ACOMPANHAMENTO E VULNERABILIDADE SOCIAL NO
MUNICÍPIO DE MUNIZ FREIRE ES: UM ESTUDO DE CASO
DE PERSONALIDADE BORDERLINE
RODRIGUES, INEZ APARECIDA GONÇALVES1;
LUGÃO, MARIA DE LOURDES2.
Orientadora: Profª Esp. Rosane Maria Souza dos Santos3
Trabalho apresentado para a conclusão do curso de Pós-Graduação em
Atenção Psicossocial na Saúde Mental:
ênfase em dependência química
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre-ES em abril/2013.
RESUMO
Este artigo teve origem no estudo de caso de uma adolescente com diagnóstico
inicial pela CID-10 de Retardo Mental Moderado (F.71) e Transtorno de
Personalidade e de Comportamento (F.06.8). O diagnóstico foi difícil de ser
realizado em função das comorbidades que surgiram no decorrer da vida da
paciente, podendo divergir e variar de acordo com quem está avaliando e quem está
sendo avaliado. Seus sintomas aparecem desde a infância, interferindo no seu
desenvolvimento cognitivo, na mudança de humor, que oscila frente às frustrações
que a paciente não suporta. Os riscos mais graves são as tendências suicidas e
automutilação, devido à baixa autoestima, estes pacientes se mutilam para se
sentirem vivos, colocando a família e o portador em uma situação de impotência
diante de diversas condutas não compreendidas. O seu diagnóstico e tratamento é
1
email: [email protected]
2
email: lourdeslugã[email protected]
3
e-mail: [email protected]
muito difícil, porém quando identificado o Transtorno, facilita a terapêutica,
assegurando uma melhor qualidade de vida para a paciente.
PALAVRAS CHAVE: Estudo de Caso; Saúde Mental, Transtorno de Personalidade.
INTRODUÇÃO
Mesmo diante dos diversos avanços e conquistas empreendidos nos últimos anos,
segundo AlvergaI e Dimenstein (2006, p. 300 ) “a reforma psiquiátrica brasileira,
ainda apresenta muitos desafios e impasses na gestão de uma rede de atenção em
saúde mental para o cuidar em liberdade”. Paiva (2003, apud ALVERGAL E
DIMENSTEIN, 2006) relata que nos últimos anos, a política nacional de saúde
mental tem sido orientada, na seguinte direção:
Trabalha-se com a defesa da reforma psiquiátrica, por ela ser imbuída dos
ideais de uma sociedade realmente igualitária e humana, primando pela
reinserção social dos excluídos, como são os loucos, baseando-se nos
princípios de liberdade, igualdade e fraternidade. Enfim, por uma sociedade
livre da opressão, preconceito e ignorância. (PAIVA, 2003, apud ALVERGAL
e DIMENSTEIN, 2006, p. 302).
O referido trabalho apresenta uma descrição psicanalítica do Transtorno de
Personalidade Borderline – TPB; um transtorno não muito conhecido pela sociedade e
de difícil diagnóstico, mas cada vez mais presente nos consultórios e clínicas.
A necessidade de aprofundamento do tema visa um maior conhecimento das
características do Transtorno de Personalidade Borderline ainda na infância, quando
possível, tendo em vista as dificuldades do diagnóstico e importância de tratamento
precoce, em função das comorbidades que interferem no tratamento e a situação de
vulnerabilidade que se encontram pacientes com esse quadro.
MÉTODOS
Para construção do presente estudo, utilizou-se de revisão bibliográfica e de
informações no prontuário da usuária L.H.S, 18 anos, em acompanhamento através
do Centro de Referência Especializado de Assistência Social- CREAS, no município
de Muniz Freire- ES, desde o ano de 2009 até os dias atuais.
No prontuário da usuária pode-se encontrar relatórios que narram a evolução do
caso, bem como, os encaminhamentos e laudos descrevendo as conturbadas
relações interpessoais da adolescente com a família e a sociedade.
APRESENTAÇÃO DO CASO
Em 2009, aos 15 anos, L.H.S., diagnosticada por profissional psiquiatra com Retardo
Mental Moderado (CID-F71), foi encaminhada ao Serviço de Enfrentamento à
Violência, Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, hoje CREAS,
com
indicação
de
gravidez
decorrente
de
abuso
sexual,
para
receber
acompanhamento psicossocial, ocasião que também recebeu atenção dos demais
órgãos de proteção social do município.
L.H.S. é a penúltima filha numa prole de cinco. Quando chegou ao CREAS a
adolescente
morava
com
a
mãe
e
uma
irmã
em
precárias
condições
socioeconômicas. A renda da família provinha do BPC – Benefício de Prestação
Continuada da adolescente e da pensão alimentícia paga por seu pai.
Por um período, anterior à gravidez, L.H.S. frequentou a APAE (Associação dos Pais
e Amigos do Excepcional), devido atraso no desenvolvimento cognitivo. Nesta
ocasião, seu comportamento agressivo dificultava a manutenção de relacionamentos
interpessoais, o que impossibilitou sua permanência na instituição.
O período de gestação da adolescente foi considerado complicado pelo obstetra que
a acompanhava, visto que L.H.S. mantinha comportamento hostil, recusando-se a
alimentar-se e realizar os exames necessários. Durante as consultas disparava
palavras de baixo calão e cuspia no médico.
Durante a gestação L.H.S. apresentou sintomas de sangramento anal, que acarretou
em perda significativa de peso. Diante do quadro a usuária foi encaminhada e
acompanhada
por
diversos
especialistas,
realizou
variados
exames
para
investigação de possíveis doenças malignas e/ou virais, não sendo reveladas
patologias físicas que justificassem os sintomas. Após intensa investigação, a mãe
da adolescente declarou ter flagrado a filha manipulando-se com “pedaço de pau”,
justificando a causa do sangramento.
Em atendimentos psicossociais, L.H.S. declarou desconhecer a identidade do pai do
seu filho, o que culminou em encaminhamento por ordem judicial, de 11 supostos
pais para realização de exame de paternidade; contudo, todos os resultados do DNA
foram negativos.
Após o nascimento do bebê (B.S.), o CREAS, manteve o acompanhamento à
família. Devido às circunstâncias de negligência e risco envolvendo a criança, o
Conselho Tutelar interviu e o bebê, foi acolhido na Casa de Passagem do município,
permanecendo no abrigo por seis meses. Ao sair do abrigo B.S ficou sob a guarda
provisória da avó materna, visto que L.H.S. é interditada.
Após quadro de agressão física (com objeto perfuro cortante) a sua irmã, L.H.S. foi
internada no CAPAAC por determinação judicial, permanecendo na instituição por
dois meses e, segundo relato da equipe do hospital psiquiátrico, apresentava
comportamento agressivo, agitação psicomotora, não respondia às normas, o que
acarretava em ficar sob efeito de calmantes a maior parte do tempo.
Após alta hospitalar, L.H.S. retornou ao convívio familiar e social, no entanto,
manteve os mesmos quadros comportamentais, vagando pelas ruas, com libido
aflorada. Fazia uso de métodos contraceptivos, mas não preventivos de doenças
sexualmente transmissíveis- DST, o que a colocava em risco para doenças
sexualmente transmissíveis.
Em determinada situação L.H.S. agrediu fisicamente (socos e tapas), a diretora da
creche que o filho frequentava, pois julgara que a diretora era autora das denúncias
de negligência em favor do filho. Diante disto, a usuária tornou-se ainda mais
vulnerável às penalizações jurídicas e sociais as quais já estava exposta.
Mesmos em acompanhamento pela equipe do CREAS, a jovem não aceitava
intervenção dos profissionais. A cada visita psicossocial, a equipe era informada
pelos vizinhos que a família havia mudado de endereço, constatando-se que o fato
era devido às dificuldades que a adolescente apresentava para relacionar-se com
outras pessoas, o que impossibilitava a família de fixar residência.
Pós alguns meses L.H.S, continuou perseguindo a diretora da creche e ameaçando
de “Matá-la e cortar em pedacinhos(fala de LH.S.). Se sentido ameaçada a
profissional registrou boletim de ocorrência e, novamente, por ordem judicial a jovem
foi internada, desta vez no Hospital Psiquiátrico Clínica Santa Isabel, pois estava
colocando em risco a sua vida e a vida de terceiros, no mesmo período, com o
agravamento do caso, seu filho B.S., foi destituído do pátrio poder entrando para a
lista nacional de adoção, pondo fim a toda possibilidade de L.H.S e sua família
conviverem, mesmo que precariamente ou de forma assistida com a criança.
VULNERABILIDADE SOCIAL
De acordo com Kern e Bellini (2006, p. 83) o conceito de vulnerabilidade teve origem
na área dos direitos humanos, contudo, ainda que muitos sejam os avanços, no
Brasil, a desigualdade social continua crescendo, os processos de exclusão estão
mais sofisticados e os desníveis cristalizam-se em oposição aos avanços nas
diferentes áreas. Assim, a vulnerabilidade pode ser entendida como:
A condição desfavorável dada. É a condição objetiva da situação de
exclusão e que aumenta a probabilidade de um evento ocorrer. O
que identifica são os processos sociais e situações que produzem
fragilidade, discriminação, desvantagem e exclusão social,
econômica e cultural (BRASIL, 2004, apud KERN e BELLINI, 2006,
p. 83- 84).
A afirmação de Tavares dos Santos (2002, p. 126) reforça que,
[...] estão ocorrendo mudanças em instituições sociais como a
família, a escola, processos de socialização, fábricas, religiões e
sistemas de justiça criminal (polícia, tribunais, hospitais para doentes
mentais, judiciário, prisões) porque estamos passando por um
processo de crise e desinstitucionalização (TAVARES DOS
SANTOS, 2002, p. 126).
É preciso concordar com o princípio de que o humano constitui-se em categoria
essencial dos processos sociais, já que a exclusão pode ser subjetiva, assim
denominada por se tratar de um processo que é vivenciado no plano individual e, em
muitos casos, não chega à dimensão intersubjetiva. Esse processo é vivido na
solidão, na fragilidade das relações, na precariedade dos afetos.
Tanto na infância como na idade adulta, traumas aparentemente semelhantes
podem ter efeitos diferentes, sobre diferentes indivíduos. Visto que, as diferenças no
temperamento, personalidade, habilidade em resolver problemas ou herança
genética podem ser determinantes em alguns transtornos.
Percebe-se que crianças expostas a eventos traumáticos são mais habilidosas ao
“Absorver” o estresse se tiverem um bom relacionamento com os pais, uma família
harmoniosa e apoio de uma rede social ampla e afetuosa. Por outro lado, a
disfunção familiar, os problemas de relação interpessoal e a fragilidade
socioeconômica, provavelmente aumentam a vulnerabilidade a eventos traumáticos.
Segundo a APA (American Psychiatric Association, 1995), os indivíduos Boderlines
apresentam, entre outras características, um padrão de instabilidade nos
relacionamentos interpessoais, dificuldade em aceitar a autoimagem e acentuada
impulsividade em uma variedade de contextos. As características mais preocupantes
dos pacientes com tais transtornos, de acordo com o APA, são as de automutilação
e suicídio, o que gera dados epidemiológicos preocupantes chegando a atingir dez
por cento (10%) de todos os pacientes psiquiátricos ambulatoriais e vinte por cento
(20%) de todos os pacientes psiquiátricos internados.
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE
Segundo Polak (2009) o significado de Borderline foi introduzido pela primeira vez
na literatura, pelo psicanalista Adolf Stern, no ano de 1938, sendo utilizado para
descrever um determinado tipo de personalidade que não se encontrava nas
patologias da época. Stern descreveu como uma das principais características dos
pacientes com tal transtorno do “sangramento psíquico”, a hipersensibilidade
desordenada,
o
comportamento
narcisista,
as
dificuldades
em
manter
relacionamentos e a realidade.
Segundo o Manual de Classificação de Transtornos Mentais e de ComportamentoCID-10 (1993), o “Borderline” é caracterizado por tendência nítida a agir de modo
imprevisível sem consideração pelas consequências, humor imprevisível e
caprichoso, tendência a acessos de cólera e uma incapacidade de controlar os
comportamentos impulsivos, facilidade a adotar comportamento agressivo e a entrar
em conflito com os outros, principalmente quando os atos impulsivos são
contrariados ou censurados, tendência a adotar comportamento autodestrutivo,
compreendendo tentativas de suicídio e gestos suicidas.
O indivíduo Boderline tende a apresentar padrão global de instabilidade nos
relacionamentos
interpessoais,
na
autoimagem,
nos
afetos
e
acentuada
impulsividade, que se manifesta na adolescência ou no inicio da idade adulta e está
presente em uma variedade de contextos, indicado por no mínimo cinco critérios de
acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DSM-IV,
para transtorno de personalidade Borderline:
(1) Esforço frenético para evitar um abandono real ou imaginário; (2)
Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos,
caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e
desvalorização; (3) Perturbação da identidade: instabilidade
acentuada e resistente da autoimagem, ou do sentimento do self; (4)
Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais
à própria pessoa (ex-gastos financeiros, sexo, abuso de substancias,
direção imprudente, comer compulsivamente); (5) Recorrência de
comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento
automutilante; (6) Instabilidade afetiva devido a acentuada
reatividade do humor (ex; episódios de intensa disforia, irritabilidade
ou ansiedade geralmente durante algumas horas e apenas
raramente alguns dias); (7) Sentimento crônico de vazio; (8) Raiva
inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (ex;
demonstração frequente de irritação, raiva constante,lutas corporais
recorrentes); (9) Ideais paranóides transitória e relacionada ao
estresse ou severos sintomas dissociativos. (DSM-IV-TR, 2003).
Segundo Holmes (1997), os pacientes com Transtorno de Personalidade Borderline
apresentam diferentes sintomas, em diferentes estágios do transtorno. Estes podem
estar em quatro áreas:
- Primeiro apresentam humor instável, mergulham e depressão
apenas para sair dela depois de alguns momentos, passam por fases
maníacas como transtorno bipolar e por períodos de raiva intensa
que podem interferir no funcionamento social.
- Segundo, os indivíduos com TPB apresentam períodos intermitente
durante os quais experimentam distúrbios de pensamento, mas não
são extremos como na esquizofrenia, ou seja, em vez de sofre de
alucinações plenamente desabrochadas percepções incomuns que
incluem ilusões de despersonalização;
- Terceiro sintoma, o mais notável, no borderline é o comportamento
automutilador e suicida intermitente;
- Quarto sintoma é associado a relacionamentos muito intensos e
muito instáveis, então oscilam entre amor e ódio (HOLMES,1997,
p...).
COMORBIDADE
Segundo Martins e Sassi (2004) alguns autores referem à comorbidade a ocorrência
conjunta de dois ou mais transtornos num mesmo indivíduo avaliado clinicamente.
“Em psiquiatria, as comodidades são comuns, estudos sugerem que quase
cinquenta por cento (50%) dos pacientes psiquiátricos recebem mais de um
diagnóstico” (ANDRADE, 1988, Apud MARTINS E SASSI, 2004, p. 162).
Os autores ainda afirmam que as ocorrências de alguns tipos de comorbidades
podem antecipar pelo atendimento médico, em decorrência do grande desconforto
que a superposição de sintomas pode causar. Por outro lado, a presença de uma
comorbidade pode, de forma direta, interferir no prognóstico da doença e no seu
manejo clínico.
O Transtorno de Personalidade Borderline- TPB é constituído por dois eixos, o
primeiro, evidenciando os transtornos de humor, assim como abusos de substâncias
químicas,
transtornos
alimentares,
transtornos
de
ansiedade,
transtornos
dissociativos, somatoformes, factícios e de controle de impulsos. Quanto aos
transtornos do segundo eixo pode-se associar com transtornos de personalidade
antissocial,
narcisista,
histriônico
e
dependente.
O
reconhecimento
das
comorbidades é apontado como fundamental para o tratamento dos transtornos,
como descreve Gomes et al (2003, p.573).
ABORDAGENS PSICANALÍTICAS NA COMPREENSÃO DO TRATAMENTO DO
TRANSTORNO BORDERLINE.
Abraham (1924) explana que em, 1984, Malanie Klein esclarece que Freud (1908)
aceitou que certas variações individuais do desenvolvimento eram devidas a fatores
constitucionais em “caráter e erotismo anal”; por exemplo, expressou o ponto de
vista de que o erotismo anal intenso é constitucional em muitas pessoas. Abraham
(1924) descobriu um elemento inato na imensidade dos impulsos orais, o qual
vinculou à etiologia da doença maníaco-depressiva. Disse ele que:
[...] o que realmente é inconstitucional e herdado é uma super
acentuação do erotismo oral, da mesma maneira que, em certas
famílias, o erotismo anal parece ser fator preponderante desde o
próprio início. Destas indicações inferimos que a significação erógena
da zona anal é intensificada na constituição sexual dessas pessoas
(ABRAHAM, 1924, p....).
As dificuldades em suportar a ansiedade, tensão e a frustração constituem
expressão de um ego que, desde o início da vida pós-natal, é proporcionalmente
fraco em relação aos impulsos destrutivos e sentimentos persecutórios que
experimenta. Estas intensas ansiedades impostas a um ego fraco conduzem a um
emprego excessivo de defesas de negação, a divisão e a onipotência, que até certo
ponto, são sempre características do desenvolvimento mais primitivo (KLEIN, 1884,
p.114 -115).
Observando pelo ângulo da vulnerabilidade do trauma causado pelas relações
familiares, temos vasto conteúdo teórico em Winnicott, para melhor compreensão.
A começar pela amamentação do bebê, do ponto de vista psicológico, ele deixa
claro que o bebê humano, no início o que mais necessita é ser visto e ouvido.
Winnicott, em seu artigo “A amamentação como forma de comunicação” (1988), diz
ter se dado conta que:
Existe agressividade no bebê vivo, no decorrer do tempo o bebê
começa a chutar, berrar e arranhar. Há situações da amamentação
ao seio havia inicialmente uma poderosa atividade das gengivas,
atividade que pode facilmente provocar rachaduras no bico do seio,
certos bebês penduram-se com as gengivas, machucando um
bocado; vê se a reação com a agressividade. Para Freud, a
amamentação, é quando o bebê vivencia a fase oral, uma das fases
da libido em contraste no texto sobre os três ensaios, a teoria da
sexualidade, onde se apoia a teoria psicanalítica (WINNICOTT, 1988,
p....).
No presente caso vemos a relação agressiva com sigo mesma, familiares e o social,
a sexualidade desmedida, o viver nas ruas, comportamento explicado pelos
psicanalistas através dos diversos teóricos.
Freud explicaria pelas fases da libido, além do princípio do prazer, Winnicott pela
relação bebê e mãe, quando fala da mãe boa da mãe má.
Winnicott: certa vez eu disse Não existe isso que chamam de bebê,
significando, obviamente que onde quer que encontremos um
lactente, encontraremos os cuidados maternos, e sem os cuidados
maternos não haveria bebê (NEWMAN, 2003, p.63).
Quando a análise dos casos de Borderline, Winnicott diz que aí se tem as melhores
chances de observar os fenômenos sutis de favorecer indicadores que permitem
compreender algo a respeito dos estados esquizofrênicos.
Segundo Freud: ...sugando o seio da mãe ou substituto dele que deve tê-la
familiarizado com o prazer. Quando a mãe do caso apresenta-nos a vivencia sexual
da filha, lembra a fase anal sádica.
Aqui, a oposição entre duas correntes que persiste por toda vida
sexual já está desenvolvida, elas não podem, contudo, ser descritas
como “masculina” ou “feminina”, mas como “ativa e passiva”. A
atividade é oposta com operação pelo instinto do domínio, por
intermédio da musculatura somática, o órgão que mais do que
qualquer outro, representa o objeto sexual passivo é a membrana
mucosa erógena do ânus (FREUD, VII ano, p. 204).
Freud salientou a ambivalência simbólica entre as fezes e o dinheiro e é na fase anal
que se faz corresponder à polaridade sadismo- masoquismo. (ROZA, 1983).
Em Melanie Klein, temos como contribuição a teoria dos instintos. No texto sobre
rejeição temos que o crescimento mental estaria num certo grau de insatisfação com
o leite da mãe e ao bico do seu seio ou a mamadeira. (KLEIN e RIVIERE, ano p. 36).
Para fecharmos, vemos que pelos entendimentos teóricos psicanalíticos, o que é
comum a todos é a relação mãe-bebê. A relação que iria encaminhar definir, decidir
a vida do ser humano, nele, a família e no social.
Como solução, seria o atendimento psicológico de reaproximação, mãe e filha para
uma possível mudança na história dessas vidas.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CASO
Ainda que o foco das intervenções do CREAS seja de indivíduos e famílias em
situação de violência, faz- se necessário destacar que o Centro de Referência
assumiu a responsabilidade pelo acompanhamento ambulatorial de L.H.S, por conta
do município em questão não contar com serviço especifico de Saúde Mental.
Ressaltamos ainda que L.H.S, tem dificuldades em manter amizades, pois quer
atenção exclusiva, é desconfiada, não sabe lidar com as críticas e tem ataques de
fúria quando contrariada (mecanismo de idealização), fazendo com que as pessoas
se afastem com medo de sofrerem agressões. Seu maior alvo é a mãe em quem
bate e xinga em qualquer situação, principalmente no dia que sabe que a mãe
receberá a pensão alimentícia do pai e o BPC, pois quer dispor do dinheiro que a
mãe usa para o sustento da família (mecanismo de atuação), de acordo com Toy e
Klamen (2005, p.452).
Segundo Melman (2006) nossa sociedade não está preparada para o desafio de
acolher e cuidar de indivíduos como L.H.S, apresentando visão preconceituosa em
relação ao paciente com transtorno mental, o que acaba marginalizando afetiva e
socialmente um grande número de pacientes psiquiátricos.
O universo das famílias que têm um membro com transtorno mental reflete
diretamente a uma dura realidade de preconceito e exclusão, conviver com essas
famílias é estar em contato com suas dores e sofrimentos; percebe-se que diante do
quadro as famílias ficam paralisadas e fechadas em um universo pesado, reduzido e
escasso de informações sobre como agir e se portar, em decorrência isolam-se e
perdem-se em suas carências; muitos pais se veem obrigados a “abandonar” suas
vidas em função do cuidado e se dedicação aos filhos “que precisam de ajuda, pois
sozinhos sucumbiriam”; neste ínterim, este familiares ainda são desrespeitados e
vítimas de preconceitos sociais, visto que são responsabilizados e julgados por
eventuais danos que os filhos venham a causar, de acordo com Jonas-retirar
Melman (2006).
A culpa se revela em uma das marcas mais visíveis na vida dessas pessoas, que
passam a buscar explicações e sentidos que amenizam seu sofrimento. Conforme
avalia Jonas Melman (2006), torna-se difícil escapar dos efeitos arrasadores dessa
percepção negativa e estigmatizada, pois este quadro desgasta a autoestima e
confiança dos envolvidos, roubando-lhes suas oportunidades e potencialidades de
suas vidas.
Menezes e Aguilar (2011) citam que para pessoa com TPB não há limites que
poderiam detê-la, sendo o desafio à norma e as regras sua marca registrada, o que
a levaria a uma busca constante por situações perigosas, talvez na procura de algo
que pudesse aliviar o sofrimento que ela não consegue entender a origem, nem
administrar os sintomas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo em questão permitiu melhor compreensão da problemática dos pacientes
com Transtorno de Personalidade Borderline, o seu sofrimento e de seus familiares,
evidenciando que somente com acompanhamento multidisciplinar poderia melhor
seu quadro clínico, garantiriam a todos os envolvidos, o fortalecimento dos vínculos
afetivos e a redução da vulnerabilidade social a qual são expostos.
O estudo mostra que é de vital importância a efetivação de um trabalho de atenção
psicossocial, com intuito de ampliar a capacidade de conhecer, resistir e crescer do
usuário numa situação tão adversa, transformando a dor em matéria prima para um
aprendizado resili ente do processo de desenvolvimento emocional.
Trabalhar e estudar visando a compreensão das minúcias do paciente com
Transtorno de Personalidade Borderline e de sua família, requer que se repense o
modelo
tradicional
de
saúde
mental,
buscando
novas
estratégias
de
desenvolvimento que não podem ser definidas em si mesmo, certamente existem
outras saberes, outros territórios a serem explorados pelo conhecimento humano,
que ainda não foram vistos, tornando nosso olhar e práxis mais humanizado e
desprovidos de qualquer tentativa de exclusão social.
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Download

acompanhamento e vulnerabilidade social no município de muniz