Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 15 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil. Uma Análise Comparada dos dois Campos Científicos R e s u m o Afonso Nascimento* V árias disciplinas cientificas tratam da política (Teoria Geral do Estado, Antropologia Política, Sociologia Política, Ciência Política e História Política). Este trabalho discute o modo como cientistas políticos e historiadores abordam a política, uns e outros dentro de seu campo científico de uma forma genérica, bem como a sua institucionalização no Brasil. Sustenta, de um lado, que a Ciên- cia Política brasileira conhece uma institucionalização inacabada, à diferença da História Política devido ao fato de esta pertencer ao campo consolidado da História. Defende, de outro lado, que a Ci- ência Política afirma-se pela especialização, ao passo que a História Política o faz pela interdisciplinaridade. PALAVRAS-CHAVE: Política; Ciência Política; História Política; Institucionalização; Brasil. * Afonso Nascimento é professor de Teoria Geral do Estado do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 16 Afonso Nascimento 1. Introdução Este artigo tem por objetivo geral comparar os dois mais importantes campos científicos tratando da política no Brasil e a possível relação entre eles. Parte-se portanto da idéia de que não existe monopólio da política pela Ciência Política (Schwartzman, 1977, p. 1). Dentre outros campos científicos (Teoria Geral do Estado dos juristas, Antropologia Política e Sociologia Política)1, os historiadores são o grupo de intelectuais que dividem com os cientistas políticos o espaço do discurso científico sobre a política no Brasil – embora haja uma certa hegemonia e uma maior legitimidade dos cientistas politicos. Dois são os objetivos particulares deste trabalho. Trata-se, por um lado, de analisar o processo de institucionalização da Ciência Política e da História Política e, por outro, de examinar a questão da especialização e da interdisciplinaridade no interior e entre cada um dos dois campos científicos. São as seguintes as hipóteses que orientam esse trabalho. A primeira sustenta que a Ciência Política conhece uma institucionalização inacabada, acontecendo o inverso com a História Política devido a sua pertença ao consolidado campo da História. A outra hipótese é aquela segundo a qual, embora a interdisciplinaridade seja parte do modo de constituição e de desenvolvimento da Ciência Política, esta disciplina afirma-se através da especialização, ao passo que a História Política, ao adentrar o campo das Ciências Sociais, evolui através da interdisciplinaridade. A inexistência de discussão entre os cientistas políticos sobre a produção política dos historiadores e vice- 1 2 3 versa é a lacuna que este texto pretende preencher. Nisto reside a contribuição deste artigo. Debruçar-se-á, para tanto, sobre fontes notadamente bibliográficas – embora recorra-se também a documentos oficiais e a dados estatísticos sobre as duas áreas de conhecimento. As instituições de ensino superior públicas (federais ou estaduais) constituem o universo empírico tomado em consideração – com a inclusão excepcional do Iuperj, devido a sua incontornável importância quando se trata da Ciência Política no Brasil2. O período concernido pelo trabalho é aquele que vai do início dos anos 1930 até hoje. Este trabalho se quer inserido no quadro da reflexão neo-institucionalista da política3. Dentre as diversas possibilidades teóricas desse novo ‘paradigma’, o autor utiliza os conceitos do neo-institucionalismo histórico. Além disso, trabalha com os conceitos de especialização e interdisciplinaridade emprestados dos trabalhos de Dogan (1998) e de Klein (2001). Esta é a organização deste trabalho. Na primeira seção, são discutidas a Ciência Política e a História Política como partes das Ciências Sociais, mostrando a especificidade de cada caso. Na segunda seção, e examinada a institucionalização da Ciência Política e da História Política no Brasil, atentando para o fato de que a História Política não é senão uma área de especialização e não uma disciplina. Na terceira seção, discute-se o problema da especialização e da interdisciplinaridade associado a cada um dos objetos em questão. Por último, à guisa de conclusão, são feitas algumas considerações sobre o desenvolvimento dos dois campos e sobre as possibilidades e limites de futuros intercâmbios entre eles. Fora da área científica, é o Jornalismo Político a principal área de conhecimento sobre a política no Brasil. Dentre os nomes mais conhecidos, consultar as obas de Fernando Moraes, Élio Gaspari, Sebastião Nery, Castelo Branco etc. Sobre este ponto, ver Schwartzman (1981). Sobre o neo-institucionalismo histórico, consultar, entre outros, HALL, Peter A. e Rosemary C. R. Taylor. Political Science and the three new institutionalisms. In Political Studies, 1996, XLIV; HAY, Colin e Daniel Wincott. Structure, Agency and Historical Institutionalism In Political Studies, 1998, XLVI; HALL, Peter A. e Rosemary C. R. Taylor. The potential of Historical Institutionalism: a response to Hay and Wincott. In Political Studies, 1998, XLVI; PETERS, B. Guy. Institutional Theory in Political Science. The “new Institutionalism”. Londres, Pinter, 1999; STEINMO, S., THELEN e F. Longstrehth. Structuring politics: historical institutionalism in comparative analysis. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil 2. Ciência política e história política como ciências políticas Neste trabalho, será usada a classificação dos saberes emprestada de Wallerstein (1996), para quem eles estão distribuídos em a) Humanidades, Ciências Sociais e Ciências Naturais. Trata-se de uma classificação muito popular – embora existam outras no mercado do saber científico4. Implícita está, portanto, a ruptura com o senso comum5. Segundo Santos, as Ciências Sociais emergiram no século XIX. Elas são uma construção do mundo moderno e surgiram para ser empíricas. Nas suas palavras, trata-se de um “saber secular acerca da realidade que, de algum modo, possa ser empiricamente verificado” (Santos, 1999, p. 14). De acordo com Clubb (1981, p. 648), as Ciências Sociais são “um conjunto de pesquisas que visam a identificar regularidades nos assuntos humanos, recorrendo a dados e métodos empíricos que tendem a elaborar fórmulas teóricas e explicando essas regularidades”. Quais as ciências que fazem parte das Ciências Sociais? De acordo com Homans (1967, p. 3), “as ciências sociais compreendem a psicologia, a sociologia, a economia, as ciências políticas, a história e sem dúvida a lingüística”. Neste trabalho é adotada a classificação da ANPOCS que inclui entre as Ciências Sociais a Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política (Reis et al, 1997)6. A Ciência Política faz parte naturalmente das Ciências Sociais. Na verdade emergiu como ciência social 4 5 6 7 8 17 no século XX. Por sua vez, a História Política não é uma “ciência”, mas uma especialização de uma ciência que é a História – cujos começos se confundem com a História Política. No entanto, a História não nasceu ciência social. É somente com a Escola dos Anais, que adquire esse estatuto epistemológico. 2.1 A CIÊNCIA POLÍTICA COMO CIÊNCIA SOCIAL É certamente um grande exagero dizer que a Ciência Política7 nasceu na Grécia. Embora haja consenso na literatura sobre a importância da Filosofia Política clássica e moderna na construção da Ciência Política, o fato é que esta é uma construção do século XX. Com efeito, apesar de a denominação ser bem anterior a sua emergência8, segundo as diferentes trajetórias nacionais, a Ciência Política não é senão uma diferenciação da Sociologia. A revolução behaviorista marca, a rigor, a emergência da Ciência Política nos Estados Unidos. É com esse grande “paradigma” interdisciplinar que, de fato, a Ciência Política ganha o estatuto de ciência, nos moldes da Sociologia – da qual toma emprestados métodos e teorias e os adapta ao seu objeto. Diferentemente de sua fase pré-científica, este passa a ser o poder, e não mais o Estado ou as instituições governamentais. Além de enorme quantidade de departamentos com esse nome e com uma associação datando do começo deste século (1903), a nova ciência contará com o forte apoio da Fundação Ford – que não será, aliás, restrito De acordo com Bunge, as ciências estão classificadas em fatuais e sociais. Entre as primeiras, estão a física, a química, a biologia. No bloco das segundas, estão a sociologia etc. Cf. BUNGE, Mário. La ciencia, su método y su filosofia. Buenos Aires: Sigloveinte, 1974. cap. 1. A idéia de senso comum neste trabalho está mais próxima de Durkheim e Bachelard. Embora sem concordar com ele, ver as interessantes idéias sobre o senso comum de SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1999. Vianna (1998) trabalha com uma classificação mais alargada. Para uma boa discussão sobre a Ciência Política, ver ALMOND, Gabriel A. Political Sciences: the History of the Discipline. In New Handbook of Political Science (Eds. Robert E. Goodin e Hans-Dieter Klingman). Oxford: Oxford University Press, 1998. Para as diversas histórias da Ciência Política em diversos países, ver ROBSON, William A. La enseñanza universitaria de las sciencias sociales: ciencia politica. Washington: Unión Panamericana/OEA, 1961 e FAVRE, Pierre. Histoire de la science politique. In Traité de Science Politique. (Eds. M. Grawitz e J. Leca). Paris: PUF, vol. 1, 1985. A American Political Science Association foi criada em 1903. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 18 Afonso Nascimento à Ciência Política. Com a criação da Associação Internacional de Ciência Política, em 1949, sob os auspícios da Unesco, um importante passo será dado para que associações nacionais sejam criadas em diversos países, segundo o próprio desenvolvimento nacional de cada Ciência Política. Desde a revolução behaviorista, a Ciência Política conheceu três importantes “paradigmas”9: o próprio Behaviorismo, a Escolha Racional e a atual onda NeoInstitucionalista. O Behaviorismo é o paradigma fundador da Ciência Política10. Surgiu nos anos 30 “em reação contra as especulações da filosofia” (Braud, 1982, p. 98) ou, noutras palavras, em oposição àquilo hoje chamado de “velho” institucionalismo. Conheceu seu apogeu nos anos 50 do século passado. Com o Behaviorismo, a ênfase dos estudos políticos passou a ser sobre o comportamento dos indivíduos e dos grupos. Importante ressaltar que, metodologicamente, dá-se uma aproximação com as Ciências Sociais já mais estabelecidas como a Sociologia e são privilegiados “os problemas de observação, de verificação e de quantificação” (Schwartzenberg, 1977, p. 5). A Escolha Racional veio para contrabalançar o domínio do Behaviorismo. Embora deite raízes nos anos 5011, a “onda” da Escolha Racional ocorreu sobretudo nos anos 80 do século passado. Grosso modo, caracteriza-se pela tentativa de explicar a política pela economia. Segundo Ritzer (1996, p. 263-264), o paradigma 9 10 11 12 13 da Escolha Racional combina três elementos. Esquematicamente, eles são o utilitarismo, a teoria dos jogos e a teoria neo-clássica da economia. O Neo-Institucionalismo é o terceiro paradigma da Ciência Política. Surgiu grandemente em resposta aos exageros da Escolha Racional. Geralmente, tratando desse paradigma, a literatura procura fazer uma distinção entre o “velho” e o “novo” institucionalismo. O primeiro está associado à produção de conhecimentos sobre a política e o Estado fundada no formalismo e no descritivismo das instituições. Já a nova versão procura explicá-las “como uma variável dependente e, mais importante, para explicar outros fenômenos com instituições como as variáveis independentes amoldando o comportamento dos políticos e da administração” (Peters, 1996, p. 205)12. A despeito da desimportância inicial destinada à política pelo Marxismo – entendida como epifenômeno da economia –, entre os anos 60 e 70, uma importante geração de marxistas europeus escreveram relevantes obras sobre a política na perspectiva marxista13. Irão além disso. Escreverão importantes trabalhos sobre o Estado - um objeto pouco considerado pela Ciência Política anglo-americana, dada a tradição anti-estatista de suas sociedades (Jessop, 1982; Skocpol, 1985). É a partir da tradição norte-americana, assentada numa bem consolidada democracia, que se dá a expansão da Ciência Política para o mundo, ajustandose às tradições nacionais do desenvolvimento das Ciências Sociais. Thomas Kuhn escreveu um livro de citação incontornável sobre o conceito de paradigma. Contra a idéia de que a ciência avança de um modo acumulativo, ele desenvolveu o argumento de que os progressos das ciências se dão por rupturas ou por revoluções. Acrescentou, todavia, que o conceito de paradigma não se aplica às Ciências Sociais. É preciso dizer que o seu trabalho, embora sendo a base da reflexão aqui desenvolvida, o significado de paradigma não é necessariamente kuhniano. Cf. KUHN, Tomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1982. Sobre a “revolução behaviorista”, ver TRUMAN, David B. The impact on Political Science of the Revolution in the Behavioral Sciences. In Research Fronties in Politics and Government, 1955. A este respeito, ver o trabalho fundante de DOWNS, Anthony. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: Edusp, 1999. Consultar igualmente o livro de OLSON, Mancur. A lógica da ação coletiva. São Paulo: Edusp, 1999. Para uma mais detalhada de cada um dos institucionalismos (Normativo, da Escolha Racional, Histórico e Sociológico), ver o livro de Peters (1996). Ver a este respeito, entre outros, Miliband, Ralph. The State in the capitalist society. New York: Basic Books, 1969 e Poulantzas, Nicos. L’Etat, le pouvoir, le socialisme. Paris: PUF, 1978. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil 2.2 A HISTÓRIA COMO CIÊNCIA SOCIAL Até hoje a condição do tipo de saber que é a História é objeto de controvérsias. Para alguns, trata-se de uma filosofia, para outros, de uma ciência, pertencente ao campo das Ciências Sociais (Reis, 1999). De qualquer forma, pode-se afirmar categoricamente que a História não nasceu como ciência social14. De fato, no sentido moderno do termo, a História deita suas raízes na Europa renascentista, no período de formação dos primeiros Estados nacionais. É aí – e sobretudo no século XIX – que os historiadores serão convidados a contar o passado dos povos que estavam construindo precocemente as modernas sociedades nacionais européias (Strayer, 1979). Apareceu então com um saber ligado ao Estado e a construção de nações européias. Não surgiu portanto como ciência social. Guarda, entretanto, uma longa tradição de uma disciplina bem anterior a emergência da Sociologia no século XIX. Se não nasceu como ciência social, fê-lo como História Política, ou, nas palavras de Goodin (1996, p. 2), “não muito tempo atrás, a história era principalmente a história política”, no sentido de que era um tipo de conhecimento que narrava os grandes eventos, a ação dos grandes homens, enfim, um conjunto de elementos associados com as instituições estatais. Nessa primeira fase é a “escola metódica” francesa que predomina. Recusando toda especulação filosófi- 14 15 16 17 18 19 19 ca, ela fornece “um lugar considerável à história política e diplomática” (Déloye, 1997, p. 6). Segundo Deloyé (1997, p. 7), para essa escola, “a história não é senão a mise en oeuvre de documentos selecionados de modo pertinente e purificados pelo método crítico”. Continuando, escreve que “a história política, diplomática e institucional se vê assim consagrada como o ramo mais importante porque o mais científico do saber histórico” (p. 8). Em fins da década de 1920, com a emergência da Escola dos Anais, a História toma um novo rumo. Segundo Goodin (1996, p. 3), “a história política cedeu o espaço gradualmente para a história social”. Deixa de ser a espinha dorsal da História. Com efeito, desprezando a História Política15, por que identificada com o particular e o pontual e ignorando a sociedade global e a longa duração16, a História se aproxima das Ciências Sociais17, destas tomando emprestados métodos e teorias. “Simbolizada tanto quanto precipitada pelos movimentos dos Anais” (Goodin, 1996, p. 3), constrói assim um saber preocupado com a longa duração e, nesse quadro, com a economia, com o quotidiano da sociedade etc18. Essa reviravolta na produção intelectual dos historiadores levará a um abandono da História Política durante a maior parte do século XX. Ela foi completada pela influência do Marxismo19 - uma área do conhecimento com a ambição de totalidade – sobre a produção dos historiadores em várias partes do mun- Sobre a relação entre História e Ciências Sócias, ver, entre outros, o interessante artigo de HOBSBAWN, Eric. La contribuition de l’historie aux sciences sociales. In Revue Internationale des Sciences Sociales, vol. XXXIII (1981), no. 4. Consultar igualmente STONE, Lawrence. History and the social sciences in the twentieth century. In Charles F. Delzell (Ed.) The future of history; essays in the Vanderbilt University Centennial Symposium. Nashville: Vanderbilt University Press, 1977 e FOGEL, Robert W. History and the social sciences: progress and prospects. In American Behavioral Scientist, no. 21, 1977. Segundo Déloye, “essa rejeição da história política é amplamente atestada pela leitura dos sumários dos Anais. De 1929 a 1976, a revista dedicara menos de 5% de seus artigos à história política”, p. 13. Segundo Julliard, “a história política é psicológica e ignora condicionamentos; é elitista, biográfica mesmo e ignora a sociedade global e as massas que a compõem; é qualitativa e ignora o serial; visa o particular e ignora a comparação; é narrativa e ignora a análise; é materialista e ignora o material; é ideológica e não tem disso consciência; é parcial e não sabe que o é; atém-se ao consciente e ignora o inconsciente; é pontual e ignora o longo prazo”. Cf. JULLIARD, Jacques. A política. In Fazer História, vol. 1. (Jacques Le Goff e Piere Nora). Livraria Bertrand, 1981, pp. 263-4. Esta é também a tese de Wallerstein, para quem a história foi a primeira disciplina a entrar no campo das ciências sociais, op. cit., p. 30. Para uma análise da Escola dos Anais, ver Reis (1999). Essa influência é apontada por Borges, Vavy P. História e política: laços permanentes. In Revista Brasileira de História, vol. 11, no. 23-24, set. 1991/ ago. 82, p. 8. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 20 Afonso Nascimento do ocidental20. Neste caso, reduzindo a política à condição de superestrutura ou apêndice da infra-estrutura ou da economia, o Marxismo dava pouca importância à política – como foi dito acima, num outro contexto. É somente no fim dos anos 1970, sendo parcialmente “o resultado de uma conjuntura comemorativa” (o bicentenário da Revolução Francesa, em 1979) (Déloye, 1997, p. 15), que começa uma nova onda de interesse pela política como objeto do saber dos historiadores. É a partir desse momento que a História Política adentra o campo das Ciências Sociais – coincidindo com um forte movimento internacional em torno da interdisciplinaridade do conhecimento – como será visto adiante. É possível notar, assim, três grandes tendências ou movimentos em relação a História Política. O primeiro é iniciado por Le Goff que, em dois artigos, tenta compreender “as razões pelas quais a história política, durante muito tempo desdenhada e humilhada, retorna com força”21. O segundo vem com René Rémond (1998), que lança o livro-manifesto do retorno à política22. Para ele, este é “o postulado mais importante desta escola histórica: o da prevalência e da autonomia do político; postulado que justifica uma explicação do político d’abord par le politique, sem esquecer, todavia, que existe também no político mais do que o político” (Remond, 1988, p. sn). O terceiro é com Pierre Rosanvallon, que refina a discussão teórica a respeito do político num famoso artigo. Nele, Rosanvallon (1995, p. 12) tenta cons- 20 21 22 23 truir a “história conceitual do político”. Para ele, o político “é o lugar onde se articulam o social e sua representação, a matriz simbólica onde a experiência coletiva se enraíza e se reflete ao mesmo tempo. A questão? É a da modernidade, de sua instauração e de seu trabalho” ou dito de outra forma, é preciso “pensar em bloco o político como o lugar de ação da sociedade sobre ela mesma” (Rosanvallon, 1995, p. 12). Esse boom da Histórica Política é na verdade uma especialização da História Cultural (Gouveia, 1998) ou, nas palavras de Borges, “passa-se a pensar a política no sentido de uma cultura” (Borges, 1991, p. 16). 3. A Institucionalização da ciência política e da história política no Brasil As Ciências Sociais têm uma história recente no Brasil23. Embora desde o século XIX existam autores que reivindiquem a Sociologia, é somente a partir dos anos 30 que começa o seu processo de institucionalização (Miceli, 1995). Fundamentalmente, a institucionalização das Ciências Sociais tem sido um processo desigual em termos espaciais, bem como no que concerne à constituição dos campos científicos de que são compostas. Esse processo está associado aos seguintes movimentos: um sócio-econômico (a industrialização), um institucional (remetendo a instituições internas e externas, como o Estado brasileiro e a Fundação Ford) e ao movimento de idéias científicas. É grande a tradição de historiadores marxistas. Dentre os mais conhecidos, consultar Eric Hobsbawn e Perry Anderson. Os dois artigos são de LE GOFF, Jacques “A história política continua sendo a espinha dorsal da história?” e “O imaginário medieval” (Déloye, 1997. p. 15). O nome do livro-manifesto é REMOND, René. Pour une histoire politique. Paris: Seuil, 1988. A respeito ver o clássico AZEVEDO, Fernando de (Org.) As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Nacional, vol. 2, 1994 e MICELI, Sérgio. História das Ciências Sociais no Brasil. São Paulo: Sumaré/Fapesp, 1995. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil 3.1 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CIÊNCIA POLÍTICA NO BRASIL A Ciência Política é a mais tardia das Ciências Sociais brasileiras e, a rigor, conhece uma institucionalização incompleta ou, dito de outra forma por Reis, “não chegamos a realizar direito essa institucionalização” (Reis et al, 1997, p. 25). A fase antes de sua institucionalização aponta para duas origens internas – uma institucional e outra em termos de idéias. A primeira é sem dúvida o ensino jurídico. Com efeito, no espaço das escolas de direito do país é onde, através do ensino da teoria jurídica do Estado, primeiro foi trabalhada a política. A isso acrescente-se o fato de que as escolas de direito do país foram por muito tempo escolas de poder, ou seja, espaços onde eram recrutadas e treinadas as elites políticas do país. O conhecimento da política ensinado nas faculdades de direito era extremamente formal. Dizia respeito à leitura de documentos jurídico-políticos como constituições, regras do direito internacional etc. Esse tipo de conhecimento era fortemente tributário das escolas alemã e francesa, com a predominância desta última (Nascimento, 1981). Uma outra origem geralmente mencionada são os ensaios sobre a política brasileira. Também neste caso, seus autores eram grosso modo juristas – dado o desenvolvimento tardio do ensino superior no Brasil. Lamounier (1982) e Schwartzman (1977) destacaram a importância de autores como Alberto Torres, Oliveira Vianna, entre outros. De um modo geral, são ensaios com idéias autoritárias sobre a política brasileira. 24 25 26 27 28 21 Entretanto, entendida a Ciência Política como instituição, a sua construção está associada, primeiro, ao processo de construção da Sociologia e, depois, a sua diferenciação em relação a esta. Como ver-se-á adiante, embora dependente de quadros de sociólogos etc., a Ciência Política conhecerá uma trajetória bem específica. É com a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, criada em 1933, que começa, no quadro de instituições de ensino superior, o ensino da política24. Entretanto, será preciso esperar os anos 1960 do século passado para que a Ciência Política comece o seu processo de institucionalização. Surgirá pelo “alto”. Com efeito, em 1965 será criada a pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais25. Dois anos depois, será criado o Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro26, uma instituição privada, ligada à Universidade Candido Mendes. Na sua esteira, virão os demais cursos de pós-graduação em Ciência Política (UFRGS, UFPE, USP e UNB). Trata-se, portanto, de instituições de ensino e pesquisa que não conhecerão primeiro a graduação e depois a pós-graduação. Esse modo específico de emergência será mantido até hoje, posto que, na rede pública de ensino superior, só existe um curso de graduação em Ciência Política – o da Universidade Federal de Brasília27. Com efeito, afora certas instituições privadas, não existe ensino de Ciência Política no Brasil. É o ensino generalista de Ciências Sociais que predomina nas universidades públicas brasileira. Em função dessas origens, guardara uma certa dependência em relação aos sociólogos, especialmente28. Sobre a Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, ver CUNHA, Luiz Antônio. A universidade temporã. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986 p. 265, KANTOR, Íris, Débora A. Maciel e Júlio A. Simões (Orgs.). A Escola Livre de Sociologia e Política. Anos de formação. 1933-1953. São Paulo: Escuta, 2001 e LIMONGI, Fernando. A Escola Livre de Sociologia e Política. In História das Ciências sociais no Brasil. vol. 1, Sérgio Miceli (Org.). São Paulo: Vértice, Ed. Revista dos Tribunais, Idesp, 1989. Sobre as Ciências Sociais em Minas Gerais, ver artigo de Lúcia Lippi em livro organizado por Miceli. Sobre a Ciência Política, ver SCHWARTZMAN, op. cit., p. 34 e seguintes. Sobre o Iuperj, consultar Schwartzman, (1981). Cf. documento O bacharelado em Ciência Política na UNB. Sobre essa dependência, ver Reis et al (1997, p. 10). Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 22 Afonso Nascimento Três instituições estão na origem do processo de institucionalização da Ciência Política no Brasil – afora o papel inicial da Clacso e da Cepal. Trata-se, em primeiro lugar, da Fundação Ford29. Com efeito, esta instituição filantrópica norte-americana criada em 1936, que terá um papel importante na institucionalização das Ciências Sociais nos Estados Unidos, terá uma participação decisiva na construção da Ciência Política. Através do financiamento de recursos humanos e materiais, financiamento de congressos, financiamento de pesquisas etc., a Fundação Ford será a principal instituição impulsionadora da Ciência Política no Brasil.30 A segunda instituição a ter um papel importante na institucionalização da Ciência Política no Brasil tem sido a Capes. Será essa instituição do aparato burocrático-científico do Estado brasileiro, através de sua política de pós-graduação31, que terá uma ação importante no credenciamento, na avaliação e na expansão da Ciência Política – além de outras áreas. Segundo Reis, falando de um modo geral sobre a expansão das Ciências Sociais, ocorrida durante a Ditadura Militar, “a implantação inicial da pós-graduação (...) foi um importante ponto de inflexão no processo de desenvolvimento das ciências sociais no Brasil” (Reis, et al, 1997, p. 11)32. A terceira instituição tem sido a ANPOCS – Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Trata-se de uma instituição criada em 1977 e que tem contado com financiamento da Fundação Ford e do Cnpq. Tem reunido anualmente pesquisadores nas áreas de ciência social do Brasil e tem se constituído, através dos GT dos cientistas políticos, num espaço central na construção da comunidade e do campo da Ciência Política no Brasil. 29 30 31 32 33 34 Por último mas muito importante, aparece a criação da ABCP – Associação Brasileira de Ciência Política, criada no ano de 200033. Congrega pouco mais de trezentos membros e tem realizado alguns congressos anuais34. A Ciência Política brasileira é uma disciplina altamente internacionalizada, por conta da impulsão institucional derivada da Fundação Ford, pelo treinamento de muitos quadros nos Estados Unidos e na Europa e ainda em termos de métodos, teorias e conceitos, importados sobretudo dos EUA – como será discutido na próxima seção. Para concluir esta subseção, é preciso discutir a função social da Ciência Política brasileira. Surgindo em plena ditadura militar no Brasil, ela aparece como um campo científico que estimula a construção de um modelo de democracia liberal à maneira dos EUA. Com efeito, isso se explica pelas dificuldades brasileiras em construir uma democracia liberal, já que seu experimento democrático de 46 a 64 fracassara. O campo da Ciência Política, ao mesmo tempo que estuda a política brasileira, através de suas teorias encoraja o estabelecimento da democracia liberal no Brasil. 3.2. A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA HISTÓRIA POLÍTICA NO BRASIL A institucionalização da História Política não é senão um capítulo da própria institucionalização da História como disciplina no Brasil nos anos 1970 e 1980 e corresponderá também à inserção da História no campo das Ciências Sociais no Brasil. Mas, antes de chegar a esses dois temas, convém avançar um ponto. Sobre a Fundação Ford, ver MICELI, Sérgio. A Fundação Ford e os cientistas sociais no Brasil, 1962, 1992. In História das Ciências Sociais no Brasil. (Org. Sérgio Miceli). vol. 2, São Paulo: Sumaré/Fapesp, 1995. Para informações mais detalhadas, ver o artigo mencionado de Miceli (1995). Uma boa discussão sobre a pós-graduação no Brasil está no cap. 9 (“A pós-graduação na universidade brasileira”) de SOUSA, Edson Machado de. Crises e desafios no ensino superior do Brasil. Fortaleza: Ed. UFC, 1980. Na mesma direção escreve, Gilberto Velho (ver Reis, et al, 1997, p. 11), “O desenvolvimento da pós-graduação (...) foi absolutamente fundamental para o amadurecimento da pesquisa científica como um todo no Brasil” (Reis, et al, 1997, p. 12). Sobre a Associação Brasileira de Ciência política, ver o interessante Relatório de Gestão-Diretoria da ABCP. Período nov. 2000-jul. 2002, elaborado por Gláucio A. D. Soares (presidente) e Sônia Draibe (secretária executiva). Cf. o referido relatório. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil Antes da institucionalização da História como saber universitário,35 a independência política do Brasil em relação a Portugal tornou possível a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838)36 na então capital do país (Rio de Janeiro, onde permanecerá aliás até hoje) e nos Estados a construção de Institutos Históricos e Geográficos estaduais. São essas as primeiras instituições onde historiadores sem treinamento cuidarão da memória do país – o que inclui certamente a memória política nacional e dos estados brasileiros. È a partir desses institutos e dos historiadores diletantes que a História, um saber com uma longa tradição na história ocidental, assentará as suas primeiras bases no país. Afora isso, convém lembrar que a História era objeto do ensino dos primeiros cursos universitários do país37. Entretanto somente a partir dos anos 1930, à semelhança do que ocorrera com a Sociologia, terá início a institucionalização da História como disciplina universitária. Com efeito, como escreve Castro Gomes (1996, p. 80), “no Brasil, embora tenha sido reconhecida como disciplina bem antes das ciências sociais, como nossas faculdades de Filosofia, Ciências e Letras datam dos anos 1930, a institucionalização universitária da História se fez praticamente em paralelo com a da sociologia e antropologia”. Neste caso, será no Rio de Janeiro onde será montado o primeiro curso universitário em História – conhecendo uma trajetória 35 36 37 38 39 40 23 que passará pela Universidade do Distrito Federal, depois a Universidade do Brasil e, por fim, a Universidade Federal do Rio de Janeiro38. A institucionalização da História terá uma trajetória assaz ordinária. Com efeito, será o Estado brasileiro (na sua expressão federal e estadual) que criará os primeiros cursos superiores. É que a História tinha a ver com as necessidades do Estado, no sentido de que o ensino de História (enquanto saber sobre um passado comum e que busca a coesão social) foi utilizado, como aliás outros países o fizeram, para a construção da nação no Brasil a partir dos anos 193039. Em 1961, já com uma infra-estrutura instalada na maioria dos Estado brasileiros, foi criada a ANPUH – Associação Nacional dos Professores Universitários de História. Trata-se de uma associação hoje presente nos vinte e sete estados brasileiros e com número correspondente de núcleos regionais. Possui uma enorme comunidade de historiadores filiados a essa associação científica. Todavia, é com a construção da pós-graduação brasileira durante a ditadura militar que a História também adentrará o campo das Ciências Sociais e quando crescerá substancialmente a produção científica dos historiadores brasileiros40. É com a inflexão da pósgraduação, sob a égide da Capes, que dar-se-á, também no Brasil, o retorno da História Política. O que é que existia antes? Iglesias periodiza a historiografia brasileira em três fases: a) 1500-1838; b) 1838-1931; e c) 1931 em diante. Cf. IGLESIAS, Francisco. A Historiografia brasileira atual e a interdisciplinaridade. In Revista Brasileira de História. São Paulo, 3(5): mar. 1983, p. 60. Esta é a periodização adotada neste trabalho. Sobre o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, ver IGLESIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, p. 60 e seguintes. Sobre o ensino de História no Brasil, ver LACOMBE, Américo Jacobina. Introdução ao ensino da história no Brasil. São Paulo: Ed. Nacional/ Edusp, 1973 e CUNHA, Luiz Antônio. A Universidade temporã. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. Ver Cunha (1986) sobre a trajetória institucional do que é hoje a UFRJ. Ver a este respeito o interessante artigo de ABUD, Kátia M. O ensino de história como fator de coesão nacional: os programas de 1931. In Revista Brasileira de História, vol. 13, no. 25/26, 1992-1993. Sobre a pós-graduação e a História, ver FICO, Carlos. A História no Brasil (1980-1989): elementos para uma avaliação historiográfica. Ouro Preto: UFOP, 1992 e D’ALESSIO, Márcia M. e Maria de Lourdes Janotti. A esfera do político na produção acadêmica dos programas de pós-graduação (1985-1994). In Estudos Históricos, 1996, no. 17. Para uma abordagem mais ampla, ver LAPA, José Roberto Amaral. Tendências atuais da Historiografia no Brasil. In Revista Brasileira de História, 2(4), 1982. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 24 Afonso Nascimento De modo similar àquele que ocorrera na França (que continuará sendo a principal influência para os historiadores brasileiros41), a História Política pré-científica se confunde com a História no Brasil. Com efeito, como escreve Rodrigues, “no Brasil, a história política foi também dominante até os princípios deste século”. Acrescenta, porém, que, “antes da história política, da organização política do Estado e das instituições políticas brasileiras, tivemos biografia das personagens políticas ou história doméstica dos heróis” (Rodrigues, 1978, p. 153-54)42. Até o surgimento do movimento de interdisciplinaridade que varreu as universidades do mundo nos anos 70 e 80 (Klein, 2001; Gomes, 1996. p. 24), a História conhecerá (e de certa forma continuará conhecendo) a forte influência da Escola dos Anais e do Marxismo43. Com essas duas escolas, a política será posta de lado, e as preocupações dos historiadores estarão voltadas para grandes processos sociais, econômicos e culturais no Brasil. O retorno e a afirmação da História Política dar-seá com a crítica à antiga História Política, associada à história oficial, durante a Ditadura Militar. Nas palavras de Borges, “a crítica à história política (...) deita raízes em suas inextrincáveis relações com o poder; entre nós, foi sobretudo a partir dos anos sessenta – por quê não lembrar os difíceis marcos de 1964 e 1968?” (Borges, 1991, p. 11). Uma conjuntura singular permitirá o retorno da História Política no Brasil e a sua inserção nas Ciências Sociais do país: a pós-graduação fomentada pela ditadura militar, a forte influência dos historiadores da 41 42 43 44 45 política franceses (Borges, 1991, p. 11; Gomes, 1996. p. 24) e a presença cada vez mais marcantes dos historiadores brazilianistas, com seus bem documentados trabalhos sobre a história moderna e recente do país44. Não houve, neste caso, uma forte influência de instituições internacionais (como a Ford ou a Unesco) na institucionalização da História Política no Brasil. Vale ressaltar, entretanto, que também muito importantes foram as revistas européias e norte-americanas e das associações internacionais na institucionalização do campo da História no Brasil. Diferentemente da Ciência Política, a História Política terá características menos internacionais. 4. Especialização e interdisciplinaridade na ciência política e na história política no Brasil Especialização e interdisciplinaridade são duas práticas científicas que têm acompanhado a história das Ciências Sociais. Com efeito, do século XIX até hoje, observa-se um movimento pendular entre a especialização e a interdisciplinaridade – e, eventualmente, a fragmentação, com o surgimento de um novo campo científico45. Enquanto práticas científicas, a especialização e a interdisciplinaridade se confundem com a própria institucionalização das duas áreas de conhecimento no Brasil. 4.1. ESPECIALIZAÇÃO DA CIÊNCIA POLÍTICA A Ciência Política brasileira é muito recente. Grosso modo, tem escolhido a trajetória da especialização Embora Borges (1991, p. 16) escreva que “não penso a nossa historiografia como um reflexo da européia”, especialmente francesa, esse seu artigo não é senão uma afirmação disso. É de notar que Rodrigues, escrevendo em 1978, dedicou apenas duas páginas sobre a história política no Brasil. Em relação ao Marxismo, Borges escreve que o diálogo com os historiadores brasileiros começou nos anos 1930 e, nos anos 1970 e 1980, esse diálogo foi ainda mais importante (Borges, 1991, p. 11). A propósito dos brazilianistas, consultar Veja. A história do Brasil – O passado do país está sendo escrito em inglês. São Paulo, abril 168, 1971. Dentre os historiadores brazilianistas, consultar Skidmore, Dulles, Love, etc. Como foi dito acima, este trabalho se apoia nas ideias de Dogan, para quem, seguindo a Polsby, a história da Ciência Política é aquela da especialização, da fragmentação e da hibridização. Nesta trabalho, adota-se, entretanto, em lugar de hibridização, o conceito de interdisciplinaridade, mais corrente na literatura dos cientistas políticos e dos historiadores. Para Dogan, entretanto, “a palavra ‘interdisciplinaridade’ parece inadequada” (Dogan, 1998, p. 99). Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil como estratégia de afirmação institucional. Com efeito, de sua emergência até hoje, a Ciência Política – sendo esta uma diferenciação da Sociologia, dentro de sua especialização, tem trilhado o caminho da interdisciplinaridade. Não tendo nem meio século de existência, a Ciência Política brasileira tem recebido – e desenvolvido – o legado dessa tradição de interdisciplinaridade dos países produtores de teorias e métodos em Ciência Política – notadamente dos Estados Unidos. Concretamente, isso significa a reprodução dos ‘paradigmas’ mencionados acima – afora influências do funcionalismo, da análise sistêmica e do marxismo. Além disso, a interdisciplinaridade pode ser observada na análise do único currículo de graduação em Ciência Política do Brasil – em termos de universidade pública. Este é o caso da graduação da UNB, da qual constam as mais diversas disciplinas como demografia, estatística etc46. Na ausência de outras graduações em Ciência Política, é desnecessário dizer que as graduações em Ciências Sociais possuem currículos generalistas – e que é grande a distância que entre um curso de Ciência Política e um de Ciências Sociais e como é bem pequeno o espaço da política nesses cursos47. Em nível de pós-graduação, só existem seis programas de Ciência Política e nível de doutorado48. No entanto, em certos casos, a interdisciplinaridade tem sido usada como forma de ensino da Ciência Política, ao lado geralmente da Sociologia49. A despeito disso, como já foi dito acima, a especialização tem sido a trajetória escolhida pelos cientistas políticos. Segundo Reis (1999, p., 11), existe ainda uma certa dependência em relação à Sociologia. A 46 47 48 49 25 quantidade de sua produção tem sido considerada razoável. Em relação à História Política, pouco ou nenhum intercâmbio tem sido observado da parte dos cientistas políticos. A aproximação tem sido dos historiadores em relação aos cientistas políticos. Aparentemente são dois campos que não têm contato entre si. Os historiadores estão ausentes da Anpocs e da ABCP, como os cientistas políticos estão ausentes da Anpuh. Isso reflete uma certa rigidez institucional entre os campos dos cientistas políticos e o dos historiadores da política. A única aproximação em relação à História tem a ver com a tendência da produção dos cientistas políticos em adotar o enfoque “histórico” (Reis et al., 1997, p. 8) ou, nas palavras de Vianna, “o recurso à história [é] predominante nas teses de ciência política” (Vianna 1998, p. 483). A que se deve isso? A ausência de um acúmulo de trabalhos de História Política, antes do boom que será analisado em seguida – esta é provavelmente a resposta para aquela pergunta. 4.2. INTERDISCIPLINARIDADE DA HISTÓRIA POLÍTICA Foi dito anteriormente que a História Política é uma área da disciplina que é a História. Com efeito, trata-se de uma área e não da totalidade de um campo científico, como o da Ciência Política. Portanto, a questão da especialização e da interdisciplinaridade, pela sua pouca abrangência, colocam-se de forma diferente. Também foi dito antes que a História, como saber, nasce como História Política, no sentido de que aos primeiros historiadores interessava destacar os grandes eventos, os grandes políticos etc. É com a Escola dos Anais e com o Marxismo, duas disciplinas com pretensão a um conhecimento total da realidade do Cf. o documento O Bacharelado em Ciência Política na UNB. Consultar a este respeito qualquer currículo de graduação em Ciências Sociais do país. São respectivamente: UFRGS, USP, UFPE, IUPERJ, UNB, PUC-RJ. Este parece ser o caso do programa de pós-graduação em Sociologia e Política da Universidade Federal de Santa Catarina. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 26 Afonso Nascimento passado, que a História adentra o campo das ciências sociais. O retorno da História Política, que acontece desde os anos 1980 até hoje no Brasil, dá-se sob a égide da interdisciplinaridade que alcança o conjunto da História. Trata-se, portanto, de uma especialização dentro de uma disciplina e não de uma especialização de uma disciplina – como é o caso da Ciência Política. No que concerne à História Política, os historiadores não chegam ao ponto de um ruptura com o campo da História. Permanecem parte dele. Esse conhecimento produzido pela História Política é,entretanto, interdisciplinar (D’Alession e Janotti, 1996). Com efeito, os historiadores da História Política, tanto na França como no Brasil, fazem empréstimos de teorias, conceitos e métodos de diversos campos das Ciências Sociais – inclusive da Ciência Política. É neste sentido que se pode dizer que, como parte da História, a História Política opta pelo movimento da interdisciplinaridade como forma de existência. É enquanto tal que a ANPUH cria, por exemplo, grupos de trabalho especializados em História Política. Todavia, esse movimento interdisciplinar da História Política não ocorre sem contestação no interior do campo da História. De fato, para alguns historiadores, a interdisciplinaridade coloca o grave problema do espaço científico dos historiadores – já que não fariam nem História nem Ciência Política. A produção dos historiadores da política foi avaliada por vários historiadores (D’Alession e Janotti, 1996; Lapa, 1982). Ela guarda em comum a Ciência Política a idéia do poder como objeto da análise política – sem contudo a especialização por áreas dos cientistas políticos. Neste sentido, qualquer trabalho que envolva o problema do poder tem sido considerado parte História Política (D’Alession e Janotti, 1996). Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 V. Conclusão À guisa de conclusão, é intenção do autor deste trabalho retomar alguns pontos centrais desta argumentação e discutir um pouco a relação entre as duas áreas de conhecimento científico da política no Brasil. Vistos em conjunto, os dois processos de institucionalização e suas práticas científicas fazem parte de um movimento mais amplo que é o da construção e alargamento das Ciências Sociais no Brasil, respectivamente em relação à Ciência Política e a História Política. Nos dois casos, nota-se a importância do legado do passado de cada área na determinação do que são hoje. No que concerne à Ciência Política, é de destacar a a influência decisiva da Ciência Política norte-americana, tanto em termos de teorias e métodos, como em termos de fomento institucional da parte da Fundação Ford. No caso da História Política, a influência decisiva e da Historiografia francesa e do Estado brasileiro – papel estatal igualmente presente quanto à Ciência Política. Duas trajetórias diferentes parecem ter sido escolhidas pelas duas comunidades científicas. Enquanto a Ciência Política caminha na trilha da especialização (como estratégia de consolidação institucional), a História Política adota a perspectiva da interdisciplinaridade. Entretanto, entre os dois saberes sobre a política no Brasil parece não haver intercâmbio. Com efeito, são dois saberes que, embora partilhando um objeto comum, possuem fronteiras institucionais bem delimitadas. Do lado da Ciência Política, pelo menos a curto prazo, não há chances de serem criadas graduações em Ciência Política nas universidades públicas – com o objetivo de inverter o padrão de dependência herdade em relação a Sociologia –, dada a forte presença dos cursos de Direito e de Administração como forne- A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil cedores de quadros para a burocracia estatal. O que escreveu Wallerstein a respeito do caráter tardio da Ciência Política devido à “resistência oferecida pelas faculdades de Direito quanto a ceder o monopólio que detinham nessa área” (Wallerstein, 1996, p. 36), parece ser um padrão sem chances de mudança em horizonte próximo50. Quanto aos historiadores da política, eles estão institucionalmente bem estabelecidos – embora problemas de identidade da disciplina sejam apontados pelos historiadores brasileiros51. A inserção da História Política no campo das Ciências Sociais parece ser um movimento sem retorno – a despeito da rigidez institucional e do conflito interno (acima menciona- 50 51 27 do) entre os historiadores sobre tratar-se a História uma ciência ou uma filosofia. Entretanto, há espaço para um diálogo entre a Ciência Política e a História Política. Com efeito, são dois saberes que reivindicam um interesse comum por cultura política, partilham alguns precursores comuns e têm uma concepção comum e alargada da política. Não bastassem esses pontos, hoje o neo-institucionalismo histórico – essa corrente institucionalista que combina história e política – poderia ser essa fonte de diálogo, que poderia interessar estrategicamente as duas comunidades científicas e, ao que parece, não tem merecido a devida atenção dos historiadores e dos cientistas políticos brasileiros. Apesar disso, de acordo com o INFOCAPES (Pós-Graduação: Enfrentando Novos Desafios.), vol. 9, nos. 2-3, 2001, p. 185, na parte referente à Ciência Política, há uma interessante proposta de “suprir uma demanda reprimida em busca de Escolas de Governo, nos moldes das existentes nos Estados Unidos da América, voltadas para a formação profissional e acadêmica de especialistas e pesquisadores engajados na esfera pública”. Iglesias alerta para “os eventuais perigos de uma perda de identidade da natureza da História pelo uso às vezes indevido e possível abuso dessas outras ciências”. IGLESIAS, Francisco. A Historiografia brasileira atual e a interdisciplinaridade. In Revista Brasileira de História, São Paulo, 3(5): mar. 1983, p. 130. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 28 Afonso Nascimento REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS ALMOND, Gabriel A. Political Science: The History of the Discipline. In: New Handbook of Political Science. (Eds. Robert E. Goodin e Hans-Dieter Klingeman). Oxford: Oxford University Press, 1998. ANÁLISE DA ÁREA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA. Brasília: Capes/MEC, Brasília s.d. AZEVEDO, Fernando de (org.). As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, vol. 2, 1994. BERGER, Peter e T. Luckmann. A construção social da realidade. Tratado de sociologia do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 17ª ed., 1999. BOGDANOR, Vernon (ed.). The Blackwell Encyclopaedia of Political Science. Cambridge: Blackwell Publishers, 1991. BOGUE, Allan et al. The new political history. American Behavioral Scientist, no. 221, nov/dec, 1977. BORGES, Vavy Pacheco. História e política: laços permanentes. Revista Brasileira de História, vol. 11, nº 23-24, set. 1991/ ago. 1992. BORGES, Vavy Pacheco. História Política: Totalidade e Imaginário. Estudos Históricos, 1996, no. 17. BRAUD, Philippe. La Science Politique. Paris: PUF, 1982. BUNGE, Mário. La ciencia, su metodo y su filosofia. Buenos Aires: Sigloveinte, 1974. CAPELATO, Maria Helena Rolim. História Política. In Estudo Históricos, 1996-17. CLUBB, Jerome. L’histoire en tant que science sociale. In Revue Internacionale dês Sciences Sociales. Paris: Unesco, vol. XXXIII (1981), no. 4. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 CUNHA, Luiz Antônio. A universidade temporã. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986. D. Peschanski; M. Pollack; H. Rousso (org.). Histoire politique et sciences sociales. In: Les cahiers de L’HTP, nº 18, 1991. D’ALESSIO, Márcia M. e JANOTTI, Maria de Lourdes. A esfera do político na produção acadêmica dos programas de pós-graduação (1985-1994). In Estudos Históricos, 1996, no. 17. DÉLOYE, Yves. Sociologie historique du politique. Paris: Seuil, 1997. DOGAN, Mattei e Robert Pahre. Creative marginality: innovation at the intersections of Social Sciences Boulder: Westview Press, 1990. DOGAN, Mattei. Las nuevas ciências sociales: grietas en las murallas de las disciplinas. Revue Internationale des Sciences Sociales, no 153, 1997. DOGAN, Mattei. Political Science and the Other Social Sciences. In New Handbook of Political Science. (Eds. Robert E. Goodin e Hans-Dieter Klingemann). Oxford, Oxford University Press, 1998. FAVRE, Pierre. Histoire de la science politique. In Traité de science politique (M. Grawitz e J. Leca, eds.) Paris: PUF, vol. 1, 1985. FICO, Carlos e Ronaldo Polito. A história no Brasil. 1980-1989. Elementos para uma avaliação historiográfica. Ouro Preto: UFOP, 1992. FOUREZ, Gerard. A construção das ciências. São Paulo, Ed. UNESCO, 1995. FRIGOTO, Gaudêncio. A interdisciplinaridade como necessidade e como problema nas ciências sociais. In A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil Interdisciplinaridade: para além da filosofia do sujeito. (Ari P. Jantsch e Lucídio Bianchetti, orgs.). Petrópolis, Vozes, 1995. GOMES, Ângela de Castro. Política: história, ciência, cultura etc. In Estudos Históricos, 17, 1996. GOODIN, Robert E. The Theory of Institutional Design. Cambridge: Cambridge University Press, 1996 GOUVEIA, Maria e Fátima S. A História Política no campo da História Cultural. Revista de História Regional, vol. 3, no. 1, 1998. HALL, Peter A. e Rosemary C. R. Taylor. The potential of Historical Institutionalism: a response to Hay and Wincott. Political Studies, 1998, XLVI. HALL, Peter A. e Rosemary C. R. Taylor. Political Science the Three New Institutionalism. Political Studies, 1996, XLVI. HAY, Colin e Daniel Wincott. Structure, Agency and Historical Institutionalism. Political Studies, 1998, XLVI. 29 JENSEN, Richard J. Historiography of American Political History. In Encyclopaedia of American Political History (Jack Greene, ed.) New York: Scribner’s, 1984. JESSOP, Bob. The capitalist State. New York: New University Press, 1982. JULLIARD, Jacques. A política. In Fazer História. Duas Novas contribuições. Amadora: Livraria Bertrand, 1981. JULLIARD, Jacques. La politique. In LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre. Faire de l’histoire, vol. 2. Paris, Gallimard, 1974. KANTOR, Íris, Débora A. Maciel e Júlio Assis Simões (Orgs.). A Escola Livre de Sociologia e Política. Anos de Formação. 1933-1953. São Paulo: Escuta, 2001. KAVANGH, D. Why Political Science needs History?. In Political Studies, 1991. KLEIN, Julie T. Interdisciplinarity: History, Theory and Practice. Detroit: Wayne State University Press, 2001. HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2000. KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1996. HOBSBAWN, Eric J. La contribution de l’histoire aux sciences sociales. Revue Internationale des Sciences Sociales. Paris: Unesco, vol. XXXIII (981), no. 4. LACOMBE, Américo Jacobina. Introdução ao estudo da história do Brasil. São Paulo: Ed. Nacional/EDUSP, 1973. HOMANS, George. The nature of social science. New York: Harcourt, Brace and World, 1967. LAMOUNIER, Bolívar e Fernando H. Cardoso. A Bibliografia de Ciência Política sobre o Brasil (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, no. 18, 1978. HUGHES-WARRINGTON, Marnie. 50 grandes pensadores da História. São Paulo: Contexto, 2002. IGLESIAS, Francisco. A historiografia brasileira atual e a interdisciplinaridade. Revista Brasileira de História, São Paulo, 3 (5): mar. 1983. IGLESIAS, Francisco. Historiadores do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte, Ed. UFMG, 1999. LAMOUNIER, Bolívar. A Ciência Política no Brasil: Roteiro para um balanço crítico. In A Ciência Política nos Anos 80. (Org. Bolívar Lamounier). Brasília: Ed. UNB, 1982. LAPA, José Roberto do Amaral. Tendências atuais da historiografia brasileira. Revista Brasileira de História, São Paulo, 2 (4): 153-172, set. 1982. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 30 Afonso Nascimento LASLETT, P. History and Social Science. In International Encyclopaedia of the Social Sciences. Macmillan Free Press, 1968. PETERS, B. Guy. Institutionalism, old and new. In A new handbook of Political Science. Oxford: Oxford University Press, 1996. LIMONGI, Fernando. A Escola Livre de Sociologia e Política em São Paulo. In História das Ciências Sociais no Brasil, vol. 1, Sérgio Miceli (org.). São Paulo: Vértice, Ed. Revista dos Tribunais, Idesp, 1989. REMOND, René. Pour une histoire politique. Paris: Seuil, 1988. MADURO, Lídice A. P. O ensino e a pesquisa em Ciência Política no Brasil. Revista de Ciência Política, no. 22, no. 1, 1979. MARSZELEK, John F. et al. American Political History: Essays on the State of the Discipline. University of Notre Dame Press, 1997. MICELI, Sérgio. O cenário institucional das Ciências Sociais no Brasil. In História das Ciências Sociais no Brasil, vol. 2, Sérgio Miceli (org.). São Paulo: Sumaré/ Fapesp, 1995. MICELI, Sérgio (org.). O que ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995). Ciência Política (volume III). São Paulo: Sumaré: ANPOCS; Brasília: Capes, 1999. MICELI, Sérgio. A Fundação Ford e os cientistas sociais no Brasil, 1962-1992. In História das Ciências Sociais no Brasil, vol. 2, Sérgio Miceli (org.). São Paulo: Sumaré/Fapesp, 1995. MICELI, Sérgio. Por uma sociologia das ciências sociais. In História das Ciências Sociais no Brasil, vol. 1, Sérgio Miceli (org.). São Paulo: Vértice, Ed. Revista dos Tribunais, Idesp, 1989. REIS, Elisa Pereira, REIS, Fábio Wanderley e VELHO, Gilberto. As ciências sociais nos últimos 20 anos: três perspectivas, Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 12, no. 35. 1997, p. 10. REIS, José Carlos. A História entre a Filosofia e a Ciência. São Paulo: 2ª Ed., Ática, 1999. RÉMOND, René. Por que história política. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 7, n. 13, 1994. RÉMOND, René. Pour une histoire politique, Paris: Seuil, 1988. REVEL, J. Histoire et sciences sociales: une confrontation instable. In BOUTIER, J. e JULIA, D. (orgs.), Passés recomposes. Champs et chantiers de l’histoire, Paris, Ed. Autrement, 1995. RITZER, George. Modern Sociological Theory. New York: McGraw-Hill, 1996. ROBSON, William A. La enseñanza universitária de las ciencias sociales: ciencia política. Washington: Unión Panamericana/OEA, 1961. RODRIGUES, José Honório. Teoria da História do Brasil. Introdução Metodológica. São Paulo: Ed. Nacional, 1978. NASCIMENTO, Afonso. A formação do Estado. Uma crítica à concepção jurídica do Estado. Florianópolis: dissertação de mestrado/UFSC, 1981 ROSANVALLON, Pierre. Por uma história conceitual do político (nota de trabalho). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 15, n. 30, 1995. NASCIMENTO, Carlos A. R. do. Monismo e pluralismo epistemológico. In O uno e o múltiplo nas relações entre as áreas do saber. (Martinelli, Maria Lucia Rodrigues On e Salma Tannus Muchail, orgs.) São Paulo: Cortez, 2ª ed., 1998. SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1999. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008 SCHWARTZENBERG, Roger-Gérard. Sociologie Politique. Paris: Editions Montchrestein, 1977 A Política entre a Ciência Política e a História Política no Brasil SCHWARTZMAN, Simon. Avaliação e perspectivas da área de Ciência Política. Brasília, abril, 1977. Relatório preparado pelo Comitê Assessor em Ciências Sociais do CNPq. Disponível em:http:// www.schwartzman.org.br/simon/cpolitica.htm Acesso em 03.12.2007. SCHWARTZMAN, Simon. O IUPERJ e as Ciências Sociais no Brasil. Nova Friburgo, dezembro de 1981. Texto preparado para discussão no Seminário de Avaliação Interna do IUPERJ. Disponível em http:// www.schwartzma.org.br/simon/iuperj.htm Acesso em 03.12.2007. SILVA, Helenice Rodrigues da Silva. Novas tendências na historiografia francesa nos anos 80. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 6, n. 12, mar./ago. 1986. SILVA, Marcos A. da. Notícias do brasilianismo. Saudades da historiografia brasileira. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 16, n. 31 e 32, 1996. SKOCPOL, Theda. Bringing the State back in: strategies o analysis in current research. In (Peter Evans, Dietrich Rueschmeyer e Theda Skocpol). Bringing the State back in. Cambridge: Cambridge University Press, 1985. SOUSA, Carlos E. D. de. Contribuição a uma Sociologia da Ciência Política no Brasil. Brasília: Departamento de Ciências Sociais da UNB, dissertação de mestrado, 1973. 31 SOUSA, Edson Machado de. Crises e desafios. Ensino superior no Brasil. Fortaleza: Ed. UFC, 1980. STONE, Lawrence. History and the social sciences in the twentieth century. In Charles F. Delzel (Ed.) The future of history: essays in the Vanderbilt University Centennial Symposium. Nashville: Vanderbilt University Press, 1977. STRAYER, Joseph. Les origines médievales de l’État moderne. Paris: Payot, 1979. VIANNA, Luiz Werneck et al. Cientistas sociais e vida pública: o estudante de graduação em Ciências Sociais. Dados. Revista de Ciências Sociais. Vol. 37, no. 3, 1994. VIANNA, Luiz Werneck et al. Doutores e teses em Ciências Sociais. Dados. Revista de Ciências Sociais. Vol. 41, no. 3, 1998. VIRIEUX-REYMOND, A. Introduction l’épistémologie. Paris: PUF, 1972. à WALLERSTEIN, Immanuel. Para abrir as Ciências Sociais. (Comisão Gulbenkian para a Reestruturação das Ciências Sociais). São Paulo: Cortez Editora, 1996. WHITE, Hayden. The question of narrative in contemporary historical theory. In History and theory, vol. 23, n. 1, 1984. Revista da Fapese, v.4, n. 1, p. 15-32, jan./jun. 2008