Avaliação: os pecados do MEC Os problemas do conceito ENADE Jorge Gregory No último dia 17 de setembro, na abertura do Seminário de autoavaliação promovido pelo INEP e CONAES o ministro Aloizio Mercadante, referindo-se aos indicadores de avaliação, colocou como preocupação o fato de que a maioria das instituições estarem acomodadas no conceito 3, dando a entender que o objetivo do ministério seria forçar as instituições a subirem para conceitos 4 e 5. Mais, deu a entender ainda que para tanto o MEC continuará adotando a política de medidas cautelares de redução de vagas e até mesmo proibindo processos seletivos para cursos e instituições cujo o conceito forem 1 e 2. Na sequência, com o ministro já tendo se retirado do evento, fizeram uso da palavra os professores Dilvo Ristoff e Sergio Franco, já como membros de uma mesa de debates. O professor Sergio Franco, membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior – CONAES, e presidente deste colegiado por dois mandatos consecutivos, fez a mesma afirmação de acomodação das instituições ao conceito 3. Poderíamos dizer, portanto, que se apresentou uma fina sintonia entre ministro e conselheiro. Poderíamos, caso ministro e conselheiro estivessem se referindo a mesma coisa. Mas não estavam, o que talvez tenha passado desapercebido para a maioria dos mais de 200 ouvintes. Esclarecendo o imbróglio, a Lei 10.861, de 14 de abril de 2004, estabelece que o SINAES promoverá a avaliação de instituições, de cursos e de desempenho dos estudantes. A avaliação de instituições e de cursos tem sido efetuada através de verificação in loco por comissões de especialistas no decorrer dos processos de credenciamento e recredenciamento de instituições e de autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento de cursos, os quais se valem de instrumentos de avaliação divididos em dimensões, e cada dimensão em indicadores. Para cada um destes indicadores, tomando por base um referencial mínimo de qualidade, a comissão atribui conceito de 1 a 5, correspondendo o conceito 3 ao atendimento ao referencial, 1 e 2 não atendendo e 4 e 5 mais do que atendendo. Algo como 1 correspondendo a péssimo, 2 ruim, 3 regular ou aceitável, 4 bom e 5 muito bom ou excelente. A média dos conceitos dos indicadores resultará no Conceito Institucional (CI), no caso das instituições, e no caso dos cursos no Conceito de Curso (CC). Quando o professor Sérgio se referiu a acomodação ao conceito 3, claramente estava se referindo a esta modalidade de avaliação, ou seja, de instituições e de cursos, através de avaliação externa. Mais, como conceitua o professor Dilvo Ristoff, CI e CC são resultantes de uma avaliação de critérios onde o avaliador diagnostica cada um dos elementos constitutivos de um curso ou de uma instituição. Na analogia feita por Ristoff, comparável a um procedimento médico, onde para avaliar a saúde de um individuo examinássemos o coração, o pulmão, o fígado, os rins, etc e etc, e ao final se estabelecesse um diagnóstico global do indivíduo. Já o ministro, ao falar em acomodação no conceito 3, estava se referindo não ao CI, e sim ao IGC (Indice Geral de Cursos), e não ao CC, e sim ao Conceito Preliminar de Curso (CPC). CI, IGC, CC E CPC Talvez alguns leitores estejam concluindo, apressadamente, a esta altura da análise, que para ter ocorrido esta confusão entre dois dos mais altos dirigentes educacionais do país, provavelmente CI seja equivalente a IGC e CPC equivalente a CC. Ou seja, duas modalidades de avaliação semelhantes, cujos resultados identificariam coisas quase que semelhantes. INFELIZMENTE NÃO! São coisas totalmente distintas, que medem coisas diferentes e apresentam resultados totalmente diversos. Esclarecido acima o que é CI e CC, é fundamental esmiuçarmos agora o que é IGC e CPC, para demonstrarmos os equívocos que a SERES vem cometendo utilizando-se deste indicadores (IGC e CPC) como principal referencia para os procedimentos regulatórios, desencadeando inclusive medidas cautelares de redução de vagas e suspensão de processos seletivos. Em primeiro lugar, CI resulta de uma avaliação e CC de outra. CI não é uma média ou composições de CCs. No caso do IGC, ele é apenas uma média aritmética dos CPCs e, como tal, não merece grandes considerações pois média aritmética qualquer cidadão comum conhece. Cabe portanto esclarecermos o que é o tal CPC que gera o tal IGC. CPC é um indicador criado pelo INEP compostos por 5 insumos (ENADE, IDD, infraestrutura, projeto pedagógico e corpo docente). Cada um destes insumos terá um peso diferente na composição do CPC, sendo as proporções basicamente as seguintes: IDD 35%, ENADE 20%, Corpo Docente 30% , Infraestrutura 7,5% e Projeto Pedagógico 7,5% A coleta de dados de cada um destes insumos se dá da seguinte forma: ENADE: Aplicação de duas provas de conhecimento (Formação Geral e Conhecimento Específico) aos estudantes concluintes do curso. O resultado da prova de Formação Geral corresponderá a 25% do ENADE e o resultado da prova de Conhecimento Específico 75%. IDD: Procura medir o valor agregado ao estudante formando através da confrontação entre o resultado do ENEM dos ingressantes e o ENADE dos concluintes. CORPO DOCENTE: Os dados são coletados do Censo da Educação superior, cujas informações são prestadas pelas instituições. INFRAESTRUTURA: É o grau de satisfação do estudante formando com relação a infraestrutura do curso, sendo que os dados são coletados do questionário respondido pelo estudante formando dias antes de prestar o ENADE PROJETO PEDAGÓGICO: O mesmo procedimento da infraestrutura. Portanto, pode-se perceber de imediato que o CPC é 55% avaliação do estudante formando (ENADE e IDD), e 15% a avaliação que o estudante formando faz do curso. Ou seja, 70% do CPC está centrado no estudante formando, o que por si só já é elemento suficiente para afirmarmos que aqui temos uma séria distorção. Mas esta é apenas a menor. APLICAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE GAUSS O mais perverso e inconcebível é que o indicador de cada um destes insumos não é um conceito a que o indivíduo comum está familiarizado, como por exemplo é o utilizado na avaliação institucional e na avaliação de curso onde 1 representa péssimo, 2 ruim, 3 regular, 4 bom, 5 muito bom. Para chegar ao conceito CPC, tanto a prova de Conhecimentos Específicos como a prova de Formação Geral é aplicada a Distribuição de Gauss, como também a todos os demais insumos que comporão o CPC. Para os poucos familiarizados com a estatística, numa explicação bem simples, a Distribuição de Gauss é um método utilizado na estatística em amostras suficientemente grandes para análise de uma série de fenômenos probabilísticos, onde a partir do calculo da média dos valores atribuídos aos componentes da amostra e do cálculo de um elemento chamado Desvio Padrão, pode-se estabelecer o distanciamento da média de cada elemento da amostra. Portanto, a distribuição se dá em um intervalo entre o menor valor e o maior valor da amostra, gerando uma distribuição que segue o gráfico abaixo: FIGURA 1 No gráfico, o sigma representa a média da amostra, -1 sigma o distanciamento de menos um desvio padrão da média e +1 sigma distanciamento de mais um desvio padrão, -2 sigma o distanciamento de menos dois desvio padrão da média e +2 sigma distanciamento de mais dois desvio padrão e finalmente -3 sigma o distanciamento de menos três desvio padrão da média e +3 sigma distanciamento de mais três desvio padrão. Desta forma, o intervalo de valores dos componentes da amostras é transformado em um intervalo de -3 a +3 e, consequentemente, os valores de todos os elementos da amostra passam a ser expressos em valores entre -3 e +3, como por exemplo -2,25, 1,87, -0,32, etc. Como resultante desta distribuição, seja ela qual for, teremos sempre 68% do conjunto no intervalo entre -1 e +1, 95% no intervalo entre -2 e +2 e 99,7% no intervalo entre -3 e +3. Em outras palavras, como em cada um dos insumos do CPC é aplicada a Distribuição de Gauss, uma vez calculada a média e o desvio padrão do insumo, teremos todas as instituições distribuídas em um intervalo entre -3 e 3. Aqui deve-se fazer um alerta que em estatística, para que a Curva de Gauss obedeça precisamente a distribuição demonstrada acima, é utilizada a técnica de excluir os “outliers”, que são valores nas pontas inferiores ou superiores que muitas vezes fogem do padrão verificado e que podem provocar distorções na média puxando-a para baixo e para cima. Não sendo excluído estes valores, obviamente a distribuição resultará e pequenas variações nos percentuais acima descritos. Como no cálculo dos insumos, tal técnica de exclusão dos outliers não é utilizada, pode-se dizer que os intervalos entre -1 a +1 representará aproximadamente 68%, +2 a -2 representará aproximadamente 95% e -3 e +3 99,7%. Para cumprir a Lei do Sinaes, que estabelece que os conceitos serão atribuídos nos valores de 1 a 5, foi necessário que o INEP, após a aplicação da Distribuição de Gauss, onde o intervalo está distribuído na escala -3 a 3, convertesse o intervalo para uma escala de 1 a 5, onde os valores decorrentes da conversão, atribuídos a cada curso passam a se chamar de Notas Padronizadas e, em seguida, convertidos em conceito segundo tabela abaixo: TABELA 1 FAIXA 0 A 0,99 1 A 1,99 2 A 2,99 3 A 3,99 4A5 CONCEITO 1 2 3 4 5 CALCULO DO CONCEITO ENADE Obviamente que tendo alterado a escala, os percentuais para cada faixa de conceito da escala 1 a 5 serão diferentes da escala original de -3 a 3. Para efeitos de demonstração, aplicamos o método aos resultados do curso de Direito do ENADE 2009. Para a Distribuição Normal (escala -3 a 3), obtivemos o seguinte resultado: TABELA 2 (Quantitativo de cursos em cada faixa na escala -3 a 3) FAIXAS -3 a -2 -2 a -1 -1 a 1 1a2 2a3 TOTAL Cursos FG 9 113 518 111 3 754 Cursos CE 10 75 560 106 3 754 FG = Prova de Formação Geral CE = Prova de Conhecimentos Específicos TABELA 3 (Percentual de cursos em cada faixa na escala -3 a 3) Percentagem Percentagem FG CE FAIXAS -3 a -2 -2 a -1 -1 a 1 1a2 2a3 TOTAL 1,193634% 14,98674% 68,70027% 14,72149% 0,397878% 100 1,32626% 9,94695% 74,27056% 14,05836% 0,397878% 100 FG = Prova de Formação Geral CE = Prova de Conhecimentos Específicos Ou seja, temos aqui o padrão de Gauss com pequenas variações em decorrência da não utilização da técnica de exclusão dos outliers: intervalo entre -3 e 3, onde -1 a +1 representará aproximadamente 68%, +2 a -2 representará aproximadamente 95%. No caso em análise, na prova de Conteúdo Específico, a não exclusão de outliers na parte superior da amostragem forçou a elevação da concentração de cursos no intervalo entre -1 a 1, distorcendo a curva normal. Aplicando a conversão para a escala 1 a 5, obteremos o seguinte resultado: TABELA 4 (Quantitativo de cursos em cada faixa na escala 1 a 5) CONCEITO 1 2 3 4 5 TOTAL Cursos FG Cursos CE 72 203 313 136 30 754 Cursos ENADE (Média Ponderada) 29 258 328 100 39 754 27 251 341 108 27 754 FG = Prova de Formação Geral CE = Prova de Conhecimentos Específicos TABELA 5 (Percentual de cursos em cada faixa na escala 1 A 5) CONCEITO Percentagem Percentagem FG 1 2 3 4 5 TOTAL 9,549072 26,92308 41,51194 18,03714 3,97878 100 CE 3,846154 34,21751 43,50133 13,2626 5,172414 100 FG = Prova de Formação Geral CE = Prova de Conhecimentos Específicos ENADE (Percentagem) 3,580902 33,28912 45,22546 14,32361 3,580902 100 Convertida a escala, pode-se perceber que teremos sempre um percentual de cursos, independente da área, independente da média geral da área e independente do tamanho do intervalo de médias da distribuição, próximo de 40% concentrados no conceito 3. Tal percentual pode sofrer pequenas variações em decorrência da não exclusão de possíveis outliers quando da produção da Distribuição de Gauss original e, tão somente por este fator. SIGNIFICADO DA VARIAÇÃO DE CONCENTRAÇÃO NO CONCEITO ENADE Sendo a afirmação acima verdadeira, podemos então afirmar que o ENADE sempre terá um percentual de aproximadamente 40% dos cursos com conceito 3? Não, não é possível fazer tal afirmação, pois além do INEP não se utilizar do método de exclusão dos outliers, o conceito ENADE é resultante da média ponderada da Nota Padronizada da Prova de Formação Geral (25%) e da Prova de Conhecimentos Específicos (75%). Então o resultado do Conceito ENADE depende fundamentalmente da combinação do desempenho dos estudantes numa prova e em outra. No caso do ENADE de Direito de 2009 o percentual é muito próximo uma vez que as Notas Padronizadas na Formação Geral são muito próximas das Notas Padronizadas nos Conhecimentos Específicos, gerando o mesmo conceito em ambas as provas. Em outras palavras, quase a totalidade dos cursos que obtiveram conceito 1, através da Distribuição de Gauss, na Prova de Formação geral, também obtiveram conceito 1 em Conhecimentos Específicos, o mesmo valendo para o conceito 2, 3, 4 e 5. Aparecem várias situações onde o curso obteve Nota Padronizada diferente e as vezes até de forma intrigante, como por exemplo Nota Padronizada gerando conceito 4 na Formação Geral e Nota Padronizada no Conhecimentos Específicos gerando conceito 1, e também viceversa. Várias situações como esta se apresentam na amostra do curso de Direito no ENADE de 2009, mas não suficientemente significativo para alterar de forma substancial o percentual. Pode, no entanto, ocorrer sim grandes discrepâncias entre o desempenho dos estudantes numa prova e noutra, o que pode resultar, aplicada a média ponderada, em concentrações no conceito ENADE 3 de 70% dos cursos ou de 20%, dependendo de como foi este comportamento. Muitas vezes a linha é extremante tênue entre um conceito e outro. Suponhamos uma situação onde um curso obteve Nota Padronizada igual a 1,9800 gerando conceito 2 na Formação Específica e 2,010, gerando conceito 3, na Conhecimentos Específicos. A média ponderada resultará em uma Nota Padronizada para o ENADE igual a 2,002, que corresponderá ao conceito ENADE 3. Se a situação for inversa (Formação Específica igual a 2,010 e Conhecimentos Específicos igual a 1,9800), isto resultará em uma Nota Padronizada ENADE igual a 1,99, correspondendo a conceito ENADE 2. Várias ocorrências como esta numa mesma área pode alterar significativamente os percentuais. MELHORIA DA QUALIDADE E MELHORIA DO DESEMPENHO Na coletiva concedida no dia 8 de outubro, o ministro apresentou os resultados globais do exame 2012, afirmando que houve um salto de 48,5% de cursos com conceito 3 no ENADE de 2009 para um percentual de 68,3% no ENADE de 2012. Ou seja, um crescimento de 19,8% de cursos com conceito 3, fenômeno que representaria uma melhora significativa no sistema de educação superior. Antes de nos precipitarmos a fazer qualquer consideração a respeito de tal afirmação, analisemos a tabela comparativa abaixo: TABELA 6 (Comparativo das médias 2009/2012) AREA FG 2009 ADMINISTRAÇÃO FG 2012 CE 2009 44,3043 43,5333 37,2694 ARQUIVOLOGIA 47,1928 46,8662 BIBLIOTECONOMIA 41,6632 50,014 CIÊNCIAS CONTÁBEIS 39,8248 CIÊNCIAS ECONÔMICAS 48,3519 40,0553 32,3183 44,4032 33,8667 CINEMA 42,2205 49,4632 DESIGN 47,5298 DIREITO 49,0201 42,8305 49,6224 46,49 52,744 EDITORAÇÃO 50,2639 48,9372 ESTATÍSTICA 43,0457 30,7779 JORNALISMO 44,5358 42,8323 50,4734 MÚSICA 47,5241 48,6511 PSICOLOGIA 48,7617 PUBLICIDADE E PROPAGANDA 41,6551 42,9376 47,344 41,6274 48,9452 RADIALISMO 40,573 43,2821 RELAÇÕES INTERNACIONAIS 58,5899 48,7614 50,1874 RELAÇÕES PÚBLICAS 42,4214 49,1946 SECRETARIADO EXECUTIVO 40,0222 42,1943 43,5214 TEATRO 48,4931 51,0166 TECNOLOGIA EM DESIGN DE MODA 43,6169 52,1325 TECNOLOGIA EM GASTRONOMIA 41,3339 44,6345 TECNOLOGIA EM GESTÃO COMERCIAL 41,047 TECNOLOGIA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS 39,6695 TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO 42,0227 TECNOLOGIA EM GESTÃO FINANCEIRA 41,4119 TECNOLOGIA EM LOGÍSTICA TECNOLOGIA EM MARKETING 42,1723 TECNOLOGIA EM PROCESSOS GERENCIAIS 43,2423 TURISMO 44,3397 CE 2012 32,5967 33,6767 26,3662 47,2669 39,4098 46,899 38,3556 37,7087 42,0417 47,0333 43,5596 39,3477 47,8951 39,7354 59,1537 40,9139 41,6769 41,4652 42,914 44,15 36,3678 55,7286 40,0061 57,8399 31,0685 46,922 43,9408 41,7951 40,9042 Tomando como verdade que desempenho de estudante representa a qualidade dos cursos e instituições, o que temos que analisar para saber se houve melhora, piora ou estagnação do sistema, é a média do desempenho destes estudantes e não o conceito resultante de uma Distribuição de Gauss que, por sua vez, é resultante desta média. Pois bem, isto posto, a TABELA 6 apresenta o comparativo das médias gerais das diferentes áreas para as quais foram aplicadas ENADE em 2009 e 2012. As áreas de Arquivologia, Biblioteconomia, Cinema, Editoração, Estatística, Música, Radialismo, Relações Públicas, Teatro, Tecnologia em Design de Moda, Tecnologia em Gastronomia e Tecnologia em Gestão de Turismo, que participaram do ENADE 2009, não apresentam resultados na planilha do ENADE 2012. As áreas de Tecnologia em Gestão Comercial e Tecnologia em Logística participaram em 2012 mas não participaram em 2009 Já médias das demais áreas, conforme se pode verificar na apresentam o comportamento descrito abaixo: TABELA 6, Cursos cuja média de 2012 despencou em relação a 2009: 1) 2) 3) 4) 5) 6) DIREITO PSICOLOGIA PUBLICIDADE E PROPAGANDA RELAÇÕES INTERNACIONAIS TECNOLOGIA EM MARKETING TURISMO Cursos cuja média de 2012 cairam em relação a 2009: 1) 2) 3) 4) 5) 6) ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS ECONÔMICAS DESIGN JORNALISMO TECNOLOGIA EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS TECNOLOGIA EM GESTÃO FINANCEIRA Cursos cuja média de 2012 se manteve estagnada em relação a 2009: 1) CIÊNCIAS CONTÁBEIS 2) TECNOLOGIA EM PROCESSOS GERENCIAIS Cursos cuja média de 2012 apresenta evolução em relação a 2009: 1) SECRETARIADO EXECUTIVO A dura constatação é que das 15 áreas que participaram tanto do ENADE 2009 e 2012, o desempenho de seis em 2012 foi uma verdadeira queda livre em relação a 2009, outras seis tiveram queda significativa, duas mantiveram-se estagnadas e apenas uma, a de Secretariado Executivo, com apenas 70 cursos, apresentou evolução. Vejam aqui o que é o absurdo da aplicação da Distribuição de Gauss para atribuir conceito de avaliação ao ENADE. Para a afirmação do ministro estar correta, portanto, a evolução de 19,8% de cursos com conceito 3 seria resultado único e exclusivo da evolução do desempenho dos estudantes de Secretariado Executivo. Aliás, não só os 19,8%, mas também compensar a queda das outras áreas. Porém, foram avaliados 7.228 cursos. Se houve um crescimento de 19,8%, este percentual corresponde a 1409 cursos. Se a área de Secretariado Executivo foi a única que evoluiu e tem apenas 70 cursos, simplesmente a matemática não fecha. A questão concreta e objetiva é que Distribuição de Gauss não serve para estabelecer conceito. Se a utilização de Gauss leva dirigentes do MEC a este tipo de equivoco (e ponha equivoco nisto), imagine o cidadão comum que não faz a menor ideia de quem foi Gauss. O fato de ter ocorrido um crescimento percentual do número de cursos com conceito 3 é plenamente possível, conforme já demonstrado anteriormente. As variações ocorrem derivadas de dois fenômenos: 1) não utilização do método de exclusão do outliers e 2) utilização de média ponderada sobre duas distribuições de Gauss. Assim, se ocorreu crescimento de concentração de cursos no conceito 3, tal crescimento não representa que houve evolução no sistema. Se tivesse ocorrido uma queda, também não representaria necessariamente um retrocesso. É apenas uma questão do comportamento da média ponderada num caso e noutro e da ocorrência de outliers. Além de tudo, ainda que seja uma média ponderada, é uma média de duas Distribuição de Gauss e, portanto, segue basicamente o mesmo padrão. Não se compara duas Distribuição de Gauss através de uma média, pois isto seria transformar em idênticas coisas que são totalmente distintas. Isto é básico em estatística. Se o objetivo é fazer uma comparação de desempenho entre uma versão do ENADE e outra para ver se ocorreu avanço ou retrocesso, tal comparação só é possível através da média. E tal comparação mostra uma realidade totalmente distinta da apresentada pelo ministro: o desempenho dos estudantes no ENADE 2012 foi brutalmente inferior ao de 2009. Não se faz média de duas distribuições de Gauss, uma vez que os valores dos elementos já estão padronizados, e muito menos se soma os intervalos, no caso expresso em conceitos, de diferentes curvas de Gauss. O que o ministro fez (ou o INEP), para chegar a tão absurda conclusão, foi o de somar os conceitos 1 de todas as áreas, os conceitos 2, 3, 4 e 5, e estabelecer os percentuais comparativos. Isto é simplesmente um despropósito do ponto de vista estatístico. A INDUÇÃO AO ERRO NA INFORMAÇÃO PÚBLICA Suponhamos, para tornar o meu raciocínio mais didático, que eu seja um estatístico e queira me meter a futebólogo. Suponhamos que eu pretenda estabelecer um padrão de avaliação da qualidade dos jogadores profissionais de futebol. Suponhamos que, para tanto, eu elenque 100 habilidades e aplique testes a todos os jogadores de futebol para verificar quantas destas habilidades cada um domina. Suponhamos que como resultado, dentre um grande número de clubes pesquisados, no Luverdense o jogador Emerson apresente a menor qualidade segundo este meu critério, demostrando dominar apenas 5 das 100 habilidades, e o Rubinho, o de melhor qualidade, mostrou dominar 25 habilidades. Suponhamos que os mesmos testes sejam aplicados ao Barcelona e o jogador com menor desempenho tenha sido o Pique, mostrando dominar 65 habilidades. Já o de melhor desempenho tenha sido o Messi, mostrando dominar 99 das 100 habilidades. Suponhamos que uma vez tabulados estes dados eu decida aplicar Gauss a amostragem de cada clube e converter a Distribuição de Gauss numa escala de 1 a 5 como se faz no ENADE e CPC. Aplicadas todas estas suposições, chegaríamos ao resultado de que a Distribuição de Gauss no Luverdense seria aplicada no intervalo amostral de 5 a 25, e no Barcelona se daria no intervalo de 65 a 98. Aplicada a Distribuição de Gauss aos dois casos e convertido o resultado a escala de conceito de 1 a 5, eu teria como resultado que no Luverdense o Emerson é conceito 1 e o Rubinho é conceito 5. Já no Barcelona, o Piquet seria conceito 1 e o Messi conceito 5 (e quem sabe o Neymar conceito 4). Isto posto, eu divulgo os resultados da minha pesquisa para que o público tome conhecimento da qualidade dos jogadores. Para os familiarizados com estatística, desde que informados que o método aplicado foi a Distribuição de Gauss e tendo acesso a média e ao Desvio Padrão de cada clube, entenderiam perfeitamente o padrão que eu estaria estabelecendo. Para 99,9% dos mortais que mal sabem o que é uma média, não fazem a mínima ideia o que é Desvio Padrão e muito menos uma Distribuição de Gauss, a mensagem que estaria transmitindo é que Pique é um perna de pau ao tempo que Rubinho é um craque, que Rubinho é tão bom quanto o Messi e até mesmo melhor que o Neymar. Lamento afirmar isto, mas é exatamente o que se está fazendo na educação superior. Pior ainda, depois eu faço o somatório de todos os conceitos 1 de todos os clubes e digo que o mundo tem tantos pernas de pau jogando (incluindo o Emerson e o Pique). Somo todos os conceitos 3 e digo que temos tantos jogadores mediando jogando no mundo. Somo todos os conceitos 5 e digo que temos tantos craques maravilhosos no mundo (incluindo o Messi e Rubinho e excluindo o Neymar que ele não é conceito 5 e, portanto, pela lógica do INEP não seria um craque de ponta como o Rubinho). Para exemplificar tal analogia, vejamos alguns casos coletados dos resultados do ENADE 2012 da área de Direito, representados na TABELA 7 que apresenta 8 cursos com o desempenho, em termos de conceito, para as provas de Formação Geral (FG), Componentes Específicos (CE), e o resultado final do ENADE. TABELA 7 (Combinações FG e CE no ENADE 2012) Nome da IES FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS DE NOVA ANDRADINA – FACINAN INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR E FORMAÇÃO AVANÇADA DE VITÓRIA FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS DE PRIMAVERA DO LESTE FACULDADE SALESIANA DE SANTA TERESA FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS PROFESSOR ALBERTO DEODATO LIBERTAS - FACULDADES INTEGRADAS FACULDADE POLITÉCNICA DE UBERLÂNDIA FACULDADE DA CIDADE DE MACEIÓ Conceito Conceito Conceito FG CE Enade 2 4 3 4 2 3 4 4 2 2 3 3 4 4 4 4 2 2 2 2 3 3 3 3 Rememorando, os conceitos FG e CE são estabelecidos a partir da Nota Padronizada obtida através da aplicação da Distribuição de Gauss a cada uma das provas. Já o conceito ENADE é obtido através da aplicação da média ponderada das Notas Padronizadas de FG e CE. Para darmos continuidade, coloco também o pressuposto de que o desempenho dos estudantes na prova de Formação Geral espelha muito mais o acumulo cultural decorrente das mais variadas experiências de vida, do que propriamente conhecimentos agregados do aprendizado no curso superior. Na minha compreensão, o desempenho dos estudantes na prova de Formação Geral é o melhor instrumento para avaliarmos o perfil do estudante ingressante de um curso ou de uma instituição de ensino superior. Já a prova de Conhecimentos Específicos nos dará uma amostra do que de fato a instituição e o curso agregaram de conhecimentos aos estudantes. Ou seja, é o que melhor reflete o acumulo de conhecimentos adquiridos pelo estudante, decorrentes do ensino oferecido pela instituição. Lembremos ainda que a Distribuição de Gauss e, consequentemente os conceitos de 1 a 5 decorrentes desta distribuição, nos permite tão somente a comparação da posição de um determinado curso em relação aos demais de sua área a partir do distanciamento da média da área. Isto posto, analisando a TABELA 7, podemos dizer que o curso de Direito da Faculdade de Nova Andradina possui um corpo discente que apresenta um acumulo cultural abaixo da média dos demais cursos de Direito e muito inferior aos outros 7 analisados na referida tabela. No entanto, mesmo com um indicador de que o acumulo cultural é baixo, demonstra que conseguiu agregar ao estudante, do ponto de vista dos conteúdos específicos, uma formação acima da média geral dos cursos de Direito das demais instituições e muito acima das outras 7 analisada na TABELA 7. Já os outros 7 cursos demonstram possuírem alunos com um acumulo cultural acima da média e muito acima dos alunos da Faculdade de Nova Andradina, mas no entanto, comparado aos demais cursos de Direito, agregaram ao estudante menos conteúdos específicos e, comparados a Faculdade de Andradina, muito menos. Assim, nos parece cristalino que a qualidade do curso da Faculdade de Nova Andradina é diametralmente oposta a qualidade dos cursos da outras 7 instituições analisadas. Ou seja, analisando as Distribuições de Gauss de FG e CE separadamente, e contrapondo-as ao invés de estabelecer uma media ponderada, nos traz algumas conclusões absolutamente seguras e nos mostra que o curso da Faculdade de Nova Andradina é absolutamente diferente dos outros 7. E devemos levar em conta de que o princípio da educação superior brasileira é de formar o indivíduo para a vida e para a profissão e, uma vez que o ensino é organizado, a partir do ingresso, por cursos, ele forma fundamentalmente para a profissão (conhecimentos específicos), sendo a formação para a vida (Formação Geral) um acumulo que já vem de uma série de elementos externos a formação de ensino superior. Mas, vejamos agora o que acontece quando aplicamos a média ponderada sobre as duas Distribuições de Gauss para gerar o conceito ENADE, que é divulgado para a sociedade como o referencial de qualidade. Aplicada a média ponderada, todos os 8 cursos ficaram com conceito 3. Ou seja, o MEC está dizendo para a sociedade que o curso da Faculdade de Nova Andradina é igual aos outros 7 cursos. Transformou-se coisas totalmente diferentes em coisas absolutamente iguais. Provavelmente os estatísticos do INEP contraporão à minha argumentação de que estes exemplos são a exceção, pois a ampla maioria dos cursos apresentam um conceito FG coincidente com o conceito CE. Ou seja FG 1 para CE 1, FG 2 para CE 2, FG 3 para CE 3, FG 4 para CE 4 e FG 5 para CE 5. Que os exemplos que eu coloco fogem a regra e são minoria e, consequentemente, não compromete a concepção geral do conceito ENADE. Convenhamos, este é o argumento do absurdo. Se eu tenho um conjunto de indivíduos com acumulo cultural X (Formação Geral) e apresento um sistema de ensino superior satisfatório, o esperado é de que o resultado seja, do ponto de vista do Conhecimento Específico, no mínimo o correspondente ao de Formação Geral, ou seja X. Então, para que nos serve uma fórmula de média ponderada para nos mostrar o óbvio? O objetivo de organizarmos um sistema de conceitos de qualidade do ensino superior não seria exatamente o de nos mostrar aquilo que as aparências não nos mostra? Vamos mais longe: um curso que apresenta um corpo discente de nível 5 na Formação Geral e resultado 3 em Conteúdos Específicos (e existem situações com esta), a lógica seria que o MEC fosse verificar a real qualidade deste curso e, muito provavelmente, determinasse o encerramento de suas atividades. No entanto, neste sistema de média para estabelecer o conceito ENADE, ele será apresentado como um curso ótimo, de conceito 4. Já um curso que apresenta um perfil de aluno com conceito 1 na Formação Geral e 3 em Conteúdos Específicos e que, portanto, deveria ser colocado como exemplo de inclusão social, será penalizado pelas medidas cautelares da SERES, pois na média ficará com conceito 2. Se é tão necessário, para cumprimento da Lei do Sinaes, estabelecer um conceito de 1 a 5 para a avaliação dos estudantes (ENADE), preservando a estrutura de prova de Formação Geral, comum a todas as áreas, e de Conhecimentos Gerais, específica de cada área, seria muito mais conveniente utilizarmos a fórmula de NPENADE=NPCENPFG (onde NP é a Nota Padronizada), o que resultaria em nova distribuição na escala de -4 a 4 e, na sequencia, convertêssemos esta escala para o padrão 1 a 5 de forma que os valores igual a 0 equivaleriam a 3 (satisfatório), os valores negativos (insatisfatórios) a conceitos 1 e 2, e os valores positivos a 4 e 5, representando melhores desempenhos. Não que tal fórmula também não apresentasse distorções, como por exemplo transforma um curso FG 5 e CE 3 equivalente a outro FG 3 e CE 1, mas a leitura dos conceitos estariam, pelo menos, mais próximas da realidade. Penso, porém, que o ideal mesmo seria abandonar a distribuição de Gauss e adotar uma atribuição de conceitos por faixas de médias conforme tabela abaixo: TABELA 8 (Proposição de conceitos por faixa de médias) FAIXA DE MÉDIA 0 a 19,99 20 a 39,99 40 a 59,99 60 a 79,99 80 a 100 CONCEITO 1 2 3 4 5 Para efeitos demonstrativos das diferenças que os dois métodos apresentariam, para o curso de Direito, no ENADE 2012, teríamos o seguinte resultado pelo método atual: TABELA 9 (ENADE 2012, conceitos segundo metodologia INEP) CONCEITO Cursos FG 1 2 3 4 5 Cursos CE 36 260 402 184 30 912 TOTAL Cursos ENADE (Média Ponderada) 46 305 385 137 39 912 28 276 418 153 37 912 TABELA 10 (ENADE 2012, percentuais segundo metodologia INEP) CONCEITO Percentagem Percentagem FG 1 2 3 4 5 TOTAL CE 3,95 28,51 44,08 20,18 3,29 100 ENADE (Percentagem) 5,04 33,44 42,21 15,02 4,28 100 3,07 30,26 45,83 16,78 4,06 100 Aplicando conceitos por faixas de médias aos mesmos cursos, teríamos o seguinte resultado: TABELA 11 (ENADE 2012, conceitos por faixas de média) CONCEITO Cursos Cursos FG 1 2 3 4 5 TOTAL 0 80 826 6 0 912 CE 1 552 359 0 0 912 Cursos ENADE (Média Ponderada) 0 384 528 0 0 912 TABELA 12 (ENADE 2012, percentuais por faixas de média) CONCEITO Percentagem FG 1 2 3 4 5 TOTAL Percentagem CE 0,00 8,77 90,57 0,66 0,00 100 0,11 60,53 39,36 0,00 0,00 100 ENADE (Percentagem) 0,00 42,11 57,89 0,00 0,00 100 Objetivamente nos parece que a atribuição de conceitos por faixas de médias é mais próximo da realidade e, consequentemente, mais transparente para a sociedade como também mais justo para com as instituições. Ainda que esta metodologia mostre (e isto se aplica a todos os cursos), que o desempenho da quase totalidade dos estudantes brasileiros seja de regular (ou satisfatório) para ruim (ou insatisfatório), esta é a dura realidade que reflete não só um problema da qualidade das escolas de ensino superior. Esta realidade reflete, em primeiro lugar, uma sociedade profundamente desigual onde uma ínfima minoria tem acesso a meios culturais, de informação, a literatura, etc, no mínimo razoáveis. Ou seja, do fato de que quase a totalidade da população brasileira tem acesso precariamente aos meios pelos quais possa elevar o seu nível cultural e de conhecimentos gerais. Reflete, em segundo lugar, todas as deficiências formativas, do ponto de vista da educação formal, decorrentes de um ensino básico extremamente deficiente. Em outras palavras, ainda que a educação superior seja um componente que determina estes resultados, ele não é o único. Por fim, ainda que possamos considerar as condições de ensino ofertadas pelas instituições um componente importante dos resultados do desempenho dos estudantes, penso que para a sociedade que o que avalia de fato as condições de ensino é a avaliação externa dos cursos e instituições. Penso que ENADE nos mostra prioritariamente a qualidade dos estudantes, independente da qualidade dos cursos e das instituições. Já a avaliação externa nos mostra a qualidade dos cursos e instituições, independente da qualidade dos estudantes. Assim, cada indicador deve ser analisado de forma diferente. Reproduzo aqui um argumento que ouvi certa feita e que me parece muito consistente: “uma empresa em busca de talentos deve olhar os resultados do Enade e, de preferência, o resultado individual do Enade, pois é isto que vai dizer se o individuo, independente da instituição onde estudou, é ou não um talento. Por outro lado um ingressante no ensino superior que quer escolher uma instituição que ofereça as melhores possibilidades de desenvolver suas potencialidades, deve analisar o Conceito Institucional e o Conceito de Curso, independente dos resultados do Enade. Cada um dos dois indicadores tem o seu lugar e o seu significado dentro do sistema de avaliação”. Jorge Gregory – Jornalista e consultor educacional. Foi professor na Universidade Federal do Paraná, chefe de gabinete e coordenador-geral de supervisão na Secretaria de Educação Superior do MEC. GREGORY CONSULTORIA LTDA Consultoria Educacional, Cursos, Palestras e Seminários nas áreas de Regulação, Avaliação e Supervisão da Educação Superior. Tels 61 3322-1178 ou 61 9317-1343 E-mail: [email protected]