ISSN 1519-0307 RELAÇÕES INTERPESSOAIS NA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: ESTUDO SOBRE APOIO PSICOLÓGICO A PESSOASCOM DEFICIÊNCIA VISUAL INTERPERSONAL RELATIONSHIPS FOR INCLUSION OF DISABLED PEOPLE: A STUDY OF PSYCHOLOGICAL SUPPORT FOR PEOPLE WITH VISUAL DEFICIENCY Marcos José da Silveira Mazzotta1 Andréa de Góes Ribeiro2 Celina de Campos Horvat2 Ellen Galioni Gonçalves2 Fabiane Manuchakian2 Gabriela Monteiro do Amaral Prado2 Janaína de Araújo Muniz2 1 2 Livre-docente pela USP, Universidade Presbiteriana Mackenzie Alunos do Curso de Psicologia, CCBC, Universidade Presbiteriana Mackenzie RESUMO Com o objetivo de conhecer e analisar criticamente relações desenvolvidas por pessoas com deficiências em situação de inclusão social apoiadas por profissionais da psicologia, a presente pesquisa desenvolveu-se segundo a metodologia qualitativa. O referencial teórico selecionado abrangeu conceituação de inclusão, de pessoa com deficiência e com necessidades especiais, além de atuação do psicólogo em relação à deficiência. Na pesquisa de campo foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas, realizadas por 2 grupos de alunas com 2 psicólogos que atuam no atendimento a pessoas cegas ou com baixa visão em 2 instituições especializadas, de renome nacional, que aceitaram participar após recebimento da Carta de Informação e assinatura do 53 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme normas da Comissão Interna de Ética em Pesquisa da Faculdade de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie . Os dados coletados, no segundo semestre de 2007, foram analisados pelos membros da equipe sob a supervisão do professor responsável, tendo como critérios de análise os fundamentos teóricos selecionados. Os resultados foram agrupados em 3 Eixos Temáticos possibilitando importantes discussões sobre a formação e experiência pessoal do psicólogo na área específica, o estímulo, fortalecimento e apoio a situações de inclusão, bem como a atuação profissional e seus desdobramentos. Palavras-chave: deficiência visual, psicólogos, inclusão de pessoas com deficiência. ABSTRACT The aim of this study was to meet and analyze the relationship developed by disabled people in a situation of social inclusion supported by professional psychology. This study was developed according to qualitative methodology. The theoretical model chosen covered concept of inclusion of disabled people and people with disabilities, as well as the performance of the psychologist regarding to the deficiency. 2 (two) psychologist who work with blind people or slow view and 2 (two) national references of specialized institutions participated in this study, got an Information Letter and Term of free Agreement, as according to the Ethics studies rules of the Psychologist College Intern Comission, of the Mackenzie University. The review of the chosen literature included the meanings of inclusion of disabled people and people with disabilities, and psychologist performance into a relationship for inclusion of disabled people. The results in the second semester of 2007 were analyzed by memberships under the supervision of a teacher in charge, through the theoretical foundation choosen as analysis criteria. The results were classified in 3 thematic groups and point to important discussions about psychologist development and personal experience, support to situations of inclusion, as well as professional acts and developments. Key-words: Visual deficiency, psychologists, inclusion of disabled people. 54 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 1. INTRODUÇÃO 1.1. Problema de pesquisa A inclusão social tem se constituído preocupação das sociedades democráticas, revelandose nas demandas de cidadãos que individualmente ou organizados em grupos têm se manifestado na defesa de direitos e na pressão política por igualdade de condições de vida. As situações práticas de inclusão social, particularmente de pessoas com deficiências físicas, mentais, sensoriais e múltiplas, têm apresentado dificuldades que justificam estudos, pesquisas, debates e troca de informações e conhecimentos. Desenvolvendo pesquisa bibliográfica e documental sobre essa temática, a equipe de pesquisa sob orientação do professor responsável elegeu como foco do estudo, na disciplina Processos Investigativos em Psicologia (PIP), a necessidade e importância de apoios especializados a pessoas com deficiência visual em situação de inclusão social. O pressuposto básico do projeto de pesquisa foi o de que conhecer ações desenvolvidas no campo da Psicologia como suporte a pessoas cegas ou com baixa visão, especialmente alguns elementos significativos das relações interpessoais, poderá contribuir para o aprendizado de investigação científica, bem como para conhecimento de fenômenos e processos psicossociais envolvidos nessa importante questão. No primeiro semestre de 2007 foi estruturado o projeto com respaldo dos resultados da pesquisa teórica desenvolvida. No segundo semestre foi realizada a pesquisa de campo que teve a colaboração de duas instituições especializadas no atendimento a pessoas com deficiência visual, sediadas na cidade de São Paulo. 1.2. Justificativa Relevância social: O movimento mundial em favor da inclusão de pessoas com deficiências vem ganhando espaço também no Brasil, demandando reflexões e ações sociais e políticas das quais não podem deixar de participar os estudantes de Psicologia. 55 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Relevância científica: Fundamentação teórica consistente poderá auxiliar na consolidação de posições a respeito dessa temática, além de viabilizar, numa segunda etapa, a construção de conhecimento sobre parcela da realidade em espaços inclusivos. Relevância para a formação em psicologia: O desenvolvimento de consciência crítica sobre inclusão de pessoas com deficiência deverá fortalecer o exercício da cidadania, bem como propiciar conhecimentos sobre expectativas com relação à atuação do psicólogo em situações de vida ou de intervenção especializada. 1.3. Objetivos Geral: Conhecer e analisar criticamente relações de pessoas com e sem deficiências em variadas situações sociais e de atendimentos psicológicos que dêem suporte à manutenção de condições favoráveis à inclusão social. Específicos: 1. Conhecer e discutir conceitos de inclusão e de pessoas com deficiência e com necessidades especiais; 2. Identificar e analisar elementos significativos nas relações mantidas por pessoas com deficiência visual em ambiente de reabilitação e em situações do cotidiano; 3. Obter informações sobre alternativas de intervenção psicológica e atuação do psicólogo em instituição especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Dentre as variadas posições expressas por estudiosos sobre a inclusão de pessoas com deficiências e com necessidades especiais, elegeu-se para a presente pesquisa uma discussão de 56 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 conceitos básicos sobre deficiências e pessoas com deficiências, necessidades especiais, inclusão e integração social, atuação do psicólogo nessa área. Conforme observa Amiralian (1997, 31), “muitas vezes, ao se verem diante de uma pessoa com deficiência mostram-se desconfortáveis (os psicólogos), com dúvidas, e, com freqüência, preferem abster-se de realizar esse atendimento”. Aquela autora sintetiza em três questões as dúvidas levantadas comumente por psicólogos: Os princípios básicos de intervenção terapêutica psicológica são aplicáveis igualmente às pessoas com deficiência? Há peculiaridades nesse atendimento? O atendimento dessas pessoas implica procedimentos específicos? Esclarece, ainda, que: Em qualquer processo interacional, seja na relação professor-aluno ou na relação terapeutacliente, devemos ter em mente que a condição de deficiência interfere tanto no sujeito que a possui como no profissional que o atende [...]. Para os profissionais que atendem pessoas com deficiência, esta os afeta em vários níveis: na percepção do objeto, no campo do conhecimento, na área das emoções e afetos e no nível das fantasias inconscientes. (AMIRALIAN, 1997, p. 33) Amiralian (1997) alerta que não se deve considerar a deficiência como a causa de perturbações psíquicas, mas sim como uma condição que dificulta as relações com o ambiente. Pontua, ainda, que embora apresentem peculiaridades relacionadas à sua condição orgânica, as necessidades das pessoas com deficiência são as mesmas vivenciadas por todas as pessoas. Referindo-se à importância da qualidade das relações intersubjetivas, diz que se pode dizer que uma relação satisfatória, proporcionando bons resultados para o cliente com deficiência e para o seu terapeuta, “pressupõe duas condições básicas e fundamentais: a) a compreensão das vicissitudes causadas pela deficiência no desenvolvimento e ajustamento da pessoa dela portadora; b) a atitude do profissional que atende essa pessoa”. (AMIRALIAN, 1997, p.36) É oportuno salientar que a inclusão não aborda somente pessoas com deficiência, envolvendo também grupos que se sentem prejudicados e excluídos dos benefícios da sociedade; 57 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 do ponto de vista escolar significa educação de qualidade para todos. O tema também não é restrito ao processo educacional, mas também, é um processo social, embora a escola sirva como base para a inclusão social e constitui-se como cerne da mudança de atitudes. Para o melhor entendimento é necessário desvendar sua terminologia: INCLUSÃO - ato ou efeito de incluir; INCLUIR – Estar incluído ou compreendido, fazer parte, figurar entre outros, pertencer junto com o outro. Dentre a variedade de concepcões, Nirje, da Dinamarca, traz para o campo educacional o conceito da filosofia da normalização, “que tinha como princípio norteador a idéia de que as pessoas com deficiência tinham o direito de vivenciar um estilo ou padrão de vida que seria comum ou normal em sua cultura”. (AMIRALIAN, 2005, p. 63) Novos questionamentos importantes surgem com a evolução conceitual, particularmente em relação às pessoas com deficiência: Querer tornar o indivíduo com deficiência o mais parecido possível com aquele que não a possui não significa não aceitá-lo como ele é?; Treiná-lo não significa que não acredito em sua capacidade de aprendizagem?; Modificá-lo não significa que, como ele é eu o considero inferior e incapaz de viver em sociedade?; Como, então, educar ou reabilitar as pessoas com deficiência?(AMIRALIAN, 2005, p. 64) O processo de inclusão é muito amplo para ser compreendido através de providências isoladas, são necessários esforços conjuntos, respaldo institucional e participação da sociedade civil. Nesse sentido é importante destacar que à escola cabe uma responsabilidade diferenciada, já que ela se configura como o espaço social onde a criança conviverá com maior diversidade de pessoas além da família. Seu papel e a mudança de suas atitudes em relação aos alunos com deficiência influencia todo o corpo discente da escola na aceitação ou não da diversidade que compõe uma comunidade verdadeiramente integrada. 58 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Mazzotta (2007) ao discutir o sentido da inclusão com responsabilidade e o seu oposto a que denomina inclusão selvagem, reitera sua “convicção de que a inclusão, ou seja, a convivência respeitosa de uns com os outros, é essencial para que cada indivíduo possa se constituir como pessoa ou sujeito e, assim, não venha a ser meramente equiparado a qualquer coisa ou objeto”. Esse autor diz, ainda, ser “indispensável a participação social de todos na produção, gestão e uso dos bens e serviços de uma sociedade democrática” e chama a atenção para o fato de que Aquele que fica separado dos demais, isolado, privado de sua capacidade de agir, está socialmente morto. É precisamente em razão disso que o respeito à diversidade e a prática de cooperação e solidariedade devem ser os sólidos pilares da edificação de uma ordem social que prioriza a construção do outro como sujeito e cidadão (MAZZOTTA, 2007). Com relação à terminologia utilizada no campo de estudos e intervenções especializadas referentes às pessoas com deficiência, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elaborou nos anos setenta a Classificação Internacional de Deficiências, Incapacidades e Desvantagens (CIDID) e que foi publicada na língua portuguesa em 1989, em Portugal. Segundo aquela classificação, no domínio da saúde, “deficiência representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica” (OMS, 1989 apud MAZZOTTA, 2002, p.19). No Brasil, pelo Decreto no. 3.298, de 20 de dezembro de 1999, para os efeitos do referido decreto, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, está assim definido: Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, que gere incapacidade para o desempenho de atividade dentro do padrão considerado normal para o ser humano; Deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos. (MAZZOTTA, 2002, p. 22) 59 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Com relação à deficiência visual, é oportuno lembrar como ela está definida no Decreto no. 5.296, de 02 de dezembro de 2004, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida: Deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,5 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º.; ou ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. (BRASIL, 2004) Elemento fundamental nas relações interpessoais é a consciência dos limites do outro e de nossos próprios limites. E, a presença da deficiência muito nos ensina nesse sentido. Como diz Glat (1995, p.44), “é claro que aceitar a limitação, inclusive psicológica, de nosso cliente ou de nosso aluno, não significa aceitar a sua baixa auto-estima ou a sua acomodação. Nem implica em superprotegê-lo dos riscos, acolchoado em um mundo ‘especial’, longe dos demais”. Vale lembrar, também, que nas relações humanas, as situações de inserção, integração e inclusão social trazem efeitos diferentes a cada um que as vivencia; daí ser igualmente importante considerar o que as discussões teóricas têm trazido para a melhor compreensão das peculiaridades de que se revestem e suas implicações na vida de todos. 3. MÉTODO E MATERIAL Envolvendo pesquisa teórica e de campo, o presente estudo norteou-se pela abordagem qualitativa e não utilizou recursos estatísticos na análise dos dados coletados. Além disso, na pesquisa de campo não foi selecionada amostra representativa e sim amostra ilustrativa de situações contempladas na pesquisa teórica. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com psicólogos que atuam em equipe multidisciplinar de instituição especializada e que oferecem intervenção psicológica a tais pessoas em situação de inclusão social. 60 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Foram escolhidas 2 (duas) instituições especializadas no atendimento a deficientes visuais, situadas na cidade de São Paulo. A entrevista compôs-se de 8 itens, que serviram de roteiro para sua realização. Tal roteiro resultou de discussão em sala de aula com suporte no referencial teórico sistematizado. Durante a entrevista foram utilizados gravador digital, canetas e bloco para anotações e posteriormente, um microcomputador. Os procedimentos seguidos para a sua realização foram: contato telefônico pelo professor responsável pela disciplina com os principais representantes das instituições especializadas que serão aqui referidas como instituição A e B; envio do projeto para informar o assunto introduzido no primeiro contato com a instituição especializada, bem como a Carta de Informação à Instituição e respectivo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,1 (uma) Carta de Informação ao Sujeito da Pesquisa e respectivo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ; agendamento das entrevistas conforme disponibilidade das alunas e das instituições com seus respectivos profissionais; definição dos grupos que realizariam as entrevistas. A realização da pesquisa de campo ocorreu após aprovação do projeto pela Comissão Interna de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Assim, a primeira entrevista foi agendada para o dia 11/09/2007 às 11h na Instituição A e a segunda no dia 18/09/2007 na Instituição B, no mesmo horário. Na Instituição A estavam presentes 4 alunas (do grupo de 7 integrantes) da disciplina Processos Investigativos em Psicologia (PIP), do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As alunas se dirigiram à instituição e se apresentaram na recepção portando documentos pessoais e carta de apresentação. Foram orientadas a aguardar o representante que as receberia, um psicólogo do sexo masculino, muito prestativo e atencioso. Em seguida, todos foram encaminhados para uma sala, onde ocorreu a entrevista, que teve início às 11h 15 minutos e teve 1h de duração. Após a entrevista, o profissional apresentou brevemente a brinquedoteca para as alunas. 61 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Na Instituição B estavam presentes 6 alunas (do mesmo grupo de sete) de PIP, do Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As alunas se apresentaram na recepção portando documentos pessoais e carta de apresentação à instituição. Foram orientadas a aguardar a representante que as receberia, uma psicóloga do sexo feminino, muito simpática e atenciosa. Em seguida, todas se dirigiram para uma sala, onde ocorreu a entrevista, que teve início às 11:30 hs. e teve 1hora 30 minutos de duração. Após a realização das entrevistas, já em sala de aula, houve um breve relato sobre cada uma das entrevistas e sobre a experiência em ambas as instituições. Em seguida, o grupo de 7 alunas foi dividido em 2, sendo um grupo composto por 3 e o outro por 4 alunas. Cada grupo ficou responsável pela realização da transcrição da entrevista de uma instituição e após o término desta atividade algumas discussões foram realizadas em sala de aula sobre o que seria focado no momento de destacar os trechos mais significativos de acordo com os objetivos do projeto, bem como a relevância de outras novas e possíveis informações. Ainda sob orientação do professor, foram definidos os critérios para organização dos depoimentos em Eixos Temáticos. Assim, cada grupo foi identificando e destacando ao longo de uma aula e de encontros extra classe, os trechos mais relevantes da entrevista, discutindo sua importância e ligação com as perguntas do roteiro, contando com o auxílio, referências e orientações do professor, e selecionando algumas informações complementares, que foram acrescentadas e apresentadas ao mesmo para posterior revisão. Em seguida, o professor definiu as próximas etapas, que consistiram em relato sobre o método e material, aproximação entre os trechos selecionados da entrevista e o referencial teórico e a elaboração dos comentários críticos sobre os dados obtidos. No decorrer de todo o processo, houve contribuições individuais onde cada participante pôde comparar o que selecionou como trechos relevantes com os demais membros do grupo, o que também trouxe grande troca de experiências e conhecimentos. 62 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 4. Apresentação dos dados e discussão dos resultados Neste item serão apresentados os trechos mais significativos dos depoimentos dos psicólogos entrevistados, bem como uma análise crítica dos dados obtidos com base no referencial teórico. 4.1. Apresentação dos dados obtidos Os dados obtidos estão sendo apresentados com o agrupamento das questões em torno de eixos temáticos, que representam as principais respostas dadas pelos profissionais entrevistados. Serão transcritos trechos referentes às informações preliminares fornecidas pelos psicólogos e a seguir os trechos significativos para composição dos eixos temáticos. O eixo temático 1 engloba as questões 1, 2 e 3 e recebe informações a respeito da formação e experiência profissional do entrevistado. O eixo temático 2 engloba as questões 4, 5 e 7, no qual estão presentes as principais informações sobre o estímulo, fortalecimento e apoio às situações de inclusão. Por fim, o eixo 3 engloba as questões 6 e 8, com as informações que merecem destaques a respeito da atuação profissional e seus desdobramentos. 4.1.1 Instituição especializada A A Instituição A foi visitada no dia 11 de novembro de 2007 por 4 (quatro) alunas que entrevistaram o Psicólogo E.D. formado no ano de 1992 e que trabalha com pessoas com deficiência visual há 15 anos. Não atua nessa área em outra instituição. Em suas próprias palavras: “Me formei em 92, [...] na época o Hospital das Clinicas oferecia uma especialização em Psicologia Hospitalar [...]Foi onde eu tive contato primeiro, Mais intenso com pessoas com deficiência. [...] Então, foi lá que eu comecei esse contato com pessoas com deficiência de forma mais intensiva, mesmo no atendimento.[...] deficientes físicos, periplégicos, paraplégicos, pessoas 63 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 com doenças degenerativas, deficientes visuais e crianças com paralisia e suas famílias [...] abri um consultório também recebendo e atendendo pessoas com deficiência”.“[...] estou aqui há 10 anos [...] também atuar como coordenador aqui no setor de educação especial e eu estou aqui desde 98 como psicólogo, como coordenador aqui do setor de educação [...] só aqui.” Eixo Temático 1 – Formação e experiência pessoal 1. Você considera que a formação regular do psicólogo é suficiente para esse atendimento ou é necessário um preparo específico? Os princípios básicos de intervenção psicológica são igualmente aplicáveis às pessoas cegas ou com baixa visão? “Olha, precisei. [...] eu tinha uma disciplina chamada Psicologia do Excepcional e ela era ministrada no 3º ano.[...] São os mesmos. [...] antes da deficiência, tem uma pessoa, então antes de a gente pensar na pessoa com deficiência, a gente pensa na pessoa, [...] sempre no trabalho em equipe que é a filosofia e premissa aqui na Instituição.[...] o bebê é diferente de uma pessoa adolescente, de um adulto, mas a família tem que estar inserida nesse trabalho, então antes de você pensar na deficiência, eu penso na pessoa, eu tento conhecer a pessoa, eu tento entender em como essa pessoa vive, [...] existem algumas especificidades , a gente poderia pensar num bebê com cegueira congênita e um bebe que nasce com baixa visão leve.” 2. Você convive com a deficiência visual no âmbito familiar? “No âmbito familiar, olha não convivo [...] comecei a trabalhar, eu tinha muito receio, tinha muito medo, eu tinha uma expectativa muito grande, o que eu podia fazer [...] eu tive muito medo, assim, receio mesmo de que maneira trabalhar, de como fazer esse trabalho.[...] encontrei outras formas de poder atuar em Psicologia com pessoas com deficiência.” 3. Qual o significado que a deficiência tem para você? Como você percebe a dinâmica das relações entre você e o paciente cego ou com baixa visão? 64 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 “[...] a coisa em relação a pessoa com deficiência é o trabalho de você sempre ganhar algo, então você recebe às vezes a pessoa aqui, ela vem bastante, às vezes angustiada, deprimida, porque tem uma série de características, se foi adquirida.[...] reconhecer recursos para superar algumas dificuldades, isso é muito gratificante, isso é, assim, não tem preço.” “[...] quando eu tive Psicologia do Excepcional em oitenta e noventa, hoje a psicologia mudou a terminologia da disciplina, gente é outra história, as pessoas atualmente se relacionam de uma maneira diferente.[...] quando eu tive essa disciplina nada disso foi contemplado, esses recursos, recursos tecnológicos, e até mesmo no que a gente entende como recursos de intervenção psicológica, ta, acho que (inaudível) mudou muito. ” Eixo Temático 2 – Estímulo, fortalecimento e apoio a situações de inclusão “[...] falando um pouco da instituição. [...] não só os médicos, mas as escolas, outras instituições da comunidade, [...] uma assistente social que acolhe essa pessoa e a família. [...] Se há possibilidade de trabalho aqui na Instituição, [...] essa pessoa passa por uma avaliação em algumas áreas especificas, dentre elas a Psicologia. [...] a partir daí é feita uma discussão na equipe,com essa equipe que avaliou e com a equipe que vai receber,pra gente trocar informações sobre condutas e necessidades específicas, geralmente a maioria deles tem indicação pra Psicologia, seja do modo individual, grupo ou familiar.” 4. Você procura estimular o deficiente visual para situações inclusivas no seu cotidiano (trabalho, escola, lazer)? De que modo? “Sempre, sempre. Acho que é o que mais faço.[...] eu sou muito ligado no que existe de serviço na comunidade[...] atividades extra-atendimento então eu os encaminho sempre. Então faço contatos, peço pra que voltem ao espaço, conheçam, trabalhando nesse conceito mesmo de rede, de conhecer e de poder oferecer outros , outros serviços, outros espaços de convivência e que eles possam estar.O Senac de Santo Amaro, eles oferecem um espaço na informática né pras pessoas 65 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 com deficiência visual né onde eles têm todo um equipamento já adaptado, impressora em braile e instrutores né especializados e treinados pra dar assistência [...] sei da ligação forte dos adolescentes com a internet, [...]então a 1ª coisa que faço já é orientar pra ele procurar esse serviço comunitário nessa região da cidade.[...] Então assim,sempre dando, oferecendo, informações de espaços que eles possam ta se conhecendo, tendo atendimento, aquela história específica e um passo (diário) também.” (aluna) Você também incentiva a relação dele com pessoas não cegas? Sem dúvida; sempre, sempre.[...] porque preferencialmente eles acabam optando por espaços e interação com pessoas deficientes,[...] importante isso que você colocou, você tem que incentivar que ele conviva e espaços onde todos convivam, ainda tem um estigma muito grande, um clima pesado em relação a pessoas com deficiência, [...]incentivar a convivência social,de uma forma ampla, porque eu sinto que é na relação que a coisa acaba acontecendo.[...]com a inclusão social, as pessoas com deficiência passaram a freqüentar, estar mais presentes em vários segmentos institucionais sociais. Escolas, principalmente escola, então hoje o atendimento a pessoa com deficiência nas escolas mudou e muito. [...] E isso é muito legal, você incentivar, você pode estimular ele buscar esse serviço.”. [...] Então eu recebia, atendia as famílias. Hoje, a demanda ela é muito mais externa do que, a gente diz respeito à orientação. Então nós vamos até as escolas, recebemos os professores, e outros profissionais.[...] Nós trabalhamos com três grandes programas, ta, um programa chamado intervenção precoce, um outro programa chamado de desenvolvimento de funções e habilidades básicas e o programa de complementação educacional, ta. Então, esses programas são realizados pela equipe interdisciplinar ta. Hoje na equipe nós temos psicólogos, pedagogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistente social, a ortoptica, professores de orientação e mobilidade”.“[...] nossa filosofia de trabalho ela é interdisciplinar. [...] uma criança de oito anos com uma deficiência necessita? Então, ela entra no programa de complementação educacional porque ela já está na escola incluída e nós damos o apoio.[...] Então, elas estão em escola e a gente ta trabalhando, preparando, essa criança, ajudando essa criança, a ter um bom desenvolvimento também escolar, social, ângulo, não falta 66 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 em ângulo.[...] Mas as escolas elas estão sim, estão se preparando mais, os professores, tem buscado cursos,tem lido mais.” 5. Na sua ação como psicóloga, prestando apoio a uma pessoa com deficiência visual, considera fundamental a compreensão das conseqüências da deficiência? Poderia explicar? “[...] quando você passa a entender ou passa a ter uma escuta praquela pessoa com deficiência visual e que começa a relatar pra você problemas, dificuldades e (inaudível ) então você entra nesse universo, né, tentando fazer se conectar com essa fala, com essa narrativa e a partir daí né, uma coisa que eu uso muito, fazer uma compreensão. Como que eu compreendo? Perguntando, perguntando, perguntando, perguntando...então é a experiência dele que vai fazer com que eu possa de fato tentar compreender o que pra ele é um (inaudível ) o que pra ele não é ou como é.” 7. Você considera que seu trabalho numa equipe multidisciplinar tem fortalecido o deficiente visual diante de barreiras atitudinais em situação de inclusão? Como? “[...] é um trabalho em conjunto mesmo , (inaudível ) acho muita pretensão nossa achar (inaudível ) eu acho que a gente é um ponto, a gente é um fator, um elemento que contribui pra isso, mesmo porque a gente tem data na vida do cliente, a gente tem começo, meio e fim no processo.[...] o que a gente faz assim é interessante porque a gente tem também, a gente encaminha pra outros recursos. [...] nós damos o suporte à escola no que diz respeito à material, informação, discussão, também é feito.” Eixo Temático 3 – Atuação profissional e seus desdobramentos 6. Pensando em um determinado cliente que atende nessa instituição, como você percebe as suas relações com amigos, professores, colegas, família e outros? 67 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 “[...] pensando em alguém específico, olha eu to pensando aqui numa adolescente que começou conosco ela tinha treze anos, o diagnóstico era catarata congênita, então ela veio com uma perda grave já no nascimento [...] grande com todos da equipe, e foi pra uma escola e foi uma experiência bastante gratificante pra nós porque em quase quatro meses que ela fez ela praticamente já dominava o braile.[...]Não tomar atitudes precipitadas, isso é um mal de psicólogo, a gente, nós somos interpretadores natos. [...] Nós somos interpretadores natos, nós interpretamos o tempo inteiro, nós trabalhamos com a interpretação. [...] Tem uma autora, bastante legal, que ela diz que o especialista é o cliente, é ele que sabe da vida dele.” 8. Fique à vontade para comentar outros aspectos que julgue relevantes na atuação do profissional de Psicologia. “[...]quem vai atuar em psicologia tem que gostar de se relacionar, tem que gostar de gente, sabe, ã, e quem vai (inaudível ) mais difícil como a área de deficiente, acho que tem que gostar muito mais.[...] tem que ta ligado nessa coisa porque preconceito, essas nuances elas são muito subterrâneas, a gente não, não, a gente tem que ta muito atento, fazer trabalho com a gente,os nossos próprios preconceitos, as nossas maneiras de enxergar o mundo, entender que a nossa atuação ela modifica sim, ela tem poder sim de, ã, quando, a gente nota isso ‘ah, vou falar com o psicólogo’”. 4.1.2 Instituição especializada B A segunda instituição especializada a ser visitada foi a Instituição B (IB), onde o grupo de 6 alunas foi atendido pela psicóloga E., que graduou-se na PUC-SP, no ano de 1982. Seu tempo de experiência profissional com pessoas com deficiência visual é de aproximadamente 29 anos. Não atua nessa área em outra instituição. Conforme palavras da psicóloga entrevistada: “ [...]em 78 entraram 2 crianças cegas nessa escola (em que trabalhava) e aí começaram a fazer 68 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 minhas aulas de música e daí pra frente nunca mais parei. [...] A psicóloga que tinha feito indicação dessa escola pra essas duas crianças, que eram pacientes dela, deu uma supervisão inicial pra nós, inclusive porque ela era também assessora na Secretaria da Educação na época e passou a literatura pra nós, ensinou o braile pra nós, deu várias dicas e aí a gente começou a estudar, pesquisar a área. [...]Então, integração da criança com deficiência na escola comum [...] Então meu trabalho foi assim iniciado dentro dessa escola e desenvolvido dentro desses parâmetros até 87, né? [...] depois eu trabalhei na Estação Especial da Lapa por 4 anos e depois eu vim pra Instituição B (IB) e estou aqui há 12 anos.[...] Agora só aqui.” Eixo Temático 1 – Formação e experiência pessoal 1. Você considera que a formação regular do psicólogo é suficiente para esse atendimento ou é necessário um preparo específico? Os princípios básicos de intervenção psicológica são igualmente aplicáveis às pessoas cegas ou com baixa visão? “[...] Porque na formação do psicólogo vocês sabem que a gente tem uma disciplina que aborda as várias deficiências, então não é o específico de cada deficiência. [...] A graduação nunca é suficiente pra nós. Nunca vai ser na verdade. A graduação é uma formação generalista, que depois as pessoas vão ou fazer opções em determinadas áreas de trabalho e aí vão se especializando e a gente vai construindo mesmo a vida profissional e vai aprimorando sempre. Não tem fim nunca, né? [...] a visita que eu fiz a algumas instituições, isso foi importante. [...] então eu procurava direcionar um pouco do que eu ouvia ali pra aquele interesse que eu já tinha. [...] Agora o específico em relação a deficiência, o desenvolvimento, a aprendizagem da criança com deficiência eu é que tive que ir fazendo as articulações e fui me especializando.” “Olha, é, eu diria que sim, porque inconsciente não é cego. Quem é cego, é por outras questões que a pessoa perdeu a visão. [...] Então veja, se o profissional é um bom profissional psicólogo, se é bom naquilo que ele faz, ele vai trabalhar bem com essa pessoa que tem visão, que tem uma baixa visão [...] eu não sou do, da opinião que o psicólogo especializado em deficiência visual vai ser um melhor psicoterapeuta para a pessoa com deficiência visual, não mesmo. Agora, se for 69 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 para fazer psicodiagnóstico, aí sim, porque os testes em geral, não vão ser acessíveis para a pessoa, para a criança cega, por exemplo. [...]” 2. Você convive com a deficiência visual no âmbito familiar? “Sim. Meu marido tem baixa visão. [...] ele é educador também, artista plástico e mesmo conhecendo assim eu não identifiquei. [...] ele mesmo nunca tinha participado muito desse mundo da deficiência, foi praticamente normalizado, vamos dizer assim, né? Pelo lado bom e pelo lado ruim também porque ele ficou sem muitos recursos, enfim, mas por outro lado ficou muito integrado socialmente, ele conseguiu muitas coisas. [...] na família também eu tive um tio que não tinha uma vista e que depois acabou ficando cego. [...]” 3. Qual o significado que a deficiência tem para você? Como você percebe a dinâmica das relações entre você e o paciente cego ou com baixa visão? “[...] A deficiência... o que ela representa na minha vida... muito aprendizado. [...] na nossa dinâmica de trabalho, que nós não trazemos nenhum tema pronto nem nenhuma dinâmica em particular. Chegamos aqui e as pessoas começam a conversar e o tema vai surgindo, o tema do dia vai surgindo aqui. O que nós propiciamos é um enquadre de pontos de vista das pessoas falarem.E a nossa mediação, é uma mediação que não leva à terapia, mas leva a essa circulação mesmo de fatos, as pessoas vão se ouvindo e algo começa a surgir, uma troca muito grande de experiências [...] a gente precisa ter muita clareza sobre o que é o seu papel profissional aqui, porque aqui ninguém está para ser amigo, eu não venho aqui para estabelecer vínculos de amizade, eu venho aqui para trabalhar. Então o meu vínculo sempre vai ser profissional e eu não posso ter medo disto, pelo contrário, eu tenho que saber assumir isso muito bem para estar tranqüila na festa junina se eu for dançar com alguém que estava aqui chorando me contando um fato da vida dele muito difícil, ou abrindo aqui para mim uma fragilidade dele [...] Com a convivência com a deficiência, que é você conviver o tempo todo com a limitação ali, faz também você se dar conta de suas próprias limitações. [...]” 70 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 Eixo Temático 2 – Estímulo, fortalecimento e apoio a situações de inclusão 4. Você procura estimular o deficiente visual para situações inclusivas no seu cotidiano (trabalho, escola, lazer)? De que modo? “[...] Que a gente tá dentro de uma instituição segregada, porque só atende, digamos, a deficiência, as pessoas com deficiência, porém, totalmente voltada às ações de inclusão social porque a gente faz essa reflexão aqui dentro e favorece com ações que vão para fora da IB, favorece que essa inclusão comece a ser mais responsável, que ela aconteça de fato. [...] Olha, nós temos várias ações. [...] Porque a IB sempre foi à escola, e a escola sempre veio à IB ou outro segmentos da nossa sociedade. [...] passamos a discutir muito essa questão do modelo que nós tínhamos de atendimento e de ação junto à família, junto à escola, dentro de um novo contexto que trazia essa discussão da inclusão social da pessoa com deficiência e da inclusão social de modo amplo né, para todas as pessoas. [...] Por exemplo, é: nós convidamos as escolas das crianças e dos jovens atendidos na IB, para três encontros ao longo do ano. Então são encontros que sempre vão congregar família, escola e instituição especializada, né, todos os documentos do MEC, todas as recomendações de Salamanca mesmo, que a idéia é essa mesma, de fazer um trabalho de parceria entre família, escola e instituição especializada. [...] Nós propiciamos uma capacitação profissional também, seja em cursos aqui, mais teóricos, seja em cursos práticos, oficinas, aprender a fazer né. [...]A gente vai ensinar o braile, ensina o sorobã [...] oficinas de orientação e mobilidade, onde as pessoas vem e fazem muitas vivências pra aprender um pouco sobre como é orientar quando a criança vai para a escola com bengala, e todas as dicas, assim, do que fazer com um aluno com baixa visão na escola.[...] Dentro dessa parte de capacitação, a gente investe muito em produção de material didático e material pedagógico, então a gente faz, escreve manuais, lança DVD’s para orientação do professor é, bom, na mídia, a gente ta sempre lá. [...] a gente também tem ações mais diretas e outras mais indiretas [...] fazem cursos de inglês, informática, é, mais cursos voltados para a educação, para o trabalho. A gente faz inclusão discutindo também com as empresas esse potencial, mostrando tudo isso, fazendo o próprio 71 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 encaminhamento profissional. [...] Fortalecer as famílias no grupo de apoio psicossocial é uma outra ação de inclusão porque onde a gente vai mais fundo nos preconceitos das próprias famílias, nas dificuldades de aceitação, na negação, na super proteção, é, no olhar voltado, na dificuldade de aceitação. [...]” 5. Na sua ação como psicóloga, prestando apoio a uma pessoa com deficiência visual, considera fundamental a compreensão das conseqüências da deficiência? Poderia explicar? “[...] Enfim, são inúmeras coisas, angústias, medos, dúvidas, ansiedades, tudo vai aparecendo aqui e vai sendo trabalhado. E também conquistas né, porque aquela família que já caminhou, que já superou determinadas dificuldades, dá a sua fala da experiência para o outro, o outro que ainda tá mergulhado no medo, no turbilhão e isso acaba surtindo um efeito muito bom. [...] Se for adulto, se for jovem, ele já está lá com sua história mais constituída, né. O que vai estar mais em falta, vai ser, serão as representações sociais, será a história de vida dela marcada pela deficiência. Então ela vai contar sua história, da sua infância ou da sua adolescência, do seu grupo social, das suas dificuldades em enfrentar um preconceito ou outro, da sua dificuldade de se assumir como pessoa com deficiência, de se apresentar num grupo utilizando os seus recursos óticos, no meio de uma aula ou no meio de um grupo, ou aparecer de bengala no grupo que ela sempre tentou, no caso da baixa visão, disfarçar aquela deficiência. [...] por isso que eu digo, são dramas humanos que todos nós vivemos, só que marcado por sua história de vida, de deficiência [...]” 7. Você considera que seu trabalho numa equipe multidisciplinar tem fortalecido o deficiente visual diante de barreiras atitudinais em situação de inclusão? Como? “[...] Favorece totalmente, principalmente porque a gente já deu o passo da multidisciplinaridade para a interdisciplinaridade, é tem uns eixos norteadores ai, no nosso trabalho, uma linha de compreensão do que são todos esses aspectos que estão envolvidos com a deficiência e socialmente falando e também especificamente nas necessidades bem específicas que são 72 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 decorrentes da deficiência né, todos têm que saber braile, todos têm que entender a deficiência porque são essas respostas de especialistas que nos temos que dar (psicólogo, sociedade), [...] na hora do ato é um ato educacional, mas na hora do olhar, da compreensão, cada um de nós trás a sua contribuição da sua área, também para compreender bem aquele que está sendo estudado, o aspecto da aprendizagem, os medos, o desenvolvimento né. Então contribui [...]” Eixo Temático 3 – Atuação profissional e seus desdobramentos 6. Pensando em um determinado cliente que atende nessa instituição, como você percebe as suas relações com amigos, professores, colegas, família e outros? “[...] Os deficientes ou as famílias que ainda falam por seus filhos pequenos, são trazidas muitas questões voltadas ao preconceito mesmo, dentro da própria família. Isso é real, né? Assim, desde as formas mais camufladas até as formas mais evidentes. [...] Cada família reage de um jeito, né? Afastou a família, vive só esse núcleo, aí recupera a família ou aquela família que deu todo, todo apoio que até sufocou essa criança, não deixa essa criança fazer nada, super protege ao extremo, não deixa essa criança crescer, né? Então tudo isso acontece. Então, as relações dessas pessoas e suas famílias com as pessoas tudo em torno dela são das mais variadas possíveis. Elas vão ter que enfrentar o preconceito? Sempre. Elas com elas mesmas, elas com a família e depois o próprio deficiente que vai crescer com ele mesmo, com a sociedade. [...] Alguns lidam com naturalidade não querendo nem saber, respondendo mal, outros lidam de forma acanhada, ficando muito tristes, mas se fechando em si mesmos e outros lidam de uma forma que seria mais ideal, vamos dizer, nessa construção, nessa transformação, que é explicando, é respondendo as perguntas [...] Então as relações aí fora são é... mescladas, muitas ainda de grande preconceito velado ou direto, outras já as pessoas estão um pouco mais informadas, então já se aproximam de outra maneira, é...as leis estão favorecendo porque estão exigindo que coisas sejam transformadas na sociedade, né? [...] Ao mesmo tempo que tem esse avanço, tem também a criança lá na escola que ta dando uma pega na criança cega, ta botando ele no meio do pátio e chamando ele de ceguinho.[...] Isso cabe a cada um de nós um posicionamento nesse momento. Não se omitir, né? Nós que somos 73 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 profissionais, as famílias, o próprio deficiente, as pessoas que como vocês, que estudam...que estão estudando e pensando nesses aspectos, refletindo sobre isso. Cabe a cada um de nós esse esclarecimento da população cada vez maior pra levar aí esse respeito, né?” 8. Fique à vontade para comentar outros aspectos que julgue relevantes na atuação do profissional de Psicologia. “[...] essa questão da deficiência não dá para desvincular lógico da minha história pessoal e da minha vida profissional, e nas duas eu usei a palavra “aprendizado”, porque efetivamente é [...] Com a convivência com a deficiência, que é você conviver o tempo todo com a limitação ali, faz também você se dar conta de suas próprias limitações. [...] aquilo me fazia trabalhar com as minhas próprias limitações, e que a limitação da deficiência é uma limitação num aspecto em particular, em geral uma limitação nos aspectos práticos da vida [...] Psicologia é uma área, acho que pode contribuir muito, muito, com a área da deficiência, acho que por tudo que a gente colocou aqui, seja na área que você escolher, clinica, e você pode escolher na área de organizações, como orientação de trabalho, área social, área institucional, educacional, psicopedagógica, enfim qualquer área que vocês venham atuar dentro da psicologia, acho o conhecimento e a psicologia como ciência é um conhecimento que pode contribuir muito para a área da deficiência e para essa sociedade [...] Mas ela em si também como ciência tem também momentos, tem instrumentos, tem teorias de compreensão do ser humano na sua dimensão psíquica e social que pode ajudar o outro. [ ...] A gente é humano e pode se sentir mexido por essas coisas. Só que você tem obrigação de trabalhar tudo isso, para poder estar diante daquela pessoa, sem julgamento, acolher tudo o que ela te trás e sabendo que ali você tem que ter um ato específico da sua profissão, porque ela não veio buscar no psicólogo um fisioterapeuta, nem ela vai buscar no fisioterapeuta um psicólogo. Então cada profissão tem que dar de retorno aquilo que é próprio da sua profissão. [...]” 74 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 4.2 Discussão dos resultados São apresentados, a seguir, os dados obtidos e discutidos com base no referencial teórico, sob supervisão do professor responsável. 4.2.1 Instituição especializada A 4.2.1.1. Eixo Temático 1 – Formação e experiência pessoal Na entrevista com o Psicólogo E.D. ele nos contou que no início tinha medo, receio de como trabalhar com pessoas com deficiência, esse dado é apresentado por Amiralian (1997, 31), ao comentar que “muitas vezes, ao se verem diante de uma pessoa com deficiência mostram-se desconfortáveis (os psicólogos), com dúvidas, e, com freqüência, preferem abster-se de realizar esse atendimento”. Ela ainda destaca três questões nas quais aparecem dúvidas levantadas comumente por psicólogos: Os princípios básicos de intervenção terapêutica psicológica são aplicáveis igualmente às pessoas com deficiência? Há peculiaridades nesse atendimento? O atendimento dessas pessoas implica procedimentos específicos? Em qualquer processo interacional, seja na relação professor-aluno ou na relação terapeutacliente, devemos ter em mente que a condição de deficiência interfere tanto no sujeito que a possui como no profissional que o atende [...]. Para os profissionais que atendem pessoas com deficiência, esta os afeta em vários níveis: na percepção do objeto, no campo do conhecimento, na área das emoções e afetos e no nível das fantasias inconscientes. (AMIRALIAN, 1997, p. 33) Amiralian (1997) alerta que não se deve considerar a deficiência como a causa de perturbações psíquicas, mas sim como uma condição que dificulta as relações com o ambiente. Pontua, ainda, que embora apresentem peculiaridades relacionadas à sua condição orgânica, as necessidades das pessoas com deficiência são as mesmas vivenciadas por todas as pessoas. O Psicólogo da Instituição A (IA) ressalta isso em sua entrevista quando questionado sobre os princípios básicos de intervenção a pessoas cegas e com baixa visão. Ele deixa evidenciado o uso 75 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 desses princípios ao dizer que “o bebê é diferente de uma pessoa adolescente, de um adulto, mas a família tem que estar inserida nesse trabalho, então antes de você pensar na deficiência, eu penso na pessoa, eu tenho conhecer a pessoa, eu tento entender em como essa pessoa vive”. 4.2.1.2. Eixo Temático 2 – Estímulo, fortalecimento e apoio a situações de inclusão Sobre o tema inclusão o entrevistado na IA disse que sempre procura estimular os seus clientes a buscar atividades extras atendimento e que também os incentiva a conviver em espaços onde todos convivam, porque ele acredita que é na relação com o outro que a inclusão acaba acontecendo. Isto que o entrevistado nos coloca é apresentado por Mazzotta (2007) da seguinte maneira: “Aquele que fica separado dos demais, isolado, privado de sua capacidade de agir, está socialmente morto. É precisamente em razão disso que o respeito à diversidade e a prática de cooperação e solidariedade devem ser sólidos pilares da edificação de uma ordem social que prioriza a construção do outro como sujeito e cidadão” (MAZZOTTA, 2007). O autor ainda nos coloca que a convivência respeitosa de uns com os outros é importante para o indivíduo se constituir como sujeito para que dessa forma não seja equiparado a qualquer coisa ou objeto. Segundo Amiralian (1997) a deficiência não deve ser considerada como a causa de perturbações psíquicas, mas sim como uma condição que dificulta a relação do sujeito com o ambiente. Apesar das peculiaridades relacionadas a sua condição orgânica, as necessidades das pessoas com deficiência são as mesmas vivenciadas por todas as pessoas. O processo de inclusão não deve ser compreendido de forma isolada e sim de forma ampla. Sendo assim, para que ocorra a inclusão são necessários esforços conjuntos e participação da sociedade civil. Para o entrevistado o trabalho do psicólogo é apenas um ponto, um fator, um elemento que contribui para o processo de inclusão. A escola no processo de inclusão tem uma responsabilidade diferenciada, já que é ela que configura como espaço social onde a criança poderá conviver com mais pessoas além da família. 76 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 4.2.1.3. Eixo Temático 3 – Atuação profissional e seus desdobramentos Sobre a atuação do psicólogo, o entrevistado E.D. afirma que aqueles que estão nesta profissão têm que gostar de se relacionar, e mais ainda os que desejam trabalhar com deficientes. Amiralian (1997, p. 33) nos coloca que a condição da deficiência interfere tanto no sujeito que a possui quanto no profissional, e que afeta este último nos níveis da percepção, do conhecimento e das emoções, deixando claro que a condição da deficiência interfere diretamente na relação terapeuta-cliente, assim como foi dito pelo psicólogo E.D. Ponderou, também, que é necessário gostar do que se faz, pois este processo se daria de forma mais facilitadora, já que segundo Amiralian “muitas vezes, ao se verem diante de uma pessoa com deficiência mostram-se desconfortáveis (os psicólogos), com dúvidas, e, com freqüência, preferem abster-se de realizar esse atendimento” E.D. observa que é necessário o psicólogo estar atento aos seus próprios preconceitos, pois conforme Amiralian (1997, 31). 4.2.2 Instituição especializada B 4.2.2.1. Eixo Temático 1 – Formação e experiência pessoal A partir da opinião do profissional, pode-se pensar que o desconforto dos profissionais da Psicologia é em função da sua formação, possivelmente incompleta, sem base experimental. A vivência e o contato prévio com a deficiência tornam-se, então, fator importante para o profissional que deseja se envolver com mais tranqüilidade, na área das deficiências, seja qual for e assim, ajudar o sujeito a desenvolver funções superiores para superar suas dificuldades, obtendo assim, recursos mentais para entrar em contato com a realidade e aí se desenvolver. A deficiência é uma condição e como tal vai gerar conseqüências para as pessoas cegas ou com baixa visão, que vão necessitar de ações específicas sim, mas para cada angústia, para cada 77 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 situação e sentimento, o que não implica tratamento diferenciado quanto aos princípios de intervenção. Cada pessoa vai lidar melhor ou pior com aquilo que lhe ocorre. As relações de alteridade é que, muito provavelmente, trarão conteúdos angustiantes. Respeitar o outro e sua condição, entendendo suas peculiaridades, encarando o seu próprio preconceito são atitudes que facilitarão o desenvolvimento e o envolvimento deste com os demais, com o social. Outro aspecto é que a deficiência provoca uma orientação social muito particular, de forma que o sujeito se organiza a partir dos vínculos que cria com as pessoas, com o local onde viveu e vive e como participante de sua vida. O convívio familiar com a deficiência é muito proveitoso para o crescimento profissional e pessoal do psicólogo que deseja atuar nessa área, embora não seja um requisito básico, diferentemente da sua formação teórica, que exige uma especialização. A convivência favorece a aceitação da deficiência por parte do profissional, que estará mais apto e sentindo-se mais confortável para lidar com seu paciente. Glat (1995) menciona a superproteção do deficiente, muitas vezes dado pela família e que acarretará em uma carga pesada para ele, uma vez que pode separá-lo dos demais, e esse mundo que lhe é negado conhecer, explorar e ser nele inserido pode tornar-se um lugar estranho, colocando-o em desvantagem, levando-o a uma incapacidade progressiva. 4.2.2.2. Eixo Temático 2 – Estímulo, fortalecimento e apoio a situações de inclusão Todo tipo de apoio à pessoa com deficiência é válido, como se percebe nos trechos da entrevista. Porém não dá para contar apenas com o apoio da família e de uma instituição segregada, pois com isso a pessoa nunca irá sair de sua “zona de conforto”, não irá enfrentar os obstáculos reais que a sociedade lhe impõe. Por esse motivo que a instituição deve preparar a pessoa para lidar com situações de fora, fortalecê-la para que esteja preparada psicologicamente para enfrentar os problemas com a sociedade e se incluir no mundo do trabalho, de estudo, enfim das relações sociais. 78 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 É de suma importância que os profissionais envolvidos no trabalho interdisciplinar de atendimento às pessoas com deficiência visual ou com baixa visão tenham compreensão das conseqüências da deficiência tanto para o indivíduo como para os seus familiares e a oportunidade que cada família tem de expor suas experiências cotidianas é benéfica por proporcionar aprendizado mútuo. O trabalho do profissional de psicologia, como nos diz Glat (1995), não é superproteger o indivíduo e muito menos de criar um “mundo” específico para sua inserção, e sim, proporcionar consciência da sua condição, apresentando suas limitações e que pode ter uma vida normal de acordo com suas possibilidades e limitações. Quanto ao trabalho multidisciplinar, pode-se dizer que o mesmo trás grandes contribuições na medida em que permite o conhecimento de cada um dentro da sua área de atuação e a experiência adquirida ao conhecer o trabalho dos demais. Assim, cada profissional presta um atendimento mais adequado aos seus pacientes, tendo consciência do que ele pode realizar de acordo com o seus conhecimentos, com o que pôde aprender no que concerne às demais áreas de atuação na equipe multidisciplinar, mas que possa fazer encaminhamento para a área que melhor possa prestar atendimento quando necessário. 4.2.2.3. Eixo Temático 3 – Atuação profissional e seus desdobramentos Dentro deste trabalho, falar das relações da pessoa com deficiência com seus amigos, professores, colegas e a família é de suma importância, porque a convivência de uns com os outros é fundamental para a constituição do sujeito. Dessa forma, ele apresentar-se-á como sujeito vivo e participante da vida, independente da marca que carrega e tornará possível a solidificação de um alicerce no qual se apoiará por toda a vida. Ao comparar o que foi relatado na entrevista e com o que consta na literatura, pode-se pensar que a deficiência acaba gerando na sociedade, movida por um estereótipo de “normalidade”, certo preconceito em relação ao deficiente, excluindo o mesmo da sociedade, 79 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 muitas vezes até pela própria família, que acaba por super proteger essa pessoa por medo, por imaginar que alguém vai lhe fazer mal. O processo de inclusão é de extrema importância para esse indivíduo, pois o colocando em um meio social onde ele possa conviver com todos as pessoas, que estão tanto em uma condição igual a ele ou diferenciada, este deficiente pode aprender, se desenvolver, aprender a lidar com as suas limitações, aceitá-las, como qualquer outra pessoa sendo deficiente ou não. O fato de excluir a pessoa com deficiência colocando-a apenas em meio onde há pessoas com a mesma condição que ela, seria como isolá-la do mundo, o que poderia ser um agravante em termos de equilíbrio psíquico para este. Por fim, pode-se notar que o psicólogo tem um papel relevante no trabalho com as pessoas com deficiência. Esse trabalho pode fazer com que o indivíduo em questão, consiga lidar melhor com as suas limitações, aceitando-a, explorando outras habilidades, facilitando sua inserção no meio social e com isso obter melhor saúde psíquica. Cabe destacar que o processo da inclusão abrange a todos e que ela se refere à educação e ao social em geral, de forma que a escola serve como base para esse processo e para as mudanças na direção da inclusão das pessoas com ou sem deficiências. 5. Considerações Finais Importante ressaltar que foi alcançado o objetivo geral de conhecer e analisar criticamente relações de pessoas com e sem deficiências em variadas situações sociais e de atendimentos psicológicos que dêem suporte à manutenção de condições favoráveis à inclusão social. Através das entrevistas entramos em contato com formas de apoio e orientação para inclusão social, como por exemplo, a citada pelo profissional E.D. da Instituição A sobre encaminhar para cursos de informática dado pelo Senac com profissionais treinados para atender deficientes visuais. Os objetivos específicos também foram alcançados ao longo do desenvolvimento do projeto, pois consistiam em: 80 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 - Elaborar e desenvolver projeto de investigação científica envolvendo pesquisa teórica e de campo; que foi iniciado no semestre anterior com pesquisas teóricas e concluído nesse semestre com pesquisa de campo. - Conhecer e discutir conceitos de inclusão e de pessoas com deficiência e com necessidades especiais; etapa realizada para a elaboração do projeto de pesquisa. - Identificar e analisar elementos significativos nas relações mantidas por pessoas com deficiência visual em ambiente de reabilitação e em situações do cotidiano; realizado a partir das transcrições das entrevistas e da elaboração dos eixos temáticos. - Obter informações sobre alternativas de intervenção psicológica e atuação do psicólogo em instituição especializada no atendimento a pessoas com deficiência visual. Importante ressaltar que nas duas entrevistas realizadas com psicólogos das instituições especializadas A e B, foi possível saber sobre variadas alternativas de intervenção psicológica para proporcionar apoio a pessoas com deficiência visual em situações de inclusão social. Os pesquisadores envolvidos nesse estudo esperam que os resultados obtidos possam estimular outros pesquisadores para a realização de investigações sobre a atuação do psicólogo nessa área, contribuindo para seu melhor conhecimento e aprimoramento da intervenção profissional. 6. Referências AMIRALIAN, Maria Lúcia T. M. O psicólogo e a pessoa com deficiência. In: Becker, Elisabeth et. al.. Deficiência: alternativas de intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo,1997. 81 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007 ISSN 1519-0307 AMIRALIAN, Maria Lúcia T. M. Desmistificando a inclusão. Revista Psicopedagogia, São Paulo,v. 22 n.67, p. 59-66, 2005. BRASIL. Decreto no. 5.296, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/decreto%205296- 2004.pdf. Acesso em 09/04/2007. GLAT, Rosana. A integração social dos portadores de deficiências: uma reflexão. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995. MAZZOTTA, Marcos J. da S. Deficiência, educação escolar e necessidades especiais: reflexões sobre inclusão socioeducacional. São Paulo: Mackenzie, 2002 MAZZOTTA, Marcos J. da S. Reflexões sobre inclusão com responsabilidade. Disponível em http://http//www.faders.rs.gov.br/politica_gestao_inclusao_escolar.php. Acesso em 29/03/2007. 82 Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.7, n.1, p.53-82, 2007