAPAAC por determinação judicial, permanecendo na instituição por dois meses e, segundo relato da equipe do hospital psiquiátrico, apresentava comportamento agressivo, agitação psicomotora, não respondia às normas, o que acarretava em ficar sob efeito de calmantes a maior parte do tempo. Após alta hospitalar, L.H.S. retornou ao convívio familiar e social, no entanto, manteve os mesmos quadros comportamentais, vagando pelas ruas, com libido aflorada. Fazia uso de métodos contraceptivos, mas não preventivos de doenças sexualmente transmissíveis- DST, o que a colocava em risco para doenças sexualmente transmissíveis. Em determinada situação L.H.S. agrediu fisicamente (socos e tapas), a diretora da creche que o filho frequentava, pois julgara que a diretora era autora das denúncias de negligência em favor do filho. Diante disto, a usuária tornou-se ainda mais vulnerável às penalizações jurídicas e sociais as quais já estava exposta. Mesmos em acompanhamento pela equipe do CREAS, a jovem não aceitava intervenção dos profissionais. A cada visita psicossocial, a equipe era informada pelos vizinhos que a família havia mudado de endereço, constatando-se que o fato era devido às dificuldades que a adolescente apresentava para relacionar-se com outras pessoas, o que impossibilitava a família de fixar residência. Pós alguns meses L.H.S, continuou perseguindo a diretora da creche e ameaçando de “Matá-la e cortar em pedacinhos(fala de LH.S.). Se sentido ameaçada a profissional registrou boletim de ocorrência e, novamente, por ordem judicial a jovem foi internada, desta vez no Hospital Psiquiátrico Clínica Santa Isabel, pois estava colocando em risco a sua vida e a vida de terceiros, no mesmo período, com o agravamento do caso, seu filho B.S., foi destituído do pátrio poder entrando para a lista nacional de adoção, pondo fim a toda possibilidade de L.H.S e sua família conviverem, mesmo que precariamente ou de forma assistida com a criança. VULNERABILIDADE SOCIAL De acordo com Kern e Bellini (2006, p. 83) o conceito de vulnerabilidade teve origem na área dos direitos humanos, contudo, ainda que muitos sejam os avanços, no Brasil, a desigualdade social continua crescendo, os processos de exclusão estão mais sofisticados e os desníveis cristalizam-se em oposição aos avanços nas diferentes áreas. Assim, a vulnerabilidade pode ser entendida como: A condição desfavorável dada. É a condição objetiva da situação de exclusão e que aumenta a probabilidade de um evento ocorrer. O que identifica são os processos sociais e situações que produzem fragilidade, discriminação, desvantagem e exclusão social, econômica e cultural (BRASIL, 2004, apud KERN e BELLINI, 2006, p. 83- 84). A afirmação de Tavares dos Santos (2002, p. 126) reforça que, [...] estão ocorrendo mudanças em instituições sociais como a família, a escola, processos de socialização, fábricas, religiões e sistemas de justiça criminal (polícia, tribunais, hospitais para doentes mentais, judiciário, prisões) porque estamos passando por um processo de crise e desinstitucionalização (TAVARES DOS SANTOS, 2002, p. 126). É preciso concordar com o princípio de que o humano constitui-se em categoria essencial dos processos sociais, já que a exclusão pode ser subjetiva, assim denominada por se tratar de um processo que é vivenciado no plano individual e, em muitos casos, não chega à dimensão intersubjetiva. Esse processo é vivido na solidão, na fragilidade das relações, na precariedade dos afetos. Tanto na infância como na idade adulta, traumas aparentemente semelhantes podem ter efeitos diferentes, sobre diferentes indivíduos. Visto que, as diferenças no temperamento, personalidade, habilidade em resolver problemas ou herança genética podem ser determinantes em alguns transtornos. Percebe-se que crianças expostas a eventos traumáticos são mais habilidosas ao “Absorver” o estresse se tiverem um bom relacionamento com os pais, uma família harmoniosa e apoio de uma rede social ampla e afetuosa. Por outro lado, a disfunção familiar, os problemas de relação interpessoal e a fragilidade socioeconômica, provavelmente aumentam a vulnerabilidade a eventos traumáticos. Segundo a APA (American Psychiatric Association, 1995), os indivíduos Boderlines apresentam, entre outras características, um padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, dificuldade em aceitar a autoimagem e acentuada impulsividade em uma variedade de contextos. As características mais preocupantes dos pacientes com tais transtornos, de acordo com o APA, são as de automutilação e suicídio, o que gera dados epidemiológicos preocupantes chegando a atingir dez por cento (10%) de todos os pacientes psiquiátricos ambulatoriais e vinte por cento (20%) de todos os pacientes psiquiátricos internados. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE Segundo Polak (2009) o significado de Borderline foi introduzido pela primeira vez na literatura, pelo psicanalista Adolf Stern, no ano de 1938, sendo utilizado para descrever um determinado tipo de personalidade que não se encontrava nas patologias da época. Stern descreveu como uma das principais características dos pacientes com tal transtorno do “sangramento psíquico”, a hipersensibilidade desordenada, o comportamento narcisista, as dificuldades em manter relacionamentos e a realidade. Segundo o Manual de Classificação de Transtornos Mentais e de ComportamentoCID-10 (1993), o “Borderline” é caracterizado por tendência nítida a agir de modo imprevisível sem consideração pelas consequências, humor imprevisível e caprichoso, tendência a acessos de cólera e uma incapacidade de controlar os comportamentos impulsivos, facilidade a adotar comportamento agressivo e a entrar em conflito com os outros, principalmente quando os atos impulsivos são contrariados ou censurados, tendência a adotar comportamento autodestrutivo, compreendendo tentativas de suicídio e gestos suicidas. O indivíduo Boderline tende a apresentar padrão global de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, na autoimagem, nos afetos e acentuada impulsividade, que se manifesta na adolescência ou no inicio da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, indicado por no mínimo cinco critérios de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DSM-IV, para transtorno de personalidade Borderline: (1) Esforço frenético para evitar um abandono real ou imaginário; (2) Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização; (3) Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da autoimagem, ou do sentimento do self; (4) Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (ex-gastos financeiros, sexo, abuso de substancias, direção imprudente, comer compulsivamente); (5) Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante; (6) Instabilidade afetiva devido a acentuada reatividade do humor (ex; episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durante algumas horas e apenas raramente alguns dias); (7) Sentimento crônico de vazio; (8) Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (ex; demonstração frequente de irritação, raiva constante,lutas corporais recorrentes); (9) Ideais paranóides transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos. (DSM-IV-TR, 2003). Segundo Holmes (1997), os pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline apresentam diferentes sintomas, em diferentes estágios do transtorno. Estes podem estar em quatro áreas: - Primeiro apresentam humor instável, mergulham e depressão apenas para sair dela depois de alguns momentos, passam por fases maníacas como transtorno bipolar e por períodos de raiva intensa que podem interferir no funcionamento social. - Segundo, os indivíduos com TPB apresentam períodos intermitente durante os quais experimentam distúrbios de pensamento, mas não são extremos como na esquizofrenia, ou seja, em vez de sofre de alucinações plenamente desabrochadas percepções incomuns que incluem ilusões de despersonalização; - Terceiro sintoma, o mais notável, no borderline é o comportamento automutilador e suicida intermitente; - Quarto sintoma é associado a relacionamentos muito intensos e muito instáveis, então oscilam entre amor e ódio (HOLMES,1997, p...). COMORBIDADE Segundo Martins e Sassi (2004) alguns autores referem à comorbidade a ocorrência conjunta de dois ou mais transtornos num mesmo indivíduo avaliado clinicamente. “Em psiquiatria, as comodidades são comuns, estudos sugerem que quase cinquenta por cento (50%) dos pacientes psiquiátricos recebem mais de um diagnóstico” (ANDRADE, 1988, Apud MARTINS E SASSI, 2004, p. 162). Os autores ainda afirmam que as ocorrências de alguns tipos de comorbidades podem antecipar pelo atendimento médico, em decorrência do grande desconforto que a superposição de sintomas pode causar. Por outro lado, a presença de uma comorbidade pode, de forma direta, interferir no prognóstico da doença e no seu manejo clínico. O Transtorno de Personalidade Borderline- TPB é constituído por dois eixos, o primeiro, evidenciando os transtornos de humor, assim como abusos de substâncias químicas, transtornos alimentares, transtornos de ansiedade, transtornos dissociativos, somatoformes, factícios e de controle de impulsos. Quanto aos transtornos do segundo eixo pode-se associar com transtornos de personalidade antissocial, narcisista, histriônico e dependente. O reconhecimento das comorbidades é apontado como fundamental para o tratamento dos transtornos, como descreve Gomes et al (2003, p.573). ABORDAGENS PSICANALÍTICAS NA COMPREENSÃO DO TRATAMENTO DO TRANSTORNO BORDERLINE. Abraham (1924) explana que em, 1984, Malanie Klein esclarece que Freud (1908) aceitou que certas variações individuais do desenvolvimento eram devidas a fatores constitucionais em “caráter e erotismo anal”; por exemplo, expressou o ponto de vista de que o erotismo anal intenso é constitucional em muitas pessoas. Abraham (1924) descobriu um elemento inato na imensidade dos impulsos orais, o qual vinculou à etiologia da doença maníaco-depressiva. Disse ele que: [...] o que realmente é inconstitucional e herdado é uma super acentuação do erotismo oral, da mesma maneira que, em certas famílias, o erotismo anal parece ser fator preponderante desde o próprio início. Destas indicações inferimos que a significação erógena da zona anal é intensificada na constituição sexual dessas pessoas (ABRAHAM, 1924, p....). As dificuldades em suportar a ansiedade, tensão e a frustração constituem expressão de um ego que, desde o início da vida pós-natal, é proporcionalmente fraco em relação aos impulsos destrutivos e sentimentos persecutórios que experimenta. Estas intensas ansiedades impostas a um ego fraco conduzem a um emprego excessivo de defesas de negação, a divisão e a onipotência, que até certo ponto, são sempre características do desenvolvimento mais primitivo (KLEIN, 1884, p.114 -115). Observando pelo ângulo da vulnerabilidade do trauma causado pelas relações familiares, temos vasto conteúdo teórico em Winnicott, para melhor compreensão. A começar pela amamentação do bebê, do ponto de vista psicológico, ele deixa claro que o bebê humano, no início o que mais necessita é ser visto e ouvido. Winnicott, em seu artigo “A amamentação como forma de comunicação” (1988), diz ter se dado conta que: Existe agressividade no bebê vivo, no decorrer do tempo o bebê começa a chutar, berrar e arranhar. Há situações da amamentação ao seio havia inicialmente uma poderosa atividade das gengivas, atividade que pode facilmente provocar rachaduras no bico do seio, certos bebês penduram-se com as gengivas, machucando um bocado; vê se a reação com a agressividade. Para Freud, a amamentação, é quando o bebê vivencia a fase oral, uma das fases da libido em contraste no texto sobre os três ensaios, a teoria da sexualidade, onde se apoia a teoria psicanalítica (WINNICOTT, 1988, p....). No presente caso vemos a relação agressiva com sigo mesma, familiares e o social, a sexualidade desmedida, o viver nas ruas, comportamento explicado pelos psicanalistas através dos diversos teóricos. Freud explicaria pelas fases da libido, além do princípio do prazer, Winnicott pela relação bebê e mãe, quando fala da mãe boa da mãe má. Winnicott: certa vez eu disse Não existe isso que chamam de bebê, significando, obviamente que onde quer que encontremos um lactente, encontraremos os cuidados maternos, e sem os cuidados maternos não haveria bebê (NEWMAN, 2003, p.63). Quando a análise dos casos de Borderline, Winnicott diz que aí se tem as melhores chances de observar os fenômenos sutis de favorecer indicadores que permitem compreender algo a respeito dos estados esquizofrênicos. Segundo Freud: ...sugando o seio da mãe ou substituto dele que deve tê-la familiarizado com o prazer. Quando a mãe do caso apresenta-nos a vivencia sexual da filha, lembra a fase anal sádica. Aqui, a oposição entre duas correntes que persiste por toda vida sexual já está desenvolvida, elas não podem, contudo, ser descritas como “masculina” ou “feminina”, mas como “ativa e passiva”. A atividade é oposta com operação pelo instinto do domínio, por intermédio da musculatura somática, o órgão que mais do que qualquer outro, representa o objeto sexual passivo é a membrana mucosa erógena do ânus (FREUD, VII ano, p. 204). Freud salientou a ambivalência simbólica entre as fezes e o dinheiro e é na fase anal que se faz corresponder à polaridade sadismo- masoquismo. (ROZA, 1983). Em Melanie Klein, temos como contribuição a teoria dos instintos. No texto sobre rejeição temos que o crescimento mental estaria num certo grau de insatisfação com o leite da mãe e ao bico do seu seio ou a mamadeira. (KLEIN e RIVIERE, ano p. 36). Para fecharmos, vemos que pelos entendimentos teóricos psicanalíticos, o que é comum a todos é a relação mãe-bebê. A relação que iria encaminhar definir, decidir a vida do ser humano, nele, a família e no social. Como solução, seria o atendimento psicológico de reaproximação, mãe e filha para uma possível mudança na história dessas vidas. ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CASO Ainda que o foco das intervenções do CREAS seja de indivíduos e famílias em situação de violência, faz- se necessário destacar que o Centro de Referência assumiu a responsabilidade pelo acompanhamento ambulatorial de L.H.S, por conta do município em questão não contar com serviço especifico de Saúde Mental. Ressaltamos ainda que L.H.S, tem dificuldades em manter amizades, pois quer atenção exclusiva, é desconfiada, não sabe lidar com as críticas e tem ataques de fúria quando contrariada (mecanismo de idealização), fazendo com que as pessoas se afastem com medo de sofrerem agressões. Seu maior alvo é a mãe em quem bate e xinga em qualquer situação, principalmente no dia que sabe que a mãe receberá a pensão alimentícia do pai e o BPC, pois quer dispor do dinheiro que a mãe usa para o sustento da família (mecanismo de atuação), de acordo com Toy e Klamen (2005, p.452). Segundo Melman (2006) nossa sociedade não está preparada para o desafio de acolher e cuidar de indivíduos como L.H.S, apresentando visão preconceituosa em relação ao paciente com transtorno mental, o que acaba marginalizando afetiva e socialmente um grande número de pacientes psiquiátricos. O universo das famílias que têm um membro com transtorno mental reflete diretamente a uma dura realidade de preconceito e exclusão, conviver com essas famílias é estar em contato com suas dores e sofrimentos; percebe-se que diante do quadro as famílias ficam paralisadas e fechadas em um universo pesado, reduzido e escasso de informações sobre como agir e se portar, em decorrência isolam-se e perdem-se em suas carências; muitos pais se veem obrigados a “abandonar” suas vidas em função do cuidado e se dedicação aos filhos “que precisam de ajuda, pois sozinhos sucumbiriam”; neste ínterim, este familiares ainda são desrespeitados e vítimas de preconceitos sociais, visto que são responsabilizados e julgados por eventuais danos que os filhos venham a causar, de acordo com Jonas-retirar Melman (2006). A culpa se revela em uma das marcas mais visíveis na vida dessas pessoas, que passam a buscar explicações e sentidos que amenizam seu sofrimento. Conforme avalia Jonas Melman (2006), torna-se difícil escapar dos efeitos arrasadores dessa percepção negativa e estigmatizada, pois este quadro desgasta a autoestima e confiança dos envolvidos, roubando-lhes suas oportunidades e potencialidades de suas vidas. Menezes e Aguilar (2011) citam que para pessoa com TPB não há limites que poderiam detê-la, sendo o desafio à norma e as regras sua marca registrada, o que a levaria a uma busca constante por situações perigosas, talvez na procura de algo que pudesse aliviar o sofrimento que ela não consegue entender a origem, nem administrar os sintomas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo em questão permitiu melhor compreensão da problemática dos pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline, o seu sofrimento e de seus familiares, evidenciando que somente com acompanhamento multidisciplinar poderia melhor seu quadro clínico, garantiriam a todos os envolvidos, o fortalecimento dos vínculos afetivos e a redução da vulnerabilidade social a qual são expostos. O estudo mostra que é de vital importância a efetivação de um trabalho de atenção psicossocial, com intuito de ampliar a capacidade de conhecer, resistir e crescer do usuário numa situação tão adversa, transformando a dor em matéria prima para um aprendizado resili ente do processo de desenvolvimento emocional. Trabalhar e estudar visando a compreensão das minúcias do paciente com Transtorno de Personalidade Borderline e de sua família, requer que se repense o modelo tradicional de saúde mental, buscando novas estratégias de desenvolvimento que não podem ser definidas em si mesmo, certamente existem outras saberes, outros territórios a serem explorados pelo conhecimento humano, que ainda não foram vistos, tornando nosso olhar e práxis mais humanizado e desprovidos de qualquer tentativa de exclusão social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAHAM, K. (1924) Breve história do desenvolvimento da Libido, Teoria Psicanalítica da Libido. Ed. Imago-1970. ALVERGA, A. R.; DIMENSTEIN, M. A reforma psiquiátrica e os desafios na desinstitucionalização da loucura. Interface, Comunic, Saúde, Educ. v.10. disponível em: http://www.scielo.br/pdf/icse/v10n20/03.pdf . American Psychiatric Association (APA). Psychiatric Diagnosis and the Diagnostic Statistical Manual of Mental Disorders (Fourth Edition – DSM-IV). 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