O SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES Pr. Edrei Daniel Vieira “Vós, porém, sois raça eleita, SACERDÓCIO REAL, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (I Pe.2:9) 1 A PRIMEIRA EPÍSTOLA DO APÓSTOLO PEDRO 1.1 Pano de fundo. • A primeira carta de Pedro se dirige a uma comunidade pequena e que atravessava perseguições (1,6; 3:13-17; 4:12). • Por causa de seus valores e estilo de vida, a igreja estava “por fora” do padrão da sociedade dominante (4:3-4) e consequentemente, eram ridicularizados. • Alguns sofriam mais, pois eram mais envolvidos com a sociedade em geral. • Portanto, os cristãos eram uma minoria em um ambiente grande e hostil e por causa de sua conduta não conformista, eram “estranhos” na sua própria terra. • “ESTRANHOS E ENVOLVIDOS”. 1.2 O Ensino Teológico. • Mesmo diante das constatações anteriores, a carta demonstra uma atitude de PARTICIPAÇÃO do crente em relação ao mundo pagão ao seu redor e não uma atitude de ISOLAMENTO. • Desde o início, a carta enfatiza que o cristão é “escolhido” por Deus e “consagrado” (1:1-7) Pedro lembra que a igreja é “povo de Deus” (2:10), “eleito” (1:2), “chamado” (1:15). • Nesta carta, a comunidade cristã não deve se separar do mundo e nem condená-lo, mas ela deve oferecer um testemunho vivo da Esperança que levará o mundo a dar glória a Deus. • UMA MISSÃO DE “PARTICIPAÇÃO E NÃO ISOLAMENTO” 1.3 A ética pessoal e social • Os princípios básicos desta missão de testemunho se concentram nas conseqüências práticas desta identidade (1:1-2:10) e os princípios são dois: Pureza Moral e Envolvimento na Sociedade. A) Pureza Moral: • O primeiro princípio é que o cristão não deve se render aos assédios carnais que podem destruir o espírito humano (2:11). • A recusa em aceitar os padrões dominantes da sociedade provoca desconfiança e até hostilidade (4:4) e, para isto, o cristão deve permanecer sóbrio e vigilante, resistindo às seduções do mal (5:8-9). B) Envolvimento na Sociedade: • Apesar da ameaça da sociedade em geral, a comunidade deve se envolver ativamente na sociedade e dar-lhe testemunho de boas obras (2:12-14). • Por causa da sua boa conduta, a igreja sofre o afastamento da sociedade, e este sofrimento tem um impacto missionário e uma penetração evangelística na sociedade (2:12, 15; 3:14-16). • O testemunho e a integridade falam profeticamente ao mundo, na qual a igreja vive, participa e serve. • Exemplos: os escravos domésticos e as esposas crentes de maridos descrentes. • 1º Os escravos (2:18-25) são exortados a serem “submissos” aos seus senhores, isto é, continuar na sua posição na sociedade, pois é nesta posição que o testemunho de suas vidas é visto. • 2ª As esposas crentes (3:1). Na sociedade romana, a mulher adotava a religião do marido. Neste caso, a esposa resistia corajosamente à vontade do marido de assumir a religião dele e continuava no seu papel de esposa e cristã comprometida, sem confrontar seu marido, mas certa de ganhá-lo sem palavra alguma (3:1). • Ambos participavam da vida social, não fugiam de suas responsabilidades, sofriam com essas contradições, mas levavam uma vida de integridade (3:9) e de testemunho comportamental e verbal de sua fé. 1.4 O Testemunho Verbal. • O testemunho que Pedro exorta a comunidade cristã a dar é de boa conduta, de boas obras e também o testemunho verbal, que ocorre com a proclamação humana da Palavra. • a geração eleita, sacerdócio real, nação santa, o povo adquirido “PROCLAMA” as virtudes, as características dAquele que deu-lhes uma nova identidade. • A proclamação da igreja chama a atenção do mundo para a ação salvífica de Deus, realizada em Jesus é evidenciada na vida de cada crente (2:9-10). • Ele é chamado a dar razão da esperança que ele possui. • O crente que demonstra a sua fé despertará nas pessoas o desejo de conhecer o Senhor desta fé, e assim: O CRENTE PROCLAMA, O CRENTE EVANGELIZA, O CRENTE ENSINA, O CRENTE DISCIPULA E O ESPÍRITO SANTO REVELA CRISTO E A VIDA DA PESSOA É TRANSFORMADA (1: 11-12) e “ALCANÇA O FIM DE VOSSA FÉ, A SALVAÇÃO DAS ALMAS”. Por fim: • Mesmo diante da sociedade pagã, que não entende as atitudes do cristão e se chateia pela recusa destes de assumir seus valores, a igreja deve ser tanto firme na sua boa conduta, quanto também participar nas instituições da sociedade, a fim de testemunhar e levar os gentios a glorificarem a Deus, pela Revelação de Jesus Cristo, através da ação poderosa do Espírito Santo. 2 O SACERDÓCIO REAL. • De acordo com Von Allmen (1975: 379): “os sacerdotes tinham por missão regulamentar os sacrifícios e dar respostas a quem vinha consultar a Deus ...os sacerdotes desempenhavam a missão do culto oficial, isto é, do conjunto de orações e de gestos simbólicos que visavam conservar a santidade do povo”. • No Antigo Testamento, dupla era a função dos sacerdotes: oferecer sacrifícios pelos pecados dos indivíduos e da nação, conforme as determinações da Lei, e interceder pelos pecadores diante de Deus, com base no sacrifício vicário que ofereceram. • Em Jesus ocorre o Sacrifício Perpétuo. Não experimentou a necessidade de oferecer cada dia sacrifícios pelos próprios pecados, mas foi totalmente devotado aos outros e não ofereceu outra vítima mais que a si mesmo (Heb. 7:24-28). Cristo morreu sobre a cruz “uma vez por todas” (Hb. 9:25-28; 10:10-14) estendendo o benefício da sua morte a todos os homens (Hb. 2:9). Deste modo no Novo Testamento, o conceito de Sacerdócio tem dois aspectos: • Jesus Cristo é o grande Sumo Sacerdote: todas as funções sacerdotais da antiga aliança concentram-se nEle e são por Ele transformadas; • Todos os crentes em Cristo, tornam-se sacerdotes: em Cristo, nos vemos livres de qualquer necessidade de sacrificar. Liberdade que nos permite viver no louvor e na ação de graças que convém aos filhos de Deus, inteiramente voltados ao SERVIÇO DO TESTEMUNHO e da gratidão (Hb. 13:15). • É nessa perspectiva que devemos ler os diversos textos que nos falam deste novo sacerdócio. • Fomos tornados templos do Deus Vivo (II Cor. 6:16), casa espiritual (I Pe. 2:5), tornados: REIS E SACERDOTES (Ex. 19:6; I Pe. 2:9; Ap. 1:6; 5:10; 20:6; 21:22) não para sacrificar, mas resgatados do meio da humanidade para o serviço de Deus e para DAR TESTEMUNHO DIANTE DO MUNDO E PELA PREGAÇÃO PROCLAMAR A MEDIAÇÃO E O SENHORIO DE JESUS. 3 O MINISTÉRIO DA IGREJA E O SACERDÓCIO UNIVERSAL • Todo o “Ministério da Igreja” é chamado a testemunhar explicitamente o que Jesus Cristo revela ser, através das Escrituras. • Para tanto, ela tem ministérios e na igreja neotestamentária não havia distinção entre os membros da igreja e os sacerdotes ou clérigos. A distinção foi feita pela primeira vez em 95 d.C. por Clemente de Roma, que aplicava aos crentes a palavra laikos (povo). • Nesse sentido, todos os crentes são laikos (leigos) são povo de Deus. • Deste modo, o ministério refere-se ao que toda a Igreja, leiga e ordenada, faz dentro do contexto do ministério do próprio Deus, são faces de uma mesma missão. • POVO DE DEUS É UM POVO 100% MISSIONÁRIO. • Sem anular o ministério de todo o povo, o ministério ordenado (pastores, presbíteros, diáconos, evangelistas e etc...) desempenha um papel específico dentro do ministério da Igreja. Esse papel específico consiste em assegurar que a Igreja não se esqueça quem ela é e qual o seu propósito e sua missão no mundo. E o faz: ensinando, pregando, ministrando os sacramentos, governando, cuidando das pessoas e fortalecendo-as na fé para que possam participar do ministério da Igreja. • De acordo com BRAATEN (1995:233): “O ministério ordenado tem a tarefa de falar aos membros da Igreja sobre o ministério deles e também de praticar esse ministério entre e com eles... E capacitá-los a executarem o ministério de Deus no mundo”. • Ao pregar o “SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES”, Martinho Lutero acreditava que todo crente é um sacerdote. Entretanto, a ênfase do reformador estava no sentido comunitário deste sacerdócio. De acordo com o Novo Testamento, todo crente é um ministro (diákonos) de Deus e a serviço da comunidade. • O conceito de sacerdócio universal de todos os crentes afirma a necessidade do ministério ordenado, ao mesmo tempo em que coloca este ministério em um relacionamento adequado com os ministérios não-ordenados e que qualquer sacerdócio que exista pertence a todos os crentes e funciona em favor deles. • Portanto, SACERDÓCIO UNIVERSAL DE TODOS OS CRENTES – NÃO É SACERDÓCIO INDIVIDUAL DE TODO CRENTE, mas o meu sacerdócio só se cumpre na medida em que é desempenhado em favor de todo o povo de Deus e é nesse sentido que deve ser desenvolvida A MISSÃO DE TODA A IGREJA. 4 A MISSÃO DA IGREJA • Em II Cor. 5:18 encontramos duas verdades centrais que caminham juntas: • 1ª - O Deus que conhecemos age para nos redimir e nos salvar; • 2ª - Ele resolve criar um povo para realizar a sua obra. • Assim, a Igreja é parte integrante do plano e da obra de redenção. Ela não existe para si mesma, ela tem uma função: o cumprimento do propósito de Deus no mundo tal como foi expresso em Jesus Cristo. • A nossa missão como igreja é uma só: dar testemunho da ação reconciliadora de Deus e tornar real aos seres humanos a redenção e ser instrumento através do qual ela se realiza. • Para isso, no Novo Testamento a Igreja tem fundamentalmente três funções, as quais são tentativas de expressar o modo pelo qual a igreja cumpre o seu ministério e realiza a sua missão, a saber: • 1ª A FUNÇÃO KERIGMÁTICA DA IGREJA ou A PROCLAMAÇÃO DAS BOAS NOVAS; • 2ª A FUNÇÃO DIACONAL DA IGREJA ou A RESPONSABILIDADE DA IGREJA; • 3ª A FUNÇÃO KOINONÍACA DA IGREJA ou A VIDA DE TESTEMUNHO. • 4.1 A Função Kerigmática da Igreja ou a Proclamação das Boas Novas • A palavra “Kérigma” significa “mensagem”. Logo, a Igreja é chamada para proclamar uma mensagem: proclamar as “boas novas” proclamar o Evangelho. Sua mensagem consiste na proclamação ao mundo daquilo que Deus tem feito pelo ser humano em Jesus Cristo. • A mensagem que ela proclama é uma mensagem de libertação, de chamamento ao arrependimento e de que Deus derrotou as “potestades e poderes” através de Jesus Cristo e reconciliou o ser humano com Deus. • Quando lemos o Novo Testamento a mensagem é clara: Cristo veio ao mundo para destruir os trabalhos/obras de Satanás (I João 3:8). • Todo o seu ministério foi uma deliberada e corajosa ofensiva contra todos os poderes que escravizavam o ser humano. Foi assim até a Cruz. • A Boa Nova é a libertação que Cristo nos trouxe. A batalha foi travada e vencida na cruz. Assim, a função da Igreja é anunciar as boas novas, a chegada de um novo Reino e uma nova possibilidade de vida. • Deus reina enviando a igreja ao mundo para evangelizar. Essa é a missão. Ela é anterior á Igreja, pois a Igreja como corpo, organiza-se e inclusive, institucionaliza-se a serviço da missão, para poder cumprir com a missão. • A missão não é uma atividade entre outras: É A FINALIDADE DA IGREJA - O MODO DE SER DA IGREJA NO MUNDO. 4.2 A Função Diaconal da Igreja ou a Responsabilidade da Igreja; • A Igreja não apenas prega a Palavra de Libertação, mas também tem de juntar-se a Cristo em sua obra de libertação do ser humano. Isto é “diaconia” ou “serviço”. • A Igreja não se limita à proclamação da chegada de um novo Reino, ela também tem a função de administrar os benefícios desse Reino. Essa função “diaconal” está patente no ministério de Jesus quando ele proclama: Lucas 4:18-19. • A diaconia se refere ao ato de curar e reconciliar, de tratar das feridas e restaurar a saúde do organismo. Ex: A parábola do Bom Samaritano. • A diaconia não se refere, como se pode pensar à primeira vista, só ao serviço social. Mas, sobretudo que, toda a vida do cristão e a vida de toda comunidade cristã é uma vida de serviço e participação da sociedade. Seja qual for o caso, a tarefa da Igreja é a de ser o DIACONOS do mundo, a serva que se submete e se entrega à luta pela libertação, saúde e integridade do ser humano e do mundo. • Diaconia é serviço, é cura; e é serviço ao ser humano total. • Proclamação sem Diaconia é palavreado vazio. Diaconia sem proclamação não faz sentido. JESUS CRISTO EVANGELIZAVA CURANDO E CURAVA EVANGELIZANDO. 4.3 A Função Koinoníaca da Igreja ou a Vida de Testemunho. • A palavra “koinonia” é geralmente traduzida por “comunhão”. Harvey Cox escreve que KOINONIA é: “o aspecto da responsabilidade da igreja que exige uma demonstração visível daquilo que a Igreja está dizendo no KÉRIGMA (PROCLAMAÇÃO) e apontando na sua DIACONIA (SERVIÇO)”. • Em outras palavras, a igreja tem que ser o retrato vivo, a expressão concreta e real daquilo que ela prega e procura realizar e cumprir no mundo. • Ela é o lugar onde a esperança já se tornou realidade, onde o futuro já assumiu uma forma concreta no presente. A igreja então, é aquela porção do mundo que vive aqui e agora o novo Reino e organiza a sua vida de acordo com os padrões e o estilo de vida do novo Reino. Assim como a comunidade de I Pedro. • Por fim, embora tratamos as diferentes funções da igreja em separado, o fizemos simplesmente por uma questão didática. Pois, estas três funções (KÉRIGMA, DIACONIA E KOINONIA) não podem ser separadas e nem significam três coisas distintas. • Elas refletem uma só realidade: o caráter total da obra redentora da igreja no desempenho de sua missão. A verdadeira igreja ocorre onde estas três funções ocorrem simultaneamente. • A nossa tarefa é descobrir como, em cada comunidade, a diversidade de KÉRIGMA, DIACONIA E KOINONIA, possa se expressar na totalidade e na prática de cada um de seus membros, do povo missionário. 5. UMA IGREJA PARA O MUNDO (João 17:15) • Através de toda a Bíblia nós notamos que a Igreja é a comunidade que Deus criou para uma missão. E relembrando, esse é o conceito de “povo de Deus” no Antigo Testamento (Gn.12:4; 18:18; Is.43:10; 42:6-8 e I Pe.2:9). • Assim não podemos pensar na obra missionária da igreja como sendo uma de suas muitas atividades, mas sim, como a sendo a sua RAZÃO DE SER. • Precisamos redescobrir o caráter INSTRUMENTAL da Igreja, isto é, a igreja não é um fim em si mesma, ela existe para um propósito, é um instrumento de Deus. • Uma pergunta surge então: TEM A IGREJA SIDO A MISSÃO ENCARNADA? • Infelizmente temos de responder que à semelhança de Israel ela também tem perdido de vista o propósito para o qual Deus o chamou, tem estado preocupada muito consigo mesma, tem se julgado superior e privilegiada e, por isso mesmo, está arriscada a perder a sua primogenitura. • Assim, todo esforço está sendo dirigido no sentido de se levar a igreja à recuperação do seu sentido vocacional e à redescoberta de sua missão no mundo. A igreja não existe para si mesma. Ela só tem sentido na medida em que está a serviço de Deus no mundo. • De acordo com um teólogo moderno nos acostumamos a ver: DEUS-IGREJA-MUNDO, mas a Bíblia nos desafia e pensa em termos de DEUS-MUNDO-IGREJA. • Deus está preocupado primeiramente com o mundo e não com a igreja. • Na sua ação Ele visa o mundo. O mundo é o objeto do seu amor e foi porque Ele amou o mundo é que Ele enviou o seu Filho e por amar o mundo é que Ele instituiu a sua Igreja. • Assim a Igreja tem que estar a serviço do seu propósito no mundo. Só assim ela tem sentido. Só assim ela é verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo. • Temos pensado na Igreja e no mundo como binômios irreconciliáveis, mas a missão nos leva a pensar na Igreja como serva e missionária no mundo (EVANGELIZANDO, SERVINDO E TESTEMUNHANDO). 5.1 O mundo é criado, sustentando e julgado por Deus. • O mundo é criação de Deus. O mundo lhe pertence. Ana, no seu cântico declara que “do Senhor são os alicerces da terra e assentou sobre eles o mundo” (I Sm. 2:8). O mundo tem sua fonte de vida em Deus e é pelo fato de ser por Ele sustentado que não cai no caos e na desordem. • A história da criação é também a confissão de que o mundo é bom. • Assim, precisamos levar a sério o mundo como obra da criação de Deus e Ele nos colocou nele para o lavrar e o guardar. Essa também é a nossa missão. 5.2 O mundo é objeto do amor e da preocupação de Deus. • Esta é a segunda afirmação bíblica a respeito do mundo. Ler João 3:16-17. • Deus amou o mundo e em Cristo, Ele veio, viveu, ensinou e morreu no mundo. Ele envolveu-se com o mundo. Esteve às voltas com o mundo e foi exatamente este mundo que Ele reconciliou consigo mesmo (II Cor. 5:19). • Entretanto, Ele não cedeu aos encantos deste mundo, mas amou o mundo a ponto de dar a sua vida por ele. 5.3 O mundo é a esfera da ação libertadora e renovadora de Deus. • O mundo é o lugar de encontro de Deus com o ser humano. O Deus da Bíblia se distinguia dos outros deuses justamente por que se revelava através dos eventos históricos, sociais e políticos. O Deus dos hebreus é o Deus que se revelou no Êxodo, na caminhada pelo deserto, na conquista da terra Prometida, nos Exílios, na derrota e nas vitórias do seu povo. • Esta é então a terceira afirmação bíblica: o mundo (kosmos), onde estão em jogo as forças que decidem o destino dos homens é a arena da ação Libertadora e Renovadora de Deus. • A Igreja participa nesta ação libertadora e renovadora na medida em que participa do mundo. Voltar as costas ao mundo significa voltar as costas ao lugar da cena onde Deus é o ator principal. 5.4 O mundo é lugar onde temos de viver como cristãos. • É no mundo que o cristão é chamado a ser Cristão. O mundo é o lugar para onde Cristo nos envia para exercitar a nossa fé. “Eu vos envio ao mundo” (Jo.20:21-22) e no final de sua oração o Senhor declara: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”. Não existe vida cristã genuína fora do mundo. A luz só brilha nas trevas, o fermento só levada quando na massa e o sal, só faz diferença fora do saleiro. È no mundo que temos de dar testemunho de nossa fé. • A maior tragédia da obra missionária de nossos dias tem sido esta: em vez de se relacionar de uma maneira positiva e dinâmica com o mundo, a Igreja tem feito dele uma carga pesada. • A Igreja não é só instrumento, mas a existência da História e do mundo e, portanto o futuro do homem, dependem de certo modo, da fidelidade da Igreja. • O povo de Deus deve participar sacerdotalmente da missão de Deus no mundo. • O povo de Deus proclama, trabalha e testemunha ao mundo, o amor libertador de Deus. • O povo de Deus é um povo envolvido no mundo e não pelo mundo. • O povo de Deus é um povo 100% missionário. 6 DUAS VISÕES DE MUNDO - DOIS MINISTÉRIOS: Atos 27:20-26 Comparar duas experiências de relacionamento e de disposição de ser instrumento de Deus na salvação de pessoas: 1ª JONAS: o profeta livre que entra em um navio para fugir de Deus e não consegue (760-612 a.C.) 2ª PAULO: o apóstolo prisioneiro que entra em um navio a fim de cumprir a vontade de Deus e o faz de forma comprometida e participativa (964 d.C.). • ELEMENTOS COMUNS: a) 2 personagens em contato com sociedades pagãs; b) 2 viajando em navios com pessoas que tinham crenças em deuses distintos; c) 2 navegando no mesmo mar Mediterrâneo; d) 2 oram ao mesmo Deus. Mas a resposta que cada um dá ao chamado de Deus é diferente. • Questão: Por que é que Jonas não consegue fazer diferença (salgar) o ambiente onde está, ao passo que o apóstolo Paulo consegue contagiar (salgar), contaminar com sua vida os que estão a sua volta? 1º JONAS é o sal que não quer salgar. Jonas se achava: “raça eleita, SACERDÓCIO REAL, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”, mas que se excluía da missão de Deus no mundo e o mundo. “Se achava mais santo do que os resto do mundo”. • JONAS se imagina alguém que tem a missão de separar os homens de Deus. PAULO, porém, se entende como alguém que tem a missão de destruir as muralhas que separam os homens da fé em um só Deus, em Jesus Cristo. • JONAS tem uma visão exclusivista e excludente, porque pensa que os ninivitas como inimigos de Deus e isso traz 2 consequências trágicas na sua missão. 1ª JONAS não conseguia amar os diferentes, só amando os iguais. 2ª JONAS só queria fazer missão entre aqueles que gostava, que pensava igual a ele. Missão, significava preservação do seu povo, não sendo ganhar aqueles que eram diferentes e estavam distantes. Para ele era inconcebível amar os ninivitas, os inimigos do povo de Deus. • JONAS preferiu não ter futuro a ter um presente com quem ele não gostava, preferindo a morte a ter que conviver com quem ele não se dá bem: “Se no céu vai ter ninivita, eu prefiro ficar no inferno”. • No mundo de JONAS há pessoas “convertíveis” e pessoas que, mesmo querendo se converter, Jonas não as queria convertidas. 2º PAULO é o sal que quer salgar a terra inteira. • Paulo se achava: “raça eleita, SACERDÓCIO REAL, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”, mas que se incluía na missão de Deus no mundo e o mundo na graça e na salvação de Deus. • O significado de missão para Paulo é totalmente diferenciado do de Jonas. • Paulo dizia que preferia se perder a perder aqueles pelos quais Jesus morreu (Rm. 9:1-3). • O compromisso de Paulo era tão levado a sério que a sua própria vida poderia ser destruída, aniquilada, não querendo que de modo algum, que ninguém por quem Cristo morreu viesse a se perder, não importando se era judeu, gentio, escravo, livre, crente, pagão, ninivita, monoteísta ou politeísta. • O seu ministério era o da reconciliação do ser humano com Deus (I Cor. 9:22). • O texto mais comovente escrito por Paulo: II Tm. 4:9-11; 14; 16-18. • A viagem de Jonas mostra sua postura de isolamento (sal que não quer salgar) e a de Paulo mostra sua postura de participação (sal que quer salgar tudo). • Diante disso podemos traçar algumas comparações entre esses dois homens e suas respectivas viagens: • 1ª JONAS embarca para qualquer lugar que não seja Nínive (1:3). PAULO embarca sabendo para onde ia: pregar o evangelho a César. 2ª JONAS usa sua liberdade para fugir. PAULO usa o fato de estar preso para levar liberdade aos cativos. 3ª JONAS entra no navio e se esconde no porão, se aliena. PAULO entra no navio e se integra. Fica amigo do centurião, do piloto e precisa o número de vida no navio: 276. 4ª JONAS não ora nunca, nem por ele, nem por ninguém ou coisa alguma. Ele dorme. PAULO entra no barco e ora por todos (Atos 27:22-26 e 35). 5ª JONAS se considera a causa da tragédia (1:12). PAULO, observa o vento, as ondas, a tempestade e os sinais de calamidade, mas não diz que aquilo é por intervenção do diabo, por culpa do homem, do vento, do centurião, do piloto e nem se culpa a si mesmo. 6ª JONAS é a expressão da desistência da vida: “Joguem-me no mar”. PAULO está apaixonado pela vida, querendo viver e ansiando chegar em Roma. 7ª JONAS é “vomitado” em Nínive e lá prega com raiva e com rancor, acontecendo o que ele não queria: a conversão da cidade (3:10). PAULO chega em Malta e se relaciona com as pessoas, entra na casa delas, come com elas, ora por suas doenças, cura suas enfermidades (At. 28:7-10) convive com elas 3 meses. 8ª JONAS quase “morre” de ódio, ao ver a morte de uma planta (4:6-9). PAULO chega em Malta e é mordido por uma víbora e não da a mínima importância (At.28:35). 9ª JONAS ora pela destruição da cidade (3:10) PAULO passa 3 meses orando pelos doentes da ilha (At. 28:9-11) e vendo cada um deles, em nome de Jesus, ser curado. A Missão de evangelização “corre” nas veias de Paulo. Não é um programa, um projeto, um método, uma estratégia. É vida de salvação e graça “escorrendo” para dentro da sociedade, em nome do Jesus. Que Deus dê compreensão para que: 1. Assim como a comunidade de I Pedro você participe e atue na sociedade; 2. Exerça o seu sacerdócio em benefício de toda comunidade; 3. Na missão: você proclame, sirva e testemunhe Cristo ao mundo; 4. É no mundo que você deve exercer o seu chamado e vocação; 5. o POVO DE DEUS é um POVO 100% MISSIONÁRIO, que dá gosto (salgar) a este mundo tão desgosto. MUITO OBRIGADO PELA OPORTUNIDADE EM NOME DO SENHOR JESUS! AMÉM! CONTATOS: Pr. Edrei Daniel Vieira Fone: (43) 3055.25.10 e (43) 9961.80.99. (44) 3027.63.60 – Ramal 487. E-mail: [email protected], [email protected], [email protected]