Mídia de Todos, Mídia para Todos Carta dos Profissionais A globalização da mídia, seja por bem, seja por mal, é uma realidade. Uma mídia, movida exclusivamente por interesses comerciais, e o fato de que a propriedade da mídia está sendo concentrada nas mãos de menor número de interesses aponta o lado escuro da globalização. Menor qualidade e menor diversidade são resultados conseqüentes disso. Ora, os meios podem perpetuar esta situação, bem como podem transformá-la. Ainda podemos aceitar que nos dividam e polarizem, bem como podemos adotar ações para assegurar que cumpram uma promessa maior, unindo-nos como uma comunidade humana. O vasto potencial da Revolução da Informação e Comunicação na promoção da diversidade e justiça social se tornará realidade apenas com a participação ativa de todos os setores da sociedade. As empresas de rádio e de teledifusão não são os donos das ondas de difusão nem do ciberespaço. Legalmente, estas são a propriedade do Público. As empresas de mídia recebem uma concessão do Estado para que sirvam ao interesse público. Porque a mídia exerce uma influência central no desenvolvimento e na formação de crianças e adolescentes – a mídia influencia não apenas as atitudes e comportamentos deles, mas também suas identidades – nos preocupamos profundamente pelos valores negativos e estilos de vida promovidos por grande parte da mídia hoje. A mídia vem assumindo funções antes desempenhadas apenas por famílias e educadores, sem que esteja preparada para lidar com este desafio gigantesco. As crianças e os adolescentes merecem algo melhor do que recebem atualmente da mídia. Cartas do Rio de Janeiro O mundo – e os meios de comunicação de massa que refletem e influenciam o mesmo – está numa encruzilhada. A guerra, o ódio, a pobreza e a desigualdade criam uma sombra sobre o nosso futuro coletivo. Perguntamo-nos se os meios fazem parte do problema, ou parte da solução. Respondemos: ambos. Nossas crianças e adolescentes representam o maior investimento que podemos fazer para o nosso futuro. Isto nos responsabiliza a assumir compromissos tanto com a mídia quanto à sociedade, e não deixar de implementar ações que não podem mais ser adiadas. Carta dos Adolescentes Expressando nossa preocupação para com a situação de crise em que se encontra a mídia para crianças e adolescentes, nós, participantes do Fórum dos Adolescentes da 4a Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes, sentimos a necessidade de discutir e rever os conceitos sobre a democratização da informação e do uso dos meios de comunicação. Mas para falar sobre a democratização da produção e do uso dos meios de comunicação, temos a responsabilidade de alertar os governos de que antes de globalizar nosso discurso, temos que globalizar o acesso à informação. E se vamos unir esforços de vários povos para que isso aconteça, mais do que modificar a mídia, vamos usá-la para acabar com a violência, a miséria e o difícil acesso à educação. Unir esforços significa lutar junto à mídia para levarmos cultura, entretenimento e educação de boa qualidade para toda a população. Segundo o artigo XIX da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. 1 Mídia de Todos, Mídia para Todos Profissionais Adolescentes Para o alcance dos objetivos anteriormente mencionados, concordamos que é necessário envolver e articular governos, empresas de comunicação, comunicadores, anunciantes e publicitários, escolas e universidades, educadores e pesquisadores, organizações da sociedade civil, consumidores de mídia, famílias, entre outros, para garantir: Considerando as idéias expressas anteriormente, nós, do Fórum dos Adolescentes, propomos: Estabelecimento de alianças mais amplas entre esses diversos atores. Articulação entre crianças, adolescentes e adultos em prol de uma mídia de qualidade. Incorporação e disseminação das determinações da Convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente (Convention on the Rights of the Child). Regulamentação dos meios de comunicação de massa. Garantia do controle da qualidade da mídia, a partir da criação, pela sociedade, de conselhos de ética e denúncia em todos os países: 1- que definam os horários e/ou proíbam a veiculação de conteúdo erótico, violento ou que incite o uso de bebidas alcoólicas, cigarros e drogas ilícitas; 2 - que recebam denúncias e sugestões do público sobre abusos cometidos e divulguem essas informações para a sociedade em geral; 3 - que pressionem os anunciantes para que não financiem programas considerados de baixa qualidade pelas denúncias do público; 4 - que contenham uma comissão formada por crianças e adolescentes. Criação urgente de medidas e programas eficazes para evitar o acesso de crianças e adolescentes a conteúdos pornográficos na internet. Formação continuada de profissionais de comunicação pelas instituições de ensino superior e empresas. Sensibilização dos comunicadores para que possam oferecer melhor tratamento das notícias e informações que produzem sobre e para crianças e adolescentes, de forma que: 1- evitem a difusão de estereótipos que associem crianças e adolescentes ao consumo e padrões alheios à sua realidade ou à criminalidade e à violência; 2 - não façam o uso constrangedor ou discriminatório de imagens de crianças e adolescentes. Formação de crianças e adolescentes para a recepção crítica e apropriação das técnicas de produção de mídia. Introdução de espaços nas escolas para que as crianças e adolescentes possam ser preparados para receber, buscar e utilizar as informações de forma crítica e produtiva, incluindo atenção especial às crianças e adolescentes com deficiência física ou mental. Cartas do Rio de Janeiro Propostas 2 Mídia de Todos, Mídia para Todos Propostas Adolescentes Representação autêntica de crianças e adolescentes na mídia, considerando-se diversidade cultural, social, étnica, de gênero, religiosa, entre outros, com atenção especial para pessoas com deficiência. Ampliação da quantidade, qualidade e diversidade da mídia dirigida a crianças e adolescentes, respeitando-se as especificidades de suas fases de desenvolvimento. Criação de meios de comunicação dirigidos especialmente para crianças e adolescentes, em que haja espaço para veiculação de programas regionais e produzidos pelas próprias crianças e adolescentes. Promoção da produção de mídia com crianças e adolescentes. Garantia de espaço para participação de crianças e adolescentes nas mídias já existentes, tanto produzindo quanto veiculando seus produtos. Financiamento público e privado para a produção de mídia para crianças e adolescentes. Criação de políticas de financiamento governamentais e privados para investimentos na produção de mídia por crianças e adolescentes. Democratização do acesso às tecnologias de informação e comunicação. Concessão gratuita de canais de rádio e TV para escolas e organizações que promovam a produção de mídia educativa para crianças e adolescentes, a partir da criação de estatutos que rejam o funcionamento destes veículos. Manutenção e fortalecimento dos sistemas públicos de comunicação. Cartas do Rio de Janeiro Profissionais Conclusões dos Profissionais Examinamos, no Rio, a mídia e o mundo de diversas perspectivas. Uma gama de experiências bem-sucedidas, provenientes dos cinco continentes, comprova a viabilidade e a presença de alternativas à homogeneidade que tem prevalecido. Esta Cúpula renovou o nosso compromisso na construção da solidariedade e dos valores humanos na mídia. Conclusões dos Adolescentes Hoje, como adolescentes, nos comprometemos a garantir o cumprimento destas propostas, com a mesma paixão com o que faremos quando formos adultos. No momento em que os adultos reconhecerem o trabalho que fazemos e priorizarem a produção de mídia de qualidade com a participação de crianças e adolescentes e quando tomarem consciência de que não somos custo, mas investimento, que somos o presente que constrói o futuro, teremos vencido a nossa luta de hoje. Rio de Janeiro, 23 de abril de 2004 3